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Coordenação Editorial:
Vicky Safra
Assistentes de Coordenação:
a bÊnção rabínica, 1871 Clairy Dayan
moritz daniel oppenheim Fortuna Djmal
Assessora Internacional:
Muriel Sutt Seligson
Supervisão Religiosa:
Rabino Y. David Weitman
Rabino Efraim Laniado
Rabino Avraham Cohen
Jornalista Responsável:
Desirée Nacson Suslick
MTb 13603
Colaboradores especiais:
Jaime Spitzcovsky
Reuven Faingold
Tev Djmal
Zevi Ghivelder
Revisão e tradução de texto:
Lilia Wachsmann
Consultor:
Marcello Augusto Pinto
Coordenação de Marketing:
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Produção Gráfica:
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JR Graphiks - Tel: 3873 0300
Projeto Gráfico:
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C&D Editora e Gráfica - Tel: 3862 8417
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No dia 24 de maio deste ano – 28 de Iyar, o Povo Judeu, O milagre da Guerra dos Seis Dias foi a realização desse
em Israel e na Diáspora, celebrou Yom Yerushalayim sonho ininterrupto. Cinquenta anos atrás, um exército
– Dia de Jerusalém, o aniversário da libertação e de soldados judeus, idealistas e destemidos, “mais fortes
unificação da Cidade Sagrada sob soberania judaica, que leões e mais velozes que águias”, realizaram o anseio
ocorrida há 50 anos, durante a Guerra dos Seis Dias. de nosso povo. Somos, de fato, uma geração privilegiada.
O sonho de tantas gerações passadas constitui hoje uma
David Ben-Gurion, o primeiro Primeiro-Ministro do realidade.
Estado de Israel, declarou: “Nenhuma cidade do mundo,
nem mesmo Atenas ou Roma, teve um papel Como escreveu em “Jerusalém de Ouro” a grande
tão importante na vida de uma nação, durante tanto poetisa israelense Naomi Shemer, retornamos à Cidade
tempo, como Jerusalém na vida do Povo Judeu”. Antiga. Contudo, o sonho coletivo de nosso povo
ainda não se realizou totalmente: o Templo Sagrado
Desde a queda da cidade e a destruição do segundo permanece em ruínas e a paz ainda não veio ao mundo
Templo Sagrado de Jerusalém, a Nação Judaica sonhava e à mais bela das cidades, cujo nome possui muitos
em retornar à Cidade Sagrada – sua capital eterna e lar significados, dentre eles, “Cidade da Paz”. Esse é o
ancestral. Há mais de dois milênios, durante a oração motivo pelo qual continuamos a nos enlutar durante as
da Amidá, nós, judeus, rezamos voltados à Jerusalém, Três Semanas e a jejuar em Tishá b’Av.
o portal dos Céus. Lembramo-nos de Yerushalayim
em todas as ocasiões significativas – felizes ou tristes. O retorno a Jerusalém sempre foi associado à vinda
Concluímos o Seder de Pessach com as palavras, de Mashiach, ao fim da Diáspora e suas provações, e à
“Ano que vem em Jerusalém”. Durante as Três Semanas redenção do Povo Judeu e de toda a humanidade.
de Luto – que se iniciam em 17 de Tamuz e culminam A volta a Jerusalém simboliza a perfeição do mundo
com o jejum de Tishá b’Av – o dia mais triste do ano e o término de guerras, conflitos e todas as formas de
judaico, sentimo-nos enlutados e choramos a queda de sofrimento, individuais e coletivos. Assim, Jerusalém
Jerusalém e a destruição de seu Templo Sagrado. constitui muito mais do que a mais sagrada das cidades.
Representa as maiores esperanças e as mais nobres
O Povo Judeu, o judaísmo e Jerusalém estão entrelaçados. aspirações do Povo Judeu. Yerushalayim não é apenas
Muitos dos mandamentos da Torá não podem ser uma palavra repetida em nossas orações – tornou-se
cumpridos na ausência do Templo Sagrado. Além de uma oração em si.
ser o centro geográfico do judaísmo e a capital política e
espiritual de Israel, a Cidade Sagrada constitui também Hoje, rezamos e sonhamos para que esse sonho seja
uma força unificadora que manteve a nós, judeus, cumprido integralmente, com a chegada da paz para
unidos durante uma longa e árdua Diáspora de quase Israel, Jerusalém e o mundo todo – o dia em que o
2000 anos. Foi o sonho de a ela retornar que manteve Terceiro Templo Sagrado de Jerusalém será construído
acesa a esperança, permitindo que perseverássemos e e toda a humanidade finalmente viverá em paz e
sobrevivêssemos às épocas mais tormentosas. prosperidade.
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33 42
46 55
03 carta ao leitor 19 destaque
Macron, otimismo vindo da França
por JAIME SPITZCOVSKY
06 NOSSAS LEIS
Mishkan, o Tabernáculo 22 personalidade
Ayelet Shaked, uma mulher
à frente da Justiça de Israel
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SABEDORIA
A Essência de D’us, 28
israel
a Divina Providência As cores e a magia
e os Mandamentos dos mercados de Israel
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REVISTA MORASHÁ i 96
06
67
33 HISTÓRIA 55 ISRAEL
Seis dias que fizeram história
Depois de Munique
– a Guerra de 1967 por zevi ghivelder
62 SHOÁ
42 ESCOLA BEIT YAACOV
As “Stolpersteine” - arte e memória
por reuven faingold
Jamais esquecer
67
israel
A batalha por Jerusalém
46 comunidades
Vida judaica na Escócia
75 cartas
5 junho 2017
NOSSAS LEIS
Mishkan, O TABERNÁCULO
U
ma pergunta intrigante com a qual se – representando uma amostra representativa dos
debatem teólogos e filósofos é por que recursos minerais, vegetais e animais do universo físico,
D’us teria se dado ao trabalho de criar o bem como dos recursos humanos investidos em sua
Universo. Como um Ser Perfeito é, por manufatura, foram usados para erguer o Mishkan. Esse
definição, completo, sem nada Lhe faltar, edifício, construído por seres humanos e dedicado ao
o que O teria levado à decisão de criar os mundos, físico serviço de D’us, foi o local físico onde D’us escolheu
e espiritual, e todos os seres que os habitam? O Midrash para se comungar com o homem.
Tanchuma responde, enigmaticamente, que D’us criou o
mundo porque Ele desejava ter uma morada nos mundos Sua descrição na Torá é longa e minuciosa. Uma
inferiores. O Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador da boa parte do Livro de Êxodo – nada menos que 13
dinastia Chabad-Lubavitch e autor de obras cabalistas capítulos – são repletos de detalhes sobre a construção
seminais, explica em seu Likutei Amarim (Sefer HaTanya) do Tabernáculo, desde as dimensões de cada pilar
que: “É disso que se trata o homem… É este o propósito às cores que compõem cada tapeçaria. É intrigante
de sua criação e da criação de todos os mundos, o que a descrição do Miskhan na Torá seja tão longa
superior e o inferior: para que fosse feito para D’us uma e elaborada, pois quem estuda o Talmud sabe que
morada nos mundos inferiores”. os Cinco Livros de Moisés são extraordinariamente
sucintos. Cada uma de suas letras, tendo sido escritas
A primeira dessas moradas a ser erguida – que serve por D’us e transmitidas a Moshé, tem significado.
como protótipo para o empenho de construir uma Como demonstrado no Talmud, a Torá transmite
morada para D’us no mundo físico – foi o Mishkan, o muitas leis complexas por meio de um único versículo
Tabernáculo – santuário portátil construído pelos Filhos ou mesmo uma única palavra ou letra. Por que,
de Israel no Deserto de Sinai, após o Recebimento então, dedica 13 de seus capítulos a detalhes sobre o
da Torá no Monte Sinai. Quinze substâncias físicas Tabernáculo, se apenas dedica um único capítulo a seu
– entre as quais ouro, prata, cobre, madeira, lã, linho, relato da criação do Universo, e apenas três à Revelação
peles de animais, óleo, especiarias e pedras preciosas Divina no Sinai?
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REVISTA MORASHÁ i 96
Maquete do Aron Hakodesh, imagem reproduzida do livro “Le Tabernacle” de Mochè Levine, 1968, “Melechet Hamishkan”,
Tel Aviv, Israel
A resposta é que o próprio Aliança, que continha as Tábuas Schneerson, resume comentários
propósito da criação do Universo foi do Testemunho, correspondia à de Rabenu Bechayei, Rabi Moshe
incorporado pelo Mishkan. Assim mente e ao dom da fala. A Menorá Isserlis (o Ramá), Rabi Yeshayahu
sendo, cada detalhe é importante. – candelabro de sete braços, que era Horowitz (o Shelá HaKadosh), e de
Por exemplo, é necessário definir – aceso diariamente – representava outros Sábios acerca de como os
como faz o Talmud – as 39 formas o sentido da visão. O Shulchan – a domínios básicos do Mishkan são
de trabalho criativo – desde arar até Mesa que continha o “pão sagrado” comparáveis às divisões na criação
tecer ou escrever – envolvidas na – simbolizava o sentido do paladar. do Universo, no Tempo e na alma
construção do Mishkan. Pois aqui se O Altar Interior, sobre comunitária do Povo Judeu.
situa o protótipo para o trabalho de o qual era queimado
nossa vida de tornar nosso mundo o incenso, Ketoret, Maimônides – o
e nossa existência uma morada para correspondia ao maior filósofo judeu
D’us. sentido do olfato, ao e um dos maiores
passo que o Altar legisladores em
Microcosmo do Exterior, para o Torá – descreve
Universo: Os Três qual as oferendas de o Universo como
Domínios sacrifícios de animais consistindo de três
e de alimentos eram estratos: matéria
O Midrash e a Cabalá descrevem levadas, representava o não refinada – a Terra
o Mishkan como um microcosmo aparelho digestivo. e todos os seus seres
do ser humano, do universo físico terrestres; matéria refinada –
e da Criação como um todo. Os Em um dos seus cadernos as estrelas e os corpos celestes; e
utensílios do Mishkan, por exemplo, manuscritos (Reshimot) descobertos os seres puramente espirituais –
representavam os vários órgãos e após seu falecimento, o Lubavitcher entidades que não possuem matéria,
sentidos do homem. A Arca da Rebe, Rabi Menachem Mendel como os anjos.
7 junho 2017
NOSSAS LEIS
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REVISTA MORASHÁ i 96
A Arca e o Altar:
o Cabalista e o
Legislador
9 junho 2017
NOSSAS LEIS
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REVISTA MORASHÁ i 96
Tenda do
Encontro com D’us
11 junho 2017
SABEDORIA
C
omo Criador de todos os mundos e de Da mesma forma, quando a Torá afirma que D’us criou
tudo o que neles há, D’us é diferente de o homem à Sua imagem (Gênesis 1:27), não está
Sua criação. Assim sendo, o judaísmo insinuando que D’us se parece com o homem.
categoricamente rejeita a filosofia do O que significa é que o homem compartilha dos
panteísmo. Além do mais, enquanto mesmos atributos – as Sefirot intelectuais e emocionais
Criador do Universo, a existência de D’us precedeu – que D’us emprega ao interagir com o mundo.
e é independente de Suas criações. É totalmente proibido comparar D’us a qualquer uma
de Suas criaturas, mesmo ao mais elevado dos anjos.
