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Aula de Língua Portuguesa III - Prof.a. Nádia N.

Pires
I. ARGUMENTAÇÃO – (Garcia, Othon. Comunicação em Prosa Moderna. 1986)
A argumentação visa, sobretudo, a convencer, persuadir ou influenciar o interlocutor ou
leitor. Na argumentação procuramos principalmente formar a opinião do leitor,
interlocutor, tentando convencê-lo de que a razão esta conosco, de que nós é que
estamos de posse da verdade. Argumentar é, em última análise, convencer ou tentar
convencer mediante a apresentação de razões, em face das evidências das provas e à
luz de um raciocínio coerente e consistente.
1.2. Condições da argumentação
A argumentação deve basear-se em princípios sãos da lógica. Entretanto, nos debates,
nas polêmicas, nas discussões ou nas simples conversações, na imprensa, nas
assembléias ou agrupamentos de qualquer ordem, a argumentação, não raro, se
desvirtua, degenerando em “bate-boca” estéril, falacioso, ou sofismático1. A legitima
argumentação (não se confunde com ”bate-boca” estéril ou carregado de animosidade)
deve ser construtiva na sua finalidade, cooperativa em espírito e socialmente útil.
1.3. Consistência dos argumentos
A argumentação esteia-se em dois elementos principais: a consistência do raciocínio
e a evidência das provas. Evidências - consideradas por Descartes como o critério da
verdade - é a certeza manifesta, a certeza a que se chega pelo raciocínio (evidência da
razão) ou pela apresentação dos fatos (evidência de fato), independentemente de
toda teoria. São cinco os tipos mais comuns de evidências: os fatos propriamente ditos,
os exemplos, as ilustrações, os dados estatísticos (tabelas, números, mapas, etc.) e
o testemunho.
a) Fatos – este é considerado um dos elementos de difícil conceituação, isto porque o
termo fato possui um sentido muito amplo, com o qual se costuma, até mesmo,
designar evidência – constituindo, assim, o elemento mais importante da argumentação
em particular assim como da dissertação ou explanação de idéias em geral.
É evidente e notório que só os fatos provam, só eles convencem. Mas nem todos os fatos
são irrefutáveis: seu valor de prova é relativo, sujeitos como estão à evolução da ciência,
da técnica e dos próprios conceitos ou preconceitos de vida: o que era verdade ontem
pode não o ser hoje. De forma que é indispensável levar em conta essa relatividade para
que eles sejam convincentes, e funcionem realmente como prova.
b) Exemplos - estes são fatos típicos ou representativos de determinada situação.
Ex.: O fato de um professor se ver na contingência de dar dez ou mais aulas diárias em
colégios particulares, é um exemplo típico dos sacrifícios a que estão sujeitos os
membros do magistério no Brasil.
c) Ilustrações - quando o exemplo se alonga em narrativa detalhada e entremeada de
descrições, tem-se a ilustração. Há duas espécies de ilustração: a hipotética e a real. A
primeira como o nome diz é invenção, é hipótese: narra o que poderia acontecer ou
provavelmente acontecerá em determinada circunstância. Mas, nem por ser
imaginária, prescindi da condição de verossimilhança e de consistência, para não
falara da adequação à idéia que se defende.
Sua introdução no corpo da argumentação faz-se com naturalidade, numa forma verbal
típica: suponhamos ..., hipotetizando ..., etc. O propósito principal da ilustração hipotética
é tornar mais viva e mais impressiva uma argumentação sobre temas abstratos. É,
ademais, um recurso de valor didático incontestável, capaz de por si só, tornar mais
clara, mais convincente, uma tese ou opinião. Entretanto, seu valor como prova é
muito relativo, e, em certos casos, até mesmo duvidoso.

