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Curso de

Transtorno de Burnout

MÓDULO II

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mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados a seus respectivos autores descritos
na Bibliografia Consultada.
Módulo II

Música de Trabalho
Legião Urbana

Sem trabalho eu não sou nada


Não tenho dignidade
Não sinto o meu valor
Não tenho identidade
Mas o que eu tenho
É só um emprego
E um salário miserável
Eu tenho o meu ofício
Que me cansa de verdade
Tem gente que não tem nada
E outros que tem mais do que precisam
Tem gente que não quer saber de trabalhar
Mas quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
De todo o meu cansaço
Nossa vida não é boa
E nem podemos reclamar
Sei que existe injustiça
Eu sei o que acontece
Tenho medo da polícia
Eu sei o que acontece
Se você não segue as ordens
Se você não obedece
E não suporta o sofrimento
Está destinado a miséria

Mas isso eu não aceito


Eu sei o que acontece
Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece
E quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
Do pouco que não temos
Quem sabe esquecer um pouco
De tudo que não sabemos

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1. O que é burnout?

Termo de origem inglesa, burnout designa "algo que deixou de funcionar por
exaustão de energia". Esse termo foi utilizado pela primeira vez publicamente por
Maslach, no Congresso Anual da Associação Americana de Psicologia, em 1997, mas já
havia sido descrita pelo psiquiatra Hebert J. Freudenberg, em 1974. Este descreveu a
síndrome de burnout com um estado relacionado com experiências de esgotamento,
decepção e perda do interesse pelo trabalho, surgindo em profissionais que trabalham
diretamente com pessoas na prestação de serviços e resultaria do deste contato diário no
trabalho. Este estado de esgotamento vivido pelo indivíduo com síndrome de burnout
resultaria da persistência de expectativas inalcançáveis. Assim, para Freudenberg a
etiologia da síndrome seriam causas individuais.

Gil-Monte e Peiró (1997) oferecem duas perspectivas de conceituação, a clínica e


a psicossocial. A primeira reafirma a compreensão de Freudenberg (1994), enquanto que
a segunda perspectiva entende a síndrome de burnout como um processo que se
desenvolve na interação de características do ambiente de trabalho e características
pessoais. Nesta perspectiva, toma-se como referência o conceito adotado por Maslach e
Jackson (Maslach, 1994), segundo o qual é um problema que atinge profissionais de
serviço, principalmente aqueles voltados para atividades de cuidado com outros, no qual a
oferta do cuidado ou serviço freqüentemente ocorre em situações de mudanças
emocionais. Ajudar outras pessoas sempre foi reconhecido como objetivo nobre, mas
apenas recentemente tem sido dada atenção para os custos emocionais da realização do
objetivo. O exercício destas profissões implica uma relação com o cliente permeada de
ambigüidades, como conviver com a tênue distinção entre envolver-se profissional e não
pessoalmente na ajuda ao outro.

Pode-se dizer que o termo descreve uma síndrome com características


associadas aos fatores de exaustão e esgotamento, que representam uma resposta aos
estressores laborais crônicos. Essa mesma síndrome, conforme Maslach & Jackson
(1997, citados por Silveira, 2005), manifesta-se a partir de sintomas específicos e pode

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ser concebida com um construto que abrange três fatores, são eles, a exaustão
emocional, a despersonalização e sentimentos de reduzida realização profissional.

Para Pines & Aronson (citados por Silveira, 2005), a síndrome pode ser
definida como um estado de exaustão emocional, física e mental causado por
um envolvimento de longa duração em situações emocionalmente exigentes.
Isso quer dizer que, esse estado emocional exaustivo é causado por uma exigência
excessiva de caráter psicológico e emocional.

A exaustão emocional refere-se a sentimentos de fadiga e redução dos recursos


emocionais necessários para lidar com a situação estressante. A diminuição da realização
pessoal diz respeito à percepção de deterioração da auto-competência e falta de
satisfação com as realizações e os sucessos de si próprio no trabalho. Já a
despersonalização refere-se a atitudes negativas, ceticismo, insensibilidade e
despreocupação com respeito a outras pessoas. Estes serão melhor tratados adiante.

