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CASO CLÍNICO

Biomecânica do tratamento compensatório da


má oclusão de Classe III utilizando ancoragem
esquelética extra-alveolar
Marcio Rodrigues de Almeida1 1) Professor Titular de Ortodontia da Universidade Norte do
Paraná (UNOPAR), campus de Londrina/PR.
Renato Rodrigues de Almeida 2
2) Professor Senior da Universidade de São Paulo, FOB-USP,
Bauru/SP. Professor Titular de Ortodontia da UNOPAR,
Chris Chang3
campus de Londrina/PR.
3) Consultório particular, Beethoven Orthodontic Center,
Hsinchu City, Taiwan.

Introdução: a camuflagem ortodônti- do relato de um caso clínico, um pa- como recurso de ancoragem durante
ca da má oclusão de Classe III pode ciente adulto jovem com má oclusão a retração da dentição inferior mos-
ser instituída quando a discrepância de Classe III esquelética e mordida trou-se eficaz na camuflagem da má
de bases ósseas e o perfil facial são aberta anterior, tratado com uma oclusão de Classe III, sendo uma al-
aceitáveis. Um movimento dentário abordagem não-cirúrgica utilizando ternativa interessante ao uso de mini-
significativo pode ser esperado em mini-implante para retração de toda a placas. Palavras-chave: Má oclusão
pacientes adultos jovens Classe III dentição inferior. Conclusão: pode-se Classe III de Angle. Movimentação
tratados com ancoragem esqueléti- concluir que o uso de mini-implantes dentária. Procedimentos de ancora-
ca. Objetivo: o presente artigo tem adaptados na região posterior man- gem ortodôntica. Parafusos ósseos.
74 o objetivo de demonstrar, por meio dibular (buccal shelf) extra-alveolar

Biomechanics of compensatory treatment of Class III malocclusion using extra-alveolar


skeletal anchorage
Introduction: Orthodontic camouflage can be em- of a young adult patient who presented with an- cal shelf mini-implants can be a viable solution
ployed in Class III patients especially when bone terior open bite and skeletal Class III malocclu- during the retraction of the entire mandibular
discrepancies and facial profile are acceptable. sion. The patient was treated with a nonsurgical dentition in a camouflage treatment of Class III
Significant dental tooth movement can be ex- approach carried out by means of skeletal an- malocclusion. It proves a good alternative to the
pected in young adult Class III patients treated chorage with mini-implants to retract the entire use of mini-plates. Keywords:  Angle Class III
with skeletal anchorage. Objective: The objective mandibular arch. Conclusion: It can be concluded malocclusion. Tooth movement. Orthodontic an-
of the present study was to report a clinical case that the use of extra-alveolar mandibular buc- chorage procedures. Bone screws.

Como citar este artigo: Almeida MR, Almeida RR, Chang C. Biomecânica do tratamento compensatório da má oclusão de O(s) autor(es) declara(m) não ter interesses associativos, co-
Classe III utilizando ancoragem esquelética extra-alveolar. Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Abr-Maio;15(2):74-86. merciais, de propriedade ou financeiros que representem con-
flito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse
Enviado em: 20/09/2015 - Revisado e aceito: 21/01/2016.
artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo

DOI: http://dx.doi.org/10.14436/​1676-6849.15.2.074-086.cre autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias


faciais e intrabucais, radiografias ou outros exames imaginoló-
Endereço para correspondência: Marcio Rodrigues de Almeida, Av. José Vicente Aiello, 7-70 – CEP: 17.053-091 – Bauru/SP gicos e informações diagnósticas.
E-mail: marcioralmeida@uol.com.br

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Biomecânica do tratamento compensatório da má oclusão de Classe III utilizando ancoragem esquelética extra-alveolar

INTRODUÇÃO a oclusão dentária — sem, contudo, alterar a de-


A má oclusão de Classe III caracteriza-se, em sarmonia das bases ósseas ou o perfil facial. A lin-
geral, por uma relação molar mesial acentuada, gualização dos incisivos inferiores pode ser obtida
presença de perfil reto para côncavo, sobremordi- à custa de extrações dentárias ou, ainda, por meio
da e sobressaliência diminuídas ou negativas1. Essa de elásticos intermaxilares de Classe III.
má oclusão pode estar associada, ou não, a alte- Segundo Marassi e Marassi7, os mini-implantes
rações esqueléticas, podendo ser oriunda de um ortodônticos se estabeleceram como um importante
retrognatismo maxilar, prognatismo mandibular ou método de ancoragem e vêm auxiliando os orto-
combinação de ambos . De acordo com Almeida
2
dontistas nas várias etapas do tratamento ortodôn-
et al.3, essa má oclusão apresenta-se prevalente em tico, principalmente durante a retração dos dentes
6,75% da população com 7 a 12 anos de idade. anteriores, eliminando, em grande parte, a necessi-
Indubitavelmente, a Classe III esquelética nos dade de colaboração dos pacientes e tornando os
indivíduos em crescimento constitui um desafio resultados mais previsíveis. Assim, tem sido advoga-
para o ortodontista, devido à pouca previsibili- do o uso de ancoragem esquelética para camuflar
dade de resultado do tratamento instituído. Desse a Classe III 8. A retração de toda a dentição inferior,
modo, torna-se difícil definir um critério preciso de para o tratamento compensatório não-cirúrgico da
avaliação para determinar se o tratamento pode Classe III, tem sido realizada por meio da inserção
ser realizado somente com uma etapa ortodônti- de ancoragem esquelética9,10.
ca-ortopédica ou se seria necessária uma etapa ci- Chang et al.11,12 demonstraram o uso de dois
rúrgica depois de cessada a fase de crescimento . 4
mini-implantes adaptados na região posterior da
Apesar da complexidade que envolve a má oclu- mandíbula extra-alveolar (buccal shelves) para re-
75
são de Classe III, desde seu diagnóstico até a de- tração de toda a dentição mandibular. Essa mecâ-
terminação do tipo de tratamento a ser adotado, o nica vem se mostrando promissora, uma vez que
profissional possui, nos dias atuais, inúmeros tipos de o índice de insucesso relacionado com a inserção
aparelhos e opções para que possa obter sucesso na e perda dos mini-implantes é baixo e acomete so-
correção dessa discrepância. O tratamento de esco- mente 7% dos casos13.
lha deve corrigir a discrepância sagital para melhorar Assim, objetivou-se, com o presente trabalho,
a estética e a oclusão do paciente, favorecendo um demonstrar a aplicabilidade da ancoragem esque-
bom relacionamento entre as bases apicais e entre os lética extra-alveolar para a retração dos dentes
dentes superiores e inferiores . Dessa forma, a análise
5
inferiores, durante o tratamento compensatório de
morfológica da face é importante para definir metas um paciente adolescente portador de má oclusão
terapêuticas no tratamento da Classe III esquelética, de Classe III esquelética.
obviamente dependendo do componente esqueléti-
co envolvido, estágio do desenvolvimento, presença DIAGNÓSTICO
de crescimento residual e da condição da face. O paciente, com 15 anos e 10 meses de
Uma das formas de tratamento das más oclu- idade, sexo masculino, leucoderma, procurou
sões de Classe III é a compensação6. A estratégia tratamento ortodôntico com a queixa principal de
de camuflagem da Classe III usualmente envolve a mordida aberta anterior, que dificultava a alimen-
proclinação dos incisivos superiores e a lingualiza- tação, e apinhamento (estética). As Figuras 1 a 9
ção dos incisivos inferiores, no sentido de melhorar ilustram o caso ao início do tratamento.

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LISTA DE PROBLEMAS para a direita. A arcada superior apresentou um api-


Avaliando a face no aspecto frontal, verificou-se nhamento mínimo (3mm), enquanto a arcada inferior
simetria, aumento do terço inferior e selamento labial encontrava-se com um apinhamento moderado de
passivo. Na avaliação de perfil, observou-se um per- 5mm. A radiografia panorâmica demonstrou a pre-
fil reto, deficiência de projeção do zigomático, ângu- sença de todos os dentes irrompidos, com exceção
lo nasolabial reto e projeção do lábio inferior, posi- dos terceiros molares, que apresentavam-se inclusos
cionado à frente do superior. Por meio da avaliação (Fig. 10). A análise cefalométrica (telerradiografia
do sorriso, notou-se um arco do sorriso plano e ade- em norma lateral) demonstrou uma relação maxilo-
quada exposição dos incisivos superiores. A relação mandibular de Classe III, com birretrusão e padrão
oclusal sagital das arcadas denotava uma Classe III de crescimento equilibrado (Tab. 1, Fig. 11). Os in-
bilateral de molares e de caninos. Observou-se uma cisivos superiores apresentaram-se inclinados para
mordida de topo-a-topo entre os incisivos e uma mor- vestibular e protruídos na base óssea. Os incisivos
dida aberta anterior de 2mm. A linha média dentá- inferiores encontravam-se verticalizados na base ós-
ria superior coincidia com o plano sagital mediano, sea. Com relação ao perfil facial tegumentar, os lá-
enquanto a inferior apresentava-se desviada 2mm bios superior e inferior denotavam retrusão.

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Tabela 1: Análise cefalométrica pré-tratamento.

SNA 780

SNB 780

ANB 00

Sn.GoMe 250

1-NA 5,5mm

1-SN 1120

1-GoMe 870

1-NB 4mm

Ls-E -2mm

Li-E -4mm

77

7 8 9

10 11

Figura 1-9: Fotografias iniciais, paciente do sexo masculino com 15 anos e 10 meses de idade.

