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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE

FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA DE


GARANHUNS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PROGRAMAÇÃO DO
ENSINO EM LÍNGUA PORTUGUESA

USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM LIVROS


DIDÁTICOS

ISRAELY CINTRA SANTOS

RAFAELLY MONTEIRO DE MACEDO LEITE

GARANHUNS - PE
2

2008

ISRAELY CINTRA SANTOS

RAFAELLY MONTEIRO DE MACÊDO LEITE

USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM LIVROS


DIDÁTICOS

Monografia apresentada ao Curso de Pós-


Graduação Lato Sensu em Programação do
Ensino de Língua Portuguesa, da Universidade
de Pernambuco - UPE, Faculdade de Ciências,
Educação e Tecnologia de Garanhuns, em
cumprimento às exigências para conclusão do
curso e obtenção do título de Especialista.

Orientador: Prof. Dr. Benedito Gomes Bezerra

GARANHUNS – PE
3

2008
ISRAELY CINTRA SANTOS
RAFAELLY MONTEIRO DE MACÊDO LEITE

USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM LIVROS


DIDÁTICOS

Aprovada em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________
PROF. Dr. Benedito Bezerra Gomes - Orientador

___________________________________________________
PROF. Examinador
4

“O homem com um novo conhecimento,


É um homem transformado”.
5

(Álvaro Vieira Pinto)


AGRADECIMENTOS

A Deus, que com imenso amor nos conduziu até a conclusão dos objetivos a que
almejávamos.
Ao professor Dr. Benedito Bezerra, nosso orientador, pela orientação segura, eficiente
e pela amizade, sem as quais este trabalho não teria sido realizado.
Aos professores, que compreenderam a nossa disposição em vencer o cansaço das
atividades diárias transformando-se em parceiros legítimos na conquista dos nossos ideais.
À família que apoiou e compreendeu os momentos de ausência, sempre nos
motivando a superar as dificuldades encontradas.
Aos colegas, agora feitos nossos irmãos, que compartilharam conosco toda sua alegria
e amizade, tornando-se um apoio indispensável à nossa caminhada:
Nossos sinceros agradecimentos!
6

RESUMO

Neste trabalho buscaremos pesquisar a respeito do uso dos gêneros textuais em livros
didáticos, tendo como objetivo abordar de que forma os gêneros textuais estão sendo
encontrados nos livros didáticos do Ensino Fundamental II. Sob este ponto de vista
Analisaremos as coleções dos livros didáticos de Willian Roberto Cereja (2009) Português
Linguagens, Ernani Terra (2009) Português para todos e Magda Soares ( 2002) Português
uma proposta para o letramento . Usaremos como fundamentação teórica as contribuições dos
PCNs (1998), de Mikhail Bakhtin (2000), Benedito Bezerra (2003), Ângela Dionísio (2002),
Luiz Antônio Marcuschi (2008) e outros. Posteriormente, apresentaremos as abordagens dos
gêneros textuais em LD. Quando abordaremos nos livros didáticos as diferenças existentes
entre as coleções a fim de constatar o uso dos gêneros textuais em livros didáticos e a
exploração didática como recurso para o ensino da Língua Portuguesa. No primeiro momento
faremos uma abordagem sobre a origem dos gêneros, destacando Bakhtin (2000). Mas os
capítulos apresentarão e discutiram as teorias e conceitos a respeito dos gêneros textuais,
fazendo uma ligação com outras fontes. Procuramos dimensionar algumas considerações
teóricas, que nos trazem significativas abordagens para o estudo dos gêneros em livros
didáticos.
Palavras-chave: Gêneros Textuais, Livros Didáticos.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................08

CAPÍTULO 1:GÊNEROS TEXTUAIS..................................................................................11


1.1 Teoria e Conceitos....................................................................................................11
1.2.Tipo Textual..............................................................................................................13
1.3.Gêneros Textuais......................................................................................................14
1.4.Suporte......................................................................................................................15
1.5. Livro Didático..........................................................................................................16

CAPÍTULO 2: GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO...............................................................17


2.1. Breve histórico do ensino de Língua Portuguesa...................................................17
2.2.Perspectiva no ensino dos Gêneros Textuais...........................................................18

CAPÍTULO 3: GÊNEROS TEXTUAIS E LIVRO DIDÁTICO..............................................21


3.1 O uso do livro didático para o ensino da língua.......................................................21
3.2. O livro didático na perspectiva dos gêneros e dos PCNs........................................23

CAPÍTULO 4: ABORDAGENS DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM LIVROS


DIDÁTICOS.............................................................................................................................24

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................34

REFERÊNCIAS........................................................................................................................36
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INTRODUÇÃO

Desde Aristóteles declara-se que o homem é um ser social e por isso tem a
necessidade de se comunicar. Precisa viver em sociedade ou comunidade para trocar
experiências e conhecimentos, utilizando-se da língua.
Como também a escrita foi uma necessidade de registrar suas comunicações, fatos
e acontecimentos, principalmente, entre as civilizações mais antigas até os dias atuais. Através
da história da escrita podemos identificar as várias formas criadas para se registrar, contar a
sua própria história e seus pensamentos.
Todo esse legado é uma construção de experiências interativas em que o homem
constrói sua própria cultura que é repassada de geração a geração. Posto que também se
registrasse na escrita seus sentimentos e emoções numa linguagem verbal tanto quanto visual.
A linguagem é constituída de símbolos que são utilizados pelo homem para uma
finalidade e utilizada em diversas práticas sociais. A linguagem verbal é o meio mais utilizado
para se comunicar, seja ela oral ou escrita, com a finalidade de interação.
Diante das interações estabelecidas, o discurso é um meio de comunicação, na qual
a língua é assumida pelo falante num contexto social. E a construção da comunicação verbal
só é possível por algum gênero textual, o qual contém aspectos linguísticos textuais.
Logo, a relação entre a língua e o discurso se dá pelos aspectos de suas atividades
interativas. E a linguagem e o gênero condicionam atividades enunciativas. Porém,
mostraremos neste estudo os gêneros dos livros didáticos que realizam as produções
comunicativas numa prática social.
Abordaremos o uso dos gêneros textuais em livros didáticos, pois esta questão é
muito discutida atualmente e buscaremos observar os mesmos nos compêndios. Nesse
contexto, DIONÍSIO (2002, p.33), nos esclarece que “os gêneros distribuem-se pelas
modalidades num contínuo, desde os mais formais e em todos os contextos e situações da vida
cotidiana”.
Então, os gêneros são textos formais e informais situados em contextos do
cotidiano. No entanto, as suas modalidades permitem identificar o tipo textual em todos os
9