Cabe salientar, no entanto, que, tal como afirmam Silveira (2005), o burnout é
distinto das reações clássicas de estresse porque está mais relacionado a uma fadiga
psicológica.

Ou seja, é diferente do
estresse porque, enquanto o burnout
envolve atitudes e condutas
negativas com relação aos usuários,
clientes, à organização e ao trabalho,
o estresse aparece mais como uma
relação particular entre uma pessoa e
o seu ambiente.

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Kohan & Mazmanian (2003 citados por Silveira, 2005) postulam a noção de que o
burnout é um estado de extremo esgotamento de recursos, resultante de uma
exposição crônica ao estresse laboral. Sua ocorrência se vincula a processos de
diminuição das funções individuais, mal-estar físico, depressão, ansiedade, dificuldade
nas relações interpessoais, aumento no uso de drogas, déficit no desempenho do
trabalho, aumento do absenteísmo (falta ao trabalho), da rotatividade do quadro de
funcionários, bem como intenção de desistir ou diminuição do comprometimento
organizacional.
Estudos mostram ainda que os primeiros anos da carreira profissional seriam os
mais vulneráveis ao desenvolvimento da doença e que há preponderância do transtorno
em mulheres. Segundo Kohan & Mazmanian (2003), as pesquisas têm demonstrado que
as percepções globais do local de trabalho são importantes preditores do burnout.
Embora as pesquisas estejam estendendo o conceito de burnout na direção de outras
ocupações, elas têm demonstrado que sua presença é mais significante em empregados
que trabalham em profissões de ajuda, bem como naquelas que envolvem um alto nível
de contato interpessoal, comprometendo o próprio empregado.

Fonte: www.gettyimages.com

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Ainda conforme Silveira (2005), o nível de auto-estima deveria somar-se aos
fatores relacionados à avaliação do burnout. Isso se explica pelo fato de que o indivíduo
com baixa auto-estima tende a ser menos efetivo nos relacionamentos interpessoais.

Certamente, tanto o estresse como o burnout são síndromes geradas pelo meio
e pelas condições de trabalho, mas o interesse que perseguimos é a análise no ambiente
de trabalho. Igualmente ao assédio moral e ao estresse, vejamos algumas formas de
enfocar o conceito de burnout. Como definição tem que o burnout é um estado de
esgotamento físico, emocional e mental causado ao envolver-se a pessoa em situações
emocionalmente demandante durante um tempo prolongado, necessário haver uma
condição estressante para que apareça o burnout ou síndrome de estar esgotado.

O burnout é o tipo característico de estresse que se dá naquelas


profissões de quem realiza seu trabalho em contato com outras
pessoas, que por suas características são sujeitos de ajuda
como os professores, assistentes sociais, profissionais de saúde
entre outros.

É um transtorno adaptativo crônico com ansiedade como resultado da interação do


trabalho ou situação de trabalho. É o resultado a que chegam as pessoas submetidas a
más condições em seu ambiente de trabalho, uma vez que mantêm um estresse
prolongado e isto não lhes permite adaptar-se ao ambiente. Produz-se principalmente em
ambientes de trabalho isentos de satisfação intrínseca à realização da tarefa. Surge
quando o profissional vê frustradas suas expectativas de modificar a situação de trabalho.

É compreendido como processo dinâmico, que se estabelece gradualmente, sendo


por conseqüência possível identificar a apresentação da síndrome em níveis distintos. Gil-
Monte e Peiró (1997) descrevem uma série de pesquisas desenvolvidas explorando a
evolução da síndrome no qual o processo se inicia com o desenvolvimento dos
sentimentos de baixa realização pessoal e esgotamento emocional em paralelo.

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Posteriormente, em resposta a ambos, como uma estratégia de afrontamento ou
defensiva, instala-se a despersonalização.