Figura 10, 11: Radiografia panorâmica e telerrradiografia em norma lateral, ao início do tratamento.

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OBJETIVOS DO TRATAMENTO » Retrair os incisivos e molares inferiores na
Com o tratamento ortodôntico, objetivou-se cor- base óssea.
rigir a má oclusão de Classe III, a mordida aber- » Fechar a mordida aberta anterior.
ta anterior, o desvio de linha média e eliminar o » Corrigir a linha média inferior.
apinhamento superior e inferior. A relação molar » Estabelecer uma oclusão de Classe I.
no sentido sagital sugeria que os molares inferiores » Manter o perfil facial.
deveriam ser distalizados, sendo que a discrepân-
cia no lado esquerdo era maior do que no direito, ALTERNATIVAS DE TRATAMENTO E
assim requerendo maior distalização. A linha média PLANO DE TRATAMENTO
inferior, por sua vez, necessita de correção com Como terapia alternativa de tratamento no
giro de 2mm para a esquerda, em função da as- presente caso, algumas modalidades poderiam
simetria presente. Assim, uma retração dos incisivos ser empregadas, como: o uso de elásticos com
inferiores era esperada no sentido de compensar a vetor de Classe III associados a elásticos verti-
Classe III esquelética e obter uma Classe I de molar cais, para correção da mordida aberta anterior;
e de caninos, com overjet e overbite ideais. Os ob- uso de máscara facial, para protração da maxila
jetivos específicos encontram-se abaixo elencados: ou, ainda, a opção de Ortodontia associada com
» Manter a posição sagital da maxila. Cirurgia Ortognática. Optou-se por um protocolo
» Manter a posição dos incisivos e dos mola- não cirúrgico e que não dependesse da colabo-
res superiores. ração por parte do paciente no uso de elásticos

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Figura 12-14: Início da fase de alinhamento e nivelamento, com arco de cobre-níquel-titânio (CuNiTi) 0,014” x 0,025” superior.

Figura 15-19: Mecânica de retração dos dentes inferiores, com instalação bilateral de dois mini-implantes de 10mm x 1,5mm (Morelli,
Sorocaba/SP) na região de buccal shelf, para ancoragem. O sistema retracional inferior foi composto de arco retangular de beta-titânio
0,017” x 0,025” (TMA, Orthometric, Marília/SP), no qual adaptaram-se ganchos longos modificados de retração, com maior extensão
cervical, para que a direção das forças se aproximasse o máximo do centro de resistência (Cr) de todos os dentes inferiores, e um movimento
de translação fosse obtido (Fig. 16 e 17). Usaram-se elásticos em cadeia (corrente, Orthometric, Marília/SP) tamanho médio, com força de
200g de cada lado, conectados dos mini-implantes aos ganchos previamente adaptados na região distal dos caninos inferiores.

Figura 20: Mini-implante utilizado (Morelli, Sorocaba/SP): comprimento de 10mm e transmucoso de 2mm, com 1,5mm de diâmetro.

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intermaxilares ou aparelhos extrabucais. Assim, a CuNiTi superior, mantidos por dois meses cada um
proposta de camuflagem ortodôntica foi instaura- (Fig.  12 a 14). Na arcada inferior, aguardou-se
da para cumprir os requisitos do paciente, obede- quatro meses para adaptar todo o aparelho, até
cendo aos seguintes parâmetros: que houvesse overjet suficiente para que os incisi-
» Extração dos terceiros molares inferiores. vos não entrassem em mordida cruzada anterior.
» Colocação de mini-implantes, bilateralmente, As Figuras 15 a 20 (sete meses de tratamento) ilus-
na região entre primeiros e segundos mola- tram a mecânica de instalação bilateral de dois mi-
res inferiores (buccal shelves), assegurando ni-implantes de 10mm x 1,5mm da marca Morelli
máxima retração de toda a dentição inferior. (Sorocaba/SP) na região de buccal shelf, para
» Adaptação de contenções superiores e infe- ancoragem durante a retração de toda a dentição
riores. mandibular. O sistema retracional inferior foi com-
posto de arco retangular de beta-titânio (TMA, Or-
PROGRESSO DO TRATAMENTO thometric, Marília/SP) 0,017” x 0,025”, no qual
O tratamento foi realizado utilizando-se um foram adaptados ganchos modificados de retra-
aparelho Straight-Wire com canaleta 0,022” ção, com maior extensão cervical, para que a dire-
prescrição Roth autoligável, modelo QuicKlear ção das forças se aproximasse o máximo possível
da Forestadent (Alemanha). Iniciou-se a fase de do centro de resistência (Cr) de todos os dentes
alinhamento e nivelamento com arcos de CuNiTi inferiores e um movimento de translação pudesse
0,014” seguidos do arco 0,014” x 0,025” de ser obtido (Fig. 16 e 17).

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Figura 21: Esquema ilustrando o mecanismo de retração


dentoalveolar mandibular proposto por Chang et al.11,
no qual uma rotação no sentido anti-horário do plano
oclusal ocorre quando da utilização de ganchos curtos,
25
com previsível inclinação lingual dos incisivos inferiores.
80
Figura 22-26: Evolução da mecânica de retração inferior
após 12 meses de tratamento. Pode-se observar uma
excelente relação posterior de molares e caninos no lado
direito (Fig. 22). Nota-se, ainda, que existe um pequeno
desvio de linha média inferior para a direita (1mm) e que
o lado esquerdo da oclusão ainda requer um pouco mais
de retração inferior, no sentido de corrigir a discrepância
de Classe III (Fig. 23). As Figuras 24 e 25 demonstram um
27 28
excelente formato de arcada.

Figura 27-29: Após 15 meses do início do tratamento,


empregou-se a mecânica de retração assimétrica no lado
esquerdo, no intuito de corrigir a linha média e a relação
molar e de caninos. Adaptou-se, ainda, arcos retangulares
de aço braided 0,019” x 0,025” associados a elásticos
intermaxilares verticais 1/8” na região de caninos, para
iniciar o processo de finalização do caso.
30 31

Figura 30-32: Segmentação do arco superior na distal


dos caninos, para facilitar a intercuspidação dentária, e
utilização de um elástico adaptado da lingual do canino
inferior, por meio de gancho, até a região de canino e
primeiro pré-molar, no sentido de favorecer um melhor
ajuste da relação transversal desses dentes.

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Foram usados elásticos em cadeia tamanho médio (Or-


thometric, Marília/SP), conectados dos mini-implantes aos
ganchos previamente adaptados na região distal dos caninos
inferiores. O esquema da Figura 21 ilustra o mecanismo de re-
tração dentoalveolar mandibular sugerido por Chang et al.11,
no qual uma rotação no sentido anti-horário do plano oclusal
ocorre quando da utilização de ganchos curtos, com previsível
inclinação lingual dos incisivos inferiores, favorecendo o fecha-
mento da mordida aberta anterior.
Ainda de acordo com Chang et al.11, a força ideal para retra-
ção de toda a dentição inferior deve ser de 200 a 400 gramas.
Uma consideração importante dessa mecânica diz respeito a dois
24 parâmetros: a) extração prévia obrigatória dos terceiros molares
inferiores e b) análise da quantidade de osso retromolar na dis-
tal dos segundos molares, haja vista que a distalização de todos
os dentes inferiores somente ocorrerá se houver espaço suficiente
para que os segundos molares se movimentem antes de se aproxi-
marem do ramo ascendente anterior da mandíbula. A análise da
radiografia panorâmica (Fig. 10) demonstra uma quantidade sig-
nificativa de osso para que ocorra essa movimentação distal dos
26
dentes inferiores, logicamente após a remoção dos terceiros mola-
81
res. As Figuras 25 a 26 demonstram o transcorrer da mecânica de
retração inferior, após 12 meses de tratamento. Pode-se observar
uma excelente relação posterior de molares e caninos no lado
direito (Fig. 23). Percebe-se, ainda, que existe um pequeno desvio
de linha média inferior para a direita e que o lado esquerdo da
oclusão ainda requer um pouco mais de retração inferior, no senti-
29 do de corrigir a discrepância de Classe III (Fig. 24). Desse modo,
as Figuras 27 a 29 exibem, 15 meses após o início do tratamento,
a mecânica de retração assimétrica no lado esquerdo, no intuito
de corrigir a linha média e a relação molar e de caninos. Além
disso, adaptou-se arcos de aço braided 0,019” x 0,025” associa-
dos aos elásticos verticais 1/8” na região de caninos, para iniciar
o processo de finalização do caso. Pode-se notar, por meio das
32 Figuras 30 a 32, que o arco superior foi segmentado na distal dos
caninos, para facilitar o engrenamento e a intercuspidação dentá-
ria. Em tempo, no lado esquerdo utilizou-se um elástico adaptado
da lingual do canino inferior, por meio de gancho, até a região de
canino e primeiro pré-molar, no sentido de favorecer uma melhor
relação transversal desses dentes.

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36 37 38

RESULTADOS DO TRATAMENTO paciente foram dentolaveolares. A análise cefalomé-


As Figuras 33 a 35 demonstram os resultados trica revelou que os incisivos superiores e inferiores
obtidos após 16 meses de tratamento. A análise da sofreram retrusão em relação à base óssea. A pro-
telerradiografia em norma lateral, pré-remoção do vável explicação para a retrusão dos incisivos su-
aparelho, revelou que não houve alterações esque- periores ocorrida no paciente seria a ausência de
léticas decorrentes da mecânica empregada. Por uso de elástico com vetor de Classe III, uma vez
meio da Tabela 2, verifica-se que a relação esquelé- que em nenhum momento utilizou-se essa mecânica.
tica maxilomandibular mostrou-se imutável, fato que Além disso, uma leve extrusão dos incisivos superio-
comprova que as maiores alterações advindas do res ocorreu, o que permitiu fechar a mordida aberta
tratamento compensatório da Classe III no presente anterior. Portanto, a retrusão e lingualização dos

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Tabela 2: Análise cefalométrica pós-tratamento.


