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PREPARANDO A
ESCOLA E A SALA DE AULA
Caderno 3
Belo Horizonte
2004
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Aécio Neves da Cunha
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO Vanessa Guimarães Pinto
SECRETÁRIO-ADJUNTO DE EDUCAÇÃO João Antônio Filocre Saraiva
SUBSECRETÁRIA DE
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO Maria Eliana Novaes
SUBSECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO
DO SISTEMA DA EDUCAÇÃO Gilberto José Rezende dos Santos
EQUIPE TÉCNICA
CDD 372.4
FICHA TÉCNICA
Elaboração
Antônio Augusto Gomes Batista - Diretor
Aparecida Paiva
Ceris Ribas
Isabel Cristina Alves da Silva Frade
Maria da Graça Ferreira da Costa Val
Maria das Graças de Castro Bregunci
Maria Lúcia Castanheira
Sara Mourão Monteiro
Consultores
Carla Viana Coscarelli
Marco Antônio de Oliveira
Revisão
Luiz Carlos de Assis Rocha
! Caderno 2: Alfabetizando
Apresentação .........................................................................................7
APRESENTAÇÃO
Este Caderno focalizará algumas dimensões diretamente relacionadas à preparação
da escola e da sala de aula para o trabalho no Ciclo Inicial de Alfabetização. A abordagem
proposta ampliará o foco explorado no Caderno 2, voltando-se, agora, para o estabelecimento
de um conjunto de procedimentos que poderão contribuir para a
organização das práticas pedagógicas em torno da alfabetização e O Caderno 2 focaliza as
progressivas capacidades a
do letramento dos alunos desse Ciclo: serem atingidas pelas
crianças ao longo do Ciclo
1. Os critérios mais relevantes para a seleção e a
Inicial de Alfabetização.
preparação dos educadores – professores e
especialistas – que atuarão no Ciclo Inicial de Alfabetização;
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O professor alfabetizador é o profissional que atua no contexto de um
projeto pedagógico, um programa curricular, uma área de
conhecimento e um ciclo específico do nível fundamental de ensino. Os
indicadores de êxito de seu trabalho pressupõem: (i) a consolidação do
ensino e da aprendizagem da língua escrita; (ii) a efetivação de uma
prática diversificada, flexível e sensível às características culturais,
sociais e de aprendizagem dos alunos dos três anos do Ciclo Inicial de
Alfabetização.
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alunos, quais são suas capacidades e como eles valorizam e compreendem a escrita e a
própria escolarização (aspectos sócio-culturais, cognitivos, atitudinais); c) quais são os
conteúdos e conhecimentos lingüísticos que devem ser enfatizados no ciclo; d) quais são as
possibilidades metodológicas mais pertinentes aos objetivos do ensino (a didática da
alfabetização); e) quais são os instrumentos de avaliação mais adequados ao processo
(diagnósticos e intervenções).
Nos Cadernos desta
Esse complexo conjunto de procedimentos evidencia que Coleção você pode
não será o professor inexperiente o mais indicado para a tarefa de encontrar os fundamentos
desses procedimentos:
alfabetizar. Caso as condições da escola assim o exijam, será Caderno 1 (a,b), Caderno 2
necessário criar uma rede de parceria e sustentação pedagógica em (b,c) Caderno 3 (d),
Caderno 4 (e).
torno da atuação do professor iniciante.
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pelo professor é o de promover o convívio e o trabalho com a diversidade e com a diferença.
Essa pluralidade se desdobrará em dimensões sócio-culturais e econômicas, étnico-raciais ou
ainda de gênero, quando se pensa em possíveis diferenças de oportunidades de interação e de
desempenho entre meninos e meninas.
Alguns estudos (SIROTA,
As diferenças também dizem respeito aos ritmos de 1996; GIUSTA e
BREGUNCI, 1998) têm
aprendizagem (entre aqueles que são mais informados e estão mais
apontado maior incidência
avançados e aqueles que estão menos avançados no conhecimento de dificuldades na
escolarizado). As diferenças podem, ainda, ser mais desafiadoras se escolarização inicial em
meninos, menos
o professor estiver envolvido com a inclusão de crianças com valorizados nas interações
necessidades especiais – o que exigirá que demande recursos e em sala de aula e menos
adaptados aos rituais da
preparação adicional para as ações nas quais se sente despreparado escola do que as meninas.
ou inseguro. Assim, para trabalhar nesse contexto de diferenças é
importante que o alfabetizador saiba criar um ambiente de parceria,
de troca e de intervenção na sala de aula, de modo a favorecer que
A discussão sobre
cada aluno avance em relação ao ponto em que se encontra. Precisa reagrupamentos de
compreender, enfim, que, por mais que se tente o reagrupamento de alunos é desenvolvida
no Caderno 4.
alunos das turmas de alfabetização durante o ano letivo ou ao longo
do ciclo, buscando sua homogeneidade, sempre haverá diferenças
Propostas de
entre eles. Para enfrentá-las, o professor necessita propor procedimentos
diversificados são
procedimentos diversificados, adaptados às necessidades e ao nível
sugeridas nos
de cada aluno. Cadernos 2 e 3.
