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Roteiro Didático de Direito Internacional


Prof. Dr. Jorge Luís Mialhe
ATOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS COLETIVOS
TRATADOS INTERNACIONAIS

Bibliografia básica:
ACCIOLY, H., NASCIMENTO E SILVA, G.E., CASELLA, P.B.
Manual de Direito Internacional Público. 21ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
CAMARGO, Pedro Pablo. Tratado de Derecho Internacional. t.I
Bogotá: Editorial Temis, 1983.
CASSESE, Antonio. Diritto internazionale. Bolonha: Il Mulino, 2006.
REZEK, J.F. Direito dos Tratados. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
VARELLA, M.D. Direito Internacional Público. 4ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

ATOS JURÍDICOS INTERNACIONAIS COLETIVOS (Tratados Internacionais)

1. CONCEITO: “tratado significa um acordo internacional concluído por escrito


entre Estados e regido pelo Direito Internacional quer conste de um instrumento
único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação
específica” (art. 2º., letra “a”, da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de
1969, promulgada pelo Decreto n.7.030 de 2009)

2. PRINCÍPIO FUNDAMENTAL: “Pacta sunt servanda. Todo tratado em vigor


obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa fé” (art. 26 da Convenção de
Viena de 1969)

3. QUEM PODE CELEBRAR TRATADOS?

Estados soberanos;
Organismos internacionais (via Convenção de Viena de 1986)
Determinadas coletividades não-estatais (Soberana Ordem de Malta, Comitê
Internacional da Cruz Vermelha em tratados sobre Direito Internacional
Humanitário ou “Direito de Genebra”).
Em suma: sujeitos do Direito Internacional Público, dotados de capacidade de agir.

4. TRATADOS INTERNACIONAIS CELEBRADOS PELO BRASIL1

 BILATERAIS
Em vigor: 3.145
Tramitando no Congresso Nacional: 65
Esperando ratificação: 144

 MULTILATERAIS
Em vigor: 1.650

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Fonte: Consultoria Jurídica do Ministério das Relações Exteriores e sítio da Universidade Católica de
Brasília. Prof. Dr. Antonio Paulo Cachapuz de Medeiros.
2
Tramitando no Congresso Nacional: 63
Somente assinados: 1.343

5. QUEM PODE ASSINAR UM TRATADO INTERNACIONAL

 Chefes de Estado ou de Governo


 Ministros das Relações Exteriores
 Embaixadores plenipotenciários
 Representantes acreditados junto a conferências ou organismos internacionais
 Qualquer pessoa com Carta de Plenos Poderes do Presidente da República.

6. ATOS INTERNACIONAIS QUE DISPENSAM APROVAÇÃO PELO


CONGRESSO NACIONAL

• acordos complementares, destinados a implementar tratado já previamente


aprovado pelo Congresso Nacional e que não gerem compromissos ou encargos
gravosos ao patrimônio nacional;

• atos relativos à prática diplomática rotineira.

Base legal: Artigo 84, inciso VIII, combinado com o artigo 49, inciso I, da Constituição
Federal.

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da


República:
(...)
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional;

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

A partir de 27 de outubro de 1999, por força do Aviso nº 1.872/99, do Ministro


Chefe da Casa Civil da Presidência da República, a Consultoria Jurídica do
Ministério das Relações Exteriores passou a exarar pareceres conclusivos sobre todos
os tratados internacionais celebrados pelo Brasil sujeitos ao referendo do Congresso
Nacional.

A Casa Civil da Presidência da República só dá início à tramitação se o


processo referente a tratado internacional estiver instruído com o parecer da
Consultoria Jurídica do Ministério das Relações Exteriores concluindo pela
constitucionalidade, juridicidade e boa técnica legislativa do instrumento
internacional.

7. ALGUMAS DENOMINAÇÕES DOS TRATADOS INTERNACIONAIS


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 Tratado
 Convenção
 Acordo (v.g., Acordo de Cooperação Antártica entre o Governo da República
Federativa do Brasil e o Governo da República do Chile, assinado em
26/01/2013)
 Ajuste complementar (v.g., Ajuste Complementar ao Acordo Básico de
Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o
Governo da República Democrática de Timor-Leste para implementação do
Projeto “Centro de Formação Profissional Brasil-Timor-Leste Consolidação e
Transferência – Quinta fase, assinado em 03/08/2012)
 Acordo por troca de Notas (v.g., Acordo, por troca de Notas, para
Flexibilização da Concessão de Vistos para Empresários, assinado em
24/05/2004)
 Acordos de sede (v.g., Acordo de Sede entre a República Federativa do Brasil e
a União de Nações Sul-Americanas – UNASUL para o funcionamento do
Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde – ISAGS, sediado na Cidade do
Rio de Janeiro, assinado em 20/04/2012)
 Protocolo (acordo que complementa tratado anteriormente assinado. V.g.,
Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, assinado em 11/12/1997)
 Memorando de Entendimento (v.g., Memorando de Entendimento entre o
Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Popular
da China sobre o Estabelecimento Recíproco de Centros Culturais, assinado
em 21/06/2012)
 Protocolo de Intenções (v.g., Protocolo de Intenções entre o Governo da
República Federativa do Brasil e o Governo da República do Benim para
Cooperação Técnica na Área de Inclusão Social por meio da Prática Esportiva,
assinado em 16/08/2011)
 Convênio (v.g., Convênio entre o Governo da República Federativa do Brasil e
o Reino da Espanha sobre Cooperação em Matéria de Combate à
Criminalidade, assinado em 25/06/2007)

