Professional Documents
Culture Documents
Universidade Federal do Paraná
Setor de Ciências Humanas
Programa de Pós‐Graduação em Antropologia
HA708 – Antropologia do corpo
Período: 1º semestre 2013
Profa. Laura Pérez Gil
Apresentação: Apesar de a temática da corporalidade ter estado presente desde o início da
história da antropologia, considerando especialmente os trabalhos seminais de Mauss e Hertz,
não é senão nas últimas três décadas aproximadamente que ela adquire mais relevância. Essa
relevância se dá tanto pelo lugar que ocupa o conceito de corpo no marco geral da teoria
antropológica, quanto na quantidade de pesquisas e reflexões a ela dedicados. A ideia de que
o corpo não é unicamente uma entidade fisiológica, mas é social e culturalmente construído, é
um princípio que a antropologia aprendeu com Mauss. Mas antropologia do corpo não se
limita a desvendar a diversidade de formas e significados que o corpo adquire em diferentes
contextos culturais. Para determinados paradigmas, como a fenomenologia, a teoria da prática
de Bourdieu ou o perspectivismo de Eduardo Viveiros de Castro, o corpo adquire uma
centralidade de outra dimensão, seja metodológica, seja na economia da proposta teórica
geral. Nesses casos, o corpo não é mais um tema a ser pesquisado, mas o eixo a partir do qual
gira a abordagem teórica em seu conjunto. Nesse sentido, o corpo assume diferentes feições
teóricas nas obras de diferentes autores: O corpo como lócus da perspectiva, da identidade, da
experiência do mundo; como metáfora do social, como núcleo de convergência de relações e
substâncias numa rede social, como fator crucial para o exercício do poder. Não devemos
esquecer, ainda, que um dos fatores que têm contribuído para o destaque da temática da
corporalidade nos últimos anos é o desenvolvimento das discussões de gênero, e seus
desdobramentos, como dos debates sobre tecnologias reprodutivas ou a renovação do campo
de parentesco.
A disciplina se propõe a abordar os principais paradigmas teóricos nos quais o corpo assume
centralidade no conjunto da proposta, assim como diferentes interpretações dadas à
corporalidade. São propostos para leitura textos referidos a contextos etnográficos diversos,
com o intuito de promover um exercício comparativo que promova a desnaturalização do
próprio conceito de corpo.
Avaliação: Três ensaios de entre 4 e 5 páginas abordando cada um deles um dos temas que
orientam cada seminário. Nos ensaios poderá ser incorporada bibliografia que não consta no
programa, assim como reflexões relativas à pesquisa do aluno. Recomenda‐se que a entrega
dos ensaios aconteça ao longo da disciplina, e não apenas no final da mesma. O prazo final
para a entrega de todos os ensaios é dois meses após o término da disciplina. A leitura dos
textos do programa é obrigatória e a participação do aluno durante as aulas influirá na
avaliação final.
Sessão 1 – Apresentação da disciplina
Sessão 2 – O corpo, metáfora do social
Hertz, Robert. A preeminência da mão direita: um estudo sobre a polaridade religiosa. Religião
e Sociedade, 6, p.99‐128, 1980.
Douglas, Mary. 1991 [1966]. “Cap. VII. Fronteiras externas” em Pureza e perigo. Lisboa: Ed. 70.
Douglas, Mary. 1988 [1970]. “Los dos cuerpos” em Símbolos naturales. Madrid: Alianza. Pp. 89‐
107.
Rodrigues, José Carlos. Tabu do corpo. Cap. III. RJ: Achiame. Pp: 127‐167
Sessão 3 – Habitus
Mauss, Marcel, 1974 [1936]. “As técnicas corporais” em Sociologia e Antropologia. São Paulo:
EPU/EDUSP. Vol. 2: 209‐233
Wacquant, Loïc. 2006. Corpo e alma. Notas etnográficas de um aprendiz de boxe. RJ: Relume
Dumará. Pp. 120‐178
Connerton, Paul. 1989. “Bodily practices” em How societies remember. Cambridge university
press. Pp: 72‐104
Sessão 4 – Corpo e poder
Foucault, Michel. 1987 [1975]. “Os corpos dóceis” em Vigiar e punir. História da violência nas
prisões. Petrópolis: Vozes. Pp. 117‐142
Turner, Terence. 1994. “Bodies and anti‐bodies: flesh and fetish in contemporary social
theory” em Thomas Csordas (ed.) Embodiment and experience. The existencial ground of
culture and self. Cambridge: Cambridge University Press.
Foucault, Michel. 1999 [1988]. “Direito de morte e poder sobre a vida” em História da
sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal.
Sessão 5 – Corpos para além da pele
Leenhardt, Maurice. 1947 [1997]. “El viviente y el muerto” e “Estructura de la persona en el
mundo melanesio”, em Do Kamo: La persona y el mito en el mundo melanesio. Barcelona:
Paidós. Pp. 45‐60, 153‐166.
Bird –David, Nurit. 2004. “Illness‐images and joined beings. A critical/Nayaka perspective on
intercorporeality”. Social Anthropology , 12 (3): 325–339
Carsten, Janet. 1995. “The Substance of Kinship and the Heat of the Hearth: Feeding,
Personhood, and Relatedness among Malays in Pulau Langkawi”. American Ethnologist, 22 (2).
