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PARA ONDE ESTAMOS INDO?

ESCATOLOGIA BÍBLICA

Francisco Gomes

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PARA ONDE ESTAMOS INDO?
ESCATOLOGIA BÍBLICA

Francisco Gomes

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Copyright © 2017 by Francisco Gomes

Todos os direitos reservados. Vedada a produção, distribuição, comercialização ou cessão sem


autorização do autor. Os direitos desta obra não foram cedidos.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

Diagramação
Laysa Souza

Capa
Rayanne Lima

Revisão
Do Autor

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha Catalográfica

Nóbrega, Thalita Borin


N754c O controle de convencionalidade como garantia de direitos. / Thalita Borin
Nóbrega. – Olinda: Livro Rápido, 2017.

218 p.

Contém bibliografia p. 209 - 216 (bibliografia localizada)


ISBN 978-85-5707-540-5

1. Direitos fundamentais. 2. Controle. 3. Constituição. 4. Princípios


morais. 5. Direitos humanos. I. Título.

342.7 CDU (1999)

Fabiana Belo - CRB-4/1463

Livro Rápido Editora – Elógica


Coordenadora editorial: Maria Oliveira

Rua Dr. João Tavares de Moura, 57/99 Peixinhos


Olinda – PE CEP: 53230-290
Fone: (81) 2121.5307/ (81) 2121.5313
livrorapido@webelogica.com
www.livrorapido.com

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“A terra é o único inferno que os cristãos irão
suportar, e o único paraíso que os descrentes
irão desfrutar”.

(Jonathan Edwards)

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...................................................................... 9
CAPÍTULO 1 - HERMENÊUTICA ESCATOLÓGICA ..... 11
CAPÍTULO 2 - HÁ SINAIS PARA O ARREBATAMENTO?
..................................................................................................... 15
Restabelecimento do atual Estado de Israel (Jr 29:14) ........... 17
O fim da Era da Igreja............................................................. 18
CAPÍTULO 3 - O “RAPTO” E A RESSURREIÇÃO............ 23
CAPÍTULO 4 - TODOS IREMOS A UM JULGAMENTO
..................................................................................................... 29
O Tribunal de Cristo (2 Co 5:10; Rm 14:10) ........................ 29
O que acontece depois do julgamento? ................................. 32
CAPÍTULO 5 - A GRANDE TRIBULAÇÃO ....................... 35
As Setenta Semanas de Daniel (Dn 9:24-27) ......................... 36
O Cordeiro e o livro selado (Ap 5, 6)..................................... 39
Os Sete Anjos e as Sete Trombetas (Ap 8:2-13; 9:1-21)........ 42
As duas bestas (Ap 13:1-18) .................................................... 45
As Sete Taças (Ap 15:1-8; 16:1-21) ........................................ 46
CAPÍTULO 6 - A BATALHA DO ARMAGEDOM ............. 49
CAPÍTULO 7 - O REINO MILENAR DE CRISTO............ 55
O Reino Milenar (Ap 20:1-10) ............................................... 56
A Igreja reinará com Cristo (Ap 20:4) ................................... 59

7
Os habitantes da terra ............................................................. 60
CAPÍTULO 8 - A REVOLTA DE SATANÁS E O JUÍZO
FINAL ......................................................................................... 63
O Juízo Final ........................................................................... 64
CAPÍTULO 9 - O ETERNO E PERFEITO ESTADO ......... 67
O monte de Sião ..................................................................... 70
Como seremos? ...................................................................... 71
Como será a cidade santa? ...................................................... 72
PARA ONDE ESTAMOS INDO? ........................................... 75
BIBLIOGRAFIA......................................................................... 77

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APRESENTAÇÃO

A respeito da Escatologia nasceu-me uma pergunta: nós


sabemos para onde estamos indo? Muitas vezes, dirigindo em ruas e
estradas, já me perdi e nunca quis admitir que estivesse perdido.
De fato, eu não acreditava estar perdido, pois confiava nas placas
de indicação (eu me perco frequentemente sem ninguém
perceber). Já pensei em pedir para o Departamento de Trânsito
da minha cidade colocar uma placa de advertência na avenida
onde moro: “casa de Francisco a 100 metros”. Daí um amigo me
disse: coloca um GPS no carro, desta forma, você não se perderá.
É óbvio, pensei! Com um GPS fica mais fácil e diminuem-se os
riscos de se perder. É melhor do que as placas.
No entanto, quando o assunto é Escatologia, escolhemos
a eixegese (que podemos comparar às placas), colocando nossos
noticiários no texto apocalíptico, ao invés da exegese (que seria o
GPS), tirando do texto bíblico os acontecimentos escatológicos e
comparando-os à realidade.
A difusão do ensino escatológico, em nossos dias,
tem crescido abruptamente. Os acontecimentos, sobre os quais se
lê, ouve e vê, despertam o interesse pela Escatologia. Quem nunca
ouviu falar dos Iluminatis ou ouviu áudios de videntes no
WhatsApp com profecias apocalípticas de destruição em grande
escala? Muitos produtos já foram sentenciados ao número da
besta e diversos líderes já foram nomeados como o Anticristo.
Essas informações cotidianas que perpassam as nossas
mentes têm nos aprisionado na seguinte indagação: como será o fim?
Por vezes, nos amedrontamos a ponto de não sabermos discernir.
Mas um pensamento em comum parece nos inquietar: estamos

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próximos do fim. Então, nos achamos caminhando numa estrada
sem saída, porque nos distraímos com as placas no caminho. Nós
acabamos discutindo sobre onde estamos ou onde quase estamos,
e, no fim das contas, perdemos de vista o real objetivo da história.
A Bíblia é o nosso GPS, assim, é para ela que devemos olhar e
buscar a resposta para a pergunta: para onde estamos indo?

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CAPÍTULO 1 -
HERMENÊUTICA ESCATOLÓGICA

O termo Escatologia origina-se das duas palavras gregas


eschatos e logos, e significa “doutrina das últimas coisas”. O indivíduo
e o mundo são objetos de estudo da Escatologia, que geralmente
tem sido entendida como se referindo a eventos que ainda virão a
acontecer, relacionados tanto ao indivíduo como ao mundo em que
ele vive. No âmbito do indivíduo, é dito que a Escatologia se
ocupa de assuntos tais como a morte física, a imortalidade e o
chamado “estado intermediário”, ou seja, o estado entre a morte
e a ressurreição geral. Com relação ao mundo, a Escatologia é vista
como tratando da volta de Cristo, da ressurreição geral, do juízo
final e do estado final das coisas.
A Escatologia como doutrina é vista a partir de diversas
perspectivas interpretativas. Ela pode ser chamada inaugurada ou
futura considerando, para esta distinção, a interpretação da
linguagem empregada nos textos escatológicos. A Escatologia
denomina-se como futura se consideramos o sentido literal da
linguagem; caso a linguagem seja interpretada como simbólica, a
Escatologia é denominada inaugurada.
Tradicionalmente, quatro interpretações principais foram
divulgadas. Os preteristas (passado) entendem que os
acontecimentos do Apocalipse, em grande parte, foram
cumpridos no Séc. I da Era Cristã, bem como em 70 d.C. na
queda de Jerusalém. A vertente historicista encara os eventos
apocalípticos como desdobramentos no tempo e no curso da
História. Por sua vez, a vertente futurista considera que grande
parte dos eventos do Apocalipse ainda não foram cumpridos.

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Finalmente, os idealistas identificam historicamente o simbolismo
do Apocalipse (batalha do Bem e do Mal) e são amilenistas, como
se verá a seguir.
Dois eventos apocalípticos dividem os evangélicos quanto
à interpretação. O primeiro deles é a segunda vinda de Cristo. Há
distintas vertentes interpretativas quanto ao evento se dar antes,
durante ou depois da Grande Tribulação, daí três correntes
exegéticas se distinguem:
a) Pré-tribulacionista: Cristo arrebatará a Igreja
antes da tribulação.
b) Meso-tribulacionista: Cristo arrebatará Igreja
durante o período da tribulação.
c) Pós-tribulacionista: Cristo arrebatará a Igreja
depois da tribulação.

O segundo evento é o Reino milenar de Cristo, descrito em


Apocalipse 20, que divide os intérpretes da Escatologia em
amilenistas, pré-milenistas e pós-milenistas.
O amilenismo defende que os mil anos não devem ser
entendidos literalmente, pois trata-se de uma linguagem figurada
para falar de toda a história da Igreja da primeira até a segunda
vinda de Cristo. Desse modo, considera que não devemos esperar
nenhum período de paz ou prosperidade terrena como
consequência do Reino milenar, mas que o Reino de Cristo é
completamente espiritual, no coração dos cristãos. Alguns
defensores notáveis do amilenismo são Agostinho e Martinho
Lutero.
O pré-milenismo é a vertente que considera a segunda
vinda de Cristo um evento que acontecerá antes do período de
mil anos de Apocalipse 20. Acredita que serão mil anos literais

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caracterizados por grande paz e prosperidade na terra devido à
presença física de Jesus reinando. São defensores do pré-
milenismo Justino Mártir, Charles Spurgeon, John
McArthur, John Piper e Billy Graham.
Por sua vez, o pós-milenismo considera que os mil anos
não devem ser entendidos literalmente, pois é figurativo e se
refere a toda a história da Igreja. Essa vertente acredita que
devemos esperar para a história da Igreja a evangelização do
mundo inteiro e seu completo desenvolvimento social,
econômico e cultural como fruto dessa evangelização. Para os
pré-milenistas a Grande Comissão (Mc 16:15-18) será bem-
sucedida e a maior parte das pessoas do mundo será convertida.
Alguns defensores desse pensamento são Atanásio, João
Calvino, John Knox, Jonathan Edwards, bem como a maioria
dos puritanos.
Quando entendida corretamente, a Escatologia - o estudo
das últimas coisas - é o estudo de para onde estamos indo. Rusell
Sheed, em sua Escatologia do Novo Testamento (1985), afirma
que “também somos tentados a adotar posições promulgadas por
professores e escritores prediletos sobre as interpretações do
Apocalipse”. Entretanto, muitos de nós não analisamos de perto o
Apocalipse nas Escrituras. Tudo o que a Bíblia ensina é
compreensível. Deus não perde o tempo Dele ou o nosso nos
contando coisas que são impossíveis para a nossa compreensão.
Para se entender Escatologia precisamos distinguir o
tempo de Deus (kairós) e o tempo do homem (chronos). O tempo
parece ser um assunto corriqueiro, pois ouvimos e falamos dele
constantemente no nosso cotidiano, mas torna-se quase
inexplicável quando tentamos defini-lo. Embora seja um assunto
comum, o tempo é desconhecido. Agostinho (2014) considera

13
que “o tempo é como vestígio da eternidade”. O tempo e a história
são elementos de suma importância para o Cristianismo.
Deus é o eterno presente. Esse é o kairós. O salmo
102:25,27 diz que “desde a Antiguidade fundaste [Deus] a terra
(...) Tu és o mesmo e os teus anos nunca terão fim”. A eternidade
faz parte de Deus, pois Ele a criou. Nada tem de mutável, nada de
pretérito. Deus é tempo do tempo. O tempo de Deus é infinito.
A brevidade dos dias estende-se de Adão até o fim dos séculos, o
que é uma exígua gota d’água se comparada à eternidade. Mas para
Deus não existe início, meio e/ou fim. Em Êxodo 3:13-14, Deus
revela Seu nome para Moisés. Na língua hebraica, o nome de
Deus (transliterado para o português como YHWH) é traduzido
como “Eu Sou”, o verbo ser conjugado no tempo presente. Logo,
o tempo de Deus é o presente.
O tempo do homem, por sua vez, tem início, meio e fim.
Esse é o chronos.
As revelações apocalípticas foram feitas no espaço de
tempo divino, não humano. Contudo, os que receberam essas
revelações no tempo de Deus converteram-nas para os homens,
no tempo humano. Não poderemos analisar as concepções das
profecias considerando o chronos, mas o kairós. Um exemplo disso
é a fala do profeta Isaias “um menino nos nasceu...” (Is 9:6). Neste
verso que fala da encarnação do Messias, o profeta faz um relato
no tempo presente, pois ele foi à eternidade (tempo de Deus).
Mas Jesus ainda não havia nascido. Isso só viria a acontecer 760
anos depois, no futuro (tempo do homem). Na visão profética
escatológica, o profeta se move no tempo de Deus.

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CAPÍTULO 2 -
HÁ SINAIS PARA O ARREBATAMENTO?

“Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia nem a hora


em que o Filho do homem há de vir” (Mt 25:13).

