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BRASÍLIA,
JANEIRO 2017
PAULO HENRIQUE NERI GRANDINETTI LEITE
BRASÍLIA,
JANEIRO 2017.
A RESPONSABILIDADE DO EMPRESÁRIO NO CONTRATO DE TRESPASSE E
NA CESSÃO DE QUOTAS NA SOCIEDADE LIMITADA
The businessmen responsibility in the transfer of property contract and in the cession
of shares of a limited liability company
ABSTRACT: The present work aims at establishing points of convergence and divergence
about the responsibility of the individuals involved in the contract of transfer and in the contract
for transfer of quotas of the limited company. First, it will analyze the establishment, the
contract of trespass, which is the contract of purchase and sale of the business establishment,
and determine the responsibilities of the subjects. After, we will see the constitution of the
limited company, the possibility of assignment of quotas from one partner to the other and to
third parties, also determining the responsibility of those involved. Finally, conclusions are
drawn which demonstrate, at some points, that these responsibilities are equal and, at other
points, different.
Pense-se na hipótese de ser considerado como verdadeira essa assertiva, como de fato
o vem sendo, o cessionário estaria sendo prejudicado, pois essa não é a redação que lei traz para
determinação de sua responsabilidade. Outra hipótese é a consideração da responsabilidade
derivada do contrato de trespasse equivalente a do contrato de cessão de quotas. Como se verá,
são totalmente diferentes, com exceção da responsabilidade trabalhista, que por força da
Consolidação das Leis do Trabalho, são igualmente responsáveis cedente, cessionário,
trespassante e trespassário, com uma ou outra observação.
Sociedade limitada que surgiu como uma alternativa entre a sociedade de pessoas, a
qual possui responsabilidade ilimitada, e a sociedade anônima ou de capital, que possui
responsabilidade limitada ao número de ações que o sócio possui. Será apresentada a natureza
contratual da sociedade limitada. Contratual, não institucional, pois o vínculo entre os sócios se
dá via cláusulas entabuladas em contrato, o que permite uma maior liberdade da vontade das
partes.
1
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 1v, p. 116.
Dentre essas responsabilidades averiguadas, não se deixou também de analisar a
questão do sócio cedente com a do sócio retirante, demonstrando que renomados doutrinadores
entendem como sendo a mesma figura e, portanto, misturam os institutos do artigo 1.003,
parágrafo único, com o artigo 1.032, ambos do Código Civil.
1 DO ESTABELECIMENTO
1.1 CONCEITO
O Código Civil, em seu artigo 1.142, conceitua estabelecimento como sendo “todo
complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade
empresária”. A doutrina empresarial é no mesmo sentido, senão vejamos:
Por fim, nos dizeres de André Luiz Santa Cruz Ramos, “trata-se, em suma, de todo o
conjunto de bens, materiais ou imaterias, que o empresário utiliza no exercício de sua
2
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 1v, p. 114.
3
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2010. p. 206.
atividade”4. Veja-se que todas as colocações acima coadunam com o conceito trazido pelo
Código Civil de 2002, já que tal definição não era tratada no Codex anterior, somente em sede
doutrinária5.
Outros tantos exemplos podem ser dados, tais como investimentos (ações na bolsa de
valores ou aplicações em fundos de investimento) e direitos quaisquer (cessão de marcas ou de
patentes) que compõem o patrimônio, todavia, não fazem parte do estabelecimento, uma vez
que não guardam liame com atividade desempenhada pelo empresário ou pela sociedade
empresária.
4
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico-empresarial
brasileiro. 3. ed. Salvador: Juspodvim, 2009. p. 104.
5
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico-empresarial
brasileiro. 3. ed. Salvador: Juspodvim, 2009. p. 104.
6
GIALLUCA, Alexandre. SANCHEZ, Alessandro. Direito empresarial. in Coleção OAB. Niteroi: Impetus,
2012. p. 13.
1.2 NATUREZA JURÍDICA
7
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 1v, p. 116.