Figura 33-34: Telerradiografia
em norma lateral e radiografia
SNA 780
panorâmica (pré-finalização),
SNB 780 denotando os resultados
ANB 00 obtidos após 16 meses de
tratamento.
Sn.GoMe 240
1-NA 4mm Figura 35: Sobreposição na

1-SN 107 0 linha Sela-Násio, centrada


em Násio, dos traçados
1-GoMe 820 cefalométricos pré- e pós-
1-NB 2,5mm mecânica de retração inferior.
Traçado inicial em preto e
Ls-E -2,5mm
final de retração em verde.
35 Li-E -6mm
Figura 36-43: Resultado
final de tratamento, após
17 meses. A análise facial
frontal e lateral revela,
praticamente, poucas
alterações ocorridas do início
para o final do tratamento,
com pequena retrusão
39 40 41 dos lábios decorrente da
lingualização dos incisivos.
Indubitavelmente, a análise
83
do sorriso mostra uma
melhora no arco do sorriso,
que era plano e agora se
mostra paralelo.

42 43

incisivos inferiores já era esperada, em função da re- As Figuras 36 a 43 demonstram o resultado final de
tração total dos dentes inferiores com ancoragem es- tratamento, com tempo total de 17 meses. A análise
quelética. A sobreposição na base do crânio (SN) facial frontal e lateral revelou, praticamente, poucas
apresentada na Figura 35 denota os efeitos oriundos alterações ocorridas do início para o final de trata-
da mecânica. Nota-se que toda a arcada inferior foi mento, com pequena retrusão dos lábios, decorren-
distalizada, especialmente os molares inferiores. Por te da lingualização dos incisivos. Indubitavelmente,
meio da radiografia panorâmica pré-remoção do a análise do sorriso mostra uma melhora no arco do
aparelho (Fig. 34), é possível notar um bom para- sorriso, agora paralelo. As maiores alterações visua-
lelismo radicular dos dentes anteriores, assim como lizadas ocorreram no ajuste da relação sagital de
a posição mais verticalizada dos molares inferiores. molares e caninos, bem como no overjet e overbite.

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Figura 44-45: Teleradiografia em norma lateral e radiografia panorâmica ao final do tratamento.

DISCUSSÃO sabe a respeito dos prováveis efeitos dentários ao se


84
O presente caso clínico ilustrou uma mecâ- camuflar esse tipo de má oclusão.
nica compensatória para a correção da Classe A avaliação cefalométrica da resposta dos
III esquelética em um paciente no final do pe- incisivos inferiores no presente caso denotou que
ríodo da adolescência e com bom perfil facial. esses sofreram lingualização e retração na base
A análise da face é um dos principais recursos de óssea, visto que a grandeza 1-GoMe alterou-se
diagnóstico para a determinação e escolha do de 870 para 820 e a medida 1-NB saiu de 4mm
protocolo de compensação a ser instituído. Desse para 2,5mm. A utilização de ancoragem esqueléti-
modo, a compreensão adequada do processo ca permite corrigir efetivamente discrepâncias den-
de compensação é absolutamente determinante tárias. Além disso, é sabido que, comparada ao
na escolha dos procedimentos adequados, após elástico de Classe III, a utilização de ancoragem
definir-se a meta terapêutica. esquelética pode evitar a vestibularização dos in-
Em geral, o tratamento compensatório para uma cisivos superiores11,12. No presente caso, máxima
má oclusão de Classe III esquelética deve ser inicia- retração dos incisivos inferiores foi obtida sem, con-
do pela arcada superior — para servir de ancoragem tudo, aumentar ou piorar as condições de perfil
interarcadas, ao se iniciar o tratamento na arcada facial no terço superior.
inferior. Estudos clínicos de camuflagem da Classe III Com relação aos incisivos superiores, obteve-se
mostram um aumento no ângulo ANB, pouca ou ne- uma alteração do 1-NA de 5,5mm para 4mm e
nhuma alteração na dimensão vertical e diminuição do 1-SN de 1120 para 1070. Essa lingualização,
na concavidade da face14,15. No entanto, pouco se também observada nos incisivos superiores, reflete

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exatamente a modificação nos incisivos inferiores A maior limitação dessa mecânica de distaliza-
e na correção da mordida aberta anterior. Além ção de toda a dentição inferior substancia-se na
da explicação da lingualização dos incisivos su- presença de osso alveolar na região retromolar
periores, ocorrida pelo não uso de elásticos de (distal dos segundos molares inferiores), ou seja,
Classe III, pode-se afirmar ainda que a expansão deve-se observar a distância entre a superfície dis-
transversal da arcada superior ocorreu naturalmen- tal dos segundos molares até o ramo ascendente
te com o uso de arcos de NiTi, mais largos do mandibular. Esse procedimento deve ser realizado
que os convencionais com diagrama ALX (Ortho- por meio da avaliação da radiografia panorâmi-
metric, Marília/SP) — o que, por sua vez, pode ca — como pode-se observar nas Figuras 10 (início
causar esse efeito. Como efeito da movimentação de tratamento) e 33 (pós-distalização). No presen-
dentária, os lábios superior e inferior apresentaram te caso, observou-se a presença de pelo menos
retração significativa de 0,5mm e 2mm, respectiva- 10mm na região retromolar, que corresponde ao
mente; sem, contudo, gerar uma alteração facial diâmetro mesiodistal dos terceiros molares que fo-
negativa, uma vez que o paciente ficou com esté- ram extraídos antes do início da mecânica.
tica agradável. O tratamento ortodôntico compen- Portanto, o movimento ortodôntico de camu-
satório das más oclusões de Classe III esqueléticas flagem em pacientes adolescentes com Classe III
objetiva melhorar as relações oclusais e manter esquelética pode ser empregado no intento de se
as características faciais em indivíduos com face corrigir a relação dentária, bem como melhorar
aceitável. O tratamento ortodôntico compensató- o perfil facial. O uso de ancoragem esquelética
rio nem sempre é possível ou conveniente, e o or- extra-alveolar pode ser uma alternativa ao uso de
todontista precisa executar um correto diagnóstico elásticos de Classe III e outras modalidades de
85
para definir se o caso não requer cirurgia ortogná- compensação, como o uso de miniplacas.
tica. A compensação depende de alguns fatores
como: inclinação no longo eixo e/ou posiciona- CONCLUSÃO
mento anteroposterior dos incisivos; severidade da Pode-se concluir que o uso de mini-implantes
relação sagital maxilomandibular; e julgamento longos (10mm) adaptados na região inferior man-
estético da face do indivíduo, definindo ou não dibular extra-alveolarmente (buccal shelf), como
a viabilidade de sua manutenção. Portanto, o tra- recurso de ancoragem durante a retração da den-
tamento ortodôntico conservador de má oclusão tição inferior, mostrou-se eficaz na camuflagem da
esquelética de Classe III é desafiador. má oclusão de Classe III. A retração da dentição
Deve-se ressaltar, ainda, que a mecânica de com a força sendo direcionada sobre o centro
distalização dos dentes inferiores com ancora- de resistência (Cr) de todos os dentes inferiores
gem extra-alveolar propicia um giro do plano permite o controle da lingualização excessiva dos
oclusal no sentido anti-horário, conforme esque- incisivos, além de beneficiar o controle da inclina-
ma da Figura 21 e a sobreposição da Figura ção dos incisivos superiores para vestibular. Desse
35. Esse efeito é absolutamente favorável, uma modo, essa técnica requer pouca colaboração e
vez que pacientes portadores de Classe III com é particularmente útil para correção de pacientes
mordida aberta anterior se beneficiam dessa Classe III com prognatismo mandibular moderado
abordagem. As Figuras 44 e 45 ilustram as ra- e pouco apinhamento, sendo uma excelente alter-
diografias finais do presente caso clínico. nativa ao uso de mini-placas.

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Almeida MR, Almeida RR, Chang C

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caso clínico

Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de


molares utilizando mini-implantes como ancoragem
Treatment of anterior open bite with molars intrusion using mini-implants as anchorage

Fabricio Pinelli Valarelli*


Juliana Shinnae de Justi**
Claudia Cristina da Silva***
Karina Maria Salvatore de Freitas****
Rodrigo Hermont Cançado*****

Resumo Abstract

Este artigo relata a correção de ancoragem e devido à manei- This article describes the correc- the intruded tooth and on the an-
uma mordida aberta anterior ra como as forças agem sobre o tion of a severe anterior open choring supporters, which in most
severa, com indicação cirúrgica, dente que está sendo intruído bite, with surgical indication, cases are the adjacent teeth  —,
em uma jovem com 18 anos de e sobre os suportes de ancora- in an eighteen-years-old young two mini-implants were used as
idade. Como a paciente apresen- gem, que na maioria dos casos subject. As the patient showed absolute anchorage system. This
tava resistência a intervenções são dentes adjacentes —, foram resistance to more invasive in- decision was made in order to
mais invasivas, optou-se por um utilizados dois mini-implantes terventions, a conservative treat- obtain a better control of the me-
tratamento conservador. A abor- como sistema de ancoragem ment was chosen. The approach chanics. At the end of the treat-
dagem utilizada para conseguir absoluta. Tal decisão ocorreu used to achieve a satisfactory ment the closure of the open bite
um fechamento satisfatório da para obtenção de um melhor closure of the open bite was the was satisfactorily achieved, fully
mordida aberta foi o tratamen- controle da mecânica. Ao final conventional orthodontic treat- meeting the expectations of the
to ortodôntico convencional, do tratamento, o fechamento ment, associated to the intrusion patient, providing a great esthetic
associado à intrusão dos molares da mordida aberta foi alcança- of the maxillary molars. Consid- and functional improvement.
superiores. Considerando-se que do satisfatoriamente, atendendo ering that the intrusion mechanics
a mecânica de intrusão provoca plenamente às expectativas da causes side effects — depending
efeitos colaterais — dependen- paciente e obtendo uma grande on how anchorage is carried out
do da forma como se realiza a melhora estética e funcional. and due to the forces acting on

Palavras-chave: Keywords:
Mordida aberta. Movimentação dentária. Ortodontia corretiva. Open bite. Tooth movement. Corrective orthodontics.

