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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ª Vara Cível do Juizado Especial do

Estado de São Paulo

ALAMIRO VELLUDO SALVADOR NETTO, brasileiro, casado, residente e

domiciliado à rua Maestro Cardim, nº 1251, 4º andar, Paraiso, São Paulo, CEP 01323-

001, portador do RG nº 32.289.625-3 e inscrito no CPF/MF sob o nº 214.983.978-40,

Professor da Universidade de São Paulo e advogado, vem, respeitosamente, à presença

de Vossa Excelência, ajuizar a presente AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS cumulada com OBRIGAÇÃO DE FAZER, em face de JANAÍNA CONCEIÇÃO

PASCHOAL, brasileira, casada, advogada e professora da Faculdade de Direito da USP,

portadora da cédula de identidade RG nº 24.130.055-1 SSP/SP, residente e domiciliada

à Alameda Franca, nº 84, apto. 202, São Paulo/SP, pelas razões de fato e de direito a

seguir aduzidas.
DOS FATOS

No período de 11 a 15 de setembro de 2017 foi realizado concurso para professor

titular do Departamento de Direito Penal, Criminologia e Medicina Forense da

Universidade de São Paulo (Edital FD -24/2016 anexo). Participaram do concurso quatro

candidatos (Alamiro Velludo Salvador Netto, Ana Elisa Liberatore Silva Bechara,

Mariângela Gama de Magalhães Gomes e Janaína Paschoal), que foram devidamente

avaliados por banca composta por cinco membros, quais sejam: Sérgio Salomão

Shecaira, Renato Jorge de Mello Silveira, Cláudio Roberto Cintra Bezerra Brandão, Maria

Auxiliadora Minahim e Vittorio Manes.

O resultado final das avaliações foi divulgado (Edital ATC – 29/2017 anexo), tendo

sido este requerente aprovado em primeiro lugar, seguido por Ana Elisa Liberatore Silva

Bechara. Além disso, Mariângela Gama de Magalhães foi aprovada, ficando em terceiro

lugar no concurso, enquanto Janaína Paschoal reprovada, não atingindo a nota mínima

exigida.
Pouco tempo após a divulgação do resultado, a candidata Janaína Paschoal

passou a manifestar-se publicamente em suas redes sociais, acusando

irresponsavelmente a banca do concurso de ter favorecido os candidatos aprovados, por

uma alegada existência de relação íntima e pessoal deste manifestante com os

avaliadores, o que teria lhe gerado um favorecimento de forma claramente desleal.

De modo igualmente irresponsável, a recorrente teceu também acusações de

“plágio”, ou “eventual plágio”, afirmando que esse peticionário, sub-repticiamente, adotou

ideias de aluno que defendera tese de doutoramento, chamando-as de suas.

Praticamente uma semana antes de apresentar seu recurso à Congregação da

Faculdade de Direito da USP, a candidata reprovada valeu-se do ambiente público da

internet para espalhar pelas redes sociais e veículos de comunicação a notícia daquilo

que rotulou como “fraude” e “plágio”.

A sequência integral das declarações publicadas pela requerida acompanha esta

inicial, mas cabe mencionar desde já de que forma iniciaram as acusações tecidas contra

este requerente:
1

1 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721773597839360
2 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913721999352098817
3 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722153970880512
4

4 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722427104010240
5 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722669085884416
6 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913722860513976320
7

7 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723017120927746
8 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723153276432384
9 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723556705468416
10

11

10 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723741041029120
11 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913723920968232960
12

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14

12 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724020440403969
13 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724271888945152
14 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913724446208389120
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16

- 17

15 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725474462937088
16 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913725981067808769
17 https://twitter.com/JanainaDoBrasil/status/913726143651565568
Nem há como se falar que as suspeitas de plágio poderiam ser legítimas e que a

requerida não tinha, no momento das publicações, meio de checar se suas suspeitas

procediam, isso porque a ré entrou em contato com o alegado “plagiado”, Leandro

Sarcedo, que, por mensagem de texto, informou à requerida que não vislumbrava

nenhuma identidade entre seu trabalho e a tese apresentada por este peticionante.

A ata notarial da troca de mensagens entre a ré e Leandro Sarcedo acompanha a inicial.

Assim, mesmo ciente da inexistência de plágio – já que informada pelo próprio

autor supostamente ‘plagiado’ da inexistência de qualquer semelhança entre os escritos

– a requerida insistiu em proferir acusações para questionar o mérito deste autor

em suas conquistas acadêmicas.

Importante observar, ainda, que todas as graves acusações feitas pela requerida,

foram proferidas em sua conta na rede social Twitter (https://twitter.com/janainadobrasil)

que conta com mais de 85 mil seguidores, o que evidencia que qualquer afirmação

feita neste ambiente virtual tem seu alcance muito potencializado, em razão da

quantidade enorme de pessoas que essas afirmações atingem:


Esse potencial de divulgação de conteúdos implica também na potencialização das

consequências decorrentes das acusações que profere em sua conta pública da rede

social. Não é novidade a capacidade que a requerida tem de “viralizar” conteúdos, tendo

suas manifestações replicadas em diversos ambientes, inclusive em outras redes sociais

e, com isso, pautando até mesmo o conteúdo da grande mídia, cenário este que aumenta

sobremaneira a responsabilidade da requerida por suas manifestações.