1
Argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo e que supõe má fé por parte de quem o apresenta.
Sofismático: adj. Qualidade de argumentos a base de sofismas.
A ilustração real descreve ou narra em detalhes um fato verdadeiro. Mais eficaz e mais
persuasiva do que a hipotética. Ela vale por si mesma como prova. Espera-se que ela
de fato sustente, apóie ou justifique determinada declaração. Para isso, é preciso que
ela seja clara e objetiva e obviamente relacionada a proposição.
d) Dados estatísticos – são também fatos, porém mais específicos, com grande valor
de convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável. Entretanto,
é preciso ter cautela na sua apresentação ou manipulação, já que sua validade é
também muito relativa: com os mesmos dados estatísticos tanto se pode provar como
refutar a mesma tese.
e) Testemunho – é ou pode ser o fato trazido à colação por intermédio de terceiros. Se
autorizado e fidedigno, seu valor de prova é inegável. Entretanto, sua eficácia é
também relativa. Têm-se feito experiências para provar como o testemunho pode ser
falho (o testemunho visual): o mesmo fato presenciado por várias pessoas pode
assumir proporções e versões as mais diversas. Mesmo assim, apesar de suas falhas e
vícios, sua presença na argumentação geral constitui, assim, desde que fidedigno e
autorizado, valioso elemento de prova.
1.4. Argumentação formal
A argumentação formal pouco se difere da informal. Mas a formal exige cuidados
específicos com alguns fatores, tais como:
a) Proposição: deve ser clara, definida, inconfundível quanto ao que afirma ou nega.
Além disso,é indispensável que seja argumentável, quer dizer, não pode ser uma
verdade universal, indiscutível, incontestável (não se pode argumentar sobre idéias que
todos estão de acordo, pois proposições vagas ou inespecíficas só admitem a
dissertação, isto é, explanação ou interpretação).
A proposição deve ser, de preferência, afirmativa e suficientemente específica para
permitir uma tomada de posição contra ou a favor. Para submeter uma proposição à
argumentação é preciso delimitá-la e apresentá-la em termos de opção, pois isso
admite divergência de opiniões.
b) Análise da proposição: essa análise, na argumentação formal, constitui a fase de maior
importância na construção da argumentação, para tanto deve se ater aos seguintes
pontos:
- é imprescindível definir com clareza o sentido da proposição ou de alguns de seus
termos;
- é necessário evitar palavras de sentido intencional, vago, abstrato e por isso sujeitas ao
“malabarismo” das mutilas interpretações.
- é indispensável que o autor ou orador defina sua posição de maneira inequívoca, que
declare, em suma, o que pretende provar.
1.5. Formulação dos argumentos
A formulação dos argumentos constitui a argumentação propriamente dita, é aquele
estágio em que o autor apresenta as provas ou razões, o suporte das suas idéias. É aí
que a coerência do raciocínio mais se impõe ao autor de lembrar-se que só os fatos
provam (desde que apresentem condições suficientes de fidedignidades, autenticidade,
relevância e adequação).
Outro fator muito importante é a ordem em que as provas são apresentadas, isso,
obviamente, dependerá da natureza da sua tese. Entretanto, quase sempre, ao contrário
do que se faz na refutação, adota-se a ordem gradativa crescente ou climática, ou seja,
aquela que se parte das provas mais frágeis para as mais fortes, irrefutáveis.
Outro recurso de convicção consiste em manter o leitor atento e como em suspense
quanto às conclusões, até o ponto de saturação tal, que, várias vezes iminentes, mas não
declaradas, elas indiquem: esse é o memento de enunciá-las. Todavia, é preciso ter
cuidado ao fazer uso desse recurso para não cansar nem exasperar o leitor, mantendo-o
por tempo demasiado na expectativa da conclusão.
Outros artifícios muitos comuns que o debatedor (argumentador) pode servi-se para
convencer ou influenciar o interlocutor são: confrontos flagrantes, comparações
adequadas e elucidativas, testemunhos autorizados, alusões históricas pertinentes e, até
mesmo, anedotas.
Dois outros fatores são relevantes na estruturação da argumentação. O primeiro diz
respeito à conveniência de o autor frisar, nas ocasiões oportunas, os pontos principais da
sua tese, pontos em que ele englobará na conclusão final, de maneira tanto quanto
possível enfática, e sucintamente. O segundo fator refere-se à necessidade de se
antecipar e prever possíveis objeções do opositor ou leitor, para refutá-la a seu tempo.
1.6. Conclusão
A conclusão nasce naturalmente das provas arroladas, dos argumentos apresentados. A
conclusão não é, entretanto, uma simples recapitulação ou mero resumo. Em síntese, a
conclusão consiste em pôr em termos claros, insofismáveis a essência da proposição.
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2. ARGUMENTAÇÃO E LINGUAGEM– (KOCH, Ingedore. Argumentação e Linguagem. 1987)
2.1. Condições da argumentação (Capítulo I e II)
Está no centro da concepção da antiga retórica2. O discurso argumentativo foi
caracterizado de maneira intradiscursiva por suas diferentes formas estruturais, e de
maneira extradiscursiva pelo efeito perlocutório ao qual estaria vinculado, a persuasão.
Segundo Perelman e Olbrechts-Tyteca, “o objeto da teoria da argumentação é o estudo
das técnicas discursivas que permitem provocar ou ampliar a adesão dos espíritos às
teses que se apresentam ao seu assentimento”. Para teoria na argumentação na língua,
bem como para a lógica natural, a atividade argumentativa é co-extensiva a atividade da
fala (enunciar é esquematizar, significar é dar uma orientação argumentativa).

