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Tribunal de Justiça de Pernambuco

PJe - Processo Judicial Eletrônico

12/08/2018

Número: 0032776-89.2018.8.17.2001
Classe: PROCEDIMENTO COMUM
Órgão julgador: 6ª Vara da Fazenda Pública da Capital
Última distribuição : 09/07/2018
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Obrigação de Fazer / Não Fazer
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PGE (AUTOR)
MUNICIPIO DE GOIANA (RÉU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
34305 11/08/2018 11:15 Decisão Decisão
382
Tribunal de Justiça de Pernambuco
Poder Judiciário
6ª Vara da Fazenda Pública da Capital

AV DESEMBARGADOR GUERRA BARRETO, S/N, FORUM RODOLFO AURELIANO, ILHA


JOANA BEZERRA, RECIFE - PE - CEP: 50080-800 - F:(81) 31810258

Processo nº 0032776-89.2018.8.17.2001

AUTOR: PGE

RÉU: MUNICIPIO DE GOIANA

DECISÃO COM FORÇA DE MANDADO

Nos autos da Ação Ordinária de Rito Comum, em que são partes os acima epigrafados, a parte autora
busca, paralelamente ao pedido formulado com a pretensão deduzida, pronunciamento jurisdicional initio
litis que assegure desde logo a fruição parcial do direito perseguido, para tanto alegando, através da
digressão expendida na inicial, que a postergação da regalia para o deslinde lhe poderá impor lesão grave,
irreparável ou de difícil reparação.

Para o efeito alega:

Em 02 de dezembro de 2013, o Estado de Pernambuco, através da Secretaria de Turismo, órgão integrante


de sua estrutura organizacional, e o Município de Goiana, por meio do seu Prefeito Municipal, celebraram
o instrumento jurídico de convênio, em consonância com o Contrato de Empréstimo firmado entre o
Estado de Pernambuco e o Banco Interamerciano de Desenvolvimento, para financiamento do Programa
Nacional do Turismo – PRODETUR NACIONAL – PERNAMBUCO (doc. 01).

Nos termos da cláusula primeira do convênio de cooperação (doc. 01), o objeto do convênio foi a
cooperação técnica entre os partícipes, para a realização de planos, estudos, projetos e obras de
engenharia, e intervenções sociais e ambientais relativas ao PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO –
PRODETUR NACIONAL – PERNAMBUCO, visando contribuir para a promoção da capacidade de
competição dos destinos turísticos do Estado de Pernambuco.

Por força do referido convênio, os entes envolvidos assumiram as seguintes obrigações gerais:

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“I - Cooperar entre si no sentido de criar, em suas respectivas áreas de atuação, as condições necessárias
ao fiel cumprimento deste Convênio;

II - Informarem-se prévia e mutuamente, através de correspondência oficial, sobre quaisquer alterações de


legislação, organização, critérios, políticas e procedimentos, em suas respectivas áreas de atuação e que
possam de algum modo interferir na execução do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO
PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO;

III - Tomar medidas alternativas necessárias à continuidade dos trabalhos, no caso de alterações que
possam comprometer a execução do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR
NACIONAL - PERNAMBUCO;

IV - Estabelecer uma linha de conduta para que a regularidade e eficiência das obras, serviços e
equipamentos resultantes do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL -
PERNAMBUCO promova o alcance dos objetivos do Programa.”

Em termos de obrigações específicas, a Secretaria de Turismo do Estado de Pernambuco se obrigou a:

“I - Estabelecer diretrizes e gestões junto ao BID, de forma a contratar e aplicar os recursos financeiros
necessários à implantação do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL -
PERNAMBUCO;

II — Manter no âmbito da SETUR/PE a Unidade de Coordenação do Programa, nomeando e designando


os recursos humanos necessários ao bom e perfeito desempenho das atividades da mesma, com
atribuições de coordenar e fiscalizar as aves de execução do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO -
PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO, nos seus aspectos de engenharia, financeiros, sociais,
ambientais, institucionais e legais;

