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CAMPINAS
2017
1
LAERTE LUIS ORPINELLI NETO
CAMPINAS
2017
2
Dedico este trabalho aos meus pais,
Gislaine e Laerte, que sempre me apoiaram de
infinitas formas e mudaram suas vidas para
dar espaço à minha.
3
AGRADECIMENTOS
À professora Inês Signorini, que tem sido figura central em minha formação e que me
alegra muito em continuar presente nos próximos anos. Obrigado por toda paciência,
ajuda, confiança e atenção durante esse percurso.
Aos meus pais, que tem o meu amor e carinho sem limites. À minha irmã Camila, parte
de todas as minhas memórias e pensamentos. À minha avó e madrinha Ônia, por todo
seu amor sem fim. Aos meus tios, Rosa e Ricardo, sempre queridos.
Ao Fabrício, cuja importância e papel em minha vida palavras não podem classificar.
Aos amigos Carlos, Eric, Francesco, João, Vinícius, Rafael, Marina, Ana Paula, Larissa,
Rafaelle, Anna, Natasha, Bruno, Karina, Elis, Luciene, Andrea, Miriã, Kauã, Tiago,
Izumi e Cezar por sempre serem tão queridos. Eu amo demais cada um de vocês!
Aos voluntários que gastaram seu tempo e atenção com a minha pesquisa e ao João
Guilherme que me ajudou imensamente no trabalho de escrita.
4
“Criar uma imagem consiste em ir retirando
do objeto todas as dimensões, uma a uma:
peso, relevo, perfume, profundidade,
tempo, continuidade e, é claro, o sentido”
Jean Baudrillard
5
RESUMO
Este estudo objetivou estudar como alunos do último ano de Letras e Artes Visuais leem
fotografias não convencionais produzidas pelo fotógrafo paraense Luiz Braga. O percurso
desta pesquisa tomou como eixo um recorte na produção do fotógrafo entre as décadas
de 1980 e 2000. Nessas fotografias, Braga lança mão de técnicas não convencionais que
afastam as imagens das concepções de fotografia como registro do real e das
representações típicas da região Norte do Brasil. Seis fotos que tematizam o
experimentalismo de Braga foram mostradas a 20 participantes voluntários, 10 deles
alunos de graduação do último ano de Letras e 10 do último ano Artes Visuais da
Universidade Estadual de Campinas. Foram investigados quais elementos e técnicas os
leitores participantes da pesquisa utilizaram para elaborar suas interpretações e de que
modo suas leituras foram organizadas. A abordagem desse estudo é qualitativo-
interpretativista e os dados foram extraídos de um conjunto videogravado de observações
de atividades de leitura das imagens e de uma entrevista individual semiestruturada. Os
resultados da pesquisa apontaram para uma diferença quanto ao modo de leitura e
interpretação entre os alunos participantes de diferentes cursos no que diz respeito ao
agrupamento das fotos, à ordem de distribuição das fotos para realizar a leitura e à
identificação da relação entre cor e artificialidade. Além disso também foi verificada a
atribuição de estereótipos da região Nordeste para todas as imagens e a dificuldade em
situar no espaço e tempo o momento da captura das imagens.
6
LISTA DE FIGURAS
7
8
LISTA DE TABELAS
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 11
1.1 As fotografias de Luiz Braga............................................................................................... 13
1.2 A visibilidade e identidade amazônica ................................................................................ 18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................................ 20
2.1 A recusa da straight photography ....................................................................................... 20
2.2 A imagem metamórfica e a aproximação com a pintura ..................................................... 22
2.3 A fotograficidade na obra de Luiz Braga ............................................................................ 24
3 OBJETIVOS .............................................................................................................................. 26
4 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 27
4.1 Tipo de pesquisa .................................................................................................................. 27
4.2 O perfil dos voluntários ....................................................................................................... 28
4.3 As fotografias escolhidas para a atividade de leitura dos participantes .............................. 29
4.4 A atividade piloto ................................................................................................................ 33
4.5 A coleta dos registros .......................................................................................................... 33
4.6 A organização e sistematização dos registros .......................Erro! Indicador não definido.
4.6.1 Critérios de organização do corpus de análise ............................................................ 37
5 RESULTADOS .......................................................................................................................... 38
5.1 Os elementos nomeados pelos participantes ....................................................................... 38
5.2 As interpretações feitas pelos participantes ......................................................................... 40
5.2.1 As estratégias de leitura e agrupamento e as atribuições de temas às imagens ........... 40
5.2.2 As interpretações de lugar ........................................................................................... 41
5.2.3 As interpretações sobre a cor e artificialidade ............................................................. 45
5.3 Análise comparativa dos resultados por curso .................................................................... 52
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 66
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 69
7 APÊNDICES .............................................................................................................................. 73
7.1 APÊNDICE U – Tabelas usadas como referência no texto................................................. 73
7.2 APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................................... 79
10
1 INTRODUÇÃO
Para termos uma ideia de como tanto a técnica como a leitura de fotografias
mudaram ao longo do tempo, basta tomar como exemplo a diferença entre o que eram
considerados como elementos de análise quando a fotografia surgiu e o que são hoje
em dia. Mesmo com pouca nitidez e sem cores, as leituras das primeiras fotografias se
concentravam no fascínio e na ilusão criada pela sua capacidade de parecer-se com o
objeto retratado. Hoje, com a facilidade de se produzir imagens digitais de milhões de
pixels, a semelhança detalhada ao objeto se tornou corriqueira, a ponto de se tornar
pressuposto; assim, dificilmente nossa leitura resulta em espanto pela semelhança com
o objeto retratado, pelo contrário, nossa expectativa é quebrada justamente quando
essa semelhança não está presente integralmente.
11
pela sua proximidade ou afastamento com o objeto representado. Essa divisão criou
uma falsa impressão de que as fotografias só poderiam ser divididas entre fotografias
documentais (mais próximas do referente e preocupadas em traduzir seu objeto da
forma mais fiel possível) e as fotografias artísticas (preocupadas em ser um meio de
expressão independente da sua proximidade com o referente). Apesar de seu caráter
redutor, essa divisão foi mantida por muito tempo e dividiu críticos e fotógrafos em
receituários sobre como equipamentos e técnicas deveriam ser utilizados a fim de
produzir fotografias que se encaixassem nessas duas categorias.