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parceria permite que as aprendizagens do professor sejam compartilhadas, contribui para
maior consistência de seu desempenho em sala de aula, propicia reflexões sobre experiências,
conquistas e frustrações, espelhadas nas práticas e nos sentimentos de seus pares. Essa
perspectiva pode se ampliar através de sua participação em trabalhos de colegas na sala de
aula, na exposição de experiências bem sucedidas, na formação de iniciantes, na acolhida de
estagiários de alfabetização, no envolvimento com a discussão de resultados e problemas da
alfabetização e nos momentos de compartilhar esses resultados com os pais de alunos.
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docente (como dificuldades na apropriação pedagógica As Orientações para o
Ciclo Inicial de
de orientações curriculares e projetos inovadores,
Alfabetização representam
dificuldades no ensino da leitura e da escrita, das um conjunto de temas e
focos que demandarão
intervenções no campo ortográfico ou de recursos
inúmeras ações de
alternativos para o trabalho junto a crianças com formação continuada dos
necessidades especiais); profissionais da
alfabetização, através de
c) Formas de avaliação coletiva das experiências e ações parcerias entre as redes de
ensino e as instituições
da instituição que serão divulgadas fora da escola;
formadoras desses
d) Retorno, para o conjunto de profissionais, de ações e profissionais.
Referências
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ROSENTHAL, R.; JACOBSON, L. Profecias auto-realizadoras em sala de aula: as expectativas de
professores como determinantes não intencionais da competência intelectual. In: PATTO, Maria Helena S.
(Org.). Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: T. A. Queiroz, 1981. (parte III, cap. 3).
PATTO, Maria Helena S. (org.). Introdução à Psicologia Escolar . São Paulo: T.A. Queiroz, 1981. (parte III,
cap. 3 - Profecias auto-realizadoras em sala de aula: as expectativas de professores como determinantes
não intencionais da competência intelectual; Rosenthal e Jacobson).
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PERRENOUD, P. Formando professores profissionais: quais estratégias? Quais competências? Porto
Alegre: Artmed, 2001.
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SILVA, Tomaz Tadeu et al. Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais.
Petrópolis: Vozes, 1998.
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VEIGA, Ilma P.; RESENDE, Lúcia Maria G. Escola: espaço do projeto político-pedagógico. Campinas:
Papirus, 2002.
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Mas o planejamento é também imprescindível por uma outra razão. É que o trabalho
pedagógico deve ser sempre um trabalho sistemático para que possa ter efeitos (e efeitos
duráveis) sobre o aluno. É preciso que haja uma continuidade entre uma aula e outra;
conhecimentos complexos para o aluno devem ser abordados antes daqueles menos
complexos; o que é mais próximo da realidade da criança ajuda a dominar o que é mais distante.
Em outras palavras, uma prática de ensino assistemática é pouco favorável ao aprendizado do
aluno e é o planejamento que pode assegurar que essa prática assuma um caráter sistemático.
Quando um professor planeja, ele se baseia, muito, nas suas expectativas individuais
em relação ao ensino, bem como em suas possibilidades individuais (em seu estilo de atuação,
em seus conhecimentos, em seus gostos). Essa dimensão individual e subjetiva da prática de
ensino é extremamente importante, porque é ela que nos faz sentir prazer em sala de aula, nos
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faz sentir realizados, nos faz sentir que nos exprimimos por meio de nosso trabalho. Assim,
nossa prática deve expressar nossa subjetividade, nossas crenças e nossas possibilidades.
Como planejar?
Um processo de planejamento deveria se estruturar em torno de cinco grandes
conjuntos de procedimentos, estabelecidos de acordo com o aquilo que se deseja definir,
organizar, planejar,
! criando condições para o planejamento;
! estabelecendo e compartilhando as finalidades ou metas a serem alcançadas;
! definindo os meios para alcançar essas metas ou finalidades;
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! escolhendo instrumentos de registro das atividades;
! avaliando o que se planejou e o que se realizou.
Nas seções que se seguem serão discutidos os três primeiros procedimentos. Os dois
últimos serão focalizados no Caderno 4 e detalhados em documentos posteriores.
Primeiro dia – a comunidade escolar (incluindo a família dos alunos do Ciclo Inicial e
do Ciclo Completar de Alfabetização) faz, num seminário, uma avaliação das
conquistas e das dificuldades da escola e define as metas ou objetivos a serem
alcançados no ano letivo que se iniciará.
A proposta de metodologia
Segundo dia – os professores alfabetizadores e de avaliação aqui
apresentada se baseia na
especialistas elaboram individualmente o planejamento do proposta do projeto
Ciclo Inicial de Alfabetização, estabelecendo os objetivos ou Indicadores Qualitativos da
Educação na Escola, um
metas a serem alcançados, bem como os principais meios instrumento elaborado por
para alcançar essas metas. Para o estabelecimento das educadores e apoiado pelo
Unicef e por Ação
metas, o Caderno 2 desta Coleção, ao definir as principais
Educativa. Para ter acesso a
competências envolvidas na alfabetização e no letramento, essa proposta, consulte
acaoeducativa@org.br
fornece uma base inicial.