Como D’us é o Criador de tudo o que é matéria, O profeta Isaías assim declarou: “A quem, pois, podeis
obviamente Ele não é matéria. O Midrash e outras obras comparar o Eterno? Ou a quem O podeis assemelhar?”
sagradas se referem a D’us como HaMakom, “O Lugar”, (Isaías 40:18).
porque Ele é o lugar do mundo, mas o mundo não é o
Seu lugar. Igualmente, os conceitos de tempo e espaço e Ainda que toda a existência seja permeada pela
seus atributos – corpo, forma e feição - são criações de Divindade, D’us não pode ser associado com nenhuma
D’us e não se aplicam a Ele. D’us é infinito e, portanto, de Suas criações. Além disso, o judaísmo rejeita
incorpóreo. A Torá afirma: “E guardareis muito vossas qualquer definição de D’us como conceito abstrato,
almas, porque não vistes imagem alguma no dia em independentemente de quão elevado ou nobre seja.
que o Eterno vos falou em Horeb...” (Deuteronômio Portanto, D’us não pode ser definido como Amor,
4:15). Em várias passagens, a Torá se refere a D’us como Verdade, Justiça ou Bondade, apesar de serem esses
se Ele tivesse um corpo humano, usando linguagem alguns de Seus atributos. Como Criador de todas as
antropomórfica, como em “a mão de D’us” (Êxodo 9:15), coisas terrenas e celestiais, D’us está num plano superior
e “os olhos de D’us” (Deuteronômio 11:12). Contudo, a a toda a Sua Obra. A Ele, portanto, nos referimos como
Torá não está afirmando, de forma alguma, que D’us tem o Ser Supremo ou o “Altíssimo”. Ele é infinitamente
um corpo, forma ou feição. Apenas emprega metáforas superior e incomparável a qualquer coisa ou ser que
para expressar a relação de D’us com Sua criação. exista. D’us está além de qualquer definição.
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REVISTA MORASHÁ i 96
Sefer Torá: o objeto mais sagrado do judaísmo. Os Cinco Livros da Torá foram escritos por D’us e transmitidos,
letra por letra, a Moshé Rabenu
Apesar de D’us não poder ser de que Ele duplique, aniquile ou Há declarações na Torá que
definido e criatura alguma – nem mude a Si Próprio de forma alguma. talvez pareçam sugerir que D’us
mesmo o mais puro dos anjos – O judaísmo rejeita, expressamente, se modifica. Por exemplo, certas
poder verdadeiramente conhecer a ideia de que D’us possa assumir passagens falam de D’us se
Sua Essência, a Torá, que é a Sua qualquer forma física – humana ou enraivecendo ou se alegrando. Tais
Sabedoria e a Sua Vontade, permite qualquer outra. Qualquer uma dessas descrições não devem ser entendidas
que o homem capte algo do Divino. tarefas envolveria uma mudança por literalmente: a Torá usa linguagem
Por exemplo, a Torá nos ensina que parte do Divino – algo que não pode metafórica para descrever a interação
D’us é Um e que Ele é a Unidade ocorrer – porque a mudança é um Divina com o mundo de forma
mais perfeita e absoluta. Como está produto do tempo, e D’us, enquanto que seja compreensível a todos.
escrito: “Escuta, Israel! O Eterno Criador do espaço e do tempo, existe D’us, Todo Poderoso, nunca muda.
é nosso D’us, o Eterno é Um!” fora de ambos. D’us é Eterno: o Quando a Torá afirma que D’us
(Deuteronômio 6:4). A absoluta tempo não se aplica a Ele, apenas à se enfureceu, significa que Ele está
unicidade e unidade de D’us é um Sua Criação. Assim sendo, D’us não emanando Sua luz através da Sefirá
princípio central do judaísmo, que tem início, idade nem fim, pois esses de Guevurá (Restrição, Severidade).
enfaticamente rejeita qualquer conceitos implicam uma estrutura Da mesma forma, quando a Torá
conceito de pluralidade no que se de tempo. Ele é imutável e nos fala que Ele se alegrou, significa
refere ao Divino. inalterável. E assim declara: “Porque que Ele está interagindo com o
Eu, o Eterno, não mudo” (Malaquias mundo através da Sefirá de Chessed
Enquanto Criador do Universo, o 3:6). Como Criador do tempo, D’us (Bondade, Benevolência). Nada disso
poder de D’us é ilimitado. Dizemos, pode fazer uso do mesmo sem nele implica alguma mudança em D’us.
então, que D’us é onipotente e nos se envolver: Ele causa a mudança
referimos a Ele em nossas preces no mundo sem mudar a Si Próprio. O entendimento de que o Altíssimo
como “Rei do Universo”. No entanto, D’us é, pois, chamado de o “Motor é atemporal é a resposta para a
não atribuímos a D’us a possibilidade Imóvel”. questão paradoxal: D’us pode criar
13 junho 2017
SABEDORIA
uma pedra que Ele Próprio não o relacionamento de D’us com conhecimento de D’us, que também
possa erguer? Essa pergunta é este mundo é duplo, ou seja, Ele é é dos anjos, pois Ele Próprio é a
enganadora, porque emprega lógica imanente e também transcendental. Unidade mais absoluta.
humana – ou seja, limitada – para Assim, Ele preenche e também
tentar entender um D’us ilimitado, envolve toda a Sua criação. Esse A imanência Divina implica que
que é incompreensível. E é, também, conceito é expresso nos cânticos dos não há lugar em toda a criação
inútil, porque seria a mesma coisa anjos e na Kedushá que recitamos, de desprovido de Sua Presença. Ele
perguntar se D’us pode suicidar-se manhã e à tarde, durante a repetição é onipresente. Como nos ensina a
ou limitar Seus próprios poderes. da oração da Amidá. Diariamente Torá: “Toda a Terra está cheia de
Como vimos, D’us é onipotente, mas os anjos nos Céus e os judeus, Sua Glória” (Números 14:21). E
também é atemporal e, portanto, na Terra, recitam: “Santo, Santo, também está escrito: “Sua Glória se
não sujeito à mudança. Isso significa Santo é o Eterno dos Exércitos, o estende além dos Céus e da Terra”
que a existência, a essência e a mundo todo está preenchido por (Salmos 148:13). Em algumas de
onipotência Divinas são imutáveis. Sua Glória” (Isaías 6:3). Isso indica suas passagens, a Torá fala de D’us
Contudo, para quem não se satisfaz que D’us é imanente, e preenche como estando em determinado
com essa resposta e continua toda a criação. No entanto, os seres lugar em determinada hora. Isso não
intrigado com o paradoxo, a resposta celestiais também proclamam, significa que D’us esteja nesse lugar
é esta: Como D’us é onipotente, como o fazemos na Kedushá, e não nos demais. Mas, sim, que
Ele pode criar uma pedra que Ele “Bendita seja a glória do Eterno D’us deseja conferir uma honra e
Próprio não pode erguer, e como Ele desde o Seu lugar” (Ezequiel 3:12). atenção especial àquele lugar,
é onipotente, Ele pode sim erguer Esse versículo fala de D’us em ou que lá Suas ações são
a pedra. Se tal paradoxo serve para Seu sentido transcendental, onde particularmente visíveis. Assim, diz-
algo, é para nos ensinar que a mente nem mesmo os anjos conseguem se que D’us “habitava” o Mishkan, o
finita do homem não consegue e compreender o Seu “lugar”. Um Tabernáculo, e o Templo Sagrado
nunca conseguirá captar o Criador alerta, contudo: essa aparente de Jerusalém porque Ele conferiu
Infinito. dualidade no relacionamento especial honra e atenção a tais
de D’us com o mundo – sendo construções. Ensinam-nos, também,
Apesar de nossa incapacidade de imanente e transcendental – apenas que D’us “habita” na Terra de Israel,
entender o Divino, sabemos que se deve a nosso limitado e imperfeito Eretz Israel, e em Jerusalém. De
modo similar, a Torá nos relata que
D’us conduziu os judeus durante
sefarim da sinagoga beit yaacov, são paulo
o Êxodo. Isso significa que Sua
Presença e Sua Providência estavam
especialmente visíveis a eles nesses
momentos.
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15 junho 2017
SABEDORIA
Essas noções e crenças filosóficas, qual a diferença entre o maior Será que D’us se preocupa com
apesar de oriundas de um sábio ou profeta e o menor dos tudo ou com nada? É verdade que
reconhecimento da grandeza Divina, insetos? Comparada à Luz Infinita, a infinitude Divina não se restringe
estão distantes da noção cabalística tudo é igualmente insignificante. ao mundo físico, mas vai além
de Divina Providência. A Cabalá Assim, pois, a Divina Providência de todos os mundos espirituais
oferece um tipo diferente de se estende tanto em direção dos e todos os conceitos intelectuais.
percepção da conexão entre D’us maiores seres humanos, que devotam No entanto, se D’us criou o
e o mundo. cada momento de sua vida a D’us, mundo e continua a sustentá-lo, é
quanto em direção dos organismos evidente que Ele se importa com
A filosofia define D’us como o mais inferiores que mal conseguem o mesmo. Assim sendo, a resposta
“Supremo Intelecto” – a Mente subsistir. cabalística a essa pergunta é que
Divina, que, como repetidamente D’us se preocupa com tudo – com
ensina Maimônides, não é, de Como vimos acima, D’us não está cada detalhe ínfimo de toda a Sua
forma alguma, comparável à mente limitado por tempo nem espaço. Criação.
humana, limitada e finita. No Entender esse conceito nos leva à
entanto, mesmo esse conceito é conclusão de que Sua Providência Isso, portanto, é a base do
limitado. O Maharal de Praga, Rabi é abrangente, pois, a partir de ensinamento Chassídico que a
Yehudá Lowe, famoso por ter criado Seu ponto de vista, o grande e o Divina Providência se aplica a
o Golem, insistia que o Divino não pequeno, a maior generalização e todos e a tudo. D’us não apenas
pode ser definido ou confinado, de o menor detalhe, são todos iguais “determina os passos do homem”
nenhuma maneira. Nossos Sábios em sua infinita distância e total (Salmos 37:23), mas também provê
se referem ao Todo Poderoso como insignificância se comparados à a cada uma das criaturas do mundo,
“O Santo, Bendito o Seu Nome”. infinitude Divina. Ao mesmo tempo, direcionando-as ao objetivo pré-
Como o judaísmo define a santidade estão igualmente próximos a Ele determinado a cada uma delas.
como a distinção, essa denominação como receptores do abrangente
significa que o Divino está além das amor Divino. Ou seja, todos e O Baal Shem Tov, fundador do
definições ou limitações, quaisquer tudo estão igualmente distantes Movimento Chassídico, ensinava
que sejam. Por conseguinte, em e próximos de D’us. Em termos que cada um dos objetos deste
relação ao Divino, a mais elevada práticos, isso significa que D’us mundo – mesmo um grão de
espiritualidade não é, de forma está ciente e também profundamente areia – está sob as asas da Divina
alguma, superior ao físico ou envolvido em tudo o que concerne Providência: está vinculado à
material. Comparado à Luz Divina, Sua Criação e interessado até Vontade Divina, que determina seu
mesmo o que a nós parece puro e mesmo nos detalhes da vida de cada lugar e seu papel no mundo. Negar
elevado, é finito e diminuto. um de nós. Muitos cometem o erro o papel da Divina Providência
teológico de supor que como D’us é sobre o mais insignificante dos
Essa compreensão do Divino tão grandioso – como Ele habita nas detalhes da vida é o mesmo que
não nega a existência da Divina Alturas – Ele não está interessado negar a ideia da Divina Providência
Providência em nível individual. no que comemos – se é casher ou como um todo. Reconhecer o
Pelo contrário, leva a uma não – ou se fizemos a berachá antes papel da Divina Providência
conscientização aumentada de quão de comer um pedaço de chocolate. sobre os indivíduos e os pequenos
pessoal é essa Providência. Quando A resposta a tais questões teológicas detalhes atesta a grandeza de D’us
entendemos que a grandeza de D’us e outras similares – se D’us se e a profundidade e intensidade da
ultrapassa os limites do espiritual preocupa com nossas necessidades crença do ser humano n’Ele. O Baal
e do físico, e que esses conceitos materiais e espirituais e se Ele tem Shem Tov ilustrou esse ponto com
são vazios se comparados a Ele, conhecimento e interesse em todos o seguinte exemplo: uma grande
não podemos mais alegar que a os detalhes de nossa vida cotidiana – tempestade irrompe numa floresta,
Divina Providência esteja confinada é que D’us se preocupa com tudo ou quebrando galhos e arrancando
apenas a uns poucos – os grandes e com nada. Perante o Infinito, mudas. Isso é produto da Divina
elevados. Pois, de fato, quem e o que não existe o grande ou o pequeno. Providência: D’us quis que isso
é elevado e grandioso comparado Ou tudo é importante para D’us ou acontecesse por um determinado
a D’us? Comparado ao Infinito, nada o é. propósito. Talvez esse propósito
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REVISTA MORASHÁ i 96
fosse levar uma folha mais perto da tem substância. Para uma pessoa das pessoas, religiosas ou não,
boca de uma certa minhoca na mata. verdadeiramente comprometida provavelmente colocaria D’us na
A Divina Providência cuida de todas com os Mandamentos Divinos, não categoria dos abstratos ou espirituais.