III — Viabilizar a transferência ao MUNICÍPIO, a partir da emissão do termo de aceitação definitivo, de


todos os equipamentos públicos construídos no âmbito do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO -
PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO, cuja operação, manutenção e conservação sejam de
competência municipal, mediante instrumento que garanta o efetivo cumprimento dessas obrigações pelo
MUNICÍPIO;

IV - Promover as desapropriações dos terrenos e/ou benfeitorias necessárias ao desenvolvimento das


obras previstas no PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL -
PERNAMBUCO, executando a devida regularização fundiária junto aos órgãos competentes;

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V - Desenvolver as gestões necessárias de forma a agilizar os procedimentos jurídicos e administrativos,
para a obtenção de aprovações e licenças dos organismos ambientais, voltados à execução do
PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO;

VI - Realizar os processos licitatórios necessários à contratação dos estudos, projetos, obras e serviços,
bem como a aquisição de equipamentos, celebrando os contratos necessários, ressalvada a hipótese
prevista no parágrafo terceiro, inciso I, da presente cláusula;

VII - Coordenar as atividades do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO PERNAMBUCO,


compatibilizando-as com o Plano PRODETUR NACIONAL - Diretor do Município;

VIII — Coordenar, com o apoio do MUNICÍPIO, as medidas necessárias para assegurar a execução dos
programas de comunicação social, educação ambiental e sanitária das comunidades nas áreas alvo do
PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO;

IX - Dar publicidade ao instrumento de Convênio, mediante sua publicação no Diário Oficial do Estado e
ciência à Assembleia Legislativa.

O Município de Goiana, em termos de obrigações específicas, se obrigou a:

I — Providenciar a elaboração de Projetos Executivos, sempre que solicitado pela SETUR/PE, para a
execução das obras no âmbito do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR
NACIONAL - PERNAMBUCO;

II — Ceder os terrenos de sua propriedade para a execução das obras mencionadas no item anterior,
mediante a assinatura de termo de cessão, que especifique e descreva, detalhadamente, o imóvel que
receberá as obras;

III - Intervir junto às empresas construtoras, visando reparar os defeitos e falhas caso existentes nas obras,
após recebidas, cuja manutenção e conservação seja de sua titularidade;

IV - Designar técnicos do seu quadro de pessoal, possuidores de experiência e capacidade técnica


adequada às necessidades executivas do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR
NACIONAL - PERNAMBUCO, para que os mesmos, trabalhando junto à SETUR/PE, estabeleçam a
interface MUNICÍPIO x ESTADO, necessária à implementação das ações atuando como interlocutores e
facilitadores junto aos diversos órgãos do MUNICÍPIO, participantes do empreendimento, incluindo o
acompanhamento da execução das obras e serviços e o recebimento das obras do Programa que são de sua
competência;

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V - Receber e operar as obras e equipamentos resultantes da conclusão de cada intervenção do
PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO na área de sua
competência, fazendo sua gestão, manutenção, conservação e ampliações futuras, quando necessárias, de
acordo com o disposto nas cláusulas do Contrato de Empréstimo firmado entre o Estado de Pernambuco e
o BID, que declara conhecer, tudo de acordo com as normas técnicas geralmente aceitas;

VI — Permitir amplo acesso aos representantes da SETUR/PE e do BID às obras e equipamentos


oriundos do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO;

VII- Compatibilizar seu Plano Plurianual com as metas do PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO -
PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO, mantendo a SETUR/PE informada;

VIII - Participar, na qualidade de interveniente, de convênio a ser firmado entre o Estado de Pernambuco
e a COMPESA, para efetivar a participação da mesma no PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO -
PRODETUR NACIONAL – PERNAMBUCO;

IX- Alocar no orçamento municipal os recursos necessários ao atendimento das demandas oriundas do
presente Convênio;

X- Intervir, junto aos órgãos competentes, com vistas a facilitar a aprovação e o licenciamento dos
estudos e projetos ambientais relativos ao PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR
NACIONAL - PERNAMBUCO em estrita obediência aos diplomas legais no âmbito municipal;

XI- Realizar, diretamente ou através de empresa especializada, contratada nos termos da legislação de
regência, os serviços de manutenção predial, urbanismo e conservação das instalações, equipamentos,
vias públicas, praças, jardins, pontes e demais obras de estrutura e infraestrutura urbana sob sua
responsabilidade relacionadas ao PROGRAMA NACIONAL DO TURISMO - PRODETUR NACIONAL
- PERNAMBUCO;

XII — Dar ciência à Câmara Municipal da assinatura do presente Convênio.