Uma questão que se coloca quando estudamos


Escatologia é a seguinte: as profecias e os acontecimentos são para
Israel ou para a Igreja? O que sabemos é que a história está sendo
preparada para a volta de Cristo e os planos relacionados a Israel
estão relacionados também ao cumprimento das profecias
escatológicas. Mas antes de tratarmos propriamente desse
assunto, precisamos fazer algumas considerações oportunas sobre
o discernimento das profecias, traçando algumas diretrizes para
disciplinar nossos pensamentos.
Para entender os sinais dos tempos e proceder à sua
análise, faz-se necessário distinguir o que o especialista em
profecia, Dr. Ed Hindson (1996), chama de fatos, suposições e
especulações.

a) Os fatos
Existem fatos afirmados claramente na revelação
profética. São exemplos o fato de que Cristo voltará para os Seus
e julgará o mundo, haverá um tempo de Grande Tribulação na
terra no final dos tempos, o conflito final será vencido por Cristo,
dentre outros.

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b) As suposições
A profecia baseada em fatos só nos revela certas coisas;
além delas, só podemos supor. Se estas suposições forem corretas,
irão nos levar a conclusões válidas, caso contrário, nos levarão a
especulações ridículas. Por exemplo, supõe-se que a Rússia
invadirá Israel nos últimos dias. Se isto é verdadeiro ou não,
depende da legitimidade da interpretação da profecia de Magogue
em Ezequiel 38-39.

c) As especulações
As especulações são conjecturas calculadas, baseadas em
suposições. Em muitos casos elas não têm nenhuma base
profética. Por exemplo, Apocalipse 13:18 diz que o número do
Anticristo, a besta, é 666. Devemos tentar supor o que isto
significa. Podemos especular que seja um número literal que
aparecerá nas coisas.
O que tem causado muito embaraço na interpretação das
profecias escatológicas é achar que nossas especulações são
verdadeiras e acreditar nelas como se fossem fatos. Quando
Benito Mussolini chegou ao poder em Roma, na década de 1920,
muitos especularam que ele podia ser o Anticristo que governaria
o mundo. Outros especularam que Adolf Hitler, que subiu ao
poder mais tarde na Alemanha, era o Falso profeta.
Feitas essas considerações, passaremos a tratar dos sinais
proféticos.
A Era da Igreja teve início no Pentecostes e terminará no
Arrebatamento, logo, a Igreja é a última peça do cenário
preparativo para o cumprimento profético dos acontecimentos
que dizem respeito a Israel e, concomitantemente, às nações.
Como podemos saber se está longe ou perto este grande dia para

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a Igreja? O Arrebatamento é um evento que não está diretamente
relacionado aos sinais dos tempos. Se estivesse, poderíamos
determinar uma data para seu acontecimento. Por outro lado, há
sinais que apontam para a Grande Tribulação que acontecerá na
terra. Paulo escreveu inúmeras cartas ratificando que a Igreja não
passaria pela tribulação; Pedro também assevera isso (2 Pe 2:9),
assim como João (Ap 3:10) e Jesus (Lc 21:36). Como a Igreja não
passará pela Grande Tribulação, então os sinais que anunciam que
esse evento está próximo indicam também que o Arrebatamento
está prestes a acontecer.
A nação de Israel é um super-sinal dos tempos, por isso o
retorno dos judeus à Palestina não é um fato histórico que deve
passar despercebido. Além disso, o fim da Era da Igreja é outro
ponto crucial que intensifica a expectativa do Arrebatamento.

Restabelecimento do atual Estado de Israel (Jr 29:14)

A Escatologia foi deixada de fora na Reforma Protestante


no Séc. XVI. Lutero e Calvino, por exemplo, afirmaram em seus
escritos que não achavam relevantes os estudos do Apocalipse.
Contudo, a atenção dos estudiosos da Bíblia se intensificou
quando Israel foi restabelecida como nação e muitos crentes estão
convencidos de que a segunda vinda de Cristo está próxima por
causa deste super-sinal.
Israel ficou aproximadamente 2.000 anos separado do seu
território por causa da profecia de Lc 23:28-30. A invasão do
General Tito em 70 d.C. espalhou os judeus pela terra como na
época do cativeiro babilônico, e o que se seguiu foi uma série de
diásporas ao longo da história.
A maioria dos judeus permaneceu no cativeiro
Babilônico. Os judeus que se encontravam na terra de Israel

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foram novamente levados à diáspora em 70 d.C. pelos romanos.
Este exílio romano criou comunidades na Europa e no norte da
África. As comunidades europeias estavam concentradas na
França, Espanha, Roma e Alemanha. Os judeus da França e
Alemanha ficaram conhecidos como ashkenazim (“alemão”, em
hebraico). Já os judeus da Espanha ficaram conhecidos como
sefaradim (“espanhol”, em hebraico), e permaneceram sob o
Império árabe por centenas de anos. Eles tinham conexão com os
judeus do norte da África e do Oriente Médio, que também
ficaram conhecidos como sefaradim.
A restauração de Israel como Estado aconteceu a partir de
diferentes imigrações que marcaram o retorno dos judeus à sua
terra. Na primeira imigração (1882-1903), o movimento sionista,
milhares de ashkenazim retornaram à Palestina. 35.000 famílias
oriundas principalmente do sul da Rússia retornaram com a
intenção de lá viver e trabalhar. Na segunda imigração, criação de
Kibbutz (xxxx), 40.000 pessoas oriundos da URSS imigraram
para Israel. Na terceira imigração (1914-1923) foram 40.000
imigrantes. Na quarta imigração (1924-1929), 82.000 imigrantes,
e na quinta imigração (1929-1939), 250.000 imigrantes.
Finalmente, em 1948 aconteceu a última imigração, que é
intitulada como imigração clandestina. No dia 14 de maio, por
intercessão direta do presidente Harry Truman, os EUA foram os
primeiros a reconhecer o Estado de Israel, causando surpresa
entre os diplomatas das Nações Unidas.

O fim da Era da Igreja

O próximo evento na cronologia profética é o


Arrebatamento da Igreja, que será seguido da Grande Tribulação,

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um período de sete anos de intensa agonia para os não salvos em
Cristo. Os sinais dos tempos estão se cumprindo.
Atualmente, estamos vivendo a Era da Igreja, a
dispensação da graça, que foi inaugurada no Pentecostes (At 2:1-
4). O que a Bíblia nos revela sobre a nossa Era? Apocalipse 1.19
parece nos apresentar uma divisão do livro: “escreve, pois, as coisas
que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas”. O capítulo
1 do livro descreve o Cristo ressurreto, correspondendo às “coisas
que viste”. Os capítulos 2 e 3 abrangem a Era da Igreja, as “coisas
que são”. E do capítulo 4 ao 22 o apóstolo João tem ordem para
descrever as “coisas que hão de acontecer depois destas”, ou seja,
a Grande Tribulação, a Segunda vinda de Cristo em glória, o
Milênio, e o Estado eterno.
As igrejas da Ásia devem ter sido escolhidas por causa do
seu caráter representativo. E, considerando a ordem em que estão
colocadas, provavelmente podemos ver nas sete cartas mais do
que uma aplicação literal: um panorama histórico sobre toda a Era
da Igreja na terra.

1) Igreja do primeiro século (Séc. I): Éfeso significa


relaxamento. A época da perda do amor no fim dos
tempos apostólicos.

2) Igreja Perseguida (Séc. II e III): Esmirna significa


amargura ou mirra, um unguento usado
especialmente para embalsamar os mortos. A época
das dez grandes perseguições1.

1
As dez grandes perseguições que a Igreja enfrentou foram promovidas pelos
imperadores: Nero (67 d.C.), Domiciano (81 d.C.), Trajano (108 d.C.), Marco
Aurélio (162 d.C.), Severo (192 d.C.), Maximiano (235 d.C.), Décio (249 d.C.),
Valeriano (257 d.C.), Aureliano (274 d.C.), Diocleciano (303 d.C.).

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3) Igreja misturada com o mundo (Séc. IV e V): Pérgamo
significa torre. Um período de grandeza terrena da
igreja nominal. Com a ascensão de Constantino a
igreja ganha notoriedade.

4) Igreja da consolidação do poder secular (Séc. VI e


XVI): Tiatira significa aquela que não se cansa de
sacrifícios. A época da igreja católica, com seu
sacrifício da missa eternamente repetido.

5) Igreja da Reforma (Séc. XVI): Sardes significa


renovação. A época em que a Igreja se renova como
resultado da Reforma.

6) Igreja das missões (Séc. XVIII): Filadélfia significa


amor fraternal. A reunião dos que creem que o amor
de Cristo é uma ligação mais forte que qualquer
vínculo a uma denominação. Esta reunião claramente
envolve preparação para o retorno do Senhor.

7) Final da dispensação (a partir do Séc. XX): Laodicéia


significa o costume ou julgamento do povo. O
período em que as pessoas acham que podem julgar o
que é certo, e então abandonam completamente a
Palavra de Deus. Por isso, elas são rejeitadas pelo
Senhor Jesus. Relativismo e idealismo são as insígnias
dessa igreja.

A “Igreja de Filadélfia” desencadeia os principais


avivamentos na história. Iniciado por John Wesley na Inglaterra,
George Whitefield nos EUA, dentre outros, até o avivamento da
Rua Azuza, que impulsionou dois missionários nórdicos, Daniel
Berg e Gunnar Vingren, a virem para o Brasil. A chegada desses
missionários a Belém do Pará resultou no surgimento das

20
Assembleias de Deus, e, por conseguinte, na maior explosão
avivalista brasileira. É a era das missões mundiais.
Entretanto, nos dias de hoje, os números expressivos de
conversões inicialmente podem nos fazem pensar que estamos
diante de um avivamento genuíno. Mas o que vemos dentro das
igrejas é uma apostasia esmagadora. Os grandes avivamentos da
história, verdadeiros e eficazes, foram precedidos por reuniões de
oração e mudança de comportamento por parte dos convertidos.
Na revelação dada a João no Apocalipse, uma das principais
características da igreja de Laodicéia é a ausência de Jesus no meio
dela. O texto diz: “estou à porta e bato...” (Ap 3:20). Expulsaram
Jesus da igreja. Traçando um paralelo com a nossa época,
percebemos que Jesus também está fora dos nossos templos. Por
quê? Os louvores não são mais para Ele e as pregações não são
mais centradas em glorificar a Ele, apesar de os templos estarem
cheios aos domingos.
Se considerarmos que as sete cartas destinadas às igrejas
da Ásia são cronologicamente proféticas, a igreja de Laodicéia
corresponde à última fase da Igreja na terra. Ela é uma réplica da
igreja atual e o fim da Era da Igreja é um sinal de que Jesus está às
portas para buscar a Igreja santa. A principal acusação de Jesus para
a igreja de Laodicéia, bem como para a igreja dos nossos dias, é o
seu nível de avivamento morno, isto é, um falso avivamento.

***

21
As Escrituras não apresentam sinais evidentes do
Arrebatamento da Igreja, mas os aponta para a Grande Tribulação.
Como a Igreja não passará pela Grande Tribulação, os sinais que
anunciam que esse evento se aproxima também acentuam a
brevidade do Arrebatamento. O cumprimento das profecias
apocalípticas está diretamente relacionado à nação de Israel, e seu
reestabelecimento como nação é um super-sinal para a Igreja estar
atenta. Além disso, o fim da Era da Igreja, ou seja, o fim da
dispensação da graça, se aproxima.

22
CAPÍTULO 3 -
O “RAPTO” E A RESSURREIÇÃO

“Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados


juntamente com eles nas nuvens, ao encontro do Senhor
nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor”
(1 Ts 4:17).