gêneros textuais. Através do suporte que é o livro didático o tratamos como flexível e usual,
pois cada um tem um formato e condições diferentes nas suas abordagens.
Muitos dos estudos e pesquisas em torno dos gêneros textuais levam a uma
reflexão do seu uso nas práticas escolares e como o livro didático é utilizado nas mesmas
podendo assim ser lidos, interpretados e compreendidos de várias maneiras. O livro didático
comporta os mais diversos gêneros textuais para as mais diversificadas situações
socioculturais e cognitivas. Visto que, cada autor aborda os gêneros de maneiras estratégicas
para o professor em sua prática vivenciá-la em sala de aula. Mas, nem todos os livros
didáticos se enquadram ao meio social de cada aluno, por isso os PCNs dão uma idéia mais
clara da diversidade dos gêneros e suas perspectivas para o ensino dos mesmos. A partir desse
ponto os diversificados estudos em torno do ensino da língua portuguesa através dos gêneros
textuais não são novos, mas consideraram-se as diversidades de fontes e perspectivas.
A presente pesquisa busca contribuir para discussão já iniciada nos estudos
linguísticos a respeito do uso dos gêneros textuais em livros didáticos. Sendo que os gêneros
ocupam um grande espaço nas suas interações comunicativas, trabalhando as regras do uso
oral e escrito, de um gênero simples como bilhete a uma esfera mais complexa como um livro
de romance.
Partimos da hipótese de que através do cotidiano e da sua vivência no social, o
docente é capaz de identificar a transmutação do gênero a ser trabalhado, pois nesse contexto
o discente absorve, cria e recria novos gêneros. Mas mantendo uma comunicação interativa
serão desenvolvidas características discursivas e textuais.
Para o objeto de estudo, escolhemos os livros didáticos por abordar inúmeros
gêneros textuais, pois neles apresentam em seu sumário os tipos textuais trabalhados em cada
livro das coleções. Posto que também as coleções sejam sequências metodológicas para serem
seguidas nas práticas escolares. E os objetivos que orientaram nossa pesquisa foram:

 Identificar nos manuais didáticos as abordagens dos gêneros textuais que norteiam os
compêndios presentes nas atividades de produções textuais.
 Comparar e classificar os tipos textuais e os gêneros textuais para analisarmos suas
propostas didáticas.
 Analisar de que forma é tratada a questão dos gêneros textuais nos PCNs, para orientar
e desenvolver as práticas metodológicas.
10

Levando em conta estas considerações, a presente pesquisa aqui relatada visa


verificar como estão sendo utilizados os gêneros textuais nos livros didáticos. O resultado
desta pesquisa será apresentado, nesta produção, em quatro capítulos. O primeiro capítulo se
divide em cinco subtítulos. No item 1.1, faremos uma fundamentação teórica e conceitual
pertinente ao trabalho e destacaremos suas especificidades a respeito dos gêneros textuais a
partir de Bakhtin (2000) e Marcuschi (2008), o item 1.2, abordaremos acerca da definição do
tipo textual, no item 1.3, discutiremos uma fundamentação teórica dos gêneros textuais, no
item 1.4, daremos ênfase ao conceito do suporte dos gêneros que comportam os textos. Para
encerrar o capítulo, apresentaremos e discutiremos a definição do livro didático e sua
funcionalidade nas práticas.
No segundo capítulo apresentaremos os gêneros textuais no ensino de Língua
Portuguesa. A organização deste capítulo será em dois tópicos. No item 2.1, serão feitas
considerações gerais do histórico do ensino da Língua Portuguesa, aplicando algumas
considerações de Bezerra (2007), no item 2.2, faremos um panorama na questão do gênero e a
relação do mesmo com o ensino, ressaltando as considerações de Bakhtin (2000), apontando
Antunes apud Lima (2007), como também os PCNs ( 1998).
No terceiro capítulo, apresentaremos a relação entre gênero textual e livro didático
como também nos PCNs. Neste capítulo teremos dois subitens. No item 3.1, serão discutidos
os aspectos relacionados ao uso do livro didático para o ensino de língua e qual a relação
desses estudos para um contexto teórico-metodológico e sociohistórico dos gêneros, no item
3.2, faremos a relação entre gênero textual e livro didático dos PCNs, abordando a sua
importância e reflexão no estudo da Língua Portuguesa.
No quarto capítulo faremos uma análise dos gêneros textuais dos livros didáticos
de Língua Portuguesa do ensino fundamental (6º ao 9º ano) de Borgatto e Terra abordando
uma visão geral das coleções. Como também a investigação do livro didático será através de
exemplares significativos mostrando um importante recorte dos mesmos. Pois as coleções
seguem uma linha teórica metodológico-didático que auxilia o professor nas suas atividades
em sala de aula.
Concluiremos este trabalho, retomando a questão da diversidade dos gêneros
textuais para uma vivência em sala de aula, a fim de verificarmos se nossos objetivos foram
alcançados.
11

CAPÍTULO 1

GÊNEROS TEXTUAIS

Este capítulo apresentará os pressupostos teóricos que servirão de base para


confirmarmos os objetivos desta pesquisa. No primeiro momento faremos uma abordagem
sucinta sobre a origem dos gêneros, destacando Bakhtin (2000). Mas também, o capítulo
apresentará e discutirá as teorias e conceitos a respeito dos gêneros textuais, segundo
Marcuschi (2008), fazendo uma ligação com outras fontes.
Logo após esse estudo faremos uma fundamentação das partes significativas deste
trabalho. Assim, daremos relevância à definição de termos como: Tipo textual, Gêneros
Textuais, Suporte e Livro Didático.

1.1. Gêneros textuais: teorias e conceitos

Sendo uma questão tão relevante, o estudo dos gêneros textuais não é novo e teve
início com Aristóteles e Platão, que descobriram e iniciaram os estudos sobre os usos do
discurso e a retórica, baseados em especulações filosóficas. Conforme Bezerra (2006, p.46),
“a arte retórica desenvolve-se no sentido de capacitar escritores e oradores a produzirem
diferentes gêneros textuais, de acordo com diferentes propósitos e audiências particulares.”
Permite também observar uma teoria sobre os gêneros através de situações discursivas. E à
medida disso surgiram profundas reflexões para outros campos das ciências relacionados à
linguagem.
A partir do século XX, Bakhtin ([1979]; 2000 p.279) na sua teoria dos gêneros do
discurso enfatiza que “todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam,
estão sempre relacionadas com a utilização da língua”, ou seja, em qualquer meio social a
utilização da língua, seja oral ou escrita levam a uma relação com o outro. Embora ligados aos
enunciados orais ou escritos os gêneros estão vinculados numa forma de ação social no qual
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ocorre a interação. Sendo assim os enunciados podem ser denominados como os gêneros do
discurso. Para confirmarmos a questão do enunciado, Silveira (2008, p.66) diz que “os
enunciados são, portanto, elos da cadeia comunicativa, de continuun dialógico, que é a própria
dinâmica da linguagem humana.” Os estudos de Bakhtin sugerem uma divisão dos gêneros
primários ou simples e secundários ou complexos. O pensador russo mostra que os gêneros
primários são circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea e que os secundários
aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural.
Bakhtin (2000, p. 281) menciona alguns exemplos de gêneros primários “o diálogo
cotidiano ou carta” e dos gêneros secundários “o romance, o teatro, o discurso científico, o
discurso ideológico, etc”. Ele também cita o exemplo da escrita como complexa e evoluída,
podendo ser: artística, científica e sociopolítica.
De comum acordo de que a língua e a escrita tem uma relação, o gênero textual faz
a inter-relação entre os gêneros primários e secundários com a finalidade da transmutação
para denominarmos características particulares existentes na realidade.
Sendo assim, na atualidade podemos citar o conceito de gênero de Marcuschi
(2008, p.155). Segundo o autor:

Os gêneros textuais são todos os textos que encontramos em nossa vida diária e
que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por
composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente
realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas.

