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Argumentos retóricos ou falácias

Paulo Margutti
FAJE

1. Introdução

Imaginemos uma situação em que dois ou mais interlocutores estejam


discutindo em busca de um consenso. Mais concretamente, imaginemos os líderes de
operários em greve, discutindo com seus patrões. Suponhamos também que o pivô do
desentendimento seja a exigência dos operários de um aumento de 20%, enquanto os
patrões estariam dispostos a conceder apenas 5%. Temos aqui dois grupos defendendo
posições opostas. Trata-se de uma situação em que, pelo jogo das emoções e dos interesses,
predominará a persuasão. Os argumentos serão predominantemente retóricos. Como se
processará, porém, a discussão?
Comecemos pelo tipo de oposição em jogo. Patrões e operários não defendem
posições contraditórias, mas sim contrárias ou incompatíveis. Realmente, com elas não se
dá o fato de não poderem ser verdadeiras nem falsas ao mesmo tempo. Se uma for vitoriosa,
a outra será necessariamente falsa. Mas as duas podem ser falsas ao mesmo tempo, desde
que se chegue a uma terceira posição, negociada entre as partes. Em sua maioria, as
argumentações retóricas são regidas pelo princípio da incompatibilidade: é ela, e não a
contradição, que deve ser evitada.
No decorrer da discussão, verificamos que muita coisa ocorre diferentemente do
que se passa em uma situação demonstrativa em sentido puro. Em primeiro lugar, não há
uma correspondência biunívoca entre argumentos e provas. Ao invés de único argumento
ser suficiente para configurar uma única prova, muitos argumentos poderão ser utilizados
para reforçar a mesma conclusão. Quanto ao critério para saber quantos deles deverão ser
utilizados, é extremamente subjetivo: aquele ou aqueles que constroem uma prova estão
atentos ao efeito psicológico da mesma sobre seus interlocutores. Se a prova atingiu algum
ponto fraco da posição adversária, novos argumentos com a mesma conclusão deverão ser
elaborados para reforçá-la exaustivamente, até a vitória final. Temos aqui uma luta de
vontades e forças opostas, onde vence o mais forte e mais tenaz. Em segundo lugar, os
interlocutores dessa discussão temem, acima de todo, ser colocados em ridículo ou em
situação de comprometimento perante seus adversários. Assim, quem constrói um
argumento que possa ser ridicularizado pelos oponentes em algum aspecto, corre o risco de
perder completamente o seu status de interlocutor na discussão. Do mesmo modo, defender
uma posição que possa facilmente ser caracterizada como desonesta também compromete
muito o interlocutor que a emite. Portanto, o fato de um interlocutor ser considerado
ridículo, ingênuo ou imoral pelos seus parceiros numa discussão repercute
desfavoravelmente sobre a sua credibilidade como interlocutor. Ou ele se cala
temporariamente, até recuperar o fôlego e as forças argumentativas, ou a discussão se
encaminha para outro tipo de relacionamento entre as partes, com reformulação das
valorizações dos interlocutores envolvidos. A discussão, nesses casos, costuma ser
redirecionada. Em síntese, o processo argumentativo busca aqui muito mais a eficácia
psicológica da inferência do que a sua correção. Um argumento não-válido empregado no
local e momento adequados pode ser muito mais eficiente do que mil argumentos corretos
empregados inoportunamente.
Quanto ao final da discussão, vemos que ele envolve acima de tudo uma
solução de compromisso. Os patrões podem chegar à conclusão de que é melhor ceder um
pouco e subir o percentual de aumento oferecido para 10%. Os empregados podem avaliar
que um argumento maior que 10% seria muito difícil na conjuntura e aceitar a redução de
20% para 10% no percentual reivindicado. Em ambos os casos, temos forças e vontades em
ação, julgando a partir de conjunturas específicas, onde os interesses e as emoções
desempenham um papel preponderante. E essa solução de compromisso é mais um fato
político do que um direito lógico dos interlocutores.
Esse é o quadro peculiar à argumentação persuasiva. No interior dele, são
utilizados certos tipos clássicos de inferências que denominamos argumentos retóricos. A
principal característica dos mesmos está em que, na sua maioria, ultrapassam os limites da
Lógica Dedutiva. Com base nisso, podemos dividi-los em dois grupos: primeiro, o daqueles

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que respeitam as regras da inferência válida e, mesmo assim constituem falácias; segundo, o
daqueles que desrespeitam as regras de inferência válida e são, da mesma forma, falaciosos.
O primeiro grupo subdivide-se em argumentos cuja validade é explicável em nível inter-
sentencial ou intra-sentencial, enquanto o segundo compreende apenas o nível intra-
sentencial. O quadro abaixo apresenta a lista dos principais argumentos retóricos com base
nessa divisão. Ela, porém, não é exaustiva, apenas buscando estabelecer alguma ordem na
enumeração dos mesmos.

QUADRO DOS PRINCIPAIS ARGUMENTOS RETÓRICOS (FALÁCIAS)


 Argumentos que respeitam as regras da inferência válida:
o Inter-sentenciais:
 Petição de Princípio
 Silogismo Disjuntivo Retórico
 Argumento Condicional Retórico
 Dilema Retórico
 Silogismo Hipotético Retórico
o Intra-sentenciais:
 Entimema
 Equívoco
 Composição
 Divisão
 Generalização Apressada
 Instanciação Apressada
 Argumentos que não respeitam as regras da inferência válida:
o Intra-sentenciais:
 Ignorância do Assunto

Faremos, a seguir, um estudo mais detalhado desses argumentos.

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2. Argumentos que respeitam as regras da inferência válida

Estes argumentos apresentam como principal característica o fato de


constituírem inferências dedutivas corretas, apesar de envolverem alguma forma de falácia.
Em outras palavras, a análise lógica dos mesmos os daria como argumentos válidos. Por
razões extra-sintáticas contudo, eles se revelam incorretos. São os que seguem.

