You are on page 1of 10

ARTIGOS ORIGINAIS

Motrivivência Ano XXIV, Nº 38, P. 149-158 Jun./2012

http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2012v24n38p149

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS IDOSOS


INTEGRANTES DE GRUPO DE PRÁTICAS CORPORAIS
NA ATENÇÃO PRIMÁRIA: aspectos motivacionais e o
fazer multiprofissional

Braulio Nogueira de Oliveira1


Wellington Gomes Feitosa2
Heraldo Simões Ferreira3

Resumo

O objetivo deste artigo foi analisar as percepções dos idosos, acerca dos aspectos
motivacionais e nível de significância/importância das práticas corporais, bem como
do trabalho multiprofissional desenvolvido pela equipe de saúde. O estudo caracteriza-
se como descritivo e exploratório, com abordagem qualitativa, em que se utilizou o
método da análise de conteúdo. Foram entrevistados 14 idosos. As medidas terapêuticas,
atreladas a alguns resultados positivos e a promoção da saúde de maneira geral foram
os principais motivos elencados. Quanto ao fazer multiprofissional notou-se atuação
interdisciplinar pouco efetiva. Diante disso, uma ressignificação desses espaços se faz
necessária.

Palavras-chave: Exercício; Promoção da Saúde; Saúde do Idoso.

1 Graduado em Educação Física (Universidade Estadual do Ceará), Especialização em andamento em Saúde do


Idoso (Universidade Estadual do Ceará), Especialização em andamento em caráter de Residência Multiprofissional
em Saúde da Família (Universidade Estadual Vale do Acaraú) Contato: brauliono08@homail.com.
2 Graduado em Educação Física (Universidade Federal do Ceará). Especialização em Fisiologia e biomecânica
dos movimentos, Especialização no ensino de educação física e Especialização em Personal Training, Mes-
trado em andamento em Ciências do Desporto com especialização em Avaliação e Prescrição na Atividade
Física (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro). Contato: wellfitness@hotmail.com.
3 Graduado em Educação Física (Universidade de Fortaleza), Especialista em Psicomotricidade (Universidade
Estadual do Ceará), Mestre em Educação em Saúde (Universidade de Fortaleza), Doutor em Saúde Coletiva
(Universidade Estadual do Ceará).Contato: heraldosimoes@bol.com.br.
150

INTRODUÇÃO desses profissionais, deve ser a atuação


interdisciplinar, atrelado a ações educativas
O Brasil passa por uma transição e coletivas, superando as práticas pura-
demográfica e epidemiológica acentuada. mente clínicas. Sabe-se que grande parte
Esse processo se caracteriza por uma redu- dessa atuação se dá por meio de atividades
ção da mortalidade infantil e da natalidade sistemáticas grupais e em geral contempla
com consequente aumento percentual da muitos idosos.
população idosa, além de uma redução Segundo Luz (2007), há uma ten-
da prevalência das doenças infecciosas e dência no cenário brasileiro de conscien-
um concomitante aumento das doenças e tização em relação à relevância social e
agravos não transmissíveis. dos próprios benefícios físicos do exercício
Nesse contexto, destacamos a físico. Essas práticas devem superar o para-
Política Nacional de Promoção da Saúde, digma cartesiano, passando a ter uma maior
que emerge com o objetivo de promover a significação social, visto que trata-se de
qualidade de vida e reduzir vulnerabilida- espaços de convivência e compartilhamento
de e riscos à saúde relacionados aos seus de situações eminentemente passíveis de
determinantes e condicionantes (MALTA ações transdisciplinares.
et al., 2009). Essa política institucionaliza Muitos estudos remetem à necessi-
a promoção da saúde no Sistema Único dade de uma formação diferenciada em se
de Saúde (SUS) e elenca a atividade física/ tratando da Saúde do Idoso (DIOGO, 2004;
práticas corporais enquanto uma de suas MOTTA; CALDAS; ASSIS, 2008; GUIMA-
prioridades (MALTA et al., 2009). RÃES, 1987). De fato, há muito tempo
A partir do entendimento de pro- existe uma preocupação em relação às
moção da saúde pautado na integralidade políticas para proteção e saúde do idoso,
da atenção, outras categorias profissionais incluindo medidas gerais de promoção da
foram inseridas no âmbito da Atenção Pri- saúde, prevenção de agravos à Saúde,
mária à Saúde, no sentido de contemplar assistência à saúde diferenciada para esse
essas demandas. Nessa feita, os Núcleos de público (GUIMARÃES, 1987).
Apoio à Saúde da Família (NASF) surgiram Diante da complexidade da atuação
com uma proposta de ampliar a abrangên- no NASF e de toda a conjuntura de assistên-
cia e o escopo das ações e devem atuar cia ao geronte, o presente estudo pretende
integrada a rede de serviços em saúde com analisar as percepções dos próprios idosos,
acompanhamentos longitudinais, com in- acerca dos aspectos motivacionais e nível
tuito de contribuir no apoio as Equipes de de significância/ importância desses espaços
Saúde da Família em territórios definidos para a promoção da sua saúde, além do
(BRASIL, 2008). trabalho multiprofissional desenvolvido
Assim como a Política Nacional pela equipe de saúde.
de Promoção da Saúde, uma das ações
prioritárias do NASF é justamente as ativi- METODOLOGIA
dades físicas/ práticas corporais, devendo
desenvolver essas atividades em beneficio O presente estudo caracteriza-se
da comunidade. Um diferencial do fazer como descritivo e exploratório, com
Ano XXIV, n° 38, junho/2012 151