8. ELEMENTOS DO TRATADO

• Título
• Preâmbulo (pode representar um importante apoio à interpretação do tratado, pois
nele podem ser encontradas disposições supletivas com o objetivo de suprir eventuais
lacunas do tratado julgados pela Corte Internacional de Justiça)
• Parte dispositiva (articulado)
• Disposicões finais (fecho)
• Assinatura
• Anexos (eventualmente)
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EXEMPLO: TRATADO DE ASSUNÇÃO (26/03/1991)

(Título)

TRATADO PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO COMUM ENTRE A


REPÚBLICA ARGENTINA, A REPÚBLICA FEDERTIVA DO BRASIL, A
REPÚBLICA DO PARAGUAI E A REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI

(Preâmbulo)

A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a


República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes";

Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais,


através da integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de
desenvolvimento econômico com justiça social;

Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz
dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das
interconexões físicas, a coordenação de políticas macroeconômicas e a complementação
dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade,
flexibilidade e equilíbrio;

Tendo em conta a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a


consolidação de grandes espaços econômicos, e a importância de lograr uma adequada
inserção internacional para seus países;

Expressando que este processo de integração constitui uma resposta adequada a tais
acontecimentos;

Conscientes de que o presente Tratado deve ser considerado como um novo avanço no
esforço tendente ao desenvolvimento progressivo da integração da América Latina,
conforme o objetivo do Tratado de Montevidéu de 1980.

Convencidos da necessidade de promover o desenvolvimento cientifico e tecnológico dos


Estados Partes e de modernizar suas economias para ampliar a oferta e a qualidade dos
bens de serviço disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes;

Reafirmando sua vontade política de deixar estabelecidas as bases para uma união cada
vez mais estreita entre seus povos, com a finalidade de alcançar os objetivos
supramencionados

Acordam:

(Articulando)

CAPÍTULO I
Propósitos, Princípios e Instrumentos
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ARTIGO 1
Os Estados Partes decidem constituir um Mercado Comum, que deverá estar estabelecido
a 31 de dezembro de 1994, e que se denominará "Mercado Comum do Sul"
(MERCOSUL).

(...)

CAPÍTULO IV
Adesão

ARTIGO 20 - O presente Tratado estará aberto à adesão, mediante negociação, dos


demais países membros da Associação Latino-Americana de Integração, cujas
solicitações poderão ser examinadas pelos Estados Partes depois de cinco anos de
vigência deste Tratado.
Não obstante, poderão ser consideradas antes do referido prazo as solicitações
apresentadas por países-membros da Associação Latino-Americana de Integração que
não façam parte de esquemas de integração subregional ou de uma associação extra-
regional.
A aprovação das solicitações será objeto de decisão unânime dos Estados Partes.

CAPÍTULO V
Denúncia

ARTIGO 21 - O Estado Parte que desejar desvincular-se do presente Tratado deverá


comunicar essa intenção aos demais Estados Partes de maneira expressa e formal,
efetuando no prazo de sessenta (60) dias a entrega do documento de denúncia ao
Ministério das Relações Exteriores da República do Paraguai, que o distribuirá aos
demais Estados Partes.

ARTIGO 22 - Formalizada a denúncia, cessarão para o Estado denunciante os direitos e


obrigações que correspondam a sua condição de Estado Parte, mantendo-se os referentes
ao programa de liberação do presente Tratado e outros aspectos que os Estados Parte,
juntos com o Estado denunciante, acordem no prazo de sessenta (60 ) dias após a
formalização da denúncia. Esses direitos e obrigações do Estado denunciante
continuarão em vigor por um período de dois (2) anos a partir da data da mencionada
formalização.

(...)

ARTIGO 24
Com o objetivo de facilitar a implementação do Mercado Comum, estabelecer-se-á uma
Comissão Parlamentar Conjunta do MERCOSUL. Os Poderes Executivos dos Estados
Partes manterão seus respectivos Poderes Legislativos informados sobre a evolução do
Mercado Comum objeto do presente Tratado.

