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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


CURSO DE SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
ALUNA: ____________________________________________________________________________________

AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E AFRICANA E RELAÇÕES ÉTNICO-


RACIAIS VALOR: 10,0

1) Leia com atenção o texto a seguir para então responder à questão.

01/11/2008 A descoberta da África – Revista de História da Biblioteca Nacional


Nova lei inspira educadores a aprender e ensinar melhor a história do continente, há décadas ausente
das salas de aula. Marina de Mello e Souza

É curioso que raramente a História da África tenha sido abordada quando frequentávamos os bancos
escolares, aqueles nos quais se deu nossa formação básica. As pessoas de gerações mais antigas, nascidas no
início do século XX, podem ter aprendido algo acerca dos grandes reinos africanos como a Núbia e o Mali,
sem falar do Egito, que todos estudamos, mas sem articulá-lo ao resto do continente. Naquele tempo, a elite
que frequentava as escolas tinha uma formação bastante completa. Talvez fossem comentadas nas salas de
aula as descobertas que o arqueólogo e antropólogo alemão Frobenius fez em 1910 das cabeças de terracota
de Ifé. E provavelmente, como ele, os professores se interrogassem, de acordo com os padrões de
pensamento da época, como objetos de formas clássicas, adequadas aos padrões de beleza do Ocidente
greco-romano, poderiam ter sido feitos por povos africanos, considerados primitivos.

Para a geração dos que nasceram depois da Segunda Guerra Mundial, a África quase não apareceu na escola.
Só existia nos filmes de Tarzan que passavam à tarde na televisão, nas imagens de animais majestosos como
os grandes felinos, no negro de tanga de palha e lança em riste vigiando o explorador branco dentro do
caldeirão fervente das tiras de quadrinhos do jornal.

Neste início do século XXI, o quadro começa a mudar. Teve que ser na base da imposição legal,
regulamentada na lei n° 10.639 de 2003, resultante da atuação de alguns políticos e, principalmente, da
pressão exercida por grupos de defesa dos direitos dos negros. Este ano, incorporou também a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura dos povos indígenas, mudando para lei n° 11.645. O texto diz
que “nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o
ensino de História e Cultura Afro-Brasileira”, incluindo “o estudo da História da África e dos Africanos”.

Segundo o Parecer do Conselho Nacional de Educação, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana
e Indígena (http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wp-content/uploads/2012/10/DCN-s-Educacao-das-
Relacoes-Etnico-Raciais.pdf), a realidade da sociedade brasileira aponta para a necessidade de diretrizes que
orientem a formulação de projetos empenhados na valorização da história e cultura dos afro-brasileiros, dos
africanos e dos indígenas, assim como comprometidos com a de educação de relações étnico-raciais
positivas, a que tais conteúdos devem conduzir.

a) Explique em que consistem as chamadas “políticas de ações afirmativas,” empregadas para justificar a
necessidade de se estabelecer Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e indígena. (2,5)
b) A partir da análise da questão acima, da concepção de história entre os africanos (texto em anexo) e da
leitura do texto da autora Marina de Mello e Souza (acima) aponte de que maneira as políticas de ações
afirmativas contribuíram/contribuem para que possamos construir um novo olhar acerca do Continente
africano, dos afrodescendentes/afro-brasileiros e dos povos indígenas. (2,5)

2) Analise as imagens abaixo relacionando-as com o texto acerca da Escravidão Rural e Urbana (em anexo)
em seguida diferencie esses dois tipos de escravidão vivenciadas em território brasileiro. (2,5)

3) A partir das discussões realizadas em sala e de suas leituras analise os trechos a seguir. (2,5)

“A legitimidade de diversas formas de violência e de discriminação, que são práticas generalizadas de


interação para parcelas significativas da população, acaba de fato, por limitar o exercício da plena cidadania,
tornando bastante plausível, porque invisível, a discriminação racial. Tais práticas racistas são, quase
sempre, encobertas para aqueles que as perpetuam por uma conjunção entre senso de diferenciação
hierárquica e informalidade das relações sociais, o que torna permissíveis diferentes tipos de
comportamentos verbais ofensivos e condutas que ameaçam os direitos individuais. Trata-se de um racismo
às vezes sem intenção, às vezes de ‘brincadeira’, mas sempre com consequências sobre os direitos e as
oportunidades de vida dos atingidos.” GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e antirracismo no
Brasil. São Paulo: Editora 34, 2009. p. 70.