A ordenança de Jesus para Sua Igreja é anunciar ao mundo


o grande presente de Deus: a vida eterna, a ressurreição. A
pregação primitiva, conhecida como kerigma, e o ensino
doutrinário, conhecido como didaquê, tinham como ponto central
a doutrina da ressurreição. É dever de todo cristão pregar sobre
ela.
A ressurreição acontecerá em duas épocas distintas,
separadas por um intervalo de mil anos. A ressurreição dos justos,
antes do Milênio, e a dos ímpios, após o Reino milenar de Cristo.
A ressurreição dos justos é dividida em três fases. I Coríntios
15:23 fala sobre as primícias da ressurreição, Cristo. 1
Tessalonicenses 4:13-17 aponta para a ressureição que ocorrerá
durante o Arrebatamento, como veremos com mais detalhes neste
capítulo. E por fim, Apocalipse 20:4 mostra o desfecho que é a
ressurreição dos mártires na Grande Tribulação.
Nos textos originais do Novo Testamento não existe o
termo “arrebatamento”. O termo utilizado é harpazó, que significa
“apoderar-se com força”. O contexto histórico dessa palavra, no
grego, seria bem exemplificado em os nossos dias como a ação de
um batedor de carteira. Na língua inglesa também não aparece a
palavra arrebatamento, que é traduzida por “rapto”. A palavra
“arrebatamento” veio a surgir por volta de 1500 ou 1600 na

23
vulgata latina, quando foi traduzida por Jeronimo como rapie (=
arrebatar).
Como acontecerá o “rapto” ou arrebatamento? Jesus virá
até às nuvens. Seus pés não tocarão o solo como ocorrerá mais
tarde, quando Ele se revelar publicamente, descendo sobre o
Monte das Oliveiras em Jerusalém. Nos ares ocorrerá o encontro
de Jesus com Sua Igreja. Essa é a primeira etapa da Sua segunda
vinda. Por ocasião do Arrebatamento da Igreja, na terra se dará a
ressurreição dos mortos justos, bem como a transformação dos
vivos justos (1 Ts 4.16,17). Em Romanos 8:23 esse duplo milagre
é chamado de “redenção do nosso corpo”. O que acontece na
ressurreição dos justos é a continuação da primeira ressurreição,
iniciada por Jesus (1 Co 15.23) e concluída com os mártires (Ap
20:4). Em 1 Coríntios, o termo “ordem”, com relação à
ressurreição física dos justos falecidos, no original grego, indica
fileira, grupo, turma, como em formaturas de militares ou de
colegiais.
O Arrebatamento da Igreja marca o início do chamado
“dia de Cristo” (1 Co 1:8; Fp 1:6; 2 Co 1:14; 2 Tm 4:8). Esse dia
vai do Arrebatamento da Igreja à revelação de Cristo em glória. A
Igreja fiel será arrebatada ao encontro do Senhor, antes da Grande
Tribulação, que é também denominada de “ira vindoura” (Mt 3:7;
1 Ts 1:10; 5:9; Ap 6:16,17).
No momento do Arrebatamento se ouvirão três vozes (1
Ts 4:16): o alarido, a voz do arcanjo e a trombeta de Deus.

1) O “alarido”, ou grito, terá como objetivo acordar os


que “morreram em Cristo”, ou seja, os cristãos da Era da
Igreja.

24
A expressão “em Cristo” denota uma classe especial de
crentes redimidos durante o período em que a Igreja esteve na
terra, isto é, a dispensação da graça. O apóstolo dos gentios, Paulo,
elucida o ensino da substituição e identificação em Cristo em
diversas epístolas (Rm 8:1; 2 Co 5:21, dentre outras). A expressão
“em Cristo” aponta para os crentes “vestidos de Cristo” (Ef 4:24).
No livro de Gênesis vemos o relato de que Jacó se
camuflou com pele de cabrito e vestiu a roupa do seu irmão mais
velho, e, em seguida, foi ao encontro do seu pai. Ao tocar o filho
mais moço, Isaque sentiu Esaú ao invés de Jacó. Mesmo
reconhecendo que a voz era de Jacó, quando o tocou, sentiu o
pêlo, e quando o cheirou, sentiu o cheiro de seu filho mais velho.
Alguns capítulos depois deste relato, Jacó torna-se Israel.
Estabelecendo uma tipologia com a humanidade perdida, Jacó
carecia da benção do pai e foi até ele vestido de seu irmão mais
velho, assim como o cristão vai até o Pai celestial vestido de Cristo
para receber a benção do irmão mais velho. O Pai vê Cristo
vestido em nós e o cheiro do seu sangue está em nós, logo, o Pai
nos dá a benção que Cristo conquistou com sua vida de
obediência.
Em Mateus 25:1-13 lemos a parábola das dez virgens que,
dentre outros temas, aborda a ressurreição que ocorrerá no evento
do Arrebatamento da Igreja. “À meia noite, ouviu-se um grito: eis
o noivo, saí ao seu encontro!” (Mt 25:6). Esse grito será um
chamado para os que morreram em Cristo, isto é, morreram na
dispensação da Igreja.
A parábola narrada por Jesus tem como pano de fundo a
tradição oriental para as celebrações de casamento. Desse modo,
as dez jovens tinham a responsabilidade de cuidar da noiva, mas
apenas cinco delas eram prudentes. Estabelecendo um paralelo

25
entre esta noiva e a “noiva de Cristo”, a Igreja, podemos
considerar que o número cinco representa os cinco ministérios da
Igreja mencionados por Paulo: Pastor, Mestre, Evangelista,
Profeta e Apóstolo. Jesus então estaria qualificando duas classes
de ministério, a saber, um ministério prudente e um ministério
néscio.
Mas o que significa “dormir” (v. 5) na parábola das dez
virgens? Dormir na Bíblia tem duas conotações: apostasia (Rm
13:11,12; 1 Ts 5:4-8) e morte (1 Ts 4:13; Jo 11:11). Em Mateus
25:5 o significado é o de morte, porque todas as virgens, tanto as
néscias como as prudentes, dormiram. Se o texto tratasse de
apostasia, teríamos que admitir que as prudentes também
apostataram da fé. Além disso, as prudentes dormiram e não
foram afetadas pelo sono ou repreendidas pelo Senhor por
haverem dormido. Podemos concluir que o sono no verso 5 não
é algo negativo, até porque o centro da parábola é o verso 13 que
nos manda vigiar e orar.

2) A “voz do arcanjo” é, aparentemente, a voz do próprio


Senhor, que chamará para a ressurreição os santos do
Antigo Testamento.

Jesus apareceu com frequência ao Seu povo no Antigo


Testamento como o “Anjo do Senhor”. Eles serão chamados para
fora de seus túmulos com a voz que muitos deles conheceram e
ressuscitarão juntamente com os que “morreram em Cristo”
participando assim da primeira ressurreição “aperfeiçoados” (Hb
11:40; 12:23).

26
3) A “trombeta de Deus” encerrará a dispensação da
graça e reunirá os crentes vivos.

Em Israel, a trombeta era usada como toque de recolher.


No Arrebatamento da Igreja, ela encerrará a dispensação da graça.
Todos os crentes que estiverem vivos sobre a terra, no momento
da vinda do Senhor, serão “arrebatados juntamente com eles”, ou
seja, com os santos do Antigo e do Novo Testamento.
Nas Escrituras, o Arrebatamento é tratado a partir de duas
perspectivas: a pré-pascal, nos ensinamentos de Jesus antes de Sua
morte, nos Evangelhos; e a pós-pascal, nos ensinos de Jesus
ressurreto e em grande parte da teologia paulina (Paulo conheceu
Jesus no caminho para Damasco e aprendeu com Jesus
ressurreto). Em que momentos Jesus apresenta a doutrina do
Arrebatamento antes da Sua morte? No discurso do cenáculo (Jo
14-16), no dia anterior à crucificação, Ele diz aos discípulos
“voltarei e vos levarei para mim” (Jo 14:3). Ele repete essa
afirmativa por três vezes enfatizando o fato e o acontecimento do
Arrebatamento, um assunto, até então, misterioso para os seus
discípulos. Jesus garantiu ainda que o Espirito Santo daria a
revelação completa desse evento quando viesse. Ao apóstolo
Paulo foi dada essa revelação e ele a escreveu em suas cartas, a
exemplo de 1 Tessalonicenses 4:13-16, além de deixar registrado
o relato de sua própria experiência com um arrebatamento aos
céus (2 Co 12:1-4).

***

27
No fim da Era da Igreja (dispensação da graça), acontecerá
a primeira etapa da segunda vinda de Cristo. Os salvos que
estiverem vivos serão arrebatados e os mortos salvos do AT e do NT
serão ressuscitados.

28
CAPÍTULO 4 -
TODOS IREMOS A UM JULGAMENTO

“(...) aos homens está ordenado morrerem


uma vez, vindo depois disso o juízo”
(Hb 9:27).

Todos iremos a um julgamento. Os não salvos passarão


pelo Trono Branco para prestar contas de sua fé e obras, como
veremos nos capítulos finais deste livro. Mas, muito antes que isso
aconteça, os salvos terão que comparecer ao Tribunal de Cristo
para serem julgados pela prestação do serviço no Reino de Deus.
Esse evento acontecerá logo após o Arrebatamento da Igreja e
ressurreição dos mortos salvos.
Mas quais são as prerrogativas para ser salvo e ser
considerado filho de Deus? Arrepender-se, confiar e servir. A
porta de acesso ao Reino de Cristo é o arrependimento, ou seja, a
mudança de opinião e sentimento em relação ao pecado. O
arrependido confia unicamente na obra que Cristo fez na cruz do
calvário e, consciente dessa verdade, abandona tudo para servir a
Cristo. O cristão salvo entrega o seu direito de viver a Jesus.

O Tribunal de Cristo (2 Co 5:10; Rm 14:10)

O julgamento no Tribunal de Cristo é para os salvos e se


refere ao serviço prestado ao Senhor, por isso nossos pensamentos
não devem estar no que pensam a nosso respeito, mas no que
temos que prestar contas a Deus. O Tribunal tem uma dupla
função: julgar as obras (1 Co 3:11-15) e pagar salário por elas (Mt
20:8), e o julgamento diz respeito tanto à qualidade do serviço

29
quanto às motivações atreladas a eles. Observemos o texto de 1
Coríntios 3:11-15 a seguir:

“Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além


do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém
sobre esse fundamento formar um edifício de ouro,
prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de
cada um se manifestará; na verdade, o Dia a declarará,
porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual
seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou
nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a
obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o
tal será salvo, todavia como pelo fogo”.

Esse texto admite duas verdades. A primeira delas é que


ninguém vai se queimar no fogo, somente as obras, e a segunda é
que o fogo prova as obras no que se refere à sua qualidade. O
cristão pode edificar dois tipos de serviços para o Reino e, por essa
razão, as obras podem ser divididas em dois grupos: as que
resistem ao fogo, são as obras com valor de ouro, prata e pedras
preciosas; e as que não resistem ao fogo, são as obras de madeira, feno
e palha. Essas obras serão colocadas no fogo para queimar “e o fogo
provará qual seja a obra de cada um”. Como? Os olhos santos de
Jesus atravessarão a nossa alma (Ap 1:14) e Ele analisará o tipo de
obra e a razão de terem sido realizadas. Não existe obra que possa
salvar alguém (Tt 3:5), no entanto, depois de ter sido salvos,
temos que trabalhar no Reino (Ef 2:10).
Comecemos analisando as obras que resistem ao fogo. A
primeira delas tem o valor de ouro, que nas Escrituras significa
divindade. Todos os móveis do Tabernáculo eram decorados de
ouro e a Nova Jerusalém também será de ouro puro. Realizamos
obras de ouro quando adorarmos a Jesus como Deus, quando
oferecemos a Deus sacrifício de louvor (Hb 13:15) mesmo em

30
meio ao sofrimento, quando louvamos a Deus mesmo com o
coração partido. Por sua vez, a prata é o preço da redenção. Jesus
foi vendido por moedas de prata, e, quando os judeus iam para a
guerra, recebiam prata como reparação pela sua alma. Nossas
obras de prata estão relacionadas a ensinar a outros o caminho da
salvação. E as pedras preciosas são os salvos, as pessoas que levamos
a Cristos, nossos filhos na fé (Ml 3:17; 1 Pe 2:5). “Se a obra que
alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão”.
De outro modo, há as obras que não resistirão ao fogo. As
obras com valor de madeira representam o serviço feito com o
objetivo de buscar glória humana; o serviço com valor de feno é o
das obras aparentes (Mt 6:2,5,16); e finalmente a palha remete à
inconstância e às obras sem firmeza (Jr 23:28-32). Muitas pessoas
consideram que “apenas ir para o céu é o bastante”, mas ninguém
ficaria feliz se, ao chegar à sua casa, a encontrasse em chamas, sem
que nada mais se aproveitasse. Muitos serão salvos por crerem em
Jesus, mas se sentirão como nus diante do tribunal. Ló (Gn 19)
teve suas obras completamente queimadas no fogo. Tudo que ele
era e tudo que havia feito foram queimados, só que ele não se
queimou e nem mesmo sentiu o cheiro da fumaça. Ló é o retrato
perfeito do cristão que teve motivações incorretas, comparecendo
ante o Tribunal de Cristo. “Se a obra de alguém se queimar,
sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”.
A motivação do nosso serviço no Reino deve ser
unicamente o amor a Deus, pois o que foi feito por amor a Cristo
perdurará. As obras avaliadas dessa forma suportarão o fogo e
receberão o devido salário. “Bem está, servo bom e fiel, sobre o
pouco foste fiel, sobre muito te colocarei”. Não sucederá o
mesmo com obras geradas a partir do egoísmo.