2.1. Argumentos inter-sentenciais

A estrutura geral desses argumentos está na sua observância estrita às regras da


inferência válida em nível das relações entre sentenças. Do ponto de vista dessas relações,
eles são perfeitamente válidos. Sua análise exige, portanto, para ser frutífera, uma incursão
por domínios que estão além das regras da correção inferencial. Os principais são os
seguintes.

2.1.1. Petição de Princípio (Petitio Principii)

Conforme o próprio nome indica, esse argumento demonstra uma sentença


recorrendo a ela própria como premissa. Em outras palavras, a petição de princípio consiste
em construir um raciocínio tal que a conclusão seja equivalente a uma das premissas.
Estamos, pois, diante de um círculo vicioso em que a premissa é causa da conclusão tanto
quanto a conclusão o é da premissa. E a equivalência entre ambas geralmente é mascarada
pelo uso de sentenças diferentes. A título de ilustração, consideremos o argumento:

Temos de optar por eleições com votantes qualificados para evitar o apelo à
emoção popular.
Portanto, devemos escolher as eleições indiretas para impedir o recurso à
demagogia.

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Notemos aqui que, enquanto expressa uma inferência, o argumento é válido, pois as duas
sentenças se equivalem e podemos, assim, obter uma a partir da outra. Na demonstração
porém, da conclusão, não podemos usá-la como premissa, pois nesses caso não estaríamos
provando coisa alguma. O círculo vicioso deve ser evitado aqui.
Por vezes, uma petição de princípio é construída através de uma série de
argumentos que, pela distância da conclusão à premissa que a ela é equivalente, mascaram a
circularidade. O exemplo esquemático abaixo ilustra essa forma de argumentação.

D porque A
C porque D
B porque C
A porque B
logo, A.

O ponto de partida o argumento é a sentença A, embora esteja disfarçado pela posição na


sentença composta. Dela, inferimos D, de D, C, de C, B, finalmente, de B inferimos A. Ora,
o ponto de chegada equivale ao de partida. Temos aí, portanto, um claro círculo vicioso ou
petição de princípio. A inferência é perfeitamente válida, mas, como demonstração da
sentença A, deixa muito a desejar.

2.1.2. Silogismo disjuntivo retórico

Outra forma de persuasão está no argumento que se constrói a partir do


silogismo disjuntivo. Na premissa que contém a disjunção, entretanto, uma das alternativas
não tem qualquer relevância em relação à outra. Aceitando-se a disjunção, porém, a
inferência é válida.
Imaginemos, por exemplo, que os empregados, no decorrer da discussão sobre o
percentual do aumento, afirmassem aos patrões:

Ou vocês nos concedem o aumento ou continuamos em greve.

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A isto, os patrões poderiam responder:

Ou vocês voltam ao trabalho ou não haverá diálogo.

Nos dois casos, o que temos é a criação de uma disjunção com o objetivo de provar uma de
suas alternativas. O que os empregados pretendem com a sua disjunção é que os patrões
raciocinem assim:

Ou concedemos o aumento ou a greve continua.


A greve não continua (porque nos é prejudicial).
Portanto, concedemos o aumento.

A contrapartida que reforça a situação está no argumento que os empregados também


constroem:

Ou vocês nos concedem o aumento ou continuamos a greve.


Vocês não nos concedem o aumento.
portanto, a greve continua.

Toda a argumentação depende, portanto, fundamentalmente das disjunções estabelecidas.


Devemos notar, contudo, que, no caso dos empregados, a continuação da greve não é uma
alternativa que se ache realmente em disjunção com a da concessão do aumento. Ela é, na
verdade, uma alternativa política, afirmada na luta pela obtenção do aumento, mas nunca
uma alternativa que demonstre a necessidade dele. Para isso, a disjunção teria que ser outra.
Assim, apesar de logicamente válido, o argumento acima se apóia numa disjunção
discutível.
Do lado dos patrões, a coisa é muito semelhante. Com sua disjunção, eles
pretendem que os empregados raciocinem como segue:

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Ou voltamos ao trabalho ou não haverá diálogo.
Haverá diálogo (porque precisamos dele para obter o aumento)
Logo, voltamos ao trabalho.

Os patrões reforçam sua posição através do seguinte argumento, que também funciona
como contrapartida do anterior:

Ou vocês voltam ao trabalho ou não haverá diálogo.


Vocês não voltam ao trabalho
Por conseguinte, não haverá diálogo.

Aqui, novamente, toda a argumentação depende da correção da disjunção que está na base.
Ora, é fácil constatar que a volta ao trabalho e a existência de diálogo não são logicamente
disjuntas. Essa também é uma disjunção política, criada para defender uma posição bem
definida no contexto da greve. Outra vez, os argumentos empregados são corretos, mas
apoiados numa disjunção que ultrapassa os limites da Lógica Formal, articulando
alternativas tais que uma não é relevante para a demonstração da outra.
Alguns argumentos têm sido utilizados com muita freqüência em nossa cultura
ocidental, constituindo os exemplos clássicos do silogismo disjuntivo retórico. Dentre eles,
destacam-se os seguintes:

2.1.2.1. Apelo à força (argumentum ad baculum)

A disjunção estabelece aqui uma alternativa entre a sentença P que se pretende


demonstrar, e uma demonstração de força. Esquematicamente, temos:

P ou demonstração indesejável de força


negação da demonstração indesejável de força (porque queremos evitá-la)
Logo, P.

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Um exemplo que ilustra bem esse tipo de argumento é o utilizado pelo governante
autoritário, quando diz:

Ou meus oponentes concordam comigo ou serão presos e torturados.


Ora, não serão presos e torturados (porque têm receio).
Logo, meus oponentes concordam comigo.

O argumento que conclui pela outra alternativa só serve para reforçar a


disjunção politicamente estabelecida:

Ou meus oponentes concordam comigo ou serão presos e torturados.


Ora, eles não concordam comigo (porque são temerários).
Logo, serão presos e torturados.

