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Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal

(Hidemberg Alves da Frota) 1

Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de


CPI municipal1

Hidemberg Alves da Frota

http://tematicasjuridicas.wordpress.com

A Lei Orgânica Municipal deve respeitar os princípios delineados pelas


Constituições Federal e Estadual (art. 29, caput, da CF/88). Trata-se de
expressão do chamado princípio da simetria com o centro e do paralelismo das
formas2. A Constituição Federal transmite normas gerais à Constituição
Estadual, que, por sua vez, repassa-as à Lei Orgânica Municipal, a qual também
absorve as normas gerais que foram, antes, transplantadas ao poder constituinte
decorrente estadual, de modo que a função normativa (legislativa) municipal
seja não apenas autônoma como também harmônica com as ordens
constitucionais federal e estadual (respectiva).
Em face do mencionado princípio da simetria e do paralelismo das
formas (implícito nos arts. 25, caput, 29, caput, e 32, caput, todos da CF/88), o
art. 58, § 3º, da CF/883, conquanto constitua a norma da Constituição da
República sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito federais, igualmente
se aplica, no que couber, às CPI estaduais (art. 25, caput, da CF/88), distritais
(art. 32, caput, da CF/88) e municipais (art. 29, caput, da CF/88).
1
Versão original do presente artigo jurídico: FROTA, Hidemberg Alves da. Breves considerações sobre o direito
da minoria parlamentar à criação de CPI municipal. Repertório de Jurisprudência IOB: tributário, constitucional
e administrativo, São Paulo, v. 1, nº 14, p. 601-598 (paginação decrescente), 2ª quinz. jul. 2007; Revista IOB de
Direito Administrativo, São Paulo, v. 2, nº 23, p. 108-115, nov. 2007. Revisado em 02 de outubro de 2010.
2
COSTA, Alexandre Lúcio da. Limites às comissões de inquérito municipais e o controle jurisdicional. Fórum
Administrativo, Belo Horizonte, v. 3, nº 23, jan. 2003, p. 1.761.
3
Art. 58, § 3º, da CF/88, in verbis: ―Art. 58. [...] § 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão
poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das
respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou
separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por
prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores.‖
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
(Hidemberg Alves da Frota) 2

Destarte, à luz do art. 58, § 3º c/c art. 29, caput, todos da CF/88, as
Comissões Parlamentares de Inquérito municipais possuem as seguintes
características:
(a) Poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de
outros previstos no Regimento Interno da Câmara Municipal.
(b) Serão criadas pela Câmara Municipal mediante requerimento de 1/3
(um terço) dos vereadores.
(c) Destinar-se-ão à apuração de fato determinado e por prazo certo.
(d) Suas conclusões, se for o caso, serão encaminhadas ao Ministério
Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
Por isso, impende ao inscrito no art. 58, § 3º, da CF/88 servir de baliza ao
Poder Judiciário no controle de legalidade das CPIs municipais. Nesse sentido,
atente-se para a ementa, abaixo colacionada, da Apelação em Mandado de
Segurança nº 5.461 (88.038187-6), proferida em 18 de novembro de 1998 pela
Câmara Cível Especial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
(Relator, Desembargador Solon d‘Eça Neves).

Apelação Cível - Mandado de Segurança - Requerimento de um terço


de Vereadores para instauração de Comissão Parlamentar de
Inquérito - Quorum legal observado - Descrição satisfatória dos fatos
a serem investigados - Indeferimento ilegal do Presidente da Câmara,
que inclusive subscreveu o requerimento - Instauração prevista na
Carta Magna Federal, art. 58, § 3º, e da Constituição Estadual, art.
47, § 3º - Aplicação do princípio da transparência e da isenção da
Administração Pública4 (grifo nosso)

4
SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (Câmara Cível Especial). Ementa do
acórdão em sede da Apelação Cível em Mandado de Segurança nº 5.461 (Processo nº 88.038187-6 — Comarca
de Blumenau). Numeração também citada para este autos: Apelação Cível em Mandado de Segurança nº
1988.081950-3.Relator: Desembargador Solon d‘Eça Neves. Florianópolis, 18 de novembro de 1998 (votação
por maioria). Disponível em
<http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=88.038187-
6&parametros.todas=&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&paramet
ros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevan
cia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=&parametros.nao=&
parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAKAABZwoAAI>. Acesso em 2 out. 2010.
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(Hidemberg Alves da Frota) 3

