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dez
XXIII 90 2015
Carta ao leitor
Na 6a feira, 13 de novembro de 2015, o mundo foi que massacram pessoas inocentes, contra aqueles que
sacudido com um ataque frontal à civilização ocidental. matam a sangue-frio”.
Ao redor do globo as pessoas se reuniram para chorar as
vítimas dos ataques a Paris. O que precisa ser ressaltado é o claro vínculo entre o
fanatismo que levou ao terrível massacre na França e o
Poucos dias após aquela trágica 6a feira, em contundente que vem acontecendo em Israel. Quanto tempo ainda
artigo, o Rabino Benjamin Blech escreveu que esse dia teremos que esperar para que o mundo entenda que
será lembrado por sua crueldade bárbara. os extremistas fanáticos que esfaqueiam inocentes em
Jerusalém encontrarão muito rapidamente seu caminho
Foi há menos de um ano que o mundo ocidental declarou para o restante do mundo?
que o ataque à revista satírica Charlie Hebdo, em Paris,
era um ataque a todos nós, à nossa liberdade. E o slogan A verdade é que ao longo da História os judeus sempre
“Je suis Charlie” varreu o globo terrestre. Hoje, um novo foram o primeiro alvo – mas não o último – dos
refrão que partiu de líderes políticos correu os países do movimentos de destruição e desumanização. Os líderes
mundo todo, demonstrando que na dor e na perplexidade do mundo que têm permanecido em silêncio têm que
estamos todos unidos, “Somos todos França”. despertar de sua resposta apática ao terrorismo que vem
assolando Israel, o único país democrático no Oriente
O dia 13 de novembro foi para Israel também uma Médio. O mundo precisa finalmente entender que
6ª feira Negra. O dia de uma investida trágica. Mais uma “Nós somos todos Israel”.
vez judeus foram mortos por terroristas islâmicos. As
vítimas eram o Rabino Yaakov Litman e seu filho Netanel, A partir da noite de 6 de dezembro celebramos Chanucá –
assassinados a caminho de uma celebração de Shabat. Eles a festa das luzes. Nesta festa, milhões de judeus, tanto em
foram fuzilados nas montanhas de Hebron, por homens Israel como na Diáspora, acenderão suas velas durante sete
que saltaram de um veículo na estrada. Nos últimos meses, noites, simbolizando a luz e o espírito do judaísmo, que é
foram inúmeros os assassinatos e ferimentos por facadas, eterno e inextinguível.
atos indiscriminados de violência brutal.
Essas luzes têm também a função expressa de iluminar
Mas por essas vítimas o mundo não demonstrou o “mundo lá fora”, simbolicamente aludindo ao dever de
indignação, tampouco compartilhou a dor, apenas buscou cada um de nós de trazer luz ao nosso mundo, pois como
os “motivos” – a maneira supostamente civilizada de ensinam nossos Sábios, “um pouquinho de luz expulsa
justificar os atos de terror. Perante a violência contra muita escuridão”.
judeus o mundo conseguiu desculpar o indesculpável,
perdoar o imperdoável, defender o indefensável. Numa época em que as forças da escuridão estão mais
presentes do que nunca, as luzes da Chanuquiá são o
O Presidente de Israel, Reuven Rivlin, falando no símbolo e a mensagem, universal e atemporal, de que
funeral de Netanel e Yaakov Litman, disse não haver a liberdade triunfará sobre a opressão, e a luz sobre a
diferença entre os ataques terroristas em Israel e no escuridão.
exterior. “Nenhum terrorismo é justificável. Não há
distinção entre terrorismo e terrorismo. Não há terrorismo Chag Chanucá Sameach!
mais ou menos justificável. As cenas de morte e
derramamento de sangue que testemunhamos em
Nova York, Paris, no Oriente Médio, em outras partes
do mundo e aqui em nosso país devem servir de alerta
para todos. Quer seja em Paris, Hebron, Jerusalém ou
Nova York, ou em qualquer outro lugar, devemos
empreender uma luta amarga e obstinada contra aqueles
Nossas festas
Chanucá e a
Pureza da Sabedoria
Chanucá, a festividade de oito dias que celebra eventos
ocorridos há mais de 2.200 anos, e que se inicia na noite de
25 de Kislev (este ano, após o anoitecer do dia 6 de dezembro),
celebra um grande milagre na história judaica.
A
história é conhecida. Durante a época do nossos Sábios instituíram a festa de oito dias, chamada
Segundo Tempo Sagrado de Jerusalém, de Chanucá.
a Terra de Israel era ocupada por greco-
sírios, que tentavam impor ao Povo Judeu A profanação do azeite
o helenismo – a cultura grega prevalente.
Liderados pelos Macabeus, os judeus derrotaram Ao discutir o milagre de Chanucá, o Talmud afirma:
militarmente os greco-sírios e retomaram o Templo “Quando os greco-sírios entraram no Templo, eles
Sagrado, que fora profanado pelos helenistas. profanaram todo o azeite que encontraram. E quando
a Casa Real dos Hasmoneus os subjugou e venceu, eles
Após a recaptura do Templo, os judeus limparam-no buscaram [o azeite], mas apenas encontraram um frasco
de todos os ídolos, reconstruíram o altar e reiniciaram com o lacre do Sumo Sacerdote”.
os serviços religiosos. Parte central do serviço diário do
Templo era o acender das velas da Menorá com azeite de Essa declaração talmúdica contém vários pontos a
oliva ritualmente puro. Mas, quando os judeus quiseram discutir. Primeiro, por que os greco-sírios apenas
acender a Menorá do Templo, apenas encontraram “profanaram” o azeite? Se seu desejo era suspender o
um pequeno frasco de azeite de oliva com o lacre acendimento da Menorá, deveriam ter destruído todo o
do Sumo Sacerdote. Tal selo era a garantia de que o azeite existente. Poderiam tê-lo simplesmente derramado
azeite continuava ritualmente puro. Todos os demais no chão. Não o fizeram. Ficou claro, portanto, que sua
frascos haviam sido propositalmente impurificados intenção era especificamente profaná-lo – fato que indica
pelos gregos. Os judeus acenderam o pequeno frasco de que conheciam as leis da Tahará e da Tumá, os rituais da
azeite, que milagrosamente ardeu durante oito dias - o pureza e impureza.
tempo necessário para que fosse produzido novo azeite
ritualmente puro. Esse milagre do azeite foi um sinal Por que teriam os greco-sírios profanado o azeite e não o
de D’us de que Ele estivera, lado a lado com os judeus, destruído, simplesmente? Se sua intenção era eliminar a
lutando contra os greco-sírios. A partir do ano seguinte, luz da Menorá, deveriam ter eliminado o azeite, de uma
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vez por todas. E, como conheciam de o suprimento para um dia de sábio, não é apenas por sermos
as leis da pureza e impureza rituais, azeite ritualmente puro ter sido o povo mais antigo do mundo, é
sabiam que profanando o azeite – suficiente para queimar durante também porque D’us nos escolheu
sem o destruir – não impediriam oito dias – simbolizam a luta entre para receber a Sua Torá.
o acendimento da Menorá, já que o judaísmo e o helenismo – uma
a Lei Judaica estipula que se a guerra essencialmente espiritual – Como o azeite de oliva é um
maioria do Povo Judeu estiver que continua a ser travada, de uma símbolo do saber judaico e a Torá
ritualmente impura, a questão da forma ou de outra, geração após é nossa fonte de sabedoria, pode-se
impureza ritual pode ser ignorada. geração. dizer que o azeite é um símbolo da
Em outras palavras, mesmo com Torá. Por essa razão, o azeite está
o azeite profanado, os judeus A preservação presente em tantos rituais judaicos.
poderiam continuar acendendo a da pureza da Torá O acendimento da Menorá, que
Menorá. Podemos daí deduzir que o simbolizava a difusão da luz da
objetivo dos greco-sírios ao violar o De acordo com o judaísmo, o azeite Torá, era um dos serviços mais
azeite não era evitar que os judeus de oliva simboliza o intelecto e importantes realizados no Templo
acendessem a Menorá, mas sim, que a sabedoria. A Cabalá o ensina Sagrado de Jerusalém. Era da maior
o fizessem com o azeite ritualmente explicitamente e o Talmud afirma: importância que o azeite usado
puro. “Porque eles estavam acostumados fosse ritualmente puro porque
a (comer) o azeite de oliva, havia representava a Torá e esta, por ser
Os greco-sírios não profanaram o sabedoria entre eles” (Menachot, a Sabedoria Divina, tem de ser
azeite simplesmente para humilhar 85b). O azeite é uma metáfora mantida em seu estado de pureza.
o Povo Judeu. Não se tratou de um para a sabedoria, mas é a Torá – É bem verdade que se a maioria
mero ato de vandalismo. Os eventos Sabedoria e Vontade de D’us – que do Povo Judeu estivesse em estado
relacionados ao azeite do Templo – é literalmente a fonte de sabedoria de impureza ritual, seria permitido
sua violação e o milagre subsequente do Povo Judeu. Se somos um povo recorrer ao azeite ritualmente
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Nossas festas
impuro para acender a Menorá. e impureza ritual são determinadas que não? Por que lhes importaria
Mas isso seria em último caso. por Decreto Divino. Não se trata que tipo de azeite os judeus
de algo que a sabedoria humana usassem? Porque para os helenistas,
É importante enfatizar que o pode determinar” (Sefer Tahará, o próprio conceito de pureza ritual –
conceito de pureza ou impureza Hilchot Mikvaot 11:12). As leis e o que simboliza – era abominável.
ritual se coloca além de nosso da Torá sobre pureza e impureza Para os greco-sírios, o conceito de
entendimento. Tais conceitos não se transcendem o intelecto humano. uma sabedoria que era superior à
relacionam com limpeza física nem humana era inaceitável. Para eles, o
mesmo com santidade. O homem Assim como pureza e impureza homem era o centro da Criação e a
não pode entender o que torna um ritual são conceitos que transcendem sabedoria humana era o principal.
objeto puro e outro impuro. Por o intelecto humano, também o Eles não aceitavam que o Povo
exemplo, por que os utensílios de conceito de “Torá pura” significa Judeu acreditasse ou seguisse leis
barro são suscetíveis à impureza uma Torá que é estudada e cujos que não pudessem ser plenamente
ritual através de seu espaço interno, mandamentos são cumpridos com compreendidas pela mente humana.
ao passo que os de outros materiais o entendimento primordial de
o são através de sua superfície que sua verdadeira essência não A violação do azeite de oliva
externa? Não o sabemos. Só o pode ser inteiramente entendida simboliza a tentativa greco-síria de
sabe a Torá, Sabedoria Divina. intelectualmente. Uma Torá pura violar a Torá. A eles não importava
Maimônides, o Rambam, enfatiza significa uma Torá que se origina que os judeus estudassem a Torá,
esse ponto: “Está claramente em D’us, e não no homem – uma assim como não agiam para evitar
evidente que as categorias de pureza Torá que é estudada e cumprida com o acendimento da Menorá. Eles
a compreensão de que se trata da se opunham ao estudo e prática da
Sabedoria e Vontade Divinas, não Torá absoluta e pura. A civilização
do homem. Como a Sabedoria do grega, baseada no culto ao intelecto,
Infinito não pode ser plenamente aceitava a Torá como um livro de
compreendida pela mente finita do ideias profundas e enriquecedoras.
homem, nenhum ser humano pode Como os judeus, eles também
dominar totalmente a Torá. Uma adoravam o conhecimento e a
Torá não adulterada é aquela que sabedoria: eles adoravam o “azeite”.
é corretamente entendida como O que se opunham era ao “azeite
sendo a Divindade absoluta, cujas puro, absoluto” – a Sabedoria
leis não foram alteradas para se Divina. Os greco-sírios permitiriam
adequar à aptidão intelectual ou aos que os judeus estudassem a Torá
desejos dos homens. Sua pureza é e seguissem seus mandamentos se
comprometida quando o homem nossos antepassados abandonassem
muda seu conteúdo e suas leis em a ideia de que eram Sabedoria e
seu próprio benefício. Quando Vontade Divina. O que os greco-
isso acontece, a Torá deixa de ser a sírios não podiam tolerar era que
Sabedoria Divina absoluta e se torna os mandamentos da Torá não
uma mistura de sabedoria Divina estivessem calcados na lógica
e humana: sua pureza fica, pois, humana.
comprometida.
Mas a guerra entre os judeus e os
À luz do que vimos acima, podemos greco-sírios não foi meramente
entender por que os greco-sírios não filosófica – um embate de ideologias.
descartaram simplesmente o azeite, Os decretos dos greco-sírios que
no Templo. Seu propósito não era proibiam certas práticas religiosas
impedir que os judeus acendessem judaicas tinham motivos nefastos.
a Menorá. Eles apenas não queriam Diferentemente de outros inimigos
que os judeus usassem azeite históricos do Povo Judeu, os greco-
ritualmente puro para fazê-lo. E por sírios não procuravam a aniquilação
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Nossas festas
Autoria Divina. D’us escreveu não sua. Seu objetivo ao estudá-la Por exemplo, algumas pessoas
cada letra do Chumash (Gênesis, deve ser para que seus ensinamentos acreditam que a Torá é Divina, mas
Êxodo, Levítico, Números e o mudem, não para que ele que o homem, por tê-la recebido,
Deuteronômio). Nem Moshé nem manipule a Torá para adequá-la a pode-se tornar seu senhor e moldá-
outro profeta qualquer escreveram seus desejos e necessidades. Um la de acordo com sua mente e suas
esses cinco livros. Assim sendo, a judeu sempre deve ter o cuidado de preferências.
