Professional Documents
Culture Documents
Esta primeira tendência busca explicar a Todos os problemas advindos das questões
linguagem a partir das condições de vida psíquica externas da enunciação ficam excluídos no estudo
individual do sujeito falante. Apóia-se na dessa tendência, quer vai além dos elementos
enunciação monológica como ponto de partida para constitutivos da enunciação monológica. Seu alcance
sua reflexão a respeito da linguagem e a apresenta máximo é a fase complexa (o período). Dessa forma,
como ato puramente individual, isto é, a enunciação a linguagem como instrumento de comunicação vê a
se forma no psiquismo do indivíduo, exteriorizando- língua como código, (conjunto de signos que se
se, objetivamente, para outro com a ajuda de algum combinam, segundo regras) capaz de transmitir ao
código de signos exteriores. receptor uma mensagem, isso quer dizer que é
necessário que os envolvidos no ato manipulem os
A expressão, ou seja, a linguagem se sinais do código de forma comum, preestabelecida.
constrói no interior, sendo sua exteriorização Então, existem regras que devem ser perseguidas
apenas uma tradução. É a atividade mental que pelo falante –ouvinte para que se estabeleça a
organiza a expressão, modelando e determinando comunicação. Essas regras serão resgatadas pela
sua orientação. Dessa forma, a língua é vista como gramática.
produto acabado, sistema estável (léxico,
Certamente a mais comum e mais usada no dia- Sinto que viver é inevitável. Posso na primavera ficar
adia, a função referencial ou informativa, também horas sentada fl1mando, apenas sendo. Ser às vezes
chamada denotativa ou cognitiva, privilegia o sangra. Mas não há como não sangrar pois é no
contexto. Ela evidencia o assunto, o objeto, os sangue que sinto a primavera. Dói. A primavera me
fatos, os juízos. dá coisas. Dá do que viver E sinto que um dia na
É a linguagem da comunicação. Faz referência a primavera é que vou morrer De amor pungente e
coração enfraquecido.
um contexto, ou seja, a uma informação sem
qualquer envolvimento de quem a produz ou de (Clarice Lispector)
quem a recebe. Não há preocupação com estilo;
5. Função conativa ou de apelo
sua intenção é unicamente informar. E a
linguagem das redações escolares, A função conativa é aquela que busca mobilizar a
principalmente das .dissertações, das narrações atenção do receptor, produzindo um apelo ou
não- fictícias e das descrições objetivas. uma ordem. Pode ser volitiva, revelando assim uma
Caracteriza também o discurso científico, o vontade (―Por favor, eu gostaria que você se
jornalístico e a correspondência comercial. retirasse.‖), ou imperativa, que é a característica
Exemplo: fundamental da propaganda. Encontra no vocativo e
Todo brasileiro tem direito à aposentadoria. Mas no imperativo sua expressão gramatical mais
nem todos têm direitos iguais. Um milhão e meio de autêntica. Exemplos:
funcionários públicos, aposentados por regimes
especiais, consomem mais recursos do que os Antônio, venha cá!
quinze milhões de trabalhadores aposentados pelo Compre um e leve três.
INSS. Enquanto a média dos benefícios aos Beba Coca-Cola.
aposentados do INSS é de 2,1 salários mínimos, Se o terreno é difícil, use uma solução inteligente:
nos regimes especiais tem gente que ganha mais Mercedes-Benz.
de 100 salários mínimos.
(Programa Nacional de Desestatização) 6. Função fática
8. Função poética
Linguagem regional
Fala
O português que já era a língua oficial do Esse quarto período, no qual o português já se
Estado passa a ser a língua mais falada no Brasil. definira como língua oficial e nacional do Brasil, trará
uma outra novidade, o início das relações entre o
O terceiro momento do português no Brasil português e as línguas de imigrantes. Começa em
começa com a vinda da família real em 1808, como 1818/1820 o processo de imigração para o Brasil,
conseqüência da guerra com a França, e termina com a vinda de alemães para Ilhéus (1818) e Nova
com a independência. Poderíamos utilizar, como Friburgo (1820). Esse processo de imigração terá um
data final desse período, 1826, pois é nesse ano momento muito particular na passagem do século
que se formula a questão da língua nacional do XIX para o XX (1880-1930). A partir desse momento
Brasil no parlamento brasileiro. entraram no Brasil, por exemplo, falantes de alemão,
italiano, japonês, coreano, holandês, inglês. Deste
A vinda da família real terá dois efeitos modo o espaço de enunciação do Brasil passa a ter,
importantes. O primeiro deles é um aumento, em em torno da língua oficial e nacional, duas relações
curto espaço de tempo, da população portuguesa significativamente distintas: de um lado as línguas
no Brasil. Chegaram ao Rio de Janeiro em torno de indígenas (e num certo sentido as línguas africanas
15 mil portugueses. O segundo é a transformação dos descendentes de escravos) e de outro as línguas
do Rio de Janeiro em capital do Império que traz de imigração.
novos aspectos para as relações sociais em
território brasileiro, e isto inclui também a questão Essa diferença não é simplesmente uma
da língua. Logo de início Dom João VI criou a diferença empírica do tipo: as línguas indígenas e
imprensa no Brasil e fundou a Biblioteca Nacional, seus falantes já existiam no Brasil quando da
mudando o quadro da vida cultural brasileira, e chegada dos portugueses e as línguas de imigração
dando à língua portuguesa aqui um instrumento vieram depois. A diferença é de modo de relação. As
direto de circulação, a imprensa. Esses fatos línguas indígenas e africanas entram na relação
produzem um certo efeito de unidade do português como línguas de povos considerados primitivos a
para o Brasil, enquanto língua do rei e da corte. serem ou civilizados (no caso dos índios) ou
escravizados (no caso dos negros). Ou seja, não há
O quarto período começa em 1826. Nesse lugar para essas línguas e seus falantes. No caso da
ano o deputado José Clemente propôs que os imigração, as línguas e seus falantes entram no
diplomas dos médicos no Brasil fossem redigidos Brasil por uma ação de governo que procurava
em "linguagem brasileira". Em 1827 houve um cooperação para desenvolver o país. E as línguas
grande número de discussões sobre o fato de que que vêm com os imigrantes eram, de algum modo,
os professores deveriam ensinar a ler e a escrever línguas nacionais ou oficiais nos países de origem
utilizando a gramática da língua nacional. Ou seja, dos imigrantes. Essas línguas são línguas
a questão da língua portuguesa no Brasil, que já legitimadas no conjunto global das relações de
era língua oficial do Estado, se põe agora como línguas, diferentemente das línguas indígenas e
uma forma de transformá-la de língua do africanas. As línguas dos imigrantes eram línguas de
colonizador em língua da nação brasileira. Temos povos considerados civilizados, em oposição às
aí constituída a sobreposição da língua oficial e da línguas indígenas e africanas.
língua nacional.
Enquanto língua oficial e língua nacional do
Essas questões tomam espaços Brasil, o português é uma língua de uso em todo o
importantes tanto na literatura quanto na território brasileiro, sendo também a língua dos atos
constituição de um conhecimento brasileiro sobre o oficiais, da lei, a língua da escola e que convive, na
português no Brasil. É dessa época a literatura de extensão do território brasileiro, com um grande
José de Alencar (5) que tem debates importantes conjunto de outras línguas (de um lado as línguas
com escritores portugueses que não aceitavam o indígenas e de outro as línguas de imigrantes). Por
modo como ele escrevia. É também dessa época o outro lado, enquanto língua nacional, o português é
processo pelo qual os brasileiros tiveram significado como a língua materna de todos os
legitimadas suas gramáticas para o ensino de brasileiros, mesmo que um bom número de
português e seus dicionários (6). Dessa maneira brasileiros tenham como língua materna outras
cria-se historicamente no Brasil o sentido de línguas, ou indígenas ou de imigrantes.
apropriação do português enquanto uma língua que
tem as marcas de sua relação com as condições CARACTERÍSTICAS DO PORTUGUÊS DO BRASIL
brasileiras. Pela história de suas relações com outro
espaço de línguas, o português, ao funcionar em A vinda da língua portuguesa para o Brasil
novas condições e nelas se relacionar com línguas não se deu, como vimos, em um só momento. Ela se
indígenas, língua geral, línguas africanas, se deu durante todo o período de colonização entrando
modificou de modo específico e os gramáticos e em relação constante com outras línguas. Por outro
lexicógrafos brasileiros do final do século XIX, junto lado, o povoamento do Brasil se fez com a vinda de
portugueses de todas regiões de Portugal. Desse
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 19
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
modo, sua vinda para o Brasil traz para esse novo aberto, com a língua em repouso embaixo, na boca;
espaço as diversas variedades do português de que as vogais /é/, /ê/, /i/ são anteriores, elas são
Portugal. Estas variedades se instalarão em lugares pronunciadas com um movimento da língua para
diferentes do Brasil mas, em muitos casos, elas frente; e as vogais /ó/, /ô/, /u/ são posteriores,
convivem num mesmo espaço, como no Rio de pronunciadas com um movimento da língua para trás.