12
1.1 As fotografias de Luiz Braga
1
Essa característica fica mais evidente em outras imagens de Braga, como pode ser visto na seção 4.3
2
Usamos o termo “retrato” no sentido de imagem de uma pessoa, embora Braga tenha recusado a
afirmação de que produz retratos, no sentido de seguir convenções e inserir-se em uma tradição do
retrato da pintura e da fotografia. Para ele, seu trabalho encontra-se deslocado dessa e de outras
categorias, como a da fotografia documental.
13
vulnerabilidade social, geralmente tema das fotografias daquilo que se chama na
fotojornalismo de “fotografia de denúncia social”.
3
LUIZ BRAGA, Porto Grande Noturno, 2008. Disponível em: http://www.diarioonline.com.br/entre
tenimento/cultura/noticia-428503-alunos-de-escola-publica-fazem-exposicao.html, em
24/01/2018
14
notícia da guerra, suas paisagens em night vision parecem relatos
fantasmagóricos de um certo Médio Oriente”
15
Figura 3 - LUIZ BRAGA. Árvore no Tapajós, 20074
Veiga Netto (2013) analisa as fotografias night vision como imagens que
criam um “lugar híbrido”, que
4
LUIZ BRAGA. Árvore no Tapajós, da Série Night visions – 2007. Disponível em:
http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2016/11/luiz-braga-promove-visita-guiada-exposicao-no-mep-em-
belem.html, em 24/01/2018, em 24/01/2018.
16
sangue das vítimas.
5
LUIZ BRAGA. Promesseiros, da Série NightVisions – 2006. Impressão a jato de tinta com pigmento
17
Braga retira a saturação e afasta a ideia de que o verde possa pertencer à sua
poética e relacionar-se com o referente amazônico. As imagens abandonam o verde
como uma metáfora da floresta e aprofundam a relação entre realidade, ficção, artifício
e simulacro. O resultado desse processo de ficcionalização é uma “desorientação do
olhar” (VEIGA NETTO, 2013) em que, junto do enquadramento, da subversão das
convenções e do método fotográfico, é esperado que o leitor se questione sobre o que
está diante dele ou não, fazendo com que aquilo que é fisgado pelo olhar seja “perdido”
em dúvidas.
Conforme os relatos do próprio autor trazidos por Veiga Netto (2013), Luiz
Braga elabora seu experimentalismo a partir de um “olhar fotográfico” vindo do
interior de uma sociedade que já conta com um discurso imagético pronto sobre a sua
identidade. Assim, o experimentalismo de Braga não recusa totalmente os estereótipos,
mas cria sua poética sobre eles, jogando com o processo de recriação e reconhecimento
e produzindo um posicionamento crítico sobre esses signos visuais.
18
piranhas assassinas e cobras gigantes. Filmes como “Fritzcarraldo” (1982), com cenas
antológicas de uma gigantesca embarcação carregada nas costas montanha e rio acima,
ou ainda “O monstro da lagoa negra” (1954), que, de tão pouco preocupado em retratar
a região realisticamente, produziu parte das imagens em estúdios e locações nos
Estados Unidos, construíram um imaginário completamente separado da realidade da
floresta e da população. A finalidade mercadológica dessas produções se refletiu em
uma estética da “marca Amazônia” utilizada pelo cinema e pelas produções imagéticas
sobre a região Norte.
19
do Norte.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
Photography, que o artista virá a recusar, se faz presente, como podemos ver na
imagem abaixo:
6
LUIZ BRAGA. Banhista, 1996. Câmera Hasselblad, objetiva 150mm. Coleção do Artista.
21
“estratagema” que a fotografia usa para buscar o seu valor como uma arte por ser capaz
de tocar o real como nenhuma outra. Assim, a recusa de Braga em seguir esse caminho
é a recusa à criação de uma realidade atestável por estereótipos e fixa por provas
imagéticas.
7
LUIZ BRAGA. Montagem do Arraial, 2003. Disponível em: https://glamurama.uol.com.br/ luiz-
braga-abre-exposicao-com-obra-ja-no-acervo-do-perez-art-museum/, em 24/01/2018
22
Figura 7 - LUIZ BRAGA. Barco em Santarém, 20078.
Para Jacques Rancière (2012), as imagens na arte podem ser divididas em três
8
LUIZ BRAGA. Barco em Santarém, 2007. Disponível em: http://www.artnet.com/artists/luiz-braga/,
em 24/01/2018
9
LUIZ BRAGA. Alambrado, 2008. Disponível em: https://abrilexame.files.Wordpress
.com/2016/09/size_960_16_9_alambrado-luiz-braga.jpeg?quality=70&strip=info, em 24/01/2018
23
categorias: “imagens nuas”, que reúnem rastros da história e o testemunho da
realidade; “imagens ostensivas”, que suscitam outras interpretações além daquilo que
representam; e “imagens metamórficas”, que provocam uma quebra do limite entre os
campos da linguagem e da arte. Conforme mostra Veiga Netto (2013), o trabalho de
Braga com a cor e a luz situa as fotografias no status de imagens metamórficas por
conta do uso de seu método experimental, que emprega a cor e a luz (aspectos da
linguagem fotográfica) para a realização de seu projeto artístico de afastar-se da
imagem documental e da identidade fixa dos estereótipos.
Conforme afirma Veiga Netto (2013), a região Norte vive um tempo cíclico,
diferente do tempo dirigido pelas quatro estações. Lá o tempo é o das marés, das luas,
da luz e do sol. Esse caráter cíclico aparece nas fotografias de Braga por meio da luz
que cria uma temporalidade difícil de ser fixada, uma vez que o método experimental
confunde por meio da iluminação o período do dia e da noite. É importante lembrar
que a luz tem um papel fundamental no experimentalismo, pois são necessárias a luz
artificial das lâmpadas de mercúrio no filme day light e a luz solar no equipamento de
infravermelho para que as imagens sejam capturadas com as características esperadas.