De acordo com Koch (1987), “a interação social por intermédio da língua caracteriza-se,
fundamentalmente, pela argumentatividade”. A proposta principal da autora é de que “o
ato lingüístico fundamental é o ato de argumentar”. Isto significa que argumentar não é
agir na explicitude lingüística e sim montar o discurso envolvendo as intenções em
modos de dizer cuja ação discursiva se realiza em diversos atos argumentativos
construídos na tríade: falar, dizer e mostrar. Com isso, o ato de argumentar é visto como
ato de persuadir, que “procura atrair a vontade”, envolvendo a subjetividade, os
sentimentos, a temporalidade, buscando adesão e não criando certezas.
2.2. Elementos básicos participantes das condições da argumentação
O discurso para ser bem estruturado deve conter, explícitos e implícitos, todos os
elementos necessários à sua compreensão, devem obedecer às condições de progresso e
coerência, para, por si só, produzir comunicação, em outras palavras, deve constituir um
texto.
As coordenadas propostas por Halliday (1970) definem-se a partir de três funções:
• Função Ideacional (cognitiva ou referencial);
• Função interpessoal, ligada a posição que o locutor assume diante do ouvinte no
processo da enunciação, diz respeito as diferenças de modos ou modalidades, ou

2
(1) Platão, no Górgia, coloca a contradição no coração da retórica, definida por Górgias como “o poder de convencer,
graças aos discursos, [...] em não importar qual a reunião dos cidadãos”;
(2) Sócrates coloca como “a contrafração de uma parte da política (sendo a política, para ele, a arte que se ocupa da
alma)”;
(3) Aristóteles a entende como uma ciência orientada para o particular “adimitamos, portanto, que a retótica é a
faculdade de descobrir, especulativamente, aquilo que, em cada caso, é apropriado para persuadir”;
(4) Quintiliano a compreende como uma técnica normativa da fala, “a arte do bem dizer”.
seja, diferenças entre perguntas, afirmações, negações, ordens, etc;
• Função textual: diz respeito à criação de textos de modo pertinente ao contexto,
devendo a língua conter em sua estrutura, elementos capazes de justificar e explicar
essa adequação.

Obs.: Duas estruturas fornecem ao falante a possibilidade de construção de texto: a temática e a


intencional
• A temática: compreende a noção de uso do tema e do rema
• A informacional: compreende a utilização do que é informação dada e nova.