Logo na sequência da publicação dessas acusações, este manifestante já

começou a sentir a dimensão das consequências que isso traria para sua vida pessoal e

acadêmica. O momento que era de comemoração pela conquista – legítima e merecida –

, de celebração de sua trajetória acadêmica marcada por tanto esforço e dedicação, se

transformou em um momento de resposta às tantas acusações que surgiram, com o

direcionamento de diversas ofensas o classificando como “bandido, desonesto, corrupto,


mentiroso” e outras tantas ofensas graves, que podem ser melhor ilustradas com as

reações de outros usuários da rede social às publicações feitas:

18

19

18 https://twitter.com/oofaka/status/913722426470670336

19 https://twitter.com/ceciliabourdon/status/913727712300281856
20

21

20 https://twitter.com/Santiago_andart/status/913725641341702144
21 https://twitter.com/AlaridoSu/status/913719954280714240
22

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22 https://twitter.com/galvao_valter/status/913745037653106689

23 https://twitter.com/edmilson1/status/913717099683569664
24

25

24 https://twitter.com/JuniorGaruzzi/status/913717687779504128
25 https://twitter.com/JacqueMaara/status/913736058692603904
26

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26 https://twitter.com/leaaoun/status/913789633317699585

27 https://twitter.com/macunaimaz/status/914339902468354048
28

28 https://twitter.com/csilva_2112/status/913725703354552326
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29 https://twitter.com/BernadeteVeras/status/913731800907829248
30 https://twitter.com/sofia_escolha/status/918127609812279301
Além disso, as acusações levianas feitas pela requerida repercutiram também

em matérias divulgadas por diversas outras páginas, como a Revista Exame31, que

divulgou também em sua página do Facebook,32 o Estadão33, a página do Facebook

“Juntos Pelo Brasil”, e os jornais online Correio do Poder34, Correio Braziliense35 e

Gazeta do Povo 36.

Cabe registrar também que esse potencial de divulgação se agrava a cada

replicação das postagens da requerida, já que é exposta não apenas para os seguidores

da requerida, mas também para seguidores daqueles que compartilham seu conteúdo. A

página da Revista Exame, por exemplo, conta mais de 4 milhões de assinantes,

como pode ser visto nas publicações trazidas com a inicial.

A divulgação desses conteúdos na imprensa e em suas páginas de redes sociais

gerou uma série de outras reações odiosas contra este manifestante, colocando em

descrédito todo seu esforço acadêmico, sua história e suas conquistas, tirando

credibilidade de seu nome cuja reputação foi construída com tanto trabalho e dedicação.

Na matéria divulgada na página da Revista Exame, por exemplo, foram diversos os

comentários no seguinte sentido:

31https://exame.abril.com.br/brasil/janaina-paschoal-acusa-professor-da-usp-de-plagio/
32https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953
33 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reprovada-autora-do-impeachment-ve-perseguicao-na-
usp,70002038198
34http://www.correiodopoder.com/2017/09/janaina-paschoal-sofre-ameacas-e-pede.html
35 http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2017/10/11/internas_polbraeco,632937/janaina-

paschoal-alega-perseguicao-na-usp-e-quer-anulacao-de-concurso.shtml
36 http://www.gazetadopovo.com.br/justica/janaina-paschoal-acusa-banca-da-usp-de-fraude-
4m5biugb5pvv00tkhopeqf1pt
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37

https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155703311428953&comm
ent_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D
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38 https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155705015388953
39

https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155703847708953&comm
ent_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D
40

https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155703731468953&comm
ent_tracking=%7B%22tn%22%3A%22R9%22%7D
41 https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155704018003953
42

43

Assim, utilizando de todo esse potencial do funcionamento das redes sociais, bem

como abusando da relevância que conquistou no ambiente virtual (relevância aqui

colocada no sentido técnico da palavra neste ambiente, que considera a capacidade de

conseguir um grande número de menções em curto espaço de tempo e com isso colocar

os assuntos divulgados como tópico de relevância nas redes sociais), a requerida,

inconformada com sua reprovação no mencionado concurso, decidiu proferir uma série

de acusações infundadas para macular a honra e a imagem deste requerente.

É possível que algumas das mensagens divulgadas pela requerida não pareçam

tão claras, devido à limitação do espaço para manifestação na rede social em que isso

iniciou. Para que não restem dúvidas da intenção e da gravidade das acusações feitas

nas publicações, cabe observar o que foi alegado no recurso interposto no processo

administrativo em face do resultado final do concurso.

42 https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155703437933953
43 https://www.facebook.com/Exame/posts/10155703288918953?comment_id=10155703515848953
Evidente que não se questiona aqui a interposição do recurso em si, o direito

recursal é legítimo e deve ser exercido por todos que sintam essa necessidade. O que se

questiona é a utilização de rede social de grande alcance e relevância para divulgar fatos

inverídicos e graves contra este manifestante, fazendo isso, inclusive, muito antes da

interposição de qualquer recurso ou medida para uma mínima apuração da veracidade

das acusações que tece.

(...)
Vê-se, portanto, que a requerida, motivada unicamente por sentimento de

revolta e vingança, construiu narrativa para desacreditar todo o esforço acadêmico

do requerente na construção de sua carreira profissional e na consolidação de sua

imagem como acadêmico respeitado e referenciado na área.

A comemoração de sua conquista foi ofuscada pela necessidade de se explicar

para diversos veículos de comunicação, bem como para tantas outras pessoas e

profissionais, demonstrando que sua tese e sua carreira acadêmica não são a fraude

afirmada pela requerida Janaína Paschoal.

Não se questiona aqui, reitera-se, a possibilidade de a requerida pleitear, pelas vias

legítimas, a legalidade de qualquer fase do concurso, tanto nas vias administrativa quanto

judicial.

O que não é aceitável é que seu inconformismo motive atos de escracho

público de seus concorrentes e dos demais envolvidos no concurso, maculando a

imagem e a honra de todos de forma deliberada e intencional, apenas para colocar

em descrédito este requerente – aprovado em primeiro lugar – e lançar, buscando

vingança por sua reprovação, desconfiança sobre a credibilidade de sua carreira

acadêmica e seus trabalhos.

