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Ocidental
AMORC, FUDOSI, René Guénon, Ocultismo, Rosa-
Cruz, Teosofia, Golden Dawn, Contra-Iniciação,
OTO, Shambhala, Agharta
Sumário
PARTE I - Dossiê AMORC-FUDOSI................................................................................................ 11
Dossiê AMORC............................................................................................................................. 12
1 - Introdução .......................................................................................................................... 12
2 - Harvey Spencer Lewis - fundador da Rosacruz AMORC (1883 – 1939) ............................. 13
3 - O "Doutor" H. Spencer Lewis ............................................................................................. 17
4 - Cerimônia de Iniciação na França - A "Iniciação" Rosacruz do "Dr." Lewis e "alguns de
seus protagonistas" (1ª Parte) ................................................................................................ 23
5 - As Outras Versões da "Iniciação" - A "Iniciação" do "Dr." Lewis e "alguns de seus
protagonistas" (2- parte) ......................................................................................................... 34
6 - Trabalho, Preparação e Primeira Desilusão ....................................................................... 44
7 - A Delegada da Índia (Um Personagem Misterioso) ........................................................... 47
8 - O Primeiro Manifesto da AMORC - Fevereiro 1915 ........................................................... 61
9 - A Carta de Verdier - Uma Grande Falsificação Apresentada Por Lewis aos Membros da
Rosacruz AMORC ..................................................................................................................... 65
10 - Manifesto R.C.R.F. 987.432 - A Falsificação Desaparecida .............................................. 70
11 - A Prisão do “Dr. Lewis” - Dinheiro que Desaparece - Reconhecimento de uma Mentira 77
12 - O "Doutor” Lewis - "O Mestre Profundis, o Mais Perfeito” - Outra Falsificação - O
Pronunciamento R.F.R.C. 987.601 .......................................................................................... 83
13 - Outra Invenção do "Doutor" Lewis - A Loja Egípcia e suas grutas com oficinas sob o
mando de El Moria Rá de Memphis ........................................................................................ 88
14 - Uma Falsificação Fotográfica do "Doutor" Lewis - a Rua Rosacruz de Toulouse ............. 93
15 - Carta Constitutiva da Grande Loja Branca - (outro "achado" do "doutor" Lewis, fundador
da rosacruz AMORC) ............................................................................................................... 99
16. O "Bispo" Harvey Spencer Lewis e sua Igreja Prístina da Rosa Cruz ............................... 106
17. Entrevista do "Dr." Lewis, fundador da Rosacruz AMORC, com Mussolini, ditador fascista
da Itália, em Março de 1937 ................................................................................................. 113
18. A Falácia da “Teoria dos Ciclos” do “Dr.” H. Spencer Lewis ............................................ 119
ADENDO .................................................................................................................................... 123
A ligação entre a AMORC, a OTO e Crowley ............................................................................. 136
H. Spencer Lewis conhece Reuss........................................................................................... 136
Lewis busca contato com Reuss ............................................................................................ 136
Conexão entre H. S. Lewis, a OTO e o Rito de Memphis-Mizraim ........................................ 137
A criação da T.A.W.U.C.......................................................................................................... 141
Preocupação de Lewis com Crowley ..................................................................................... 141
A Utilização pela AMORC de ensinamentos de Aleister Crowley da OTO ................................ 145
2
A Origem Secreta da Tradição Ritualística da AMORC .............................................................. 150
Introduzindo o Ritual Egípcio de Memphis-Misraim............................................................. 150
A FUDOSI (1936 - 1951)............................................................................................................. 156
Os Anos Precedentes ............................................................................................................ 156
TAWUC-Reuss e Lewis ........................................................................................................... 159
AMORC - Os Anos de Reconhecimento - Traenker & Lewis - A Segunda Fama .................... 161
O Amanhecer de Um Novo Dia, FUDOSI, A Preparação - Emile Dantinne ............................ 166
A Primeira Convenção – Bruxelas (1934) .......................................................................... 171
Primeiro dia, 8 de agosto de 1934; os Rosacruzes. ........................................................... 172
A Ordem Hermética Tetramagista e Mística - 9 de Agosto............................................... 172
O Rito de Memphis-Mizraim - 08-14 agosto. .................................................................... 172
A Ordem Martinista e Synárquica - 9 a 16 de agosto. ...................................................... 176
Simbologia do Emblema da FUDOSI.................................................................................. 177
As Ordens Esotéricas e a Política .......................................................................................... 180
Posição da FUDOSI Sobre A Maçonaria................................................................................. 181
A Segunda Convenção: Setembro de 1936. .......................................................................... 182
A Terceira Convenção: Agosto de 1937. ............................................................................... 183
A Quarta Convenção: Setembro de 1939.............................................................................. 183
1940 a 1945 - Os Anos da Ocupação ..................................................................................... 186
A Quinta Convenção: Julho de 1946. .................................................................................... 187
A 6ª e 7ª Convenção - Paris, setembro de 1947 e Bruxelas, janeiro de 1949....................... 189
A Sucessão Questionável de Augustin Chaboseau................................................................ 189
A 8ª Convenção – Agosto de 1951 ........................................................................................ 192
A FUDOFSI (1939) ..................................................................................................................... 195
Constant Chevillon Contra a FUDOSI .................................................................................... 197
FUDOFSI - Biografias.............................................................................................................. 202
Constant Chevillon (1880- 1944) ........................................................................................... 203
Reuben Swinburne Clymer (1878 - 1966) ............................................................................. 204
Arnold Krumm-Heller (1879-1949) ...................................................................................... 210
Hans-Rudolf Hilfiker-Dunn (1882-1955)................................................................................ 211
August Reichel ....................................................................................................................... 212
Jan Korwin Czarnomski / Conde Jean de Czarnomsky .......................................................... 212
Camille Savoir ........................................................................................................................ 212
O Assassinato de Constant Chevillon .................................................................................... 214
3
A Validade da TOM como único organismo Martinista ............................................................ 217
Raymond Bernard (1923-2006) ................................................................................................. 223
Ordem Rosacruz, AMORC ..................................................................................................... 224
Ordem Martinista Tradicional, OMT ..................................................................................... 226
Ordem Renovada do Templo, ORT........................................................................................ 227
Círculo Internacional de Pesquisas Culturais e Espirituais - CIRCES...................................... 228
Ordem Soberana do Templo Iniciático - OSTI ....................................................................... 229
O CIRCES e a OSTI ...................................................................................................................... 231
Cronologia de Raymond Bernard .............................................................................................. 234
O CIRCES .................................................................................................................................... 236
O Que é o CIRCES? Apresentação: Raymond Bernard ......................................................... 236
Raymond Bernard: A Propósito do C I R C E S ....................................................................... 240
Organização e Objetivos........................................................................................................ 245
Progressão Dentro do Círculo Interior .................................................................................. 246
OSTI - Ordem Soberana do Templo Iniciático - 1º Ciclo ........................................................ 247
OPI - Ordem Pitagórica Internacional – 2º Ciclo ................................................................... 248
OUM - Ordem Universal de Melquisedeque – 3º Ciclo......................................................... 251
Gary L. Stewart (1953)............................................................................................................... 254
Questões Legais..................................................................................................................... 254
Ordem Rosacruz, AMORC versus Gary L. Stewart..................................................................... 258
A Confraternidade da Rosa+Cruz (CR+C) .................................................................................. 266
Uma entrevista com Gary L. Stewart .................................................................................... 266
A crise dos Rosacruzes - O Cisma do S.E.T.I. ............................................................................. 278
Princípios gerais: ................................................................................................................... 279
Histórico ................................................................................................................................ 279
Um contexto conturbado ...................................................................................................... 280
O mal-estar na França ........................................................................................................... 280
Auditoria fiscal e reestruturação da AMORC. ....................................................................... 282
Destinação Amar... ou a história de uma Convenção! .......................................................... 283
Uma Peça Teatral no Escritório Supremo da AMORC ........................................................... 283
Uma luta pelo poder ............................................................................................................. 284
O desenvolvimento do mercantilismo .................................................................................. 286
As diretrizes de negócios da Convenção de 1989 ................................................................. 287
Uma questão de confiança.................................................................................................... 288
4
Datas Significativas da Reorganização Rosacruz de 1990 (AMORC, SETI, CIRCES, CRC) ........... 290
O Caso da Loja Rosacruz AMORC Brasília.................................................................................. 292
Histórico ................................................................................................................................ 293
A Problemática da Filiação Autêntica na Esteira dos Movimentos Rosacrucianos dos Séculos
XVII e XVIII - O Caso AMORC ..................................................................................................... 303
Acréscimos e Supressões .......................................................................................................... 310
1 - Livros Suprimidos ............................................................................................................. 310
2 - Os Livros “Esquecidos” de Raymond Bernard .................................................................. 312
3 - A Profecia Simbólica da Grande Pirâmide........................................................................ 313
5 - Documentos Rosacruzes e Martinistas ............................................................................ 324
A Tradição Rosacruciana e Suas Ordens: Um Levantamento Histórico .................................... 327
A Progressiva Publicação dos Ensinamentos e Rituais .............................................................. 338
PARTE II - A TRADIÇÃO (A SABEDORIA PERENE) E OS PERENIALISTAS...................................... 348
René Guénon (1886-1951) ........................................................................................................ 350
Cronologia de suas Obras...................................................................................................... 355
Estudos Tradicionais - A Sabedoria Perene ............................................................................... 357
Frithjof Schuon (1907—1998) ............................................................................................... 358
Titus Burckhardt (1908—1984) ............................................................................................. 359
Martin Lings (1909—2005).................................................................................................... 359
William Stoddart (1925-2015) ............................................................................................... 360
Tage Lindbom (1909—2001) ................................................................................................. 361
Seyyed Hossein Nasr (1933) .................................................................................................. 361
Ananda Coomaraswamy (1877-1947)................................................................................... 361
Rama Coomaraswamy (1926—2006).................................................................................... 362
Marco Pallis (1895-1989) ...................................................................................................... 363
Mateus Soares de Azevedo (1959)........................................................................................ 364
Joseph Epes Brown (1920-2000) ........................................................................................... 365
Aldous Huxley (1894—1963)................................................................................................. 365
Óscar Freire ........................................................................................................................... 365
Julius Evola (1898—1974) ..................................................................................................... 366
Luiz Pontual ........................................................................................................................... 367
A Revista Sabedoria Perene ...................................................................................................... 368
A Metafísica Oriental................................................................................................................. 373
Para Ler René Guénon - O Mestre da Tradição......................................................................... 387
5
Toques para uma leitura de Guénon .................................................................................... 393
1) Pedra de Fundação ou Orientação Geral - "Introdução Geral ao Estudo das Doutrinas
Hindus" .................................................................................................................................. 395
2) Limpeza de Terreno ou Profilaxia Necessária ................................................................... 395
3) O Mundo Moderno .......................................................................................................... 396
4) Leituras Conexas e Complementares ................................................................................ 397
5) "O Rei do Mundo" & "Considerações Sobre a Iniciação".................................................. 397
6) "A Metafísica Oriental", umbral da Doutrina.................................................................... 398
7) Pedra de Abóboda............................................................................................................. 399
8) Livros conexos e compilações ........................................................................................... 399
Citações Escolhidas de René Guénon ....................................................................................... 403
Via Iniciática e Via Mística ..................................................................................................... 403
Magia e Misticismo ............................................................................................................... 404
Enganos Diversos Concernentes à Iniciação ......................................................................... 405
Da Transmissão Iniciática ...................................................................................................... 405
Dos Centros Iniciáticos .......................................................................................................... 406
Do Segredo Iniciático............................................................................................................. 406
Dos Ritos Iniciáticos............................................................................................................... 407
O Rito e o Símbolo ................................................................................................................. 407
Mitos, Mistérios e Símbolos .................................................................................................. 408
Ritos e Cerimônias................................................................................................................. 409
A Propósito da Magia Cerimonial.......................................................................................... 409
Dos Pretensos Poderes Psíquicos .......................................................................................... 411
A Repulsa aos “Poderes” ....................................................................................................... 412
Sacramentos e Ritos Iniciáticos ............................................................................................. 414
A Prece e o Encantamento .................................................................................................... 414
Das Provas Iniciáticas ............................................................................................................ 415
Da Morte Iniciática ................................................................................................................ 416
Nomes Profanos e Nomes Iniciáticos .................................................................................... 418
O Simbolismo do Teatro ........................................................................................................ 419
Dante Alighieri (Florença, 1265 — Ravena, 1321) ................................................................ 420
Esoterismo Católico............................................................................................................... 423
O Companheirismo e a Maçonaria........................................................................................ 424
Maçonaria Mista - Iniciação Feminina .................................................................................. 426
6
Palavra Perdida e Palavras Substitutas ................................................................................. 426
A Civilização Egípcia .............................................................................................................. 427
A Crise do Mundo Moderno .................................................................................................. 428
A Oposição entre Oriente e Ocidente ................................................................................... 431
Conhecimento e Ação ........................................................................................................... 432
Ciência Sagrada e Ciência Profana ........................................................................................ 433
Astrologia e a Alquimia ......................................................................................................... 434
Matemática Pitagórica .......................................................................................................... 435
A Doutrina dos Ciclos Cósmicos ............................................................................................ 435
Atlântida e Hiperbórea .......................................................................................................... 436
O Lugar da Tradição Atlante no Manvantara ........................................................................ 437
Relações entre a Kabbala e o Pitagorismo ............................................................................ 438
Kabbala e Hermetismo .......................................................................................................... 439
O Símbolo da Serpente.......................................................................................................... 439
O Set Egípcio.......................................................................................................................... 440
Suástica ................................................................................................................................. 441
PARTE III - APORTES TEÓRICOS: A PSEUDO-TRADIÇÃO E A CONTRA-TRADIÇÃO...................... 443
A Contra-Iniciação ................................................................................................................. 444
As Etapas da Ação Anti-Tradicional ....................................................................................... 444
Desvio e Subversão ........................................................................................................... 447
A Inversão dos Símbolos ................................................................................................... 450
A Pseudo-Iniciação ................................................................................................................ 454
Da Anti-Tradição à Contra-Tradição ...................................................................................... 460
A Grande Paródia ou a Espiritualidade Invertida .............................................................. 464
PARTE IV - A PSEUDO-TRADIÇÃO E A PSEUDO-INICIAÇÃO ....................................................... 469
O Espiritismo e sua Influência no Ocultismo e Teosofismo .................................................. 470
Reencarnação .................................................................................................................... 473
O Ocultismo ........................................................................................................................... 475
O Papel de Éliphas Lévi...................................................................................................... 475
Pretensa “Tradição Oriental” e Pretensa “Tradição Ocidental” - Teosofia Vs. Ocultismo 476
As Fontes do Ocultismo Papusiano ................................................................................... 476
O Enigma Martines de Pasqually ....................................................................................... 476
A Ordem dos Élus Coens ................................................................................................... 478
O Martinismo .................................................................................................................... 480
7
Organizações Rosa-Cruzes Pseudo-Iniciáticas....................................................................... 481
A A.M.O.R.C. ...................................................................................................................... 482
Acerca dos “Rosa-Cruzes Lyoneses”.................................................................................. 482
A Rosa-Cruz Cabalística e Descartes.................................................................................. 483
Teosofia e Teosofismo........................................................................................................... 483
Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). .......................................................................... 483
A Chegada do Mestre Morya ............................................................................................ 487
A Origem Acidental da Designação “Sociedade Teosófica” .............................................. 488
A Sociedade Teosófica e o Rosacrucianismo..................................................................... 489
A questão dos «Mahâtmâs».............................................................................................. 490
As Fontes das Obras de Mme Blavatsky............................................................................ 494
As Estâncias de Dzyan ....................................................................................................... 496
Principais Pontos do Ensinamento Teosofista .................................................................. 497
Rudolf Steiner, a Antroposofia e Max Heindel .................................................................. 500
Os Escândalos Sexuais de Leadbeater ............................................................................... 500
Teosofismo e Maçonaria ................................................................................................... 501
O Papel Político da Sociedade Teosófica........................................................................... 502
Jiddu Krisnamurti (1895-1986). ......................................................................................... 503
A Ordem Hermética da Aurora Dourada - Hermetic Order of The Golden Dawn (1887) ..... 506
A Hierarquia na Golden Dawn ........................................................................................... 507
Os Cismas. ......................................................................................................................... 510
A Stella Matutina. .............................................................................................................. 511
A Astrum Argentinum (Estrela de Prata)........................................................................... 511
Dion Fortune. .................................................................................................................... 511
A Ordem de São Rafael...................................................................................................... 512
O livro “Revelações da Aurora Dourada – O Esplendor de uma Ordem Mágica”............. 512
A Ordem Rosa-cruz interna: o Rosae Rubeae at Aureae Crucis ........................................ 517
Moina/Mina Mathers (1865-1928) e os Rituais de Ísis ..................................................... 521
Annie Horniman (1860-1937) e Florence Farr (1860-1917).............................................. 522
William A. Ayton 1816-1908 ............................................................................................. 523
Arthur Machen (1863-1947) ............................................................................................. 523
Arthur Edward Waite (1857 - 1942) .................................................................................. 523
William Butler Yeats (1865 — 1939) ................................................................................. 524
A Srt. Christina Mary Stoddart - A Sóror Paranóica .......................................................... 526
8
Umberto Eco ......................................................................................................................... 530
Estudo Comparativo dos Graus ................................................................................................. 532
PARTE V - A ANTI-TRADIÇÃO E A CONTRA-INICIAÇÃO .............................................................. 533
A Ordem do Templo Solar e os Suicídios Coletivos ................................................................... 535
A Ordo Templi Orientes (OTO - 1895 ou 1902) ......................................................................... 540
Aleister Crowley, o Mago Negro (1875-1947)....................................................................... 541
Thelema: Uma Religião da Nova Era ......................................................................................... 546
Alguns Pontos da “Doutrina” Thelemica ................................................................................... 554
Qliphoth - O Lado Obscuro da Cabala ................................................................................... 554
Choronzon, o Habitante do Abismo ...................................................................................... 557
Astrum Argentum A.·.A.·. (Estrela de Prata) ............................................................................. 558
Marcelo Ramos Motta .............................................................................................................. 564
Descendentes da Golden Dawn ................................................................................................ 566
Fraternitas Saturni................................................................................................................. 566
Zos-Kia-Cultus de Austin Osman Spare ................................................................................. 566
Ordem de Phosphorus .......................................................................................................... 567
Dragon Rouge ou Ordo Draconis et Atri Adamantis ............................................................. 567
Satanismo LaVey ................................................................................................................... 568
Iluminados de Thanateros (IOT) ........................................................................................... 568
Magia do Caos ................................................................................................................... 568
A Fundação do Pacto ......................................................................................................... 569
PARTE VI - MITOS ERRÔNEOS SOBRE SHAMBHALA E AGHARTA .............................................. 572
Mitos Errôneos sobre Shambhala ............................................................................................. 576
Introdução ............................................................................................................................. 576
Teosofia ................................................................................................................................. 577
Asserção de Dorjiev da Rússia como Shambhala .................................................................. 579
Mongólia, Japão e Shambhala .............................................................................................. 580
Ossendowski e Agharti .......................................................................................................... 580
Roerich, Shambhala e Agni Yoga ........................................................................................... 582
Steiner, Antroposofia e Shambhala ...................................................................................... 585
Alice Bailey e a “Força de Shambhala”.................................................................................. 587
Doreal e a Irmandade do Templo Branco ............................................................................. 588
Haushofer, a Sociedade de Thule e a Alemanha Nazista ...................................................... 589
A Busca Nazista de Shambhala e Agharti de Acordo com Pauwels, Bergier e Frére ............ 591
9
A Busca Nazista de Shambhala e Agharti de Acordo com Ravenscroft ................................ 592
Uma Teoria para Explicar o Sentimento Anti-Shambhala e a Inclinação Pró-Agharti dos
Movimentos Ocultistas Alemães........................................................................................... 594
Evidência Que Suporta a Teoria ............................................................................................ 595
Evidência contra a Asserção do Apoio Nazista Oficial dos Credos Ocultistas Alemães acerca
de Shambhala ........................................................................................................................ 597
A Conexão Calmuque ............................................................................................................ 598
Asserções Pós-guerra sobre Shambhala e Discos Voadores ................................................. 601
Conclusão .............................................................................................................................. 602
A Conexão Nazista com Shambhala e o Tibete ......................................................................... 602
Introdução ............................................................................................................................. 602
Os Mitos de Thule e Vril ........................................................................................................ 603
A Sociedade de Thule e a Fundação do Partido Nazi ............................................................ 604
Haushofer, a Sociedade Vril e a Geopolítica ......................................................................... 605
A Suástica .............................................................................................................................. 606
Supressão dos Grupos Ocultistas Rivais pelos Nazis ............................................................. 607
O Budismo na Alemanha Nazi ............................................................................................... 607
O Ahnenerbe ......................................................................................................................... 608
A Expedição Nazi ao Tibete ................................................................................................... 609
Supostas Expedições Ocultistas ao Tibete ............................................................................ 610
PARTE VII – A TRADIÇÃO OCIDENTAL........................................................................................ 612
Orientalismo, o Oriente como Invenção do Ocidente .......................................................... 613
A Rota da Seda: caminhos de mercadores e peregrinos....................................................... 615
CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 618
LINKS.......................................................................................................................................... 619
10
PARTE I - Dossiê AMORC-FUDOSI
11
Dossiê AMORC1
1 - Introdução
1
A primeira parte deste “Dossiê AMORC” surgiu anonimamente na internet por volta do ano 2000. Na
realidade ele não passa de alguns excertos do livro em francês de Robert Vanloo intitulado “Os
Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du Nouveau Monde, 1996), que encontra-se atualmente
esgotado.
12
2 - Harvey Spencer Lewis - fundador da Rosacruz AMORC (1883 – 1939)
Para se ter uma ideia precisa, tanto do personagem que fundou a Rosacruz
AMORC, como de suas atividades e relatos, é necessário que se conheçam os
antecedentes do mesmo; também ajudará bastante levar em consideração um
cronograma, que nos facilitará a visão, passo a passo, de muitas das suas
"apropriações".
O PERSONAGEM
2
Estes dados podem ser encontrados no livro "Missão Cósmica Cumprida", escrito por Ralph M. Lewis,
filho de Harvey Spencer Lewis, em testemunho pela obra do seu pai.
13
profissional à França. Lewis era bom conhecedor das técnicas de "elaboração" de
diplomas, escrituras, etc.
Lewis pertencia a uma família muito religiosa e quando veio a New York com
seus pais, tornou-se membro da Igreja Metodista, frequentando o Templo
Metropolitano da Sétima Avenida. Lewis diz que desde jovem interessou-se pelos
"fenômenos psíquicos" e que tinha "dons proféticos", unindo-se a uma associação
denominada "Liga de investigações psíquicas de New York" (associação esta que não
tem sua existência comprovada) e que foi eleito Presidente da mesma com a "idade
de 20 anos" (como se pode ver, um presidente muito precoce).
Foi nesta época que, segundo declarações de Lewis, ele se interessou pelos
Rosacruzes, entrando em contato com pessoas que tinham ouvido falar deles e
inclusive, diziam ter se relacionado com eles, o que não era incomum em um país
como os Estados Unidos, onde a maçonaria e muitas outras associações fraternais,
incluindo-se diversas de natureza rosacruz, sempre tiveram acolhida.
3
Faz-se referência a esta experiência em "Missão Cósmica Cumprida" de RML e em "Confessio R. C.
Fraternitatis" de H.S.L. - parte 2, pg. 12.
14
Também conforme declarações de Lewis, além de ter colocado em prática seus
"dotes psíquicos e proféticos" em suas "associações", continuou frequentando a Igreja
Metodista onde, segundo seu próprio relato, em 1908, teve uma "revelação".
"Toda a imagem era como se fosse de neblina e clara como um vapor branco e
espesso. Dos lábios deste vulto brotaram palavras e vi o movimento dos lábios e o
piscar dos olhos. Não irei relatar o que disse, por não recordar exatamente as palavras.
Gostaria de fazê-lo, porque foram pronunciadas de forma amável e numa linguagem
tão divina e bela como as frases mais maravilhosas da Bíblia Sagrada. Tive a impressão
que vinham até minha pessoa procedentes de uma Mente Infinita, Santa e escutei com
sentimento de respeito e agradecimento, porém, não me encontrava perplexo ou
atemorizado.”
15
exotérico sobre a face ocidental da terra; e que enquanto eu estivesse me preparando
para a minha iniciação ali, o corpo exotérico seria concebido e amadurecido para o seu
advento no mundo material; que eu deveria dedicar todas as noites de quinta–feira
para encontrar orientação; que o próximo corpo exotérico estaria na França, ou
qualquer coisa do gênero”4.
4
"Confessio R. C. Fraternitatis" de H.S.L. - parte 2 - pag. 16.
16
3 - O "Doutor" H. Spencer Lewis
5
Manual Rosacruz – 18ª edição em língua inglesa – AMORC.
17
18
São tão impressionantes todos estes títulos que podem fascinar aqueles que se
espantarem com a sua pomposidade e não com o seu conteúdo; trata-se, agora, de
uma questão de analisá-los de forma sucinta e voltaremos aos mesmos em outras
partes destas páginas web.
19
Ministro de Delegação Estrangeira.
- Lewis nunca esteve na Índia, nem em nenhum Ashram, nem nunca foi
ordenado como sacerdote hindu.
Membro da Universidade de
Andhra, da Índia
20
Reitor da Universidade Rose Croix
O certo é que Harvey Spencer Lewis nunca recebeu outra formação acadêmica
que a de seus anos de estudo, terminados em 1899, na Escola Pública n° 16 de New
York. Entretanto, empenhou-se em se auto-intitular "doutor" em Psicologia e Filosofia,
publicando na revista "The American Rosae Crucis", em fevereiro de 1916, página 17,
as seguintes e surpreendentes declarações:
“Em 1904 foi eleito membro da Franco Ecol. R.C. e recebeu o título de Doutor
em Psicologia”. ???? Esta sociedade é completamente desconhecida, uma escola
francesa R.C. - "Rosa Cruz" - em 1904? E com um nome tão pouco francês? Além disso,
recebeu o "Doutorado em Psicologia", com a idade precoce de 20 anos (nasceu em
1883) depois de ter seguido quais cursos?9
6
"The American Rosae Crucis, fevereiro de 1.916 - página 17" (agradecemos a colaboração do Sr. Noel
Witz, que nos forneceu a prova da existência da Sociedade Filomática de Verdún, mediante uma cópia
da capa de um dos seus boletins. O Sr. Witz nos prometeu que se aparecer prova da associação
honorífica de Lewis à citada sociedade, nos fará tomar conhecimento. Por enquanto, sem provas
documentais, não posso dar por válida essa informação, ainda mais conhecendo os antecedentes de
Lewis).
7
idem.
8
idem.
9
idem.
21
“No ano seguinte, a mesma instituição lhe conferiu o título de "Doutor em
Filosofia" e o indicou para ser dignitário Supremo da Ordem Rosacruz”. - O segundo
título de doutor, desta feita em Filosofia, um ano depois, aos 21 anos de idade e, além
disso, dignitário Supremo da Ordem Rosacruz, já em 1905, quando Lewis diz que foi
iniciado na França em 1909 - Que tipo de instituição era essa? E de que jeito essa
antecipação? Como dignitário Supremo da Ordem Rosacruz aos 21 anos, quando a
experiência da "aparição de AMORCUS" na igreja de New York, já mencionada em
páginas anteriores, foi em 1908 e o "espírito AMORCUS" lhe dizia que não havia
nenhum corpo exotérico rosacruz nesta época?10
10
idem.
22
4 - Cerimônia de Iniciação na França - A "Iniciação" Rosacruz do "Dr." Lewis e
"alguns de seus protagonistas" (1ª Parte)
11
Ed. da Supreme Grand Lodge of Amorc, Inc. - 1.966.
12
First edition 1975 - ed. Supreme Grand Loge of Amorc, inc.- pag.4.
23
24
Na margem inferior aparece um texto em inglês e outro em espanhol, que diz:
"Este impressionante prédio, tipo torre, em Tolosa, ao sul da França, foi em
determinado tempo o centro da antiga Rose - Croix, a Ordem Rosacruz francesa cuja
autoridade data cronologicamente de muitos séculos no passado. Foi aqui que o Dr. H.
Spencer Lewis foi iniciado na Ordem em 1909, e onde recebeu, na sequência, sua
autoridade para estabelecer a AMORC na América”.
A primeira coisa que temos que levar em conta é que esta é uma das várias
versões da AMORC sobre o lugar onde Lewis foi "iniciado" e é a mais conhecida pelo
público em geral, pois é a versão que se dá em sua publicidade e a que é contada no
livro com a biografia de Lewis e que tem por título "Missão Cósmica Cumprida", escrito
pelo filho do "doutor" e ao qual nos referimos anteriormente.
13
The American Rosae Crucis - Maio de 1916. Todos os números da revista podem ser acessados aqui:
http://www.iapsop.com/archive/materials/american_rosae_crucis/
25
El Donjon de Toulouse atualmente. Atrás se pode ver a fachada do edifício do
Capitólio.
26
Em outro relato, ao qual intitula "Viagem de um peregrino para o Este"14, em
1909, o jovem Lewis tinha estabelecido contato com o editor de um jornal de Paris,
(sem nunca especificar que jornal era esse, nem quem era o editor), o qual o
aconselhou a colocar-se em contato com um professor de línguas, que vivia no
Boulevard Saint Germain, em Paris (do qual também nunca se soube quem era).
Lewis "toma um táxi" que o conduz ao Donjon e aqui se produz um fato muito,
mas muito curioso, que é: Porque teve que tomar um táxi para ir a torre de Donjon se
ela está junto ao edifício do Capitólio, com uma distância de somente 5 metros
separando as edificações? Como é que não viu antes esta torre, da qual já lhe haviam
falado em Paris e que está somente a 5 metros de distância do Prédio do Capitólio,
cuja fachada pode-se ver na fotografia do Donjon já mostrada e em cuja "Sala dos
Ilustres” teve a entrevista com o "célebre fotógrafo"?
14
Voyage d'un Pelerin vers l'Est - ed. Rosicruciennes - 56 rue gambeta - v-s-g- France. Pode ser
encontrada uma cópia da versão publicada em 1957, no Scribd: A Pilgrim's Journey to the East by H.
Spencer Lewis. The Rosicrucian Order Amorc, 25, Garrick Street, London. W. I. December 1957 First
published in The American Rosae Crucis, 1916. https://pt.scribd.com/doc/213635538/A-Pilgrim-s-
Journey-to-the-East-by-H-Spencer-Lewis
15
The American Rosae Crucis - maio 1.916.
27
Depois do "grande trajeto" de uns 5 metros que teve que percorrer até o
Donjon, Lewis continua o seu relato...
"...Eu avançava em direção à velha torre, o coração um pouco apertado, mas não
sem coragem. Chamei junto à porta, mas não obtive resposta. Então eu vi, perto do
muro, um cordão e puxei-o. Em algum lugar, nas profundezas do prédio, ressoou uma
campainha, prédio este que parecia ter centenas de anos e certamente era o caso...
Pareceu-me que algo, em cima, tinha se movido. O menor ruído, naquele prédio
silencioso, adquiria proporções enormes. Um grande vão dava acesso ao primeiro
andar. Logo a escada tornava-se em caracol e cada andar dava saída na galeria ao
redor da escada. As galerias eram muito escuras e estreitas.
Olhei para cima, através do vão e para manifestar minha presença, emiti um
"alô!" sem ter a certeza que tal saudação era a mais adequada naqueles locais. Em
seguida, vindo de um andar superior, ouvi claramente: "Entre, entre!". Subi
imediatamente...
O homem que me recebeu era um ancião. Tinha uma barba cinzenta e uma vasta
cabeleira levemente eriçada, de um branco puro, que lhe caíam sobre os ombros.
Mantinha-se ereto e sua estatura elevada, seus ombros largos e sua distinção eram
imponentes. Seus olhos castanhos surpreendiam pelo seu brilho. Falava com uma voz
suave e seus gestos eram rápidos. Vestia uma túnica bordada com alguns símbolos que
me eram desconhecidos, porém, que não são desconhecidos por aqueles que são
membros da Rosacruz AMORC”.
28
por iniciativa de Viollet-le-Duc, adaptando-se seu uso, desde aquela época, para as
atividades oficiais do município de Toulouse. Levando-se em consideração que
somente a parte inferior é área útil e também uma parte superior é destinada a
escritórios, é difícil compreender como, exatamente na mencionada noite, o prédio do
Donjon aumentou e teve sobrepostos diversos andares, em vez do único que tem
desde 1887 e recintos com bibliotecas de livros antiquíssimos e uma pessoa, vestindo
uma túnica branca com símbolos, que o atendeu...
“Dirigi-me a ele em inglês: "Eu me apresento sem ter sido convidado, senhor e se
o faço, é por que, em primeiro lugar, sinto que este prédio é de grande interesse para
mim e em segundo lugar, porque o senhor me disse para entrar. Estou em busca de
uma informação difícil de obter e talvez o senhor possa me ajudar em minha
investigação, tanto que, pelo que vejo, o senhor parece estar interessado em
astrologia", eu lhe disse, apontando para os mapas que se achavam sobre a
escrivaninha. Respondeu-me em um excelente inglês, porém, com pronunciado sotaque
francês: "Você não é nenhum intruso, meu amigo. Você conhece a astrologia e sabe,
portanto, o que são "direcionamentos". Digamos, pois, que você tenha sido
"direcionado" até aqui. Tenho aqui, sobre minha escrivaninha, seu tema natal (mapa
astrológico??) Eu o estava aguardando”.
“Tenho também uma carta preparada para você. Ela te será útil. Sei da
investigação que você está empreendendo e esta carta é a resposta à sua pergunta.
Porém, sente-se. Tenho muitas coisas para te ensinar e explicar”.
“Tens buscado a Ordem Rosacruz de forma séria e quer ser membro dela. Talvez
seu desejo possa ser realizado, mas, e depois? Irá participar da grande obra? Aceitará
perpetuar a ordem em seu país? Serão-te necessários coragem, bravura e decisão".
Depois de ter-lhe dito que o tinha observado desde sua chegada à Paris e
durante toda a sua estada no Sudoeste e que as informações relativas a ele eram
altamente favoráveis (???????) o sábio mostrou a Spencer Lewis alguns documentos
autênticos (de interesse apaixonante) referentes à Rosacruz.
“...Antes de deixar esta torre, à qual você não mais terá oportunidade de voltar,
vou mostrar-te nossos arquivos. Sou o "Grande Secretário". É aqui que conservamos os
arquivos de nossos fratres e sorores (irmãos e irmãs) desde que a Ordem se
estabeleceu neste país. Nunca se extraviou nada, nem o relato mais insignificante em
sua aparência. É aqui que irão ser classificadas suas cartas, suas informações e sua
correspondência concernente ao seu trabalho. O olho vê tudo, o pensamento
onisciente recebe e tudo ocupa lugar em nossos arquivos...”
Em seu relato, Lewis diz que além de livros, documentos, etc. “...Vi relíquias raras
vindas de Jerusalém (???) e de outras cidades e países. Por último, vi o juramento feito
por Lafayette à Ordem, antes de sua partida para a América. Lafayette, primeiro
29
rosacruz francês vindo ao meu país (???) Que o seu nome seja sempre sagrado para a
Ordem na América...”
Em seguida, conforme o relato, o ancião diz a Lewis que esteja preparado para
participar de uma cerimônia impressionante, que terá lugar em breve.
"O automóvel - continua Lewis em seu relato - cruzou o par de quilômetros que
nos separavam dos limites da cidade e logo tomou rumo via uma estrada paralela a um
riacho, até a antiga cidade de Tolosa. Tolosa foi a primeira cidade romana da região e
hoje está em ruínas. (Lewis confunde tudo... diz algo tão inconsequente como sair de
Toulouse para ir à "velha cidade de Tolosa" , cabe perguntar se sabe o que está
dizendo, porque não há nenhuma antiga cidade de Tolosa, nem existia em 1909, a dois
quilômetros de Toulouse). O percurso que fizemos é muito interessante. Finalmente,
chegamos a uma grande mansão, rodeada por altos muros e o automóvel atravessou o
portal de entrada. Os magníficos canteiros de flores e a grama bem cuidada da
30
chácara saltaram à minha vista. À esquerda da chácara, um castelo parecia flutuar no
cimo de uma colina verdejante. Mais além do portal, vi algumas velhas casas, uma
delas quadrangular e que era particularmente atraente. O automóvel parou nas
proximidades dela e na entrada, fomos recebidos por um jovem de uniforme que, pelo
seu corte, parecia ser militar.
"A casa era muito antiga. Era inteiramente construída de pedra, sendo que estas
estavam visivelmente gastas, até o ponto de se perguntar como o prédio ainda estava
em pé. Ao término de alguns minutos fui apresentado a uma mulher de idade, a qual,
inclinando-se, me ofereceu sua mão e me acompanhou ao andar superior, do qual fui
conduzido, com a mesma cerimonia, para um recinto menor. Ali me entregaram alguns
papéis que continham as instruções reservadas a mim".
“Desta forma, fui informado que encontraria os oficiais da Grande loja ao cair do
sol, isto é, três horas mais tarde e que, por enquanto, deveria estudar atento às
instruções que me foram entregues e, também, descansar um pouco. Naturalmente,
não posso publicar aquelas instruções..." Li e reli as instruções e depois me acomodei. Li
as instruções uma vez mais e adormeci sobre o antigo sofá, naquela sala de paredes de
pedra, nesse misterioso prédio o qual, naquela época, era o grande templo da Ordem
na França”. (voltaremos à este sonho do sofá em outro relato, outra versão da
"iniciação".)
31
Teria sido muito interessante que Lewis, fotógrafo profissional, tivesse
fotografado este prédio “construído com pedras tão tradicionais” e em troca, temos
que nos conformar com o desenho que publicou em sua revista “The American Rosae
Crucis” e que aqui reproduzimos16.
“A parte superior do prédio era utilizada nesta época como mosteiro rosacruz. Na
adega havia uma gruta rosacruz. Esta "gruta" era ampla e seus muros eram
construídos com pedras cinzentas, velhas, por entre as quais crescia o musgo e a
umidade exsudava. Estava escorada por uma grande chaminé e sua única iluminação
provinha de velas e tochas. Nesta gruta havia um altar, construído com madeira
egípcia rara, magnificamente esculpido...”
16
Id.
32
“Frater, por estes documentos V.S. é nomeado legado da nossa ordem em seu
país. Seus deveres e privilégios estão perfeitamente definidos neles. Os documentos
que possui e as joias que hoje lhe entrego, lhe permitirão trabalhar, quando chegado o
momento e da maneira indicada. Quando tiver alcançado alguns progressos,
encontrará um representante da Ordem no Egito. Ele lhe transmitirá outros
documentos e outros selos. De tempos em tempos, algumas pessoas irão até V.S. que
as reconhecerá pelos sinais habituais. Elas completarão os documentos que V.S. tem
em seu poder para, dessa forma, entrar na posse de tudo o quando necessita para
levar a término o seu trabalho. Nosso secretário lhe enviará pessoalmente, com lacre,
sob a proteção do governo francês (esta afirmativa é muito difícil de se manter e muito
menos, acreditar nela, pois é absurdo pensar que o governo da França tenha
patrocinado tais atividades, ou que tenha fornecido ou remetido documentos
Rosacruzes e muito menos para o estrangeiro, onde poderia ocasionar um conflito
diplomático pela fundação e manutenção de uma "associação secreta" em país
estrangeiro) outros documentos, tão logo nós sejamos informados pelos nossos
observadores que V.S. já obteve suficientes progressos. Seus informes semestrais nos
mostrarão se V.S. está em condições de fornecer uma ajuda eficaz à nossa Ordem. Os
donos do mundo (?) se sentirão felizes em poder atender as suas necessidades, se isso
for necessário e se a obra de nossa Ordem for fielmente executada, a paz profunda
será compartilhada por um número cada vez maior de homens de boa vontade em seu
país e no mundo".
33
5 - As Outras Versões da "Iniciação" - A "Iniciação" do "Dr." Lewis e "alguns de
seus protagonistas" (2- parte)
Confessio R:. C:. Fraternitatis Um dos documentos onde Lewis fala de sua
"Iniciação"
Agora iremos apresentar duas outras versões, baseando-nos, como sempre, nas
publicações da rosacruz AMORC, onde veremos, mais uma vez, as enormes e evidentes
contradições sobre a "suposta iniciação" e falsidades extremamente evidentes
relacionadas com a mesma.
17
Perguntas e Respostas Rosacruzes - Com a História Completa da Ordem Rosacruz - Autor H.S. Lewis,
editor Supreme Grand Lodge of Amorc Inc, 2- ed. 1932 - Pag. 145 – 146.
34
“...Pouco antes de 1909 solicitou seu ingresso na nossa Sociedade (Instituto de
Investigações Psíquicas de Nova York) uma pessoa com documentos de apresentação,
credenciando-a como sendo "delegado" da Ordem Rosacruz na Índia” (Em seguida nos
ocuparemos desse indivíduo e seus documentos, nas próximas páginas).
35
instruções dos delegados da Ordem na Índia e na Suíça”. (Esses "rosacruzes" não
deveriam se manter totalmente em segredo? Pois estavam em todas as partes e
agora, também na Suíça, conforme essa afirmativa, por isso não entendemos as
grandes dificuldades que teve para os encontrar e que outros não o fizeram). “Estas
instruções estavam assinadas pelo conde Bellcastle-Ligne, secretário do Conselho
Internacional e o venerável Lasalle, o conhecido autor de muitos documentos
rosacruzes históricos e o Grande Mestre da Ordem na França...” Quem era o Conde de
Bellcastle-Ligne? Porque não existe nenhum nome francês que seja Bellcastle-Ligne.
Alguns argumentam que, como Lewis não sabia francês, realmente queria dizer
Belcastel, o que poderia ser, porém, aqui nos deparamos com duas novas questões:
Por outro lado, nessa época (1909) havia na França esoteristas que eram
famosos de verdade, Grandes Mestres, etc., de diferentes ordens rosacruzes na França
e de outras ordens, como seriam o Sâr Peladan, o Gerard Encausse (Papus), Teder,
Jean Bricaud, etc., porém, milagre dos milagres, não se tem conhecimento de nenhum
Grande Mestre da Ordem Rosacruz na França chamado Lasalle.
