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RESUMO
O objetivo deste artigo é identificar como o tema cultura escolar tem sido trabalhado na
historiografia brasileira e qual a influência do professor na transmissão dessa cultura. Para isso,
será feita uma análise do tema através de um estudo histórico e bibliográfico, do caminho
percorrido pelo professor dentro da escola, sujeito histórico capaz de transmitir e disseminar
cultura. Pesquisa que se baseia em alguns dos teóricos da História Cultural que se debruçaram
sobre temas ligados à História da Educação, ou seja, a abordagem sobre a prática escolar segundo
Chervel, a noção de cultura escolar abordada por Julia Dominique, o conceito de práticas e
representações pensado por Chartier, a definição de estratégias e táticas apresentadas por Certeau,
bem como, o estudo de Menegazzo dos processos e produtos das práticas escolares, que
permitem a transmissão de conhecimentos circunscritos a um espaço/tempo. Nesse contexto,
subsidiaram as idéias aqui apresentadas, as bibliografias existentes, os artigos científicos, os
arquivos históricos, os livros, as dissertações de mestrado. Através desse estudo, chegou-se à
conclusão que os professores são responsáveis pela transmissão da cultura escolar e constituem
fonte para a investigação, descrição e compreensão da história do processo de ensino e das
práticas escolares existentes.
ABSTRACK
The objectives of this article is to identify school culture as the theme has been worked on
Brazilian historiography from the teacher´s influence on the transmission of culture. For this, an
analysis of the theme through a historical and bibliographical study of the path traveled by the
teacher inside the school, subject history capable of transmitting and disseminating culture.
Research that is based on some of the theoreticians of cultural history that focus on topics related
to History of Education, or the approach on the practice school second Chervel, the notion of
school culture deal with Dominique Julia, the concept of practices and representations thought by
Chartier, the definition of strategies and tactics presented by Certeau. Menegazzo study of
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processes and products of educational practices, which allow the transmission of knowledge
confined to a space/time. In this context, subsidized the ideas presented here, the existing
bibliographies, research papers, historical archives, books, dissertation. Through this study, it was
concluded that teachers are responsible for transmission of the school culture and constitutes a
basis for investigation, description and understanding of the history of teaching and school
practices in existence
INTRODUÇÃO
No que concerne aos estudos sobre os professores, Viñao Frago (1996/1998), valoriza a
diferença entre saber docente e técnico. Julia (2001) e Chervel (1990, p. 44) veem o professor
como aquele que põe em funcionamento os dispositivos escolares de maneira criativa respeitando
às normas estabelecidas. Se essa concepção está implícita em Viñao (1998), a ênfase da
interpretação não recai sobre a positividade da ação docente, mas sobre as falhas ou falta de
reformas.
No entanto, de acordo com Chartier (1990) o conceito de representação incorpora
discursos que apreendem e estruturam o mundo e permitem compreender a relação entre os
discursos e as práticas, isto é, como os profissionais da educação interpretavam as finalidades da
escola e as concepções pedagógicas para justificar suas escolhas e condutas, ao mesmo tempo
que, tenta transmitir essa cultura.
Por outro lado, as práticas Pedagógicas são na verdade táticas no sentido empregado por
Michel de Certeau (2000), que as define como movimento que ganha vida no cotidiano e cria
uma maneira peculiar de fazer, utilizando, manipulando e alterando as normas que foram
prescritas.(CERTEAU, 2000).
As práticas Pedagógicas demonstram que cada professor interpreta de modo pessoal o
conteúdo das disciplinas – mesmo que haja um planejamento idêntico para uma rede de escolas,
costuma-se dizer que quando se fecha a porta da sala de aula ninguém consegue controlar
completamente o professor. Aquele é o território de seu domínio e lá ele detém uma ampla
liberdade de manobra. Esta “liberdade” viria do conhecimento que ele possui sobre o que
funciona ou não com os seus alunos, é a partir daí que vai ser definido o que se quer transmitir
aos mesmos, ou seja, como transformá-los culturalmente. Por outro lado, os docentes se referem
sem cessar a uma interpretação pessoal de sua função por intermédio da construção de um ofício
apresentado como uma experiência privada, quando não íntima. Tal intimidade vem do fato de os
atores terem que combinar lógicas e princípios diversos, geralmente opostos, uma combinação
que eles percebem como obra sua como a realização ou o revés de sua personalidade. No entanto,
a única restrição exercida sobre o professor é o grupo de alunos que tem diante de si, isto é, “os
saberes que funcionam e os que “não funcionam” diante deste público” (JULIA, 2001, p, 33).