Torá é pura Divindade que desceu não violar a Torá com suas mãos,
ao nosso mundo e que se encobriu adulterando-a. Durante os oito dias de Chanucá,
dentro dos confins da compreensão recitamos em nossas preces que os
humana para que todos os judeus Essa violação pode existir em greco-sírios desejavam fazer com
pudessem entender algo de sua vários níveis, o maior deles que os judeus “esquecessem a
infinidade. Considerar que a Torá é sendo quando alguém considera Tua Torá e violassem os decretos
algo menos do que pura Sabedoria que a Torá é apenas uma compilação da Tua Vontade”. A linguagem
Divina é seguir nos passos dos de ideias humanas – um texto é muito clara. Os helenistas não
greco-sírios. escrito por seres humanos. queriam que os judeus esquecessem
O pilar central do judaísmo é o a Torá, mas a “Tua Torá”, a Torá
O judeu deve, portanto, achegar-se conhecimento de que existe um de D’us: eles queriam que os
à Torá com apreensão e humildade. D’us e que a Torá é Divina. judeus se esquecessem de que a
Ele deve entender que é mero Considerá-la tudo menos Divina Torá é Divina. Da mesma forma,
pó perante o Todo Poderoso. é afirmar, implícita ou os greco-sírios não se opunham
Ele precisa empregar todo o explicitamente, que o judaísmo ao cumprimento judaico dos
seu empenho intelectual para é baseado em falsidades. Mas há mandamentos da Torá, como não
compreender a Torá, sabendo, outras ideias mais sutis que também matar e não roubar. Opunham-se aos
no entanto, que a Torá é de D’us, comprometem a pureza da Torá. decretos de “Tua Vontade”. Eles não
eram contrários aos mandamentos
da Torá que lhes pareciam racionais
– aqueles que poderiam ter sido
decretados por seres humanos.
O que repudiavam eram os
mandamentos que consideravam
irracionais – as leis que não eram
embasadas na lógica humana, que os
judeus guardavam unicamente pelo
fato de ser a Vontade de D’us.
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O significado
de Chanucá
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Nossas festas
Homem, veículo lutar pela eternidade do Povo Judeu mandamentos, deve ser a aceitação
para o Divino e pela pureza do judaísmo. incondicional por cada um de nós
das Leis de D’us, aliada a um
Na história de Chanucá, depois É imperativo que nosso grande empenho intelectual.
que os judeus recapturaram o relacionamento com a Torá leve o Nós, judeus, devemos servir a D’us
Templo Sagrado de Jerusalém, eles selo do Sumo Sacerdote, mas há com nosso coração e com nossa
encontraram um frasco de azeite que haver azeite dentro do frasco. mente. Há dois lados do serviço
ritualmente puro. Como eles sabiam Em outras palavras, por um lado a religioso – o azeite dentro do
que aquele frasco estava ritualmente pureza da sabedoria não pode ser frasco e o selo do Sumo Sacerdote
puro? Porque levava o selo do Cohen comprometida, mas, por outro, a vida que atesta sua pureza. Quando o
Gadol, o Sumo Sacerdote. Este era de um judeu deve ser permeada de judeu estuda a Sabedoria Divina
o homem mais espiritual em meio sabedoria e conhecimento. Pureza e cumpre Sua Vontade com a
ao Povo Judeu. Toda a sua vida era sem azeite nada vale. Não basta mente aberta e o coração puro, ele
dedicada ao serviço de D’us. reverenciar a D’us, Suas Leis e Sua se transforma em veículo para o
Sabedoria. Também é necessário Divino.
Na ausência do Templo Sagrado, estudar e praticá-las. A pureza ritual
não há Sumo Sacerdote. Contudo, é apenas um lado da moeda. O outro
há um Cohen Gadol dentro de cada é a sabedoria e o conhecimento, ou
um de nós, judeus: é a centelha que seja, o estudo da Torá. BIBLIOGRAFIA
Rabi Boteach, Shmuel, Wisdom,
forma o alicerce de nossa conexão Understanding, and Knowledge:
com D’us. O Sumo Sacerdote que há A pedra fundamental do judaísmo, Basic Concepts of Hasidic Thought,
dentro de nós é o que nos impele a na qual se ancora cada um dos Jason Aronson Inc
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NOSSAS FESTAS
CELEBRANDO CHANUCÁ
a
festa de Chanucá inicia-se no dia 25 de Algumas comunidades usam o shamash para acender as
Kislev, este ano em 6 de dezembro, à noite, demais velas; outras, uma vela adicional.
e o acendimento das velas vai até 1º de
Tevet – 13 de dezembro, à noite. Desde Na sexta-feira à noite, véspera do Shabat, as velas
a histórica vitória dos macabeus sobre os devem ser acesas antes do pôr-do-sol e antes das velas
assírios, ocorrida em 165 a.E.C., os judeus celebram de Shabat. Nesse dia devem ser usadas velas maiores,
Chanucá durante oito dias. A festividade comemora a para que ardam até meia-hora após o início do Shabat.
preservação do espírito de Israel. Assim sendo, celebra- Na noite seguinte, as velas de Chanucá só podem ser
se Chanucá apenas espiritualmente, não havendo outros preparadas e acesas após o término do Shabat e da
mandamentos a respeito. Além disso, durante os oito Havdalá.
dias da festa, é proibido qualquer forma de luto público
ou jejum, podendo-se, no entanto, trabalhar. Na primeira noite, acende-se a vela da extrema direita
e, em cada noite subseqüente, acrescenta-se uma nova
A Chanuquiá – candelabro de oito braços especial do lado esquerdo à primeira e, assim, sucessivamente.
da festividade – deve ser acesa diariamente após o A 1ª vela a ser acesa é sempre a nova, procedendo-se da
aparecimento das estrelas, com exceção da véspera do esquerda para a direita.
Shabat, quando deve ser acesa antes do pôr-do-sol.
Qualquer material incandescente pode ser usado para Na segunda noite, por exemplo, acendem-se duas.
acendê-la, mas deve-se preferir a luz intensa do azeite A primeira vela deve ser colocada do lado direito
ou de velas de cera ou parafina, grandes o bastante para da chanuquiá e a segunda é adicionada à esquerda
permanecer ardendo no mínimo por meia hora. Por isso, da primeira. Durante os oito dias, uma nova luz é
se uma vela apagar durante esse tempo – com exceção da adicionada, noite após noite, até completar as oito.
noite de Shabat, recomenda-se reacendê-la. Num lugar Por ter um propósito sagrado, a luz da chanuquiá não
de destaque, no candelabro, há uma outra vela auxiliar, de poderá ser usada para nenhum outro fim, como trabalho
preferência de cera, chamada shamash. ou leitura. Todos os membros da família devem estar
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NOSSAS FESTAS
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acendendo a chanuquiá
Todas as noites, antes de acender as velas Costuma-se colocar a chanuquiá sobre
pronunciam-se as seguintes bênçãos: uma mesa no lado esquerdo da porta
de entrada, em frente à mezuzá, ou na
janela que dá para a via pública.
Os seguintes horários são referentes
A cada noite, após recitar as bênçãos, apenas a São Paulo.
acendem-se as velas da chanuquiá
com o shamash, que é colocado 1ª noite
25 de Kislev
na chanuquiá de modo a ficar mais Domingo,
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu alto do que as demais chamas. Após 6 de dezembro,
Mêlech haolam, asher kideshánu acender as velas, recita-se em seguida a partir de
bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner 20:15 horas
Hanerot halálu:
Chanucá.
2ª noite
26 de Kislev
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei Segunda-feira,
do Universo, que nos santificaste com 7 de dezembro,
a partir de
Teus mandamentos, e nos ordenaste 20:15 horas
acender a vela de Chanucá.
3ª noite
27 de Kislev
Terça-feira,
8 de dezembro,
a partir de
20:15 horas
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Nossas festas
Recordando Amalek
N
o Shabat que precede a festa de Purim, mulheres e crianças – podemos começar a entender por
após a leitura da porção semanal da Torá, que a Torá nos ordena recordar e aniquilar Amalek.
lemos a passagem intitulada Zachor, que
aparece no Livro de Deuteronômio. A Não se trata aqui do típico antissemita. Amalek é a
passagem diz: “Recorda-te do que te fez maldade pura – um inimigo da humanidade e arqui-
Amalek no caminho quando saíeis do Egito, quando te inimigo do Povo Judeu. Enquanto ele existir no mundo,
encontrou pelo caminho e feriu todos os enfraquecidos a humanidade e, especialmente, o Povo Judeu, estarão
que ficavam atrás de ti, e tu estavas sedento e cansado, vulneráveis. Podemos, portanto, nunca esquecê-lo nem
e Amalek não temeu a D’us. [Portanto,] quando, ignorar sua existência.
pois, o Eterno, teu D’us, te der descanso de todos
os teus inimigos em redor, na terra que o Eterno, É verdade que Amalek não é a única fonte de maldade
teu D’us, te está dando por herança para possuí-la, e conflito no mundo, e que há outros inimigos do Povo
apagarás a memória de Amalek de debaixo dos céus; Judeu. De fato, a história humana, inclusive a história
não te esquecerás!” (Deuteronômio 25:17-19). É um judaica, está repleta de guerras, conflitos e problemas.
mandamento da Torá ouvir a passagem de Zachor. O As nações frequentemente entram em guerra por uma
fato de que o Shabat em que lemos essa passagem leve série de razões. No entanto, as guerras raramente duram
o nome de Shabat Zachor enfatiza a importância do mais do que uma ou duas décadas, e, quando mudam as
mandamento. circunstâncias, o inimigo de hoje pode tornar-se o aliado
de amanhã.
E a lemos no Shabat que precede Purim porque Haman,
o antagonista na história relatada pela Meguilat Esther, Em contraste, Israel e Amalek lutam um contra o outro
foi descendente de Amalek. Ele não apenas é seu há milhares de anos e sempre têm estado em lados
descendente, mas é sua própria personificação. Quando opostos. Amalek sempre odiou o Povo Judeu e sempre
nos lembramos do que Haman pretendia fazer – odiará. Como escreve a Torá em sua primeira descrição
exterminar cada um dos judeus da face da Terra: homens, da Guerra com Amalek: “Escreve isto para lembrança no
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livro, e leva-o aos ouvidos quase um dia inteiro, Israel venceu. nem se haviam voltado na direção
de Yehoshua” (Êxodo 17:14). Os amalequitas não lutaram até dos amalequitas. Estes não poderiam
A Torá ordenou ao Povo Judeu a morte – ao contrário, fugiram. alegar que lutavam para se defender
que lembrasse e fizesse lembrar a Segundo o relato da Torá, eles e que atacaram os judeus porque
Yehoshua – o general que sucederia nem sequer conseguiram invadir estavam com medo do Povo de
Moshé como seu líder e que lideraria o acampamento dos judeus. Pelo Israel, por conta de quem, o Egito,
a conquista da Terra de Israel – contrário, feriram apenas os que grande superpotência da época, fora
que um inimigo implacável se “ficavam atrás de ti” (Deuteronômio destruída.
escondia na escuridão e, certamente, 25:18) – aqueles que ficaram para
reapareceria no futuro. trás provavelmente porque estavam Diferentemente de certas nações
enfraquecidos ou cansados. que tinham lutado guerras
Na Torá, duas passagens nos territoriais contra o Povo Judeu,
ordenam lembrar e apagar a Israel teve certa dificuldade em Amalek não fazia parte dos planos
lembrança de Amalek. A primeira repelir os amalequitas, mas a batalha, de Israel, e eles tampouco residiam
é Êxodo 17:8-16 e, a segunda, em si, foi um incidente relativamente nos territórios que Israel pretendia
Deuteronômio 25:17-19. Apesar de pouca importância. Os judeus conquistar. O fato de que seu ataque
de não serem muito detalhadas, lutaram várias guerras, muito mais não tinha nenhuma justificativa
essas passagens nos fornecem uma importantes, em seu caminho para racional apresentava uma única
visão geral da natureza de Amalek. a Terra Prometida. Por que, então, possibilidade: ódio gratuito. Amalek
Como relata a Torá, após o Êxodo a Torá se preocupou em mencionar não atacou Israel visando a um
do Egito, enquanto o Povo Judeu a batalha com Amalek? Porque há objetivo em particular. Não se
estava a caminho do Monte Sinai algo de muito perturbador nela tratou de uma guerra por território,
para receber a Torá, os amalequitas – ele atacou Israel sem motivo fronteiras, terras, recursos hídricos,
os atacaram, matando certo algum. Os judeus não haviam tesouros ou mesmo religião. Nem
número de judeus. Após ter lutado invadido seu território. Na verdade, sequer foi motivada por medo.
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Nossas festas
Foi puramente uma expressão de antissemitismo, mas, ao menos, têm Haman e Hitler exemplificam a
ódio: o desejo de prejudicar e matar uma base na natureza humana. razão para Amalek ser um inimigo
judeus. diferente de todos os demais, e por
De fato, os seres humanos têm que a Torá nos ordena lembrá-
Entre todos os inimigos do Povo o terrível hábito de generalizar lo e aniquilá-lo. O ódio por ele
Judeu, Amalek se destaca por seu e escolher um bode expiatório. não tem motivo político, religioso
ódio gratuito e sem limites. Ele Contudo, no ódio aos judeus, ou econômico. Ele atacou Israel
não precisa de razão ou justificativa há também um vestígio de um simplesmente porque odeia todos
para odiar e atacar os judeus. Um elemento adicional que não pode os judeus. A passagem de Zachor
inimigo como esse é muito perigoso ser racionalmente explicado – um transmite essa mensagem, e é por
porque não pode ser aplacado ódio misterioso, fundamental, isso que a Torá ordena a todos os
nem convencido pela lógica. Seu fanático. Por exemplo, por que judeus que a ouçam.
propósito de vida é o ódio a Israel. Hitler odiava tanto os judeus? Por
Nada no mundo o fará renunciar a que ele tinha uma obsessão maior “E Amalek não
isso. em aniquilá-los do que em ganhar temeu a D’us”
a guerra? Ele odiava o Povo Judeu
Amalek e o mais do que odiava as nações que o A Torá transmite informações
antissemitismo venceram e destruíram seu país. Na adicionais sobre Amalek de
véspera de se suicidar, ele fez seu importante significado. Relata
Durante milhares de anos, testamento final, cuja última palavra a Torá: “E Amalek não temeu
muitas pessoas, judias ou não, é “judeus”. a D’us” (Deuteronômio 25:18).
empenharam-se em encontrar uma Aparentemente, a Torá não nos está
explicação para o antissemitismo. Esse elemento misterioso de ódio dizendo algo que não pudéssemos
Filósofos, escritores, sociólogos e obsessivo é inexplicável e irracional. ver sozinhos. É óbvio que alguém
historiadores apresentaram listas É uma reação à própria existência que ataca e mata pessoas, sem
de razões: xenofobia, as diferenças dos judeus no mundo. Hitler, que motivo algum, não teme a D’us.
teológicas entre o judaísmo e as era provavelmente a reencarnação O que a Torá sim nos ensina com
demais religiões, ressentimento de Haman e certamente a essa frase é que nem mesmo o temor
das extraordinárias contribuições personificação de Amalek, odiava os a D’us evitaria que Amalek atacasse
do Povo Judeu, e muitas outras. judeus simples e exclusivamente pelo Israel.