Constitui-se em uma fase final ou um tipo específico de reação ao estresse


ocupacional prolongado, que envolve atitudes e comportamentos negativos com respeito
aos clientes, ao trabalho e à organização. Associa-se à busca de significado existencial
para o trabalho (pessoas altamente motivadas para o trabalho).

Fonte: www.gettyimages.com

Este conceito se aplicou inicialmente ao profissional da saúde que possui uma


das profissões mais esgotantes. É quando a falta de recompensas provoca que o
trabalhador não se realize e se desmotive. No caso dos enfermeiros é muito importante
detectá-lo, porque o enfermeiro esgotado gera uma despersonalização e uma falta de
interesse muito perigosos em seu trabalho.

O burnout é o mesmo que um transtorno adaptativo, isto é, um estado


psicológico por inadequação da pessoa a uma situação ocupacional. É o resultado
das condições trabalhistas e pressões exercidas nas relações interpessoais ou pelas
estruturas das organizações empresariais, em que configuram situações muito similares à
coação, à violência, ao afetar substancialmente a liberdade e intenção do dependente, lhe
faz empreender atos que possam resultar danos, e inclusive para si mesmo (por exemplo,
o profissional de serviço de transportes de passageiros, etc.).

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O trabalho, como ação humana social, compreende a capacidade de o homem
produzir o meio em que vive, bem como a si mesmo. No processo de interação com a
natureza, mediado pelos instrumentos fabricados, o homem, ao mesmo tempo em que
modifica a natureza, também é modificado por ela. Dentre as inúmeras modificações,
encontram-se aquelas que têm conseqüências no aparelho psíquico.

O trabalho é uma atividade que pode ocupar grande parcela do tempo de cada
indivíduo e do seu convívio em sociedade. Com base nisso, Dejours (1992, citado por
Trigo, 2007) afirma que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode,
ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão. Estudos mostram que o
desequilíbrio na saúde do profissional pode levá-lo a se ausentar do trabalho
(absenteísmo), gerando licenças por auxílio-doença e a necessidade, por parte da
organização, de reposição de funcionários, transferências, novas contratações, novo
treinamento, entre outras despesas. A qualidade dos serviços prestados e o nível de
produção fatalmente são afetados, assim como a lucratividade, conforme Moreno-
Jimenez (2000, citado por Trigo, 2007)).

Fonte: www.gettyimages.com

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Freudenberger (1974, citado por Trigo, 2007) criou a expressão staff burnout para
descrever uma síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em
trabalhadores da saúde mental. Desde essa época, tal síndrome tem sido tema de um
grande número de artigos, de livros; de discussões em congressos, como o debate sobre
o “Burnout entre os psiquiatras” realizado no Encontro Anual da Associação Americana de
Psiquiatria. Observou que muitos voluntários com os quais trabalhava, apresentavam um
processo gradual de desgaste no humor e/ou desmotivação. Geralmente, esse processo
durava aproximadamente um ano, e era acompanhado de sintomas físicos e psíquicos
que denotavam um particular estado de estar "exausto".

Posteriormente, a psicóloga social Christuna Maslach (1981, 1984, 1986, citada


por Trigo, 2007) estudou a forma como as pessoas enfrentavam a estimulação emocional
em seu trabalho, chegando a conclusões similares às de Freuderberger. Ela estava
interessada nas estratégias cognitivas denominadas despersonalização. Estas estratégias
se referem a como os profissionais da saúde (enfermeiras e médicos) misturam a
compaixão com o distanciamento emocional, evitando o envolvimento com a enfermidade
ou patologia que o paciente apresenta e utilizando a "desumanização em defesa própria",
isto é, o processo de proteger-se a si mesmo frente a situações estressoras, respondendo
aos pacientes de forma despersonalizada.

Com isso, o burnout foi reconhecido como um risco ocupacional para profissões
que envolvem cuidados com saúde, educação e serviços humanos, Golembiewski, 1999;
Maslach, 1998; Murofuse et al., (2005, citados por Trigo, 2007). No Brasil, o Decreto no
3.048, de 6 de maio de 1999, aprovou o Regulamento da Previdência Social e, em seu
Anexo II, que trata dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais. O
item XII da tabela de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o
Trabalho (Grupo V da Classificação Internacional das Doenças – CID-10) cita a
“Sensação de Estar Acabado” (“Síndrome de Burnout”, “Síndrome do Esgotamento
Profissional”).