Janeiro, por exemplo. Em Portugal (8), além dessas vogais, há também um
/ä/, que não é aberto como o /a/. Este /ä/ é
O português do Brasil vai, com o tempo, pronunciado com uma certa elevação da língua,
apresentar um conjunto de características não diferentemente do /a/ aberto pronunciado com língua
encontráveis, em geral, no português de Portugal, em repouso, embaixo na boca. Assim é que, na
da mesma maneira que o português, em diversas língua falada, se distingue /falämos/, presente do
outras regiões do mundo, terá características indicativo, de /falamos/ passado perfeito (9).
também específicas, em virtude das condições
novas em que a língua passou a funcionar. Há que b) Na posição átona final, no português do Brasil, de
se considerar que, se levamos em conta a língua modo geral, há três vogais /a/ (casa), /i/ (barbante,
escrita, vamos encontrar uma maior proximidade pronunciado [barbãti]), /u/ (menino, pronunciado
entre o português do Brasil, assim como o de outras [meninu] e mesmo [mininu]). Em Portugal são
regiões do mundo, com o português de Portugal, já também três vogais, /ä/, /ë/ e /u/. Assim
que a língua escrita está mais sujeita à diferentemente do Brasil, /ä/ é pronunciado com a
normatização da língua efetivada através das língua mais alta, com timbre mais fechado, /ë/ é
gramáticas normativas, dicionários e outros pronunciado fechado, mas numa posição mais
instrumentos reguladores da língua. Na língua oral posterior do que o /ê/ do Brasil. O /u/ tem as mesmas
o processo de incorporação de características características fonéticas do /u/ brasileiro.
específicas se faz de modo mais rápido.
c) Na posição pretônica, há no português do Brasil,
Meu objetivo não é, neste texto, discutir em geral, 5 vogais, /a/, /ê/, /i/, /ô/, /u/, enquanto que
essas diferenças internas, mas mostrar como o em Portugal mantêm-se as 8 vogais da posição
português do Brasil apresenta um conjunto tônica, com a diferença de que o /ê/ passa a /ë/,
importante de características específicas. A seguir, numa pronúncia mais central: /a/, /ä/; /é/, /ë/, /i/; /ó/,
vou apresentar um conjunto destas características /ô/, e /u/.
encontráveis no português do Brasil. Vou me limitar
a apresentar aqui o que chamarei de diferenças CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS E
gramaticais e lexicais (de vocabulário). SINTÁTICAS No nível sintático, uma primeira
Evidentemente que a caracterização do português característica geral do português do Brasil é que ele,
do Brasil envolve a consideração efetiva das no que toca ao funcionamento dos pronomes átonos
diversas divisões a que a língua portuguesa está (me, te, se, lhe, o, a, etc) tem uma colocação mais
sujeita no Brasil, tanto regionais quanto sociais e proclítica, não sendo encontrável em Portugal, por
históricas (tal como mostram o artigo "Variedades exemplo, João se levantou, tão comum no Brasil. Isto
do português no mundo e no Brasil" de Emílio faz com que toda a colocação de pronomes átonos
Pagotto, para a questão das diferenças na língua, e no Brasil seja bastante diferente da de Portugal. Este
o artigo "Língua brasileira" de Eni Orlandi, sobre os tipo de diferença tem muito a ver com o fato de que
aspectos discursivos envolvidos nessa questão). as diferenças fonético-fonológicas, apontadas antes,
levam a um outro ritmo da frase, assim como uma
Nas características gramaticais podemos distinguir diferença de tonicidade nesses pronomes. Isto
dois conjuntos de características: o das resulta em um outro modo de colocá-los na frase, tal
características fonético-fonológicas, o das como já nos mostrou Ali (1908).
características morfológicas e sintáticas.
No Brasil é também comum construções
CARACTERÍSTICAS FONÉTICO-FONOLÓGICAS como está escrevendo, com estar + gerúndio, não
comum em Portugal, onde se encontram expressões
Neste nível, a grande especificidade do como está a escrever, com estar a + infinitivo. É
português do Brasil, se comparado ao de Portugal, também comum no Brasil expressões com a
considerando o que Pagotto nos mostra no seu preposição em, que em Portugal são com a
texto, é seu sistema de vogais. Para observar esse preposição a. Tem-se, comumente no Brasil, está na
aspecto é necessário distinguir, tal como nos janela, chegou no Brasil, quando em Portugal se tem
mostrou Câmara (1953, 1970) a vogal na posição está à janela, chegou ao Brasil.
tônica (da sílaba com acento de intensidade), a
vogal na posição átona final (como o /a/ de fuga), e Segundo Galves (2002), a principal
a vogal na posição pretônica (como o /a/ de até). característica sintática do português do Brasil, é que
ele é uma língua de tópico, diferentemente do
a) Na posição tônica, o português do Brasil português de Portugal e das demais línguas latinas
apresenta 7 vogais: /a/ (entrada); /é/ (deve), /ê/ (10). Esta posição se desenvolve a partir de uma
(medo), /i/ (viga); /ó/ (avó), /ô/ (avô), /u/ (urubu). formulação de Pontes (1987) que mostrou como
Note-se que a vogal /a/ é pronunciada, com timbre muitas construções do português no Brasil precisam
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 20
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ser entendidas como construções com tópico. Para preferencialmente ao sujeito nulo (que na escola
apresentar a formulação de Galves usaremos as conhecemos como sujeito oculto), diferentemente do
abreviações SN e V que significam sintagma português de Portugal, onde aparece
nominal e verbo. Um sintagma é um elemento preferencialmente o sujeito nulo e em que o ele
lingüístico de nível inferior ao da frase e que possui aparece quando é necessário marcar a concordância,
na sua forma elementos lingüísticos de nível já que a terminação verbal é a mesma entre a
sintático ainda mais baixo, em geral ele combina primeira e a terceira pessoa, ou para estabelecer um
pelo menos dois elementos. No caso do SN contraste.
(sintagma nominal), o sintagma é constituído pelo
menos por um nome e tem geralmente pelo menos c)ele como objeto de preposição
um determinante para este nome, como em o
menino, onde menino é o nome e o é o No Brasil é comum frases como o André, que
determinante e o menino é o SN. A noção de verbo, eu gosto dele, é mais bonito, enquanto em Portugal
para o que aqui nos interessa, é a que usualmente só se encontram frases como o André de quem eu
conhecemos.Dito isto, para Galves, a frase do gosto. Este aspecto está diretamente relacionado
português do Brasil tem como estrutura SN [SN V com o funcionamento das relativas no português
(SN), diferentemente do português de Portugal e as brasileiro. Tal funcionamento no Brasil se caracteriza
línguas latinas em geral, que têm como estrutura da por ter uma predominância de relativas com este
frase SN [V (SN). O colchete separa o que se pronome que retoma um nome da principal (chamado
apresenta como o que se diz do primeiro SN. pronome lembrete, o ele (dele) do primeiro exemplo
acima), e é predominante quando a retomada está
Para entender essa diferença, em sintagma preposicional, conforme mostrou Tarallo
consideremos duas frases: João fez o trabalho e (1996). Este funcionamento predominante no Brasil é
João, ele fez o trabalho. Na primeira, com a palavra oposto ao predominante em Portugal, onde o mais
João refere-se a alguém (João) e predica-se dele comum é o de construções como O André, de quem
algo, fez o trabalho. Neste caso, João que faz a eu gosto, é mais bonito.