18
Histoire Complete de l'Ordre de le Rose Croix - ed. francesa 1978 - pag 128 y 121.
36
qual nos ocuparemos mais à frente e apresenta este novo parágrafo concernente aos
"personagens" que dão "autoridade" ao livro de Lewis.
Seja bem vindo aos escritos deste desconhecido "Sr. Verdier", Soberano Grande
Comendador (soa ao grau 33 da Maçonaria) dos Iluminatti da França, "suposto autor"
de uma carta a qual já fizemos referência e sobre a qual falaremos extensivamente
mais adiante.
Desenho - não fotografia - de "mais um dos prédios" onde Lewis afirmou ter sido
"iniciado", e que corresponderia ao prédio do relato que segue .
19
Versões podem ser encontradas aqui:
Confessio RC Fraternitatis (English)
37
O Dr. Lewis diz em seu relato que foi de automóvel até o prédio, acompanhado
de um jovem intérprete, para ajudá-lo nas conversações.
“...É um prédio feito de pedras, velho e pitoresco, com um pátio grande, sendo
que todos os pisos e escadarias são de pedra. Ao chegar ali, descobri que a pessoa para
a qual me haviam dirigido vivia ali; seu nome correto é Raynaud E. de Bellcastle-Ligne.
Não era um simples encarregado do prédio, mas tinha também seus interesses
pessoais ali e vivia juntamente com sua esposa e uma filha. Seus aposentos ocupavam
uma pequena parte do prédio e no piso superior, me mostraram os restos do velho
salão da Loja Rosacruz, hoje úmido e empoeirado, sem uso por mais de sessenta anos,
apesar de até 1890 ter sido visitado com frequência pelos maçons franceses e por
outras pessoas que conheciam o local...” (agora temos que o velho salão da Loja
Rosacruz onde Lewis foi "iniciado" estava com mais de 60 anos sem uso) “...O velho
senhor, com setenta e oito anos, era filho do último Mestre que havia conduzido uma
Loja Rosacruz naquele lugar e não tinha certeza se o seu pai havia administrado
alguma loja em outro lugar ou não...” (o jovem, que no relato da "viagem de um
peregrino ao Este", que reproduzimos em páginas anteriores, recebeu o condutor
que o levava e pediu a Lewis os seus papéis, havia-se transformado em um ancião de
setenta e oito anos, filho do último mestre Rosacruz, mas que entretanto, não sabia
se o seu pai, o velho Mestre, o tinha sido também em outras lojas). "Porém os donos
atuais do Castelo o haviam encarregado de cuidar da propriedade durante os últimos
vinte anos e os maçons franceses, que tinham interesse nos Poderes Rosacruzes,
deram-lhe instruções (porque ele era um dos seus Irmãos), de conservar intato o salão
da Loja (não sabemos com que objetivo ou por qual razão, uma vez que não se fazia
esforço nenhum para impedir que a chuva e outros elementos o fossem danificando)...”
(Agora resulta que o ancião Bellcastle-Ligne estava com a responsabilidade de cuidar
do castelo, outorgado pelo seu dono, que ainda não era conde e que os maçons o
tinham encarregado de preservar o salão da Loja onde o pai do suposto "conde
Bellcastle" tinha sido Mestre há 60 anos. Mas não era Bellcastle-Ligne Secretário do
Conselho Internacional Rosacruz e em outras oportunidades também Imperator
Rosacruz da região francesa do Languedoc?) Lewis continua descrevendo seu
anfitrião: “...Bellcastle-Ligne e sua família eram detentores de outros títulos reais além
do de Conde e, apesar da sua idade e de seus parcos recursos financeiros, conservava
sua dignidade nobre e seu excelente porte militar; tanto ele como a esposa e sua filha
me concederam essa hospitalidade e extrema cortesia, que fez com que os dias
passados nessa formosa região do Languedoc não perdessem os seus encantos..."20
https://pt.scribd.com/doc/283985083/Confessio-RC-Fraternitatis-English
Confessio RC Fraternitatis (en castellano)
https://pt.scribd.com/doc/269767858/Confessio-RC-Fraternitatis-en-castellano
20
Confessio R:. C:. Fraternitatis - parte III - pagina 8 e seguintes.
38
Bellcastle conduz Lewis por várias dependências do castelo, até a chamada
Terceira Câmara e então lhe diz:
“...Agora não há mais rituais aqui e ninguém te pode conduzir pelos recintos
como dantes, por isso talvez prefiras atravessar sozinho estas Câmaras, só com teu
Deus e com teu Mestre...” Quem poderia iniciá-lo num lugar onde não mais se
realizavam rituais de Iniciação? De acordo com a "lógica" observada, neste e em
outros relatos, a resposta é simples: uma aparição espiritual como já havia visto
antes, das quais temos feito referência? Lewis continua com seu relato: “...Depois de
passados vários minutos me levantei e vi numa área uma luz brilhante que ia tomando
forma, com um halo azulado ao seu redor. Parecia ter menos de um metro de
diâmetro, porém, nessas condições, nos equivocamos quanto às proporções e hoje
tenho certeza que a luz não tinha mais de vinte centímetros. Estava a um metro do solo
e lentamente se fazia mais intensa. Muitos de nossos Irmãos e Irmãs tem visto uma luz
semelhante em nossa Loja, em Nova York, (?) no decorrer de alguns experimentos
especiais. Após vários minutos, a luz cresceu até que tocou o solo e quase chegou ao
teto. Seu centro se tornou mais transparente até que finalmente tomou a aparência de
uma grande aura com um vazio no centro. Neste espaço apareceu um vulto, ao qual
imediatamente reconheci como a mesma figura mística maravilhosa que me tinha
aparecido na Igreja, na primavera de 1908..." (Então o “AMORCUS” que lhe apareceu
em Nova York, volta a aparecer em Toulouse e o "conduz" pelas diferentes câmaras
até entrar no "Salão da Loja", onde o esperava o Sr. Bellcastle-Ligne).
“Depois de entrar no recinto maior e que soube que era o velho Templo ou Sala
da Loja, encontrei-me com o velho Conde, que estava em pé na porta, no outro lado da
sala. Chegou perto e me explicou que vários pertences da antiga loja haviam sido
retirados dali e que seria impossível levar a cerimonia a cabo de uma forma normal.
Portanto, me levou de "local" em "local" e me explicou alguns detalhes, mas em
nenhum momento se referiu a experiência que eu acabava de ter. Pareceu-me que
tinha aceito de forma natural o fato de eu ter cruzado o umbral e me aceitou como
Neófito preparado para maior instrução e Iniciação...”
Em seguida o conde o leva a um aposento para que descanse e lhe diz que
aguardasse ali até ser chamado. "Neste velho aposento, que agora era utilizado para
guarda de objetos, havia um sofá grande, que o Conde me indicou, após ter retirado a
poeira do mesmo, afirmando que eu teria que permanecer ali durante algumas horas,
aguardando outras pessoas que viriam para me conhecer e ajudar-me com relação ao
que iria acontecer. Solicitou que dispensasse o condutor, que estava aguardando, que
se encarregasse do intérprete e eu, então, estaria livre para permanecer ali, da
39
maneira que ele me disse. Aconselhou-me a dormir por alguns instantes e me deixou
só, com a pesada porta de madeira entreaberta”21.
“O Conde explicou que eram vizinhos - aos quais tinha mandado buscar por
intermédio do condutor, enquanto eu "dormia"..."
21
idem - parte IV página 1 e seguintes.
40
fundar a AMORC na América, dando-lhe as chamadas instruções do Imperator, cujas
três primeiras aqui reproduzimos”22.
AS INSTRUÇÕES DO IMPERATOR
Primeiro: como a Ordem na França deixou de ter um corpo exotérico desde o ano
de 1880 e como há somente uma parte de mil almas na Ordem, na Europa e não tem
chefe secreto ou Imperator, a Ordem na Europa não pode outorgar nenhuma carta ou
patente; além disso, a Ordem jamais outorgou tais cartas de autoridade ou patentes,
pois tem feito com que seus chefes ou Imperatores evoluam por meio de processos
cósmicos. (Como que a Ordem não estava ativa na França desde 1880? Então quem
poderia conceder poder para estabelecer qualquer atividade rosacruz em qualquer
lugar? O que acontecia com a Ordre Kabalistique de la Rose Croix e a Ordre
Catholique du Temple e du Graal, que estavam ativas? Donde era então o Grande
Mestre e "venerável" Lasalle, famoso autor de documentos rosacruzes? Se a Ordem
nunca forneceu cartas patentes nem cartas de autoridade, porque Lewis veio a dizer
que lhe deram documentos de autoridade, que lhe seriam enviados com a proteção
do Governo Francês, como já se comentou em relatos anteriores?)
22
Idem - parte IV - página 9.
41
destituídos de qualquer autoridade, muito menos para "iniciar" ou encarregar
alguém de alguma missão).
Quarto. Que todos estes homens e mulheres e estes grupos pequenos esperavam
pacientemente a chegada do próximo chefe, que sabiam seria em 1915; esta profecia
foi cultivada durante vários séculos, ainda nos tempos de Rosenkreutz e na Índia, onde
o último chefe oriental da Ordem viveu e dali partiu para o Reino Superior. (A que
profecia entre Rosacruzes se refere? Porque, desde o século XVII até agora não se
fala de nenhuma profecia na qual se espera o advento do "próximo chefe", nem as
fontes consultadas não sabem nada, de nenhuma profecia na "Índia", relativa a este
tema. Ou seja, que o advento do "chefe" Lewis estava já prognosticado, "durante
séculos", por profecias Rosacruzes que ninguém conhece... esta última nós não
queremos nem qualificá-la).
Todo este relato, relacionado com os outros, é tão superficial e todas estas
contradições são tão grandes, tão flagrantes e tão absurdas, que à luz dos diferentes
relatos do "Doutor" Harvey Spencer Lewis e da AMORC, as pessoas sensatas podem
começar a tirar algumas conclusões.
42
The American Rosae Crucis, página 23, maio 1916
Em: http://www.iapsop.com/archive/materials/american_rosae_crucis/
43
6 - Trabalho, Preparação e Primeira Desilusão
Conforme relata Harvey Spencer Lewis em seus diversos escritos, uma vez
"iniciado" em Toulouse, regressa a Nova York, onde começa a traduzir e decifrar os
documentos que lhe foram confiados na França (O interessante é notar que nunca,
nem ninguém, exceção feita à Lewis, viu esses documentos originais entregues pelos
"iniciadores" franceses, bem como, também não devem ter se conservado, porque
nunca foram expostos) e a esse respeito, em seu livro "Perguntas e Respostas"23,
edição de 1932, diz o seguinte:
23
Perguntas e Respostas Rosacruzes, com a História completa da Ordem Rosacruz - H.S.L. - Ed. Supreme
Grand Lodge of AMORC inc, - 2- ed. 1932 - pag. 146 – 147.
44
"Em 1915 publicamos o primeiro manifesto oficial anunciando o começo de um
novo ciclo da Ordem e imediatamente procedeu-se a eleição do primeiro Conselho
Supremo da Ordem entre centenas de homens e mulheres cuidadosamente
selecionados durante os sete anos precedentes".
"Na primeira sessão oficial deste Conselho Supremo da Ordem nos Estados
Unidos procedeu-se a nomeação aos cargos e grande foi minha surpresa ao saber que
o delegado da Índia havia recebido instruções para designar-me presidente do
Conselho, em atenção aos meus trabalhos, durante os sete anos precedentes, ao
estabelecimento da verdadeira Rosacruz nos Estados Unidos. Os demais cargos
recaíram em pessoas qualificadas e foram nomeadas comissões, com a finalidade de
traduzir e adaptar às norte-americanas a constituição e demais documentos oficiais da
Ordem na França...".
24
Id. 11 edit. 1973. pag.174 e seg.
25
Missão Cósmica Cumprida - R.M.L. Ed. Supreme Gran Lodge of AMORC Inc. - 1966 pag. 226.
45
que lhe disseram no quarto item das instruções do Imperator e que apresentamos em
página anterior... "Quarto. Que todos esses homens e mulheres e estes pequenos
grupos esperavam pacientemente a chegada do próximo chefe, que sabiam seria em
1915; esta profecia se apresentou durante vários séculos, ainda nos tempos de
Rosenkreutz e na Índia, onde o último chefe oriental da Ordem viveu e dali elevou-se ao
Reino Superior..."
26
The American Rosae Crucis - julho 1916 - pag. 11 e seguintes, em:
http://www.iapsop.com/archive/materials/american_rosae_crucis/american_rosae_crucis_v1_n7_jul_1
916.pdf
46
7 - A Delegada da Índia (Um Personagem Misterioso)
27
Manual Rosacruz - H.S.L. - Supreme Grand Lodge of AMORC Inc. - 18 edit - 1970 - pag. 16. Este
manual, naturalmente, não é mais publicado pela atual AMORC.
47
que patrocinou o primeiro movimento na América, a esposa do coronel May Bank-
Stacey, descendente de Oliver Cromwel e dos D'Arcy, da França, colocou em suas mãos
esses documentos, da mesma maneira e de forma oficial, como lhe haviam sido
transmitidos pelo último dos primeiros Rosacruzes americanos, junto com a joia e a
chave de autoridade que ela recebeu do Grande Mestre da Ordem na Índia, quando era
oficial da Ordem nesse país...”
(Um membro da Ordem Rosacruz na Índia? Onde estava localizada esta Ordem
na Índia, sendo que não há nenhuma referência histórica, exceto nos escritos de
Lewis? Papéis recebidos do Grande Mestre da Ordem na Índia? Quem era esse
Grande Mestre dessa Ordem Rosacruz na Índia? Todos os estudiosos sérios do
esoterismo e da verdadeira história da Rosacruz apreciariam conhecer esses dados e,
por conseguinte, que fossem comprovados.)
Em outro escrito de Lewis, intitulado "A Luz do Egito"28 se diz: "...Uma alta
iniciada da mais antiga organização rosacruz de Londres e Paris (para os Rosacruzes
serem tão secretos e estarem restritos à França, agora vemos que, além de ser
Delegada da Índia, também era membro da rosacruz de Londres e Paris... em página
anterior mencionava-se também a Suíça...) descendente dos D'Arcys, da França (Aqui
já não se fala que era descendente de Oliver Cromwel). Uma mulher que tinha viajado
muito e detentora de inúmeras afiliações (???) apresentou-se como Delegada especial
da Ordem na Índia. Ela entregou ao "Dr." Lewis e ao comitê fundador os papéis
definitivos para o início da grande obra e a Joia de Autoridade, um raro emblema
oficial, bem como, tesouros inestimáveis provenientes dos arquivos do Centro Oriental.
(Temos que perguntar novamente: que papéis são esses que ninguém viu? Que joia?
Quais tesouros?)
Vamos ao ponto que nos dará a pista definitiva sobre esta "misteriosa dama",
"delegada da Índia", "Co-fundadora da AMORC" , "Primeira Grande Matre da Rosacruz
AMORC na América".
28
The Ligth of Egipt - 1927/28 - pag. 14.
48
para a fundação da AMORC e no dia 1° de abril de 1915, às 20:30 horas, na presença
de umas trinta pessoas29 assina-se um pronunciamento que diz:
H. Spencer Lewis
Nicholas Storm
Thor Kiimalehto
Secretário Geral
29
Segundo nos informa um amável leitor desta página, na revista The American Rosae Crucis, outubro
de 1917, página 195 e seguintes, Harvey Spencer Lewis diz que o número de pessoas presentes à
reunião de 1° de abril de 1915, onde foi assinado este documento, estavam presentes 22 pessoas. E,
efetivamente, contando as assinaturas dos três dignitários e as 19 assinaturas que aparecem na parte
inferior, o que pode ser comprovado no documento constante do "The Rosicrucians Documents"
reproduzido em páginas anteriores, soma-se 22 pessoas, o que coincide com o número indicado por
Lewis. Porém, novamente se apresenta uma questão: se havia 22 pessoas e a assinatura da "Sra. May
Banks-Stacey" e esse era o documento de fundação, onde estava a Senhora que, segundo a AMORC, era
"cofundadora e primeira matre geral da Ordem"?
30
Rosicrucian Documents - S.G.L. of AMORC Inc, - Ed. 1975 - pag. 6.
49
Manifesto AMORC 1- Abril 1915
50
Em vista do exposto e já que estamos interessados em conhecer a verdade,
façamos algumas perguntas:
Levando em conta que a Sra. Stacey era tão importante, já que era Delegada da
Índia, membro de muitas associações, Co-fundadora da AMORC, Primeira Grande
Matre da AMORC na América, quem entregou os documentos e joias ao "doutor"
Harvey Spencer Lewis? Onde e quando nasceu a Sra. May Banks-Stacey? Onde e
quando faleceu? Porque não há referência à participação da Sra. Stacey na reunião
de 15 de fevereiro de 1915? Porque não há referência da participação da Sra.Stacey
na reunião de 1° de abril de 1915? Porque não aparece a assinatura da Sra. Stacey no
Manifesto, no cargo de "MATRE GERAL" tal e qual se pode ver na imagem? É
realmente a Sra. Stacey a que aparece na fotografia da AMORC?
São perguntas em demasia e sem nenhuma resposta, o que nos leva a pensar
que a Sra. May Banks-Stacey, descendente de Cromwell e dos D'Árcy da França,
Delegada da Índia, Cofundadora da AMORC, Primeira Grande Matre da AMORC U.S.A.
(um personagem que deveria ser de importância fundamental, tendo em vista essas
informações) somente existiu na imaginação do "doutor" Lewis. Não queremos ir tão
longe quanto R. S. Clymer, o qual declarou que a pessoa que aparece na fotografia era
"uma atriz contratada", porém, não podemos aceitar a existência real desse
personagem baseando-nos em declarações e escritos tão contraditórios e pela falta de
evidências.
ANEXO I
31
(Deixamos de traduzir o texto relativo a esta nota, por ser demasiado extensa. Procuramos
condensar o conteúdo, sem perder a essência, do original em espanhol.)
For the members interested in rosicrucian history: there are two good articles published in the
magazine "Theosophical History" edited by the great Professor Dr. James A. Santucci (Department of
Religious Studies, California State University). The articles are:
- "H. Spencer Lewis: A Bibliographical Survey", by David T. Rocks. (Vol.4, October 1996).
- "Mrs. May Banks Stacey," by David T. Rocks. (Vol.6, April 1997).
Here is the David Rocks article on May Banks Stacey.
David T. Rocks wrote in the magazine "Theosophical History":
51
Manly P. Hall (1901-1990) believed that Rosicrucians actually existed; however, he also wrote that
the whole subject of Rosicrucianism has been intensely complicated by misrepresentation and
imposture.; As one of the most invidious critics of Rosicrucianism in America, Hall was convinced that
the claims of a number of modern organizations were utterly false.
Similarly, in his analysis of American Rosicrucianism Arthur Edward Waite (1857-1942) wrote that the
Societas Rosicruciana in America obviously has no tradition, no claim on the past and no knowledge
thereof. Moreover, he concluded that:
It would serve no useful purpose to enlarge upon later foundations, like that of Dr. R. Swinburne
Clymer, who seems to have assumed the mantle laid down by [P. B.] Randolph, or Max Heindel's
Rosicrucian Fellowship of California. They represent individual enterprises which have no roots in the
past.
And, in spite of the fact that Waite's assessment of American Rosicrucian groups did not include
Harvey Lewis' enterprise, it cannot be inferred that Lewis' claims of authenticity were any more valid
than the claims of his rivals. Harvey Spencer Lewis (1883-1939) was the founder of the Ancient Mystical
Order Rosae Crucis, established in New York City on April 1, 1915. Lewis introduced May Banks Stacey
(1846-1918) as co-founder of his group in a biography written for the initial issue of AMORC's; official
organ, The American Rosae Crucis.
Approximately three years later, Lewis wrote a combination obituary-biography of Stacey together
with a testimonial attributed to her in support of his claims. Finally, in 1927, Lewis condensed the data
in both biographies and incorporated the fragments into his autobiography, giving her some notoriety,
albeit for his benefit.
Lewis wrote that: he made his first contact with the work of the Rosicrucians through obtaining
copies of the secret manuscripts of the first American Rosicrucians who established their headquarters
near Philadelphia in 1694. A member of the English branch which sponsored the first movement in
America, Mrs. Colonel May Banks Stacey, descendant of Oliver Cromwell and the D'Arcy's of France,
placed in his hands such papers as had been officially transmitted to her by the last of the first American
Rosicrucians, with the Jewel and Key of authority received by her from the Grand Master of the Order in
India while an officer of the work in that country.
On the face of it, the gesture of including Mary Stacey in his autobiography seemed to be a strategy
for the reinforcement of Lewis' claim to Rosicrucian authenticity. Although Lewis publicized her as the
organization's co-founder, Stacey never signed the group's original charter. Moreover, evidence of
Stacey's membership in the English branch which sponsored the first [Rosicrucian] movement in
America remains to be discovered. In any case, only Lewis and Stacey knew for certain the reasons for,
and, the extent of their association. Therefore, a biographical sketch, supported by sources outside of
the Rosicrucian Order (AMORC), is essential to determine whether or not Mary Stacey could have
functioned in the capacity ascribed to her by Lewis.
Mrs. Stacey was born Mary Henrietta Banks in July 1846, in Hollidaysburg, Blair County,
Pennsylvania. The census of August 30, 1850 records Mary H. Banks, age 4, in the household of
Thaddeus Banks. The exact day of her birth remains to be discovered.
Additionally, records relevant to her formal education have yet to be located. However, available
records disclose that her father was a Presbyterian; and a Democrat; Also, Thaddeus Banks was a well
known attorney in Hollidaysburg, who in 1862 served in the House of Representatives of Pennsylvania.
Furthermore, he was the son of Judge Ephraim Banks of Lewistown, Pennsylvania and the grandson
of James Banks Jr., a member of the State Legislature in 1790, as well as a Major General in the
Pennsylvania Militia during the War of 1812.
Mary's earliest known immigrant ancestor, James Banks Sr., was born in Ayr, Scotland in 1732.
He and his wife Anna sailed for America and landed at Christiana Bridge, Delaware in 1755. From
Delaware they went to New London Crossroads, Chester County, Pennsylvania, where they made their
first home in this country. In 1756, James Banks Sr. enlisted and served two years in the Indian
campaigns with Captain Clinton's Volunteers, who incidentally were under the command of Colonel
George Washington. In 1758, he enlisted in the army of General Forbes and marched against Fort Du
Quesne in the French and Indian War.
Mary's mother was Delia Cromwell Reynolds of Cecil County, Maryland, daughter of Reuben
Reynolds and Henrietta Maria Cromwell.
In short, since Mary Banks was a fifth generation American on both sides of the family, her reported
membership in an English branch of Rosicrucianism could serve only to obscure the issue of her origin.
52
Meanwhile, Mary Henrietta Banks married Captain May Humphreys Stacey on December 9, 1869, at
her father's home in Hollidaysburg, Pennsylvania. The ceremony was performed by Reverend William
Preston, Rector of Saint Andrew's [Episcopal] Church of Pittsburgh.
Captain Stacey was an adventuresome choice as a husband. In 1857 he crossed the plains to
California with Lieutenant Edward F. Beale, who was surveying a wagon route between Alberquerque,
New Mexico, and the Colorado River. The only camels that ever crossed the continent were taken by Lt.
Beale's party.
After reaching California, May Stacey stayed for over a year, then returned home on a merchant ship
via Calcutta and the Cape of Good Hope. In 1859 he was appointed Master's Mate of the United States
steamer Crusader. Soon afterwards, Stacey joined the United States Coast Survey steamer Corwin where
he remained until his appointment as first lieutenant in the Union Army.
He was promoted to captain Twelfth Infantry August 19, 1864 and was three times breveted for
distinguished services.
Brevet Lieutenant Colonel, Captain May Stacey and his bride Mary became the parents of a daughter
and two sons: Delia Van Dycke Stacey born at Hollidaysburg, November 9, 1870; Aubrey Banks Stacey,
born at Angel Island, California, February 29, 1872; and, Edward Cecil Cromwell Stacey, born at Camp
Halleck, Nevada, February 14, 1876.
The Staceys were stationed at the most desolate outposts the Army had to offer between 1869 and
1882. According to data in his personnel file Captain Stacey served as commanding officer at the
following posts: Fort Grant, Fort Lowell, Fort Mojave, and Fort Thomas, Arizona; Camp Reynolds on
Angel Island and Fort Yuma, California; Camp Halleck and Fort McDermit, Nevada. Finally, the Staceys
spent their last four Army years at Plattsburg Barracks, and Fort Ontario, New York.
Captain Stacey died at Fort Ontario on February 12, 1886 from paralysis caused by the wounds he
received in the Civil War.
In a short time, May H. Stacey Post No. 586, Grand Army of the Republic was chartered in his honor
at Oswego, New York.
Captain Stacey was buried in Chester, Pennsylvania. Afterward, affidavits obtained by Mary Stacey to
secure her widow's pension indicated that she and her children lived with in-laws in Chester during the
period 1886-1887, and with her sister's family in Baltimore from 1887 to 1891. The report submitted to
Congress by Mr. Brady of the committee on pensions stated that Captain Stacey's death left Mrs. Stacey
and three children in needy circumstances.
Hence, the necessity of living with relatives was evident. Initially, her pension was $20.00 per month,
plus $2.00 per month for each child under sixteen years of age. Three years later, the United States
Senate approved a pension of $30.00 per month.
Supplemented by financial assistance from her children, she lived on that amount for the remainder
of her life.
Clearly, times were hard. From 1892 to 1897, Mary Stacey lived in a boarding house at 139 West
41st Street, New York City. Her landlord, Fred Stanley Betts, complained to the War Department that
Mrs. Stacey, the mother of Lieutenant Stacey was $450.00 in arrears for her board bill. Betts wrote that
she and her son signed a note payable, then moved.
Further proof of her sorry financial circumstances may be inferred from a letter written to President
McKinley. Of her youngest son, she wrote, He is my main support. . . . I have no political influence, but I
have given both my boys to the country. My eldest boy is in Cuba.
In another letter on behalf of her youngest son, Mary Stacey also revealed information about her
personal life. On April 26, 1898, she wrote, I am the First Vice President of [the] New York Women's
Republican Association, and worked hard in the Presidential campaign.
My son is a New York soldier, so I write to you as our Senator, begging you to use your influence with
the President and Secretary of War, to appoint Sergeant Stacey as Second Lieutenant. Also, February 25,
1898, a friend of the family, Thomas F. Reed, Surveyor of Customs, Port of New York, wrote to General
Alger of the War Department on behalf of Sergeant Stacey. Likewise, his letter revealed information
about Mary Stacey's private life. Of Mrs. Stacey, he wrote, With the prominence and loyalty of his father
we can add the distinguished and energetic life and labors of his mother Mrs. May Banks Stacey, who is
engaged in duties on the rostrum, in our schools, and before societies, teaching the young those lessons
of patriotism, which makes our Republic the great and growing power of the world.
Mary Stacey had been teaching at the Charlier Institute, a private school, on Sixth Avenue at Fifty-
ninth Street, opposite Central Park.
53
Her brother-in-law, Professor Elie Charlier was the founder of the Institute and a French Episcopal
minister as well. Moreover, he was Jeannette Stacey's husband.
Consequently, working for her in-laws proved beneficial for Mary Stacey. In addition to the extra
income, she found plenty of time to actively campaign for Cromwell's promotions. Eventually, her
efforts were successful. Cromwell was appointed second lieutenant of Infantry at Fort Leavenworth,
Kansas, on July 15, 1898.
During the Spanish American War, he distinguished himself in Puerto Rico and a few years later in
the Philippines, while his older brother, Aubrey, never rose above the rank of Sergeant.
The following extract is from one of Mary Stacey's letters to Secretary of War, Elihu Root:
You will see I am with the 19th U.S. Inf. now at Camp Meade, [Middletown] Pa., with my son
Cromwell, 1st Lt. but who has acted Captain all through the Porto Rican Campaign. You may have seen
how he covered himself with glory by capturing the famous brigand [Estaban] Garcia. The New York
papers [New York World, April 16, 1899] gave Cromwell's picture and a full account taken from the
Porto Rican papers, in which they said Lt. Stacey deserved great things for thus saving the lives and
property of the people.
Most important, Cromwell's military service reports made it possible to accurately document his
mother's places of residence.
Therefore, this information combined with the knowledge of her financial circumstances would seem
to preclude the notion that Mary Stacey served as an officer of the Rosicrucian Order in India. In fact,
existing records support the contention that her personal and financial circumstances made it all but
impossible for her to travel anywhere other than from relative to relative.
Indeed, Mrs. Stacey prepared a holographic will while residing with her daughter in Atlantic City,
New Jersey. She described the extent of her wealth as: all personal property, viz., jewelry, clothes, bric-
a-brack, books, mining shares, and whatever I may possess at death. . . . .
Mary Stacey died on January 21, 1918, and her daughter filed the will at the Circuit Court of Cook
County, Probate Division, on March 11, 1918. Assets in the estate were about $100.00.
Sexton's records from Graceland Cemetery and Crematorium, 4001 North Clark Street, Chicago,
Illinois, confirm that Mary Stacey was cremated and her ashes scattered.
On the whole, sources outside of the Rosicrucian Order (AMORC) pointedly suggest the following:
1. Although some of Mary Stacey's relatives were wealthy, her immediate family lived modestly.
And, in spite of hardships, Mary Stacey was always completely devoted to her family. When she died she
was living with her daughter in Evanston, Illinois, and her youngest son Cromwell was stationed at
nearby Fort Sheridan. It seems unlikely that she would have forsaken her children to embark upon an
arduous and expensive journey to India. Consequently, evidence of Stacey's service as an officer of the
Rosicrucian Order in India remains to be discovered. Likewise, it is unclear how Mary Stacey could have
been a member of the English branch which sponsored the first [Rosicrucian] movement in America.
2. Finally, Lewis benefitted from their relationship in ways that were obvious. In contrast, one can
only speculate concerning the benefits to Mary Stacey. 's involvement with his organization must remain
questionable. And, since that is the case, it would appear that Lewis' claims of Rosicrucian authenticity
were just as incredulous as the claims of his rivals.
Mrs. May (Banks) Stacey was Mary Henrietta Banks, the wife of May Humphreys Stacey. The
reference to May Banks Stacey was a gender role stereotype whereby her identity was defined by the
relationship to her husband.
Mr. Rocks is a former member of AMORC and currently the head of Rocks and Associates (Orange,
California). As a historian, he is the author of W.C. Fields An Annotated Guide: Chronology,
Bibliographies, Discography, Filmographies, Press Boods, Cigarette Cards, Film Clips, and Impersonators
(Jefferson, North Carolina: McFarlane, 1993). Mr. Rocks is also the author of two bibliographies of
Orange County (California) history: A Contribution Towards a Bibliography of Orange County, California,
Local History, Together with a Checklist of the Publications of the Fine Arts Press of Santa Ana, California
(1971) and Orange County Local History, 1869-1971: A Preliminary Bibliography (1972).
Hall, Manly P. The Riddle of the Rosicrucians (Los Angeles: Philosophical Research Society, 1941), 2, 14-
15.
Waite, Arthur Edward. The Brotherhood of the Rosy Cross (London: Rider & Co., 1924), 615-616.
AMORC is an acronym for the Ancient Mystical Order Rosae Crucis.
Lewis, H. Spencer. Mrs. May Banks Stacey Matre, Rosae Crucis America. The American Rosae Crucis. Vol.
1, No.1 (January, 1916): 16-17.
54
_____ The Supreme Matre Emeritus Raised to the Higher Realms. Ó Cromaat. D (1918): 26-27.
_____ Rosicrucian Manual. AMORC. (Charleston, W. Va.: Lovett Printing Co., 1927), 13, 128.
Lewis claimed that the German Pietists were the first American Rosicrucians. See Julius F. Sachse, The
German Pietists of Provincial Pennsylvania, 1694-1708. (New York: AMS Press, 1970), iv, 37.
Manly P. Hall, Codex Rosae Crucis. (Los Angeles: Philosophical Research Society, 1974), 33-38 contains a
complete description of the so-called secret manuscripts of the first American Rosicrucians.
Mrs. Stacey fervently believed that she was a lineal descendant of Oliver Cromwell. However, famed
genealogist Francis B. Culver was the first to discover the erroneous Cromwell connections.
Unfortunately, every Cromwell who emigrated to Maryland claimed descendance from the
Protector, but, no one has proven a relationship. Additionally, the eminent Maryland genealogist
Harry Wright Newman, wrote that after studying the foregoing [genealogical] outlines, it shows
conclusively that the Maryland Cromwell's are not descended from Oliver the Puritan, unless they be
from his son and namesake, Oliver, who is supposed to have died without issue at the age of twenty-
one. Ó See Newman's Anne Arundel Gentry. A Genealogical History of Twenty-Two Pioneers of Anne
Arundel County, Md., and their descendants. (n.p.: Maryland Pioneer Series, 1933), 4-5.
Lewis, Ralph M. Rosicrucian Documents (San Jose: Supreme Grand Lodge of AMORC, Inc., 1975), 6.
Photograph of the Pronunciamento [charter] issued and signed on the occasion of the first meeting
of the American Supreme Council of the AMORC in New York City, April 1, 1915. Mary Stacey was not
one of the several women who signed the document.
United States. Census. Schedule I. Hollidaysburg, Blair County, Pennsylvania. August 30, 1850. Family of
Thaddeus Banks, House 53, Family 62, page 195.
Letter to the author from James M. Hanly, Pastor, First Presbyterian Church, Hollidaysburg, PA, dated 16
September 1985. Thaddeus Banks united with this church in January 9, 1864. . . .
Davis, Tarring S. and Lucille Shenk. A History of Blair County, Pennsylvania (Harrisburg: National
Historical Association, 1931), II-168. He [Thaddeus Banks] was the Democratic candidate for judge
against Dean and Taylor in 1871, but was defeated.
Wiley, Samuel T. and W. Scott Garner. Biographical and Portrait Cyclopedia of Blair County,
Pennsylvania. (Chicago: Gresham Publishing Co., 1892), 92.
History of that part of the Susquehanna and Juniata Valleys, Embraced in the Counties of Mifflin,
Juniata, Perry, Union and Snyder in the Commonwealth of Pennsylvania. In Two Volumes.
(Philadelphia: Everts, Peck & Richards, 1886), vol. I, 467-68.
Ephraim Banks was a native of Lost Creek Valley (now Juniata County); was born January 17, 1791.
He came to Lewistown in 1817, and was appointed prothonotary of Mifflin County in 1818 by Governor
Freedley.
After studying law, was admitted to practice in 1823; was a member of the Legislature in 1826-7-8; a
member of the Constitutional Convention in 1837; was elected auditor-general of the State in 1850, and
re-elected in 1853. In 1866 he was elected associate judge of Mifflin County, which position he held at
the time of his death, in January, 1871.
Jordan, John W. A History of the Juniata Valley and Its People. Volume I. Illustrated. (New York: Lewis
Historical Publishing Co., 1913), 115.
Montgomery, Thomas Lynch. Pennsylvania Archives, Sixth Series. Volume VII. (Harrisburg: Harrisburg
Publishing Co., State Printer, 1907),937. A general return of the Militia of Pennsylvania for the year
1812. Names of Major Generals: James Banks.
Note that James Banks Sr. was born 38 years after the German Pietists settled near Philadelphia.
History of that part of the Susquehanna and Juniata Valleys embraced in the Counties of Mifflin, Juniata,
Perry, Union and Snyder in the Commonwealth of Pennsylvania. Two Volumes. (Philadelphia: Everts,
Peck & Richards, 1886), I: 824-831. Note: Captain Clinton was also Banks' landlord.
The Biographical Cyclopedia of Representative Men of Maryland and District of Columbia. (Baltimore:
National Biographical Publishing Co., 1879), 556-557.
The English branch of AMORC was established in 1921. See the Rosicrucian Forum, 26-4 (February
1956): 95.
Stacey, Mary H. Affidavit of Marriage to May H. Stacey, dated February 26, 1886. Thomas Dees, Clerk of
Orphan's Court, Chester, Delaware County, Pennsylvania.
Fowler, Harlan D., Camels to California. (Stanford: Stanford University Press, 1950), 46-67, 92-93. Also
see Stacey, May Humphreys. Uncle Sam's Camels: The Journal of May Humphreys Stacey,
55
Supplemented by the Report of Edward Fitzgerald Beale, 1857-1858, edited by Lewis Burt Lesley.
(Cambridge, MA: Harvard University Press, 1929).
Martin, John Hill. Chester and It's Vicinity, Delaware County in Pennsylvania; with Genealogical Sketches
of Some Old Families. (Philadelphia: n.p., 1877), 47.
United States. Cong. House. Report on May H. Stacey by Mr. Brady from the committee on pensions.
49th Congress. 2nd Session. House Report 3694. January 20, 1887. Note: A brevet is a commission
giving a military officer higher nominal rank than that for which he receives pay. However, such a
commission, carries no right of command. It may be conferred by the President of the United States
by and with the consent of the Senate upon officers of the Army and Marine Corps for distinguished
conduct and public service in the presence of the enemy.
Stacey, Mary H. Affidavit of Birth and Baptism of children of Captain and Mrs. Stacey, dated March 8,
1886. J. N. Shanafelt, City Recorder, City of Chester, Delaware County, Pennsylvania. All three of the
Stacey children were baptized by Episcopal ministers.
United States. Adjutant General' s Office. Personnel File 2930, May H. Stacey. 124 leaves.
United States. Cong. House. Report on May H. Stacey by Mr. Brady from the committee on pensions.
49th Congress. 2nd Session. House Report 3694. January 20, 1887.
Boyd' s Oswego City Directory, 1895-96, 75 The original Post Charter and the membership register is in
the archives of the New York State Library at Albany. Note: The Grand Army of the Republic was a
Civil War veteran's organization.
United States. Cong. House. Report on May H. Stacey by Mr. Brady, from the committee on pensions.
49th Congress. 2nd Session. House Report 3694. January 20, 1887.
United States. Cong. Senate. Report on May H. Stacey by Mr. Paddock from the committee on pensions.
50th Congress. 2nd Session. Report 2560. February 8, 1889.
Betts, Fred Stanley. Bills Owed by Mrs. May Banks Stacey since May 1, 1898. Letter to War Department,
dated May 1, 1899. Betts wrote, Since that date I have heard not a word from either of them, and it
seems to me that I have been done out of my money, unless the department in some way induces
Lieutenant Stacey to uphold the honor of a United States Army Officer by meeting his just
obligations.
Stacey, Mary H. Letter to President McKinley re: Promotion of Cromwell Stacey, dated [illegible], 1898.
Her statement, Again, Mr. President, I beg as a soldier Õs widow, as a Grand Army woman, and as a
Mason [?], for your help. This is puzzling. Since women were not allowed into the fraternity proper,
she may have meant a women's masonic auxiliary, which would imply that Captain Stacey was a
Mason. To be sure, she did not mean Co-Masonry because it was not established in America until
1903.
Stacey, May Banks. Letter to [New York] Senator concerning promotion of Cromwell Stacey. April 26,
1898. Name of Senator covered by transmittal notation to the Secretary of War.
Reed, Thomas F. Letter from Office of the Surveyor of Customs, Port of New York to General Russell A.
Alger, War Department concerning Cromwell Stacey. February 25, 1898.
Eyre, Lawrence. Family Records of the Stacey Family and their Connections. (n.p., n.p., [1936]),32-33.
Stacey, Cromwell. Oath of Office. July 15, 1898. –United States. Army. Headquarters Philippines
Div., Manila, P. I. January 26, 1906. General Orders No. 6. Commendation of Cromwell Stacey.
United States. Army. Register of Enlistment, Aubrey B. Stacey. May 7, 1904, Entry 1487, page 188. May
22, 1908, Entry 1353, page 102. February 7, 1911, Entry 618, page 240.
United States. Adjutant General' s Office. Personnel File 9250, Cromwell Stacey. Microfilm, 1204 frames.
Extracted from Officer' s Individual Service Report:
1898-1899 101 West 40th Street, New York City
1899-1902 137 West 67th Street, New York City
1902-1903 47 West 63rd Street, New York City
1903-1904 160 St. Charles Place, Atlantic City, NJ
1904-1905 816 11th Street, NW, Washington, D. C.
1906-1907 Hotel Fredonia, Washington, D. C.
1908-1910 160 St. Charles Place, Atlantic City, NJ
1911-1917 26 East 25th Street, Baltimore, MD
1917-1918 1003 Davis Street, Evanston, IL
Stacey, May Banks. The Last Will & Testament of May Banks Stacey, Atlantic City, New Jersey, February
16, 1904. 1 leaf.
56
publicado em 1996, sendo o mesmo muito extenso e completo, chegando a incluir os
endereços dos sucessivos domicílios da Sra. Stacey desde que começou a cobrar uma
pensão por viuvez, até o seu falecimento em Evanston - Illinois - USA.
Sabe-se que a Sra. Stacey vivia em Nova York em 1889 e entre 1898-1899, numa
pensão situada em 101 West 40th Street, Nova York City e que seu locatário, Sr. Fred
Stanley Bets, reclamou perante as autoridades pelo fato da Sra. Stacey estar lhe
devendo um aluguel acumulado em 450 dólares.
A Sra. Mary Henrietta, cujo nome de casada era Mary Stacey (e não Sra. May
Banks-Stacey) faleceu em Evanston, Illinois, no dia 21 de janeiro de 1918. O
testamento da Sra. Stacey foi arquivado junto aos registros gerais do Condado de
Cook, Illinois, em março de 1918, pela sua filha, e todas as suas propriedades (livros,
joias, móveis, etc.) foram avaliados em aproximadamente 100 dólares, um capital
realmente parco.
1 - A Sra. Mary Stacey, viúva do "capitão Stacey e não de algum coronel", é uma
pessoa real que tem muito pouco, ou nada, a ver com May Banks-Stacey, a qual,
segundo todas as evidências, é uma figura inventada por Lewis.