Dentre as obrigações firmadas no convênio em comento, resta à Secretaria de Turismo do Estado de


Pernambuco viabilizar a transferência ao MUNICÍPIO, a partir da emissão do termo de aceitação
definitivo, de todos os equipamentos públicos construídos no âmbito do PROGRAMA NACIONAL DO
TURISMO - PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO, cuja operação, manutenção e conservação
sejam de competência municipal, mediante instrumento que garanta o efetivo cumprimento dessas
obrigações pelo MUNICÍPIO. O Município de Goiana, por sua vez, se obrigou a receber e operar as
obras e equipamentos resultantes da conclusão de cada intervenção do PROGRAMA NACIONAL DO
TURISMO PRODETUR NACIONAL – PERNAMBUCO, na área de sua competência, fazendo sua
gestão, manutenção, conservação e ampliações futuras, quando necessárias, de acordo com o disposto nas

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cláusulas do Contrato de Empréstimo firmado entre o Estado de Pernambuco e o BID , que declara
conhecer, tudo de acordo com as normas técnicas geralmente aceitas.

Pois bem. Desconsiderando o ato jurídico perfeito firmado, o Município de Goiana, por meio do atual
Prefeito da Cidade, Senhor Osvaldo Rabelo Filho, como é fato público e notório, pretende dar ao novo
Paço Goiana, situado na Avenida Marechal Deodoro da Fonseca, S/N, Centro, Goiana/PE, finalidade
diversa da obra de requalificação para implantação de um Espaço Cultural e de um Centro de
Atendimento ao Turista, licitada pelo Programa PRODETUR NACIONAL - Pernambuco e financiada
com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID.

O atual Prefeito da Cidade, através do Parecer da Procuradoria Geral do Município n. 003/2017 (doc. 09),
datado de 09 de fevereiro de 2017, alega que a Lei Municipal n. 1.444/1984 (doc. 08) obriga o Município
de Goiana/PE a preservar o prédio como sede do Executivo.

No Parecer n. 003/2017 emitido pela Procuradoria Geral do Município, o Procurador Geral do Município
opinou:

“que o prédio `Paço Municipal das Heroínas de Tejucupapo´, seja utilizado como Sede do Governo
Municipal, diante da exigência legal, sem prejuízo de que seja destinado um Espaço Cultural, com um
Centro de Atendimento ao Turista (CAT), uma vez que assim o fazendo restarão atendidas, tanto ao que
prevê Lei Orgânica do Munícipio, quanto ao que diz respeito ao Convênio de Cooperação firmado entre o
Município de Goiana e o Estado de Pernambuco através da Secretaria de Turismo, Esportes e Laser de
Pernambuco.”

Para tanto, registou que:

“(...) a Emenda de Revisão à Lei Orgânica Municipal de Goiana nº 001/2016, promulgada em 22 de


dezembro de 2016, através do Art. 70, disciplinou que `Fica incluído no Título V — Disposições Gerais e
Finais da Lei Orgânica do Município de Goiana o Art. 238-A, com a seguinte redação: ’Art. 238 A — O
histórico prédio denominado — Paço Municipal das Heroínas de Tejucupapo´, localizado à Av. Mal.
Deodoro da Fonseca, fica preservado obrigatoriamente, como sede do governo municipal, consoante
estabelece a Lei Municipal número 1.444, de 31 de janeiro de 1984.

Quanto à destinação do prédio `Paço Municipal das Heroínas de Tejucupapo´, não cabe ao Prefeito do
Município de Goiana alterá-la, haja vista a obrigatoriedade de preservá-lo como sede do Governo
Municipal, consoante estabelece a Lei Municipal, nº 1.444, de 31 de janeiro de 1984, com a inclusão do
Art. 238-A, da Lei Orgânica do Munícipio.”

