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GÊNERO, PAPÉIS E FAMÍLIA*

João Pedro Gonçalves Araújo

Introdução
Homens e mulheres são diferentes biológica (questões de sexo, idade ou biotipo),
circunstancial, psicológica, anatômica e socialmente. Ao mesmo tempo, têm entre si inúmeras
semelhanças. Isso faz com que homens e mulheres devam ser considerados diferentes entre si e não
opostos. O organismo tanto do homem como da mulher produzem tanto hormônios femininos
quanto masculino, a diferença se dá pela dosagem. É importante notar essas diferenças e
semelhanças em virtude do fato de que, vivendo em uma sociedade complexa como a nossa, cada
vez mais, como já visto anteriormente, as mulheres entram no 'mercado de trabalho' e os homens no
'mundo doméstico'.
Algumas das diferenças consideradas inatas – quer dizer, é assim porque sempre foi assim –
são, algumas vezes adquirido culturalmente. Isso é importante porque aquilo que chamamos de
diferença real, pode ser simplesmente um preconceito. Há uma distinção entre diferenciação e
desigualdade. A desigualdade acontece quando usamos da diferenciação para dar lugar a
preconceitos e discriminações, quer sejam sexuais, de idade, regionais ou as diferenciações
biotipológicas (alguém que porta alguma necessidade).
Anatomicamente, os homens tendem a ser mais fortes e mais altos, as mulheres menores e
fisicamente mais fracas, mas, estatisticamente vivem mais que os homens. Ser mais forte e mais alto
tem sido usado como base para relações de dominação (desigualdade), e, algumas vezes, injustas e
desumanas. Lembremos que o criador criou homem e mulher. As diferenças são divinas. Portanto,
deveriam ser celebradas, lembradas e respeitadas. A dominação, a violência que muitas vezes vemos
e ouvimos devem ser, tanto social quanto teologicamente rejeitadas.

A constância da mudança
Desde quando o homem se entende como ser, ele se pergunta sobre si, sobre o outro, sobre
sua relação com o outro e sobre o mundo. Quem sou eu, quem é você, por que eu me relaciono com
estas pessoas de forma diferente da relação que tenho com outros, por que moro nesta casa e não
naquelas outras, por que me pareço fisicamente com estes e menos com os outros são algumas
dessas perguntas. Ao longo dos milhares de anos em que essas perguntas são feitas, diversas foram
as respostas. Em termos das relações com os outros e da busca pela explicação de como chegamos a
ser o que somos, há ideias que a humanidade se multiplicou a partir de relações plurais e
poligâmicas.

* Publicado em: Revista Homem Batista, 4º Trimestre/2010, p. 26-29.


Das diversas relações possíveis, muitas dizem respeito às relações familiares. Em algum
momento na história o homem começou a dar a conformação às famílias da maneira como temos
hoje. No entanto, ao longo dos tempos, as formas familiares não foram únicas em todos os lugares,
nem são fixas em nossa própria sociedade. Ainda no início do século XX, tínhamos as relações
patriarcais, depois passamos por um período de igualitarismo. Nos anos sessentas, com a revolução
sexual, experimentamos o pluralismo. Parece que, com o advento da AIDS, há uma volta para o
monogamismo.
Com relação à família, são diversas as formas das relações e de suas formações de
parentesco: biológica ou consanguínea, instituída pelo direito civil, casamentos ou adoção, por
afinidade (parentes de um dos cônjuges), religião (através dos rituais) e outras. A existência do
divórcio em nossa sociedade faz com que experimentemos conformações ainda mais diferentes às
famílias hoje.
Visto a partir da sua funcionalidade, isto é, para que servem ou como funcionam, as famílias
são descritas a partir da sua função biológica: procriação, satisfação sexual, proteção; ecológica:
ordenamento do espaço através das habitações; econômica: produção, consumo, manutenção e
aumento da propriedade; psicossociais: identificação pessoal, afetividade, intimidade e segurança e
hospitalidade; social: atribuição de status, controle social e sexual, proteção à velhice e aos
membros em geral; cultural: herança cultural e lazer, e política: orientação ideológica, religiosa e
herança do poder
Além da sua funcionalidade, conhecemos diversos tipos de família. Por exemplo, quanto ao
número de cônjuges: monogâmica (esposo e esposa); poligâmica (poligínica: um homem, várias
mulheres; poliândrica (uma mulher, vários homens) e casamento grupal. Quanto à autoridade:
patriarcal (todo poder ao pai); paternal (mais moderada); matriarcal (prevalece a autoridade
feminina); conjugal (autoridade dividida entre os cônjuges) e avunculada (o tio materno divide a
autoridade com o pai). Quanto à herança do nome: matronímica ou matrilenear (filho leva o nome
da mãe); patronínimica ou patrilinear (filho leva nome do pai), e bilinear (sobrenome de ambos).
Quanto ao local de moradia: matrilocal (os filhos moram com a mãe ou família materna); patrilocal
(casa do pai); neolocal (os casais procuram uma nova casa) e até mesmo “bineolocal” (uma casa
para cada cônjuge).