Para Susan Sontag (2004. p. 23), “tirar uma foto é ter um interesse pelas coisas
como elas são. É estar em cumplicidade com o que quer que a torne um tema
interessante e digno de se fotografar”. Por acreditar que a fotografia documental não
registra as coisas como elas realmente são ou como deveriam ser retratadas, mas
24
oferece estereótipos e uma identidade fixa, as fotografias de Braga investem interesse
em objetos e imagens do cotidiano que fogem do interesse tradicional da fotografia
documental. Ao contrário do que isso pode sugerir, não quer dizer que Braga se dedica
a tornar visível aquilo que é um não-tema ou a dar atenção aos objetos que não têm
um simbolismo visual, pois não existe um objeto não-fotografável ou que nunca tenha
sido objeto do interesse de algum fotógrafo antes. Em vez disso, as fotografias criam
uma significação a partir de um motivo e o fotógrafo sempre terá uma questão que o
leve a trazer atenção a um significado (VEIGA NETTO, 2013 p. 83).
25
operações técnicas). Segundo Veiga Netto (2013),
3 OBJETIVOS
26
elementos. Assim, o trabalho teve como objetivo específico responder às seguintes
perguntas:
4 METODOLOGIA
27
especificidades de cada informação;
3. Escolher uma situação em que haja pouco ou nenhum controle sobre o
comportamento, organização ou eventos. Para isso, as perguntas foram
elaboradas de modo a não conduzir a leitura dos participantes e não
fornecer nenhuma informação prévia sobre as imagens, como seu
contexto de produção ou tema, resultados esperados pela pesquisa ou
mesmo a própria informação de que se tratavam de fotografias. Além
disso, as perguntas foram feitas de forma a complementar ou
aprofundar os comentários feitos pelos participantes;
4. Conter uma descrição detalhada da delimitação espaço-temporal que
contextualiza as estruturas e relações de interesse10. Para isso foram
feitas perguntas sobre o perfil dos entrevistados, como elaboraram seus
comentários e outras perguntas que visavam situar as respostas;
5. Trabalhar com hipóteses e lições aprendidas durante a coleta e análise
dos dados. Como se verá, realizou-se um experimento piloto, em que
as primeiras hipóteses e estratégias foram testadas, permitindo que
fossem feitas adequações no procedimento;
6. Usar múltiplas fontes de dados. No caso, foram usados um questionário
de perfil, uma entrevista semiestruturada e uma análise das ações
gravadas em vídeo;
7. Enriquecer e potencialmente transformar a compreensão do leitor sobre
um fenômeno por estender a experiência do leitor. Para isso, os
resultados foram apresentados a fim de evidenciar relações intrínsecas
ao fenômeno de leitura das fotografias e que possam servir para o
estudo de leitura em outros contextos e envolvendo outros objetos.
10
Essa delimitação foi feita para permitir que a pesquisa focasse nas hipóteses e perguntas de pesquisa,
uma vez que limita o que estava dentro e fora do caso.
28
de Artes e do Instituto de Estudos da Linguagem.
A escolha dos cursos de Letras e Artes Visuais se deu por conta de terem, por
pressuposto, em seus currículos atividades de leitura voltadas para objetos do universo
verbal e visual. Por sua vez, a escolha dos dois últimos semestres visou garantir que
os alunos estivessem suficientemente familiarizados e inseridos nas práticas de leitura
mais comuns em seus cursos. No que diz respeito à regionalidade de origem dos
participantes, buscou-se evitar que esse fosse um fator que interferisse nos resultados.
O mesmo aconteceu com o sexo: houve uma preocupação em buscar um número igual
entre os dois sexos para que este também não fosse um fator que interferisse nos
resultados. Ocorreu, porém, uma predominância do sexo feminino reproduzindo a
predominância deste sexo nos dois cursos. Por fim, os grupos foram compostos de 10
alunos (14,25% do total anual de alunos ingressantes) cada. Como se trata de uma
pesquisa qualitativa, este número reduzido de alunos em cada grupo permitiu uma
análise mais profunda das leituras feitas por eles.
29
nomenclatura que foi usada para lhes fazer referência ao longo deste trabalho:
11
LUIZ BRAGA, Árvore em Mosqueiro, 1991. Cromo 35 mm, digitalizado e impresso em papel Fuxiflex.
Coleção do Artista.
30
Figura 11 - LUIZ BRAGA. Babá Patchouli, 1989 12. CO BABÁ.
12
LUIZ BRAGA. Babá Patchouli, 1989. Cibachrome print. 40 x 60 cm. Coleção do Artista.
31
Figura 12 - LUIZ BRAGA. Fé em Deus 13. NV BARCO.
13
LUIZ BRAGA. Fé em Deus, da Série Night Visions – 2006.Impressão a jato de tinta com pigmento
mineral sobre papel de algodão. Acervo do Artista
14
LUIZ BRAGA. Banho de mar, 2003. Disponível em: https://vejario.abril.com.br/atracao/horizonte-
generoso-uma-experiencia-no-para/, em 24/01/2018.
32
Figura 14 - LUIZ BRAGA. Árvore e pássaros, 2006 15. NV ÁRVORE.
15
LUIZ BRAGA. Árvore e pássaros.
33
As atividades de leitura das fotografias foram registradas em vídeo e a coleta
foi constituída de três instrumentos. O primeiro foi um questionário de perfil aplicado
oralmente no início da atividade com vistas a registrar idade, cidade em que morava,
ano de ingresso na universidade e atividades acadêmicas e profissionais
desempenhadas. Os alunos de Artes Visuais foram questionados nesta etapa sobre
como descreveriam o contato deles com o universo escrito e se atuavam em alguma
área artística como pintura, escultura, desenho, etc. Aos alunos de Letras foi
perguntado como descreveriam seu contato com o universo visual, se davam aulas e
se se descreviam mais na posição de pesquisador ou professor. Este primeiro
instrumento buscou levantar informações mais gerais que pudessem ser utilizadas para
traçar perfis dos participantes e cruzá-los com as respostas dadas no segundo
momento.