Certificate of Death, State of Illinois, Bureau of Vital Statistics. Mary B. Stacey. Date of Death: January
21, 1918. Filed: February 5, 1918.
Naramore, Milton O. Attorney for Delia (Stacey) Muller. Letter to Bureau of Pensions, dated June 6,
1918. There was no property left by the widow except a few personal effects contained in trunks
which are in storage in New York City.
* * * * *
Mrs. May Banks Stacey - Article by David T. Rocks in "Theosophical History", Vol. VI, 4, October 1996.
57
2 - A Sra. Stacey era uma pobre viúva, mãe de três filhos, com uma pensão de
apenas 20 dólares, concedida pelo Governo dos Estados Unidos, aumentada
posteriormente para 30, mais 2 dólares por filho, até que completassem 16 anos, o
que pressupõe, no máximo, uma miserável pensão de 36 dólares mensais, totalmente
insuficiente para se levar uma vida normal e digna, para uma pessoa que tinha que
sustentar 3 filhos, sendo dois adolescentes.
3 - À luz da documentação exposta, sabe-se que a Sra. Stacey vivia em Nova York,
de pensão, e que tinha uma dívida de 450 dólares com o seu locador e que este entrou
com medidas judiciais, o que é um sinal da pobreza da Sra. Stacey.
7 - Sem chegar a afirmar, como faz Clymer, ainda que é possível que seja assim, a
Sra. Stacey era uma pessoa que se deixou fotografar em troca de dinheiro, sem
nenhuma outra relação com Lewis; o mais provável é que Lewis conheceu a Sra. Stacey
ocasionalmente e que não teve nenhum relacionamento de amizade com ela,
utilizando sua "fotografia" e uma história fictícia para justificar a fundação da AMORC
e dar veracidade à suas fantasias.
58
Do ponto de vista do historiador, o caso enfocado é um acumulado de
falsificações e utilização abusiva e fraudulenta da personalidade de um ser humano, o
qual, com certeza, ignorava por completo de que forma seu nome seria utilizado.
Artigo por David T. Rocks em Theosophical History, Volume VI, No. 4 outubro de 1996.
https://pt.scribd.com/document/110899767/Who-really-was-Mrs-May-Banks-Stacey-1846-1918
59
60
8 - O Primeiro Manifesto da AMORC - Fevereiro 1915
Thor Kiimalehto
Este documento foi reencontrado pelo eminente historiador Robert Van Loo, que
tem o mérito de tê-lo exposto à luz, após profundas e exaustivas investigações nos
depósitos de documentos de inúmeras bibliotecas e arquivos e que aparece em seu
livro "Os Rosacruzes do Novo Mundo"32 e também foi amplamente reproduzido em
diversas páginas da Internet, por pessoas interessadas na história dos movimentos
esotéricos, especialmente a AMORC.
32
Les Rose Croix du Nouveau Monde - Robert Van Loo - Ed. Claire Vigne 1996 - pag. 244
61
PRONUNCIAMENTO AMERICANO
número 1
No ano de 1915 (= 7)
Será estabelecida
nos Estados Unidos da
América A Fraternidade da
Antiga e Mística Ordem de
Rosae Crucis
De acordo com um
Manifesto Oficial da
O.T.O.
et prevalebit
Fevereiro 1915
Thor Kiimalehto
Secretário Geral
Sobre este tema retornaremos mais adiante. Passados alguns anos deste fato, o
Grande Mestre da OTO Theodor Reuss, conhecido pelo nome simbólico de Peregrinus,
62
conferiu um diploma à Lewis, nomeando-o Grau 33 - 90 - 95, no dia 30 de julho de
192133.
Conforme tudo indica, foi justamente esse título, o da "Ordem inglesa", a "carta
de autoridade" que deveria mencionar no Pronunciamento n° 1 - CONFORME
MANIFESTO DA OTO. Em relatos posteriores, nunca mais se mencionou a passagem do
"doutor" Lewis pela cidade de Londres, em sua viagem à Europa em 1909. Atualmente,
os mais altos dirigentes da AMORC continuam fazendo o possível para que não
apareça essa relação entre a fundação da AMORC e a OTO, sem hesitar em efetuar
"hábeis limpezas e retoques" NOS
DOCUMENTOS.
33
Rosicrucian Documents - Ed. SGL of AMORC Inc - pag. 38.
34
The American Rosae Crucis - Feb. 1916 - pag. 18.
35
Este endereço está desativado. Atualmente (2016) está redirecionando para http://www.blog-rose-
croix.fr/
63
A seguir iremos nos ocupar de um importante documento, não mencionado em
páginas anteriores e que Lewis apresentou como prova de autenticidade do patrocínio
da Rosacruz Francesa à AMORC, conhecido como "Carta de Verdier", uma manipulação
tão absurda que envergonharia qualquer falsificador novato e de pouca experiência.
64
9 - A Carta de Verdier - Uma Grande Falsificação Apresentada Por Lewis aos
Membros da Rosacruz AMORC
Devido a fatos que aconteceram naquela época, parece que as pessoas que
ingressaram na AMORC, confiando na palavra do "doutor" Harvey Spencer Lewis, o
qual afirmava que a AMORC estava sendo patrocinada pela Rosacruz da França, lhe
solicitaram provas e documentos que ele não tinha apresentado, apesar de suas
reiteradas afirmativas de ter recebido cartas de autoridade e documentos após sua
"iniciação" em Toulouse, na França, em 1909, onde "supostamente" foi comissionado
para fundar a Rosacruz na América.
Esta carta do Sr. Verdier, Supremo Mago, também consta do folheto "Rosicrucian
Documents"37, cuja imagem reproduzimos e diz o seguinte:
1 de Setembro 1915
Saudações a um Irmão...
Estou seguro que o Respeitável Secretário de sua Grande Loja irá lhe informar de
minha visita não oficial ao seu país e por acreditar que não possa permanecer em Nova
York mais que alguns dias (pois estou a caminho da Grande Loja do Canadá,
juntamente com o Magus Supremo) gostaria que me concedesse o prazer de examinar
alguns relatórios que preparamos e oferecer-lhe alguma ajuda ou conselho que V.S.
36
Rosicrucian Initiation - 1917 - pág. 16.
37
Documentos Rosacruzes - GLS AMORC Inc. - 1975 - pág. 7.
65
tenha sentido necessidade de acrescentar às instruções preparadas pelo nosso
Conselho Supremo.
Se for possível, gostaria de passar pelo T... (templo?) da Grande Loja da América
em sua próxima convocação, ainda que temo não poder me fazer entender, do jeito
que gostaria. Como sempre, nossos sinais silenciosos me servirão, assim como o fazem
na Inglaterra. Poderia eu ter a definição da hora e local para a entrevista, o mais rápido
possível, de acordo com a sua conveniência? Aceite, irmão, meus sinceros desejos de
saúde e êxito para o nosso trabalho.
Fraternalmente.
Jerome J. Verdier
Hotel Biltmore
1 - Pequenas "curiosidades".
Bem que poderia ter se dirigido aos escritórios do Hotel, onde lhe tivessem
emprestado a máquina para escrever a sua carta, o que é pouco provável, porque iria
interromper o trabalho normal dos empregados, quando um homem de boa educação
a teria manuscrito... Porém, enfim... talvez pudesse ser... assim, depois destes
pequenos "detalhes" continuaremos com a análise da carta.
2 - Grandes contradições.
- Porque Lewis não aproveitou a ocasião para apresentar o Sr. Verdier aos
membros?
66
67
- Porque não combinou a entrevista para a Loja, onde os outros teriam podido
saudar o Sr. Verdier e o "Supremo Magus" da Inglaterra?
- Em viagem à Grande Loja do Canadá, em 1915 - Como assim, uma Grande Loja
Rosacruz no Canadá, em setembro de 1915?
- Não tínhamos sabido que era o "doutor" Lewis que iria estabelecer os
rosacruzes na América e agora temos que já havia ali uma Grande Loja Rosacruz, no
Canadá?
- Porquê o Sr. Verdier não poderia voltar e não poderia fazer-se entender bem
pelos rosacruzes de Nova York, se dominava tão bem o inglês?
São tantas e tantas perguntas que nos surgem ante tão grandes contradições
que, no mínimo, podemos duvidar seriamente deste "documento".
3 - Falsificações Flagrantes.
Vejamos:
68
Em francês não se diz Concile, pois parece que esta palavra é derivada do inglês
Council, em francês teria o seu equivalente na palavra Conseil (Conselho).
Conclusão: em francês não se poderia escrever Supréme Concile, mas sim, dir-
se-ia Suprême Conseil (Conselho Supremo)... E um francês culto utilizaria
corretamente os acentos, que são muito importantes no francês. Em vista disto, fica
evidente que o tal Sr. Verdier sabia muito pouco de francês, no mesmo nível de
conhecimento do "doutor" Lewis, que também não sabia quase nada de francês.
A assinatura do Sr. Verdier, tal como se pode ver na reprodução, melhor ainda
quando ampliada, é: Jerome J. Verdier. Na assinatura de um americano, coloca-se
inicialmente o Primeiro Nome, logo no início, seguido por um ponto, o Segundo Nome
e por último o sobrenome. Conclusão: igual a assinatura do Sr. Verdier.
Toda esta montagem é tão inacreditável, que pode ser atribuída somente a uma
pessoa que "não conhece francês", que possui certo conhecimento na "preparação" de
documentos e com total ausência de escrúpulos. É simplesmente, direta e plenamente
uma FALSIFICAÇÃO mal feita e lamentável.
Tão pouco deve ter convencido os primeiros rosacruzes esta carta solicitada ao
"doutor" Lewis, que iria apresentar novas provas e então, seu atrevimento o levou ao
inconcebível, apresentando a remessa do Pronunciamento R.C.R.F. 987.432.
Porém, essa é a história de uma falsificação, ainda mais ridícula, que deixaremos
para as próximas páginas.
69
10 - Manifesto R.C.R.F. 987.432 - A Falsificação Desaparecida
38
The American Rosae Crucis - julho 1916 - pag. 4.
39
Rosicrucian Initiation – 1917.
70
acompanhadas e identificadas pelos selos oficiais correspondentes, de diferentes
medidas e formas e fazem deste documento algo único e atraente”.
71
Infelizmente, ninguém mais o viu, o texto do Manifesto nunca foi publicado e
levando em conta que "desapareceu" e que ninguém mais soube dele, não sabemos o
que dizia o tão "importante" Manifesto, "assinado pelas mais altas autoridades
governamentais e militares da França" e com as "assinaturas e selos dos Grandes
Mestres".
40
Manual Rosacruz - H.Spencer Lewis - Editorial Roch - edit. 1934 - pag. 24.
72
um F, talvez "sugerindo" as iniciais da República Francesa, apesar da forma estranha,
com o R invertido e sobre um símbolo utilizado pela AMORC. Isso dá margem a
dúvidas, pois é impensável que o Governo da Republica Francesa tenha remetido, no
decorrer da Primeira Guerra Mundial, um pacote via correio, com seu
comprometedor apoio a uma "Sociedade Secreta". Porque remeter um pacote pelo
correio, com sua correspondente selagem, em vez de mandá-lo por via diplomática,
dado a natureza delicada do assunto e considerando o momento de guerra, o que
iria despertas as suspeitas dos serviços postais franceses, norte-americanos e dos
serviços de inteligência da França, país em guerra e dos americanos? Estas
afirmativas são incríveis e DEMENCIAIS, impróprias de pessoas sensatas.
73
74
Carta constitutiva da Grande Loja da AMORC em Nova York assinada por H.
Spencer Lewis
75
Observe-se que na margem inferior direita da "carta" encontra-se a assinatura de
H. Spencer Lewis.
Vemos com espanto que a assinatura de Lewis coincide com o endereço postal
da etiqueta no pacote e ante tal evidência, temos que dar por provado que o "doutor"
H. Spencer Lewis MANDOU UM PACOTE PARA ELE MESMO.
Por tal fato esses "documentos", remetidos para ele mesmo, não poderiam ser
conservados e desapareceram tão logo foram "recebidos".
A verdade é que Lewis nunca deixou de ser audacioso, o que o levou inclusive a
ser preso pela polícia de Nova York, porém, este é outro tema que trataremos a seguir.
76
11 - A Prisão do “Dr. Lewis” - Dinheiro que Desaparece - Reconhecimento de
uma Mentira
Tal episódio, que não deveria se revestir de nenhuma importância, pois qualquer
um pode ser preso por engano ou injustamente e ser liberado após as devidas
comprovações, sem que haja um descrédito nisso para a pessoa que foi presa, ainda
mais em um estado de direito como os Estados Unidos, desperta sérias dúvidas e
suspeitas quando se descobre que o relato sobre o acontecimento, na biografia de
77
Lewis, intitulada "Missão Cósmica Cumprida"41, escrita por Ralph M. Lewis, filho e
sucessor na qualidade de Imperator da AMORC, contém falsidades e contradições, pois
se não houvesse acontecido alguma coisa incorreta, não seria necessário tocar no
assunto.
"Na época em que os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha – diz Ralph
M. Lewis, referindo-se às datas da prisão do "doutor" - havia um transatlântico
acostado nos molhes do porto de Nova York. Logo após a declaração oficial de guerra e
de acordo com os costumes, os Estados Unidos confiscaram os bens de procedência
alemã no país. Um deles era o gigantesco transatlântico "Imperator". Levando em
conta que cabogramas, telegramas e cartas relativas à questões rosacruzes eram
esporadicamente enviadas ao Imperator da AMORC, para o pessoal de investigações
do Departamento de Polícia de Nova York a palavra Imperator parecia criar uma
ligação entre a AMORC e a nação contra a qual a América havia declarado guerra. Em
seu entusiasmo e com a esperança de mostrar serviço aos seus superiores, obtiveram
um mandato de investigação, como assunto de guerra, com a permissão para verificar
as sedes da AMORC e de se proceder a investigações e tudo isso em razão do nome
Imperator...”
Mais uma vez nos deparamos com uma falsificação, pois a prisão foi motivada
pela denúncia de uma mulher, antiga membro da AMORC, a Sra. Elisabeth Meeker,
que residia no número 70 da Quinta Avenida e que acusou Lewis de apropriação
indébita e desvio de fundos...
41
Missão Cósmica Cumprida - R.M.L. - S.G.L. de AMORC Inc.- edif. 1966 pag. 95 e seg.
42
Idem - pag. 95 e seg.
78
AMORC, em cujas mãos foi deixado o numerário, para que levasse para casa no final
de semana e na segunda-feira, efetuasse o depósito no banco, porém, esse membro
desleal fugiu com o dinheiro, sem que nunca mais tivesse sido encontrado (ou seja,
entregam a um senhor US$ 20.000,00 assim, numa boa, o que agora seria uma
fortuna, para que levasse esse dinheiro para sua casa e segunda-feira ao banco,
provavelmente em uma maletinha... e este senhor fugiu... e tudo isso sem explicar
porque não se efetuaram as operações da maneira usual, dado ao alto valor do
numerário, ou seja: cheques, transferências, etc.)
Todo o assunto começou quando Lewis decidiu comprar uma casa para o Templo
e escritórios da AMORC e contratou a compra da propriedade situada no número 361
Oeste - Rua 23, em Nova York, casa esta que tinha pertencido a célebre cantora
americana Lily Langtry e solicitou donativos para os membros para poder efetuar a
compra, pois tinha que atender os prazos para efetuar a compra e realizar os
pagamentos correspondentes.
Coincidiu que um dos colaboradores mais próximos de Lewis, o Sr. Saunders, que
tinha sido editor da revista "The American Rosae Crucis", da AMORC e que tinha
chegado ao Grau 33 da Maçonaria, ao ir tomando conhecimento, com mais detalhes,
das manipulações de Lewis, solicitou sua demissão de todos os cargos e deixou sua
afiliação na AMORC. Ao saber da saída do Sr. Saunders, uma pessoa que era famosa
pela sua retidão e honradez, muitos membros da AMORC também a deixaram. Em
consequência, pela diminuição dos recursos face a diminuição do número de afiliados,
Lewis teve dificuldades em efetuar os pagamentos e emitiu "Bônus" com remuneração
de 6% a.a., com a justificativa de continuar as obras na casa que iria abrigar o novo
Templo.
Este fato ficou registrado nos jornais da época, que, ao relatarem a prisão,
desautorizam por completo a versão do transatlântico alemão "Imperator".
43
Los Rosacruces del nuevo Mundo - Robert Vanloo - Ed. Claire Vigne - Edt. 1996 - pag. fot. VII.
79
Reproduzimos a seguir a imagem com a respectiva notícia no jornal New York
Sun:
80
th. st. Dois ou três discípulos seus tomaram algumas providencias, porém, o Grande
Imperator passou a noite na prisão”.
81
Ancião Sheikh El Moria Ra de Mênfis e que o selo oficial será enviado ao Mestre
Profundis o Mais Perfeito H. Spencer Lewis, em Nova York..."
82
12 - O "Doutor” Lewis - "O Mestre Profundis, o Mais Perfeito” - Outra
Falsificação - O Pronunciamento R.F.R.C. 987.601
44
The American Rosae Crucis - setembro 1916 - pag. 24 e seg.
83
The American Rosae Crucis, página 16, fevereiro de 1916
Em: http://www.iapsop.com/archive/materials/american_rosae_crucis/ ou
https://pt.scribd.com/document/176686636/The-American-Rosae-Crucis-February-1916-pdf
84
PRONUNCIAMENTO
Se este documento tivesse sido remetido da França e tivesse sido escrito por um
francês, não teria cometido tantos erros em francês e assim o teria escrito em francês:
Republique Française
À l'Occident
Au Secrétaire Général - .....
Bem, deixemos de lado este pequeno "deslize" dos "rosacruzes" franceses", que
escrevem tão mal em francês e continuemos com a tradução do documento, escrito
em um inglês perfeito.
85
preparar ao "Mestre o Mais Perfeito Profundis", isto é, Lewis, o selo dourado, com
seu nome e títulos, numa oficina na "Gruta de Mênfis no Egito, que até o autor
destas páginas se ruboriza sabendo que alguém tenha sido capaz de publicar todos
estes despropósitos em uma revista). Tendo em conta a posição que vosso território
ocupa agora e como vossa jurisdição tornou- se a maior do mundo, vosso Conselho
recebeu como privilégio a honra de deter 21 dos 48 votos no Conselho Mundial (?),
dignidade a qual vossa jurisdição foi elevada, como Jurisdição distinta, dado a extensão
que abrange. Mais ainda, por este decreto e documento, previu-se a designação do
Mestre O Mais Perfeito, H. Spencer Lewis (como se verá o "doutor" era uma pessoa
humilde, pouco afeto a títulos e honrarias e as que lhe eram concedidas eram de
uma "grande simplicidade", pois eram limitados tão somente a um ser humano)
Conselheiro Mundial, da mesma forma para o Cavalheiro o Mais Honorável (nem todas
as honrarias seriam para Lewis, o Sr. Kiimalehto também teria que receber algumas)
que também foi nomeado Conselheiro Mundial e de Vv. Ss. dependerá a nomeação de
um terceiro Conselheiro (nunca se soube se Lewis e Kiimalehto nomearam outro
"Conselheiro", parece que não, pois não existem notícias a respeito) nomeação que
será da escolha de vocês, para que possamos informar o Grande Arquivista de Mênfis
(e porque o Sr. Kiimalehto não informaria diretamente o "Grande Arquivista" de
Mênfis?). Possa a paz e o Poder coroar vossos nobres esforços e os do Mestre Mais
Perfeito ("........") e que irá transmitir a Vv. Ss. Este decreto. Que assim seja!
Este documento, além de ter sido confiscado pela polícia de Nova York e se
tornado público através do jornal "The New York Sun", é tão ridículo que, tão logo
terminou o assunto da prisão de Lewis e lhe foram devolvidos todas as coisas
examinadas, desapareceu misteriosamente e nem Lewis, nem a AMORC voltaram a
mencioná-lo.
Por sorte e como prova de tanto disparate, existem as coleções da revista "The
American Rosae Crucis" onde foram publicados e podem ser consultados na Biblioteca
Municipal de Nova York, bem como na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos,
onde são arquivadas todas as publicações, periódicas e intermitentes, que são
emitidas nos Estados Unidos. Recentemente, um editor de temas esotéricos,
Kessenguer Publishing, está reeditando estas revistas, condensadas em livro, pelo que
86
é possível encontrar alguns dos documentos citados nessas publicações. Entretanto, já
que Lewis o citou, a seguir falaremos da "Loja Egípcia", em cujas "oficinas nas grutas de
Mênfis" "fabricavam-se" os selos para o Sr. Lewis, humilde "Mestre Mais que Perfeito
Profundis".
87
13 - Outra Invenção do "Doutor" Lewis - A Loja Egípcia e suas grutas com
oficinas sob o mando de El Moria Rá de Memphis
Nós que raciocinamos bem, acreditamos que não lhe fabricaram o selo nas
"oficinas da gruta de Mênfis" no Egito, porque o Supremo Pontífice, El Moria Rá de
Mênfis, não tinha dinheiro suficiente para comprar carvão para as fornalhas da
"oficina" ou, talvez, tivesse dispensado do emprego os "artesãos da gruta" porque
eram tempos difíceis, ou talvez não quisesse concorrer com o sindicato dos joalheiros
credenciados... é dizer: teria que ser por alguma razão justa para duvidar da palavra do
"doutor" Lewis, o Mestre Profundis o Mais Perfeito.
O fato é que Lewis afirma no citado "Pronunciamento" que há uma "Loja", com
suas oficinas e grutas, em Mênfis, no Egito e que o líder é uma pessoa em carne e osso,
com a qual tem contato pessoal normalmente. Os dirigentes do Supremo Conselho
Mundial Rosacruz reúnem-se com o citado Sheik El Moria Rá, para a tomada de
decisões administrativas, como, por exemplo, de decidir se haverá mais ou menos
jurisdições rosacruzes "no mundo inteiro".
Por isso, Lewis declarou, em outra bravata, que no Egito havia uma loja rosacruz
chamada AMENHOTEP, onde eram admitidos como membros honorários todos os
membros da AMORC que tivessem alcançado o 4° grau e para isso, emitia um
88
certificado em inglês, com algumas palavras em francês (como sempre, um francês
"muito raro", como por exemplo GARANT D'AMITY em vez de GARANTIE D'AMITIE,
que é como se deveria escrever em francês correto). Reproduzimos aqui um desses
"diplomas".
“Que todos saibam: Que o amado Adepto cuja assinatura se inclui abaixo foi
introduzido no Quarto Grau dos ritos universais da Irmandade Rosacruz. Portanto o
citado Adepto está inscrito em nossos arquivos como um Membro Afiliado da LOJA
AMENHOTEP originalmente instituída no Templo de Luxor no Vale do Nilo e se lhe
conferem todos os benefícios e considerações dos membros afiliados em virtude de seu
registro neste santuário”.
Arquivista
89
poderia ser dada, porque eram inexistentes, tratou de acertar a situação escrevendo
um artigo45 intitulado “Um Comunicado oficial das Autoridades da Ordem Rose - Croix
à Ordem na América do Norte”, na publicação "Cro Maat", no qual diz:
“Temos sabido que é crença de alguns afiliados à vossa Ordem, por si mesmo e
nada mais, concede-se a admissão e comunicação fraternal com Lojas do que é
conhecido como Ordem Rosacruz na Europa e em outras partes do mundo”.
“Comunicamos-lhes que, enquanto é certo que existe uma Ordem R+C, esta não
possui um sistema de lojas tal e como correntemente se conhece e que, por tal motivo,
a admissão de membros da vossa Ordem, apesar de ser possível, não é um direito
individual, senão uma questão de seleção da Ordem R+C, de forma individual”.
“Com este objetivo, ordenamos que qualquer uso de nome, frase ou declaração,
a ser transmitida aos membros da Ordem e que seja incompatível com o aqui exposto,
deverá cessar a partir do recebimento deste documento”.
“Isto não impede que a ordem utilize o título de Antiga e Mística Ordem Rosae
Crucis, jurisdição América do Norte; vale também a abreviatura AMORC..."
Mas o melhor que aconteceu foi quando, em 1929, Lewis organiza uma
"Peregrinação ao Egito"46, onde é prometido aos rosacruzes americanos uma Iniciação
no mais puro estilo egípcio, no Templo de Luxor.
45
Cro Maat - H.S.L. – 1919.
46
Misión Cósmica Cumplida - RML - SGL de AMORC Inc. – 1966.
90
egípcias para a realização da cerimônia noturna nas ruínas do Templo de Luxor, sendo
que não foi autorizado a utilização de fogo, pela proibição emanada dos curadores dos
monumentos egípcios. A cerimônia foi conduzida pessoalmente por Lewis e não por
algum egípcio da "Loja Amenhotep de Luxor, no Vale do Nilo", como dizia Lewis e o
diploma que era emitido para os rosacruzes que atingissem o 4° Grau.
Após seu retorno houve muitos protestos dos membros que participaram da
viagem, porque não puderam ver nem a loja egípcia, nem as lojas européias e
decorrente disto, muitos deixaram a AMORC e isto originou outro conflito, do qual nos
ocuparemos mais adiante.
Assim que a AMORC trocou o diploma47 da "Loja Amenhotep" do Egito, que era
enviado para os membros que tinham atingido o 4° Grau, por outros, nestes não se
mencionava mais nenhuma LOJA AMENHOTEP, nem se declarava que o portador do
citado documento era um membro de loja egípcia, somente que o possuidor do citado
documento era um membro da AMORC e como tal devia ser aceito em todas as
jurisdições da AMORC a nível mundial. Assim mesmo, como se pode ver nos diplomas,
foi trocado o selo da "Loja Amenhotep", que era uma espécie de figura hieroglífica
muito rara, e se transformou no "Selo do Escriba", tal como reza a inscrição em inglês:
"scribe's seal".
O novo diploma
47
O novo diploma pode ser encontrado em: https://pt.scribd.com/document/242748519/AMORC-A-
Treasure-Chest-Message
91
Com certeza, quando atualmente se remete o diploma aos membros da AMORC,
ainda que nunca tenham pisado numa loja e todo o seu "rosacrucianismo" tenha sido
por correspondência, aproveita-se para se oferecer, no mesmo folheto pelo qual o
diploma é remetido, um curso "secreto" de Cabala, este sim, em troca de uma quantia
em dinheiro. Nada como aproveitar as honrarias e diplomas para oferecer "mais luz"
de "cabala secreta", em troca de ordens de pagamento bancárias. Para que possamos
ver uma das "lojas" européias, a seguir poderemos ver e analisar a fotografia de uma
"rua rosacruz" com seu "secretário de Loja", numa impressionante fotografia feita e
habilmente "maquiada" pelo perito fotógrafo "doutor" Harvey Spencer Lewis.
92
14 - Uma Falsificação Fotográfica do "Doutor" Lewis - a Rua Rosacruz de
Toulouse
Uma das habilidades do "doutor" Lewis era a fotografia. Inclusive seu filho Ralph,
no livro "Missão Cósmica Cumprida"48, diz com orgulho que, quando Lewis ainda era
muito jovem, construiu uma máquina fotográfica rudimentar, utilizando como corpo
da câmara a madeira de uma caixa de cigarros. Isto é muito louvável, ainda mais em
princípios do Século XX, quando a tecnologia estava pouco desenvolvida em relação
aos tempos atuais e o espírito empreendedor de um jovem era deveras apreciado.
O fato é que o jovem Lewis trabalhou como fotógrafo na cidade de Nova York,
tendo, inclusive, chegado a ter seu próprio estúdio de fotografia, conservando por
toda a sua vida seu gosto pela fotografia.
Por isso, surpreende que não tivesse tomado fotos de todos os "dignitários" da
Rose - Croix Francesa, nem durante sua viagem à França em 1909, nem
posteriormente, em outra "viagem", em 1926, da qual iremos dar conta", nem do
famoso comendador Verdier. Entretanto, em uma de suas primeiras publicações, "The
American Rosae Crucis"49 publicou uma fotografia interessante, que reproduzimos
aqui.
48
Misión Cósmica Cumplidad- R.M.L - S.G.L. de AMORC Inc. – 1966.
49
"The American Rosae Crucis" - Lewis - 1917 - pag. 06. Em:
https://pt.scribd.com/document/185557234/The-American-Rosae-Crucis-November-1917
93
No texto do artigo intitulado "Toulouse, a cidade mística da França", publicado
no "The American Rosae Crucis", página 212, refere-se à fotografia tirada pelo "doutor"
Lewis: "A cena mostra o estilo típico da arquitetura encontrada nas cidades
fortificadas. Símbolos sobre as janelas e portas da Loja, no andar térreo, o Secretário
em seu escritório mostrando algumas revistas através da janela”.
Primeira pergunta: esta é uma rua de Toulouse no início do século XX? Podemos
somente ver uma velha rua, tal como poderíamos ver em alguns povoados da Espanha,
França, Itália ou Bélgica. Toulouse é uma cidade monumental, com atrativos turísticos,
monumentos da época romana e gótica, além de museus e prédios impressionantes,
pelo que podemos concluir que se a rua da foto em questão é de Toulouse (?) deve
corresponder a uma rua de subúrbio ou nas suas proximidades.
Segunda pergunta: símbolos para identificar uma Loja? Porém, não foi de Lewis
a declaração segundo a qual os rosacruzes que "encontrou" na França se mantinham
em segredo? Como é que colocavam símbolos nas suas Lojas, para que fossem
reconhecidas? Não dizia também Lewis, no "Comunicado oficial das autoridades da
Rose-Croix à Ordem na América do Norte", ao qual fizemos referência em páginas
anteriores, de que na Europa "não havia lojas tal como as conhecemos
habitualmente?”
Quarta pergunta: como podemos ver, os símbolos que aparecem nas paredes
não tem relevo, são "retoques" sobre a fotografia. A prova definitiva desta montagem
de "símbolos retocados" pintados no negativo da fotografia, para que aparecessem na
imagem, a teve o autor destas páginas quando um amigo, que é arquiteto, analisou a
perspectiva da imagem. No que consiste uma análise de perspectiva de uma imagem?
Conforme as explicações do arquiteto para o autor destas páginas, as pessoas veem as
coisas de uma perspectiva, que é a que dá a sensação de profundidade e distância das
coisas e essa perspectiva pode ser vista apreciada quando se olha uma foto.
A perspectiva das imagens surge como uma projeção das linhas das imagens que
se unem em um ponto focal, que está situado na altura da visão de quem observa.
Esse "ponto focal", para onde convergem as linhas de projeção da imagem, também é
conhecido como "ponto de fuga". Vejamos a imagem com sua análise de perspectiva.
94
No caso da imagem da casa, se fez uma análise de perspectiva projetando-se as
linhas mais definidas do imóvel, tais como os da janela, a margem da rua e uma janela
do andar superior (linhas projetadas em vermelho para se facilitar a identificação).
Como se vê, as linhas projetadas coincidem num ponto, o ponto focal, ponto de
projeção ou ponto de fuga, como queiram defini-lo, o que corresponde a uma
perspectiva normal e natural da casa.
Também foram projetadas as linhas mais definidas dos símbolos que aparecem
sobre a janela e a porta (linhas em azul, para facilitar sua identificação). O resultado é
que as linhas azuis não convergem, e sim, se abrem em paralelo, inclusive divergindo e
que, ao não coincidir em nenhum ponto focal, nem sequer o próprio, indicam que não
tem perspectiva, que são imagens planas, ou seja, são desenhos feitos posteriormente
sobre a fotografia.
95
indica, mais uma vez, que o "doutor" Lewis, perito em fotografia, tornou a fazer uma
falsificação.
96
The American Rosae Crucis –
Em: https://pt.scribd.com/document/185557234/The-American-Rosae-Crucis-
November-1917
97
Fotografias tiradas em 17 de agosto de 1920, em uma “Igreja” do Dharma em São Francisco,
Califórnia, onde vemos Harvey Spencer Lewis50 recebendo uma consagração honorífica como
"sacerdote" budista, com o nome simbólico de "Sri Sobhita Bikku".
50
Fonte: http://rflexionssurtroispoints.blogspot.com.br/2010/02/photos-rares-harvey-spencer-
lewis.html. Foto publicada anteriormente sob os auspícios do misterioso "Salon Rose-Croix", cujo
98
15 - Carta Constitutiva da Grande Loja Branca - (outro "achado" do "doutor"
Lewis, fundador da rosacruz AMORC)
Uma das constantes de Harvey Spencer Lewis, o fundador da AMORC, são suas
contínuas contradições misturadas com amplas doses de fantasia, que o fazem dizer
"digo" onde antes falava "Diego", o que não seria tão criticável numa pessoa comum,
sem responsabilidades de espécie nenhuma, mas não é o caso de uma pessoa que
lidera um movimento, no qual dirige um grande número de pessoas, tais contradições
se constituem em algo nefasto, porquanto DESORIENTAM os que buscam de boa fé.
Tal é o caso de um dos documentos "fabricados" pelo "doutor" Lewis, que não
media obstáculos na hora de buscar por reconhecimentos e honrarias que pudessem
servir aos seus propósitos. Nos referimos à "Carta Constitutiva da Grande Loja Branca"
emitida durante a "ordenação" de Lewis como "sacerdote" budista. Tudo isso
aconteceu quando Lewis, após ter tido um fracasso estrondoso com a II Convenção da
AMORC, realizada durante o verão de 1918, em Nova York, um grande número de
membros mostraram-se céticos quanto às histórias que Lewis lhes contava, a falta de
explicações plausíveis relativos ao assunto do desaparecimento dos fundos relativos às
"obrigações" de 6% para a compra e restauração da propriedade da cantora Lily
Langtry e a posterior prisão de Lewis. Isso produziu uma evasão considerável de
membros, que fez com que Lewis aceitasse a oferta de um industrial da área
petrolífera, de origem alemã, chamado Willem Reisener, o qual se constituiu em
protetor e mecenas do "doutor" e custeou a mudança da AMORC para a cidade de San
Francisco, em 1919.
conservador parecia ser um ex-funcionário da AMORC no parque Rosacruz em San Jose, California... Este
museu virtual ficava hospedado no link: http://www.rosicrucians.org/ (atualmente desativado)
Em uma carta escrita por H. Spencer Lewis e datada 22 de junho de 1928:
"Em anexo estão cartas para V. L. Narasimhan, diretor do mosteiro, e Sri Swami Omkar, o Chefe Sumo
Sacerdote do Mosteiro em Madras, na Índia. Estas cartas confirmam a ordenação de H. Spencer Lewis,
quando ele foi nomeado reverendo Sri Sobhita Bhikku em 17 de agosto de 1920, na cidade de São
Francisco, Califórnia, pelo Bispo Massananda Khan, com a presença de muitos sacerdotes e membros da
R+C no templo budista. Uma fotografia foi tirada da cerimônia e um documento assinado por todos os
presentes também está no arquivo. Note-se que este documento faz H. Spencer Lewis, Bispo e
representante do mosteiro indiano nos Estados Unidos. A segunda carta afirma claramente (onde
destacado em vermelho) que a AMORC é o verdadeiro nome da organização na Índia”.
99
fez amizade com o "doutor" Lewis, com quem passava muitas tardes em seu escritório
falando de filosofia e psicologia budista e que Lewis, por amizade, aceitou receber uma
consagração honorífica como "sacerdote" budista.
“Por esta proclamação fazemos saber que, de acordo com instruções, os decretos, os
poderes e os mandamentos da G...W...B...L... da qual o sinal e o nome secreto são
revelados neste documento, fica investido do direito, da autoridade e da permissão
única de atuar como Prelado, Mestre e Chefe Secreto para o Mundo Ocidental, o
abaixo assinado Mensageiro da Luz e nós, que assinamos e selamos este documento,
instituímos e estabelecemos no mundo ocidental, para e durante a era do Aquário, a
seção ocidental da G...W...B...L... que será e continuará sendo um órgão ativo, com
todos os privilégios da Seção Oriental, aceitando e podendo admitir em seu seio os
membros que tenham sido julgado dignos, pela afiliação aos graus desta Ordem
100
reconhecida e aprovada, a fim de conferir os direitos e poderes da G... W... B... L... e
para que sejam afiliados à Seção Oriental da G... W... B... L...”
Firmas
Datado : 20 de outubro 1920 d.J.C. 2508 A.B. 3273 R.C. em São Francisco,
Califórnia, USA.
101
Rosicrucian Digest, September 1933
https://pt.scribd.com/document/174739552/Rosicrucian-Digest-September-1933-pdf
102
O primeiro detalhe que podemos notar é que o pergaminho da "Carta
Constitutiva" foi emitido no dia 20 de outubro de 1920, três dias depois da "ordenação
como sacerdote budista" de Lewis. Por quê? Por que não foi apresentado no mesmo
dia? Tudo faz pensar que foi uma iniciativa posterior de Lewis, o que lhe devia servir
como "reconhecimento e honra" para posteriores atividades de propaganda. A Carta
constitutiva da "Grande Loja Branca do Tibete" está em inglês e ela não contém
nenhum símbolo ou letra tibetanos. A "Carta Constitutiva" leva uma série de
inscrições em "Hebraico", como se pode ver, após o título, o que faz com que estes
"tibetanos" que não colocam uma única "letra tibetana" no documento,
provavelmente eram peritos em "hebraico".
"Há muitos outros Mestres; alguns estão no plano cósmico, levando a cabo sua
obra, enquanto esperam a próxima reencarnação; outros encontram-se neste plano
terreno, dirigindo o trabalho físico enquanto se desenvolvem para o período no plano
Cósmico. Sob seu cuidado, em cada encarnação, preparam-se determinado número de
51
Manual Rosacruz - 18 ed. S.G.L of AMORC Inc. - pag. 172.
103
altos iniciados para realizar um trabalho em sua próxima encarnação e para alguns
destes, se consigna o dever, o serviço e o verdadeiro trabalho de desempenhar altos
cargos de Imperatores, Magos e Hierofantes nas diversas ramificações da Grande
Irmandade Branca, da qual a Ordem Rosacruz é a mais elevada. Estes Imperatores,
Magos e Hierofantes de diversos países, juntamente com os Mestres, compõem a
Santa Assembleia da Grande Loja Branca”.
(Veja "Iluminação Divina" e "A Obra dos Grandes Mestres" na página 181).
(É um pouco confuso isto que diz, mas vem a ser algo como: quando alguém
recebe uma "Iniciação cósmica" ou "espiritual" passa a ser membro da "Grande
Irmandade Branca", mas esta irmandade "espiritual" não possui centros nem lugares
de reunião no plano físico e se alguém diz que tem, é falso).
O caso é que este assunto tão desconexo e este documento tão passageiro, mais
uma das montagens de Lewis, o qual, como muitos outros, utilizou de maneira
extremamente imprudente, porque era possuidor de uma fantasia desregrada,
52
idem - pag. 181.
104
ocasionou sério incidente entre os membros do rito maçônico Menfis Misraim, quando
um grupo deles, dirigidos pelo advogado belga Jean Mallinguer e Artur Rombaud, se
desligaram da matriz francesa do Rito Maçônico de Menfis Misraim, dirigido pelo
Grande Mestre Constant Chevillon, pois em um dos trechos da carta, em virtude dos
"poderes" conferidos pela "Carta Constitutiva" da Grande Loja Branca do Tibete,
reconhecia os que se desligaram.
Quando o irmão Artur Rombaud soube o que era essa "Carta Constitutiva" da
Grande Loja Branca do Tibete, em função da qual tinha trabalhado, sentiu tanta
vergonha que se demitiu do seu cargo de Grande Mestre de Menfis Misraim e retirou-
se de toda e qualquer atividade associativa.
105
16. O "Bispo" Harvey Spencer Lewis e sua Igreja Prístina da Rosa Cruz
H. Spencer Lewis criou uma Igreja Rosacruz na década de 1920, chamada de "A
Igreja Prístina53 da Rosa Cruz". Ele serviu como bispo desta igreja.
A Igreja Prístina da Rosa Cruz, teve sua cerimônia de abertura em San Francisco
em 5 de Junho de 1921. Este anúncio foi publicado no dia anterior:
https://pt.scribd.com/document/213706817/Fraters-George-L-Smith-and-E-E-Thomas-Answer-Charges-
1933
Uma carta da época do conflito entre H. Spencer Lewis e George L. Smith e Dr. E.
E. Thomas, membros da AMORC.
https://pt.scribd.com/document/192560270/George-L-Smith-Writes-to-Dr-E-E-Thomas-1931
53
Original, primeira, primitiva, antiga e inalterada. Que pertence a tempos idos; velha, antiga.
106
AMORC vs George L. Smith e E.E.Thomas - Alegações e acusações (1933)
https://pt.scribd.com/document/106398282/AMORC-vs-George-L-Smith-and-E-E-Thomas
https://pt.scribd.com/doc/316493220/1070-AMORC-Reporter-s-Transcript-AMORC-vs-E-E-Thomas-1931
54
O texto em espanhol pode ser encontrado aqui: https://pt.scribd.com/doc/316714580/1094-AMORC-
Spencer-Lewis-y-La-Iglesia-Pristina-de-La-Rosa-Cruz
107
Anúncios da Igreja Pristina da Rosa Cruz
108
Anúncios da Igreja Pristina da Rosa Cruz
109
Anúncios da Igreja Pristina da Rosa Cruz
110
Anúncios da Igreja Pristina da Rosa Cruz
111
Anúncios da Igreja Pristina da Rosa Cruz
112
17. Entrevista do "Dr." Lewis, fundador da Rosacruz AMORC, com Mussolini,
ditador fascista da Itália, em Março de 1937
Aqui temos que agradecer a remessa de documentos de amigos desta rede, que
nos enviaram material documental sobre este tema, isto é, do relacionamento entre
Lewis e o ditador fascista Mussolini, cuja autenticidade temos comprovada e que
servirão para ilustrar melhor o tema em pauta.
113
Referências ao encontro entre Lewis e Mussolini também podem ser
encontradas na Hemeroteca da Itália, no magnífico livro de Robert Vanloo intitulado
"Le Rose Croix du Noveau Monde", no "site" do prestigioso historiador Marcel
Roggemans55, escrito em holandês e muito interessante e nos arquivos do jornal
italiano "Il Messaggero", bem como, no "San Jose Mercury Herald", de San José, na
Califórnia, assim como nos arquivos da Biblioteca Municipal de Nova York,
relativamente às primeiras publicações de Lewis.