A força do mercado de trabalho


Com o tempo, o crescimento das cidades, o trabalho da mulher, sua independência
financeira, o acesso à comunicação e outros fatores, sociais, os papéis que acostumamos a ver
alguns dias atrás estão tendo novas conformações. Por exemplo, quanto ao papel da mulher e nas
relações conjugais, vê-se uma diversidade muito grande nos casamentos. Por exemplo as uniões vão
desde a monogamia tradicional, até a casamentos não-institucionalizados, uniões livres, uniões
consensuais, uniões homossexuais, casamentos abertos, casamentos liberais, casais sem filhos e
outros tantos.
A noção de família, onde os casais têm a decisão final de quem vai se apaixonar por quem e
o direito da escolha baseado no amor romântico, é recente. Foi a partir do século XIX que esse tipo
de relação prevaleceu. Antes, nossos trisavós não tinham direito de escolher com quem casar. Isso
mostra como as relações entre as pessoas têm mudado. Só a partir desse século que começaram a
dar importância ao chamado amor romântico. Ainda que tenhamos adquirido o direito da escolha
dos parceiros, ainda há certas limitações quanto a essa escolha. Por exemplo, a exogamia, proibe
casamentos de pessoas de determinados grupos (étnicos, religiosos ou de classe social). Outras
vezes, a mulher muda apenas a natureza do poder que existe sobre ela. Em casa e solteira, está sob o
poder do pai; casada, está sob o poder do marido.
Segundo pesquisadores da área comportamental, prevaleceu ainda em nossa cultura
complexa e tecnológica, resquícios dos nossos ancestrais, onde o homem era o caçador, ou seja,
aquele que tomava a iniciativa do flerte, namoro, noivado, casamento e até mesmo da separação; ao
homem primitivo cabia caçar e providenciar o sustento e alimento da casa. Isso quer dizer que,
ainda hoje, os papéis sociais do homem (aquilo que se espera que ele faça) são mais ou menos fixos.
As mudanças na área de família são apenas um exemplo das muitas mudanças nas relações
de gênero (masculino x feminino). Isso tem a ver também com as mudanças no que diz respeito aos
papéis sociais. Vejamos exemplos nas mudanças nas áreas educacional e profissional.