Cabível e necessária, diante do cenário exposto, a reparação por danos morais

aqui pleiteada, como passa-se agora a demonstrar e fundamentar.


DOS DANOS À HONRA E À IMAGEM

Os direitos da personalidade, disciplinados no Capítulo II, do Livro I, da Parte

Geral do Código Civil, são definidos como o direito irrenunciável e intransmissível que

todo e cada indivíduo possui de controlar o uso de seu corpo, nome, imagem ou quaisquer

outros aspectos constitutivos de sua identidade.

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, X, afirma categoricamente que “são

invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado

o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.

O requerente é advogado e acadêmico, professor da Universidade de São Paulo.

É fato sabido que o principal elemento formador do valor de um profissional tanto na

academia quanto na advocacia é sua credibilidade, responsável pela confiança que

constrói publicamente. Toda a trajetória, acadêmica e profissional, agrega experiência e

valor a esta imagem, justamente por evidenciar o esforço e a honestidade de sua

formação.

Assim, um ataque a essa honra, colocando dúvidas sobre sua credibilidade e

honestidade acadêmica, é inegavelmente uma ofensa que gera mais do que o mero

dissabor do ataque público. O poder de repercussão da mensagem e a gravidade das


acusações geram inegável dano a essa imagem de profissional dedicado e acadêmico

respeitado, afetando a credibilidade que honestamente construiu em anos de carreira.

O artigo 12 do Código Civil estabelece que, diante desse tipo de situação, pode-se

exigir que cesse a lesão ao direito da personalidade, bem como reclamar eventuais danos

que se façam presentes. Além disso, o artigo 20 do mesmo diploma legal é absolutamente

claro ao afirmar que a exposição e utilização da imagem de uma pessoa poderão ser

proibidas, sem prejuízo da indenização que couber, “se lhe atingirem a honra, a boa fama

ou a respeitabilidade”.

Isto é exatamente o que se observa no caso em tela.

A ré, ao veicular acusações envolvendo o autor, vinculando-o a um fato

desabonador e criminoso (plágio e fraude em concurso público), causou diversos danos

aos direitos personalíssimos do autor, gerando, assim, o dever de indenizar, nos termos

dos artigos 12 e 927 do Código Civil.

Conforme narrado anteriormente, a propagação das notícias e acusações feitas

levianamente contra o autor atingiu milhões de pessoas, que tiveram acesso não só ao

perfil da ré em sua rede social, mas também às páginas que repercutiram o conteúdo,

sendo certo que não há como deixar de reconhecer o dano que fora causado à honra e

imagem do autor.
Destaque-se que não só o autor foi estampado como um criminoso, plagiador e

responsável por fraude acadêmica, como também seu cargo na Universidade de São

Paulo e sua carreira na advocacia poderiam ser ameaçados diante das acusações feitas.

Não restam dúvidas, portanto, acerca dos danos que foram causados à imagem e

honra do autor, ao qual fora atribuída, de forma absolutamente leviana – e sem nenhuma

investigação ou movimentação para apuração dos fatos pelos meios legais – a prática de

grave delito penal e de desonrosa postura acadêmica, devendo ele ser devidamente

indenizado por este fato, diante do ato ilícito e danoso cometido pela ré. É este o

entendimento dominante na jurisprudência pátria:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. OFENSA


A HONRA DE MAGISTRADO. COMPROVAÇÃO DO ATO ILÍCITO E
NEXO DE CAUSALIDADE. DESNECESSÁRIO A COMPROVAÇÃO DO
DANO MORAL. ARTS. 535 E 458 DO CPC. OFENSA. INEXISTENTE.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO.
- O Art. 535 do CPC não é maltratado, quando o acórdão decide com
clareza, precisão e fundamentadamente as questões pertinentes.
- Inexistindo defeito de fundamentação capaz de tornar nulo o julgado,
inexiste ofensa ao Art. 458 do CPC.
- A prova do dano moral resulta da simples comprovação do fato que
acarretou a dor, o sofrimento, a lesão aos sentimentos íntimos.
- Nega-se seguimento a recurso especial interposto pela alínea c, em que
não se demonstra a divergência nos moldes exigidos pelo Art. 255 do
RISTJ.
- Em recurso especial somente é possível revisar a indenização por danos
morais quando o valor fixado nas instâncias locais for exageradamente
alto, ou baixo, a ponto de maltratar o Art. 159 do Código Beviláqua. Fora
desses casos, incide a Súmula 7, a impedir o conhecimento do recurso.
- A indenização deve ter conteúdo didático, de modo a coibir
reincidência do causador do dano sem enriquecer injustamente a
vítima.44

44STJ – Recurso Especial nº 968.019/PI – 3ª Turma – Rel. Min. Humberto Gomes de Barros – julgado em
16.08.2007 – publicado em 17.09.2007
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
DECORRENTE DE USO INDEVIDO DA IMAGEM E DANO À IMAGEM
POR FALSA IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DE CRIME. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE EXERCÍCIO, DENTRO DOS LIMITES,
DO DIREITO À INFORMAÇÃO QUE LHE É GARANTIDO
CONSTITUCIONALMENTE. VEICULAÇÃO DE NOTÍCIAS DE
INTERESSE PÚBLICO. AUSÊNCIA DE DOLO. O DEVER DE INDENIZAR
DECORRE DE ATO ILÍCITO, QUE PODE DECORRER DE DOLO OU
CULPA. DIREITO À IMAGEM. NÃO SE CONFIGURA USO INDEVIDO,
QUE, POR SI SÓ, JUSTIFICA A REPARAÇÃO, POR SE TRATAR DE
FATO OCORRIDO NA VIA PÚBLICA, MAS A VINCULAÇÃO DA IMAGEM
À FALSA PRÁTICA DE CRIME CONFIGURA O DANO MORAL.
CUMULAÇÃO DO DANO MORAL COM O DANO À IMAGEM.
IMPOSSIBILIDADE. DANO À IMAGEM CONTIDO NO DANO MORAL.
RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.45