8
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico-empresarial
brasileiro. 3. ed. Salvador: Juspodvim, 2009. p. 107.
São sujeitos do contrato de trespasse o trespassante, aquele que se obriga a transferir o
estabelecimento empresarial, e o trespassário, entendido como o adquirente do estabelecimento.
Importante frisar que o contrato de trespasse não se confunde com a cessão de quotas,
em que pese terem efeitos econômicos praticamente idênticos. O trespasse é a alienação do
estabelecimento empresarial, enquanto, como se verá no capítulo seguinte, a cessão de quotas
é a mudança do quadro societário da sociedade empresária, ou, por outras palavras,
transferência do controle desta.
“Este termo – trespasse – não foi adotado pelo Código Civil de 2002, mas já está
bastante tempo consagrado na doutrina comercialista. Ademais, não se deve
confundir o trespasse com a cessão de quotas de uma sociedade, por exemplo, no
trespasse, transfere-se a própria titularidade do estabelecimento empresarial, ao
passo que na cessão de quotas opera-se apenas a transferência da participação
societária”9.
Outro ponto é que o contrato de trespasse somente terá eficácia perante terceiros se
averbado à margem da inscrição do empresário ou da sociedade empresária na Junta Comercial
e publicada essa averbação na imprensa oficial, conforme estabelece o artigo 1.144 do Código
Civil.
Estabelece ainda o Código Civil, em seu artigo 1.145, acerca da eficácia perante
credores: “Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu passivo, a eficácia
da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos os credores, ou do
consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias a partir de sua notificação”.
Tal disposição visa proteção dos credores do empresário, à medida que o alienante fica
condicionado a saldar todas suas dívidas antes de alienar o estabelecimento empresarial, ou de
notificar seus credores para que se manifestem no prazo de 30 (trinta) dias concordando ou
discordando com o trespasse. Veja-se que a lei permite a concordância tácita, isso é, aquela que
o credor consente deixando o prazo acima transcorrer in albis.
9
CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao código civil: parte especial, do direito de empresa. São Paulo:
Saraiva, 2003. 13v, p. 635.
Acerca do consentimento, Gladston Mamede ensina que, se o credor consente com a
alienação, ele renuncia a proteção legal de seu crédito, senão vejamos:
Acaso o trespassante não diligencie no sentido de notificar seus credores, ele fica
sujeito à incidência do artigo 94, inciso III, alínea ‘c’, da Lei n° 11.101/2005, a Lei de Falências,
que permite ao credor pedir a decretação da falência do empresário ou da sociedade empresária
por alienação irregular de estabelecimento empresarial.
10
MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: empresa e atuação empresarial. 4. ed. São Paulo:
Atlas, 2010. p. 220.
“O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos anteriores à
transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor
primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos
vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento”.
Isso facilita saber quando há ou não o trespasse do estabelecimento, dada sua natureza
jurídica, como afirmado acima, de universalidade de fato. Tal critério objetivo, nos dizeres de
Ramos, “ajuda a identificar, de forma mais precisa, as situações em que realmente se
aperfeiçoa o contrato de trespasse”11.
11
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico-empresarial
brasileiro. 3. ed. Salvador: Juspodvim, 2009. p. 110.
Viu-se alhures que o Código Civil, de forma taxativa, estabelece a responsabilidade
civil do alienante (trespassante) e do adquirente (trespassário) do estabelecimento empresarial,
nos termos do artigo 1.146.
Sabe-se que a solidariedade não se presume, ela resulta da lei ou da vontade das partes
(artigo 265 do Código Civil). Portanto, aqui tem-se um exemplo de solidariedade resultante da
lei, que serve para a proteção do crédito dos credores.
Veja-se que o alienante responderá pelo passivo devidamente contabilizado pelo prazo
determinado. Acaso haja passivo oculto, o trespassante continuará responsável por esses
débitos, a menos que, no contrato de trespasse, exista cláusula afirmando que o adquirente
assume, além do passivo contabilizado, também o oculto. Inexistindo tal cláusula, fica o
alienante totalmente responsável por esse passivo oculto.