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Quinto dia – a escola realiza a discussão, com a É muito importante
envolver os pais na
comunidade escolar, das metas a serem alcançadas e dos discussão sobre as
principais meios a serem utilizados. metas ou objetivos a
serem alcançados. A
última seção deste
Caderno focalizará as
Sexto dia – a escola refaz o planejamento com base nas
relações da escola com
discussões com a comunidade escolar. a comunidade escolar.
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A intenção principal consiste em valorizar alguns tipos de
atividades que podem ser considerados indispensáveis para que a
alfabetização dos alunos se realize, de acordo com os eixos de
conteúdos e capacidades essenciais à aprendizagem inicial da Para a revisão desses eixos
e de seus desdobramentos
linguagem escrita: compreensão e valorização da cultura escrita; consulte o Caderno 2.
apropriação do sistema de escrita; leitura; produção de textos
escritos; desenvolvimento da oralidade.
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Quadro 1
Compreensão e valorização da cultura escrita
Atividades pedagógicas para o trabalho no
Ciclo Inicial de Alfabetização
Atividades Fase
Fase I Fase II
Introd.
Atividades que abordam os modos de produção e circulação da
escrita na sociedade: diferentes gêneros textuais (histórias,
notícias, cartas, propagandas, etc.), em diferentes suportes A- A+- A+
(livros, revistas, jornais, papel de carta, out-doors, etc.), em
diferentes espaços (livrarias, bancas, bibliotecas, etc.)
As duas últimas linhas do quadro dizem respeito a atividades cujo objetivo é ensinar as
crianças a manejar os materiais de leitura e escrita usados na escola (livro didático, livro de
histórias, caderno, lápis, borracha, régua, etc.). A coluna relativa à Fase Introdutória, no quadro,
está com o sombreamento mais escuro porque se considera que esse aprendizado deve ser
desenvolvido e consolidado logo no ano de entrada do aluno no Ciclo Inicial de Alfabetização. A
gradação nos tons de cinza, nesse caso, do mais escuro para o mais claro, sugere que, na Fase I
e na Fase II, o professor ainda esteja atento à adequação do uso desses materiais pelas crianças
e que, quando considerar necessário, promova atividades ou faça intervenções para correção de
algum procedimento inadequado.
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Quadro 2
Apropriação do sistema de escrita
Atividades pedagógicas para o trabalho no
Ciclo Inicial de Alfabetização
Fase
Atividades Fase I Fase II
Introd.
Atividades que exploram unidades fonológicas como sílabas,
rimas, terminações de palavras, etc.
A primeira linha do quadro se refere a atividades que orientam a atenção das crianças
para a pauta sonora da fala, propondo-lhes brincar com sílabas, rimas, partes de palavras, de
modo a desenvolver sua consciência fonológica – ou seja, sua compreensão de que a palavra
está representada por uma seqüência de sons, que se modificarão conforme sua posição no
registro escrito. Tais atividades podem, facilitar-lhes a apreensão da natureza alfabética da
escrita. Trata-se, portanto, de um aprendizado que deve ser sistematicamente trabalhado e
consolidado no ano de entrada da criança no Ciclo Inicial de Alfabetização, podendo,
eventualmente, ser retomado, se necessário, na Fase I e na Fase II. Entretanto, como se
espera que a natureza alfabética da escrita esteja apreendida na Fase I, prevê-se que esse tipo
de atividade, com o objetivo de sensibilização da consciência fonológica, se torne
progressivamente menos necessário. Esse é o significado das gradações de cinza nas colunas
referentes às três Fases do Ciclo.
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O caso da aluna Débora, comentado no Caderno 1 desta Coleção, seria um bom exemplo dessa situação.
Analise novamente suas dificuldades e identifique as capacidades que não foram consolidadas por essa aluna e
nem retomadas pela proposta da escola ao longo de sua escolarização.
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trabalho vai depender da atenção e da sensibilidade do professor e da equipe da escola na
adequação das propostas dos quadros deste Caderno às reais condições de seus alunos.
Quadro 3
Leitura
Atividades pedagógicas para o trabalho no Ciclo Inicial de Alfabetização
Atividades Fase
Fase I Fase II
Introd.
Atividades voltadas para o desenvolvimento de atitudes e
A- A+- A+
disposições favoráveis à leitura (por exemplo: escolha,
manuseio e leitura de livros, jornais e revistas, na biblioteca da
escola; alunos livres ou orientados pelo professor e/ou
bibliotecário, individuais ou coletivos)
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Fase
Atividades Fase I Fase II
Introd.
Atividades voltadas para a compreensão e valorização do uso
da escrita com diferentes funções, em diferentes gêneros A- A+- A+
continua
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continuação
Fase
Atividades Fase I Fase II
Introd.
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Quadro 5
Desenvolvimento da oralidade
Atividades pedagógicas para o trabalho no
Ciclo Inicial de Alfabetização
Atividades Fase
Fase I Fase II
Introd.