31
O que acontece depois do julgamento?

Após o julgamento no Tribunal de Cristo, a Igreja


fiel será chamada a ter acesso à festa das Bodas do Cordeiro (Lc
22:30; Ap 19:7), onde Cristo e a Igreja se tornarão o centro das
atenções de todos os seres celestiais. Finalmente se cumprirá parte
da oração sacerdotal de Jesus proferida em João 17:24 que diz:
“Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também
comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me
conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo”. Ali
a Igreja será vista no seu aspecto universal. Ali estarão juntos todos
os santos do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Todos
os crentes do Oriente e do Ocidente tomarão assento à mesa de
Cristo (Mt 8:11). Os salvos, chegados de todas as partes da terra e
de todos os tempos, se saudarão festiva e alegremente. Finalmente
teve fim a batalha na terra e os salvos estarão livres de todas as
lutas, angústias, pecado e mal. Poder ver a divina e triunfante face
de Jesus compensará todas as lutas e tristezas sofridas na vida
terrena.
A grande ceia das Bodas do Cordeiro será para o
cumprimento das palavras de Jesus quando se encontrava no
cenáculo. Numa expressão e gesto de quem estava dando um “até
breve” a seus discípulos, Ele disse “...até aquele dia [nas bodas]
em que o beba de novo convosco no reino de meu Pai” (Mt
26:29). Esta celebração da ceia terá lugar somente no final das
bodas (sete anos depois do Arrebatamento). Esta ceia será para
lembrar a morte de Cristo. Ela deve ser lembrada aqui e na
eternidade. A ceia do cenáculo marcou o término da missão
terrena de Jesus (na esfera da terra) e deu início à sua missão
celestial (Jo 17:4,11,13); após essa celebração, Jesus “desceu” para

32
o sombrio vale da batalha. De igual modo, também, após a
celebração da ceia das Bodas, ele “descerá” para o sombrio vale do
Armagedom (Ap 19:11), a fim de terminar com aquela grande
guerra e, a seguir, estabelecer seu Reino milenar.

***

Os salvos arrebatados e os ressurretos passarão pelo


Tribunal de Cristo, que julgará o serviço prestado quanto à
qualidade e à motivação. Finalmente, todos participarão das Bodas
do Cordeiro e da grande ceia das Bodas, conforme prometido por
Cristo.

33
34
CAPÍTULO 5 -
A GRANDE TRIBULAÇÃO

“Porque haverá então uma tribulação tão grande, como


nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem
jamais haverá. E, se aqueles dias não fossem abreviados,
ninguém se salvaria; mas por causa dos escolhidos serão
abreviados aqueles dias” (Mt 24:21-22).

Há quem diga que a desolação descrita em Mateus 24:21-


22 já aconteceu no ano 70 d.C. No entanto, isto é um grande
equívoco. Primeiro que este relato descrito por Josefo, em sua
obra Guerra dos Judeus (1989), menciona 90 mil judeus levados
para escravidão. Este fato não é o cumprimento profético, porque
no tempo do imperador Adriano (132 d.C.) a destruição foi muito
pior. Em Daniel 12:1 está escrito que esse evento será um tempo
de angústia para Jacó como nunca houve.
Jesus fala aos discípulos a respeito de um tempo em que
as aflições do mundo serão terrivelmente intensificadas. Este
período é conhecido como a Grande Tribulação, um tempo de
aflição sem precedentes, em escala mundial, que antecederá a
parousia, a segunda vinda de Jesus à terra, em grande glória. Este
período será caracterizado pelo surgimento de um grande líder
mundial que exercerá domínio político, religioso e econômico à
frente de uma espécie de Império Romano renascido, composto
por várias nações confederadas. Ele agirá com liberdade e grande
ferocidade contra o povo de Deus, mas ao final deste período será
destruído pelo resplendor da vinda do Senhor.
Cenas indescritíveis na linguagem humana acontecerão
durante a Grande Tribulação. Grandes catástrofes climáticas e

35
geológicas, chuva de granizo e fogo misturado com sangue, só
para citar algumas. Por se tratar de uma época de grande
sofrimento, Deus não permitirá que a Igreja passe por ela,
retirando-a da terra antes que esse período comece. Sustentamos
a posição de que a Igreja não atravessará este período de
perseguição: “Como guardaste a palavra da minha paciência,
também eu te guardarei da hora da tentação que há de vir sobre
todo o mundo, para tentar os que habitam na terra” (Ap 3:10).
Trataremos agora de situar o período da Grande
Tribulação em meio ao cenário mundial e aos eventos bíblicos,
para que possamos ter uma visão mais ampla do tempo em que
vivemos e anunciar ao mundo o que há de vir. Para isso, vamos
começar estudando a profecia das Setenta Semanas registrada no
livro de Daniel.

As Setenta Semanas de Daniel (Dn 9:24-27)

Esta profecia abrange acontecimentos históricos que se


cumpriram com precisão dentro do tempo determinado e
também acontecimentos futuros que nos ajudarão a determinar o
período em que ocorrerá a Grande Tribulação. As Setenta
Semanas foram decretadas para o povo de Daniel, os judeus, e sua
santa cidade, Jerusalém. Assim, os eventos associados a ela devem
se cumprir sobre este povo e esta cidade. Conforme foi revelado
(Dn 9:24), seis eventos principais caracterizam este período e
todos devem se cumprir sobre Israel até o final das 70 semanas.

1) Extrair a transgressão;
2) Tirar o pecado da cidade;
3) Expiar a iniquidade da cidade;
4) Trazer a justiça eterna à cidade;

36
5) Selar a visão e a profecia relacionadas à cidade;
6) Ungir o Santo dos santos.

O termo “setenta semanas” traduzido literalmente é


“setenta setes” (“shabuas”, em hebraico), ou seja, setenta
conjuntos de sete que podem ser dias ou anos. Podemos concluir
facilmente que não se trata de 70 semanas de dias, pois em 490
dias não teria terminado o cativeiro na Babilônia, nem mesmo
teria vindo o Messias e a profecia não se cumpriria. Vemos que
neste caso trata-se de 70 semanas de anos, como em Levítico 25:8,
totalizando assim 490 anos divididos em três períodos: um
período de 7 semanas, um período de 62 semanas, e um período
de 1 semana.
O primeiro período tem início com a saída da ordem para
restaurar e reedificar a cidade de Jerusalém, que havia sido
destruída. Esta ordem, ou decreto, foi dada pelo rei Artaxerxes em
445 a.C. conforme registrado em Neemias 2:1-8 e não deve ser
confundida com ordens anteriores para reedificar o templo. A
duração desse período foi de 7 semanas, ou 49 anos, envolvendo
toda a reconstrução da cidade com suas ruas e o muro ao redor
dela.
Depois temos mais 62 semanas, ou 434 anos, que vão até
o Messias, o Cristo. Com uma precisão impressionante chegamos
a 33 d.C. ano em que morreu o Senhor Jesus. Neste ponto é
necessária uma observação, pois os anos considerados na profecia
são anos judaicos de 360 dias e não de 365 como no calendário
moderno. A ordem para reconstruir a cidade saiu em 14 de março
de 445 a.C. e a entrada de Jesus em Jerusalém foi em 6 de abril de
33 d.C. (diferença de 24 dias). Assim, vemos que este segundo
período se estendeu até a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém

37
no domingo antes da sua morte e ressurreição. Outros cálculos
podem ser feitos, uns apontam o batismo de Jesus, no início de
seu ministério, outros apontam sua morte, mas apesar das
imperfeições dos calendários e das falhas nos métodos de datação,
o fato é que acertamos em cheio em Jesus, o Messias.
Depois disso temos um intervalo de tempo
indeterminado, ou seja, a última semana não começa
imediatamente depois das outras sessenta e nove. Daniel 9:26 diz
que a morte do Messias e destruição da cidade deveria ocorrer
depois da 62º semana e antes da última semana: “depois das
sessenta e duas semanas, o Ungido será morto, e já não haverá
lugar para ele. A cidade e o lugar Santo serão destruídos pelo povo
do governante que virá”.
A última semana deveria começar a contar quando o
príncipe fizesse uma aliança que duraria uma semana. Porém, a
história mostra que isso não aconteceu na ocasião da destruição
de Jerusalém pelos romanos. Assim, vemos que, o povo “do
príncipe que há de vir” destruiu a cidade, mas o príncipe que faria
a aliança ainda não existia, seria um líder vindouro. Isso fica claro
pelas palavras de Jesus em Mateus 24:15, “quando vocês virem o
‘sacrilégio terrível’, do qual falou o profeta Daniel...”. Ele cita
Daniel 9:27 mostrando que mesmo em Seus dias este príncipe
ainda não tinha vindo e deveria vir nos tempos do fim, trazendo
grande tribulação. Esta é uma clara referência, que associa “o
governante” (ou “o príncipe”) de Daniel 9:27 com aquele que
colocará no templo o “sacrilégio terrível” de Mateus 24:15 e com
“o homem do pecado” de 2 Tessalonicenses 2:3, ou seja, o
Anticristo.
Por fim, a septuagésima semana ainda não começou e
estamos no intervalo entre a penúltima e a última semana. Esta

38
última começará quando o “governante”, um líder mundial
associado a uma espécie de Império Romano, fizer uma aliança
com muitos por um período de sete anos. Não devemos ver isso
como um “tratado de paz com Israel”, mas como uma “aliança”
(conforme o texto hebraico) com muitos países que favorecerá a
Israel que prosperará no início, possibilitando até a reconstrução
do templo que hoje está destruído. Na metade deste período, ele
romperá esta aliança, virá contra Israel e fará cessar os sacrifícios
oferecidos no templo.
As Setenta Semanas de Daniel:

1 semana (7 anos)
7 semanas (49 62 semanas Era da Igreja Grande Tribulação
anos) (434 anos) (na na terra
Reconstrução A dispensação
da cidade de contagem da graça há 1º 2º
Jerusalém termina no uma pausa na período período
tempo do contagem das de 3 de 3
Messias semanas) anos e anos e
meio meio

Messias Arrebatamento

O Cordeiro e o livro selado (Ap 5, 6)

Os selos, as trombetas e as taças são eventos que ocorrerão


na última semana de Daniel, na Grande Tribulação, e
representam o derramamento da ira de Deus sobre os habitantes
da terra que não lavaram as suas vestes no sangue do Cordeiro. A
visão de João, em Apocalipse 4, tem início no céu. O apóstolo vê

39
um livro em forma de rolo na mão direita daquele que está
assentado no trono, escrito de ambos os lados e selado com sete
selos. Para que o livro fosse aberto seria necessário romper os sete
selos que o fechavam e só então seu conteúdo poderia ser lido.
João chorou muito ao perceber que não havia ninguém digno de
abri-lo, mas um dos vinte e quatro anciãos lhe disse que o Leão
da Tribo de Judá havia vencido para abrir o livro e seus sete selos.
Os acontecimentos desencadeados por cada selo nos dão
uma visão panorâmica do período da Grande Tribulação. Eles
representam uma série de juízos que tem que acontecer antes que
Jesus venha para estabelecer seu Reino milenar sobre a terra. Os
eventos dos selos estão intrinsecamente ligados a Mateus 24.

1) Primeiro selo (6:1-2): a visão mostra um cavalo branco


e seu cavaleiro tem um arco, uma coroa e é visto como
um “vencedor determinado a vencer”. Uma possível
referência ao Anticristo e seu império estabelecido
com base no poder militar. A partir desse momento,
ele tem legitimidade para atuar e dará início ao
período de tribulação na terra.

Estima-se que aproximadamente bilhões de seres


humanas já passaram pela terra desde os dias de Adão. O maior
ser humano em questões de habilidades foi Jesus. Entretanto,
ainda está para surgir um homem, o Anticristo, que será
prodigioso e aparecerá para realizar proezas. Somente Cristo o
superou. O Anticristo e seu sistema de governo no prisma da
Bíblia entrarão em cena após o Arrebatamento da Igreja. A Nova
Ordem Mundial é um sistema auto existente que vai controlar
tudo. Seu governante conseguirá controlar principalmente a

40
segurança, os déficits financeiros e a inflação. Se ouvirá falar de
paz e prosperidade, mas o mal estará escondido. O engano só
poderá ser creditado se houver paz. O mundo será consolidado na
política, por meio de um sistema de democracia; na força militar,
com um exército unificado; na economia; e na religião, que será
ecumênica.

2) Segundo selo (6:3-4): aparece um cavalo vermelho e seu


cavaleiro tem uma espada e poder para tirar a paz da
terra. Fez com que os homens se matassem uns aos
outros. Isso retrata os grandes conflitos militares que
ocorrerão na Grande Tribulação.

3) Terceiro selo (6:5-6): surge um cavalo preto e seu


cavaleiro tem uma balança na mão. A voz indica que
haverá crise financeira. Será necessário um dia de
trabalho para comprar um quilo de farinha. A crise e
a fome são um provável resultado das guerras
desencadeadas no segundo selo.

4) Quarto selo (6:7-8): João vê um cavalo amarelo, seu


cavaleiro era a Morte e o hades o seguia. Tem poder
para matar 25% (3 bilhões) das pessoas da terra pela
espada, fome, pestes e pelas feras. O fato de o hades
seguir a Morte indica o destino destes mortos.

