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ARTIGO ARTICLE 147

Novas tecnologias e saúde do trabalhador:


a mecanização do corte da cana-de-açúcar

New technologies and workers’ health:


mechanization of sugar cane harvesting

Rosemeire Aparecida Scopinho 1


Farid Eid 2
Carlos Eduardo de Freitas Vian 3
Paulo Roberto Correia da Silva 4,5

1 Programa de Pós-Graduação Abstract In the context of reorganization of production in the sugar and alcohol industry,
em Sociologia, Universidade
mechanization of sugar cane harvesting has been justified as a protective measure for the envi-
Estadual Paulista Júlio
de Mesquita Filho. ronment and workers. This article focuses on the consequences of organization of work in mech-
Rodovia Araraquara-Jaú, anization of sugar cane harvesting with regard to the harvester operators’ health. Based on data
km 01, Araraquara, SP
gathered through interviews and direct observation at the workplace, changes implemented in
14800-901, Brasil.
rosescopinho@uniube.br the technological base and division of labor and organization were analyzed, identifying the
2 Departamento de work load inherent to the process and how it affects workers’ health. While harvesters help de-
Engenharia de Produção,
crease the physical, chemical, and mechanical work load, they increase the physiological and
Universidade Federal
de São Carlos (UFScar). psychological work load. There is evidence of significant change in the pattern of work-related
farid@power.ufscar.br accidents, entailing a decrease in their frequency and increase in severity. The pattern of illness
3 Instituto de Economia,
Programa de Doutorado
among harvester operators is similar to that of manual sugar cane cutters, with a highlight on
em Economia, Universidade psychosomatic illness related to the organization of work in shifts and increased tempo due to
Estadual de Campinas. use of machinery.
C. P. 6135, Campinas, SP
13083-970, Brasil.
Key words Occupational Health; Rural Workers; Mechanization; Epidemiology
cefvian@eco.unicamp.br
4 Departamento de
Resumo No contexto da reestruturação produtiva sucroalcooleira, a mecanização do corte da
Economia Rural – FCAV
(sigla por extenso),
cana-de-açúcar tem sido justificada como uma medida de proteção ao meio ambiente e aos tra-
Universidade balhadores. Este artigo analisa as conseqüências da organização do trabalho no corte mecaniza-
Estadual Paulista. do da cana para a saúde dos operadores de colhedeiras. Com base em dados obtidos em entrevis-
Rodovia Carlos Tonanni,
km 05, Jaboticabal, SP tas e observações diretas no local de trabalho, analisam-se as mudanças introduzidas na base
14870-000, Brasil. técnica e no modo de divisão e de organização do trabalho, identificando as cargas laborais ine-
5 Programa de Pós-Graduação
rentes ao processo e a sua tradução em desgaste nos trabalhadores. O uso das colhedeiras mecâ-
em Engenharia de Produção,
Universidade Federal nicas, por um lado, contribui para diminuir as cargas laborais do tipo físico, químico e mecâni-
de São Carlos (UFScar). co; por outro, acentua a presença daquelas do tipo psíquico e fisiológico. Há indícios da ocorrên-
Rodovia Washington Luiz,
cia de mudanças significativas no perfil dos acidentes de trabalho quanto à diminuição da fre-
km 235, C. P. 676,
São Carlos, SP qüência e aumento da gravidade. O perfil de adoecimento dos operadores de colhedeiras é seme-
13565-905, Brasil. lhante àquele do cortador manual de cana-de-açúcar, sobressaindo os quadros de doenças psi-
parcos@fcav.unesp.br
cossomáticas, relacionadas à organização do trabalho em turnos e à intensificação do seu ritmo
através do uso das máquinas.
Palavras-chave Saúde Ocupacional; Trabalhadores Rurais; Mecanização; Epidemiologia

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Introdução tagens econômicas e ambientais, é também


uma forma de eliminar a insalubridade, a peri-
A mecanização do corte da cana-de-açúcar no culosidade e a penosidade existentes nas fren-
Estado de São Paulo, mais particularmente na tes de trabalho rural. Entretanto, cabe questio-
região de Ribeirão Preto, está em estágio avan- nar e investigar até que ponto as mudanças
çado e tem gerado discussões polêmicas entre que estão sendo introduzidas na base técnica
os diferentes grupos sociais envolvidos com as do processo de trabalho de corte da cana-de-
problemáticas do trabalho, da saúde e, princi- açúcar podem contribuir para reverter o perfil
palmente, do meio ambiente. de adoecimento dos assalariados rurais.
De um lado, os problemas ambientais gera- Scopinho (1995), observando guincheiros
dos pela produção da cana-de-açúcar, do açú- que trabalhavam em turnos de 24 horas no car-
car e do álcool (Marinho & Kirchoff, 1991; regamento da cana e operadores de colhedei-
Szmrecsányi, 1994) animam, principalmente, o ras escalados em turnos de 12 horas, supõe que
movimento ambientalista, o Ministério Públi- a mecanização na lavoura canavieira pode não
co e alguns parlamentares na defesa do fim, ou estar, efetivamente, contribuindo para sanear
pelo menos da regulamentação, das queima- os ambientes de trabalho e reverter o padrão
das nos canaviais. Uma vez que, do ponto de de desgaste-reprodução dos trabalhadores, e,
vista do rendimento e da segurança no traba- sim, apenas imprimindo a ele novos padrões.
lho, é prejudicial para o trabalhador o corte Se, por um lado, ocorre uma certa diminuição
manual da cana crua, a alternativa que se colo- das cargas do tipo físico, químico e mecânico,
ca é a mecanização dessa atividade laboral. De por outro, as máquinas acentuam a presença
outro lado, as empresas, valendo-se das atuais de elementos que configuram as cargas do tipo
exigências do mercado e também das próprias psíquico e fisiológico porque intensificam o
ações dos movimentos sociais contra as quei- ritmo do trabalho. A autora chama a atenção
madas e das denúncias e alertas que, desde as para a necessidade de analisar os processos de
greves de Guariba e Leme, vêm sendo feitas pa- trabalho mecanizados na lavoura canavieira
ra tentar resolver a questão social do bóia-fria, para identificar as cargas laborais e os padrões
mecanizam as lavouras, mas, cortando, princi- de desgaste-reprodução que elas contribuem
palmente, cana queimada. Na região de Ribei- para condicionar (Scopinho, 1995).
rão Preto, são queimados, aproximadamente, Baseado nas questões levantadas por Sco-
650.000 hectares de cana por ano. Por outro la- pinho (1995), o objetivo deste artigo é o de ana-
do ainda, com a crescente introdução de co- lisar as mudanças que ocorrem na organização
lhedeiras mecânicas, os trabalhadores assala- do trabalho do corte da cana-de-açúcar com a
riados rurais, organizados ou não, ressentem- introdução das colhedeiras e as conseqüências
se da diminuição dos postos de trabalho (Veiga para a saúde do assalariado rural canavieiro.
Filho et al., 1994), da queda no valor real dos Segundo Silva (1981), o progresso técnico
salários (Nogueira, 1992) e de uma sensível pio- na agricultura, ao mesmo tempo, subordina as
ra na qualidade das relações e condições de forças da natureza e o trabalho à lógica de va-
trabalho (Scopinho, 1995, 1996; Scopinho & Va- lorização do capital. Embora este autor tenha
larelli, 1995). frisado que a aplicação do progresso técnico
Alessi & Scopinho (1994) verificaram que o no processo produtivo não é feita no sentido
processo de trabalho do cortador de cana-de- de contrariar ou prejudicar os trabalhadores,
açúcar da região de Ribeirão Preto gera um con- mas, principalmente, para favorecer os capita-
junto de cargas laborais que se traduzem em listas através da elevação da taxa de lucro, o fa-
um padrão de morbidade que, apesar de ines- to é que, nas agroindústrias sucroalcooleiras,
pecífico, está estreitamente relacionado ao mo- para os trabalhadores, as inovações tecnológi-
do de organizar e realizar a atividade. Scopinho cas têm sido sinônimo de deterioração das re-
(1995, 1996) e Scopinho & Valarelli (1995) acres- lações e condições de trabalho. Ou seja, na
centaram que o estado geral de saúde dos tra- agroindústria canavieira, o desenvolvimento
balhadores é agravado pela precariedade do do progresso técnico, por um lado, tem signifi-
conjunto das condições de vida em termos de, cado desemprego e, por outro, a intensificação
por exemplo, condições de higiene e saneamen- do ritmo de trabalho, o que tem afetado seria-
to do local de moradia, grau de instrução, faci- mente a saúde e a segurança no trabalho (Sco-
lidade de acesso aos bens de consumo coletivo pinho, 1995, 1996; Scopinho & Valarelli, 1995).
em geral, existência de espaços institucionali- Dessa forma, para investigar as conseqüên-
zados ou não de reivindicação de direitos etc. cias que a introdução do progresso técnico na
Há quem justifique que a mecanização da agricultura canavieira tem trazido para a saúde
colheita da cana, além de trazer inúmeras van- dos assalariados rurais, analisa-se o processo