Em verdade, a Lei Municipal nº 1444/84 trazida à lume no citado Parecer não determina a
obrigatoriedade de que no Paço Municipal de Goiana, também denominado Paço Municipal das Heroínas
de Tejucupapo, funcione a Prefeitura.

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Dispõe o art. 1º do referido diploma legislativo:

“Artigo 1º - O edifício onde funciona a PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE GOIANA, passa a


denominar-se PAÇO MUNICIPAL DAS HEROÍNAS DE TEJUCUPAPO.”

Ora, é claramente perceptível que a menção da PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE GOIANA foi


utilizada para identificar o imóvel a ser denominado como PAÇO MUNICIPAL DAS HEROÍNAS DE
TEJUCUPAPO. Em 1984, a Prefeitura do Município de Goiana estava instalada no edifício, que passou a
se denominar como Paço Municipal das Heroínas de Tejucupapo.

A Emenda de Revisão à Lei Orgânica Municipal de Goiana nº 001/2006, promulgada em 22 de


dezembro de 2016 (data, portanto, posterior à celebração da avença pelo Município), inseriu o Título
V — Disposições Gerais e Finais da Lei Orgânica do Município de Goiana o Art. 238-A, com a seguinte
redação: "Art. 238 A — O histórico prédio denominado — Paço Municipal das Heroínas de Tejucupapo",
localizado à Av. Mal. Deodoro da Fonseca, fica preservado obrigatoriamente, como sede do governo
municipal, consoante estabelece a Lei Municipal número 1.444, de 31 de janeiro de 1984.”

Ocorre que tal dispositivo padece de manifesta inconstitucionalidade.

Dispõe a Carta Magna:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”

Conforme os ditames da Constituição Federal, a lei não pode prejudicar um ato jurídico perfeito. Então, a
Emenda de Revisão à Lei Orgânica Municipal de Goiana nº 001/2006, promulgada em 22 de dezembro de
2016, não pode prejudicar os ditames estabelecidos no convênio firmado em 02 de dezembro de
2013.

Com efeito, antes do PRODETUR elaborar estudo de viabilidade do projeto, mais precisamente em 18 de
junho de 2014, foi confeccionado Parecer n. 01/2014 do Jurídico da Agência de Desenvolvimento de
Goiana, endereçado à Secretaria Executiva de Turismo, Esportes e Lazer, informando que "quanto a
possível existência de legislação municipal vinculando o uso do Paço Heroínas de Tejucupapo a sede do

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executivo municipal, em resposta ao ofício enviado a Procuradoria deste Município, fomos informados
que não há nenhum decreto ou legislação municipal neste sentido (doc. 10)."

Ademais, no Parecer n. 01/2014, o jurídico da Agência de Desenvolvimento de Goiana validou a


audiência pública realizada pelo Paço Heroínas de Tecucupapo, confirmando que o Ministério Público
fora notificado da realização da audiência. Insta destacar o seguinte trecho do aludido parecer:

“Nestes termos, a ausência do Ministério Público não teria o condão de invalidar o ato. Em que pese ainda
a função precípua desta entidade como guardiã do patrimônio histórico, artístico e cultural, o que só
evidencia ainda mais seu total interesse na preservação e recuperação do Paço Heroínas de Tejucupapo,
de forma que é de total acordo com a execução do projeto.”

Na audiência pública realizada em 21 de maio de 2014, que contou com a presença de representantes da
Prefeitura e demais setores, foi tratado do uso proposto para o Paço Municipal de Goiana, sendo inclusive,
ratificado posteriormente, em 18 de junho de 2014, por meio de Parecer encaminhado ao PRODETUR
(Parecer nº 01/2014) da lavra da Agência de Desenvolvimento de Goiana - AD Goiana, a inexistência de
decreto ou legislação municipal veiculando o uso do Paço Municipal de Goiana a sede do executivo
municipal (docs. 07 e 10).