as necessidades de cada uma das pode haver ação sem intenção, mas Tal classificação tem um significado
criaturas, mesmo daquelas primitivas tampouco intenção sem ação. de longo alcance. Com certeza, não
como as minhocas – que, no plano se pode atribuir a D’us nada sequer
perfeito da Criação, têm seu lugar e Essa discussão sobre ação ou remotamente físico. No entanto,
um papel a cumprir. intenção é primordial como se a Divindade é uma abstração –
produto das diferenças no ponto de uma ideia sem substância – pode-
Os Mandamentos: vista religioso. Para solucionar tais se questionar o grau de realidade
Fisicalidade e dilemas, é necessário ter-se uma de D’us e questionar Sua Própria
espiritualidade compreensão adequada da relação existência. O D’us dessas pessoas é
entre D’us e o homem e da essência uma sombra cuja existência é, por
Entender alguns conceitos da Divindade. vezes, sujeita a incertezas. Trata-
fundamentais sobre D’us e sobre se de uma Divindade intelectual
a Divina Providência permite-nos Ainda que uma discussão filosófica ou emocionalmente vivenciada.
uma compreensão mais profunda e profunda sobre teologia esteja além Se D’us é concebido dessa forma,
significativa de Seus Mandamentos. do escopo deste artigo, é relevante certas consequências religiosas são
entender a essência da Divindade inevitáveis. Se D’us é um conceito
O cumprimento dos mandamentos como é percebida pela maioria das espiritual, como o Amor e a
da Torá tradicionalmente é pessoas. Vejamos a seguinte relação: Justiça, faz todo o sentido que Ele
concebido como um imperativo tinta, couro, caixa; ideia, sonho, seja cultuado com ideias, orações
duplo: por um lado, a contemplação amor. Em que categoria D’us silenciosas, meditações e boas
e apreciação do conteúdo e deveria ser inserido? Na dos objetos intenções. Pois, se D’us é um Ser
do significado intrínseco dos concretos - tinta, couro, caixa espiritual abstrato, pode ser uma
mandamentos; por outro, sua – ou na dos conceitos abstratos contradição servi-Lo por meio de
expressão física. Os escritos judaicos – ideia, sonho, amor? A maioria ações físicas concretas.
trataram extensamente das questões
resultantes dessa dualidade, pesando
o valor da ação contra o da intenção
e buscando o relacionamento entre
ambos. Por exemplo, dada a opção,
seria preferível colocar Tefilin
mesmo se a pessoa não estiver
intelectual e emocionalmente
envolvida com esse mandamento,
ou seria melhor meditar sobre D’us
e estimular o amor e a reverência
a Ele? Tais questões foram
ponderadas através dos tempos
por muitos sábios e pensadores.
Por um lado, pode-se argumentar
que o importante é a intenção:
qual o sentido de se cumprir um
Mandamento Divino se a pessoa o
fizer sem intenção ou sentimento?
Por outro lado, enquanto uma ação
sem intenção é como um corpo
sem alma, a intenção sem ação
também é imperfeita. É como uma
Imagem de um Tefilin. A colocação dos Tefilin constitui um dos principais
aparição fugaz, que existe, mas não mandamentos do judaísmo
17 junho 2017
SABEDORIA
O Kotel: o Muro Ocidental - a única estrutura que remanesce do Templo Sagrado de Jerusalém
No entanto, todos os pensadores da intenção sobre a ação. dirigir seu pensamento e seu coração
e filósofos judeus rejeitam a ideia As intenções espirituais do a D’us: “...para amar o Eterno teu
de que D’us é um Ser espiritual. homem, não importa quão puras, D’us com todo o teu coração, com
Enfatizam que assim como nobres ou verdadeiras, não estão, toda a tua alma, e com toda a tua
D’us está infinitamente acima necessariamente, mais próximas força”. O judeu que assim age está
do universo físico, Ele também da Vontade Divina do que as mais em verdadeira harmonia com a
está infinitamente distante do concretas ações físicas. Como Vontade Divina.
espiritual – mesmo em suas formas as qualidades da fisicalidade e
mais elevadas. É, portanto, tanto espiritualidade não se aplicam Os mandamentos da Torá, tanto os
um sacrilégio atribuir qualidades a D’us de forma alguma, Ele físicos como os espirituais, portanto,
espirituais a D’us quanto atribuir- está tão próximo ou distante do podem ser comparados a uma ponte
Lhe qualidades físicas. espiritual quanto do físico. O que criada por D’us, que permite ao
importa é a Vontade de D’us, homem conectar-se a Ele.
Surge, então, naturalmente, a independentemente de como a Os mandamentos Divinos, que são
pergunta: se D’us não é fisicalidade pessoa a cumpra. Portanto, um cumpridos física e espiritualmente,
nem espiritualidade, o que Ele é? mandamento físico, simples, tem são os meios pelos quais as criaturas
A resposta é que o homem não tanta relevância religiosa quanto finitas podem vivenciar o Santo,
pode nem mesmo começar a um espiritual. A essência dessa Bendito é Seu Nome.
conhecer a essência de D’us. concepção é a percepção de que
Pode apenas ansiar por vivenciar como D’us preenche
a realidade de Sua existência. Tal Seu mundo, para Ele não há BIBLIOGRAFIA
experiência de Divindade não dicotomia entre o físico e o Rabi Steinsaltz, Adin (Even Israel),
pode provir de uma análise lógica espiritual. A Vontade Divina é Deed and Intention, The Mystery of You,
ou inferencial de aspectos de Sua encontrada tanto no cumprimento Hybrid Publishers
existência. Pelo contrário, baseia-se físico de um mandamento quanto Rabi Steinsaltz, Adin (Even Israel),
na experiência real de Sua Presença. nos pensamentos e emoções com Divine Providence and Faith,
D’us, então, é uma realidade e não os quais o mesmo é cumprido. The Mystery of You, Hybrid Publishers
há realidade fora de Sua existência. Quando o homem amarra as Rabbi Kaplan, Aryeh, The Handbook
tiras do Tefilin em seu braço, ele of Jewish Thought, Volume 2,
Moznaim Publishers
A compreensão de que D’us não deve estar tão cioso de cumprir a
é um ser físico nem espiritual Vontade Divina quanto quando Rabi Shneur Zalman m’Liad,
Shaar HaYichud VeHaEmunah
explica o problema da preferência se empenha espiritualmente para
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DESTAQUE
Macron,
otimismo vindo da França
POR JAIME SPITZCOVSKY
C
om o triunfo nas eleições de 7 de maio, A possibilidade de chegada ao poder, inédita na história
ao amealhar 66% dos votos no segundo do Front National, levou Marine a tentar implementar
turno, Emmanuel Macron consolidou um discurso mais moderado em comparação com a
a esperada vitória do chamado “campo plataforma do pai, Jean-Marie, com quem chegou a
republicano”, responsável por unir diversas romper politicamente.
forças políticas interessadas em barrar Marine Le Pen,
líder da extrema direita. A candidata derrotada, no As promessas de moderação, no entanto, não resistiram
entanto, alcançou 34% dos votos, recorde histórico para a declarações de Marine Le Pen durante a campanha
seu partido, o Front National, em aumento expressivo eleitoral. A 9 de abril, ela afirmou que a “França não
quando se compara aos 18% obtidos por seu pai, é responsável por Vel d’Hiv”, referindo-se à tragédia
Jean-Marie Le Pen, no segundo turno das eleições ocorrida em 1942, em Paris. Naquela ocasião, mais de
presidenciais de 2002. 13 mil judeus foram enviados a campos nazistas de
extermínio, depois de ficarem presos em um estádio da
Criado na década de 1970, o Front National se capital francesa.
notabilizou por posições racistas e antissemitas,
vociferadas sobretudo por seu fundador, Jean-Marie Le Apenas em 1995, o governo da França, então liderado
Pen. A onda antiglobalização, em curso principalmente pelo presidente Jacques Chirac, admitiu claramente a
na Europa e nos EUA, impulsionou grupos populistas responsabilidade das autoridades locais no episódio.
e de extrema direita, apoiados em nacionalismo e “Sim, é verdade que a insanidade criminosa das forças de
xenofobia. ocupação foi apoiada por alguns franceses e pelo Estado
francês”, discursou Chirac, no estádio de Vel d´Hiv.
Na França, Marine Le Pen buscou catalisar o sentimento
de insatisfação de setores da sociedade francesa, O Front National não preocupa a comunidade judaica
pressionados por desafios como o desemprego, na casa francesa apenas por suas ligações históricas com
dos 10%, terrorismo e crise de refugiados. correntes que negam o Holocausto. Pontos da plataforma
19 junho 2017
DESTAQUE
de Marine Le Pen, embebidos pairam sobre França e Israel é o Aos 39 anos, o presidente mais
em intolerância, também causam terrorismo. “Tenho a convicção”, jovem a assumir o cargo na história
protestos, como a proibição ao abate acrescentou Netanyahu,”de que os da república francesa, Emmanuel
ritual, judaico ou muçulmano, e ao dois países intensificarão seus laços Macron carece de experiência
fornecimento de merendas escolares bilaterais”. em áreas como política externa.
sem carne suína. Construiu trajetória no mercado
financeiro e foi ministro da
A vitória de Macron representou Economia e da Indústria no governo
uma “vitória contra o ódio e contra socialista de François Hollande,
o extremismo”, afirmou Moshe entre 2014 e 2016.
Kantor, presidente do Congresso
Judaico Europeu, ecoando Em 2015, o então ministro Macron
declarações de diversos líderes desembarcou em solo israelense,
comunitários franceses. Kantor numa visita que, segundo a
ainda destacou: “Permanecemos embaixadora francesa Hélène Le Gal,
extremamente preocupados pelo impressionou o futuro presidente.
ainda significativo apoio a partidos Em entrevista a uma emissora de
de extrema direita, não apenas na rádio israelense, Le Gal afirmou que
França, mas pela Europa”. Macron não esconde a admiração
pelo universo israelense das start-ups
O primeiro-ministro de Israel, e das companhias de tecnologia.
Binyamin Netanyahu, parabenizou
Macron logo após o triunfo Empenhado em resgatar a economia
eleitoral e, na nota oficial, observou francesa da estagnação, Emmanuel
que uma das maiores ameaças que presidente EMMANUEL MACRON Macron costuma enfatizar a opção
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21 junho 2017
PERSONALIDADE
E
ssa jovem bonita de olhos claros, oriunda do Nos dois anos em que está à frente do Ministério da
norte de Tel Aviv, que vem das indústrias de Justiça, Shaked não se afastou de suas ideias e tem
alta tecnologia que transformaram a economia proposto uma série de medidas extremamente polêmicas.
israelense, com ideias feministas, é o novo Entre outras, a revogação da cidadania dos árabes
ícone do HaBait HaYehudi (Lar Judaico) em israelenses condenados por terrorismo, o escrutínio das
seus esforços de ir além de sua base sionista religiosa. organizações sem fins lucrativos que atuam em Israel e
O intuito do partido presidido por Naftali Bennett é que recebem grandes somas de dinheiro dos governos
alcançar novos eleitores, vencendo os estereótipos de europeus para promover causas tão negativas ao Estado
colonos e seus defensores como religiosos fanáticos. como o BDS.