Observamos que houve uma grande trajetória para que esses estudos e análises dos
gêneros textuais pudessem chegar até nossos dias atuais. E percebemos também a abundância
e a diversidade dos gêneros textuais, pois ao passar dos dias surgem novos gêneros falados ou
escritos.
Hoje o estudo dos gêneros textuais torna-se um empreendimento cada vez mais
multidisciplinar, pois podemos ver que engloba uma análise do texto e do discurso, que busca
uma visão da sociedade e o uso da língua. Bakhtin (2000, p. 279) afirma que “a utilização da
língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam
duma ou doutra esfera da atividade humana”.
Diante disso os gêneros são as formas naturais pelas quais usamos a língua para
nos comunicar, nas situações formais e informais, orais e escritas, mas teoricamente como
formas culturais e cognitivas de ação verbal.
13

A partir daí observamos que estamos rodeados de gêneros a nossa volta, pois em
qualquer direção que olhamos poderemos observar a presença dos gêneros. Mas para isso é
preciso primeiramente reconhecer os gêneros para que possamos identificá-los em qualquer
situação.
Podemos então dizer que tudo está relacionado ao uso da língua, através de
enunciados orais e escritos. No entanto, o estudo dos gêneros é interdisciplinar para o
funcionamento da linguagem, no qual não devemos ver os gêneros como estanques, mas sim
como formas culturais e sociais. “Os gêneros textuais são dinâmicos, de complexidade
variável (...) são sócio-históricos e variáveis, não há como fazer uma lista fechada, o que
dificulta ainda mais sua classificação” (MARCUSCHI, 2008, p.159).
De modo que não há como chegar a uma classificação concreta de listagens de
gêneros textuais, pois com o passar dos dias crescem ainda mais as diversificações de
gêneros.

1.2.Tipo textual

Silveira (2005, p.40) afirma que “a noção de tipos textuais (ou tipos de textos) se
refere a traços lingüísticos característicos, tais como a dominância de certas formas verbais,
preferência por certas estruturas, etc.”. Pois, no tipo textual há particularidade em seus traços
linguísticos e nas suas categorias teóricas. Logo os designando como uma construção de
atividades discursivas internas e de seqüências linguísticas, o tipo textual, constituem uma
seqüência de enunciados. Foi proposto em uma nota de roda pé nos PCNs (1998, p.21, nota 3)
que :

As seqüências são conjuntos de composições hierarquicamente constituídas,


compondo uma organização interna própria de relativa autonomia, que não
funciona da mesma maneira nos diversos gêneros e não produzem os mesmos
efeitos: assumem características especificas em seu interior. Podem se
caracterizar como narrativa, descritiva, argumentativa, expositiva e
conversacional.

Assim os textos são materializados a partir das condições cognitivas, sociais e


lingüísticas baseadas nas sequências ou tipos, que Marcuschi (2008) define como
composições lingüísticas caracterizadas por aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais,
relações lógicas, estilo, caracterizando muito mais como sequências linguísticas (sequências
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retóricas). Posto que também na retórica e na teoria literária as tipologias textuais seguiram
uma tradição estrutural nas suas composições, Silveira (2005, p.40) afirma que:

...tipos de textos são “estruturas disponíveis na língua”, ou melhor, são formas


linguísticas convencionais de que o falante dispõe na língua quando quer
organizar o discurso. Essas formas são caracterizadas por determinados traços
linguísticos, “como tempo/aspecto/modo do verbo, pessoa do discurso
predominantemente referida, tipo de predicado, unidade semântica básica,
unidade sintática básica”.

Essas categorias existem em um número limitado e são conhecidas como:


narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. Pode-se dizer que em um gênero
textual pode predominar uma descrição, uma argumentação, uma narração, uma exposição,
uma injunção, porque nos gêneros textuais podemos encontrar os mais variados tipos.
Relevando essas considerações, os tipos e os gêneros se verificam numa produção textual, ou
seja, “pode-se constatar um determinado tipo textual entrando na composição de vários
gêneros” (SILVEIRA, 2005, p.41).

1.3. Gêneros textuais

São textos de qualquer natureza, literários ou não. Tanto na forma oral como na
escrita, os gêneros são como “eventos comunicativos e dotados de propósitos comunicativos
específicos” (SWALES apud BEZERRA, 2003), caracterizados por funções específicas de
organização retórica mais ou menos típica. São reconhecíveis pelas características funcionais
e organizacionais que exibem e também pelos contextos no qual são utilizados. “Os gêneros
são formas textuais escritas ou orais bastantes estáveis, históricas e socialmente situadas”
(MARCUSCHI, 2008, p. 155).
São formas de interação, reprodução e possíveis alterações sociais que se
constituem ao mesmo tempo. Pois os gêneros são uma “forma de ação social” (MILLER apud
MARCUSCHI, 2008, p.140). Diante disso, citaremos alguns exemplos de gêneros textuais
que seriam: telefonema, carta comercial e pessoal, receita culinária, reportagem, bilhete, bula
de remédio notícia jornalística, lista de compras, piada, conversação espontânea, romance,
instruções de uso, horóscopo, bate-papo por computador e assim por diante.
Os gêneros são tidos como instrumentos comunicativos que servem para realizar
essas atividades formais e informais de maneira adequada. Por isso, “os gêneros textuais se
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referem mais à noção de discurso, de uso da língua em situações de interação social definida”
(MARCUSCHI apud SILVEIRA, 2005, p.40). Com isso, a escrita varia na sua forma em
decorrência das diferentes funções que se propõe a cumprir, consequentemente, em
decorrência dos variados gêneros em que se realiza. Logo o gênero é caracterizado por seu
estilo, função, composição, conteúdo e canal. Pois a escrita possibilita a realização de alguma
atividade sócio-comunicativa entre as pessoas, em diversos contextos sociais. Nesses critérios
“os gêneros são designações sociorretóricas” , “ dinâmicos, de complexidade variável e não
sabemos ao certo se é possível contá-los todos” ( MARCUSCHI, 2008, p. 161).
Assim, pela escrita alguém informa, avisa, adverte, anuncia, descreve, explica,
comenta, opina, argumenta, instrui, resume, documenta, faz literatura, organiza, registra e
divulga o conhecimento produzido no cotidiano.

1.4. Suporte

A questão do suporte vem em um formato de base e para não confundi-lo com


gênero textual ele representa algo fixo que comporta o texto. Segundo Bezerra (2003)
ressalta:

O suporte se apresenta como uma coisa, uma superfície ou objeto físico ou


virtual, que permite a manifestação concreta e visível do texto. O gênero
provavelmente pode ser distinguido de seu suporte, na maioria das vezes, através
da consideração de que o texto não é um objeto.

O suporte deve ser algo real, estabilizado e transportado eficazmente, aplicando-se


preferencialmente aos suportes de gêneros escritos. “Pode-se dizer que suporte de gênero é
uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto”
(MARCUSCHI, 2008, p. 174).
As discussões sobre o suporte são novas e há poucas investigações sistemáticas a
respeito do suporte dos gêneros textuais. Acerca disto nos esclarece Marcuschi (2008, p.175):

É muito difícil contemplar o contínuo que surge na relação entre gênero, suporte
e outros aspectos, pois não se trata de fenômenos discretos e não se pode dizer
onde um acaba e outro começa. “O suporte não deve ser confundido com o
contexto nem com a situação, nem com o canal em si, nem com a natureza do
serviço prestado”.
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Há uma abrangência muito ampla a respeito desse tema que estamos abordando e
por ser difícil chegar a uma conclusão imediata do que seja suporte, “as ciências da linguagem
paradoxalmente tem ignorado o papel do suporte na comunicação escrita” (BEZERRA, 2006,
p. 20).
Conforme Marcuschi (2008, p. 175 e 177) o suporte tem três aspectos e dois tipos:
a) suporte é um lugar (físico ou virtual); b) tem formato específico; c) suporte serve para fixar
e mostrar o texto e aborda os tipos como (a) convencional e (b) incidental.
Assim, o suporte tem uma identidade definida e elaborada por Marcuschi que vem
a esclarecer a função de portadores ou fixadores de texto. Pois é “dentro de uma formação
discursiva, sendo que os textos sempre se fixam em algum suporte pelo qual atingem a
sociedade” (Marcuschi, 2008, p.176).