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Os profissionais mais atingidos são os que trabalham mais diretamente com
pessoas, como médicos, enfermeiros, professores, psicólogos, assistentes sociais,
policiais, bombeiros.

Estresse: Efeitos bené


benéficos na relaç
relação
médico-
dico-paciente

2. Diagnóstico da Síndrome de Burnout


De acordo com Cherniss (1980), a Síndrome de Burnout é um processo que
começa com um excessivo e prolongado nível de tensão ou "estresse" que produz a
fadiga no trabalho, sentimento de estar exausto, irritabilidade. Similarmente a Síndrome
de Burnout tem sido caracterizada como uma progressiva perda do idealismo e da
energia e o propósito de ajudar aos usuários dos serviços.

Freudenberger (1974) descreve os seguintes sintomas: impaciência e grande


irritabilidade, sensação de onipotência, paranóia, cansaço emocional e desorientação.

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Gutiérrez (2000) distingue cinco elementos comuns nas pessoas que sofrem a
Síndrome de Burnout:
a) um predomínio de sintomas como cansaço mental ou emocional, fadiga e
depressão;
b) a evidência pode ser vista em um sintoma mental ou de conduta mais do que
em sintomas físicos;
c) os sintomas estão relacionados com o trabalho;
d) os sintomas se manifestam em pessoas "normais" que não sofriam
anteriormente de nenhuma alteração psicopatológica;
e) se pode observar uma redução da efetividade e do rendimento no trabalho.

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2.1. Quadro Clínico

1. Esgotamento emocional: com diminuição e perda de recursos emocionais


2. Despersonalização ou desumanização: que consiste no desenvolvimento de
atitudes negativas, de insensibilidade ou de cinismo para com outras pessoas.
3. Sintomas físicos de estresse: cansaço e mal estar geral.
4. Manifestações emocionais: falta de realização pessoal, tendências a avaliar o
próprio trabalho de forma negativa, vivências de insuficiência profissional, sentimentos de
vazio, esgotamento, fracasso, impotência, baixa auto-estima.
5. Freqüente irritabilidade, inquietude, dificuldade para a concentração, baixa
tolerância à frustração, comportamento paranóides e/ou agressivos para com os clientes,
companheiros e para com a própria família.
6. Manifestações físicas: pode resultar em Transtornos Psicossomáticos. Estes,
normalmente se referem à fadiga crônica, freqüentes dores de cabeça, problemas com o
sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial, taquiarritmias, e outras desordens
gastrointestinais, perda de peso, dores musculares e de coluna, alergias, etc.
7. Manifestações comportamentais: probabilidade de condutas aditivas e
evitativas, consumo aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, absenteísmo,
baixo rendimento pessoal, distanciamento afetivo dos clientes e companheiros como
forma de proteção do ego, aborrecimento constante, atitude cínica, impaciência e
irritabilidade, sentimento de onipotência, desorientação, incapacidade de concentração,
sentimentos depressivos, freqüentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho e
dentro da própria família.

Considera-se a Síndrome Burnout como provável responsável pela desmotivação


que sofrem os profissionais da saúde atualmente. Isso sugere a possibilidade de que esta
síndrome esteja implicada nas elevadas taxas de absenteísmo ocupacional que
apresentam esses profissionais.

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2.2. Sintomas Psicossomáticos
• palpitações,
• cefaléias freqüentes;
• cansaço crônico;
• crises de asma;
• desordens gatrointestinais ou úlceras;
• dores cervicais;
• insônias;
• hipertensão;
• alergias;
• diarréias;
• alterações menstruais.

2.3. Desordens Comportamentais


• absenteísmo;
• aumento de agressividade;
• isolamento;
• abuso de álcool e/ou drogas;
• mudanças bruscas no humor;
• incapacidade de relaxar;
• irritabilidade;
• lapsos de memória;
• comportamento de alto risco (suicídio, jogos perigosos).