INDENIZAÇÃO DE DANO MORAL - ADVOGADO - IMPUTAÇÃO DE


CRIMES AOS ORA APELANTES MANIFESTAÇÕES EM DEFESA DOS
INTERESSES DE CLIENTES, QUE SÃO DEVEDORES DOS ORA
APELANTES - PETIÇÕES APRESENTADAS EM JUÍZOS DE PRIMEIRA
INSTÂNCIA E TAMBÉM NESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO
PAULO - CALÚNIA, ABUSO DE DIREITO E VIOLAÇÃO DE DEVERES
PROCESSUAIS - IMUNIDADE PROFISSIONAL QUE NÃO PERMITE
OFENSAS PESSOAIS - INTELIGÊNCIA DO ART. 7o, § 2o, DO
ESTATUTO DA ADVOCACIA - ATOS ILÍCITOS - DEVER DE INDENIZAR
- DANOS MORAIS - INDENIZAÇÃO ARBITRADA TENDO EM VISTA OS
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE,
BEM COMO O VALOR DO CRÉDITO E O FATO DE O APELADO SER
PROCURADOR DE JUSTIÇA APOSENTADO - RECURSO PROVIDO.
INTERESSE EM RECORRER - SENTENÇA OMISSA QUANTO AO
PLEITO DE CONDENAÇÃO POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - NÃO
INTERPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, MAS APENAS DE
APELAÇÃO - FALTA DE LESIVIDADE INTELIGÊNCIA DA REGRA DO
CAPUT DO ART. 499 DO CPC - RECURSO NÃO CONHECIDO. 46

45 TJPA – Apelação Cível nº 0020647-80.2008.8.14.0301 – 1ª Câmara Cível Isolada – Relª. Desª. Gleide
Pereira de Moura – julgado em 12.12.2011 – publicado em 10.01.2012
46 TJSP – Apelação Cível nº 0124922-95.2009.8.26.0100 – 8ª Câmara de Direito Privado – Rel. Des.

Theodureto Camargo – julgado em 16.03.2011 – publicado em 04.04.2011


Em caso bastante recente, amplamente noticiado, foi prolatada sentença

condenando pessoa que, como a ré, possui grande influência nos meios digitais, e utilizou

dessa influência para atacar a imagem e a honra dos envolvidos em situação que a

desagradou. Nos autos da Ação de Indenização por Dano Moral nº 1010309-

17.2015.8.26.0009, da 1ª Vara Cível do Foro Regional IX – Vila Prudente, da Comarca de

São Paulo, o Juiz de Direito Dr. Jair de Souza decidiu que a ré – amplamente conhecida

nas redes sociais – deveria ser condenada pelo dano causado, afirmando que:

A partir do momento em que atingiu posição de destaque na mídia e nas

plataformas digitais, tornou-se referência para um incontável número de

pessoas de diversas idades, credos e condições sociais, de forma que, para

o bem ou para o MAL, sua palavra, suas posições e o material que divulga

acabam por ganhar uma força avassaladora onde quer que divulgados

sejam.

(…)

Situação do parágrafo anterior que implica no necessário uso COM

RESPONSABILIDADE do seu instrumento de trabalho (IMAGEM) a fim de evitar

que embates como o narrado neste processo ganhem vida. Extrai-se que o uso

inconsequente destas vias para macular a honra e a imagem do requerente

implicou em transtornos que em muito extrapolam a esfera do dissabor.

(…)

No caso, o magistrado identificou e apontou de forma precisa a capacidade de,

com o uso de uma plataforma social com grande quantidade de acessos (como é o perfil
da requerida), macular a imagem e criar imenso dano à honra e ao convívio do ofendido

por conteúdo “viralizado”:

É dizer, o conflito e o destilar de ofensas que até então era protagonizado

APENAS pelo requerente e pela requerida ganhou uma série de

coadjuvantes, todos contra o requerente e sabedores de apenas um lado da

história (a versão unilateral e "viralizada" pela requerida pelos meios de

comunicação, aos quais tem fácil acesso pela fama que conquistou).

Esse uso irresponsável dos meios de comunicação para ofender a honra do

requerente configura inegável ofensa à honra e a imagem do requerente, cabendo

inegavelmente a condenação em reparação material do dano, como restou reconhecido

na sentença mencionada, fundamentada em outros julgados do e. TJ/SP:

Frontalmente ofendido o comando do art. 5º, X da Constituição Federal, em

detrimento do requerente, pela postura da requerida: X - são invioláveis a

intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito

a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Em suma,

acabaram diretamente maculados os direitos da personalidade do requerente por

culpa da requerida, direitos estes intransmissíveis e irrenunciáveis e que vistos

sob o ótica da integridade moral compreendem: "A integridade moral é garantida

mediante o reconhecimento dos direitos à liberdade, à honra, ao recato, ao

segredo e ao sigilo, à imagem e à identidade, de que tratam dispositivos

constitucionais (art. 5º, V, X, XII, XIV, LVI, LX, LXXII) e legais...". (DUARTE,
NESTOR, Código Civil Comentado - Doutrina e Jurisprudência, Coord. Ministro

CEZAR PELUSO. 11ª Ed., Barueri, SP: Manole, 2017, p. 30).

Direitos que, dado seu caráter extrapatrominial, perpétuo e absoluto, gozam de

oponibilidade erga omnes, e como tal devem ser respeitados por tudo e por todos,

tanto que o art. 12 do código civil legitima tal dever e autoriza a imposição de

sanções pelo seu descumprimento: Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça,

ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo

de outras sanções previstas em lei.