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de trabalho do corte de cana-de-açúcar meca- terno, ao suposto afastamento do Estado na re-


nizado, identificando as cargas laborais (Lau- gulação do setor sucroalcooleiro, às conquistas
rell & Noriega, 1989) nocivas à saúde e o pa- de direitos sociais mínimos pelos trabalhado-
drão de desgaste-reprodução (Laurell & Norie- res rurais, à emergência dos movimentos eco-
ga, 1989) manifestado pelos trabalhadores, lógicos e da legislação que procura proteger o
comparando-o com o processo de trabalho do meio ambiente contra a queima nos canaviais.
corte manual da cana-de-açúcar, quando for Atualmente, estima-se que a colheita mecani-
possível e pertinente. Do ponto de vista das re- zada atinge entre 20% e 30% da área plantada
lações de trabalho, a análise enfoca as formas (Folha de São Paulo, 1993; Jornalcana, 1993;
contratuais, a divisão das tarefas, as jornadas, Veiga Filho et al., 1994). Todavia, há usinas cu-
os mecanismos de controle e supervisão do jos índices de mecanização ultrapassam 60%
trabalho, as formas de controle da produção e (Veiga Filho et al., 1994) e, segundo alguns sin-
de remuneração dos trabalhadores, os meca- dicalistas, há um caso exemplar em que ele se
nismos de recrutamento e seleção, os proces- aproxima de 90%. A mecanização da colheita
sos de treinamento/qualificação de operado- da cana exige que sejam respeitadas algumas
res de colhedeiras mecânicas de cana-de-açú- condições físicas, técnicas e de produtividade
car. Do ponto de vista das condições em que se para justificar o uso da máquina, sem haver o
realiza o trabalho, a análise privilegia a recons- risco de elevar o custo da colheita mecanizada
trução do processo, considerando o objeto so- para além do custo do corte manual. Respeita-
bre o qual se aplica o trabalho, os tipos de meios das essas condições, para o produtor, a utiliza-
e instrumentos que são utilizados e como a ati- ção das colhedeiras reverte-se em aumento da
vidade se realiza. produtividade e qualidade da matéria-prima,
Utilizam-se, basicamente, dados obtidos de bem como em diminuição dos custos da pro-
observação direta do processo de trabalho do dução agrícola, que representam entre 50% e
corte mecanizado da cana-de-açúcar e entre- 60% em relação ao custo total (Scopinho, 1995).
vistas com trabalhadores e sindicalistas, em- A matéria-prima do processo de trabalho
presários, técnicos agrícolas e ligados à admi- do corte mecanizado é, predominantemente, a
nistração de recursos humanos em duas em- cana-de-açúcar queimada. Geralmente, o cor-
presas sucroalcooleiras localizadas no Estado te mecanizado da cana crua tem sido realizado
de São Paulo. A usina A situa-se no centro da somente quando a plantação localiza-se nas
região canavieira de Ribeirão Preto e, na safra periferias das cidades ou sob as redes de ener-
de 1995-1996, moeu 1.049.000 toneladas de ca- gia elétrica, em cumprimento ao Decreto-Lei
na, produzindo 1.540.000 sacas (50 kg) de açú- 28.895/88.
car e 28.506.000 litros de álcool, gerando 1.855 A forma de plantar com sulcos rasos e espa-
empregos diretos, 1.475 dos quais no setor çamento menor permite mecanizar o primeiro
agrícola. A usina B situa-se na região canaviei- corte. No entanto, no primeiro corte procura-
ra de Bauru, sendo considerada a maior usina se evitar o uso de colhedeiras para não com-
do mundo em moagem de cana. Na safra 1995- pactar o solo e também porque as canas po-
1996, a usina B moeu 6.113.750 toneladas de dem danificar a máquina por serem mais viço-
cana, produzindo 7.367.120 sacas (50 kg) de sas e pesadas. Segundo um dos entrevistados,
açúcar e 139.425.000 litros de álcool, gerando a tendência é mecanizar a colheita desde o pri-
8.956 empregos diretos, sendo 6.340 no setor meiro corte porque deverá ocorrer uma ‘evolu-
agrícola (GPA, 1996). Também foram entrevis- ção’ da tecnologia no sentido de minimizar a
tados profissionais da rede oficial de saúde e compactação e também um aumento da pres-
da previdência social, responsáveis pela assis- são dos ambientalistas contra as queimadas.
tência médica e pelo sistema de informação Não é de hoje que a queimada da cana-de-
em acidentes e doenças do trabalho. açúcar tem gerado polêmica, principalmente
na região de Ribeirão Preto, e, pressionadas pe-
lo poder público e pela sociedade, as empresas
O processo de trabalho do corte já procuram soluções técnicas para os proble-
mecanizado da cana-de-açúcar mas e também, com o objetivo de preservar a
imagem de utilidade social do setor, já se in-
Scopinho (1995) mostra que, na região de Ri- corporaram à luta para a preservação do meio
beirão Preto, os projetos de mecanização da ambiente. Isto porque, principalmente a partir
colheita da cana foram retomados em meados de 1990, o poder judiciário instaurou uma ver-
da década de 80, no contexto de um conjunto dadeira guerra contra as usinas da referida re-
de pressões econômicas e sociais relacionadas gião, em razão da prática das queimadas. Além
às transformações dos mercados interno e ex- da concessão de liminares que proíbem as

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queimadas nas áreas urbanas, desde 1991 fo- vo, por exemplo, de uma ponta de cigarro ace-
ram movidas 86 ações contra as usinas em 13 sa atirada a esmo. Como medida de prevenção,
municípios da região. Dessas ações, 33 (38%) permanece no talhão um caminhão-tanque
foram julgadas, e 24 (28%) foram ganhas pe- carregado com água, que é utilizada para apa-
las promotorias públicas (Folha de São Paulo, gar possíveis focos de incêndio e para lavar as
1995). Mesmo com esta pressão, as queimadas partes da máquina onde se acumulam as pa-
continuam. lhas secas.
Parece, contudo, que existe uma tendência Além do risco de incêndio e de explosões
de aumento do corte mecanizado da cana crua, que podem atingir os trabalhadores no am-
a longo prazo. Na verdade, o que está por trás biente de trabalho, as queimadas da cana re-
desta tendência não é somente a preocupação presentam um risco ambiental de grandes pro-
com o meio ambiente ou com os trabalhado- porções. A fuligem espalha-se pelas cidades
res. Sobretudo, há vantagens de ordem econô- causando incômodo às populações pela sujeira
mica – operacionais, industriais e agronômi- que deixa nas residências. Parece também que
cas – que movem as usinas na direção do uso as partículas respiráveis da fuligem em muito
de colhedeiras mecânicas para cana crua (Sco- contribuem para aumentar a incidência de
pinho, 1995). Por enquanto, porém, por uma doenças respiratórias que atingem, principal-
questão de racionalização do uso da máquina, mente, as crianças e os idosos durante o perío-
predomina o corte da cana queimada, mesmo do da safra (Franco, 1992). A fauna que habita
com a pressão social e legal contra esta prática os canaviais também é prejudicada pelas quei-
e as vantagens proporcionadas pela mecaniza- madas. Depois que o fogo se apaga, à medida
ção do corte da cana crua. Por exemplo, verifi- que as máquinas cortam e retiram a cana, é
ca-se, na usina B, que o rendimento das colhe- possível observar as aves de rapina na caçada
deiras é de, aproximadamente, 30% superior aos pequenos roedores, cobras e outros ani-
quando a cana é queimada. Por isso, apesar de mais peçonhentos que a queimada dizimou.
a mecanização do corte estar sendo colocada O risco de contato direto ou indireto com
como uma medida de proteção ambiental, pa- animais peçonhentos existe no corte mecani-
rece que ela pouco tem contribuído para solu- zado tanto quanto no corte manual, principal-
cionar a problemática da poluição provocada mente quando a cana não foi queimada e as
pelas queimadas. Ou seja, a prática da queima- máquinas não possuem cabinas com sistema
da não tem sido uma garantia de oferta de em- de ventilação ou refrigeração que possam ser
pregos, e o uso de colhedeiras mecânicas pode totalmente vedadas. Esse risco aumenta no de-
não eliminar a famigerada queima dos cana- correr da jornada noturna, quando as opera-
viais. ções são interrompidas e os operadores saem
A queima ocorre algumas horas antes do da cabina durante as pausas para fazer as refei-
corte e não é raro as máquinas e os trabalhado- ções ou os consertos que venham a ser neces-
res adentrarem o talhão de cana quando a tem- sários nos equipamentos.
peratura ainda está elevada. Um gerente agrí- A exposição dos operadores de máquinas às
cola afirmou que: “Após a queima de imediato intempéries diminui em relação ao que ocorre
dá para entrar. Como é um fogo rápido a tem- ao cortador de cana, porque os primeiros, nas
peratura já normaliza logo em seguida”. Ocorre cabinas, ficam protegidos da radiação solar,
que esses talhões, logo após serem queimados, dos ventos e da chuva, do contato mais direto
recebem não apenas as máquinas, os equipa- com animais peçonhentos e também do ruído
mentos e os implementos necessários ao corte e da poeira que a circulação das máquinas pe-
da cana-de-açúcar mecanizado que são movi- sadas provoca no ambiente. No entanto, quan-
dos por combustível líquido, como também os do não existe sistema de ventilação e refrigera-
demais veículos transportadores de combustí- ção, a temperatura no interior das cabinas ele-
veis que lubrificam e abastecem todos os mo- va-se e, para diminuir o calor, o operador/mo-
tores in loco. É evidente o risco de ocorrer uma torista trabalha com os vidros abertos, ficando,
explosão provocada por possíveis fagulhas ou assim, exposto à poeira e ao ruído provocados
braseiros deixados pela queimada. pela circulação das máquinas, bem como ao
Mesmo no corte mecanizado da cana crua, perigo de ser golpeado por pedras, tocos e pe-
o risco de incêndio durante a operação é muito daços de cana.
grande. As palhas secas que permanecem no Do ponto de vista das condições ambien-
talhão podem incendiar, seja porque entram tais das frentes de trabalho, à medida que as
em contato com as partes da máquina que, em máquinas se movimentam dentro do talhão,
virtude do funcionamento quase ininterrupto, levanta-se uma nuvem de poeira que mistura a
estão superaquecidas, ou porque podem ser al- terra e a fuligem da palha de cana queimada.