2.4. Distúrbios Emocionais


• sentimento de alienação;
• impaciência;
• ímpetos de abandonar o trabalho;
• ansiedade;
• sentimento de solidão;

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• dificuldade de concentração;
• distanciamento afetivo;
• decréscimo do rendimento no trabalho;
• sentimento de impotência;
• depressão.

2.5. Sintomas Defensivos


• onipotência;
• negação das emoções;
• cinismo;
• ironia;
• apatia;
• atenção seletiva;
• hostilidade;
• deslocamento de sentimento.

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3.0. Desenvolvimento do Burnout

O burnout não aparece repentinamente como resposta a um estressor


determinado, mas emerge em uma seqüência determinada de tempo. Assim Farber
(1986) propôs um modelo hierárquico composto por diversos estados sucessivos no qual,
cada um deles desencadeia o seguinte: entusiasmo e dedicação, frustração e ira, e
inconseqüência (percepção de falta de correspondência no trabalho, abandono de
compromisso e implicação no trabalho, vulnerabilidade pessoal, esgotamento e descuido,
o estágio final se não receberem um tratamento adequado).

Maslach (2001) conclui que não existe acordo sobre a evolução da síndrome e,
que, existem oito possíveis combinações para a Síndrome de Burnout, sendo a primeira

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fase a despersonalização, logo a reduzida realização pessoal e finalmente o esgotamento
emocional. Uma segunda alternativa é que as dimensões se desenvolvam
simultaneamente, mas de forma independente.

Segundo Maslach (2001), a Síndrome de Burnout estaria composta por três


dimensões:

1- O cansaço emocional ou esgotamento emocional: refere-se às sensações


de esforço e exaustão emocional que se produz como conseqüência das continuas
interações que os trabalhadores devem manter com os clientes e entre estes com os
trabalhadores.

2- A despersonalização: supõe o desenvolvimento de atitudes cínicas frente às


pessoas a quem os trabalhadores prestam serviços, o excessivo distanciamento frente a
pessoas, silêncio, uso de atitudes despectivas e tentativas de culpar aos usuários pela
rópria frustração diante do trabalho.

3- Reduzida realização pessoal: pode levar à perda de confiança na realização


pessoal e à presença de um auto-conceito negativo.

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Maslach (2001) assinala que o esgotamento emocional representa a
dimensão de tensão básica da Síndrome de Burnout; a despersonalização expressa o
contexto interpessoal onde se desenvolve o trabalho do sujeito, e a diminuição das
conquistas pessoais, representa a auto-avaliação que o indivíduo realiza de seu
desempenho ocupacional e pessoal.

4.0. Perspectivas de estudos da Síndrome de Burnout:


Manassero et al. (1995) propõem que existem três perspectivas diferentes a partir
das quais a Síndrome de Burnout tem sido estudada:

1) Perspectiva psicossocial: adotada por Maslach e Pines, que pretende explicar as


condições ambientais nas quais se origina a Síndrome de Burnout, os fatores que ajudam
a atenuá-la (especialmente o apoio social) e os sintomas específicos que o
caracterizariam, fundamentalmente de tipo emocional, nas distintas profissões. Além
disso, neste enfoque se desenvolveu o instrumento de medidas mais amplamente
utilizado para avaliar a síndrome, o Maslach Burnout Inventory (MBI). Cabe ressaltar que
em relação ao instrumento, sua validade de construto demonstra que o mesmo mede as
três dimensões assinaladas na literatura: esgotamento emocional, despersonalização
e reduzido ganho pessoal.

2) Perspectiva organizacional: que as causas da Síndrome de Burnout se originam em


três níveis distintos, o individual, o organizacional e o social (Cherniss, 1980). O
desenvolvimento da Síndrome de Burnout gera nos profissionais, respostas ao trabalho,
como a perda do sentido do trabalho, idealismo e otimismo, ou a ausência de simpatia e
tolerância frente aos clientes e a incapacidade para apreciar o trabalho como
desenvolvimento pessoal.