Nenhuma delas justifica o fato de existirem.
Quando Israel saiu do Egito, não se
tratou apenas da migração de um
povo. As pragas do Egito e a divisão
do Mar dos Juncos se tornaram
amplamente conhecidas. Ficou
claro não só para o Faraó e para os
egípcios, mas também para as outras
nações, que estavam ocorrendo
eventos únicos. Era evidente que o
Povo de Israel estava sob a proteção
de D’us – que Ele havia manifestado
Sua Presença em seu meio e lutava
por eles. Poder-se-ia esperar que
sob tais circunstâncias, ninguém
neste mundo teria ousado desafiar o
Povo de Israel. De fato, nem mesmo
Balak, Rei de Moav, que tinha boas
razões para temer a presença dos
judeus na fronteira de suas terras,
Sala dos Nomes, Yad Vashem, Jerusalem, Israel ousou confrontá-los militarmente,
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REVISTA MORASHÁ i 90
O Midrash descreve o
comportamento de Amalek
e seus efeitos com a seguinte
parábola: Com o que isto pode
ser comparado? Com um banho
quente, fervente a tal ponto que
ninguém ousaria entrar. Veio um
joão-ninguém e entrou. Apesar de
ter-se escaldado, ele resfriou a água
para os demais. Também no caso de meguilá, reco-reco e prato expostos no museu israel, jerusalém
Amalek, quando Israel saiu do Egito,
D’us separou o mar perante eles e os
egípcios se afogaram nele, [e, como é possível lutar contra ele. Essa Divino. A nação de Amalek
consequência], o temor por Israel mensagem seguiu seu caminho a direciona seu ódio ao Criador e ao
caiu sobre todas as nações. Quando todas as demais nações. Elas ficaram Povo de Israel – que é o povo com
Amalek veio e os atacou, mesmo com medo – “todos os habitantes quem o Nome de D’us é associado
tendo recebido o que merecia de Canaã derreteram-se” (Êxodo (Deuteronômio 28:10) – o povo
por meio de suas mãos, ele os fez 15:15), mas, após o ataque de que é testemunha de D’us na Terra
parecer mais frios perante as nações Amalek, eles se armaram de coragem (Isaías 43:12).
do mundo (Midrash Tanchuma, Ki para lutar contra os judeus.
Tetzeh 9). Amalek e Purim
Há outra forma de entender a
Na parábola do Midrash, aquele expressão da Torá de que Amalek A Meguilat Esther, um dos livros do
que pulou no banho fervente o “não temeu a D’us”. Essa frase Tanach, conta a história de Purim.
fez sabendo perfeitamente que se não apenas é uma negativa, mas Relata que enquanto o Povo Judeu
escaldaria, e o único resultado de também uma designação positiva: vivia no exílio, sob o reinado do
fazê-lo seria resfriar a água fervente. não apenas ele não teme a D’us, mas Rei Achashverosh, um homem
Da mesma forma, ao atacar os de fato se coloca contra Ele. Não chamado Haman subiu ao poder,
Filhos de Israel, Amalek perdeu apenas rejeita a autoridade Divina, tornando-se Primeiro Ministro.
a batalha, mas conseguiu enviar mas abertamente se opõe à mesma. Haman fica indignado quando
uma mensagem a todo o mundo: Amalek odeia Israel e luta contra Mordechai – líder dos judeus – se
o Povo Judeu, apesar da proteção D’us. Portanto, ele não é meramente recusa a se curvar perante ele, e
Divina, não é invulnerável: ainda antissemita, mas também anti- pede ao Rei Achashverosh que lhe
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de não temer a D’us. O povo de se retirou da Faixa de Gaza, os na mídia, na Europa e em algumas
Amalek deseja atacar os judeus “amalequitas” que lá vivem lançaram faculdades americanas. É verdade
apesar de saber que será vencido e mais de 12.000 mísseis contra os que Israel está envolvido em disputas
que D’us está protegendo Israel. centros populacionais de Israel para territoriais com alguns países árabes,
matar o maior número possível e que ocasionalmente entra em
Essas marcas nos ajudam a de judeus – homens, mulheres e guerras para proteger seu povo.
identificar Amalek em nossos dias. crianças. Infelizmente, tais guerras resultam
Assim como Amalek atacou Israel em mortes de civis, principalmente
no deserto, sem motivo, também Lembremo-nos de que no deserto, porque organizações terroristas os
o Irã de hoje planeja exterminar o povo de Amalek não penetrou no utilizam como escudo humano.
o Estado Judeu sem qualquer acampamento judaico. Em vez disso, Mas todos sabem que muitos países,
razão racional. Irã e Israel não eles lutaram contra os judeus mesmo hoje, inclusive os Estados Unidos e
compartilham fronteiras. Não há sabendo que seriam vencidos. Hoje, a Rússia, lutam contra terroristas e
disputas territoriais entre ambos, os “amalequitas” em Gaza, que que tais conflitos resultam em baixas
e nunca lutaram uma guerra um oprimem e aterrorizam as pessoas civis. Contudo, o mundo só critica
contra o outro. Os líderes do Irã que lá vivem, fazem o mesmo. Israel. Quando Israel bombardeia
odeiam os judeus gratuitamente, Atacam por trás: cavam túneis uma escola em Gaza usada para
assim como Haman odiava. para sequestrar judeus. Em junho disparar foguetes contra os judeus,
A alegação de que sua campanha de 2014, Amalek sequestrou três o mundo, inclusive a Casa Branca,
contra Israel visa a defender os alunos de Yeshivá que voltavam para condenam o Estado Judeu. Quando
árabes é um pretexto porque o Irã casa para passar o Shabat com sua os Estados Unidos bombardeiam um
é inimigo de muitos países árabes. família, e os assassinou a sangue frio. hospital no Afeganistão, a maioria
Os líderes do Irã não odeiam Israel do mundo nem ouve falar nisso. E
porque amam os adversários de Amalek também vive em Jerusalém mais, é muito estranho que Israel
Israel. Odeiam Israel porque e na Judeia e Samaria (Cisjordânia). seja o país mais atacado e condenado
seus líderes são filhos de Amalek e No Deserto de Sinai, os amalequitas nas Nações Unidas e nas faculdades
Israel é o único Estado Judeu. atacaram os judeus por trás. Hoje americanas. O que perturba ainda
também eles atacam-nos por trás. mais é o fato de que entre todos os
Mas os filhos de Amalek não vivem Eles usam facas – para derramar países do mundo, o único que sofre
apenas no Irã. Vivem em vários sangue judeu. Eles atacam, em ameaças de aniquilação seja Israel.
países do Oriente Médio, inclusive geral, os jovens e os frágeis. Amalek Não ouvimos líderes de países ou
alguns que fazem fronteira com também floresce na Diáspora, alunos nas faculdades pedindo pela
Israel. Desde 2005, quando Israel especialmente nas Nações Unidas, destruição de certos países, nem
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A
Alsácia-Lorena pertenceu à França de envenenarem os reservatórios de água da cidade.
durante os séculos 17 e 18, passando em O episódio que mais sensibilizou a jovem Marthe
seguida ao controle da Alemanha. Depois ocorreu em 1670. Na aldeia de Bolchen, perto de
da Primeira Guerra Mundial, a província Metz, vivia um judeu observante chamado Rafael Halevi.
retornou ao domínio da França. Em 1938, Ele foi absurdamente acusado de ter assassinado uma
depois da conferência de Munique, os judeus de Metz jovem cristã para fins rituais. Preso e sucessivamente
passaram a sofrer represálias por parte da população torturado, Halevi negou ser o autor do crime. Embora
local, repetindo-se ataques semelhantes aos que haviam o verdadeiro criminoso tivesse sido descoberto, os juízes,
ocorrido em Berlim, no mesmo ano, na Noite dos Cristais. pressionados pelos comerciantes locais que queriam
A região foi novamente ocupada pela Alemanha na livrar-se da concorrência dos judeus, mantiveram a
Segunda Guerra. Naquela ocasião, ali viviam cerca de condenação à morte e ordenaram a expulsão dos judeus
20 mil judeus, dos quais 14 mil buscaram refúgio em de Metz. Envolto em seu talit (xale para orações),
Estrasburgo, onde já vivia uma grande comunidade Rafael Halevi foi queimado vivo.
judaica desde a Idade Média. Em julho de 1940 foram
todos expulsos e os nazistas declararam que a Alsácia- Marthe recorda que apesar de não haver um
Lorena podia ser considerada Judenfrai (livre dos judeus). antissemitismo explícito em Metz era possível perceber
a hostilidade com que os judeus eram tratados.
Marthe Cohn (Gutgluck, de solteira) nasceu em Assim, logo que se iniciou a Segunda Guerra,
Metz, cidade contígua à fronteira da Alemanha, no dia sua família transferiu-se para a cidade de Poitiers,
13 de abril de 1920, sendo uma de seis irmãos e irmãs. a 200 quilômetros de distância. Àquela altura, dois de
Desde cedo sua identidade judaica se fortaleceu através seus irmãos serviam ao exército francês. O mais velho
das narrativas das tragédias sofridas pelos judeus de estava na Linha Maginot e o mais novo na Tunísia,
Metz ao longo da história. Durante as Cruzadas de 1096 tendo sido dispensado em 1940 porque o exército
ali foi perpetrado um massacre de judeus. Em 1322, francês passara a proibir a presença de judeus em suas
judeus foram queimados vivos, acusados fileiras.
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pai, mas libertou-o em seguida, sem na prefeitura. De forma espontânea, cidade, Marthe terminou o curso de
mandado de deportação, porque a este lhe disse ter ouvido um rumor enfermagem na escola mantida pela
condição de cidadão francês ainda segundo o qual haveria uma ação Cruz Vermelha. Uma de suas irmãs,
era respeitada. Somente os judeus contundente contra os judeus e Cecile, conseguira chegar escondida
estrangeiros eram levados aos se ofereceu para fornecer a toda a a Paris. Marthe foi ao seu encontro
campos de extermínio. Stephanie família novas identidades: “Eu lhe dois meses antes do desembarque
foi mandada para uma internação perguntei quanto custaria e ele me aliado na Normandia. O panorama
perto de Limoges, em seguida para respondeu, com lágrimas nos olhos, permanecia sombrio porque o
Drancy e finalmente para o campo que jamais faria aquilo por dinheiro. conflito estava longe de terminar.
de Pithiviers. A família Gutgluck Nunca mais o esqueci”. Em Paris, as duas irmãs souberam
conseguiu de forma mirabolante do fuzilamento de 700 franceses na
organizar uma ação através da qual No mesmo dia, uma amiga de cidade de Oradour-sur-Glane, em
ela escaparia do campo, mas a irmã Marthe da escola de enfermagem represália a um ato de sabotagem.
de Marthe recusou. Conseguiu que ambas frequentavam, chamada
mandar uma mensagem dizendo que Odile de Morin, abrigou a família Mal acreditaram nas fotografias que
se isso acontecesse, toda a família Gutgluck em sua casa, porque à mostravam Londres bombardeada
seria presa e deportada. No Yom noite, conforme ordens nazistas, e vibraram com a notícia sobre a
Kipur (Dia do Perdão) de 21 de os judeus franceses seriam presos captura de Varsóvia pelo exército
setembro de 1942 ela foi colocada e deportados por policiais também soviético. Marthe decidiu que era
num trem direcionado a Auschwitz, franceses. (A jovem Odile também seu dever participar da Resistência.
de onde nunca mais voltou. recebeu de forma póstuma o título Depois de tortuosas iniciativas
de Justa Entre as Nações). Dois dos conseguiu encontrar-se com um
Em Poitiers, Marthe fez amizade irmãos de Marthe estavam em Arles dos chefes dos resistentes. Ela
com um cavalheiro chamado onde todos se reuniram e foram para não esqueceu a conversa: “Ele me
Charpentier, seu colega de trabalho Marselha, zona não ocupada. Nesta questionou por mais de uma hora
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PARISIENSES LOTAM A AV. CHAMPS ÉLYSÉES ENQUANTO TANQUES E CAMIONETES FRANCESES DESFILAM PELA AVENIDA EM 26 DE AGOSTO
de escrita. Uma das trincheiras em em alemão”. Marthe respondeu que que se estendia desde o vale do
que se encontrava ficou sob intenso lia e falava alemão fluentemente e Reno até Mainz, num total de
fogo de artilharia: “Eu me afundei uma luz pareceu acender-se sobre a 250 quilômetros. Os combatentes
na trincheira e fiquei imóvel até que cabeça do coronel. Ele revelou que se amontoavam no porão de um
tudo serenasse. Esta foi a minha estava precisando com urgência de hospital abandonado e, somente
bravura sob fogo inimigo...” mulheres que soubessem falar alemão naquele dia, 189 deles haviam
para cumprir missões no território morrido e 192 jaziam feridos.