Sanção a se materializar pelo reconhecimento do dever de reparar

moralmente, maneira mais do que idônea à compensação dos prejuízos

narrados. Neste sentido desponta a jurisprudência do E. TJSP para casos

símiles:

"APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL.

Divulgação de vídeo no site Youtube, que extrapolou os limites do direito

constitucional de informação, assumindo contornos pessoais e atingindo a

honra e a imagem da autora. Exclusão dos vídeos sob análise, que se impõe.

DANO MORAL. Ocorrência. Quantum indenizatório. Valor que atenta à dupla

finalidade da reparação. Responsabilidade pelo pagamento que deve ser fixada

apenas ao ofensor, diante da impossibilidade de controle prévio do conteúdo

disponibilizado pelos usuários. Sentença mantida. SUCUMBÊNCIA.

Redimensionada. RECURSOS NÃO PROVIDOS". (TJSP. Apel. nº 1066847-

02.2016.8.26.0100. Des. Relatora: Rosangela Telles. 2ª Câmara de Direito

Privado. D.J: 23/08/2017)


E ainda: "RESPONSABILIDADE CIVIL - OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS Internet Autor que busca a retirada de

vídeo ofensivo acerca de sua pessoa, veiculado pelo youtube (serviço

disponibilizado pela ré) e publicado pelo corréu, intitulado 'O golpista do

ano', além do recebimento de indenização por danos morais Decreto de

parcial procedência Recurso interposto pelo Google Brasil, insurgindo-se quanto

à condenação solidária ao pagamento da indenização reclamada Insurgência que

comporta acolhida Tutela antecipada que foi cumprida pelo apelante e que se

limita ao território nacional Limite territorial da decisão judicial (art. 16 do Novo

CPC) torna descabida a argumentação de descumprimento da medida, fora do

território nacional Remoção do conteúdo deve ser local e não global Precedentes

Sentença reformada para excluir a condenação do Google Brasil Internet ao

pagamento de indenização por danos morais Ato ilícito por ele não praticado, eis

que provedor/hospedeiro do site de buscas (que não pode responder pelo teor de

vídeo postado por terceiros, no caso, o corréu) Exigibilidade da multa (valor

limitado por esta Turma Julgadora em sede de agravo de instrumento) Questão

que não cabe discussão em grau de apelação, não havendo ainda execução,

sequer provisória, nesse sentido - Recurso parcialmente provido". (TJSP. Apel. nº

1054138-03.2014.8.26.0100. Des. Relator: Salles Rossi. 8ª Câmara de Direito

Privado. D.J: 05/04/2017)

No mais: "INDENIZAÇÃO Dano moral Veiculação de vídeos contendo

acusações aos autores - Utilização de termos pejorativos - Abusividade no

exercício do direito à liberdade de manifestação do pensamento

reconhecida - Evidente o intuito do réu de denegrir a honra e a imagem dos

autores e inequívoca a ofensa causada Danos morais configurados -

Indenização fixada em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) que não comporta redução

Sentença confirmada RECURSO NÃO PROVIDO". (TJSP. Apel. nº 0196204-


91.2012.8.26.0100. Des. Relator: Elcio Trujillo. 10ª Câmara de Direito Privado. D.J:

18/10/2016)

Ademais, como já mencionando anteriormente, a requerida possuía meios legais

de questionar a legalidade do concurso prestado, e meios lícitos para buscar a apuração

de eventual fraude ou a ocorrência de plágio no trabalho de quaisquer dos seus

concorrentes. No entanto, optou por medida absolutamente desproporcional para

“reparação” de sua insatisfação, que foi utilizar de seus meios de influência pública para

desonrar a imagem do requerente, apenas um professor.

Em proporção menos gravosa – já que se tratava de cidadão que não era

conhecido publicamente e nem tinha em sua credibilidade intelectual um dos pilares

fundamentais do exercício de sua atividade – foi isso também que aconteceu no caso da

sentença aqui trazida:

Basta atentar, como já enfatizado, que sua postura nas redes sociais foi

diametralmente DESPROPORCIONAL à discussão travada com o requerente

(principalmente quando mensuradas suas consequências). Tivesse esta última

limitado sua insurgência à formulação de reclamação junto ao Departamento de

Transportes Públicos (DTP), ao registro de Boletim de Ocorrência perante a

polícia (para apuração de eventual ilícito pela AUTORIDADE COMPETENTE), ou

ainda utilizado "as provas" que aduz ter produzido com vias a eventual promoção

de discussão judicial, talvez outra fosse sua posição nos presentes autos.
Todavia, ao revés, optou por utilizar o material que tinha para o exercício de

verdadeira "autotutela", de inequívoca "vingança privada": salvo exceções

previstas em lei, expressamente vedada pelo ordenamento jurídico pátrio e

como tal digna de reprimenda. Assim, a requerida deverá indenizar o

requerente pelos danos morais a ele impingidos.

Como já relatado, a página administrada pela ré tem um longo alcance, sendo

seguida por mais de 85 mil pessoas somente no “Twitter”. Destas, milhares

compartilharam as ilações da requerida, que chegaram a ser divulgadas por

páginas que contam com, literalmente, milhões de seguidores.

Verifica-se, portanto, que o dano causado pela ré ao veicular levianamente

acusações desonrosas contra o autor, atribuindo a ele a prática de crimes, realização de

plágio a participação de um esquema fraudulento para sua aprovação em concurso, já foi

concretizado, produzindo um abalo psíquico e a desconstrução pública de sua

credibilidade burilada ao longo de anos.