1.5. Livro didático

O livro didático engloba vários tipos e gêneros textuais que são encontrados em
grande quantidade, principalmente, no Livro de Língua Portuguesa. Bezerra (2006, p.22)
afirma que:

Dada a sua relação com um suporte material, os textos impressos em particular


apresentam com a característica de ocupar um espaço concreto e determinado.
Esse aspecto espacial se configura de maneira própria, por exemplo, no livro
como suporte material de gêneros os mais diversificados.

O livro didático é um exemplo de suporte material que apresenta características


próprias de uma funcionalidade típica pedagógica. Por isso, o livro didático é considerado
como suporte convencional. E a esse tipo de consideração Marcuschi diz:

..., particularmente o livro didático de língua portuguesa, é um suporte que


contêm muitos gêneros, pois a incorporação dos gêneros textuais pelo LD não
muda esses gêneros em suas identidades, embora lhe dê outra funcionalidade,
fato ao qual denominei reversibilidade de função (MARCUSCHI, 2008, p.179).

Sendo assim, os elementos que compõem os interesses e objetivos na escolha dos


gêneros textuais, visam não só a variação, mas a sua funcionalidade. Embora o livro didático
seja um suporte e os gêneros mantenham suas funções didaticamente eles assumem um
17

propósito naquele contexto como exemplo, produção, leitura e compreensão textual. Portanto,
o livro didático “é considerado como suporte de diversos gêneros textuais que constituem o
seu conteúdo principal” (BEZERRA, 2003).

CAPÍTULO 2

GÊNEROS TEXTUAIS E ENSINO

Neste capítulo apresentaremos um breve histórico á respeito do ensino de Língua


Portuguesa, voltado somente ao ensino de gramática normativa. Apresentaremos algumas
mudanças ocorridas para o uso do texto fundamentado por Bezerra in: Dionísio (2002).
Em seguida, faremos uma perspectiva teórica sobre o texto numa visão
sociointeracionista com análise na abordagem do ensino da língua voltado aos gêneros de
Bakhtin (2000), enfocando o ensino através do desenvolvimento das competências
comunicativas e das relações sociais.

2.1. Breve histórico do ensino da Língua Portuguesa

O estudo da Língua Portuguesa por volta da década de 50 no século XX era feito


nos manuais de gramática. Nessa década as pessoas que tinham o acesso às escolas eram
aqueles advindos de camadas sociais de classe média e alta, as quais falavam o português
padrão. Nesse contexto, os alunos conviviam e conheciam a norma padrão, então era possível
estudar as regras gramaticais sem dificuldades, pois o nível de letramento era elevado.
Mas o ensino passou a ser considerado um direito de todos os cidadãos. Assim,
havendo uma grande abertura para os alunos de outras camadas sociais com práticas de
letramento diferentes. Com isso, surgiram várias teorias diversificando a metodologia do
ensino de língua portuguesa, Bezerra (2002, p. 40) diz que:

... a teoria sócio-interacionista vygotskiana de aprendizagem, as de letramento e


as de texto/discurso, que possibilitam considerar aspectos cognitivos, sócio-
políticos, enunciativos e lingüísticos envolvidos no processo de
ensino/aprendizagem de uma língua.
18

Essa concepção reflete as condições metodológicas de interação e do


desenvolvimento do ensino da norma. No entanto, nas escolas permaneciam as mesmas
práticas de análise gramatical, juntamente com os estudos dos textos. Surgindo a partir da
década de 70 os livros didáticos com práticas de aulas e exercícios prontos e mecânicos.
Sendo assim, Bezerra ressalta “que se o meio não proporcionar desafios,
exigências e estímulos ao intelecto do indíviduo, ele pode não conquistar estágios mais
elevados de raciocínio”.
Com isso, ampliaram-se as pesquisas sobre a língua, ensino/aprendizagem,
letramento e as avaliações de programas específicos foram feitos para o ensino da língua. Na
última década do século XX, os livros didáticos e o ensino sofreram mudanças em seus
conteúdos metodológicos e práticos. O texto foi sendo cada vez mais presente no ensino, nos
livros e também numa sociedade atual de relações sociais complexas e múltiplas.
Contudo, as relações de prática possibilitam uma convivência individual no mundo
letrado com a diversidade dos gêneros textuais.

2.2. Perspectiva do ensino dos gêneros textuais

No estudo dos gêneros textuais a partir de uma base bakhtiniana, verifica-se um


relevante destaque para a teoria dos gêneros, a qual revela o enunciado como elemento
principal na construção discurso. Ressaltando que os gêneros textuais direcionam o uso da
língua em tempo real, Bakhtin afirma que:

O enunciado reflete condições específicas e as finalidades de cada uma dessas


esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela
seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e
gramaticais -, mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Esses
três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se
indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela
especifidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerando
isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora
seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos
gêneros do discurso (BAKHTIN, 2000, P.279).

Nesta citação reflete-se que todo o texto se forma de enunciados e para que isso
ocorra depende das condições e as finalidades para a construção do texto e que é também
formado através de atividades discursivas. A partir desse contexto, se integrou a Teoria dos
Gêneros na Lingüística Textual, podendo com esses estudos revelar uma abordagem
19

sociointeracionista. O objeto de estudo do ensino atual seja o texto, a Lingüística Textual é um


campo teórico em que suas perspectivas e métodos ultrapassaram a estrutura frasal. Com isso,
o texto foi visto como uma unidade básica de comunicação, interação social e de uma
integração de fatores textuais em situações sociocomunicativas.
Assim quando tomamos o texto como objeto de estudo do ensino poderemos
abordar neles os estudos dos gêneros textuais. Segundo Antunes apud Lima (2007, p.35) adota
uma abordagem com base nos estudos dos gêneros que favorece:

a) a apreensão dos “fatos linguísticos-comunicativos” e não o estudo de “fatos


gramaticais”, difusos, virtuais, descontextualizados, objetivados por
determinações de um “programa” previamente fixado e ordenado desde as
propriedades imanentes do sistema lingüístico;
b) a apreensão de estratégias e procedimentos para promover-se a adequação e
eficácia dos textos, ou o ensino da língua com o objetivo explícito e determinado
de ampliar-se a competência dos sujeitos para produzirem e compreenderem
textos ( orais e escritos) adequados e relevantes;
c) a consideração de como esses procedimentos e essas estratégias refletem-se na
superfície do texto, pelo que não se pode, inconsequentemente, empregar
quaisquer palavras ou se adotar qualquer sequência textual;
d) a correlação entre as operações de textualizações e os aspectos pragmáticos da
situação em que se realiza a atividade verbal;
e) a ampliação de perspectivas na compreensão do fenômeno linguístico,
superando-se, assim, os parâmetros demasiados estreitos e simplistas do “certo” e
do “errado”, como indicativos da boa realização lingüística.