Sendo o conteúdo do art. 58, § 3º, da CF/88 de observância obrigatória


pelas Comissões Parlamentares de Inquérito estaduais, municipais e distritais,
igualmente o é o disposto na Lei nº 1.579, de 18 de março de 1952, no que for
compatível com a ordem constitucional brasileira vigente5, porquanto, na Lei nº
1.579/52, encontram-se normas gerais a orientarem e uniformizarem o
funcionamento das CPIs brasileiras. Ademais, nela radicam dispositivos legais
defluentes do Direito Penal (art. 4º) e do Direito Processual Penal (art. 3º) 6,
ramos jurídicos de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da
CF/88). A Lei nº 1.579/52 configura, portanto, Diploma Legislativo nacional e
não apenas federal, concernente ―a interesses da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios‖7.
Como as normas processuais do art. 3º da Lei nº 1.579/52 decorrem da
legislação processual penal e esta desempenha o papel de fonte legal subsidiária,
no que for aplicável ao processo e à instrução do inquérito parlamentar, nos
termos do art. 6º do mesmo Diploma Legislativo, os poderes de autoridade
judicial das CPIs consistem nos poderes instrutórios cometidos aos juízos
criminais8 pelos incisos I e II do art. 156 do Código de Processo Penal9.
Ante o exposto, infere-se, em arremate, que as Comissões Parlamentares
de Inquérito municipais exercem poderes de investigação típicos dos poderes
instrutórios da Justiça Criminal, além de outros previstos no Regimento Interno
da Câmara Municipal, são instauradas por requerimento de um terço de

5
BULOS, Uadi Lammêgo. Comissão parlamentar de inquérito: técnica e prática. São Paulo: Saraiva, 2001, p.
193.
6
Embora preceitue o art. 3º, caput, da Lei nº 1.579/1952, que indiciados e testemunhas serão intimados de
acordo com as prescrições estabelecidas na legislação penal, à luz da interpretação sistemática e teleológica, o
teor do mencionado artigo alude à legislação processual penal. Cf. ALVES, José Wanderley Bezerra. Comissões
parlamentares de inquérito: poderes e limites de atuação. Porto Alegre: Fabris, 2004, p. 241.
7
BULOS, Uadi Lammêgo. Comissão parlamentar de inquérito: técnica e prática. São Paulo: Saraiva, 2001, p.
194.
8
MORAES, Alexandre de. Limitações constitucionais às Comissões Parlamentares de Inquérito. Revista de
Direito Constitucional e Internacional, São Paulo, v. 11, no 44, jul.-set. 2003, p. 154.
9
Art. 156 do CPC (reformado pelo art. 1º da Lei nº 11.690, de 9 de junho de 2008), in litteris: ―Art. 156. A
prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes
de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de
proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.‖
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vereadores, apuram fato determinado, por prazo certo, e devem suas conclusões,
se for o caso, ser enviadas ao Ministério Público, para que promova a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
O requerimento para a criação de CPI municipal, a consignar o fato
determinado a ser apurado e o prazo certo de duração, deve contar com a
assinatura mínima de um terço dos vereadores — todos os três pressupostos
mencionados são requisitos explícitos do art. 58, § 3º, da CF/88 (aplicáveis à
esfera municipal por força do indicado princípio da simetria e do paralelismo
das formas, implícito no art. 29, caput, da CF/88).
Por meio do voto-condutor da Desembargadora-Relatora Maria Elza, a
Quinta Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na Apelação
Cível nº 000.302.793-5/00 (Comarca de São Lourenço), de 22 de maio de 2003,
considerou inconstitucional o dispositivo do Regimento Interno de Câmara
Municipal que condiciona a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito à
prévia chancela do Plenário da Casa Legislativa:

EMENTA: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO (CPI).


