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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE HUMANIDADES
TEORIAS ANTROPOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS
PROFESSORA FERNANDA BITTENCOURT RIBEIRO

Maurício Fleck Goldfeld

Resenha do texto: “Lá” onde, cara pálida? Pensando as glórias e os limites do “campo”
etnográfico, de Cláudia Fonseca.
Disponível em: http://www.portal.abant.org.br/livros/Etnografia.pdf

A autora inicia o texto abordando os comentários de Gupta e Fergunson (1997)


que traçam um paralelo entre o "estar em campo" clássico, que contrapõe o mundo do
pesquisador e o do pesquisado, com as novas possibilidades de trabalho etnográfico,
como a relativização do conhecimento hegemônico ocidental. É com base nesse
argumento inicial que Fonseca começa a compartilhar sua experiência de campo, tendo,
quando da escrita do texto, recentemente visitado uma ex-colônia de hanseníase
localizada no Maranhão. Essa comunidade, antes separada por muros do lado “de fora”
sofreu diversas modificações com o passar dos anos que transformaram sua estrutura
interna: as duas categorias existentes anteriormente – funcionários e doentes – deram
espaço a outros personagens, de forma que os “outsiders” passaram a ser os recém-
chegados que se estabeleceram em bairros contíguos.
Ao longo do texto, ela comenta sobre diferentes episódios que marcaram sua
estadia na ex-colônia, tratando sobre as caracterizações acerca da doença, a inclusão de
indivíduos nos grupos sociais e, especialmente, as dificuldades que implicam fazer um
trabalho de campo que possua algum engajamento político. Segundo a proposta de Gupta
e Fergunson, posicionar-se condiciona desafios que extrapolam as orientações dos
Comitês de Ética. Para eles, uma possível resposta para esse problema é o delineamento
de linhas possíveis de aliança, pelas quais se consegue esboçar um propósito comum. A
autora, então, começa a se perguntar como operacionalizar essa ideia em seu estudo
específico, levando em consideração a heterogeneidade de interesses e engajamentos dos
habitantes da ex-colônia estudada.
Para estruturar esse debate, Fonseca levanta alguns pontos que auxiliam na
formação de uma etnografia que ela denomina de responsiva e de provocadora.
Primeiramente, ela levanta o argumento de que a condição do “outro” não implica em
categorias fixas, de forma que o estar dentro ou fora de determinada categoria nem sempre
é algo evidente. A partir disso, aborda a relação entre pesquisador e pesquisado,
demonstrando que essa se insere em uma rede de relações que muitas vezes transbordam
a intencionalidade de um dos atores, que acabam sendo muitas vezes responsivos: o
pesquisado, por exemplo, pode ser analisado sob a ótica latouriana de ator, pela qual ele
é levado a agir por muitos outros atores; o pesquisador, por sua vez, a partir da etnografia,
desenvolve uma experiência colaborativa, pela qual se envolve não só com os
interlocutores do campo, mas também com seus colegas acadêmicos, pela qual se busca
um aprofundamento da reflexão que, para a autora, deve ser provocativo.
De forma geral, o que se conclui é que a distância que separa pesquisador e
pesquisado desapareceu nas últimas décadas com os novos meios de transporte e de
comunicação, o que obriga os pesquisadores a pensar nos objetos e nas fronteiras como
algo fluido e não fixo. Para Fonseca, os novos cenários pressupõem a utilização de novas
práticas de campo, que, por sua vez, ocasionam a necessidade de um rearranjo dos
compromissos políticos e éticos que levem em consideração o grande emaranhado de
relações que gravitam ao redor de uma pesquisa etnográfica.

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