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Uma Crítica ao Livro The Potter’s Freedom de James White

Laurence M. Vance
Vance Publications Pensacola, Florida
I. INTRODUÇÃO
Uma coisa que os calvinistas jamais podem ser acusados é de deixar
de apresentar suas opiniões. De todos os livros escritos por calvinistas durante
os últimos dez anos, o livro The Potter’s Freedom[1] [A Liberdade do Oleiro] de
James White é talvez o mais polêmico. E porque é tão ilustrativo da contínua
repetição calvinista de seus erros, ele merece uma maior atenção por causa de
seu lugar proeminente no atual round do que chamo as Batalhas da TULIP.
James White é diretor dos Ministérios Alfa e Ômega,[2] um ministério de
apologética que ele co-fundou em 1983. Além de suas crusadas contra a Bíblia
King James,[3] ele tem debatido com diversos ateístas, católicos e sectários.
Também é autor de bons livros, como seu recente trabalho sobre a
justificação.[4] Já se podia ver a posição teológica de White mesmo antes de
escrever seu livro sobre o Calvinismo, visto que ele é membro da Igreja Batista
Reformada de Phoenix. Uma Igreja Batista Reformada, embora inerentemente
calvinista, não é somente um termo polido para uma Igreja Batista Calvinista.
Muitos batistas calvinistas nunca descreveriam a si mesmos como reformados
porque eles gostariam de evitar, e com razão, a identificação imediata com a
Teologia Reformada – um sistema de teologia que rejeita o dispensacionalismo
e o pré-milenismo. Um batista reformado não é portanto muito mais do que um
cristão reformado que batiza somente adultos e somente por imersão.
O artigo III da constituição da Igreja Batista Reformada de Phoenix[5]
afirma: “Nós por isso adotamos como razoável expressão de nossa fé a
Confissão de Fé de Londres de 1689 como republicada em 1974 sob o título
Uma Fé a Confessar.” Como qualquer estudante de história da igreja sabe, a
Confissão de Fé de Londres de 1689 não é nada mais do que uma Confissão
de Fé de Westminster “batizada,” publicada por presbiterianos em 1646. Esta
confissão batista de 1689 chegou até a América em 1742, e com a adição de
dois novos artigos, tornou-se a Confissão de Fé da Filadélfia. Nem a Confissão
de Fé de Westminster nem cada uma das confissões batistas são, ainda que
um pouco, dispensacionalistas ou premilenistas. A declaração de fé do site dos
Ministérios Alfa e Ômega simplesmente diz: “Cremos que Cristo está voltando
para julgar os vivos e os mortos. Esta promessa é encontrada por todas as
Escrituras inspiradas.”
II. NÃO JULGUE O LIVRO POR SUA CAPA
Na capa do livro de White The Potter’s Freedom está escrito que ele é
“Uma Defesa da Reforma e uma Refutação do Livro Eleitos Mas Livres de
Norman Geisler.” Mas a capa sozinha é uma típica deturpação calvinista, e por
duas razões.
O primeiro problema é que o título é baseado numa visão deformada da
passagem em Romanos 9 acerca do oleiro e o barro. Romanos 9 é o “refúgio
da reprovação” de todos os calvinistas. Em Romanos 9, os calvinistas por toda
a história se apoderaram desses três versículos e os tornaram os pilares para
apoiar seu ensino da reprovação dos não-eleitos. Os três versículos em
questão são: “Amei a Jacó, e odiei a Esaú” (Rm 9.13), “endurece a quem quer”
(Rm 9.18) e “vasos da ira, preparados para a perdição” (Rm 9.22).
O terceiro versículo é parte do relato do oleiro e o barro em Rm 9.22-24.
“E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu
poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a
perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos
vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, os quais somos nós,
a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os
gentios?”
De acordo com um calvinista, porque o oleiro tem poder sobre o barro,
isto prova “a absoluta soberania de Deus para determinar o destino final dos
homens, se para honra ou desonra, para salvação e glória ou para condenação
e ruína.”[6] Quando White chamou seu livro pelo aparentemente inócuo título
The Potter’s Freedom, ele estava na verdade dizendo que Deus, como o oleiro,
tem a liberdade de preordenar os “eleitos” ao céu e os “reprovados” ao inferno
por um decreto eterno e soberano.
A ilustração de Paulo do oleiro e o barro tem algo a ver com a salvação
dos cristãos do NT? O oleiro e o barro era uma ilustração comum no AT (Is
29.16; 45.9; 64.8; Jr 18.1-6). Nunca ela é uma referência à salvação de
ninguém. Diz de Israel que ele é o barro (Is 64.8; Jr 18.6). O barro é formado,
não criado. Não havia barro antes da fundação do mundo, e nem se diz de
alguém que foi preparado ou arranjado antes da fundação do mundo. E embora
se diz dos “vasos de misericórdia” que eles foram “preparados de antemão
para a glória” por Deus, nenhum agente é dado no caso dos “preparados para
a perdição.”
O segundo problema com a capa do livro The Potter’s Freedom é que o
leitor inocente nunca pensaria que o livro é na verdade uma defesa do
Calvinismo, não da Reforma. White usa o antigo argumento calvinista de “culpa
por associação.” Como todos sabem, a Reforma colocou os reformadores
contra os católicos romanos. Portanto, se você é contra o livro de White, você
deve ser contra a Reforma – e a favor dos católicos romanos, ou pelo menos
essa é a implicação. Os calvinistas gostam de referir ao Calvinismo como o
evangelho, o Cristianismo bíblico, a fé da Reforma, o Cristianismo do Novo
Testamento, as Doutrinas da Graça – tudo menos Calvinismo. Mas se o
Calvinismo é todas estas coisas, então tudo que é oposto ao Calvinismo deve
ser oposto ao evangelho, ao Cristianismo bíblico, à Reforma e à salvação pela
graça.
A respeito da própria Reforma, há várias coisas que merecem menção.
A primeira é: não é suficiente apenas defender a Reforma. A Reforma foi uma
reforma e não um completo retorno ao Cristianismo bíblico. Os reformadores
mantiveram numerosas doutrinas católicas romanas: batismo infantil, batismo
por aspersão, a união da Igreja com o Estado, amilenismo e uma falsa
concepção da natureza da igreja local.
Adicionalmente, porque são obcecados com a Reforma, os calvinistas
substituíram a Bíblia pela Teologia Reformada. A autoridade final para um
calvinista não é de forma alguma a Bíblia, é a Teologia Reformada. Um dos
endossos no verso do livro de White diz que “o livro de James White, The
Potter’s Freedom, é uma apresentação tão clara da doutrina reformada da
salvação como eu jamais li.” Essa declaração é clássica, e recorda Loraine
Boettner chamando seu livro sobre o Calvinismo de A Doutrina Reformada da
Predestinação. O Calvinismo é uma doutrina reformada. Ele tem seu próprio
plano de salvação – a doutrina reformada da salvação – que é diferente do
plano de salvação encontrado na Bíblia, como em breve será visto.
Os descendentes dos reformadores – cristãos reformados, reformados
holandeses, presbiterianos, etc. – não pensam que batistas como James White
sejam calvinistas genuínos. Herman Hanko, um calvinista reformado holandês
com recomendações impecáveis, diz que “um batista é somente
inconsistentemente um calvinista.”[7] Assim, apesar da tentativa de alguns
batistas chamarem a si mesmos de calvinistas ou reformados, e apesar do fato
de que são os batistas calvinistas que são os mais zelosos calvinistas, o fato
permanece que os batistas são apenas calvinistas de segunda classe.
Portanto, não é nenhuma surpresa que o livro de White contenha
endossos de autores presbiterianos e reformados como Jay Adams, Kenneth
Gentry, Joel Beeke, Robert Reymond e George Grant. O que é preocupante
sobre a seção de endossos é que ela também contém endossos de três
membros dos Ministérios dos Fundadores Batistas do Sul e do autor e
professor batista do sul Tom Nettles. O Dr. Erwin Lutzer, pastor sênior da Igreja
de Moody em Chicago e o Dr. Daniel Wallace, erudito grego do Seminário
Teológico de Dallas, também têm endossos no livro.
III. DEZ ARGUMENTOS QUE SE DESINTEGRAM SOB ESCRUTÍNIO
Como qualquer um que tenha estudado os livros de calvinistas sabe, há
vários argumentos e insinuações padrões que todos os calvinistas usam para
desacreditar seus oponentes e promover sua teologia – e White não é
nenhuma exceção. E como já temos visto, isto é até aparente na capa d livro.
Primeiro, White tenta tornar todos os cristãos em calvinistas ou
arminianos (pp. 20, 295). Uma vez que este arranjo é feito, ele faz os
arminianos parecerem tão maus que o Calvinismo é escolhido por default. A
um calvinista, o Arminianismo é tudo que é oposto ao Calvinismo. Assim,
freqüentemente lemos de arminianos (p. 147), Arminianismo (p. 175), posições
arminianas (p. 235), pregadores arminianos (p. 231), exegetas arminianos (p.
153) e visões arminianas (p. 136). Outras formas deste argumento usam
Agostinho e Pelágio (p. 40) ou Lutero e Erasmo (p. 34).
Segundo, White usa o argumento de culpa por associação (pp. 33, 85,
92, 233). Após transferir todos os cristãos para um dos dois grupos (calvinistas
ou arminianos), os calvinistas tipicamente associam os arminianos a todo
herético ou heresia concebível a fim de desacreditá-los. O inimigo mais comum
é o Catolicismo Romano. Dessa forma, no livro de White, rejeitar o Calvinismo
é estar associado ao Catolicismo Romano, a Inácio de Loyola, aos jesuítas, a
Tomás de Aquino e ao Catecismo da Igreja Católica.
Terceiro, White afirma que os não-calvinistas deturpam o Calvinismo (p.
21). Este argumento é típico dos calvinistas. Eles escreveram tanto em
promoção de seu sistema que é quase impossível deturpá-los. Ninguém
precisa criar uma caricatura do Calvinismo; inúmeras citações de autoridades
calvinistas sobre qualquer assunto a respeito do Calvinismo sempre podem ser
encontradas. Mas quando isto é feito, e suas reais crenças são expostas, os
calvinistas dizem que eles estão sendo deturpados.