6. Que efeitos você acha que foram visados por quem produziu as imagens?
16
É importante notar que, assim como mencionado na seção 4.4, as perguntas foram adaptadas no momento
de cada entrevista para que se complementassem na resposta da pergunta anterior e, portanto, não foram
propostas aos participantes nem na mesma ordem nem na mesma formulação acima.
34
fotografias também foi gravada em vídeo. Este registro contribuiu para que, além da
contextualização das respostas, uma análise do manuseio das fotografias pudesse ser
feita. Os vídeos de cada participante foram numerados de 1 a 10 e identificados com
as iniciais IA para alunos de Artes Visuais e IEL para alunos de Letras.
O terceiro instrumento de coleta foi a análise dos vídeos e das ações dos
participantes. Para isso foram identificados os momentos em que os participantes
35
distribuíram as imagens durante a leitura e a ordem em que isso acontecia em relação
à formulação de comentários. Esses dois aspectos compuseram etiquetas que, junto às
que serão apresentadas na sessão seguinte sobre o conteúdo das respostas, formaram o
corpus de análise.
Por fim, para dar conta do terceiro instrumento de coleta (a análise das ações
registradas em vídeo), foram criadas etiquetas que identificaram a ordem que os
participantes dispuseram as imagens e fizeram seus comentários. É importante lembrar
que, diferente das demais etiquetas, essas últimas não analisaram o conteúdo das
respostas, mas a ordem e a forma como isso foi feito.
36
Figura 1 - Fluxograma de códigos e grupos
37
participantes atribuíram um tema para um conjunto de fotos ou uma foto específica.
Neste grupo está todo tipo de identificação de assunto, sentimento causado ou relação,
conforme mencionado pelos participantes.
Por fim, para o último instrumento de coleta (a análise das ações) foram
criadas etiquetas para identificar a ordem das ações dos participantes: se teceram
comentários e então organizaram as fotos, ou o contrário.
5 RESULTADOS
38
menções diretas, as descrições de objetos e pessoas nas imagens foram predominantes
e somaram 28 respostas diferentes17 (ou códigos, usando a nomenclatura do software)
em 191 ocorrências. Os elementos mais mencionados pelos participantes foram as
árvores (31), “figura feminina” (13), “natureza” (12), “presença de pessoas” (9),
“vegetação” (9), “barco” (8) e “água” (8). Nos agrupamentos os elementos mais
comuns foram as “árvores” (8), o “horizonte” (6) e “pessoas em grupo” (5).
A frequência das leituras das imagens também foi diferente entre os cursos.
Os alunos de Artes Visuais leram mais as imagens CO MENINA e CO BABÁ (7
entrevistas contaram com pelo menos uma leitura dessa imagem) e menos NV
ÁRVORE (3), enquanto os alunos de Letras leram todas quase em igual número, sendo
NV BARCO (10) a mais lida e NV RIO (7) a menos lida. Uma possível explicação
para essa diferença foi, como será mostrado com mais detalhes na seção 5.3, a
17
Os outros elementos de todos os grupos e identificados em menor número podem ser vistos no
ANEXO 8.1 no final deste trabalho
39
diferença de estratégias de análise entre os participantes dos cursos. Como os alunos
de Letras optaram por fazer uma leitura das fotografias uma a uma, tenderam a ler
todas, enquanto os de Artes Visuais focaram-se em formar grupos para comentar as
imagens e, assim, algumas foram deixadas de lado.
18
A lista com todos os agrupamentos e análises individuais e os respectivos números de leituras pode
ser conferido no ANEXO 8.1 no final do trabalho
19
Cf. seção 5.3 sobre o assunto
40
identificados, que deram origem aos temas e interpretações mais recorrentes.
Essa dificuldade faz parte da poética de Braga. Como discutido nos capítulos
teóricos, as fotografias de Luiz Braga impõem desafios à leitura ao trazer uma imagem
da região Norte sem recorrer aos retratos antropológicos e aos estereótipos da floresta.
As entrevistas confirmaram que os leitores têm de fato essa dificuldade de falar sobre
o lugar com precisão, mas mostraram que identificaram que o local era uma questão
41
importante naquelas imagens.
42
de Artes Visuais o mencionaram apenas 4 vezes. Apesar dessa diferença significativa
ser notada, nenhum outro dado fornecido durante as entrevistas revelou maiores
informações do porquê dessa diferença ou se ela é de fato significativa para os dois
grupos de alunos. Uma nova pesquisa seria necessária para levantar explicações e
confirmar se essa diferença é significativa.
Apesar de haver leituras desse tipo, que apontam mais para uma falta de
conhecimento geográfico pertinente do que para uma dificuldade de leitura, os
estudantes que mencionaram a região Nordeste justificaram sua associação por meio
de uma oposição à região em que vivem, novamente repetindo o que aconteceu com a
questão do rio e do mar. Como não reconhecem o espaço como familiar, associam
imediatamente com a região Nordeste. O participante IEL-6 disse que havia um
choque, para ele, que aparecia além do tema e lugar. Para ele o choque vinha pela
técnica, uma vez que a ideia de quem produziu as fotos era quebrar expectativas sobre
o lugar e os objetos na imagem: “mesmo quando a gente pensa num cenário de praia,
43
não é essa foto que a gente imagina”.
Outro fator que contribuiu para a associação das imagens com a região
Nordeste foi a identificação de temas como “pobreza”, “seca” e “trabalho precário”,
geralmente associados à região Nordeste devido aos problemas histórico-sociais que a
região enfrentou e ao estereótipo criado em cima deles. O participante IA-7 diz “tem
uma questão da pobreza muito forte” e, quando questionado sobre como identificou
isso, respondeu “eu acho que até pela paisagem, essa questão da árvore desse jeito me
lembra a caatinga”; quando retomada a pergunta sobre a pobreza, continuou: “parece
uma coisa simples, sabe? [...] mais simples pelo menos, parece a questão né, como eu
falei, parece que tipo, pessoas que trabalham com a pesca, as roupas também dela alí,
da menina aqui, aqui também todo mundo tá nadando”. Outro participante, IEL-9,
associou diretamente as imagens ao Nordeste e, quando questionado do motivo,
respondeu que foi por conta da seca. Ele também disse que as imagens pareciam ter
sido feitas “em um país subdesenvolvido, porque as pessoas parecem estar se
divertindo na água... e... isso não parece ser um tipo de lazer das classes altas”.
44
natureza, que foram peças chaves nas interpretações de quase todos os entrevistados.
Apesar do reconhecimento e frequência da descrição da vegetação nas imagens, não
houve um grande número de associações com a região Norte, mesmo ela sendo
geralmente conhecida por seus recursos naturais. Uma hipótese para isso é que o
método experimental de Braga tem sucesso na sua empreitada e o deslocamento da
identidade amazônica faz com que, mesmo identificando-se a vegetação como um
aspecto importante na leitura das imagens, estas não sejam diretamente associadas ao
Norte.
45
assim meio esverdeados”. Em um caso específico (IA-1), o participante achou que a
cor verde foi causada por um poste, quando analisou a imagem CO ÁRVORE, mesmo
não podendo ver a fonte de luz artificial.
46
noção de luz artificial (oposta à do sol) ajuda a construir a noção de artificialidade,
que, como foi visto na seção 5.2.1, foi reconhecida muito mais nas imagens coloridas.
O participante IA-1 disse que “são fotografias de cor saturada, mas tipo os contrastes
que elas estabelecem... pode puxar para essa noção de artificialidade. Mas, como eu
tinha dito, dependendo do contexto da iluminação da hora da fotografia, isso pode ser
possível, o céu chegar a essa coloração”. Outros participantes concordaram com ele,
identificando a luz artificial pela cor verde da fotografia. O participante IA-4, quando
questionado sobre como identificou a luz artificial, respondeu: “pelas sombras das
figuras, eu acho que a zona verde com a sombra também é um tom esverdeado. Dá pra
entender que é uma luz que tá incidida. Esse vermelho, como elas são complementares,
ela fica bem mais artificial, essa aqui”.
47
abordagem estética.
Tabela 2 - Menções à cor geral e verde, artificialidade de cor e luz e período do dia por curso
20
Cf. a tabela XXX no final deste trabalho
48
situação se inverteu nos alunos de Letras, que preferiram a descrição da cor em um
sentido geral (26) à menção específica da cor verde (12) e tiveram menor número de
menções à artificialidade de cor (4) e luz (6). Contudo, mais dados seriam necessários
para comprovar se essa diferença é de fato significativa. Os participantes não deram
outras informações que pudessem ajudar a formular hipóteses para explicar essa
diferença.
Um fato curioso foi a menção por parte do participante IA-9 de que as cores
remetiam à noite por serem cores neon. Essa interpretação é curiosa, pois a cor foi
tomada como substituto do tipo de luz (de neon) e construiu a interpretação sobre o
período noturno. Assim, ao invés de optar por uma descrição sobre o nível de claridade
do dia ou da noite representado na imagem ou ainda sobre a presença de iluminação
artficial, o participante optou por escolher as cores das luzes neon, símbolo da vida
noturna.
As informações sobre a cor também podem ser analisadas por meio das
menções indiretas às cores, isto é, quando a cor não foi mencionada explicitamente
pelos participantes, mas foi critério de organização das imagens. Apesar de haver um
maior número de participantes mencionando elementos de lugar das imagens, os
agrupamentos mais mencionados foram os que separavam as imagens coloridas das
night vision, nos permitindo inferir que a cor era a principal diferença vista nas imagens
e um elemento central na leitura dos participantes. Os participantes dividiram as
imagens em dois grupos: “coloridas” e “monocromáticas/verde-e-branco/preto-e-
49
branco”21. As imagens classificadas como “coloridas” foram CO ÁRVORE, CO
MENINA e CO BABÁ, e as imagens classificadas como “monocromáticas/verde-e-
branco/preto-e-branco” foram NV ÁRVORE, NV RIO e NV BARCO.
Como é possível ver na tabela, os dois grupos de imagens não tiveram uma
diferença no número de associações com a pintura, solidão e fuga, mas outros temas
tiveram uma diferença significativa. O primeiro é a questão da artificialidade, que
apesar de ter sido mencionada 11 vezes como um tema das imagens em geral (como
será discutido mais abaixo), quando analisamos as atribuições de tema por grupo de
imagens, aparece apenas com referência às coloridas, nos levando a concluir que as
imagens coloridas são mais reconhecidas como artificiais do que as imagens night
vision. Isso também revela que as night vision parecem muito mais naturais aos olhos
dos entrevistados do que o processo usado nas imagens coloridas. Essa relação foi
21
Como em apenas dois casos não foi identificada a cor verde nas fotografias que haviam sido descritas
como preto-e-branco, foi considerado que o termo “preto-e-branco” foi usado no lugar do termo
“monocromático”, seja por desconhecimento do termo ou qualquer outro motivo. De qualquer forma,
como se referem ao mesmo grupo de imagens, foi usado um único código na organização dos registros.
50
notada explicitamente pelo participante IA-11, que disse que separou as imagens pela
cor e então comentou que as coloridas pareciam saturadas e artificiais, enquanto as
outras pareciam mais realistas e naturais.
Também podemos ver nas tabelas que apenas as imagens night vision foram
associadas a temas como choque, desespero, morte e tristeza. A associação com esses
temas foi bastante presente nas leituras da totalidade das imagens, e a informação de
que as night vision foram lidas como mais sombrias nos ajuda a localizar as
associações como vindas dessas imagens.
22
O termo aparece nas tabelas como seu correspondente “escuridão” para um paralelismo entre os termos
51
mencionando as imagens CO ÁRVORE e NV ÁRVORE. A mesma associação com a
centralidade de uma árvore e o isolamento da árvore nas duas imagens foi relatado
pelo participante IA-8.