2.3. Os níveis de significação


Austin postulou a existência de atos ilocucionários e perlocucionários.
a) Ilocucionários: na terminologia de J.L.Austin, Ilocucionário (ou ilocutório) é todo
ato de fala que realiza ou tende a realizar a ação nomeada. Assim, por
exemplo, a frase “prometo não conversar mais” realiza ao mesmo tempo o ato de
prometer. Distingui-se principalmente entre os verbos ilocucionários os verbos
performativos (ordenar) e os verbos de atitude (jurar). Todo enunciado praticamente
pode ser, de um modo ou de outro, considerado como ilocucionário.
b) Verbos Performativos: J.L.Austin denomina de verbos performativos os verbos
cuja enunciação realiza a ação que eles exprimem e que descrevem certa ação
do sujeito que fala, tais como: ‘Eu digo’, ‘Eu prometo’, ‘Eu juro’; estes são verbos
performativos porque, ao enunciar esta frase, se pratica a ação de dizer, prometer e
jurar.
Benveniste opõe os verbos performativos de sentido 1 aos verbos de atitude, que
descrevem a ação realizada, ao enunciarmos a proposição que segue o verbo de atitude.
Outros autores já qualificam de performativos os enunciados ilocucionários, que
significam a menção de impor através da fala um certo comportamento (ordem).
c) Enunciados Perlocutórios: Dá-se o nome de perlocutório às funções da linguagem que
não estão eliciadas diretamente ao enunciado, mas que dependem inteiramente da
situação da fala (“elogiar, causar prazer, causar medo, etc.”). Por exemplo uma
interrogativa pode ter por objeto não a obtenção de uma informação, mas fazer crê
ao interlocutor que ele participa da decisão (falsa interrogativa).
d) Enunciados ou “Orações” Modalizadoras: consideram-se modalizadores todos os
elementos lingüísticos diretamente ligados ao evento de produção do enunciado e
que funcionam como indicadores das intenções, sentimentos e atitudes do locutor
com relação ao seu discurso. Estes elementos caracterizam os tipos de atos de fala
que deseja desempenhar, revelam o maior ou menor grau de engajamento do falante
com relação ao conteúdo proposicional veiculado, apontam as conclusões para as
quais os diversos enunciados podem servir de argumento, dão vida, enfim, aos
diversos personagens cujas vozes se fazem ouvir no interior de cada discurso.
Ex.: [Eu prometo que] irei à sua festa;
[Eu ordeno que] você saia daqui;
2.4. Argumentação e autoridade polifônica
A noção de polifonia - postulada por Ducrot (apud Koch: 1987, p.37) – pode ser definida como a
incorporação que o locutor faz ao seu discurso de asserções atribuídas a outros
enunciadores ou personagens discursivos – aos interlocutores, a terceiros ou à opinião
pública em geral.
Obs.: Deve-se distinguir a polifonia do discurso relatado. Este ocorre quando o
objetivo do locutor L1 é fazer saber o que disse o L2. Desse modo, L2 passa a ser o
tema/tópico do enunciado de L1
Ex.: L1 (João) faz saber o que disse L2 (Pedro)
Pedro [disse que o tempo vai melhorar]
Tema/tópico rema/comentário
Este enunciado nos leva a pensar, simplesmente, que Pedro é um otimista ou não
entende de meteorologia, isto é o encadeamento se faz sobre a qualificação de Pedro.
2.5. As marcas lingüísticas da argumentação (Capítulo III)
As relações estabelecidas entre o texto e o evento, no momento em que constitui o a sua
enunciação, que mais se destacam são:
• As pressuposições
• As marcas das intenções explícitas ou implícitas que o texto veicula;
• Os modalizadores que revelam sua atitude perante o enunciado;
• Os operadores argumentativos responsáveis pelo encadeamento dos enunciados:
• As imagens recíprocas que se estabelecem entre os interlocutores e as máscaras por
eles assumidas no jogo de representações.
2.6. Os tempos verbais e as situações comunicativas
a). Os tempos verbais (segundo H. Weirinch, apud Koch: 1987, p.37)
A presença do verbo no discurso estabelece várias relações semânticas e pragmáticas no
texto, observáveis por meio de algumas características (finalidades no texto), tais como:
