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DIREITO CIVIL /
PROCESSUAL CIVIL
CONTRATO DE SEGURO
Terceiro prejudicado não pode ajuizar a ação de indenização
apenas contra a seguradora do causador do dano
1º PONTO IMPORTANTE:
Pedro (terceiro prejudicado), sabendo que José tem contrato de seguro, pode deixar de lado o causador
do dano e ajuizar ação de indenização apenas contra a “Seguradora X” cobrando seu prejuízo?
NÃO. Segundo entendimento pacífico do STJ, o terceiro prejudicado não pode ajuizar, direta e
exclusivamente, ação judicial em face da seguradora do causador do dano.
STJ. 2ª Seção. REsp 962.230-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/2/2012 (recurso repetitivo)
(Info 490).
Esse entendimento já era pacífico no STJ há alguns anos e agora foi materializado em uma súmula:
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo
terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
Obs: a súmula fala em “seguro de responsabilidade civil facultativo” para deixar claro que está tratando
daquele seguro que os proprietários de carro fazem espontaneamente com a seguradora. O objetivo foi
deixar claro que a súmula não está tratando sobre o seguro DPVAT, que é um seguro obrigatório de danos
pessoais causados por veículos automotores de via terrestre.
Quais os principais argumentos utilizados pelo STJ para chegar à conclusão exposta na súmula:
A obrigação da seguradora de ressarcir os danos sofridos por terceiros pressupõe a responsabilidade
civil do segurado. Em outras palavras, a seguradora só paga o terceiro prejudicado se o segurado teve
“culpa” pelo acidente. Como regra, não se pode reconhecer a responsabilidade civil do segurado em
um processo judicial sem que ele tenha participado, sob pena de ofensa ao devido processo legal e à
ampla defesa.
A obrigação da seguradora está sujeita a condição suspensiva, que não se implementa pelo simples
fato de ter ocorrido o sinistro, mas somente pela verificação da eventual obrigação civil do segurado.
Essa é a explicação da súmula. Se você queria entendê-la, até aqui está bom. No entanto, abaixo vou
aprofundar um pouco mais o tema com dois tópicos importantes.
2º PONTO IMPORTANTE:
Vamos supor outra hipótese. Pedro ajuizou a ação de indenização apenas contra José cobrando as
despesas do conserto. José poderá fazer a denunciação da lide à seguradora?
SIM, nos termos do art. 70, III do CPC 1973 (art. 125, II, do CPC 2015):
Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:
(...)
III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do
que perder a demanda.
Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
(...)
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de
quem for vencido no processo.
Desse modo, a “Seguradora X” comparece em juízo aceitando a denunciação da lide feita pelo réu,
contestando o mérito do pedido do autor e assumindo, assim, a condição de litisconsorte passiva.
Nesta situação acima relatada, o juiz irá condenar José e a “Seguradora X”, de modo que Pedro poderá
executar tanto o denunciante (José) como a denunciada (Seguradora).
Ressalte-se que a seguradora denunciada terá direito ao contraditório e à ampla defesa, com todos os
meios e recursos disponíveis.
3º PONTO IMPORTANTE:
Vamos agora imaginar uma última hipótese. Pedro poderá ajuizar a ação de indenização contra José e a
“Seguradora X”, em litisconsórcio passivo?
SIM. É possível o ajuizamento de ação de indenização por acidente de trânsito contra o segurado
apontado como causador do dano e contra a seguradora obrigada por contrato de seguro, desde que os
réus não tragam aos autos fatos que demonstrem a inexistência ou invalidade do contrato de seguro (nem
o causador do dano nem a seguradora negam a existência do seguro ou questionam as cláusulas do
contrato).
O STJ afirmou que esse ajuizamento contra ambos é possível porque não haverá nenhum prejuízo para a
seguradora, considerando que ela certamente seria convocada pelo segurado para compor a lide, por
meio de denunciação da lide.
STJ. 4ª Turma. REsp 710.463-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 9/4/2013 (Info 518).