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NOVAS TECNOLOGIAS E SAÚDE DO TRABALHADOR 151

Embora o jato mais denso de poeira e fuligem tenção e reparo das colhedeiras in loco (Alves,
saia da parte traseira da máquina, próximo ao 1992; Scopinho, 1995).
ventilador que separa as palhas da cana antes As colhedeiras operam acompanhadas de
que ela seja jogada na caçamba, uma grande um veículo, que traciona uma caçamba, que,
quantidade de partículas fica suspensa no ar, por sua vez, recebe a cana cortada, inteira ou
quantidade esta que aumenta à proporção que, picada. Assim, o carregamento da cana cortada
ao longo do dia, aumenta o número de máqui- para a usina é feito simultaneamente ao corte,
nas em movimento e de manobras feitas. Além dispensando as carregadeiras mecânicas (guin-
da poeira, o movimento das máquinas gera chos) e os seus operadores. Este veículo tam-
também ruído e trepidação que afetam mais bém pode ser um caminhão com carroceria
diretamente os motoristas e os operadores de adaptada para conter os toletes de cana. Mas,
máquinas. Apesar de não ter sido objetivo des- para evitar a compactação do solo, já estão
ta investigação realizar medições dos riscos sendo utilizados tratores mais leves que acom-
ambientais, ressalta-se a necessidade de quan- panham a colhedeira dentro do talhão e tracio-
tificar os níveis de ruído e poeira existentes nas nam o que se chama de transbordo para rece-
frentes de trabalho rural mecanizadas para ber a cana cortada. O transbordo é uma caçam-
melhor avaliar os efeitos desses tipos de cargas ba que, ao ser preenchida, é levada pelo trator
na saúde dos trabalhadores. ao caminhão transportador, o qual fica aguar-
O corte mecanizado requer a utilização de dando fora do talhão. O caminhão transporta-
meios e instrumentos de trabalho, tais como dor conduz uma, duas ou até três (‘treminhão’)
caminhões e tratores rebocadores, caçambas caçambas repletas de cana cortada até o pátio
para conter a cana cortada, caminhões-oficina, de descarregamento da usina.
caminhões-tanque para água e para combustí- Quanto aos caminhões transportadores, eles
vel, além das colhedeiras. Essa prática torna-se realizam o que é chamado na usina B de opera-
economicamente viável somente com a utili- ção bate-e-volta. Esta operação envolve cami-
zação de um número mínimo de colhedeiras: nhões do tipo ‘cavalo’, que permitem o engate
entre três e cinco (Scopinho, 1995). de caçambas (ou ‘julietas’) que recebem a cana
De fato, na usina A, o corte mecanizado es- do transbordo. Enquanto o cavalo transporta
tava sendo implantado na safra 96/97 com a a(s) caçamba(s) para o pátio de descarrega-
aquisição de três colhedeiras com capacidade mento de cana na usina, outras caçambas va-
para cortar, em média, 3.900 ton./dia. Como a zias estão sendo preenchidas pelo transbordo
previsão de moagem de cana na referida safra no talhão. No pátio, o cavalo transportador dei-
era de, em média, 6.000 ton./dia, isto significa xa as caçambas cheias e volta para a frente de
que o índice de mecanização desta usina pode trabalho na lavoura com outras caçambas va-
ser de, aproximadamente, 65%. zias, para depois retornar com as cheias, e as-
Na usina B, na safra 95/96, as quatro fren- sim por diante.
tes de colheita mecânica reuniam 36 máqui- Segundo os entrevistados, a operação bate-
nas, que colhiam, em média, 10.000 ton./dia, o e-volta também está sendo implantada no
que significa, aproximadamente, 37,6% da moa- transporte da cana proveniente do corte ma-
gem diária (em média, 26.581 ton./dia). Nesta nual, na balança e no pátio para evitar as filas
usina, as máquinas que colhem cana picada na balança. Se, por um lado, esta operação oti-
possuem um rendimento de 30 a 40 ton./hora, miza o uso dos recursos porque economiza
em média; as máquinas que colhem cana in- tempo, custo do transporte e o desgaste dos
teira têm um rendimento menor – entre 25 e equipamentos, por outro lado, intensifica o rit-
30 ton./hora –, porque elas consomem mais mo do trabalho na lavoura, já que contribui pa-
tempo em manobras para se adequar à veloci- ra eliminar as porosidades que ainda podem
dade do caminhão que recebe a cana cortada. ocorrer nas jornadas dos operadores de máqui-
Além das colhedeiras, outras máquinas e nas agrícolas por falta de caminhão para o
equipamentos são necessários para a realiza- transporte da cana. Quer dizer, esta é uma das
ção do corte mecanizado. Uma das exigências estratégias utilizadas para tentar garantir o
é a de uma infra-estrutura mecânica de apoio, funcionamento ininterrupto das colhedeiras,
que consiste na presença de um caminhão- mas que submete os trabalhadores a um ritmo
tanque, para o abastecimento de combustível e muito intenso de trabalho. A introdução das
lubrificantes, e de um caminhão-oficina equi- colhedeiras mecânicas representa um avanço
pado com todos os instrumentos e materiais no sentido da subordinação real da agricultura
(prensa, macaco, furadeira, morsa, óleo lubrifi- à indústria (Alves, 1992), inclusive impondo à
cante, graxa, gerador, oxigênio, acetileno, solda primeira o ritmo pretensamente ininterrupto
etc.) necessários para a realização da manu- de funcionamento da segunda. Isto representa