• As marcas de tempo são altamente redundantes nos enunciados da língua;
• As leis de concordância dos tempos dentro do período (“consecutio temporum”)
existem e estabelecem relações lineares textuais;
• Os tempos não têm necessariamente3 vinculação com o Tempo (“Cronos”);
• Essas marcas distribuem-se em dois grupos ou sistemas temporais, com empregos
distintos e que não se combinam, normalmente, no mesmo período.
2.7. As situações comunicativas (segundo H. Weirinch, apud Koch, 1987, p.37)
As situações comunicativas se dividem claramente em dois grupos: mundo 4 comentado e
mundo narrado, em cada um dos quais predomina um dos grupos temporais,
estabelecendo distinção entre mundo comentado e mundo narrado.
1. Mundo comentado – Comentar é falar comprometidamente, pios “O falante está
comprometido: tem de mover e tem de reagir, e seu discurso é um fragmento de ação
que modifica o mundo em um ápice e que, por sua vez, empenha o ouvinte em um
ápice”.
• Os gêneros que pertencem ao mundo comentado são: a lírica, o drama, o ensaio, o
diálogo, o comentário e também todos que apresentem como característica a atitude
tensa.
• O emprego dos tempos comentadores constitui um sinal de alerta, advertindo o
ouvinte que se trata de algo que o afeta e que o discurso exige sua resposta.
Exemplo: Tempos comentadores (mais próximo): Indicativo: Presente: ——
canto
Pret. perf. composto: —— tenho cantado
Futuro do presente: —— cantarei
Fut. do pres. Composto: —— terei cantado
Locuções verbais: —— estou cantando
—— vou cantar
2. Mundo narrado – Narrar é falar descompromissadamente (relaxadamente), porque
se tratam de eventos relativamente distantes, que, ao passarem pelo filtro do relato,
perdem muito de sua força, permitindo aos interlocutores uma atitude mais relaxada.
• Os gêneros que pertencem ao mundo narrado são: todos os tipos de relato, literários
ou não; todos que apresentem como característica a atitude não tensa.
• O emprego dos tempos narradores constitui-se em convidar o destinatário a converter-
se em um simples ouvinte, pois toda situação comunicativa se desloca para outro
plano, outro nível de consciência, além da temporalidade do mundo comentado.
Exemplo: Tempos narradores (mais distante): Indicativo: Pret. perf. simples: ——
cantei
3
O modalizador ‘necessariamente’ é colocação minha, por acreditar que seja dessa forma em português.
4
A acepção atribuída à palavra mundo é de possível conteúdo de uma comunicação lingüística.
Pret. imperfeito: —— cantava
Pret. mais que perfeito: —— cantara
Fut. do presente: —— cantaria
Loc. verbais formadas com tais tempos: —— estava
cantando
——ia cantar
Obs.: Os advérbios de tempo, do mesmo modo que os tempos verbais, també se
ordenam em dois grupos, por exemplo: agora, hoje, ontem passam a então, nesse
dia, na véspera etc.
2.8. Perspectiva comunicativa
Segundo Wenrich, a forma verbal presente nada tem a ver com o Tempo: ela constitui,
justamente, a forma principal do mundo comentado, designando uma atitude
comunicativa de engajamento de compromisso.
Como essa informação se ajusta a situação comunicativa jornalística?
Exemplos: compare as duas formas: “O ministro estaria preparando um
comunicado à imprensa”
“Parece que o ministro estaria preparando um
comunicado à imprensa”
Dá-nos a impressão de uma noticia não confirmada, limitando sua validez, ou seja, o
falante não se responsabiliza pela exatidão da notícia.
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3. ARGUMENTAÇÃO E PERSUASÃO – (CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão.
2005)
3.1. A TRADIÇÃO RETÓRICA
De acordo com Citelle, ‘falar em persuasão implica, de certa maneira, retomar certa tradição
clássica: a retórica.
Obs.: Deve-se dar importância ao conceito atribuído a palavra persuasão pelo autor. Ele
adverte que estaria usando indistintamente “persuasão” por “convencimento”, mesmo admitindo
que existem diferenças relevantes entre elas.
A retórica clássica remonta a pensadores como Sócrates, Górgias, Demóstenes, Quintiliano e