referência a uma pessoa é também o sujeito da
frase. Na segunda frase, João refere alguém, Este aspecto está ligado ao crescimento no
depois tem-se como sujeito o pronome ele, que português do Brasil de um outro funcionamento da
retoma João (anaforiza João) do qual se predica fez relativa que se chama de relativa cortadora, como em
o trabalho. Deste modo a seqüência É uma pessoa que essas besteiras que a gente fica
sujeito+predicado (ele fez o trabalho) aparece no se preocupando, ela não fica esquentando a cabeça.
conjunto como dizendo algo de João, referido pela Em Portugal a construção encontrável seria É uma
palavra João. Nesta segunda frase, João é o tópico, pessoa que não fica esquentando a cabeça com
aquilo sobre o que se vai dizer algo. estas besteiras que nos preocupam. No português do
Diferentemente, na primeira frase, aquilo sobre o Brasil hoje há a predominância das construções
que se vai dizer algo é diretamente o sujeito da relativas com pronome lembrete e relativas
frase. A tese de Galves é que a estrutura sintática cortadoras. As análises de Tarallo (idem) mostram
do português é do tipo da segunda frase que aqui que essa diferença entre o funcionamento do
usamos como exemplo: João, ele fez o trabalho. português do Brasil e de Portugal já está instalada
claramente em 1880 e se aprofunda a partir de então.
Segundo a autora é esta característica que explica Assim hoje é predominante o que no início do século
um conjunto importante de aspectos próprios do XIX (1825, por exemplo) era o menos comum.
português brasileiro, tal como os que seguem.
Ao lado desses aspectos, Galves também
a)uso do pronome ele como objeto considera uma outra característica muito interessante
do português do Brasil: O funcionamento do pronome
Em Portugal esta é uma construção inexistente. É se. Para a autora, no português brasileiro o se pode
comum no Brasil frases como Encontrei ele ontem; não aparecer em frases com tempo (o verbo nas
esse rapaz, eu conheci ele no trem; esse rapaz aí formas finitas), diferentemente do português europeu.
que eu encontrei ele no trem. Nestas frases ele é No Brasil há frases como Nos nossos dias, não usa
complemento da frase, diferentemente de Portugal mais saia; Esta camisa lava facilmente; Joana não
onde esta construção, normalmente, não aparece. matriculou ainda; Maria fez a lista dos convidados
mas esqueceu de incluir ela; É impossível se achar
b)ele como sujeito lugar aqui, enquanto em Portugal só há frases como
Não se usa mais saia; Esta camisa lava-se
O funcionamento do ele como sujeito é diferente em facilmente; Joana não se matriculou ainda; Maria fez
Portugal e no Brasil. No Brasil temos, por exemplo, a lista dos convidados mas esqueceu de se incluir.
eu tinha uma empregada que ela respondia ao Interessante para a lingüista é que, em contrapartida,
telefone e dizia..., enquanto em Portugal o que se em frases com infinitivo, no Brasil, aparece
encontra é somente algo como eu tinha uma consistentemente a forma se para indeterminar, em
empregada que respondia ao telefone e dizia... oposição a Portugal onde este se não aparece da
Para Galves esta diferença diz respeito a que no mesma maneira. Tem-se no Brasil É impossível se
português do Brasil o ele aparece
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 21
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
achar lugar aqui, enquanto em Portugal haveria fato terno
somente É impossível achar lugar aqui. metro metrô
O que é interessante nessa análise de Por outro lado, há no Brasil um conjunto importante
de palavras de origem indígena, comumente o tupi,
Galves é que ela não só registra a existência de
assim como de origem africana, os exemplos são
construções diferentes, que poderiam ser atribuídas
a uma mera diferença de uso de uma ou outra também tirados de Teyssier (idem).
pessoa, em uma ou outra situação, como mostra
Exemplos de palavras de origem indígena: capim,
que essa diferença nas frases diz respeito a uma
cupim, caatinga, curumim, guri, buriti, carnaúba,
especificidade na estrutura mesma da sintaxe do
mandacaru, capivara, curió, sucuri, piranha, urubu,
português do Brasil, ter a estrutura SN [SN V (SN). mingau, moqueca, abacaxi, caju, Tijuca, etc. São, em
Ser, portanto, uma língua de tópico.Ligada a essa geral, palavras relativas à designação da flora, da
diferença na estrutura sintática da frase, Galves nos
fauna, de alimentos, assim como de lugares.
mostra como ela está ligada a um aspecto
semântico fundamental, o modo como o português Exemplos de palavras de origem africana: caçula,
do Brasil faz referência às coisas sobre às quais se cafuné, molambo, moleque; orixá, vatapá, abará,
fala. Observe que se tomamos a frase do português acarajé; bangüê; senzala, mocambo, maxixe, samba.
do Brasil Eu tinha uma empregada que ela São, em geral, palavras que designam elementos do
respondia ao telefone e dizia... vemos que o ela candomblé, da cozinha de influência africana, do
retoma diretamente empregada, desfazendo o universo das plantações de cana, do universo de vida
caráter anafórico do que (relativo), diferentemente dos escravos, e mesmo outros de aspecto mais
de, por exemplo, Eu tinha uma empregada que geral. Grandes listas de palavras dessas línguas que
atendia o telefone e dizia..., na qual o que mantém se incorporaram ao português podem ser
seu caráter anafórico. Em cada caso o modo de encontradas em diversos livros de lingüística histórica
referir à empregada é um. do português como Silva Neto (1950), Bueno (1946,
1950) e Coutinho (1936).
Ou seja, o fato de o português ter uma
estrutura de tópico para suas frases diz respeito ao CONSIDERAÇÕES FINAIS Várias outras
modo como no Brasil se faz referência às coisas, ou características podem ser atribuídas ao português do
seja, diz respeito a como, num acontecimento Brasil, mas a melhor forma de tratar disso é observar
enunciativo específico, refere-se a algo. Em outras o modo como o português se divide em falares
palavras, esta característica de estrutura da frase regionais específicos ou registros distintos de acordo
está diretamente articulada a um modo de com situações particulares do funcionamento da
funcionamento semântico-enunciativo, outros diriam língua, como o formal ou o coloquial, o íntimo e o
semântico-pragmático, do português no Brasil. público, etc.
Enfim, Galves nos mostra que o português do Brasil
tem uma estrutura e funcionamento diversos do Por outro lado, fica claro que o estudo do português
português de Portugal e das outras línguas latinas. do Brasil indica para a necessidade de se
E esta não deixa de ser uma questão a ser aprofundarem pesquisas históricas que dêem mais
estudada no quadro do multilingüismo brasileiro. relevo à questão das relações do português num
espaço multilíngüe muito particular.
CARACTERÍSTICAS DO LÉXICO Desde o início
do século XIX, com o Marquês de Pedra Branca, se
usa o estudo do léxico para mostrar diferenças
entre o português do Brasil e o português de
Portugal (11). Essas diferenças dizem respeito ao
fato de que, no Brasil, muitas palavras tomaram
outros sentidos ou foram incorporadas ao português
a partir das línguas indígenas e africanas, com as
quais o português esteve e está em relação.
