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Este capítulo apresenta uma visão geral do mercado financeiro, suas principais divisões,
bem como uma noção histórica da unidade básica do mercado financeiro – a moeda.
Nesse sentido, os mercados monetário, cambial, de crédito e de capitais serão
identificados e discutidos brevemente, sendo mais aprofundados nos capítulos
seguintes. A evolução histórica e o papel da moeda como componente fundamental do
mercado financeiro também serão tratados neste tópico.
• Mercado monetário
• Mercado de crédito
• Mercado de câmbio
• Mercado de capitais
• Mercado de derivativos
• Outros mercados
O mercado de derivativos é formado por contratos privado, entre duas ou mais partes,
cujo valor é quase todo derivado do valor de algum ativo, taxa referencial ou índice-
objeto como uma ação, título, moeda ou commodity. Os contratos de derivativos
utilizam, portanto, um objeto de referência, do qual tais contratos derivam – daí o nome
derivativo – e funcionam somente em razão dessa referência. Dividido em Futuros e
Opções, o mercado de derivativos cresce de forma excepcional no Brasil por meio da
Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), principal ambiente de negociação.
2. A moeda e o dinheiro
There is nothing about money that cannot be
understood by the person of reasonable
curiosity, diligence and intelligence.
Este tópico é dedicado a explorar as primícias do sistema financeiro mundial, bem como
apresentar, sob a ótica do observador apaixonado por finanças e economia, a evolução
histórica do dinheiro desde os tempos em que não havia sequer a noção de papel moeda
até os dias de hoje, quando as transações são feitas eletronicamente ao apertar de um
botão.
Como ficará claro nas páginas a seguir, o homem inicia sua jornada na terra
prescindindo da moeda para realizar suas transações econômicas e evolui a um estágio
tal, que, neste início de século XXI, alguns anteveem uma economia mundial em que o
dinheiro, como é conhecido atualmente, não terá a importância preponderante dos
últimos séculos.
Aquele que se empenhasse apenas em construir arreios para cavalos poderia se dedicar à
sua especialidade com maior afinco, possibilitando a produção de arreios melhores ou a
confecção de mais unidades por intervalo de tempo. Em outras palavras, a
especialização proporcionava, aos agentes econômicos, ganhos de produtividade e, com
o passar do tempo, fez com que o total produzido excedesse as necessidades do
consumo familiar.
2.2 O escambo
Ora, a solução natural para esse artesão era pagar com sua produção excedente de copos
e pratos de argila ao agricultor. De maneira similar, o alfaiate poderia adquirir lenha
para se aquecer no inverno pagando ao lenhador com roupas. Esse tipo de transação, por
meio do qual os agentes econômicos trocam mercadorias, é conhecido como escambo.
O escambo foi muito utilizado nas comunidades mais antigas e, em grau menor,
continua sendo praticado até hoje em sociedades de economias pouco sofisticadas, ou
naquelas com escassez de dinheiro.
Portanto, em uma economia baseada no escambo, que possua três tipos de mercadorias
transacionadas, há três preços vigentes no mercado.
Alan Greenspan
Nos primórdios da civilização, essa confiança era possível graças ao valor intrínseco do
material utilizado como dinheiro. Eis o motivo das moedas primitivas terem sido
cunhadas com ouro, prata, ou qualquer outro material de valor.
Além dos metais preciosos, há registros históricos de que algumas comunidades antigas
utilizaram outros materiais como dinheiro, tais como: conchas, pérolas, chá, couro,
gado, sal, açúcar e até mesmo fumo. No Brasil, o uso de mercadorias como moeda já
ocorreu, inclusive atendendo a determinações legais. Em 1614, o governador do Rio de
Janeiro estabeleceu que o açúcar fosse utilizado como moeda legal, obrigando os
comerciantes a aceitá-lo como pagamento. Em 1712, por força de lei, o algodão era a
principal moeda do Maranhão. Talvez, o exemplo mais contundente de exploração
humana tenha sido a utilização de escravos como moeda para o pagamento de dívidas e
compra de outros ativos. Segundo Darcy Ribeiro, o valor do índio escravo podia chegar
a 20% do preço de um negro.
O dinheiro de metal conseguiu reunir outras condições que tornaram seu uso corrente,
fazendo desaparecer aos poucos a troca de mercadorias. Propriedades, como o
entesouramento, permitiram que a moeda se tornasse reserva de valor; sua divisibilidade
foi possibilitada por moedas de pesos e dimensões distintas; a facilidade de transporte e
a beleza foram outras qualidades que fizeram com que os metais passassem,
paulatinamente, a ser o padrão de valor. Há registros de que, em 2.500 a.C., os egípcios
produziam anéis de metal utilizados como moeda.