2.1.2.2. Apelo à misericórdia (argumentum ad misericordiam)

Nesse caso, a disjunção se faz entre a sentença P que se pretende demonstrar e


uma desgraça que poderia ocorrer em situação contrária. Esquematizando:

Ou P ou uma desgraça ocorrerá.


A desgraça não ocorrerá (porque desejamos evitá-la).
Logo, P.

Como exemplo, podemos citar o caso do aluno reprovado que tenta demonstrar
ao professor quão danosas serão as conseqüências dessas reprovação em sua vida:

Ou sou aprovado ou minha vida se destruirá.


Minha vida não se destruirá (porque o professor não deseja isso).
Logo, sou aprovado.

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A contrapartida, aqui também, é o argumento que reforça essa situação pela
desgraça que poderá ocorrer:

Ou sou aprovado ou minha vida se destruirá.


Não sou aprovado (porque o professor é impiedoso).
Minha vida se destruirá.

Todos esses argumentos podem assumir a forma copulativa ou a condicional,


em função das equivalência baseadas no tripé sentencial.1 Eles foram apresentados na forma
disjuntiva porque geralmente são mais utilizados na mesma.

2.1.3. Argumento condicional retórico

Da mesma forma que no caso da disjunção, esse tipo de argumento retórico


estabelece, como base das inferências, uma premissa condicional cuja justificação é lógica,
mas política, ou econômica, ou psicológica, etc. O restante do argumento é inteiramente
válido.
Como a disjuntiva e a condicional pertencem ao já citado tripé sentencial,
através do qual podemos converter um argumento em outro equivalente, todos os exemplos
do item anterior podem ser transformados em argumentos condicionais retóricos.
A fim de ilustrar essa possibilidade, retomaremos o argumento dos empregados
aos seus patrões, agora em sua forma condicional:

Se você não nos concedem o aumento, então continuamos em greve.


Vocês não nos concedem o aumento.
Continuamos em greve.

1 O que denominamos tripé sentencial corresponde às três seguintes equivalências lógicas,


envolvendo a condicional, a disjunção e a conjunção: (P => Q)  (~P v Q); (P => Q)  ~(P & ~Q);
(P v Q)  ~(~P & ~Q).
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O argumento dos patrões também pode ser expresso em forma condicional:

Se vocês não voltam ao trabalho, então não haverá diálogo.


Ora, haverá diálogo.
Logo, vocês voltam ao trabalho.

Ambos são válidos. O primeiro é do tipo modus ponens e o segundo, do tipo


modus tollens. A única coisa questionável que temos aqui é a própria condicional que serve
de base tais argumentos. Ela foi criada por razões políticas e não lógicas.
Esses não são, contudo, os casos clássicos de argumento condicional retórico.
Os mais significativos dentre eles são os que seguem:

2.1.3.1. Argumento contra o homem (argumentum ad hominem)

Em algumas situações, construímos argumentos cujas premissas e conclusões se


referem a uma pessoa determinada. Através dele, pretendemos mostrar que essa pessoa,
sendo o que é, deveria tomar atitude diferente daquela que tomou. Ou então, o que é pior,
que essa pessoa se acha numa situação tal que suas afirmações sobre um determinado
assunto são suspeitas. Nos dois casos, o argumento ad hominem é extremamente irritante e
sua conseqüência mais comum é provocar a ira do adversário, envenenando a discussão. Só
quem tiver interesse em exacerbar as incompatibilidades num conflito é que deverá utilizá-
lo. Seu esquema lógico é o seguinte:

Se fulano diz que P em certas circunstâncias, é duvidoso que P.


Ora, fulano diz que P em certas circunstâncias.
Logo, é duvidoso que P.

Outro esquema, com o mesmo espírito:

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Se fulano possui essa qualidade, então fulano assume essa posição.
Ora, fulano não assume essa posição.
Logo, fulano não possui essa qualidade.

Selecionamos abaixo alguns exemplos que ilustram essa forma de


argumentação.
Imaginemos o pistoleiro que assassina um padre ativista em questões de terra no
nordeste brasileiro. Ao justificar sua atitude, ele pode dizer:

Se ele era ativista, era comunista e merecia morrer.


Ora, ele era ativista.
Logo, era comunista e merecia morrer.

O modus tollens tem também utilidade aqui, pois o mesmo pistoleiro ainda
poderia dizer:

Se ele era padre autêntico, não seria ativista em questões de terra.


Ora, ele era ativista em questões de terra.
Logo, não era padre autêntico.

Assim, ao invés de assassinar um padre, o pistoleiro assassinou um comunista.


Talvez com isso seu crime seja bem menor ou mesmo deixe de ser um crime...
Imaginemos agora o professor grevista que defende o aumento de sua categoria
perante um interlocutor que considera essa greve incorreta. Esse interlocutor pode
raciocinar assim:

Se você é um professor, é suspeito para defender um aumento para professores.


Ora, você é um professor.
Portanto, é suspeito para defender um aumento para professores.

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Certamente esse interlocutor despertará a ira do professor, impedindo um bom
desenlace para a discussão.
De um modo geral, como se pode ver, o argumento ad hominem tenta mostrar,
através de uma condicional cujo antecedente não é relevante para o conseqüente, interesses
ou circunstâncias que comprometam definitivamente um dos interlocutores de uma
discussão.

2.1.3.2. Argumento pela ignorância (argumentum ad ignorantiam)

O princípio que o fundamenta é o seguinte: não havendo demonstração da


negação de uma sentença, então ela é automaticamente verdadeira. Esse princípio contradiz
uma das concepções mais elementares relativas à realização de uma prova. Ou seja, o bom
senso determina que, enquanto não se encontra uma demonstração de uma data tese, ela não
pode ser considerada verdadeira. É o que acontece, por exemplo, quando o réu é absolvido
num julgamento por falta de provas. O argumento ad ignorantiam desrespeita essa regra e
afirma:

Se não há demonstração de que não P, então é verdade P.


Ora, não há demonstração de que não P.
Logo, é verdade que P.