Como citar este artigo: Valarelli FP, Justi JS, Silva CC, Freitas KMS, Cançado RH. Tratamento de * Professor do Curso de Mestrado em Odontologia, área de concentração Ortodon-
mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancora- tia, da Faculdade Ingá, Maringá-PR.
gem. Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 fev-mar;12(1):96-108. ** Especialista em Ortodontia pelo ICOS-CIODONTO, Joinville-SC.
*** Professora do Curso de Especialização em Ortodontia da UNIES, Bauru/SP.
**** Coordenadora do Curso de Mestrado em Odontologia, área de concentração Or-
todontia, da Faculdade Ingá, Maringá-PR.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financei- ***** Professor do Curso de Mestrado em Odontologia, área de concentração Ortodon-
ros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. tia, da Faculdade Ingá, Maringá-PR.

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Valarelli FP, Justi JS, Silva CC, Freitas KMS, Cançado RH

Introdução DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO

A mordida aberta anterior se caracteriza pelo trespasse Diagnóstico


vertical negativo na região anterior das arcadas dentárias, e
pode ser de natureza esquelética ou dentoalveolar. Sua etiolo- A paciente jovem, com 18 anos de idade, procurou aten-
gia é multifatorial e os diversos fatores etiológicos agindo con- dimento na clínica ortodôntica queixando-se da má oclusão
juntamente determinam a severidade dessa má oclusão1. De de mordida aberta anterior e dificuldades na fonação e na
maneira geral, excetuando-se os portadores de displasias ge- apreensão de alimentos. Em exame clínico extrabucal, obser-
néticas ou congênitas, sua etiologia está associada ao padrão vou-se uma face bastante alongada e um perfil bem convexo,
de crescimento facial e à influência de hábitos deletérios1,2. denotando o padrão vertical. A jovem não apresentava sela-
Em indivíduos adultos, o tratamento dessa má oclusão re- mento labial e desenvolvia uma musculatura peribucal e men-
presenta um grande desafio para o ortodontista, tanto para o tal hipertônica (Fig. 1). Analisando o perfil, observou-se que
fechamento da mordida aberta anterior quanto para a esta- o ângulo nasolabial era aberto e que o mento mostrava-se
bilidade dos resultados ao final do tratamento3,4,5. Nesses pa- retruído em função do giro da mandíbula no sentido horário.
cientes, o tratamento ortopédico apresenta grande limitação Após exame intrabucal, foi constatada a presença de uma
por causa da ausência do potencial de crescimento, sugerin- mordida aberta anterior de 3mm, que se estendia do segun-
do-se, desse modo, que o tratamento seja realizado principal- do pré-molar do lado esquerdo ao segundo pré-molar do lado
mente pela cirurgia ortognática ou, em casos menos severos, direito. Além dessa característica, formavam-se dois planos
pela camuflagem ortodôntica (compensação dentária)6. oclusais divergentes, caracterizando sua origem esquelética1,2.
Por diversas vezes, o tratamento ortodôntico-cirúrgico Observou-se uma boa relação anteroposterior entre as arcadas,
dessa má oclusão não é aceito pelo paciente e a compensa- demonstrada pela Classe I bilateral (Fig. 2). Em vista oclusal,
ção dentária torna-se a única opção para melhorar a função verificou-se um apinhamento suave na região anterior (Fig. 3).
mastigatória, a estética das arcadas dentárias e a harmonia do Pela análise da telerradiografia, foi confirmado que a
sorriso7,8. Recentemente, diversos autores têm se preocupado paciente apresentava, ao início do tratamento, um padrão
em preconizar protocolos não-cirúrgicos para o tratamento facial extremamente vertical, avaliado pelas variáveis FMA,
da mordida aberta anterior na dentadura permanente5,9-13. SN.Go.Gn, SN.PlOcl e AFAI (Tab. 1). Além disso, notava-se
As extrações dentárias, principalmente de pré-molares e os incisivos superiores bastante inclinados para a palatina
molares, demonstram grande efetividade na correção des- (variável IS.NA), os incisivos inferiores acentuadamente ves-
sa má oclusão, aumentando a estabilidade do tratamen- tibularizados (variáveis II.NB e IMPA) e o ângulo nasolabial
to, quando comparado a casos sem extrações. Entretanto, excessivamente aberto (Fig. 4).
quando o perfil do paciente se apresenta reto ou côncavo ao Na radiografia panorâmica, observou-se a ausência dos
início do tratamento, as extrações dentárias e consequente terceiros molares e o aspecto normal dos dentes e estruturas
retração dos lábios superiores e inferiores, durante o trata- adjacentes. Notou-se a presença de dilacerações radiculares
mento, podem causar grandes alterações do perfil, propor- (dentes 14, 15, 24 e 25), as quais não influenciaram no pro-
cionando um aspecto facial desagradável7. pósito do tratamento. Nenhum outro detalhe que pudesse
A intrusão real dos molares superiores por meio de anco- dificultar ou interferir no tratamento foi encontrado (Fig. 5).
ragem absoluta realizada em miniplacas ou mini-implantes
posicionados na região posterior da arcada dentária se cons-
titui em uma abordagem contemporânea para o tratamento Alternativas de tratamento
da mordida aberta anterior na dentadura permanente11,13-16.
Esse tipo de procedimento pode ser instituído como alterna- Após o diagnóstico da má oclusão de mordida aberta an-
tiva para pacientes que não desejam se submeter ao proce- terior esquelética, foi exposto para a paciente que a primei-
dimento ortodôntico associado à cirurgia ortognática ou que ra opção de tratamento seria a correção da má oclusão por
possam sofrer alterações significativas do perfil caso realizem meio da Ortodontia associada à cirurgia ortognática. Desse
extrações dentárias. modo, o tratamento cirúrgico por impacção e avanço da ma-
Assim, o objetivo desse trabalho é relatar o tratamento, xila, juntamente com o avanço mandibular e a mentoplastia,
sem extração, da mordida aberta anterior de origem esque- seria o tratamento de eleição. Essa alternativa de tratamento
lética em paciente adulto, por meio de mini-implantes para a foi baseada no propósito de melhorar a harmonia da face,
intrusão real dos molares superiores. permitindo um maior selamento labial em repouso.

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Caso Clínico Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancoragem

Entretanto, a paciente rejeitou a opção cirúrgica por moti- associada a instalação de um mini-implante entre as raízes
vos financeiros e por considerar o procedimento extremamen- de molares e pré-molares em cada lado da região posterior
te invasivo. Segundo a paciente, não havia queixa estética da da maxila. Esse procedimento objetivava, principalmente, a
face que justificasse a realização do procedimento cirúrgico. correção da mordida aberta anterior, melhorando a função
Desse modo, a paciente fez a opção pelo tratamento mastigatória. Consciente dos benefícios e limitações do tra-
ortodôntico compensatório, visando a intrusão dos molares tamento, a paciente aceitou a opção de tratamento pela ca-
superiores. Para aumentar a eficiência dos resultados, foi muflagem ortodôntica.

Tabela 1 Alterações das variáveis cefalométricas durante o tratamento ortodôntico e fase de controle.

Variáveis Inicial Final Controle


Componente Maxilar
SNA (graus) 77,1 76,5 76,0
Co-A (mm) 91,3 91,2 91,7
Componente Mandibular
SNB (graus) 67,9 68,4 67,7
Co-Gn(mm) 118,9 119,7 119,6
Relação Maxilomandibular
ANB (graus) 9,2 8,1 8,4
Wits (mm) 7,4 2,8 3,8
Componente Vertical
FMA (graus) 35,6 34,7 33,7
SN.Go.Gn (graus) 45,1 45,0 45,5
SN.PlOcl (graus) 25,2 29,4 28,5
AFAI (mm) 85,8 82,9 83,1
Componente dentoalveolar superior
IS.NA (graus) 17,3 16,9 18,1
IS-NA (mm) 1,4 1,1 1,0
IS-PP (mm) 34,1 33,9 33,5
MS (centroide)-PP (mm) 23,6 20,6 21,5
MS (centroide).SN (graus) 69,2 67,0 68,9
Componente dentoalveolar inferior
II.NB (graus) 42,3 31,0 32,4
IMPA (graus) 106,2 94,6 97,3
II-NB (mm) 14,5 12,0 12,5
II-GoMe (mm) 37,7 42,7 41,5
MI (centroide)-GoMe (mm) 38,3 41,2 41,0
Relação dentária
Relação molar (mm) - 1,1 - 1,7 - 2,1
Sobressaliência (mm) 2,0 3,0 2,9
Sobremordida (mm) - 2,9 3,1 2,7
Perfil tegumentar
Ls-plano E (mm) - 4,1 - 3,5 - 3,5
Li-plano E (mm) 0,9 3,7 2,3
ANL (graus) 135,8 124,9 125,3
Ls-Linha S (mm) - 1,7 - 0,6 - 0,7
Li-Linha S (mm) 2,6 5,3 4,0

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Valarelli FP, Justi JS, Silva CC, Freitas KMS, Cançado RH

Figura 1 Fotografias extrabucais ao início do tratamento.