Podemos observar palavras que têm um sentido em
Portugal e outro no Brasil, a partir de exemplos
retirados de Teyssier (1997)
PORTUGAL BRASIL
comboio trem
autocarro ônibus
eléctrico bonde
hospedeira aeromoça
caneta de
caneta-
tinta
tinteiro
permanente
corta-
pátula
papeles
Quadros (2004, p.47) define a fonologia das línguas Morfologia é um ramo da linguística que
de sinais da seguinte forma: estuda a estrutura interna, a formação e classificação
das palavras ou sinais, como define Quadros:
Fonologia das línguas de sinais é o ramo da Morfologia é o estudo da estrutura interna das
lingüística que objetiva identificar a estrutura e a palavras ou dos sinais, assim como das regras
organização dos constituintes que determinam a formação das palavras. A palavra
fonológicos, propondo modelos descritivos e morfema deriva do grego morphé, que significa
explanatórios. A primeira tarefa da fonologia para forma. Os morfemas são as unidades mínimas de
língua de sinais é determinar quais são as significado (QUADROS, 2004, p.86, grifos do autor).
unidades mínimas que formam os sinais. A
segunda tarefa é estabelecer quais são os padrões A partir do conceito supracitado, pode-se
possíveis de combinação entre essas unidades e afirmar que as formações dos sinais originam-se da
as variações possíveis no ambiente fonológico combinação dos parâmetros configuração de mão,
(QUADROS, 2004, p.47). ponto de articulação, movimento, expressão facial e
corporal, agora considerados morfemas, ou seja,
A análise da formação dos sinais foi unidades mínimas com significado, como explica
estabelecida por Stokoe (apud QUADROS, 2004), Felipe:
ao propor a decomposição dos sinais em três
parâmetros principais (configuração de mão, Estes cinco parâmetros podem expressar
locação da mão, movimento da mão), a fim de morfemas através de algumas configurações de mão,
analisar a constituição deles na ASL (Língua de de alguns movimentos direcionados, de
Sinais Americana), afirmando não algumas alterações na freqüência do movimento, de
possuírem significado de forma isolada. alguns pontos de articulação na estrutura morfológica
Posteriormente, outros parâmetros foram e de alguma expressão facial ou movimento de
acrescentados às pesquisas da fonologia de sinais, cabeça concomitante ao sinal, que, através de
são eles: orientação da mão, expressões faciais alterações em suas combinações, formam os itens
e corporais. lexicais das línguas de sinais (FELIPE, 2006, p. 202).
A marcação do tempo verbal é realizada através de Trata-se, portanto, de uma língua que possui os
itens lexicais ou sinais adverbiais como afirma Brito: mesmos universais linguísticos das línguas orais,
―Dessa forma, quando o verbo refere-se a um caracterizando a formação dos sinais a partir dos
tempo passado, futuro ou presente, o que vai fonemas e morfemas. Percebe-se ainda, através da
marcar o tempo da ação ou do evento serão sua morfologia e sintaxe, o seu caráter flexional,
itens lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, complexo e econômico na produção e articulação das
AMANHÃ, HOJE, SEMANA-PASSADA, SEMANA- frases.
QUE-VEM.‖ (BRITO, 1997, p. 46). A seguir um
exemplo de como a marcação de tempo verbal é Como afirma Brito (1998), a Libras é regida por
realizada em Libras (ver figura 8) princípios gerais que a estruturam linguisticamente,
permitindo aos seus usuários o emprego da língua
6. Sintaxe da Língua Brasileira de Sinais em diferentes contextos, correspondendo às diversas
funções linguísticas que são manifestadas na
A Libras, assim como a Língua Portuguesa, interação no cotidiano.
apresenta organização na estrutura da frase. De
maneira preferencial, a ordem SVO A pesquisa, embora não seja de cunho conclusivo,
(sujeito+verbo+objeto) é a que se destaca na segundo as descrições feitas sobre Libras, sobretudo
produção das frases, o que não invalida o uso de as variações e estruturas linguísticas, reitera seu
outras ordens. De acordo com Brito (1997), na status de língua, um produto social em constante
Libras, uma outra forma de produção que acontece evolução.
é a topicalização ou tópico-comentário. A
topicalização, realizada com bastante frequência, é
definida como a distribuição no espaço dos
elementos da frase, ou seja, não segue a ordem
SVO. Pode ser usada desde que não haja
restrições que impeçam o deslocamento de
determinados constituintes da sentença e que altere
o sentido da frase.
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 26
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
substantivo pasta, past é o radical, a, a vogal
temática, e pasta o tema; já na palavra leal,
o radical e o tema são o mesmo elemento -
leal, pois não há vogal temática; e na palavra
tatu também, mas agora, porque o radical é
terminado pela vogal temática.
Estudar a estrutura das palavras é estudar os
elementos que formam a palavra, Desinências
denominados de morfemas. São os seguintes
os morfemas da Língua Portuguesa. É a terminação das palavras, flexionadas ou
variáveis, posposta ao radical, com o intuito de
Radical modificá-las.
Modificamos os verbos, conjugando-os;
O que contém o sentido básico do vocábulo. modificamos os substantivos e os adjetivos em
Aquilo que permanecer intacto, quando a gênero e número.
palavra for modificada. Existem dois tipos de desinências:
Ex. falar, comer, dormir, casa, carro.
Obs: Em se tratando de verbos, descobre-se Desinências verbais
o radical, retirando-se a terminação AR, ER
ou IR. Modo-temporais = indicam o tempo e o
modo. São quatro as desinências modo-
Vogal Temática temporais:
-va- e -ia-, para o Pretérito Imperfeito do
Nos verbos, são as vogais A, E e I, presentes Indicativo = estudava, vendia, partia.
à terminação verbal. Elas indicam a que -ra-, para o Pretérito Mais-que-perfeito do
conjugação o Indicativo = estudara, vendera, partira.
verbo pertence: -ria-, para o Futuro do Pretérito do Indicativo
• 1ª conjugação = Verbos terminados em = estudaria, venderia, partiria.
AR. -sse-, para o Pretérito Imperfeito do
• 2ª conjugação = Verbos terminados em Subjuntivo = estudasse, vendesse,
ER. partisse.
• 3ª conjugação = Verbos terminados em IR. Número-pessoais = indicam a pessoa e o
número. São três os grupos das desinências
Obs.: O verbo pôr pertence à 2ª conjugação, númeropessoais.
já que proveio do antigo verbo poer.
Grupo I: i, ste, u, mos, stes, ram, para o
Nos substantivos e adjetivos, são as vogais Pretérito Perfeito do Indicativo = eu cantei,
A, E, I, O e U, no final da palavra, evitando tu cantaste, ele cantou, nós cantamos,
que ela termine em consoante. Por exemplo, vós cantastes, eles cantaram.
nas palavras meia, pente, táxi, couro,
urubu. Grupo II: -, es, -, mos, des, em, para o
Infinitivo Pessoal e para o Futuro do
* Cuidado para não confundir vogal temática Subjuntivo = Era para eu
de substantivo e adjetivo com desinência cantar, tu cantares, ele cantar, nós
nominal de gênero, que estudaremos mais à cantarmos, vós cantardes, eles cantarem.
frente. Quando eu puser, tu puseres, ele puser,
nós pusermos, vós puserdes, eles
puserem.
Tema
Grupo III: -, s, -, mos, is, m, para todos os
É a junção do radical com a vogal outros tempos = eu canto, tu cantas, ele
temática. Se não existir a vogal temática, o canta, nós cantamos, vós cantais, eles
tema e o radical serão o mesmo elemento; o cantam.
mesmo acontecerá, quando o radical for
terminado em vogal. Por exemplo, em se
tratando de verbo, o tema sempre será a Desinências nominais
soma do radical com a vogal temática -
estuda, come, parti; em se tratando de de gênero = indica o gênero da palavra. A
substantivos e adjetivos, nem sempre isso palavra terá desinência nominal de gênero,
acontecerá. Vejamos alguns exemplos: No
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 27
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quando houver a oposição masculino - Derivação Parassintética
feminino. Por exemplo: cabeleireiro -
cabeleireira. A vogal a será desinência Acréscimo de um prefixo e de um sufixo,
nominal de gênero sempre que indicar o simultaneamente; também chamado de
feminino de uma palavra, mesmo que o parassíntese. Por exemplo: envernizar,
masculino não seja terminado em o. Por enrijecer, anoitecer.
exemplo: crua, ela, traidora. Obs.: A maneira mais fácil de se estabelecer a
de número = indica o plural da palavra. É a diferença entre Derivação Prefixal e Sufixal e
letra s, somente quando indicar o plural da Derivação Parassintética é a seguinte: retira-
palavra. Por exemplo: cadeiras, pedras, se o prefixo; se a palavra que sobrou existir,
águas. será Der. Pref. e Suf.; caso contrário, retira-
se, agora, o sufixo; se a palavra que sobrou
Afixos: São elementos que se juntam a existir, será Der. Pref. e Suf.; caso contrário,
radicais para formar novas palavras. São será Der. Parassintética. Por exemplo, retire o
eles: prefixo de envernizar: não existe a palavra
vernizar; agora, retire o sufixo: também não
Prefixo: É o afixo que aparece antes do existe a palavra enverniz. Portanto, a palavra
radical. Por exemplo destampar, incapaz, foi formada por Parassíntese.
amoral.