abordagem qualitativa que pressupõe que se resume em realizar a codificação, ou


contato mais aprofundado com os diversos seja, aqui é o momento de se aplicar o que
saberes e percepções dos sujeitos envol- ficou definido na fase anteriormente men-
vidos, além de possibilitar maior aproxi- cionada, podendo ser necessário realizar
mação com o cotidiano e as experiências inúmeras leituras de um mesmo material.
vividas pelos próprios (MINAYO, 1993). Na terceira fase efetuamos o tratamento dos
Segundo Gil (1994), o modelo descritivo dados obtidos e sua interpretação, visando
tem por objetivo principal a descrição das desvendar o conteúdo que está nas entre-
características de determinada população linhas do que está sendo manifestado, sem
ou fenômeno, ou estabelecimento entre excluir as informações estatísticas, sendo
determinadas variáveis. importante se voltar para ideologias e ten-
Foram realizadas entrevistas com dências que descrevem bem os fenômenos
14 idosos, pertencentes a dois grupos em analisados.
que os profissionais do NASF são cuida- Foi sucintamente explicado aos
dores em Fortaleza/CE, 12 idosos eram do participantes os objetivos e garantia dos
gênero feminino e apenas dois do gênero princípios éticos por parte do entrevistador
masculino. A média de idade da amostra que são vigorados pela Resolução 196/96
foi de 71 anos. Todos deveriam ter idade do Conselho Nacional de Saúde que norteia
superior a 60 anos e participação nas ativi- as pesquisas que envolvem seres huma-
dades do NASF há, no mínimo, três meses. nos. Nesse sentido, O projeto foi analisado
A coleta de dados ocorreu entre e aprovado pelo Sistema Municipal de
os meses de outubro de 2011 a janeiro de Saúde Escola de Fortaleza/CE, bem como
2012. A entrevista foi gravada com o auxílio pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Uni-
de um aparelho digital (Mp4 Foston - Fs 66) versidade Estadual do Ceará (processo n.
e posteriormente transcrita para a realização 11222606-0).
da análise.
Para atingir os resultados almejados, ASPECTOS MOTIVACIONAIS E A CONS-
foi utilizado o método denominado “Análise TRUÇÃO DE VÍNCULOS COM O GRUPO
de Conteúdo”. Esse método propõe
encontrar respostas para os questiona- Os idosos foram questionados a
mentos formulados, além disso, diz respeito respeito do principal motivo da sua partici-
à descoberta dos elementos inerentes ao pação nas atividades do grupo, tendo sido
conteúdo manifesto (BARDIN, 1977). relatados pelos mesmos, principalmente,
Segundo Bardin (1977) a análise por medidas profiláticas específicas, atre-
de conteúdos do tipo análise temática ladas a alguns resultados positivos e pela
desdobra-se em três fases: a primeira corres- promoção da saúde de maneira geral, que
ponde à fase de pré-análise que se consiste inclui a criação de vínculos e a participação
na escolha e organização do material a ser social. Sabemos que, seja qual for(em) o
analisado, constituindo-se pelas tarefas: fator(es) motivacional(ais) para esses idosos,
leitura flutuante, constituição do Corpus a simples convivência social propiciada
e formulação de Hipóteses e objetivos; a pelo grupo, torna-se relevante para que se
segunda é a fase da exploração do material obtenha bons níveis de saúde, pautada no
152