O E. Des. Oldemar Azevedo, em acórdão de sua relatoria proferido na Apelação

Cível nº 0124267-69.2008.8.26.0000 (5ª Câmara de Direito Privado do TJ/SP), tratando

da ação movida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em face do também jornalista

Diogo Mainardi e da Editora Abril afirmou que:

“O exercício abusivo e irresponsável do direito, se causar danos, enseja o


dever de indenizar.
"In casu", a liberdade de manifestação do pensamento transbordou os
limites nos quais poderia ser exercida.

Um jornalista de renome, que manifesta suas idéias formadoras de opinião


em um dos maiores veículos de comunicação impressos do País deve
responder pelos prejuízos que eventualmente vier a causar nessa situação.

[...]

Em hipótese de lesão, cabe ao agente suportar as conseqüências do seu


agir, desestimulando-se, com a atribuição de indenização, atos ilícitos
tendentes a afetar os aspectos da personalidade humana”.

Desta feita, de rigor o reconhecimento dos danos causados à imagem e honra do

autor pela ré, tendo as publicações mencionadas lhe causado inúmeros e irreparáveis

danos, sendo imprescindível a retirada do conteúdo ofensivo, bem como a reparação

monetária do dano causado.

DO VALOR DA INDENIZAÇÃO

É fato que a dificuldade na reparação do dano extrapatrimonial consiste

exatamente na inexistência de um bem quantificável a ser reparado. Trata-se, no presente

caso, da reparação de um bem subjetivo, não monetizável.

Não é possível acreditar que uma indenização financeira seja capaz de reconstruir

toda a credibilidade e idoneidade que fundou a carreira deste requerente, construída com

dedicação e esforço, abalada em razão das irresponsáveis publicações da requerida. A

indenização financeira assim, com este objetivo, surge como tentativa de amenizar o

dano, vez que desfazê-lo é impossível.


Busca-se, portanto, além da reparação / amenização dos danos o caráter

punitivo-pedagógico da indenização, visando que a ré não torne a veicular

inadvertidamente acusações levianas para macular a imagem de pessoas

inocentes, sem qualquer validação dos fatos noticiados.

No julgamento do Recurso Especial nº 1.440.721, de relatoria da Ministra Maria

Isabel Galotti, o Superior Tribunal de Justiça reafirmou alguns pontos pertinentes para a

determinação do valor indenizatório em caso de publicação de falsas acusações,

colocando em análise quem é o ofendido, o potencial de divulgação e disseminação das

informações falsas e a gravidade do que foi falado. Decidiu-se, assim, que:

“Dessa forma, atentando-se às peculiaridades da causa e levando-se em

consideração que o autor é figura pública e a gravidade da falsa acusação

que lhe foi graciosa e dolosamente imputada, bem como a capacidade

econômica dos ofensores, entendo que a majoração da condenação de cada

recorrido para o valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais)

mostra-se adequada para reparar os danos morais sofridos e resguardar os

direitos da personalidade atingidos, de modo a cumprir também com a

função punitiva e a preventiva, sem ensejar a configuração de

enriquecimento ilícito."

No caso mencionado houve a publicação de livro que imputava ao autor da ação,

figura pública cuja atuação profissional depende diretamente da credibilidade que constrói
– exatamente como no presente caso – fatos ofensivos, que maculavam sua honra,

extrapolando assim os limites de crítica pura à uma figura pública.

Do inteiro teor extrai-se que “em que pese o entendimento de que é natural uma

maior exposição à opinião e à crítica dos cidadãos e da imprensa por parte das

pessoas públicas e notórias, não há espaço para que essas liberdades de

expressão e informação se desviem para inverdades e ofensas pessoais. O

exercício da crítica, bem como do direito à liberdade de expressão, não pode ser

usado como pretexto para prática de atos ofensivos à honra, como ocorreu no caso

em apreço (...)”.

O acórdão mencionado restou assim ementado:

RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE LIVRO. FALSO

RELATO DE CUNHO RACISTA E EUGÊNICO ATRIBUÍDO A POLÍTICO.

REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONAL DA FALSA IMPUTAÇÃO.

DANO MORAL REPARAÇÃO ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO

INTEGRAL DO DANO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA.

NÃO RECEBIMENTO DA APELAÇÃO POR PREMATURIDADE. TRÂNSITO EM

JULGADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR RAZOÁVEL. REVISÃO.

SÚMULA 7/ST

1. Consoante se extrai do acórdão do Supremo Tribunal Federal na ADIn

4.815/DF, a dispensa de autorização prévia dos envolvidos para a publicação de

biografias implica a responsabilidade a posteriori por danos comprovadamente


causados. Extrai-se do voto da relatora, a Ministra Cármen Lúcia, que "não há, no

direito, espaço para a imunidade absoluta do agir no exercício de direitos com

interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é ação responsável.

Responde aquele que atua, ainda que sob o título de exercício de direito próprio."

2. A liberdade de expressão acarreta responsabilidade e não compreende a

divulgação de falsidade e a prática de crimes contra a honra. A divulgação

de episódio falso, como se verdadeiro fosse, além de ofender a honra do

lesado, prejudica o interesse difuso do público consumidor de bens

culturais, que busca o conhecimento e não a desinformação.

3. Publicação de livro imputando falsamente a pessoa pública afirmações de

cunho racista e eugênico. Ampla divulgação na mídia impressa, televisiva e

virtual, tendo acarretado também processo criminal contra o autor perante o

Supremo Tribunal Federal por crime de racismo e processo de cassação de

mandato perante a Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar

4. Admite-se a revisão do valor fixado a título de condenação por danos morais

em recurso especial quando ínfimo ou exagerado, ofendendo os princípios da

proporcionalidade e da razoabilidade.