5) Quinto selo (6:9-11): os que morreram por causa do


testemunho de Jesus e da palavra de Deus são vistos.
Eles recebem vestes brancas e aguardam o restante de

41
seus irmãos que também deverão ser mortos como
eles. Veja a relação com Mateus 24:9,22.

6) Sexto selo (6:12-17): a abertura deste selo desencadeia


uma série de acontecimentos importantes.
a) Houve um grande terremoto;
b) O sol escureceu e a lua ficou vermelha como
sangue;
c) As estrelas caíram do céu;
d) O céu foi recolhido como um pergaminho;
e) Todas as montanhas e ilhas foram removidas
de seus lugares;
f) Os habitantes da terra se esconderam em
cavernas.

7) Sétimo selo (8:1): ao ser aberto o sétimo selo faz-se


silêncio no céu por meia hora. O livro está
completamente aberto e pronto para ser lido. Para que
o livro pudesse ser aberto, todos estes juízos tiveram
que ser enviados sobre a terra, e somente Jesus, o
Justo Juiz, pode realizar esta tarefa. Agora é chegado
o grande Dia do Senhor (Sf 1:7), o Reino foi entregue
e Ele reinará para sempre conforme a vontade de
Deus.

Os Sete Anjos e as Sete Trombetas (Ap 8:2-13; 9:1-21)

João vê os sete anjos que estão diante de Deus receberem


sete trombetas. Antes que eles toquem as trombetas, um anjo sobe
do Oriente com um incensário de ouro na mão e queima incenso
com as orações dos santos. A fumaça sobe diante de Deus e então

42
ele atira o incensário, com fogo do altar, sobre a terra. Houve
trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto.
1) Primeira trombeta (8:7): chuva de pedra, fogo e
sangue foram lançados sobre a terra. Foi queimado
um terço da terra, um terço das árvores e toda a relva
verde. A primeira taça derramada gera úlceras nos
homens e uma redução na disponibilidade de
alimento.

2) Segunda trombeta (8:8-9): algo como um grande


monte em chamas foi lançado ao mar. Possivelmente
um grande meteoro que danificará um terço do mar
e destruirá um terço das criaturas do mar e um terço
das embarcações.

3) Terceira trombeta (8:10-11): caiu do céu uma grande


estrela, absinto, queimando como tocha.
Possivelmente um míssil nuclear ou uma arma
química que danificará um terço dos rios e fontes de
água. Muitos morrerão contaminados. Como
consequência, um terço da água disponível no mundo
inteiro será poluída (Jr 9:15).

4) Quarta trombeta (8:12): foi ferido um terço do sol,


um terço da lua e um terço das estrelas, assim um
terço deles escureceu. Um terço do dia ficou sem luz,
e também um terço da noite. Esse evento é diferente
do sexto selo, pois aqui o sol, a lua e as estrelas apenas
perdem um pouco da sua luz. No sexto selo o sol fica
negro, a lua como sangue e as estrelas caem do céu.

43
Até aqui as pragas atingem diretamente a natureza e,
consequentemente, os homens. Mas as últimas trombetas
afetarão os homens. Os 3 “ais” anunciam as últimas 3 trombetas
e suas pragas.

5) Quinta trombeta (9:1-12): demônios como


gafanhotos e escorpiões vindos do abismo, liderados
pelo destruidor, o anjo do abismo (Abadom,
Apoliom), causam grande tormento aos que não tem
o “selo de Deus”. Esta praga durará 5 meses e os
homens procurarão a morte, mas não a acharão.

6) Sexta trombeta (9:13-21): é ouvida uma voz vinda dos


quatro cantos do altar de ouro que está diante de
Deus. São soltos quatro anjos que estavam amarrados
junto ao rio Eufrates (Jd 6). Eles ajuntam um exército
de 200 milhões para matar 1/3 da humanidade (2
bilhões de homens).

Antes da última trombeta, um anjo poderoso com um


livrinho na mão (Ap 10:1-11) anuncia que “não haverá mais
demora! Mas, nos dias em que o sétimo anjo estiver para tocar sua
trombeta, vai cumprir-se o mistério de Deus”. Isso liga a sétima
trombeta ao final da Grande Tribulação quando Cristo retornar
para iniciar Seu Reino milenar.
Outro parêntese que parece se abrir é o relato das duas
Testemunhas (Ap 11:3), dois profetas cheios do Espírito Santo
que atuarão em Jerusalém, com sinais e prodígios, durante os
últimos três anos e meio da Grande Tribulação (Dn 8:13).
Recebem poder para testemunhar 1.260 dias e, quando

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terminarem seu testemunho, serão mortos pelo Anticristo,
provavelmente num período entre a sexta e a sétima trombetas.
Seus corpos ficarão expostos por três dias e depois “ressuscitarão”.

7) Sétima trombeta (11:15-19): coincide com o final do


ministério das duas testemunhas. Uma forte voz
proclama que “o reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o
sempre”. É tempo de julgar os mortos, recompensar
os santos e destruir os que destroem a terra. Todos
estes eventos estão ligados à segunda vinda do
Senhor, assim, só podemos situar a sétima trombeta
após a Grande Tribulação, anunciando a parousia.

As duas bestas (Ap 13:1-18)

Este texto está diretamente ligado com Daniel 9:26-27 e


Mateus 24:15 que relatam o aparecimento de um líder mundial,
o Anticristo, sob influência direta de Satanás, que se oporá
abertamente a Deus e seu povo. Ele é representado neste texto
pela “besta que surge do mar”. Junto com ele atuará o Falso
profeta, que fará com que todos adorem a besta e os que resistirem
serão impedidos de comprar e vender. Atuarão juntos e serão
vencidos por Jesus na sua vinda (Ap 19:20).
Em suma, podemos observar que nos tempos finais
emergirá uma nova confederação mundial, comandada por um
homem poderoso inspirado por Satanás e apoiado por um líder
religioso carismático. Juntos implantarão um novo sistema
político, uma nova economia, uma nova religião e combaterão
cruelmente seus opositores. Este novo sistema prosperará
inicialmente e agradará a todos que são rebeldes e amam fazer sua

45
própria vontade, pois combaterá os valores absolutos e a fé em
Cristo.

As Sete Taças (Ap 15:1-8; 16:1-21)

As sete taças contêm sete pragas que completam a ira de


Deus. Elas são derramadas sucessivamente e atingem apenas os
que têm a marca da besta. Elas devem ser situadas entre a sexta e
a sétima trombeta em um período muito curto de tempo.

1) Primeira taça (16:2): abriram-se feridas malignas e


dolorosas naqueles que tinham a marca da besta e
adoravam a sua imagem. Isso situa a primeira taça na
segunda metade da Grande Tribulação, devido a
existência da imagem da besta e seus adoradores.

2) Segunda taça (16:3): o mar se transformou em sangue


como de um morto, e morreu toda criatura que vivia no
mar. Obrigatoriamente depois da segunda trombeta,
onde a catástrofe é apenas parcial.

3) Terceira taça (16:4): os rios e as fontes se transformaram


em sangue. Possivelmente depois da terceira trombeta.

4) Quarta taça (16:8-9): foi dado poder ao sol para queimar


os homens com fogo e eles amaldiçoaram o nome de
Deus, recusando arrepender-se e glorificá-lo.

5) Quinta taça (16:10-11): foi derramada sobre o trono da


besta, cujo reino ficou em trevas. De tanta agonia, os
homens mordiam a própria língua, e blasfemavam contra

46
Deus, por causa das suas dores e das suas feridas; mas não
se arrependeram.

6) Sexta taça (16:12-16): o rio Eufrates secou para dar


passagem ao exército dos “reis que vêm do Oriente”. Três
espíritos enganadores reúnem os reis do mundo inteiro
para a batalha do Armagedom.

7) Sétima taça (16 :17-21): saiu uma voz do santuário que


vinha do trono, dizendo: “Está feito!”. Houve, então,
relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto tão forte
como nunca houve antes. A grande cidade foi dividida em
três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. É o
final da Grande Tribulação.

***

Na septuagésima semana profética, enquanto os salvos em


Cristo desfrutam da ceia nas bodas do Cordeiro, os não salvos
estarão passando pela Grande Tribulação. Uma série de
julgamentos (os selos, as trombetas e as taças) cairá sobre a terra e
atingirá tanto a natureza quanto os homens. Nesse período o mundo
verá surgir o anticristo e o Falso profeta.

47
48
CAPÍTULO 6 -
A BATALHA DO ARMAGEDOM

“E o Senhor sairá, e pelejará contra estas nações, como


pelejou, sim, no dia da batalha. E naquele dia estarão os
seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de
Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será
fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá
um vale muito grande; e metade do monte se apartará para
o norte, e a outra metade dele para o sul. E fugireis pelo
vale dos meus montes, pois o vale dos montes chegará até
Azel. (...) Então virá o Senhor meu Deus, e todos os
santos contigo” (Zc 14:3-5).

Durante os primeiros anos da septuagésima semana


profética de Daniel, Israel se sentirá em plena segurança (Ez
38:8,14) por causa da aliança que fará com o Anticristo, um pacto
de 7 anos (Dn 9:27). Entretanto, quando os interesses do
Anticristo para com Jerusalém estiverem ameaçados, ele quebrará
sua aliança e invadirá Israel com seu exército, fazendo cessar o
sacrifício diário e colocando no templo de Jerusalém o sacrilégio
terrível (ou abominação da desolação, Mt 24:15; Dn. 12:11). A
imagem da besta será colocada no templo para ser adorada e todos
os que se recusarem a prestar essa adoração serão mortos (Ap
13:14-15). Haverá intensa perseguição aos judeus em todo o
mundo e haverá guerra nas montanhas de Israel. A cidade será
conquistada, as casas saqueadas, as mulheres violentadas e metade
da população deixará a cidade (Zc 14:2). Deus trará muitos povos
contra eles para executar seu juízo (Is 10:5-6; Ez 38:16).
Mas para entendermos o império mundial do Anticristo
e seus aliados, que se voltará contra Israel nessa ocasião,

49
precisamos fazer algumas considerações acerca do texto de Daniel
2:31-45. O sonho do imperador babilônico Nabucodonozor é
profético. Ele viu uma estátua (v. 32) constituída por uma cabeça
de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de cobre, pernas
de ferro (v. 33) e pés de ferro e de barro (v. 33). O versículo 34
relata “uma pedra que foi cortada, sem mãos” a qual feriu os pés
da estátua, destruindo-a completamente.
É o profeta Daniel que interpreta os elementos da grande
estátua. A cabeça de ouro representa o reino da Babilônia, o
império mais poderoso da época, governado por Nabucodonosor
por 41 anos. O peito e os braços de prata referem-se ao império
Medo-Persa. Os dois braços ligados pelo peito representam a
união dos Medos e dos Persas. O ventre e os quadris representam
o império Grego, um dos impérios mais extensos na história da
humanidade. As pernas de ferro são o último império da história,
o Romano. Os pés de ferro e barro indicam a fragilidade deste
império, que por um lado era poderoso (ferro), mas por outro,
frágil e decadente (barro). Ele tem maior poder do que qualquer
dos reinos anteriores, quebra e esmiúça a tudo em seu poder.
Apesar disso, tem uma fraqueza intrínseca, uma vez que barro e
ferro não se ligam. A unidade é impossível e o reino se toma
vulnerável por causa da tentativa de unir elementos que não se
unem. Finalmente, a “pedra que foi cortada, sem mãos” é a última
a ser mencionada, e é nela que se encontra o mistério da batalha
do Armagedom.
A revelação desses reinos na história está além do
conhecimento humano. Nabucodonosor achou favor da parte de
um grande Deus que mostrou o futuro a ele. Daniel põe ênfase
em que o sonho é certo, bem como a sua interpretação, porque
queria que o rei encarasse as suas implicações imediatas. Os

50
quatro impérios pagãos, mencionados simbolicamente na
profecia já existiram na história, comprovando a veracidade da
visão profética. Todavia, a visão da “pedra que foi cortada, sem
mãos” ainda não se cumpriu, pois trata-se do reino universal de
Jesus Cristo que ainda não foi literalmente estabelecido.
A revelação de Apocalipse 13:1-10 é sobre o império
governado pelo Anticristo. A besta descrita neste trecho é
primeiramente um sistema de governo humano, um império
mundial formado por dez países aliados, que surge como a forma
final do Império Romano. Comparando com Daniel 7:7,17,23
vemos que ela é o quarto animal que aparece na visão
representando o quarto grande império mundial. Ele combina as
principais características dos três anteriores: o império babilônico,
o medo-persa e o grego, caracterizados pelo leão, pelo urso e pelo
leopardo. As “sete cabeças” são sete reis ou ainda sete formas de
governo que passaram por este império (Ap 17:10).
No Império Romano da época em que João escreveu o
Apocalipse, cinco reis já tinham caído, um existia e o sétimo estava
por vir e duraria pouco. Este último é o Anticristo. Os “dez
chifres” representam dez reis que se colocarão sob a autoridade da
besta (Ap 17:12,13) compondo uma confederação de países que
formarão a base do Império “Romano” que ressurgirá nos últimos
dias. Todo poder deste império vem de Satanás, o dragão (Ap
12:9), que deu à besta o seu trono e é seu verdadeiro comandante.
Este sistema se caracteriza pela blasfêmia e pelo ódio ao povo de
Deus.