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um conjunto de profundas transformações no a manutenção do sistema de corte manual. Pa-


modo de organizar o trabalho no corte da ca- ra ele, a mecanização total das áreas canaviei-
na-de-açúcar, que são discutidas na seqüência, ras do Estado é um processo lento e que deverá
começando pelos recursos humanos necessá- ocorrer dentro dos próximos dez ou 15 anos
rios para a realização do corte mecanizado. (Folha de São Paulo, 1993; Jornalcana, 1993).
Na usina B, as 36 colhedeiras ocupam 27 Em 1994, o Instituto de Economia Agrícola
operadores, três mecânicos de manutenção, (IEA) realizou uma estimativa da substituição
um encarregado da frente (chamado frentista) de mão-de-obra por colhedeiras mecânicas na
e uma turma (aproximadamente quarenta tra- lavoura canavieira. Segundo este estudo, no
balhadores) de cortadores-bituqueiros. As má- Estado de São Paulo, até o ano 2000, para uma
quinas e os trabalhadores são distribuídos em área mecanizável de 46% da área plantada com
quatro frentes de trabalho; cada uma das fren- cana, o uso de colhedeiras significará uma re-
tes possui 20% a mais de pessoal para cobrir as dução de 38.569 postos de trabalho e uma taxa
folgas. Na usina A, as três colhedeiras ocupam de desemprego de 22,9%. Na região da antiga
sete operadores, quatro mecânicos, seis corta- Divisão Regional Agrícola de Ribeirão Preto
dores-bituqueiros e oito motoristas. (Dira-RP), até o ano 2000, supondo uma área
A mecanização do corte não prescinde do mecanizável de 60%, a perda acumulada de
trabalho do cortador e do bituqueiro, que ago- postos de trabalho atingirá 28.197. A variação
ra também pode ser um misto de cortador-de- da taxa de desemprego será de 18% a 51%, en-
cana-bituqueiro (Alves, 1992). O bituqueiro é tre 1994 e 2000 (Veiga Filho et al., 1994). De
um trabalhador cuja função é dar o acabamen- acordo com as observações feitas por Scopinho
to no talhão, cortando, amontoando e recolhen- (1995) em uma usina-destilaria da região de Ri-
do os pés de cana que a colhedeira não conse- beirão Preto, que operava no ano de 1992 com
guiu cortar, bem como os toletes que escapa- duas máquinas em pleno funcionamento e uma
ram da caçamba. Na usina B, esses trabalhado- terceira em fase de teste, uma máquina corta,
res não pertencem a uma turma fixa, uma vez em média, 40 ton./hora e pode, em condições
que realizam um trabalho complementar. São ideais, operar ininterruptamente 24 horas por
contratados aqueles que residem nas proximi- dia. Portanto, uma máquina pode cortar 960
dades das frentes de trabalho, para racionalizar ton./dia. Na mesma usina, um homem, em jor-
o tempo e reduzir custos com transporte. nada de oito horas, cortava, em média, 7 ton./
Além da presença de bituqueiros, pode ha- dia. Para cortar 960 ton./dia no sistema ma-
ver também a presença de cortadores manuais nual, a usina necessitava de, aproximadamen-
nos talhões, que trabalham onde a máquina não te, 137 homens. Esses dados mostram que, em
consegue cortar por causa dos acidentes topo- condições de pleno funcionamento, em um dia,
gráficos. Segundo um técnico agrícola, evita-se uma só máquina poderia substituir o trabalho
ao máximo misturar os processos de corte ma- de, aproximadamente, 137 homens ou três tur-
nual e mecanizado, e procura-se trabalhar com mas de trabalhadores.
a perspectiva de, em curto prazo, reformar to- De fato, observou-se que as 36 máquinas da
dos os talhões para o corte mecanizado. Na usina B cortavam 10.000 ton./dia e substi-
usina B, a maior parte dos talhões estão proje- tuíam, aproximadamente, 1.200 homens. A usi-
tados para o corte mecânico, o que significa na A, que na safra 95/96 empregou de oitocen-
que, em curto espaço de tempo, a mecanização tos a novecentos cortadores manuais, deveria
do corte deverá generalizar-se nesta empresa, reduzir esse contingente pela metade na safra
visto que, pela própria definição do entrevista- 97/97, porque poderia cortar, aproximadamen-
do, o planejamento na agricultura canavieira é te, a metade da cana de que necessitaria com
“um processo que inicia-se hoje para realizar-se as três máquinas adquiridas. Segundo o racio-
ao longo de um futuro de aproximadamente cínio de um operador de colhedeiras dessa usi-
cinco anos” (gerente agrícola). na, se lá a previsão de moagem é de 6.000 ton./
A introdução das colhedeiras mecânicas dia e se as máquinas têm capacidade para cor-
provoca uma grande redução do número de tar 3.900 ton./dia, então o número de cortado-
postos de trabalho na fase do corte. Segundo o res manuais contratados deverá ser reduzido,
presidente da Sociedade dos Produtores de aproximadamente, pela metade. Mas, segundo
Açúcar e Álcool (Sopral), no Estado de São Pau- o entrevistado, como esta é a primeira safra de
lo, aproximadamente 60% da área plantada corte mecanizado, pode ser que o número de
com cana pode ser imediatamente mecaniza- contratações de cortadores manuais não dimi-
da, enquanto que 20% é mecanizável, mas exi- nua em 50% de imediato, uma vez que as co-
girá investimentos para a adequação do terre- lhedeiras ainda estão sendo testadas. Ele pon-
no. Apenas 20% não é mecanizável, o que exige derou que as máquinas não operam em qual-

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NOVAS TECNOLOGIAS E SAÚDE DO TRABALHADOR 153

quer tipo de terreno, por isso o corte manual uma estratégia que permite maximizar o uso
sempre existirá, ainda que como uma ativida- dos meios e instrumentos de trabalho, porque
de complementar à da máquina. diminui em grande escala os seus períodos de
Um forte indicador do aumento nos índices ociosidade. Esse modo de organizar a produ-
da mecanização nos próximos anos são as re- ção tem como conseqüência maior a intensifi-
formas que estão sendo feitas nos talhões onde cação do ritmo de trabalho.
é possível o uso das máquinas. O uso da colhe- São conhecidos os efeitos nocivos que a in-
deira requer um redimensionamento dos ta- tensificação do ritmo de trabalho pode trazer
lhões e modificações no sistema de plantio, en- para a saúde dos trabalhadores. Os estudos exis-
tre outras (Alves, 1992; Scopinho, 1995) que já tentes na literatura mostram que tal forma de
podem ser detectadas porque, lembrando as organizar o trabalho pode gerar distúrbios di-
palavras de um gerente agrícola entrevistado, o versos no nível do sono, da ordem temporal in-
planejamento na agricultura canavieira é “ um terna do organismo e da vida social do indiví-
processo que inicia-se em um futuro de, aproxi- duo, já que afeta o chamado ritmo circadiano,
madamente, cinco anos”. Quer dizer, com base provocando, entre outros males, o agravamen-
no número de talhões que estão sendo refor- to de doenças em geral, o aumento da suscep-
mados hoje, é possível projetar uma tendência tibilidade aos riscos em geral, o estresse, o so-
acentuada de crescimento do corte mecaniza- frimento psíquico, o envelhecimento precoce,
do da cana, o que é coerente com a estimativa as alterações orgânicas de diversas ordens, prin-
de Veiga Filho et al. (1994) de redução crescen- cipalmente nos sistemas cardiovascular e gas-
te de postos de trabalho na lavoura canavieira trointestinal (Ferreira, 1987; Fischer, 1990).
em virtude da mecanização da colheita ( Veiga Um operador de colhedeira revelou que
Filho et al., 1994). sente-se prisioneiro da escala de serviços; de-
O trabalho no corte mecanizado apresenta plorou o fato de não ter mais a ‘liberdade’ que
grandes modificações em relação ao corte ma- tinha de faltar quando trabalhava no corte ma-
nual, no que se refere às jornadas e às formas nual. O entrevistado informou que as faltas, as
de contratação e de remuneração. No corte ma- férias, os desconto de horas, enfim, toda e qual-
nual da cana, a contratação é do tipo temporá- quer ausência do trabalho deve ser programa-
ria; a jornada é exclusivamente diurna, de se- da com antecedência mínima de 15 dias. Ele
gunda a sábado, com oito horas diárias mais sugeriu que, no corte mecanizado, o trabalha-
aquelas utilizadas in etneri, e a forma de remu- dor perdeu autonomia em relação ao cortador
neração é por produção. manual de cana. Neste caso, apesar da supervi-
Os limites da força de trabalho humana não são dos feitores e fiscais, durante a jornada o
permitiam que o trabalho na agricultura acom- trabalhador é relativamente mais livre para fa-
panhasse o ritmo intenso de funcionamento zer pequenas pausas para tomar água, café, co-
das moendas industriais durante a safra. No mer ou fumar. Na usina A, no corte mecaniza-
corte mecanizado, a grande modificação é a do, a jornada chega a ser de 11 horas trabalha-
forma de organizar o trabalho em turnos no- das de fato, registradas pelos horímetros que
turnos e alternados. Na usina B, realizavam-se existem nas colhedeiras. As pausas para o des-
três turnos alternados de oito horas, com reve- canso dos trabalhadores não estão previstas
zamento semanal. Cada trabalhador fazia, em durante a jornada de trabalho, e as refeições
média, uma e meia hora extra por dia. Na usina são feitas nos momentos em que, por motivo
A, realizavam-se dois turnos alternados de 12 de falta de caçamba ou quebra da máquina, a
horas com o seguinte sistema de revezamento: operação paralisa-se.
sete jornadas diurnas com folga de 48 horas, Nas usinas estudadas, a forma de contrata-
seguidas de sete jornadas noturnas. ção do operador de colhedeira é predominan-
Merece atenção especial o fato de o proces- temente direta e permanente, embora, na usi-
so de trabalho do corte mecanizado realizar-se na B, seis motoristas e quatro tratoristas esti-
em turnos noturnos e alternados. Esse modo vessem contratados temporariamente. Fica ca-
de organização do trabalho baseia-se na im- da vez mais evidente a tendência de contrata-
plantação de um esquema de rodízio entre os ção direta e permanente na lavoura canavieira
trabalhadores, de tal forma que garanta o fun- com a introdução do progresso técnico, con-
cionamento ininterrupto da produção para forme apontam Alves (1992) e Cortéz (1993).
além do expediente convencional, inclusive à A introdução de colhedeiras no corte da ca-
noite e aos sábados, domingos e feriados, pres- na permitiu mudar a forma de remuneração do
supondo o trabalho em horários irregulares e a trabalho. No corte manual, o rendimento de-
sujeição dos trabalhadores a uma escala de pende da agilidade e destreza do trabalhador e
plantões. Do ponto de vista da empresa, essa é a forma de pagamento por produção é utiliza-