Certa ocasião, Marthe foi da Alemanha, ainda ferozmente
apresentada ao coronel Pierre Fabien, defendido: “Perguntou-me se eu Da frente de combate, Marthe foi
um dos mais destacados membros aceitaria ser transferida para o levada à presença de outro oficial que
da Resistência. Ele tinha a cabeça serviço de inteligência. Disse que lhe perguntou se em algum tempo
a prêmio pelos alemães por ter sim, ele saiu da sala, sentei-me em ela já havia interrogado prisioneiros
detonado uma bomba num vagão do sua cadeira e fiquei pensando em que alemães. Recebeu, então, um manual
metrô de Paris repleto de soldados tipo de encrenca eu me havia metido, de técnicas de interrogatório e
e oficiais nazistas. Durante as duas mas já era tarde”. assim conseguiu colher importantes
semanas de lutas em Paris, antes da informações, sobretudo sobre os
libertação, Fabien comandara um A missão oficial de Marthe Cohn preparativos nazistas que lutariam
grupo de resistentes tão eficientes e no exército da França começou na batalha das Ardenas, seu último
corajosos que De Gaulle o inscreveu oficialmente no dia 20 de janeiro esforço para conter o avanço das
como um regimento do exército de 1945, tendo sido designada tropas aliadas, além de seguirem
francês. Era este o regimento em para a unidade conhecida como combatendo na região da Alsácia-
que Marthe servia como assistente Commandes d’Afrique que havia Lorena. Em seguida, foi transferida
social. Dias depois, ela se encontrava combatido de forma excepcional para Mulhouse, no nordeste da
na sala de Fabien quando este lhe nas frentes africanas e agora investia França, onde passou a ser treinada
pediu para atender ao telefone contra os alemães na Europa. Com para as tarefas de espionagem que
enquanto almoçava. Desculpou-se: temperatura abaixo de zero, deveria cumprir. O grupo ao qual
“Sinto não ter nada aqui para você Marthe foi levada para as pertencia atendia pelo codinome de
ler nesse meio tempo. Só há livros montanhas de Vosges, uma cadeia “Antena” e se deslocou para a Suíça
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primeira fileira à direita: Marthe Cohn e Odile com a mão no ombro de marthe
com a missão de dali penetrar em não podia arriscar ser flagrada com de um tanque. Era tudo escuro
território alemão. Marthe atravessou anotações. De tudo que descreveu, somado a um cheiro insuportável
a pé uma floresta até avistar, depois dois pontos foram cruciais: ao de combustível. E lá estava eu, ao
da localidade de Schaufhasen, dois noroeste de Freiburg a Wernacht lado de um condutor do veículo e
sentinelas alemães junto a uma havia abandonado a linha de defesa de mais dois soldados encarregados
barreira na estrada. Saudou-os conhecida como Siegfried e havia um da artilharia. Parecíamos sardinhas
com o infalível “Heil Hitler” e lhes considerável contingente de tropas dentro de uma lata”. O tanque no
apresentou seus documentos nos alemãs concentrado na Floresta qual Marthe se encontrava investiu
quais constava o nome de Marthe Negra com a missão de emboscar os contra a cidade com o objetivo de
Ulrich. Já em contato com os aliados. Por conta de sua informação expulsar os alemães, mas foi logo
militares da Wermacht, disse-lhes sobre o abandono da linha Siegfried, atingido por um morteiro: “Pensei
que se alistara como enfermeira e os aliados puderam alterar e facilitar comigo mesma, é aqui que você vai
que estava à procura de seu noivo, seus planos relativos à invasão da morrer, neste veículo e neste lugar,
chamado Hans, do qual nunca Alemanha, porque não mais teriam imobilizada entre dois homens que
mais tivera qualquer notícia. Se, por que lutar para atravessar aquelas nunca antes viu na vida”.
acaso, ele estivesse designado para trincheiras até então consideradas
a batalha das Ardenas, indagava inexpugnáveis. Como recompensa O destino de Rafael Halevi cruzou
informalmente, em qual regimento por sua ação, Marthe Cohn recebeu seu pensamento: “Também vou ser
poderia estar servindo, ou talvez do governo da França, em 1945, a queimada viva”. No fim das contas,
integrasse um corpo de blindados. condecoração da Cruz de Guerra. conseguiu sair das profundezas do
Mas para encontrá-lo, precisava tanque e dias depois foi transferida
saber quantas unidades de combate Sabendo de seu bom conhecimento para a localidade de Lutzelhof,
estavam-se preparando para o da região da Alsácia-Lorena, a onde seu comandante, o coronel
confronto nas florestas das Ardenas inteligência francesa enviou-a em Bouvert, chamou-a para uma
e onde se concentravam. Colheu, fevereiro de 1945 para uma pequena conversa. Disse-lhe que tinham
assim, preciosas informações. Fez aldeia perto da cidade alsaciana como prisioneiro um soldado raso
o perigoso percurso de volta para a de Thann, com ordens para se da Wermacht que afirmava estar
Suíça e surpreendeu a inteligência apresentar a uma unidade de tanques: no exército nazista contra a sua
francesa com a acuidade de suas “Só entendi o que era claustrofobia vontade e que queria desertar para
narrativas, todas de memória, pois quando me colocaram dentro os aliados. Pediu que Marthe o
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A arte dos
amuletos judaicos
no início deste ano, o Museu de Arte e História do Judaísmo,
em Paris, inaugurou a belíssima exposição “Magia, Anjos e
demônios na Tradição Judaica”. De imediato, chamou nossa
atenção, pois o termo “magia” destoa quando aplicado ao mundo
judaico. Fundamentado na Torá, no Talmud e em rico pensamento
filosófico, o judaísmo é o arquétipo da religião racional,
no entanto, é também entrelaçado de um profundo misticismo.
d
esde os primórdios da história, os homens O judaísmo acredita na capacidade do ser humano de
fizeram amuletos para aqueles que agir sobre o mundo e modificá-lo através de suas ações
acreditavam em seu poder de proteção. Eles ou palavras.
podem ser vistos tanto no Oriente quanto
no Ocidente, entre povos da Antiguidade A Cabalá que, na língua hebraica, significa “recebimento”
e nações modernas, chegando até nossos dias. Entre os ou “o que foi recebido”, é parte integral da Torá Oral
judeus, os amuletos têm uma história que se estende e, assim como a Torá Escrita, tem origem e natureza
ao longo de milhares de anos, sendo mencionados no Divinas. Também chamada de Chochmat ha-Emet
Talmud. - a Sabedoria da Verdade é uma doutrina de unidade
através da qual o homem pode aprender que a realidade
Essencialmente funcionais, os amuletos não eram é um todo no qual o visível e o invisível, o material e o
confeccionados com a intenção de serem admirados por espiritual se misturam e se unem. A Cabalá pode ser
sua beleza ou expostos em museus, como objetos de arte. dividida em dois: a Cabalá Iyunit, Cabalá Contemplativa
No entanto, como qualquer outro artefato, sua forma – e a Cabalá Maasit, Cabalá Prática.
e aparência, suas inscrições, seus materiais ou qualquer
outro elemento da cultura que lhes são associados podem A Cabalá Contemplativa, categoria à qual pertence
lançar luz sobre a sociedade à qual pertencem. a maioria dos textos cabalísticos hoje em circulação,
tenta explicar o processo através do qual, mediante a
Como o judaísmo encara os amuletos? Eles fazem Vontade do Único e Infinito D’us, o Universo foi criado
parte do lado místico do judaísmo, do que chamamos e é constantemente direcionado.
de Cabalá Prática. É bem verdade que o judaísmo,
fundamentado na Torá e no Talmud, é, à primeira A Cabalá Prática, por outro lado, envolve técnicas
vista, o arquétipo de uma religião baseada na razão, direcionadas especificamente a alterar os estados
metodicamente questionada, sendo que o estudo é ou eventos naturais. Um alerta importante, a Cabalá
um elemento fundamental, mas há um lado místico. Maasit só pode a ser empregada por Tzadikim
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1. PINGENTE - AMULETO PARA CONCEBER UMA CRIANÇA. EL DJADIBA, MARROCOS, 1918. 2. ORNAMENTOS DE TORÁ EM MEMÓRIA DE YOSEF
BEN ELIAHU LÉVY
e com o único propósito de ser ação e o pensamento judaicos eram e floresceu particularmente no
utilizada em benefício do homem. dominados pelo Talmud e, como Oriente.
A Cabalá Prática se fundamenta essa autoridade não proibia o uso de
no misticismo desenvolvido no amuletos escritos, seu uso cresceu Alguns de nossos Sábios,
“Sefer Yetzirá” (Livro da Criação). como Rav Hai Gaon, diretor da
Segundo essa obra, D’us criou o Yeshivá de Pumbedita (circa 1000),
mundo através das letras do alfabeto negou os poderes dos amuletos,
e particularmente daquelas de como, por exemplo, que um
Seu Nome Sagrado, que Ele pergaminho inscrito com o Nome
combinou das formas as mais místico de D’us poria os ladrões a
variadas. E, uma das técnicas correr; que acalmaria o mar, etc.
utilizada na Cabalá Pratica é a Ele admitia, contudo, que os
inscrição nos amuletos dos Nomes amuletos podiam ser eficazes como
Divinos. meio de cura e proteção. Tudo
dependia de quem escrevia e do
Na literatura talmúdica o amuleto é momento da aplicação (Ashkenazi,
chamado de kemi’á, termo oriundo “Ta’am Zekenim,” 56b).
de uma raiz que significa “vincular, Outros grandes Sábios, como
amarrar”. O uso de amuletos foi Rabi Moshe ben Nachman,
intenso no período rabínico e, Nachmânides, e Rabi Solomon
consequentemente, há inúmeros ben Abraham não condenavam
detalhes acerca deles nas fontes seu uso, ao passo que Maimônides
literárias. A Mishná considera os se pronunciou contra os mesmos,
kemi’ot a partir de seu ponto de vista AMULETO CONTRA MAU-OLHADO,
PARA PROTEÇÃO E SUCESSO NOS
negando que tivessem qualquer
jurídico. Durante esse período, a NEGÓCIOS, ARGÉLIA, 1930 virtude ou força.
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1. PINGENTE-AMULETO, SHMIRÁ, PARA PROTEGER A MÃE E O BEBÊ, com a figura demoníaca feminina de Lilit. IRÃ OU IRAQUE, 1900.
2. AMULETO, LOUHÁ CONTRA LILIT, MARRAKECH, MARROCOS, 1921. 3. PINGENTE-AMULETO, SHMIRÁ, PARA PROTEGER A MÃE E O BEBÊ COM
UMA IMAGEM de LILIT. IRÃ, 1920. 4. PINGENTE-AMULETO GENÉRICO, IRÃ, 1930
seu significado no contexto místico sete braços, a Menorá, ocuparam utilização da Chamsá, que significa
judaico. Entre os motivos populares, um lugar central entre os amuletos, “cinco”, em árabe, associando-a à
há o ciclo do Zodíaco, utilizado em sendo algumas vezes o principal quinta letra do alfabeto hebraico
amuletos para colocar a vida de seus elemento decorativo. Justamente, o (heh), que é utilizado para se referir
proprietários sob favoráveis auspícios desenho mais conhecido hoje, é a ao Nome de D’us com uma única
e sob uma constelação favorável; e Menorá “cabalística” ou Shiviti, feito letra (Monogramaton), ou ainda
da palmeira ou ramo de palmeira, usando os oito versículos do Salmo ao posicionamento dos dedos
sinal da vitória e da eternidade, que 67, renomado por proteger das na bênção dos Cohanim, Birkat
está associada ao justo que herdará forças negativas. O primeiro verso ha-Cohanim. As Chamsot judaicas
o Paraíso (Salmo 92:13). Na África representa as chamas, enquanto os utilizadas como talismãs assumem
do Norte, a figura do peixe deveria outros sete criam os braços. diversas formas, no Marrocos,
trazer fertilidade e facilitar o parto, Tunísia, Irã, Iraque, em Bukhara e
símbolo atestado nas mais antigas Inúmeras comunidades judaicas em alguns outros lugares. Algumas
tradições judaicas, por exemplo, em reprovavam ou proibiam a arte têm no centro a letra hebraica heh;
Gênesis: 28 e 48:16 e no Talmud figurativa. Em países muçulmanos outras, os dedos afastados como as
Babilônico,Trat. Berachot, 20a. os judeus abstinham-se, em geral, mãos dos Cohanim durante o Birkat
de representar o corpo humano. ha-Cohanim.
Entre os símbolos mais Entretanto, certas partes do
especificamente judaicos citamos: corpo cujo poder de proteção era Personagens e cenas narrativas são
os itens necessários para o culto considerado particularmente eficaz típicos dos amuletos de vários países
no Templo e várias representações eram uma exceção, como a mão europeus, incluindo Itália, Alemanha
de locais sagrados – em particular, humana estilizada – a Chamsá, e o e Países Baixos, onde os judeus
Jerusalém e o Monte do Templo, olho (para proteger contra o “mau estavam sob a influência de tradições
mas também santuários e túmulos olhado”, ayn raá). artísticas locais. Eles incorporam
como o Túmulo da matriarca Rachel, episódios bíblicos colocando
Kever Rachel. O símbolo da mão aparece bem em cena heróis mencionados
antes do surgimento do Islã. nominalmente no texto do amuleto.
Como na arte judaica antiga, todos É interessante ressaltar que as Em metal, pergaminho ou papel,
os objetos rituais relacionados ao autoridades rabínicas nos países os amuletos italianos, por exemplo,
Templo, entre eles, o candelabro de muçulmanos justificavam a privilegiam as cenas do Gênesis,
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israel
E
m 1850, a população mundial somava Com quase 70 anos de existência, o moderno Estado
pouco mais de 1 bilhão e 200 mil pessoas. de Israel tem dedicado a maior parte das últimas décadas
Cem anos mais tarde, este número a encontrar respostas para esses desafios.
praticamente duplicou, passando Com recursos hídricos escassos e mais de 50% de seu
para 2 bilhões e 500 mil. No ano 2000, território composto por solos áridos e semiáridos,
ultrapassou a marca dos 6 bilhões e, cinco anos mais cerca de 80% da água distribuída em Israel é reciclada
tarde, a dos 7 bilhões e 300 mil. e o país surge no cenário internacional como um
celeiro de inovação no universo da sustentabilidade,
A expectativa, segundo um estudo realizado colocando à disposição do mundo as mais avançadas
pela Organização das Nações Unidas para Alimentação tecnologias para o aumento da produção agrícola por
e Agricultura (FAO) divulgado recentemente, hectare cultivado com menor desperdício, redução do
é que, em 2050, o total de habitantes no planeta volume de água utilizado, fabricação de fertilizantes
seja superior a 9 bilhões e, em 2100, a 11 bilhões. menos agressivos e ferramentas para piscicultura, entre
Ainda segundo o estudo, a maior taxa de crescimento outras, sem perder de vista um ponto importante: a
populacional nas próximas três décadas estará segurança alimentar. Atualmente, cerca de 65% das
concentrada na África. exportações de vegetais de Israel saem do deserto de
Aravá, no sul do país.