Hoje, aos 40 anos, Ayelet Shaked é considerada uma Uma de suas propostas era tornar mais conservadora a
das legisladoras mais ativas dos últimos anos. Articulada Suprema Corte de Israel, e inibir seu envolvimento na
(em hebraico e inglês), enérgica e implacável, ela é a líder atuação do Knesset e nas decisões governamentais – o
política feminina mais carismática e ambiciosa surgida que aparentemente conseguiu, em 22 de fevereiro último,
em Israel em muitos e muitos anos. Suas opiniões duras quando três dos quatro novos ministros do Supremo,
e francas e seu estilo confiante lhe proporcionaram um indicados pelo Comitê de Seleção de Juízes para a Corte,
assento no Knesset (Parlamento) e um ministério, a fúria tinham uma abordagem mais conservadora às leis
da Esquerda israelense e a crítica de muitos na mídia e e estavam entre os que a ministra considerava aceitáveis
nas elites acadêmicas israelenses. E, quem sabe no futuro, para assumir o cargo.
o posto de primeiro-ministro. No dia Internacional da
Mulher deste ano de 2017, ela se sentiu confiante ao No tocante à Lei Fundamental do Knesset, que reza ser
ponto de anunciar que se vê, tranquilamente, disputando, Israel um estado judaico democrático, o que Shaked
algum dia, o cargo de primeiro-ministro – naturalmente mais almeja é “fortalecer a identidade judaica do país
após o presidente do partido HaBayit HaYehudi, o atual para que se tenha um Estado judeu, democrático e
ministro da Educação Naftali Bennett, tê-lo feito. forte”. Ela afirma constantemente que “se opõe à ideia
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de que os dois valores sejam de judia mais importante; a Forbes Israel dela o centro das atenções,
alguma maneira incompatíveis. a escolheu como a quinta mulher sua aparência se tornou um
Essas identidades claramente não mais importante do país e foi, ainda, alvo tentador para aqueles que
se contradizem; pelo contrário, eleita a “Mulher do Ano” de Israel, desaprovam aquilo que ela
acredito que se fortalecem pela revista Lady Globe. representa. Inúmeras foram as
mutuamente”. reações sexistas a uma mulher
Enquanto as propostas de Ayelet jovem e atraente em uma
A verdade é que não importa Shaked e sua atuação fizeram posição de destaque nacional.
a concordância ou não com O fato de terem as críticas à
suas ideias políticas, algumas sua política sido inegavelmente
inegavelmente de linha dura. permeadas de uma grande dose
As pessoas podem admirá- de discriminação sexual tem
la, discordar ou desprezar sua levado mulheres, inclusive as que
opinião, mas o que ninguém pode são nitidamente suas inimigas
ignorar ou sequer minimizar é sua ideológicas, a sair claramente
influência sobre o sistema político em sua defesa. “Discordo
israelense – fato comprovado pelas profundamente das opiniões
últimas decisões do Knesset. de Shaked, dos membros do
HaBait HaYehudi e do novo
A atuação de Ayelet já lhe rendeu governo, de modo geral”,
inúmeras honrarias. Em 2012, o disse a ex-ministra da Justiça
jornal Globes a incluiu na lista das Tzipi Livni. “Mas condeno
50 mulheres mais influentes de enfaticamente a atitude sexista
Israel; em 2015, The Jerusalem Post em torno dela”. Até a líder do
Lady Globes nomeia Ayelet Shaked
a listou como a 33ª personalidade “mulher do ano” partido Meretz, Zehava Galon,
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PERSONALIDADE
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Vida política de ser eleita? Ninguém votará em na aprovação da lei que pôs fim às
você. Isso é suicídio político’”. isenções do serviço militar para os
Entrou na vida política em 2006 Nas primárias do HaBait HaYehudi judeus haredim, ultra-religiosos,
quando foi convidada por Binyamin ficou em terceiro lugar, algo atitude que provocou a ira de alguns
(“Bibi”) Netanyahu, para ser extraordinário se lembrarmos que segmentos da comunidade haredi.
diretora de seu Gabinete, cargo que ela é mulher e não é religiosa. Ela Shaked possui uma visão clara sobre
ocupou até 2008. Aos 30 anos, ela venceu candidatos homens muito a economia israelense, que, a seu ver,
já dirigia o Gabinete do primeiro- mais conhecidos e admirados não é capitalista o suficiente para a
ministro e parecia destinada a uma no meio religioso nacionalista, e realidade e necessidades do país.
carreira estelar no Likud. Foi ela membros veteranos do partido. Ela foi também uma das principais
quem levou Naftali Bennett para o Ficou em quinto lugar na lista vozes contra a imigração da África.
Gabinete de Netanyahu, onde ele dos membros desse partido que
serviu como chefe de Gabinete de ocupariam um assento no Knesset Uma mulher extremamente ativa, ela
2006 a 2008. caso o partido ganhasse cadeiras. ficou em primeiro lugar juntamente
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PERSONALIDADE
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Os assentamentos
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ISRAEL
As cores e a magia
dos mercados de Israel
D
entre as cidades israelenses, Jerusalém Machané Yehuda é anterior à dominação otomana
e Tel Aviv são as que concentram maior na região. Surgiu quando camponeses da região, no
número de mercados para os visitantes século 19, começaram a vender seus produtos em
de todos os gostos. O mosaico de línguas uma área abandonada. Gradativamente, as vendas
e etnias – há décadas, Israel recebe informais acabaram por se transformar em um mercado
imigrantes de diferentes continentes – é um reflexo da organizado, que se tornou um sucesso principalmente
diversidade que hoje caracteriza o país. Para garantir a pela sua localização mais próxima dos bairros e pequenos
proliferação de mercados ao ar livre, Israel conta com povoados fora da Cidade Velha.
quase nove meses ensolarados, ao longo do ano.
O local passou por uma mudança importante durante o
O viajante pode começar seu roteiro por Jerusalém, Mandato Britânico na então Palestina, entre 1917 e 1948,
sagrada para as três grandes religiões monoteístas, que quando o primeiro governador da cidade,
anualmente atrai milhares e milhares de peregrinos. Sir Ronald Storrs, percebeu a importância do mercado
Lá, o Mercado Machané Yehuda é mais uma atração para a atmosfera singular da cidade. Ele contratou
que se soma aos tradicionais sítios históricos e religiosos o urbanista Charles Robert Ashbee para fazer um
da cidade. São mais de 250 lojas espalhadas por vários projeto no local, incluindo uma ampla reforma com a
quarteirões que vendem de tudo que se possa imaginar implantação de infraestrutura de esgotos, sistemas de
– verduras, frutas, laticínios, carnes, peixes, legumes e a coleta de lixo, iluminação e água encanada. Ele planejava
longa lista de produtos é quase interminável. erguer um grande mercado cercado por muros de todos
Quase todos os legumes e verduras vendidos são os lados, com portões em estilo oriental e domos em arco.
produzidos em Israel. Há ainda pequenos bares e
restaurantes, que oferecem pratos e sanduíches rápidos. No entanto, apesar de todo o seu empenho, o projeto de
Frequentado por moradores da região e turistas, é um Ashbee não foi executado principalmente em função das
marco na cidade e as horas de maior movimento são as limitações financeiras – e o mercado continuou com a
que antecedem o Shabat. aparência que tinha até então. Com o passar do tempo,
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mais e mais habitantes passaram decidiram pedir auxílio financeiro Machané Yehuda continuou a
a frequentar o local. O perfil dos às autoridades para construir lojas se desenvolver ao longo das décadas
mercadores começou a mudar e permanentes. Assim, em 1931, foi seguintes e, atualmente, cobre
muitos árabes venderam seu espaço comprada mais uma área no lado uma área que vai da Yeshivá Etz
para os imigrantes judeus. Na época, ocidental do mercado original Chaim até a Yeshivá Bet Yaacov,
a Yeshivá Etz Chaim, localizada no para ampliá-lo. Muitos dos novos e da Rua Yaffo até a Agrippas.
meio do mercado, abriu uma série de imigrantes eram oriundos do Iraque Muitas coisas mudaram desde os
lojas ao longo do seu muro e alugou- e essa área ainda hoje é conhecida primeiros anos de informalidade
as aos interessados, aumentando sua como Mercado Iraquiano. e, atualmente, o mercado é
renda e também atraindo a recém- uma empresa organizada, com
chegada população judaica. representantes indicados pelos
lojistas. Machané Yehuda deixou
Visando estender o mercado, em de ser apenas um mercado para
1930, os mercadores se uniram e, ser um local de eventos. Seus bares
com o auxílio do Comitê Municipal e restaurantes realizam uma série
de Jerusalém, compraram uma área deles, como jantares temáticos,
localizada ao sul da Rua Ha’Agás, degustação de vinhos e alimentos,
onde estabeleceram um novo mostras de artes, além de tours
mercado. Os britânicos criaram uma organizados durante a semana e
série de exigências em relação ao nos finais de semana para os
design das lojas, mas a Prefeitura interessados em conhecer com mais
assumiu a responsabilidade pelas profundidade o local e sua história.
condições sanitárias e limpeza do São também realizados eventos
novo local. Cerca de um ano depois, foto antiga do “shuk” (mercado),
diretamente ligados ao calendário
alguns comerciantes e proprietários início do séc. 20 judaico.
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ISRAEL
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ISRAEL
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HISTÓRIA
A
vitória esmagadora de Israel em apenas seis Um ato de legítima defesa
dias mudou o cenário geopolítico do Oriente
Médio. Emergindo como a potência regional, Um dos principais mitos é a afirmação de que a Guerra
enterrava as esperanças dos que queriam decorreu de um ato de agressão bélica por parte de
“varrer Israel do mapa”. Para todos os judeus, Israel, quando, de fato, foi um ato de legítima defesa,
lá ou na Diáspora, era uma experiência transformadora tomado após semanas de agonizante indecisão. Nas
que, após séculos de insultos e violência, enchia-os de semanas que antecederam o conflito, Israel estava
orgulho e confiança. cercado por exércitos de Egito, Jordânia e Síria, com
o apoio do Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e
Nas cinco décadas que se seguiram, historiadores e Sudão, postados ao longo das linhas de armistício. Se
cientistas políticos têm analisado os eventos que levaram eles atacassem simultaneamente, as FDI (Forças de
à Guerra de 1967 e suas consequências. Entre eles há Defesa de Israel) teriam que lutar em três frentes, tendo
os que tentam reescrever a História. Mitos substituíram que dividir suas forças quando mal tinham o número
fatos. “Uma mentira muitas vezes repetida se torna uma de homens e armas necessários para enfrentar o Egito.
verdade“, dizia um dos maiores inimigos do Povo Judeu, Israel não queria a guerra, pois mesmo a vitória custaria a
gênio da propaganda. Esses mitos estão firmemente vida de milhares de cidadãos. Mas, para o Estado Judeu,
arraigados entre acadêmicos e universitários, jornalistas, não havia, e não há alternativa à vitória. Como sempre,
diplomatas, líderes políticos e, mesmo, entre judeus precisava lutar e vencer, pois uma derrota militar poderia
e israelenses. Nas últimas semanas, alguns jornais significar o fim da soberania de Medinat Israel.
conceituados, como o Washington Post, publicaram
artigos acusando Israel e demonizando suas ações em Sim, afirmam os que querem reescrever a História, é fato
relação à Guerra de 1967. É, portanto, imperativo que uma coalizão de exércitos árabes armados pela URSS
relembrar, ainda que de forma resumida, os motivos e cercava Israel e o propósito de seus líderes era “erradicar
eventos que levaram à Guerra dos Seis Dias, como o a entidade sionista”, pondo um fim à presença judaica na
conflito se tornou conhecido. região. Mas, diziam eles, os árabes não pretendiam atacar
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HISTÓRIA
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Após a Campanha do Sinai de 1956, forças jordanianas e sauditas os refugiados palestinos viveram
uma área desmilitarizada havia sido que apoiavam os monarquistas. praticamente 20 anos, de 1948 a
instituída entre Israel e o Egito. As relações com a Jordânia e a 1967, sob domínio da Jordânia e
URSS e os Estados Unidos haviam Arábia Saudita estavam, pois, em Egito. São chamados de refugiados
obrigado Israel a devolver o Sinai vias de ruptura e, com a Síria, palestinos os árabes que deixaram
ao Egito, garantindo em troca que estavam estremecidas após os sírios o território, que após uma decisão
a península ficaria desmilitarizada e abandonarem a união com o Egito, da ONU sobre a Partilha, em 1947,
as Forças de Emergência das Nações a República Árabe Unida, fundada tornara-se o Estado de Israel.