Para começar, temos que dizer que Lewis se considerava "autocrata" e dessa
forma estabeleceu a administração da AMORC, como uma autocracia, ou melhor
dizendo, com poder absoluto, que emana de si mesmo e que não tem controle de
ninguém.
"Segundo o "Dr" Lewis - diz o citado jornal - sua visita à Itália se desenvolveu em
condições muito mais prazerosas que em anos anteriores. Suas ruas estavam mais
limpas, não havia mendigos, os hotéis estavam melhor cuidados, com diárias fixas, os
55
O trabalho de Marcel Roggemans (em holandês, via tradutor do Chrome) pode ser encontrado em:
http://www.vrijmetselaarsgilde.eu/Maconnieke%20Encyclopedie/RMAP~1/ritualenGO/inhoud.htm
56
The American Rosae Crucis, dezembro 1917 - pag. 248.
114
trens circulavam no horário, sob a supervisão de agentes fascistas. Os navios estavam
sob comandos melhores e conservados de maneira mais cuidadosa que antes”.
O fato é que Lewis, encantado pelas vigarices do governo fascista italiano, numa
viagem que levou uma centena de membros da AMORC à Europa, é recebido por
Mussolini no dia 5 de março de 1937, ficando este encontro registrado no jornal "Il
Messaggero", cuja primeira página reproduzimos aqui, para delícia dos nossos leitores.
57
San Jose Mercury Herald, 1 de outubro de 1931.
115
Ampliação da notícia e da fotografia do jornal
116
visitante, após o regresso ao seu país, poderá testemunhar, em nome da verdade, o
que tinha visto. Finalmente, agradeceu de forma calorosa ao Duce, por lhe ter
concedido essa audiência e por ter concedido tal honraria ao grupo...58”
- Em 1937, Mussolini estava ajudando com tropas e armas o General Franco, que
tinha se levantado em armas contra o governo legítimo e democrático da República
Espanhola.
- Em 1937, Mussolini dava todo seu apoio militar e político, em conjunto com o
ditador alemão Adolf Hitler, ao general Franco, que proibiu as atividades das ordens
esotéricas democráticas e fuzilou milhares de maçons e centenas de milhares de
democratas.
- Mussolini, da mesma forma que Hitler, estava testando suas modernas armas
contra os democratas, na Guerra Civil Espanhola, para depois utilizá-las na II Guerra
Mundial, que já estava sendo preparada pelos ditadores.
"A recepção aos rosacruzes, por parte de Mussolini, o magnífico discurso que
pronunciou em reconhecimento ao vosso Imperator, bem como aos Oficiais Supremos,
as magníficas coisas que disse aos rosacruzes da AMORC”59.
Tudo isto são fatos, cuja realidade consta dos arquivos e hemerotecas
correspondentes e não iremos efetuar nenhuma valorização dos mesmos, deixando
que cada um tire suas próprias conclusões e determine se os "ensinamentos" que o
"Dr." Lewis poderia transmitir, cujas falsificações de documentos e fantasias vimos
nestas páginas e entusiástico admirador do ditador fascista Mussolini e suas vigarices,
podem ser "imaculados" .
58
El Messaggero, 6 de março de 1937.
59
Rosicrucian Digest, agosto de 1937, página 267.
117
Sobre os ensinamentos de Lewis iremos falar na sequência e veremos alguns dos
processos por plágio que Lewis teve que enfrentar e seus resultados.
118
18. A Falácia da “Teoria dos Ciclos” do “Dr.” H. Spencer Lewis
119
improvável que a atual AMORC americana encerre suas atividades pois, atingiu um
proporção mundial que impossibilita isto. Vemos pois que o ciclo de 108 é utilizado ao
bel-prazer, citado quando é necessário, para provar a “antiguidade” da organização e
seus intrigantes aparecimentos e desaparecimentos, e negado ou torcido quando se
faz necessário. Toda esta demonstração serve para confirmar a falácia da “Teoria dos
Ciclos”.
Análise do Documento da pág. 16 do Dossiê da AMORC:
O referido documento do dossiê da AMORC começa com a seguinte saudação:
“À Glória de Christian Rosenkreutz, Nosso Venerável Mestre”. Examinando a referida
data do documento, podemos ver que ela começa assim:
“Vale de Bruxelas - (Bélgica) - à 15 de junho de 1933 da Era Vulgar; 5933 da Vr...
Lum... e 555 da R+C.”
Ora, é muito estranho que seja usado em 1933, como cronologia rosacruz, o ano
de 555 R+C, pois segundo a cronologia de H. Spencer Lewis o ano deveria ser 3.286
R+C (1353 a.C. + 1933 = 3.286). Lewis pressupõe como ponto de partida 1.353 a.C.
para o calendário rosacruz, referindo-se a mesma ao período do faraó Amenófis IV,
mais conhecido como Akhenaton, que morreu aproximadamente em 1350 a.C.
Verifiquemos agora o motivo do uso de 555 R+C pela Ordem Rose+Croix da
Europa:
1933
- 555
1378
120
121
122
ADENDO
Capa do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du Nouveau
Monde, 1996)
123
Página 197 do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du
Nouveau Monde, 1996)
124
Página 198 do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du
Nouveau Monde, 1996)
125
Página 199 do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du
Nouveau Monde, 1996)
126
Página 200 do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du
Nouveau Monde, 1996)
127
Página 201 do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du
Nouveau Monde, 1996)
128
Página 203 do livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du
Nouveau Monde, 1996)
129
H. Spencer Lewis envolvido em um caso de fraude60 (1908).
60
http://ehbritten.blogspot.com.br/2016/05/the-mail-order-occult-ring-saga-episode.html
130
H. Spencer Lewis envolvido em um caso de fraude61 (1908).
61
http://ehbritten.blogspot.com.br/2016/05/the-mail-order-occult-ring-saga-episode.html
131
Reivindicação de Plágio62 por H. Spencer Lewis (1932)
Counter charges of plagiarism were hurled against H. Spencer Lewis by attorneys for George L.
Smith, a member of AMORC. In this article there are excerpts from "You Rotter" the famous
letter written by Smith to Lewis.
62
https://pt.scribd.com/document/220292976/Plagiarism-by-H-Spencer-Lewis-Claimed-1932
132
Reivindicação de Plágio por H. Spencer Lewis (1932)
133
Reivindicação de Plágio por H. Spencer Lewis (1932)
134
O "Astrólogo”63 Professor H. Spencer Lewis em 1907/1908. Previsões maravilhosas para você!
O notável Astrólogo e Psíquico diz o seu passado e futuro com uma precisão incrível.
Como melhorar a sua condição, financeira, social e fisicamente? Previsões sobre o balanço do ano, em
um belo mapa astral-psíquico; se você deseja saber os seus períodos de sorte e azar; quais armadilhas
evitar; quais as oportunidades agarrar; sugestões sobre negócios, amigos, inimigos, amor, laços de
casamento, viagens, doença, morte, etc., escreva uma breve carta ao Prof. H. Spencer Lewis.
63
https://pt.scribd.com/document/317549418/Astrologer-H-Spencer-Lewis-1908
https://pt.scribd.com/document/317983441/H-Spencer-Lewis-Psychic-Astrologer-1907
https://pt.scribd.com/document/317799030/Astrologer-Professor-H-Spencer-Lewis-1907
https://pt.scribd.com/document/318028234/Astrologer-H-Spencer-Lewis-Tells-Past-and-Future-1907
https://pt.scribd.com/document/317835650/Astrology-Book-by-H-Spencer-Lewis-in-the-Catalogue-of-
Copyright-Entries
135
A ligação entre a AMORC, a OTO e Crowley
por Lucas Moraes
Sobre a relação de Lewis com Theodor Reuss, existem rumores que Lewis o
tenha conhecido em 1909 durante sua viagem para a França e para a Inglaterra, mas
não existem dados que confirmem essa posição. Em uma carta da AMORC para Peter-
Robert, um escritor e ocultista suíço historiador da OTO, a posição oficial é que os
dados concretos que existem falam por si só, e esses são de correspondências trocadas
entre Reuss e Lewis. Estas não deixam a menor dúvida sobre a origem de suas
relações. Lewis teria, conforme esses documentos reivindicados pela AMORC,
contatado Reuss no outono de 1920 e não antes, onde então se iniciaram trocas de
correspondências. Veremos a posição da AMORC na carta à Peter-Robert.
No ano de 1920 Lewis ficou sabendo da relação de Reuss com um maçom de Salt
Lake City, McBlain Thomson, editor da “The Universal Freemason” e membro da
“Fédération Maçonnique Universelle” (1908) de Papus. Lewis ficou sabendo de um
projeto deles de reiniciar o projeto iniciado por Papus em 1908 de unir as ordens
iniciáticas e restaurar a Fédération, a nível mundial. Então em 1919 Reuss concedeu a
McBlain certificados de “33°, 96°, IX°, Soberano Grande Mestre General e Grande
Presidente Geral da cidade de Salt Lake, em Utah”. McBlain então foi convidado a um
congresso, o Congresso de Zurich (julho de 1920) que foi considerado uma
continuação histórica do congresso (Congrès Spiritualiste) onde Papus apresenta seu
projeto de 1908.
Lewis ficou intrigado com essas informações, e quis entrar em contato com
Reuss para saber mais sobre isso. Ele não conhecia McBlain, conseguiu o endereço de
Reuss, escrevendo a ele se dizendo recomendado por McBlain. Entretanto quando
64
http://oalvorecer.com.br/a-ligacao-entre-a-amorc-a-oto-e-crowley-1/
136
Lewis contatou Reuss, ele respondeu dizendo que havia cortado relações com McBlain
devido ao fracasso do Congresso de Zurich, e pelo que parece, já havia se desligado
dele. Afirmava Reuss que McBlain desviou o tom do congresso para benefício de sua
própria federação maçônica “American Masonic Federation”, e traiu a confiança dele.
Reuss então apresentou a OTO ao Imperator da AMORC como sendo uma
descendente direta dos antigos rosacruzes, e enfatizando que esta não era uma
simples ordem moderna criada por maçons. Em sua primeira carta Reuss apresentou a
OTO como sendo uma fronte exotérica de uma ordem rosacruz interna. E por essa
razão Lewis sentiu interesse em estabelecer um relacionamento com Reuss. Nas
últimas linhas ele escreve dizendo que ficaria contente em estabelecer um
relacionamento amigável entre as Ordens.
As trocas de correspondências duraram de dezembro de 1920 à maio de 1922.
Como Reuss não teve sucesso em renovar, com McBlain, o projeto iniciado por Papus
em 1908, ele viu na AMORC uma oportunidade de reiniciar essa ideia. Então, segundo
posição da AMORC na carta, Reuss enviou a Lewis um documento, uma espécie de
diploma, que simbolizava um elo de amizade, um reconhecimento fraternal mútuo
entre as duas Ordens, a AMORC e a OTO. Apresentarei mais adiante a fotocópia do
documento.
Em 1921 Harvey Spencer Lewis anunciou na sua recém fundada revista “The
Triangle”65 que recebeu da Ordo Templi Orientis um documento que o garantia “os
mais altos graus maçônicos”. Esse documento também conferia ao Imperator o título
de “Ilustríssimo Sir Cavaleiro e Frater R.C.” e apontava a AMORC da América como uma
“medida de amizade para com a Ordo Templi Orientis da Europa”. Ele não dizia quem
assinou o documento, justificando que este veio do “Supremo Santuário da
Maçonaria” no exterior. Mas tempos depois, quando foi publicado o documento,
constatou-se ter sido assinado diretamente por Reuss. Na revista da AMORC constava:
“Um outro item pode ser de interesse de nossos membros. Um extenso e interessante documento
foi recebido durante o mês de agosto de um Supremo Santuário da Maçonaria no exterior conferindo ao
Imperator os mais altos graus maçônicos tais como os Graus Honorários 33° e o 90° do Antigo e
Primitivo Rito de Memphis e Mizraim (sob um documento de autoridade emitido por John Yarker, 33°,
eminente autoridade Maçônica e historiador e Soberano Grande Mestre Geral da Inglaterra) onde nosso
Imperator recebeu os títulos de Príncipe de Memphis (Egito), Membro do Soberano Tribunal e Defensor
da Ordem e Soberano Grande Conservador Patriarcal dos Ritos, Príncipe Sublime dos Magi. O Grau
Honorário 33° carrega consigo o título de Cavaleiro Grande Inspetor Geral. O documento também torna
o Imperator um Membro Honorário do Supremo Santuário da Suíça, Áustria e Alemanha. Estes foram
conferidos sob o documento e a autoridade do Grande Oriente da antiga Gália e do Supremo Santuário
da Grã-Bretanha. Também a Ordo Templi Orientis (Ordem Oriental do Templo, Fraternidade da Luz
Hermética), conferiu seus altos graus ao Imperator com o título de Ilustríssimo Sir Cavaleiro e Frater R.C.,
apontando nossa Suprema Loja nesse país como uma “Medida de Amizade para com a Ordo Templi
Orientis da Europa”.
65
The Triangle, September 29th, 1921, p. 1.
http://www.iapsop.com/archive/materials/triangle/triangle_v1_n6_sep_1921.pdf
137
O documento foi concedido a Lewis por Reuss (Peregrinus), com quem o
Imperator contatou no final de 1920, de acordo com a carta da AMORC. O documento
em si não consta todos os títulos citados por Lewis. Eis o documento:
138
Documento oferecido por Peregrinus (Theodore Reuss), da Ordo Templi Orientis, a H.
Spencer Lewis, conferindo-lhe honrarias e estabelecendo "laço de amizade" entre as
Ordens.
139
Manifesto da OTO/M.·.M.·.M.·. figurando o
selo derivado do Rito de Memphis-Mizraim na
Alemanha, então encabeçado por Theodor
Reuss.
140
A criação da T.A.W.U.C
Rapidamente Lewis e Reuss começaram a dar forma ao projeto de criar uma rede
internacional conectando os rosacruzes da América e da Europa. Em 1921 eles
decidiram que o nome dessa rede seria TAWUC, ou The A.M.O.R.C. World Union
Council (Conselho de União Mundial da A.M.O.R.C.). Ambos estavam realmente a fim
de concretizar uma união. Reuss criou um modelo e enviou vários textos a Lewis sobre
como seria a constituição da TAWUC.
Lewis estivera bem entusiasmado com o projeto. Entretanto logo se arrependeu.
Os motivos que fizeram Lewis perder o interesse foram cinco artigos enviados a ele,
antes deles aparecerem na constituição da TAWUC. Quando Reuss afirmava que o
objetivo da TAWUC era de “propagar os antigos e secretos ensinamentos da autêntica
Irmandade R+C” Lewis concordava, mas quando Reuss continuava sendo mais
específico sobre seus interesses e dizia que também era o de “propagar a Santa
Religião Gnóstica e estabelecer departamentos de ensino religioso, de publicação,
econômico, de economia social…” o Imperator ficou preocupado. Ele respondeu em
correspondências a Reuss que não concordava com alguns pontos e falou que
precisavam trabalhar em alguns pontos antes de levar a cabo toda a situação. Ele não
chegou a ser específico, mas fica implícito que os objetivos de ensinar a Religião
Gnóstica, economia, etc., não eram nada atrativos a Lewis.
Outro motivo de discordância com Reuss teria sido as remessas financeiras que
eram pedidas para financiar a secretaria da TAWUC por Reuss. Apesar de Lewis
concordar, o Conselho da AMORC e seus membros acharam que os valores estavam
altos, mesmo Reuss afirmando que o valor médio estava em plena conformidade com
aquele praticado entre obediências maçônicas. As negociações a esse respeito não
foram muito longe e Reuss não cobrou nada a Lewis, assim como este nada chegou a
financiar. Enfim Lewis parece ter sentido que estava agindo precipitado demais com
certas coisas.
66
http://www.iapsop.com/archive/materials/american_rosae_crucis/american_rosae_crucis_v1_n10_oc
t_1916.pdf
141
Theodor Reuss, Spencer Lewis, Ordo Templi Orientis, A.M.O.R.C. e T.A.W.U.C
Outro ponto que fez o Imperator perder o interesse na TAWUC foi que ele
afirmava que Reuss parecia estar mais preocupado com questões comerciais do que
atividades iniciáticas. Lewis parou de responder as cartas de Reuss, o que o deixou
furioso. Depois de bastante tempo Reuss retorna uma carta a Lewis mostrando o como
estava abismado com o silêncio brutal de Lewis. Então Lewis retorna a ele dizendo que
era necessário dar uma pausa para pensar, e mostrou seu desinteresse em dar
prosseguimento com a TAWUC. Em outubro de 1922 Lewis não mais respondeu Reuss.
Em resumo, segundo a posição da AMORC, a relação desta com a OTO durou
cerca de um ano e meio através de projeto que se esboçou e terminou, sem sequelas.
A AMORC afirma que o estudo dessas correspondências trocadas são suficientes para
desmentir qualquer boato que a AMORC surgiu do seio da OTO, e que todos esses
boatos seriam novelas criadas por especuladores desinformados. Todavia não pode-se
esconder que alguns autores levantam pretensiosas afirmações que buscam contestar
certas posições e problematizar certos dados com outros. Pretendo em breve dar
continuidade a essa discussão, abordando alguns pontos mais cuidadosos e trazendo
novas traduções em forma de resumos comentados dos materiais utilizados.
142
Fontes:
http://oalvorecer.com.br/a-ligacao-entre-a-amorc-a-oto-e-crowley-1/
Ordo Templi Orientis, Antiquus Mysticus Ordo Rosae Crucis A.M.O.R.C., Ancient and
Mystical Order of Rosae Crucis – Peter-Robert Koenig
http://www.parareligion.ch/sunrise/vanloo/mylewis.htm
143
144
A Utilização pela AMORC de ensinamentos de Aleister
Crowley da OTO
"Faze o que tu queres será o todo da Lei". (orig. "Do what thou wilt shall be the
whole of the Law"67.)
"Amor é a lei, amor sob vontade". (orig. "Love is the law, love under will".)
Estes foram apresentados ao mundo, desta forma, no Livro da Lei (Liber AL vel
Legis), escrito por Aleister Crowley nos dias 8, 9 e 10 de abril de 1904.
O livro contém tanto a frase "Faze o que tu queres será o todo da Lei" quanto o
termo Thelema (do grego θέλημα, "vontade"), que Crowley tomou como nome do
sistema filosófico, místico e religioso que veio a se desenvolver a partir do texto
daquele livro, considerado sagrado pelos thelemitas, ou seja, aqueles que seguem a
filosofia ou religião de Thelema. O sistema thelêmico inclui uma série de referências de
magia, ocultismo, misticismo e religião, tanto ocidentais quanto orientais, tais como a
67
Crowley, Aleister (1904). Liber AL vel Legis. The Book of the Law [S.l.: s.n.]
145
Cabala e a Yoga. Segundo Crowley, Thelema representaria um novo sistema ético e
filosófico para a humanidade, caracterizando um Novo Aeon (Nova Era).
É comum que a Lei de Thelema seja compreendida, à primeira leitura, como uma
licença para que se executem todos os desejos e caprichos que uma pessoa tenha, sem
que haja responsabilidade ou consequências por seus atos. Contudo, esta filosofia
prega justamente o oposto, partindo da ideia de que cada ser humano, por possuir
livre arbítrio, é inteiramente responsável por sua existência e por suas ações, sem ser
absolvido ou culpado por nenhum Deus ou Diabo no que tange o destino de sua
própria vida. A liberdade de todo Homem e toda Mulher é, portanto, cultuada, uma
vez que, como consta no Liber AL, "Todo homem e toda mulher é uma estrela". O
resultado disso é um profundo respeito a si próprio, a cada indivíduo e a cada forma de
vida como sendo expressões particulares do Divino.
A nível social, Thelema pode ser entendida como a luta pela vivência da
Liberdade de cada indivíduo, de modo que ele possa se realizar de acordo com sua
órbita particular, isto é, dentro de suas vivências e escolhas específicas. Considerar a
importância essencial do indivíduo para o mundo pode ser uma postura menos
pragmática do que a tradição política adotada por sociedades opressoras e
massificantes. No entanto, pelo que foi explicado anteriormente, está claro que a
tirania e os regimes totalitários nada têm a ver com Thelema.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Thelema
146
Nos ensinamentos da AMORC, no 11º Grau, este ensinamento de Aleister
Crowley é citado como “uma das mais antigas leis Rosacruzes”68. Os ensinamentos da
AMORC vão além do que convencionalmente se considera como tradição rosacruz,
contendo elementos da teosofia (veja a adoção do mestres Kuthumi e El Morya
contatados por Madame Blavatsky), novo pensamento, yoga, etc.
68
Ver nota 73 na página http://www.parareligion.ch/sunrise/vanloo/ameng.htm onde consta "73.
AMORC Monografia Mestre, Grau 11, Monografia 10, p. 4."
147
148
149
A Origem Secreta da Tradição Ritualística da AMORC
Sam Robinson
69
Comentário de Gary Stewart na discussão sobre este assunto: "Eu tendo a discordar de você que os
Ritos de Memphis e Misraim tiveram influência seja direta ou indireta no desenvolvimento da AMORC.
HSL não tinha ideia do que ele era até a formação da FUDOSI, em 1934, e Vitor Blanchard começou a
partir daí a enviar-lhe vários rituais, etc. HSL tinha todos os nove graus da AMORC e todos os rituais
(Convocações e Iniciações) concluídos e em operação até 1918. Em 1921, Theodore Reuss enviou a HSL
um documento amistoso com a OTO (Reuss queria trabalhar com Lewis e os membros da AMORC como
em uma peregrinação para ver a Encenação da Paixão) no qual graus de Memphis e Misraim foram
incluídos o nome de Lewis. HSL não sabia o que isso era e pensou que poderia fazê-los, e assim o fez
quando começou a escrever para vários esoteristas na Europa que ele queria conhecer durante a sua
150
palpite que acabou por ser um bang, mas também descobriu-se que o fundador da
AMORC, Harvey Spencer Lewis, propositadamente fez isso, sabendo muito bem que
ele estava mudando os rituais e eviscerando a lenda maçônica.
Para os leitores, que não conhecem, a Maçonaria Egípcia não é a mesma
Maçonaria regular. Esta última é em grande parte Inglesa ou Escocesa, e baseia-se na
lenda do construtor em torno do templo do Rei Salomão. A história tradicional dentro
da Maçonaria regular afirma que um dos mestres construtores do rei Salomão foi
chamado Hiram Abif e foi ele que aprendeu a sabedoria secreta de Salomão, que foi
transmitida através de sua guilda de construtores, dentre a qual estavam os mistérios
secretos da elaboração do templo. Seu ofício se tornou filosófico, com o objetivo de
construir um templo para uma humanidade iluminada.
A Maçonaria Egípcia, por outro lado, é geralmente detestada por Maçons
regulares. Ao invés de ter apenas 33 graus, o Rito de Memphis-Misraim tem 99
iniciações de mistérios no total.
A principal diferença aqui é que eles alegaram uma origem egípcia. Ao invés de
remontar aos construtores do templo de Salomão, eles se viam como uma extensão
dos arquitetos do Egito, que haviam criado as pirâmides e testemunhado os antigos
mistérios lá mesmo. Foi a sua fraternidade, segundo eles, que tinha continuado as
antigas religiões de mistério do Egito, Pérsia, dos Hebreus e da Grécia, todas as quais
eles tinham testemunhado e transmitido em sua Maçonaria Egípcia.
A AMORC em sua história tradicional também reivindica ser oriunda dos
egípcios, ou seja, a partir de Imhotep, ou, como alguns dizem, Akhenaton. Isto é onde
você vai começar a ver o crossover da Maçonaria Egípcia.
Na verdade, o Rito de Memphis-Misraim é uma combinação de dois ritos
anteriores, sendo o primeiro o Rito de Misraim e o segundo o Rito de Memphis. Ambos
tiveram diferentes lendas de fundação.
O Rito de Misraim começou em 1803 como uma extensão da Maçonaria Egípcia
de Cagliostro. De acordo com sua lenda, Misraim foi o neto de Noé, que depois de
sobreviver à inundação fundou o Egito. Ele é conhecido como Menes, o primeiro dos
faraós, e introduziu a Cabala e a Arquitetura para os Egípcios. Tal como acontece com
Rosenkreuz, ele tinha um túmulo de sete lados, rodeado por sete pedras planetárias e,
acima de seu sarcófago, queimava um fogo que nunca se apagava. Este Rito era
Hermético, Cabalístico e possuía 80 graus.
visita em 1929. Aconteceu então que alguns dos contatos que pertenciam ao Grande Oriente Francês
erroneamente pensaram que Lewis era também. Foi embaraçoso (para HSL) quando eles finalmente se
encontraram. Mas para resumir a história, HSL finalizou sua reunião com Emile Dantinne e ele
finalmente conseguiu o que queria, mas apenas alguns anos depois que a AMORC já estava em
operação. O altar triangular (Shekinah) e certos aspectos da Convocação de Loja foram emprestados de
um pequeno livro de 1901 sobre a Filosofia Hindu e o ritual de Iniciação foi uma dramatização de sua
experiência onírica em 1909 quando estava nas ruínas do castelo Bescastle. Apesar de que eu acho que
é muito semelhante ao "A Mais Sagrada Trinosophia" de St. Germain, eu nunca soube que HSL leu este
livro. De qualquer forma, isto é o que argumento sobre a influência do M.·.M.·. e eu tenderei a
argumentar contra ela."
151
O Rito de Memphis foi criada em 1838. Ela também teve altos graus,
aparentemente 88 no total. Sua lenda de fundação foi Rosacruz, alegando que um
sábio egípcio chamado Ormus, que era um sumo sacerdote no templo de Serápis, foi
convertido ao Cristianismo por Marcos no ano 96 d.C. . Ormus é dito como aquele que
retificou os mistérios de Ísis e Osíris com esta nova revelação de Cristo.
A diferença que o Rito de Memphis tinha em relação ao de Misraim era que ele
tinha mais ênfase sobre Templarismo, Cavalaria e Cristianismo Gnóstico. De acordo
com o meu amigo historiador Milko, o Rito de Memphis foi uma tentativa de
cristianizar o anterior Rito de Misraim. Ambos os ritos ensinavam Iluminismo, a
doutrina da Reintegração e tinha fases de trabalho filosóficas, cabalísticas e magísticas.
Foi em 1881 que os Ritos de Memphis e de Misraim foram reunidos em uma
forma de Maçonaria Egípcia.
A nova forma de Maçonaria Egípcia, o Rito de Memphis-Misraim, tornou-se uma
mistura de ambos, que contém os melhores elementos de cada Ordem. Pessoalmente
eu prefiro o Rito de Misraim na medida em que contém mais ritual oculto. Eu também
poderia acrescentar que muitas figuras proeminentes foram membros, incluindo
Blavatsky, Steiner, Westcott, Crowley, Papus, Reuss e Yarker, para citar alguns.
E, é claro, Harvey Spencer Lewis foi um membro.
Isto é onde fica interessante.
152
Rosacruzes e, posteriormente, utilizados pela AMORC. Agora que Spencer Lewis tinha
a autoridade e concordância de seus pares Rosacruzes, ele iria utilizá-lo para constituir
o essencial dos rituais e transformá-los em uma nova forma de Rosacrucianismo.
A Renovação Rosacruz do M.·.M.·. também significava que os elementos
maçônicos tiveram que ser removidos. Não há mais a lenda sobre Hiram Abif, o mestre
de obras. Não há mais segredos sobre o templo de Salomão. Não há mais esquadro e
compasso. Mas os elementos egípcios que fizeram Memphis-Misraim tão especial
permanecem. É por isso que o Parque Rosacruz parece dessa forma.
153
verdade, este selo é o mesmo selo derivado do Rito de Memphis-Misraim na
Alemanha, então liderado por Theodore Reuss. Harvey Spencer Lewis ainda esteve
sobre ataque em outro ponto neste mesmo assunto porque Crowley tornou-se o chefe
do rito e a partir de então afirmou que, portanto, deveria exercer autoridade sobre a
AMORC também. Desnecessário será dizer que a AMORC não usa este selo hoje devido
à ligação M.·.M.·./OTO. Mas, se você olhar para os certificados da FUDOSI da AMORC
(antes utilizados) verá que eles eram selados com a própria assinatura do Lewis ao
lado do símbolo do ovo alado do Rito Egípcio.
154
Para adicionar o selo e o altar triplo (como se não fosse suficiente), devemos
considerar como o Memphis-Misraim foi estilizado em termos não só de seus rituais,
mas também de suas regalias e certificados. Lewis viu que a AMORC se beneficiaria de
tudo isso, tendo em vista o uso de emblemas Egípcios com o sol alado, as colunas
egípcias dos ritos e também selos hieroglíficos que adornam documentos da AMORC.
Embora o altar triplo do M.·.M.·. é realmente o elefante rosa na sala de AMORC,
desnecessário será dizer que a iconografia egípcia fala por si. Antes da AMORC
nenhum outro organismo Rosacruz tinha feito uso do extenso imaginário egípcio de tal
forma, a não ser o Rito de Memphis-Misraim, que claramente deixou suas pegadas em
cima da Ordem Rosacruz criada por Lewis.
Eu acredito que você deve seguir essas pegadas para rastrear o caminho de volta
para onde sua tradição veio. Se você é um membro da AMORC e este post é tão chato
como o meu passado, eu vos digo: não se preocupe. Isto é algo que enriquece a sua
herança. O Rito de M.·.M.·. é bonito, atraente e rico. Com seus misteriosos 99 graus
iniciáticos, o rito herdou os ensinamentos iluministas da época. A decisão de Lewis
para renovar os rituais do M.·.M.·. não é um prego no caixão provando uma história, é
uma real conexão que você pode se orgulhar.
Além do mais, este rito em si já tinha uma origem Rosacruz anteriormente. Mas
isso é outra história…
Fontes:
http://oalvorecer.com.br/origem-secreta-da-tradicao-ritualistica-da-amorc/
http://mystica-aeterna.com/amorc-rituals/
155
A FUDOSI (1936 - 1951)
Os Anos Precedentes
Nós sabemos através da história que houve tentativas anteriores para formar
uma "Federação Mundial de Ordens e Sociedades Esotéricas". O famoso francês Papus
(Gérard Anaclet Vincent Encausse), fundador da Ordem Martinista, organizou uma
convenção em Paris no ano de 1908, com a intenção
de formar uma Federação Universal, porém, o
resultado não foi eficaz.
70
Este capítulo é um resumo do excelente trabalho desenvolvido por Milko Bogaard, que pode ser
encontrado em: http://www.hermetics.org/fudosi.html
71
Diário da FUDOSI, novembro de 1946.
156
Mesmo antes de 1908 houveram duas convenções realizadas no término do
século 19, uma em 1888 e outra em 1889. Os pioneiros destas convenções eram
belgas. Nos dias 28 e 29 de março de 1888 houve uma convenção com Gustave
Jottrand e Goblet D'Alviella (1846 - 1925) como presidentes. Era uma convenção
maçônica sobre O Significado Esotérico do grau 18 – Soberano Príncipe Rosa Cruz - do
Rito Escocês da Maçonaria. D'Alviella alterou/retificou alguns capítulos do ritual do
grau 18. Mas esta ainda era uma convenção estritamente maçônica.
Outra convenção aconteceu de 9 a 16 de setembro de 1889, em Paris. A
convenção - ou neste caso, o congresso foi intitulado Congresso Espírita e Espiritualista
Internacional. Delegados de todo o mundo vieram a este congresso. Alguns membros
do Congresso foram: Gerard Encausse (Papus), Stanislas de Guaita, George Montieres,
Leon Denis, Gabriel Delanne, a Duquesa de Pomar, etc. Algumas das Ordens e
Sociedades que participaram: a Ordem Martinista, a Fraternidade Hermética de
Luxor, a Ordem Kabalistica da Rose+Croix e a Sociedade Teosófica. Neste congresso
Papus iniciou os seus planos para a realização da atual Ordem Martinista, como nós a
conhecemos hoje em dia.
As ordens participantes:
a Ordem Kabalistica da Rose+Croix,
o Grande Oriente da Alemanha,
os Filhos de Ismael (Maçonaria árabe),
o Direito Humano,
a Grande Loja da Espanha,
a Grande Loja Simbólica da Espanha,
a Grande Loja de Portugal,
o Antigo e Primitivo Rito da Grã Bretanha e
Irlanda,
o Rito de Swedenborg da Grã Bretanha,
a Grande Loja du Cap-Vert,
o Rito Azul da Argentina,
a Grande Loja de Ohio,
72
P. R. Koenig: Considere a O.T.O. não existente.
157
a Grande Loja de São João de Massachusetts,
o Rito de Swedenborg Alemão e Francês,
o Illuminati da Alemanha,
o Alto Conselho do México,
o Rito de Memphis-Mizraim & O Rito Egípcio da Itália,
a Ordem Rosacruz Esotérica e
a Ordem Martinista.
158
TAWUC-Reuss e Lewis
159
utópica. "O congresso foi contra a OTO". As atas, por exemplo, nem mesmo fazem
menção à Religião Gnóstica.
73
Lewis recebeu o grau VII° - Grande Conselheiro dos Templários Místicos da OTO. Lembramos que é
apenas um Diploma Honorário, porque o Imperator não recebeu nenhuma iniciação ritual da OTO e
nunca tomou parte nos trabalhos desta Ordem (uma carta da A.M.O.R.C. sobre a O.T.O. P.R. Koenig).
74
Para maiores informação sobre este assunto, dê uma olhada em "uma Carta da AMORC... lembre-se
de que estas declarações foram feitas (AMORC – França) em uma carta para Peter R. Koenig, datada de
22 de fevereiro de 1999.
160
Crowley nos EUA, é agora de seu próprio interesse, e não mais responsabilidade da
OTO".
Depois que Reuss expulsou Crowley da
sua OTO, os seus planos para novos
empreendimentos (como a TAWUC) se
tornaram uma prioridade. “Relativo à
Fraternidade Hermética da Luz, a FRA,
AAORRAC, a Societas Rosicruciana da
Alemanha e Áustria, e a TAWUC (colaboração
com AMORC), Reuss planejou uma
Fraternidade Universal Conjunta” em Ettal,
Oberammergau / Baviera, Alemanha, marcada
durante junho de 1922.
Aleister Crowley ou
Edward Alexander Crowley
(1875 — 1947)
Mas, como já mencionado antes, Lewis já tinha perdido seu interesse em Reuss e
os seus planos para a colaboração com a Ordo Templi Orientis de Reuss.
Por incrível que pareça, nos anos trinta, Lewis recorre a Reuss como uma
importante relação europeia para a AMORC. A referência pode ser achada em um livro
(White Book “D”) escrito por Lewis, publicado em 1935, chamado Audi Alteram
Partem75 (ouvindo o outro lado).
Audi Alteram Partem foi escrito "como uma defesa exigida a alguns ataques
pesados feitos a AMORC e ao seu Imperator, feitos por um eclético bando de auto-
designados inimigos (principalmente Reuben Swinburne Clymer da Fraternitas Rosae
Crucis, outro “auto-proclamado” herdeiro do trono do Rosacrucianismo americano, ao
lado de H. S. Lewis). Depois de uma série de tentativas e batalhas públicas, Lewis
publicou o livro em questão, de ordem a "derrubar algumas das infinitas acusações"
75
https://pt.scribd.com/document/121420631/AMORC-White-Book-D
161
feitas por Clymer e Reuss. Lewis declara que pessoas como o Dr. Franz Hartmann, o Dr.
Gerard Encausse, o Dr. François Jollivet-Castelot, e organizações como a Ordem
Martinista, o Rito de Memphis Mizraim, a Rosa-Croix Esotérica e a OTO (?) eram todas
consideradas como importantes relações europeias para a AMORC. O que é realmente
estranho é que Lewis não fez nenhuma menção das Ordens envolvidas com a FUDOSI
que foi constituída um ano antes, em 1934!
Traenker e Lewis
76
P. R. Koenig "Baphomet and Rosycross”.
77
Cabeça exterior da OTO. O Líder real.
162
Ao lado da editora, havia a Loja Pansophia. Esta Loja Pansophia estava fechada
em 1928, e de suas cinzas surgiu o Fraternitas Saturni que ainda existe, fundada por
Eugen Grosche/Gregor A. Gregorius, secretário para Traenker da Loja Pansophia. O
movimento inteiro também é conhecido como Collegium Pansophicum (CP). O
Collegium Pansophicum reivindicou ser a única Ordem que continha "os verdadeiros
segredos dos Augustos Irmãos Rosacruzes” (onde eu ouvi isto antes?).
Harvey Spencer Lewis, como mencionado antes, como um “Membro Honorário
para a Suíça, Alemanha e Áustria” contatou o Grande Mestre alemão da OTO, Heinrich
Traenker. Em agosto de 1930 ambos, Lewis e Traenker, fizeram planos para um
"Conselho de Pansophia e Rosacruz Internacional".
Esta Sociedade de Pansophia Universal em
cooperação com a AMORC assinou uma declaração,
chamada de “O segundo Fama”: "Venham todos ver
mais de perto e entrem", os graus recorrem a vários
graus do REAA, do Rito de Memphis-Mizraim, da
Maçonaria, e da OTO. O “Segundo Fama” revela a
manifestação da Ordem Rosacruz em tempos
modernos e a cooperação das partes envolvidas. O
“Segundo Fama” revelou a presença dos REAIS
irmãos da Rosacruz. Porém, a colaboração entre
AMORC e o Movimento da Pansophia de Traenker se
mostraram ser uma desilusão para Lewis.
Karl Germer
(1885 - 1962)
163
de fevereiro de 1934, Lewis fez as seguintes declarações sobre a Pansophia: "Na
realidade o chefe da O.T.O. e da Pansophia Oriental era Theodor Reuss (??). E o termo
“Pansophia” se refere a uma divisão do estudo e trabalho Rosacruz e não uma escola
ou organização separada"78.
78
Lewis para M. Carl, carta de 16.2.34, Koenig "O Fenômeno OTO": http://www.parareligion.ch/
164
O SEGUNDO FAMA, de Harvey Spencer Lewis e Heinrich Traenker, foi publicado em
novembro de 1930, sob o título “Sede Internacional do Conselho Supremo da Antiga e
Mística Ordem Rosa Cruz, Berlim, Alemanha”, uma “comunicação oficial para toda a
Humanidade”, emitida através das “Organizações Unidas da Rosa Cruz: AMORC,
Irmandade da Rosa Cruz, Fraternitatis Hermetica Lucis, Ordo Templi Orientis, Collegium
Pansophia e Societas Pansophia”.
165
O Amanhecer de Um Novo Dia, FUDOSI, A Preparação - Emile Dantinne
Não está completamente claro como Lewis conheceu Mallinger. O fato é que a
AMORC era internacionalmente conhecida dentro da comunidade esotérica. A Ordem
já tinha várias Grandes Lojas estabelecidas no estrangeiro. É sabido que H. S. Lewis se
correspondeu intensivamente com fr. Wittemans (escritor de Uma Nova & Autêntica
História dos Rosacruzes) no princípio dos anos 20. Wittemans se uniu a FUDOSI em
1934 e conheceu Mallinger e Dantinne antes da fundação da FUDOSI.
Foi Emile Dantinne que começou a contatar várias ordens e sociedades com a
ideia de organizar um congresso semelhante ao de 1908. As primeiras Ordens que ele
contatou foram: a Rosa+Cruz Universitária, a Ordem de Hermes Tetramegisti, a Ordem
dos Companheiros Ímpares (Order of the Odd Fellows), o Rito de Memphis-Misraim
(Bélgica) e a Ordem Brahman79. A Ordem Brahmann e a Ordem dos Companheiros
79
A Ordem Brahman aqui mencionada era uma Ordem Pitagórica. Ordens como a Ordem Brahman era a
continuação do Fratelli Obscuri, constituída em 1575. Sir Thomas More (o escritor da "Utopia") e Sir
Walter Raleigh estavam entre os primeiros membros.
166
Ímpares não responderam. As duas primeiras
ordens estavam sob a autoridade de Dantinne. O
Rito de Memphis Mizraim, também contatado,
era de responsabilidade do amigo íntimo de
Dantinne, Jean Mallinger. Este primeiro
congresso era mais uma “festa familiar” do que o
congresso que Dantinne tinha em mente.
80
A Ordem Oddfellows é uma das maiores fraternidades (sociedades de amigos) no Reino Unido e
celebrou o seu 200º aniversário em 2010. Sendo uma evolução das corporações de comércio medievais,
a Oddfellows começou em Londres no final do século 17, espalhando-se por todo o país, de forma geral,
em bares e salões de igreja, mas agora muitos ramos possuem o seu próprio local de reunião ou Loja de
Oddfellows. Em 1810, a Unidade Manchester da Oddfellows foi formada por um número de grupos
sociais locais que se uniram. Todos os anos, milhares de pessoas se juntam a Oddfellows, não apenas
para usufruir da gama de benefícios financeiros e práticos disponíveis, mas cada vez mais pela rede de
eventos sociais que a sociedade oferece e a oportunidade de fazer amigos. Como a Oddfellows
começou? Em 1810 a Unidade de Manchester da Oddfellows tornou-se oficialmente reconhecida pelo
Governo. No entanto, grupos sociais da Oddfellows na Inglaterra podem ser rastreados até 1066, sendo
uma das mais antigas fraternidades que operam atualmente no Reino Unido. O que é uma fraternidade?