Diante deste quadro, a humanidade se defronta desde
já com um desafio do qual não pode mais se esquivar: Se os recursos hídricos naturais potáveis são escassos
como alimentar tal contingente. Segundo o relatório, para atender às necessidades do país, é preciso, então,
para atender esta demanda a produção mundial de produzi-los. Dito desta forma, pode parecer sem sentido.
alimentos deve crescer cerca de 70%. Como alcançar este No entanto, é exatamente o que Israel tem feito nos
volume, considerando a tendência de redução das terras últimos anos, buscando soluções para sua realidade de
cultiváveis, a escassez de recursos hídricos e a mudança país árido. Nessa trajetória, a dessalinização, por décadas
climática, de modo geral? repudiada por muitos como cara, surge como alternativa,
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pois está-se tornando mais barata, dentadas, feitas de composto plástico canaliza o orvalho e a condensação
mais limpa e mais eficiente em reciclado e reciclável diferente diretamente para as raízes. Caso
termos energéticos graças aos do PET, com filtros UV e um chova, as bandejas – que já estão à
avanços tecnológicos e o surgimento aditivo de pedra calcária, cercam venda – aumentam o efeito de cada
do método de osmose reversa. cada planta ou árvore. Com a milímetro de água em 27 vezes.
variação de temperatura ao longo
A dessalinização entrou de tal forma da noite, o orvalho se forma na Por uma agricultura
na agenda de prioridades nacionais superfície da bandeja da Tal-Ya, que melhor
que o país abriga hoje aquela que
é considerada a maior usina de seu Dos campos da Califórnia aos da
tipo no mundo. Instalada em um China, passando pela América do
terreno arenoso a 15 quilômetros Sul e Europa, a tecnologia israelense
ao sul de Tel Aviv, a Usina de Sorek faz-se presente nas suas diferentes
produz 40 bilhões de galões de água manifestações. Netafim, Bio Bee,
potável por ano, o suficiente para AutoAgronom, Sembiotics são
cerca de um sexto dos quase oito nomes da indústria do Estado Judeu
milhões de israelenses. que, há décadas, já fazem parte
da agenda internacional quando
Ainda no setor de água, a Tal-Ya o tema em pauta é a alimentação
Water Technologies desenvolveu da crescente população mundial.
bandejas plásticas reutilizáveis É cada vez maior o número de
para coletar orvalho, reduzindo multinacionais que fazem aquisições
a água necessária para cultivo de em Israel visando aumentar o seu
produtos agrícolas ou árvores em portfólio de produtos e melhorar a
até 50%. As bandejas quadradas kibutz ginnegar, 1947 (zultan kluger) sua performance.
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israel
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Segurança alimentar
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Meio ambiente e
piscicultura
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Produção de leite
e derivados Em Israel, uma das maiores produtividades mundiais de leite por vaca
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PERSONALIDADE
Y
itzhak Rabin, o primeiro “sabra1” a ocupar da defesa do bairro judeu. Nos anos seguintes ajudou
o posto de primeiro ministro, nasceu em na organização dos sindicatos no Partido Trabalhista de
1º de março de 1922, em Jerusalém. Era David Ben-Gurion.
o primeiro filho de Nehemiah e Rosa,
judeus russos que se estabeleceram na então A mãe de Yitzhak, Rosa Cohen, era filha de uma
Palestina durante a Terceira Aliá. Seu pai, Nehemiah próspera família em Mogilev, na Bielorrússia e, em
Rubitzov, nascera em uma família de poucos recursos em 1919, emigrou para Eretz Israel. Politicamente ativa em
Smidowitz, um shtetel na Ucrânia. Aos 18 anos, emigrou sua terra natal, ao chegar na então Palestina juntou-se
para Chicago, nos Estados Unidos, e, em seguida, para à Haganá. Ela estava também entre os voluntários que
St. Louis, onde entrou no Poalei Tzion2, mudando o em 1920 defenderam o bairro judeu, em Jerusalém.
sobrenome para Rabin. Conheceu Nehemiah e os dois se casaram em 1921,
mudando-se para Haifa. Rosa trabalhava como guarda-
Em 1917, durante a 1ª Guerra Mundial, Nehemiah foi livros, mas se dedicava primeiramente a proteger os
para Eretz Israel para se juntar à Legião Judaica3. No direitos dos operários, como parte de seu trabalho
final da guerra tornou-se membro da Haganá. Quando, na Histadrut, a Central dos Trabalhadores. Também
em abril de 1920, eclodiram em Jerusalém violentas trabalhou com a Haganá, no comando da defesa da
revoltas árabes contra os judeus, Nehemiah participou cidade. O pai, Nehemiah, trabalhava na Empresa de
Eletricidade Pin’has Rutenberg e também tinha grande
envolvimento na Haganá, bem como na Histadrut.
1
Sabra - pessoa nascida em Israel.
Poalei Tzion era o movimento de trabalhadores judeus socialistas
2
Durante uma visita a Jerusalém, Rosa deu à luz ao seu
sionistas, fundado no Império Russo na virada do Séc. 20,
depois que o movimento Bund rejeitou o Sionismo, em 1901. primeiro filho, Yitzhak. Em 1923, a família se mudou
para Tel Aviv, onde dois anos mais tarde nascia a
Legião Judaica era o nome dos cinco batalhões de voluntários
3
judeus estabelecida como o 38º batalhão de Fuzileiros reais do segunda filha, Rachel. Em Tel Aviv seus pais seguiram
Exército Britânico. suas atividades na Histadrut, na Haganá e eram ativos no
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Achdut Ha’avodá, partido político judaica (1936-39), a escola Kadourie era Yigal Allon. Era o início de
que seguia os mesmos princípios foi atacada. Esse evento fez os alunos uma estreita amizade entre Rabin e
do Movimento Trabalhista. Pais compreenderem as dificuldades que Allon.
tão envolvidos tiveram enorme os judeus do Yishuv iriam enfrentar
influência sobre Yitzhak. Certa em relação à população árabe. Todos Excelente aluno, Rabin se graduou
vez, ele disse: “Na minha infância, os jovens se alistaram na Haganá e com honra ao mérito, em 1940.
absorvi em casa um sistema de aprenderam a usar armas; o instrutor Chegou a ganhar uma bolsa
valores que me guiou por toda a vida. de estudos da Universidade da
A figura inspiradora de meus pais, a Califórnia em Berkeley para cursar
inspiração que foi nosso lar, um lar Engenharia Hídrica, mas Allon o
onde o senso de missão prevalecia convenceu de que a segurança do
em todos os momentos, tudo isso foi Yishuv era mais importante.
decisivo para moldar meu caminho”.
Quando, no verão de 1941, as
Yitzhak frequentou a escola Beit tropas alemãs chegaram ao Oriente
Chinuch, à qual chamava de seu Médio, a Haganá criou o Palmach,
segundo lar. Prosseguiu os seus seu braço militar, para defender a
estudos secundários na escola agrícola Terra de Israel de qualquer ataque
em Givat Ha-Shloshah, pois queria vindo das Forças do Eixo. Yitzhak
ser agrônomo. Em 1937 é aceito na foi recrutado por Moshé Dayan,
conceituada Kadourie Agricultural integrando-se à sua unidade baseada
High School, em Kfar Tabor. no Kibutz Hanita, próximo à
fronteira libanesa. Durante os dois
Durante a revolta árabe contra o anos de cooperação entre o Palmach
domínio britânico e a imigração e os ingleses, Rabin participou de
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PERSONALIDADE
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foto do staff sênior das fdi. sentados, da dir. à esq. moshé dayan, shimon peres, levi eshkol, primeiro ministro ben gurion,
tzvi zur e ben natan. na 2ª fila, rabin. 1961
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PERSONALIDADE
Primeiro-ministro
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1 2 3
4 5 6
1. rabin com ben gurion, 1966 2. com golda meir, 1969 3. Com Henry Kissinger, 1975 4. ao lado do presidente haim herzog, 1992
5. com rei hussein na galileia, 1994 6. recebendo o prêmio nobel da paz ao lado de shimon peres, 1994
reféns. Os sequestradores exigiam a rei Hussein, da Jordânia, em várias abriu caminho para a assinatura dos
libertação de 53 terroristas ocasiões, em uma série de tentativas Acordos de Camp David, alguns
– 13 detidos em prisões da França, infrutíferas de conseguir negociar a anos mais tarde.
Alemanha Ocidental, Suíça e do paz com o monarca.
Quênia, e 40 em Israel. Em 1977, devido a um escândalo
Negociou, ainda, um segundo acordo envolvendo-o e à sua esposa Leah
Rabin chegou a ser duramente de separação de forças com o Egito por manterem uma conta em um
criticado por ter esperado vários no Sinai, mas somente depois de banco americano, após retornarem
dias antes de autorizar uma tropa ter enfurecido Kissinger ao recusar a Israel, Rabin renunciou ao cargo
de assalto a Entebe. Quando ele a proposta americana. Para Rabin, de primeiro-ministro. Na época,
finalmente deu o sinal verde a ela exigia o máximo de concessões manter a conta era uma violação
ousada ação militar foi muito bem- territoriais israelenses em troca do das leis vigentes, a legislação foi
sucedida, e ele foi ovacionado como mínimo de concessões políticas por modificada pouco tempo após seu
herói. Apenas uma pessoa morreu parte dos egípcios. afastamento do cargo. Sua renúncia
durante a operação de resgate: abriu caminho para a vitória de
o comandante da força-tarefa, o As relações com Kissinger ficaram Menachem Begin e do Partido
tenente coronel Yonatan Netanyahu, bastante estremecidas. Ao retornar Likud nas eleições de 1977. Dois
irmão mais velho do atual primeiro- a Washington, em março de 1975, anos mais tarde, Rabin publicou sua
ministro de Israel, Binyamin Kissinger persuadira o presidente autobiografia, The Rabin Memoirs.
Netanyahu. A missão de resgate Gerald Ford a rever a política
era uma mensagem clara: Israel não americana em relação a Israel, um Rabin retornou à política sete
negocia com terroristas! gesto visto como uma ameaça de anos mais tarde, em 1984, como
suspender os envios de armamentos. ministro da Defesa do governo de
Como primeiro-ministro de Israel Rabin acabou por aceitar o que União Nacional do Likud com o
Rabin foi o primeiro a fazer uma chamou de “um risco pela paz” e Partido Trabalhista, trabalhando
visita oficial à Alemanha Ocidental assinou um acordo com o Egito de com o primeiro-ministro Shimon
e encontrou-se, secretamente, com o separação de forças no Sinai, o que Peres. Como ministro da Defesa,
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PERSONALIDADE
o presidente Bill Clinton observa o rei Hussein da jordânia e o prêmie israelense Yitzhak Rabin, durante a declaração de
Washington, pondo fim à inimizade entre os dois países, 1994
ele orquestrou a retirada israelense Internacional de Paz de Madri e Ademais, o apoio de Yasser Arafat ao
do Líbano. Reagiu com força aos para o início do processo de paz. Iraque durante a Guerra do Golfo,
ataques terroristas perpetrados Ele defendia um acordo com a em 1991, custara-lhe o suporte
contra as forças israelenses que se população palestina, baseado em financeiro dos países árabes ricos.
retiravam do Sul do Líbano. E, em eleições e ampla autonomia durante
dezembro de 1987, enfrentou a um período interino em troca do Para conseguir um acordo com os
Primeira Intifada. fim da Intifada. O plano foi adotado palestinos, Rabin trabalhou lado a
pelo primeiro-ministro Yitzhak lado com seu ministro das Relações
A geopolítica da região mudou Shamir. Exteriores, Shimon Peres. Eles
drasticamente quando o rei Hussein negociaram com Arafat e, finalmente,
fez o inesperado anúncio que a A volta ao posto de em 20 de agosto de 1993, assinaram
Jordânia abria mão de sua soberania primeiro ministro os Acordos de Oslo, na Noruega.
em relação à Margem Ocidental.
Em 10 de março de 1992 Rabin Em 1994, Rabin também assinou
A partir de então, os palestinos foi eleito presidente do Partido um acordo de paz com o rei Hussein,
teriam que ser os parceiros reais para Trabalhista. Ele levou o partido à da Jordânia.
qualquer acordo com Israel. vitória em junho do mesmo ano,
Rabin tentou, então, encontrar sendo eleito primeiro-ministro. Acordos de Oslo
canais de comunicação confiáveis Já no poder, imediatamente iniciou
junto aos palestinos. Uniu-se a sua caminhada em direção à tão Em uma cerimônia no Gramado Sul
Shimon Peres nos esforços de paz. almejada paz. Ele acreditava que da Casa Branca, em Washington,
Peres era seu rival político; durante o fim da Guerra Fria e o colapso no dia 13 de setembro de 1993, foi
décadas lutaram pela liderança do da União Soviética eram uma assinada a Declaração de Princípios
Partido Trabalhista e do país; mas oportunidade histórica. As relações Israelense-Palestina.
uniram-se na busca pela paz. soviético-palestinas tinham tido um
papel importante na Guerra Fria. Rabin, com muita relutância, se viu
Em 1989, Rabin apresentou Com o fim da União Soviética, a obrigado a estender sua mão para
seu plano para negociações com Organização para a Libertação da Arafat, o homem que fora responsável
os palestinos, plano que veio a Palestina (OLP) perdera seu apoio por tramar incontáveis ataques que
ser a base para a Conferência diplomático, político e financeiro. tiraram a vida de muitos israelenses.