Unidas (UNEF) garantiriam uma em 1958. Aqueles que viviam na Cisjordânia
zona-tampão de 200 km entre os (“Margem Ocidental”) estavam sob
dois países. Garantiram ainda que Os ataques de terroristas palestinos domínio jordaniano e os que viviam
o Estreito de Tirã estaria aberto a contra alvos israelenses, instigados em Gaza, sob os egípcios. Os dois
navios israelenses. O Estreito é a ou tolerados pela Síria, Jordânia e territórios abocanhados pelas duas
única ligação de Israel com o Mar pelo Egito, haviam-se intensificado nações em 1948 faziam parte da área
Vermelho, através do Golfo de entre abril de 1966 e abril de 1967, onde, ainda de acordo com a Partilha
Ácaba. assim como os ataques sírios contra de 1947, deveria ter sido criado um
os kibutzim que estavam na linha de estado árabe. É importante ressaltar
Não há dúvidas de que um dos fogo de sua artilharia. Os ataques que, em nenhum momento, Jordânia
principais responsáveis pela Guerra inimigos não cessavam, apesar de ou Egito cogitaram a criação de um
foi Gamal Abdel Nasser, ditador do conscientes de que seriam duramente estado palestino nessas áreas.
Egito que tomara o poder em 1952. retaliados por Israel, que buscava
Líder carismático, Nasser queria a impingir-lhes as consequências Os interesses da União Soviética
união de todos os países árabes sob de seus atos. Em 1965, em apoio no Oriente Médio foram outro
sua liderança. Mas, em 1967, seu aos ataques, Nasser declarou, “Não importante vetor. Egito e Síria eram
prestígio estava abalado. Um de seus entraremos na Palestina com seu solo países satélites da URSS e seus
erros fora enviar soldados egípcios coberto de areia; lá entraremos com exércitos foram armados e treinados
para lutar na guerra civil no Iêmen seu solo saturado em sangue”. pelos soviéticos que procuravam
ao lado dos rebeldes republicanos. solidificar sua presença no Oriente
Além de não conseguir uma vitória, Para se entender o pano de fundo Médio. Para fomentar os ânimos
os egípcios tiveram que enfrentar da Guerra, é preciso lembrar que egípcios, alguns dias antes do início
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HISTÓRIA
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1. Uma jovem tenente fala de um telefone de campanha militar no Negev 2. Soldados israelenses no Sinai
3. Voluntários nos dias que antecederam a Guerra
da guerra, enquanto Anuar el-Sadat, alertou o governo de Israel de que tomara conta do mundo árabe. Ao
então vice-presidente do Egito, a falta de uma resposta militar era ser interpelado pelo embaixador
estava em Moscou, os soviéticos vista por Nasser como um sinal de americano em Amã sobre suas ações,
lhe passaram uma informação falsa, fraqueza. Hussein respondeu que “o pacto era
desmentida pela própria Inteligência seu seguro de vida”.
egípcia, de que os israelenses se As provocações do ditador egípcio
preparavam para invadir a Síria. E continuaram. No dia 26 de maio, por Logo em seguida, o Iraque assinou
asseguraram que a URSS entraria exemplo, em um discurso, afirmou um acordo similar, e a Síria
em uma guerra do lado árabe se os que pretendia “destruir Israel”. Sua concordou em enviar à Jordânia
EUA se envolvessem no conflito. ousadia e as possiblidades de um uma brigada para lutar ao lado dos
ataque militar contra Israel fizeram iraquianos, enquanto contingentes
O FORTALECIMENTO vibrar de alegria o mundo árabe. de outras nações árabes estavam a
MILITAR ÁRABE caminho. Nas palavras do presidente
Quando, no dia 30, o rei Hussein, iraquiano Abdul Rahman Arif,
Na segunda metade de maio da Jordânia, curva-se perante o “O mundo árabe foi unido por um
de 1967, fortalecido pelo apoio Egito, Israel entendeu que não denominador comum – riscar Israel
soviético e esperançoso de recuperar teria como evitar uma guerra. do mapa”.
seu prestígio, Nasser passou O rei voara até o Cairo para assinar
abertamente a provocar Israel. uma aliança colocando seu exército O período de espera
No dia 16, exigiu a retirada das sob o comando egípcio. Ao retornar,
Forças da ONU do Sinai. O então foi recebido por uma multidão As Forças de Defesa de Israel
secretário-geral das Nações Unidas, entusiasmada e ele, também, observavam com crescente
U Thant, acatou a exigência, e três foi contagiado pela euforia que preocupação a concentração de
dias mais tarde a UNEF deixava forças inimigas ao longo de suas
suas posições. Imediatamente fronteiras. Na época, Levi Eshkol
tropas egípcias avançaram tomando acumulava os cargos de primeiro-
posições ao longo da fronteira de ministro e ministro da Defesa. Para
Israel. No dia 20, 100 mil soldados frustração e fúria dos israelenses,
egípcios e mais de mil tanques já suas atitudes perante as provocações
estavam no Sinai. egípcias eram por demais moderadas.
Eshkol relutava em tomar uma
No dia 22, mais uma provocação. ação militar e, em busca de uma
Nasser fechou o Estreito de Tirã solução diplomática, enviou Abba
à navegação israelense, isolando Eban, então ministro das Relações
a cidade de Eilat. “A bandeira Exteriores, à Europa e aos Estados
israelense não mais passará pelo Unidos.
Golfo de Ácaba”, declarou. Para
Israel, o fechamento do Estreito Mas, diante da grande possibilidade
era um casus belli, uma declaração de estourar uma guerra, as FDI
de guerra. A Inteligência israelense começaram a se preparar.
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Em 20 de maio o general Yitzhak As peregrinações de Abba Eban em como o jornal Ha’aretz. Ele era visto
Rabin, então Chefe do Estado busca de uma solução diplomática como destituído das qualidades
Maior, inicia a mobilização foram inúteis. Enquanto a União necessárias para conduzir o país
dos reservistas, apesar de o fato Soviética armava o Egito e a Síria, em tal crise. A tensão cresceu
significar a paralisação da economia. tornou-se claro para Israel que na noite de 28 de maio após seu
As FDI são fundamentalmente um nenhum país agiria em sua defesa. pronunciamento pelo rádio. Em tom
exército de reservistas. Na época, Era doloroso admitir, mas o mundo vacilante, o primeiro-ministro pediu
os efetivos ficavam entre 50 – 60 estava mais uma vez inerte diante paciência e disse que continuaria a
mil soldados, mas mobilizando os do que muitos acreditavam ser trilhar o caminho da diplomacia.
reservistas chegariam a 264 mil. a provável destruição do Estado Não era a mensagem que a Nação
Judeu. Os Estados Unidos não se esperava. No dia seguinte, abismados
Durante o chamado “período de prontificaram a ajudar, advertindo com o fato de que governo
espera”, em hebraico, Hamtana, Israel de que não atacasse primeiro. continuava paralisado pela indecisão,
do dia 23 de maio a 4 de junho, o As posições dos governos britânico a mídia e a opinião pública
clima em Israel era de incerteza e e francês, aliados na Campanha clamaram por ação. Exigiam a
preocupação. O noticiário era do Sinai em 1956, foram formação de um governo de
repleto de informações sobre as decepcionantes. A Inglaterra, entre unidade nacional e a renúncia de
tropas de Nasser no Sinai e as outros, temia o boicote dos países Eshkol do cargo do ministro da
declarações incendiárias dos líderes produtores de petróleo a qualquer Defesa. O nome mais cogitado para
árabes. A TV do Cairo transmitia país que ajudasse Israel. Charles de substituí-lo era Moshé Dayan, para os
imagens de multidões gritando Gaulle havia adotado uma política israelenses um sinônimo de vitória.
“Morte aos Judeus” e uma rádio pró-árabe, e simplesmente disse a
egípcia, “a Voz do Trovão”, repetia Eban que o compromisso da França Logo após o discurso de Eshkol,
ameaças do tipo “Façam as malas com Israel fora acordado “em 1957, e foi realizada uma reunião de
antes de serem mortos”. “O único agora estamos em 1967”. Para piorar emergência da qual participaram
método a ser aplicado contra Israel a situação, de Gaulle ordenou a generais das FDI e o Gabinete.
será uma guerra total que resultará suspensão de todos os embarques de Os líderes militares queriam que o
na exterminação da existência armamentos para Israel. primeiro-ministro e seu Gabinete
sionista”. entendessem ser necessário uma
A decisão de Eshkol de tentar evitar resposta aos desafios lançados por
Ao relembrar aquelas semanas uma resposta militar era condenada Nasser. Disseram que entre 1956
o general Yossi Peled, certa vez inclusive pela mídia mais liberal, e 1967 todo oficial das FDI sabia
revelou: “Tínhamos visto imagens
das vítimas de ataques egípcios a gás
Blindados israelenses em prontidão no Neguev, 1967
no Iêmen... estávamos começando
a pensar em termos de aniquilação,
tanto nacional quanto pessoal’.
A seguinte declaração de oficial
israelense revela o clima reinante:
“Seria uma segunda Massada, não
encontrariam ninguém vivo”. Era
consenso entre os soldados que
caso os egípcios entrassem em
Israel era melhor matar-se e matar
suas famílias do que cair em mãos
inimigas. No final da guerra, os
prisioneiros egípcios, estupefatos
pelo bom tratamento que lhes fora
dispensado, revelaram que a ordem
recebida era “matar os homens e
estuprar as mulheres”.
37 JUNHO 2017
HISTÓRIA
que outra guerra com o Egito era Dois dias mais tarde, após Hussein não queria a guerra, pois mesmo a
só questão de tempo, e que haviam e Nasser assinarem a aliança, vitória teria um alto custo. O general
sido traçados minuciosos planos Eshkol se convenceu de que a guerra Rabin estimava que o número de
de guerra. As FDI tinham sido era inevitável. No dia 1º de junho, israelenses mortos poderia chegar a
treinadas para enfrentar todo tipo ele se rendeu às pressões, inclusive dez mil. As estimativas de Moshe
de crise. Os generais da Força do próprio Ben-Gurion, de Shimon Dayan eram ainda mais pessimistas,
Aérea e do Exército expressavam Peres e de Menachem Begin, líder dizendo que se Israel não atacasse
sua confiança em uma vitória caso da oposição, e nomeou Moshe preventivamente seriam dezenas de
Israel atacasse primeiro. Um ataque Dayan ministro da Defesa. milhares de mortos...
aéreo preventivo era fundamental Foi formado um governo de Ao contrário do que Nasser esperava
para diminuir a esmagadora união nacional e Menahem Begin as ameaças não abateram o espírito
superioridade numérica árabe. foi integrado ao Gabinete. dos israelenses, despertando, pelo
Mas Eshkol ainda hesitava em Em 31 de maio, o Secretário de contrário, os mais profundos
tomar uma decisão militar, e Estado Norte-americano, Dean instintos de autopreservação.
Quaisquer diferenças pessoais ou
políticas desapareceram perante a
convicção de que, para Israel, havia
apenas uma saída agora, e teria que
ser pela espada. A frase que estava
na boca de todo israelense era “Ein
brerá”, não há alternativa, estamos
cercados por inimigos de todos os
lados; é vencer ou vencer”.
