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(Sara Paín)
1 – APRESENTAÇÃO
Este trabalho foi feito a partir da minha experiência como professor de artes visuais
em escolas na cidade de São Paulo e Santo André. São reflexões nascidas das
observações sobre as crianças durante as atividades e dos registros sobre esta
prática. Outra contribuição muito importante surgiu do contato com professores de
Educação Infantil nos cursos de formação que tenho ministrado. Contatos muito
ricos em relatos de experiências de trabalho que constituíram-se num verdadeiro
aprendizado. Esta é uma tentativa de oferecer diretrizes para o trabalho com artes
visuais a este professor.
2 - INTRODUÇÃO
Para pensarmos uma proposta em artes visuais na Educação Infantil, devemos levar
em conta, sobretudo, a característica lúdica do ato de criar. Desenhar, pintar,
modelar e construir são para a criança brincadeiras com lápis, papel, tinta etc. A
ação de criar é, assim como brincar, uma ação investigadora que procura o tempo
todo alargar os limites da percepção que a criança tem do mundo e de si mesma.
3 - O PROFESSOR DE ARTE
Ainda é uma realidade, numa grande parcela das escolas em geral, a pequena
importância que é dada às atividades artísticas. O adulto manifesta uma grande
expectativa quanto ao bom desempenho da criança, por força de um currículo que
privilegia o pensamento objetivo em detrimento do subjetivo. O currículo
compartimentado, que é sobrecarregado pelas matérias relacionadas à escrita nos
seus aspectos lógicos, tem pouco espaço para as que exigem a percepção intuitiva
ou o pensamento estético como, por exemplo, a música, o teatro e as artes visuais.
“O importante é notar que o processo de divisão instalado em nossa sociedade que
separa emoção e pensamento, lazer e trabalho, arte e vida, e que
consequentemente a escola reproduz, está começando cada vez mais cedo. Pois a
escola maternal, que nasceu de uma necessidade de se preservar um espaço de
jogo, se transformou exatamente no seu oposto.” 2
Está claro que se há muito pouco tempo e espaço para brincar, há muito pouco
tempo e espaço para criar. Pois o criar é da natureza do brincar.
Hoje vemos um interesse crescente, por parte dos educadores, pelos serviços de
caráter educativo que são oferecidos pelos museus e centros culturais. Há também
3
Outra prática corrente considera que o trabalho deve ter uma conotação decorativa,
servindo para ilustrar temas de datas comemorativas, enfeitar as paredes com
motivos considerados infantis, elaborar convites, cartazes e pequenos presentes
para os pais etc. Nessa situação, é comum que os adultos façam grande parte do
trabalho, uma vez que não consideram que a criança tem competência para elaborar
um produto adequado.”3
PERSPECTIVAS DE TRANSFORMAÇÃO
Tenho enfatizado aos professores que se queremos formar uma pessoa que seja
mais crítica sobre o mundo que a cerca, temos que nos propor a ser mais receptivos
às manifestações das crianças, seja através da sua fala ou do conteúdo que
expressam através do desenho, da pintura, da modelagem etc.
”Para progredir, a criança precisa ser respeitada e sentir-se ouvida. Para que
também aprenda a ouvir, a criança precisa antes ser ouvida... mas sem ser
atropelada! Presença e disponibilidade por parte do adulto constróem o laço afetivo,
mas é preciso ter claro que cada brincadeira é uma busca; uma interferência direta
pode impedir que a criança faça suas descobertas e domine dificuldades.” 4 Quando
a criança é ouvida e sente que pode manifestar seus pensamentos compartilhando-
os com um real interlocutor, reconhece melhor suas preferências e parece sentir-se
mais segura para fazer as suas escolhas nas brincadeiras, nos desenhos etc.
4
O ponto de partida para uma proposta de artes visuais que vise instrumentalizar a
fala da criança é uma pedagogia onde a relação professor/aluno seja baseada no
respeito às necessidades do aprendiz.
Este caminho certamente não é fácil, pois envolve uma disposição interna para a
mudança, cujo aspecto mais significativo será perceber que há na vida uma
dimensão estética que nos torna mais sensíveis e esta dimensão deve estar
presente na escola que o professor constrói com seus alunos no dia a dia. A isto
também chamamos de educação da sensibilidade da qual o educador deve ser um
partícipe e cúmplice de seu aluno.
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4 - A EDUCAÇÃO DO OLHAR
(G.Bachelard)
A arte já teve funções muito diferentes nos diversos momentos da história e, por
conseqüência, já houve diferentes formas de se entender o que é arte. Na
antigüidade, por exemplo, a arte estava relacionada aos cultos religiosos, como é
possível se verificar nos registros das paredes das cavernas ou nas pinturas e
esculturas das tumbas egípcias.