Derivação Regressiva
Sufixo: É o afixo que aparece depois do
radical, do tema ou do infinitivo. Por exemplo É a retirada da parte final da palavra primitiva,
pensamento, acusação, felizmente. obtendo, por essa redução, a palavra derivada.
Por exemplo: do verbo debater, retira-se a
Vogais e consoantes de ligação: São desinência de infinitivo -r: formou-se o
vogais e consoantes que surgem entre dois substantivo debate.
morfemas, para tornar mais fácil e agradável
a pronúncia de certas palavras. Por exemplo Derivação Imprópria
flores, bambuzal, gasômetro, canais. É a formação de uma nova palavra pela
mudança de classe gramatical. Por exemplo: a
palavra gelo é um substantivo, mas pode ser
FORMAÇÃO DAS PALAVRAS transformada em um adjetivo: camisa gelo.
Respostas
1- C 2- E 3- C 4- A 5- E 6- E 7-
B
8- D 9- C 10- B 11- C 12- A 13- A14-
B
15- E 16- D 17- D 18- B 19- B 20- A
- O relógio deu onze horas. Qualquer outro tipo de verbo (transitivo indireto ou
- O Relógio: sujeito intransitivo) fica no singular.
Deu: concorda com o sujeito.
- Precisa-se de professores. (Precisar é verbo
Quando não houver sujeito, o verbo concorda com transitivo indireto)
as horas que passam a ser o sujeito da oração. - Trabalha-se muito aqui. (trabalhar é verbo
intransitivo)
- Deram onze horas.
- Deram três horas no meu relógio. Nesse caso, o ―se‖ é chamado de índice de
indeterminação do sujeito ou partícula
SUJEITO COLETIVO (SUJEITO SIMPLES) indeterminadora do sujeito.
Se não houver artigo no plural, o verbo deverá Quando o verbo ―ser‖ aparece nas expressões ―é
concordar no singular. muito‖, ―é bastante‖, ―é pouco‖, ―é suficiente‖
denotando quantidade, distância, peso, etc ele ficará
- Santos fica em São Paulo. no singular.
- ―Memórias Póstumas de Brás Cubas‖ consagrou
Machado de Assis. - Oitocentos reais é muito.
- Cinco quilos é suficiente.
Obs 1: Com nome de obras artísticas, admite-se a
concordância ideológica com a palavra ―obra‖, que
está implícita na frase.
CASOS ESPECIAIS: Veremos alguns casos que f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
fogem à regra geral, mostrada acima.
1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre
a) Um adjetivo após vários substantivos no singular e o adjetivo no plural.
1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai Renato advogou um e outro caso fáceis.
para o plural ou concorda com o substantivo mais Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.
próximo.
g) É bom, é necessário, é proibido
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui. 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier
precedido de artigo ou outro determinante.
2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o
plural masculino ou concorda com o substantivo Canja é bom. / A canja é boa.
mais próximo. É necessário sua presença. / É necessária a sua
presença.
- Ela tem pai e mãe louros. É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A
- Ela tem pai e mãe loura. entrada é proibida.
n) Só Exemplos:
ESQUECER – LEMBRAR Obs: Não é correto dizer: ―Maria namora com João‖.
- Lembrar algo – esquecer algo
- Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo OBEDECER
(pronominal)
É transitivo indireto, ou seja, exige complemento com
No 1º caso, os verbos são transitivos diretos, ou a preposição ―a‖ (obedecer a).
seja exigem complemento sem preposição.
- Devemos obedecer aos pais.
- Ele esqueceu o livro.
Obs: embora seja transitivo indireto, esse verbo pode
No 2º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, ser usado na voz passiva.
etc) e exigem complemento com a preposição ―de‖.
São, portanto, transitivos indiretos. - A fila não foi obedecida.
3. Para Sérgio Buarque, ―as massas urbanas‖ (l. 61) 8. O aspecto enigmático da sociedade brasileira
representam o(a): consiste:
(A) sinal de liberdade dos senhores locais. (A) em se desvendar a razão de não se gostar muito
(B) empecilho à decifração do enigma brasileiro. do Brasil.
(C) resultado da colonização de raízes ibéricas. (B) na fragilidade do olhar investigativo dos
(D) produto de transformações feitas pela ―nossa estudiosos.
revolução‖. (C) na ineficácia dos esforços de se entender o Brasil
(E) demonstração do autoritarismo em voga na em decorrência de sua situação geográfica.
década de 30. (D) na incapacidade brasileira de copiar os saberes
europeus.
4. O termo destacado em ―...um espaço integrador (E) nas contradições existentes mesmo em etapas
dentro da monumental desigualdade;‖ (l. 71-72) diferentes de sua constituição política.
faz contraponto com o(a):
(A) processo autoritário de modernização. 9. Em ―seríamos enfim levados a fundar a
(B) contraste econômico entre o campo e a cidade. comunidade política, de modo a transformar, ao
(C) comunidade doméstica patriarcal. nosso modo, o homem cordial em cidadão.‖ (l. 65-
(D) estratificação social da casa-grande. 67), as partes destacadas podem ser substituídas,
(E) construção da cidadania decorrente da sem alteração de sentido, por:
urbanização. (A) de maneira que pudéssemos – do nosso jeito.
(B) com o fim de – como se fosse nosso.
5. O fragmento ―somos uma sociedade (C) na forma de – da nossa sociedade.
transplantada, mas nacional, com características (D) tendo como objetivo – para nosso lucro.
próprias.‖ (l. 56-58) sinaliza uma oposição. Assinale (E) sem fins de – do mesmo jeito.
a opção em que os termos demonstram, 10. Assinale a opção em que o conjunto destacado
respectivamente, esta oposição. NÃO atribui ao texto a idéia de FINALIDADE.
(A) Independente / insubmissa. (A) ―Muitos motivos se somaram, (...) para dificultar
(B) Colonial / singular. a tarefa de decifrar, (...) o enigma ...‖(l.1-3)
(C) Única / igualitária. (B) ―concebida desde o início para servir ao
(D) Livre / original. mercado mundial,‖ (l.5-6)
(E) Peculiar / específica. (C) ―(...) as tentativas feitas para compreender esse
enigma (...) foram, (...) infrutíferas.‖ (l.13-15)
6. A compreensão do Brasil foi retardada pela (D) ―Houve muitos esforços meritórios para superar
existência de: esse impasse.‖ (l. 20-21)
(A) uma família patriarcal que se opôs ao trabalho (E) ―experimentaria o inevitável trânsito para a
civilizatório das instituições formais. modernidade urbana ...‖ (l. 47-48)
(B) uma sociedade que continuou mercantilista até
a independência. 11. Na construção de uma das opções abaixo foi
(C) um enigma que só pôde ser decifrado com os empregada uma forma verbal que segue o mesmo
ideais republicanos. tipo de uso do verbo haver em ―Houve muitos
(D) muitos dados que enredaram a nossa cultura. esforços meritórios para superar esse impasse.‖ (l.
(E) aspectos que levaram à formação de uma 20-21). Indique-a.
identidade nacional contraditória. (A) O antropólogo já havia observado a atitude dos
grupos sociais.
7. É CONTRÁRIA ao texto a seguinte afirmação: (B) Na época da publicação choveram elogios aos
(A) Sérgio Buarque não considera a passagem para livros.
a (C) Faz muito tempo da publicação de livros como
modernidade um processo lesivo aos interesses estes.
nacionais. (D) No futuro, todos hão de reconhecer o seu valor.
(B) Gilberto Freyre e Sérgio Buarque compartilham (E) Não se fazem mais brasileiros como antigamente.
o sentimento pelo ocaso da sociedade agrária.