5. A indenização por danos morais possui tríplice função, a compensatória,

para mitigar os danos sofridos pela vítima; a punitiva, para condenar o autor

da prática do ato ilícito lesivo, e a preventiva, para dissuadir o cometimento

de novos atos ilícitos. Ainda, o valor da indenização deverá ser fixado de

forma compatível com a gravidade e a lesividade do ato ilícito e as

circunstâncias pessoais dos envolvidos.

6. Indenização no valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), a

cargo de cada recorrido, que, no caso, mostra-se adequada para mitigar os danos

morais sofridos, cumprindo também com a função punitiva e a preventiva, sem

ensejar a configuração de enriquecimento ilícito.


7. O direito de resposta, de esclarecimento da verdade, retificação de informação

falsa ou à retratação, com fundamento na Constituição e na Lei Civil, não foi

afastado; ao contrário, foi expressamente ressalvado pelo acórdão do Supremo

Tribunal Federal na ADPF 130. Trata-se da tutela específica, baseada no princípio

da reparação integral, para que se preserve a finalidade e a efetividade do instituto

da responsabilidade civil (Código Civil, arts. 927 e 944).

8. Segundo o entendimento pacífico do STJ, ao juiz, como destinatário da prova,

cabe indeferir as que entender impertinentes, sem que tal implique cerceamento

de defesa. Incidência da Súmula 7/STJ.

9. Tendo sido negado processamento ao recurso de apelação interposto pela

Editora, por decisão transitada em julgado, não cabe apreciar sua inconformidade

de mérito em grau de recurso especial.

10. A alteração dos valores dos honorários advocatícios fixados pelo Tribunal de

origem, quando não irrisórios ou excessivos, exige o reexame de fatos e provas

incabível no âmbito do recurso especial. Incidência da Súmula n° 7/STJ.

11. Recurso especial de Ronaldo Ramos Caiado parcialmente conhecido e, na

parte conhecida, provido.

12. Recurso Especial de Fernando Gomes de Moraes conhecido em parte e, na

parte conhecida, não provido.

13. Recurso especial de Editora Planeta do Brasil Ltda não conhecido.

Importante mencionar que os fatos falsos e ofensivos que foram publicados no caso

trazido foram publicados em um livro, intitulado “Na toca dos Leões – A História da

W/Brasil”, cuja tiragem foi de 70 mil exemplares.47 Ou seja, mesmo que fossem vendidos

47Segundo dados da Folha de S. Paulo, disponível em:


http://waww1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0104200510.htm Acessado em Janeiro de 2018.
todos os exemplares – o que não ocorreu, já que liminarmente houve recolhimento dos

livros – e todos eles fossem efetivamente lidos, o alcance as acusações falsas seria de

70 mil leitores.

Para arbitrar o valor do dano observou-se ainda que, além dos potenciais 70 mil

leitores, houve ampla divulgação na imprensa sobre a obra, o que aumentou o alcance

das imputações ofensivas e, em consequência, a gravidade do fato ofensivo.

No presente caso, a requerida tem, somente na rede social onde publicou as

acusações, mais de 85 mil seguidores, pessoas que efetivamente receberam este

conteúdo e leram as acusações. Além disso, houve grande repercussão na imprensa,

com manifestações da requerida sendo replicadas por grandes jornais em páginas que

alcançam mais de 4 milhões de usuários.

Assim, é inegável que a forma como foram proferidas as acusações contra este

autor é muito mais gravosa, vez que a internet e as redes sociais têm um potencial de

superdimensionar a divulgação de conteúdos.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo tem atentando para esse potencial

das redes sociais de ampliar a gravidade da ofensa. No julgamento da apelação nº

4015572-23.2013.8.26.0114 foi mantida integralmente a sentença do juízo de origem que,

diante de um caso de ofensas proferidas em perfis de redes sociais, adotou o seguinte

entendimento:
A partir do momento em que uma pessoa usa sua página pessoal em rede social

para divulgar mensagem inverídica ou para nela fazer constar ofensas a terceiros,

como no caso em questão, por certo são devidos danos morais, sobretudo tendo

em conta os desdobramentos das publicações - devendo ser encarado o uso

desse meio de comunicação com mais seriedade e não com caráter informal,

como tentou demonstrar o réu”

“Neste passo, dada a especificidade do caso concreto, em cotejo com o fato

ocorrido, que envolve personalidades publicamente conhecidas, bem como a

repercussão que a publicização das ofensas toma no âmbito da internet e, ainda,

o potencial econômico dos envolvidos na contenda judiciosa a fixação da verba

indenizatória no importe de R$ 100.000,00, que deverá ser dividido entre os

autores.

Vale anotar que fixar o quantum em valor menor ao ora estabelecido seria até

mesmo vilipendiar o direito à reparação da atingida personalidade dos ofendidos,

sobretudo, como dito, por se tratarem de pessoas públicas, possuírem grande

projeção social e patrimônio expressivo.

Em outro caso (Apelação nº 4002929-85.2013.8.26.0032), em que as ofensas

proferidas não foram contra pessoa pública, o simples fato de terem sido veiculadas em

rede social foi tido como suficiente para que o valor indenizatório fosse arbitrado no valor

de 40 salários mínimos para cada um dos requeridos:

A honra do autor foi claramente maculada e, pior, com o perdão da repetição, teve

como pano de fundo uma rede social, veículo conhecido pelo seu alto e

rápido poder de difusão.


Houve dano à esfera moral do demandante. Sua honra e seu íntimo foram

agredidos, ou seja, seu patrimônio espiritual. As expressões e o teor das

postagens não foram insignificantes, não podendo ser considerados

simples e momentâneo dissabores. Ademais, tiveram como foco principal

assuntos extremamente delicados para qualquer pessoa, como sua conduta

pessoal, sua carreira profissional, seu caráter e, principalmente, o seio familiar

(prole).”