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A decisão de atacar
Os meios de comunicação árabe avião de guerra egípcio destruído no solo após ataque da Força AÉREA DE
anunciavam um iminente ataque. ISRAEL (FAI). junho 1967
No Sinai, as forças egípcias já
estavam na fronteira israelense; Desviando as mídia recebeu fotos de unidades de
o exército iraquiano preparava- atenções folga nas praias.
se para reforçar a frente oriental
jordaniana, e a Síria apontava sua Ironicamente, um dos fatores No Cairo, após dias de tensão, os
artilharia do alto do Golã. que permitiu aos israelenses círculos governamentais começavam
realizar o ataque preventivo foi a relaxar e a acreditar que já tinham
O general Aharon Yariv, então o fato de Israel ter recuperado o ganho a guerra.
chefe da Inteligência, advertiu “elemento surpresa”, devido às
o governo de que a situação semanas de espera. Observadores Operação Moked
era extremamente delicada: o no Oriente Médio, fossem
general egípcio Riadh estava em jornalistas, diplomatas, estrategistas Em uma reunião secreta na manhã
Amã implantando um posto de militares, quase sem nenhuma de domingo, 4 de junho, o governo
comando avançado. exceção, acreditavam que a posição tomou a decisão de atacar. Naquela
estratégica de Israel tinha-se altura, Israel já estava cercado e teria
Mesmo assim, o Gabinete relutava agravado. que lutar em duas ou três frentes,
em tomar a decisão de atacar. dependendo das ações da Jordânia.
Quando o general Mordechai Um plano de dissimulação foi posto O Egito tinha 210 mil homens,
Hod, comandante da Força em ação. Sábado, 3 de junho, em seu 100 mil deles no Sinai. Ao Norte,
Aérea, revelou que Israel poderia primeiro pronunciamento público a Síria tinha 63 mil homens, e, a
destruir a Força Aérea do Egito e como ministro da Defesa, Dayan Leste, a Jordânia contava com 55
de qualquer outro país árabe que afirmou que era “muito tarde para mil soldados. Após a mobilização,
interferisse sem colocar Tel Aviv uma reação militar espontânea ao Israel tinha 250 mil combatentes.
em perigo, ninguém no governo bloqueio egípcio do Estreito de Tirã Os inimigos tinham mais do que
acreditou. Mas, com a inclusão de – e ainda muito cedo para se tirar o dobro de tanques e 682 aviões
Dayan no Gabinete, havia alguém qualquer conclusão dos possíveis de combate. Compunham a Força
no governo que compreendia resultados de uma ação diplomática. Aérea de Israel 202 aviões.
tanto a situação política de Israel Nosso Governo – antes de que eu
quanto a militar. Juntamente com me tornasse parte dele – optou pela Na manhã do dia 5 de junho, no
os generais Ezer Weizmann e diplomacia: temos que dar-lhe uma bunker do Comando Geral das FDI,
Mordechai Hod, ele era um dos chance”. em Tel Aviv, Yitzhak Rabin, Chefe
poucos que sabia que a Força do Estado Maior; Ezer Weizman,
Aérea de Israel (FAI) poderia Naquele final de semana, milhares Chefe de Operações; Yaakov ‘Yak’
entregar o prometido. de soldados foram dispensados e a Nevo, planejador da Operação;
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HISTÓRIA
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8h30 Hora do Cairo Tropas das FDI chegam ao Canal de Suez - 40 dia da guerra
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P
aís de deslumbrantes paisagens, a Escócia cobre xadrez – especial para o “clã judaico”, encomendado
o terço norte da ilha da Grã-Bretanha e, desde pelo rabino do Chabad de Glasgow, e certificado
o início do século 18, quando se uniu com a pela Autoridade de Tartans da Escócia. Na Escócia,
Inglaterra, é um dos países do Reino Unido1. os membros dos diferentes clãs são reconhecidos
A Escócia faz fronteira ao sul com a Inglaterra pela padronagem de xadrez geralmente utilizada na
e o Oceano Atlântico, ao leste com o Mar do Norte e a confecção dos kilts. Cada clã tem seu próprio conjunto
sudeste com o Canal do Norte e o Mar da Irlanda. de cores e uma trama diferente. As cores do xadrez
do “clã judaico” são azul, branco, prateado, vermelho e
Em termos numéricos, a presença judaica jamais foi dourado. De acordo com o rabino: “Os azuis e brancos
significativa, sempre representando menos de 1% da representam as cores das bandeiras da Escócia e de
população, mas seus membros contribuíram amplamente Israel; a linha central dourada representa o ouro do
para o desenvolvimento econômico da nação. Em uma Tabernáculo, a Arca da Aliança; o prateado, a decoração
sociedade em que não havia barreiras legais, eles deram que enfeita os Rolos da Lei e o vermelho representa o
significativa contribuição em todos os campos, produzindo tradicional vinho do Kidush”.
cientistas e doutores, juízes e membros do Parlamento,
ministros do Governo, artistas, escritores e músicos O Reino da Escócia
famosos e campeões nos esportes e destiladores de whisky.
A Escócia é uma nação cuja história é tão fascinante
Os judeus se tornaram a maior minoria não cristã a viver quanto violenta. Os primeiros registros remontam à
na Escócia, “um clã judaico” entre os muitos clãs que ocupação do Sul e do Centro da ilha da Grã-Bretanha
compõem a sociedade tradicional escocesa. Em março pelo Império Romano. O território que equivale
de 2008 foi desenhado um tartan – um padrão de trama atualmente à Inglaterra e ao País de Gales passou a
ser a província romana da Britânia, no século 1, mas
1
O Reino Unido é uma união política de quatro “países os romanos não conseguiram dominar o norte da ilha,
constituintes”: Escócia, Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. habitado pelos pictos, e no século 5 deixaram a região.
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leste, a Escócia era apenas uma Agência Nacional de Mapas da Grã- até a inauguração da sinagoga em
escala. As condições de viagem não Bretanha, como “Sepultura do Judeu”. Park Place, próxima à Universidade
eram fáceis e muitos chegavam de Edimburgo.
fracos e doentes. Muitos tiveram Duas décadas vão se passar antes
que ficar no país, pois não tinham de ser criada, em 1816, a primeira Os judeus, principalmente
condições de seguir viagem, ou comunidade judaica organizada imigrantes, cuja condição social
de atender os requisitos de saúde da Escócia: a Edinburgh Hebrew não era privilegiada e não tinham
exigidos na entrada aos Estados Congregation, composta por 20 condições financeiras de viver nas
Unidos pelas autoridades norte- famílias. Em 1817 foi estabelecida ruas em torno da Universidade de
americanas. Havia os que, sem a primeira sinagoga na Escócia, em Edimburgo, estabeleceram-se no
recursos suficientes para pagar um quarto alugado em Richmond porto de Leith e Dalry, na parte
uma viagem até o Novo Mundo, Street. E, três anos mais tarde, a oeste da cidade. Como ocorre em
compravam uma passagem até a comunidade comprou o terreno para toda parte, a sinagoga era o eixo
Escócia para, em seguida, trabalhar o cemitério. central de cada comunidade.
e economizar o suficiente para
continuar a viagem. Outros
desembarcaram enganados por
capitães que os faziam acreditar
que já tinham chegado a seu
destino final na América.
Qualquer que fosse o motivo,
milhares ficaram na Escócia.
Edimburgo e Glasgow eram as
cidades escolhidas pela maioria
dos judeus. Até meados do século
19, essas duas comunidades eram
numericamente semelhantes, mas
o desenvolvimento comercial e
econômico de Glasgow começou a
atrair um número cada vez maior de
judeus.
Edimburgo
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vista de Glasgow
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1. MORÉ ENSINANDO A TORÁ AOS JOVENS BNEI MITZVÁ, LOCHGILPHEAD, 2013 2. JOGADOR DA PREMIER LEAGUE DE FUTEBOL DE ISRAEL
DÁ AUTÓGRAFOS NAS CELEBRAÇÕES DE YOM HAATZMAUT, GLASGOW, 2013 3. PURIM, LEITURA DA MEGUILÁ, ABERDEEN, 2013
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ISRAEL
DEPOIS DE MUNIQUE
POR Zevi Ghivelder
N
o dia 18 de agosto de 1972, a delegação da organização Setembro Negro já se encontravam no
israelense que deveria embarcar para apartamento número 1 e já tinham atingido (o tiro que
os Jogos em Munique compareceu a Lalkin ouvira) Yossef Gutfreund, um colosso de 130
uma reunião no Instituto Wingate, um quilos, praticante de luta livre. Ao mesmo tempo, Tuvia
magnífico centro esportivo, situado perto Sokolovsky, técnico de levantamento de peso, conseguiu
da costa do Mediterrâneo, entre Tel Aviv e Haifa. quebrar uma janela e escapulir. Às cinco horas da manhã
O chefe de segurança do Ministério da Educação os terroristas já haviam sacrificado dois israelenses
Cultura e Esportes, ali designado, recomendou aos e feito nove reféns. Porém, nervosos e temerosos de
atletas e técnicos que, uma vez na Alemanha (então imediatas represálias, os homens do Setembro Negro
Ocidental), não falassem em voz alta em hebraico, não não investiram contra os apartamentos de números 2,
usassem como adornos eventuais símbolos judaicos e, 4 e 5, permitindo que outros israelenses escapassem.
de um modo geral, evitassem chamar atenção com seu Em seguida, ante a perplexidade dos encarregados
comportamento. Foi-lhes informado, então, o endereço da segurança dos Jogos e do espanto que percorreu o
que ocupariam na Vila Olímpica: Rua Connolly, número mundo, os terroristas emitiram suas reivindicações em
31, onde também estariam as delegações do Uruguai e de idioma inglês. Em troca dos reféns, exigiam a libertação
Hong Kong. A viagem para a Europa transcorreu, dias de prisioneiros árabes em Israel e de perigosos elementos
depois, sem maiores problemas. subversivos presos na própria Alemanha, compreendendo
234 nomes. Da lista faziam parte Ulrike Meinhof e
Às 4h15m da manhã do dia 5 de setembro, Shmuel Andreas Bader, líderes do nefasto grupo Bader-Meinhof,
Lalkin, chefe da delegação israelense, que ocupava o que convulsionara a Alemanha e estava preso desde
quarto número 5 no segundo andar do pequeno prédio junho daquele mesmo ano. O Setembro Negro também
da rua Connolly, teve a impressão de ter ouvido um exigia que três aviões fossem colocados à sua disposição
estampido, como se fosse algo oriundo de uma arma de no aeroporto de Munique. Uma vez acertada a libertação
fogo. Foi até a janela, obervou as imediações, nada viu de dos prisioneiros, escolheriam um dos aviões que tomaria
anormal. Voltou para a cama. Àquela altura, terroristas um destino não informado.