Esses aspectos que Lima cita em sua tese devem ser considerados para o ensino da
língua e para o trabalho com os gêneros ampliando as novas abordagens para o ensino/
aprendizagem da língua portuguesa. A linguagem é uma atividade discursiva e cognitiva que
possibilita a participação de um indivíduo no meio social. A proposta do ensino dos gêneros
textuais nos PCNs aborda sua importância e o valor do seu uso:

... nas atividades de ensino, a diversidades de textos e gêneros, e não apenas em


função de sua relevância social, mas também pelo fato de que textos pertencentes
a diferentes gêneros são organizados de diferentes formas (PCNs,1998 ).

A sugestão demonstra a utilização dos textos e gêneros de modo diversificado


ampliando a sua variedade em vários contextos. Outra orientação didática abordada por
Antunes apud Lima (2007, p.36) sugere que:

... uma seleção dos itens e conteúdos para cada unidade trabalhado no ano
letivo, com base em um “ determinado gênero, que seria objeto central dos
momentos de fala, de escrita, de leitura, de análise e sistematização linguística
em sala de aula.
20

A abordagem didática visa a desenvolver a capacidade comunicativa, a produção


dos gêneros em contextos situacionais de cada aluno. Então selecionando os gêneros de
acordo com suas relações sociais o associamos de acordo com o cotidiano do aluno. Assim,
podemos dizer que o ensino e a aprendizagem estão ligados às práticas sociais.
Portanto, o docente pode direcionar com clareza os propósitos comunicativos
didáticos dos gêneros para a compreensão e produção dos mesmos no ensino.
21

CAPÍTULO 3

GÊNEROS TEXTUAIS E LIVRO DIDÁTICO

Neste capítulo iremos fazer uma abordagem acerca do livro didático e a sua
relação no ensino da língua portuguesa fundamentado por considerações de Marcuschi
(2008), focalizando o livro didático como instrumento de trabalho no ensino de língua.
Em seguida, o capítulo enfatizará a importância dos PCNs (1998) na
transformação do livro didático na perspectiva dos gêneros.

3.1 O uso do livro didático para o ensino da língua

O conceito de gênero textual vem sendo discutido pelos estudiosos no ensino de


línguas. Levando a compreensão disso temos as várias correntes teóricas, principalmente, as
que foram comentadas neste trabalho como as de Bakhtin e a de Marcuschi. Com base nesses
estudos inseridos num contexto sociohistórico, os gêneros textuais abrangem muito mais do
que o ensino de uma língua que se restringiam somente às normas gramaticais. O que nos leva
a refletir sobre os gêneros textuais é que:

... operam, em certos contextos, como formas de legitimação discursiva, já que se


situam numa relação sócio-histórica com fontes de produção que lhes dão
sustentação muito além da justificativa individual. (MARCUSCHI, 2007, p.29).

Sendo assim, o livro didático passou a ser um suporte teórico-metodológico e de


grande importância para os professores e um apoio no uso do livro pelo aluno. Mas sabemos
que nem sempre isso acontece, haja vista que alguns acham que livro tira a autonomia do
professor ou que tem por finalidade de uma construção de conhecimentos dentro e fora da sala
de aula. Nos livros que serão realizadas as abordagens verificamos que ao final destes contém
O Manual do Professor que orienta o trabalho com os livros didáticos. Posto que em Terra
22

(2002, p. 5-6), o autor da coleção analisada diz no Manual do Professor o qual ele chama de
Assessoria Pedagógica que:

O Livro didático tem por finalidade contribuir para o processo educacional. Ele é
um dos instrumentos, mas não o único, a ser utilizado nos processos de
construção do conhecimento e de desenvolvimento das habilidades do aluno-
cidadão”. “... outros instrumentos são sugeridos como: livros de leitura, páginas
da internet, trabalhos de pesquisa, realização de projetos, busca de parceiros para
a aprendizagem na sociedade, cabendo a cada comunidade escolar selecionar as
atividades possíveis e mais adequadas a sua realidade.

Isto prova que através desta orientação a construção do conhecimento do aluno


pode sim ser através do livro didático, numa relação do texto como unidade de ensino e os
gêneros como objeto mediador do ensino – aprendizagem.
Desta maneira Ernani Terra faz uso da sua coleção com a Primeira Parte:
Fundamentação Teórica, Segunda Parte: Organização da Obra e Terceira Parte: Respostas dos
exercícios e sugestões encontrados no final do livro.
Em contrapartida adentramos também na verificação do uso do livro didático de
Ana Borgatto de Língua Portuguesa: tudo é linguagem, a qual aborda as sequências didáticas
no seu manual de forma teórica, tanto quanto no sumário de forma mais específica e depois
faz uma visão geral de toda a coleção. E nesse contexto a sistematização de ensino em toda a
coleção estabelece relações entre o texto de um mesmo tipo abordando vários gêneros textuais
criando relações de interdisciplinaridade. Sendo assim Ana Borgatto nesta coleção diz que:

... a abordagem focada nos diversos gêneros do discurso favorece o


desenvolvimento da percepção de que, mo mundo das linguagens, a produção de
sentidos é sempre contextualizada, circunstancializada em situações
especificas de comunicação e carregada de intenções. (2007, p.7).

O manual deste livro se encontra no final do livro destinado aos docentes e se


estrutura, basicamente, em quatro vertentes: Princípios gerais, Estrutura da coleção,
Orientações complementares para cada unidade e Sugestões de aplicação por bimestre.
Orienta o docente a trabalhar com a linguagem oral e escrita tanto em grupo como individual,
desenvolvendo a criticidade nas relações de interação entre os textos e o leitor aluno,
realizando assim suas inferências para a produção textual. Pensando dessa forma Marcuschi
aborda em seu livro Produção textual, análise de gêneros e compreensão um modelo de
trabalho em sequências didáticas de Joaquim Dolz, Michele Noverraz e Bernard Schneuwly
23

para o ensino dos gêneros nas séries fundamentais que os autores sugeriram para o ensino em
francês. Pois nos livros didáticos de Ana Borgatto e Ernani Terra abordam e citam em seus
manuais a sugestão dada por esses autores. Portanto, o uso do livro didático para o ensino de
língua deve ser analisado, implementado e avaliado para sua circulação, não sendo sua
produção fácil, mas um material que exige planejamento para os contextos situacionais nas
atividades desenvolvidas em sala de aula.

3.2 Os livros didáticos na perspectiva dos gêneros e dos PCNs

Quando pensamos em livro didático vemos que ele desempenha uma função
significativa na transposição didática da teoria dos gêneros. Quando lançado pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental (BRASIL,
1998), o documento mostra a importância dos textos em função das diversidades de gêneros.
Em função disso, “todo texto se organiza dentro de determinado gênero em função das
intenções comunicativas, como partes das condições de produção dos discursos, as quais
geram usos sociais que os determinam” (BRASIL, 1998, p.21).
Sendo assim os PCNs motivaram a reflexão no estudo do ensino de línguas. E
como os livros didáticos (LDs) fazem a nova transposição das “novas” teorias de ensino dos
mesmos, pois eles são um instrumento de trabalho do professor, ocorrendo que longo dos anos
houve uma nova adaptação. O professor como mediador do ensino deve mostrar que há
diversas formas de expressar nas situações, em contextos e entre os interlocutores. Então no
próximo capítulo abordará a análise dos gêneros trabalhados em livros didáticos numa
perspectiva dos PCNs.
Contudo, a análise das propostas dos PCNs numa base da teoria dos gêneros foi
um grande precursor para uma nova visão do ensino, enfatizando as diversidades dos gêneros
textuais.
24

CAPITULO 4

ABORDAGENS DOS GÊNEROS TEXTUAIS EM LIVROS DIDÁTICOS

Podemos constatar que no livro didático há vários gêneros textuais construídos


pelo ser humano, sendo um deles os gêneros publicitários, pois o encontramos inseridos no
livro didático.