princípio da integralidade relacionada às pessoas, relacionando-se a melhoria de uma


práticas de saúde. Como pode ser notado maneira geral e bem-estar em suas diversas
nas falas a seguir, há idosos que participam dimensões. Desse modo, a prevenção é uma
principalmente por motivos terapêuticos: ferramenta da promoção da saúde, assim
como a própria Estratégia Saúde da Família.
Por que eu tenho dor nas pernas, pressão A partir das falas dos idosos, percebemos
alta. Faço caminhada. (Entrevistado 12) também motivos voltados para a promoção
Por causa do meu problema da coluna
que eu não tô podendo andar. Começa da saúde em seu sentido mais abrangente,
a doer daqui do cóccix. (...). (Entrevis- ou seja, não voltadas apenas para práticas
tado 9) curativas ou preventivas:

Vale ressaltar que a maior parte dos Assim, eu acho que agente se envolver, se
idosos participa por motivos voltados para engajar, estar junto. É importante agente
saber que tem alguma coisa a ver com
a prevenção e tratamento de determinadas o outro. compartilhar, saber o que estar
patologias e agravos, embora, o papel da acontecendo com o outro, o outro saber
Estratégia Saúde da Família, contemple o que está acontecendo com a gente,
vários outros aspectos e a própria patologia assim, as coisas do dia-a-dia a rotina do
dia-a-dia, vamos dizer assim. Que eles
possui determinantes sociais pertinentes. saibam o que eu sou e o que eu sinto e
Nesse sentido, alguns idosos se avaliam em que eu saiba, né!? coisas desse tipo. Os
significante melhora após a participação no exercícios são muito importante. Essas
grupo, muito embora não abordássemos coisas que eles nos ensina, que é muito
bom até pra o físico da gente, os exer-
essa questão: cícios, assim, desenvolver alguma coisa
que agente não tem tempo de caminhar
É muito importante. Eu era uma pessoa né? Fazer caminhada, e daí isso é muito
inutilizada. Eu não me acocava pra bom pra gente. (Entrevistado 2)
pegar nem uma colher que caísse no
chão. Hoje eu me deito no chão, me
Em estudo realizado em Natal-RN,
sento no chão, me levanto sem ajuda
de ninguém. (Entrevistado 10) foi analisada a percepção dos idosos acerca
Ahh, por causa dos meus ossos que das representações sociais da atividade físi-
estavam tudo assim né, com dores nas ca nesse caso, foram relatadas a dimensão
juntas, aí eu vim fazer. Melhorei muito
psicológica, social e biofísica. Além
depois que eu comecei. E eu gosto! Eu
gosto de fazer atividade, alongamento. disso, notou-se grande ênfase no termo
(Entrevistado 13) felicidade (SANTANA; MAIA, 2009).
Desse modo, percebe-se uma abordagem
Segundo Czeresnia (1999), a pre- biopsicossocial no que se refere à saúde
venção trata de ações voltadas para evitar do idoso. Fato como esse evidencia a
o surgimento de doenças específicas, com atividade física como um instrumento di-
diminuição de sua incidência e preva- ferencial para promoção da saúde, e não
lência nos usuários. A autora conceitua somente para a prevenção e/ou tratamento
a promoção da saúde como sendo mais de doenças e agravos.
amplo, tendo em vista que esta se refere a A ideia de promoção da saúde, no
mudanças na própria condição de vida das sentido ressaltado pela Czeresnia (1999),
Ano XXIV, n° 38, junho/2012 153

relaciona-se diretamente com um dos sen- faixas etárias é preocupante. Percebe-se