No que tange ao adquirente, esse é responsável por todo o débito contabilizado, isso é,
o passivo do estabelecimento, que era de responsabilidade do trespassante, passa ser de
responsabilidade dele.
O passivo trabalhista é aquele que tem como credores ex-funcionários que laboraram
no estabelecimento e também os decorrentes de acidente do trabalho. O artigo 448 da
Consolidação das Leis do Trabalho dispõe que “a mudança na propriedade ou na estrutura
jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados”.
Isso quer dizer que, para o trabalhador ou acidentado, o contrato de trespasse não é
oponível a ele. Assim, esse trabalhador pode demandar tanto em face do antigo proprietário do
estabelecimento, quanto em face do novo, porquanto ambos estão obrigados às dívidas
trabalhistas. Pouco importa, na verdade, quem será demando, pois eles estarão obrigados e não
podem se eximir dessa responsabilidade apresentando o contrato de trespasse na Justiça do
Trabalho.
Esse contrato, serve apenas para fins de direito de regresso. Se o adquirente pagar
dívida trabalhista de funcionário que era do alienante, aquele pode exigir deste o que dispendeu,
em direito de regresso, acaso não tenha se obrigado contratualmente em fazê-lo ou não estivesse
regularmente contabilizada.
Já o artigo 133 do Código Tributário Nacional, que regula o passivo fiscal, tem a
seguinte redação:
12
GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de Empresa. São Paulo: RT, 2007. p. 578.
“Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por
qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou
profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social
ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou
estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato:
Com efeito, existem duas situações a serem analisadas, se o alienante parou de explorar
atividade empresarial, ou se continuou ou iniciou dentro de seis meses essas atividades.
Doutro lado, se o adquirente for cobrado pelo fisco e conseguir comprovar que o
alienante continuou com atividades empresariais ou as iniciou dentro de seis meses contados
da publicação da venda do estabelecimento, aquele somente será responsabilizado de forma
subsidiária. Isso é, somente após esgotado os bens do alienante é que o fisco poderá direcionar
a execução fiscal para o trespassário.
A cessão de quotas somente pode se dar no âmbito da sociedade limitada, pois, dentre
os diferentes tipos de sociedade elencados no Código Civil, só nela há o capital social dividido
entre os sócios por meio de quotas.
Quotas, assim, é uma fração do capital social de uma sociedade limitada pertencentes
a um sócio. Não raro tem-se nos contratos sociais cláusula que estabelece o capital social sendo
num valor de, por exemplo, R$ 10.000,00 (dez mil reais) divido em quotas iguais de R$ 1,00.
Portanto, a sociedade terá 10.000 (dez mil) quotas a serem repartidas entre os sócios que as
subscreverem e integralizarem.
Subscrever, ou adquirir, é o ato pelo qual uma pessoa, natural ou jurídica, ingressa em
uma sociedade limitada. Integralizar significa transferir patrimônio para a sociedade
empresária, ou seja, aportar bens móveis ou imóveis, que possuam o mesmo valor das quotas
subscritas.
O próprio Código Civil traz uma ideia do que vem a ser a sociedade limitada, em seu
artigo 1.052, que vale a transcrição “Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio
13
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico-empresarial
brasileiro. 3. ed. Salvador: Juspodvim, 2009. p. 346.
é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do
capital social”.
Por outras palavras, sendo a omisso as disposições legais que regem a sociedade
limitadas, é saber, o Código Civil, e omisso o contrato social, tal lacuna preenche-se
subsidiariamente pelas regras concernentes às sociedades simples, que também estão previstas
no Código Civil. Se ainda assim houver lacuna e havendo previsão expressa no contrato social
da sociedade limitada, pode essa brecha ser tampada pelos ditames da Lei das Sociedades
Anônimas.
Diz-se que as sociedades limitadas têm natureza jurídica contratual, já que seu
surgimento se dá por meio do registro do contrato social constitutivo na Junta Comercial. Basta
lembrar da característica contratualidade, acima mencionada, que abre uma margem para os
sócios contratarem a sociedade de acordo com suas vontades.
Nesse ponto, João Pedro Barroso do Nascimento aponta que: “A sociedade limitada
constitui-se por meio de um contrato social escrito, que se estabelece por instrumento público
ou particular, com dois ou mais sócios, pessoas físicas ou jurídicas”14.
14
NASCIMENTO, João Pedro Barroso do. Direito societário avançado. Rio de Janeiro: FGV, 2012. p. 7.
Fábio Ulhoa Coelho complementa:
E se o contrato social for omisso? A resposta vem pela redação do artigo 1.057, “Na
omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio,
independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares
de mais de um quarto do capital social”, e do 1.028, “No caso de morte de sócio, liquidar-se-
á sua quota, salvo: I - se o contrato dispuser diferentemente;”.
Da leitura desses artigos vê-se claramente que o legislador optou por conferir à
sociedade limitada uma feição personalista, em detrimento da capitalista. Acaso desejem os
sócios que a sociedade seja de capital, na prática, deverão expor essa vontade no contrato social.
15
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 163.
16
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico-empresarial
brasileiro. 3. ed. Salvador: Juspodvim, 2009. p. 359.
Vistos o conceito e a natureza jurídica da sociedade limitada, passa-se ao estudo da
possibilidade das quotas de um sócio ao(s) outro(s) sócio(s) ou a terceiros. O artigo 1.057 do
Código Civil:
“Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a
estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social.”
Repisa-se que essa determinação somente vale para omissão no contrato social. Se esse
instrumento prever outra forma, por exemplo, aprovação unanime dos detentores do capital
social, subtraída as quotas do que deseja ceder, para os dois casos, esse será o regramento, pois
que vontade contratual dos sócios. De outro lado, se o contrato prever que a cessão das quotas
sociais independerá de autorização dos demais, também valerá, eis que também vontade dos
sócios.
De mais a mais, é comum, na cessão de quotas sociais para terceiro, que cedente e
cessionário façam apenas a averbação da alteração contratual na Junta Comercial, a fim de dar
publicidade ao ato. Entretanto, as condições de preço, forma de pagamento, direitos e
obrigações decorrentes dessa transação são elaboradas em documento particular apartado, pois
dizem respeito apenas as partes envolvidas, sendo desnecessário mostrar tais condições a
terceiros.
Assim, demandada a sociedade para que cumpra com obrigação social e não sendo
totalmente integralizado o capital social, pode os demais sócios serem responsabilizados
solidariamente a integralizar o capital social, que correspondia ao sócio remisso, a fim de que
honre com a obrigação social assumida e a sociedade cumpra com a obrigação contraída.
Importante, ainda, que tanto os demais sócios quanto a própria sociedade detêm
legitimidade para compelir o sócio remisso a integralizar suas cotas subscritas. Não o fazendo,
os demais sócios têm a faculdade de toma-las para si ou transferi-las para terceiros, conforme
disposição do artigo 1.05817 do Código Civil.
Não cumprindo com sua obrigação mais importante, de integralizar as quotas que
subscreveu, e cedendo suas cotas para outra pessoa, sócio ou não sócio, o cessionário – quem
recebe as quotas sociais – fica responsável por essa integralização. Porém, pela leitura do
parágrafo único do artigo 1.00318 do Código Civil, o cedente continua responsável solidário
com o cessionário pela integralização dessas quotas, até o limite de dois anos contados da
averbação da alteração contratual que altera o quadro social.
17
Art. 1.058. Não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no
art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e
devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as
despesas.
18
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o
consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente
com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.
Destarte, importante que o pretendente a ingressar em sociedade já constituída seja
diligente em averiguar o passivo da sociedade, em especial o passivo oculto, pois não poderá
se eximir das dívidas anteriores à admissão.
19
Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus
empregados.
20
Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho
dos respectivos empregados.
pode ser imputado, considerando que, mesmo havendo infração à lei ou contrato social, o
cessionário nem da sociedade fazia parte.
Por outro lado, quanto ao cedente, tem-se que esse é responsável solidário, conforme
visto no parágrafo único do artigo 1.003 do Código Civil, pelas obrigações que tinha como
sócio, perante a sociedade e terceiros, até dois anos após averbada a modificação do contrato.
Há quem some a esse dispositivo a reza do artigo 1.032 do Código Civil, que assevera:
“A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade
pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução da sociedade;
nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a
averbação”.
Não parece haver semelhança entre os dois temas. Em que pese os dois artigos tratarem
sobre a sociedade simples e serem de aplicação subsidiária à sociedade limitada, eles se referem
a institutos diferentes.
O artigo 1.003 do Código Civil está inserido entre “os direitos e obrigações” dos sócios
na sociedade simples. Por sua vez, o artigo 1.032 refere-se à “resolução da sociedade em relação
a um sócio”.
Retirada da sociedade não se confunde com cessão de quotas, apesar de terem efeitos
praticamente idênticos, isso é, em ambos os casos o sócio deixa de fazer parte da sociedade. A
diferença reside na forma que a saída da sociedade se dá, numa, na cessão de quotas, não há
redução do quadro social, com exceção da cessão para outro sócio; noutra, resolução parcial,
há redução no quadro social da empresa.
A retirada da sociedade consiste na saída do sócio que não deseja pertencer ao quadro
social, seja por qual razão for – o mais comum é a quebra da affectio societatis –, e pretende
receber o que investiu na sociedade, por meio da liquidação e da apuração de haveres. O mesmo
ocorre quando o sócio é expulso ou morto, ou seja, liquida-se e apura-se os haveres.
21
WALD, Arnoldo. Comentários ao novo Código Civil: livro II - do Direito de Empresa. TEIXEIRA, Sávio
de Figueiredo (Coord.). 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. v. XIV. p. 232/246.
22
DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 658.
Ademais, o artigo 1.032 faz expressa alusão à averbação da resolução, o que dá
entender alteração do quadro social por diminuição de sócio. Fácil essa constatação ao se
interpretar este artigo em conjunto com os artigos 1.029 e 1.031, ambos também do Código
Civil, os quais prescrevem:
“Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode
retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante notificação aos demais
sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se de prazo determinado,
provando judicialmente justa causa”.
“Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor
da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo
disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade,
à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado”.
23
PATROCÍNIO, Daniel Moreira do. GOTLIB, Renzo Brandão. CESSÃO DE QUOTAS DE SOCIEDADE
LIMITADA E ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL: RESPONSABILIDADE
CIVIL DO CESSIONÁRIO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA E DO ADQUIRENTE NO CONTRATO
DE TRESPASSE. 2010. Disponível em:
www.rkladvocacia.com/arquivos/artigos/art_srt_arquivo20100728182614.pdf. Acesso em: 10 de janeiro de 2017.
Em face dos credores da sociedade, o cedente é responsável pelas obrigações que
contraiu como sócio da sociedade, nos mesmos moldes do parágrafo único do artigo 1.003 do
Código Civil, pois como visto não há incidência do artigo 1.032 do mesmo código.
Destarte, acaso seja demandada a sociedade por crédito trabalhista, o cedente continua
responsável pelo pagamento do crédito pelo prazo de dois anos, se averbada a modificação
contratual. Até porque incidem os artigos 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho, como
visto acima.
Da mesma forma, se o crédito fiscal foi constituído antes da cessão das quotas
devidamente averbada, ficará o cedente responsável pelo seu pagamento, pelo prazo de dois
anos. Agora, se o crédito tributário for constituído após averbação da alteração contratual, o
cedente não será mais responsável, pois, repisa-se, é uma obrigação advinda após sua saída,
sendo que ele nada mais opina na gerência ou administração da sociedade limitada.