Inclusive, no Plano de Desenvolvimento do Turismo no Centro Histórico de Goiana, foi materializado


que a gestão do Paço Municipal de Goiana deveria “respeitar as bases conceituais e usos propostos
valorizando o papel de Centro de Atendimento ao Turista e Espaço da Economia Criativa, desenvolvendo
ações de difusão, pesquisa, documentação, comunicação, promoção, e valorização das tradições
culturais e da economia criativa em suas múltiplas vertentes” (doc. 06).

Diante do Parecer da Agência de Desenvolvimento de Goiana ,da audiência pública e do convênio


celebrado, o estudo de viabilidade e o projeto executivo foram apresentados ao Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), e aquela instituição financeira concordou com os termos do projeto.

É mister considerar que o PRODETUR NACIONAL PE tem como objetivo o aumento da receita pelo
turismo, mediante a revalorização do modelo "sol-e-praia" e a diversificação (temática e geográfica) da
oferta turística do Estado de Pernambuco.

Para o desenvolvimento do Turismo no Estado, foi firmado o Contrato de Empréstimo nº 2409/OC-BR


entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Estado de Pernambuco, com valor da
operação que ultrapassa a casa dos US$ 70.000.000,00 (setenta milhões de dólares) (doc. 02).

Assim, tal programa é parcialmente financiado com recursos do Banco Interamericano de


Desenvolvimento – BID e observa para sua implementação, as normas do Contrato de Empréstimo Nº
2409/OC-BR, as Políticas, bem como, o Manual de Operações.

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Dentre as ações executadas pelo Programa PRODETUR, encontra-se o Desenvolvimento Turístico
no Centro Histórico de Goiana e, neste plano de desenvolvimento, está contemplada a obra de
requalificação do Paço Municipal de Goiana.

Neste contexto, foi firmado em 02/12/2013 um Convênio de Cooperação Técnica entre o Estado de
Pernambuco, através da Secretaria de Turismo, Esportes e Laser de Pernambuco, e o Município de
Goiana, em atendimento a cláusula 4.02 do Contrato de Empréstimo no 2409/ OC-BR, onde, no parágrafo
terceiro da cláusula segunda do Convénio, constam as obrigações do Município, ora Réu.

Nos termos dos contratos em anexo, foram gastos recursos no montante aproximado de R$ 3.478.012,28
(três milhões, quatrocentos e setenta e oito mil, doze reaise vinte e oito centavos), para recuperar o imóvel
e implementar Espaço Cultural e Centro de Atendimento ao Turista.

A Comunicação Interna nº 13/2018 identifica os contratos efetuados e os respectivos valores (Doc. 11).
Confira-se:

Contrato 06/2014 - Contratação de Serviços de Consultoria visado a Elaboração do Plano de


Desenvolvimento Turístico para o Centro Histórico de Goiana – PE

Empresa contratada: GEOSISTEMAS ENGENHARIA E PLANEJAMENTO LTDA

Processo licitatório: SQC/009/13 CEL

Valor: R$296.364,50

Contrato 07/2014 - Contratação de Serviços de Engenharia Visando à Elaboração de Projeto Executivo


para Requalificação do Paço Municipal de Goiana para Implantação de Espaço Cultural e Centro de
Atendimento ao Turista – CAT

Empresa contratada: CUNHA LANFERMANN ENGENHARIA E URBANISMO LTDA - EPP

Processo licitatório: SQC/010/13 CEL

Valor: R$245.001,46

Contrato 18/2014 - Contratação de Empresa Especializada para Elaboração dos Projetos de Museologia e
Museografia de Atrativos no Âmbito do Prodetur Nacional Pernambuco

Empresa contratada: CAMARA DUARTE PROJETOS E PRODUÇÕES LTDA.