O art. 58, § 3º, da Constituição exige para a criação de comissão de
inquérito o requerimento de um terço dos membros da casa legislativa,
e não a maioria, regra que tem por objetivo proporcionar às minorias
parlamentares oportunidade de exercício de uma de suas mais
relevantes funções na democracia: a fiscalização. Por isso, os §§ 3º e
4º do art. 68 do Regimento Interno da Câmara Municipal de São
Lourenço, ao exigir que uma comissão permanente e, sucessivamente,
o Plenário apreciem o mérito e as provas para a criação da comissão
de inquérito, concedendo-lhes o poder de arquivar o requerimento,
impedem que a CPI cumpra sua função constitucional e incorrem em
inconstitucionalidade. A discussão sobre a constitucionalidade de
dispositivo de regimento interno de Câmara Municipal não pode ser
considerada ―interna corporis‖.10

10
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (Quinta Câmara Cível). Ementa do acórdão
em sede da Apelação Cível nº 1.0000.00.302793-5/000 (Comarca de São Lourenço). Numeração única:
3027935-30.2000.8.13.0000. Relatora: Desembargadora Maria Elza. Belo Horizonte, 22 de maio de 2003.
Diário do Judiciário, Belo Horizonte, 13 jun. 2003. Disponível em:
<http://www.tjmg.jus.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=0&ano=0&txt_processo=302
793&complemento=0&sequencial=0&palavrasConsulta=C%E2mara%20Municipal%20de%20S%E3o%20Lour
en%E7o&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical= >. Acesso em: 02 out. 2010.
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
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Protocolizado o requerimento assinado por um terço dos membros da


Câmara Municipal, a declinar fato determinado e prazo certo, incumbe aos
líderes dos partidos ou blocos partidários da Casa Legislativa indicarem os
membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, observando a
proporcionalidade partidária. Se os líderes partidários se omitirem, cabe ao
Presidente da Câmara Municipal indicar os parlamentares que terão assento na
CPI vindoura, respeitando, sempre, a proporcionalidade partidária (prevista no
referenciado art. 58, § 1º, 1ª parte, da CF/88).
O direito público subjetivo ao inquérito parlamentar é, sobretudo, uma
faculdade da minoria parlamentar. A maioria parlamentar tende a evitar
(inclusive a obstruir) a instauração de CPI. Embora a CPI seja criada por
requerimento da minoria parlamentar, sua composição, em observância à
proporcionalidade partidária, morna a influência da minoria parlamentar na
condução da CPI.
No contexto do parlamentarismo em geral e do presidencialismo latino-
americano em particular, o direito público subjetivo da minoria parlamentar à
instauração do inquérito parlamentar decorre do dever da minoria parlamentar
de fazer oposição à maioria parlamentar e ao Governo que a maioria parlamentar
proporciona sustentação no Poder Legislativo — no Brasil, por exemplo, a
maioria parlamentar raramente faz oposição ao Governo.
Principalmente no contexto brasileiro, em que a maioria parlamentar
propende a apoiar a Chefia do Poder Executivo, a minoria parlamentar tem o
dever de realizar oposição — caso contrário, sua inércia inviabiliza o regime
democrático (mormente, o sistema de pesos e contrapesos) e, por consequência,
sua omissão põe em risco a sociedade democrática. Isso não justifica oposição
desarrazoada, sem freios éticos.
Um das expressões do imprescindível dever de oposição da minoria
parlamentar radica no poder de investigação parlamentar, por meio da criação
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
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das Comissões Parlamentares de Inquérito — sem o direito ao inquérito