Figura 2 Fotografias intrabucais frontal e laterais ao início do tratamento.

Figura 3 Fotografias intrabucais oclusais ao


início do tratamento.

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Caso Clínico Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancoragem

Figura 4 Telerradiografia em norma lateral ao Figura 5 Radiografia panorâmica ao início do tratamento.


início do tratamento.

Desenvolvimento clínico Cinco meses após o início da intrusão, a barra trans-


palatina começou a comprimir o tecido mole do palato.
Foram colados, nas arcadas superior e inferior, braquetes Por esse motivo, foi realizada a remoção desse acessó-
prescrição Roth 0,022”  x  0,028”, e utilizou-se a mecânica do rio  (Fig.  10). A grade palatina foi mantida por mais dois
arco reto (Fig. 6). Simultaneamente, instalou-se uma barra trans- meses, quando foi substituída por esporões na face palati-
palatina associada a uma grade palatina, visando minimizar a na dos incisivos superiores (Fig. 11).
vestibularização dos molares a serem intruídos, além de impedir Após essa fase, ainda durante o período de intrusão,
a interposição lingual e otimizar a mecânica ortodôntica (Fig. 7). um torque lingual no fio 0,019” x 0,025” de aço foi re-
Logo ao início do tratamento ortodôntico, foram insta- alizado na região de molares superiores, bilateralmente
lados dois mini-implantes 1,6mm x 8mm com perfil trans- (Fig. 12). A finalidade desse torque foi controlar o efei-
mucoso de 1mm na região vestibular, entre as raízes dos to indesejado de vestibularização dos molares durante o
segundos pré-molares e primeiros molares superiores. An- período de intrusão.
tes disso, avaliou-se o espaço disponível entre os dentes A mecânica de intrusão dos molares permaneceu ativa
posterossuperiores, para uma escolha adequada do sítio de até o fechamento da mordida aberta anterior. Nesse mo-
inserção dos mini-implantes (Fig. 8). A ancoragem absoluta mento, foram adicionados elásticos intermaxilares (3/16” de
objetivava, principalmente, a intrusão dos dentes posteroa- força média) na região de caninos para a sobrecorreção do
superiores (Fig. 6, 7). O alinhamento e o nivelamento foram trespasse positivo na região anterior (Fig. 13).
efetuados por uma sequência de fios NiTi superelásticos, Doze meses foram necessários para que se conseguis-
do 0,014” ao 0,020”. se a intrusão suficiente dos molares para o fechamento da
A força de intrusão foi realizada por meio de elástico cor- mordida aberta anterior. Após a finalização do tratamento,
rente posicionado nos tubos dos primeiros e segundos mo- o aparelho foi removido e uma contenção 3x3 foi instalada
lares superiores, e ancorada nos mini-implantes previamente nos dentes anteroinferiores. Para os dentes superiores, foi
instalados (Fig. 9). A força aplicada dos mini-implantes aos confeccionada uma placa de Hawley com um orifício na
molares foi de 100g de cada lado. O elástico corrente foi região da papila incisiva. O orifício tem como função ree-
substituído a cada 30 dias, durante as consultas de manuten- ducar a postura da língua, evitando sua interposição entre
ção do aparelho ortodôntico. os dentes anteriores durante a fala e deglutição (Fig. 14).

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Valarelli FP, Justi JS, Silva CC, Freitas KMS, Cançado RH

Figura 6 Aparelho fixo com grade palatina e intrusão dos molares superiores por meio de mini-implantes.

Figura 7 Barra transpalatina associada à grade Figura 8 Radiografias periapicais para avaliação do sítio de inserção dos mini-implantes.
palatina fixa.

Figura 9 Elástico corrente passando pelos tubos dos molares e ancorando-se no mini-implante.

Figura 10 Fotografias oclusais durante o tratamento: barra transpalatina comprimindo o palato, remoção do acessório e a lesão provocada por
essa compressão.

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Caso Clínico Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancoragem

Figura 11 Esporões colados às faces palatinas dos incisivos superiores.

Figura 12 Efeito do torque lingual conferido ao fio na região posterior.

Figura 13 Elásticos intermaxilares para a sobrecorreção do trespasse positivo.

Figura 14 Placa de Hawley com orifício recordatório e contenção 3x3.

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Resultados do tratamento apresentaram verticalização significativa, observada pelas va-


riáveis II.NB e IMPA. Além da verticalização, também apre-
O aparelho foi removido após um período de dois anos sentaram pequena retração (II-NB) e extrusão (II-GoMe). Os
e dois meses de tratamento. Os componentes esqueléticos, molares inferiores mostraram extrusão durante o tratamento
maxilar e mandibular não sofreram alterações, assim como a (MI_(centroide)-GoMe) (Fig. 15C).
relação entre a maxila e a mandíbula. O componente vertical No componente de relação dentária, a variável que sofreu
sofreu sensível diminuição, verificada pelas variáveis FMA, maior alteração foi a sobremordida, que variou de -2,9mm para
SN.PlOcl e AFAI (Tab. 1, Fig. 15A). 3,1mm. O perfil tegumentar sofreu variação pela suave protru-
Em relação aos componentes dentoalveolares, os incisi- são dos lábios superiores (Ls-plano E e Ls-linha S) e lábios in-
vos superiores não sofreram grandes alterações. Já os primei- feriores (Li-plano E e Li-linha S), além da diminuição do ângulo
ros molares superiores sofreram uma intrusão real de 3mm nasolabial (ANL) (Fig. 15A). De uma forma geral, o tratamento
durante o período de tratamento, verificada pela variável ortodôntico promoveu aumento da função mastigatória, com
MS_(centroide)-PP e mínimo movimento de angulação me- melhora da estética facial devida ao bom posicionamento dos
siodistal (MS_(centroide).SN) (Fig. 15B). Os incisivos inferiores dentes na arcada e harmonia do sorriso (Fig. 16, 17, 18, Tab. 1).

Figura 15 Sobreposições dos traçados ini-


cial  (preto) e final (verde): A) base do crâ-
nio  S-N, B) Plano palatino (ENA-ENP), C) so-
A C breposição em plano mandibular (GoMe).

Figura 16 Fotografias extrabucais imediata-


mente após a remoção do aparelho.

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Caso Clínico Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancoragem

Figura 17 Fotografias intrabucais imediatamente no final do tratamento.

Figura 18 Fotografias intrabucais oclusais imediatamente no final do tratamento.

Figura 19 Radiografia panorâmica ao final do tratamento. Figura 20 Telerradiografia em norma lateral


ao final do tratamento.

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Um ano após o término do tratamento, a paciente retor- Houve uma pequena recidiva, de 0,9mm, da intrusão
nou ao consultório para o controle dos resultados obtidos dos molares superiores obtida durante a fase de tratamen-
com o tratamento ortodôntico e verificação dos aparatos de to, verificada pela variável MS_(centroide)-PP, a qual não re-
contenção. Foram realizados novos exames radiográficos e sultou em alterações significativas no trespasse vertical na
observou-se a grande estabilidade dos resultados conse- fase de controle. As demais variáveis estudadas permane-
guidos durante a fase de tratamento (Fig. 21, 22). ceram sem alterações evidentes (Fig. 23).

Figura 21 Fotografias extrabucais 1 ano após


o término do tratamento.

Figura 22 Fotografias extrabucais 1 ano após


o término do tratamento.

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Caso Clínico Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancoragem

Figura 23 Sobreposições dos traçados ini-


cial  (preto), final (verde) e controle (verme-
lho): A) base do crânio S-N, B) Plano Pala-
tino  (ENA-ENP), C) sobreposição em plano
A C mandibular (GoMe).