Processo licitatório: SQC/009/14 CEL

Valor: R$304.090,62, neste contrato, foram trabalhados três atrativos devendo considerar o valor de um
terço do contrato para o Paço de Goiana, ou seja, R$101.363,54

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Contrato 02/2016 - Contratação de Empresa para Execução das Obras de Requalificação do Paço
Municipal de Goiana, para Implantação de Espaço Cultural e Centro de Atendimento ao Turista, no
Município de Goiana – PE:

Empresa contratada: PLÍNIO CAVALCANTI & CIA LTDA

Processo licitatório: LPN/001/15 CEL

Valor: R$2.602.244,93

Contrato 05/2017 - Contratação de Consultoria Especializada para a Realização dos Serviços de


Curadoria da Implementação do Museu Histórico de Igarassu, do Forte Santo Inácio de Tamandaré e do
Paço Municipal de Goiana, envolvendo a Produção de Conteúdo Audiovisual, Acessibilidade
Comunicacional e a administração e Gestão de Montagem das Exposições

Empresa contratada: INSTITUTO ODEON

Processo licitatório: SQC/010/16 CEL

Valor: R$699.113,55, neste contrato, foram trabalhados três atrativos devendo considerar o valor de um
terço do contrato para o Paço de Goiana, ou seja, R$233.037,85.

Desta forma, resta demonstrado que o imóvel em referência deve ser utilizado como Espaço Cultural e
Centro de Atendimento ao Turista, sob pena de o Estado de Pernambuco desembolsar ao Banco de
Desenvolvimento do Turismo (BID) o valor investido, por restar descumprida a avença por ato do
Município aqui posto no polo passivo, caso seja efetivada destinação diversa ao imóvel em testilha.

Conforme já mencionado, apesar de toda a situação jurídica se encontrar consolidada, com todos os
instrumentos jurídicos devidamente firmados pelas partes e a obra concluída, o Município de Goiana
pretende dar destinação diversa ao imóvel, recusando a assinar o termo de aceitação definitivo de
todos os equipamentos públicos construídos no âmbito do PROGRAMA NACIONAL DO
TURISMO - PRODETUR NACIONAL - PERNAMBUCO, mediante instrumento que garanta o
efetivo cumprimento dessas obrigações pelo Município de Goiana.

Em verdade, o atual prefeito do Município de Goiana discorda dos termos do convênio firmado com a
Secretaria de Turismo do Governo do Estado de Pernambuco, celebrado pelo Chefe do Poder Executivo
municipal anterior. Assim, ao tomar posse em janeiro de 2017, o Gestor municipal comunicou ao
Secretário de Turismo do Estado de Pernambuco que não iria aceitar que a destinação do imóvel deixasse
de ser a sede do Executivo Municipal.

O Secretário de Turismo do Estado de Pernambuco enviou ofício ao atual Prefeito do município de


Goiana, asseverando que o convênio firmado deve ser cumprido e que cederia uma sala com
aproximadamente 64m² para a instalação do gabinete da prefeitura, já adaptando o convênio aos termos
do parecer n. 003/2017 emitido pela Procuradoria Geral do Município de Goiana. Importante esclarecer
que a área de 64m2 significa ¼ da área do imóvel em questão.

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Repise-se que o então Procurador Geral do Município opinou “que o prédio Paço Municipal das
Heroínas de Tejucupapo", seja utilizado como Sede do Governo Municipal, diante da exigência legal,
sem prejuízo de que seja destinado um Espaço Cultural, com um Centro de Atendimento ao Turista
(CAT) (...)”

Inconformado com a resposta do Secretário de Turismo do Estado de Pernambuco, o Senhor Prefeito


Oswaldo Rabelo Filho determinou a ocupação forçada do imóvel, em 04 de setembro de 2017, às 10h.
Tal ocupação foi repelida por força de decisão proferida nos autos do processo judicial tombado sob
o n. 0001711-41.2017.8.17.2218 (doc. 17).

Nesse quadro, tendo em vista que o Programa PRODETUR NACIONAL – Pernambuco financia apenas
ações de cunho eminentemente turístico, destaca-se que, se desvirtuado o fim para o qual foi licitado o
equipamento, o Estado de Pernambuco terá que devolver ao BID a parcela dos gastos feitos para
implementar tal ação, que perfaz aproximadamente o valor de R$ 3.478.012,28 (três milhões,
quatrocentos e setenta e oito mil, doze reais, vinte e oito centavos).