Alheio a
REGÊNCIA VERBAL
Alusão a
01.C 02.B 03.A 04.C 05.C 06.D 07.C 08.D
09.D 10.A 11.E Ansioso por
Benéfico a
Compatível com
Cuidadoso com
Desfavorável a Versado em
Morador em
Natural de Adjetivos
Próximo a ou de
Ávido de Generoso com Propício a
Querido de ou por
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Residente em
Capaz de, para Hábil em Relacionado
Respeito a ou por com
Sensível a
Compatível com Habituado a Relativo a
Simpatia por
Advérbios
Próclise
Longe de
Perto de É a colocação pronominal antes do verbo. A próclise
é usada:
Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a
seguir o regime dos adjetivos de que são formados:
1) Quando o verbo estiver precedido de palavras
paralela a; paralelamente a; relativa a;
que atraem o pronome para antes do verbo. São
relativamente a.
elas:
b) Advérbios.
c) Conjunções subordinativas.
d) Pronomes relativos.
e) Pronomes indefinidos.
f) Pronomes demonstrativos.
Exemplos: Dicas:
Se o verbo auxiliar estiver no futuro do presente
Realizar-se-á, na próxima semana, um grande ou no futuro do pretérito, ocorrerá a mesóclise,
evento em prol da paz no mundo. desde que não haja palavra atrativa antes dele.
Não fosse os meus compromissos, acompanhar-te-
ia nessa viagem. Ex.: Haver-me-iam convidado para a festa.
Chamem-no agora.
Põe-na sobre a mesa.
Estilística e Fonética
A fonética pode ser combinada com a estilística
de diversas maneiras, como, por exemplo, pela
repetição de fonemas ao longo do texto. O uso de
palavras que não possuem um significado exato,
pois são apenas reproduções gráficas de sons,
também é fruto desta relação entre as áreas da
linguísticas. A sonoridade das palavras cria um
certo ritmo para o texto que foge do estudo da
gramática.
Estilística e Sintaxe
A sintaxe traz diversos recursos expressivos,
podendo interagir com a estilística de várias
maneiras. Uma delas é retirar os conectivos de
uma oração para desacelerar o ritmo, ou repeti-
los para acelerar. Os recursos sintáticos podem
produzir diversos sentidos numa oração, dar
ênfase, igualar a língua escrita com a oral, entre
diversos outros objetivos.
Estilística e Semântica
A semântica trabalha com os significados das
palavras, e usando-a como recurso expressivo, é
possível fazer com que uma palavra tenha um
significado que não pertence a ela, mas no
contexto seja possível perceber ao que se refere.
Essa mistura de semântica e estilística gera
várias figuras de linguagem, entre elas a
metáfora e a metonímia.
Elementos da Estilística
O estudo aprofundado da estilística a diversos
outros assuntos é importante para a expressão e
para entender melhor não só a literatura, mas
qualquer obra que carregue um mínimo de
expressão. São itens pertinentes à estilística:
Figuras de Linguagem: São recursos estilísticos que
utilizam aspectos fonólogicos, sintáticos ou
semânticos para auxiliar a expressão do emissor.
Por fim, o sentido não se encontra totalmente nem Em geral uma tirinha de jornal permite uma leitura
se encerra no texto. O contexto e os conhecimentos bastante polissêmica, na medida em que dá grandes
prévios são decisivos e fazem parte do processo de possibilidades de inferência de sentido por parte do
comunicação. Sem eles não seria possível a leitor que, com base em seus conhecimentos prévios,
comunicação, pois, todo texto é sempre incompleto, ganha uma maior liberdade de significação.
o produtor não explica, nem tem condições de
explicar tudo para seu leitor. O texto em si não tem Um verbete de dicionário apresenta-se
sentido quanto descontextualizado ou fora de um predominantemente parafrástico uma vez que as
conjunto de conhecimentos compartilhados. possibilidades de interpretação deste texto são bem
reduzidas; muito pouco espaço é deixado para a
Coesão e Coerência inferência do leitor.
De modo geral, a coerência é dada principalmente Um texto técnico-acadêmico, embora em grau menor
pela unidade temática, tratando-se do mesmo do que um verbete, também é predominantemente
assunto do começo ao fim, exigindo-se, parafrástico. Apesar de em alguns momentos haver
evidentemente, algum conhecimento prévio do um espaço/convite para uma significação
leitor. Já a coesão é a manifestação linguística da própria, existem informações que dão muito pouco
coerência e é mantida pelas relações de reiteração, espaço para uma leitura polissêmica.
associação e conexão. Ela dá continuidade ao texto
e possibilita a produção de sentido a partir do lido. Assim, um verbete ou um texto técnico-acadêmico,
por pouco ou nada termos a inferir, são parafrásticos,
Diferenças entre a fala e escrita enquanto uma tirinha de jornal pela possibilidades
inferenciais é polissêmico.
Tanto a escrita quanto a fala possuem
características próprias. Quando a escrita tenta Ensino de produção textual escrita por meio de
representar a fala há perda de elementos, como, gêneros textuais
por exemplo, todo o gestual e a ―fala‖ corporal; no
contrário, quando a fala tenta representar a escrita, Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
também há perda, pois não são reproduzidas os Portuguesa lembram que não há apenas uma
negritos, os sublinhados e os diversos aspectos determinada forma, um determinado contexto e uma
tipográficos presentes no texto escrito. determinada circunstância na qual a comunicação
precisa ou pode ocorrer. As formas, as circunstâncias
1 - Você pode transformar o tema em um 3- Uma outra alternativa seria fazer uma
questionamento, e ao longo do texto tentar relação entre causa e consequência, para que assim
responder da melhor maneira possível a essa se possa ir do início ao fim do problema, olhá-lo
questão. como um todo e com isso ir construindo uma opinião.
Ex: EX:
Palavras fortes
Pelé sempre é polêmico quando abre a Elipse é a figura de linguagem que consiste
boca. O Rei do Futebol não costuma usar a em omitir um termo da frase que não foi enunciado
retórica a seu favor. anteriormente na frase, mas podemos facilmente
identificá-lo pelo contexto.
Outros exemplos:
Na coordenação as orações são unidas que seu filho voltasse é uma oração que funciona no
sem que uma dependa da outra período como o objeto direto da oração principal.
sintaticamente, isto é, são orações Veja: se perguntarmos ao verbo da oração principal:
independentes (completas sintaticamente) ESPEROU O QUÊ? Resposta: que seu filho voltasse. A
que vêm ligadas por conjunções ou resposta para essa pergunta é denominada objeto
simplesmente justapostas sem qualquer direto, logo a oração subordinada apresenta a função
conectivo. de um objeto direto e completa, sintaticamente, a
oração principal.
(oração coordenada) + (oração coordenada)
Escrevi uma carta e a enviei para meu amor. (oração subordinada) + (oração principal)
o e a enviei para meu amor = oração coordenada o vou à praia = oração principal
sindética
(sindética pois tem a conjunção e)
vou à praia é uma oração composta por um verbo
intransitivo que seleciona um adjunto adverbial de
Escrevi uma carta é uma oração completa lugar (à praia) e, de acordo com o contexto, seleciona
sintaticamente, pois apresenta um verbo transitivo também um adjunto adverbial de tempo que falta
direto (escrevi), um sujeito oculto (eu) e um objeto nesta oração.
direto (uma carta) que completa a transitividade do
verbo. Quando o dia amanhecer é uma oração subordinada
que apresenta a função de um adjunto adverbial, isto
e a enviei para meu amor é uma oração completa é, trata-se de uma oração que expressa a
sintaticamente, pois apresenta um verbo transitivo circunstância de tempo, completando sintaticamente
direto e indireto (enviei), um sujeito oculto (eu) e os a oração principal.
Um palimpsesto é um pergaminho
cuja primeira inscrição foi raspada para se
traçar outra, que não a esconde de fato, de
modo que se pode lê-la por transparência,
o antigo sob o novo. Assim, no sentido
figurado, entenderemos por palimpsestos
(mais literalmente hipertextos), todas as
obras derivadas de uma outra obra
anterior, por transformação ou por
imitação. Dessa literatura de segunda mão,
que se escreve através da leitura o lugar e
a ação no campo literário geralmente, e
lamentavelmente, não são reconhecidos.