52
las individualmente. Posteriormente, quando questionado se encontrou dificuldade em
identificar do que as imagens tratavam, repetiu que a falta de ligações entre as imagens
impossibilitou que ele falasse sobre o tema das imagens. Segundo ele, a dificuldade de
estabelecer ligações entre as imagens vinha da falta de informações adicionais escritas,
como legendas sobre onde foram feitas e quem está retratado, o que sugere a
possibilidade de uma certa dependência da escrita (por exemplo, de legendas) por parte
dos alunos de Letras para esclarecer o sentido das imagens.
53
Figura 16 - Imagem da participante IEL-10 lendo as imagens
54
A leitura de fotografias agrupadas segundo algum critério é uma estratégia de
que tem consciência notável os participantes do curso de Artes Visuais. Eles fizeram
15 comentários sobre o critério que estavam usando para agrupar as fotos, ao passo
que os alunos de Letras o fizeram 3 vezes apenas. O participante IA-1 disse, por
exemplo, que a sua leitura sobre o cenário das fotos foi formulada por conta da
exposição das imagens agrupadas. O mesmo ocorreu com o participante IA-9, que
afirmou sobre as fotos terem sido feitas no Brasil: “as imagens juntas me remetem a
isso”. Isso deixou claro que sem o suporte dos agrupamentos de imagens, suas leituras
poderiam não ser as mesmas
Uma possível explicação para essa diferença entre as estratégias de leitura das
fotografias pelos dois grupos de alunos é a tradição de leitura de imagens em cada um
dos cursos. O participante IA-9 dá pistas de como isso acontece no curso de Artes
Visuais ao ser questionado sobre como aprendeu a “caminhar o olhar pelas imagens”.
Segundo ele, nas aulas de história da arte aprendeu a colocar os quadros um ao lado
do outro para comparar períodos, momentos históricos, artistas, e essa organização
ajuda a visualizar melhor as relações. Essa afirmação aponta para a hipótese de que a
metodologia usada na história da arte para se analisar quadros favorece os critérios de
agrupamento, e este pode ser o motivo da diferença em relação às estratégias dos
alunos de Letras.
A segunda diferença que poderia ser atribuída aos cursos dos participantes foi
a sequência e a função dos agrupamentos de imagens. Os estudantes de Artes Visuais
agruparam23 as imagens antes de elaborarem seus comentários (10 das 14 leituras em
que a ordem ficou explícita ocorreram dessa forma), enquanto os estudantes de Letras
23
Cf. a tabela “Sequência da leitura e organização das fotografias por curso” no final deste trabalho no Anexo 8.1
55
utilizaram a mesma estratégia, mas em proporção menor (6 das 15 leituras), pois a
maioria dos participantes (9 leituras) comentou cada uma das fotografias e só depois
agrupou-as.
Em geral a organização das imagens pelos alunos de ambos os cursos foi feita
em duas tríades (geralmente as fotografias com mais cores ficavam em cima e as de
night vision embaixo), e essa organização era refeita quando faziam novos
agrupamentos. Embora identificassem agrupamentos possíveis em 4 ou 5 fotos, as
principais formas de agrupamento feitas por eles foram com elementos comuns em 3
fotos ou 2 fotos, como pode ser visto abaixo na leitura de um aluno de Artes Visuais:
56
IA-10 resolveu reorganizá-las esperando encontrar outra leitura, realizando uma
disposição das imagens na mesa de uma maneira completamente diferente dos demais
alunos, como pode ser visto na imagem abaixo:
Após a organização linear das imagens, ele disse que cada uma delas teria
ligações com o par aos seus lados e explicou que a organização na mesa mostrava isso.
Feita a organização das imagens e explicado o método e a relação, rapidamente o
participante foi capaz de elaborar um comentário sobre as imagens, atribuindo um
tema geral a todas as fotos.
57
local das imagens.
Algo curioso aconteceu com o participante IEL-8. Sua leitura iniciou-se por
uma distribuição das imagens em grupos pela cor seguida de um comentário sobre as
imagens de nightvision serem sombrias, contrariando o comportamento comum de
seus colegas de curso. Ele então perguntou se poderia comentar as imagens
individualmente e abandonou completamente a organização que havia feito no início,
seguindo toda a entrevista sem fazer nenhuma outra organização ou agrupamento das
fotos.
Embora alguns participantes dos dois cursos tenham concordado com a afirmação de
que a organização prévia das fotos era de fundamental importância para sua leitura e
de que em uma organização diferente haveria uma leitura diferente, os alunos de Letras
não parecem utilizar a disposição das imagens para encontrar alguma outra informação
ou relação de sentido. Quando estes recorrem a uma organização, ela vem após seu
comentário para mostrar o que acabaram de afirmar. Isso pode ser visto na entrevista
com o participante IEL-2, quando tece comentários sobre imagens agrupadas e então
organiza e faz gesto mostrando a quais imagens se aplica seu comentário:
58
A terceira diferença verificada entre os dois grupos foi a predominância de
respostas que mencionam a figura feminina por parte dos participantes do curso de
Artes Visuais, em sua maioria do sexo feminino. Uma possível explicação para esse
fenômeno é a recente discussão sobre gênero e feminismo que tem avançado nos
últimos anos em todo o mundo. Isso pode ter sido o motivo pelo qual houve uma
identificação da presença e papel das mulheres nas obras e uma ampliação de leituras
e críticas de arte que levem em consideração a figura feminina. É interessante notar
que figura feminina aparece apenas na imagem CO MENINA, que foi comentada pelos
alunos de Letras 20 vezes e 11 vezes pelos de Artes Visuais. Mesmo que a maior parte
dos alunos que mencionaram a imagem tenha sido de Letras, a menção à figura
feminina ainda foi preponderante entre os participantes do curso de Artes Visuais.
