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Universidade Federal do Tocantins – UFT

Programa de Pós-graduação em Demandas


Populares e Dinâmicas Regionais – PPGDire
Estudos de Vulnerabilidade e Tecnologia Social

Resenha de Bauman, Zygmunt. Em busca da política. Rio de Janeiro: Zahar, 1999.

Bruno Lopes PEREIRA1

O autor sociólogo Polônes, Zygmunt Bauman é conhecido por sua trajetória


discursiva sobre as questões da globalização e de mudanças na organização social dentro
do cenário que o próprio o chama de modernidade, principalmente no contexto mundial
da década de 1990, quando Bauman escreve parte de suas obras sobre o tema refletindo
à rápida evolução tecnológica e no modo de viver das sociedades. Bauman traz em suas
obras leituras intrínsecas e profundas da estrutura social erguida pelas políticas de
governo, embasando-se e apropriando-se de leituras de outros autores os quais repensam
a sociedade; as questões de ordem pública; os movimentos sociais; as relações humanas
e as relações entre classes.
Em sua obra publicada em 1999, Em busca da política, o sociólogo distribui em
três capítulos, respectivamente, Em busca do espaço público; Em busca dos meios de
ação e Em busca de uma perspectiva, uma discussão acerca das políticas atuais do Estado
e do ‘fazer política para todos’, pontuando a democracia liberal e a inferência do Estado
nas relações sociais e da organização coletiva, da conquista da liberdade e do
comportamento individualista como efeito dessa liberdade, com propósito de repensar a
construção de maneiras de se governar o individual e o público ante os impactos negativos
da globalização e dos efeitos que intensificam a segregação, desigualdade e pobreza,
correlacionados à políticas sustentadas no capital, no mercado e no trabalho como forma
de conquista de espaço e de inscrição social.