51
Dois sinais claros de que este império se encontra em seu
estágio final de formação são:

a) A presente situação política mundial provocada pela


globalização, que enfraqueceu a soberania das nações,
tornando-as vulneráveis a interferências externas tanto
na política quanto na economia. Vemos também o
progresso e a solidificação das alianças entre as nações
caminhando cada vez mais rápido para uma
administração mundial.

b) A revolta aberta contra os valores cristãos,


principalmente em relação à família e a fé absoluta,
provocando uma grande degradação moral, mudança
de paradigmas e abrindo caminho para o misticismo e
para práticas religiosas até então reprovadas.

Muitos pensam que a cura da “ferida mortal” da besta


significa que ela teria sido morta e ressuscitará no final dos tempos
para reinar por três anos e meio. Com base nisso, muitos supõem
que um terrível personagem do passado seria ressuscitado para ser
o grande líder mundial do futuro. Nomes como Judas, Nero,
Hitler, João Paulo II e outros, já foram sugeridos para este fim,
mas o fato é que Satanás não tem poder para ressuscitar ninguém
dentre os mortos. Mas se isto for aplicado não à pessoa da besta,
mas ao império representado por ela, a cura da “ferida mortal”
poderia ser o reavivamento do Império Romano que está
aparentemente morto, mesmo que seus valores nunca tenham
deixado de existir.

52
Voltemos então a tratar da batalha do Armagedom, que
será encabeçada pelo Anticristo antes do Milênio. Ezequiel 38 é
um capítulo profético contra as confederações de nações que se
levantarão contra Deus, no fim dos tempos. Armagedom, no
sentido geográfico, significa “montanha de Megido” e designa o
local onde acontecerá a batalha no mais amplo vale de Israel. É o
vale que os judeus chamam atualmente de Planície de Jezreel, que
vai do Monte Tabor até junto do Monte Carmelo. O Vale Megido
ou Asdraelom é também interpretado como “ lugar de tropas” ou
“ lugar de multidões”. Nele ocorreram guerras sangrentas com
vários personagens do passado que foram derrotados ali: Sísera (Jz
5,6); Acazias (2 Rs 9:27) e Josias (2 Rs 23:29,30).
Quando o Anticristo e as nações comandadas por ele
avançar com seus exércitos sobre Israel, o Senhor Jesus virá com
toda sua glória e exército de santos para triunfar na batalha do
Armagedom, destruindo todos os seus inimigos. Seus pés tocarão
o Monte das Oliveiras que se dividirá ao meio fazendo surgir um
grande vale por onde os judeus fugirão (Zc 14:4-5). Depois o
Senhor reunirá Israel e entrará em juízo com eles; formará um
povo que habitará em paz na terra durante os mil anos (Is 60:21).
Deus derramará do Seu Espírito sobre Israel e nunca mais
desviará deles o seu rosto.
Após a batalha do Armagedom, haverá o julgamento das
nações (Mt 25:31-46), para definir o destino das pessoas não salvas
durante a Grande Tribulação, de todas as nações que restarem
sobre a terra (Is 2:4; 14:1-2). Jesus, o Justo Juiz (At 10:42; Tg
4:12), assentado em Seu trono, julgará e separará os justos dos
ímpios. O critério para este julgamento será a maneira como
trataram Jesus, que está presente na vida de cada um de seus
discípulos (Jo 14:20; Mt 10:11-18; 40-42). Os justos entrarão para

53
o Reino que lhes foi preparado desde a fundação do mundo (v.
34) e os ímpios serão lançados no fogo eterno (v. 41), ou seja, o
lago de fogo, preparado para Satanás e seus anjos.

***

No fim da Grande Tribulação, quando o Anticristo começar


intensa perseguição contra Israel, Cristo voltará e travará a batalha
do Armagedom, da qual sai vitorioso. Essa será a 2º etapa da
segunda vinda de Cristo.

54
CAPÍTULO 7 -
O REINO MILENAR DE CRISTO

“Até que veio o Ancião de dias e foi executado o juízo a


favor dos santos do Altíssimo, e chegou o tempo em que
os santos possuíram o reino. (...) O reino, e o domínio,
e a grandeza dos reinos debaixo de todo o céu serão dados
ao povo dos santos do Altíssimo. O seu reino será um
reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe
obedecerão” (Dn 7:22,27).

O Milênio é um período de mil anos de reinado de Cristo


sobre a terra juntamente com sua Igreja glorificada. Muitas
interpretações e especulações sobre esse período trouxeram
grandes problemas para a Igreja. Alguns erram por tentar extrair
da Bíblia mais informação do que Deus se propôs a dar através
dela, outros por tentarem interpretá-la de maneira mística e
alegórica e outros por causa de uma má compreensão do que seja
o Reino de Deus. Por isso faremos algumas considerações com
relação ao Reino antes de estudarmos o Milênio.
O Reino de Deus não é um lugar, nem um sistema, nem
um povo, nem está restrito a apenas um período da história. O
significado básico da palavra βασιλεια (basileia) traduzida por
“reino”, é “reinado”, ela designa a posição e a existência do rei,
trazendo o sentido de poder real e autoridade. Quando aplicada a
Deus, o qualifica como o Soberano de todas as coisas, o Rei do
Universo. Reino de Deus é a ação de reinar de Deus. A posição
de Rei é inerente a Deus. Ele reina porque é Deus. Assim o Seu
Reino é tão eterno quanto Ele, existe desde quando Deus existe e

55
durará enquanto Deus durar (Sl 10:16; 29:10; Jr 10:10; Lm 5:19).
Ele é ilimitado e abrange a tudo e todos (Sl 103:19; Dn
4:17,25,32). Todos que rejeitam este Reino sofrem as
consequências perdendo seus benefícios, mas não conseguem se
livrar da autoridade de Deus, assim como ocorreu com Satanás e
seus anjos (Is 14:12-15; Ez 28:11-19; Jd 6) e com os homens (Gn
2:15-17; 3:1-19; Rm 5:12).
Hoje, os homens vivem “fora” do Reino de Deus, pois
não se sujeitam espontaneamente ao Seu governo e não fazem a
Sua vontade. Porém não podem se livrar da autoridade do Rei,
que lhes determina condenação eterna por causa dessa rebeldia.
Esta situação só pode ser mudada quando uma pessoa se
arrepende e recebe, pela fé, Jesus Cristo como o Senhor de sua
vida, ou κυριοσ (kyrios = dono, senhor, soberano),
demonstrando sujeição à sua vontade através da obediência.
Assim, apesar de haver resistência, Deus reina soberano
eternamente sobre os céus e sobre a terra e ri daqueles que se
levantam contra ele (Sl 2). Ninguém pode detê-lo, nada escapa ao
Seu controle. Quem O impedirá de realizar os Seus desígnios?

O Reino Milenar (Ap 20:1-10)

No Arrebatamento, a Igreja se unirá a Cristo em glória.


Na batalha do Armagedom, Cristo triunfará destruindo a besta, o
Falso profeta e os exércitos do mundo inteiro. Todas as pessoas
que permanecerem vivas sobre a terra após este acontecimento
irão a julgamento e os justos entrarão para o Reino. É chegado
então o tempo de restauração de todas as coisas. É neste contexto
que profecias como Isaías 2:1-5; 11:6-10; 60:1-22; 65:17-25,
Zacarias 13:1-3; 14: 6-21, Ezequiel 37, 39:25-29 e muitas outras,
encontrarão seu pleno cumprimento. Apocalipse 20:1-10

56
determina que esse período terá uma duração de mil anos. O
número “mil” não é simbólico nem alegórico, pois nestes
versículos, a expressão “mil anos” é mencionada seis vezes, sendo
3 delas na forma definida “os mil anos”, indicando um período
específico de tempo com duração determinada de mil anos.
Um dos acontecimentos associados à segunda vinda do
Senhor é o aprisionamento de Satanás. Atualmente Satanás e seus
anjos estão soltos e operando sobre a terra, conforme podemos
constatar nas Escrituras (At 5:3; 2 Co 4:3-4, 11:14; 1 Ts 2:18; 2
Tm 2:26). Ele é o príncipe das potestades do ar mencionado em
Efésios 2:1-3, o líder das forças do mal nas regiões celestiais (Ef
6:10-12). O apóstolo Pedro afirma que ele é nosso inimigo e anda
ao nosso derredor rugindo, buscando a quem possa devorar (1 Pe
5:8). Além disso, na experiência diária que temos na obra do
Senhor, podemos ver os danos causados por ele nas vidas que
domina. Porém, esta situação tem um dia marcado para terminar.
O texto em Apocalipse 20:1-3 descreve um anjo, vindo da
parte de Deus, descendo dos céus com a chave do Abismo e uma
grande corrente. Ele prendeu Satanás, acorrentou-o, lançou-o no
abismo por mil anos e pôs um selo sobre ele. Isso não se trata
apenas de uma restrição dos poderes de Satanás, mas de uma
destituição completa de seus poderes e das suas atividades sobre a
terra durante o tempo determinado para que não engane as
nações. Por sua vez, o texto em Isaías 24:21-23 oferece mais
detalhes acerca disso. Os “poderes em cima nos céus” refere-se
aos principados e potestades do ar, os anjos caídos e demônios que
estão sob o comando de Satanás. Eles serão arrebanhados e
encarcerados no Abismo, e só sairão depois do Milênio, para
receberem “depois de muitos dias” seu castigo final, o lago do
fogo. Isso fará com que tudo que for “semeado” por Cristo e Sua

57
Igreja, sobre as pessoas que habitarem a terra durante o Milênio,
possa crescer livre de influências malignas exteriores, pois elas não
serão mais oprimidas, enganadas, acusadas e nem tentadas por
Satanás. Se houver algum mal, estará no próprio coração do
homem.
A autoridade para governar a terra foi dada por Deus a
Adão desde o princípio (Gn 1:26-30). Enquanto ele viveu em
sujeição a Deus tudo correu bem, mas quando decidiu ser
independente e fazer sua própria vontade, foi apanhado pelas
mentiras de Satanás (Gn 3:1-7) e acabou ficando-lhe sujeito (Ef
2:1-3), e com ele todos os seus descendentes (Rm 3:23) e a própria
terra que estava sob sua responsabilidade (Lc 4:5). O homem
pecador, afastado de Deus, sob o reino das trevas, começou a se
organizar edificando cidades e reinos (Gn 10:8-12;11:1-9),
formando um sistema mundano de governo que serve aos
interesses de Satanás e reflete seu domínio sobre o coração do
homem caído. Este é o sistema que rege o mundo hoje.
Quando Jesus Cristo veio em carne, o Reino de Deus
chegou outra vez aos homens (Mc 1:14-15; Lc 11:20). Ele exerceu
a autoridade de Rei e Senhor sobre os homens, as doenças, os
demônios, as forças da natureza, e até sobre a morte. Após sua
morte e ressurreição, Ele mesmo disse a seus discípulos: “toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28:18). Jesus tratou
de restabelecer o Reino de Deus primeiramente onde ele foi
rejeitado no início: no coração do homem. Mediante a
proclamação do Evangelho do Reino de Deus, que apresenta
Jesus Cristo como o Senhor, muitas pessoas, desde a época dos
apóstolos até hoje, têm crido, se arrependido e recebido a Jesus
como seu Rei tornando-se seus discípulos. Eles são a Sua Igreja,

58
vivem no reino (governo) de Deus hoje e tem a função de
testemunhar e proclamar o Evangelho a todas as nações.
O clamor da sétima trombeta (Ap 11:15) é “os reinos
deste mundo passarão a ser de nosso Senhor e de seu Cristo e Ele
reinará para todo o sempre”. Diante Dele todo joelho se dobrará
e toda língua confessará que Jesus é o Senhor (Fp 2:10,11). Em
seu Reino de mil anos sobre a terra, sem a interferência de
Satanás, Cristo levará todos a um estado de paz e harmonia,
resultantes de Seu governo no coração dos homens e toda a terra
se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas
cobrem o mar (Is 11:9).