O exemplo mais corriqueiro dessa maneira de argumentar está na clássica


discussão entre o ateu e o teísta. O primeiro pede ao segundo uma demonstração da
existência de Deus. O teísta retruca:

Prove que ele não existe.

O argumento implícito nesse desafio é:

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Se não há prova de que Deus não existe, então Deus existe.
Ora, não há prova de que Deus não existe.
Por conseguinte, Deus existe.

2.1.3.3. Apelo ao povo (argumentum ad populum).

Com base no aforismo que diz ser a voz do povo idêntica à voz de Deus (vox
populi, vox Dei), é possível construir uma condicional que fundamente um argumento de
forte apelo emocional à multidão. Seu esquema é o seguinte:

Se o povo diz que P, então é verdade que P.


Ora, o povo diz que P.
Portanto, é verdade que P.

Como se pode ver, o que justifica esse argumento é a idéia de quantidade: se todos fazem
ou dizem tal coisa, então fazer ou dizer tal coisa é correto. Os políticos e os comunicadores
de todos os tipos conhecem a sua força e utilidade. Nem sempre, contudo, é preciso fazer
uma referência explícita ao "povo". Eis alguns exemplos:

a) Se esta marca de carro é a mais vendida no Brasil, então ela é a melhor.


Ora, esta marca de carro é a mais vendida no Brasil.
Logo, ela é a melhor.

b) Se esta bebida é a mais consumida, então deve ser comprada.


Ora, esta bebida é mais consumida.
Portanto, ela deve ser comprada.

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c) Se todos acreditam que a mulher é dependente, então ela possui natureza
dependente.
Ora, todos acreditam que a mulher é dependente.
Logo, a mulher possui natureza dependente.

O ponto fraco desses argumentos está justamente nas premissas condicionais de


que partem. Com efeito, o fato de esta marca de carro ser a mais vendida no Brasil não é
condição suficiente para que ela seja a melhor. Do mesmo modo, o fato de certa bebida ser
a mais consumida não tem como conseqüência que ela deva ser comprada. Igualmente no
caso da mulher: se todo mundo a vê dependente, isso não significa que ela seja mesmo
assim. O argumento ad populum poderia denominar-se também apelo à quantidade.

2.1.3.4. Apelo à qualidade

Em oposição ao caso anterior, podemos construir agora uma nova condicional,


em que o apelo se faz, não àquilo que é comum a todos (quantidade), mas àquilo que marca
uma diferença com relação à multidão (qualidade). Poderíamos ainda denominar esse
argumento de apelo ao esnobismo. Seu princípio fundamental está no desejo que temos de
ser diferentes da galera, da plebe ignara. O esquema argumentativo é o seguinte:

Se todos fazem ou dizem tal coisa, ela é um lugar comum a ser evitado.
Ora, todos fazem ou dizem tal coisa.
Portanto, ela é um lugar comum a ser evitado.

Todas as propagandas que tentam provar que apenas pessoas "especiais" têm certas crenças,
consomem determinado produto ou assumem determinados comportamentos, recorrem a
esse tipo de argumentação. Da mesma forma que criticamos o argumento ad populum no
item anterior, vemos aqui também que essas atitudes e preferências, só pelo fato de
pertencerem a pessoas "especiais", não são necessariamente corretas.

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2.1.3.5. Apelo à autoridade (argumentum ad verecundiam)

É comum também basearmo-nos na autoridade de alguém para construir


argumentos. O esquema da inferência realizada nesses casos é:

Se a autoridade diz que P, então é verdade que P.


Ora, a autoridade diz que P.
Por conseguinte, é verdade que P.

Há momentos em que o apelo à autoridade é correto, como por exemplo,


quando recorremos à opinião de um especialista para resolver uma dúvida. Mesmo aqui, o
máximo que podemos dizer é que a opinião emitida pela autoridade no assunto tem grandes
possibilidades de ser verdadeira. Nunca teremos certeza absoluta. O apelo à autoridade
surge quando retoricamente defendemos que as afirmações de alguém são sempre
verdadeiras e nelas nos baseamos para extrair conclusões. É muito fácil, inclusive, transpor
o domínio em que ainda teríamos alguma probabilidade de certeza para outros
absolutamente imponderáveis. Assim, quando tomamos por verdadeiras as opiniões
políticas de um especialista em Zoologia, estamos recorrendo ao argumento ad
verecundiam. Se no campo da Zoologia suas opiniões são provavelmente verdadeiras, no
campo da Política elas são imponderáveis.
Do mesmo modo que no caso Silogismo Disjuntivo Retórico, todos os
argumentos aqui apresentados podem ser expressos também na forma disjuntiva ou
copulativa. Recorremos à forma condicional apenas porque é a mais comumente utilizada.

2.1.3.6. Dilema Retórico

Sabemos que o dilema é uma forma de argumentar através da qual, partindo de


duas alternativas opostas, chegamos sempre à mesma conclusão. O dilema se torna retórico
quando suas premissas básicas são construídas a partir de opções políticas, econômicas ou
emocionais. Retomemos, para ilustrar, a situação dos operários em greve, discutindo com

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seus patrões. Estes últimos, num dado momento da discussão, podem alegar que estão
tendo prejuízos de qualquer maneira através do seguinte dilema:

Se concedemos o aumento, teremos prejuízo (pelo aumento dos custos).


Se continua a greve, teremos também prejuízo (pela paralisação).
Ora, ou concedemos o aumento ou a greve continua.
Em qualquer caso, teremos prejuízo.

Seus empregados podem também, no calor da discussão, retrucar com o


seguinte contra-dilema:

Se os patrões concedem o aumento, terão vantagem (pela volta ao trabalho).


Se a greve continua, terão também vantagem (pelo enfraquecimento dos
grevistas).
Ou o os patrões concedem o aumento ou a greve continua.
Em ambos os casos, os patrões terão vantagem.

Os dois argumentos constituem dilemas retóricos porque a opção representada


pela disjunção estabelecida entre concessão de aumento e continuação da greve é política.
Notemos, contudo, que ambos são perfeitamente válidos do ponto de vista das regras da
inferência correta até agora estudadas.

2.1.4. Silogismo hipotético retórico

Podemos, nesse caso também, construir um argumento retórico sob a forma do


chamado silogismo hipotético. Basta, para tanto, que obedeçamos ao princípio geral dos
argumentos estudados nesse item: manter a inferência válida a partir de premissas
discutíveis. Suponhamos então, para ilustrar, que os patrões antes citados vivessem num
país cuja lei de greve fosse extremamente desfavorável aos empregados. Numa situação
dessa, eles poderiam ameaçar os grevistas através do seguinte silogismo hipotético:

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Se a greve continua, não há diálogo possível.
Se não há diálogo possível, temos de aplicar a lei.
Logo, se a greve continua, temos de aplicar a lei.

Como se pode ver, é sempre possível adaptar um argumento válido, simples ou complexo,
às necessidades da persuasão. Não nos estenderemos mais sobre esse assunto. Passemos
agora ao outro tipo de argumento retórico.

2.2. Argumentos intra-sentenciais

O princípio geral que os rege é o de manter válidas as inferências de acordo


com as regras até aqui apresentadas, modificando porém, de maneira sutil, o sentido dos
nomes ou predicados nelas envolvidos. Trata-se, portanto, de argumento cuja análise exige
também considerações relativas ao significado dos termos, ou seja, considerações
semânticas (de caráter intra-sentencial). Os principais tipos são analisados a seguir.

2.2.1. Silogismo retórico ou entimema

Um dos sentidos de entimema é silogismo em que uma das premissas ou a


conclusão está oculta. Se estamos interessados em persuadir nosso interlocutor a todo
custo, temos aqui uma excelente oportunidade de fazê-lo, ao manter oculta exatamente a
sentença mais duvidosa do argumento. Se, na discussão antes citada, os patrões
argumentassem com seus empregados:

Vamos dar-lhes um aumento justo.


Portanto, vamos dar-lhes o aumento dentro da lei.

teríamos aí um entimema, cuja premissa elíptica é:

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O aumento dentro da lei é um aumento justo.

O argumento é logicamente válido, mas não é isso que interessa. No calor da discussão,
essa sentença implícita, de caráter duvidoso, pode permanecer aceita sem discussão por
muito tempo, até ser revelada por alguém. Mas pode também permanecer elíptica durante a
discussão e colaborar significativamente para a vitória de uma das partes.

2.2.2. Falácia do equívoco

Ocorre quando um mesmo nome ou predicado é usado em dois sentidos


diferentes, possibilitando conclusões paradoxais ou persuasivas. Como exemplo de
conclusão paradoxal, temos:

São Francisco é o rio da unidade nacional


São Francisco é um santo.
Um santo é o rio da unidade nacional.

Neste caso, foi usado o mesmo nome São Francisco para duas entidades diferentes. Do
ponto de vista puramente formal, temos de considerar válido o argumento. Apenas quando
levamos em conta o que nome São Francisco tem dois sentidos diferentes é que temos
condições de invalidar o argumento. As regras formais, contudo, que pressupõem a
conservação do sentido de cada termo do argumento, não têm como detectar a ocorrência de
fatos como esse, que desrespeitam tal pressuposição.
Como exemplo de equívoco conclusão persuasiva, temos:

Aqueles que pedem esmolas constituem um problema social.


As associações de caridade pedem esmolas.
As associações de caridade constituem um problema social.

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Aqui, o termo pedir esmolas foi tomado em duas acepções, conforme a finalidade da
solicitação. Primeiramente, significa o ato do mendigo que pede a esmola para garantir seu
sustento individualmente, permanecendo na rua. A primeira premissa usa pedir esmolas
nessa acepção. Segundamente, significa o ato da associação de caridade, que pede a esmola
para garantir o sustento do mendigo, retirando-o da postura mendicante e da rua. Ora, a
segunda premissa usa pedir esmolas nessa nova acepção. Confundir as duas leva à
conclusão incorreta de que as associações de caridade constituem um problema que, bem ou
mal, tentam resolver. Se desejamos demonstrar que essas associações constituem, elas
também, um problema social, teríamos que recorrer a outras premissas.
Nesse segundo exemplo, as regras formais da inferência válida até agora
apresentadas também são insuficientes para identificar a falha.

2.2.3. Falácia da divisão

Ocorre quando trocamos indevidamente o sentido divisivo pelo sentido coletivo


de um determinado termo. Todo termo pode ser usado, em princípio, em dois sentidos
diferentes. Em primeiro lugar, no sentido divisivo, quando usamos o termo para acoplá-lo a
um único indivíduo da classe que ele designa. Ao dizermos que

José da Silva é empregado mal-remunerado,

estamos acoplando o sujeito individual representado pelo nome José ao predicado


empregado mal-remunerado. Para que esse predicado possa ser atribuído a esse indivíduo,
é necessário que ele seja tomado divisivamente, ou seja, como algo que possa ser dividido
enquanto propriedade comum aos elementos de uma mesma classe. Em segundo lugar, no
sentido coletivo, quando usamos o termo para acoplá-lo a um outro que designa outra
classe. Assim, ao dizermos que

O empregado mal-remunerado está em extinção,

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estamos acoplando a classe representada por empregado mal-remunerado a uma outra,
representada por está em extinção. No primeiro caso, a relação entre nome e predicado é de
pertinência de um elemento a um conjunto. No segundo, a relação entre predicado e
predicado é de inclusão de um conjunto em outro conjunto. Aqui, o termo empregado mal-
remunerado teve de ser tomado coletivamente, ou seja, como algo que é atribuído aos
elementos da classe enquanto propriedade partilhada por todos em comum. Ora, é certo que
ambos os sentidos pertencem ao mesmo predicado empregado mal-remunerado. Todavia, é
certo também que a troca de um sentido pelo outro pode gerar argumentos incorretos, com
o que vai abaixo:

O empregado mal-remunerado está em extinção.


José da Silva é um empregado mal-remunerado.
Portanto, José da Silva está em extinção.

Nele, o termo empregado mal-remunerado foi tomado coletivamente na primeira premissa


(relação de inclusão) e divisivamente na segunda (relação de pertinência). A conclusão não
é válida, porque atribui a um dos elementos de uma classe uma propriedade que pertence à
classe como um todo.
E como o mecanismo da falácia consistiu em transitar indevidamente do sentido
coletivo para o divisivo, chamamos a esse argumento de falácia da divisão. Note-se que as
regras formais do argumento intra-sentencial são suficientes para localizar essa falha. Daí as
considerações relativas ao sentido dos termos envolvidos.

2.2.4. Falácia da composição

O caminho inverso também pode ser percorrido. Assim, quando passamos


ilicitamente do sentido divisivo para o sentido coletivo, construímos um argumento
falacioso de caráter persuasivo. Seja, por exemplo, o seguinte argumento:

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Cada deputado é politicamente hábil.
A Assembléia Legislativa é a reunião de todos deputados.
Logo, a Assembléia Legislativa é politicamente hábil.

Neste caso, o predicado politicamente hábil, da primeira premissa, tem um claro sentido
divisivo, expresso pelo termo cada. De acordo com ele, ficamos sabendo que cada deputado
pertence à classe dos politicamente hábeis. Na conclusão, porém, ficamos sabendo que a
propriedade de ser politicamente hábil foi atribuída à Assembléia Legislativa como um
todo. Nem sempre a reunião de indivíduos politicamente hábeis é capaz de dar origem a um
corpo que também seja politicamente hábil. Pode haver tantas divergências que, no
conjunto, a incompetência política da Assembléia Legislativa seja evidente. Passamos
incorretamente do sentido divisivo ao coletivo, realizando, assim, a chamada falácia da
composição. O argumento não é válido, mas só a aplicação de considerações relativas ao
sentido dos termos permitiu sabê-lo.

2.2.5. Generalização apressada

Ainda é possível cometer um outro desvio de sentidos nos termos de um


argumento. Isso ocorre quando procuramos realizar uma generalização sem levar em conta
a presença de circunstâncias específicas que devem ser eliminadas antes que ela seja feita.
A tal tipo de falácia denominamos generalização apressada. O exemplo abaixo é uma
ilustração da mesma:

Durante a Ditadura Militar, houve escuta telefônica em Brasília.


A escuta telefônica em Brasília desarticulou muitos complôs.
Portanto, a escuta telefônica deveria ser rotina governamental.

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No caso relatado pelo argumento, os fatos de a escuta telefônica ter sido adotada e de ela ter
tido sucesso na desarticulação de complôs políticos não autorizam a transformação da
mesma em rotina governamental, porque a circunstância de ter havido uma ditadura na
época torna esses fatos muitos específicos e invalida a generalização feita. Podemos dizer
que ela foi apressada justamente por ter desconsiderado essa circunstância.

2.2.6. Instanciação apressada

Se é possível raciocinar falaciosamente quando se vai de um fato específico a


uma sentença universal, o mesmo ocorre quando realizamos movimento inverso. Assim,
podemos estar de posse de uma lei geral e, ao tentar obter a partir dela uma instância
relativa a um fato singular, podemos estar ignorando alguma circunstância determinada que
a invalide. É o que ocorre no caso abaixo:

Todos os profissionais têm o direito de consultar obras de referência no


exercício de suas profissões.
Portanto, os estudantes universitários têm o direito de consultar obras de
referência durante as provas.

Aqui, temos uma sentença universal que garante a todos os profissionais o


direito de consultar manuais no exercício de suas profissões. As instanciações adequadas
dessa sentença universal podem ser construídas com quaisquer termos que designem classes
de profissionais já formados e exercendo suas respectivas profissões, como, por exemplo,
os arquitetos, os professores, os dentistas, etc. A instanciação feita atinge uma classe que se
encontra em circunstâncias bem determinadas, que a invalidam: estudantes universitários
ainda não são os profissionais citados e supõe-se que devem, inclusive, exibir certos
conhecimentos através de provas sem consultas para adquirirem o direito de exercer suas
respectivas profissões. Houve, pois, uma inferência incorreta que deverá ser denominada,
com propriedade, instanciação apressada.

22
3. Argumentos que desrespeitam as regras sintáticas da inferência válida

3.1. Ignorância do assunto (ignoratio elenchi)

Quando, para demonstrar determinada conclusão, desenvolvemos um


argumento que nos leva a uma conclusão mais ou menos análoga, mas diferente, estamos
provando algo que está fora de questão. Num caso desses, cometemos a falácia da
ignorância do assunto. Para ilustrá-la, imaginemos a situação em que um pensador
autoritário tenta demonstrar que a liberdade política deve ser evitada, recorrendo ao
argumento abaixo:

Em todas as épocas, os excessos de liberdade foram prejudiciais.


Tudo o que é prejudicial deve ser evitado.
Portanto, a liberdade política deve ser evitada.

Sua conclusão correta seria:

Os excessos de liberdade devem ser evitados.

Por transposição indevida, entretanto, passa-se para a conclusão análoga:

A liberdade política deve ser evitada.

A conclusão é análoga, com efeito, mas totalmente diversa. Sua demonstração, de fato, não
ocorreu. Ficamos fora do assunto, ignorando-o. Mas não podemos esquecer que as
premissas utilizadas criam uma atmosfera psicológica desfavorável à liberdade política,
atmosfera essa que pode ser reforçada através de exemplos colhidos em diferentes épocas.
O clima emocional assim obtido facilita em muito o mascaramento da incorreção da

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inferência e predispõe o interlocutor a aceitar a conclusão indevida. Esse tipo de argumento
é talvez o único que pode ser explicado através das regras formais, pois a conclusão não
decorre das premissas usadas. O que nele ocorre é um desvio repleto de sugestões
emocionais com a finalidade de obscurecer a não-validade da inferência realizada.