1
Universidade Federal do Tocantins, UFT. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Demandas
Populares e Dinâmicas Regionais – PPGDire. Bolsista CAPES. Avenida Paraguai, esquina com Uxíramas,
s/nº, Araguaína – TO, (63) 3416-5690. Email: biologouft@hotmail.com.
Em sua introdução, Bauman traz uma breve leitura da forma de organização social
que se formou até a sociedade contemporânea e das crenças que a sustentam ou que a
questionam, evidenciando a via dupla de contentamento com a liberdade até então
adquirida, mesmo que inacabada, e o estado de contentamento e satisfação a ponto de não
se questionar o modo de vida, e por outro lado, ainda que se tem a capacidade de trabalhar
um modo de vida diferente, essa capacidade esbarra no ponto em que os indivíduos
cessam a capacidade de pensar uma nova organização, e considera-se inútil e trabalhoso
laborar um novo plano social.
O autor destaca a importância dos espaços públicos – ágoras – para os momentos
de comunhão para se debater e repensar a política e a sociedade, alertando para a
eliminação desses espaços e o descaço em se formar novos espaços. É por essa falta de
diálogo sobrea as questões políticas que regem a sociedade, que Bauman remete
enfaticamente em suas referências ao filósofo francês Cornelius Castoriádis.
O terceiro capítulo da obra dedica-se intensamente à uma leitura, a priori, da
função e da eficácia do Estado para com a conquista da liberdade individual e coletiva, o
autor descreve o que seria a conquista da liberdade e qual seria, efetivamente, os
resultados dessa liberdade. Bauman relaciona a conquista da liberdade individual na
contramão do compromisso com o bem comum a todos, e a capacidade do indivíduo de
enxergar na própria liberdade a entrada para imaginar e cometer um mundo melhor que
contemple os grupos assim como contempla ao indivíduo.
Portanto, a ideia central do capítulo é a de construção da liberdade dos indivíduos
sem que se elimine os ideais de comunitário e da solidariedade. O questionamento de
Bauman não visa elencar as falhas nas propostas do Estado ou de outros sociólogos em
oferecer liberdade e assegurar o acesso aos bens sociais aos indivíduos – acesso à
emprego, a garantia deste emprego, o bem estar, a seguridade – , mas não deixa de apontar
as responsabilidades que a conquista da liberdade demanda para funcionar; o Estado, para
Bauman, é intendente para além da liberdade de escolha de vida, de assegurar a
estabilidade quanto ao que, nesse capítulo, Bauman se apropria da colocação de economia
política da incerteza, para mencionar a susceptibilidade à mudanças e constantes
reformas das políticas feitas pelo homem, sua instabilidade e, portanto, estando sujeita à
novas formas de política, fazendo menção à necessidade de sustentação da liberdade
conquistada para almejar a saída do espaço de vulnerabilidade, ou o amortecimento do
grau de vulnerabilidade, ainda que o autor admita durante o capítulo que todas as classes
permanecem vulneráveis, por mais bem remunerada seja esta classe.
Bauman cita autores como Pierre Bourdier para sustentar a ideia de que “Para
conceber um projeto revolucionário, isto é, para ter uma intenção bem formulada de
transformar o presente por referência a um futuro projetado, é necessário um mínimo de
controle sobre o presente”. Para ilustrar mais a imagem de fragilidade presente nas
classes, Bauman traz a sociedade em rede, assim chamada pelo espanhol Manuel Castells,
e que o próprio Bauman retifica mais para “uma sociedade em “multirrede” — uma
sociedade que não é nem segmentada como suas remotas antecessoras pré-modernas nem
de classes como sua imediata antecessora moderna [...]”, o autor traz ainda a figura do
‘homem em módulo’ – metáfora que faz alusão à flexibilidade e o descompromisso do
indivíduo –, como o mais notório fruto da sociedade moderna, em suas palavras, “o
homem modulado é, antes e acima de tudo, um homem sem essência, [...] com qualidades
móveis, disponíveis e cambiáveis”.
O autor deixa claro que as possíveis, e mais viáveis e sustentáveis saídas, são por
meio da política, pensando em liberdade individual como fruto do trabalho coletivo e em
identidade como construção, e por isso insiste em explanar os princípios, a funcionalidade
e os limites das formas de organização em sociedade em um tópico dedicado, intitulado
“Tribo, nação e república”, no qual Bauman descreve a tribo como a maneira mais fiel de
pertencimento e mais totalizante sobre o conhecimento do mundo e do lugar do indivíduo
nele. Comparando com a organização de nação e república, o autor considera que “as
modernas totalidades sociais não têm a coesão da tribo por serem uma combinação de
duas [...] totalidades, quais sejam a “república” e a “nação””. A relação entre república e
nação explicitada pelo autor, esboça a relação entre os ideais republicanos e o
nacionalismo como proteção para o extremismo um do outro, no limite em que os ideias
republicanos consideram conferir a liberdade aos indivíduos, no entanto essa liberdade
gera a incerteza de se ter opções, enquanto o nacionalismo oferece em seu regime a
seguridade de um plano único, mas que não confere a liberdade de escolha. As fronteiras
entre essas formas de governo amortecem e limitam a possibilidade de extremismos de
suas totalidades quando em execução.
Em suas amarras para encerrar a ideia de alternativas políticas, em seus últimos
momentos do capítulo Bauman traz o tópico da ‘Argumento em prol da renda mínima’,
entrelaçando propostas de autores como Thomas Paine, para a ideia fundamental de
‘renda mínima’ como ascensão à liberdade social, apontando a ideia de separar a
subsistência básica e o trabalho, e autores como Jacques Duboin Yoland Bresson e René
Passet, Philippe Van Parijs, Jean-Marc Ferry e Jean-Paul Maréchal, que mais tarde, de
diferentes maneiras, apoiaram e sustentaram em suas teorias a ideia de ‘renda básica’,
apontando os efeitos à longo prazo dessa medida de equidade de acesso ao consumo, o
que aumentaria o consumo, e consequentemente, a corrida entre a classe superior, o que
fragiliza a ideia de ‘renda básica’ como alternativa para a liberdade, uma vez que a
liberdade almejada não inclui o consumismo como produto final e de dependência,
reafirmando a vulnerabilidade do cidadão Apesar que de o indivíduo teria então a opção
de consumir ou não, o que não é concreto até então.
Bauman é excelente em seus apontamentos justamente por trazer em seus
discursos a organização de ideais alternativos fazendo a autocrítica e apontando as
fragilidades e falhas das propostas. O texto é leitura fundamental e obrigatório para se
pensar um debate político mais sólido acerca da organização social e da liberdade
coletiva, considerando os aspectos de vulnerabilidade de classes, correlacionando com a
condição política e de organização das sociedades.

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