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154 SCOPINHO, R. A. et al.

da para intensificar o ritmo do trabalho. No salários mínimos e o do operador de máquina


corte mecanizado, o ritmo do trabalho é inten- a oito.
sificado pelo uso da máquina, o que permite A mecanização da colheita contribuiu para
remunerar por tempo e não mais por produ- reduzir a média salarial dos cortadores de ca-
ção. Nas usinas pesquisadas, encontrou-se um na. O uso das colhedeiras, além de contribuir
sistema de remuneração misto com uma parte para aumentar a oferta de mão-de-obra no mer-
fixa (diárias) e outra variável (bonificações, prê- cado de trabalho, contribui também para di-
mios). Na usina B, a remuneração do operador minuir o rendimento do cortador, porque so-
é feita de acordo com as horas trabalhadas e é bram as canas de pior qualidade para os ho-
composta de uma parte fixa e outra variável. A mens cortarem, já que a máquina não opera em
parte variável soma os prêmios de safra, as ho- terrenos acidentados ou onde a cana, por exem-
ras extras (cada operador realiza, em média, plo, cresceu tombada. Um levantamento do IEA
uma e meia horas extras por dia) e uma bonifi- mostra que o valor médio real dos salários pa-
cação que, na verdade, é uma porcentagem so- gos entre 1990 e 1992 (momento de prolifera-
bre a produção de cana cortada. Os motoristas ção do uso das colhedeiras) foi 54,9% menor do
de caminhão também são horistas, mas não re- que na década de 80 (Nogueira, 1992).
cebem nenhum tipo de bonificação. Esta é um Um operador da usina A afirmou que o seu
fator de incentivo para o desenvolvimento salário é o dobro do salário de um bom corta-
ininterrupto da produção e funciona como um dor de cana, mas ainda é insuficiente, porque a
dos mecanismos de controle do desempenho sua responsabilidade aumentou consideravel-
do operador. Todavia, por ser o trabalho do mente. Ele observa que há apenas uma seme-
operador de colhedeira de natureza coletiva, lhança entre os dois sistemas de remuneração:
ou seja, por ele ser membro de um coletivo de os mecanismos de diminuição de ganho. No
trabalho cuja finalidade é o corte da cana-de- corte manual, as principais formas de controle
açúcar, o seu rendimento depende também de e diminuição dos ganhos salariais podem ser
outros fatores, tais como existência de cana observadas na medição e na pesagem da cana
madura para cortar, condições climáticas e pre- (Adissi, 1990; Alves, 1992; Paixão, 1994; Eid,
sença de outras máquinas, principalmente os 1994; Silva, 1995). No corte mecanizado, ocor-
caminhões transportadores de cana. Por exem- rem ‘erros’ no cômputo das horas trabalhadas
plo, se não houver caçambas disponíveis para e no pagamento das horas extras, que rara-
o carregamento da cana cortada, a colhedeira mente é feito de acordo com o que está estipu-
permanece parada porque não há onde depo- lado na lei. Na usina A, os operadores fazem
sitar a cana. Este é um dos principais fatores turnos de 12 horas mas recebem apenas 11,
que afetam a parte variável do salário. pois é descontada uma hora para fazer a refei-
Somados todos esses itens, o salário direto ção que eles efetivamente não fazem. Além dis-
do operador na usina B perfaz um montante so, os operadores não recebem a hora in etneri,
entre quatro e cinco salários mínimos, o que quer dizer, viajam até uma hora e trinta minu-
representa, aproximadamente, o dobro do sa- tos para chegar ao local de trabalho e não são
lário de um cortador manual. No entanto, um remunerados por isso. Então, na verdade, a jor-
mecânico entrevistado chamou a atenção para nada efetiva dos operadores desta usina pode
o fato de que o salário do operador é muito bai- chegar a ser de até 15 horas diárias.
xo, porque o trabalho exige muita responsabili- Além de modificar as relações de trabalho,
dade. Compõem ainda o sistema de remunera- reduzir o número de postos de trabalho na la-
ção nesta usina os benefícios sociais básicos, voura e os salários, a mecanização da colheita
tais como convênio com assistência médica e da cana tende a modificar também o perfil ocu-
farmácia, por exemplo. Na usina A, os trabalha- pacional dos trabalhadores rurais. De acordo
dores são horistas; a bonificação estipulada com o responsável pelo planejamento agrícola
pela usina não está relacionada com a produ- da usina B, os requisitos exigidos para a con-
ção de cana cortada, podendo constituir-se, por tratação de operadores de colhedeiras são ní-
exemplo, no pagamento de horas extras a mais vel de instrução básico (ler e escrever) e treina-
do que as efetivamente trabalhadas. Durante a mento. Nesta empresa, os operadores de colhe-
safra, as horas extras são remuneradas, mas na deiras, geralmente, eram cortadores manuais
entressafra elas são acumuladas e compensa- que manifestaram a intenção de trabalhar com
das com períodos de folga, além das férias re- máquinas agrícolas e interesse em receber um
gulares, que podem durar até 15 dias. Nesta treinamento especial. Os entrevistados afirma-
usina, a remuneração do corte manual é de um ram, unanimemente, que no mercado de tra-
salário mínimo, em média, e, no limite supe- balho ainda há escassez de mão-de-obra trei-
rior, o salário do cortador pode chegar a quatro nada para operar máquinas agrícolas. Por ou-

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NOVAS TECNOLOGIAS E SAÚDE DO TRABALHADOR 155