5 - OBJETIVOS DA ÁREA
Estabelecer um vínculo profundo entre o ter o que dizer e o saber como fazer. Neste
sentido, buscar sempre o fazer verdadeiro evitando as adaptações que
descaracterizem a linguagem.
6 - OS REGISTROS E O PLANEJAMENTO
7 - A ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE
Porém, é importante que a criança possa fazer a escolha de quais materiais são
necessários à sua atividade, identificando-os e explorando as possibilidades de uso,
e para tanto, deve o educador permitir a experimentação.
De qualquer forma todos os espaços da sala devem ser explorados e sua forma de
utilização e organização deve ser tema nas rodas de conversa, sempre que
possível. Desta maneira a criança ao realizar a sua produção desenvolverá uma
ação plena de intenção, pois estará na busca de soluções para o seu trabalho, o que
contribuirá para uma crescente autonomia.
Uma rotina deve ser bem estruturada, de forma simples e flexível. O professor deve
mostrar claramente à criança a organização da rotina no momento inicial do dia.
Pode também fazer um registro em painel que seja facilmente percebido pela
criança. Certamente toda esta organização contribuirá positivamente para a ação
criadora e expressiva, objetivo final da atividade.
“As rotinas atuam como organizadoras estruturais das experiências cotidianas, pois
esclarecem a estrutura e possibilitam o domínio do processo a ser seguido e, ainda,
substituem a incerteza do futuro (...) por um esquema fácil de assumir. O quotidiano
passa, então, a ser algo previsível, o que tem importantes efeitos sobre a segurança
e a autonomia.”12
A AULA DE ARTE
a) A RODA
Levantar os temas e assuntos de interesse dos alunos e que são trazidos por eles
mesmos como, por exemplo, as brincadeiras que fazem, ou as histórias que gostam
de contar.
Um bom momento para se realizar os registros coletivos sobre algum aspecto das
atividades.
b) O TRABALHO
Deve-se ocupar a maior parte do tempo da atividade artística com a produção. O ato
de criar é uma atividade lúdica, e por este motivo deve ter um mínimo possível de
regras que garantam o bom andamento como o respeito pelos colegas e pelo
produto do trabalho. Movimentar-se é essencial neste momento.
pequenas intervenções, com o tempo, farão a criança observar uma seqüência nas
ações que favorecerá a compreensão e ao domínio do próprio processo criativo.
c) A ORGANIZAÇÃO
O momento da organização deve ter a participação ativa das crianças dentro do que
é possível a cada faixa etária. Pegar um ou outro material para que o professor
organize quando a criança tem dois anos, por exemplo. Contribuir com a
classificação de um pequeno sucatário, com a limpeza de pincéis ou da mesa de
trabalho aos cinco anos, é sempre possível.
Estas atividades também contribuem para um maior envolvimento com o ato de criar
na escola, pelo desenvolvimento de um senso de responsabilidade que modifica a
relação da criança com o produto de seu trabalho.
9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
¹.PAÍN, S. — “La estructura estética del pensamiento”, publicação “n.º. 8, Espacio Psicopedagógico Brasileño Uruguayo
Argentino”, edit. Escuela Psicopedagógica de Buenos Aires, outubro de 1998, p. 9.
2
MOREIRA, A. A. A. — “O espaço do desenho: a educação do educador”, 1ªed., Loyola, São Paulo, 1984, p. 70.
3
“Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil”,vol. 3, Ministério da Educação e do Desporto, Brasília, 1988,
p. 87.
4
MACHADO, M. M. — “O brinquedo- sucata e a criança”, 1ªed., Loyola, São Paulo, 1994, p. 25.
5
MOREIRA, A. A. A. — “O espaço do desenho: a educação do educador”, 1ªed., Loyola, São Paulo, 1984, p. 127.
6
DERDIK, E. — “Formas de pensar o desenho”, 1ª ed., Scipione, Sâo Paulo, 1989, p. 49.
7
BACHELARD, G. —“O direito de sonhar”, 4ª ed, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1994, p. 6.
8
MOREIRA, A. A. A. — “Artes Visuais” em Cadernos de Formação I – Secretaria Municipal de Educação e Formação
Profissional de Santo André, p. 56.
9
ZABALZA, M. A. .“Qualidade em Educação Infantil”, Porto Alegre – ed. ArtMed, 1988, p. 50.
10
ZABALZA, M. A. .“Qualidade em Educação Infantil”, Porto Alegre – ed. ArtMed, 1988, p. 53.
11
MOREIRA, A. A. A. — “O espaço do desenho: a educação do educador”, 1ªed., Loyola, São Paulo, 1984, p. 38.
12
ZABALZA, M. A. .“Qualidade em Educação Infantil”, Porto Alegre – ed. ArtMed, 1988, p. 52.