Uma indicação de que essa discussão está presente no curso de Artes Visuais
foi dada pelo entrevistado IA-9, ao comentar sobre a erotização da figura feminina na
imagem CO MENINA, que julgou ser uma criança. O participante disse que
interpretou assim “pela posição que ela tá [...] das imagens que eu já analisei várias
vezes na história da arte, que sempre aparece as mulheres como objeto decorativo e
tudo mais e rola uns contorcionismos graves assim, sabe? [...] me remete a sei lá, a
odalisca que é um quadro do Ingres”. Pode-se, portanto, inferir que o participante já
tinha realizado análises da função da mulher na obra de arte e feito críticas a como as
mulheres são retratadas em obras desse tipo, inserindo-se nessa discussão proposta por
movimentos feministas, como o Guerrilla Girls, por exemplo. É o que aponta o cartaz
do grupo de militantes, reproduzido abaixo:
59
Figura 21 - Poster "Do Women Have To Be Naked To Get Into the Met. Museum?”, 1989
A relação mais comentada foi com a pintura. Ela foi verificada nos dois
grupos, mas com mais frequência no dos alunos de Artes Visuais. Além do maior
número de relações feitas com a pintura, os alunos de Artes Visuais fizeram
comentários mais específicos, mostrando que trouxeram seu repertório de imagens já
60
estudadas para a leitura das fotografias de Braga.
O participante IA-6, por exemplo, listou diversas pinturas que conhecia e que
associava com as fotografias, como, por exemplo, a pintura “A jangada da Medusa”
de Théodore Gerricault associada à imagem NV BARCO ou “Angelus”, de Millet, à
imagem CO BABÁ. Além disso, ele também associou retratos impressionistas ao fato
da imagem NV RIO retratar muitas pessoas na praia que, segundo ele, as imagens
pareciam com pinturas pelas composições e pela posição do corpo da figura
representada (no caso da foto CO MENINA).
24
“A balsa da medusa” Théodore Géricault (1818-1819). Disponível em:
http://historiacomgosto.blogspot.com.br/2016/04/a-balsa-da-medusa-gericault.html, em 24/01/2018.
61
-
O participante IA-4 não fez associações diretas com pinturas específicas, mas
classificou as cores das fotos como cores da pintura. O participante IA-5, por sua vez,
disse que associava as fotos com a pintura por ser pintora e ver fotos pelas escolhas
plásticas. O participante IA-9 disse que a CO MENINA poderia ser uma pintura por
causa da posição da menina. Já o participante IA-11 disse que percebeu que as fotos
eram como reproduções de quadros clássicos, não exatamente alguns específicos, mas
que havia uma semelhança com esse tipo de pintura.
25
“Angelus”. Jean-François Millet, 1857-1859. Disponível em: http://carmelocristoredentor.org.br/a-
oracao-do-angelus-sua-historia-seu-significado-e-como-reza-lo/, em 24/01/2018
62
participante IA-4, por exemplo, disse que as imagens lembravam as das fotos de uma
colega de curso, cujas cores eram parecidas com aquelas. Outro comentário dele é que
as imagens lembravam fotografias da Barbara Vagner, uma fotógrafa que tem algumas
imagens com a temática muito parecida com a de Braga, mas que não compartilha de
seu método experimental, presente nas imagens mostradas aos alunos. As imagens
abaixo mostram a semelhança entre as imagens dos dois fotógrafos:
26
BARBARA WAGNER, Sem título (da série Brasília Teimosa), 2005, Coleção Pirelli MASP..
Disponível em: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/wp-content/uploads/2017/03/AF_Bolso-
MASP-CCBB_BH-miolo-83.jpg, em 24/01/2018.
63
Figura 25 - LUIZ BRAGA. Vendedor de Amendoim, 199027
27
LUIZ BRAGA. Vendedor de amendoim, 1990. Disponível em:
https://malditovivant.net/2016/04/11/ historias-da-infancia-nova-exposicao-do-masp/vendedor-de-
amendoim-luiz-braga-1990/, em 24/01/2018.
64
Sebastião Salgado, sendo que a série mais famosa desse fotógrafo é justamente sobre
a exploração de ouro em Serra Pelada. A descrição da participante IEL-5 leva a crer
que ela também estava se referindo às fotos de Sebastião Salgado, mas que talvez
desconhecesse seu nome ou não tivesse consciência da relação que havia feito com seu
trabalho.
28
SEBASTIÃO SALGADO. Sem título. Disponível em: https://tecnicoemineracao.com.br/wp-
content/ uploads / 2014/05/sebastiao-salgado-serra-pelada-6.jpg , em 24/01/2018.
65
antropológico de pessoas comuns.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
66
encontrar porções de água em que não se vê a outra margem.
Uma informação que parece ter faltado para os entrevistados foi a de que a
cor estava associada a uma discussão sobre os espaços das imagens. Contudo, sem o
reconhecimento do espaço como uma representação da região Norte, dificilmente os
entrevistados teriam associado a presença do verde com uma discussão
representacional (tanto no sentido semiológico como no identitário).
Por fim, foi constatada pela pesquisa uma diferença nas estratégias de
organização e análise entre os dois cursos. Os alunos de Letras optaram,
majoritariamente, por ler as imagens uma a uma e, quando se referiam a mais de uma,
indicavam-no somente após fazer o comentário. Os alunos de Artes Visuais, ao
contrário, leram as imagens majoritariamente por meio de agrupamentos de imagens
que eram feitos antes de exporem suas interpretações. Essa preferência dos alunos de
Artes pelos agrupamentos como estratégia de leitura remete à estratégia relatada por
eles como advinda das aulas de história da arte, em que obras de arte são expostas a
fim de evidenciar a proximidade plástica e temática.
67
necessária para investigar se essa hipótese se justifica.
68
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, Luiz. Luiz Braga – Fotoportátil. São Paulo: Cosac Naify, 2005.
69
Editora WMF Martins Fontes, 2010.
DIDI-HUBERMAN, Georges. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed.
34, 1998. ______. A tragédia da cultura: Warburg com Nietzsche. In: ______. A
imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg.
Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2013.
ESPADA, Heloisa. Olhar direto: uma introdução à obra de Paul Strand. In:
INSTITUTO MOREIRA SALES. Paul Strand - Olhar Direto, Rio de Janeiro: Ipsis
Gráfica e Editora, 2009, p. 6-11.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia
da fotografia. São Paulo: Relume Dumará, 2002.