tro lado, há também os que afirmaram que fal- agora, todas elas fazem, têm escolinha para
ta mão-de-obra no corte manual porque: “Hoje quem quiser. Então vai lá, faz um teste com a
em dia ninguém quer cortar cana. Muitos vão psicóloga e, se passar no teste, aí então, assim
trabalhar nas cidades como vigilantes, domésti- que estiver precisando, eles vão lá chamar. No
cos. Sempre evitam cortar cana porque o salário tempo que eu entrei era conhecimento, agora
é muito baixo e o serviço é pesado”. tem a escolinha.” (Operador)
Na usina B, os trabalhadores rurais que ma- No entanto, este mesmo operador confessa
nifestam interesse em operar máquinas agríco- que recebeu apenas um treinamento informal
las são submetidos, primeiramente, a um con- e estritamente prático para trabalhar com as
junto de testes psicológicos, que procuram me- colhedeiras. Ele relatou como foi o treinamen-
dir aptidões e habilidades psicomotoras, cog- to, sentindo-se orgulhoso por ter aprendido
nitivas e de personalidade; sendo aprovados, praticamente por si só: “Não, o máximo que de-
passam para a fase de treinamento. Nesta usi- ram foi uma explicação. Ficou um operador
na, anteriormente o treinamento era oferecido aqui junto comigo uns três ou quatro dias, en-
pelos instrutores do fabricante de máquinas, tão a gente vai aprendendo. (...) “É, foi pratican-
mas, atualmente, a própria usina possui uma do e aprendendo”. Apesar de um técnico agrí-
oficina-escola para capacitar os interessados cola afirmar que há um treinamento formal
em fazer carreira no setor de mecanização. oferecido pela cooperativa, os operadores afir-
Segundo um técnico agrícola, o treinamen- maram que o iniciante aprende com os mais
to é feito em duas etapas. A primeira contem- antigos. Na usina A, um operador avaliou que
pla atividades teóricas com aulas que abordam os conteúdos ministrados nos treinamentos e
princípios gerais de mecânica. Tendo diante de que diziam respeito a noções gerais de meca-
si o conjunto das peças que compõem os dife- nização hidráulica foram tratados de maneira
rentes tipos de máquinas, os treinandos apren- insuficiente, genérica e superficial, deixando a
dem sobre o funcionamento dos motores e as desejar, uma vez que não houve demonstração
formas de uso mais adequadas para evitar o prática dos princípios e mecanismos da colhe-
seu desgaste desnecessário. A segunda etapa deira. A chamada parte prática do curso con-
consiste em um aprendizado de caráter mais siste no treinamento da atividade de operar a
prático. É realizada no campo e os treinandos colhedeira no canavial.
têm a oportunidade de operar as máquinas A propósito, os operadores de colhedeiras
com o acompanhamento de um instrutor. Uma entrevistados revelaram, unanimemente, que
vez treinados, os virtuais operadores aguardam gostam e orgulham-se do que fazem. Como a
o surgimento de vagas nos postos de trabalho grande maioria é proveniente do corte manual,
do setor de mecanização. Depois de treinado e, que é um trabalho mais árduo do ponto de vis-
havendo vagas, o trabalhador inicia operando ta do esforço físico, de remuneração menor e
máquinas de pequeno porte até que desenvol- que ainda tem um baixíssimo valor social, eles
va habilidade suficiente para operar as de gran- consideram que ascender para a condição de
de porte, tais como as colhedeiras. operador de máquinas pesadas é um passo bas-
Assim, é possível fazer carreira no setor de tante significativo na carreira. A mecanização
máquinas agrícolas, pois há uma hierarquia de da colheita está sendo entendida pelos corta-
cargos, em cujo top encontram-se os operado- dores manuais como uma oportunidade de
res de colhedeiras, de esteiras e de máquinas sair da condição de bóia-fria, uma designação
com pneus de grande porte. Um operador en- genérica e carregada de significado social pejo-
trevistado confirmou, relatando o seu próprio rativo (pobre, miserável, analfabeto e sem qua-
caso, a existência da possibilidade de ascender lificação, doente, migrante que não tem para-
do corte manual para o mecanizado, desde que deiro certo porque o seu trabalho é temporário
o cortador demonstre interesse e vontade de etc.). Mas há casos em que os trabalhadores re-
aprender. Este entrevistado corta cana desde tornam para o corte manual porque não se
os 16 anos e passou por várias empresas cana- adaptam à organização do trabalho no corte
vieiras. Na usina B, ele manejou o podão du- mecanizado.
rante quatro anos, e há dois anos opera as co- Do ponto de vista do esforço que o trabalho
lhedeiras. no corte mecanizado exige e do desgaste que
“O corte manual é um serviço muito bruto. provoca, um dos entrevistados afirmou:
Quem está lá sempre dá um jeitinho de sair. Foi “Olha, vou ser sincero falar, não tem diferen-
que nem eu fiz. Eu estava trabalhando lá, saí de ça não. Tem... talvez a gente ganha um pouqui-
ajudante. Consegui me livrar. (...) é uma chan- nho a mais do que quem corta cana, mas o so-
ce. É um conhecimento que a gente tem com um frimento, a preocupação, a responsabilidade...
encarregado, talvez um teste que faz. As usinas porque quem corta cana é uma pessoa despreo-

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156 SCOPINHO, R. A. et al.

cupada, não corre nenhum tipo de risco. Se ele ra e o motorista do caminhão ou trator dirigem
falar eu não vou trabalhar amanhã ele não vai, os veículos movendo-os paralelamente para a
se ele falar que não vai também depois de ama- frente, até atingirem o final das ruas. Enquanto
nhã ele não vai, não tem que dar satisfação pa- se movem, devem manter um espaço de, apro-
ra ninguém. Agora, nós não. (...) Serviços deles ximadamente, três metros entre o caminhão e
são brutos, mas o nosso também é bruto. Nunca a colhedeira e, sobretudo, devem sincronizar a
ouvi falar que morreu um cortador de cana cor- velocidade dos veículos de tal forma que a ca-
tando cana. No serviço nosso já ouvi falar de na colhida não seja despejada para fora do
muitos acidentes, gente que socorreu gente que transbordo. Ao chegarem ao final da rua do ta-
perdeu o braço, gente que está paralítico até ho- lhão, ambos manobram para retornar pelo
je. Eu acho que não tem diferença nenhuma en- mesmo caminho. Este é outro momento que
tre os dois. Talvez a pessoa que trabalha no cor- também exige atenção e sincronia, pois qual-
te de cana, eles acham que o nosso é muito dife- quer movimento imprevisto feito por qualquer
rente do deles. Mas, aí ele passa a trabalhar e vai uma das partes pode provocar uma colisão
ver que não tem diferença nenhuma.” e/ou tombamento. Ambos comunicam-se por
A fala anterior revela também uma certa meio de sinais feitos com as mãos e do uso da
frustração da expectativa de que o trabalho se- buzina. Segundo um operador, evitar acidentes
ria mais leve no corte mecanizado. O entrevis- depende também do motorista do caminhão,
tado considera que, no corte mecanizado, o tra- que não pode distrair-se ou cochilar.
balho é tão penoso quanto no corte manual. O Ao encher uma caçamba, o operador preen-
fato de um trabalho ser ou não penoso está di- che um impresso que acompanha a cana cor-
retamente relacionado ao grau de controle que tada para a balança da usina. Este é um impres-
o trabalhador tem sobre o processo. Como afir- so semelhante ao ‘pirulito’ preenchido no corte
ma Sato (1993), o trabalho é penoso quando: manual e nele devem constar as informações
“...o trabalhador não tem conhecimento, poder sobre a ordem de queima, número do talhão e
e instrumentos para controlar os contextos de a sua localização geográfica, o número da co-
trabalho que suscitam vivências de desconforto lhedeira e o do operador e a produção de cana
e desprazer, dadas as características, necessida- cortada. O preenchimento deste impresso é
des e limite subjetivo de cada trabalhador. Ou importante para o operador porque os dados
seja, o trabalho é penoso quando o trabalhador são usados no cômputo da parte variável do
não é o sujeito da situação...” (Sato, 1993). seu salário. A atividade do operador de colhe-
Ainda na fala transcrita anteriormente, des- deira é, predominantemente, repetitiva e mo-
taca-se um trecho que, mais uma vez, sugere a nótona, já que consiste, basicamente, na con-
diferença fundamental entre o corte manual e dução da máquina de um lado para o outro
o mecanizado: no primeiro, apesar da existên- dentro de um talhão, seguindo as ruas de cana.
cia de normas e da supervisão, o homem con- Eventualmente, esse ritmo é interrompido para
trola o processo determinando o ritmo de tra- o abastecimento e/ou conserto das máquinas.
balho; no segundo, é a máquina – saber acu- Na entressafra, os operadores desempe-
mulado do homem – quem comanda o proces- nham atividades no preparo do solo, plantio e
so impondo-lhe o seu ritmo. tratos culturais da lavoura de cana-de-açúcar,
A atividade do corte é sempre realizada em operando diferentes tipos de máquinas e im-
dupla: o operador de máquina e o motorista do plementos agrícolas. Conforme aponta Cortéz
caminhão ou trator que traciona o transbordo (1993), a mecanização da colheita coloca uma
que recebe a cana colhida. Neste aspecto, a ati- tendência de estabilização do número de con-
vidade no corte mecânico é muito diferente tratações nos períodos de safra e entressafra,
daquela no corte manual, que é uma atividade exigindo a formação de um trabalhador rural
individual. No corte manual, embora existam polivalente, apto para desempenhar diferentes
as regras sobre como deve ser feito o trabalho e atividades em todas as quatro fases do cultivo
a supervisão dos feitores e fiscais, na verdade, da cana-de-açúcar. Além da capacidade de de-
é o homem que impõe o ritmo na atividade, sempenhar atividades nas diferentes fases do
podendo decidir sobre a realização de pausas ciclo produtivo da cana, aponta-se também
para tomar um café e fumar, ou comer uma re- uma tendência para multifuncionalidade den-
feição, acelerar ou retrair o passo, levar um de- tro de uma mesma fase do cultivo. Quer dizer,
terminado número de ruas do talhão etc. En- os operadores de máquinas estão sendo lenta
fim, a tarefa está sob o domínio do cortador, o mas constantemente treinados para executa-
que sempre permite um lastro de tempo maior rem certas atividades de manutenção e repara-
para o desenvolvimento de atividades livres. ção das máquinas, o que futuramente poderá
No corte mecanizado, o operador da colhedei- permitir a dispensa de, pelo menos, uma parte