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de forma primitiva. Tudo acabou Conforme escreve Aaron J. Klein em os povos. Não temos outra escolha
dando errado porque a polícia seu livro Striking Back, às 10 horas a não ser combater as organizações
alemã perdeu completamente o da manhã do dia 12 de setembro, terroristas onde quer que se
controle dos acontecimentos. o Parlamento de Israel fez um encontrem”. Suas palavras foram
Parte dos reféns foi levada para um minuto de silêncio em memória das endossadas pelo líder da oposição,
helicóptero que foi atingido por vítimas de Munique. Numa sala Menachem Begin: “Precisamos
uma granada atirada pelo Setembro ao lado, Golda recebeu as famílias eliminar esses criminosos. É preciso
Negro. Os israelenses morreram enlutadas dos técnicos e atletas e que eles sintam medo. Se há
carbonizados. O mesmo aconteceu lhes disse: “Quero partilhar com necessidade de uma unidade especial
com os demais atletas dentro de um vocês o que pretendo fazer. Vamos para isso, está na hora de formá-la”.
segundo helicóptero que explodiu ao perseguir todos os terroristas. Begin não sabia que essa unidade
ser alvejado por outra granada. Das Nenhum deles que esteja envolvido secreta já existia e tinha o nome de
cinzas de todo esse trágico cenário, nos acontecimentos de Munique Caesarea.
restou uma interrogação vai andar livre por este mundo,
que há de perdurar para sempre: por muito tempo. Todos serão Uma das primeiras providências
como tudo poderia ter sido implacavelmente caçados”. Em de Golda Meir foi nomear o ex-
concluído se o resgate tivesse seguida, ela falou ao Parlamento chefe do serviço de inteligência
sido conduzido pelos impetuosos reunido: “As ações terroristas do exército, o competente
militares israelenses do Sayeret evoluem a cada dia. Temos que nos general Aharon Yariv, como seu
Matkal? Não há uma resposta preparar para esse tipo de guerra. conselheiro especial para assuntos de
objetiva para essa pergunta, mas A nação judaica tem uma história contraterrorismo. Os dois, mais
é viável admitir, avaliando o sangrenta e por isso mesmo já Zvi Zamir, se incumbiram de
retrospecto dessa tropa de elite, aprendemos que, quando a violência convencer o gabinete governamental
que aquelas vidas perdidas em solo se configura tendo os judeus como sobre a necessidade da criação de
alemão poderiam ter sido salvas. alvo, essa violência se estende a todos um comitê ultrassecreto para o
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1. um dos terroristas 2. POLICIAIS ARMADOS SE POSICIONAM NO TERRAÇO LOGO ACIMA DOS APARTAMENTOS ONDE ESTAVAM OS
REFÉNS 3. SANGUE E BURaCOS DE BALAS DO APARTAMENTO ONDE UM ISRAELENSE FOI MORTO
combate ao terrorismo. A sugestão refugiados judeus da 2ª Guerra para possível com os nomes dos
foi aprovada e passou a contar a Palestina em navios clandestinos membros do Setembro Negro, e seus
em seguida com a presença ativa que tentavam furar o bloqueio naval superiores, responsáveis pelo terror
de Moshé Dayan. O grupo foi britânico, sendo às vezes bem- em Munique. Harari recrutou 15
nomeado apenas como “Comitê X” sucedidos. agentes, homens e mulheres, para a
e partiu de um consenso segundo o missão chamada “Cólera de D’us”.
qual caberia ao Mossad implementar Após a independência passou a Separou os agentes selecionados sob
as ações contra-terroristas de modo atuar no Shin Bet, o serviço de rigorosíssimo critério, conforme as
a eliminar aqueles que haviam segurança interna de Israel. Em letras do alfabeto hebraico.
perpetrado o massacre de Munique. 1954 foi recrutado pelo Mossad,
Não caberia ao Mossad a tarefa de aonde chegou à condição de O primeiro grupo, o alef, era
promover capturas ou de investigar dirigente, reconhecido e admirado composto por dois especialistas em
suspeitos. O objetivo ficara bem por sua excepcional criatividade e armas de fogo; o bet reunia dois
claro: o abatimento de integrantes audaciosa capacidade operacional. agentes para dar retaguarda aos dois
do Setembro Negro e suas No âmbito da Caesarea, Harari do alef; o het tinha dois homens
ramificações. Para dar andamento criara uma unidade chamada Kidon encarregados das logísticas; o ayn
ao projeto, Yariv chamou o agente que fora treinada especificamente compreendia de seis a oito agentes
Michael “Mike” Harari que já havia para ações definitivas. Nos meses dedicados a diversas tarefas, além de
formulado, no início dos anos 1970, seguintes, o Mossad se empenhou apontar os alvos a serem atingidos
as teorias e práticas da operação em elaborar a lista mais completa e a assegurar as rotas de fuga para o
Caesarea.
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AS “STOLPERSTEINE”
- ARTE E MEMÓRIA
POR REUVEN FAINGOLD
G
unter Demnig pertence à geração campos, nas câmaras de gás. Em maio de 2016 o sol
pós-2ª Guerra. Nascido em 1947, estudou brilhava no bairro de Scheunenviertel, Berlim. O lugar
Artes e Desenho Industrial na Universidade abrigava antigamente uma considerável população
de Berlim. Ele já disseminou suas pedras de judaica, em sua maioria originária da Europa Central e
recordação, as stolpersteine (em português, Oriental. Ali, um grupo de pessoas vindas da Alemanha,
pedras-obstáculo) por toda a Europa. Seu moto é “one Israel e Holanda e estudantes do Canadá (em viagem
victim - one stone”, para cada vítima uma pedra, como se de pesquisa sobre a Shoá) estão prestes a iniciar
cada indivíduo ali tivesse seu túmulo. As primeiras 50 uma cerimônia. Trajando seu chapéu típico, Gunter
stolpersteine foram instaladas ilegalmente nas calçadas de Demnig chega ao local. Ele carrega baldes de cimento,
Berlim, em 1996. Depois foi a vez de Colônia, com 600, ferramentas e duas reluzentes placas em memória das
e, assim, a ideia foi ganhando força e vigor. Hoje, seu vítimas judias, Erzsebet e Jakob Honig.
projeto é o maior memorial descentralizado do mundo.
Após uma curta introdução, ajoelha-se e começa a cavar.
O que são as stolpersteine? Trata-se de paralelepípedos Atrás do público presente, crianças brincam onde antes
de concreto, de 10 cm x 10 cm, cimentados nas calçadas. havia numerosos prédios habitados por dezenas de
Um lado é coberto por uma chapa de latão dourado, famílias. Muitas foram forçadas a sair, para depois serem
com uma inscrição. Geralmente, nela aparece: “Aqui assassinadas em Auschwitz. O artista termina o trabalho
morava” (hier wohnte) ou “aqui vivia” (hier lebte) ou em 10 minutos. Após inserir as placas na calçada, ele lhes
“aqui atuou” (hier wirkte), tendo, logo depois, o nome dá uma polida, tira o chapéu e volta para o carro.
da pessoa homenageada, data, lugar de nascimento e o
destino que teve: suicídio (selbstmord) ou, na maioria dos À noite, numa cerimônia para lembrar os 20 anos das
casos, deportação e assassinato nos campos (deportation stolpersteine, Demnig conta que naquele dia colocara
ou ermordet). O objetivo dessa intervenção artística é pedras comemorativas em 17 endereços berlinenses. Em
criar pequenos memoriais para relembrar as vítimas 2015, passou 258 dias viajando pela Europa, colocando
do nacional-socialismo, mortos nas deportações, nos placas em até três cidades num só dia. Algo inimaginável
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urante dois milênios, o Povo Judeu pediu dos jovens soldados será lembrado por gerações. Elie
diariamente em suas orações que Jerusalém Wiesel, testemunha ocular da tomada de Jerusalém,
e seu ponto central espiritual, o Monte do escreveu: “O combate ainda perdurava em várias
Templo, voltassem às nossas mãos. “Se eu frentes... mas isso não impediu que as pessoas, num
me esquecer de ti, ó Jerusalém...” escreveu o êxtase místico, acorressem em direção à Cidade Velha,
profeta Yirmiyáhu durante o exilio na Babilônia. O Povo que estivera inacessível a todos os judeus durante o
Judeu nunca se esqueceu de sua capital eterna. A cidade domínio jordaniano... sobreviventes de todo tipo de
de David sempre foi o foco do anseio de nosso povo inferno, rostos de todo tipo de destino - vi-os correndo,
da volta à Terra de Israel. O próprio termo “sionismo” ofegantes... para tocar o Muro. E lá chegando, incrédulos
advém da palavra “Tsion”, que é um dos nomes da cidade e estupefatos, como crianças que temem o despertar por
sagrada de Jerusalém. não querer o fim do sonho, detêm-se, de súbito. Eis que
se ouve um choro convulsivo, preces sendo entoadas,
No dia 7 de junho, apenas 48 horas após o início da enquanto outros dançam, dando vazão à emoção. O país
Guerra dos Seis Dias, o sonho há muito acalentado se inteiro dançou. A história judaica dançou. Explodindo de
concretizou tão rápida quanto inesperadamente. Uma júbilo e gratidão pelo privilégio de testemunhar aquele
mensagem percorreu toda Israel: “Har Habait Beiadeinu” momento, pensei: ‘É isto, Jerusalém, o lugar que atrai e
- o Monte do Templo está em nossas mãos!”. Naquele irmana todos os judeus, a verdadeira cidade da saudade e
dia, o som do Shofar tocado ao pé do Kotel anunciava ao promessa eternas’”.
mundo que os Filhos de Israel haviam voltado para seu
Muro. Jerusalém, o coração e alma de Eretz Israel e do Em compasso de espera
Povo de Israel, finalmente reunificada, é a capital política
do moderno Estado de Israel. Em junho de 1967, mesmo quando Israel percebeu que
não haveria como evitar um novo conflito contra o Egito
A reconquista foi uma luta árdua, muitos sacrificaram e seus aliados, a reconquista de Jerusalém Oriental não
sua vida, outros tantos foram feridos, mas o heroísmo estava entres os planos que traçaram. Moshé Dayan,
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No dia 24 de maio – Yom Yerushalayim – Dia de Jerusalém, Israel festejou 500 aniversário da libertação e unificação
da Cidade Sagrada sob soberania judaica
participavam de cursos de primeiros particular, estava nas mãos da o alertara de que suas forças não
socorros das equipes de resgate da Brigada de Jerusalém, composta em tinham autorização para atravessar
Magen David Adom, mais de 2 mil sua maioria por reservistas, muitos a Linha Vermelha. As ordens do
voluntários cavavam diariamente com mais de 30 anos, enquanto general Yitzhak Rabin, então chefe
trincheiras perto de apartamentos os israelenses entre 45 e 49 anos do Estado Maior, eram claras:
e escolas que não possuíam abrigos compunham os quadros da Haga. “Nada deve ser feito para provocar
próprios (40% das construções), os jordanianos. Caso a Jordânia
entre eles 500 alunos de ieshivot. Na noite de domingo, 4 de abra fogo, Israel responderá, mas
No Shabat após o fechamento junho, Narkiss reuniu-se com sempre tentando evitar a escalada
do Estreito de Tirã, um dos seus comandantes e um oficial do conflito”. Os eventos, no entanto,
comandantes da Haga viu alunos de da Inteligência para examinar os foram tomando vida própria.
ieshivot, liderados por dois rabinos deslocamentos das forças da Jordânia.
ortodoxos, cavando trincheiras. O general estava preparado para a O ataque jordaniano
eventualidade de um ataque, mas
Caberia ao general Uzi Narkiss, não acreditava que seria muito Após o ataque surpresa de Israel,
comandante das FDI na região mais do que uma troca de tiros Nasser fez de tudo para manter
Central, com sete brigadas sob suas transfronteiriços. Caso os jordanianos a Jordânia como aliada. Ele sabia
ordens, enfrentar uma ofensiva atacassem pesadamente em Jerusalém que alguns oficiais jordanianos
jordaniana. Sua principal força o plano de Narkiss era romper as haviam aconselhado ao rei que ao
de reservistas, a 10a Brigada linhas inimigas com sua Infantaria até menos esperasse alguns dias para
Mecanizada, estava estacionada o Monte Scopus, localizado na parte ver o andamento do conflito, antes
na planície costeira. Em caso de jordaniana, e levar seus blindados até de atacar Israel. O alto comando
guerra, seus velhos tanques Sherman um terreno elevado entre o Monte e o egípcio descaradamente “informou”
teriam que enfrentar uma brigada Palácio de Governo. a Hussein que ¾ da Força Aérea
jordaniana de 88 modernos tanques de Israel tinha sido destruída e que
Patton estacionados próximo a O general Haim Bar-Lev, vice- aviões e o exército egípcio estavam
Jericó. A defesa de Jerusalém, em chefe do Estado Maior, porém, atacando Israel. E uma mensagem
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ISRAEL
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Mas foi o anúncio da rádio egípcia cidade edificada, na qual ninhos de Ao chegar a Jerusalém Gur incumbe
afirmando que tropas jordanianas metralhadoras e homens armados os três comandantes de batalhão de
haviam capturado o Monte Scopus com rifles estavam emboscados atrás sua Brigada, cada um com objetivo
que mudou o curso do conflito. de janelas. E, assim que o Monte específico, para preparar um assalto
Israel sabia que o anúncio era falso, Scopus estivesse em suas mãos, cruzado à Linha Vermelha, ao longo
mas também, sabia que significava tomariam posições estratégicas de um setor demarcado ao norte pela
que um ataque jordaniano ao enclave na Jerusalém Oriental para criar Colina da Munição e pela Escola de
israelense era iminente. Uma das uma situação que lhes permitisse Polícia da Jordânia, no centro pelos
preocupações das FDI sempre irromper pela Cidade Velha. bairros Shaikh Jerrah e Wadi Joz,
foi a segurança dos 122 soldados Gur estava ciente de que ele e sua e ao sul pelo Hotel American Colony
estacionados no Monte Scopus, no brigada iriam enfrentar um combate e pelo Museu Rockefeller.
lado jordaniano da cidade. A Brigada difícil, mortal, mas estavam prontos. Os comandantes tinham uma hora
de Jerusalém podia deter qualquer Tendo nascido em Jerusalém, assim para traçar seus planos para, em
ataque, mas se o Monte caísse em como Yitzhak Rabin, Uzi Narkiss seguida, colocá-lo em prática.
mãos jordanianas, sozinha a Brigada e Moshé Dayan, há anos Gur
não conseguiria furar as formidáveis acalentava o sonho de tomar parte Os israelenses lutariam, à noite, num
defesas construídas em volta dele de uma batalha pela cidade. ambiente urbano desconhecido, pois
pelos inimigos. Com a chegada
da 55a Brigada de Paraquedistas
comandada pelo coronel Gur, a
batalha por Jerusalém toma outras
proporções. O Comando Geral
autorizara Narkiss a iniciar um
contrataque assim que o batalhão de
paraquedistas chegasse a Jerusalém.