parlamentar a minoria parlamentar e seu dever de oposição ficam manietados.
A maioria parlamentar e seus representantes (Chefia do Poder Legislativo
e líderes dos partidos e blocos partidários majoritários) possuem o dever de
respeitar o direito subjetivo da minoria parlamentar de criar CPI — portanto,
afigura-se ilícito a Presidência da Casa Legislativa arquivar requerimento
constitucionalmente adequado de criação de CPI ou, ainda, a Presidência da
Casa Legislativa se omitir da indicação dos membros da Comissão Parlamentar
de Inquérito, ante a inércia dos líderes dos partidos e blocos partidários
majoritários, quando se recusam a designar seus representantes na CPI.
Em outras palavras, para o advento da CPI, não basta a minoria
parlamentar protocolizar requerimento de criação apropriado ao disposto no art.
58, § 3º, da CF/88. A criação da CPI apenas se consuma após efetivado o ato de
indicação de seus membros, considerando a proporcionalidade partidária, (art.
58, § 1º, 1ª parte, da CF/88). Enquanto ausente ato de indicação dos membros da
CPI (pelos líderes dos partidos e blocos partidários ou, na ausência total ou
parcial deles, pela Presidência da Casa Legislativa), ausente está a CPI do
mundo jurídico.
No âmbito da jurisprudência do Pleno do Supremo Tribunal Federal, cabe
referir ao paradigmático julgamento do Mandado de Segurança nº 24.831/DF
(Relator, Ministro Celso de Mello), de 22 de junho de 2005.
Na ocasião, por maioria (vencido o Ministro Eros Grau), a Suprema Corte
brasileira, capitaneada pelo voto-condutor do Ministro Celso de Mello, entendeu
que impende ao Presidente do Senado da República suprir a omissão dos líderes
partidários da maioria parlamentar que optaram, naquela Casa Legislativa, por
não indicar representantes de seus partidos, na composição da Comissão
Parlamentar de Inquérito denominada pela imprensa ―CPI do Bingo‖. O STF,
por ―aplicação analógica do art. 28, § 1º do Regimento Interno da Câmara dos
Deputados, c/c o art. 85, ‗caput‘, do Regimento Interno do Senado Federal‖,
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ordenou que o Presidente do Senado procedesse, ―ele próprio, à designação dos


nomes faltantes dos Senadores‖ 11 (grifo original), para finalizar a composição
do órgão parlamentar em tela, atentando para a proporcionalidade partidária. No
tocante à questão da obstrução da maioria parlamentar (por meio de conduta
omissiva) ao exercício do direito ao inquérito parlamentar pela minoria
parlamentar, a ementa do julgado em tela (baseada no voto-condutor do Ministro
Celso de Mello) enfatiza:

- A maioria legislativa, mediante deliberada inércia de seus líderes


na indicação de membros para compor determinada Comissão
Parlamentar de Inquérito, não pode frustrar o exercício, pelos
grupos minoritários que atuam no Congresso Nacional, do direito
público subjetivo que lhes é assegurado pelo art. 58, § 3º, da
Constituição e que lhes confere a prerrogativa de ver efetivamente
instaurada a investigação parlamentar em torno de fato determinado e
por período certo.12 (grifo original)

A passagem, adiante reproduzida, do voto-condutor do Ministro Celso de


Mello clarifica a adequação da analogia para preencher eventual lacuna quanto
ao dever e poder do Presidente da Casa Legislativa de indicar os membros
faltantes da CPI, em caso de recusa de líderes partidários:

A ocorrência de lacuna normativa no texto do Regimento Interno do


Senado Federal, invocada pelo Senhor Presidente dessa Casa
legislativa para não adotar providências destinadas a fazer instaurar
o inquérito parlamentar, não constitui obstáculo a que esta Suprema
Corte, valendo-se dos meios de integração viabilizados pelo Direito,
supra a omissão regimental, mediante aplicação analógica de
prescrições existentes no âmbito do próprio Poder Legislativo da
União.
Refiro-me ao fato de que o Regimento Interno da Câmara dos
Deputados (art. 28, § 1º) e o Regimento Comum do Congresso
Nacional (art. 9º, § 1º) prevêem solução normativa para situações em
que, qualquer que seja a razão, os líderes partidários deixem de
indicar representantes de suas próprias agremiações para compor
11
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho da ementa do acórdão em sede do Mandado de
Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de junho de 2005. Diário da Justiça
da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out. 2010.
12
Ibid., loc. cit.
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
(Hidemberg Alves da Frota) 8