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NOVAS TECNOLOGIAS E SAÚDE DO TRABALHADOR 157

dos mecânicos que acompanham uma frente cia, analisa-se como o conjunto das cargas la-
de trabalho mecanizada. borais inerentes ao processo de trabalho no
Sabe-se que uma certa rotação nos cargos e corte mecanizado pode prejudicar a saúde dos
a diversificação nas atividades é positiva para o trabalhadores.
trabalhador, porque possibilita combater a re-
petitividade, a monotonia na realização das ta-
refas etc., ajudando no desenvolvimento do ra- As cargas laborais do processo
ciocínio e motivando para o trabalho. No en- de trabalho do corte mecanizado
tanto, as múltiplas exigências da condição de e o desgaste dos operadores
trabalhador polivalente associadas ao ritmo in- de colhedeiras
tenso e quase ininterrupto de trabalho na la-
voura canavieira mecanizada podem levar o A análise do processo de trabalho do corte me-
trabalhador ao estresse. Talvez a maior exigên- canizado da cana-de-açúcar demonstra que os
cia requerida no corte mecanizado seja aten- operadores de colhedeiras estão submetidos a
ção e concentração para que a sincronia dos um conjunto de cargas laborais que podem ser
movimentos e velocidades seja quase exata. O classificadas conforme Laurell & Noriega (1989):
operador e o motorista do caminhão que car- • cargas físicas: a radiação solar, as mudan-
rega a cana cortada devem estar sempre aten- ças bruscas de temperatura, umidade provoca-
tos aos movimentos das máquinas, mas cabe da pela chuva ou sereno; ruído e vibrações pro-
ao operador da colhedeira perceber a velocida- vocadas pelo movimento das máquinas, ilumi-
de do caminhão e adequar-se a ela: “...eu estou nação deficiente no turno noturno;
vendo qual máquina que anda mais, qual que • cargas químicas: poeira da terra, fuligem da
anda menos. Então, ele procura controlar sem- cana queimada, neblinas e névoas decorrentes
pre o ritmo e a gente vai no ritmo dele”. das mudanças de temperatura, resíduos de pro-
Já está demonstrado que a alternância de dutos químicos utilizados nos tratos culturais
turnos e o trabalho noturno afetam as funções da cana;
cognitivas em geral, principalmente a memó- • cargas biológicas: picadas de animais peço-
ria, a atenção e a concentração, e que isto pode nhentos e contaminação bacteriológica por in-
significar uma diminuição da segurança no gestão de água e alimentos deteriorados;
trabalho (Fischer, 1990; Maury & Queinnec, • cargas mecânicas: acidentes de trajeto e aci-
1993; Meijman et al., 1993). No corte mecani- dentes em geral provocados pelo manuseio de
zado da cana, um pequeno desvio da atenção máquinas de pequeno e de grande porte, pelos
pode traduzir-se em acidentes, como colisão e diversos tipos de equipamentos, implementos
tombamentos de veículos pesados, com graves e ferramentas, risco de incêndio e de explosão;
conseqüências para os operadores e motoris- • cargas fisiológicas: posturas incorretas, mo-
tas. Este tipo de risco é avaliado de forma con- vimentos repetitivos, trabalho noturno e alter-
traditória por um dos operadores, pois, ao mes- nância de turnos;
mo tempo, ele nega e aponta o perigo que está • cargas psíquicas: atenção e concentração
presente: “Não, não tem perigo. A gente traba- constantes, supervisão com pressão, consciên-
lha junto já, então eu sei a hora que ele passa, cia da periculosidade e ausência de controle do
ele sabe a hora que eu vou passar. Mas, sempre é trabalho, ritmos intensificados, ausência de
bom ter cuidado”. pausas regulares, subordinação aos movimen-
Em suma, a mecanização do corte da cana tos das máquinas, monotonia e repetitividade,
representa um importante passo na direção da responsabilidade, ausência de treinamento ade-
subordinação real da agricultura à indústria quado, ameaça de desemprego e de redução no
sucroalcooleira, inclusive podendo a primeira valor real do salário, entre outras.
adotar o ritmo intenso e quase ininterrupto de Esse conjunto de cargas laborais inerentes
funcionamento da segunda, ou seja, 24 horas ao processo de trabalho do corte mecanizado
por dia durante a safra. Para os capitalistas, a acentua-se durante a jornada noturna, exceto
intensificação do ritmo de trabalho na lavoura a radiação solar, obviamente. Segundo um téc-
canavieira significa aumento da produtividade nico agrícola, o rendimento do corte mecani-
do trabalho com melhoria da qualidade da ma- zado é maior no turno noturno porque, por
téria-prima, diminuição de custos de produção medida de segurança, reservam-se as áreas
e maior agilidade na amortização do capital in- mais fáceis e menos acidentadas para as tur-
vestido em inovações tecnológicas. Já para os mas que operam à noite. Segundo os trabalha-
trabalhadores rurais, a intensificação do ritmo dores, não há diferença entre o trabalho notur-
de trabalho pode significar a deterioração da no e o trabalho diurno, mas tudo depende da
saúde e da segurança no trabalho. Na seqüên- qualidade da cana. Se a cana estiver muito ema-

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ranhada, o operador pode confundir as ruas e mesmo trabalhador, ao responder sobre que
sair da reta, porque a visibilidade é muito me- outros tipos de equipamentos deveria usar,
nor. Embora as máquinas possuam sistemas mostrou também que desconhece as regras de
especiais de iluminação dianteiro e traseiro, segurança e proteção relativas ao seu traba-
observa-se que o risco de ocorrência de aci- lho:“...eu acho que só o fone”.
dentes, como, por exemplo, colisão de veículos Verifica-se que, no processo de trabalho do
e picada de animais peçonhentos, é redobrado corte da cana-de-açúcar mecanizado, ocorre
na jornada noturna. O campo de visibilidade uma certa diminuição das cargas do tipo físico
fica limitado e nublado porque, além de a ilu- (radiação solar, mudança brusca de tempera-
minação ser insuficiente, a safra ocorre no in- tura, calor, frio) e químico (poeira, fuligem) em
verno, estação em que a madrugada é coberta relação ao corte manual, em virtude de uma
de neblinas e névoas. Ademais, a monotonia e certa proteção oferecida pela cabina da máqui-
a repetitividade dos movimentos podem fazer na (principalmente quando ela possui sistema
dormir no volante os operadores e motoristas. de ventilação e refrigeração). No entanto, se a
As medidas de proteção contra essas cargas máquina não dispõe de cabina, a poeira conti-
são precárias e insuficientes. A concepção de nua sendo um sério elemento de risco. Confor-
proteção à saúde que prevalece é aquela que me o depoimento de um tratorista: “...as víti-
está centrada na atenção individual e curativa. mas maiores da poeira somos nós...”, porque
Primeiramente, admite-se para o trabalho ape- persistem a tosse, a dor na cabeça e na gargan-
nas aqueles que possuem condições satisfató- ta e um resfriado crônico constantemente
rias de saúde e não correm o risco de ter o seu agravados pela inalação de poeiras e fuligens.
estado agravado pelo trabalho. Quando o tra- Todavia, surgem também novos elementos de
balhador adoece, as práticas são, predominan- risco, como o ruído e as vibrações provocadas
temente, curativas e direcionadas mais para a pelo movimento das máquinas. Os operadores
recuperação do indivíduo enquanto força de de máquinas queixam-se com freqüência de
trabalho do que para a proteção de sua saúde. dores lombares, em razão da posição predomi-
O uso de equipamentos de proteção individual nantemente sentada em que trabalham; quei-
(EPIs) é considerado a forma mais eficiente de xam-se também de dores de cabeça e “zoeira
controle e monitoramento dos riscos ambien- no ouvido”, por causa do ruído e da trepidação.
tais e, praticamente, a única maneira de prote- Pode-se dizer que o perfil de adoecimento
ger o trabalhador contra os acidentes e doen- dos operadores de máquinas agrícolas é se-
ças do trabalho. melhante àquele do cortador manual de cana
Os trabalhadores entrevistados revelaram (Alessi & Scopinho, 1994), mas sobressaem as
ter feito exame médico apenas na ocasião da doenças psicossomáticas. A organização do tra-
admissão. Nenhum deles se referiu à realização balho em turnos noturnos e alternados asso-
de exames periódicos, apesar da exposição às ciada à atenção e à concentração que a ativida-
cargas anteriormente mencionadas, principal- de requer provocam uma intensificação do tra-
mente ao ruído, poeiras, vibrações, movimen- balho e fazem aumentar as queixas de doen-
tos repetitivos, trabalho em turnos, entre ou- ças, que afetam principalmente os sistemas
tras. Os equipamentos de proteção coletiva, cardiovascular e gastrointestinal. Por exemplo,
como, por exemplo, os extintores contra incên- dores no estômago e azia são as queixas mais
dio, nem sempre são encontrados nos veículos comuns entre os motoristas e operadores de
e, quando existentes, nem sempre o condutor máquina, e os antiácidos (sal de fruta) são os
sabe se funcionam e como utilizá-los em caso medicamentos mais consumidos entre esses
de acidente. E nem mesmo os EPIs mais ele- trabalhadores. Alguns afirmaram que os pro-
mentares, como fone de ouvido e máscaras, e blemas gástricos são provocados pela poeira e
vestimentas básicas, como boné e botina, são pelo cheiro de óleo queimado que os motores
freqüentemente utilizados pelos trabalhado- exalam sem parar; outros relataram que o ape-
res. Geralmente, as luvas são utilizadas apenas tite fica muito alterado porque as refeições são
quando há necessidade de consertar a máqui- feitas em horários irregulares e locais inade-
na. As colhedeiras mais modernas possuem quados. Quando a jornada é realizada em tur-
cinto de segurança que dificilmente são utili- nos noturnos e alternados, os ritmos biológi-
zados pelos trabalhadores. Quando interroga- cos ficam alterados de tal forma, que muitos
do sobre o porque de não usar o fone de ouvi- indivíduos têm os processos relacionados ao
do, um operador respondeu: “Já acostumei sem apetite e ao sono seriamente afetados. A pro-
ele. É bem difícil, eu não uso”. A sua resposta pósito, as palavras de um operador revelaram
sugere que o equipamento é incômodo e ina- como são feitas as refeições durante os meses
dequado para o uso por tempo prolongado. E o de safra: “...esse, é uma coisa até... a gente fala,