Sessão 6 – Indivíduos
Salem, Tânia. 1997. “As novas tecnologias reprodutivas: o estatuto do embrião e a noção de
pessoa”, Mana 3(1): 75‐94
Strathern, Marilyn. “Pre‐figured features” em Property, Substance and Effect. Anthropological
Essays on Persons and Things. London: The Athlone Press. Pp: 29‐44
Martin, Emily. 1992. “The End of the Body?” American Ethnologist, 19 (1)
Sessão 7 ‐ Corpo/mente/espírito
Desjarlais, Robert. 1994. “Body, Speech, Mind” In Body and emotion. The aesthetics of illness
and healing in the Nepal Himalayas. Delhi: Motilal Banarsidass Publishers.
Taylor, Anne Christine. 1996. “The Soul's Body and Its States: An Amazonian Perspective on the
Nature of Being Human”, Man 2(2)
Rodrigues, José Carlos. 1999. “Espírito e matéria” em O corpo na história. RJ: Fiocruz. Pp: 55‐63
Sessão 8 – Perspectivas
Viveiros de Castro, Eduardo. 1996. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”
em Mana 2(2): 115‐144.
Maluf, Sônia. 2002. "Corporalidade e desejo: Tudo sobre minha mãe e o gênero na margem".
Estudos Feministas, 10:143‐153.
Harris, Oliver J. T. & Robb, John. 2012. “Multiple Ontologies and the Problem of the Body in
History”. American Anthropologist, 114(4): 668–679,
Sessão 9 – Embodiment
Jackson, Michael. 1983. "Knowledge of the Body". Man, 18(2):327‐345.
Csordas, Thomas. 2008. “A corporeidade como um Paradigma para a Antropologia” em
Corpo/Significado/Cura. Porto Alegre: Editora da UFRGS
Ingold, Tim & Kurttila, Terhi. 2000. “Perceiving the Environment in Finnish Lapland”. Body &
Society , 6: 183
Sessão 10 – Éticas e estéticas
Taussig, Michael. 2012. “The designer body”, “Beauty and mutilation” e “The designer name”
em Beauty and the Beast. Chicago & London: Chicago Univ. Press. PP: 47‐58, 66‐70, 116‐126
Turner, Terence. 1995. "Social body and embodied subject: bodiliness, subjectivity, and
sociality among the Kayapo". Cultural Anthropology, 10(2):143‐170.
Edmonds, Alexander. 2007. “No universo da beleza: Notas de campo sobre cirurgia plástica no
Rio de Janeiro” em Mirian Goldenberg (org.) Nu & vestido: dez antropólogos revelam a cultura
do corpo carioca. RJ: Record. Pp. 189 ‐ 261
Sessão 11 – Comodificação do corpo
Lau, Kimberly. 2000. “Yoga and T’ai Chi” em New Age Capitalism: making money east of Eden.
Philadelphia: University of Pennsylvania Press.
Canevacci, Massimo. 2008. “Skinscape” em Fetichismos visuais. Corpos Erópticos e Metrópole
Comunicacional. São Paulo: Ateliê
Sharp, Lesley A. 2000. “The Commodification of the Body and its Parts”. Annual Review of
Anthropology, 29:287–328
Sessão 12 – Corpo e ciência
Latour, Bruno. 2004. "How to Talk About the Body? the Normative Dimension of Science
Studies". Body & Society, 10:205‐229.
Le Breton, David. 2004. “Genetic Fundamentalism or the Cult of the Gene”. Body & Society
10(4): 1–20
Lock, Margaret. 2001. “The Alienation of Body Tissue and the Biopolitics of Immortalized Cell
Lines”. Body & Society 7(2‐3)
Sessão 13 –Sexo, tecnologia e a política da diferença
Preciado, Beatriz. 2011 [2000] “‘Money makes sex’ o la industrialización de los sexos” e
“Tecnologías del sexo” em Manifiesto contrasexual. Barcelona: Anagrama. Pp 112‐157
Haraway, Donna. 1995 [1991] “La biopolítica de los cuerpos posmodernos: constituciones del
yo en el discurso del sistema inmunitario” em Ciencia, cyborgs y mujeres. La reinvención de la
naturaleza. Madrid: Cátedra. Pp. 347‐395
Laqueur, Thomar. 1986. “Orgasm, Generation, and the Politics of Reproductive Biology”.
Representations, 14.
Sessão 14 – Exercício comparativo: sobre a dor
Le Breton, David. 1995. “Os usos sociais da dor” em Comprender a dor. Ed. Estrela Polar.
Jackson, Jean. 1994. “Chronic Pain and the tension between the body as subject and object”
em Thomas Csordas (ed.) Embodiment and experience. The existencial ground of culture and
self. Cambridge University Press
Malacrida, Claudia & Boulton, Tiffany. 2012. “Women's Perceptions of Childbirth ''Choices'' :
Competing Discourses of Motherhood, Sexuality, and Selflessness”. Gender & Society, 26(5)
Sessão 15 – O corpo na hipermodernidade
Le Breton, David. 2008 [1999]. “O corpo supranumerário do espaço cibernético” e “O corpo
como excesso” em Adeus ao corpo. Antropologia e sociedade. Petrópolis: Papirus.
Haroche, Claudine. 2008. “Maneiras de ser e sentir do indivíduo hipermoderno” e
“Descontinuidade e inapreensibilidade da personalidade contemporânea” em A condição
sensível. Rio de Janeiro: Contra Capa
Muri, Allison. 2003. “Of Shit and the Soul: Tropes of Cybernetic Disembodiment in
Contemporary Culture”. Body & Society , 9(3): 73‐92