Tentamos aqui explorar esse território. Um
texto pode sempre ler um outro, e assim
por diante, até o fim dos textos. Este meu
texto não escapa à regra: ele a expões e
se expõe a ela. Quem ler por último lerá
melhor. (GENETTE, 2006).
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 61
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
objetivo da sociedade deve ser a obtenção da
felicidade de seus cidadãos (...)
Conotação
Na história, houve várias classificações de Gênero narrativo – Assim como é conhecido hoje,
gêneros literários, de modo que não se pode desenvolveu-se a partir dos antigos poemas épicos,
determinar uma categorização de todas as obras também conhecidos como epopeias, as quais eram
seguindo uma abordagem comum. A divisão representadas por narrativas em forma de versos,
clássica é, desde a Antiguidade, em três grupos: tendo como enredo principal os grandes feitos
narrativo ou épico, lírico e dramático. Essa divisão heroicos de um povo, aliando elementos terrenos
partiu dos filósofos da Grécia antiga, Platão e com mitológicos e lendários.
Aristóteles, quando iniciaram estudos para o
questionamento daquilo que representaria o literário Gênero lírico – O termo ―lírico‖ é oriundo de um
e como essa representação seria produzida.
[1] instrumento musical denominado lira, usado desde a
Essas três classificações básicas fixadas pela Antiguidade clássica para acompanhar recitações
tradição abrangem inúmeras categorias menores, das composições poéticas, proferidas em voz alta.
comumente denominadas subgêneros. Sua principal característica é a subjetividade
representada pelo ―eu lírico‖ manifestado por meio
O gênero lírico se faz, na maioria das das construções poéticas.
vezes, em versos e explora a musicalidade das
palavras. É importante ressaltar que o gênero lírico Gênero dramático – A ele está associada a arte da
trabalha bastante com as emoções, explorando os representação. O enredo desenvolve-se por meio da
sentimentos Entretanto, os outros dois gêneros — o encenação dos atores mediante a apresentação do
narrativo e o dramático — também podem ser espetáculo teatral. Neste contexto, figuram-se a
escritos nessa forma, embora modernamente participação de elementos extraverbais, tais como
prefira-se a prosa. cenário, figurino, iluminação, sonoplastia, entre
outros.
Todas as modalidades literárias são
influenciadas pelas personagens, pelo espaço e
pelo tempo. Todos os gêneros podem ser não-
ficcionais ou ficcionais. Os não-ficcionais baseiam-
se na realidade, e os ficcionais inventam um
mundo, onde os acontecimentos ocorrem
coerentemente com o que se passa no enredo da
[1]
história.
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde a balada, que é composta de quatro estrofes:
canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes três oitavas ou três décimas (oito ou dez versos)
a trova, que é composta de uma estrofe de ―Morte a cavalo‖, Carlos Drummond de Andrade.
quatro versos com sete sílabas poéticas
(redondilha maior). No primeiro texto, Caetano reproduz o som da chuva;
no segundo, Drummond reproduz o galopar do
A métrica ou medida é representada pelo número cavalo. Os dois exemplos mostram como a
de sílabas de um verso. Essa estrutura em sílabas exploração da sonoridade das palavras e das suas
permite ao leitor identificar o ritmo do poema: tonicidades colabora para a configuração do ritmo no
texto poético.
Rima
A rima é o resultado de sons iguais ou semelhantes
entre as palavras, no meio ou no final de versos
As sílabas poéticas ou métricas não são contadas diferentes. Há vários tipos de rima:
como as sílabas gramaticais. A contagem de
sílabas poéticas respeita o ritmo do poema, é feita Quanto à posição na estrofe:
auditivamente e vai apenas até a última sílaba
a) Cruzada ou alternada: (ABAB) O primeiro verso
tônica do verso.
rima com o terceiro, e o segundo com o quarto:
Dividir um verso em sílabas poéticas é chamado de
―Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada A
escandir. A escansão deve seguir determinadas
E triste, e triste e fatigado eu vinha; B
regras, tais como:
Tinhas a alma de sonhos povoada A
Os ditongos crescentes formam apenas uma E a alma de sonhos povoada eu tinha.‖ B
sílaba.
(Olavo Bilac)
Duas vogais podem formar apenas uma sílaba
b) Interpolada: (ABBA) O primeiro verso rima com o
quando uma delas se encontra no final de uma
quarto, e o segundo com o terceiro:
palavra, e a outra, no início da palavra seguinte.
―Para canto de amor tenros cuidados. A
Tomo entre voz, ó montes, o instrumento; B
Ouvi pois o meu fúnebre lamento; B
Se é que compaixão dos animados.‖ A
Quanto à tonicidade
Quanto à sonoridade
O Quinhentismo
As Origens da Literatura Brasileira
Esta expressão é a denominação genérica de
O estudo sobre as origens da literatura todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil
brasileira deve ser feito levando-se em conta duas durante o século XVI, correspondendo à introdução
vertentes: a histórica e a estética. O ponto de vista da cultura eu-ropéia em terras brasileiras. Não se
histórico orienta no sentido de que a literatura pode falar em uma literatura ―do‖ Brasil, como
brasileira é uma expressão de cultura gerada no característica do país naquele período, mas sim em
seio da literatura portuguesa. Como até bem pouco literatura ―no‖ Brasil – uma literatura ligada ao Brasil,
tempo eram muito pequenas as diferenças entre a mas que denota as ambições e as intenções do
literatura dos dois países, os historiadores homem europeu.
acabaram enaltecendo o processo da formação
No Quinhentismo, o que se demonstrava era
literária brasileira, a partir de uma multiplicidade de
o momento histórico vivido pela Península Ibérica,
coincidências formais e temáticas.
que abrangia uma literatura informativa e uma
A outra vertente (aquela que salienta a literatura dos jesuítas, como principais manifestações
estética como pressuposto para a análise literária literárias no século XVI. Quem produzia literatura
brasileira) ressalta as divergências que desde o naquele período estava com os olhos voltados para
primeiro instante se acumularam no comportamento as riquezas materiais (ouro, prata, ferro, madeira,
(como nativo e colonizado) do homem americano, etc.), enquanto a literatura dos jesuítas se
influindo na composição da obra literária. Em outras preocupava com o trabalho de catequese.
palavras, considerando que a situação do colono
Com exceção da carta de Pero Vaz de
tinha de resultar numa nova concepção da vida e
Caminha, considerada o primeiro documento da
das relações humanas, com uma visão própria da
literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura
realidade, a corrente estética valoriza o esforço pelo
informativa datam da segunda metade do século XVI,
desenvolvimento das formas literárias no Brasil, em
fato compreensível, já que a colonização só pode ser
busca de uma expressão própria, tanto quanto
contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por
possível original.
seu lado, também caracteriza o final do
Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo
Em resumo: estabelecer a autonomia brasileiro somente em 1549.
literária é descobrir os momentos em que as formas
A literatura informativa, também chamada de
e artifícios literários se prestam a fixar a nova visão
literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo das
estética da nova realidade. Assim, a literatura, ao
grandes navegações, empenha-se em fazer um
invés de períodos cronológicos, deverá ser dividida,
levantamento da terra nova, de sua flora, fauna, de
desde o seu nascedouro, de acordo com os estilos
sua gente. É, portanto, uma literatura meramente
correspondentes às suas diversas fases, do
descritiva e, como tal, sem grande valor literário
Quinhentismo ao Modernismo, até a fase da
contemporaneidade. A principal característica dessa manifestação
é a exaltação da terra, resultante do assombro do
Duas eras – A literatura brasileira tem sua história
europeu que vinha de um mundo temperado e se
dividida em duas grandes eras, que acompanham a
defrontava com o exotismo e a exuberância de um
evolução política e econômica do país: a Era
mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à
Colonial e a Era Nacional, separadas por um
terra aparece no uso exagerado de adjetivos, quase
período de transição, que corresponde à
sempre empregados no superlativo (belo é belíssimo,
emancipação política do Brasil. As eras apresentam
lindo é lindíssimo etc.)
Embora o Barroco brasileiro seja datado de A obra do Padre Antônio Vieira pode ser
1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e a dividida em três tipos de trabalhos: Profecias, Cartas
publicação do livro ―Obras‖, de Cláudio Manuel da e Sermões.