4. Observações finais

A classificação acima não é exaustiva e outros tipos de argumentos retóricos,


além dos apresentados, podem ser construídos. Dentre os mais importantes, citam-se:
recurso a sentenças de múltiplos sentidos, variações na ênfase dos termos empregados,
recurso a perguntas capciosas. Não os estudaremos aqui, contudo. O importante a notar é
que todos esses argumentos são perigosamente enganadores, dificultando enormemente a
análise lógica, que nem sempre possui instrumental adequado para avaliá-los. Em sua
maioria, eles escapam ao restrito quadro estabelecido pelas regras de inferência válida. O
que dificulta mais ainda as coisas é o fato de que a argumentação demonstrativa também se
defronta com problemas semelhantes.

5. Exercícios

1. Distinguir, dentre os argumentos abaixo relacionados os persuasivos dos demonstrativos.


Exemplos:
a) Todo aquele que defende os pobres é revolucionário. Ora, a Igreja defende os pobres
Portanto, a Igreja é revolucionária
O termo defender os pobres foi tomado em duas acepções diferentes nas duas premissas.
Trata-se de um argumento persuasivo, portanto.
b) Se chover a tempo, a colheita será boa. A colheita , porem, não foi boa. Logo, não
choveu a tempo.
Trata-se de um argumento demonstrativo, já que as relações lógicas e a conotação emotiva
são mínimas.

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1.1. Todos homens são mortais. Aristóteles Onassis era um homem Portanto, sua mulher
Jacqueline sabia o que fazia quando casou com ele
(Adaptado de um texto fotocopiado, sem referência à fonte).
1.2. Se você é rico, terá os carinhos da mulher que se casou por interesse. Se você é pobre,
terá os carinhos da mulher que se casou por amor. Ter os carinhos da mulher que se casou
por interesse é ser pobre. Ter os carinhos da mulher que se casou por amor é ser rico. Logo,
se você é rico, é pobre e se você é pobre, é rico.
1.3. Todas sentenças lógicas são analíticas, ou seja, são verdadeiras apenas em função dos
significados dos termos nelas empregados Todas as sentenças matemáticas são redutíveis a
sentenças lógicas. Logo, todas as sentenças matemática são analíticas, ou seja, são
verdadeiras apenas em função dos significados dos termos nelas empregados.
1.4. "Um exemplo de fêmea que procura um macho capaz de ajudar nas tarefas do ninho é o
da galinhola. A Dra. Marion Petrie, da universidade inglesa de East Anglia, descobriu
recentemente que as galinholas fêmeas gostam de machos pequenos e gordos - porque esses
precisam de menos alimento e podem dedicar mais tempo para chocar ovos" (Revista
senhor, nº 126, de 17.08.83, p.62).
1.5. "Viaje com amor. Alguém sempre zela por você. Colabore com o zelador" (Cartaz
encontrado no sanitário masculino de um posto à beira da rodovia belo horizonte/Brasília).
1.6. "A inflação também tem suas compensações - o que você não tinha antes valia muito
menos do que o que você não tem agora" (Millôr Fernandes, ISTO É, nº 355, de 12.10.83,
p.16).
1.7. "Feliz foi Adão, que não teve sogra nem caminhão" (Escrito em pára-choque de
caminhão).
1.8. "Para cada fio de dada estrutura S (...), há um peso determinado, W, tal que o fio se
romperá se a ele se ligar um peso superior a W. Para cada fio de tipo S, o peso suportável
W é igual a K. T é um pedaço de fio do tipo S. B, que tem peso superior a K, é ligado a T.
Conseqüentemente T se rompe" (Lambert, K & Brittam Jr. G.G. Introdução à Filosofia da
ciência. São Paulo: Cultrix 1972, p.46).
1.9. Se nós terráqueos afirmamos que o sistema solar é geocêntrico, os venusianos
poderiam afirmar que sistema solar é venucêntrico. Ora, o sistema solar não pode ser

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geocêntrico e venucêntrico ao mesmo tempo. Portanto, algo deve estar errado com um
sistema solar planocêntrico.
1.10. "O místico crê num Deus desconhecido. O pensador e o cientista crêem numa ordem
desconhecida. É difícil dizer qual deles sobrepuja o outro em sua devoção não racional".
(Whyte, L.L. Cit. por Alves R. Filosofia da Ciência - Introdução ao jogo e suas regras. 2 ed.
São Paulo: Ed Brasiliense, 1982, p.35).
1.11. Todo bêbado bebe muito. Quem bebe muito dorme muito. Quem dorme muito não
pratica o mal. Quem não pratica o mal é um verdadeiro santo. Portanto, todo bêbado é um
verdadeiro santo.
1.12. "Se tem remédio, por que se preocupar? Se não tem remédio, por que se preocupar?"
(Escrito na parede da sala de pensamentos do Tio Patinhas).
1.13. "Todo cliente do Unibanco tem direito ao Unicheque. Todo Unicheque tem um cartão
de garantia. Todo Cartão de garantia tem um limite impresso. Todo Unicheque é garantido
pelo Unibanco até o limite do cartão. Logo, o Unibanco é o banco do cheque que todo
mundo aceita" (Propaganda do Unibanco, em 1983).
1.15. "De acordo com Okham, (...) o movimento não é uma propriedade de um corpo, mas
uma relação que o corpo mantém com outros corpos e o tempo. Como a mudança de
posição não é uma propriedade do corpo, não há necessidade de atribuir uma causa eficiente
a este deslocamento relativo. Okham afirmava que dizer que um corpo move-se devido ao
ímpeto adquirido não é dizer mais do que um corpo se move, e recomendou a eliminação
do conceito de ímpeto da física" (Losee, J. Introdução Histórica a filosofia da Ciência, Trad.
de B. Cimbleris. B. Horizonte: Ed. Itatiaia; S. Paulo: EDUSP, 1979, p. 50).
1.16. "Para que ele seja um burro só lhe faltam as penas. Nenhum burro tem penas.
Portanto, para que ele seja um burro, não lhe falta nada. (Adaptado de um dito popular
brasileiro).
1.17. "Quem tem boca vai a Roma (proverbialmente certo). Eu tenho boca (basta olhar para
a minha cara). Agora só me faltam a passagem e os travelers checks" (Extraído de um texto
xerocado sem referência à fonte, p. 107).
1.18. "Todos os homens são iguais. Eu sou homem. Logo, não entendo por que você prefere
o Alain Delon" (Texto xerocado sem referência à fonte, p. 108).