comissões, inclusive CPIs, constituídas no âmbito, seja da Câmara


dos Deputados, seja do Congresso Nacional.
A solução ora preconizada, além de plenamente harmônica com as
diretrizes jurídicas que indicam a analogia como meio legítimo de
integração das lacunas normativas, mostra-se compatível com a
própria prática parlamentar, na medida em que a omissão referida é
suprida, por esta Corte, mediante aplicação analógica de normas que
o próprio Parlamento reputou cabíveis quando se tratar, como no
caso, de falta de indicação, pelos líderes partidários, de
representantes das respectivas agremiações, para efeito de composição
das comissões legislativas que devam funcionar no âmbito da Câmara
dos Deputados ou do próprio Congresso Nacional.
Ou, em outras palavras, o critério ora aplicado para suprir a omissão
regimental não se revela estranho à pratica parlamentar, eis que se
apóia em elementos propiciados pela própria experiência da Câmara
dos Deputados e do Congresso Nacional, cabendo destacar, ainda,
por relevante, que o próprio Regimento Interno do Senado Federal,
nas hipóteses de lacuna existente em seu texto, autoriza, ainda que se
cuide de processo legislativo, a utilização da analogia (RISF, art.
412, VI).
Daí a correta afirmação - feita pelos ora impetrantes - de que se
revela possível, a esta Suprema Corte, suprir a missão
constatada, mediante recurso à analogia, com aplicação integrativa de
preceitos inscritos tanto no Regimento Comum do Congresso
Nacional (art. 9º, § 1º) quanto no Regimento Interno da Câmara dos
Deputados (art. 28, § 1º), como se evidencia da seguinte passagem da
impetração mandamental por eles deduzida perante este Tribunal: 13
[...] (grifo do autor)

Naquele julgamento, o Ministro Marco Aurélio, citando frase do Ministro


Sepúlveda Pertence, bem frisou que ―a maioria [parlamentar] não precisa de
Comissão Parlamentar de Inquérito‖14. Outra manifestação relevante do Ministro
Marco Aurélio, também em sede do Mandado de Segurança nº 24.831/DF,
concerne à assertiva de que a criação de Comissão Parlamentar de Inquérito
consubstancia ―ato complexo‖:

13
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho do voto-condutor do Ministro Celso de Mello,
em sede do Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de junho de
2005. Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out. 2010.
14
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho do voto do Ministro Marco Aurélio, em sede do
Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de junho de 2005.
Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out. 2010.
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
(Hidemberg Alves da Frota) 9

De início, o requerimento – dado formal para que surja, no mundo


jurídico, a comissão –, depois as indicações feitas pelas lideranças, em
seguida, os demais atos.
No caso, não houve o aperfeiçoamento da comissão, porque alguns
líderes resolveram não indicar membros para nela atuarem.
Ora, é possível, por maior que seja a criatividade, entender
estabelecido o prazo de vigência, de duração da comissão? A resposta
para mim, Presidente, é negativa. E creio que estou gastando vela com
um péssimo defunto.15

O voto do Ministro Carlos Britto é taxativo: ―Identifico indicação dos


membros [da CPI] com o ato de criação da comissão.‖16
Em relação à contagem do prazo para a criação de CPI, questiona o
Ministro Cezar Peluso: ―Ora, como é possível imaginar a fluência de um prazo
peremptório, quando o órgão que deva praticar o ato previsto esteja
impossibilitado, por falta de composição e de instalação, de poder funcionar? É
coisa inconcebível.‖17 (Pouco antes, explicara Peluso que prazos peremptórios
são ―prazos de aceleração processual, dentro dos quais devem ser praticados
atos, sob pena de preclusão‖18.)
Em síntese, o prazo de duração da CPI deve ser contado a partir da criação
do órgão parlamentar em testilha, que ocorre quando se finaliza a indicação de
todos os seus membros — por consequência, à maioria parlamentar falece o
direito de alegar o esgotamento do prazo de duração de determinada CPI, para
evitar que o Poder Judiciário viabilize o funcionamento da Comissão
Parlamentar de Inquérito, ao determinar a indicação dos membros faltantes. Não