Segundo a autora (PINTO, 2002, p.51):

Um gênero pode ser composto não só por um como por vários tipos de discursos
encaixados. A narração, por exemplo, aparece como tipo principal nos gêneros
romance, novela, conto. Entretanto, pode também surgir como um tipo menor ou
secundário nos gêneros enciclopédia, monografia, entre outros.
A multiplicidade de gêneros discursivos e a imprecisão quanto à sua classificação
levam os aprendizes a uma certa dificuldade para controlar as habilidades
comunicativas destinadas à produção de um gênero numa determinada situação
de comunicação.

Abaixo algumas anotações sobre o material analisado:

Em primeiro lugar, as abordagens estão sendo realizadas em livros didáticos de


Língua Portuguesa do ensino fundamental (6º ao 9º ano), no qual está sendo analisada a
questão de uso dos gêneros textuais.
Logo de início observamos que no sumário da coleção do livro didático de Ana
Borgatto, já vem especificando alguns gêneros textuais existentes em seu livro. Já na coleção
do livro didático de Ernani Terra não vem especificando.
Podemos observar que nos livros didáticos, de Borgatto, há vários gêneros, em que
encontramos a presença de vários gêneros publicitários e logo após vem um exercício
individual.
Já nos livros didáticos de Terra, contém alguns gêneros publicitários e o exercício
que se pede nestes livros é para ser feito individual ou em grupo.
25

VISÃO GERAL DA COLEÇÃO


26

COLEÇÃO ANA BORGATTO ERNANI TERRA

GÊNEROS TIPOS
TIPOS
GÊNEROS

- Narração - Diálogo extraído - Narração


- Conto - Argumentação de um conto
- Letra de Música
5ª - Piada
- Narração
- Narração
- Cardápio
- Artigos
- Descrição
- Narração
- Poema - Descrição - História em - Argumentação
- Anúncios - Narração quadrinhos
- Notícia - Narração - Poesia - Narração
- História em - Avisos - Exposição
quadrinhos - Argumentação - Conto - Narração
- Reportagem - Argumentação - Resenha - Narração
- Charge - Entrevista - Exposição

- Narração - Poema - Narração


- Conto - Exposição - Folclore - Narração
- Anúncios - Narração Brasileiro
- Fábula - Narração - História em - Narração
- Crônica - Exposição quadrinhos
- Reportagem - Exposição - Diálogo - Narração
- Entrevista - Narração - Teatro - Narração
6ª - Diários - Narração - Carta Pessoal - Narração
- História em - Carta Formal - Exposição
quadrinhos - Narração - Carta Aberta - Exposição
- Charge - Exposição - Notícia - Narração
- Notícia - Narração - Comédia - Narração
- Reportagem - Narração - Crônica - Argumentação
- Biografia - Argumentação - Letra de Música - Exposição
- Artigo de - Fábula - Narração
Opinião - Conto - Narração
27

- Crônica - Argumentação - Diário - Narração


- Letra de Música - Narração - Charge - Narração
- Conto - Narração - Carta Pessoal - Narração
- História em - Narração - História em - Narração
quadrinhos quadrinhos
- Romance - Narração - Letra de Música - Exposição
- História em - Descrição - Poesia - Narração
quadrinhos
- Crônica - Narração - Diálogo - Narração
7ª - Anúncios - Narração - Conto - Narração
- Texto expositivo - Exposição - Entrevista - Exposição
- Charge - Exposição - Crônica - Narração
- Reportagem - Exposição
- Textos de - Argumentação
Opinião
- Poema - Argumentação
- Anúncio - Argumentação
- Letra de Música - Argumentação
- Paródia - Narração

- Romance - Narrativa - Letra de Música - Narração


- Entrevista - Exposição - Texto Expositivo - Exposição
- Crônica - Narração - Versos - Narração
- Letra de Música - Narração - Manifestação - Argumentação
- Conto - Narração Artística
- Miniconto - Narração - Texto Dissertativo - Argumentação
- História em - Narração - História em - Narração
8ª quadrinho quadrinhos
- Ironia - Narração - Anúncio - Argumentação
- Notícia - Narração - Poesia - Narração
- Diálogo - Narração - Charge - Exposição
- Editorial - Argumentação - Poema - Narração
- Manifestos - Argumentação - Reportagem - Exposição
- Carta - Argumentação
- Anúncio - Exposição

(Quadro 1)

As Coleções didáticas escolhida para ser analisada foram: Tudo é Linguagem – 5ª


a 8ª séries – Ana Borgatto, Terezinha Bertin, e Vera Marchezi. E Português para todos – 5ª a
8ª séries – Ernani Terra e Floriana Cavallete.
28

As duas coleções didáticas analisadas propõem aos alunos escrever cartas,


notícias, reportagens, histórias em quadrinhos, fábulas, diálogos, poemas, diários,
propagandas etc. Sendo ainda muito frequente a proposta de redação em que se sugere a
escrita de narrações, descrições e dissertações. A narrativa é o tipo textual mais trabalhado nas
coleções. É muito bom ter-se constatado, de modo geral, nas coleções, uma grande quantidade
e variedade de sugestões de produção textual.
Os autores dos livros didáticos buscam maneiras de motivar os estudantes a
escrever com clareza, objetividade e coerência naquilo que escreve. Um exemplo
representativo é o que se transcreve abaixo, de um livro da 6ª série: Português para todos.

(1) Correio na escola – Experimente o prazer de escrever cartas. Para isso, escolha uma das sugestões a
seguir. Se quiser, pode fazer adaptações de cartas já escritas, mas não deixe escaparem boas idéias!
Sugestões: Trocar cartas com colegas da turma; Trocar correspondência com colegas de outra
classe (os professores podem ajudá-lo a trocar endereços e CEP); Escrever para o pai, a mãe, os
irmãos ou os primos que morem em outra cidade; Escrever cartas para autoridades (vereadores,
diretor da casa de cultura da cidade, secretário da saúde ou da educação, diretor da escola) fazendo
alguma reivindicação. Sele e coloque a carta numa caixa do correio (ou agência). Em poucos dias
você receberá uma carta e seus colegas também.

Vê-se aí o cuidado com a sugestão temática e com a estrutura composicional, que é


um procedimento positivo no ensino e na aprendizagem da escrita. Sugere a troca de cartas
entre os colegas, para que eles conheçam o pensamento uns dos outros.
As propostas de escrita que exploram o gênero carta favorecem a indicação de
destinatário para o texto, onde nem todos os livros analisados abordam este gênero. Durante
as análises nos LDs observamos que só alguns dos livros é que solicita trabalhar o gênero
Carta com os estudantes como você pode ter visto no quadro acima. Veja-se a proposta (2),
em um livro da 8ª série: Tudo é linguagem.

(2) Veja a seguir como deve ser estruturada uma carta:


 Local e data
 Destinatário
 Saudações ou formula de tratamento
 Corpo de texto
 Despedida
 Assinatura
Produza uma carta para o prefeito de sua cidade:
29

a. Utilize essencialmente o mesmo conteúdo proposto na Carta de Terra (ancoragem).


b. Sugira que seja organizada uma ação na cidade (proposta/ opinião).
c. Apresente-lhe razões (argumentos) para que seja rapidamente deflagrada uma campanha que
mobilize a comunidade para atuações que possam atender ao que é solicitado no documento.
d. Redija uma conclusão para a carta.
Não se esqueça de que o prefeito é uma autoridade e, portanto, a linguagem deve ser mais formal
(observe as formas de saudação e de despedida).