A Igreja reinará com Cristo (Ap 20:4)

Os que participarem do Arrebatamento e da primeira


ressurreição reinarão com Cristo durante o Milênio. Como já
vimos, essa é a ressurreição dos santos, a ressurreição para a vida,
que inclui todos os santos de todas as épocas, tanto do Antigo
quanto do Novo Testamento, bem como os que foram mortos
durante a Grande Tribulação por causa do testemunho de Jesus.
Eles ressuscitarão, receberão seus corpos incorruptíveis, imortais
(1 Co 15:35-54), e reinarão juntamente com Cristo sobre a terra.
Em Mateus 19:28 Jesus disse aos Seus discípulos: “por
ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do
homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram
também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos
de Israel”. Quando Jesus se assentar em seu trono no Milênio, os
Seus discípulos também se assentarão em tronos para julgar,
indicando posição de governo e autoridade sob o comando do
Senhor. E não somente os doze, mas todos os santos reinarão com

59
Ele estabelecendo Seu Reino sobre todas as pessoas que viverem
sobre a terra.
Em Apocalipse 5:10 diz que “Tu os constituíste reino e
sacerdotes para o nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra”. Por
causa de uma variante do texto grego algumas traduções trazem
“reis” e não “reino” neste versículo. No entanto, a melhor leitura
para o texto original neste caso é βασιλειαν (basileia = reino),
concordando com Apocalipse 1:6, em que não há variante textual.
Encontramos então, neste texto, algo importante sobre o papel da
Igreja. Hoje o Senhor nos constituiu “reino e sacerdotes”. Como
reino, vivemos sob seu governo, para fazer Sua vontade. Como
sacerdotes temos que tornar nosso Deus conhecido a todos
àqueles que não têm acesso ao Santo dos santos, mostrando-lhes
o caminho. Ou seja, vivemos no Seu Reino e proclamamos essa
boa notícia. No futuro, reinaremos sobre a terra juntamente com
Ele para que toda a terra se encha do conhecimento da glória do
Senhor. Assim, vivemos hoje no Seu Reino e, quando Ele vier,
reinaremos com Ele.

Os habitantes da terra

No início do Milênio a terra estará em ruínas (Ap 16:18-


21), devastada, e precisará ser reconstruída. O brilho do sol e da
lua será restabelecido ainda com maior resplendor (Is 30:26),
Jerusalém será reconstruída (Is 60:10) e haverá um novo templo
na Cidade Santa (Ez 40:1-43). Estarão vivendo sobre a terra,
judeus e gentios, considerados justos pelo Senhor mediante os
julgamentos que ocorrerão na ocasião da Sua segunda vinda.
Todavia, a ênfase será sobre a nação de Israel, que será restaurada
e experimentará o cumprimento de muitas profecias e promessas
associadas a ela.

60
Certamente a profecia de Ezequiel 39:25-29 não se aplica
ao fato ocorrido em 1948 d.C. pois nesta ocasião apenas uma
pequena parte dos judeus voltou para a Palestina, e não todos eles,
como diz o verso 28. E também não está em conformidade com
o verso 29, pois Deus ainda não derramou Seu Espírito sobre a
nação de Israel. Esta profecia é uma das muitas que encontrará seu
pleno cumprimento no Milênio. A nação de Israel será restaurada,
reconduzida à terra das peregrinações de Abraão e habitará em
segurança, Deus derramará Seu Espírito Santo sobre todos e ela
voltará a ser povo de Deus na terra. Esta restauração da nação de
Israel pode ser observada nos textos de Zacarias 13:1-2; 13:8-9.
Vemos então que os judeus que entrarem para o Milênio
serão purificados de suas impurezas e de seus pecados, os ídolos e
os espíritos imundos serão eliminados e eles serão novamente
chamados de povo de Deus. A cidade de Jerusalém será
restabelecida em seu lugar e nunca mais será destruída (Zc 14:10-
11). Ela se tornará a capital do Reino Milenar e dela sairá a lei e a
palavra do Senhor. “Pois a lei sairá de Sião, de Jerusalém virá à
palavra do Senhor” (Is 2:2-3). Povos de todas as nações virão a
Jerusalém para celebrar, adorar e aprender os caminhos do
Senhor, e todo o mundo será governado a partir de Sião conforme
os princípios da Palavra de Deus. Estas pessoas de todas as nações
também receberão o Espírito Santo (Jl 2:28-32), que as guiará e
santificará juntamente com o povo de Israel, capacitando-as a
viver de maneira justa expressando a glória de Deus em todo o
mundo.
Podemos encontrar outras características do Milênio com
uma leitura atenciosa de Isaias 60:1-22; 65:17-25 e de outros
textos relacionados ao tema. Estes textos nos mostram que o céu
e a terra serão restaurados (Is 65:17); será um período de intensa

61
alegria e regozijo (Is 65:18-19); os gentios servirão a Israel e
levarão a Jerusalém as suas riquezas (Is 60:10-11); não haverá mais
violência nem destruição (Is 60:18; 65:25); haverá longevidade e
reprodução humana, mas ainda haverá morte (Is 65:20,23); a terra
será cultivada e produzirá fruto (Is 65:21-22); mesmo existindo o
sol e a lua, a verdadeira luz de Sião será o Senhor (Is 60:19).
***

Cristo implantará seu Reino e reinará juntamente com os


santos por mil anos. Nesse período haverá paz na terra, justiça e
prosperidade verdadeiras. Israel retornará à terra das peregrinações
de Abraão, habitará em segurança e será totalmente restaurada.

62
CAPÍTULO 8 -
A REVOLTA DE SATANÁS
E O JUÍZO FINAL

“As nações marcharam por toda a superfície da terra e


cercaram o acampamento dos santos, a cidade amada;
mas um fogo desceu do céu e as devorou. O diabo, que
as enganava, foi lançado no lago de fogo que arde com
enxofre, onde já haviam sido lançados a besta e o falso
profeta. Eles serão atormentados dia e noite, para todo o
sempre” (Ap 20:9,10).

Ao terminarem os mil anos, que estarão sendo contados


desde a batalha do Armagedom, Satanás será solto de sua prisão
no Abismo e sairá para enganar as nações que viverem sobre a
terra (Ap 20:7-10). Ele reunirá um grande exército, numeroso
como a “areia do mar”, mostrando que mesmo depois de mil anos
em um ambiente ideal de vida, o coração corrompido do homem
ainda se apegará aos desígnios de Satanás por causa da semente
lançada no início (Gn 3). Eles marcharão pela superfície da terra
e cercarão Jerusalém, mas serão derrotados sem que haja luta, pois
descerá fogo do céu e os consumirá.
A menção a Gogue e Magogue (Ap 20:8) não é uma
referência a Ezequiel 38 e 39, pois a descrição daquela batalha não
se encaixa neste contexto. Por exemplo, em Ezequiel 39:10,12 diz
que Israel usará as armas que sobrarem da batalha como
combustível e os mortos serão enterrados durante sete meses.
Mas em Apocalipse 20 eles apenas cercarão Jerusalém sem invadi-
la, nem sequer haverá batalha, os inimigos serão consumidos por
“fogo do céu” (Ap 20:9) e logo depois segue-se o juízo do Grande

63
Trono Branco, não havendo tempo nem necessidade de sepultar
mortos.
Por fim, Satanás será jogado no lago de fogo, onde o
Anticristo e o Falso profeta estão desde o início do Milênio. Lá
eles serão atormentados para todo o sempre, definitivamente fora
de circulação. É interessante observar que o que espera os ímpios
não é um aniquilamento, mas sim um castigo contínuo e eterno.

O Juízo Final

Em Apocalipse 20:11-15, João descreve um Grande


Trono Branco, que indica uma autoridade firmada sobre a
verdadeira justiça e pureza e o que se assenta sobre ele é o Senhor
Jesus, o Justo Juiz, a quem o Pai confiou todo julgamento (Jo
5:22; At 17:31). Aquele que foi julgado, condenado e morto pelos
homens, neste dia se assentará no trono da mais alta e justa
autoridade para julgar a todo homem. Os santos que reinarem
com Ele durante os mil anos estarão junto ao seu Senhor para
julgar o mundo e os anjos (1 Co 6:2-3).
É chegado então o momento da segunda ressurreição, a
ressurreição dos incrédulos, que devem comparecer diante do
Senhor para juízo. Como já vimos, a ressurreição dos justos
aconteceu mil anos antes e agora é hora de julgar os ímpios. Todos
os mortos não salvos, quer sejam ricos, pobres, reis, escravos,
poderosos, homens ou mulheres, que morreram desde a criação
do mundo até este dia, comparecerão diante do trono do
Soberano Senhor. Por causa do sangue de Jesus derramado na
cruz, nós, os que cremos, não estaremos diante deste trono neste
dia, mas todo aquele que rejeitou o Filho, que desprezou o amor
de Deus e não recebeu Jesus como seu Senhor estará diante do
Grande Trono Branco. Ninguém poderá escapar. O mar dará

64
seus mortos, a morte e o hades entregarão os que neles estão e
todos serão julgados.
Serão abertos livros contendo os registros das obras de
cada um e eles serão julgados de acordo com o que tiverem feito.
Cada palavra, pensamento, ação ou relacionamento que temos até
o mais minucioso detalhe vai para um livro nos arquivos de Deus.
Ele guarda este livro na memória de cada um de nós e quando
chegar a hora certa, Ele apenas trará à luz e toda nossa vida
aparecerá diante de nós em um segundo. Assim, ficará evidente o
pecado de todos em contraste com a santidade Daquele que se
assenta sobre o trono e ficará provado que ninguém pode ser
justificado pelas suas obras (Ef 2:8,9).
Será aberto também o livro da vida para mostrar que
nenhum ímpio tem seu nome escrito nele. Este é o momento da
destruição dos ímpios (2 Pe 3:7), que receberão a “segunda
morte” (Ap 20:14), a separação eterna de Deus. Assim, todos os
que comparecerem diante do Trono Branco serão lançados no
lago de fogo preparado para Satanás e seus anjos (Mt 25:41) e
serão atormentados para todo o sempre. Apocalipse 21:8 diz:
“mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e
aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras
e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com
fogo e enxofre; o que é a segunda morte”.
Os anjos caídos também serão julgados. Judas 1:6 afirma
que “e, quanto aos anjos que não conservaram suas posições de
autoridade, mas abandonaram sua própria morada, ele os tem
guardado em trevas, presos com correntes eternas para o juízo do
grande Dia”. Embora não tenhamos muita informação a respeito,
o texto deixa claro que os anjos caídos também serão julgados
neste dia. Todos eles receberão sua justa punição por terem se
rebelado contra Deus e se juntado a Satanás para cumprir os seus

65
desígnios. Bem como seu líder, seu final será no lago de fogo por
toda a eternidade.
O lago de fogo é um lugar de tormento eterno, preparado
para o Diabo e seus anjos e para onde será lançada toda a
impiedade do Universo. Os primeiros a serem lançados lá serão o
Anticristo e o Falso profeta, depois Satanás, seus anjos, os
incrédulos e finalmente a morte e o hades, lugar dos mortos
(“sheol”, em hebraico), o lugar onde todos os mortos estão até a
ocasião do Juízo Final, de onde ressuscitarão para serem julgados
e receberem seu veredito final. Permanecerão lá por toda a
eternidade.
Finalmente, diante Daquele que está assentado no Trono,
fugirão o céu e a terra e serão destruídos juntamente com tudo
que neles há, pois não se achará mais o seu lugar, tudo se
dissolverá em chamas conforme indica o texto de 2 Pedro 3:7-10.
Assim, tudo que existe no eixo do tempo será desfeito e todo o
mundo material que um dia foi criado, incluindo a terra, o sol, a
lua e todas as galáxias do Universo se consumirão no fogo.
Este será verdadeiramente o fim do mundo e o final dos
tempos. Isso ocorrerá por causa da descida da Nova Jerusalém,
que, vinda do terceiro céus para a terra, comprimirá todas as
moléculas e causará uma explosão, tal como explica a
termodinâmica. Uma compressão cinética dos gases resultará em
uma explosão.
***

Depois do Milênio, Satanás será solto para tentar


novamente os habitantes da terra, mas logo Deus removerá do
Universo toda a maldade, dando desfecho ao Dia do Senhor. Os
ímpios, os anjos caídos, Satanás, a morte e o hades receberão seu
veredito final da parte do Soberano.

66
CAPÍTULO 9 -
O ETERNO E PERFEITO ESTADO

“Vi a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do


céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva
adornada para seu marido. Ouvi uma forte voz que
vinha do trono e dizia: ‘agora o tabernáculo de Deus
está com os homens, com os quais Ele viverá. Eles serão
o Seu povo, o próprio Deus estará com eles e será o seu
Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não
haverá mais morte nem tristeza, nem choro, nem dor,
pois as coisas antigas já passaram’. Aquele que estava
sentado no trono disse: ‘estou fazendo novas todas as
coisas’” (Ap 21.2-5).