tidos da integralidade proposto por Mattos que os idosos consideram esses espaços
(2004) e Machado, et. al. (2007). Segundo importante pelo simples convívio e rela-
esses autores, é preciso que o cuidado ções sociais promovidas de maneira direta
com o usuário seja pautado em práticas ou indireta pelo grupo, suprindo uma
intersubjetivas, tendo como ferramenta carência intrínseca, além de desvincular,
projetos terapêuticos singulares. Para isso, as práticas corporais ao exercício físico
é preciso que se tenha uma postura, por puramente utilitarista da redução de fatores
parte dos profissionais do NASF e da equi- de risco por exemplo. Ramos (2002) mostra
pe de Saúde da Família que permeiem a haver um maior bem-estar nos idosos ao
transdisciplinaridade, não restringindo sua conviverem com conjugue ou terceiros,
atuação ao caráter multidisciplinar, sendo em relação aos que convivem com filhos
essa prática em demasia considerada falha ou parentes. Não obstante, ainda ao
por alguns autores (DIOGO, 2004; MOTTA; questionarmos a importância dos espaços
CALDAS; ASSIS, 2008; CAMPOS; BELISÁ- destinados as práticas corporais, nota-se
RIO, 2001; SILVA; ROS, 2007; ANJOS; também no relato dos idosos a questão da
DUARTE, 2009). Desse modo, é preciso espiritualidade muito forte:
“desconstruir” uma maneira de atuação
Importante demais! Demais! Ave Ma-
pautada na formação acadêmica tradicional
ria, a Educadora Física é muito boa, o
e individual para “construir” novas formas que ela faz com agente é muito bom.
de intervir em equipe. Quinta-feira eu fiz tanto exercício que
Os resultados foram unânimes no de noite eu estava tão aliviada. (Entre-
vistado 2)
que se refere à importância, atribuída pelos
É ótimo! É ótimo! Ave Maria, eu conhe-
idosos, aos grupos de práticas corporais. Tal- ço a Educadora Física faz mais de um
vez, e meramente supondo, tal atribuição ano que eu a encontro lá no (...) e ela
seja justificada pelos benefícios propiciados já ia pra lá fazer essas atividades edu-
cativas, mas lá só é uma vez por mês,
pelas vivências no grupo. Segue os relatos
e aqui é mais, graças a Deus. (Entrevis-
decorrentes: tado 3)

É muito importante! Não é importante Segundo Negreiros (2003), nada


não, é muito importante viu! Isso aí não
pode ser afirmado a respeito do fato de os
tá fazendo mal não, tá é ajudando!”
(Idoso 8) idosos estarem com a espiritualidade mais
Acho! Muito importante! Olha, esses presente que em outras fases da vida, no
profissionais da saúde estão de para- entanto, a autora acredita ser decorrente
béns por que estão se preocupando
de um desejo maior por uma vida eterna,
mais com a terceira idade tá entenden-
do? Pela saúde do povo sabia? Isso é ou até mesmo por atingirem um nível de
muito importante. Isso deveria ser um maturidade que permite delimitar melhor
dia e outro não né? E não só uma vez o sentido da própria vida, e desse modo,
por semana. (Idoso 1)
aceitar a morte. Supõe ainda, que um
postulado possa estar atrelado ao outro,
A falta de espaços de interação e
engendrando uma motivação bem maior
convívio entre as pessoas idosas e as demais
que caso fossem isolados.
154

