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UMA AVALIAÇÃO DO CULTO

W. Robert Godfrey

A preocupação de Deus com respeito a seu culto deve levar os evangélicos a


uma avaliação muito mais cautelosa de suas práticas de culto. Primeiramente,
os evangélicos precisam reconsiderar os novos elementos introduzidos no
culto. Será que elementos visuais como drama, dança e filme são aceitáveis a
Deus? Não parecem ser coerentes com a aplicação refletida do Segundo
Mandamento. Ao contrário, tem mais semelhança com o fogo estranho
oferecido ao Senhor (Lv 10.1). Deus na Escritura nunca aprovou a criatividade
ou inovação no culto. Como é que os evangélicos tão impensadamente
presumem que Deus aprova as suas novidades?
Esses elementos têm de ser rigorosamente submetidos às Escrituras. A falha
evangélica, de não fazer isso, mostra que a Bíblia não funciona de maneira
central na vida e no modo de pensar de muitos. Não devia haver tantos
evangélicos se contentando com tirar um tema ou ilustração da Escritura, sem
estudar cuidadosamente os detalhes para verificar se estão apresentando uma
verdade coerente e sistemática. Os evangélicos precisam ver que o culto deve
ser orientado pela Palavra nos detalhes específicos, não de maneira geral e
vaga.
Para muitos, a justificativa de sua maneira nova de prestar culto tem raiz na
sua sinceridade. O culto certamente precisa ser sincero para ser aceitável a
Deus. Mas a sinceridade por si só não torna o culto aceitável a Deus. Os
adoradores de Baal nos dias de Elias eram sinceros. Muitos adoradores de
Yahweh em Samaria eram sinceros. Mas Deus rejeitou tal adoração como
violações do Primeiro ou Segundo Mandamento. A sinceridade não justifica a
falsa adoração, como também não justifica a falsa doutrina ou a vida
desobediente.
O culto que é simples e espiritual irá incentivar a vida cristã disciplinada e
coerente. Conduzirá os evangélicos de volta à Bíblia. Esse culto realmente
edificará o corpo de Cristo na doutrina e na vida.
Segundo, os evangélicos devem reexaminar quais as formas em que eles
mudaram os elementos do culto. Os sermões devem voltar a ser
rigorosamente expositivos para que a igreja ouça realmente a Palavra de Deus,
e não opiniões humanas. A exposição da Palavra em sua riqueza irá confrontar
as nossas idéias, valores e maneiras pecaminosas, assegurando que o culto
não seja simplesmente um paliativo confortante. A Bíblia precisa ser lida como
ato central do culto: não apenas para informar, mas como um ato de
reverência e agradecimento a um Deus que se revelou a si mesmo. A oração
deve ser restaurada como privilégio da igreja de falar ao Deus que se aproxima
deles. Os sacramentos devem ser vistos como sendo a bondade do Senhor em
dar expressão visível ao evangelho.

