You are on page 1of 50
A aprendizagem iprender a aprende: Na maior parte do tempo, os comportamen- tos das pessoas si 0 resultado de habitos, de roti- nas, de pensamentos prontos que elas adotaram, ¢ 6s resultados que obtém as encorajam a conservar seus habitos. No entanto, pode acontecer de esses resultados se revelarem insuficientes: as pessoas se veem entéio obrigadas a tomar consciéncia de suas dificuldades e encontrar solugées mais ade- quadas do que as que ja conhecem. Flas se encon- tram, em razo disso e efetivamente, em uma situa- éo de aprendizagem. Em uma situagéo conhecida, o ser humano tende a se comportar como de habito, isto é, sem recisar pensar muito no que faz, pois tem uma ex- ectativa consolidada do resultado que espera de sua ago. Em geral, ele vé suas expectativas con- firmadas e tem confianca em sua capacidade. Sim- plificando muito, poder-se-ia dizer que, em uma situago familiar, os processos de percepgio e de motivagdo tém uma grande importincia na orga- nizagdo das condutas individuais, e que os proces- sos de aprendizagem tém sua atividade reduzida. Em contrapartida, em uma situago insélita, es- ‘tranha, ou diante de uma dificuldade, as condutas | AS autoras desejam agradecer calorosamente @ André Savoie por sua ajuda na preparagio deste capieulo. +. a habituais podem, ao que parece, levar a resultados insatisfatérios que vao forgar a pessoa a reexami- né-las: 6 0 comego da aprendizagem. A aprendizagem ¢ a modificagao da capacida de de um individuo de realizar uma tarefa como consequéncia de interagées com seu meio ambien- te (MAISONNEUVE, 1991). O termo capacidade designa aqui caracteristicas no observaveis do pensamento, como o saber, o saber-fazer e o saber- ser, A palavra tarefa & empregada para designar atividades muito distintas, que vao da adaptagio biol6gica 20 meio a perseguicdo de objetivos im- ostos ou livremente escolhidos. Em outras pala- ‘vras, a aprendizagem implica a mudanga de uma atitude ou de um comportamento como consequén- cia de uma experiéncia, A aprendizagem néo deve ser confundida com © amadurecimento (0 desenvolvimento normal de um organismo que o torna capaz de assegurar suas funges) ou com a senescéncia (0 processo de en: velhecimento). Aprender nao é apenas adquirir co: nhecimentos, € também mudar habitos e modos de pensamento automidticos. A aprendizagem & 0 processo psicolégico responsdvel pela modificacéo de atitudes e de condutas do individuo. Entretan: to, nem sempre as modificagdes constitutivas da aprendizagem so aparentes; ha aprendizagem 164 Psicologia egestdo + Morin e Aubé quando a pessoa se torna capaz de fazer coisas que no conseguiria fazer antes das atividades de aprendizagem. O ser humano aprende quase tudo: a beber, a comer, a falar, a andar, a jogar sem trapacear, a se entender com os outros, a fazer com que sua opi- nigo seja ouvida, a se respeitar e a se fazer respei- tar, a ler, a escrever, a entabular negécios, a exer- cet uma profissio ete. Ele aprende também a se inquietar, a ter medo, a manipular os outros, a ser dependente etc. A aprendizagem é um processo fundamental para o so desenvolvimento da pes- soa; sua principal fungéo é garantir a melhor adap- tagdo possivel da pessoa a seu meio, assegurando entretanto sua individuacao. Os objetivos gerais deste capitulo consistem em apresentar os processos de aprendizagem, seus fundamentos e suas aplicagées no ambiente de trabalho. Primeiramente, tentaremos responder as perguntas: “O que é aprender?” e “Como apren- der?", baseando-nos para isso nos approaches behaviorista, cognitivo e experiencial. Depois, em ‘uma segiio intitulada “Aprender é mudar”, mostra- remos o vinculo entre a aprendizagem e a mudan- a. Nessa mesma ordem de ideias, veremos como podemos “aprender a aprender” na vida cotidiana , em especial, no trabalho. Em seguida, veremos como as nogées de aprendizagem sao aplicéveis em ‘empresa, notadamente nos contextos de socializa- Go e de desenvolvimento de competéncias. Para finalizar, abordaremos dois fendmenos complexos e fascinantes que esto na raiz. da aprendizagem e da mudanga: a criatividade e a inovagao. O que é aprender? Reboul (1991) ensina que hé trés significagdes na palavra aprender: “aprender que...”, “aprender e “aprender...” “Aprender que...” significa informar-se, obter esclarecimento, adquirir informagao, ficar ciente de alguma coisa. Este é, provavelmente, o sentido mais passivo da palavra aprender: nds nos informa- mos lendo ou nos informando junto a alguém. A aquisicao de conhecimentos requer apesar de tudo uma certa preparacao por parte da pessoa e exige atividades intelectuais.* A aprendizagem recorre a conhecimentos anteriores; os conhecimentos que a situagdo de aprendizagem atualiz construcao da representacdo da aprendizagem ¢ na busca de informagao wtil para resolver eficaz- mente os problemas. Além disso, as atividades de representacao € as operagdes mentais, em parti- cular as inferéncias, as analogias ¢ a dedugio, de- terminam o que ser aprendido em dada situagao. A capacidade de aprendizagem depende, porém, do nivel de amadurecimento das estruturas intelec- tuais necessdirias & aquisic&o de conhecimento. Por exemplo, pode-se ensinar a filosofia existencialista a jovens adolescentes, mas apenas na idade adulta eles podero realmente compreender as questées, que ela levanta, De tal maneira, quando se educa alguém, é preciso levar em consideragao nao ape- nas o que essa pessoa ja sabe sobre o assunto, mas também seu grau de maturidade. De mais a mais, € isso pode parecer evidente, 0 educando precisa querer saber: sua motivagio constitui uma con- digo facilitadora do processo de aprendizagem. Para estimular seu interesse em aprender, é impor tante que ele perceba 0 vinculo entre os objetivos de aprendizagem e seu interesse pessoal. intervém na O saber que resulta das atividades de tomada de informagao nao confere necessariamente com- peténcia & pessoa que 0 possui. E 0 que acontece notadamente no caso das midias de informagao: passat varias horas do dia diante da televiso nao torna uma pessoa mais culta ou mais bem adap- tada socialmente. f também o que acontece no caso das escolas onde existe, como comenta Re- boul (1991), um “idioma dos professores” que os estudantes aprendem sem compreender e repetem quando dos exames para ter boas notas. No en- tanto, uma vez 0 curso terminado, esta lingua é esquecida ou, pior, ela se transforma em verbalis mo, Saber sem compreender é como cantar corre: tamente em uma lingua estrangeira uma cangéo da qual se ignora a significaco. Toda atividade de coleta de informago deve estimular o pensamen to, a reflexio, o desenvolvimento do espirito de Como vimos no Capitulo 2, para que uma pessoa este Jaem condigées de assimilar conhecimentos, é preciso que exist, previamente, estruturss mentais, cognigdes ou es quemas de aco compativels com a nova informacio.

You might also like