3) Perspectiva histórica: sobre as conseqüências das rápidas mudanças sociais nos


Estados Unidos depois da Segunda Guerra Mundial no trabalho e das condições de
trabalho.

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5.0. Prevenção e tratamento do burnout
Segundo Gil-Monte (2003), as estratégias de prevenção e tratamento do burnout
podem ser agrupadas em três categorias: individuais, grupais e organizacionais.

A) Estratégias individuais: referem-se à formação em resolução de problemas,


assertividade, e gestão do tempo de maneira eficaz.

B) Estratégias grupais: consistem em buscar o apoio dos colegas e


supervisores. Deste modo, os indivíduos melhoram as suas capacidades, obtêm novas
informações e apoio emocional ou outro tipo de ajuda.

C) Estratégias organizacionais: muito importantes porque o problema está no


contexto laboral, consistem no desenvolvimento de medidas de prevenção para melhorar
o clima organizacional, tais como programas de socialização para prevenir o choque com
a realidade e implantação de sistemas de avaliação que concedam aos profissionais um
papel ativo e de participação nas decisões laborais.

Portanto, é preciso que a prevenção e o tratamento do burnout sejam abordados


como problemas coletivos e organizacionais e não como um problema individual. A
organização pode também adotar algumas medidas para a prevenção do burnout, como,
evitar o excesso de horas extras, proporcionar condições de trabalho atrativas e
gratificantes, modificar os métodos de prestação de cuidados, reconhecer a necessidade
de educação permanente e investir no aperfeiçoamento profissional (por exemplo,
formação em assertividade), dar suporte social às equipas e fomentar a sua participação
nas decisões, etc.

Para o tratamento da Síndrome de Burnout já instalada podem-se utilizar


recursos físicos, psíquicos e sociais:

1. Físicos:

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- técnicas de relaxamento;
- alimentação adequada;
- exercícios físicos regulares;
- repouso, lazer e diversão;
- sono apropriado às necessidades individuais;
- medicação, se necessária e sob supervisão médica.

2. Psíquicos:
- métodos psicoterapêuticos;
- processos que favorecem o autoconhecimento;
- estruturação do tempo livre com atividades prazerosas e atrativas;
- avaliação periódica da qualidade de vida individual;
- reavaliação do limite individual de tolerância e exigência;
- busca de convivência menos conflituosa com pares e grupos.

3. Sociais:
- revisão e redimensionamento das formas de organizações de trabalho;
- aprimoramento por parte da população em geral do conhecimento de
seus problemas médicos e sociais;
- concomitância dos planejamentos econômico, social e de saúde.

A partir destes recursos, as empresas devem criar programas específicos. O


estresse deve ser entendido como uma relação particular entre uma pessoa, seu
ambiente e as circunstâncias a qual está submetida, que é avaliada pelo organismo, como
uma ameaça ou algo que exige dele, mais que suas próprias habilidades ou recursos,
colocando em perigo o seu “bem-estar”. Quando estas ações são bem fundamentadas, os
resultados são positivos com em novas perspectivas de qualidade de vida para o
trabalhador. É importante frisar que as reações de estresse estão presentes em todos os
momentos de nossa existência e que não podemos viver sem elas, na medida em que
são partes integrantes de todos os movimentos de adaptação, necessárias para a
adequação do viver.

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Acreditamos que, dentro da abordagem psicossomática para promoção de saúde,
inclusive nos processos estressantes, encontram-se propostas consistentes para viabilizar
o gerenciamento efetivo do estresse de cada dia.

6.0. Instrumentos de Avaliação


• Observação (entrevista, sintomatologia...)
• Relato de colegas
• Comportamento no trabalho (absenteísmo, acidentes...)
• Questionários de Auto-Informe ou de Auto-Preenchimento
• Escala Likert

O instrumento mais utilizado para o diagnóstico de burnout é o Maslach Burnout


Inventory (MBI) (1981), conforme Maslach (1997), que é um dos instrumentos de auto-
avaliação mais utilizados em todo o mundo, para medir o desgaste profissional.