De volta ao princípio. Este é o estado original e perfeito


da criação. Toda a Bíblia se cumpre nesse único e exclusivo
propósito: a volta do homem para o Éden, a volta da criação ao
estado original. Como uma circunferência, que começa em um
ponto e termina no ponto onde começou, os planos de Deus para
a Nova Jerusalém não são exatamente fazer novos céus e nova
terra (isto será para o homem), mas voltar ao estado original
conforme Ele criou.
“No princípio criou Deus os céus e a terra”. E tudo era
perfeito até que Satanás e um terço dos anjos se rebelaram contra
a ordem e o perfeito estado do Universo. E, no transcurso dessa
rebelião, houve uma expulsão dos desordeiros do Paraíso, no caso
aqui Satanás e os anjos caídos. A partir daí começou o plano
restaurador de Deus.

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O céu onde Deus habita é chamado de Paraíso, Nova
Jerusalém, Monte Sião, Éden original. Quando lemos Ezequiel
28:13, notamos a expressão “Éden, jardim de Deus...”, lá era a
habitação de Satanás. Não obstante essa profecia ser para o rei de
Tiro, ela tem duplo cunho profético, visto que é uma alegoria a
Satanás e uma denúncia contra o rei de Tiro ao mesmo tempo.
Assim como Satanás, o rei de Tiro era revestido de glória, mas
caiu por causa da soberba. Na origem da criação, no estado inicial,
todas as criaturas viviam próximas a Deus, louvando-o e servindo-
o conforme descreve o profeta Ezequiel e o patriarca Jó (Ez 28:13-
15; Jó 38:7).
Após a queda e expulsão de Satanás, algum tempo depois,
Deus criou o homem e o fez do pó da terra. Segundo o pregador,
“Deus criou o homem perfeito” (Ec 7:29). Desta forma, o homem
poderia habitar no Paraíso. Conforme relata o livro de Gênesis,
Deus trouxe o Éden para a terra e lá colocou o homem (Gn 2:8-
15), onde falava com Adão todos os dias às seis horas. Aldery
Rocha afirma que este Éden era o lugar Santíssimo, por isso foi
plantado por Deus. O livro de Cantares 3:9 relata que, quando
Salomão saía do palácio para caçar, ele usava um palanquim, uma
espécie de miniatura do seu palácio. Com o Éden que Deus
plantou para Adão Ele trouxe seu palanquim do céu para a terra.
Este Éden prefigura a Nova Jerusalém.
A partir daí temos uma ideia da habitação ou tabernáculo
de Deus. Quando João vê a Nova Jerusalém descendo do céu, ele
ouve uma voz que ecoa do trono dizendo: “agora o tabernáculo
de Deus está com os homens, com os quais Ele viverá. Eles serão
o Seu povo, o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus”
(Ap 21.3). A Nova Jerusalém parece ter o formato de um
quadrado assim como o Éden provavelmente tinha o mesmo

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formato já que era cercado por quatro rios. O tabernáculo de
Moisés, a tenda patriarcal e o oráculo do templo de Salomão
também eram quadrados. Em suma, todas as formas de habitação
de Deus na Bíblia são uma prefiguração da Nova Jerusalém.
No tabernáculo de Deus só havia o lugar Santíssimo. O
Éden celestial, para os anjos, era o Santíssimo, e o Éden terrestre
era o Santíssimo para os homens, visto que Adão tinha plena
comunhão com Deus. Não havia o lugar Santo e nem o átrio
como no tabernáculo de Moisés. Mas quando Adão pecou, Deus
o expulsou do Éden do mesmo modo que expulsou Satanás, para
que ele não desordenasse o lugar de plena comunhão com Deus,
o perfeito estado onde há ordem, paz, abundância de suprimento,
riqueza e equilíbrio. E o Éden passou a ser protegido por dois
querubins para impedir a entrada do homem. Mais tarde, no
campo, acontece o primeiro homicídio da história, quando Abel
é assassinado por seu próprio irmão.
O tabernáculo de Moisés representa o que aconteceu a
Adão e sua descendência. A arca, com dois querubins em cima,
fica no lugar Santíssimo, que é separado, por um véu, do lugar
Santo, onde o homem pode apresentar seu culto a Deus. Como
se não bastasse haver um lugar fora do Santíssimo, foi necessário
criar o átrio, ainda mais distante, pois foi no campo, fora do lugar
Santo, que Caim feriu Abel. A disposição das peças do tabernáculo
representa o distanciamento do homem do Paraíso. O plano de
Deus passa a ser pouco a pouco desvendado e Seu objetivo é trazer
o homem de volta para o Santíssimo. Jesus encarna-se, na
plenitude dos tempos, para executar o pacto da divindade e trazer
o homem de volta ao Jardim do Éden, mas, desta vez, para o Éden
celestial.

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O sangue de Abel derramado no campo por Caim
inaugura o átrio. Este mesmo sangue clamava por perdão e
representava o sacrifício de Cristo. O autor aos Hebreus nos
mostra que o sangue de Jesus clama mais alto do que o de Abel
(Hb 12:24), pois o sangue de Jesus nos deu perdão e acesso ao
Santíssimo (Hb 10:19). Por outro lado, o sangue de Abel, apesar
de clamar por perdão para seu irmão, não deu direito para ele
acessar o Éden. Segundo Aldery Rocha, esse clamor foi tão
impactante que Caim conseguiu voltar para a porta do Éden
(lugar Santo), mas não para o Éden (Gn 4.16). Mas o sangue de
Jesus nos faz voltar ao estado perfeito. Assim como em Jesus tudo
foi criado, todas as coisas também são restauradas e, em breve, o
estado perfeito do princípio da criação se consolidará.

O monte de Sião

O monte Sião, sobre o qual o templo de Salomão foi


edificado, ocultava em seu interior rochoso “uma fonte
inexaurível de águas e represas subterrâneas”. Essa informação
coaduna com a visão de Ezequiel sobre o templo no tempo do fim
(Ez 47), uma visão que representa a cidade e o templo original
descritos em Hebreus 12:22-23, a cidade de Deus. O monte Sião
reúne todos os justos. João revela no Apocalipse a descrição da
Jerusalém Celestial (Ap 21:9-14). Guiado em Espírito por um
anjo, ele é levado a um grande e alto monte para ver a Cidade
Santa, a Jerusalém Celestial que “descia dos céus da parte de
Deus”. Esta descrição indica que a cidade não foi criada
juntamente com os novos céus e a nova terra, mas existia
anteriormente, diante de Deus, e é trazida à cena neste momento.
Este é o templo de Deus e nele somente haverá o lugar

70
Santíssimo. O trono de Cristo será colocado no Santíssimo (Ez
43:5-7) e será a arca do Antigo Testamento (Ap 11:19).
Quando todas as coisas estiverem sujeitadas a Cristo, Ele
vai se sujeitar ao Pai. O que isso significa? Que o Pai vai habitar
Nele. Paulo assevera que no corpo de Cristo habitará a plenitude
da divindade (Cl 2:9). Isto aponta para a grande apoteose que
acontecerá (Jo 14:19-20): o Espirito Santo e o Pai vindo para o
corpo do Filho (1 Co 15:24-28). O trono que é do Pai será
habitado pelo Filho e o trono do Filho ficará vazio e será ocupado
pelo que vencer (Ap 3.21). Esse é o motivo do ódio de Satanás,
porque ele queria ser semelhante ao Altíssimo, mas não será ele a
sentar no trono.

Como seremos?

Já com os corpos transformados (Fp 3:21), teremos a


capacidade de nos mover de modo sobrenatural, porque teremos
um corpo como o de Jesus (Jo 20:19,26; Ez 1.14), e uma
capacidade cognitiva como a de Adão antes da queda. Teremos
um corpo cintilante como as das estrelas. “Os que forem sábios,
pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a
muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e
eternamente” (Dn 12:3). Jesus fez uma demonstração desse corpo
para os seus discípulos na transfiguração no monte (Mt 17).
Por outro lado, as pessoas que viveram durante o Milênio
serão transportadas para a nova terra, formando uma nova
civilização que viverá na luz na Igreja glorificada. Elas levarão a ela
a glória e a honra das nações e receberão cura e luz (Ap 22:2).
Muitos perguntam se haverá doenças na eternidade, pelo fato de
as nações precisarem de cura. Isso implicaria em imperfeições no

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estado eterno, pois doenças significam tristeza, dor e até morte.
Porém não é este o significado do texto.
Não haverá nem doenças, nem dor, nem tristeza, nem
morte, nem qualquer maldição (Ap 21:4; 22:3). A explicação para
este fato é que as nações que viverem na terra durante o Milênio
estarão em seus corpos naturais, sujeitos ao envelhecimento, e
precisarão de uma intervenção sobrenatural para viver
eternamente saudáveis. A palavra que aparece no texto original
para “cura” é θεραπειαν (therapeian), que tem um significado
mais abrangente: “aquilo que traz saúde”. Por isso, quando as
nações forem transportadas para a nova terra, receberão saúde
perfeita através das folhas da árvore da vida e seus corpos serão
curados da corrupção para que vivam por toda a eternidade.

Como será a cidade santa?

Não haverá mais morte, pois ela terá sido lançada no lago
de fogo por toda a eternidade, não podendo mais agir sobre
ninguém. Beberemos gratuitamente da fonte da água da vida, o
acesso à árvore da vida que tinha sido bloqueado no princípio (Gn
3:22-24) será novamente liberado e comeremos do seu fruto
livremente. Não haverá mais tristeza, nem choro nem dor, mas a
alegria imensa da presença do Pai nos satisfará plenamente com
abundante felicidade. Não haverá mais noite e nem será
necessário nenhum tipo de luz natural, pois Deus mesmo nos
iluminará com sua presença.
Teremos uma vida de intensa adoração. “Depois destas
coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão,
dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso
Deus” (Ap 19:1). “Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão
que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e

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línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande
voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao
Cordeiro (...) O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de
graça, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos
séculos dos séculos. Amém” (Ap 7:9-12).
Seremos servos e comtemplaremos a Sua face. “Os seus
servos o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o
nome dele. Então, já não haverá noite, nem precisam eles de luz
de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus brilhará
sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22:3-5).
Viveremos em plena comunhão com Deus e teremos pleno
entendimento. “Porque, agora, vemos como em espelho,
obscuramente; então, veremos face a face (1 Co 13:12). “Amados,
agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele
é” (1 Jo 3:2).
Teremos uma vida de santidade, alegria, abundância e
glória. “Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada,
nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os
inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Ap 21:27). “E lhes
enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não
haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram” (Ap 21.4). “Eu, a quem tem sede, darei de graça da
fonte da água da vida” (Ap 21.6). “Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória,
acima de toda comparação” (2 Co 4.17). “Quando Cristo, que é a
nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados
com ele, em glória” (Cl 3.4).

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PARA ONDE ESTAMOS INDO?

A Nova Jerusalém é nossa casa. Precisamos voltar para


casa e para isso temos que nos empenhar vivendo uma vida digna
do sacrifício de Cristo. Ele nos oferta gratuitamente a salvação, o
passaporte para entrar na cidade santa. A Bíblia é o GPS. Nela
temos instruções precisas de como proceder durante todo o
trajeto para chegar lá. Essas instruções não podem ser encontradas
em outra fonte. A santificação e a frutificação devem ser um
compromisso diário se quisermos entrar no Éden celestial. Deus
não nos criou para irmos a outro lugar. O Santíssimo é nossa casa.
Na cidade que descerá dos céus, como assevera o apóstolo
João, não haverá mais dor, tristeza ou morte. Desfrutaremos do
maior grau de alegria e paz porque emanamos de Deus, e a nossa
completa realização é proporcional à nossa proximidade com Ele.
Por isso, o inferno é o lugar mais triste e o céu o lugar da extrema
alegria. Veremos o quanto valeu a pena negar todas as tentações.
Obedecer a Deus não é como tomar um remédio amargo, é
aculturar-se do estado perfeito.
Temos que noticiar as boas novas do Evangelho e os
eventos futuros, pois, em vista disso, depreende nossa obediência
a uma das maiores ordenanças do Nosso Senhor: “ide por todo o
mundo e pregai o Evangelho”. Interessante notar que a etimologia
da palavra “Evangelho” denota uma mensagem de vitória após
uma batalha. O que devemos anunciar ao mundo é que Jesus
venceu a morte, quebrou os grilhões do pecado, é as primícias da
ressurreição e voltará para buscar os que creem no seu Nome.
Temos muito a perder se desprezarmos uma tão grande
salvação. Jesus é o único e exclusivo acesso para a Nova Jerusalém.

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Ele é a salvação. Não nos esqueçamos das seguintes palavras:
“guarde o que tem para que ninguém tome a sua coroa”. Eis que
Jesus vem sem demora!

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BIBLIOGRAFIA

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