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“O tempo para a paz chegou. manchete do jornal israelense: Rabin assassinado, Israel dolorida chora
Nós, os soldados que retornamos dos
campos de batalha manchados com
sangue, nós que temos visto nossos paz é feita com os inimigos, não com Líderes de mais de 80 países
familiares e amigos mortos diante os amigos. Em dezembro de 1994, comparecerem ao funeral de Rabin.
de nossos olhos... nós, que viemos Rabin, Peres e Arafat receberam o Onze discursos foram feitos – por
de uma terra onde pais enterram Prêmio Nobel da Paz. amigos, conselheiros, chefes de
seus filhos, nós temos lutado contra estado e reis. Mas foi o emocionante
vocês, os palestinos – nós dizemos A assinatura do Acordo de Oslo 2 elogio fúnebre de sua neta, Noa
hoje em um alto e bom tom: Chega por Israel e pela OLP, em 28 de Ben-Artzi, que mais sensibilizou
de sangue e de lágrimas. Chega”, setembro de 1995, ampliou as a nação. Ao falar, Noa lembrou a
declarou Rabin. áreas da Margem Ocidental sob todos o lado humano de Rabin: o
controle da recém-criada Autoridade belo sabra, o marido fiel e dedicado,
Rabin acreditava que os passos em Palestina. o pai e avô carinhoso, lembrou como
direção a paz eram dolorosos, porém nas horas de lazer ele gostava de
necessários, pois Israel não estava em O assassinato de um saborear um bom whisky, jogar tênis
busca de vingança, mas sim de paz. líder e assistir jogos de futebol...
“Não é tão fácil, nem para mim, Rabin foi assassinado covardemente O presidente norte-americano Bill
como soldado das guerras de Israel, por um extremista judeu de direita, Clinton encerrou seu elogio fúnebre
nem para o povo de Israel (... ) há 20 anos, em 4 de novembro a Yitzhak Rabin com uma despedida
Certamente não é fácil para as de 1995, em Tel Aviv, depois de inesquecível: “Shalom, Chaver”, disse
famílias das vítimas das guerras de discursar em uma manifestação ele. “Adeus, Amigo”.
violência, terror, cuja dor nunca há pela paz. Ao deixar a manifestação,
de sarar, nem para os centenas de Rabin levou um tiro pelas costas,
milhares que defenderam nossa vida disparado por Yigal Amir, um
BIBLIOGRAFIA
e a sua própria e os que chegaram a estudante de Direito. Foi uma
Webber, Shaul, Yitzhak Rabin – The Growth
sacrificar sua vida pela nossa. Para noite terrível, uma noite negra of a Leader. 2013, Ed. Kindle
eles, esta cerimônia chega com na história judaica e israelense.
http://www.rabincenter.org.il/
muito atraso”… Há muitas teorias de conspiração
associadas à morte de Rabin, como http://www.knesset.gov.il/rabin
Para a oposição que o acusou de ser ainda há inúmeras perguntas sem http://www.jpost.com/Israel-News/
um “traidor”, ele respondeu que a resposta... Yitzhak-Rabin-A-leader-with-vision
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ISRAEL
Os acordos de Oslo,
legado de Yitzhak Rabin
R
abin era um “falcão” que Rabin já tinha em mente um sobre cerca de 50% da Judeia e
no que dizia respeito esboço para um acordo final com os Samaria (Cisjordânia) e uma
à segurança de Israel, palestinos semelhante ao proposto grande parte de Gaza. Jerusalém
que dedicou sua vida por Yigal Allon em 1967. continuaria reunificada sob soberania
a defender o Estado israelense. As comunidades
Judeu. No entanto, acreditava Rabin acreditava que a paz com os judaicas na Judeia e na Samaria ali
também que Israel tinha que palestinos envolveria um governo permaneceriam. Sobretudo, Israel
tentar alcançar a paz com seus autônomo da Autoridade Palestina, manteria o controle perpétuo sobre
vizinhos árabes, pois estava não um estado pleno, com controle todas as áreas não cedidas aos
convencido que a rejeição do palestinos, incluindo a fronteira
mundo árabe em relação a Israel internacional com o Egito e a
era decorrente da ausência de paz Jordânia.
com os palestinos. Acreditava que
Israel não poderia continuar a ser Muitas pessoas afirmam que se
um Estado Judeu e democrático Yigal Amir não tivesse assassinado
se anexasse todos os territórios Rabin, Israel e os palestinos teriam
capturados em 1967 nos quais feito a paz. Embora não se possa ter
viviam milhões de árabes. No certeza sobre o que teria acontecido
entanto, acreditava também que se Rabin ainda estivesse vivo, pode-
havia um limite naquilo que Israel se afirmar, sem sombra de dúvidas,
poderia oferecer aos palestinos que Yigal Amir matou o primeiro-
sem comprometer sua segurança e ministro de Israel, mas Arafat
renunciar à sua identidade como e outros líderes da Autoridade
Estado Judeu. Palestina mataram os Acordos de
Oslo. Atualmente sabe-se que, às
Com base em suas declarações e, vésperas de seu assassinato, por
em especial, em seu último discurso causa do terrorismo palestino,
no Knesset (Parlamento), em 5 de Rabin estava considerando encerrar
outubro de 1995, ficou evidente Yitzhak Rabin o processo de Oslo.
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ISRAEL
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SHOÁ
MÚSICA EM DACHAU
POR REUVEN FAINGOLD
N
ão há dúvida de que tanto em Dachau como “campo seletivo”, em 1933, para encarcerar alemães
nos outros campos de concentração e de dissidentes do regime nacional-socialista. É importante
extermínio era comum que os mandantes ressaltar o fato.
usassem os prisioneiros com habilidades
musicais para seus próprios propósitos e É verdade de que o “componente essencial” de todos os
como meio de desumanizá-los e de quebrar, ainda mais, campos nazistas era “o mesmo”: a fome, a privação do
a resistência dos internos. Tampouco há dúvida de que sono e de todo tipo de necessidade primária, brutal ritmo
para os presos a música funcionava como estratégia de trabalho, o sadismo incessantes por parte das SS, e a
legítima de sobrevivência – física e espiritual. Alguns morte lenta por inanição, ou súbita e aleatória pelas
judeus conseguiram sobreviver à Shoá, pois os nazistas mãos de algum nazista. Contudo, em cada campo
“apreciavam” seus dons musicais. os prisioneiros estavam sujeitos às condições específicas
daquele local. Em suma, a categoria do campo e sua
A música tornou-se uma forma de resistência à barbárie história individual eram decisivas não apenas para a
nazista, parte da denominada “resistência cultural”. chance de sobrevivência do prisioneiro, mas também
Isto era parte das tentativas dos indivíduos em manter para sua liberdade de participar ou não das “atividades
sua humanidade e integridade pessoal face às investidas culturais”. Comparado a Mauthausen, na Áustria,
nazistas para desumanizar e degradar todos os judeus e a Auschwitz, na Polônia, Dachau, por não ser um
e o judaísmo. O linguista e historiador iídiche, Zelig campo de extermínio, oferecia alguma flexibilidade nas
Kalmanovich (1885-1944), descreveu-a como “uma clara atividades cotidianas.
vitória do espírito sobre a matéria”.
O campo de Dachau foi criado em 20 de março de 1933,
Inaugurado o Campo de Dachau após Hitler tomar o poder. Nessa ocasião, Heinrich
Himmler anunciou à imprensa oficial:
Dachau não era um campo de extermínio como “Na próxima 4ª feira, 22 de março de 1933, será aberto
Auschwitz, Treblinka e Sobibor; foi criado como um o primeiro campo de concentração na localidade de
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Dachau. Com capacidade para central, funcionando primeiramente decorrentes da Guerra que era
5 mil pessoas, lá serão confinados como base de treinamento das travada.
comunistas e, se necessário temidas SS (Schutzstaffel), e como
for, a Reichsbanner (milícia de modelo de organização para outros Até 1941, ano em que os nazistas
esquerda) e os membros do partido campos que foram sendo edificados. passam a autorizar atividades
socialdemocrata, grupos estes culturais, o “tempo livre” dos presos
que atentam contra a segurança Os prisioneiros reclusos em era limitado. Em 1943, quando o
do Estado. (...) Adotamos esta Dachau nos anos que antecederam Terceiro Reich começa a explorar o
medida sem dar atenção às a 2ª Guerra, seja para serem trabalho escravo, as condições dos
críticas insignificantes, tendo “reeducados”, seja para confinamento campos “melhoram” uma vez que o
plena convicção de que esta ação por “custódia preventiva” (schutzhaft), objetivo principal era incrementar a
certamente ajudará a restabelecer eram principalmente membros de produção. Assim, os presos passam
a calma em nosso país, realizando- organizações antinazistas, grupos a receber porções adicionais de
se isto em benefício de nossa religiosos, movimentos de resistência alimentos, e são permitidas algumas
população”. ou indivíduos que criticavam atividades culturais e esportivas. Mas,
abertamente Hitler, assim como no outono de 1944, com as sucessivas
Dachau, cidade localizada a também milhares de judeus. Depois derrotas sofridas pela Wehrmacht, as
18 km a noroeste de Munique, ficou de 1938, o campo de Dachau foi-se condições voltam a piorar, fazendo
famosa, no século 19, por ser um lotando gradualmente com outros com que as atividades sociais e
centro cultural e uma colônia de prisioneiros austríacos, ciganos, culturais passem à clandestinidade,
artistas. Ao eclodir a 1ª Guerra, em padres e pastores protestantes, e dentre elas a música e a pintura.
1914, foi construída uma fábrica Testemunhas de Jeová, de diferentes
de pólvora na periferia da cidade, nacionalidades. O campo foi libertado pelas tropas
fechada ao acabar a guerra. A fábrica americanas em 29 de abril de 1945.
abandonada abrigaria as principais Submetido às exigências da Pode-se ter uma ideia das terríveis
moradias do campo, durante os doze “Administração Central dos condições de Dachau através do
anos de seu funcionamento, entre Campos”, Dachau foi mudando relato da libertação do campo
1933 e 1945. consideravelmente ao longo de feito pelo rabino-militar norte-
seu funcionamento, atendendo às americano, Eli Bohnen (1909-
Desde sua inauguração, os nazistas loucuras dos comandantes alemães, 1992). Bohnen que participou na
outorgaram a Dachau um papel assim como às necessidade bélicas libertação de Dachau escreveu em
suas memórias: “Eu tinha vontade
de pedir desculpas ao nosso cachorro
por pertencer à raça humana.
Quanto mais adentrávamos o
campo de concentração e víamos
os esqueletos revestidos de pele e as
instalações características do campo
de extermínio, tanto mais eu me
sentia inferior ao cachorro, porque,
como pessoa, eu pertencia à raça
responsável por Dachau”...
A música como
instrumento de tortura
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as atividades musicais existiam marchas cotidianas rumo ao trabalho Na maior parte das vezes as
para enganar não apenas as pessoas forçado. Alguns sobreviventes, autoridades do campo de Dachau
que os nazistas para lá deportavam, como Karl Röder, lembram-se de exigiam que os prisioneiros
pois os recém-chegados eram, serem obrigados a cantar por longas cantassem marchas nazistas e
às vezes, recebidos por uma banda, horas após um dia extenuante de canções nostálgicas alemãs.
como também os possíveis trabalho: “Nem sei quantas horas
visitantes. cantei no campo. Devem ter sido Os SS obrigavam os prisioneiros
milhares. Cantávamos quando íamos a marchar pelas imediações do
Ele relembra que, “ao chegar trabalhar e ao regressar. Cantávamos campo com um cartaz pendurado
uma personalidade para visitar o horas inteiras durante o chamado que dizia: “Estou aqui novamente”.
campo, ‘descansava’ após a refeição das listas, para encobrir os gritos Uma pequena orquestra os
escutando uma banda musical de outros prisioneiros brutalmente acompanhava. Röder recorda:
composta de músicos famintos torturados ou violentamente “As canções que entoávamos eram
e esfarrapados, que se colocava espancados, mas também sempre as mesmas. Eu nunca
em pé, sorridente, à porta do cantávamos quando o oficial do consegui cantá-las sem me engasgar.
refeitório, tocando alguma marcha campo decidia que tínhamos que O ódio e a raiva me asfixiavam,
de tons suaves e cordiais”. Havia cantar... Os nazistas consideravam o sentindo-me afogado. Teria
também uma “orquestra de cordas” ritmo muito importante. Tínhamos preferido o abuso físico”.
que tocava aos domingos à tarde que cantar marchando a passo
para entreter outras autoridades do rápido e enérgico, e, acima de tudo, Os presos eram também
campo. em voz alta. Depois de horas e horas frequentemente obrigados a tocar
cantando, já não conseguíamos em concertos privados para os
Como acontecia em outros campos emitir som algum. Os nazistas oficiais das SS. Cabia-lhes animar
nazistas, o canto obrigatório era sabiam que esse canto era um as festas de aniversário e entreter os
parte indispensável das temidas castigo e por isso sempre nos faziam convidados. O uso da música como
“chamadas prévias” por listagem e cantar...”. forma de tortura em Dachau teve
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A música como De fato, nos primeiros tempos de Nas barracas era comum cantar à
“Resistência Cultural” campo, a maioria das atividades noite, mesmo após um dia exaustivo
musicais dos judeus incluíam de trabalho forçado. Um sobrevivente
Além das atividades musicais melodias e hinos de movimentos lembra: “Em voz baixa e depois um
forçadas, havia em Dachau o juvenis ou movimentos radicais de pouquinho mais forte, um preso
que podemos chamar de “música ideologia sionista e nacionalista. entoou um canto eclesiástico. O
voluntária”. Sendo raramente As canções de caráter nacionalista homem era um cantor litúrgico de
permitida pelos SS, era em muitos serviam não apenas para fortalecer o uma grande igreja da Polônia e tinha
casos informal e secreta. Corais, espírito como para estreitar os laços uma voz lírica excelente, de tenor.
grupos musicais, quartetos de de solidariedade entre os presos. Ouvimo-lo com atenção. Logo, do
cordas, espetáculos e orquestras Todos compartilhavam lembranças cântico eclesiástico continuaram
constituíam uma parte fundamental do que haviam perdido. canções em iídiche, que eram bem
da “resistência cultural” organizada mais solenes e trágicas”.
pelos prisioneiros de Dachau.