As mulheres estão chegando


Apesar de terem partido para a conquista de um diploma com um século de desvantagem em
relação aos homens, hoje as mulheres possuem, em média, mais anos de escolaridade do que eles
(6,7 anos contra 6,4). Dados de 2004 dão conta de que, de cada cem alunos matriculados em
universidades brasileiras, 56 eram mulheres. Nos campi universitários, há cerca de meio milhão a
mais de moças do que de rapazes – 63% dos diplomas concedidos em 2004 foram para as mulheres.
Existe uma relação direta entre intelectualidade, trabalho e família. Segundo pesquisas, os
homens ainda preferem se casar com mulheres que ganham menos do que eles. A razão é que,
segundo os especialistas, os homens querem mulheres que cuidem deles. E para cuidar é preciso ter
tempo. E, para ter tempo, é necessário trabalhar menos. Segundo afirmou atriz Bette Davis, quando
um homem e uma mulher têm carreiras poderosas, eles acabam colidindo entre si.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas mostra que o número de solteiras aumentou entre
1970 e 2000 em mais de 20% entre as mulheres de 25 a 29 anos. Até o início da década de 90, os
homens tinham salário médio até 50% maior que o das mulheres. Atualmente, a média é cerca de
30% maior que o das mulheres que exercem as mesmas funções. Estudos também revelam que,
quanto maior a renda masculina, mais eles se casam, enquanto acontece o contrário com as
mulheres. Nesses estudos, mostram-se que a possibilidade de uma mulher com mais de doze anos
de estudo não se casar é 70% maior quando comparada à daquela que não tem instrução nenhuma.
No Brasil, as relações entre homens e mulheres nunca foram igualitárias, equilibradas
historicamente. Isso se mostra também em relação à educação. Somente no finalzinho do século
XIX foi permitido à mulher estudar na mesma escola que os homens. Aliás, só no final desse século
permitiu-se que a mulher estudasse verdadeiramente. À mulher não era permitido o estudo, porque,
como diziam nossos antepassados: “Mulher que sabe muito é mulher atrapalhada, para ser dona de
casa, saiba pouco ou saiba nada”.
Ainda que haja uma tendência de mudança, segundo o INEP, ainda há cursos universitários
predominantemente femininos como nutrição, fonoaudiologia, pedagogia, psicologia e enfermagem.
No entanto, essa relação muda cada vez mais. As mulheres já são possuidoras de seis em cada dez
diplomas de graduação, mas, mesmo em franca maioria, a maternidade e algum tipo de preconceito
existente, as mulheres ainda ocupam cerca de trinta por cento das posições de liderança das
principais firmas e indústrias. Segundo o Grupo Catho, em 2004 as mulheres ocupavam cerca de
16% das funções de presidente e 22% das de direção.
De acordo com a revista inglesa The Economist a mulher tem sido o principal fator de
crescimento das riquezas do planeta nas duas últimas décadas, pois elas respondem por 40% do PIB
mundial.

Conclusão
Muitos podem achar que as relações de gênero e o desempenho dos papéis sociais mudaram
tanto que a nossa geração vive num caos: desintegração familiar, filhos sem pais, uniões estranhas –
para se dizer o mínimo. Alguns chegam a afirmar um apocalipsismo dizendo que esse estado de
coisas anuncia a proximidade do fim. Pode ser.
É tendência nossa definir o nosso tempo com ares catastróficos. Diziam o mesmo quando a
lei permitiu que mulheres e homens estudassem no mesmo colégio e na mesma classe. Alguns
chegaram até a anunciar o fim do mundo por causa disso. No final do século XVII na Inglaterra e
França, por causa do caos urbano e das revoltas no campo, a violência nas cidades, alguns chegaram
a atribuir mesmo a um castigo divino e anunciaram o fim do mundo para aqueles dias. Outros
chegam a analisar alguns acontecimento e aparecimento de doenças como castigo de Deus também.
Tudo bem quanto a isso.
Lendo algumas dessas atitudes dos nossos antepassados, dá até vontade de rir, tal a
inocência deles. Quando lemos que nossos antigos pais tinham o direito de bater na esposa até
sangrar só porque ela saía do quarto sem a autorização do marido, achamos também que suas
atitudes eram exageradamente antiquadas e desumanas.
O desafio do homem de Deus é achar o ponto de equilíbrio entre o passado obscuro, a
incerteza do presente e o medo do futuro que já invade nossos dias. Mas o medo e a crítica talvez
não sejam as melhores respostas que os homens da nossa geração precisam. O homem de Deus
saberá transmitir a verdade de Deus na nossa própria geração.

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