Atividades voltadas para o desenvolvimento de atitude de
respeito e valorização da diversidade das formas de expressão
oral de colegas, professores e funcionários da escola, bem
como de pessoas da comunidade extra-escolar
O sombreamento escuro nas cinco primeiras linhas do quadro pretende sugerir que
sejam trabalhadas com sistematicidade, nas três fases do Ciclo, tanto atividades voltadas para
a convivência democrática e respeitosa com falantes de diferentes variedades lingüísticas
quanto atividades de interação oral em sala de aula que possibilitem a participação ativa dos
alunos.
A gradação nos tons de cinza das três últimas linhas sugere gradação na dificuldade
das situações de exposição oral e de escuta.
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Fechando a apresentação dos quadros de atividades, voltamos a enfatizar que se trata
de um conjunto de sugestões e nunca de imposição de uma seqüência linear e inflexível. Como
já foi dito no Caderno 2 e voltará a ser discutido no Caderno 4, a implementação dessas
sugestões na escola precisa passar pela análise e discussão dos profissionais envolvidos com
o processo de alfabetização, de modo a adequá-las às condições reais dos alunos, dos
professores e da escola. O compromisso prioritário da escola não é com o cumprimento
rigoroso desta proposta, é com a efetiva alfabetização de seus alunos.
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alunos, das capacidades por eles já desenvolvidas e daquelas que O Caderno 4 apresenta
ainda estão por se desenvolver, de maneira a ter subsídios que algumas sugestões sobre o
diagnóstico das capacidades
suportem suas decisões sobre o que, quando e como desenvolver
dos alunos.
certas atividades com o seu grupo de alunos.
Se, por um lado, o professor precisa estar atento às particularidades do seu grupo ao
definir o planejamento de seus trabalhos, por outro, ele não pode perder de vista a inserção de
sua turma em um contexto de ensino mais amplo. Dessa forma, o professor é desafiado a
planejar seu trabalho com os alunos de maneira a estar em consonância com outros
professores da escola onde trabalha e de outras escolas do sistema de ensino. Enfim, a
qualidade das experiências escolares vivenciadas por seu grupo de alunos deve estar em
sintonia com o que se propõe, no plano estadual, para os alunos do Ciclo Inicial de
Alfabetização. Atentar para essa necessidade é responder ao apelo pela garantia de um ensino
que efetivamente possibilite o acesso de todos os alunos a práticas escolares que lhes
garantam a aprendizagem da leitura e da escrita e o desenvolvimento de suas capacidades
como sujeitos letrados.
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evidente ao analisarmos como a rotina de uma turma está organizada. Algumas perguntas
auxiliam essa análise:
! quem pode dizer (ou fazer, escrever, ler) o quê?
! com quem?
! para quem?
! de que forma?
! sob que condições?
! quando?
! onde?
! com que propósito?
! e com que resultados?
Essas questões podem ser utilizadas tanto para evidenciar os elementos de uma rotina
já estabelecida, como para orientar a organização de uma rotina a ser estabelecida.
A rotina será variada, por exemplo, quando: a) permitir que Uma rotina é variada
um determinado aluno trabalhe ora com colegas que apresentam quando possibilita aos
capacidades similares à sua, ora com colegas que apresentam alunos experiências
diversificadas de trabalho e
capacidades diferentes da sua; b) possibilitar ao alunos que leiam ora
contribui para a ampliação
livros, ora quadrinhos, ora textos de colegas ou outros tipos de textos; de capacidades,
c) criar condições para que os alunos produzam textos para conhecimentos e contextos
diferentes destinatários pais, colegas, professor, jornais, revistas, de aplicação.
etc.
Além disso, a rotina será sistemática, por exemplo, quando
permitir que os alunos exercitem suas capacidades de leitura e de Uma rotina é sistemática
escrita ou apreendam a lógica das diferentes formas de produzir quando possibilita a
presença freqüente e
textos.
previsível de certas
Como procedimento sistemático, a rotina poderá assegurar atividades, contribuindo
que experiências de trabalho com a escrita não permaneçam para a consolidação de
isoladas, aleatórias, desvinculadas do processo e dos resultados capacidades e experiências
dos alunos.
pretendidos. Esse parece ser um dos paradoxos que o professor
precisa resolver ao organizar, planejar, coordenar e desenvolver, no dia-a-dia de trabalhos com
seus alunos: possibilitar-lhes oportunidades variadas de aprendizagem, ao mesmo tempo que
lhes garanta vivenciá-las com uma certa freqüência, de forma a ampliar e consolidar suas
capacidades como aprendizes da leitura e da escrita.