Por isso, nada se reduz ao que foi programado nem planejado de maneira explícita. São
criações espontâneas e específicas da escola e por isto merecem ser amplamente estudadas. Este
poder criativo do sistema escolar até agora não foi suficientemente valorizado e ele
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desempenha na sociedade um papel o qual não se percebeu que era duplo: de fato ele forma não
somente os indivíduos, mas também uma cultura que vem por sua vez penetrar, moldar,
modificar a cultura da sociedade global. (CHERVEL, In:VIDAL, 2005).
Por outro lado, ao tratar de cultura escolar Dominique Julia (2001), a define como:
Ela confirma que os professores são essenciais nesta abordagem, porque são eles que,
para cumprir estas normas, utilizam-se de determinados dispositivos pedagógicos, encarregados
de facilitar sua aplicação e transmissão. Também considera cultura escolar o que está além dos
limites da escola, ou seja, modos de pensar e de agir da sociedade que supõem ser a escola o
único lugar onde se possa adquirir conhecimentos e habilidades. Em segundo lugar, a ideia de
cultura escolar assinala as práticas que permitem a transmissão desses saberes. Isso significa
considerar que os manuais pedagógicos, ao dirigirem-se aos professores, elaboram e divulgam os
conhecimentos a partir dos quais a cultura escolar é construída e disseminada.
Parece claro, portanto, que considerar a cultura escolar como objeto histórico implica
analisar o significado imposto aos processos de transmissão de saberes e inculcação de valores
dentro desse espaço. Implica também considerar a transmissão como elemento central desse
processo, tendo-se cuidado de não fazer exclusivamente uma análise ideológica (JULIA, 2001).
Ao conceituar a cultura escolar na relação entre normas e práticas o autor sugere
uma série de possibilidades nelas inscritas que resultam das diferentes apropriações e
objetivações que os docentes fazem da regulamentação pretendida pelo Estado. Para Julia a
cultura escolar não pode ser compreendida: [...] sem se levar em conta o corpo profissional
agentes que são chamados a obedecer a essas ordens e, portanto, a utilizar dispositivos
pedagógicos encarregados de facilitar a sua aplicação, a saber, os professores primários e
os demais professores (JULIA, 2001).
Por sua vez, Diana Vidal (2005, p. 32) retoma este conceito tal como ele é pensado por
Augustín Escolano (1999), ao distinguir três culturas escolares. Uma delas é chamada de
empírica, prática ou material, sendo produzida cotidianamente pelos docentes; a outra é a
política ou normativa, ou seja, corresponde às regras que governam o funcionamento das escolas
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e, por fim, há uma cultura do tipo científica ou pedagógica, elaborada, segundo o autor, para
explicar ou propor modos de trabalho tipicamente escolares transmitidos pelos docentes.
Por outro lado, considerando cultura como produto e processo que dão significado às
práticas humanas (MENEGAZZO, 2001) diz: estudar a cultura escolar é estudar os processos e
produtos das práticas escolares, isto é, práticas que permitem a transmissão de conhecimentos e a
inculcação de condutas circunscritas a um espaço/tempo identificado como escola.
A grande importância dessa perspectiva reside no fato de os professores ocuparem, na
escola, uma posição fundamental em relação ao conjunto dos agentes escolares: em seu trabalho
cotidiano com os alunos, são eles os principais atores e mediadores da cultura e dos saberes
escolares. [...] “interessar-se pelos saberes e pela subjetividade deles é tentar penetrar no próprio
cerne do processo concreto de escolarização” (MENEGAZZO, 2001, p. 113).
Já para Carvalho, (2003, p. 261) O conceito de cultura escolar é mobilizado, pondo em
foco as práticas constitutivas de uma sociabilidade escolar e de um modo, também escolar, de
transmissão cultural.