(Disposições finais)

Feito na cidade de Assunção, aos 26 dias do mês de março de mil novecentos e noventa e
um, em um original, nos idiomas português e espanhol, sendo ambos os textos
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igualmente autênticos. O governo da República do Paraguai será o depositário do
presente Tratado e enviará cópia devidamente autenticada do mesmo aos Governos dos
demais Estados Partes signatários e aderentes.

(Assinaturas)

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA ARGENTINA:


CARLOS SAUL MENEM
GUIDO DI TELLA

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL:


FERNANDO COLLOR
FRANCISCO REZEK

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA DO PARAGUAI:


ANDRES RODRIGUES
ALEXIS FRUTOS VAESKEN

PELO GOVERNO DA REPÚBLICA ORIENTAL DO URUGUAI:


LUIS ALBERTO LACALLE HERRERA
HECTOR GROS ESPIELL

(Anexos)

ANEXO I
Programa de Liberação Comercial

ARTIGO PRIMEIRO

Os Estados Partes acordam eliminar, o mais tardar a 31 de dezembro de 1994, os


gravames e demais restrições aplicadas ao seu comércio recíproco.
No que se refere à Listas de Exceções apresentadas pela República do Paraguai e pela
República Oriental do Uruguai, o prazo para sua eliminação se estenderá até 31 de
dezembro de 1995, nos termos do Artigo Sétimo do presente Anexo.

9. CLÁUSULAS PROCESSUAIS E FINAIS


• Entrada em vigor
• Duração
• Emendas
• Adesões
• Reservas e Declarações Interpretativas

Ex: Reserva da Bolívia na CONVENTION UNIQUE SUR LES STUPÉFIANTS DE


1961, TELLE QUE MODIFIÉE PAR LE PROTOCOLE PORTANT
AMENDEMENT DE LA CONVENTION UNIQUE SUR LES STUPÉFIANTS DE
1961. NEW YORK, 8 AOÛT 1975:
“L’État plurinational de Bolivie se réserve le droit d’autoriser sur son territoire la
mastication traditionnelle de la feuille de coca et la consommation et l’utilisation de la
7
feuille de coca sous sa forme naturelle, à des fins culturelles et médicinales, ainsi que
son usage en infusion, de même que la culture, le commerce et la possession de la
feuille de coca à des fins licites. Dans le même temps, l’État plurinational de Bolivie
continuera de prendre toutes les mesures nécessaires pour contrôler la culture de la
coca afin d’en prévenir l’abus et d’empêcher la production illicite de stupéfiants
pouvant être extraits des feuilles”.

• Término
• Depositário

10. PROCEDIMENTO PARA A APROVAÇÃO DOS TRATADOS


INTERNACIONAIS NO BRASIL

 negociação (via poder executivo – Ministério das Relações Exteriores);


 assinatura ou adoção do protocolo de intenções (via poder executivo – art. 84,
inciso VIII da CF);
 remessa (por mensagem do Presidente da República) de todo o tratado ao
Congresso Nacional para que o examine;
 aprovação (pelo poder legislativo – art. 49, inciso I da CF – via decreto
legislativo, promulgado pelo Presidente do Senado Federal);
 ratificação, confirmação ou adesão (a partir da promulgação por decreto do
Presidente da República). Ratificação é um direito que assiste ao Chefe de
Estado e não um dever;
 promulgação por decreto assinado pelo Presidente da República, referendado
pelo Ministério das Relações Exteriores e publicado no Diário Oficial da
União;
 registro nas Nações Unidas com encaminhamento pela Divisão de Atos
Internacionais do Ministério das Relações Exteriores à Secretaria da ONU em
Nova York.

11. NULIDADE DE TRATADOS (arts. 46 a 53 da Convenção de Viena de 1969):


 Erro (fato ou situação que o Estado julgou existir na época em que o ajuste foi
concluído. Só anula o tratado que tenha atingido a base essencial do
consentimento para se submeter ao tratado. Se o erro é de redação, ele não
atinge a validade do tratado e deverá ser feita a sua correção. É normalmente
invocado em casos de definição de limites de fronteiras);
 Dolo (por conduta fraudulenta de outro Estado negociador. É raro na história
do Direito Internacional. Houve casos, na história colonial americana, em que
estados indígenas denunciaram declarações feitas em relação às “potências
civilizadas”, porque tinham sido ludibriados);
 Corrupção de representante de um Estado;
 Coação de representante de um Estado;
 Coação de um Estado pela ameaça ou emprego da força;
 Tratado em conflito com norma imperativa de Direito Internacional Geral (jus
cogens).
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12. O TRATADO PODE SER EXTINTO POR: execução integral, expiração de
prazos, acordo mútuo, denúncia ou impossibilidade de execução. (arts. 58 a 65 da
Convenção de Viena de 1969)

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