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Quadro 6
AR DR AR DR AR DR AR DR AR DR
professor
Treinando a letra x x x x x
Ênfase na
escrita
Ilustrando histórias
Explorando o calendário x x x x x
Educação Física x
Artes x x
Legenda: AR = Antes do Recreio; DR = Depois do Recreio; X = Uma ocorrência de determinada atividade
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Embora com menor intensidade do que aquelas relativas à leitura, atividades que
possibilitaram o trabalho com a escrita também foram desenvolvidas com freqüência
significativa: treino da letra (diariamente), produção coletiva de texto – sendo a professora a
escriba (duas vezes durante a semana). Anotação de palavras novas, nomes de colegas ou de
letras do alfabeto em diário pessoal também tiveram seu espaço na programação. Além disso,
foram explorados, durante a semana, jogos diversos, músicas, parlendas e trava-línguas.
Referências
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FERREIRO, Emília; PALACIO, M. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre:
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ZABALA, A. Como trabalhar os conteúdos procedimentais em sala de aula. Porto Alegre: Artes Médicas,
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a) Métodos sintéticos
Estes métodos, em seu conjunto, abordam uma dimensão importante e necessária para o
aprendizado da escrita: a análise das relações entre fonemas (“sons” ou unidades sonoras) e
grafemas (“letras” ou grupos de letras).
De fato, dificilmente alguém aprenderá a ler ou escrever sem As relações entre fonemas e
grafemas são analisadas do
que opere com os fonemas e o modo de representá-lo graficamente. ponto de vista conceitual e
É importante, como já se enfatizou em várias seções desta Coleção, procedimental na segunda
seção do Caderno 2.
que a criança focalize a pauta sonora da língua, observando
segmentos como sílabas, começos ou finais de palavras, rimas e
outras unidades do sistema fonológico. Somente assim estabelecerá
relações entre a escrita e a cadeia sonora das palavras, apreendendo
regras de correspondência entre grafemas e fonemas.
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escrita pode parecer simples, se for pensada do ponto de vista das relações fonema/grafema.
Para uma criança, aprendiz iniciante do sistema de escrita, pode ser uma grande abstração
deter-se em fonemas e cadeias sonoras apenas aparentemente fáceis, como ai, oi, au, ua. Da
mesma forma, se os livros ou professores se concentram somente em sílabas, palavras, frases
ou textos para o mero treinamento de letras, fonemas ou sílabas já estudadas ou conhecidas, os
textos perdem sua unidade de sentido e a escrita se esvazia de suas funções comunicativas.
As vantagens desses métodos é que trabalham com uma habilidade muito importante na
leitura: o reconhecimento global e mais rápido das palavras. Leitores adultos ou fluentes que
têm um repertório ideovisual muito amplo, não necessitam decodificar tudo, quando já
conhecem as palavras que lêem. Uma das vantagens dos métodos analíticos é exatamente o
estímulo para que as crianças possam ler unidades com sentido mesmo que apenas pelo
reconhecimento global desde o início de sua escolarização.
Um problema desses métodos é que essas estratégias são muito boas para textos
conhecidos, mas podem não ser suficientes quando aparecem palavras completamente novas.
Um outro risco é que as crianças aprendam apenas “de cor”, por
Essa forma de
processos de memorização elementares e que, sem orientação para aprendizagem foi
a decodificação, não observem que as palavras são compostas de exemplificada no caso da
aluna Débora, sendo mais
unidades menores como a sílaba, a letra ou sufixos. Assim, quando um efeito de abordagens
as propostas do professor ou do livro didático se valem apenas de metodológicas consideradas
apenas parcialmente.
textos artificiais, curtos e repetitivos, tendo como objetivo apenas a
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fixação e a memorização, discriminações importantes e capacidades mais elaboradas ficam
prejudicadas.
orientações metodológicas.
Uma reflexão necessária, portanto, deve se centrar na
avaliação da consistência da proposta metodológica, que não
poderia se limitar a uma soma ou justaposição de princípios, sem
clareza sobre suas implicações didáticas.
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! Estariam, como conseqüência da razão anterior, prescrevendo e controlando o processo de
aprendizagem dos alunos, não permitindo a progressão e a autonomia no uso de suas
capacidades;
! Impediriam a autonomia do próprio professor, protagonista principal nas decisões sobre a
condução do processo de alfabetização;
! Estariam restringindo o estudo do sistema de escrita à fixação, ora em uma unidade da
língua, ora em uma seqüência repetitiva, ora em um padrão textual artificial;
! Apresentariam a língua escrita ao aprendiz iniciante de forma controlada, não abordando
contextos e usos sociais que escapem ao padrão ou modelo previsto.
Uma das perspectivas críticas mais contundentes pode ser situada na oposição entre os
métodos considerados tradicionais e os métodos naturais ou de imersão na língua.
Considerando a vertente “tradicional” excessivamente diretiva, os métodos naturais
defenderiam uma perspectiva mais espontânea, ou não diretiva, no ensino-aprendizagem da
escrita e da leitura, valorizando a busca de significados, em situações em que haja necessidade
de escrever ou ler, regida pelas circunstâncias do trabalho e pelos interesses dos alunos, com
pouca intervenção do professor. Apesar dessa valorização da atividade da criança, a ausência
de sistematização no ensino oferece riscos de um “espontaneísmo” excessivo, que certamente
compromete a aquisição de um sistema complexo como o da escrita.