Emergindo das Guildas de comércio medievais, pessoas comuns trabalharam juntas para ajudar umas as
outras em tempos de necessidade. Em seus primeiros dias de operação, não havia “estado de bem estar
social”, seguro social ou mesmo sindicatos, assim, se unindo, os membros das fraternidades poderiam
proteger a si e suas famílias contra doenças, lesões ou morte. Como a Oddfellows operava nos seus
primeiros dias? As primeiras regras sobreviventes datam de uma Loja Oddfellows de 1730 e referem-se
a Loja Loyal Aristarcus em Londres. Há muitos pubs na Grã-Bretanha que ainda hoje são nomeados de
“The Oddfellows” ou “Oddfellows Arms”. Invariavelmente, estes eram locais de encontro das lojas no
passado. Naquela época, a participação em uma reunião da Oddfellows era obrigatória, embora não o
seja hoje em dia, porém, você vai ficar feliz em saber! As reuniões incluíam uma série de brindes (pelo
menos três em uma noite) e a Loja foi instruída a manter os copos dos membros sempre reabastecidos
durante a noite. Não é de admirar, então, que muitas das reuniões da Oddfellows resultaram em muita
folia e, frequentemente, foi necessário o chamado das horas para restaurar a ordem.
https://www.oddfellows.co.uk/About-us/History. O lema da Oddfellows é "Amizade, Amor e
Verdade". Já nos Estados Unidos a Ordem Independente de Companheiros Ímpares foi fundada em
1819, em Baltimore, tornando-se a primeira fraternidade nos Estados Unidos a incluir tanto homens
como mulheres quando se aprovou o “Belo Grau de Rebekah”, em 20 de setembro de 1851.
https://en.wikipedia.org/wiki/Independent_Order_of_Odd_Fellows
https://en.wikipedia.org/wiki/Odd_Fellows_(disambiguation)
167
Victor Blanchard
(1878-1953)
168
estudar as “Tábuas Sumerianas” e deste modo se torna também um perito no idioma
assírio antigo.
Joséphin
Péladan
(1858 - 1918)
169
Depois da primeira reunião com Peladan em 1904, Dantinne se tornou um
visitante regular da filial de Peladan no Hotel Ravenstein em Bruxelas. A filosofia
Rosacruz floresceu na Bélgica.
Bruxelas se tornou o “quartel general” das ordens e sociedades esotéricas
europeias. Em 1918 Josephin Peladan morreu de intoxicação gastrointestinal. A Ordem
da Rosa-Cruz Católica foi reorganizada por seus discípulos. A Ordem se dividiu em
vários ramos. Gary de Lacroze continuou a original Ordem da Rose-Croix Católica na
França, como fez o pintor Jaques Brasilier. Brasilier publicava um periódico nomeado
de “As folhas da roseta”.
Na Bélgica a Ordem foi reorganizada por Emile Dantinne sob do nome de A
Rosacruz Universal, com ajuda de um certo Du Chastain.
“Após a morte de Peladan, foi Sar Hieronymus que reacendeu a “tocha” da
Ordem e a restabeleceu na tradição antiga da real Rosacruz" (um complemento para
“A Obra e o Pensamento de Péladan”, escrito por Emile Dantinne em 1952). Sar
Hieronymus, como mencionado anteriormente, era o Nome Místico de Emile
Dantinne.
O título “SAR” era usado na Ordem de La Rosa-Croix Catholique original. Este
título só foi dado aos mais altos iniciados da Ordem. O significado do título “SAR” é “o
Filho de Rá” (Sá = o filho; R=Rá ou Re). “SAR” também era usado entre os antigos reis
da Assíria. Uma explicação mais plausível pode ser encontrada nas cartas que Josephin
Peladan (SAR Merodack) escreveu aos seus amigos. Um exemplo pode ser visto em “A
Via Suprema” (o primeiro romance de Peladan) no qual vemos uma carta endereçada a
um certo Príncipe de Courtenay. Se vamos dar uma olhada nas palavras de abertura,
lemos:
"S.A.R. Monseigneur Le Príncipe de Courtenay". A abreviação estava para “Sua
Alteza Real”. O “Nome Místico” -SAR- foi eventualmente, copiado por Sar Hieronymus
e mais tarde foi utilizado por todos os dignitários da FUDOSI.
Em 1923 Dantinne reorganiza toda a Ordem R+C (Ordo Aureae & Rosae Crucis -
OARC) em três Ordens separadas. A Ordem da Rosa+Cruz Universitária, dividida em 9
graus. A Ordem da Rosa+Cruz Universal sob a liderança do Imperator François
Soetewey (SAR Succus), igualmente dividida em 9 graus. Ambas as Ordens serviram a
mesma causa, exceto a Ordem da Rosa+Cruz Universitária, onde só eram admitidos
membros de nível universitário. Finalmente havia a Ordem da Rosa+Cruz Interior sob a
liderança do Imperator Jules Rochat de Abbaye (SAR Apollonius), dividida em 4 graus.
Por conseguinte, a Ordem R+C foi dividida em um total de 13 graus, o 13 grau era o
“Grau de Imperator”.
No dia 31 de dezembro de 1925, Dantinne fundou um Centro R+C em Bruxelas
(Bélgica) sob a liderança de François Soetewey, com Jean Mallinger como secretário.
Em 1927 Dantinne fundou a Ordem Hermética Tetramagista e Mística. A Ordem era
uma reconstrução da Ordem de Pitágoras. A Ordem foi conduzida pelo próprio
Dantinne (Sar Hieronymus), François Soetewey (Sar Succus) e Jean Mallinger (Sar
Elgrim), líder da filial belga do Rito Memphis-Mizraim.
Dantinne trabalhou como bibliotecário na cidade Belga de Huy. Sabemos que
Dantinne frequentou várias universidades durante toda a sua vida. Ele publicou
numerosos artigos na famosa revista suíça 'Inconnu', publicada pelo Rosacruz Pierre
Gillard, primo de Edouard Bertholet (SAR Alkmaion) líder da Rose+Croix do Oriente e da
170
Ordem Martinista e Sinárquica (o sucessor de Blanchard). Gillard era membro da
Grande Loja suíça da AMORC.
Dantinne também foi o fundador do C.R.S.O. (Commision de Recherches
Scientifiques sur L'occultisme), estabelecido em Huy, Bélgica. Ele também fundou o
Institut Scientifiques sur L'occultisme e a Societe Metaphysique em Bruxelas. O
Governo e o Rei da Bélgica recompensaram várias vezes Dantinne por suas
contribuições para a educação e cultura. Em 1962 Dantinne foi admitido no De
Leopoldsorde (um dos mais altos títulos honorários da Bélgica). É desnecessário dizer
que Emile Dantinne era um escritor realizado. Durante sua vida publicou mais de 30
títulos relativo a tópicos como idiomas estrangeiros, história local, metafísica,
ocultismo, etc. Emile Dantinne morreu em Huy no dia 21 de maio de 1969, com 85
anos de idade.
171
Reichel - o Grande Mestre da AMORC da Suíça em substituição de Edouard
Bertholet/Sar Alkmaion, delegado da Confraria dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz e
da Associação Alquímica da França de Jollivet-Castelot), chamado "Quem Nós Somos E
O Que Nós Queremos", para uma revista chamada La Rose+Croix, publicada por
Jollivet-Castelot, presidente da Associação Alquímica da França.
172
90 graus são os graus das iniciações simbólicas, antes seguidos de 9 “graus oficiais” em
ordem hierárquica: 99º = Grande Hierofante, 98º = Grande Hierofante Universal, 97º =
todos os membros do Supremo Conselho, e 96º = Soberanos Grandes Mestres.
Jean Mallinger também foi autorizado pelo Grande Mestre Jose Rafael Canedo
da Bolívia. Também estavam presentes: Georges de Lagreze, autorizado por Jean-Henri
Probst-Biraben (33º 97º), Pedro Bersetche (33º 97º) Delegado para o Uruguai, Victor
Blanchard (33º 97º), Hans Grueter (33º 97º) (Suíça e França) e August Reichel (Áustria).
Depois de alguns dias, eles se uniram a Harvey Spencer Lewis (EUA), Maurice de Seck,
Many Cihlar (Áustria), Luis Fitau (Chile) e Jose-Rafael Canedo.
173
Nos documentos Rosacruzes (pág. 37) esta carta consta como sendo da “Ordem dos
Discípulos de Pitágoras”, conferindo honras a H. Spencer Lewis. Na realidade a Ordem
referida é a de Memphis-Mizraim. “Discípulos de Pitágoras” é apenas o nome do
“Capítulo”. Raymond Bernard tentou reativar uma Ordem Pitagórica dentro do CIRCES
em 1988, mas o próprio CIRCES, a partir de 1993, alterou sua finalidade e reduziu
consideravelmente suas atividades. Na década de 90, após a reorganização da AMORC,
com a expulsão de Gary Stewart, foi adicionado um ritual pitagórico na AMORC por
Christian Bernard.
174
George de Lagreze
François Soetewey
Os grau 87º até o 90º são os graus “Arcana Arcanorum”, tornados famosos por
Cagliostro no século 18. Eles foram originalmente adaptados e incorporados no Rito de
Mizraim na Itália, no princípio do século 19. Os "Arcana Arcanorum” também estavam
incorporados no mais alto grau da Ordem Hermética Tetramagista e Mística, uma das
participantes da Convenção.
Hans Grueter - 33º 90º;
Raoul Fructus - 33º 90º;
Victor Blanchard - 33º 90º;
Luis Fitau - 33º 90º;
August Reichel - 33º 90º;
Maurice Fallot - 33º 90º.
175
A Ordem Martinista e Synárquica - 9 a 16 de agosto.
O Grande Mestre da Ordem era Victor Blanchard, que foi o secretário de Papus
na Convenção de 1908. Papus fundou a Federação Maçônica Universal que foi
oficialmente estabelecida durante a convenção. A FMU foi uma "precursora" da
FUDOSI.
Blanchard era o presidente da Convenção Martinista. Ele também era um
delegado da Igreja Gnóstica Universal e do Conselho Supremo da Ordem Kabalística da
Rosa+Cruz.
Por causa de Victor Blanchard o Martinismo foi introduzido (mais uma vez) na
Bélgica. Emile Dantinne, Spencer Lewis e outros dignitários da FUDOSI foram iniciados
como martinistas durante esta convenção.
176
- SAR Alden (H.S. Lewis) Imperator do continente americano;
- Sar Yesir (V. Blanchard) Imperator da Europa Oriental.
177
Documento da FUDOSI de 23 de setembro de 1934, que declara, em parte: "fica
registrado que a Congregação decide, por unanimidade, reconhecer a AMORC
como a única associação rosacruz verdadeira na América do Norte". Naquela
época a abrangência da AMORC estava limitada à América do Norte, mas
expandiu-se, posteriormente, por todo o mundo.
178
179
As Ordens Esotéricas e a Política
Um aspecto muitas vezes deixado de fora quando se discute os problemas entre
a FUDOSI e as "Ordens de Lyon" é o aspecto de natureza política. As Ordens e
Sociedades Iniciáticas, incluindo a Maçonaria, sempre desempenharam um papel
ambíguo na sociedade.
Especialmente na França, sempre houve (certamente até o momento em que a
FUDOSI foi fundada) um forte movimento republicano dentro do mundo das Ordens e
Sociedades próximas ao movimento conservador e monarquista. Lembramo-nos do
papel da Maçonaria durante a Revolução Francesa.
Quando olhamos para os pontos de vista de alguns dos principais membros da
FUDOSI em relação a este problema, teremos a seguinte imagem:
Emille Dantinne, por exemplo, era um Monarquista que se opunha fortemente
ao movimento republicano.
Ele era um "Naundorfista". O "movimento Naundorfista" foi construído em torno
da hipótese de que um certo Karl Wilhelm Naundorf, um aventureiro, “surgiu” em
Berlim em 1810 e alegou ser o filho do rei francês Louis XVI e Maria Antonieta. Ele
tentou provar sua alegação perante um tribunal na França na qual não teve êxito. Teve
que deixar a França, onde não era mais bem-vindo. Partiu para a Grã-Bretanha, onde
mais tarde afirmou ser "o Messias". Em 1845, finalmente se estabeleceu na Holanda,
onde viveu sob a proteção da coroa holandesa (por causa de alguma invenção militar
de Naundorf), onde morreu no mesmo ano. Seu verdadeiro nome era Charles Louis
Eduard de Bourbon. Seus descendentes repetidamente tentaram provar que Naundorf
era de descendência real. Toda a história finalmente terminou em 1998, quando o
Prof. J. J. Cassiman (University of Leuven, Bélgica) provou (teste de DNA) que Naundorf
não poderia ter sido Louis XVII, sucessor de Louis XVI, rei da França.
Dantinne foi ainda convencido por um membro da FUDOSI, Andre Cordonnier,
que se tornou um dos Imperators da organização em 1946, que era o "novo rei" da
França! Discutiremos este assunto em um dos capítulos seguintes.
As ideias de Émile Dantinne, por exemplo, relativas às questões políticas e
sociais, e até mesmo em assuntos raciais são refletidas em seus escritos, o que pode
lançar várias luzes quanto aos critérios do conclave. As seguintes declarações, feitas
por Dantinne relativas a estes assuntos podem ser encontradas em dois documentos
da FUDOSI, intitulados “Posição das Ordens Iniciáticas Sobre os Problemas
Contemporâneos” e “Concordância sobre as Ordens e Sociedades Iniciáticas”, de
12/10/1941.
Relativo ao tópico “As Ordens Iniciáticas e o Problema da Raça” Dantinne
discorre sobre a visão da FUDOSI na Europa:
180
“As genuínas Ordens Iniciáticas são abertas somente à comunidade ariana e não
admitem ninguém pertencendo à raça judia”.
Além disso, é declarado que a influência maçônica era e ainda está muito forte
na sociedade por altas posições asseguradas pelos maçons em “todos os níveis do
Estado”. Os ensinamentos da Maçonaria são descritos como uma “glorificação do
homem em vez de Deus, e os objetivos dos maçons na sociedade apontam para o lucro
e para o ganho pessoal” (12 de outubro de 1941, assinado pelo Imperator da Europa).
Do segundo documento, eu traduzi uma parte em que a atitude da FUDOSI para
com a Franco-Maçonaria é declarada:
181
Outros altos funcionários da FUDOSI também partilhavam da mesma opinião de
Dantinne sobre os problemas da sociedade na época. É bem sabido que Harvey
Spencer Lewis, da AMORC, sempre favoreceu aos sistemas autocráticos acima do
modelo liberal, democrático. Ele próprio foi associado a uma associação
ultranacionalista nos Estados Unidos. Lewis ainda ganhou a confiança de Mussolini,
que já proibira a Maçonaria na Itália, em 1925, que o recebeu com os braços abertos
como "um amigo de família", em 1931. Na ocasião o “Imperator” elogia o ditador da
"ausência de mendigos nas ruas, da arquitetura impressionante, da pontualidade dos
trens", etc. Lewis retorna mais uma vez a Itália em 1937. Nesta circunstancia, Mussolini
dá um discurso no qual ele promete um “futuro radiante” para AMORC.
182
Algumas fontes afirmam que seu pai, Harvey Spencer Lewis também foi iniciado nesse
grau de Dantinne.
82
Muitos membros proeminentes da FUDOSI não acreditavam que Harvey Spencer Lewis fora
iniciado em (ou perto) de Toulouse em 1909. Aqui está uma tradução de uma carta escrita por Jean
Mallinger, em que Mallinger refere-se a sua descrença. A carta é dirigida a August Reichel, datada de
julho de 1935.
"Sem negar a atividade extraordinária de Lewis na AMORC, é um fato bem conhecido, se se fala da
AMORC em um círculo que não está bem informado, o público só vai se referir a Spencer Lewis e seus
métodos. Mas posso dizer-lhe isto, iniciados sérios não aceitarão os métodos americanos, e iniciados
sérios não vão acreditar na "aventura de Toulouse" de Spencer Lewis. Esta é a opinião formal de F.
Sjalung de Copenhage, de Probst, e de Mikael...” a carta continua.
A carta é dirigida a August Reichel da Antiga e Mística Ordem da Rosa Cruz e da Confraria dos Irmãos
Iluminados da Rosa+Cruz, e lida com a abreviatura "AMORC", que foi utilizada por várias organizações,
183
No que se refere à sucessão de H. Spencer Lewis, foi o próprio Spencer Lewis que
nomeou seu filho, Ralph Maxwell Lewis, como seu sucessor em sua última vontade.
Sua escolha foi proposta aos membros do conselho em 12 de agosto de 1939. Na
convenção Ralph M. Lewis agiu oficialmente como o Imperator da AMORC, e foi
instalado como Imperator do “Triunvirato”, que formava a liderança da FUDOSI.
Voltando a demissão de Blanchard, é bastante claro por que ele foi demitido.
Blanchard ficou cem por cento convencido de sua autoridade como o novo Grão-
Mestre Universal da Rose-Croix e de todas as ordens iniciáticas de todo o mundo. Mas
quem ou o que lhe deu a ideia de que ele era o novo Grão-Mestre Universal? Essa é
uma pergunta intrigante.
A causa da convicção de Blanchard pode ser encontrada dentro de uma das
ordens iniciáticas a que ele pertencia, designadamente a Fraternidade dos Polares.
Blanchard tornou-se presidente dessa fraternidade em 1933.
A Fraternidade dos Polares não é geralmente conhecida no mundo de língua
inglesa.
De acordo com a lenda de sua fundação, a Fraternidade dos Polares teve a sua
origem no encontro entre Mario Fille e o misterioso eremita Pai Julian, em 1908, nas
colinas ao norte de Roma. Pai Julian deu a Mario Fille um maço de pergaminhos
antigos que incluía um método divinatório chamado de o "Oráculo da Força Astral". O
oráculo permitiu à irmandade entrar em comunicação com o "Centro Esotérico
de uma forma ou de outra. A Antiga e Mística Ordem da Rosa Cruz da Suíça provavelmente não usava os
ensinamentos de Lewis, na época. Até 1937 a AMORC-Suíça era uma organização independente, não
afiliada à AMORC. Em um documento oficial, datado de 14 de agosto (o primeiro congresso) de 1934, a
organização suíça é chamada de Ordem R+C da Suíça. O documento é assinado por Marc Lanval.
Outra indicação de que a "aventura de Toulouse" é uma invenção de Harvey Spencer Lewis é um
documento, que pertence aos arquivos da FUDOSI, em que o próprio Harvey Spencer Lewis afirma que
toda a história de sua iniciação em Toulouse é uma invenção sua. Este documento está nas mãos do
sucessor de Jean Mallinger.
Outro artigo interessante: The Sun, 19 de junho de 1918. Neste artigo (sobre a prisão de Lewis) H.
Spencer Lewis afirma que nunca alegou estar operando um ramo R+C filiado aos rosacruzes franceses:
(excerto)
Grande Imperator, aflito com a sua apreensão na noite passada na prisão.
"Meia dúzia de detetives ligados ao escritório do promotor público estavam examinando os
acessórios, ou seja, cintos de cetim, roupões e outras regalias - tomados na invasão da sede da chamada
Ordem Americana da Ordem Rosae Crucis...
O Grande Imperator Lewis foi preso na segunda-feira em uma batida espetacular contra a sede de
sua organização na antiga casa de Lily Langtry em 361 Oeste, Rua Vigésima Terceira...
De sua casa em Flushing, na noite passada, Lewis disse a um repórter do The Sun que em nenhum
momento a sua organização - a Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis - jamais afirmou estar a funcionar
como um ramo da organização Rosae Crucis da França. "Nós nunca reivindicamos ter qualquer
mandado, carta patente, patente ou autoridade de qualquer país estrangeiro", disse ele por telefone...
Entre os papéis apreendidos na mesa de Lewis, na segunda-feira à noite, havia um pedaço de
pergaminho intitulado “Pronuziamento R.F.R.C. Nº. 987.601”. O documento é adornado com uma série
de selos, de Toulouse, França, 20 de setembro de 1916, e assinado por um certo Jean Jordain. Após a
assinatura segue uma série de hieróglifos. No corpo do documento dirigido ao Le Secretaire Geral, Thos.
Kiimalehto aparece o anúncio de que uma jurisdição separada da Rosae Crucis foi estabelecida na
América..."
83
Os arquivos da FUDOSI pertencentes a Leon Lelarge (Sar Agni, o secretário de Emile Dantinne)
foram descobertos em 1982 por Serge Caillet. O arquivo consistia de muitos documentos relativos às
atividades da FUDOSI e Emile Dantinne. Sem estes documentos, uma grande quantidade de informações
deste fórum não teria sido publicada. Serge Caillet utilizou esses documentos para escrever um livro
chamado: "SAR Hieronymus et la FUDOSI", publicado em 1986, por Cariscript - Paris.
184
Rosacruz no Himalaia", dirigido pelos "Três Sábios Supremos" ou as "Pequenas Luzes
do Oriente", que propunha prepará-los para "a vinda do Espírito sob o signo da Rosa e
da Cruz". E foi o "Oráculo da Força Astral" que deu a Blanchard a ideia de que ele era o
novo Grão-Mestre Universal da Rose-Croix...
Bruxelas
“Meu querido irmão, com grande prazer eu chamo a sua atenção para o fato de
que o Centro de Agartha, para o qual eu sou, como você já sabe, diretamente ligado,
me entregou vários documentos e objetos mágicos que pertenceram a Christian
Rosenkreutz, o fundador dos Rosacruzes...”
185
Emile Dantinne também recebeu os graus OMT depois que deixou a OM&S de
Blanchard.
186
Muitos membros das ordens e sociedades secretas e místicas foram presos e
colocados em campos de concentração ou mortos por pelotões de fuzilamento.
Isso aconteceu também a um dos mais proeminentes líderes de ordens, naquele
momento, Constant Chevillon, chefe das Ordens de Lyon.
Na verdade, Chevillon foi assassinado pelo Regime de Vichy (Klaus Barbie/
Gestapo). Madame Bricaud supôs que Chevillon foi assassinado pela Gestapo, porque
ele era o Grão-Mestre de várias ordens iniciáticas. A explicação de madame Bricaud
(viúva de Jean Bricaud, antecessor de Chevillon) é usada frequentemente como a
“versão oficial”. Mas o Regime de Vichy tinha um motivo diferente.
A Segunda Guerra Mundial, que começou em Setembro de 1939, impediu que
estas ordens e fraternidades colaborassem ativamente, assim pagando o preço de
extremas dificuldades e perseguições pelo regime Nazista.
84
As datas reais dadas são questionáveis. Uma fonte afirma que a 6ª Convenção ocorreu entre 21-25 de
julho, outra fonte menciona 21-22 de julho como as datas reais para a 6ª Convenção.
187
A Ordem da Lys e da Águia85 e a Associação Alquímica da França86 "foram
convidadas a apresentar os seus representantes, mas não enviaram os seus
delegados”.
A razão pela qual a Ordem da Lys e da Águia não apareceu na convenção é
conhecida. Era Chaboseau que estava mais interessado na Ordem da Lys e da Águia
(Ordem Eon), do que Dupré na FUDOSI (Eugene Dupré também tinha sido o Grande
Mestre da Ordem Martinista no Egito no início do século 20, antes que, como a
maioria dos martinistas franceses no Egito, voltou para a França após a Primeira
Guerra Mundial. Estes martinistas do Egito fundaram o "Grupo Independente de
Estudos Martinistas". Dupré nunca foi realmente interessado em uma colaboração
com a FUDOSI. Dupré morreu em um bombardeio no ataque de 12 de junho de 1944.
Recebeu seu Nomen Mysticum (Sar Lilium) postumamente na convenção de 1946.
85
As revistas da Ordem da Lys e da Águia podem ser encontradas aqui:
http://www.iapsop.com/archive/materials/eon/
86
As revistas da Associação Alquímica da França podem ser encontradas aqui:
http://www.iapsop.com/archive/materials/rosa_alchemica/
87
OSMTJ Ordre Souverain et Militaire du Temple de Jérusalem: Knights Templar
https://www.facebook.com/OSMTJ/
http://templedeschevaliers.free.fr/
http://osmtj.net/
http://ostj.org/
188
A quinta convenção, que foi apresentada como o 5º "Conclave Mundial da
FUDOSI", teve lugar depois de sete anos de separação, anos "de guerra e de ensaios
terríveis", de cruéis perseguições, prisões e interrogatórios pela Gestapo, ataques e
batidas da polícia, deixando as ordens iniciáticas europeias dizimadas.
“Mas o fim da guerra também marcaria o início de uma nova era, uma era de
restauração e esperança recém-nascida... Especialmente para Emile Dantinne a
"ressurreição" foi "concretizada" na presente Convenção, inspirada por um espírito de
esperança e persistência. Sar Hieronymus (Dantinne) apresentou seu discurso de
abertura para a assembleia reunida no domingo, dia 21 de julho de 1946” (retirado de
“FUDOSI, vol.1. nº.1" publicado pela AMORC, San José, novembro de 1946).
88
Em francês: L'Ordre Martiniste Traditionnel (O.M.T.)
Em português: Tradicional Ordem Martinista (T.O.M.)
Em inglês: Traditional Martinist Order (T.M.O.)
89
Georges Lagrèze foi escolhido por Chaboseau como seu sucessor como Grão-Mestre da Ordem
Martinista Tradicional. Mas Lagrèze morreu apenas três meses após Chaboseau, sem nomear seu
sucessor. A OMT foi deixada sem um Grande Mestre. A liderança da OMT foi um dos principais itens da
pauta da sexta Convenção.
189
O Conselho Supremo decidiu escolher um Co-Imperator provisório para
completar o Triângulo Supremo nesta 6ª Convenção. As potências regulares desse alto
cargo seriam exercidas por um "Conselho de Regência". É preciso compreender que a
FUDOSI precisava de tempo para resolver "algumas questões pendentes". A morte de
Chaboseau causou alguns sérios problemas internos. A FUDOSI não aceitou Jean
Chaboseau como sucessor de seu pai, tanto como co-Imperator, bem como Grande
Mestre da OMT (algumas fontes afirmam que Augustin Chaboseau escolheu seu filho
como Grão-mestre da OMT). Eles mantiveram o assento do Terceiro Imperator vago, e
decidiram instalar um "Assistente", um "Co-Imperator Interino", provisoriamente, até
que toda a questão pudesse ser devidamente resolvida.
O Conselho Supremo nomeou Fr. André Cordonnier (Sar Gregorius) como
"Imperator Assistente” da FUDOSI naquela Convenção.
190
Em 1952, após a FUDOSI ser dissolvida (1951), Cordonnier retorna à França.
Depois de ficar em Paris por um curto período de tempo, ele tornou-de o padre
católico de uma pequena paróquia no rio Loire. Após sua morte, em 1960, as
autoridades francesas descobriram a verdadeira identidade de Cordonnier...
O Conselho de Regência
191
1) para se manter em vacância o cargo de Terceiro Imperator da FUDOSI, que foi
administrado pelo Ilustríssimo SAR Augustinus, Grão-Mestre da Ordem Martinista
Tradicional, até a eleição de um novo Grão-Mestre desta Ordem. Nesse meio tempo
todos os poderes regulares do Grão-Mestrado serão exercidos por um Conselho de
Regência, composto por:
- SAR Puritia (França) - Jeanne Guesdon (AMORC), Secretária;
- SAR Leukos (América) – Presidente;
- SAR Renatus (Bélgica) - Rene Rossart ('cabeça' dos Martinistas belgas),
Tesoureiro.
192
Este era o fim da Federação Universal de Ordens e Sociedades Iniciáticas,
FUDOSI.
Um documento oficial foi assinado pelos três Imperators, Sar Validivar (Ralph
Maxwell Lewis), Sar Hieronymus (Emile Dantinne) e Sar Elgrim (Jean Mallinger), como
o terceiro Imperator da montagem final da FUDOSI.
193
Registro dos oficiais que compareceram à reunião da FUDOSI, conclave realizado em
Bruxelas, Bélgica, de 22 a 25 de julho de 1946.
194
A FUDOFSI (1939)
Fédération Universelle des Ordres, Fraternités et Sociétés Initiatiques
(Federação Universal das Ordens, Fraternidades e Sociedades de Iniciados)
A FUDOFSI foi principalmente criada para agir contra Harvey Spencer Lewis. Esta
afirmação é confirmada em uma carta, escrita por Clymer, ao destinatário Chevillon
(datada de 12/12/1935). Chevillon nomeou Clymer como “Comandante dos Cavaleiros
da Ordem do Santo Graal”, da França.
Por que razão eles atacavam Harvey Spencer Lewis? Um dos objetivos da
FUDOFSI era "limpar o mundo oculto", leia-se: "agir como uma força de oposição" para
a FUDOSI de Dantinne, Blanchard e Lewis. Especialmente Lewis, poderíamos
acrescentar. Após o Cisma dentro do Rito Memphis-Misraim, Chevillon procurou uma
aliança com os inimigos de seus oponentes.
195
Aos olhos dos seus adversários Lewis tinha quebrado com a "Tradição" em vários
pontos: Lewis criou um "novo sistema" de Iniciação, que incluiu um "curso de
correspondência no lar" (lições pelo correio) e “Iniciações de Sanctum”; membros da
AMORC tinham que pagar "assinatura de taxas"; o avanço rápido dos seus membros
através dos graus; a AMORC começou a publicar e vender livros sobre misticismo; as
campanhas de publicidade para atrair novos membros, etc., etc.
No início do século 20, com as ordens tradicionais ainda reunidas em Lojas, onde
os membros recebiam as instruções diretamente de um mestre, este sistema recém-
criado pela AMORC foi encarado como uma "blasfêmia". Entretanto o sistema AMORC
de ensino combinado com as campanhas de publicidade provou ser bem sucedido
porque atraiu uma grande quantidade de novos membros (pagantes). Desta forma, a
AMORC tornou-se uma das principais ordens iniciáticas dos anos trinta com Grandes
Lojas em todo o mundo. Além disso, este tipo de "gestão" provou ser um sucesso
financeiro... Financeiramente, AMORC era, e ainda é, a ordem mística mais rica do
planeta.
196
As organizações listadas acima são algumas das Ordens mais conhecidas que
participaram na FUDOFSI.
Embora a FUDOFSI tenha deixado de existir durante a Segunda Guerra Mundial,
e não foi restabelecida após a guerra, alguns dos ex-membros se contataram em 1947
e estabeleceram uma continuação da FUDOFSI.
O acima indicado significa que as Lojas belgas não eram "soberanas", portanto,
não podiam estabelecer as suas próprias Lojas. A Ordem belga de Memphis-Misraim
pertencia à jurisdição francesa e não tinha autoridade alguma. Certa vez Rombauts
90
http://www.sovereignsanctuary.org/index.html
197
pediu a permissão de Bricaud para o estabelecimento de uma jurisdição belga, mas
Bricaud se recusou a fornecer. A filial belga começou então a entrar em contato com
outras lojas M.'. M.'. que Bricaud não reconheceu como Grão-Mestre do rito. Entre as
pessoas que foram contatadas estavam Raoul Fructus, Hans Grueter (Grão-Mestre
AMORC França), George de Lagreze (Grão-Mestre O.H.T.M., França), etc. Quando Jean
Mallinger solicitou a Rombauts corrigir os rituais, Bricaud foi forçado a intervir.
Em 1933 as Lojas belgas não foram reconhecidas oficialmente mais como Lojas
“regulares” do Antigo e Primitivo Rito de Memphis-Mizraim pela obediência francêsa.
O cisma resultou em uma Ordem Internacional ao lado do original Rito M.'. M.'.
do Grão Mestre Jean Bricaud. George Lagreze e Hans Grueter tornaram-se os Grandes
Mestres na França, Troilo na Argentina e Constantin Platounoff na Bélgica. Foi este
grupo de Lojas, sob a orientação e liderança de Emille Dantinne (Dantinne não estava
envolvido nas atividades M.'. M.'.), que formariam a FUDOSI em 1934. Um dos
objetivos da Convenção M.'. M.'. (1934) foi "O Retorno à fonte fundamental do Rito de
Misraim". A obediência francêsa, ao qual a filial belga pertenceu até 1933, trabalhou o
sistema de John Yarker, oficialmente chamado de "O Rito Antigo e Primitivo da
Maçonaria”. O sistema de Yarker trabalhava 33 graus, divididos em 3 seções,
abraçando a Maçonaria Moderna, a da Cavalaria e a Egípcia. Na verdade, o sistema
comprimiu os rituais dos 90 graus de trabalho do Rito de Memphis em 30 Rituais. É
preciso compreender que o sistema original necessitava da “fortuna de um reino” para
levar adiante um Rito de 90 graus com o necessário esplendor. E isso tem sido uma das
principais razões que durante o século 19, em várias cidades em toda a Europa, o Rito
original foi abandonado. Abandonado por causa de dificuldades financeiras...
198
De acordo com Spencer Lewis, em um artigo chamado "Verdadeiro Misticismo",
os Rosacruzes eram descendentes dos essênios, que "criaram" e conservaram os
mistérios cristãos originais, coadjuvado pelos adeptos da Grande Fraternidade Branca
e (mais tarde) pelos Templários. Todos os Adeptos pertenciam ao antigo Rito de
Memphis-Misraim...
"Um dos visitantes que participou desta convenção era o Imperator da AMORC,
H. S. Lewis de San José, Califórnia. Spencer Lewis foi iniciado na Alemanha em 1921 (5)
no Grau 95 por Reuss-Peregrinus. Spencer Lewis afirmou ser o Grão-Mestre da Grande
Fraternidade Branca do Tibet sob o nome de Sri-Sobbhita-Bikkhu. Lewis deu a
Rombauts o título de Grande Hierofante (Grau 99º) sob o nome de OR-ZAM. Desta
forma Rombauts tornou-se Grão-Mestre da Bélgica, e o que ainda é mais peculiar: a
Rombauts foi dado o nome Rombauts-OR-ZAM-PHANAR, e Phanar foi realocado na
Ordem no Supremo Santuário da Bélgica (como se pode ler na revista 'Adonhiram',
publicada por Jean Mallinger)".
199
Em seguida, eles criaram o seu próprio Santuário Ilegal na Europa, Suíça, Índia e
China, que nunca realmente funcionou. Após, eles organizaram uma convenção
internacional em Bruxelas, em agosto de 1934, para estabelecer uma organização
universal. O principal objetivo desta organização é o de condenar outros santuários,
especialmente o Santuário da França. Isso aconteceu, é claro, sem a autorização do
"Antigo e Primitivo Rito da Maçonaria”!
Por causa da "Tradição", proclamada pela Ordem, Lewis foi "autorizado" por
intermédio do Secretário Internacional para dar carta patente das iniciações da
Ordem. A Carta foi declarada como "Urbi et Orbi" da Ordem!
200
Como afirmado anteriormente, todo o assunto resultou no estabelecimento de
uma Nova Ordem Internacional que representa o Rito de Memphis-Misraim, ao lado
da Ordem "Oficial" representada por Bricaud, e após sua morte, Constant Chevillon.
201
FUDOFSI - Biografias
Como já vimos, um dos objetivos da FUDOFSI era "Limpar o Mundo Oculto", leia-
se: "agir como uma força de oposição" para a FUDOSI de Dantinne, Blanchard e Lewis.
Especialmente Lewis, poderíamos acrescentar (esta afirmação é confirmada em uma
carta, escrita por Clymer, ao destinatário Chevillon, datada de 12/12/1935). Após a
Cisma dentro do Rito Memphis-Misraim, Chevillon procurou uma aliança com os
inimigos de seus oponentes.
Aos olhos dos seus adversários Lewis tinha quebrado com a "Tradição" em vários
pontos: Lewis criou um "novo sistema" de Iniciação, que incluiu um "curso de
correspondência no lar" (lições pelo correio) e “Iniciações de Sanctum”; Membros da
AMORC tinham que pagar "taxas de assinatura"; O avanço rápido dos seus membros
através dos graus; A AMORC começou a publicar e vender livros sobre misticismo; As
campanhas de publicidade para atrair novos membros, etc, etc.
No início do século 20, com as ordens tradicionais ainda reunidas em Lojas, onde
os membros recebiam as instruções diretamente do mestre, este sistema recém-criado
pela AMORC foi encarado como uma "blasfêmia". Entretanto o sistema AMORC de
ensino combinado com as campanhas de publicidade provou ser bem sucedido porque
atraíram uma grande quantidade de novos membros (pagantes). Desta forma, a
AMORC tornou-se uma das principais ordens iniciáticas dos anos trinta, com Grandes
Lojas em todo o mundo. Além disso, este tipo de "gestão" provou ser um sucesso
financeiro... Financeiramente, AMORC era, e ainda é, a Ordem mística mais rica do
planeta.
Principais personagens
202
Constant Chevillon (1880- 1944)
203
- "La tradition Universelle" - 1946 re-edição;
- "Reflexion sur le temple social" - 1936 etc.
91
http://fraternitasrosaecrucis.org/
http://www.soul.org/
204
Pode-se facilmente compreender porque Clymer queria cooperar com a FUDOFSI
de Chevillon. Como mencionado anteriormente, a FUDOFSI foi estabelecida
principalmente aos olhos de Clymer para agir contra Harvey Spencer Lewis. Após a
Segunda Guerra Mundial, Clymer tentou criar uma "Aliança Mundial das Ordens
Rosacruzes". A aliança foi particularmente bem sucedida no Brasil, onde Clymer fundiu
sua organização com a de Krumm-Heller (Fraternitas Rosicruciana Antiqua). Reuben
Swinburne Clymer morreu em 1966, e foi sucedido por seu filho Emerson. Hoje, a
Ordem é liderada por Gerald E. Poesnecker. A sede da FRC está localizada em
Quakertown, Pennsylvania. As sociedades ocultas que compõem a FRC no momento
são:
O Sacerdócio de Aeth;
Ordem Rosacruz;
As Escolas Secretas;
A Irmandade Hermética;
Fraternitas Rosae Crucis;
Templo da Rosacruz;
A Ordem dos Magi;
Filhos de Ísis e Osíris;
Illuminatae Americanae.
205
Em “A Fraternidade Rosacruz na América” (Rosicrucian Fraternity in America), de
Reuben Swinburne Clymer, pág.
206
Em “A Fraternidade Rosacruz na América” (Rosicrucian Fraternity in America), de
Reuben Swinburne Clymer, pág.
207
Em “A Fraternidade Rosacruz na América” (Rosicrucian Fraternity in America), de
Reuben Swinburne Clymer, pág. 365
208
Em “A Fraternidade Rosacruz na América” (Rosicrucian Fraternity in America), de
Reuben Swinburne Clymer, pág. 285. Harvey Spencer Lewis foi iniciado na Ordem
Soberana Militar do Templo em 1933.
209
Arnold Krumm-Heller (1879-1949)
Por volta dessa época (1908), ele teve contato com a famosa Fraternidade
Hermética da Luz/Luxor, de Max Theon, Peter Davidson e Thomas H. Burgoyne. Após
as iniciações que recebeu, ele começou a espalhar o
movimento Martinista em toda América do Sul, sob a
autoridade do Papus. Quando Reuss morreu em 1923, a
OTO foi deixado sem um sucessor. Apesar de Aleister
Crowley afirmar ser o novo OHO (pouco antes de Reuss
morrer, Crowley escreveu a Reuss que a OTO foi tomado
por ele, ele declarou-se como o novo OHO, assinando com
seu Nomen Mysticum "Baphomet"). Na realidade, no
momento da morte de Reuss foi o seguinte: "No momento
da morte de Reuss em 28 de Outubro de 1923, existiam
apenas duas pessoas no interior da Ordo Templi Orientis
que realmente receberam a 10ª Série, o grau de Rex
Summus Sanctissimus ou Supremus Rex, o grau para todos
os Grandes Mestres Nacionais da OTO. Estas pessoas eram:
- Hans Rudolf Hilfiker-Dunn;
- Arnoldo Krumm Heller.
210
entre outros, embora Krumm-Heller considerava-se como o verdadeiro sucessor de
Reuss". Na época, ele inicialmente deu autoridade a H. Spencer Lewis para operar a
FRA nos EUA. No entanto, mais tarde, ele cortou seus laços com Lewis, porque veio a
acreditar que AMORC estava sendo operada como um negócio, e não como uma
fraternidade. Mais tarde, ele estabeleceu laços com Clymer da FRC e participou da
FUDOFSI. Durante a Segunda Guerra Mundial, Krumm foi preso na Alemanha. Em 1949
ele morreu, sem nomear um sucessor. Os diferentes ramos da FRA foram
desenvolvidos separadamente sob a liderança dos Grandes Mestres de cada país. Vãs
tentativas para recolher a Ordem foram feitas por seu filho, Parsival Krumm-Heller e
também Metzger (filial suíça da OTO). Muitas ordens sobreviveram, especialmente na
América do Sul. Na Europa há alguns ramos “não autorizados”, ainda hoje existentes.
Em 1937, Eduard Münninger (1901-1965) dirigiu uma Ordem chamada Fraternitas
Crucis Áustria. Após a morte de Krumm, entre outras coisas, ele afirmou ser o sucessor
de Krumm-Heller. Martin Erler aconselhou Münninger para 'nomear' sua compilação
de ordens sob o título de AAORRAC (Antiquus Arcanus Ordo Rosae Rubeae et Aureae
Crucis), o mesmo nome que foi usado por Reuss e Krumm-Heller nos anos vinte, e que
também foi usado por Lewis para o seu fim. Na realidade, toda a Ordem foi uma
invenção de Münninger, e pertencia ao ramo alemão da AMORC no momento (2), sob
a liderança de Martin Erler (Erler afirmava ser o sucessor de Emille Dantinne).
Münninger morre em 1965. A AAORRAC ainda está ativa até hoje, mas a organização
não é reconhecida por Erler e pelo filho de Münninger, que herdou a AAORRAC. Karl
Plank, que lidera a Ordem hoje, trabalha com um sistema que é uma mistura entre os
ensinamentos da AMORC e da OTO...
211
August Reichel
August Reichel foi Grão-Mestre de uma ordem obscura chamada a Confraria dos
Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz e um discípulo fiel de Jollivet-Castelot, que dirigiu a
Associação Alquímica da França. Reichel estava envolvido em várias ordens
continentais, e era um amigo próximo de Theodor Reuss (OTO). Em 1934, ele
representou a AMORC como Grão-Mestre para a Suíça (substituindo Edouard
Bertholet) no primeiro congresso da FUDOSI em 1934. Ele também representou a
Confraria dos Irmãos Iluminados da Rosa+Cruz, a Ordem dos Samaritanos Incógnitos e
a Associação Alquímica da França no mesmo congresso. Ele também foi escolhido em
Bruxelas, como um membro do Conselho Soberano para o Antigo e Primitivo Rito de
Memphis-Mizraim, e recebeu o grau 33 e 90 do mesmo Rito. Como vimos, as decisões
tomadas em Bruxelas relativas ao Rito de M.'. M.'. foram anuladas pela obediência da
França, liderada por Chevillon. Reichel tentou negociar com Chevillon, mas não teve
êxito. Ele então decidiu romper seu relacionamento com a FUDOSI e se juntou à
oposição em Paris e Lyon...