Os elementos históricos do culto refletiam um sentimento da grandeza e


presença de Deus. Os evangélicos podem retomar o culto profundamente
centrado em Deus, e se afastar do seu culto cada vez mais centrado no
homem. Como Calvino escreveu: “Não é uma teologia muito acertada a que
limita tanto os pensamentos da pessoa a si mesma, e não coloca diante dele,
como motivação primária de sua existência, o zelo por ilustrar a glória de
Deus. Pois somos nascidos antes de tudo para Deus, e não para nós mesmos”.
A vida cristã florescerá num contexto em que se cultive um relacionamento
vital com Deus de acordo com sua Palavra. Reunir-se com Deus na verdade
fortalecerá a vida cristã.
Terceiro, os evangélicos devem olhar com cuidado a sua música. A música é a
maneira-chave de expressar a emoção no culto. Mas o culto contemporâneo
por vezes demais se preocupa apenas com a emoção de alegria – e esta de
modo bem superficial. A Bíblia da ênfase à alegria, certamente, mas dá ênfase
igual à reverência. Diz o Salmo 2.11: “Servi ao Senhor com temor e alegrai-
vos nele com tremor”. A reverência e a alegria, ambas, devem ser expressas
no culto.
A alegria e a reverência refletem a natureza de Deus, que é justo e
misericordioso, santo e amoroso. Culto que é apenas alegre é servir a um Deus
despojado da metade de seus atributos. Produz um evangelho que fala de paz
quando não há paz. Divorcia a Lei do evangelho e o arrependimento da fé.
As músicas do culto da igreja devem seguir o modelo do hinário no qual se
louva a natureza de Deus, com amor para com Deus como ele realmente é.
Abastecerá a mente com verdades sobre as quais meditar. Incentivará o povo
de Deus à santidade de vida.
Quarto, muitos evangélicos diminuíram o papel do pastor na liderança do culto
e multiplicaram o número de líderes do culto. São atos alinhados com a cultura
democrática, e freqüentemente justificados apelando-se à doutrina do
sacerdócio de todos os santos. Mas isso muitas vezes torna líderes pessoas
sem a instrução ou experiência devida para a posição. E mais importante, tais
pessoas não receberam um chamado nem foram separadas para essa obra
pelo corpo da igreja.
Os evangélicos precisam reassumir uma teologia de dom e ministério. Uma das
grandes dádivas de Cristo concedidas à sua igreja, de acordo com Efésios 4,
são os dons de pastor e professor. Aqueles que foram dotados e vocacionados
por Cristo e sua igreja precisam dirigir o povo de Deus cuidadosamente em seu
culto em conformidade com a Palavra.
Tal liderança irá ajudar os crentes em toda sua maneira de vida a refletir sobre
a importância das estruturas e autoridades que Deus nomeia. O declínio do
respeito para com as autoridades, quer pais, mestres, empregadores, ou
autoridades do governo, é um problema crucial do nosso tempo. A igreja deve
ser exemplo para a sociedade no seu respeito para com os ministros e
presbíteros que Cristo estabeleceu em sua igreja.
Quinto, os evangélicos vêm mudando o horário do culto para tornar mais fácil
e acessível o culto ao Senhor. Mas será que os evangélicos compreenderam o
chamado do Senhor para que se santifique o Dia do Senhor? Existe um dia do
Senhor na nova aliança – o de Apocalipse 1.10 – e é santificando-o que o povo
de Deus aprende a obedecer e a negar-se a si mesmo. O verdadeiro
Cristianismo não é fácil, mas aceita de bom grado a disciplina e bênção do
descanso e culto no Dia do Senhor. A fé verdadeira fica feliz de passar tempo
com Deus. Aprecia muitíssimo a hora para devoção, aprendizagem e serviço
cristão. Não busca terminar logo o culto, mas procura seguir o modelo
revelado de um dia com Deus.
Os evangélicos, com relação ao culto, doutrina e vida, vêm se tornando
minimalistas. São pessoas demais perguntando: Qual é o mínimo que posso
fazer e qual é a maneira mais fácil de fazê-lo para que eu seja um discípulo de
Jesus Cristo? Os evangélicos precisam se lembrar – em primeiro lugar – da
Grande Comissão (Mt 28.18-20). Aí Jesus declara o que é o verdadeiro
discipulado. Tem uma dimensão doutrinária: Os discípulos devem reconhecer
Jesus como possuidor de toda a autoridade no céu e na terra. Tem uma
dimensão de culto: Os discípulos devem ser batizados em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo. Tem uma dimensão de vida: Os discípulos devem
obedecer a tudo o que Deus mandou. Os evangélicos precisam captar de novo
a plenitude da religião bíblica.

FONTE: REFORMA HOJE – UMA CONVOCAÇÃO FEITA PELOS EVANGÉLICOS CONFESSIONAIS


James Boice, Gene Edward Veith, Michael Horton, Sinclair Ferguson Etc
Editora Cultura Cristã

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