Uma outra vertente que busca superar polarizações anteriores Veja comentários sobre
o Construtivismo no
estaria representada pelo ideário construtivista, mais fortemente Caderno 1 e na
discutido e incorporado, em nosso contexto, nas últimas duas Apresentação do
Caderno 2.
décadas. Foram anteriormente analisadas, nesta Coleção,
dimensões positivas e problemas associados à sua apropriação nas
práticas de alfabetização, que não serão aqui retomadas, para evitar
redundâncias.
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3.2. Princípios metodológicos permanentes e sua
presença nas práticas “atuais”
Tanto o princípio de decodificação, como o princípio da compreensão ou do
reconhecimento global são duas faces da mesma moeda. Muitos professores que optam por
um método dito “tradicional” precisam saber os aspectos deficitários da abordagem
selecionada, para buscar complementá-lo. Por outro lado, os professores que assumem
práticas consideradas “alternativas” podem negar a importância da permanência desses
princípios, por desconhecerem a sua importância. No entanto, eles estão presentes em suas
práticas atuais e nas atividades que realizam.
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Nesses processos, aqui descritos como bem sucedidos, infere-se que as estratégias
metodológicas clássicas estão presentes, no momento certo, para os alunos certos, na ordem
estabelecida pela necessidade pedagógica e que são mais bem aproveitadas por quem já tem
conhecimento de métodos e possui a memória do sucesso desses procedimentos. Essa é uma
reconstrução necessária no coletivo da escola, para que se garanta o desejável equilíbrio
metodológico – algo que não deve ser confundido com o esvaziamento procedimental ou com a
mera recusa ao método.
Assim, podemos dizer que o que acontece na sala de aula é muito mais do que
imaginamos, porque os professores não se apropriam da mesma maneira das prescrições
existentes em determinado método. Usam de competências, de conhecimento e de intuição,
advindos de suas práticas de sucesso. Poderíamos dizer que existem tantos métodos de
alfabetização quantos são os professores alfabetizadores.
Um segundo nível de síntese deveria, então, estar relacionado a alguns critérios que
poderiam orientar as escolhas relativas aos métodos de alfabetização. Tais escolhas poderiam
se fundamentar:
! Na escolha de livros e materiais didáticos, considerando-se seu caráter de organização e
sistematização do trabalho pedagógico. Embora a perspectiva desse processo de produção
esteja vinculada a uma autoria externa ao contexto concretamente visado, o livro didático
tanto poderá ser assumido como eixo condutor do trabalho, como poderá ser um material de
apoio pontual e instrumental, utilizado em momentos específicos e diversificados, seja para
introduzir conteúdos e explorar certas capacidades dos alunos, seja para sistematizar
atividades e consolidar aprendizagens.
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! Em qualquer uma dessas possibilidades de uso, é possível que o professor venha a assumir
o lugar de co-autor dessa apropriação e sistematização, articulando suas escolhas com os
filtros seletivos de sua prática. Isso significa, em síntese, uma dimensão metodológica de
seu trabalho.
! Na seleção de princípios gerais organizadores do trabalho pedagógico, sustentados pela
produção teórica e pela pesquisa na área. Incluem-se, nesse caso, as sistematizações
encontradas em textos teóricos e estudos sobre alfabetização, leitura e escrita, que podem
fundamentar a organização dos caminhos que o professor irá trilhar na condução
metodológica: pontos de partida, eixos integradores, contextos de uso da escrita e modos
de ler que podem gerar novas aprendizagens, formas de trabalho com esses processos e de
monitoramento do desempenho da criança nessa aquisição.
! No mapeamento e na sistematização de experiências ou práticas de sucesso
desenvolvidas por professores, sinalizadoras de um conjunto de ações, procedimentos ou
atividades que, em diferentes contextos, têm ajudado a realizar intervenções adequadas.
Este é um repertório de ações digno de se tornar conhecido no interior das escolas e ser
socializado nas redes de trocas entre instituições, como se destacou em seções anteriores.
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Referências
ARAÚJO, Maria Carmem C. da Silva. Perspectiva histórica da alfabetização. Viçosa: Imprensa
Universitária. Universidade Federal de Viçosa. Caderno 67, 1995.
BRASLAVSKY, Berta. O método: panacéia, negação ou pedagogia? Cadernos de Pesquisa. São Paulo:
Fundação Carlos Chagas, v. 66, p. 41-48, ago. 1988.
CASASANTA, Lúcia M. Métodos de ensino da leitura. Rio de Janeiro: Editora do Brasil, 1972.
CHARTIER, Anne-Marie; HÉBRARD, Jean. Método silábico e método global: alguns esclarecimentos
históricos. História da Educação. Pelotas: Editora da UFPel. v. 5, n. 10, p. 141-154, out. 2001.
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas,
1985.
FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Alfabetização hoje: onde estão os métodos? Presença
Pedagógica. v. 9, n. 50, mar./abr. 2003.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler; em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1987.
