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Compromisso Social
adoção homoparental
contra o preconceito
Em junho de 2008, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lançou a cartilha "Adoção: um Direito de Todos e de Todas", na
qual psicólogos de diversas linhas teóricas se manifestam sobre a adoção por pessoas homossexuais e/ou casais
homoafetivos. O psicólogo judiciário Maurício Ribeiro de Almeida, autor de um dos capítulos da cartilha, tem acompanhado o
tema de perto. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o tema e destaca a importância da transparência na adoção
homoparental para que os pais possam ser adequadamente avaliados e orientados num processo de adoção.
PSI - Psicólogos e assistentes sociais têm participação importante nos processos de adoção. Há resoluções sobre
o tema que sirvam de referência para esses profissionais?
Maurício de Almeida - Sim, psicólogos e assistentes sociais dispõem de resoluções especificas sobre a orientação sexual,
que norteiam a construção de práticas profissionais mais articuladas com os princípios dos Direitos Humanos. O Conselho
Federal de Psicologia comemora neste ano os dez anos da Resolução 01/99, que estabelece normas de atuação para os
psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual. O Serviço Social publicou resolução semelhante, a CFESS N°
489/2006 de 03 de junho de 2006. Nela estabelece normas vedando condutas discriminatórias ou preconceituosas, por
orientação e expressão sexual por pessoas do mesmo sexo, no exercício profissional do assistente social. Entendo que os
profissionais de ambas as categorias não podem mais ignorar essas resoluções. Foram aprovadas, pois estão respaldadas em
pressupostos teóricos e científicos inerentes a especificidade de cada área de atuação.
http://crpsp.org.br/portal/comunicacao/jornal_crp/160/frames/fr_opiniao.aspx 1/2
19/08/2018 PSI - Jornal - Edição 160 - Opinião
PSI - Se a pessoa ou o casal não declara sua orientação sexual, ela não interfere de alguma forma sobre o
processo de adoção?
Maurício de Almeida - Sim. A invisibilidade do preconceito é tão nefasta quanto a sua expressão concreta. Recentemente li
uma reportagem em um jornal de grande circulação, no qual constava o depoimento de um pai adotivo, que disse apresentar
orientação homossexual. Esse fato, contudo, não foi abordado em nenhum momento do processo judicial. Ora, seja homo ou
hetero, a vida familiar, afetiva e os vínculos do sujeito com a rede social mais ampla invariavelmente são discutidos e
problematizados pelos profissionais que se encarregam dessas avaliações. Essa mudança de posicionamento pode também
contribuir para o exercício profissional dos operadores do Direito, psicólogos e assistentes sociais, que terão condições de
rever os próprios valores, tratar os candidatos de forma mais transparente e respeitosa. Uma questão simples, mas não
menos importante, é o que pensam as crianças e adolescentes acerca da possibilidade de terem, por via da adoção, pais e
mães homossexuais? Ainda não sabemos.
PSI - Argumenta-se contra a adoção homoparental, alegando o interesse da criança. Como você vê essa
questão?
Maurício de Almeida - O preconceito é uma construção social e a própria cultura pode combatê-lo. O que devemos
efetivamente verificar é quem realmente estamos procurando preservar: se a nós mesmos ou a criança. É curioso notar que
o mesmo argumento é utilizado em relação à adoção interracial. Com a falsa ideia de que se quer proteger a criança de
eventuais preconceitos raciais, muitos candidatos brancos afirmam que não escolheriam uma criança negra para não gerar a
ela maiores sofrimentos.
PSI - Que perspectivas você vê com relação a adoção homoparental no Brasil no futuro
próximo?
Maurício de Almeida - Mantenho uma visão otimista em relação à adoção por homossexuais. É claro
que nesse momento há uma visibilidade mais central sobre a adoção por parte de lésbicas e
homossexuais. Talvez no futuro, não muito distante, possamos prescindir da questão do gênero e da
orientação sexual para contemplarmos diferentes estilos parentais. Espero que as nossas preocupações
estejam concentradas nas condições de candidatos e candidatas para formare
Maurício de Almeida,
psicólogo judiciário
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