DISCUSSÃO Entre as opções de dispositivos de ancoragem absoluta


para a intrusão dos molares superiores, as miniplacas de ti-
As más oclusões de mordida aberta anterior esquelética tânio instaladas no zigomático se apresentam como método
de pacientes adultos, em grande parte, levam o ortodontista efetivo, produzindo resultados bastante satisfatórios20. En-
a estabelecer um plano de tratamento ortodôntico associa- tretanto, para a realização da ancoragem apoiada em mini-
do à cirurgia ortognática, seja pelo fator estético envolven- placas, o paciente precisa ser submetido a uma intervenção
do a face, seja pela severidade da discrepância observada cirúrgica no momento de sua instalação e outra no momento
na má oclusão do paciente. No entanto, em grande parte de sua remoção, além do custo relativamente alto, quando
das vezes, a resistência apresentada por esses pacientes a comparadas aos mini-implantes. Os mini-implantes orto-
tratamentos que dependam de intervenções cirúrgicas, em dônticos autoperfurantes, além de promoverem resultados
ambiente hospitalar, tem levado os ortodontistas a optar bastante satisfatórios, ainda apresentam relativas vantagens
pela camuflagem ortodôntica por meio das compensações sobre as miniplacas, como: o baixo custo, a simplicidade do
dentárias, com o objetivo de mascarar as discrepâncias es- ato de instalação e remoção, a viabilidade de mais sítios de
queléticas presentes17. inserção, a facilidade de higienização, a possibilidade de car-
É possível, em casos específicos, quando o comprome- ga imediata e um ótimo conforto ao paciente14,21. Segundo
timento ósseo e a estética facial não representam a maior Brandão e Mucha22, a porcentagem de pacientes ortodônti-
queixa do paciente, realizar procedimentos que visam o tra- cos satisfeitos com os mini-implantes é de 90%.
tamento compensatório, como é o caso das extrações den- Em relação aos resultados alcançados com a mecânica
tárias para a correção da mordida aberta anterior18. As ex- de intrusão, verificou-se que os primeiros molares superiores
trações dentárias facilitam o fechamento da mordida aberta do presente caso clínico apresentaram intrusão real de 3mm
anterior, principalmente pelos movimentos de retração e observada pela variável MS_(centroide)-PP. Xun et al.14 obti-
verticalização observados pelos dentes anteriores durante veram média de 1,8mm de intrusão dos primeiros molares
o fechamento dos espaços12. Entretanto, quando o paciente superiores com ancoragem em mini-implantes.
se recusa a fazer extrações dentárias, ou mesmo quando A intrusão dos molares superiores proporcionou a giro-
seu perfil é desfavorável para essa conduta terapêutica, ou- versão da mandíbula no sentido anti-horário, promovendo
tras opções podem ser utilizadas com taxa semelhante de a diminuição da AFAI em 2,9mm, além mostrar suave altera-
sucesso, como desgastes oclusais de dentes posteriores19 ção do componente vertical, observada pela variável FMA
ou a intrusão de molares superiores por meio de ancora- durante o período de tratamento. Sugawara et al.23 já ha-
gem absoluta13,14. viam descrito as mesmas alterações, observando a intrusão

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Valarelli FP, Justi JS, Silva CC, Freitas KMS, Cançado RH

de molares ancorada em mini-placas. Também Sherwood et Os incisivos inferiores apresentaram grande verticalização
al.24 e Erverdi et al.25 verificaram a rotação do plano oclusal (II.NB e IMPA), extrusão (II-GoMe) e suave retração (II-NB).
no sentido horário, a rotação da mandíbula no sentido anti- Os molares inferiores sofreram extrusão (MI_(centroide)-
-horário e a consequente diminuição da AFAI, em estudos -GoMe). Todas essas alterações já eram esperadas median-
semelhantes, com intrusão de molares superiores por meio te a giroversão da mandíbula, e consequentemente dos
de miniplacas. A variável SN.PlOcl sofreu aumento de 4,4°, dentes inferiores, no sentido anti-horário, além dos desgas-
que ocorreu por causa da giroversão do plano oclusal no tes interproximais realizados para diminuição da pequena
sentido horário mediante a intrusão dos molares superio- discrepância de modelo existente ao início do tratamento.
res14. Em relação ao movimento de intrusão dos molares su- Ademais, a utilização de elásticos intermaxilares verticais
periores, é importante salientar que esses dentes sofreram na região anterior promoveu a extrusão e lingualização dos
mínima angulação para a distal, verificada pela alteração na incisivos superiores e inferiores, o que foi favorável para a
variável MS_(centroide).SN, o que denota que a alteração correção da mordida aberta anterior, em conjunto com a
na variável MS_(centroide)-PP foi realmente proporcionada intrusão dos dentes posterossuperiores14.
pela intrusão real dos molares, e não apenas por uma rota- A sobremordida foi a variável que sofreu maior alteração
ção para a distal da coroa desses dentes. durante o tratamento (início: -2,9mm / final: 3,1mm). Essa al-
Um fator pouco evidenciado na literatura e de grande im- teração de 6mm foi causada, principalmente, pela intrusão
portância durante o movimento de intrusão dos molares é a dos molares superiores, que possibilitou a giroversão da
tendência de inclinação vestibular desses dentes. Alguns au- mandíbula no sentido anti-horário, juntamente com a extru-
tores desenvolveram acessórios específicos para auxiliar na são dos dentes anteriores causada pela utilização dos elásti-
mecânica de intrusão, como Erverdi et al.20, que preconiza- cos intermaxilares nessa região14,15,21,25.
ram uma placa de acrílico recobrindo os dentes posteriores e Dessa forma, o principal objetivo do tratamento para
ancorando-a em mini-placas de titânio, ou Hernandez et al.26, a paciente em questão foi atingido. Ademais, para a ob-
que desenvolveram um parafuso de titânio que atravessa a tenção plena do sucesso do tratamento dessa paciente,
cortical óssea de vestibular a palatino na região posterior da espera-se, além da correção do trespasse vertical negativo
maxila. Ambos visam minimizar o efeito colateral de vestibu- na região anterior ao término do tratamento, também uma
larização do molar, resultante da mecânica de intrusão. Para boa estabilidade dos resultados. Segundo Baek et al.28, a
o caso clínico relatado no presente artigo, optou-se pela uti- grande maioria dos casos de mordida aberta anterior tra-
lização de uma barra transpalatina nos primeiros momentos tados com intrusão de molares por meio de ancoragem
do tratamento, seguida da aplicação de torque palatino no esquelética apresenta recidivas durante o primeiro ano
fio ortodôntico 0,019” x 0,025” de aço, realizado na região após sua finalização. No presente caso clínico, o trespasse
dos molares superiores. Segundo Park et al.21, a barra trans- vertical apresentou recidiva irrelevante de 0,4mm após 1
palatina pode ser substituída por mini-implantes inseridos na ano de controle, demonstrando a grande estabilidade da
região palatina ou, em pacientes que passaram por uma pré- correção conseguida durante a fase ativa do tratamento.
via expansão rápida da maxila (ERM), o aparelho expansor Além disso, especula-se que a utilização de contenções
pode ser mantido com a mesma finalidade. funcionais, como a placa de acrílico utilizada pela paciente
Em relação à recidiva do movimento de intrusão ocorri- em questão, após o tratamento, possa aumentar a estabi-
da com os molares superiores, a quantidade é pequena27. lidade dos resultados28.
Contudo, os molares superiores, no caso clínico em questão,
apresentaram recidiva de 0,9mm 1 ano após o final do tra-
tamento, ou seja, aproximadamente 30% da intrusão obtida Conclusão
durante o tratamento. Sugawara et al.23 também relataram re-
cidiva de aproximadamente 30% do movimento de intrusão O tratamento sem extração da mordida aberta anterior
dos molares. Por esse motivo, Park et al.21 sugerem a sobre- de origem esquelética em paciente adulto, por meio de
correção do movimento intrusivo dos molares como um dos mini-implantes, mostrou a ocorrência de uma intrusão real
principais fatores na estabilidade da correção da mordida dos molares superiores. Dessa forma, a correção da mordida
aberta anterior por meio de mini-implantes. aberta foi facilitada, obtendo-se resultados estéticos e fun-
Observa-se, no presente caso clínico, que diferentemente cionais. Um ano após o tratamento, mesmo com uma peque-
do comportamento observado pelos incisivos superiores, o na recidiva da intrusão dos molares superiores, a oclusão se
componente dentoalveolar inferior sofreu alterações nítidas. manteve estável e a mordida permaneceu fechada.

Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 fev-mar;12(1):96-108 107


Caso Clínico Tratamento de mordida aberta anterior com intrusão de molares utilizando mini-implantes como ancoragem

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Endereço para correspondência


Karina Maria Salvatore de Freitas
Rua Jamil Gebara,125 apto 111 – 17.017-150 – Bauru/SP
E-mail: kmsf@uol.com.br

108 Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 fev-mar;12(1):96-108


artigo inédito

Palato: o que saber previamente à instalação


de mini-implantes?
Palate: What to know before mini-implant’s placement?

Matheus Alves JR*


Carolina Baratieri*
Mariana Marquezan*
Lincoln Issamu Nojima**
Maria Christina Thomé Pacheco***
Mônica Tirre de Souza Araújo****

Resumo Abstract

A região do palato é um dos ao comprometimento da téc- The palatal area is one of the descriptions of the palatal area
locais mais favoráveis para a nica e do tratamento. Descri- most favorable sites for the instal- are scarce in the literature, even
instalação de mini-implantes. ções pormenorizadas da região lation of mini-implants. Factors in anatomy books. Seeking to fill
Fatores como fácil acessibilida- palatina são escassas na litera- such as easy accessibility, total this gap, this paper describes in
de, cobertura total de gengiva tura, até mesmo em livros de coverage with keratinized gingiva details the palatal region, high-
queratinizada e boa qualidade anatomia. Buscando preencher and bone quality at specific sites lighting areas of greater or small-
óssea em sítios específicos con- essa lacuna, o presente trabalho help to reduce inflammation risk er bone thickness, mucosal thick-
tribuem para a redução do risco descreve detalhadamente a re- and increase primary stability. ness, position and path of nerves,
de inflamação e aumento da gião palatina, destacando áreas However, the presence of ves- vessels and foramen, highlighting
estabilidade primária. No en- de maior ou menor espessura sels, nerves and foramen on this the most suitable sites for mini-
tanto, a presença de vasos, ner- óssea, espessura de mucosa, po- area, demands special attention implants placement.
vos e forames demanda grande sição e trajeto de nervos, vasos on mini-implants placement.
atenção no momento da insta- e forames, destacando os locais Injuries on these structures can
lação desses dispositivos. Lesões mais indicados para a instala- lead to the impairment of tech-
nestas estruturas podem levar ção desses dispositivos. nique and treatment. Detailed

Palavras-chave: Keywords:
Palato. Procedimentos de ancoragem ortodôntica. Anatomia. Palate. Orthodontic anchorage procedures. Anatomy.