LERNER, Delia; PIZANI, Alicia. O que há de “novo” e o que há de “velho” no novo enfoque? In: LERNER,
Delia; PIZANI, Alicia. A aprendizagem da língua escrita na escola. Reflexões sobre a prática pedagógica
construtivista. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
MACIEL, Francisca. Ler, escrever e contar: a história da alfabetização em Minas Gerais. In: TAMBARA,
Elomar; PERES, Eliane. Livros escolares e ensino da leitura e da escrita no Brasil (séculos XIX-XX).
Pelotas: Seiva/FAPERGS. 2003.
RIZZO, Gilda. Estudo comparativo dos métodos de ensino da leitura e da escrita. São Paulo: América
Editora, 1986.
TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e escrever. Porto Alegre: Artmed, 2003.
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Preparando a escola e a sala de aula.............
A abordagem do tema desta seção reforçará essa relação, a partir de uma concepção
básica:
Essa premissa pedagógica não poderia ser desenvolvida sem uma referência à
questão das políticas públicas de livros didáticos. Reconhece-se seu avanço, em escala
nacional, desde 1985, através de ações do Ministério da Educação que se consolidaram no
PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). Ampliado e sistematizado a partir de 1996, tal
programa passou a coordenar políticas de avaliação, aquisição e distribuição dos livros
didáticos destinados ao ensino público de nível fundamental, para os segmentos de 1ª a 4ª
séries e 5ª a 8ª séries, em todas as áreas de conteúdos curriculares. Do conjunto de programas
já desenvolvidos resultaram seis edições de Guias de Livros Didáticos, sendo quatro delas nas
áreas de Alfabetização e Língua Portuguesa de 1ª a 4ª séries (1996, 1997, 2000, 2003) todas
contendo resenhas dos livros didáticos já avaliados e aprovados, que recebem a menção geral
de Recomendados ou variações como Recomendados com Ressalvas e Recomendados com
Distinção. Ficam excluídas, portanto, as obras não aprovadas a partir dos critérios de avaliação
instituídos pelo referido Programa.
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I. Quais têm sido os processos adotados pela escola para a escolha dos livros
didáticos destinados ao trabalho com a alfabetização?
II. Quais são os critérios de avaliação que determinam a escolha do livro didático a ser
utilizado?
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Tendo esses níveis de análise como meta, os professores poderão partir dos registros
feitos para aumentar progressivamente seu grau de envolvimento e controle dos processos
institucionais de escolha de livros didáticos. Pode-se afirmar que esse âmbito de escolha estará
associado a retornos mais positivos, quando esse processo:
! Resultar de informações e reflexões coletivas dos profissionais da própria escola,
envolvendo professores, coordenação pedagógica e direção, em processos de escolhas
efetivamente institucionalizados;
! Levar em consideração o nível específico a que se destina o livro didático no caso, o Ciclo
Inicial de Alfabetização para organização dos grupos de referência, de estudo das obras
pertinentes e de demandas coerentes com o avanço do Ciclo;
! Assegurar o acesso ao Guia de Livros Didáticos (PNLD/MEC), além da análise cuidadosa
das resenhas nele contidas e da ampliação de acervos das obras didáticas propriamente
ditas, para exame do professor;
! Estabelecer controles de formas de pressões ou interferências de editoras ou outras
instâncias alheias ao processo institucional, para que as decisões de caráter pedagógico
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não se submetam a interesses parciais ou estritamente comerciais. Em contrapartida, não
se pode prescindir do papel das editoras no que se refere à disponibilização de obras e às
parcerias em projetos pedagógicos, cabendo às redes de ensino uma sistematização de
tais processos;
! Envolver avaliações contínuas de obras já adotadas institucionalmente, de experiências
bem sucedidas com as mesmas ou de alternativas encontradas pelas professoras para
superação de limites e lacunas dessas obras. Uma direção interessante pode ser a prática
de oficinas específicas em torno de determinados focos ou eixos da alfabetização, sob
responsabilidade de profissionais com maior experiência ou êxito em alfabetização, tendo
como suporte: a) propostas que usem o livro utilizado como efetivo fio condutor do trabalho
docente; b) propostas que o utilizam como material de apoio, apelando para outros
materiais complementares, didáticos e paradidáticos; c) projetos de ampliação de recursos
associados a bibliotecas, salas de leitura , “Cantos de Leitura”, entre outras alternativas; d)
trocas de experiências entre instituições de uma mesma rede, como forma de incentivo a
escolhas coletivas e mais articuladas.