Platão, mas é com Aristóteles (384 – 322, a.C) que a estrutura do discurso passa a ser vista em
suas unidades compositivas voltadas a produzir persuasão. Em sua obra Arte Retórica (composta
dos livros I, II, III), Aristóteles sintetiza algumas visões a respeito do estudo da retórica, pois para ele
a retórica possui algo de ciência, já que pode ser vista como um corpus com determinado objeto e
método verificativo dos passos seguidos para se produzir persuasão. Ou como é afirmado por ele:
“Assentemos que a retórica é a faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso,
pode ser capaz de gerar a persuasão. Nenhuma outra arte possui esta função, porque
as demais artes têm, sobre o objeto que lhes é próprio, a possibilidade de instruir e de
persuadir; por exemplo: a medicina, sobre o que interessa à saúde e à doença, (...)”
Citelle mostra-nos que segundo a citação acima podemos, então, deduzir que:
a) A retórica não é a persuasão;
b) A retórica pode revelar como se faz persuasão;
c) A retórica é analítica (descobrir o que é próprio para persuadir);
d) A retórica é uma espécie de código dos códigos, está acima do compromisso
estritamente persuasivo (ela não aplica suas regras a um gênero próprio e
determinado), pois abarca todas as formas discursivas.
Desse modo, entende-se porque não existe uma implicação direta entre retórica e ética, pois a
retórica não entra no mérito daquilo que está sendo dito, mas, sim, no como (ou quanto) aquilo que
está sendo dito o é de modo eficaz. Uma vez que essa eficácia estaria vinculada ao domínio de
processos, formas, instâncias, modos de argumentar.
Para Aristóteles, a própria estrutura do texto já é um mecanismo aplicado nos discursos
persuasivos; e o mais óbvio é o que fixa a estrutura do texto em quatro instâncias seqüenciais
integradas: o exórdio (o começo, abertura introdutória) a narração (o assunto propriamente dito,
parte em que os fatos são arrolados), as provas (o ponto persuasivo, pois é a prova do que se diz)
e a peroração (a conclusão, o epílogo).
Alguns raciocínios da retórica clássica ligados à retórica moderna
a) Raciocínio apodítico: aquele que possuía o tom da verdade inquestionável. Nele, a argumentação e
realizada com tal grau de fechamento que não resta ao receptor qualquer dúvida quanto a verdade do
emissor.
Exemplo: Zupavitin, a sopa que emagrece 1 quilo por dia. →
Raciocínio implícito: se você quer emagrecer, deve tomar Zupavitin
b) Raciocínio dialético: esse raciocínio busca quebrar a inflexibilidade do raciocínio apodítico, apontando
para mais de uma conclusão possível. Tornando-se um jogo de sutilezas que consiste em apresentar uma
abertura no interior do discurso.
Exemplo: Você poderia comprar várias marcas de sabão, mas há uma que lava mais
branco;
Raciocínio implícito: se você quer um sabão (pode escolhê-lo por vários critérios);
c) Raciocínio retórico: este também visto como um procedimento para conduzir as idéias. Apesar de
possuir certa semelhança com o raciocínio dialético, o raciocínio retórico não busca um convencimento
racional, mas igualmente emotivo (ou seja, persuasório). O raciocínio retórico é capaz de atuar junto a
mentes e corações.
Exemplo: No Dia das Mães, passe na joalheria Gargantilha de Ouro. Afinal, quem mais
do que sua mãe para merecer um presente de valor?
As figuras ligadas à retórica
a) Metáfora: figura de transferência, de relação subjetiva, quando há uma relação de semelhança
ou subentendidos.
Exemplo: sol = astro-rei João é forte como um leão
b) Metonímia: figura de troca de nomes, de relação objetiva, quando há uma relação de
contigüidade.
Exemplo: brasileiro gosta de futebol. Obs.: brasileiro = brasileiros, como a
maioria dos brasileiros gosta de futebol, estabelece-se a contigüidade.
3.2. SIGNO E PERSUASÃO (Capítulo III)
Com base na orientação estabelecida por Saussure, afirmando que todo signo possui dupla face: o
significante (aspecto concreto, realidade material, imagem acústica) e o significado (aspecto
imaterial, conceitual, que nos remete a uma representação mental)