No (2) exemplo, temos uma proposta interessante, em que se indica o destinatário,


se apresenta uma sugestão temática e se dão informações sobre a estrutura composicional de
gênero do texto a ser produzido. Lidando com o fato de se tratar do prefeito, esse texto terá
implicações sobre o estilo do texto, definindo as formas de tratamento, o uso da variedade
escrita padrão, o tom de formalidade e respeito, a objetividade esperada nesse tipo de
correspondência. Possibilitando uma experiência com os alunos, a respeito dos usos sociais da
escrita. Esse exemplo também sugere a troca de cartas entre os colegas, para que eles
conheçam o pensamento uns dos outros. É sem dúvida, um destino mais interessante para os
textos dos alunos do que apenas ser corrigido pelo professor.
Agora observe uma atividade de um texto descritivo de um LD da 7ª série: Tudo é
linguagem.

(3) Descreva em um parágrafo as pessoas retratadas abaixo: a pele, o corpo, os olhos e os


cabelos, utilizando o mesmo recurso, a comparação.

(4) Leia a tira a seguir e observe que o cãozinho Snoopy também usa comparações para descrever a
“garota dos seus sonhos”.
E você, já tentou imaginar a “pessoa dos seus sonhos”? Faça uma pequena descrição de como essa
pessoa seria.

Na primeira atividade tem-se a imagem das pessoas que irão ser descritas pelos
alunos e em seguida serão feitas essas comparações. E já no outro exemplo tem-se uma
historinha em quadrinho que descreve “a garota dos seus sonhos”. E logo após pede-se para
que o aluno descreva a “pessoa dos seus sonhos”, já que na historinha vem mostrando a forma
de se fazer essa descrição. Podemos perceber que temos duas maneiras diferentes de
descrever alguém ou alguma coisa.
30

Vejamos agora um outro exemplo relacionado à entrevista que encontramos em


alguns LDs. Pois também não são todos que abordam esse gênero. O exemplo a seguir é de
um livro da 8ª série: Tudo é Linguagem.

(5) Vem logo de início uma compreensão inicial do que seja entrevista.
A entrevista esta dividida em duas partes:
a. Introdução ou abertura;
b. Perguntas e respostas.
A introdução tem dois objetivos:
 Apresentar o entrevistado;
 Contextualizar, situar o assunto da entrevista para o leitor.

(6) Atividade escrita: Parte A – Introdução. Com base no que é exposto na introdução, responda:
a. Quem é o entrevistado?
b. Do que se trata essa introdução?

Parte B – Entrevista. O entrevistado encerra a entrevista com estas palavras:


“Tenham coragem para sonhar e persistência para realizar seus ideais. Cada um de vocês é um
vencedor”.
a. A quem ele dirige essas palavras?
b. Por que motivo?

A articulação dessas atividades orienta os alunos em todo o processo de produção,


desde a introdução até a entrevista. Pois o autor orienta que para haver uma entrevista, deve
existir uma alternância de papéis entre entrevistador e entrevistado. Logo que é raro ver essa
orientação nos livros analisados. Veja-se o exemplo a seguir de um LD da 6ª série: Tudo é
linguagem, a respeito de entrevista:

(7) A entrevista tem a intenção de garantir uma aproximação maior entre o leitor e os fatos relatados,
trazendo o depoimento de quem está diretamente envolvido no fato que é objeto da reportagem.
A entrevista é um texto que faz a transcrição, isto é, registra por escrito um diálogo sobre
determinado assunto entre alguém que pergunta – o entrevistador – e alguém que responde – o
entrevistado.
Observe, nos textos das entrevistas a seguir:
 O trecho introdutório, que tem a função de situar o leitor no contexto em que a conversa
aconteceu.
 A entrevista propriamente dita que apresenta marcas especiais para orientar o leitor, como
no caso desta que vamos ler:
a. Negrito para destacar a mudança da fala do entrevistador.
b. Uso de colchetes ([ ]) para dar explicações ou informações conhecidas pelos
interlocutores, porém desconhecidas dos leitores.
31

Já este livro adota um método diferente com relação ao da 8ª série, pois de início
percebemos as diferenças existente entre ambos.
O livro didático da 8ª série vem logo explicando como deve ser feita uma
entrevista, dando assim algum suporte para a produção textual dos estudantes e logo após vem
um exercício ajudando a complementar o desenvolvimento dos alunos.
Mas já no livro da 6ª série, a entrevista vem embutida dentro do gênero reportagem
dando um complemento à unidade a ser estudada, com algumas explicações e atividades
escritas que não dão muito suporte.
Então cabe aos professores não deixar de lado as atividades complementares, para
que possam dar um complemento maior para as suas atividades, explorando de maneira
explícita as questões relativas às condições de produção e circulação de textos internos e
externos.
Os exemplos a seguir estão relacionados ao gênero diálogo que encontramos
inseridos em alguns livros didáticos da 5ª, 6ª e 7ª séries: Português para todos e logo abaixo o
da 8ª série: Tudo é linguagem.

(8) Antes da entrevista concedida por Haley Joel Osment, há um texto introdutório. Nele, é possível
perceber para que público foi feita essa matéria.
a. Que público é esse?
b. No caderno, copie do texto palavras (ou informações) que comprovem sua resposta.
c. Na sua opinião, essa entrevista desperta o interesse do público ao qual se dirige? Por que?

(9) Na primeira fala, o Palhaço dirige-se diretamente ao público.


a. Qual o objetivo de sua fala?
b. O cenário, nas peças de teatro, é o conjunto de materiais e objetos que compõem o lugar onde
os fatos acontecem (móveis, cortinas, painéis pintados com paisagens, luzes, etc.).
O que podemos notar de interessante a respeito do cenário nessa abertura?
c. De quem é a explicação entre parênteses?
d. Em vários momentos, João Grilo diz que Chico é “sem confiança”. O que isso significa?

(10) Copie o texto a seguir no caderno, eliminando as repetições por meio dos pronomes.
Época – O que os pais podem fazer para evitar os quadros de depressão?
Sandra – Desenvolver a auto-estima desde a infância. É a auto-estima que dá tranqüilidade e
segurança para enfrentar desafios e resolver desafios.
Época – Como se estimula a auto-estima?
Sandra – Incentivando a prática de esportes, atividades culturais, hobbies. Quando o jovem desiste
32

do vestibular dizendo que não acha o vestibular importante ou alegando não saber o que quer, é
porque o jovem tem medo do fracasso. O adolescente nunca repete de ano; desiste antes. O
adolescente nunca perde a namorada, desiste antes também. Teme perder porque não sabe o que é
capaz de conseguir. O adolescente precisa ser bom e reconhecido por alguma coisa que faz. Se não
for pelo lado positivo, pode adotar posturas negativas a fim de agredir o mundo por meio das
posturas negativas... (...)
Época – Como superar a crise da adolescência?
Sandra – Antes de tudo, não encarar a crise da adolescência como uma crise.
(adaptado de Época, 30 ago. 2004. p. 56.)

(11) Pelo emprego da linguagem não-verbal, o leitor tem apenas a extensão do que parece ser frases.
a. Como o leitor pode saber qual a entonação a ser dada nessas frases?
b. É possível fazer uma leitura do diálogo com base nesses recursos gráficos? Explique sua
respostas.
c. Qual seria a provável intenção do autor ao construir um capítulo dessa forma?