Um expressivo ponto de partida poderá ser a revisão crítica dos critérios utilizados
pelos professores para escolher, manter em uso ou substituir determinado livro didático. Como
nem sempre os professores terão à sua disposição todas as obras indicadas nas resenhas do
Guia de Livros Didáticos, deve-se valorizar, principalmente, a contínua análise das obras já
adotadas na escola, para melhor fundamentação de suas futuras escolhas.
continua
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continuação
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! Contribuir para a formação e atuação do professor, através da sistematização do manual a
ele destinado, das propostas de planejamento e avaliação em sala de aula, da amplitude de
projetos e recursos adicionais sugeridos a alunos e professores;
! Apresentar uma proposta sistematizada para o ensino do sistema alfabético e das
convenções da escrita, levando em conta o conjunto de habilidades, capacidades e atitudes
necessárias à sua apropriação pelos alunos, nos diversos patamares em que estes se
encontram no ciclo;
! Propiciar uma seleção de textos de qualidade, com diversidade de tipos, gêneros, autoria,
temas, contextos e formas de registros - levando-se em conta o precário acesso dos alunos,
e mesmo de muitas escolas, a outros tipos de impressos;
! Contribuir para o desenvolvimento da linguagem oral dos alunos, indo além das situações
de interação em sala de aula e explorando diferenças entre modalidades oral e escrita da
língua, em diversos contextos de uso e de variedades regionais e sociais;
! Contribuir com atividades de leitura e produção de textos escritos, valorizando estratégias e
recursos diferenciados, bem como a diversidade de contextos sociais de sua circulação;
! Apresentar um projeto gráfico-editorial de qualidade e esteticamente atraente, que desperte
o interesse dos alunos do Ciclo Inicial de Alfabetização, já limitados no acesso a outros
recursos de qualidade similar.
Referências:
BATISTA, Antônio A. G. Recomendações para uma política pública de livros didáticos. Brasília:
MEC/SEF, 2001.
BATISTA, Antônio A. G. (Org.). Escolha de livros didáticos de 1ª a 4ª séries: padrões e processos no
Programa Nacional do Livro Didático. Brasília: MEC/SEF, 2002.
BRASIL. MEC/Programa Nacional de Livros Didáticos. Guia de Livros Didáticos:1ª a 4ª séries. Brasília:
MEC/SEF/FNDE (edições: 1996, 1997, 2000, 2003).
CEALE. Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação/UFMG. Os professores e
a escolha de livros didáticos de Alfabetização e Língua Portuguesa de 1ª a 4ª séries. Belo Horizonte:
CEALE/MEC-SEF, 2001. (relatório de pesquisa)
RIBAS, Céris S. R. Os novos livros didáticos de alfabetização e suas repercussões na prática docente.
2003. Tese. (Doutorado em Educação). Faculdade de Educação, UFMG, Belo Horizonte.
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entanto, é necessário que busquemos formas alternativas de organização do trabalho escolar
que favoreçam o acesso desses alunos aos conhecimentos e práticas sociais que a escola visa
socializar.
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Qual a motivação mais freqüente para convocação da presença dos pais na escola?
São chamados apenas para comunicação de conflitos e dificuldades de aprendizagem dos
filhos ou também para obter retorno sobre seus progressos e avanços?
Pais e alunos que chegam para fazer matrícula, pedir informações, saber sobre o
desenvolvimento dos seus filhos são atendidos com atenção e respeito?
Os pais e mães participam ativamente das reuniões sobre a vida escolar dos alunos?
São representados nos Conselhos de Classe ou de Ciclo?
A escola cria horários alternativos de atendimento aos pais quando esses não têm
disponibilidade de comparecer às reuniões
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Professores e alunos desenvolvem atividades pedagógicas (projetos, oficinas,
excursões, exposições) visando o conhecimento do local onde vivem, dos problemas e
recursos disponíveis nesse contexto e abrindo espaço para habilidades e talentos dos
familiares dos alunos?
A avaliação inicial desses tópicos ou itens pode servir de orientação para a instauração
e registro de reflexões sobre as práticas de interação entre a escola e as famílias dos alunos,
subsidiando o redimensionamento do projeto político pedagógico da escola no que concerne às
suas relações com a comunidade.
Referências
AÇÃO EDUCATIVA, UNICEF, PNUD (Coord.). Projeto Indicadores Populares de Educação: reforçando a
qualidade da Escola (versão preliminar). São Paulo, 2003.
DAYRELL, Juarez (Org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG,
1999.
GONÇALVES, Francisca dos Santos. Repensando a relação entre educação, família e sociedade.
Coleção Veredas: Guia de Estudo. Módulo 1, v. 1. Belo Horizonte, Secretaria de Estado da Educação,
2002. p.130-164.
SANTOS, Lucíola de Castro Paixão. Diferentes formas de pensar as relações entre família, escola e
sociedade.Coleção Veredas: Guia de Estudo. Módulo 1, v. 4. Belo Horizonte, Secretaria de Estado da
Educação, 2002. p. 161-182.
Palavras finais
Este Caderno se centrou na preparação da escola para o trabalho de alfabetização. Os
temas propostos traduziram, ao longo das cinco seções apresentadas, a preocupação com o
papel do professor e a responsabilidade da escola nesse processo. A ênfase no ensino e nas
dimensões organizadoras de atividades buscou complementar, de forma indissociável, outras
dimensões anteriormente analisadas na perspectiva da aprendizagem do aluno, conforme se
acentuou no Caderno 2.
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Uma das condições para essa visibilidade seria o maior investimento em ações
avaliativas que realimentem o planejamento do professor e o projeto pedagógico da escola, à
luz das efetivas aprendizagens dos alunos. Esse núcleo de reflexão será o tema do Caderno 4.
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