3.2.1. A natureza do signo lingüístico


A semântica busca descrever o significado das palavras e das sentenças. Entretanto, o problema
maior está na própria definição da palavra significado, por exemplo:
“Qual o significado da palavra mesa? “Qual o significado da sua atitude?”

A significação é um processo que associa um objeto, um ser, um a noção ou acontecimento a um


signo capaz de os evocar.
Ex: Uma nuvem escura é um sinal de chuva A palavra Mesa é um signo de objeto
O franzir de sobrancelhas é um sinal perplexidade ou aborrecimento.

Portanto, o signo pode ser considerado um excitante, um estímulo, cuja ação sobre o organismo
provoca a imagem memorial de um outro estímulo.
Ex: A nuvem evoca a imagem de chuva A palavra evoca a imagem da coisa

Para alguns teóricos como Guiraud (1989), “O que chamamos experiência, ou conhecimento, é
apenas uma “significação” da realidade, da qual as técnicas, as ciências as artes e as linguagens
são modos particulares; concebe-se, portanto, a importância e a universalidade do problema da
significação assim apresentado; nós vivemos entre os signos, e uma ciência geral da significação
abrange o conjunto das atividades e dos conhecimentos humanos.”
Em outras palavras: “O signo é um estímulo associado a outro estímulo, do qual ele evoca uma
imagem mental. A significação é, portanto, um processo psíquico, tudo se passa no espírito”.
Ponto de reflexão: Essa associação é de natureza psíquica, não as coisas, mas as imagens
mentais das coisas e a idéia que dela fazemos que estão associadas em nosso espírito; e segundo
Saussure, “o signo lingüístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem
acústica”.
Ex.: Casa: (Ste): aspecto concreto
Conjunto sonoro
Casa
 (Sdo): aspecto conceitua
Imagem mental
A relação SIGNO e IDEOLOGIA
É impensável afastarmos do estudo das ideologias a reflexão acerca dos signos, já que entre eles
existe uma relação de dependência que nos possibilita compreender os valores e as idéias contidas
nos discursos. Isso implica em que termos que reconhecer a natureza dos signos responsáveis pela
estrutura do discurso. Nesse sentido, a retórica se faz presente na organização do enunciado. Pois
o modo de apresentação do signo (palavra), a escolha de um ou outro recurso lingüístico revelaria
múltiplos comprometimentos de cunho ideológico. Como no exemplo abaixo obtido da Folha de São
Paulo:
Ex.: uma coisa é dizer: “FMI faz acordo suave com a Argentina” (elemento valorativo do julgamento)
Outra coisa é dizer: “FMI faz acordo com a Argentina” (exposição nua de uma idéia cristalizada)
Percebemos que o uso da palavra suave, deu um tom mais ameno ao processo do acordo,
informando que ele foi favorável aos argentinos e, ao mesmo tempo, a visão que a Folha teve sobre
o acordo.