Como citar este artigo: Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, * Doutorando em Ortodontia na Faculdade de Odontologia da Universidade Fede-
Araújo MTS. Palato: o que saber previamente à instalação de mini-implantes? Rev Clín Ortod ral do Rio de Janeiro.
Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14. ** Professor Associado do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financei- *** Professora Associada do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odonto-
ros que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. logia da Universidade Federal do Espírito Santo.
**** Professor Associado do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontolo-
gia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

108 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14


Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, Araújo MTS

Introdução diâmetro de 3,3mm, comprimento de 4 a 6mm e uma canaleta


na cabeça do implante pela qual passava o fio de uma barra
O aumento de pacientes adultos que procuram por trata- transpalatina própria para reforçar a ancoragem dos dentes
mento ortodôntico, aliado à falta de colaboração em relação posteriores. Entretanto, esse sistema possuía a desvantagem de
ao uso de dispositivos extrabucais e à necessidade de contro- osseointegrar-se, o que requeria 3 meses previamente à aplica-
le da ancoragem pelo ortodontista, fizeram com que os mini- ção da força para sua cicatrização, além de sua difícil remoção8.
-implantes e demais dispositivos temporários de ancoragem O constante aperfeiçoamento do desenho e a redução no ta-
(DTA) ganhassem destaque em meados da década de 90. manho dos mini-implantes permitiram sua instalação também no
Existem no mercado diferentes desenhos e tamanhos palato a partir do ano 2000. Suas principais vantagens em relação
de mini-implantes, sendo que a escolha do dispositivo mais aos outros sistemas descritos anteriormente são o tamanho redu-
adequado é dependente do conhecimento que o ortodon- zido, baixo custo, técnica cirúrgica simples para inserção e remo-
tista tem da anatomia da região. Fatores como a espessura ção, além da ausência de incisão da mucosa5. A maior vantagem,
óssea, espessura gengival e localização de estruturas nobres, no entanto, é a aplicação de força imediata, conferida por meio
tais como vasos e nervos, devem ser considerados durante da estabilidade primária9. O palato é a região de escolha para
a escolha do mini-implante e planejamento de sua inserção. a instalação de mini-implantes quando se deseja realizar movi-
A área do palato é, provavelmente, a mais favorável para mentos anteroposteriores de pré-molares e molares10, intrusão
instalação desses dispositivos, devido à fácil acessibilidade e de dentes maxilares11 ou tracionamento de dentes impactados12.
presença de tecido queratinizado em toda sua extensão1. O ris- Além da ancoragem para o movimento dentário, mais recente-
co de lesão de estruturas anatômicas importantes é pequeno, mente os mini-implantes têm sido utilizados como ancoragem
desde que se conheça a localização dos forames da região (in- para a movimentação esquelética e abertura de sutura13,14,15.
cisivo e palatinos), assim como a trajetória de seus vasos e ner-
vos. As regiões mediana e paramedianas do palato são consti-
tuídas por osso cortical em espessura e densidade adequadas OBJETIVO
para a instalação de mini-implantes e aplicação de forças orto-
pédicas2. Ainda, a instalação de mini-implantes nessas regiões O objetivo do presente trabalho é descrever a região pa-
tem a vantagem de não interferir na movimentação dentária3. latina como área de inserção de mini-implantes para ancora-
gem ortodôntica, evidenciando a localização de estruturas
importantes como forames, vasos e nervos, assim como as
HISTÓRICO espessuras dos tecidos ósseo e mucoso, destacando os lo-
cais mais indicados para a instalação desses dispositivos.
A introdução dos implantes dentários como recursos de
ancoragem esquelética na Ortodontia ocorreu em meados da
década de 804. Mais tarde, na década de 90, dispositivos especí- ASPECTOS ANATÔMICOS E OS MINI-IMPLANTES
ficos de ancoragem foram criados. Entretanto, foi em 1995 que O tecido ósseo do palato
a ancoragem no palato ganhou ênfase, com a introdução dos
onplants, por Block e Hoffman5. O onplant consistia de um dis- A região palatina da maxila é formada pelo palato duro e
co de liga de titânio com 2mm de altura e 10mm de diâmetro, pelo palato mole. O palato duro é formado pelos processos
tratado e revestido por hidroxiapatita. Sua instalação requeria palatinos direito e esquerdo da maxila, unidos por meio da
abertura de retalho e período de cicatrização de 3 meses, para sutura palatina mediana, e pela lâmina horizontal do osso pa-
osseointegração, previamente à aplicação da força ortodônti- latino de cada lado, unido pela sutura palatina transversa16.
ca. A impossibilidade de aplicação imediata da força, devido à Na região anterior da sutura palatina mediana, encontra-se
ausência de estabilidade primária, foi apontada como uma des- o forame incisivo, pelo qual emergem o nervo nasopalatino
vantagem6. Ainda, em função da osseointegração, sua remoção e a artéria palatina maior. Entre os segundos e terceiros mo-
provocava um defeito ósseo. Em 1997, Kanomi7 introduziu os lares, encontra-se o forame palatino maior (Fig. 1), por onde
mini-implantes, uma variação dos parafusos de fixação cirúrgi- emergem vasos e nervos palatinos maiores16 (Fig. 2). Poste-
ca, porém, esses ainda não eram utilizados na região palatina. riormente aos forames palatinos maiores, encontram-se os
Em 1999, Wehrbein et al.8 lançaram o Orthosystem, um sistema forames palatinos menores, por onde emergem os vasos e
de implante que viria a substituir os onplants. Esse era fixado nervos palatinos menores. A localização, tamanho e forma
no centro do palato, posteriormente à papila incisiva, e possuía desses forames podem variar de acordo com a etnia17.

Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14 109


artigo inédito Palato: o que saber previamente à instalação de mini-implantes?

A espessura óssea da maxila varia de acordo com cada No sentido vertical, de 2 a 8mm acima das cristas margi-
indivíduo e com a região dos dentes avaliados. Esse conheci- nais, a maior quantidade de tecido ósseo se encontra entre o
mento é importante para que haja espessura óssea suficiente segundo pré-molar e o primeiro molar19. Não se recomenda a
para alojar a porção ativa do mini-implante, que possui de 6 a instalação de mini-implantes a partir de 8mm distante da crista
10mm de comprimento e de 1,4 a 2,0mm de diâmetro. marginal, devido à presença dos seios maxilares19 (Fig. 3).
A preocupação com a escolha do correto tamanho do Na área da crista marginal, outra preocupação se refe-
mini-implante, juntamente com a avaliação do local escolhi- re à qualidade do tecido ósseo disponível. As regiões mais
do, se justifica caso o mini-implante seja curto, pois poderá posteriores apresentam osso trabeculado mais poroso e
não conferir a estabilidade desejada para aquela determina- cortical óssea fina (Fig. 4), acarretando a perda de estabili-
da quantidade de força. Na situação inversa, a escolha de dade dos mini-implantes11.
um mini-implante com tamanho maior do que a altura óssea Na sutura palatina mediana e áreas paramedianas, à cerca
disponível poderá ocasionar perfuração do assoalho nasal e, de 6 mm posterior ao forame incisivo, a altura óssea média é su-
consequentemente, comunicação entre as cavidades bucal e perior a 6mm, tanto para homens quanto para mulheres, sendo
nasal1,18. Ambas as situações podem provocar complicações, uma área favorável para a colocação de mini-implantes1. Porém,
incômodo ao paciente e atraso do tratamento. à medida que se caminha para distal, existe a tendência de dimi-
Visando evitar o contato com o canal incisivo, nervo na- nuição dessa altura óssea1. De pré-molares para posterior (cerca
sopalatino e artéria palatina maior, é recomendável evitar a de 12mm distante do forame incisivo) não é indicada a inserção
instalação de mini-implantes na área do forame incisivo e até de mini-implantes, devido à diminuição da altura óssea total nas
3mm posterior a esse. áreas centrais do palato de anterior para posterior1,2,3,20,21,22 (Fig. 5).

A B

Figura 1 Forame palatino maior (círculo bran- Figura 2 Nervo e artéria palatina maiores emergindo do forame palatino maior (tracejado verme-
co) localizado medialmente ao terceiro molar e lho), com trajeto para anterior em direção ao forame incisivo, localizados à cerca de 5 a 15mm
forame incisivo (círculo vermelho). distante do colo cervical dos dentes.

A B

Figura 3 Cortes tomográficos axiais de 2mm (A) e 10mm (B) a partir do colo cervical dos dentes
superiores. A) Boa disponibilidade óssea na região entre segundo pré-molar e primeiro molar
(setas); B) presença do seio maxilar na região correspondente (setas), não sendo adequada para
inserção de mini-implantes.