Diante da destruição física e mental Esse sobrevivente lembra que
de centenas de milhares de seres naquela ocasião ninguém foi
humanos, fortalecer o espírito com a punido. O encarregado da barraca
música era uma forma de resistência (prisioneiro, também) falou:
àquela barbárie. “Quem mais quer cantar?’ Desta
vez, a nova voz soava mais forte
O canto comunitário era uma das e firme. Cantou Valentine’s Prayer
atividades mais populares entre as (Oração de Valentine). Um cantor
lá praticadas. Prisioneiros políticos, de ópera de Praga acompanhava.
judeus ou não, entoavam melodias Após uma passagem do Fausto
comuns a militantes que faziam (de Goethe) vieram outras árias
parte de movimentos revolucionários de ópera. A última canção foi a
internacionais, tais como a famosa pungente Mein Shtetele Beltz (Minha
“Moorsoldatenlied” (Canção do pequena cidade de Beltz), que ficou
Soldado). afogada em prantos. Tanto o cantor
quanto o prisioneiro responsável
pela barraca choraram ao lembrarem
“Moorsoldatenlied”, canção do
seus lares destruídos e seus parentes
1
Lager - campo em alemão soldado assassinados”.
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graduar-se, batalhou para obter seu roubassem minha vida”. O desejo “Dachaulied” (Canção de Dachau).
primeiro trabalho de tempo integral de manter alguma normalidade Rapidamente, os músicos judeus
numa Áustria em crise. Em 1930, foi em sua vida o fez recitar poesias difundiram a letra dessa marcha
para a Alemanha e aceitou uma vaga para outros prisioneiros. Dessa pelo campo, que virou uma canção
como professor em Düsseldorf, mas forma, conseguiu conhecer músicos extremamente popular. A canção
na hora em que os nazistas tomaram judeus e convenceu marceneiros a teve uma vida dupla, pois agradava
o poder na Alemanha, a situação construírem instrumentos de corda tanto os nazistas como os presos.
mudou drasticamente para os judeus. com madeira roubada. Agradava a oficiais das SS por sua
Amigos e colegas começaram a se qualidade e ritmo, mas para os
afastar dele. Como outros artistas, Em início de julho de 1938 já prisioneiros do campo a composição
Zipper decidiu voltar a Viena, com havia reunido 14 músicos para dar encobria uma mensagem de
a esperança de escapar do regime concertos aos domingos à tarde. resistência e perseverança. Foi
nazista. Foi nessa época que ele Nesses concertos, os músicos uma das poucas músicas cantadas
conheceu o escritor Jura Soyfer. tocavam peças clássicas conhecidas, pelos prisioneiros com o aval das
mas também obras do próprio autoridades do campo.
A Áustria foi anexada ao Reich Zipper ou de Soyfer, compostas por
em 1938. Zipper e família estavam eles após o trabalho. Em setembro de 1938, Zipper e seu
planejando a saída do país, porém amigo Soyfer foram transferidos
era difícil obter os documentos Certa vez, Zipper pediu a Jura a Buchenwald. Ao tempo da
necessários, quando ele foi preso pela Soyfer que criasse um poema deportação, os pais de Herbert
polícia austríaca e enviado à prisão baseado no slogan nazista “Arbeit Zipper haviam fugido para Paris,
junto com seu irmão Walter e outros macht frei” (O trabalho liberta). lutando para libertá-lo e a seu
20 colegas. Em poucos dias, todos Ele guardou de cabeça a letra irmão. Em fevereiro de 1939, após
foram enviados a Dachau, aonde que Soyfer lhe havia recitado, uma curta estada em Viena, os pais
chegaram em 31 de maio de 1938. memorizou a música que havia foram informados que ambos os
Ele se relembra: “O traslado de trem preparado e, junto com outros, filhos seriam liberados. Finalmente,
foi brutal, houve socos, humilhações começou a cantarolá-la a músicos em Paris aconteceu o reencontro da
e escassez de comida e água”. prisioneiros. Desta forma surgiu família Zipper. Em maio do mesmo
ano, Herbert recebeu um convite
Durante o tempo que passou para fundar e dirigir a Orquestra
no campo, a música era para Sinfônica de Manila. Durante o
Zipper uma fonte de inspiração período que esteve na capital das
e de resistência. Como vimos Filipinas, ele conseguiu visto para
acima, como forma de tortura, os residir nos Estados Unidos com sua
prisioneiros eram obrigados a cantar família.
individual ou coletivamente. Nessa
circunstância, Zipper escolhia cantar O Japão invadiu as Filipinas em
“Ode à Alegria”, numa tentativa de 8 de dezembro de 1941, destruindo
dar força aos demais. a força aérea norte-americana. Em
janeiro de 1942, Zipper se alistou
Em Dachau, Zipper era obrigado no exército local, mas os filipinos
a transportar uma barra de o prenderam por sua amizade
cimento pelo campo. A vantagem com os EUA. Após breve reclusão,
estava no fato de poder falar foi libertado para organizar uma
com os outros. Assim foi que orquestra que colaboraria com
reencontrou Jura Soyfer. Sobre o a propaganda japonesa. Mas o
tempo que passou em Dachau, projeto da orquestra foi postergado
ele conta: “Poderia suportar ter e Herbert se uniu à resistência
que carregar sacos de feijão de clandestina, repassando informação
100 quilos sobre minhas costas, militar importante aos americanos.
mas jamais poderia suportar que HERBERT ZIPPER E O “CORAL DE DACHAU” Em março de 1946, Zipper e sua
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SHOÁ
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COMUNIDADES
A
s forças muçulmanas que haviam invadido a capitulação de Sevilha, que ocorreu em 1248, forçada
Península Ibérica no início do século 8 por Ferdinando III, estava praticamente concluída a
jamais conseguiram dominar toda a Reconquista.
Península. Uma parte das Astúrias, ao
Norte, ficou em mãos cristãs, resistindo às Há um consenso entre historiadores de que o ideal
investidas muçulmanas. No século 9, a Península Ibérica que permeou as guerras de reconquista foi, em grande
já estava dividida entre reinos cristãos, ao Norte, e o parte, religioso – derrotar o inimigo islâmico para que a
domínio islâmico, ao Sul, em Al- Andaluz. Península voltasse às mãos dos cristãos; e, em parte, de
conquista. O elemento religioso é de suma importância,
Quando, nos primeiros anos do século 11, o califado pois os guerreiros cristãos acreditavam estar lutando
de Córdoba se decompôs em vários pequenos reinos por sua fé em uma grande cruzada. A Igreja também
islâmicos, chamados Taifas, os cristãos se sentiram via a Reconquista como parte do movimento geral das
fortalecidos e retomaram as tentativas de reconquista da cruzadas que se estendeu do final do século 11 até o final
Península. do século 13. Os sentimentos religiosos e anti-judaicos
que vieram à tona acabam minando a posição das
A ofensiva contra os mouros, a “Reconquista”, como os populações judaicas que viviam nos Reinos Cristãos.
historiadores a intitularam, foi um longo e tumultuado
processo que durou quase 200 anos Os principais Reinos Durante a Reconquista os judeus estiveram em
Cristãos que surgiram nesse período foram: o Reino de constante movimento. À medida que os mouros se
Navarra, de Castela, de Aragão, de Leão e de Portugal. defrontavam com o inimigo cristão tornavam-se cada
A Reconquista foi concluída, para todos os efeitos, com vez mais intolerantes em sua religião, principalmente
exceção do pequeno enclave muçulmano de Granada que em relação aos não muçulmanos. Perseguidos, forçados
durou até 1492, por Ferdinando III (1217-1252) a escolher entre sua fé e a morte, os judeus passam a
e Alfonso X (1252-1284), do Reino de Castela e procurar refúgio entre os cristãos. Para eles, tratava-se de
Jaime I (1213-1276), do Reino de Aragão. Com a escolher viver no lugar que naquele momento histórico
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representava o menor perigo. Assim poderiam replicar o tipo de vida que Em épocas de estabilidade isto
trocaram o domínio islâmico onde tinham em Al-Andaluz. significava nada mais do que
reinava uma intolerância ativa, a obrigação de pagar impostos
pelo domínio cristão, onde no À medida que iam conquistando diretamente ao Tesouro Real.
passado haviam enfrentado grande novos territórios, os reis cristãos Os reis não tinham interesse em
animosidade. ofereciam aos judeus que lá viviam interferir na estrutura interna das
uma série de garantias: entre outras, comunidades – conhecidas como
O início do domínio a proteção real e isenções fiscais. aljama (o nome em árabe foi
cristão Concediam terras aos que queriam mantido), entidades autônomas
se estabelecer em seus domínios. politicamente independentes.
Pouco se sabe sobre o reduzido Essas, geralmente, incluíam
número de judeus que vivia no Norte fortalezas que, em tempos de perigo, A partir do final do século 12,
da Península nos anos de formação os judeus deviam defender contra os um número cada vez maior de
dos primeiros Reinos Cristãos – inimigos do rei. Nas cidades recém- judeus – em fuga das perseguições
Astúrias, León e nas serranias do fundadas não havia, inicialmente, dos Almorávidas e, mais tarde,
Norte e Noroeste da região. Sabe-se, diferenças entre áreas destinadas aos dos Almôadas, refugiaram-se nos
porém, que nos primeiros estágios cristãos e aos judeus. Reinos Cristãos. Entre eles havia
da Reconquista os cristãos não “judeus cortesãos” que haviam
poupavam as populações judaicas, Alfonso V de León (999-1027), servido príncipes muçulmanos e
destruindo sinagogas e matando por exemplo, atraiu judeus para que se colocaram à disposição dos
rabinos e sábios. seus territórios oferecendo terras, governantes cristãos. Um número
privilégios e liberdade. Na cidade de significativo passou a ocupar cargos
Mas, as perseguições acabaram Léon, a partir do século 10, importantes. Para os monarcas, os
à medida que os governantes os judeus controlavam o comércio judeus eram mais “confiáveis”, pois
perceberam que precisavam têxtil e de pedras preciosas, não representavam um perigo em
dos judeus. Hábeis artesão e possuindo muitas propriedades termos políticos, como era o caso
comerciantes, sua presença era no reino e atuando, também, dos cristãos que podiam se aliar
vital para a continuidade da vida na agricultura e viticultura. Em com nobres e tentar tomar o poder,
urbana nas áreas conquistadas aos Barcelona, tornaram-se importantes tampouco militares, como era o caso
muçulmanos. Fluentes em árabe, proprietários de terras, indicando dos muçulmanos que podiam se aliar
assim como nos vernáculos utilizados algumas estimativas que chegaram às forças mouras.
nos Reinos Cristãos, os judeus eram a possuir cerca de um terço das
intermediários entre os muçulmanos propriedades do condado. Os judeus tornaram-se, entre
derrotados e os cristãos vitoriosos. outros, médicos, conselheiros,
Os Reinos Cristãos eram administradores financeiros,
Ademais, os cristãos não eram monarquias feudais e na estratificada inclusive de ordens religiosas
capazes de atuar nos campos nos sociedade feudal não havia lugar católicas. Por dominarem vários
quais os judeus eram hábeis, entre para os judeus. Assim sendo, idiomas, tornaram-se diplomatas
outros, não tinham a cultura e direitos, “privilégios” e obrigações para os Reinos Cristãos, e intérpretes
conhecimentos dos habitantes de eram definidos pelos governantes capazes de traduzir rapidamente
Al-andaluz, pois na Europa cristã em cartas de direitos (fueros). Em os textos árabes para o idioma
apenas a Igreja mantinha o controle termos gerais, pois cada reino era castelhano e catalão. Os sefarditas
absoluto do saber erudito. Pode-se independente, tais cartas de direitos transformaram-se em uma ponte
dizer que durante a Reconquista declaravam que os judeus eram cultural, um vínculo vital para a
criara-se um tácito acordo: enquanto legalmente “propriedade” do rei e transmissão de obras clássicas gregas
as populações cristãs cuidavam estavam sob sua proteção. Mas tais e romanas, assim como islâmicas
da agricultura e do pastoreio e os direitos podiam ser cancelados ou para a Europa cristã.
nobres dos assuntos de guerra, os mudados pelo rei no poder num
judeus cuidavam da reorganização piscar de olhos, em muitas ocasiões A vida judaica na Espanha cristã
do Estado e da economia. Isso em decorrência de pressões da Igreja floresceu. Durante a Reconquista,
levou os judeus a acreditarem que ou da população local. formou-se nos Reinos Cristãos um
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grande número de importantes e e não mais o árabe passou a ser visível exercício de poder dos judeus
ricas comunidades organizadas e principal expressão da cultura ofensivo e contrário à doutrina da
seguramente estabelecidas. Essas judaica. Apenas na poesia e na Igreja. Mas, em comparação com o
comunidades foram-se fortalecendo arquitetura continuaram a ter os resto da Europa, os Reinos Cristãos
à medida que os antigos bairros traços da cultura andaluza. Ademais, eram lugar de grandes oportunidades
judaicos se expandiam ou novos no seio das comunidades judaicas para os judeus, e o judaísmo de
eram estabelecidos. surgira uma nova realidade: à Sefarad desempenhou um papel
medida que a Espanha cristã se central no mundo judaico durante
Enquanto o status social e distanciava fortemente do mundo os séculos, atuando como uma das
econômico dos judeus rapidamente islâmico, as tradições do judaísmo do principais forças da vida cultural
voltou a ser o que era na Al- norte europeu passaram a influenciar judaica na Europa.