Sobre o tema dispõe o item 1.12, das Políticas para Aquisição de bens e contratação de obras Financiados
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – GN 2349-7:

Item 1.12. O Banco não financia despesas relativas a bens adquiridos e obras contratadas em desacordo
com as disposições ajustadas no Contrato de Empréstimo e pormenorizadas no Plano de Aquisições.
Nestes casos, o Banco declarará a aquisição viciada, sendo política do Banco cancelar a parcela do
empréstimo destinada aos bens adquiridos e obras contratadas em tais circunstâncias. O Banco poderá,
ainda, valer-se de outras medidas previstas no Contrato de Empréstimo. Mesmo no caso de o contrato
haver sido adjudicado após a obtenção da “não objeção” do Banco, poderá declarar viciado o processo se
concluir que a “não objeção” baseou-se em informações incompletas, imprecisas ou enganosas fornecidas
pelo Mutuário ou que os termos e condições do contrato foram modificadas sem a aprovação do Banco.

Portanto, não resta outra alternativa ao Estado de Pernambuco senão promover a presente ação
judicial, no sentido de garantir a ordem judicial de cumprimento das obrigações firmadas no
convênio celebrado pelo Município de Goiana. Em outras palavras, requerer do Poder Judiciário que
determine ao Município de Goiana o cumprimento das obrigações com as quais concordou anteriormente,
até como ato pedagógico no sentido de que as gestões municipais não podem alterar ou descumprir as
avenças anteriormente assumidas em nome da pessoa jurídica municipal.

A descrição fática e os documentos vindos com a exordial me permitem identificar a verossimilhança das
alegações que dão suporte ao pedido. Encontram-se sedimentadas em início de prova pré-constituída e a
fundamentação legal que invocam é daquelas capazes de formalizar, no espírito do Julgador, um
arcabouço cognoscível, senão exauriente pelo menos capaz de visualizar, com relativa margem de
segurança, um prognóstico positivo em relação ao mérito da contenda.

Assinado eletronicamente por: PAULO ONOFRE DE ARAUJO - 11/08/2018 11:15:10 Num. 34305382 - Pág. 10
https://pje.tjpe.jus.br:443/1g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=18081111151010900000033843192
Número do documento: 18081111151010900000033843192
O alegado dano, por outro lado, emerge evidente da descrição vinda com a inicial, sendo claro,
considerada a natureza da matéria sub examem, que o reconhecimento tardio do direito perseguido, tendo
em vista as peculiaridades e potencialidades das partes envolvidas na querela, poderá ensejar o advir de
lesão grave, efetivamente irreparável ou de difícil reparação, cujas consequências a posterior composição
do conflito poderá ser incapaz de expungir.

À margem do exposto, numa visão que busca identificar formas de outorgar igualdade de condições aos
desiguais, considerando as possibilidades de cada parte no que concerne aos riscos que são capazes de
correr e o custus legis que proporcionalmente pode ser justo impor-lhes, a liminar pretendida é daquelas
em que não ocorre a possibilidade de irreversibilidade da medida a ser adotada, caso venha a ser atendido
o apelo formulado in limini litis, já que circunscrita ao interregno temporal correspondente à duração do
processo.

Defiro, destarte, o requerido e determino a expedição de liminar para que sejam consubstanciadas as
medidas pleiteadas, tais como descritas no petitório inicial, expressas pela determinação ao Município de
Goiana a manutenção do uso exclusivo do imóvel objeto do presente feito como Espaço Cultural e Centro
de Atendimento ao Turista até decisão em sede de cognição exauriente..

Cópia desta decisão, autenticada pela Secretaria do Juízo servirá de mandado.

Cumpra-se com as cautelas de estilo.

Em 11 de agosto de 2018..

PAULO ONOFRE DE ARAÚJO

Juiz de Direito

Assinado eletronicamente por: PAULO ONOFRE DE ARAUJO - 11/08/2018 11:15:10 Num. 34305382 - Pág. 11
https://pje.tjpe.jus.br:443/1g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=18081111151010900000033843192
Número do documento: 18081111151010900000033843192

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