TROCA DE NOMES
Foi criado um novo sistema retórico, expressões que estão progressivamente se transformando em
frases feitas, jargões, clichês lingüísticos como forma de adequação do tempo em que vivemos.
Esse efeito de elegância e bondade, às vezes, revela o sentido “avesso”.
Ex.: Regime de livre-empresa, livre-iniciativa, livre-concorrência. Termos que pretendem passar o sentido de
“possibilidade de exercício da justiça social”, da “equânime distribuição de renda”.
Mas realidade são apenas sinônimos de capitalismo
Por que se usa de eufemismos nestes casos?
OS TIPOS DE DISCURSOS
1º - Discurso Dominante
O caráter social da linguagem permite que por meio dela circulem fluxos comunicativos que integram
diferentes tipos de vozes (polissemia) e lugares onde discursos são produzidos (campos
profissionais, instituições cotidiano, tribos urbanas, etc.). Dessa forma, quando um indivíduo produz
um discurso é como se estivesse, também, sendo falado por diversos precedentes. Com maior ou
menor grau de consciência, no momento de formulação de um discurso, á ativado um complexo
jogo dialógico, de onde podem irromper temas, (pré-) conceitos, valores, conhecimentos, lugares
comuns, etc.
Ex.: Quando um deputado se manifesta na tribuna da Câmara, atrás dele estão
posições do partido ao qual pertence, a expressão de interesses de
eleitores e grupos de pressão que representa.
Sendo assim, “nossas opiniões” podem não ser tão nossas como imaginamos. A nossa opinião
quase sempre resulta dos cruzamentos antes referidos (intertextualidade), muitos deles pouco
percebidos, outros nem sequer identificados, mas presentes nesse enorme fluxo representados
pelas formações discursivas e seus múltiplos envolvimentos.
2º- Discurso Autorizado
O conceito desse discurso está ligado ao conceito de discurso competente concebido como o da
eficiência, da eficácia (CHAUÍ, 1981). Com base nesse conceito, mede-se o sujeito por aquilo que
produzirá, quer no âmbito material (os negócios realizados, os bens adquiridos), quer no âmbito
espiritual (a agudeza com que emite opiniões, a harmonia emocional que consegue estabelecer, a
capacidade com que consegue convencer auditórios inteiros). Entretanto, o mito da eficiência
costuma desconsiderar as naturezas e finalidades dos bens produzidos. Não se pergunta para
quem, para onde os bens se voltam? Percebe-se apenas que alguém ganhou e outro perdeu,
afirmando-se individualidades.
O problema não está, obviamente, no fato da eficácia e da competência, mas na sua natureza e no
uso alienado que dela se faz.
O veículo por onde se transmite a mistificação da competência é a palavra, é o discurso
burocrático-institucional com seu aparente ar de neutralidade e sua validação assegurada pela
“cientificidade”, ou melhor, pela “autoridade”, posto que, quem afirma é o doutor, o padre, o
professor, o economista, o cientista.
O Discurso Autoritário é persuasivamente desejoso de aplainar as diferenças, fazendo com que as
verdades de uma instituição expressem a verdade de todos. Segundo Chauí (1981),
“O discurso competente confunde-se, pois com a linguagem institucionalmente
permitida ou autorizada, isto é, com um discurso no qual os interlocutores já
foram previamente reconhecidos como tendo o direito de falar e ouvir...”
3º- Discurso Persuasivo e seu desdobramento
Os discursos persuasivos podem formar, reformar ou conformar pontos de vista ou perspectivas
colocadas em movimento por emissores/enunciadores. Observe-se que tais planos não se
apresentam, necessariamente, separados; trata-se da seguinte divisão didática:
• Formar – sob determinada circunstância é preciso formar novos comportamentos, hábitos,
pontos de vista, atitudes
Ex. Caixa automático, cartão de crédito.
• Reformar - muitas vezes os hábitos, pontos de vista e comportamentos já existentes, formados,
precisam apenas ser redirecionados.
Ex. Novos aparelhos de barbear: “Uma faz vapt e a outra faz vupt”. Absorventes com
abas e/ou internos.
• Conformar – o discurso persuasivo pode não estar prioritariamente, ocupado em formar ou
reformar comportamento, atitudes e pontos de vista, tratando-se apenas de reiterar, algo já
existente, mantendo fiel a produtos, serviços, marcas idéias e conceitos.
Ex. Candidatos à reeleição, quando se dirigem aos seus eleitores, não buscam formar,
reformar opinião, conformá-los, isto é, relembrar que é candidato.

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