Camille Savoir
Savoir era um amigo próximo de Constant Chevillon e um (famoso) maçom.
Dirigiu (e renovou) o Rito Escocês Retificado. O RER foi o Rito Maçônico que foi
incorporado à Ordem Martinista de Lyon. Savoir também estava envolvido no
desenvolvimento da GLNF (Grande Loja Nacional Francesa) em 1913 e o "Grande
Priorado de Gaules", fundado em 1935. A GLNF é a única
obediência francêsa, que era (e é) reconhecida pela
Grande Loja Inglêsa da Maçonaria. Ele era um membro
do Grande Oriente e do Rito de Memphis-Mizraim.
Notas:
212
Turquia, Europa) e conheceu várias figuras esotéricas proeminentes, entre outros o
famoso ocultista francês Eliphas Levi. Durante essas visitas, ele aprendeu várias
técnicas ocultas práticas, e o uso de haxixe, que foi uma verdadeira "revelação" para
Randolph. Ele também introduziu a magia sexual em seus ensinamentos. Os
ensinamentos reais são semelhantes aos da famosa Ordem européia chamada
Fraternidade Hermética de Luxor da qual ele conheceu vários membros quando
visitou a França e a Inglaterra. Ele chamou a si mesmo de um “Rosacruz”, sempre
afirmando que a fonte da "sabedoria superior" que possuía, era um conhecimento
recebido através da sintonia. Randolph foi a primeira pessoa ou movimento nos EUA
que realmente usou o termo “Rosacruz”.
2) Martin Erler foi Grão-Mestre da AMORC na Alemanha desde 1949 até 1955. Martin
Erler é um personagem interessante, principalmente por causa de seu backgroud. Erler
(Frater Albinus) pertencia a uma família que era amiga íntima do famoso escritor
rosacruz Gustav Meyrink (1868-1932). Meyrink viveu a maior parte de sua vida em
Praga. Em 1893 Meyrink tornou-se membro da Societas Rosicruciana in Anglia - SRIA,
liderada na época pelo Dr. William Wynn Wescott, que também foi um dos fundadores
e líder da Ordem Hermética da Aurora Dourada. Mais tarde mudou-se para Viena,
onde ele era um dos principais funcionários da Loja "Der Blauen Stern", onde
conheceu a sucessora de Madame Blavatsky na Sociedade Teosófica, Annie Besant. Em
1907 mudou-se para Munique. Gustav Meyrink foi o último (conhecido) Grão-Mestre
dos Irmãos Asiáticos (Fratres Lucis) na cidade de Praga. Ele também foi Grão-Mestre
da antiga "Ordo Rosae Crucis" alemã. Sua viúva e um amigo reuniram a Loja após a
Segunda Guerra Mundial (Não há nenhum documento/carta oficial que comprova a
validade dos "Irmãos Asiáticos", que Meyrink proclama). Um certo Frater Victorius se
tornou o novo Grão-Mestre. Foi a este grupo que Martin Erler juntou-se com a idade
de 27 (provavelmente). Ao mesmo tempo, ele se juntou a AMORC dos quais fr. Albinus
também foi membro. Em 1949, tornou-se Grão-Mestre da AMORC na Alemanha. Em
1953 ele começou a ter "problemas" com Ralph Maxwell Lewis, o Imperator da
AMORC. Erler deixou AMORC em 1955, levando vários membros com ele. Em 1957, foi
iniciado por Emille Dantinne e após Dantinne morrer em 1969, Erler tornou-se seu
sucessor. Todo o quadro faz com que o movimento do qual Erler afirma ser o 'herdeiro'
mais interessante. O movimento tem uma linhagem direta da antiga Ordem Rosacruz
alemã e uma linhagem direta com as várias Ordens chefiadas por Emille Dantinne e
Jean Mallinger! Parece que esse movimento ainda é "ativo", mas trabalha em
completo "silêncio"...
*Colegas do escritor deste fórum estão em contato com Martin Erler, e eles
encontraram "provas" de que Erler pode não ser o herdeiro legítimo de Dantinne.
Parece que Dantinne pessoalmente iniciou várias pessoas próximas à Erler, que
afirmam a mesma posição que Erler tem. Mais uma vez, estas declarações ainda não
estão certas, mas nós vimos muitas vezes antes estes desenvolvimentos, no mundo
das ordens e fraternidades esotéricas...
213
O Assassinato de Constant Chevillon
O caso todo começou com Jeanne Canudo, membro da Fraternidade dos Polares.
Ela era uma jornalista e colaborou com os nazistas. Trabalhou para o "serviço das
sociedades secretas", um departamento especial que monitorou as sociedades
secretas, especialmente a Maçonaria. Canudo desempenhou um papel importante em
expor os seguidores do Movimento Sinárquico. Em 1941, a SS procurou na casa de
Hans Grueter (AMORC-França), onde encontraram uma grande quantidade de
documentação, papéis, material oficial das ordens, etc., especialmente documentação
relativa à AMORC e ao Rito de Memphis-Mizraim!
Este "pacto" teve a sua origem na Fraternidade dos Polares. Certos membros
fundaram o "Comite Synarchique Central en Mouvement Synarchique d' Empire". Este
grupo era pró-fascista por natureza e contra um sistema parlamentar, e queria
derrubar o governo francês. A história toda é muito complicada, mas pensamos que os
nazistas suspeitavam que Chevillon fosse um dos conspiradores. Os nazistas
consideravam o Pacto Sinarquista como um rival.
Fr. Hutin (Sar Pascal), que foi o Arconte de "Negócios Estrangeiros" para a Ordem
Hermética Tetramagista e Mística (Ordem de Hermes), foi preso em Cherbourg,
França. Ele foi deportado para "Camp-Neuengam" e morreu em fevereiro de 1945.
Nico Wolff (Sar Ignis) foi preso em 05 de março de 1943 e deportado para Campo
Flossenburg. Ele morreu em 22 de abril de 1943, depois de tortura prolongada. Raoul
214
Fructus, que era o presidente do Grande Conselho do Rito de Memphis-Mizraim (sob a
FUDOSI), morreu depois de sua deportação em 1945. E a lista continua...
Muitos membros foram perseguidos e muitos tiveram que pagar com suas vidas,
especialmente dentro da comunidade maçônica. Há um monumento em Bruxelas,
Bélgica, em memória a todos os maçons que perderam suas vidas sob o Regime
Nazista.
Muitos membros das ordens eram ativos na resistência. Por exemplo, Leon
Lelarge (Sar Agni), que agiu como um intermediário para Emile Dantinne (Sar
Hieronymus) e os outros membros. Não havia comunicação direta possível com
Dantinne (Dantinne usou esta "técnica" também antes e depois da guerra). Lelarge
trabalhou para as ferrovias belgas (NMBS) e juntou-se à resistência em 1943. A
sabotagem do sistema ferroviário era sua especialidade. Após a libertação, tornou-se o
vice-presidente dos NMBS.
Outro membro que se juntou à resistência foi Sar Lampas, também da área ao
redor de Huy, na Bélgica (cidade natal de Dantinne e Lelarge). Sua casa era usada para
o trabalho ritual e encontros.
Um "incidente" doloroso ocorreu logo após a guerra, quando Emile Dantinne (Sar
Hieronymus) foi preso pela polícia belga. Ele foi acusado de colaboração ativa com os
nazistas. Vários cidadãos da cidade de Huy testemunharam em tribunal que Dantinne
tinha traído vários concidadãos durante a guerra para as autoridades alemãs locais.
Dantinne foi defendido por Jean Mallinger, que era advogado. Leon Lelarge
testemunhou a favor de Dantinne. Todo o caso acabou na retirada das acusações, mas
Dantinne foi embora, um homem alquebrado, que não se atreveu a mostrar-se em
público naquele momento...
A questão permanece até hoje: foi Emille Dantinne um colaborador com ideias
pró-alemãs? Uma pergunta difícil. Os fatos são que Dantinne foi levado a tribunal,
como dito acima, e que ele escreveu alguns documentos (outubro de 1941) em que ele
discriminava abertamente a raça judaica. Ao mesmo tempo, alguns de seus
companheiros mais próximos (Leon Lelarge) eram membros da resistência belga!
Em seu livro "Une police politique de Vichy: le Service des Sociétés Secrètes",
Lucien Sabah afirma que Dantinne escreveu os documentos para agir como um tipo de
manobra diversionista. A manobra referiu-se ao ataque contra a casa de Hans Grueter,
215
um mês antes dos documentos serem escritos! Como vimos antes, Hans Grueter
também foi membro da FUDOSI...
Notas:
216
A Validade da TOM como único organismo Martinista
ou como ocorreu a sucessão de Augustin Chaboseau
217
Augustin Chaboseau), O. Beliard e Georges Lagrèze. Ambos, Beliard e Lagrèze, eram
iniciados na linhagem direta de Papus (Lagrèze foi iniciado por Téder em 30 de junho
de 1906 e havia sido um membro do Conselho Supremo sob Papus desde 8 de outubro
de 1908).
Georges Lagrèze
92
Aqui encontramos obras de Robert Ambelain em espanhol para baixar
https://sites.google.com/site/tradicionrc/otros-autores/robert-ambelain
93
http://www.hermetics.org/fudosi.html
218
Uma das conseqüências da convicção de Blanchard foi a sua expulsão da FUDOSI
em 1939. A Ordem Martinista & Sinárquica foi substituída na 4ª convenção da
Federação pela Ordem Martinista Tradicional. Muitos membros, inclusive altos
Dignitários como Georges Lagrèze e Jeanne Guesdon (Grande Secretária da AMORC na
França), deixaram a OM&S. Dois outros altos Dignitários da Federação, os Imperators
Émile Dantinne e Ralph Maxwell Lewis da AMORC, deixaram também a OM&S de
Blanchard. Em setembro de 1939, Ralph M. Lewis era iniciado (sujeito à aprovação de
Chaboseau) por Lagrèze na OMT (SI e SI:IV, o Grau de iniciador). Harvey Spencer Lewis,
pai de Ralph, recebeu uma patente de Blanchard para a OM&S nos Estados Unidos. O
primeiro Templo Martinista estabelecido na Califórnia por Lewis foi chamado Louis
Claude de Saint-Martin. Ralph havia sido iniciado na OM&S por Blanchard em 1936
(SI:IV). Em outubro de 1939 Ralph Lewis era designado Soberano Delegado e Grande
Mestre Regional da OMT por Lagrèze, para a Califórnia e para os Estados Unidos. Deste
modo, o Conselho Supremo Regional dos Estados Unidos foi fundado. O conselho
consistia em 5 membros: Ralph Maxwell Lewis, Cecil A. Poole, Orlando T. Perrotta,
James R. Whitcomb e J. Duane. A Carta-Patente foi solicitada por Ralph M. Lewis e o
pedido foi atendido por Lagrèze, junto com um requerimento para a “Regularização de
Iniciação Martinista” pretendida pelos Irmãos Whitcomb, K. Brower, e as Irmãs
Whitcomb, G. Lewis e M. Lewis. Todos eles receberam o grau de SI, com exceção de
Ralph Lewis, que também recebeu o Grau de Iniciador, SI:IV.
Jeanne Guesdon
94
http://www.hermetics.org/fudosi.html
219
fileiras da Federação - e a OMT) e as outras duas Ordens Martinistas participantes, a
saber, Sociedade de Estudos Martinistas e a União Sinárquica da Polônia.
220
Como declarado em ‘1934-1951 FUDOSI’96:
“Estes dois fatos explicam a atitude de Jean Chaboseau e sua tentativa para
dissolver o Conselho Supremo. Durante a convenção, Ralph Lewis tomou a
oportunidade para designar a ele próprio como Soberano Grande Mestre da Ordem
Martinista Tradicional.
A Heptada Abbé de La Noue, nº. 22, foi estabelecida em Paris ao redor de 1960
com a ajuda de Raymond Bernard. A Heptada foi dirigida por Julien Origas que se
tornou membro da AMORC em 1951. Origas iria mais tarde encontrar a Ordem
96
http://www.hermetics.org/fudosi.html
221
Renovada do Templo (O.R.T.), do qual ele fora seu Grande Mestre até sua morte em
1983, neste mesmo ano, ele foi sucedido por Luc Jouret. Jouret fora forçado a deixar a
O.R.T. dentro de um ano, levando metade dos membros com ele e juntamente com
Joe di Mambro que havia sido membro da AMORC. Juntos, Jouret e di Mambro
fundaram a Ordem do Templo Solar (em 1994 ocorreriam suicídios coletivos na Suíça e
no Canadá de mais de 50 membros desta Ordem, e, em 1995, a cena se repetiria em
Vercors, França, fazendo 16 vítimas).
222
Raymond Bernard (1923-2006)
Nota: Não confundir o esoterista Raymond Bernard com dois homônimos: um deles,
realizador de cinema (1891-1977), o outro, pseudônimo do americano Walter
Siegmeister (1901-1965), autor do livro “A Terra Oca”.
223
Movimentos tradicionais nos quais Raymond Bernard teve cargos de responsabilidade:
Expansão da jurisdição
Em Julho de 1957
começam a funcionar 40
organismos rosacrucianos no seio da jurisdição francesa, estabelecidos graças à
iniciativa de Raymond Bernard. Nas décadas seguintes, até 1986, seguem-se uma série
de visitas a vários pontos do globo onde a AMORC se encontra implantada (Egito,
Congo, Estados Unidos, Suíça, Marrocos, Haiti, Inglaterra, Benim, Togo, Holanda,
Portugal, Senegal, Mauritânia, Costa do Marfim, Itália, Martinica, Grécia, etc.), no
âmbito de congressos, viagens iniciáticas, convenções e seminários. Em Setembro de
1964 o Imperator congratula Raymond Bernard pelo aumento considerável da
224
jurisdição francesa, que se tornou na mais numerosa da Europa, tendo apenas os
Estados Unidos um número de membros mais elevado.
No seguimento da morte de
Martha Lewis, viúva do primeiro
Imperator, H. Spencer Lewis,
Raymond Bernard é eleito a 4 de
agosto de 1966 como membro do
Conselho Supremo da AMORC, sendo-
lhe atribuída a função de Legado
Supremo.
225
Dá lugar à nova geração
226
Restabelece e desenvolve a OMT
227
Efetua as duas primeiras transmissões
Funda a ORT
A fundação
O crescimento
228
Inglaterra, Bélgica, Costa do Marfim, Roménia, Togo, etc.) onde são nomeados os
Chanceliers, responsáveis nacionais para cada país.
A reestruturação
A fundação
O crescimento
Nos anos seguintes realizam-se uma série de viagens iniciáticas, conventos, colóquios e
cenáculos um pouco por todo o mundo (Portugal, Abidjan, Benim, Chipre, Estados
Unidos, etc.)
A reestruturação
A passagem de testemunho
229
Em Maio de 1997, também em Portugal, no Convento de Cristo, Raymond Bernard
cessa as suas funções de Grão-Mestre da OSTI e transfere-as oficialmente para Yves
Jayet a 15 de Junho do mesmo ano. Na celebração dos 10 anos do CIRCES, em
Villeneuve-Saint-George, Raymond Bernard participa como convidado de honra. Será a
sua última participação num encontro da OSTI e do CIRCES, do qual se encontra
retirado desde Junho de 1997.
https://circuloraymondbernard.wordpress.com/biografia/
230
O CIRCES e a OSTI
A divisa “Nada do que é humano vos será estranho” era um convite à reflexão e
à ação num mundo em profunda transformação.
Ocupando um novo espaço, o CIRCES logo canalizou
vocações para o empreendimento, para a ação, para a
transmissão, junto a todos aqueles que desejavam
partilhar seus ideais numa ação comum.
98
http://www.ostibr.org.br/index.htm
231
A Ordem Pitagórica Internacional – O.P.I.: esta escola pitagórica existiu durante
muito tempo de uma maneira secreta, e está organizada como uma grande
universidade mística. O CIRCES dispõe de documentação que lhe confere a inteira e
plena autoridade para perpetuar a verdade do pensamento de Pitágoras naquele que
está despertado para recebê-lo.
232
Os ativistas do CIRCES são os cavaleiros da OSTI, mas o trabalho pode também
contar com a participação de voluntários, não membros da Ordem.
• a ação humanitária;
• a salvaguarda e a proteção dos direitos do homem;
• a paz e a fraternidade no mundo e entre os povos.
Neste sentido, o CIRCES organiza campanhas, conferências, seminários e ações
diretas de solidariedade junto aos necessitados.
ESTRUTURAS
233
Cronologia de Raymond Bernard
(19 Mai 1923 - 10 Jan 2006)
99
Fonte: http://www.fghoche.com/verites/chronobio.html
234
Outubro 1972: Raymond Bernard demitiu-se da ORT. Qualquer ligação entre a ORT e a
AMORC é oficialmente e permanentemente cortada.
Outubro 1973: Fundação da OVDT (Ordre des Veilleurs du Temple) por L. Metche e B.
Damman, ex-membros da AMORC e da ORT.
Março 1976: Fundação por Noel R. Pais e Jean-Marie do CTSG (Círculo do Templo e do
Santo Graal).
12 jan 1987: Morte de Ralph M. Lewis. Eleição de Gary Stewart como terceiro
Imperator da AMORC.
1978: cisão dentro da OSTS. Criação da OTC (Ordem do Templo Cósmico).
Dezembro 1978: Fundação do FJRT (Fraternidade Joanita para Ressurgimento
Templário), com o J.M. Parent e R. Facon.
Verão 1984: Fundação por Luc Jouret da Ordem TS (Ordre Tradition Solaire - Ordem
Tradição Solar). Cisão com a ORT.
final de 1984: Fundação da OCTCND (Ordre des Chevaliers du Temple du Christ et de
Notre-Dame - Ordem dos Cavaleiros do Templo de Cristo e de Nossa
Senhora).
1988: Raymond Bernard funda o CIRCES (Cercle International de Recherches
Culturelles et Spirituelles - Círculo Internacional para a Pesquisa Cultural e
Espiritual) e a OSTI (Ordre Souverain du Temple Initiatique - Ordem
Soberana do Templo Iniciático).
1990: A OCITS altera o nome para OTS (Ordem do Templo Solar).
Abril 1991: demissão de Gary Stewart como Imperator da AMORC. Eleição de Christian
Bernard como quarto Imperator da AMORC.
Outubro de 1993: fusão da OSTI e do CIRCES sob a denominação de OSTI.
Maio de 1997: Raymond Bernard, aos 74 anos, deixa suas funções dentro da OSTI. Y.
Jayet foi eleita Grande-Mestre.
235
O CIRCES
236
delas. Entre os deveres de um membro do CIRCES figura, pelo contrário, o
comprometimento e a vontade de considerar em todo momento só os aspectos
positivos destes movimentos, que continuam na nossa época trabalhando para a
melhoria e a evoluçao do homem, e que o fazem segundo métodos ancestrais sob
orientação daqueles que tem se consagrado à suas obras. Eles sabem melhor do que
ninguém ou, pelo menos melhor do que aqueles que não assumem suas
responsabilidades, o que é necessário para continuá—las. Os membros do CIRCES não
podem ditar regras de justiça nem formular juízos egotistas. Agora, mesmo que seu
presidente honorário seja o mais alto dirigente de uma grande Fraternidade
Tradicional Mundial, o CIRCES é estritamente independente de qualquer outro
movimento ou organização. Contando que tenha ficado claro o que nós não somos no
CIRCES para não precisar voltar atrás, é importante agora explicar com a mesma
clareza aquilo que somos, e quais são os nossos objetivos e atividades. As explicações
que seguem não podem ser mais que incompletas e sucintas, considerada a vastidão
dos terrenos que o CIRCES abarca e o constante surgimento de novas possibilidades,
mas indicar algumas direções pode ser
útil.
O CIRCES é um Círculo
Internacional. Dito de outra forma, ele
se abre ao mundo inteiro, e vai se
ramificando progressivamente em todos
os países. Isto, naturalmente, levará
tempo, se bem que o entusiasmo e o
dinamismo podem reduzir
consideravelmente os prazos previstos.
Em qualquer caso, este primeiro ponto
mostra que pertencer ao CIRCES
significa pertencer à um círculo de
pesquisadores em todo o mundo, o que
abre a possibilidade para um membro,
seja no quadro do CIRCES ou
pessoalmente, de constatar com outros
membros de qualquer país, se quiser. É
aí que o termo “internacional” é
fundamental, pois confere ao CIRCES um
caráter de universalidade.
237
seu país, em sua região, em sua cidade. Você deverá então estar aberto a tudo e
segundo a célebre fórmula: "Nada daquilo que é humano lhes será estranho", é
evidente que cada membro do CIRCES se interessará por algum aspecto da Cultura ou
da busca espiritual, seja esta Música, Pintura, Literatura, História, Geografia, Cura
medicinal, Saúde, Religião, Filosofia, Ciências Conjeturais, etc. E esta enumeração é só
uma ínfima parte desse vasto domínio. A integração ao CIRCES levará cada membro a
aprofundar-se no aspecto que lhe seja mais afim sem, contudo, ignorar os demais que
vão atrair outros membros e é aí que entra a cumprir o seu rol a sede do CIRCES: Nas
“cartas” trimestrais serão tratados diversos assuntos e devo assinalar que serei eu
quem as escreverá, função que assumirei durante todo tempo que me seja possível.
São esses assuntos, essas observações e conclusões das quais falarei nas "cartas" as
que, dentro da busca pessoal, lhes servirão de guia, enquanto vocês recebem muita
informação interessante, que talvez não conhecesse em detalhes por estarem presos
aos problemas cotidianos do mundo material.
238
empreende sua tarefa. Você vai contribuir individualmente, tanto quanto seja a
contribuição para com você e, se me permite dizer-lhe, tanto quanto meus esforços
me possibilitem, para dar a você minha própria contribuição. Posteriormente serão
Previstas reuniões culturais, encontros mais ou menos importantes em número, e
juntos conseguiremos o que o CIRCES espera de nós, para dar-nos da nossa parte cada
vez mais. Vamos, pois, construir, e aqueles que virão mais tarde compreenderão o que
esses primeiros esforços significaram para uma obra imensa, de um interesse
prodigioso, simultaneamente coletivo e individual, uma obra para nosso tempo, para
os novos tempos.
Eis aqui tudo o que eu posso explicar por enquanto, mas tenho a certeza de que
você sente no fundo a importância do que é o CIRCES, e daquilo que ele será, daquilo
que ele deve ser.
CIRCES
CENTRE INTERNACIONAL DE RECHERCHES
CULTURELLES ET SPIRITUELLES
56, Rue Gambetta
94190 - VILLENEUVE-SAINT-GEORGES
Sinceramente seu,
Raymond Bernard
Nota do CIRCES: As "Cartas" periódicas que são enviadas aos membros levarão até eles
explicações e tudo quanto é preciso para afiliação eficaz e benéfica.
239
Raymond Bernard: A Propósito do C I R C E S100
Pelos anos 1939-1940, ou seja, no período em que a Ordem Rosacruz não podia
continuar existindo por causa das proibições da época, Raymond Bernard iniciou-se
nos ensinamentos da Ordem por
intermédio de uma inglesa
refugiada na sua cidade natal dos
Alpes. A sua progressão nos
domínios iniciatórios foi tão
brilhante que ele foi nomeado
Grande Mestre em 1956, após sua
antecessora, Jeanne Guesdon. Dez
Anos mais tarde, ele foi nomeado
Legado Supremo, função que
cumpriu junto com a de Grande
Mestre até 1977, data da qual foi
sucedido por Christian Bernard. Ele
foi desta forma, um dos cinco
membros do Ofício Supremo
Mundial da AMORC. Em 1986 ele
decidiu se retirar das suas funções
no seio da Ordem, mas ficou como
conselheiro pessoal do Imperator
M. Gary Stewart, Raymond
Bernard fundou o Círculo Internacional de Pesquisas Culturais e Espirituais (CIRCES), do
qual é hoje o presidente efetivo.
240
quantidade incrível de correspondência. Talvez pelo fato de estar mais receptivo às
perguntas implícitas, constatei que todas aquelas pessoas começavam a sentir-se
pouco a vontade nas instituições já existentes, e que estavam aspirando a alguma
coisa nova. Em agosto de 1987 eu tive a ideia de criar um movimento que fosse
adaptado ao mundo de hoje e às circunstâncias totalmente particulares que a gente
vive atualmente. Me parece evidente que precisamos de quadros de expressão
diferentes daqueles que já existem, sem necessariamente entrar em contradição com
eles. Tem sido pois, os acontecimentos e Gary Stewart, o Imperator dos Rosacruzes, os
que me impulsionaram para criar o CIRCES.
E. P.: Porque você tem preferido definir o CIRCES como um Círculo ao invés de
defini-lo como um centro?
241
R. B.: Um centro sugere mais a imagem de um lugar, de um ponto do qual
partem informações, linhas diretrizes e ensinamentos. A noção de Círculo é muito mais
abrangente e permite introduzir uma quantidade de elementos nos quais está
compreendida a infinidade de pequenos círculos que os compõem ou seja, as
comissões e os atelieres .
R. B.: Sim, mas eles permitem examinar também uma quantidade de outros
problemas. No que se refere à Cultura, ela tem sido com frequência considerada como
uma aquisição permanente, porém tem sido deixada de lado pelos historiadores -
salvo aqueles que são especializados - ou por outros pesquisadores. E, além disso, se
encerra a Cultura em esquemas rígidos que não deixam espaço a imaginação e a
evolução. No CIRCES nós tentamos encontrar, cuidar e preservar os conhecimentos
particulares, considerando essas pesquisas dentro de uma perspectiva de construção
do futuro.
R. B.: Ela alcança todos os campos, sem tabus, dentro do respeito a todas as
religiões, a todas as Ordens tradicionais e a todas as expressões do pensamento. Seja
qual for a sua forma. Nós absorvemos o conhecimento de uma pessoa a partir de sua
experiência e sem nenhum preconceito, porque cada um de nós constitui a expressão
particular do conhecimento global, e esta expressão pode ser de utilidade para muitas
outras pessoas. As buscas espirituais vão assim se orientar nos terrenos práticos,
porque se pode evidentemente, fazer teses sobre o conhecimentos daqui até o
infinito, mas é preciso também saber tirar proveito deles com aplicação adaptada ao
mundo atual. As aplicações que já começam a emergir parecem verdadeiramente se
encaminhar no sentido de um mundo novo. Basta olhar a que velocidade o nosso
mundo está se transformando... Tentar manter antigas ideias na Cultura ou na
Espiritualidade é algo respeitável, mas isso está ruindo por todos os lados, e todas as
formas arcaicas, incluídas as instituições, vão a caminho do desaparecimento...
R. B.: Mesmo que elas tentem considerar os fatos, as religiões têm dificuldade de
se adaptar porque têm se esforçado durante muito tempo a ajustar o mundo a
doutrina. Por outro lado, sendo o seu objetivo oferecer o Paraiso, elas situam a
esperança do outro lado... No que se refere às organizações tradicionais, estas se
empenham em desenvolver a Iniciação, o Eu interior, e a realidade de ser.
Lamentavelmente, viver num circuito fechado convida a se recolher dentro de si
mesmo e a esquecer de doar-se. Afinal, tanto nas religiões como nas organizações, as
242
pessoas desenvolvem uma forte propensão a passividade. O CIRCES não quer impor
uma doutrina nem oferecer o Paraiso, mas convidar para ação e pedir às pessoas que
tem recebido muito doar mais de si mesmas.
E. P.: Apesar de sua curta existência, O CIRCES parece manter uma atividade
intensa...
R. B.: Sim, desde o mês de março passado, perto de 1800 membros têm se unido
a nós, ficando repartidos em atelieres de 19 pessoas. Em Paris, por exemplo, já existe
um Círculo composto por 36 atelieres! E já que um dos lemas do CIRCES é: "Nada
daquilo que é humano lhes será estranho", nós trabalhamos em cima de assuntos tão
diversos como a Ecologia, as Artes, a Ciência, a Medicina (sob todas suas formas), a
Economia, os Direitos e Deveres do homem ou a consciência mundial, só para citar
alguns exemplos. Há alguns comitês atuando no trabalho de campo para ajudar as
pessoas em sua vida pessoal, se possível materialmente, ou contribuindo a dar-lhes
conforto e apoio.
R. B.: Certamente, visto que temos procurado criar um Círculo o mais vasto
possível! Para nosso país existe um Conselho Nacional formado por 19 pessoas, cada
uma com uma responsabilidade diferente... Porque eu não estou sozinho! Eu lancei a
ideia, mas imediatamente me vi rodeado de pessoas que podiam ocupar-se de tudo
com total liberdade. Em cada país há um chanceler, e esse é o único título outorgado,
pois não queremos criar uma organização pomposa. Este é um estado de espírito que
se reflete em cada um dos nossos atos. É a mesma coisa em relação às questões
financeiras, que ocupam um lugar secundário, há naturalmente uma cotização
nominal, mas não exigimos taxas de inscrição para os encontros. Tudo funciona na
base da beneficência absoluta. Se os responsáveis têm de viajar, os gastos de
transporte são por conta deles. Desta forma o movimento levará mais tempo para se
estabelecer, mas se faz questão de não ter o dinheiro como base.
E. P.: Qualquer um pode-se integrar ao CIRCES não importando qual seja sua
opinião?
R. B.: Sim, claro, a maioria dos membros que chegam até nós já possuem ideias
pessoais baseadas na formação que eles receberam antes, seja por eles mesmos ou
pelo mundo - mais fechado - da tradição. Há, desta forma, universitários que
encontram aqui um veículo para expressar livremente suas ideias, e pessoas que não
são universitários, mas que se preocupam com algum assunto. Tenho de confessar que
é a primeira vez na minha vida que eu vejo um movimento reunir tantas pessoas com
ideias diversas, frequentemente muito avançadas, que elas carregavam consigo
243
durante muito tempo sem poder exteriorizar por falta de possibilidades. Elas
encontram finalmente um meio de trabalhar e fazer alguma coisa que seja útil à
humanidade como conjunto. E o fazem gratuitamente... É uma forma de Karma-Yoga,
ou seja, elas prestam serviço sem se preocupar com o resultado de sua ação. Para mim
é muito estimulante ver estes jovens trabalhar com tanto entusiasmo pela causa
humana, pois são eles os que representam os novos tempos...
244
que o realizam. Todos eles têm o desejo de construir uma grande obra plenária com
novos meios, não somente para o nosso tempo, mas para uma nova era.
Organização e Objetivos
- cada oficina, num âmbito local, trabalha sobre um tema particular em ligação
com os assuntos supracitados. Este trabalho comporta duas fases essenciais - estudo e
reflexão sobre o tema escolhido, num primeiro momento, com a colocação em prática
desse estudo, num segundo momento.
245
- quanto às comissões, elas trabalham num âmbito nacional; sintetizam os
trabalhos que emanam das oficinas e tratam de assuntos conexos, difundindo-os ao
conjunto dos membros.
É durante este prazo que cada um faz, de certa forma, sua provação. Deve-se, no
entanto, destacar que todos os membros do CIRCES beneficiar-se-ão, desde o início de
sua filiação, do trabalho espiritual efetuado em seu favor, pelos que compõem o
Círculo Interno.
O Círculo Exterior, composto das Sinaxes, das Oficinas e das Comissões funciona
permanentemente, mas uma duração mínima de três anos de Presença dentro dos
círculos é um requisito para aceder aos Círculos Interiores. No curso deste período, o
circeano efetua seu trabalho no seio das Oficinas, posto que recebe neste meio a
comunicação mensal do Grande Chanceler (33 comunicações - 11 por ano). Estas
comunicações são a linha condutora deste período, permitindo-lhe, de sua parte a
integração ao código moral e de seu trabalho pessoal dentro do cotidiano da vida
circeana, e sua harmonização com a essência mesma do CIRCES.
Além desses três anos, ele poderá pertencer e solicitar os trabalhos das Oficinas.
Ele receberá então, não mais a comunicação mensal, mas certos trabalhos publicados
pelas Comissões.
246
Terceiro ciclo: O.U.M. - Ordem Universal de Melquisedeque.
O segundo ciclo se apresenta como uma Escola Pitagórica, possuindo três graus
distintos:
247
A entrada dentro desta ordem templária se faz no curso de um ritual de
recepção de um Cavaleiro, de inspiração templária. Por todos os membros admitidos,
é tratado então, dentro do ciclo preliminar, de se preparar um espírito cavaleiresco
que sustenta a Escola Pitagórica e a Ordem Pitagórica Internacional.
- a Ordem do Templo;
- o espírito cavalheiresco;
- os símbolos templários;
1º grau - reflexão/concentração.
2º grau - meditação/contemplação.
3º grau - absorção/fusão.
248
A entrada dentro desta Escola Pitagórica se faz com um ritual de passagem.
- práticas e ensinamentos orais, de uma parte, que por seu aspecto de revelação,
conduzirá o estudante em harmonia com esta corrente de pensamento: apresentação
de uma técnica simples e gradual, válida e harmoniosa, da abertura e comunicação
com os planos superiores; apresentação das diferentes correntes tradicionais a partir
de arquivos secretos ou do trabalho das Comissões;
249
enquanto faz este trabalho, mas não poderá participar de nenhuma atividade
ritualística. Depois da apresentação de seu trabalho, com a aprovação do Conselho, o
estudante é então integrado nas Câmaras de Meditação.
Cada uma destas câmaras é articulada em redor das tradições particulares ou das
vias de realização emanadas das 12 Mansões. A finalidade de uma câmara é de:
- Após um trabalho específico sobre cada tradição efetuado dentro das Câmaras
de Meditação, o estudante é levado a experimentar uma aproximação mais unitária no
seio das Câmaras da Unidade, última etapa deste segundo ciclo, vários temas
particulares (Paz, Amor, Alegria) aí são evocados conforme são partes das tradições
estudadas dentro das Câmaras de Meditação. Um ritual da Unidade abre e encerra os
trabalhos destas câmaras o qual forma uma câmara intermediária correspondente a
Sefira XXXX dentro da árvore sefirótica.
O trabalho deste grau é feito dentro das Células da Epifania. Ele é acessível aos
estudantes dos dois outros graus com decisão do Conselho. Neste estado, o estudante,
além de toda a forma e de toda a técnica, tem a possibilidade de transcender (como
faz a 19ª Lamina do Tarô) além da Palavra Perdida segundo as aspirações de seu ser
profundo. O trabalho destas células se faz sob a égide da Câmara da Epifania.
250
Neste plano, domínio da graça pura, o estudante poderá experimentar a
liberdade total do seu ser interior. Por abandono à providência divina, ele poderá
provar da penhora e da descida do campo de força e "aguardar a vinda do Espírito". É
como uma prece arrebatando a um novo grau de percepção.
251
252
253
Gary L. Stewart (1953)
Atualmente, a Ordem Martinista Britânica está ativa nos países de língua inglesa,
em Gana e no Brasil. As demais organizações estão ativas nos Estados Unidos, Reino
Unido, Gana, Brasil, Austrália e em outros países.
Questões Legais
254
Stewart respondeu alegando que todas as transações bancárias haviam sido
feitas adequadamente e toda documentação, incluindo a decisão corporativa para se
fazer o empréstimo, havia sido devidamente assinada pelos diretores adequados. A
alegação de Stewart foi apoiada pelo Silicon Valley Bank. Adicionalmente, Stewart
moveu uma reconvenção que incluía alegações de malversação financeira e de
desfalque por parte de vários outros diretores. Em dezembro de 1991, Stewart
solicitou a retirada de toda sua reconvenção em seu prejuízo (o que significa que ele
não pode propor tal ação novamente) e ela foi oficialmente retirada em 7 de janeiro
de 1992.
Stewart foi também processado em 1992 por Maynard Law Offices por quebra
de contrato (Caso nº. 1-92-CV-720163, Maynard Law Offices-Vs-Stewart), pois estava
impossibilitado de pagar os honorários advocatícios. A questão foi resolvida por
conciliação naquele mesmo ano.
255
Imperators da AMORC:
Harvey Spencer Lewis (1909 - 1939)
Ralph Maxwell Lewis (1939 - 1987)
Gary L. Stewart (1987 - 1990)
Christian Bernard (1990 - presente)
256
257
Ordem Rosacruz, AMORC versus Gary L. Stewart
por J. C. Boscolo
Os membros mais antigos da AMORC sabem que 1990, alguns fatos aconteceram
e o então Imperator Gary L. Stewart foi afastado sendo substituído pelo atual
Imperator Christian Bernad que permanece até hoje.
258
A declaração também afirmava que duas outras eleições haviam ocorrido. Cecil
A. Poole reassumiu a Vice-Presidência da Suprema Grande Loja e Christian Bernard foi
eleito membro da Diretoria da Suprema Grande Loja no ofício de Supremo Legado.
“Tudo ocorreu como planejado e, numa cerimônia mística solene, Gary L. Stewart
foi devidamente instalado na ocasião e no local designados como Imperator da Ordem
Rosacruz, AMORC.”
23 de outubro de 1993.
PARA: Comendadorias da Ordem da Milícia Crucífera Evangélica (O.M.C.E.)
Lojas e Capítulos da Confraternidade Rosae Crucis (CR+C)
DE: Gary L. Stewart, Cavaleiro Comandante e Imperator
Ref.: Declaração
INSTRUÇÕES: Para ser lida aos membros reunidos, antes ou após o Trabalho
Ritualístico. Cópias desta carta podem ser distribuídas aos membros presentes que a
solicitarem. Embora esta não seja uma declaração confidencial, não a estarei
difundindo entre os membros em geral nem deve ela ser publicada em qualquer
boletim.
259
importante para degradar-se em função de nosso envolvimento na sujeira de um
processo civil de uma Corporação. Por que travar batalhas com indivíduos que nem
mesmo compreendem a guerra? Com pessoas que persistem na publicação de
propaganda enganosa? Temos apenas um propósito, que é o de Servir à Luz da
Verdade!
Outros preferiram defender suas ações; mas a que preço? Não são a mentira, a
falsificação e a deturpação da verdade as marcas das trevas da ignorância? Felizmente,
no tocante a esta situação, os seguidores de tais procedimentos são a minoria. Mas o
que essa minoria conseguiu? Nada além de enfraquecer uma entidade e torná-la
vulnerável aos abutres que não têm outro propósito a não ser o de se lançar como
aves de rapina sobre os fracos, e que se identificaram com o propósito declarado de
destruir por vingança. Os abutres aos quais me refiro são aquela entidade que professa
estar “servindo aos ideais do movimento Rosa-Cruz”.
Essas Crônicas não valem o tempo gasto para lê-las, e certamente não refletem o
pensamento Rosa-Cruz de forma nenhuma. Eu quebrei meu silêncio e ao fazê-lo, rogo
para que os leitores desta carta mantenham sua concentração na realização do
Trabalho Espiritual, e se recusem a ser perturbados pela emotividade, envolvendo-se
em qualquer outra coisa que não seja a pureza de seu próprio Trabalho. Não censurem
nem briguem com a AMORC ou com seus assinantes por causa dos atos de uns poucos.
Aquela entidade precisa se curar e explorar as possibilidades de sua nova estrutura e
novo propósito declarados. Não se rebaixem tornando-se envolvidos nas ações
professadas pelas “Crônicas Rosa-Cruzes”.
260
foram favoráveis à AMORC e incluíram o recebimento de fundos do Silicon Valley Bank
e de vários outros acusados”. Ela declara, e nos leva a crer, que o acordo entre mim e a
AMORC fora feito sob uma cláusula de confidencialidade e um manto de sigilo. Não o
foi. Tanto eu quanto a AMORC estamos realmente livres para divulgar toda e qualquer
informação relacionada ao nosso acordo. Quanto aos boatos gerados por sua
declaração de que a AMORC recebera dinheiro de mim como resultado de nosso
acordo, são uma inverdade. Nada paguei à AMORC ou a quem quer que fosse,
indivíduo ou entidade, com relação ao processo ou ao que foi acordado.
Terceiro: quero deixar claro que não busquei um acordo com a AMORC. Eles me
pediram um acordo e, tanto quanto eu saiba, a todas as outras partes no processo.
261
f) Novembro de 1991: instruo meu advogado a desistir de minha reconvenção
inativa contra a AMORC.
g) 07 de janeiro de 1992: Efetiva-se a desistência de minha reconvenção em
meu prejuízo (a favor da AMORC).
h) Fevereiro de 1993: tomei conhecimento de que a AMORC e o Silicon Valley
Bank entraram em acordo. A AMORC desistiu de sua queixa contra o banco e o banco
desistiu de sua reconvenção contra a AMORC de conspiração e fraude. (Nota: em
1990, Donna O’Neill escreveu que a AMORC pagara US$ 600.000 de taxa de
empréstimo ao banco, embora toda a questão ainda estivesse em litígio e
tecnicamente não devesse ter sido paga). Knutson agora escreve que a AMORC
recebeu dinheiro do banco como resultado do acordo entre eles. De acordo com os
documentos do Tribunal, a quantia paga à AMORC foi de US$ 290.000 — US$ 310.000
a menos do que a AMORC lhes tinha pagado em 1990!
i) Em março de 1993, descubro que o julgamento deste caso está marcado
para 14 de junho de 1993.
j) Em maio de 1993, sou contatado pela firma de advocacia de San Francisco,
Wallace B. Adams, que representa a “Insurance Company of North America” (INA), a
quem a Suprema
Grande Loja (SLG),
AMORC Inc.
requereu, em
outubro de 1990,
pagamento de
seguro. Eu jamais
ouvira falar dessa
companhia. Uma
vez que a carta de
Knutson afirma:
“… companhias
seguradoras”,
assumo que a
AMORC tivesse
mais de uma. A
firma de advocacia me mandou uma passagem de avião em maio de 1993, e passei
dois dias discutindo com eles o processo. Enquanto lá estive vi, pela primeira vez, três
documentos cruciais que nunca havia visto antes:
Uma apólice de seguro de responsabilidade criminal contra mim pela AMORC
em maio de 1989;
Outra apólice de seguro de responsabilidade criminal contra mim em outubro
de 1989. Ambas as apólices tinham validade de um ano. (Eu desconhecia qualquer
uma das apólices); e III. Um documento de confirmação por telex enviado a Burnam
Schaa pela firma de Dean Whitter, confirmando que eles haviam enviado por telex a
soma de US$ 250.000 para Pittsburgh em fevereiro de 1990, conforme instruções de
Schaa. (Muitos de vocês devem se lembrar de minha alegação que, não somente não
autorizei a transferência daquela quantia, como nem ao menos dela sabia a não ser
semanas mais tarde. Schaa declarou sob juramento que não autorizara a
transferência.).