“O valor apropriado é aquele que pune os réus e de certa forma satisfaz o autor.

A indenização tem caráter de desestímulo. Ele deve ser moderado e equitativo.

Nem de longe a condenação pode ser considerada captação de lucro. No caso, o

valor que se mostra justo, punindo os réus e de certa forma satisfazendo o autor,

de rigor fixar o dano moral no valor equivalente a 40 salários mínimos para o

primeiro requerido; e outros 40 salários mínimos para a segunda requerida (...).

Assim, considerando a gravidade das acusações proferidas, o poder de

disseminação das publicações da requerida, que tem rede social com grande alcance, a

repercussão das publicações na grande imprensa, o fato de o autor ser pessoa pública,

academicamente conhecida em todo o país, que tem em sua reputação parte fundamental

de sua vida profissional, bem como o poder aquisitivo da requerida, que, além de

professora da Universidade de São Paulo, é advogada nacionalmente conhecida, entende

o autor ser razoável a indenização no valor de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais).
DA TUTELA DE URGÊNCIA

O conteúdo ofensivo publicado segue disponível para qualquer usuário da internet

– cadastrado ou não naquela rede e seguidor ou não do perfil da requerida. Por se tratar

de conteúdo público, é facilmente encontrado por qualquer um que faça uma busca com

o nome deste manifestante.

Se a veiculação das mensagens já causa inegável dano, esse se agrava se a cada

busca que for feita com o nome do requerente sejam mostradas entre os resultados todas

essas acusações infundadas. Enquanto os conteúdos ofensivos estiverem disponíveis

online a perpetuação do dano é inevitável.

Para tutelar situações como esta, em que há evidente perigo de dano, o CPC prevê

em seu artigo 300, §2º a possibilidade de deferimento liminar de tutela de urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao

resultado útil do processo.

(...)

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após

justificação prévia.

A probabilidade do direito restou devidamente demonstrada em todos os tópicos

precedentes, evidenciada pelo claro posicionamento jurisprudencial pacífico sobre o


tema, bem como pela gravidade das acusações absolutamente infundadas feitas pela

requerida.

Diante deste cenário, fica clara a necessidade da concessão da tutela provisória

em caráter liminar para permitir um mínimo de preservação da imagem deste manifestante

e impedir que o dano já causado se torne ainda mais gravoso.

DA OBRIGAÇÃO DE FAZER

Ainda que não deferido o pedido de tutela provisória, é inegável que a retirada do

conteúdo ofensivo que gerou o dano é essencial para a sua reparação.

No precedente trazido nesta inicial (STJ, Recurso Especial nº 1.440.721) foi

determinado liminarmente – e mantido ao final - o recolhimento dos livros que traziam as

ofensas discutidas, para que os danos tivessem menor alcance e fossem, assim,

minimizados.

Neste mesmo sentido, a retirada dos conteúdos publicados é de extrema

importância. Até mesmo porque aquilo que é publicado na internet tende a se perpetuar

no tempo, sendo facilmente encontrado com uma simples busca, perpetuando também

os danos que as ofensas e acusações mentirosas causaram.


Também, pela mesma razão, vez que as notícias e compartilhamentos que

surgiram da publicação originária estão fora de qualquer controle possível, é essencial

que a requerida seja compelida a publicar na mesma rede social retratação, nos mesmos

moldes que as ofensas, esclarecendo que as acusações levianas anteriormente

publicadas não são verdadeiras.

Somente assim é possível fazer chegar a informação verídica ao mesmo público

que recebeu – e compartilhou – as ofensas publicadas pela requerida, permitindo assim

que a honra e a imagem do requerente seja minimamente preservada – ou recuperada –

diante daqueles que

DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, requer:

a) Seja deferida liminarmente a tutela de urgência, para que seja

previamente determinada, sem a oitiva da parte contrária, a retirada das publicações

ofensivas da página pessoal da requerida, para que, em que pese seu conteúdo já tenha

se espalhado por diversas outras páginas, seja possível minimizar o dano que ainda pode

ser causado pelas acusações levianas que foram publicadas;


b) Seja determinado à requerida a publicação de retratação em suas redes

sociais, nos mesmos moldes em que publicou as ofensas, esclarecendo a todos os seus

seguidores que as acusações feitas envolvendo o requerente são inverídicas;

c) Sejam reconhecidos os danos à honra e imagem suportados pelo autor em

decorrência das publicações feitas pela ré, para condená-la ao pagamento de indenização

por danos morais a ser arbitrada por esse D. Juízo, em montante não inferior a R$

38.000,00 (trinta e oito mil reais).

d) Requer-se, ainda, que, decidido o caso por este juízo e havendo a

interposição de recurso por qualquer das partes, seja a ré condenada a suportar os ônus

sucumbenciais, com o pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos

honorários advocatícios fixados em 20% (vinte por cento) do valor da condenação, nos

termos do artigo 55 da Lei nº 9099/95.

Por oportuno, requer também a produção de todos os meios de prova admitidos

em direito, em especial a juntada de novos documentos, a tomada de depoimentos

pessoais e a oitiva de testemunhas.

Por fim, requer o autor sejam todas as intimações e publicações veiculadas em

nome de seus patronos, Fernando Gaspar Neisser, inscrito na OAB/SP sob nº 206.341

e endereço eletrônico neisser@gmail.com e Paula Regina Bernardelli, inscrita na

OAB/SP sob nº 380.645 e endereço eletrônico paula.regb@gmail.com, ambos com


escritório situado na Capital do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista, nº 2073, Horsa

II, Conjunto Nacional, 19º andar, sob pena de nulidade.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

São Paulo, 22 de janeiro de 2018.

FERNANDO GASPAR NEISSER PAULA BERNARDELLI


OAB/SP 206.341 OAB/SP 380.645

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