Costa, o movimento academicista ganha corpo a As Profecias constam de três obras: ―História do
partir de 1724, com a fundação da Academia futuro‖, ―Esperanças de Portugal‖ e ―Caves
Brasílica dos Esquecidos. Este fato assinala a Prophetarum‖. Nelas se notam o sebastianismo e as
decadência dos valores defendidos pelo Barroco e esperanças de que Portugal se tornaria o ―quinto
a ascensão do movimento árcade. O termo barroco império do Mundo‖. Segundo ele, tal fato estaria
denomina genericamente todas as manifestações escrito na Bíblia. Aqui ele demonstra bem seu estilo
artísticas dos anos de 1600 e início dos anos de alegórico de interpretação bíblica (uma característica
1700. Além da literatura, estende-se à música, quase que constante de religiosos brasileiros íntimos
pintura, escultura e arquitetura da época.
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 74
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
da literatura barroca). Além, é claro, de revelar um características no país seguem a linha européia: a
nacionalismo megalomaníaco e servidão incomum. volta aos padrões clássicos da Antigüidade e do
Renascimento; a simplicidade; a poesia bucólica,
O grosso da produção literária do Padre pastoril; o fingimento poético e o uso de
Antônio Vieira está nas cerca de 500 cartas. Elas pseudônimos. Quanto ao aspecto formal, a escola é
versam sobre o relacionamento entre Portugal e marcada pelo soneto, os versos decassílabos, a rima
Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos novos e optativa e a tradição da poesia épica. O Arcadismo
sobre a situação da colônia, transformando-se em tem como principais nomes: Cláudio Manuel da
importantes documentos históricos. Costa, Tomás Antônio Gonzaga, José de Santa Rita
Durão e Basílio da Gama.
O melhor de sua obra, no entanto, está nos
200 sermões. De estilo barroco concertista, O Romantismo
totalmente oposto ao Gongorismo, o pregador
português joga com as idéias e os conceitos, O Romantismo se inicia no Brasil em 1836,
segundo os ensinamentos de retórica dos jesuítas. quando Gonçalves de Magalhães publica na França
Um dos seus principais trabalhos é o ―Sermão da a ―Niterói – Revista Brasiliense‖, e, no mesmo ano,
Sexagésima―, pregado na capela Real de Lisboa, lança um livro de poesias românticas intitulado
em 1655. A obra também ficou conhecida como ―A ―Suspiros poéticos e saudades‖.
palavra de Deus‖. Polêmico, este sermão resume a
arte de pregar. Com ele, Vieira procurou atingir Em 1822, Dom Pedro I concretiza um
seus adversários católicos, os gongóricos movimento que se fazia sentir, de forma mais
dominicanos, analisando no sermão ―Por que não imediata, desde 1808: a independência do Brasil. A
frutificava a Palavra de Deus na terra‖, atribuindo- partir desse momento, o novo país necessita inserir-
lhes culpa. se no modelo moderno, acompanhando as nações
independentes da Europa e América. A imagem do
O Arcadismo português conquistador deveria ser varrida. Há a
necessidade de auto-afirmação da pátria que se
O Arcadismo no Brasil começa no ano de formava. O ciclo da mineração havia dado condições
1768, com dois fatos marcantes: a fundação da para que as famílias mais abastadas mandassem
Arcádia Ultramarina e a publicação de ―Obras‖, de seus filhos à Europa, em particular França e
Cláudio Manuel da Costa. A escola setecentista, Inglaterra, onde buscam soluções para os problemas
por sinal, desenvolve-se até 1808, com a chegada brasileiros. O Brasil de então nem chegava perto da
da Família Real ao Rio de Janeiro, que, com suas formação social dos países industrializados da
medidas político-administrativas, permite a Europa (burguesia/proletariado). A estrutura social do
introdução do pensamento pré-romântico no Brasil. passado próximo (aristocracia/escravo) ainda
prevalecia. Nesse Brasil, segundo o historiador José
No início do século XVIII dá-se a de Nicola, ―o ser burguês ainda não era uma posição
decadência do pensamento barroco, para a qual econômica e social, mas mero estado de espírito,
vários fatores colaboraram, entre eles o cansaço do norma de comportamento‖.
público com o exagero da ex-pressão barroca e da
chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde Marco final – Nesse período, Gonçalves de
a Renascença e atinge em meados do século um Magalhães viajava pela Europa. Em 1836, ele funda
estágio estacionário (e até decadente), perdendo a revista Niterói, da qual circularam apenas dois
terreno para o subjetivismo burguês; o problema da números, em Paris. Nela, ele publica o ―Ensaio sobre
ascensão burguesa superou o problema religioso; a história da literatura brasileira‖, considerado o
surgem as primeiras arcadas, que procuram a nosso primeiro manifesto romântico. Essa escola
pureza e a simplicidade das formas clássicas; os literária só teve seu marco final no ano de 1881,
burgueses, como forma de combate ao poder quando foram lançados os primeiros romances de
monárquico, começam a cultuar o ―bom selvagem‖, tendência naturalista e realista, como ―O mulato‖, de
em oposição ao homem corrompido pela Aluízio Azevedo, e ―Memórias póstumas de Brás
sociedade. Cubas‖, de Machado de Assis. Manifestações do
movimento realista, aliás, já vinham ocorrendo bem
Gosto burguês – Assim, a burguesia atinge uma antes do início da decadência do Romantismo, como,
posição de domínio no campo econômico e passa a por exemplo, o liderado por Tobias Barreto desde
lutar pelo poder político, então em mãos da 1870, na Escola de Recife.
monarquia. Isso se reflete claramente no campo
social e das artes: a antiga arte cerimonial das O Romantismo, como se sabe, define-se
cortes cede lugar ao poder do gosto burguês. como modismo nas letras universais a partir dos
últimos 25 anos do século XVIII. A segunda metade
Pode-se dizer que a falta de substitutos daquele século, com a industrialização modificando
para o Padre Antônio Vieira e Gregório de Matos, as antigas relações econômicas, leva a Europa a
mortos nos últimos cinco anos do século XVII, foi uma nova composição do quadro político e social,
também um aspecto motivador do surgimento do que tanto influenciaria os tempos modernos. Daí a
Arcadismo no Brasil. De qualquer forma, suas importância que os modernistas deram à Revolução
Central de Atendimento: (91) 987089524 / 983186353 ou pelo site: www.apostilasautodidata.com.br Página 75
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Francesa, tão exaltada por Gonçalves de evolução no comportamento dos autores românticos.
Magalhães. Em seu ―Discurso sobre a história da A comparação entre os primeiros e os últimos
literatura do Brasil‖, ele diz: ―…Eis aqui como o representantes dessa escola mostra traços
Brasil deixou de ser colônia e foi depois elevado à peculiares a cada fase, mas discrepantes entre si. No
categoria de Reino Unido. Sem a Revolução caso brasileiro, por exemplo, há uma distância
Francesa, que tanto esclareceu os povos, esse considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e a
passo tão cedo se não daria…‖. de Castro Alves. Daí a necessidade de se dividir o
Romantismo em fases ou gerações. No romantismo
A classe social delineia-se em duas classes brasileiro podemos reconhecer três gerações:
distintas e antagônicas, embora atochassem geração nacionalista ou indianista; geração do ―mal
paralelas durante a Revolução Francesa: a classe do século‖ e a ―geração condoreira‖.
dominante, agora representada pela burguesia
capitalista industrial, e a classe dominada, A primeira (nacionalista ou indianista) é
representada pelo proletariado. O Romantismo foi marcada pela exaltação da natureza, volta ao
uma escola burguesa de caráter ideológico, a favor passado histórico, medievalismo, criação do herói
da classe dominante. Daí porque o nacionalismo, o nacional na figura do índio, de onde surgiu a
sentimentalismo, o subjetivismo e o irracionalismo – denominação ―geração indianista‖. O sentimentalismo
características marcantes do Romantismo inicial – e a religiosidade são outras características presentes.
não podem ser analisados isoladamente, sem se Entre os principais autores, destacam-se Gonçalves
fazer menção à sua carga ideológica. de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto.