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PARTE 2
INTOXICAÇÃO POR COMPOSTOS AMONIACAIS E SAL
1 – UREIA
• O que acontece. O AMÔNIO (NH4) pode virar mais ou menos AMÔNIA (NH3) dependendo
do pH rumenal no momento da absorção. O amônio não é tóxico. A amônia é tóxica.
o Quando o pH está mais básico forma mais amônio. Então eu quero é que o Ph
acidifique por isso o famoso tratamento com vinagre gelado, para baixar o Ph
do rúmem para predominar a forma amônio (Atóxica)
o E porque vinagre gelado? Porque a temperatura fria desfavorece a ação das
enzimas que fazem a conversão em amônia.
o O que a amônia faz afinal? Principalmente no Ph 8-9 ela é mais formada a partir
da quebra da ureia no rúmen. Depois essa amônia (NH3) é altamente absorvida
pela parede rumenal e causa os efeitos sistêmicos de intoxicação se exceder a
capacidade de detoxicação hepática.
o Isso ocorre principalmente em situação de a amônia estar excedendo a capacidade
das bactérias em produzir proteína. A amônia é convertida em proteína desde que
haja esqueleto de carbono disponível.
o A amônia (que as bactérias fizeram lá no rúmen) é transformada em ureia para ser
excretada, que é 40 vezes menos tóxica. Só que para isso acontecer precisa gastar
3 ATP.
o Quando forma amônia forma CO2 junto, que vai embora na eructação.
• A enzima uréase das bactérias, que é quem quebra ureia em amônia tem Ph ótimo 7,7-8
(levemente alcalino) e temperatura 49º C.
• A uréase bacteriana então a depender das condições produz
o AMÔNIO = atóxico, pois não é absorvido
o AMÔNIA: atravessa rapidamente as barreiras biológicas, lipossolúvel e não
ionizável
• Formação de CO2 (eructação) e amônia (síntese proteica microbiana, alto valor absorvido
no intestino)
• A ureia em si não é ruim. O problema são essas altas quantidades quando o produtor
desconhece as recomendações ou por alguma infelicidade de chover na ração ou cocho
inclinado. Cuidado também para não usar um sal que tenha ureia junto e exceder a dose.
• Pode ocorrer intoxicação também se o animal não for adaptado – tem que fazer durante
uma semana e não interromper.
• Se houver deficiência de carboidratos digestíveis também ocorre intoxicação pois aí a
microbiota não tem energia para fazer a formação de proteína (transferir o esqueleto de
carbono)
• Alguns fatores que favorecem a intoxicação são: misturas e formulações incorretas
(desbalanceamento da dieta), animais doentes e debilitados (pois normalmente está
associado a uma hepatopatia – diminuindo excreção – e a uma anorexia, então falta
energia); soja crua – é rica em uréase e piora a situação de formar amônia demais, só pode
se for tostada; jejum prolongado (falta energia e também o animal só fica engolindo saliva
– que funciona como um tampão devido aos fosfatos e deixa o rúmen mais alcalino) e
insuficiência hepática.
• Qual o mecanismo de ação a AMÔNIA para levar a toxicidade?
o O excesso de amônia faz um bloqueio do ciclo de Krebs (pois a amônia muda a
produção de certos mediadores celulares e deixa elementos importantes menos
disponíveis para fazer o ciclo) diminui a energia para as células (principalmente
células nervosas) aumenta a glicólise anaeróbica com produção de ácido lático
Acidose METABÓLICA + Alcalose ruminal Células nervosas são acometidas
o Resultado: sinais neurológicos de síndrome cortical (lembra raiva)
• São vários os sintomas da intoxicação. Inclui o timpanismo gasoso e edema pulmonar
(amônia irrita os pulmões). Ataxia, sialorreia, etc. Sempre importante diferenciar de raiva.
• A morte ocorre de 15 minutos a 1 horas após o consumo, depende de quanto foi ingerido.
• Na necropsia podemos encontrar congestão generalizada, cheiro de amônia no rúmen
(também possível detectar na cavidade oral e na respiração do animal vivo), e edema
pulmonar.
• O diagnóstico da intoxicação é feito com o:
o Histórico: fornecimento de ureia
o Ambiente: inclinação do cocho, chuvas, diluições erradas
o Sintomatologia clínica de síndrome neuro-cortical (ou seja, manifestações muito
haver com o lado motor/reflexos geralmente com alteração de
psiquismo/comportamento)
o pH ruminal maior que 8: alcalose ruminal, medir esse Ph.
▪ O normal da vaca é que o rúmen esteja de 5,5 a 7,4
o Odor de amônia no conteúdo ruminal ou oral
o Dosagem de amônia >500mg/L no rúmen
o Dosagem de amônia no sangue >80 mg/Dl
• O timpanismo que ocorre nesse caso é ante mortem, e pode ser a causa mortis do animal
por insuficiência cardiorrespiratório.
• Ela mostrou um caso clinico na cidade de Castanhal em que o produtor forneceu 200g de
amônia em um cocho com declividade sem adaptar os animais. Quando os professores
chegaram lá para ver tinham vários animais mortos, e os vivos tinham sintomatologia
nervosa com sinais de incoordenação, inquietação e agressividade (tinha um vídeo a vaca
avançando em que estava filmando)
• O mais normal é diagnosticar com o histórico e sinais, essa dosagem de amônia é
complicada pois é um composto muito volátil. Se você for coletar tem que tampar o tubo
super-rápido e já congelar senão a amônia se perde. Geralmente não é necessário para
fechar o diagnóstico.
• Tratamento da intoxicação por compostos amoniacais: seu objetivo é diminuir a produção
da amônia o máximo possível e estabilizar o animal.
o Ácido acético 5% ou vinagre: de 4 a 6 litros. Serve para baixar o pH pois a uréase
trabalha em pH alcalino para produzir amônia. Queremos o pH mais neutro/ácido
para predominar o amônio. Além disso tem uma vantagem adicional que é que o
vinagre consegue se combinar com a amônia já formada e formar acetato de
amônia, que é menos tóxico.
o Água fria ou gelada: 20 a 40 litros. NÃO TEM função de “diluir o conteúdo” como
alguns pensam. O objetivo da água gelada é diminuir o metabolismo bacteriano
deixando a enzina uréase menos ativa, lembrar que ela gosta de temperatura
quente.
o Fluidoterapia: para favorecer a eliminação da ureia. Usar 20 a 40 ml/kg de salina
(no peso vivo)
o Furosemida: favorece eliminar a ureia e também ajuda a tratar o edema pulmonar
o Ornitargin: é uma substância usada em pesquisas que serve para fornecer
aminoácidos essenciais e aumentar a atividade do ciclo da ureia para agilizar sua
eliminação, mas é bem caro e precisa de altas doses para adiantar, não tem
aplicação a campo.
o Ruminotomina: em casos graves, é recomendado esvaziar o rúmen e fazer uma
lavagem.
• Prevenção da intoxicação por ureia
o Sempre fazer uma semana de adaptação antes de iniciar o uso
o Respeitar a dose de 20g de ureia/100 kg PV animal. A dose máxima é até
40g/100kg.
o Se ficar 3 dias sem fornecer ureia, fazer readaptação
o Usar carboidratos fermentáveis na dieta para fornecer o esqueleto de carbono
o Cuidado com rações comerciais de baixa energia e alta proteína
o “O que intoxica não é a ureia, é a amônia”. Então você nunca dosa a “ureia” no
animal, você dosa a amônia.
o Cuidado com cochos inclinados com ureia diluída em água ou cochos descobertos
expostos a chuva.
o Recomenda-se a ureia granulada numa mistura bem homogênea, para não ficar
concentrado demais em uma parte.
o Uso de cama de frango na ração de ruminantes é PROIBIDO e dá inúmeros
problemas: pode intoxicar por ureia (excretas do frango), tem perigo de botulismo
e doença da vaca louca (BSE)
o CUIDADO COM OS SAIS PROTEINADOS – Tem alguns produtores que usam como
se fosse um suplemento, mas atenção que tem alguns que contem sal
branco+proteína+energia+ureia, cuidado para não acabar excedendo a dose
máxima.
2 – SAL
• A intoxicação por sal é importante nos suínos. Ela ocorre quando há uma ingestão de sal
junto de uma privação de água, e em seguida receber água de uma vez. Nessas situações
de privação, o retorno deve ser gradativo senão intoxica mesmo no teor de sal normal da
ração.
• As rações de suínos normalmente têm 0,5% de sal: não é um problema na prática, desde
que o animal recebe a água adequadamente.
• O risco de ocorrer a intoxicação por sal aumenta quando é usado na alimentação lavagens,
salmoura e soros de laticínios. Muitos produtores esquecem que além de serem coisas
muito salgadas, só pelo fato de ser líquido NÃO elimina a necessidade de fornecer água
de qualidade.
• Muito comum acontecer depois que ocorre um problema operacional, por exemplo
encanamentos ou bebedores que estragam e ninguém percebeu, deixando o animal sem
receber água.
o O que acontece: acumula sódio (Na+) nos tecidos. Quando a água volta a ser
fornecida altera a pressão osmótica e puxa a água todinha para o tecido, e dá
edema cerebral.
• Patogenia da intoxicação por sal: alteração do gradiente osmótico (volta da água)
edema cerebral aumento da pressão intracranial diminuição do aporte sanguíneo
degeneração do tecido nervoso
• Pode acontecer em suínos e qualquer idade, principalmente nos mais novos.
• Sintomas: principalmente sinais nervosos. Animal anda para trás, em círculos, apresenta
ataques epileptiformes, salivação intensa, convulsões, posição de cão sentado,
pedalagem, etc. Geralmente acomete o lote inteiro que passou pela escassez hídrica.
• Na necropsia podemos verificar inflamação da mucosa do estômago e intestino e
congestão e edema das meninges e córtex cerebrais.
• “Soro não é água. Fornecer água sempre”
• Pode-se dosar sódio nos tecidos: aumento sérico e no líquido cérebro-espinhal (acima de
160 mEq/ml)
• Meninoencefalite: sódio faz um infiltrado eosinofílico em volta dos vasos sanguíneos e
nas meninges, mas não sabe ainda o motivo. Meningoencefalite eosinofílica.
• O animal pode estar apático, pressionar a cabeça contra obstáculos e até morrer.
• O diagnóstico se dá por dosagem de Na (cérebro, fígado e líquor) e histopatologia.
• Não há tratamento eficaz. A morbidade é variável e a mortalidade é altíssima. O melhor é
prevenir que o lote passe por privação de água e ter cautela ao usar restos salgados na
alimentação dos suínos, principalmente se forem leitões.