Roteiro de Estudo – Clara dos Anjos – Lima Barreto
1) O autor Lima Barreto:
Afonso Henrique de Lima Barreto, que ficou conhecido na história da literatura brasileira como Lima Barreto nasceu na cidade do Rio de Janeiro (que, à época, era capital do Império brasileiro), em 13 de maio de 1881, e veio a falecer em 01 de novembro de 1922, na mesma cidade. Durante a sua vida foi jornalista, amanuense (funcionário público) e escritor, dos mais importantes do período que comumente passou a ser definido como Pré- modernismo.
Filho de João Henriques Lima Barreto e de Amália Augusta, os avós
de Lima Barreto integravam povos que foram escravizados. Seu pai foi Ligado a membros do Império, João Henriques designou como padrinho de seu filho o visconde de Ouro Preto, sendo que, por tal motivo, estudou em escolas de grande destaque. Por sua identificação com os referidos políticos, sofreu diversas perseguições após a proclamação da República. Posteriormente, João Henriques veio a sofrer de diversos problemas psiquiátricos. Amália Augusta, sua mãe, foi professora e proprietária de uma escola para meninas no bairro de Laranjeiras.
O autor cursou os estudos secundários na conhecida escola de ensino
público do Rio de Janeiro, a Dom Pedro II. Desde cedo, enfrentou grandes dificuldades e fortes dissabores em sua vida, perdendo a mãe ainda durante a primeira infância, com sete anos de idade; posteriormente, forçado a abandonar os estudos por conta da necessidade de auxiliar a família com as despesas caseiras ingressou, então, como funcionário da secretaria do Ministério da Guerra. Segundo Francisco de Assis Barbosa, um de seus principais biógrafos e divulgadores de sua obra, a infância bastante conturbada do escritor, a perda prematura da mãe, as dificuldades advindas com a proclamação da república em sua família (ocasionadas pelo fato do pai ser envolvido com pessoas ligadas ao Império), o posterior enlouquecimento de seu pai, o fato de ser menino mulato na sociedade racista brasileira de período imediatamente posterior a abolição da escravidão marcaram de forma contundente não apenas sua personalidade, mas também a sua obra.
Grande observador do cotidiano e cronista de costumes, escreveu em
diversos jornais da época (Correio da Manhã, Jornal do Commercio) e também em revistas do Rio de Janeiro (Fon-Fon, Floreal, Abc etc). Dentre a sua produção literária, publicou crônicas, contos, sátiras, romances. Durante esse período, militou fortemente na imprensa, se destacando como escritor engajado e atuante politicamente, contrário às injustiças sociais e ao racismo estabelecido no Brasil, do qual ele mesmo era alvo constante. Operando de forma conjunta ao racismo, o preconceito de classe e de origem social formavam o tripé da exclusão social no país. Conforme afirma Sérgio Buarque de Hollanda em texto sobre o autor, “não se pode escrever sobre os livros de Lima Barreto sem recorrer ao pecado do biografismo”, ou seja, sem levar em consideração a vida do autor, ao peso e grande dimensão que esta assume em sua obra. Predominantemente, sua escrita é dedicada a essas questões de viés político e social. Grande observador da vida urbana carioca, tinha como lugares habituais da cidade a região central e os lugares periféricos, onde habitava, no subúrbio denominado de “Todos os santos”, sendo um grande retratista dos habitantes dessas regiões, destacando sempre a desigualdade a que as populações marginalizadas estavam sujeitas. Foi um grande crítico das reformas urbanas que transformaram a paisagem do Rio de Janeiro dos primeiros anos do século XX. Viveu, intensamente, o mundo literário (do qual era excluído dos espaços de prestígio por conta de sua cor) e a vida boêmia, frequentador assíduo de lugares e bares noturnos, onde conheceu diversos tipos sociais que depois se transformaram em personagens de suas obras.
Com uma vida marcada por dificuldades financeiras, exclusão, problemas
familiares, passam a ser recorrentes crises depressivas e o uso excessivo do álcool. Lima Barreto, então, acaba por ser internado em 1914 no Hospício Nacional, por questões decorrentes do alcoolismo; posteriormente, alguns anos após, em 1919, é internado novamente, em um sanatório da cidade. Chegou a concorrer algumas vezes para a Academia Brasileira de Letras, mas não obteve êxito nas tentativas. Pouco tempo depois, a saúde do escritor passa a ficar cada vez mais abalada, vindo a falecer no início de novembro de 1922.