110 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14


Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, Araújo MTS

No sentido laterolateral do palato, visto em corte coronal, O tecido de recobrimento


o local seguro para a inserção de mini-implantes é a sutura
palatina mediana, devido ao aumento adicional de espessura A mucosa que reveste o palato duro é uma lâmina de muco-
óssea vertical conferido pelo septo nasal ósseo10,23,24. Contudo, periósteo, que é uma mucosa firmemente aderida ao periósteo.
em crianças e adolescentes, a instalação de mini-implantes na O mucoperiósteo do palato apresenta uma rafe mediana, que
sutura deve ser evitada, em razão dessa não estar completa- termina na sua porção anterior em uma saliência lisa e oval deno-
mente ossificada10,20,25. Em tais casos, deve-se dar preferência minada papila incisiva. A papila incisiva recobre o forame incisivo
pela instalação do mini-implante nas áreas paramedianas20, e, junto com ele, o nervo nasopalatino e a artéria palatina maior16.
atentando para a diminuição da espessura óssea total nessa No terço anterior do palato, a mucosa apresenta-se corru-
região à medida que se caminha lateralmente2 (Fig. 6). gada por um verdadeiro sistema de pregas, ou rugas, forte-
Ainda com relação ao tecido ósseo, é recomendável que mente aderidas ao plano ósseo subjacente. Essas pregas são
a espessura de osso cortical seja superior a 1mm, para ga- originárias do tecido conjuntivo denso da submucosa, altamen-
rantir maior estabilidade26. Nas regiões da sutura palatina te fibroso, que reveste o osso, confundindo-se com o periós-
mediana e paramediana, estudos de mapeamento do palato teo; porém, são recobertas apenas pelo epitélio estratificado.
não encontraram áreas com cortical de espessura inferior a Os relevos que o palato apresenta, as rugosidades palatinas,
1mm21,27. Na região palatina entre segundos pré-molares e constituem um conjunto de cristas lineares dispostas de forma
primeiros molares, a cortical óssea será mais espessa quanto semelhante às nervuras de uma folha vegetal, em número variá-
mais próxima da crista marginal, sendo a espessura da cor- vel. Elas se irradiam da papila incisiva e da parte anterior da rafe
tical superior a 1mm na região compreendida entre a crista palatina em direção lateral16. Nessa região a mucosa é espessa,
marginal e um ponto a 10mm dela no sentido vertical23. decrescendo a partir da papila incisiva para posterior (Fig. 7).

A B

Figura 4 Corte vestibulolingual de hemimaxila, na região entre primeiro e segundo pré-molares


(a) e região de primeiro e segundo molares (b). Nota-se o aumento da porosidade e a redução de
espessura da cortical (traços amarelos) na região de molares.

corte sagital corte coronal

Figura 5 Corte sagital na linha média esque- Figura 6 Corte coronal passando entre o se-
lética, demonstrando a diminuição da altura gundo pré-molar e o primeiro molar, ilustrando
óssea total nas áreas centrais do palato, de an- a diminuição da altura óssea total a partir da
terior para posterior. sutura palatina mediana para lateral.

Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14 111


artigo iNédito Palato: o que saber previamente à instalação de mini-implantes?

Sempre que possível, o mini-implante deve ser inserido na Partindo-se da crista marginal, observa-se, também, um au-
gengiva inserida, devido ao maior risco de insucesso da inserção mento na espessura de mucoperiósteo.
em mucosa não queratinizada, quando comparada à mucosa Quanto mais distante do tecido ósseo for o ponto de apli-
queratinizada28. Felizmente, toda a área do palato é recoberta cação da força, maior será a chance de produzir momentos
por tecido queratinizado, o que favorece a instalação de mini- de força e consequentes falhas do mini-implante29. Assim,
-implantes, reduzindo as chances de inflamação peri-implantar1. para evitar grandes momentos de força, as regiões de mu-
O comprimento do mini-implante deve levar em conta cosa espessa, como as localizadas a 6mm lateralmente à su-
também a espessura da mucosa. Quanto mais espessa for tura, devem ser evitadas. Regiões de espessura de gengiva
a mucosa, maior deve ser o perfil transmucoso do mini-im- inserida adequada estão localizadas na sutura23,27, até 3mm
plante selecionado29. lateralmente a essa27 e próximas à crista marginal23 (Fig. 8).
Partindo-se da sutura palatina mediana para lateral (até Na região do terço posterior do palato duro, entre a
6mm, lateralmente), a espessura de tecido mole aumenta27. mucosa e o osso tem início uma camada de glândulas

plano coronal plano sagital

plano coronal plano sagital

plano coronal plano sagital

Figura 7 Cortes coronais (imagens à direita) re-


alizados em diferentes cortes sagitais (imagens
à esquerda) demonstrando o decréscimo na
espessura do tecido ósseo (tracejado amarelo)
e do tecido mole (tracejado azul) à medida que
se caminha posteriormente à papila incisiva:
a) 1mm, b) 3mm e c) 5mm. C

plano sagital

Figura 8 Corte coronal demonstrando a espes-


sura de tecido mole a partir da sutura palatina
mediana e da crista marginal (tracejado amarelo).

112 Rev Clín Ortod Dental Press. 2012 fev-mar;11(1):108-14


Alves Jr. M, Baratieri C, Marquezan M, Nojima LI, Pacheco MCT, Araújo MTS

salivares menores (glândulas palatinas), que se estende As raízes dentárias


ao palato mole. O palato mole diferencia-se do palato
duro através da coloração, que passa de rosa para verme- Devido às suas características e tamanhos diminu-
lho translúcido, e também por meio de sua mobilidade. tos, os mini-implantes são, frequentemente, instalados
O palato mole é composto de tecido fibroso e formado entre as raízes dos dentes, por palatino ou vestibular, o
pelos músculos tensor do véu palatino, levantador do véu que aumenta a probabilidade do contato desses com o
palatino, palatoglosso, palatofaríngeo e músculo da úvu- ligamento periodontal ou com uma raiz durante a instala-
la16. Nessa região não se recomenda a instalação de mini- ção. Contatos com as raízes podem levar à sensibilidade
-implantes, devido à indisponibilidade óssea. dentária, perda do mini-implante31 ou, em alguns casos, a
perfuração e a perda do elemento dentário9. Por esse mo-
tivo, o procedimento de instalação do mini-implante deve
Vascularização e inervação ser realizado apenas sob anestesia mucoperióstea, sendo
que, em caso de contato com o periodonto, a sensibilida-
Dentro da fossa pterigopalatina, a artéria maxilar dá ori- de será relatada pelo paciente e, dessa forma, evitará que
gem à artéria palatina descendente, que desce pelo canal perfurações severas ocorram.
pterigopalatino e emerge no palato pelo forame palatino Levando-se em conta que a espessura aproximada do liga-
maior (Fig. 2) com o nome de artéria palatina maior. A artéria mento periodontal é de 0,25mm, considera-se que um espaço
dirige-se para anterior, num sulco palatino entre as espinhas mínimo de 1mm ao redor do mini-implante deva ser suficiente
palatinas, liberando ramos pelo palato e suprindo mucosa, para manutenção da saúde periodontal e, assim, combinando
glândulas e gengiva palatina, dos dentes até chegar ao canal esse valor com o diâmetro do mini-implante, as zonas seguras
incisivo. Ainda dentro do canal pterigopalatino, pequenas para inserção interradicular podem ser identificadas19.
artérias palatinas menores emergem posteriormente pelos Por palatino, a região próxima às raízes dos dentes com
forames palatinos menores para irrigar o palato mole16. maior disponibilidade óssea é entre o segundo pré-molar
Oriundo da porção maxilar do gânglio trigeminal, o nervo e o primeiro molar19, entre 2 e 8mm acima da crista margi-
palatino desce pelo canal pterigopalatino juntamente com a ar- nal (Fig. 3).
téria palatina maior, emitindo ramos que irão atravessar o forame
palatino maior e dar origem ao nervo palatino maior; e ramos
que vão atravessar os forames palatinos menores e dar origem
aos nervos palatinos menores. O nervo palatino maior emerge
do forame e caminha anteriormente em direção ao forame inci-
sivo, cerca de 5 a 15mm da margem gengival, sendo responsável
pela sensibilidade da mucosa palatina da região de canino até o
limite anterior do palato mole (Fig. 2), que terá sua sensibilidade
recolhida pelos nervos palatinos menores16,18.
A sensibilidade da região anterior ao canino é recolhida
por meio do nervo nasopalatino, que também se origina do
nervo maxilar, percorre o septo nasal em direção inferior e
anterior para atravessar o forame incisivo e caminhar poste-
riormente até a região de canino, quando irá se anastomosar
com o nervo palatino maior16.
O planejamento prévio à colocação dos mini-implantes nes-
sas regiões se faz necessário para evitar injúria ao feixe váscu-
lonervoso. A lesão do feixe nervoso pode provocar parestesia
transitória, necessitando em torno de seis meses para completa
cicatrização. O contato com o nervo por longo período pode le-
var à necessidade de farmacoterapia (corticoides), laserterapia
ou até mesmo microcirurgias30. Devido à importância dessas es-
Figura 9 Desenho esquemático ilustrando em roxo as áreas de maior
truturas na região palatina, a inserção segura de mini-implantes
segurança para inserção de mini-implantes e em laranja as áreas de
deve ser feita lateralmente ao feixe vásculonervoso (Fig. 9). maior risco, por onde passam os feixes vasculonervosos.

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artigo inédito Palato: o que saber previamente à instalação de mini-implantes?

CONCLUSÃO Para assegurar que o sucesso do tratamento seja alcançado,


atenção especial deveria ser dada ao estudo detalhado da
A região palatina é de extrema importância para a anco- área anatômica escolhida e às peculiaridades dessa região.
ragem ortodôntica e sua utilização para colocação de mini- Sabendo que a variação dessa anatomia entre os pacientes é
-implantes tem sido cada vez maior; no entanto falhas na ins- grande, a necessidade de exames radiográficos e tomográfi-
talação desses dispositivos vêm ocorrendo com frequência. cos complementares deve ser considerada.

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