Possui três versões aplicáveis a categorias profissionais específicas: MBI-HSS


(Human Services Survey), para as áreas de saúde/cuidadores ou serviços
humanos/sociais; MBI-ES (Educator's Survey), para educadores; e MBI-GS (General
Survey), para profissionais que não estejam necessariamente em contato direto com o
público-alvo do serviço. É auto-aplicável e avalia as três dimensões do burnout (EE, DE e
RP). No Brasil, até o momento, só estão publicadas adaptações para o português das
versões MBI-HSS e MBI-ES.

A versão atual é formada por 22 itens sob a forma de Likert (sob a forma de
afirmações), a cada um destes itens são atribuídos graus de intensidade que vão desde: 1
(nunca), 2 (algumas vezes por ano), 3 (uma vez por mês), 4 (algumas vezes por mês), 5
(uma vez por semana), 6 (algumas vezes por semanas) e 7 (todos os dias). O
preenchimento deste questionário leva em média 10 a 15 minutos. É composto por 3 sub-
escalas: a “exaustão emocional”, a despersonalização” e a “realização pessoal”.
Estas sub-escalas avaliam prováveis manifestações de burnout e embora digam respeito

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a extensões diferentes, estão relacionadas ao burnout, onde a “realização pessoal” está
opostamente correlacionada com o síndroma:

- A “exaustão emocional” é composta por 9 questões (1, 2, 3, 6, 8, 13, 14, 16, e 20),
que traduzem sentimentos de se estar emocionalmente exausto e esgotado com o
trabalho;

- A “despersonalização”, formada por 5 itens (5, 10, 11, 15 e 22) que descrevem
respostas impessoais;

- A “realização pessoal”, que é constituída por 8 questões (4, 7, 9, 12, 17, 18, 19 e 21),
que descrevem sentimentos ao nível da capacidade e sucessos alcançados no trabalho
com pessoas, esta última está inversamente correlacionada com o síndroma.

O burnout é contextualizado como variável contínua, variando entre níveis


classificados de baixo, médio e alto, baseando-se na norma americana.
Consideram-se pontuações baixas as que indicam valores abaixo dos 34 e a fiabilidade
da escala ronda os 0,9. Um nível baixo de burnout reproduz-se em scores baixos nas sub-
escalas de “exaustão emocional” e “despersonalização” e scores elevados na “realização
pessoal”. Um nível médio de burnout é representado por valores médios nos scores das
três sub-escalas.

Por último um nível alto de burnout traduz-se em scores altos para as sub-
escalas de “exaustão emocional” e “despersonalização”, e scores baixos na “realização
pessoal”, ou seja para a cotação das três dimensões do teste estão estipulados os
intervalos rácios que correspondem a atribuições qualitativas.

No caso do “exaustão emocional” é considerado um nível de burnout elevado


quando existem valores acima dos 27 pontos, entre 19-26 é indicador de níveis médios e
abaixo de 19 corresponde a níveis de burnout baixos.

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Quanto à “despersonalização”, as pontuações superiores a 10 são níveis altos,
de 6-9 médios e inferior a 6 indica um nível baixo. Por último a “realização pessoal”
funciona opostamente ás anteriores, isto é, níveis maiores ou iguais a 40 é baixo, entre
34-39, médio e menor ou igual a 33 é um nível alto de burnout.

Por conseguinte, o somatório total das questões que contribuem para a


composição de cada fator leva à obtenção dos seguintes valores mínimos e máximos:

- Exaustão emocional (9-63), Despersonalização (5-35) e Realização Pessoal (8-56).

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Referências

BALLONE GJ - Síndrome de Burnout - in. PsiqWeb, Internet, disponível em


www.psiqweb.med.br, revisto em 2005

BRENNINKMEYER, V.; YPEREN, N. W. Van; BUUNK, B. P. Burnout and depression are


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Personality & Individual Differences, Vol 30(5), Apr 2001. pp.873-880

CHENISS, C. (1980) Staff Burnout: job stress in the human services. Beverly Hills- British
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