15
Ibid., loc. cit.
16
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho do aditamento ao voto do Ministro Carlos
Britto, em sede do Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de
junho de 2005. Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out. 2010.
17
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso, em sede do
Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de junho de 2005.
Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out. 2010.
18
Ibid., loc. cit.
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
(Hidemberg Alves da Frota) 10

se pode alegar a extinção do que, parafraseando o Ministro Carlos Britto, nunca


existiu19.
Outro posicionamento ponderável radica no magistério do Ministro Celso
de Mello, segundo o qual o prazo de criação de CPI, em regra, conta-se da data
de publicação, na imprensa oficial, do ―requerimento de constituição‖ 20 da dela,
salvo nas circunstâncias em que a Chefia do Poder Legislativo, após a recusa de
líderes partidários indicarem membros da CPI, também se nega indevidamente a
indicá-los (indevidamente, se o requerimento de constituição da CPI preencheu
os requisitos do art. 58, § 3º, da CF/88):

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO - (Relator): O


prazo, em situação de normalidade (que lamentavelmente não se
registrou na espécie), começa da publicação, no ―Diário do Senado
Federal‖, do requerimento de constituição da CPI. Como ocorreu, no
entanto, obstrução unicamente imputável ao Senhor Presidente do
Senado Federal, cuja conduta gerou injusto gravame a um direito
constitucionalmente assegurado às minorias parlamentares, cabe
reconhecer que se verificou, na espécie, causa justificadora da
aplicação, por analogia, do que dispõem os §§ 1º e 2º do art. 183 do
CPC, em ordem a afastar-se a alegação, feita pelo eminente Ministro
EROS GRAU, de que já se exauriu o prazo de vigência da CPI em
questão.21 (grifo do auto)

Qual a importância da proporcionalidade partidária? Propiciar


legitimidade às comissões parlamentares. Sobressai o Ministro Nelson Jobim:

Também acompanho a maioria, porque considero que a premissa


fixada pelo Ministro Eros Grau, qual seja, o funcionamento de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito sem os números regimentais
criaria uma distorção muito grande num direito parlamentar clássico,
19
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho de manifestação do Ministro Cezar Peluso em
debates encetados pelo Pleno no julgamento do Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de
Mello. Brasília, DF, 22 de junho de 2005. Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26.
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out.
2010.
20
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Manifestação do Ministro Celso de Mello, em face de
indagação do Ministro Nelson Jobim, durante o julgamento do Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator:
Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de junho de 2005. Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago.
2006, p. 26. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso
em: 02 out. 2010.
21
Ibid., loc. cit.
Breves considerações sobre o direito da minoria parlamentar à criação de CPI municipal
(Hidemberg Alves da Frota) 11

que é o direito à obstrução, porque, se fosse isso verdadeiro,


estaríamos inclusive viabilizando, eventualmente, aprovação de leis
com uma situação completamente equivocada sem o quorum de
votação. Ou seja, fora a legislação com quorum especial, o quorum
normal de votação, não de instalação de sessão. No senado, instalam-
se as sessões com um vigésimo de membros do grupo. No entanto,
para o início do processo de votação, o quorum é de maioria absoluta.
O resultado da votação dá-se, no Senado brasileiro e na Câmara dos
Deputados, pela maioria entre sim e não. Tanto é que, como acontece
na lei eleitoral, para efeito de aprovação ou de rejeição de um projeto
de lei no Congresso, Câmara ou Senado, não se computam os votos de
abstenção, que correspondem àquela manifestação parlamentar que
deseja dar quorum para os outros votarem, mas não quer votar a
matéria. O que significa, na legislação eleitoral, o voto em branco, que
não é computado para efeito do quociente eleitoral no que diz respeito
à composição das Casas legislativas.22

22
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Tribunal Pleno). Trecho do voto do Ministro Nelson Jobim, em sede do
Mandado de Segurança nº 24.831/DF. Relator: Ministro Celso de Mello. Brasília, DF, 22 de junho de 2005.
Diário da Justiça da União, Brasília, DF, 4 ago. 2006, p. 26. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=86189>. Acesso em: 02 out. 2010.

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