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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO,

CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALAGOAS


FILOSOFIA

Prof. Zilas Nogueira

José Saramago – o Mito da Caverna nos dias de hoje

http://www.netmundi.org/home/2017/saramago-mito-da-caverna-platao/

O escritor português José Saramago, enquanto estava sozinho em um


restaurante, foi arrebatado pelo seguinte questionamento: e se fôssemos todos cegos? A
conclusão do escritor (um tanto natural) é que estamos de fato cegos em vários sentidos
(da razão, da sensibilidade e de tudo o que é razoável). Porém, nunca antes, segundo
Saramago, fomos tão cegos quanto neste mundo midiático que vivemos. Neste ponto, o
escritor faz uma comparação com o Mito da Caverna, do filósofo Platão. De fato, esta é
uma comparação que faz algum sentido, uma vez que as pessoas no Mito da Caverna
estavam olhando sombras e acreditando que eram a realidade. Transportando essa ideia
para o mundo de hoje, não estaríamos todos nós na frente de nossas televisões,
computadores e celulares olhando sombras e julgando que estamos lidando com a
realidade?

Mito da Caverna diz respeito a toda uma doutrina espiritual e filosófica que
sustenta o pensamento de Platão. Seria, portanto, um erro supor que a caverna de Platão
“finalmente se tornou realidade”, reduzindo o mito a um esquema de dominação
política, ideológica e tecnológica, como sugere Saramago nesta entrevista. Apesar disso,
é perfeitamente razoável, para efeito de argumentação, comparar a situação alienante
que vivemos atualmente com a alegoria criada pelo antigo filósofo grego. Um dos
fatores para acreditar nessa comparação é que muito raramente as notícias e
informações que recebemos pela TV e internet são verdadeiras. Quase sempre estão fora
de contexto ou são tendenciosas. Porém, milhares de pessoas julgam que estão diante de
informações verídicas.

A proliferação acelerada de novos canais de comunicação (tanto na internet


quanto na tv aberta ou fechada) só tende a piorar a situação, uma vez que serão cada vez
mais pontos de vista e perspectivas diferentes sobre um mesmo tema. Isso cria uma
situação estressante onde temos muito de todas as coisas (menos tempo). O que
significa, basicamente, que não temos nada. Somos incapazes de prestar atenção ou
julgar corretamente esta miríade de informações. A situação torna-se ainda pior quando
se constata que apenas as histórias e notícias extraordinárias recebem nossa atenção,
enquanto aquilo que é simples e corriqueiro (mas pode ser valioso e verdadeiro) é
deixado de lado.
Saramago conclui, de forma pessimista, que estamos perdidos tanto de nós
próprios quanto de nossa relação com o mundo. Não sabemos mais o que somos, para
que servimos e (pior) qual o sentido de nossa existência. A própria realidade tornou-se
algo estranho, uma vez que não prestamos mais atenção nela. Os pequenos detalhes da
natureza e do cotidiano que eram observados com atenção pelos antigos são, agora, a
despeito de todo nosso avanço tecnológico, imperceptíveis. O resultado final disso tudo
é que não conseguimos mais estar, com nossa alma e nossa atenção, em lugar algum.

Vídeo:

https://youtu.be/zGmV9A-XQgo

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