Reconhecer os professores como “principais atores e mediadores da cultura” implica
também em reconhecê-los como sujeitos do conhecimento, rompendo com concepções que ora o
identificam com um mero técnico que apenas reproduz aquilo que especialistas ou peritos
produziram – "visão tecnicista"; ora o identificam como um agente social determinado
exclusivamente por forças sociais – "visão sociológica" ((MENEGAZZO, 2001, p. 114).
Enfim, O professor constitui o eixo fundamental da educação e deve, por isso, assumir a
responsabilidade das mudanças não somente em nível cultural, mas também social e tecnológico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preocupação com a problemática da cultura escolar surgiu no âmbito de uma
reviravolta dos trabalhos históricos educacionais e de uma aproximação, cada vez mais fecunda
com a História da Educação, seja pelo exercício de levantamento, organização e ampliação da
massa documental a ser utilizada nas análises, seja pelo acolhimento de protocolos de
legitimidade da narrativa historiográfica.
Assim, ao considerar nossas observações e reflexões com relação ao espaço escolar e a
cultura disseminada na escola, pelos professores, compreendemos, que ao mesmo tempo em que
a escola funciona como transmissora e disciplinadora do conhecimento dos sujeitos, através de
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seus docentes, ela pode também se configurar como um dos importantes instrumentos de
transformação se ultrapassar essa concepção instrumentalizadora do fazer cultural.
sobre o professor, seu fazer e sua prática, como sujeito que é capaz de disseminar conhecimento e
transmitir cultura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENCOSTA, Marcus Lévy (org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas:
itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. História da Educação: notas em torno de uma questão de
fronteiras. In: CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A escola e a República e outros ensaios.
Bragança Paulista: EDUSF, 2003, p. 257-265.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Artes de Fazer. Petrópolis : Vozes, 2000.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990.
CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa.
Teoria e Educação. Vol. 2, Porto Alegre: 1990, p. 177-229.
CHERVEL, André. “História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa,
teoria e educação”. In: VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas escolares: estudos de práticas de
leitura e escrita na escola pública primária (Brasil e França, final do século XIX). Campinas:
Autores Associados, 2005, p 44.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. “Conhecimento e cultura na escola: uma abordagem
histórica”. In: DAYRELL, Juarez (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 1996, p. 127-193.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. “Escolarização e cultura escolar no Brasil: reflexões em
torno de alguns pressupostos e desafios”. In: BENCOSTA, Marcus Lévy (org.). Culturas
escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007, p. 208.
MENEGAZZO, Maria Adélia. Cultura e língua portuguesa. Campo Grande: UFMS. Trabalho
apresentado no GELCO – I ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS DA LINGUAGEM.
Campo Grande: UFMS 2001.
SOUZA, Rosa Fátima de. “História da Cultura Material Escolar: um balanço inicial”. In:
BENCOSTA, Marcus Lévy (org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas:
itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007, p.180.
VIÑAO FRAGO, Antonio. 2002. In: SOUZA, Rosa Fátima de. Alicerce da Pátria: História da
Escola primária no Estado de São Paulo (1890-1976). Campinas: Mercado de Letras, 2009.
VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas escolares: estudos de práticas de leitura e escrita na escola
pública primária (Brasil e França, final do século XIX). Campinas: Autores Associados, 2005.
VIÑAO FRAGO, Antonio. “Por una historia de la cultura escolar: enfoques, cuestiones, fuentes”.
In: FERNANDEZ, Celso. Almuinã et al. Cultura y Civilizaciones. III Congreso de la
Asociación de Historia Contemporânea. Valladolid: Secretariado de Publicaciones e Intercambio
Cientifico. Universidad de Valladolid, 1996/1998, p. 165-184.
NOTA:
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Carmen Regina de Carvalho Pimentel. Especialista em Docência do Ensino Superior. Profª. Tutora de Língua
Portuguesa- CESAD-UFS. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação - GEPHE-UFS.
Letras/Português e Pedagogia. Carmencp2@yahoo.com.br.
2 Ana Carla Menezes de Oliveira. Especialista em Docência do Ensino Superior. Mestranda em Educação- UFS.
Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em História da Educação – GEPHE-UFS. Supervisora da Escola
Agrotécnica Federal de São Cristóvão-EAFSC. Pedagoga. anacarla@eafsc.gov.br