Diante do exposto evidencia-se uma de cunho interdisciplinar, consolidando, de


realidade multifacetada das percepções fato, a atuação multiprofissional da equipe.
dos idosos acerca dos grupos de práticas Silvestre e Costa Neto (2003) pro-
corporais, visto que trata-se de um espaço põem atribuições comuns para os in-
sucumbido de relações intersubjetivas e tegrantes da equipe de Saúde da Família
construção de vínculos, superando o para- em relação à saúde do idoso, que embora
digma cartesiano do exercício físico. não sejam específicas da equipe multipro-
fissional do NASF, podem de certa forma,
O FAZER MULTIPROFISSIONAL NOS nortear sua atuação. Entre elas podemos
GRUPOS DE PRÁTICAS CORPORAIS destacar o conhecimento da realidade das
famílias, a identificação dos problemas de
No sentido de refletir as práticas do saúde e situações de risco mais comuns,
NASF nos grupos de idosos, foram analisa- valorização das relações com a pessoa
das as percepções acerca do trato multipro- idosa e sua família, a realização de visitas
fissional nas intervenções do grupo. Desse domiciliares de acordo com o planejado,
modo, ao questionar acerca da inserção de prestação de assistência integral, garantia
outras categorias profissionais além do pro- do acesso ao tratamento dentro de um
fissional de Educação Física nesses espaços, sistema de referência e contra-referência,
encontraram-se os seguintes relatos: coordenação e participação e/ou organi-
zação de grupos de educação para a saúde
Não ela trabalha com outra, mas eu além de promoção de ações intersetoriais.
não estou lembrada o nome da outra,
Para além das ações postuladas por
uma baixinha. Ei, como é o nome da-
quela outra Doutora? Não estou lem- Silvestre e Costa Neto (2003), novas formas
brada. (Entrevistado 3) de intervenção estão surgindo, no sentido
Ela faz os exercícios sozinha, mas tem de possibilitar e viabilizar maios resoluti-
essas outras que ajudam né? (Entrevis-
vidade no serviço, bem como propiciar
tado 10)
Não, só ela mesmo. Vem duas moci- novas perspectiva consolidar a promoção
nhas com a gente mais só quem ensina da saúde. Miranda e Farias (2009), por
a gente é ela. Eu acho que são amigas exemplo, relatam o uso da internet como
dela. (Entrevistado 5)
um meio de contribuir positivamente para
o bem-estar do idoso, tanto no que se refere
Não obstante, note-se uma partici-
ao seu caráter informativo, quanto em seu
pação pouco efetiva por parte dos demais
caráter lúdico, relacionando-se diretamente
profissionais do NASF nos grupos de práti-
com a prevenção da depressão, manu-
cas corporais. Possivelmente também não
tenção dos níveis cognitivos, e redução do
ocorra de maneira significativa a atuação do
isolamento social, principalmente para os
profissional de Educação Física nos grupos
limitados fisicamente.
não voltados para Atividade Física/ Práticas
Todavia, como podemos perceber
Corporais. Desse modo, tornam-se necessá-
nas falas abaixo, o apoio prestado pelos
rias ações de educação permanente voltadas
Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
para a capacitação dos trabalhadores em
ocorre de maneira substancial. Sabemos
saúde, acerca da promoção de intervenções
que um papel importante no processo de
Ano XXIV, n° 38, junho/2012 155

consolidação da Estratégia Saúde da Família atenção dos familiares; além de: problemas
vem sendo de responsabilidade desses pro- financeiros e espera por consultas e exames.
fissionais. Estes são os principais responsá- Os agentes são acompanhados e
veis pelo elo existente entre a comunidade orientados por um enfermeiro, o qual atua
e as unidades de saúde, além de serem os como instrutor-supervisor. No entanto, é pos-
representantes da equipe mínima de Saúde sível, com a inserção de novos profissionais
da Família. Desse modo, o contato direto de saúde enquanto apoiadores matriciais,
com a comunidade é papel principalmente promovendo um trato interdisciplinar de
desses profissionais, sendo em potencial, saberes, criando novas perspectivas ao em-
um diferencial em se tratando de propiciar poderamento das ações em saúde pautada na
subsídios para consolidação do trabalho educação permanente que viabiliza uma troca
em saúde. de saberes a partir dos processos de trabalho.