Quarto, White exalta a soberania de Deus acima de Sua santidade (pp.
41-44). O fato que Deus é soberano é óbvio. Se Deus não fosse soberano ele
não seria Deus. Os administradores de muitos países têm soberania absoluta,
mas isso não significa que eles sejam santos ou até mesmo bons. O importante
sobre Deus é que ele é soberano e todavia santo. White relaciona os decretos
de Deus com o Calvinismo (p. 45). Os decretos de Deus na Bíblia não se
relacionam de modo algum com a salvação, e não se diz de nenhum deles que
é eterno, como os calvinistas ensinam. Ele sustenta que Deus decretou não
somente a salvação, mas tudo que aconteceu, está acontecendo e acontecerá
(p. 45). White também afirma que Deus somente tem pré-conhecimento do que
Ele já decretou acontecer (pp. 53, 57). Isto é um ataque à onisciência de Deus.
Que tipo de poder há em saber algo que você já decretou acontecer?
Quinto, White apela para homens (pp. 125-31, 255). Os calvinistas
estão sempre apelando a homens: Agostinho, Calvino, Pink, Edwards, Hodge,
Dabney, Boyce, Gill, Berkhof, e outros. Os calvinistas afirmam que todos os
grandes pregadores, professores e comentaristas de toda a história foram
calvinistas, e, porque eles são maioria, eles devem estar certos. Um homem
em particular a quem White apela é Charles Haddon Spurgeon (1834-1892), o
grande pregador batista (pp. 36, 277). Visto que Spurgeon foi um dos poucos
batistas calvinistas na história a ter uma ampla igreja e um ministério frutífero,
todos os calvinistas, sejam batistas ou reformados, apelam a Spurgeon como
se o seu ministério fosse resultado de seu Calvinismo ao invés de apesar dele.
Sexto, White apela para fontes extra-bíblicas como credos e confissões
(pp. 78, 125). Sejam os Cânones de Dort, a Confissão de Westminster, a
Segunda Confissão de Londres, ou os Catecismos de Westminster – os
calvinistas freqüentemente colocam as palavras dos homens acima da
Escritura.
Sétimo, White usa os textos-provas padrões: Jo 6.37, 44; Rm 8.28; 1Co
2.14; At 13.48; Ef 1.4; 2Tm 1.9 e Romanos 9 (pp. 96, 109, 154, 159, 186, 195,
208, 211, 213). Os calvinistas nunca parecem se cansar de girar em torno do
mesmo circuito de versículos.
Oitavo, White afirma que Jesus Cristo ensinou o Calvinismo (pp. 153-
69). O capítulo 7 do livro de White é chamado “Jesus ensina o ‘Calvinismo
Extremado.’” Que melhor autoridade a fazer referência? Por que não dizer
apenas que negar o Calvinismo é negar Cristo?
Nono, White inunda o leitor com termos teológicos (pp. 91-92). Os
calvinistas são mestres nesta tática. Uma barreira para entender o Calvinismo
é que alguém deve aprender seu vocabulário: sinergismo, monergismo,
vocação eficaz, preterição, Pelagianismo, Semipelagianismo, e palavras
difíceis como supralapsarianismo, infralapsarianismo e sublapsarianismo.
Décimo, White faz toda espécie de falsas implicações que são
procedimentos padrões de ação para um calvinista. Ele infere que se você não
é calvinista então você nega a salvação pela graça (p. 91). Ele infere que uma
rejeição do Calvinismo significa que a justificação pela fé deve ser rejeitada
também (p. 36). Ele infere que uma negação da Expiação Limitada significa
que a natureza substitutiva da Expiação de Cristo está sendo rejeitada (p. 233).
IV. CONCLUSÃO
Tendo lido todas as obras de calvinistas do passado e atuais, posso
dizer que o livro de James White, The Potter’s Freedom, embora
pretensamente escrito para refutar o livro Eleitos Mas Livres de Norman
Geisler, é meramente uma regurgitação de todos os argumentos calvinistas
desacreditados que já foram apresentados. Isto não significa que tudo no livro
de Geisler deve ser defendido, mas significa que o livro de White é mais uma
fraca tentativa de promover a agenda calvinista no que se tornou uma batalha
da TULIP.
Tradução: Paulo Cesar Antunes
[1] James R. White, The Potter’s Freedom (Amityville, NY: Calvary Press
Publishing, 2000).
[2] http://www.aomin.org.
[3] James R. White, The King James Only Controversy (Minneapolis:
Bethany House Publishers, 1995).
[4] James R. White, The God Who Justifies (Minneapolis: Bethany House
Publishers, 2001).
[5] Disponível em http://www.prbc.org.
[6] Herman Hoeksema, God’s Eternal Good Pleasure, ed. e rev. Homer
C. Hoeksema (Grand Rapids: Reformed Free Publishing Association, 1979),
60.
[7] Herman Hanko, We and Our Children (Grand Rapids: Reformed Free
Publishing Association, 1988), 12.

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