Em alguns livros das duas coleções analisadas traz o gênero diálogo como
podemos observar nos exemplos acima, destacando as diferenças de diálogos e atividades
propostas pelas autoras. No exemplo (8) antes da entrevista concedida por Haley Joel Osment,
há um texto introdutório. Nele é possível perceber para que público foi feita essa matéria, pois
está se referindo ao público jovem. E (9) no inicio do diálogo o Palhaço convida o público a
imaginar os elementos do cenário, tendo como objetivo apresentar o lugar onde a ação vai
acontecer. Já no (10) a atividade que é proposta pela autora solicita a participação dos alunos
para eliminar as repetições que aparecem no diálogo por meio dos pronomes. No (11)
exemplo, temos um diálogo não-verbal em que o leitor tem apenas as alternância dos nomes e
a extensão do que parece ser frases.
Identificamos que o uso do gênero diálogo é abordado com mais freqüência na
coleção de Ernani Terra, no qual encontramos três livros que abordam esse gênero ajudando
assim o leitor a reconhecer os vários tipos de diálogos verbais e não-verbais existentes. Mas a
coleção de Ana Borgatto não aborda muito o gênero diálogo, pois só encontramos um
exemplo em sua coleção.
Daí pode-se perceber as diferenças encontradas entre as coleções e a forma em que
está inserido o gênero entrevista e diálogo nos livros didáticos. Vejamos agora o exemplo do
gênero cardápio que encontramos em um livro da 5ª série: Português para todos. Da coleção
Ernani Terra:
33

(12)

1. Esse tipo de texto é normalmente encontrado em que locais? A quem ele se dirige? Para que ele
serve?
2. Dos itens apresentados no texto, quais você escolheria para fazer uma refeição rápida?
3. Os cardápios normalmente são divididos em seções. Por quê?
5. Você e um colega foram á lanchonete. Do cardápio, você pediu um sanduíche de presunto, um
refrigerante e um sorvete. Seu colega pediu um sanduíche de queijo, uma vitamina de frutas e uma
torta de morango. Na hora de ir embora, vocês resolveram dividir a conta. Quanto cada um
pagaria? Como essa conta poderia ser paga?
34

Observamos que logo de início tem-se o gênero cardápio para que depois venha
uma atividade escrita a respeito do assunto anterior. As questões são bem elaboradas, pois
envolvem português e matemática nas suas respostas. E em outra atividade proposta pela
autora pede-se para que “forme uma dupla com um colega e represente uma cena ocorrida em
um restaurante. Um fará o papel do garçom; o outro, do freguês. O freguês pede um prato que,
no momento, o restaurante não tem. O garçom deverá sugerir um outro prato, tentando
convencer o freguês à aceita-lo”. Vimos duas propostas diferentes em que envolve os
estudantes a participar ativamente nas atividades.
Só encontramos o gênero cardápio nesta coleção de Ernani Terra, porque a outra
coleção analisada de Ana Borgatto não vem com esse gênero em sua coleção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
35

Este trabalho teve como objetivo principal investigar o uso dos gêneros textuais
em livros didáticos de língua portuguesa, com base nas teorias acerca dos gêneros textuais.
Para isso, analisamos as coleções didáticas Tudo é linguagem (2007) e Português para todos
(2007).
Procuramos dimensionar algumas considerações teóricas, que nos trazem
significativas abordagens. Como se pode verificar, nas situações de investigações do uso dos
gêneros textuais encontrados nos livros didáticos, informações são coletadas para uma relação
lógica, teórica e metodológica. Havendo assim um relacionamento com os gêneros textuais e
o livro didático. São muitos os pontos de vista pelos quais a questão do livro didático pode ser
analisada.
Tais estudos puderam avaliar que os usos dos textos trouxeram novas abordagens
para o ensino-aprendizagem no ensino da língua portuguesa, e principalmente, uma nova
perspectiva baseada em gêneros textuais.
Nessa perspectiva, a escolha do livro didático não pode ser feita de qualquer jeito
pela escola. Ela precisa estar buscando um projeto maior de sociedade que atenda os
interesses de todos. Cabe à escola antes de escolher os livros didáticos analisar o que mais
corresponderia o aprendizado de seus alunos e qual livro estaria mais direcionado ao dia-a-dia
de nossos alunos. Os livros didáticos não são manuais a serem seguidos rigorosamente, mas
devem ser apenas mediadores de seus conhecimentos para os seus alunos. Segundo Citelli
(2005, p. 66), “o problema com tal modalização é que ficamos diante de obras que pouco ou
nada têm a ver com a realidade da maioria das crianças, refletindo quase sempre padrões de
vida de uma certa classe média que vive nos grandes centros urbanos”.
Portanto cada uma dessas críticas aponta para a necessidade de aprimoramento ou
modificação do livro, mas não se refere à necessidade de sua abolição.
A partir dos exemplos aqui citados, pode-se dizer que as coleções analisadas
abordam diferentemente cada gênero e o uso deles nos LD, em que cada autor tem um modo
diferente de trabalhar e desenvolver os conteúdos desse suporte que auxilia o professor no
decorrer dos dias em suas atividades.
Como se viu até aqui com algum detalhamento, a diversidade de gêneros presentes
nas coleções, além de enriquecer o universo do aluno e sua vivência lingüística, favorece o
desenvolvimento de sua capacidade de compreensão dos textos lidos e/ou ouvidos e promove
36

o aperfeiçoamento de seu potencial expressivo enquanto produtor de textos. No entanto cabe


ao professor promover a ampliação do contato com essas diversidades, sugerindo ao aluno
que identifique e pesquise, em seu contexto de vida, outros exemplos de textos representativos
dos gêneros trabalhados. Espera-se, assim, que ele desenvolva seu potencial de construir e
interpretar os discursos, de acordo com as situações em que se encontre.
37

REFERÊNCIA

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São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 277-326.

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DIONISIO, A. P.; MACHADO, A.R.; BEZERRA, M.A. Gêneros Textuais & Ensino. 5.ed.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2007, p. 37-46.

BEZERRA, B. G. Livro didático e livro acadêmico como suportes de gêneros textuais.


Comunicação apresentada no II ECLAE. João Pessoa: UFPB, 2003. Inédito.

_________, B. G. Gêneros Introdutórios em livros acadêmicos. 2006. Tese (Doutorado em


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CITELLI, Adilson. Linguagem e Persuasão. 16ª ed. São Paulo: Ática, 2005.

DIONISIO, A. P.; MACHADO, A.R.; BEZERRA, M.A. Gêneros Textuais & Ensino. 2.ed.
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LIMA, A.M.J. Os gêneros textuais e o ensino da produção de texto: analise de propostas em


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MARCUSCHI, L. A. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. 2.ed. São Paulo:


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___________. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In DIONISIO, A. P.;


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MACHADO, A.R.; BEZERRA, M.A. Gêneros Textuais & Ensino. 5.ed. Rio de Janeiro:
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Livros didáticos
38

BORGATTO, Ana; COSTA, Terezinha; CARVALHO, Vera. Tudo é Linguagem. 5ª. a 8ª.
séries.ed. São Paulo: Ática,2007.

TERRA, Ernani; CAVALLETE, Floriana Toscana. Português para todos. 5ª. a 8ª.séries.2.ed.
São Paulo: Scipione, 2002.

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