Ela atua junto com os agentes de saúde, CONSIDERAÇÕES FINAIS


pra qualquer coisa que precisar. (Entre-
vistado 1)
A inserção de outras categorias
Ela trabalha junto com as outras moças
aqui do posto, com as agentes de saúde profissionais no apoio à Saúde da Família,
né? (Entrevistado 6) a inserção das atividades físicas/ práticas
corporais enquanto uma das prioridades
Em estudo acerca da saúde do idoso além da institucionalização da promoção
percebida pelos ACS, grande parte deles, da saúde no SUS são medidas estratégicas
atribuíram ao conceito de saúde do idoso relevantes e devem evoluir pari passu a
uma visão de integralidade da atenção, transição demográfica e epidemiológica se
todavia, percebeu-se, por parte de alguns consolida no cenário nacional.
desses profissionais, uma visão negativa a Decerto, essas práticas não contem-
respeito da representação social do idoso, plam apenas aspectos inerentes a melhorias
direcionados à presença de enfermidades, na aptidão físico/funcional dos idosos, mas
dependência física e emocional (BEZERRA; influenciam diretamente na promoção da
ESPIRITO SANTO; BATISTA FILHO, 2005). saúde dessas pessoas. Portanto, podemos
Nesse sentido, ao serem consideradas as considerar que influenciam na adesão e
opiniões dos idosos nas visitas domicilia- manutenção dessas atividades os aspectos
res, os problemas de doenças são conside- socioculturais, políticos e educativos ineren-
rados prioritários, sendo relatados ainda a tes à própria cultura corporal desenvolvida
falta de atenção, solidão e isolamento do com o passar dos anos no geronte.
contexto familiar. Os motivos terapêuticos foram pre-
Faz-se sempre presente nas percep- valentes no presente estudo, e geralmente
ções dos ACS a respeito da saúde do idoso, estavam atrelados a resultados positivos,
fatores relacionados com a saúde mental. como a redução de dores e a própria recu-
Rodrigues e Araujo (2010), por exemplo, peração de algumas capacidades funcionais
identificaram em Vale do Paraíba-SP, relatos relacionadas às atividades de vida diária.
dos ACS em que todos se referem a queixas Além disso, encontraram-se resultados dire-
dos idosos permeiam a solidão, falta de cionados a promoção da saúde em seu sentido
156

ampliado, compreendendo a importância de profissional. Physis Revista de Saúde


um espaço destinado ao compartilhamento de Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 4, p.
sentimentos e consequente construção de vín- 1127-1144, out./dez. 2009.
culos. A conscientização da importância dos BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa,
exercícios físicos foi ressaltada, possivelmente Portugal: Edições 70, 1977.
fruto do positivo trabalho multiprofissional BEZERRA, A. F. B.; ESPIRITO SANTO, A. C.
desenvolvido. Embora não tenha sido foco G.; BATISTA FILHO, M. Concepções
do estudo, a espiritualidade se mostrou muito e práticas do agente comunitário na
presente nos idosos.
atenção à saúde do idoso. Rev. Saúde
Entende-se que o trabalho multipro-
Pública. São Paulo, v. 39, n. 5, p. 809-
fissional pode contribuir imensuravelmente
15, out. 2005.
nas práticas grupais, todavia, a categoria
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº.
Educação Física, além dos ACS foram
154 de 24 de janeiro de 2008. Cria os
praticamente às únicas notadas nos relatos
dos idosos, seja pelas intervenções não Núcleos de Apoio a Saúde da Família.
ocorrerem de maneira multidisciplinar; por Brasília: Ministério da Saúde; 2008.
ocorrerem com pouca frequência ou signifi- CAMPOS, F. E.; BELISÁRIO, S. A. O
cância ou por inexistirem. Nesse sentido, é Programa de Saúde da Família e os
preciso que se tenha a clareza de identificar desafios para a formação profissional
as demandas pertinentes a cada núcleo de e a educação continuada. Interface
saber do NASF para que seja direcionada a – Comunicação, Saúde, Educação,
intervenção específica interdisciplinar, além Botucatu, v. 5, n. 9, p. 133-142, ago.
de estreitar laços com a equipe mínima de 2001.
Saúde da Família (além dos ACS). CZERESNIA, D. The concept of health and
Diante do exposto entendemos the difference between prevention and
que as atividades físicas/ práticas corporais promotion. Cadernos de Saúde Pública,
devem ser resignificadas, no sentido de Rio de Janeiro, v 15, n. 4, p. 701-709,
contemplar as necessidades subjetivas e não out./dez. 1999.
espontâneas desses idosos, apreendendo os DIOGO M. J. D’E. Formação de recursos
elementos da cultura corporal construídos
humanos na área da saúde do idoso.
durante sua vida e direcionar as práticas a
Rev Latino-am Enfermagem, v. 12, n.
promoção da saúde, potencializando esses
2, p. 280-282, mar./abr. 2004.
espaços, ou seja, a ampliação do utilitarismo
GIL, A. Métodos e técnicas de pesquisa
do binômio exercício físico/ saúde dire-
social. São Paulo: Atlas, 1994.
cionado a aspectos puramente fisiológicos
tende a ser ultrapassada. LUZ, M. T. Educação Física e saúde
coletiva: papel estratégico da área e
REFERÊNCIAS possibilidades quanto ao ensino na
graduação e integração na rede de
ANJOS, T. C.; DUARTE, A. C. G. O. serviços públicos de saúde. In: FRAGA,
A Educação Física e a Estratégia de A.B. e WACHS, F. Educação Física e
Saúde da Família: formação e atuação Saúde Coletiva. Políticas de Formação
Ano XXIV, n° 38, junho/2012 157

e Perspectivas de Intervenção. Porto Subjetividade. Fortaleza, v. 3, n. 2, p.