“Quem pensa raça esquece o indivíduo.” p. 32

Se a análise de Freyre é problemática, porque qualificava positivamente a sociedade senhorial e via a


miscigenação apenas por seu lado mais positivo e cordial – desconhecendo ou pouco destacando a violência
inerente a esse sistema -, contudo revela temas fundamentais. (...) O mito diz muito, diz de si e de seu
conteúdo e é por isso que seu enunciado não é uma mera alegoria, mas ilumina contradições. (...) A
popularidade da obra de Gilberto Freyre vem da afirmação de que a questão racial é fundamental entre nós e
que é preciso que levemos a sério a singularidade de nosso processo de socialização e de formação.”
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. Raça como negociação. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares (org.). Brasil
afro-brasileiro. Belo Horizionte: Autêntica, 2010. p. 32-33

5. HOMICÍDIOS DE NEGROS
De cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras. Jovens e negros do sexo masculino
continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra. Cerqueira e Coelho
(2017), a partir de análises econométricas com base nos microdados do Censo Demográfico do IBGE e do
SIM/MS, mostraram que a tragédia que aflige a população negra não se restringe às causas
socioeconômicas. Estes autores estimaram que o cidadão negro possui chances 23,5% maiores de sofrer
assassinato em relação a cidadãos de outras raças/cores, já descontado o efeito da idade, sexo, escolaridade,
estado civil e bairro de residência. Cerqueira e Coelho mostraram que, do ponto de vista de quem sofre a
violência letal, a cidade do Rio de Janeiro é partida não apenas na dimensão econômica entre pobres e ricos,
ou na dimensão geográfica, mas também pela cor da pele. Ao calcular a probabilidade de cada cidadão
sofrer homicídio, os autores concluíram que os negros respondem por 78,9% dos indivíduos pertencentes ao
grupo dos 10% com mais chances de serem vítimas fatais, conforme o Gráfico 5.1 deixa assinalado. Esse
caráter discriminatório que vitima proporcionalmente mais a juventude negra também foi documentado no
estudo “Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade”. Neste trabalho, o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública incorporou um indicador de desigualdade racial ao indicador sintético de
vulnerabilidade à violência dos jovens (mortalidade por homicídios, por acidente de trânsito, frequência à
escola e situação de emprego, pobreza e desigualdade). Foi constatado que em todas as Unidades da
Federação, com exceção do Paraná, os negros com idade entre 12 e 29 anos apresentavam mais risco de
exposição à violência que os brancos na mesma faixa etária. Em 2012, Ver Brasil (2014) o risco relativo de
um jovem negro ser vítima de homicídio era 2,6 vezes maior do que um jovem branco.

De fato, ao se analisar a evolução das taxas de homicídios considerando se o indivíduo era negro16 ou não,
entre 2005 e 2015, verificamos dois cenários completamente distintos. Enquanto, neste período, houve um
crescimento de 18,2% na taxa de homicídio de negros, a mortalidade de indivíduos não negros diminuiu
12,2%. Ou seja, não apenas temos um triste legado histórico de discriminação pela cor da pele do indivíduo,
mas, do ponto de vista da violência letal, temos uma ferida aberta que veio se agravando nos últimos anos.
As Tabelas 5.1 e 5.2 descrevem a evolução das taxas de homicídio de negros e não negros. Chama a atenção
o crescimento acentuado de mortes de negros no Rio Grande do Norte, entre 2005 e 2015, que atingiu
331,8%. O Gráfico 5.2 ilustra a variação, entre 2005 e 2015, na proporção entre as taxas de homicídio de
negros e não negros. Na média nacional essa diferença contra os negros aumentou 34,7%. Verificou-se um
aumento proporcional da diferença nas mortes violentas de negros em 16 estados, sendo que essa diferença
aumentou mais em Sergipe (171,9%).

Os dados mais recentes da violência letal apontam para um quadro que não é novidade, mas que merece ser
enfatizado: apesar do avanço em indicadores socioeconômicos e da melhoria das condições de vida da
população entre 2005 e 2015, continuamos uma nação extremamente desigual, que não consegue garantir a
vida para parcelas significativas da população, em especial à população negra.

Atlas da Violência 2017. Ipea e Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Rio de Janeiro, junho de 2017.

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