O Código de Hamurabi, datado de cerca de 1.780 a.C., em seu artigo 17o, faz menção ao
dinheiro feito de prata quando prevê que, se alguém encontra um escravo ou escrava
fugitivos em terra aberta e devolvê-los a seus mestres, eles devem pagar à pessoa dois
shekels de prata.
• A moeda metálica podia ter sua qualidade padronizada. Nesse caso, uma moeda
de ouro tinha o peso e a pureza atestados por um agente que gozasse de
confiança, tal como o governo ou um banco;
• A moeda metálica era durável, ou seja, muito resistente, e podia conservar suas
características físicas por um grande intervalo de tempo;
• A moeda metálica era divisível, uma vez que era cunhada em diversos tamanhos,
pesos e medidas, possibilitando seu uso na aquisição de bens de grande e pouco
valor;
Uma consequência natural desse avanço foi a utilização desses recibos para aquisição de
mercadorias ou pagamento de contas. Ora, como o recibo não passa de um pedaço de
papel assinado por uma instituição, conclui-se que, a partir desse momento, surgiu um
tipo de dinheiro sem valor intrínseco.
Portanto, um avanço formidável da história monetária foi a utilização das cédulas que
emergiram como um meio de troca e continuam sendo empregadas até hoje.
Os registros históricos indicam que a China foi a primeira a usar dinheiro de papel, o
que passou a ocorrer durante a Dinastia Tang (618-907). No período da Dinastia Ming,
em 1.300, os chineses puseram o selo e a assinatura de seus imperadores em um papel
feito de mulbery bark, tal como se vê na figura a seguir:
Nos tempos modernos, as cédulas são criadas de acordo com as necessidades detectadas
pelas autoridades monetárias dos países, representadas pelos respectivos bancos centrais
(assunto a ser discutido detalhadamente nos capítulos seguintes).
Recentemente, o Banco Central do Brasil passou a emitir notas de dois reais. Conhecido
como FED, o Banco Central americano, logo após sua criação, emitiu notas que iam de
um dólar até dez mil dólares!
Apenas por curiosidade, nos Estados Unidos, a primeira moeda a apresentar a inscrição
In God We Trust data de 1864, sendo que, em 1955, foi aprovada uma lei determinando
que todo o papel-moeda a ser emitido devesse conter tal dizer.
• pagamentos diferidos no tempo: a moeda deve ser capaz de ser utilizada como
medida para pagamentos futuros.
Pela definição do FED, nota-se que dinheiro é qualquer coisa aceita prontamente como
meio de troca e que sirva como padrão e reserva de valor. Uma definição mais sucinta
seria: dinheiro é um objeto que as pessoas estejam propensas a aceitar em contrapartida
de receber um bem ou serviço.
O dinheiro com valor intrínseco tinha seu poder de compra alterado dependendo das
circunstâncias. Na prática, seu valor nunca poderia ser inferior ao valor da commodity
da qual era feito e, frequentemente, coincidia com o valor da sua respectiva commodity.
Pelo exposto, conclui-se que é possível enquadrar o dinheiro presente nas economias em
duas categorias distintas:
Tanto a moeda fiduciária quanto a moeda-mercadoria podem ser tangíveis, tal como
uma moeda metálica ou uma cédula de papel ou plástico. Contudo, apenas a moeda
fiduciária, isto é, sem valor intrínseco, poderá ser intangível à medida que se tornar um
crédito em uma conta bancária ou poder de compra advindo de um cartão de crédito.
Da mesma maneira que, nos primórdios do fiat money, a confiança na moeda repousava
na reputação do banco que o emitiu. Atualmente, a confiança e o real valor da moeda
dependem da capacidade dos Bancos Centrais em estabelecer políticas monetárias
consistentes.
Evolução foi a utilização dos recibos como forma de pagamento para compra de bens e
serviços. Daí surgiu a moeda fiduciária conversível e totalmente lastreada em ouro. Sob
essas circunstâncias, tem-se que:
• Os cheques são mais difíceis de ser roubados e muito mais discretos. Imagine
como seria a situação do comprador de um carro de luxo se tivesse que efetuar o
pagamento carregando notas de dinheiro?