KOSSOY, Boris. Fotografia & história. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
70
KOSSOY, Boris. Realidade e ficção na trama fotográfica. 3.ed. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2002.
71
Companhia das Letras, 2004.
72
7 APÊNDICES
73
Elementos: sol 4
Elementos: solo 2
Elementos: urubu/abutre/corvo/ave 3
Elementos: vegetação 9
74
Tabela 9 – Tipos de agrupamentos
75
Elementos: ausência de pessoas 2
Elementos: choque 2
Elementos: contexto social 1
Elementos: desespero 2
Elementos: distância das imagens da região Norte 2
Elementos: espera 1
Elementos: estranhamento 1
Elementos: ficção 1
Elementos: fuga 3
Elementos: guerra 3
Elementos: imagens cotidianas 7
Elementos: incômodo 1
Elementos: já conhecia o trabalho do artista 2
Elementos: lazer 2
Elementos: morte 1
Elementos: naturalidade 1
Elementos: natureza 12
Elementos: pessoas comuns 2
Elementos: pessoas em um espaço 2
Elementos: pobreza 5
Elementos: posição da mulher na imagem 3
Elementos: propaganda turística 1
Elementos: proximidade com cinema 1
Elementos: psicodélico 1
Elementos: relação com a Bíblia/mítica 3
Elementos: relação com a literatura 3
Elementos: relação com a pintura 11
Elementos: relação com documentários 2
Elementos: relação com o cinema 1
Elementos: relação com outras fotografias 8
Elementos: relação entre mãe e filho 1
Elementos: relação homem e natureza 1
Elementos: segurança 1
Elementos: semelhança com a colagem 1
Elementos: sensualidade 2
Elementos: solidão 6
Elementos: escuridão 6
Elementos: trabalho precário 8
Elementos: tranquilidade 3
Elementos: tristeza 6
76
Elementos: período noturno 12
Elementos: período pôr/nascer do sol 7
Total 29
NIGHTVISIONS COLORIDAS
Elementos: artificialidade 0 6
Elementos: relação com a pintura 4 5
Elementos: solidão 4 3
Elementos: fuga 2 2
Elementos: natureza 1 2
Elementos: tranquilidade 1 2
Elementos: sensualidade 0 2
Elementos: escuridão 4 1
Elementos: relação com outras
3 1
fotografias
77
Elementos: imagens cotidianas 2 1
Elementos: relação com a literatura 1 1
Elementos: relação homem e natureza 1 1
Elementos: choque 0 1
Elementos: espera 0 1
Elementos: ficção 0 1
Elementos: pobreza 0 1
Elementos: propaganda turística 0 1
Elementos: psicodélico 0 1
Elementos: relação entre mãe e filho 0 1
IA IEL
Agrupar: por verde e branco 6 9
Agrupar: por árvores 6 1
Agrupar: por coloridas 5 7
Agrupar: por pessoas em grupo 3 1
Agrupar: por figuras femininas 2 1
Agrupar: por presença do horizonte 2 1
Agrupar: por presença de natureza 1 1
Agrupar: por pessoas no trabalho 1 0
Agrupar: por pessoas se divertindo 1 0
Agrupar: por pessoas sozinhas 1 0
Agrupar: por presença de água 0 3
Agrupar: por cenário em destaque 0 1
Agrupar: por corpo 0 1
Agrupar: por figuras masculinas 0 1
Agrupar: por fotografias artísticas 0 1
Agrupar: por fotografias de registro 0 1
Agrupar: por paisagem 0 1
Agrupar: por paisagens 0 1
Agrupar: por pessoas em destaque 0 1
Agrupar: por presença de pessoas 0 1
Agrupar: por presença do mar 0 1
78
7.2 APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Justificativa e objetivos:
Pretendemos com essa pesquisa compreender melhor os caminhos e
as escolhas interpretativas no contexto de recepção das imagens selecionadas
pelos alunos de artes visuais e letras da Universidade Estadual de Campinas.
Procedimentos:
Ao participar desta pesquisa você está sendo convidado a observar
imagens selecionadas por 3 minutos e, num segundo momento, comentar o
que pensa sobre elas e responder algumas perguntas previamente
estabelecidas. A entrevista durará o tempo esperado de 20 minutos e será
gravada em vídeo.
Observações:
79
80
Inicialmente você será questionado para que se identifique dizendo seu nome, idade,
curso e atividades profissionais e acadêmicas. Por último faremos a entrevista
semiestruturada.
Desconfortos e riscos:
Esta pesquisa não apresenta riscos físicos ao participante, mas qualquer desconforto
com relação à temática das imagens ou com as questões das entrevistas permitirá ao
participante a interrupção e o cancelamento da participação na pesquisa.
Benefícios:
Caso decida participar dessa pesquisa, você contribuirá com a ciência, sendo
referência de um grupo de jovens alunos que vivem em contextos similares ao seu e, talvez,
possuam também um perfil semelhante ao seu.
Sigilo e privacidade:
Garantimos a você que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma informação
pessoal sua será repassada para qualquer pessoa além da pesquisadora e de sua equipe, bem
como não divulgaremos seu nome verdadeiro em publicações resultantes desse estudo.
Contato:
Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em contato com Laerte Luís
Orpinelli Neto, na Av. Dr. Moraes Sales, 720 ap 73 – Centro – CEP 13010-001 – Campinas,
SP – Brasil; telefone: (19) 9 96365577; e-mail: laertee@gmail.com.
Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas
do estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa
(CEP) da UNICAMP das 08h30min às 13h30min e das 13hrs às 17hrs na Rua Tess alia Vieira
de Camargo, 126; CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-
7187; e-mail: cep@fcm.unicamp.br.
81
Data: _/ /
Local:
_-----------------------------------------
-----------------
Assinatura do participante
82
Responsabilidade do Pesquisador:
Nome da pesquisadora: _ _
Data: / / . Local:
Assinatura da pesquisadora
83
Rubrica do pesquisador: _ _
84
Rubrica do participante
85