Alegre: Editora da UFRS, 2007. 275-291, set. 2003
MACHADO, M. F. A. S., et. al. Integralidade, RAMOS, M. P. Apoio social e saúde entre
formação de saúde, educação em saúde Idosos. Sociologias, Porto Alegre, v. 7,
e as propostas do SUS - uma revisão n. 4, p. 156-175, jun. 2002.
conceitual. Ciência & Saúde Coletiva, RODRIGUES, J. C.; ARAUJO, C. L. O.
Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 335-342, Análise do Conhecimento e prática
abr. 2007. dos Agentes Comunitários de Saúde
na Saúde do Idoso. Estud. interdiscipl.
MALTA, D. C. et al.A Política Nacional
envelhec., Porto Alegre, v. 15, n. 1, p.
de Promoção da Saúde e a agenda da
117-127, jan./jun.2010.
atividade física no contexto do SUS.
SANTANA, M. S.; MAIA, E. M. C. Atividade
Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 18
Física e Bem-Estar na Velhice. Rev. salud
n. 1, p. 79-86, jan./mar. 2009.
pública, Bogotá, v. 11, n. 2, p. 225-236,
MATTOS, R. A. A integralidade na prática mar./abr. 2009.
(ou sobre a prática da integralidade). SILVA, D. J.; ROS, M. A. Inserção de
Cadernos de Saúde Pública, Rio de profissionais de fisioterapia na equipe
Janeiro, v. 20, n. 5, p. 1411-1416, set./ de saúde da família e Sistema Único de
out. 2004. Saúde: desafios na formação. Ciência &
MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n.
pesquisa qualitativa em saúde. Rio de 6, p. 1673-1681, nov./dez. 2007.
Janeiro: Hucitec; Abrasco, 1993. SILVESTRE, J. A.; COSTA NETO, M. M.
MIRANDA, L. M. de; FARIAS, S. F. As Abordagem do idoso em programas de
contribuições da internet para o idoso: saúde da família. Cadernos de Saúde
uma revisão de literatura. Interface Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p.
– Comunicação, Saúde, Educação, 839-847, jun. 2003.
Botucatu, v.13, n.29, p.383-94, abr./
jun. 2009.
MINAYO, M.C.S. Pesquisa Social: teoria,
método e criatividade. Rio de janeiro:
Vozes. p, 09 – 30, 1994.
MOTTA, L. B.; CALDAS, C. P.; ASSIS, M. A
formação de profissionais para a atenção
integral à saúde do idoso: a experiência
interdisciplinar do NAI - UNATI/UERJ.
Ciência & Saúde Coletiva, Rio de
Janeiro, v. 13, n. 4, p. 1143-1151, ago.
2008.
NEGREIROS, T. C. G. M. Espiritualidade:
desejo de eternidade ou sinal de
maturidade? Revista Mal-Estar e
158

ANALYSIS OF SENSE OF OLDER MEMBERS OF PRACTICE GROUP OF BODY IN PRI-


MARY: Motivational aspects and make multiprofessional

Abstract

The objective of this study was to analyze the perceptions of the elderly, about the
motivational aspects and significance / importance of bodily practices, as well as
the work developed by multidisciplinary health team. The study is characterized as
descriptive and exploratory qualitative approach, which used the method of content
analysis. We interviewed 14 elderly. Therapeutic measures, linked to some positive
outcomes and health promotion in general were the main reasons listed. As noted in
making multi-interdisciplinary approach is ineffective. Thus, a reinterpretation of these
spaces is needed.

Keywords: Exercise; Health Promotion; Health of the Elderly.

Recebido em: março/2012


Aprovado em: julho/2012

You might also like