71 junho 2017
ISRAEL
muro ocidental é recapturado; a rádio do exército israelense anuncia: “o kotel está em nossas mãos”
há 19 anos nenhum judeu podia de guerra, era grande a possibilidade Velha, o Muro das Lamentações e
aventurar-se pelas ruas da Jerusalém de uma Jerusalém unificada e o Monte do Templo permanecerão
Oriental e havia apenas meia israelense. Algo que até então estava em mãos árabes. Isso não podemos
dúzia de mapas mal feitos da parte além de qualquer esperança ou permitir”.
jordaniana da cidade. Os soldados imaginação agora estava ao alcance
não poderiam contar com reforços, de Israel. Tomando a
não teriam apoio de blindados e Cidade Velha
armamentos pesados, tampouco Israel, porém, encontrava-se perante
tinham alguma experiência em um grande dilema de tomar ou não De acordo com o plano rapidamente
atacar uma cidade daquele porte ou a Cidade Velha. As implicações traçado pelo Alto Comando, Israel
de combate de casa em casa, ainda políticas e diplomáticas eram muitas: iria tomar as colinas que circundam
tendo que ter o cuidado para não o Vaticano, centenas de milhões Jerusalém – além do Monte Scopus,
danificar locais sagrados de três de cristãos e de muçulmanos iriam o Cume Augusta e o Monte das
religiões. aceitar que seus lugares sagrados Oliveiras - e manter as posições
ficassem em mãos de judeus? Mas até segunda ordem. As forças de
Uma missão que parecia impossível não podíamos perder a possibilidade Israel iriam estabelecer um anel de
foi realizada: na manhã do dia 6 de histórica, única, que se abria depois aço ao redor da Cidade Velha, mas
junho, após uma luta impiedosa, de dois mil anos de exílio de voltar manteriam um corredor aberto para
estavam em mãos de Israel o a ter em nossas mãos o Kotel a Legião Árabe poder escapar. Era
Monte Scopus, assim como pontos Hamaaravi. imprescindível preservar os Locais
estratégicos. Ainda estavam em mãos Sagrados. O que Israel pretendia era
da Legião Árabe o Cume Augusta O rabino chefe das FDI, general deixar a Cidade Velha cair por si só.
Victoria, o Monte das Oliveiras e Shlomo Goren, o general Narkiss, Moshé Dayan ainda estava com
a Cidade Velha. Mas, as Brigadas o coronel Motta Gur, Menachem dúvidas, temia a indignação da
Harel e de Jerusalém já controlavam Begin, Levi Eshkol, Abba Eban e comunidade mundial caso os locais
três dos quatro acessos à cidade. tantos outros pressionaram Moshe sagrados cristãos e muçulmanos
Dayan que ainda relutava em fossem destruídos ou danificados
As vitórias custaram caro para ordenar a tomada da Cidade Velha. pela ação israelense. Pior ainda seria
Israel; muito sangue de jovens tomar o Kotel e ter que devolvê-lo
israelenses havia sido derramado Pouco antes do amanhecer do perante a pressão internacional,
durante a longa noite. Muitas vidas segundo dia Begin ligara Dayan viu isso acontecer no Sinai.
ceifadas. O número de feridos era para Dayan informando que o Toda relutância de Dayan se esvaiu
imenso e as maiores baixas eram Conselho de Segurança da ao receber o comunicado de que
dos comandantes. Mas, graças ao ONU iria declarar um cessar-fogo. as forças jordanianas estavam
heroísmo dos paraquedistas e dos “Se isso acontecer”, disse Begin abandonando o local, e que poucos
outros soldados, naquele segundo dia com voz perturbada, “a Cidade ainda resistiam.
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73 junho 2017
ISRAEL
Ordenou no radio a todas as soprar, ele correu para o Monte do fazendo continência ao Kotel, eles
unidades cessar-fogo e dirigindo-se Templo. Lá, abraçou Gur e pediu recitaram chorando o Kadish pelos
ao general Narkiss disse: vinho para fazerem o Kidush. Em camaradas tombados na batalha.
“O Monte do Templo está em seguida, ainda agarrado ao Sefer Torá, Enquanto o rabino Goren cantava
nossas mãos. Repito. O Monte do o rabino Goren puxou uma dança o Hatikva, cada um deles sabia
Templo é nosso”. Ao chegar no topo chassídica com os paraquedistas e que a volta do Kotel HaMaaravi ao
do Monte ordenou que a Bandeira começou a cantar o Hatikva, mas os Povo Judeu era uma questão sobre
de Israel fosse hasteada sobre o Kotel soldados o interromperam entoando a qual a opinião das Nações Unidas
HaMaaravi! a nova canção de Naomi Shemer, ou qualquer política regional eram
“Yerushalaim shel Zahav”, Jerusalém totalmente irrelevantes, eles o haviam
O relógio marcava 10h21– de Ouro. reconquistado e Israel aí ficaria.
48 horas após o início do combate
em Jerusalém. Centenas de soldados, vindo O general Dayan somente conseguiu
por todos os lados com os rostos chegar ao Monte do Templo no
Os paraquedistas que iam chegando banhados de lágrimas acorriam início da tarde entrando pela
à então estreita rua diante do Muro à pequena ruela diante do Muro. Porta dos Leões, acompanhado
ficavam em silêncio, conscientes de Aproximavam-se do Kotel para por Rabin. De pé, diante do Muro,
que eram os primeiros soldados de tocar as pedras milenares, alguns escreveu um bilhete que inseriu no
um exército judeu a lá chegar em comprimiam o rosto nas pedras. Muro: “Que a paz desça sobre a
dois milênios. Durante dois dias tinham obedecido Casa de Israel”.
a ordens, lutado contra a dor e o
O rabino-chefe das FDI, o general medo; tinham sangrado, foram
Goren, que avisara a Gur que ele feridos, tinham visto tombar seus BIBLIOGRAFIA
desejava ser o primeiro homem a camaradas, mas agora estavam lá!
Pressfield, Steven, A Porta dos Leões, Editora
aproximar-se do Muro, adentrou Enquanto o suor da batalha ainda Contexto
a Cidade Velha carregando um brilhava neles repetiram as palavras
Rabinovich,Abraham, The Battle for
Sefer Torá e um Shofar. Um dos do rabino Goren: “Shehecheyanu… Jerusalem: An Unintended Conquest (50th
comandantes da companhia de Aquele que nos manteve com vida, Anniversary Edition), ebook Kindle
tanques o carregou e, do alto do nos preservou, e nos permitiu Clifford, Irving, The Battle Of Jerusalem
tanque, o rabino Goren tocou chegar a este momento com vida...”. - A Short History Of The Six-Day War: June
bem alto o Shofar, continuando a A seguir, em posição de sentido e 1967, eBook Kindle
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REVISTA MORASHÁ i 93
A revista Morashá é inegavelmente Eu não leio a Morashá, eu mergulho Morashá cumpre com excelência
interessante, educativa e na Morashá, eu estudo a Morashá. seus objetivos – artigos e produção
informativa. Sua leitura é tão boa Volto às matérias de história duas e impecáveis. Na edição 95, a revista nos
como de um bom livro, se não três vezes. Eu viajo no espaço e no brinda com o artigo “Os Judeus de
melhor. A Morashá existe para a tempo com a Morashá. Gostaria Curaçau” trazendo respostas às várias
lembrança de quem somos. Nasci de uma matéria sobre a Ilha de indagações e reflexões ... Fugindo da
em Berlim, só aprendi que sou Rhodes, no Mar Egeu. Toda minha inquisição, nosso povo mais uma vez,
judeu quando vi de perto a queima família é de lá. Até o nome da migrou. A ilha de Curaçau tornou-se
das sinagogas, nas ruas o vidro das avenida central da Judiaria leva meu um local de acolhimento. A beleza da
vitrinas quebradas das lojas judaicas, sobrenome. Obrigada pelas matérias história se mantém até hoje, quando
etc. Frequentei a Volksschule e depois sempre interessantes, vibrantes, vários imigrantes de diferentes países
o Juedische Real Gymnasium, onde com bibliografia com as quais nos vieram se juntar à colônia judaica... esse
aprendi bem mais sobre o nosso presenteiam a cada edição. é o espírito da nossa comunidade: a
povo. Com o antissemitismo cada união! Destaco ainda Leonard Cohen,
Silvia Aljadeff Kuffer
vez pior, a Inglaterra generosamente Por e-mail grande poeta e compositor com a
criou o famoso Kindertransport, e música que se eternizou, “Aleluia”,
tive a tremenda sorte de ser uma Trabalho com alguns parceiros em e Naomi Shemer, com sua também
destas crianças. Imagine a dor dos um projeto sobre Curaçau, a ilha do poesia e música “Yerushalayim Shel
pais na estação do trem, certos que Caribe, e soube da excelente matéria Zahav”, que se tornou nossa referência,
não veriam seus filhos nunca mais... publicada na edição 95 da Morashá além do Hino de Israel: nunca perder
Na Inglaterra fui tratado muito sobre a ilha. Enviarei exemplar para esperança da Terra Prometida. Enfim,
bem e tão logo tive idade suficiente, nossos contatos da comunidade de difícil selecionar um artigo. Parabéns à
alistei-me no exército inglês. Curaçau. competente equipe.
Quando ouvi falar da Brigada Leonardo Libman Janete Haber Fajntuch
Judaica, pedi transferência e servi na São Paulo - SP Rio de Janeiro - RJ
Itália. Foi lá que aprendi
a falar hebraico e que aprendi que Minha família recebe a Morashá Agradeço o envio do exemplar da
havia 10 vezes mais judeus na regularmente, leio com prazer, mas Morashá. Esta revista é simplesmente
Polônia do que na Alemanha. Para a edição 95 foi especial. O artigo de uma joia em papel.
minha esposa, nascida em Viena, rabino Lorde Jonathan Sacks foi de
Luis Gerardo
a história é exatamente a mesma, uma sabedoria e profundidade que Consulado Geral do México
encontramo-nos na Inglaterra gostaria de ler em toda reunião da
e casamos. Nossos filhos são os comunidade. É um chamado para Agradecemos a doação da Morashá,
netos de quatro avós assassinados as lideranças. Outro artigo que me 2016, Ano 24, nº 94. Tal obra
que nunca chegaram a conhecer. tocou profundamente foi “O novo enriquecerá e muito o acervo de nossa
Recomendo a todos que leiam a antissemitismo”. E que bela foto dos Biblioteca.
revista. soldados de Israel no Muro Ocidental!
Centro Cultural São Paulo
Ernest G. Growald Jayme Gudel Supervisão Bibliotecas
Por e-mail Por e-mail São Paulo - SP
75 JUNHO 2017