262
No que Irving Söderlund, em nome da SGL, AMORC Inc., requereu o pagamento
do seguro em outubro de 1990, no montante de US$ 300.000, por “atos desonestos e
fraudulentos de Gary L. Stewart e Nelson Harrison…” com referência à transferência de
US$ 250.000 (feita por Schaa) e uma transferência de US$ 500.000 (que realmente
autorizei), a companhia de seguros começou a questionar a “honestidade” da
reivindicação.
Respondi através de um fax com quinze itens. Entre outras coisas, declarei que
estava pronto para ir a julgamento, que não pagaria nenhuma quantia à AMORC, que a
AMORC deveria pagar os honorários de meu advogado e que meus três anos de
salários não pagos fossem aplicados como se segue:
50% a serem utilizados para o desenvolvimento da AMORC em Gana;
25% a serem utilizados para o desenvolvimento da AMORC na Nigéria; e
25% para aquisições para o Museu Egípcio Rosacruz.
263
Em 7 de junho de 1993, os advogados da AMORC me telefonaram com uma
contraproposta na qual cada um seguisse seu caminho, pagasse as custas dos próprios
advogados e não reivindicasse culpa ou responsabilidade à outra parte. Concordei em
princípio.
Além disso, eu entendia que a AMORC era agora uma Corporação Canadense,
como ela havia anunciado. Assim sendo, eu queria esse ponto esclarecido.
Também declarei que a remoção da SGL, AMORC Inc. para o Canadá era, no meu
entender, uma violação da ordem restritiva relacionada à ação que a AMORC movera
contra mim e objetei que ninguém fora notificado, muito menos os tribunais. Mais
ainda, declarei que nenhuma moção fora feita ante as cortes nomeando a Grande Loja
Inglesa como sucessora legal e, subsequentemente, a despeito do que possa ter sido
pretendido, eu não faria nenhum acordo com uma Corporação que nem mesmo existia
na época do início do processo. Finalmente, declarei que não assinaria nenhum acordo
identificando a SGL, AMORC Inc. como uma Corporação da Califórnia. Eu acrescentei a
palavra “Canadense”.
264
Como só recebi a carta deles, datada de 9 de julho de 1993, em 25 de julho,
devido a um erro tipográfico que eles cometeram no meu endereço, eu a respondi em
28 de julho de 1993, afirmando: “Entendo, pelo seu segundo parágrafo que a entidade
com a qual estou atualmente negociando e que iniciou este processo é a SGL, AMORC
Inc., a qual era uma Corporação da Califórnia em abril de 1990, e depois se tornou uma
Corporação Canadense em janeiro de 1991… se os senhores puderem… me garantir
que tal remoção (“da Califórnia” ou “Canadense”) é apropriada perante a corte, não
farei objeções.”
Sua carta de 2 de agosto de 1993 me garantiu que tal remoção era apropriada e
com esse entendimento, concordei com o comunicado mútuo.
l) Em 10 de agosto de 1993, a AMORC abandonou sua ação contra mim em seu
prejuízo (a meu favor). Os termos da conclusão são muito simples.
Nenhum dinheiro foi trocado, ninguém reivindica culpa ou responsabilidade e
ninguém admite qualquer transgressão ou má ação.
Estou satisfeito que meu Ofício tenha mantido essa integridade a despeito dos
ataques de seus inimigos.
Fonte: http://jcboscolo.blogspot.com.br/
265
A Confraternidade da Rosa+Cruz (CR+C)
Ela está ativa nos Estados Unidos, Reino Unido, Gana, Brasil, Austrália e em
outros países.
266
sua função e/ou identidade, com relação ao Trabalho que fazem. Na minha opinião,
qualquer um que tente declarar-se como sendo a autêntica ou genuína Ordem Rosa-
Cruz, excluindo qualquer um ou todos os outros, está tristemente carecendo de
perspicácia histórica.
267
foram passadas para mim. Como muitos estão cientes, o Rosacrucianismo da AMORC
passou por um certo tumulto que começou em 1990. Naquela época, eles embarcaram
em seu próprio caminho, que se desviou tremendamente do Caminho e da Linhagem
iniciais que eu estava encarregado de trabalhar. A CR+C foi formada para preservar
aquela linhagem particular e para tornar disponíveis, em sua forma pura, os
ensinamentos iniciais da R+C como foram apresentados originalmente.
Quanto aos objetivos da CR+C, bem… deixe-me dizer que desde a nossa
formação, em 1996, embarcamos em um programa meticuloso de preparação para
que cada Rosa-Cruz individualmente chegue a um ponto em que aqueles que escolham
possam ajudar a CR+C a começar uma nova era de manifestação de acordo com as
Regras e Códigos da R+C, conforme estabelecidas no século XVII. Haverá um encontro
de todos os Illuminati da CR+C em nossa Convenção Norte-Americana em abril de 2003
para discutir e decidir este assunto. Esses encontros continuarão pelo resto do ano em
Convenções em outras jurisdições, após os quais será feita uma declaração sobre a
direção e os objetivos futuros da CR+C. O que direi agora sobre isso é que
continuaremos a perpetuar as Regras apresentadas no Fama Fraternitatis, mas iremos
adaptá-las ao século XXI, de acordo com a tradição.
268
nunca a seguir a liderança de outro à exclusão pela perda da própria identidade e das
metas pessoais; não diz respeito a recitar doutrinações dogmáticas; nem a nada que
possa ser ofensivo às sensibilidades próprias de cada um. Em resumo, o
Rosacrucianismo diz respeito à Verdade e a Verdade por sua própria natureza diz
respeitoà liberdade — uma liberdade responsável, mas liberdade, apesar de tudo.
Então, deveria, ou melhor deve ser deixado a cargo do indivíduo encontrar uma
organização ou linhagem Rosa-Cruz que melhor se adapte a suas própria
personalidade, interesses e intenções. Em minha opinião, uma busca não deveria ser
de outra forma. Há várias boas organizações lá fora e encorajo qualquer um que esteja
procurando se tornar um Rosa-Cruz a aprender o máximo possível sobre cada uma em
que esteja interessado. Se as respostas procuradas não estiverem prontamente
disponíveis , então o buscador deveria perguntar — e esperar uma resposta
apropriada.
Por suas ações e obras. Se aquelas ações e obras forem compatíveis com o
espírito do Rosacrucianismo, então aquele que conscientemente escolheu se tornar
um Rosa-Cruz pode ser identificado como sendo um.
269
Eles realmente incluem uma quantidade enorme de exercícios e experimentos para
ajudar a alcançar aquelas metas, assim como muitas sugestões que podem ser de
ajuda, mas o que deve ser compreendido é que a melhor ferramenta de aprendizagem
do Rosa-Cruz é aquela da autoconfiança e é nesse espírito que os ensinamentos da
CR+C são escritos e apresentados.
Quanto ao futuro, como disse, haverá logo uma outra adaptação, mas ainda de
acordo com nossas Regras iniciais, como expressado em nossos Manifestos de
fundação do século XVII.
270
P: O senhor acredita que a geração de hoje do Rosacrucianismo vive à altura
dessa virtude de adaptabilidade e assim consegue lidar com os desafios de nossos
tempos?
Eu só posso falar com autoridade pela CR+C e, nesse caso, sim, muito
definitivamente. É minha opinião que em muitos outros grupos R+C dos quais estou
ciente, que alguns deles também são bastante adaptáveis. Com isso dito, também
acho que há algumas organizações que estão criando problemas desnecessários para si
mesmas e, portanto, provavelmente não se qualificariam a esse respeito, mas isso não
é realmente para eu comentar.
271
Uma tentativa de resolver a disputa Clymer e as muitas outras ações
judiciais em que a AMORC esteve envolvida de 1918 a 1939.
Seja como for, não acho que a Tradição Rosa-Cruz ou qualquer tradição esotérica
para esse propósito precise de autenticação da forma como foi sugerida. Uma vez
mais, meça o valor de uma Ordem por suas obras e confie na epistemologia e nos
métodos do caminho esotérico para expressar sua história e linhagem acima da
produção de cartas-patente e documentos de fundação. O assunto lida com dois
mundos completamente diferentes. Por que comprometer um pelo outro?
Eu tendo a ver o Rosacrucianismo como um fio que tece seu caminho através da
história e para dentro do futuro. É como o véu da Natureza, sempre presente, mas
devendo-se ver através dele para se ver adequadamente. Nisso, mantém aquela
propriedade, sempre estará presente, mas algumas vezes escondido, esperando para
ser redescoberto. Mas quando descoberto, continua de onde parou. Seu futuro? Um
efeito muito profundo na humanidade, e não obstante sutil — justamente como no
passado.
AR: Quero agradecê-lo por seu tempo para dar esta entrevista. Creio que os
visitantes do site da CR+C se beneficiarão de seus pensamentos e percepções sobre o
Rosacrucianismo e sobre assuntos esotéricos em geral.
272
Qual é a linhagem da CR+C?
Nossa linhagem R+C remonta ao Dr. H. Spencer Lewis, que recebeu esta
linhagem na Europa. Existem outras linhagens R+C, originadas no cisma Rosa-Cruz do
século XVII, que estão sendo perpetuadas por diferentes organizações Rosa-Cruzes.
273
Stewart em seus adendos claramente indica o que aconteceu com uma monografia em
particular.)
274
da AMORC, de 1918 até sua morte em 1939. Esta é também a abordagem seguida pela
CR+C.
Este assunto é um tanto complicado e longo e deveria ser considerado com mais
foco. Eu recomendo fortemente que um pesquisador deva obter ambos os lados da
estória daqueles diretamente envolvidos e não confiar somente no que eu digo aqui.
275
O que é importante hoje é lembrar-se do Trabalho que todos os Rosa-Cruzes
foram encarregados de continuar. Na CR+C não estamos tão interessados com o que
aconteceu no passado, exceto em como isso afeta nosso Trabalho no presente e no
futuro. A forma como vemos isso é que se for para a nossa geração do
Rosacrucianismo atingir qualquer coisa, não podemos estar envolvidos em
mesquinhez.
Para fornecer uma resposta mais detalhada a essa pergunta podemos querer
começar com algumas reflexões sobre o Movimento Rosa-Cruz e a linhagem R+C da
AMORC (trazida por H. Spencer Lewis) e o papel do Imperator.
A linhagem R+C da AMORC foi nela introduzida por H. Spencer Lewis. Ele
escolheu e treinou seu filho Ralph, a quem transferiu a função de Imperator quando de
sua transição deste mundo em 1939. O Imperator Ralph Lewis então escolheu e
preparou Gary L. Stewart, e transferiu a função de Imperator para ele.
276
anos mais tarde eles desistiram da ação contra Gary L. Stewart e admitiram que ele
não era culpado de qualquer delito. Nesse meio tempo, eles alteraram a Constituição
da AMORC, cessaram de ser uma Ordem fraternal, dissolveram a entidade corporativa
da AMORC, que tinha existido desde 1927, reincorporaram no Canadá como uma nova
entidade e formaram uma nova corporação na Califórnia. Mais importante, eles
redefeniram o “Imperator” de ser o chefe tradicional de um Movimento Rosa+Cruz
para ser somente o presidente da nova corporação da AMORC. Então, a Diretoria
elegeu Christian Bernard como o novo Imperator da AMORC.
277
A crise dos Rosacruzes - O Cisma do S.E.T.I.
SETI - Sauvegarde des Enseignements Traditionnels et Initiatiques - Cénacle de la
Rose+Croix101
SETI - Salvaguarda dos Ensinamentos Tradicionais e Iniciáticos - Cenáculo da Rosa Cruz
101
http://www.crc-rose-croix.org/
278
Do artigo: "O Rosacrucianismo, um sistema único", escrito e publicado em 1931
por Harvey Spencer Lewis.
O SETI - Cenáculo da Rosa Cruz é uma organização Rosacruz que tem o objetivo
de salvaguardar e divulgar todo o trabalho realizado no início do século 20 por Harvey
Spencer Lewis.
Princípios gerais:
Nenhum membro
A organização, fora do seu Conselho Executivo, não possui membros nem
participantes no sentido usual desses termos. Podem se beneficiar dos serviços da
organização todos os homens e mulheres que expressam o simples desejo e que se
comprometam a respeitar a Carta que rege a operação. Eles são designados como
"cúmplices" no sentido etimológico da palavra que significa "pessoa a quem se tem
confiança”.
Nenhuma contribuição
Quaisquer que sejam os serviços oferecidos aos seus companheiros, a
organização não exige qualquer indenização ou aceita qualquer doação.
A "Loja Mãe"
Uma "Loja Mãe" foi criada na cidade de Limoges, para manter as cerimônias e
rituais rosacruzes. É aberta a todos os interessados, independentemente de onde
residam. O site pertence à Loja Mãe e servirá como uma ligação com todos aqueles
que querem descobrir a tradição Rosacruz.
De acordo com nosso estatuto, todos os nossos documentos são livres para
download em formato PDF, com a única reserva de que eles não serão objeto de
qualquer comercialização, qualquer que seja a sua forma. Para este fim, alguns dos
documentos estão sujeitos a direitos de autor (copyright©).
Todos esses documentos são os escritos originais de Harvey Spencer Lewis:
ensinamentos, rituais, iniciações, artigos, etc.
Histórico
279
Sua história tem, no entanto, sido agitada. Globalmente, tem sido afetada pelo
cisma do C.I.R.C.E.S. em 1988, e ao mesmo tempo sacudida por conflitos na parte
superior da hierarquia. Na França, estes desenvolvimentos têm levantado questões
que levaram para outro cisma, o do S.E.T.I.. Esta é a história dessa divisão:
Um contexto conturbado
O mal-estar na França
280
Em 6 de dezembro, os líderes da região de Poitou-Charentes102 da AMORC
tiveram uma entrevista com Raymond Bernard, fundador do CIRCES. Este último
assegurou-lhes que Christian foi manipulado pelos seus conselheiros, incluindo sua
esposa, Helene Lefort. Ele lhes deu o conhecimento de cartas escritas nos Estados
Unidos por membros da hierarquia esotérica que acusavam a Imperator Stewart de
peculato e de distorcer o ensinamento original da Ordem.
Na reunião em Limoges, os membros da hierarquia esotérica da região e os
oficiais das Lojas locais solicitaram ao Grande Conselheiro Jean-Pierre July para pedir
explicações ao Grande Mestre sobre o que estava acontecendo na sede mundial em
San José. Isso é o que ele tentou obter durante uma vã conversa por telefone em
janeiro de 1990. Após uma reunião realizada na Loja Agripa durante a qual foram
contestados o mercantilismo e a mudança dos ensinamentos, Jean-Pierre July
renunciou em 21 de janeiro de 1990; ele recebeu o apoio de três monitores regionais
da região de Poitou-Charentes e dos oficiais.
A reação de Christian Bernard foi rápida. A revisão dos documentos arquivados
em prefeituras francesas mostrava que a maioria, se não todos os organismos
afiliados, foram registrados como associações sem fins lucrativos, regidos pela lei de
1901, e uma pequena equipe liderou tudo a partir do castelo d'Omonville: Christian
Bernard era o Presidente de cada organismo afiliado. Com este título, ele enviou um
emissário para Limoges em 3 de fevereiro. No dia 17, se encontra com a Assembléia
Geral da Loja Agripa; os oficiais demissionários recusam-se a retomar as suas funções,
Christian Bernard decide dissolver o grupo. A Loja foi fechada em 19 de fevereiro. Os
três Monitores Regionais e o Conselheiro da Região de Auvergne foram excluídos da
Ordem. A Loja Agripa foi colocada para “dormir”. Em 5 de março, uma equipe veio de
d’Omonville para assumir o controle de todos os ativos da Loja dissolvida. Sob um
oficial de justiça forçam as portas das instalações da Loja Cornelius Agripa e confiscam
todos os móveis e acessórios, pacientemente acumulados pelos membros rosacruzes
de Limoges por anos. O encerramento da Loja e o confisco autoritário e arbitrário das
propriedades (contas bancárias e móveis) irá fortalecê-los em seu projeto. Membros
da Loja roubada de Limoges, enojados com tais métodos renunciam em massa,
seguidos por muitos na região. Uma petição foi assinada por 66 pessoas em protesto,
mas ficou sem sucesso.
Os excluídos, no seguimento, decidiram juntar-se em uma nova estrutura: o
S.E.T.I. (Salvaguarda dos Ensinamentos Tradicionais e Iniciáticos). Reunindo uma
centena de membros desde o início, o SETI distanciou-se desde o início da AMORC,
negando o princípio que os ensinamentos foram reservados para uma elite de
iniciados, e acentuando a falta de transparência da sua atividade financeira: no SETI
balanços são apresentados abertamente e todos podem participar livremente nas
operações financeiras da organização. Um dos primeiros eventos foi transmitido em 1
de junho de 1990, um panfleto, sobre a autocracia iluminada ou nepotismo cego em
que foram transmitidas informações relativas à deposição do Imperator Stewart.
Ao mesmo tempo, os fundadores do SETI tinham aprendido de documentos
norte-americanos a história do Rosacrucianismo e a origem dos ensinamentos; eles
ficaram mais conscientes das transformações destes entre 1950 e 1980, incluindo o
seu distanciamento gradual do cristianismo. O Conselho de Ética do SETI tomou a
decisão de publicar os ensinamentos originais de H. S. Lewis. Ao mesmo tempo, a
102
Poitou-Charentes é uma região administrativa do centro-oeste da França.
281
fundação americana das “Crônicas Rosacruzes” tinha contatado a nova organização
SETI. O cisma não se limitou às dimensões de uma divisão regional.
"Após a sua carta de 4 de março de 2003, não temos nada especial para falar
sobre o SETI, exceto que este movimento foi fundado por um ex-membro da AMORC,
depois que foi excluído por não-conformidade com as suas regras e propagação de
mentiras e calúnias. Ao contrário do que a atual liderança da SETI sugere dar
importância, este movimento não é um cisma, mas alguns membros dissidentes, como
acontece regularmente em muitas associações filosóficas, culturais ou outras. Para
justificar a existência de seu movimento e se promover os responsáveis pelo S.E.T.I. se
limitam a criticar e difamar a A.M.O.R.C., mas não deixam de plagiar a sua estrutura, o
seu funcionamento e o seu ensino".
282
nunca foram membros), e a evolução das lições: que - tendo sido uma das principais
causas da dissensão - possibilitará para o historiador destacar essas mudanças e avaliar
quão bem o SETI agiu.
283
Uma luta pelo poder
284
Em janeiro de 1988 uma nova explosão abala o pequeno mundo da Rosacruz:
Raymond Bernard anuncia oficialmente com grande alarde em sua revista favorita O
Mundo Incógnito (Le Monde Inconnu) a criação do CIRCES - Círculo Internacional de
Pesquisa Espiritual e Cultural. De fato Raymond Bernard criou uma divisão da AMORC,
cuja sigla CIRCES significava, para os iniciados, Círculo Interior da Rosa Cruz Esotérica e
Secreta (Cercle Intérieur de la Rose Croix Esotérique et Secrète). Em qualquer caso,
isto é o que sei dos parentes de Raymond Bernard, como o Grande Conselheiro da
região de Poitou Charentes, ocupando naquele momento uma posição estratégica
como Presidente da futura Convenção Geral dos países de língua francesa da
AMORC. Foi também durante este período que os futuros fundadores do SETI ouviram
pela primeira vez sobre a mudança dos ensinamentos desenvolvidos por Harvey
Spencer Lewis; eles rapidamente verificaram essa informação fornecida pelos parentes
de Raymond Bernard.
A criação do CIRCES causou problemas consideráveis na comunidade Rosacruz da
AMORC. A maioria dos membros franceses acolheu esta iniciativa com entusiasmo
(eles queriam Raymond Bernard como Imperator, e seriam capazes de superar sua
decepção) e, especialmente, como Gary L. Stewart é o primeiro Presidente Honorário
do movimento (isso remove todos os escrúpulos para aqueles que ainda os tem). É
certo que, quanto maior o entusiasmo, mais ele beira ao fanatismo e deixa menos
espaço para a reflexão ou a integridade. Os Executivos de Poitou Charentes não foram
exceção ao entusiasmo geral, e eles estavam prontos para se envolver com o mais
velho Bernard, particularmente porque o CIRCES tinha objetivos altruístas e uma
vocação "humanitária e universal”. No entanto, antes de tomar uma decisão nesta
área, dada a ambiguidade da situação no momento, o Grande Conselheiro propõe para
os Monitores Regionais a procurar o ponto de vista do Grande Mestre Christian
Bernard, ao qual juraram fidelidade como oficiais da Grande Loja. Perguntado pelo
Grande Conselheiro, Bernard filho apresenta claramente a sua oposição à criação do
CIRCES, e vai repetir isso publicamente na Convenção Regional de Aix les Bains, em
maio de 1988. O Grão-Mestre da jurisdição francesa de AMORC é oposição à criação
do CIRCES, e Jean Pierre July considera que os oficiais da Grande Loja não podem
aderir a este movimento enquanto permaneçam no cargo. Esta é a sua concepção de
fidelidade ao serviço, e independentemente de sua ligação com a personalidade de
Raymond Bernard, na época, não adere ao CIRCES. Note-se que, apesar dos apelos do
último, nunca aderiu. Ele pediu ao Monitor Regional da sua região para escolher entre
sua função ou o CIRCES. Ele acreditava que, como membros da AMORC, eles estavam
livres em seus engajamentos, mas não como oficiais. Um deles vai escolher o CIRCES e
renunciar ao seu mandato. Jacques Devaux e Jacques July mantem a sua confiança
para o Grão-Mestre, renunciando a atração do CIRCES. Foi necessário substituir o
demissionário Jean Louis Bourgeois para complementar a equipe de responsáveis
regionais.
285
Quaisquer que foram as crenças e o fervor dos Rosacruzes daquela época, todos
estes eventos começaram a pesar fortemente nos seus espíritos. As perguntas eram
cada vez mais numerosas. Gary L. Stewart, que era o Presidente Honorário do CIRCES,
retira o seu apoio ao movimento. Bernard pai e filho brigam nas notícias da revista O
Mundo Incógnito (Le Monde Inconnu) que definitivamente permanece inseparável da
saga amorquiana. Familiares de Raymond Bernard confirmam, para quem quiser ouvir,
a modificação dos ensinamentos originais da AMORC. Eles afirmam que Serge
Toussaint, que entrou na Ordem no início dos anos 80, foi o autor de profundas
mudanças e da alteração da mensagem da Rosacruz. Este nome era completamente
desconhecido naquela época para os membros da base, trabalhando nessa
transformação lenta e insidiosa da organização. Ele prepara, nas sombras do Grão-
Mestre e de sua esposa, o seu próprio advento.
Todos esses eventos ainda podem parecer ser pouco convincentes ao leitor do
século XXI. Mas entenda o que esta restauração causou interiormente aos membros da
AMORC, durante este período. Quando descobriram que no topo desta pirâmide de
ideais, diante de seus olhos, que a sua organização tinha um punhado de homens e
mulheres numa suja luta pelo poder. Muitos sinceros Rosacruzes, que pensaram que
tinham encontrado nesta grande fraternidade um refúgio seguro das torpezas deste
mundo, lentamente se tornaram cientes de que não era bem assim. No entanto, sem
cair na credulidade de seguidores fanáticos, ainda tinham o direito de esperar que não
seria pior do que no mundo dito "profano". Descobririam que há muito venalidade,
mentiras, manipulação e arbitrariedade que o quotidiano nos reserva.
O desenvolvimento do mercantilismo
286
A preparação desta reunião Rosacruz também levou as autoridades de Limoges a
entrar em contato com os organizadores das convenções anteriores da AMORC,
incluindo a de Paris, em 1987. Lá, em várias reuniões com os líderes de Paris, eles
descobriram com espanto os gastos extravagantes que foram realizados no Centro
Cultural de Paris, em instalações que só foram alugadas na época pela AMORC, na Rua
Saint Martin. Este estilo de vida contrastava, pelo menos, com os organismos afiliados
das províncias onde os membros, às vezes, tinham que fazer grandes sacrifícios
financeiros para garantir as atividades de seu organismo afiliado.
Apesar das embaraçosas explicações do Grande Mestre para justificar a "vitrine
parisiense" e da necessidade de introduzir no mercado uma série de produtos para
"satisfazer as necessidades dos membros" e "apoiar financeiramente as atividades da
Ordem" a dúvida tinha se instalado. Mas naquela época os Rosacruzes de Limoges
estavam convencidos da integridade do Grande Mestre, em vez de pensar que ele
estava sob a influência de uma comitiva sem escrúpulos que gradualmente infligia
novos rumos para a organização. Além disso, a Convenção de 1989 estava em
preparação, muitos compromissos oficiais haviam sido feitos (quartos, hotéis, vários
negócios, etc.) e era necessário assumir a responsabilidade local para a realização do
evento.
É a sua dedicação e o sentido de rigor na preparação deste evento que vai
justamente conduzir os organizadores de Limoges a muitas descobertas em sucessivas
decepções.
287
Além disso, muitos documentos foram impressos para a Convenção. Qual foi a
surpresa dos organizadores ao perceber que a impressão sugerida pela AMORC tinha
cotações de preços desde duas a três vezes mais elevadas do que os de impressão na
cidade de Limoges. No interesse de uma boa gestão de acordo com o orçamento, o
Grande Conselho propôs ao Grande Mestre para imprimir todos os documentos da
AMORC em Limoges. O último, para enganar, aprovou uma ordem simbólica de
algumas milhares de folhas em uma impressão de Limoges, enquanto o trabalho mais
lucrativo foi realizado na impressão preferida pelos líderes franceses da AMORC,
apesar das citações dos preços baixos de impressão em Limoges. Que interesse
poderia muito bem ter a associação a pagar mais para o trabalho de impressão?
Todos esses fatos e muitos outros definitivamente semearam a confusão nas
mentes dos membros e organizadores de Limoges, que, em seguida, perguntaram se
aqueles que dirigiam a administração francesa da AMORC estavam de acordo com os
objetivos e ideais defendidos pelos ensinamentos Rosacruzes, ideais estes que os
membros voluntários da Comissão Diretora da Convenção de 1989 passaram muitos
anos de suas vidas defendendo. Mas, considerando o compromisso de toda uma
região para organizar este evento, era impossível voltar atrás. Para que o líquido
coração, nós tivemos que deixar fora do evento e tentar mais tarde obter
esclarecimentos dos líderes da AMORC. En feitas coisas tomariam outro rumo e
esclarecer mais cedo do que agendada a critério de uma reunião.
288
Grande Mestre exibiu uma atitude individual mal educada e não agradeceu aos
organizadores ou seja, que completou regularmente durante este tipo de evento. Na
noite de sábado, 22 de julho do penúltimo dia da convenção, ele rapidamente deixa o
banquete oficial para evitar discussões com seus anfitriões. O paradoxo da história é
que à noite, o Presidente da Comissão Organizadora é convidado a participar, a pedido
de um ex-Grande Conselheiro de seus amigos, em uma conversa entre o último e o
enviado especial de Gary STEWART a Limoges, Ken O'Neill. Este antigo Grande
Conselheiro detém uma posição importante na administração fiscal, e expressou ao
enviado norte-americano sua preocupação sobre a gestão da AMORC na França nos
últimos anos. É provável que Ken O'Neill, que desencadear Gary STEWART depois
disso, nunca percebeu essa conversa e apenas Christian Bernard informado do
conteúdo das trocas com ele naquela noite. Isso explica o comportamento mais frio e
distante do Grande Mestre com os organizadores no último dia da Convenção. Desta
vez as suspeitas legítimas substituíram, pelo menos, dúvidas no que diz respeito aos
aspectos financeiros da deriva amorquienne. A Convenção é longa e temos de
aproveitar o balanço para interrogar o Grande Mestre dos novos rumos da AMORC.
Esta questão dos verdadeiros objetivos da organização, tinha sido abordada várias
vezes por telefone com Christian Bernard e até mesmo no relatório final da Convenção
1989, mas ficou sem resposta.
Um compromisso é feito com ele pela Comissão Organizadora para fazer um
balanço da convenção e a questão da confiança.
289
Datas Significativas da Reorganização Rosacruz de 1990
(AMORC, SETI, CIRCES, CRC)
1990 - Boatos de desvio de fundos da AMORC fazem com que Gary L. Stewart seja
afastado da AMORC, porém, mantendo seu cargo de Imperator.
Abril de 1991: Gary L. Stewart introduz o Ofício de Imperator na Ancient Rosae Crucis.
10/08/1993: a AMORC abandona sua ação contra Gary L. Stewart em seu prejuízo (a
favor de Gary L. Stewart). Os termos da conclusão são muito
290
simples. Nenhum dinheiro foi trocado, ninguém reivindicou culpa
ou responsabilidade e ninguém admitiu qualquer transgressão ou
má ação.
291
O Caso da Loja Rosacruz AMORC Brasília
Fonte: https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/Rosa-Cruzes/conversations/messages/111
Ano de
Nome Nº de Afiliação
Afiliação
Aldenir de Almeida Gonçalves 201.992/PMC 1986
Allan Kardec Guimarães Fortes 24.699/P 1967
Aulus Plautus Barboza de Souza 40.168/P 1969
Carlos Octávio Pavel 9.204/P 1960
Dalila Maria Mota de Figueiredo Monteiro 184.147/P 1984
Dirceu Braz Goulart Neto 188.961/P 1985
Edeltrudes Pinheiro Lima 33.746/PMC 1968
Eduardo Teixeira 48.791/P 1971
Efraim Queiroz 231.727/PM 1988
Eleny Lopes Filho 196.050/P 1987
Ernani Gustavo de Figueiredo Monteiro 265.951/P 1992
Fernando Antônio Braga da Silva 55.965/PC 1972
Flavio Rogerio Hautsch Reinehr 75.833/P 1975
Franklin Rodrigues da Costa 85.537/PM 1976
Glei Chaves 53.421/P 1972
Helio Francisco de Queiroz Fernandes 11.876/P 1961
Ivone Jorge Dino 276.618/P 1993
Jorge Monteiro Fernandes 65.962/PC 1974
José Felinto Filho 76.045/P 1975
Luiz Vicente Gentil 305.555/P 1997
Maria do Carmo Rodrigues de Freitas Sacco 165.378/PM 1983
Maria Nilva Senhorino 196.050/PMC 1985
Nice Catharina Mecking Rosa de Oliveira 124.668/P 1980
Nídia Carvalho de Oliveira Pavel 64.505/P 1973
Raimundo Alves Leite 58.886/P 1971
292
Ruth de Mello Eboli 4.211/PV 1940
Sadi Pansera 57.377/P 1972
Vadis Antonio Bellaver 90.201/PM 1976
Vania Maria Vieira da Silva 221.166/PM 1987
Vicente Carlos Andrade Domingues 158.801/PM 1982
Histórico
Janeiro de 2002
Setembro de 2004
• A Mestria da Loja Brasília solicita à Grande Loja cópia do Estatuto da GLP. Este
fora aprovado pela Diretoria em 15 de janeiro de 2004 e registrado em Cartório.
Outubro de 2004
293
Conselheira, também manifestando o seu desconforto pela atitude da GLP de não ter
divulgado a aprovação e registro do Estatuto da GLP.
Novembro de 2004
Fevereiro de 2005
294
• A Mestre da Loja Maria do Carmo Rodrigues de Freitas Sacco, o Mestre Auxiliar
Franklin Rodrigues da Costa e a ex-Monitora para Pronaoi Dalila Figueiredo se fazem
presentes em Curitiba, participando da Convenção Nacional na expectativa da reunião
sugerida. No entanto, os representantes da GLP não mais demonstram predisposição
para realizá-la.
Junho de 2005
Setembro de 2005
• Dia 13, a Loja Brasília encaminha à GLP a Carta n° 39/3358, informando não ter
recebido o Certificado de Renovação da Carta Constitutiva e solicitando informações
sobre seu envio.
• Dia 20, a Loja Brasília deposita em favor da GLP o valor de R$ 1.125,00 (Um mil
e cento e vinte e cinco reais) relativo à primeira parcela da renovação da Carta
Constitutiva.
Outubro de 2005
• Dia 14, a GLP devolve o valor da parcela que a Loja Brasília havia depositado
relativo à renovação da Carta Constitutiva. Em carta assinada por dois "procuradores"
comunica que "a razão da devolução decorre de a Carta Constitutiva não ter sido
renovada em razão de irregularidades constantes do Estatuto da Loja Rosacruz Brasília-
AMORC, aprovado em desacordo com as orientações contidas no Manual
Administrativo da GLP".
• Dia 24, a Loja Brasília envia Interpelação Extrajudicial à GLP solicitando que esta
indicasse as "irregularidades constantes do Estatuto da Loja Rosacruz Brasília-AMORC".
Novembro de 2005
295
• Dia 6, Membros da Hierarquia, residentes em Brasília, utilizando-se da
prerrogativa da vinculação direta com o Imperator estabelecida pela Organização,
enviam carta ao Frater Christian Bernard, agora na qualidade de Imperator,
expressando preocupações com eventuais conseqüências do não ajustamento
administrativo da GLP às leis brasileiras.
Dezembro de 2005
296
"Certificados de Renovação da Carta Constitutiva para os períodos março/2005 a
março/2006 e março/2006 a março/2007";
Janeiro de 2006
Fevereiro de 2006
• Dia 15, a Loja Rosacruz Brasília - AMORC apresenta sua Contestação (defesa) na
ação movida pela GLP, bem como Reconvenção (contra-ação) no mesmo processo. Na
reconvenção pede, dentre outras coisas:
297
Março de 2006
Abril de 2006
Setembro de 2006
• A GLP envia carta aos "Vibrantes Rosacruzes de Brasília - Plano Piloto Sul"
convidando-os para uma reunião, fora da Loja Brasília, em "preparação para formar
mais uma célula rosacruz na região".
Outubro de 2006
Novembro de 2006
298
• No 1º Ofício de Registro de Títulos e Documentos da cidade de Curitiba-PR são
obtidas cópia do novo estatuto da AMORC-GLP e cópias das atas das reuniões
realizadas na GLP que aprovaram essa última reforma estatutária.
Dezembro de 2006
Janeiro de 2007
• Dia 17, os membros não-homologados pela Grande Loja entram com novo
requerimento junto à Secretaria da Loja Brasília, solicitando que seus nomes constem
299
das cédulas de votação na assembléia de eleição convocada para 27 de janeiro, com
base no Estatuto da Loja Brasília. A Diretoria da Loja Brasília, em reunião
extraordinária, reconhece a legitimidade das inscrições e homologa todas as
candidaturas registradas emitindo o comunicado nº 01/2007. Dias após, os Fratres
Allan Kardec e Marcelo Rodopiano renunciam às suas candidaturas.
Fevereiro de 2007
• Dia 16, a Loja Brasília apresenta recurso contra decisão proferida pela Juíza em
24/01/2007. Essa decisão diz que os diretores da GLP não podem fazer parte da
Reconvenção apresentada pela Loja Brasília e os exclui da ação.
Março de 2007
300
• Dia 24, a Loja Brasília realiza o ritual de Ano Novo Rosacruz com a posse dos
oficiais administrativos, ritualísticos e iniciáticos, dando continuidade às atividades
administrativas, sociais e ritualísticas programadas pela nova Diretoria da Loja.
Abril de 2007
• Dia 18, a AMORC-GLP envia carta aos rosacruzes do Distrito Federal convidando
a participarem do lançamento do novo Organismo Afiliado no salão de festas do
edifício onde reside Soror DORALICE MOTA LEITE, candidata a Mestre não eleita.
• Dia 21, chega à Loja Brasília o Grande Conselheiro da Região GO1, JOSÉ
GONZAGA DE SOUZA, acompanhado de seis outros membros, um deles da Loja
Goiânia. Após iniciada a Convocação Ritualística, entram na sala de atendimento
contígua à Secretaria da Loja, onde está de plantão apenas a Diretora Tesoureira da
Loja, Sóror ALDENIR GONÇALVES. Apresentam-se como representantes do Grande
Mestre CHARLES VEGA PARUCKER, afirmam estarem "cumprindo diligência" e tentam
retirar papéis e documentos da Loja Brasília. A Tesoureira da Loja consegue trancar a
porta que dá passagem do balcão de atendimento à sala da Secretaria e a ação é
frustrada.
Maio de 2007
301
DE FAZER e NÃO FAZER, protocolada no Tribunal de Justiça sob nº 2007.01.1.045215-4
(acompanhe os andamentos no TJDFT). São vinte pedidos na ação, dentre os quais
estão o afastamento do Grande Mestre, dos Diretores da GLP e nomeação de Junta
Interventora na GLP.
302
A Problemática da Filiação Autêntica na Esteira dos
Movimentos Rosacrucianos dos Séculos XVII e XVIII - O Caso
AMORC
106
Frances Amelia Yates (1899-1981) foi uma historiadora inglesa que se concentrou no estudo da
Renascença. Ensinou no Instituto Warburg da Universidade de Londres por muitos anos, e também
escreveu uma série de livros sobre o tema da história esotérica.
Em 1964, ela publicou “Giordano Bruno e a Tradição Hermética”, que passou a ser vista como sua
publicação mais significativa. Neste livro, ela enfatizou o papel do hermetismo nas obras de Bruno e o
papel que a magia e misticismo tiveram no pensamento renascentista. Seu livro “O Iluminismo
Rosacruz” (1972) relata o papel dos manifestos rosacruzes do século XVII e é o desenvolvimento e a
continuação da obra anterior.
303
pode convir”, ou noutro trecho: “O seu maior desejo é passearem incógnitos pelo
mundo”. Michael Maier em “Themis Aurea” reproduz as regras da Fraternidade
contidas no Fama, onde a primeira delas é nada professar publicamente.
Em sua “história” dos Rosacruzes, Lewis faz remontar suas origens ao Antigo
Egito, ao tempo do Faraó Tutmosis III, da XVIII Dinastia. Ora é sabido, que o
Rosacrucianismo original do século XVII era essencialmente cristão, o que basta
analisar os textos fundamentais da Rosa+Cruz, como o Fama e Confessio, para se
aperceber disto. No Fama, no momento da abertura da mítica cripta de Christian
Rosenkreutz (Cristão da Rosa+Cruz), encontrava-se um altar redondo coberto por uma
placa de cobre, na qual estava gravado o seguinte: “Jesus é tudo para mim”, logo
depois, noutro trecho, após as assinaturas dos presentes na abertura da cripta estava
escrito: “Em Deus nascemos, em Jesus Cristo morremos, e pelo Espírito Santo
renascemos”. Nas lâminas do Geheime Figuren, “Os Símbolos Secretos dos Rosacruzes”
isso fica mais ainda evidenciado. O movimento rosacruciano está fortemente vinculado
ao tenso contexto histórico da Europa. A Europa vinha dilacerada pelas Guerras de
Religião, com a Paz de Augsburgo em 1555 as disputas entre católicos e protestantes
supostamente se acalmaram. A tensão tornou a aumentar na década de 80
culminando na Guerra dos Trinta Anos no século seguinte. Susanna Akermann observa
que é inadequado falar num Rosacrucianismo antes da circulação do manifesto Fama
Fraternitatis. A lenda de C.R.C. é que irá lançar as bases da Fraternidade, visto que não
há Rosacrucianismo histórico sem a lenda de Christian Rosenkreutz. É impossível saber
quando essa história foi concebida, mas sabemos que já circulava em forma de
manuscrito por volta de 1610.
304
É incontestável que Spencer Lewis tenha sido o primeiro Imperator da AMORC,
pois foi o seu criador. Por outro lado, não existe nenhuma constância histórica de
nenhum suposto primeiro ciclo de atividades Rosacruzes na América, com suas Lojas,
Templos, Sistemas de graus, Dirigentes e Mestres. Johannes Kelpius e um grupo de
pietistas vieram para América em 1694. Kelpius estava ligado à tradição de Boehme,
pode ter tido vínculos com os rosacruzes do século XVII, mas daí especular que foi
instituído uma Loja rosacruz nas Américas e um primeiro ciclo de atividades é carente
de provas comprobatórias, até mesmo porque, somente em 1710 a Fraternidade da
Rosa+Cruz de Ouro irá publicar através de Sigmund Richter, sob o pseudônimo de
Sincerus Renatus, os 52 artigos que permitiam estruturar a Rosa+Cruz não enquanto
Colégio de Invisíveis iguais entre si, mas enquanto Sociedade Secreta, hierarquizada.
Sigmund Richter anuncia a Rosa+Cruz de Ouro com uma obra chamada “Die
warhafte und volkommene bereitung des philosophischen Stein der Brüderschaft aus
dem Orden des Guldenen und Rosen Kreutzen” (A verdadeira e completa preparação
da Pedra Filosofal da Fraternidade da Ordem da Rosa+Cruz Áurea) escrita em 1710 por
ele próprio. Existe uma cópia da edição de 1710 (Breslau) na Young Collection da
University of Strathclyde Library, em Glasgow. Este livro foi reimpresso em 1714
(também em Breslau), e cópias podem ser encontradas na Bibliotheca Philosophica
Hermetica e no Herzog-August Bibliothek em Wolfenbuttel. Segundo as informações
de Adam McLean, este livro foi reimpresso novamente posteriormente em uma
coleção trabalhos de Richter com o título: Sinceri Renati sämtliche philosophisch und
chymische Schrifften... Leipzig, 1741 e cópias são encontradas na Coleção de Ferguson
na Biblioteca da Universidade de Glasgow, Young Collection, e também na Bibliotheca
Philosophica Hermetica.