Alfim, o Código Civil não regulou as relações entre o cedente e os demais sócios e
entre cedente e o cessionário. Tem-se assim que tais regulações se darão no campo da
autonomia da vontade, ficando a critério das partes acordarem a melhor forma de estabelecerem
essas relações.
Até porque a cabeça do artigo 1.003 do Código Civil assevera que não produzirá
efeitos, perante a sociedade e terceiros, a alteração contratual que não for assinada por todos os
sócios. Isso permite que o cedente e os demais sócios, por meio de contrato particular, possam
entabular acordo de responsabilidade entre eles.
O cedente terá que fazer o acordo, uma vez que necessita das assinaturas dos demais
sócios para que a alteração contratual produza seus efeitos. Caso contrário, continuará
responsável pelas obrigações sociais.
CONCLUSÃO
De tudo quanto exposto até aqui, pode-se concluir que, apesar dos efeitos econômicos
serem idênticos, as responsabilidades dos sócios cedente, cessionário, trespassante e
trespassário são diferentes.
24
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
Vimos que entre alienante e adquirente, para fins de responsabilidade entre um e outro,
vale o que está no contrato de trespasse. Se o trespassário se compromete em assumir o passivo
contabilizado e o oculto, vindo o trespassante pagar alguma dívida, pode este exigir
ressarcimento pela via do regresso.
Apresentou-se apenas uma situação não qual o sujeito não poderia ser
responsabilizado, no ponto de vista do autor, já que na Justiça Trabalhista esse argumento
sempre é derrubado. É o caso do sócio cedente e uma contratação de funcionário após sua saída,
porquanto o cedente só responde pelas obrigações sociais da sociedade enquanto figurava como
sócio. Se ele não faz mais parte dos quadros sociais e a contratação foi realizada após essa
modificação, veja-se, devidamente averbada, não há motivos para responsabilização desse
sócio.
Nos demais casos, haverá sim, responsabilidade dos sócios trespassante, trespassário,
cedente e cessionário, havendo-se que perquirir apenas se existe ou não direito de regresso,
previsto no instrumento particular de negociação, entre esses sujeitos.
Já em relação aos débitos tributários, seguem a mesma linha de raciocínio, porém, com
algumas modificações, principalmente no contrato de trespasse. É que, alienando o
estabelecimento empresarial ao adquirente e esse trespassante cessar exercício de atividade
econômica, o trespassário será responsável direto pelos débitos tributários regularmente
constituídos antes da transferência do estabelecimento.
Assim como no passivo trabalhista, aqui nos créditos tributários o cedente não poderá
ser demandado por tais dívidas, se estas forem constituídas após a devida averbação da alteração
contratual, mesmo em caso de má-fé ou dolo, com violação da lei ou do contrato social. Atente-
se que o cedente não faz mais parte dos quadros sociais e sua responsabilidade vai até o limite
de dois anos após essa modificação averbada, além de ser pelas obrigações que tinha como
sócio.
Outra diferença é que na cessão de quotas, para ter eficácia perante a sociedade e
terceiros, a alteração contratual deve estar assinada por todos os demais sócios da sociedade,
uma espécie de autorização, como se observa no parágrafo único do artigo 1.057 do Código
Civil.
Por outro lado, para o sócio se retirar da sociedade ele não depende de autorização dos
outros sócios, basta que ajuíze uma demanda de resolução parcial da sociedade com base na
inexistência da affectio societati. O mesmo vale para a expulsão e morte, isso é, são reduções
do quadro societário que independem da vontade de todos os sócios.
REFERÊNCIAS
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 16. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. 1v.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 16. ed. São Paulo: Saraiva,
2012. 2v.
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
NASCIMENTO, João Pedro Barroso do. Direito societário avançado. Rio de Janeiro:
FGV, 2012.
ALMEIDA, Amador Paes de. Manual das sociedades comerciais. 20. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.