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1.19. "Deus não existe porque não quer" (Idem, p. 109).
1.20. "Você quer dinheiro. Eu não tenho dinheiro. Logo, você quer o impossível". (Id.,
p.108).

2. Classificar cada um dos argumentos do exercício anterior, de conformidade com o


quadro dos argumentos retóricos.
Exemplos:
a) Todo aquele que vive de esmolas constitui um problema social.
Ora, a Igreja vive de esmolas. Portanto, a Igreja constitui um problema social.
Trata-se da falácia do equivoco.
b) Se chover a tempo, a colheita será boa.
A colheita, porem, não foi boa.
Logo, não choveu a tempo.
Trata-se de um argumento demonstrativo inter-sentencial do tipo modus tollens.

3. Classificar os argumentos abaixo relacionados de acordo com o quadro dos argumentos


retóricos.
Exemplo:
“- Por que querem eles essa coisa chamada petróleo?
- Para que os outros não o tenham. Querem esse petróleo porque o petróleo é indispensável
numa guerra.
Tistu bem sabia que as explicações do Sr. Trovões acabavam ficando dificílimas!
- Se compreendi direito, os Voulás e os Vaitimboras estão em guerra por causa do petróleo,
porque o petróleo é indispensável para a guerra". Abriu de novo os olhos:
- Mas isso é uma tolice! - declarou ele.
As orelhas do Sr. Trovões ficaram escarlates"
(Druon, M. O Menino do Dedo Verde. Trad. de D.Marcos Barbosa. 31 ed. Rio de Janeiro:
Liv. José Olympio Editora, 1984, p. 103).
Trata-se, claramente, de uma petição de principio, ainda que não esteja colocada
explicitamente sob essa forma.

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3.1. Os escravos eram as mãos e os pés dos senhores de engenho. Zumbi era escravo. Logo,
Zumbi era as mãos e os pés dos senhores de engenho.
3.2. O índio Brasileiro esta desaparecendo. Juruna é um índio Brasileiro. Portanto, Juruna
está desaparecendo.
3.3. A alma humana é imortal porque é espiritual. A alma humana sobrevive à morte porque
é imortal. A alma humana é eterna porque sobrevive à morte. A alma humana é espiritual
porque é eterna. Portanto, a alma humana é espiritual.
3.4. O Colégio Eleitoral da Velha República votou em Tancredo. O senador Fulano de Tal
pertenceu ao Colégio Eleitoral da Velha República. Logo, o senador Fulano de Tal votou
em Tancredo.
3.5. Se o Congresso não aprovar o decreto-lei, a reação do Exercito será violenta. A reação
do Exercito não foi violenta. Logo, o Congresso aprovou o decreto-lei.
3.6. Ou o Ministro da Educação dialoga com os professores universitário ou contribui para
a intervenção nas Universidades. O Ministro da Educação não contribuiu para a intervenção
nas Universidades. Portanto, O Ministro da Educação dialogou com os professores
universitários.
3.7. Tudo aquilo que você não perdeu ainda conserva. Ora, você não perdeu os chifres.
Logo, você ainda conserva os chifres.
3.8. Ele deve obedecer-me, porque sou seu pai.
3.9. "Todo homem é mortal. Sócrates é homem. Logo, todos os homens são Sócrates".
(Woody Allen).
3.10. Se você tiver fé, conseguirá tudo o que deseja, porque a fé move montanhas.
3.11. Os pacifistas não conseguiram até hoje provar que uma guerra nuclear acabará com a
vida na terra. Portanto, as experiências com bombas nucleares e a produção em série das
mesmas pode continuar.
3.12. Grevistas e patrões entraram em acordo satisfatório, já que homem é um ser dotado de
razão.
3.13. Este filme é inteiramente vazio e desprovido de qualquer forma elementar de bom
senso. Portanto, será um fracasso de bilheteria.
3.14. Quem manda em minha casa sou eu. Portanto, ou você concorda comigo ou sai daqui.

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3.15. Ele merece um aumento de salário, porque o que ganha mal dá para comer.
3.16. Nunca um escândalo perturbou a vida de Afonso Pena. Portanto, ele deve ter sido um
político honesto.
3.17. O jogo é meu. Logo, que dita as regras sou eu.
3. 18. A democracia é o ideal de todos os brasileiros. Superamos a ditadura de 1964 e
estamos caminhando a passos largos para uma participação cada vez maior do povo nas
decisões políticas de peso. Não há dúvidas de que para ela avançamos e seu triunfo final é
inevitável.
3.19. Você não pode duvidar que seu pai deve ir para a Unidade de Terapia Intensiva,
quando tem diante de si a afirmação clara dos médicos de que esse é o procedimento mais
adequado nesse caso.
3.20. Você dirigia seu carro com excesso de velocidade. Ou você é multado e tem a carteira
de motorista apreendida ou colabora com uma "doação" para a "torcida do flamengo".
Como você não pretende ser multado nem ter sua carteira apreendida, concluo que vai
colaborar com uma "doação" para a "torcida do flamengo".
3.21. Ninguém conseguiu provar ate hoje, de maneira convincente, que Deus não existe.
Concluo, portanto, que ele existe.
3.22. Senhor Inspetor, concordo que furei o sinal. O senhor tem toda razão em querer
multar-me. Todavia, já fui multado antes e agora terei de pagar a multa em dobro. Como
tenho tido muitas dificuldades financeiras, especialmente depois que minha mãe adoeceu e
tive que pagar seu tratamento no hospital, tenho certeza de que o senhor será compreensivo
e me deixará ir embora sem multar-me novamente.

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