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NOVAS TECNOLOGIAS E SAÚDE DO TRABALHADOR 159

essa é uma coisa até engraçada. A gente almoça nos dados registrados nas CATs, é praticamen-
na hora que vai abastecer a máquina... talvez te inexistente. A tentativa de informatização foi
na hora em que quebra uma coisa, uma hora feita, mas, segundo os profissionais entrevista-
que dá um intervalo porque não tem caminhão. dos, os recursos materiais e humanos são es-
É a hora que a gente almoça e às vezes está aca- cassos, além de parecer não haver interesse
bando de almoçar e já chega caminhão, já institucional em construir um sistema de in-
guarda a comida ali, toma um café ali e volta a formações ágil e eficiente em saúde do traba-
trabalhar de novo”. lhador. Na região de Ribeirão Preto, a saúde
Note-se que os operadores de máquinas pública é o setor estatal que tem tomado algu-
agrícolas continuam sendo bóias-frias, no sen- mas iniciativas em termos de informatização/
tido mais popular que tem o termo, que é o de sistematização dos dados registrados nas CATs.
designar aquele trabalhador que transporta a A Divisão Regional de Saúde (DIR-18) informa-
sua própria comida (geralmente o almoço) em tizou, em caráter experimental, os dados refe-
caldeirões ou marmitas para o local de traba- rentes aos acidentes de trabalho ocorridos no
lho, onde faz as refeições. Por terem que levar a ano de 1995 nos 24 municípios pertencentes à
‘bóia’, estão também expostos ao risco de uma sua regional. Porém, a forma de sistematização
contaminação por agentes biológicos que po- dos dados não permite analisar o registro da
dem proliferar em razão do calor. ocorrência de acidentes em termos da função
Os entrevistados são unânimes em admitir exercida pelo trabalhador. Só é possível obter
a impossibilidade de conciliação do sono, prin- este tipo de dado por meio do processamento
cipalmente quando qualquer intercorrência manual dos 4.429 documentos emitidos, por
doméstica atrapalha o horário ou impede o si- exemplo, somente durante o ano de 1995, o
lêncio necessário para a sua tranqüilidade. O que não foi possível realizar no contexto desta
convívio social e as atividades de lazer em ge- investigação, por causa dos limites de tempo.
ral ficam totalmente prejudicados na safra. O levantamento desses dados poderá ser obje-
Quando a jornada é diurna, o cansaço impede to de um novo projeto de pesquisa, uma vez
a diversão, além de o tempo livre ser muito cur- que os dados quantitativos são importantes
to; quando a jornada é noturna, além do can- para validar os dados qualitativos obtidos dos
saço, falta companhia, porque o trabalhador relatos e das observações feitas.
descansa enquanto os outros trabalham, sem Segundo o relato dos trabalhadores entre-
contar que ele se sente prisioneiro do compro- vistados, os acidentes ocorrem com mais fre-
misso de ter que se apresentar no local de tra- qüência quando são realizados os consertos e
balho no final da tarde. “Estado de nervo, é o a limpeza nas máquinas. Eles são mais raros
que mais dá. Nossa! Talvez tem dia que a gente em relação ao corte manual, porém mais gra-
não pode nem... o moleque da gente vem brin- ves, e, geralmente, trata-se de cortes provoca-
car com a gente e a gente não tem nem disposi- dos pelo manuseio de lâminas afiadas sem o
ção e já fica até bravo. É, um do maiores proble- devido uso da luva de proteção. É raro mas po-
mas da gente é o estado de nervo.” de ocorrer a perda de membros inferiores e su-
Quanto às cargas mecânicas, Alessi & Sco- periores quando ocorre colisão, tombamentos
pinho (1994) verificaram que, no corte manual e atividades de manutenção que necessitam
da cana, predominam acidentes leves, com ser feitas com o motor em funcionamento. Lem-
tempo de afastamento menor do que 15 dias, brando as palavras de um operador: “Nunca ou-
que não requereram internação e não deixa- vi falar que morreu um cortador de cana cortan-
ram seqüelas. Quanto aos ferimentos, 80,50% do cana. No serviço nosso já ouvi falar de mui-
atingiram principalmente os membros supe- tos acidentes, gente que socorreu gente que per-
riores e inferiores e foram provocados pelos deu o braço, gente que está paralítico até hoje”.
instrumentos de trabalho. No corte mecaniza- A fala dos trabalhadores sobre o seu estado
do, parece que a introdução da máquina pro- de saúde é contraditória: ao mesmo tempo em
voca uma diminuição no número de acidentes que eles negam as doenças, também as afir-
e um aumento na sua gravidade. mam e ainda apontam as enfermidades mais
Para verificar essa hipótese, procurou-se le- prevalecentes. À semelhança dos cortadores
vantar o número de acidentes e doenças regis- manuais de cana (Alessi & Scopinho, 1994; Sco-
trados em Comunicação de Acidentes do Tra- pinho, 1995), em geral, os operadores de má-
balho (CAT), referentes aos operadores de má- quinas agrícolas não percebem relação exis-
quinas agrícolas e cortadores de cana. No en- tente entre os sintomas e as cargas existentes
tanto, no Instituto Nacional do Seguro Social no ambiente de trabalho: “Não, nunca tive pro-
(INSS) o sistema de informação em acidentes e blemas. Sempre aparece um problema mas não
doenças, que deveria ser construído com base por causa do trabalho. Todo mundo tem uma

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160 SCOPINHO, R. A. et al.

gripe, uma dor de cabeça, uma dor nas costas e


no estômago”.
Finalmente, é válido destacar que os resul-
tados desta investigação confirmam as hipóte-
ses levantadas por Scopinho (1995), apontan-
do que a mecanização tem trazido importantes
mudanças nas relações e condições de traba-
lho na lavoura canavieira. Porém, tais mudan-
ças não têm logrado melhorar substancialmen-
te as condições de vida e de trabalho dos assa-
lariados rurais canavieiros.

Agradecimentos

Agradecemos à Fapesp pelo auxílio-pesquisa; ao Dr.


Fernando Antônio Cerdeira, à Dra. Tany Maria Soa-
res; ao Prof. Dr. Sidney Valladares Pimentel e à Profa.
Dra. Luiza B. Alonso, pela leitura crítica e apresenta-
ção de sugestões.

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