Andaluz antes que o fanatismo o judaísmo sefaradita. O estudo do
dos Almôadas imperasse Talmud se tornara o novo ponto Os judeus de Toledo
completamente, ainda levou algum focal de estudo. Os judeus também
tempo para que a cultura judaica estavam desenvolvendo um interesse O Reino de Castela e Toledo são
renascesse. Eventualmente, porém, novo e profundo em disseminar exemplos típicos do desenvolvimento
comentaristas talmúdicos e bíblicos, as noções de misticismo judaico, a da vida judaica nos domínios cristãos.
halachistas e poetas produziram obras Cabalá. Já no século10 os governantes de
que influenciaram todo o mundo Castela outorgaram aos judeus,
judaico. A vida cultural e religiosa O brilho dourado da vida judaica em muitos aspectos, condições de
floresceu. Os antigos centros de era, no entanto, ofuscado pela forte igualdade em relação aos cristãos.
estudo judaico, Córdoba, Lucena, antipatia que existia contra os judeus Quando o rei Alfonso VI
Granada, estavam em ruínas, mas nos domínios cristãos, especialmente reconquistou Toledo, em 1085,
o estudo continuou a florescer em entre as massas. Apesar da atitude não apenas garantiu aos judeus
Toledo e Barcelona. benevolente dos monarcas em que lá viviam igualdade total de
relação aos judeus – por mais direitos, mas concedeu-lhes outros
O perfil do judaísmo sefaradita, interesseira que fosse – de modo desfrutados apenas pela nobreza.
porém, havia mudado. O hebraico geral os cristãos consideravam o Historiadores acreditam que
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Alfonso VI, o Bravo, rei de Leão e Como Nasi da comunidade judaica Revoltas contra a Coroa geralmente
Castela (1043–1109) foi o monarca de Toledo, trabalhou seu crescimento levavam à violência contra judeus,
ibérico que criou a tradição de e consolidação. Muitos judeus vindos principalmente em Léon,
que os cortesãos judeus, ainda que de Al- Andaluz se estabeleceram na região Norte do Reino de
permanecessem fiéis à sua religião, na cidade ajudados pelas atividades León-Castela. Em 1108, depois da
exerciam autoridade considerável de resgate de Ferrizuel. No século desastrosa Batalha de Ucles,
sobre os habitantes do reino. 12, intelectuais judeus e não na qual 30 mil soldados cristãos
Durante o reinado de Alfonso VI judeus dirigiam-se a Toledo vindos foram mortos, manifestações anti-
havia judeus atuando em vitais de várias partes da Europa. Na judaicas eclodiram em Toledo.
missões diplomáticas e alguns Toledo do século 12 e 13, os judeus Muitos judeus foram assassinados
chegaram a ocupar importantes trabalharam harmoniosamente lado e tiveram suas casas e sinagogas
funções na corte e nas forças a lado com cristãos e muçulmanos. incendiadas. Alfonso VI queria
armadas. O grande favoritismo A cidade tornou-se um centro de punir os culpados, mas morreu
do rei pelos judeus despertou a conhecimento. Obras clássicas antes que pudesse fazer o que
inveja e o ódio dos cristãos, e o gregas e romanas antes esquecidas pretendia. Depois de sua morte os
Papa Gregório VII advertiu-o para na Europa foram recuperadas e habitantes de Carrion atacaram os
que não permitisse que os judeus traduzidas. E o conhecimento vindo judeus, matando muitos, prendendo
governassem sobre os cristãos. do mundo muçulmano nas áreas de outros e pilhando suas casas.
Matemática, Filosofia, Medicina,
O confidente e médico pessoal de Botânica, Astronomia e Geometria, Alfonso VII manteve os judeus nas
Alfonso VI era o judeu Joseph ha- tornado acessível ao Ocidente. mesmas condições de igualdade
Nasi Ferrizuel (também conhecido que os cristãos. E, mais uma vez um
como Cidellus). Ferrizuel, que O exemplo de Alfonso VI em judeu, Judah ben Joseph ibn Ezra
ocupou vários cargos importantes, relação aos judeus foi seguido nos (Nasi), exerceu grande influência
usufruiu amplo poder político e Reinos de Aragão e Navarra. Porém, sobre o monarca. Judah foi nomeado
econômico. Entre outros, os nobres mesmo nesse período, havia tensões comandante da fortaleza em
do reino que não se aventuravam a latentes que poderiam minar a Calatrava, depois de sua conquista
abordar diretamente o rei, pediam a situação favorável aos judeus tanto em 1147. A seu pedido, o rei não
Ferrizuel para fazê-lo em seu nome. em Castela quanto em Aragão. apenas permitiu que judeus fugidos
das perseguições dos Almôadas
se estabelecessem em Toledo, mas
também permitiu que o fizessem
em outras cidades, como Fromista,
Flascala, Palencia, nas quais novas
comunidades acabaram por se
formar.
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documento de capitulação da cidade, fé. O temor à heresia era também especial e o distintivo. Quando exigiu
exceto dois judeus que atuavam muito forte. Para conter a ameaça da uma explicação ao rei, este disse
como intérpretes em Saragosa. Ao heresia, a Igreja criou as ordens dos que os judeus de seu reino iriam
consolidar seu reinado, o rei garantiu franciscanos (1209) e dominicanos fugir para a Granada muçulmana
aos judeus de Aragão inúmeros (1216), dando-lhes poder para se tais medidas humilhantes fossem
privilégios e incentivos financeiros combater todas as manifestações impostas e que tal êxodo teria
para que ali se estabelecessem. religiosas consideradas heréticas. Para resultados desastrosos para seu reino.
combater contra as heresias, em abril
É difícil caracterizar a vida judaica de 1233, o Papa Gregório IX editou As determinações da Igreja eram um
nos anos que se seguiram às duas bulas que marcaram o início da sinal da crescente hostilidade dos
conquistas cristãs do século 13, e Inquisição2 e os dominicanos foram cristãos contra os judeus.
precederam o início dos ataques incumbidos de lhe dar assistência e A situação tendia a se tornar cada
anti-judaicos no final do Século 14. direção. vez mais frágil, principalmente, face
Não se podem negar os efeitos da ao fato de para Igreja a conversão
hegemonia cristã na Península e, As raízes da futura perseguição aos dos judeus ter-se tornado prioritária.
portanto, a consequente importância judeus em toda Europa remontam Para os pontífices, a sobrevivência do
da Igreja nos assuntos dos Reinos. ao 4º Concílio de Latrão, que teve judaísmo era uma afronta pessoal.
Tampouco podemos esquecer o início em novembro de 1215, sob Coagidos apenas pela lei canônica de
fato de que os judeus ainda exerciam o comando do Papa Inocente III. que a conversão pela força era ilegal,
um grande poder e importante As determnações do Conciílio a necessidade de converter judeus e,
papel. Mas, por volta de 1300, tinham como intuito regulamentar depois, evitar sua recaída se tornou
após os cristãos terem completado o relacionamento judaico-cristão uma obsessão.
suas conquistas mais significativas, e estabelecer restrições sobre as
a população cristã da Península comunidades judaicas. O Conciílio Naquele então, porém, os defensores
começou a desenvolver os talentos ordenou aos judeus, para impedi- da tolerância prevaleceram, pois,
urbanos que tanto lhes faltavam los de se relacionarem com os apesar de a maioria concordar com
no século anterior. A aquisição cristãos, que usassem distintitvos a visão da Igreja em relação aos
de habilidades comerciais foi especiais de identificação em suas judeus, os reis espanhóis estavam de
especialmente rápida em Aragão e, roupas. Ademais, não podiam acordo sobre as vantagens de terem
como resultado, o status dos judeus relacionar-se com cristãos, viver judeus em seus reinos. Assim, apesar
locais declinou, diferentemente da sob o mesmo teto que eles, comer e das novas determinações da Igreja
situação em Castela, onde continuou beber em sua companhia ou usar o e das nocivas percepções sociais
relativamente estável. mesmo banheiro, entre outros. Um e teológicas que haviam tomado
cristão não podia tomar um vinho conta das populações cristãs, os
O poder da Igreja produzido por um judeu. A bula judeus continuam a manter cargos
papal de 1250 proibia aos judeus de importantes na administração e em
Cresce no século 13, na Península construir uma nova sinagoga sem funções públicas até 1492.
Ibérica, o poder da Igreja Católica uma autorização especial.
assim como seus esforços dirigidos Jaime I de Aragão
contra os judeus. Durante séculos, a Os judeus de Sefarad fizeram
Península ficara fora do alcance da o impossível para impedir o Jaime I, de Aragão (1208 -1276),
Igreja, mais importante instituição cumprimento da humilhante é um exemplo da ambivalência da
do mundo feudal. obrigação de usar distintitvos época em relação aos judeus. Como
especiais de identificação em suas vimos acima ele manteve seus
Neste século, a Europa estava roupas. Tudo em vão. Tanto Jaime direitos e privilégios, e muitos judeus
obcecada por dois temas: dogma e I de Aragão como Teobaldo I, de ocupavam cargos importantes em seu
Navarra, adotaram a medida. Apenas reino. No entanto, durante todo esse
Ferdinando III de Castela se recusou. período, os judeus foram obrigados
A chamada Inquisição espanhola, que
2
atuou principalmente contra judeus e O Papa Honorius III enfureceu-se a ouvir os sermões do clero que
conversos, surgirá mais tarde. Fundada em quando o rei de Castela não exigiu visavam a conversão. E, foi ele que
1478 pelos Reis Católicos atuou até 1834. que os judeus usassem uma roupa organizou o famoso debate religioso
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tipo de persecuções que sofreram seus resultados devastadores foram os judeus conseguiam evitar a
seus irmãos do resto da Europa. inesperados. Na escolha entre conversão pagando generosas somas
Em Castela, o sucessor de Alfonso, o batismo ou a morte muitos aos nobres, que concordavam em
Pedro, o Cruel, reempregou os escolheram a morte, mas tantos escondê-los em fortalezas locais, mas
cortesãos a seu serviço, permitindo outros o batismo. Relatos da época no final eram entregues às multidões
que Dom Samuel Meir ha-Levi afirmam que, após incendiar os enfurecidas e convertidos à força.
Abulafia, se tesoureiro chefe, portões do bairro judaico, os cristãos Em Maiorca, o governador evacuou
construísse uma sinagoga particular “mataram muitos de seu povo… e os judeus para uma fortaleza em
em Toledo, em 1357 (posteriormente muitos morreram para santificar O Palma, mas lá, também, a multidão
chamada de El Transito). Nome de D’us e muitos violaram invadiu o local e obrigou os judeus a
o Pacto Sagrado” (através da escolher entre a morte e o batismo.
Os massacres de 1391 conversão...).
Foi apenas graças à intervenção
Num ambiente de crescente tensão, Obviamente, os ataques de Martinez do Rabi Hasdai Crescas (ca.
o prelado Ferrant Martinez, de haviam caído em solo fértil. Os 1340–1410) que essa foi salva
Sevilha, lançou uma campanha pogroms espalharam-se rapidamente da total destruição. Rabi Cresca,
anti-judaica em 1378, “alertando” de uma cidade para outra através uma das principais autoridades
a população da cidade para a da Ibéria e das Ilhas Baleares. Em rabínicas de seu tempo, era o líder da
“iniquidade” dos judeus. Suas todos os lugares era oferecida a comunidade judaica de Aragão e, de
pregações destilavam ódio e mesma opção aos judeus: conversão várias formas, do judaísmo espanhol
encorajavam a violência contra a ou morte. durante um de seus períodos mais
população judaica. críticos.
Em Castela, em particular, as
Suas propostas para “minimizar” o multidões sentiram que podiam O fervor religioso que motivava os
“problema judaico” eram drásticas: promover arruaças impunemente perseguidores era inconfundível,
destruição das 23 sinagogas da por causa da ausência de poder pois quem se convertia era poupado
cidade, confinamento de todos os central e poucas comunidades sem exceção. Os vândalos avançaram
judeus no gueto, fim de qualquer foram poupadas. Em certos casos, sobre os bairros judaicos como
contato entre judeus e cristãos e
a remoção de todos os judeus das
posições de influência.
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COMUNIDADES
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CARTAS REVISTA MORASHÁ
Foi com grande alegria que recebemos Um mazal tov especial à equipe Longa vida para a nova edição
a revista Morashá nº 89, onde foi Morashá pela qualidade de eletrônica da Morashá, ferramenta que
publicada matéria sobre os 95 anos informações e riqueza de conteúdo para minha filha que mora na Holanda
da WIZO Mundial. Em nome do em todas as matérias. Parabéns será ótima.
Executivo da WIZO São Paulo pela cara nova do morashá.com. Beatriz Kamergorodski
queremos agradecer a distinção. Mais uma bela iniciativa. Por email
Nossos cumprimentos à equipe
Gabriel Zitune,
Morashá pelo rico conteúdo da vice-presidente da Unibes Agradecemos o envio da revista
Revista, que já faz parte do acervo Por email Morashá. O público brasileiro e
cultural da nossa instituição. latino em Nova York aprecia muito
Iza Mansur Aproveito para falar sobre o que sinto o maravilhoso conteúdo desta
Presidente ao ler esta fabulosa revista. Com uma publicação. Parabéns pelo lindo
WIZO São Paulo
impressão impecável e de muito bom trabalho e Kidush Hashem!
gosto, Morashá nos transmite extrema
Estou muito feliz por voltar a Rabino Mendy weitman
credibilidade em todos os assuntos Jewish Latin Center
ler a minha revista favorita.
Já tenho amigos na fila de espera abordados.
Parabéns, o site morashá.com está
para a leitura. Morashá é um Gerson Sonaglio
Porto Alegre - RS maravilhoso. Já o divulguei inclusive no
excelente meio difusor da
grupo Juif D’Egypte, no Facebook.
cultura judaica no Brasil. Tenho
em mente que a informação Parabéns a todos que compõem a Lazzaro Menasce
é o melhor meio de dissipação do equipe da Morashá, revista que é uma Por email
75 dezembro 2015