• Ainda que um cheque seja roubado, é possível contatar as autoridades e o banco
e cancelar os efeitos do roubo.
Outro conceito afim é o meio circulante, que consiste no conjunto de cédulas e moedas
com poder liberatório (inclusive comemorativas) de posse do público e dos bancos. O
poder liberatório nada mais é que a capacidade da cédula, ou moeda, de liberar débitos e
efetuar pagamentos.
Ora, uma vez que o meio de pagamento de um país é a soma da moeda pública –
cédulas e moedas metálicas em poder da população – acrescido dos depósitos à vista,
surge a necessidade de um organismo independente controlar o estoque de moeda em
circulação.
Note que o excesso de moeda em circulação pode criar inflação, tal como ocorreu no
Brasil por muitos anos. Por outro lado, a falta de moeda em circulação, como aconteceu
na Argentina no ano de 2001/2002, gera efeitos muito negativos.
2.7 A inflação
A inflação é um fenômeno monetário. Apesar de gerar certo debate acadêmico em
economia, essa afirmação é geralmente aceita como verdadeira pela maioria dos
autores. Em outras palavras, a inflação está intrinsecamente ligada à moeda e à política
monetária de uma economia.
A inflação pode ser definida, de forma sintética, como o aumento generalizado dos
preços de determinada economia. Em qualquer economia, alguns preços aumentam ao
longo de certo período de tempo, enquanto outros diminuem no mesmo período. A
inflação se caracteriza quando a maioria dos preços aumenta. Por outro lado, quando a
maioria dos preços diminui, observa-se uma inflação negativa, também conhecida
como deflação.
Diversas podem ser as causas da inflação, mas as três mais comuns são:
Inicialmente, a inflação destrói a sua função de reserva de valor. A moeda só pode ser
utilizada como reserva de valor, sem considerar, claro, o custo de oportunidade de
entesourar moeda, se a inflação for igual ou menor a zero. Caso contrário, a inflação
fará com que a moeda perca poder de compra ao longo do tempo, não servindo,
portanto, como reserva de valor.
Isso, no linguajar dos economistas, consiste em um regime de câmbio fixo pelo fato de
o valor do peso não se alterar em relação ao dólar. Contudo, a agudização da crise
argentina, verificada na virada do milênio, comprometeu a confiança da população no
sistema financeiro, levando a uma corrida bancária: correntistas aflitos para trocar seus
pesos por dólares na razão de um para um.
O Brasil, por seu histórico inflacionário, possui uma grande diversidade de índices que
tem por objetivo medir a inflação. Contudo, esses índices basicamente se dividem em
duas famílias:
2
Títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, respectivamente, obrigações reajustáveis do Tesouro Nacional,
obrigações do Tesouro Nacional, Bônus do Tesouro Nacional e Bônus do Tesouro Nacional – série F.
• Os Índices Gerais de Preços (conhecidos genericamente pela sigla
IGP) que, entre os mais famosos, destacam-se o IGP-M (mercado) e
o IGP-DI (disponível), ambos divulgados pela Fundação Getúlio
Vargas (FGV).
Para fins de simplificação, serão analisados o IGP-M, como representativo dos Índices
Gerais de Preços (IGP), e o IPCA, como representativo dos Índices de Preços ao
Consumidor (IPC).
O Brasil, por sua inflação crônica durante muitos anos, sofreu diversas mudanças de
moedas em sua história recente. A seguir, é apresentado um breve relato dessas
mudanças.
O Cruzeiro foi criado no dia 5 de outubro de 1942. Contudo, somente a partir do dia 31
de outubro de 1942, começou a valer como unidade monetária. O cruzeiro substituiu o
padrão Mil-Réis, com dois objetivos principais:
O Cruzeiro Novo foi substituído pelo Cruzeiro em 15 de maio de 1970, sem corte de
zeros.
Uma nova moeda, novamente chamada de Cruzeiro, foi introduzida como padrão
monetário, em substituição ao Cruzado Novo como parte do “Plano Collor”, sem
ocorrer a perda de três zeros.
O Real foi lançado em 1o de julho de 1994, no bojo do Plano Real do governo Itamar
Franco, com o objetivo de criar uma moeda forte e acabar com a inflação. Primeiro, foi
estabelecido um índice paralelo para efeito de transição, a Unidade Real de Valor
(URV). A Conversão de Cruzeiros Reais para Reais foi feita mediante a divisão do
valor em Cruzeiros Reais, pelo valor da URV de CR$2.750,00.