305
Lewis menciona ter sido iniciado em Toulouse. Segundo o livro “Perguntas e
respostas Rosacruzes, com a história completa da Ordem” escrito por Spencer Lewis, a
Rosa+Cruz se estabeleceu em Toulouse durante o reinado do Imperador Carlos Magno,
por volta do ano 800, por um monge chamado Reynand; se isto é assim, como é
possível que os arquivos da Rosa+Cruz hajam estado em Donjon (onde Lewis afirmava
sua Iniciação) desde que a Ordem se estabeleceu nesse país, se a torre mencionada foi
construída no ano de 1525, uns 700 anos depois do “estabelecimento” da Ordem na
França e a torre de Donjon esteve durante muito tempo em ruínas até ser restaurada
no ano de 1887? Onde puderam guardar os arquivos em um edifício que ao mesmo
tempo eram oficinas municipais? Onde estão agora estes documentos antigos com
informações dos muitos séculos passados, que ninguém nunca viu, e nenhum
estudioso jamais examinou? Ou a AMORC não os tem, ou então onde estão estes
documentos que somente foram vistos por Lewis?
Um outro dado levantado foi quando Lewis declarou que no Egito havia uma Loja
Rosacruz que se chamava Loja AMENHOTEP, a que eram admitidos como membros
honoríficos todos os membros da AMORC que houvessem chegado ao 4º G.T., e para
estes ele emitia um certificado em inglês, com algumas palavras em francês, como por
exemplo: GARANT D´AMITIE em vez de GARANTIE D´AMITIE que é como se deveria
escrever em francês correto. Entretanto a Loja não existia no Egito, como puderam
constatar um primeiro grupo de membros que resolveram conhecê-la de fato.
Por outro lado, Lewis menciona em seus escritos a Sra. May Banks-Stacey, a co-
Fundadora e primeira Grande Matre dos Estados Unidos. Numa página do dito
“Manual Rosacruz” que corresponde a uma resenha biográfica de Harvey Spencer
306
Lewis, está escrito: “... um membro de um ramo inglês que auspiciou o primeiro
Movimento na América, a Sra. do coronel May Banks-Stacey, descendente de Oliver
Cromwell, e dos D´Arcy da França, pôs em suas mãos esses papéis, tal e como
oficialmente lhe haviam sido transmitidos pelo último dos primeiros rosacruzes
americanos, junto com a jóia e a chave de autoridade que ela recebeu do Grande
Mestre da Ordem da Índia, quando era oficial da Ordem nesse país...”. Um membro da
Ordem Rosacruz da Índia? Onde estava essa Ordem na Índia, que não existe referência
histórica alguma dela, exceto nestes escritos de Lewis? Papéis recebidos do Grande
Mestre da Ordem na Índia? Quem era esse Grande Mestre dessa Ordem Rosacruz na
Índia? Não existe nenhum registro histórico que o Rosacrucianismo tivesse fincado
bases na Índia.
307
Os projetos de pesquisas da BPH são principalmente empreendidos pelo
bibliotecário Carlos Gilly, que especificamente pesquisa a tradição do Rosacrucianismo.
Seus esforços se concentram na Biblioteca e em pesquisa de arquivos a fim de
completar a bibliografia definitiva dos primeiros Rosacruzes. Quando ele começou sua
pesquisa em nome da bibliografia dos Rosacruzes, o material de trabalho básico
consistia em várias bibliografias existentes numa listagem com uns 230-240 títulos.
Desde o começo do projeto, mais de 1.300 títulos relevantes para a história do
Rosacrucianismo foram colecionados, um terço do qual em manuscritos. Atualmente a
BPH conta com mais de 9000 títulos sobre os Primeiros Rosacruzes. E nenhum
“manuscrito de Nodin” é citado.
308
vir à frente e debater publicamente com ele. Clymer recusou o convite de Lewis e, por
sua vez, pediu a Lewis que submetesse a investigação todos os documentos que
possuía. Compreensivelmente, Lewis não estava disposto a fazer isso, pois alguns deles
podiam causar-lhe embaraços. (McIntosh, 1997).
309
Acréscimos e Supressões
1 - Livros Suprimidos
310
Rosa+Cruz História e Mistérios, Christian Rebisse, 1ª
Edição em Língua Portuguesa, 2004
311
2 - Os Livros “Esquecidos” de Raymond Bernard
312
3 - A Profecia Simbólica da Grande Pirâmide
Um dos pontos mais interessantes sobre o livro "A Profecia simbólica da Grande
Pirâmide", de H. Spencer Lewis é a maneira pela qual ele se conecta com as
descobertas do Dr. Selim Hassan em Gizé, em 1934-1935, com diagramas de uma rede
subterrânea de passagens e câmaras108. Nas próprias palavras de Lewis, "Eles
verificaram, em parte, pelo menos, as coisas indicadas nos dois esquemas
apresentados neste livro e, sem dúvida, a passagem do tempo irá verificar outras
partes destes diagramas”. Diagramas semelhantes também foram publicados por H. C.
Randall-Stevens, um cantor profissional que virou místico, alegando “canalizar”109 a
informação de "Iniciados do Antigo Egito".
107
Spencer Lewis - Profecía Simbólica Gran Pirámide
https://pt.scribd.com/document/92671186/Spencer-Lewis-Profecia-Simbolica-Gran-Piramide
108
Ver http://www.towers-online.co.uk/pages/shafted4.htm
109
O termo “canalização” é usado por alguns místicos para designar aquelas pessoas que têm um ou
mais canais desenvolvidos, de modo parcial ou total, e que se comunicam conscientemente com seres
que vivem e evoluem em outros planos e mundos dimensionais, tendo absoluto controle de sua mente
e de sua vontade.
313
A AMORC, nas monografias do 9º Grau (Monografia 6) afirmava o seguinte no
“Sumário desta Monografia”:
- “Um oficial do Templo explica que a prova do ar fora superada graças à confiança;
isto é, que, pela confiança nos poderes e métodos superiores, invisíveis e
desconhecidos, o medo fora eliminado e os perigos da dúvida e da hesitação haviam
sido dissipados”.
- “Após ter sido o Neófito devida e simbolicamente vestido, um Guia ritualístico o faz
passar pelo altar e por todas as Estações do Templo. Em seguida, um Mestre invoca
bênçãos cósmicas para o Postulante”.
314
9º Grau AMORC - Monografia 6, Sumário
Suspeita-se que os diagramas foram publicados pela primeira vez por Randall-
Stevens em 1928. O fato de que o livro de Lewis foi publicado em 1936 sugere que ele
pode muito bem ter baseado seus diagramas sobre o trabalho de Randall-Stevens.
315
Pesquisas posteriores mostraram que é muito difícil dizer quem copiou de quem, se é
que este era o caso, ou se ambos copiaram de um terceiro, ou mesmo um do outro.
Em 1935, Randall-Stevens publicou "A Voz do Egito", que era uma compilação de
material selecionado a partir de livros anteriores. Esta primeira edição continha um
diagrama de corte simplificado das câmaras sob a Esfinge (fig.1) e um diagrama da
planta baixa de Gizé (fig.2).
316
fig 2 - Planta baixa do Centro Maçônico de "A Voz do Egito" e "Os Últimos Dias da
Atlântida" 1ª, 2ª ed.
317
Em 1936, Lewis afirmou que os diagramas mostrados nas figuras 3 e 4 foram
retirados de manuscritos secretos. Ele afirmava: “Estes desenhos incomuns foram
feitos a partir de manuscritos secretos possuídos por arquivistas das escolas de
mistérios do Egito e do Oriente e são parte dos manuscritos secretos que relatam as
antigas formas de iniciações realizadas na Esfinge e na Grande Pirâmide”110.
110
A Profecia Simbólica da Grande Pirâmide, pág. 181.
318
Figura 4 - Planta baixa de "A Profecia Simbólica da Grande Pirâmide"
319
A primeira edição de "Os Últimos Dias da Atlântida", foi publicada em 1954. O
livro está dividido em duas partes, a primeira é a versão atualizada do "A Voz do
Egito". A segunda parte consiste de uma série de "Ensaios Cósmicos" que consistem
em novo material “canalizado”. Ele contém a mesma planta baixa de Gizé como em "A
Voz do Egito" (fig. 2), mas o diagrama de corte mostrando as câmaras sob a Esfinge
está faltando. A segunda edição publicada em 1957, também omite o diagrama da
Esfinge.
320
Figura 6 - Planta baixa do "Os Últimos Dias da Atlântida" 3ª ed.
321
Lewis afirma111: "De acordo com o que dizem as tradições e vários manuscritos
místicos, publicados de forma limitada em anos recentes, a Grande Pirâmide constitui,
apenas, o ponto central de magnífico complexo místico egípcio, que encerra mistérios
em cada metro quadrado da área ocupada". Poderia essa referência a "manuscritos
místicos", na verdade, ser uma referência ao trabalho de Randall-Stevens, que na
verdade tinha sido lançado de forma limitada nos últimos anos?
- Será que Lewis inicialmente baseou seus diagramas nos diagramas de Randall-
Stevens de "A Voz do Egito"?
111
A Profecia Simbólica da Grande Pirâmide, pág. 121.
322
escreveu em "A Profecia Simbólica da Grande Pirâmide", que o planalto de Gizé possuía
muitas câmaras subterrâneas... diagramas desta suposta rede de câmaras e passagens
de Lewis era uma cópia quase exata dos diagramas elaborados entre 1925 e 1927 por
H. C. Randall-Stevens - cujo trabalho será considerado mais tarde porque
supostamente foi canalizado por ele através das vozes dos espíritos "dos antigos
iniciados egípcios”. Nós não temos nenhuma predisposição para sugerir que a
informação recolhida desta forma é necessariamente errada, mas nós acreditamos
que, em seguida, foi copiada e deturpada”.
http://www.towers-online.co.uk/pages/shaftidx.htm
http://www.towers-online.co.uk/pages/shafted4.htm
http://www.lostchord.org/ROSTAU/rostau2.html
Bibliografia:
H. Spencer Lewis, "the Symbolic Prophecy of the Great Pyramid" (A Profecia Simbólica
da Grande Pirâmide), AMORC, San Jose, 1936;
Selim Hassan, "Excavations at Giza", vol. VI part I, Cairo Government Press, 1946;
323
5 - Documentos Rosacruzes e Martinistas
Nos Documentos Martinistas a informação oficial era que H.S. Lewis e Ralph M. Lewis
tinham sido iniciados na Ordem Martinista Tradicional, enquanto, na verdade, tinham sido na
Ordem Martinista e Synárquica. A AMORC somente admitiu essa situação na década de 90,
quando, obviamente, esses livretos saíram de circulação.
112
https://pt.scribd.com/document/141144822/Rosicrucian-Documents-pdf
324
325
326
A Tradição Rosacruciana e Suas Ordens: Um
Levantamento Histórico
Kennyo Ismail
Resumo
O presente artigo teve por objetivo selecionar as principais Ordens de inspiração rosa
cruz, analisando suas histórias e líderes e verificando suas influências doutrinárias. O
resultado desse estudo foi a definição de seis vertentes rosacruzes distintas e o
desenho de uma árvore genealógica abrangendo as vinte e uma Ordens apresentadas.
Palavras-Chave: Rosacrucianismo; sociedades secretas; esoterismo.
Introdução
113
Frater é o termo referente a Irmão em Latim. CRC é a abreviação de Christian Rosenkreutz, cuja
primeira aparição foi em “Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz”, publicado em Strasbourg,
em 1616.
327
Os primeiros membros historicamente conhecidos cujos esforços foram de
transformar o conhecimento Rosacruz em um sistema de estudo eram maçons
escoceses, por meio da Societas Rosicruciana (WESTCOTT, 1966). A literatura ocultista
indica que os maçons Rosacruzes permaneceram sozinhos nessa via por pelo menos 88
anos. Depois disso, muitas outras Ordens com base nas tradições Rosacruzes foram
desenvolvidas, muitos delas também por maçons.
Este artigo é uma visão geral das mais importantes Ordens Rosacruzes, e, embora ele
não esgote o tema, pretende-se que sirva como um guia de pesquisa para acadêmicos
que desejam explorar a interligação das várias Ordens.
Societas Rosicruciana in Anglia – SRIA: Fundada em Londres entre 1865 e 1867 por
Robert Wentworth Little, um maçom, que havia sido iniciado na Societas Rosicruciana
in Scotia (CHURTON, 2009). Muitos ocultistas famosos do século XIX eram membros:
John Yarker, Paschal Bervely Randolph, Arthur Edward Waite, William Wynn Westcott,
Eliphas Levi, Theodor Reuss, Frederick Hockley e William Carpenter, além de muitos
outros (PAIJMANS, 1998). Foi por intermédio da SRIA que a Societas Rosicruciana in
Canada teve sua origem.
Hermetic Order of the Golden Dawn: Fundada por três Mestres Maçons da Societas
Rosicruciana in Anglia: William Wynn Westcott, Samuel MacGregor Mathers e William
Robert (GUILEY, 2006). Criada em 1888, logo se espalhou para França, Escócia, Boston,
Filadélfia e Chicago. A Ordem promovia estudos sobre Kabbalah, Alquimia,
Simbolismo, Astrologia e Tarô (McINTOSH, 1997), por meio de um sistema de graus
diretamente herdado da Societas Rosicruciana in Anglia – SRIA (SABLÈ, 1996). Não
demorou muito para que a Ordem se tornasse popular entre os acadêmicos daquela
época (AKERMAN, 1998). Sua popularidade foi enorme entre 1892 e 1896. Em 1897, a
Golden Dawn começou a ruir: Westcott, um médico legista, sucumbiu à pressão e
abandonou a Ordem devido às pressões de que um médico legista da Coroa estivesse
328
associado a uma entidade ocultista. Nesse contexto, Mathers percebeu que o caminho
estava livre para ele assumir a liderança da Ordem, e, a partir daí, muitos conflitos com
as lideranças das Lojas começaram a ocorrer.
A situação ficou pior com a chegada de Aleister Crowley. Pouco tempo após sua
admissão, Crowley exigiu seu ingresso no Círculo Íntimo que comandava a Ordem. Ele
tornou-se próximo de Mathers, que deu a ele autoridade sobre as Lojas na Inglaterra
(HOWE, 1985). Isso levou a um levante dos membros ingleses que acabaram
expulsando Mathers e Crowley da Ordem em 1900. William Butler Yeats, que se
tornaria um laureado com o Nobel de Literatura alguns anos depois, tornou-se o líder
da Ordem, mas renunciou ao cargo em menos de um ano (Ibid., p. 285). Passada essa
fase, a Golden Dawn foi perdendo membros até que finalmente desapareceu em 1915.
Ordem Rosacruciana de Alpha e Omega – ROAO: Uma Ordem criada em 1900 por
Samuel Mathers depois de sua expulsão da Golden Dawn (CICERO, 2003). Mathers
promoveu uma cisão na Golden Dawn, levando consigo um grupo leal que deu início à
ROAO. Um de seus mais famosos membros foi Dion Fortune. Porém, ela acabou sendo
expulse da Ordem depois de muitas discussões e discordâncias com Mathers. Samuel
Mathers conseguiu manter a ROAO em funcionamento até sua morte, em 1918. Sua
esposa, Moina Mathers, assumiu seu posto até que ela faleceu, em 1928 (Ibid., p. 63).
Stella Matutina: Também conhecida como “Rosa Mística”, esse grupo surgiu de um
dos desmembramentos da Golden Dawn em 1900, mas diferente da Ordem
Rosacruciana de Alfa e Omega – a qual foi leal ao Mathers, a Stella Matutina foi
composta por aqueles contra Mathers (REGARDIE, 2003). O foco da Ordem, além do
conhecimento rosacruz (herdado da Golden Dawn), era o desenvolvimento da
habilidade de projeção astral. A Ordem teve seus trabalhos encerrados em 1939.
Ordre Kabbalistique de la Roise Croix – OKRC: A Ordem Cabalística da rosa Cruz foi
fundada em Paris, em 1888, por Stanislas de Guaita (AKERMAN, 1998). O comando da
Ordem era exercido por um conselho de doze membros, seis desses “desconhecidos”
para garantir a sobrevivência da Ordem em caso da falha dos outros (CHURTON, 2009).
A OKRC atraiu atenção de muitos ocultistas da época, como Papus (Gérard Encausse),
François Barlet, Joséphin Péladan e Spencer Lewis (McINTOSH, 1997). Os
ensinamentos da Ordem envolviam conhecimento de Tarô, Astrologia, Alquimia,
Teurgia, Numerologia, e Kabbalah. Essa Ordem ainda sobrevive, e atualmente a
maioria dos ensinamentos da OKRC é relacionada à Kabbalah.114
Ordem da Rosa Cruz Católica – CRC: Fundada por Joséphin Péladan em Paris, em 1890.
Péladan foi cofundador da OKRC, mas declarou ter recebido de seu irmão mais velho
Adrian uma diferente linhagem de Rosa-Cruz, seguindo caminho diferente de Stanislas
de Guaita. Além de estudos esotéricos, a Ordem focou em estudos relacionados a
Ciências, Cultura, Música, Teatro e Artes em geral (DI PASQUALE, 2009). Ele morreu
em 1918 e seus discípulos tentaram dividir a Ordem entre eles. O único que obteve
sucesso foi Emile Dantinne, com a OARC.
114
Vide: http://www.okrc.org/
329
Ordo Aureae & Rosae Crucis – OARC: Criada por um discípulo belga de Péladan, Emile
Dantinne, em 1923 (SABLÈ, 1996). Ele dividiu a Ordem em três partes: Rose-Croix
Universitaire, Rose-Croix Universelle e Rose-Croix Interioure. A Ordem era composta
de um sistema de vinte e dois graus, dos quais o ultimo grau era o “Emperor.” Harvey
Spencer Lewis, o fundador da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, e seu filho, Ralph
Maxwell Lewis, receberam o grau de Emperor pelas mãos de Dantinne na Europa
(LEWIS, 2009). Esta é uma evidência da relação fraterna entre a OARC e a AMORC. A
OARC ainda existe na Europa através de muitos pequenos grupos que trabalham
discretamente.
Ordo Templi Orientis – OTO: Esta sociedade teve início em 1895, aparentemente por
Carl Kellner, Henry Klein, Theodor Reuss, e Franz Hartmann. A OTO seguiu as tradições
rosacrucianas durante o período que Reuss e Hartmann participaram. Há uma carta de
Reuss enviada a Harvey Spencer Lewis, datada de 1921, na qual ele explica a origem
rosacruciana da OTO (STARR, 2003). Lewis se juntou à OTO depois do convite de Reuss
e saiu da Ordem quando Crowley assumiu sua liderança, em 1924. Muitos grupos se
desligaram da OTO durante a administração de Crowley, o qual modificou o conteúdo
e estrutura da Ordem, dando-lhe um aspecto telemita.
Um fato interessante foi a disputa legal que a OTO de McMurtry enfrentou pelos
direitos de governar a instituição e os direitos patrimoniais sobre os materiais literários
da Ordem. Seu oponente era a Ordem brasileira chamada SOTO – Societas Ordo
Templi Orientis, fundada em 1962 e administrada por Marcelo Ramos Motta, que se
declarava o legítimo sucessor de Crowley (LEWIS, 1999). Marcelo Motta foi o primeiro
divulgador telemita no Brasil e era o líder esotérico de Paulo Coelho115. A OTO de
McMurtry ganhou na justiça e detém o direito de continuar usando o nome OTO e
publicando seu material literário.
Pansophicum Collegium – PC: Fundada por Heinrich Tranker, em 1921. Ele foi o líder
da filial alemã da OTO durante a liderança de Reuss e se rebelou quando Crowley
assumiu (D’AOUST & PARFREY, 2007). Atualmente o PC considera-se a única
mantenedora dos verdadeiros segredos da fraternidade rosacruciana. Entre 1921 e
1931 o PC manteve parceria com a AMORC. Durante esse período, um grupo de
membros do PC, insatisfeito com a direção da Ordem, fundou a Fraternitas Saturni –
FS, com uma visão mais voltada para Thelema. Ambas as Ordens, PC e FS, ainda
existem.
115
Paulo Coelho é um imortal da Academia Brasileira de Letras e um dos escritores mais lidos
atualmente no mundo. Alguns de seus livros mais famosos tem temática esotérica, como “Diário de um
Mago”, “O Alquimista” e “Brida”.
330
Fraternitas Saturni – FS: Criada na Alemanha por dissidentes da Pansophicum
Collegium – PC, em 1928, sob a liderança de Gregor Gregorius (FLOWERS, 2006). Esse
grupo especializado em Thelema foi inspirado pelo Rito Escocês Antigo e Aceito,
criando um sistema de trinta e três graus. Em 1936, o governo nazista proibiu a FS e
Gregorius fugiu da Alemanha para evitar a prisão. Com o fim do nazismo, Gregorius
retornou para a Alemanha e reestabeleceu a FS, promovendo muitas reformas
internas.
Fraternitas Rosicruciana Antiqua – FRA: Fundada pelo alemão Henrich Arnold Krumm-
Heller no México, em 1927, sua sede inicialmente funcionou na Alemanha (KONIG,
1995). Krumm-Heller era membro da OTO e recebeu ordens de Reuss para colaborar
com a expansão da OTO na América Latina, mas, em vez disso, ele decidiu criar sua
própria Ordem. FRA fez sucesso em países da América Latina e chegou a outros países
como Espanha e Austrália, mas com resultados menores. Krumm-Heller não formou
novas lideranças nem nomeou um sucessor, então, depois de sua morte, a FRA passou
a operar com lideranças locais, sem uma unidade internacional. Em muitos países a
FRA se aliou à FRC para sobreviverem. Isso enfraqueceu a instituição, causando o
desaparecimento em muitos países, estando a Ordem ativa atualmente apenas no
Brasil e em outros poucos lugares.
Fraternitas Rosae Crucis – FRC: Fundada na Pensilvânia, em 1920, por Reuben Clymer
que afirmava dar continuidade na missão de Paschal Beverly Randolph (RANDOLPH &
CLYMER, 1939). Na verdade, Clymer comprou alguns arquivos e anotações de
Randolph através de sua viúva. A FRC dedicava muito tempo e esforços na tentativa de
derrubar a AMORC e seu fundador, HS Lewis (CLYMER, 1935; SABLÈ, 1996). A família
de Randolph desmentiu as afirmações de que Clymer detinha todo conhecimento de
Randolph, o que gerou grande impacto na Ordem. Em qualquer caso, Clymer manteve-
se como importante fonte para muitos outros ocultistas da época, tais como Krumm-
Heller, fundador da FRA. Em muitos países, a FRC e FRA se fundiram.
331
Jan Leene em 1968, a Ordem passou a ser governada por um colegiado de treze
membros. A Ordem tem aproximadamente 15.000 membros e está presente em trinta
e seis países, incluindo muitos países na Europa, América do Sul, América do Norte,
África, Austrália e Nova Zelândia (INTROVIGNE, 1997).
Ancient Mystical Order Rosae Crucis – AMORC: Uma das mais conhecidas Ordens
rosicrucianas, a AMORC foi fundada por Harvey Spencer Lewis, em 1915, nos EUA
(GUILEY, 2006). Ele declarou que havia sido iniciado em Toulouse, em 1909, e declarou
que a AMORC era a única legítima Ordem Rosa Cruz, baseado em estudos
desenvolvidos pelo historiador maçônico, Dr. Julius Friedrich Sachse, que afirma que
houve uma expedição rosacruciana em 1694 que estabeleceu uma colônia na
Pensilvânia. Como uma estratégia de crescimento e de ganhar mais legitimidade, Lewis
incorporou à AMORC muitas pequenas, porém antigas, Ordens rosacrucianas de toda a
Europa. Isso foi possível por meio da oferta de apoio material e financeiro que a
AMORC proveria àqueles dispostos a serem incorporados. Apesar disso, o grande
desenvolvimento da AMORC aconteceu quando o filho de HS Lewis, Ralph Maxwell
Lewis, assumiu o posto do pai. Ralph criou os sistemas de instrução por
correspondência e de iniciações em casa, além de reduzir o conteúdo teúrgico em seus
materiais, focando no místico-esotérico. Os rituais de iniciação aparentam ter sido
muito influenciados pela Maçonaria, especialmente pelo Rito Memphis-Misraim.
Através do trabalho de RM Lewis, a AMORC se expandiu para muitos países, incluindo
a criação da Grande Loja AMORC de Língua Portuguesa, com sede no Brasil.
O grande erro de Ralph Maxwell Lewis foi não ter preparado um sucessor, assim como
não ter estabelecido um Conselho Administrativo capaz de dar continuidade ao
trabalho. Depois de sua morte, Gary Stewart assumiu seu posto em 1987 como
Imperator, mas permaneceu apenas três anos como o líder da AMORC, diante de um
escândalo financeiro envolvendo a Ordem. Após três anos de batalha judicial, foram
retiradas as acusações de desvio de fundos existentes sobre Stewart e ele fez um
acordo com a AMORC, renunciando ao cargo. Stewart foi sucedido por Christian
Bernard, em 1990 (GREER, 2009).
A AMORC possui uma Ordem anexa: a Tradicional Ordem Martinista - TOM. O
Imperator da AMORC é também o chefe maior da TOM, e para se tornar membro da
TOM é necessário ser um membro regular da AMORC.
Antient Rosae Crucis – ARC: Esse grupo foi fundado em 1990 por dissidentes da
AMORC nos EUA, quando dos escândalos da administração de Gary Stewart. Esse
grupo em particular permaneceu leal a Stewart e contra a AMORC, e pediu a Stewart
332
que aceitasse ser o seu Imperator. Seus materiais são baseados no da AMORC
utilizados nos anos de 1950116.
Confraternity of the Rose Cross – CR+C: Fundada pelo ex-Imperator da AMORC, Gary
Stewart, como uma alternativa após o incidente judicial. Opera similarmente à
AMORC, utilizando o material da época do H. S. Lewis antes das várias mudanças
implementadas por seu filho. CR+C trabalha em comunhão com a OMCE – Ordo Militia
Crucifera Evangelica, uma Ordem de inspiração templária. O conteúdo dos materiais
da CR+C é considerado por muitos como o mais fiel aos conceitos da moderna Rosa
Cruz117.
Ordem do Templo da Rosa Cruz – OTRC: Fundada em Londres, em 1912, por duas
mulheres e um homem: Annie Besant, Marie Russak e James Ingall Wedgwood. A
Ordem foi inicialmente composta por teosofistas e membros da Comaçonaria Le Droit
Humain, e se consideravam os legítimos representantes dos Templários e dos
rosacrucianos. O grupo desapareceu em 1918 (HEIDLE & SNOEK, 2008).
Les Freres Aines de la Rose-Croix – FARC: Essa instituição declara que foi fundada em
1316, poucos anos depois do fim da Ordem templária. De acordo com seus membros,
alguns cavaleiros templários foram para a Escócia onde reabriram sua Ordem como a
FARC. Entretanto, a FARC foi oficialmente criada em 1971 por Roger Caro, alquimista
francês, autor da lenda sobre a origem templária da Ordem (CARO, 1970). Ele serviu a
Ordem como seu Grão-Mestre até sua morte, em 1992. A instituição tem por foco os
estudos dele de alquimia. Depois da morte de Roger, a FARC foi dissolvida de acordo
com seus últimos desejos.
Conclusões
116
Alvin Sen Evanger. “Manifestations of the Neo-Rosicrucian Current”. The Alchemy Web Site,
http://www.levity.com/alchemy/alvin.html.
117
Confraternity of the Rose Cross – CR+C, Website Oficial: http://www.crcsite.org/crc.htm.
118
Sobre essas doutrinas, leia: Nevill Drury, The Dictionary of the Esoteric (Londres: Watkins Publishing,
2002).
333
Cabala: esoterismo judaico cujo objetivo é prover conexões entre espírito e
matéria;
Thelema: filosofia baseada em amor e vontade, tendo por base seu próprio
“Livro da Lei”;
Gnose: diz respeito à busca do conhecimento espiritual e divino por meio de
sentimentos e experiências pessoais intuitivas;
Misticismo: estudos e práticas que permitem a comunicação direta entre o
homem e o Divino, sem intermediários ou restrições de qualquer sistema
teológico fechado;
Teosofia: um sistema que compreende a interpretação harmonizada de
princípios filosóficos, religiosos e científicos.
334
335
Este estudo proporcionou um interessante achado, a relação de proximidade e de
colaboração entre os principais líderes responsáveis pela divulgação da tradição
Rosacruciana durante o final do século XIX e início do século XX: Clymer, Crowley,
Eliphas Lévi, Guaita, Krumm-Heller, Mathers, Papus, Péladan, Reuss e Spencer Lewis.
Apesar de alguns conflitos que ocorreram entre umas dessas personalidades, como
Clymer e Lewis, a história mostra que era comum que líderes de algumas Ordens eram
membros de outras, assinavam manifestos em conjunto, trocavam cartas e títulos.
Algumas Ordens se fundiram e outras trabalharam juntas. Tudo isso indica que, apesar
dos interesses pessoais e institucionais, a difusão do conhecimento rosacruciano
básico foi geralmente tratada como prioridade.
Outra evidência dessa intenção sinérgica foi a iniciativa de Papus, a qual contou com a
associação de muitos dos líderes citados anteriormente, que foi a criação da FUDOSI –
Federatio Universalis Dirigen Ordines Societatesque Initiationis (LEWIS, 2004), uma
associação global de sociedades esotéricas, muitas das quais rosacrucianas. O primeiro
passo para esse objetivo ocorreu em 1908. Porém, muitos dos líderes dessas
organizações não partilhavam um sentimento de mútuo respeito, o que levou a
FUDOSI a encerrar suas atividades em 1951.
É também interessante observar que muitos dos mais populares e respeitados nomes
do ocultismo, como Eliphas Lévi, Papus, Stanislas de Guaita e, o mais polêmico de
todos, Aleister Crowley, eram adeptos da tradição rosacruciana e estavam engajados
em sua causa. Isso é definitivamente uma forte evidência da importância e
credibilidade que a tradição rosacruciana possui no meio ocultista.
Referências Bibliográficas
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Europe. Brill’s Studies in Intellectual History, Vol. 87, No. 6, 1998.
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de Siècle. Canadian Art Review, Vol. 34, No. 1, 2009, p. 53-61.
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FLOWERS, S. E. The Fraternitas Saturni Or Brotherhood Of Saturn: An Introduction To
Its History, Philosophy And Rituals. Runa-Raven Press, 2006.
336
GREER, J. M. Secrets of the Lost Symbol: The Unauthorized Guide to Secret Societies,
Hidden Symbols and Mysticism. St. Paul, MN: Llewellyn Worldwide, Ltd., 2009.
GUILEY, R. E. The Encyclopedia of Magic and Alchemy. Ed. Facts On File, 2006.
HEIDLE, A.; SNOEK, J. A. M. Women's Agency and Rituals in Mixed and Female Masonic
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HEINDEL, M. The Rosicrucian Cosmo-Conception or Mystic Christianity. Oceanside, CA:
Mount Ecclesia, Inc., 2012.
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Order: 1887-1923. London: The Aquarian Press, 1985.
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CESNUR 97 International Conference, Free University of Amsterdam, 1997, p. 1-
22.
KONIG, P. R. Ein leben für die rose. München: ARW, 1995, p. 9-13.
LAMPRECHT, H. Neue Rosenkreuzer: Ein Handbuch. Göttingen: Vandenhoeck &
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Rosicrucian Order. Kessinger Publishing, LLC, 2004.
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Santa Barbara, California: ABC-CLIO, Inc., 1999.
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Spencer Lewis. AMORC, Inc., 2009.
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1998, p. 242.
RANDOLPH, P. B.; CLYMER, R. S. Ravalette: The Rosicrucian’s Story. Quakertown, PA:
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Ceremonies of the Hermetic Order. St. Paul, MN: Llewellyn Worldwide, 2003.
SABLÈ, E. Dictionnaire des Rose-Crox. Paris: Éditions Dervy, 1996.
STARR, M. P. The Unknown God: W. T. Smith and the Thelemites. Bolingbrook, Illinois:
The Teitan Pres, Inc., 2003.
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WA: Health Research, 1966.
YATES, F. A. The Rosicrucian Enlightenment. Londres: Routledge, 1972, p. 59-62
337
A Progressiva Publicação dos Ensinamentos e Rituais
Por sua vez, Samael Aun Weor escreveu em 1952 a obra “A Revolução de
Belzebu”120. O livro, apesar de conter alguns conceitos ridículos, expõe alguns
ensinamentos originais da AMORC. Vejamos algumas destas “pérolas”:
“Os magos negro da AMORC dão, no ritual de terceiro grau, o nome de um demônio a
seus ingênuos discípulos, e para efeito o discípulo escreve em várias papeletas determinados
nomes que se lhes dão, e ao sacarem a papeleta com o nome segue figurando com ele no
Astral. Os nomes são os seguintes:”
ADJUTOR
COGNITOR
AFECTADOR
DIVINATOR
AMORIFER
JUSTIFIQUE
BENEFACTOR
PENSATOR
119
Ver “A Fraternidade Rosacruz na América” (The Rosicrucian Fraternity in America), em 2 volumes, de
Reuben Swinburne Clymer e “Os Rosacruzes do Novo Mundo” (Les Rose-Croix Du Nouveau Monde,
1996), de Robert Vanloo.
120
http://sawzone.org/docs_bra/A_Revolucao_de_Bel.pdf
338
Mais adiante, no mesmo livro, ainda afirma nos seus delírios:
“Abbadon é o Anjo do Abismo. Veste túnica negra e gorro vermelho como os Dugpa e os
Bonpo do Tibet oriental e das comarcas de Sikkim e Butão, como os magos negros do Altar de
MATHRA (pronunciado MASSRA, pelos Rosacruzes da Escola AMORC da Califórnia).”
“Ali vemos clarividentemente Belzebu, o príncipe dos demônios, entregue aos piores
delitos. Membro ativo de um grande templo de magia negra, lutava intensamente para fazer
prosélitos entre a humanidade da Época Solar e foram muitas as almas que ele conquistou
para seu tenebroso templo. Baixou Belzebu os 13 Escalões da magia negra e conseguiu a 13ª
Iniciação Negra, que o converteu em Príncipe dos Demônios. Em sua cintura levava o sinistro
Cordão de Sete Nós, tal como o usam os “ditos” Cavaleiros Templários do mago negro Omar
Cherenzi Lind e os membros da escola de magia negra AMORC de San Jose de Califórnia.”
“Fez-se hábil no manejo da mente e recebeu a Palavra Perdida dos magos negros, que se
escreve MATHREM e se pronuncia MASSREM. Em sua cabeça peluda colocou o barrete da
magia negra e cobriu seus largos e peludos ombros com a negra capa de príncipe dos
demônios. Em sua fronte apareceram os chifres do Diabo. Esses cornos são a marca da Besta.”
“Em vão os magos negros do Quinto Grau gritarão sua palavra de passe ASTRO, porque
esse antro de magia negra irá ao Abismo, onde está a Grande Besta e o Falso Profeta.”
“Em vão gritarão THOKATH, THOKATH, THOKATH (que se pronuncia assim: SOCAS,
SOCAS, SOCAS) as vítimas horríveis do Sexto Grau, porque o fio da Espada da Justiça Cósmica
selará suas gargantas nas horríveis trevas da desesperação, onde só se ouvem prantos e ranger
de dentes.”
“E vós, os místicos negros do Sétimo Grau, em vão queimareis o Sal das Bruxas com
álcool e incenso.”
339
Em 1995 Reuben R. Isaac (FRC) publica o livro
“O Desvelar dos Ensinamentos da Ordem Rosacruz:
Uma Revelação”121 (The Unveiling of the Teachings
of the Rosicrucian Order: An Expose). Reuben R.
Isaac foi um membro da Ordem Rosacruz desde
1967. Como um oficial da Ordem Rosacruz, ele
atuou como Mestre na Loja Rosacruz da cidade de
Nova Iorque, bem como historiador da Ordem.
- Sétimo Grau de Templo, p. 91, RA, MA, THA, a aura, a projeção psíquica;
121
https://pt.scribd.com/document/95307978/The-Unveiling-of-the-Teachings-of-the-Rosicrucian-
Order-An-Expose
340
- Nono Grau de Templo, p. 101, o triplo triângulo do poder, o título do grau é
Magus. A palavra perdida em sua forma breve é MATHRA. A sua forma completa é
MATHREM. Sons vocálicos Ma, Tha, Th e Ra. "Se for da vontade do Cósmico, está
feito!". O significado de AUM; as leis da alquimia, RA-MA; O fenômeno da
invisibilidade, a função da pituitária, etc.
122
http://www.theprisonerofamorc.typepad.com/
http://pierrefreeman.com/
123
https://pt.scribd.com/document/294026153/The-Prisoner-of-San-Jose
124
https://pt.scribd.com/doc/294051013/AMORC-Unmasked
341
Nascido no Haiti e educado na escola de
engenharia do Haiti, Pierre S. Freeman saiu antes de
obter o diploma e veio para a América, deslumbrado
com suas oportunidades. Nas suas palavras, ele “se
afiliou a AMORC no Haiti, pensando que tinha
encontrado um caminho rápido e fácil para a felicidade
e prosperidade. Vinte e quatro anos depois, pobre e
emocionalmente desequilibrado, ele acordou,
encontrando-se triste e recém-desperto, um
sobrevivente do culto mundial de Controle da Mente.
Como parte de seu processo de cura, ele passou alguns
anos expondo os métodos implementados pelo culto,
que o mantiveram em cativeiro por grande parte de sua
vida. Para fazer isso, ele é autor de dois livros, O Prisioneiro de San Jose e AMORC
Desmascarada, bem como o blog
sobre seus 24 anos de escravidão
pelo Controle da Mente. Nessas
obras, ele tem exaustivamente
exposto a retórica, os exercícios e
o protocolo do culto, detalhando
suas técnicas específicas de
Controle da Mente. Considerando
que ele acredita que o
conhecimento do Controle da
Mente é uma chave importante
para acabar com a escravidão do
culto, ele acrescentou os efeitos
curativos do riso ao conjunto de
soluções para este tipo de
Controle Mental.”
342
343
344
Enquanto nas Américas a AMORC teve, desde o seu início, detratores como o Dr.
Reuben Swinburne Clymer (ele era realmente médico), que embasavam
documentalmente suas denúncias, houve outros sem critério nenhum, como o
colombiano Samael Aun Weor, pseudônimo de Vitor Manuel Gomez Rodriguez, líder
do movimento gnóstico. As denúncias sempre partiram ou de líderes de outras
organizações ou de ex-membros revoltados. Mas no outro lado do Atlântico, na
França, as coisas foram um pouco diferentes.
http://www.crc-rose-croix.org/index.php/telechargements/file/41-communications-
2eme-cercle-4-5-6
Ritual de Loja
http://www.crc-rose-croix.org/index.php/telechargements/file/7-rituel-de-loge
Sons vocálicos
http://www.crc-rose-croix.org/index.php/telechargements/file/6-sons-de-
voyelles
http://www.crc-rose-croix.org/index.php/telechargements/file/8-rituel-
dinitiation-en-loge
http://www.crc-rose-croix.org/index.php/telechargements/file/79-rituel-d-
initiation-du-second-portail
345
Ensinamentos
http://www.crc-rose-croix.org/index.php/telechargements/category/6-
enseignement
https://pt.scribd.com/doc/280499160/Cenacle-de-La-Rose-Croix-Comm-7-
Cercle-4
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degres-neophytes.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degres-temple-1-2-3.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degres-temple-4-5--deb-6.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degres-temple-fin-6.pdf
125
http://www.lebistrotdelarosecroix.com/article-les-enseignements-du-cenacle-de-la-rose-croix-
98091011.html
346
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degre-7--temple.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degres-temple-8--deb9.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degre-temple-9-fin---confessio-deb.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-confessio-fin.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degre-temple-10-deb.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/crc-degre-temple-10-fin.pdf
http://ddata.over-blog.com/4/01/44/76/c04_com6.pdf
347
PARTE II - A TRADIÇÃO (A
SABEDORIA PERENE) E OS
PERENIALISTAS
348
Algumas palavras de advertência...
Após a análise dos fatos precedentes, acreditamos que esta pesquisa estaria
incompleta se não indicasse a existência de estudos por nós considerados de maior
relevância.
349
René Guénon (1886-1951)
126
http://www.freemasons-freemasonry.com/10carvalho.html
127
A aquisição dos livros de Guenon em português pode ser feita no site:
http://www.reneguenon.net/oinstitutoindex.html
350
Haqq), iniciado sufista; Théodor Reuss, grão-mestre da OTO e Fabre des Essarts,
patriarca da Igreja Gnóstica da França.
Em 1912, foi iniciado no sufismo sob o nome de Sheikh Abdel Wàhed Yahia.
351
morte ocorreu em 7 de janeiro de 1951.
352
a partir de uma perspectiva cética ou positivista, mas a partir do que ele chamou
‘esoterismo tradicional’. Este crítico culto e inteligente foi René Guénon.”128
Nesta mesma época, nas primeiras décadas do século XX, Guénon entrou em
contato com hindus da escola Advaita-Vedanta, com quem aprofundou seus
conhecimentos da metafísica não-dualista de Shankara – o principal formulador desta
doutrina –, o qual utilizaria em toda a sua obra subseqüente. Vêm daí também seus
contatos com o meio católico francês, no qual pontificavam figuras como o filósofo
neo-tomista Jacques Maritain e o padre Sertillanges, entre outros.
Pouco antes disso, em 1917, foi nomeado professor de filosofia na Argélia, onde
viveu cerca de um ano; foi seu primeiro contato direto e prolongado com o mundo do
Islã. Após a morte de sua primeira mulher, Bherta Loury, ele abandonou Paris, em
1930, com destino ao Cairo. Seu objetivo era pesquisar e traduzir textos da mística
islâmica. Habitou numa casa simples, situada nos arredores da capital do Egito, até
1951, quando faleceu. Seu cotidiano era totalmente dedicado ao estudo e à escrita,
além da manutenção de uma espantosa correspondência com interlocutores em quase
todas as partes do mundo, inclusive o Brasil. Seu primeiro tradutor para o português,
Fernando Guedes Galvão, de São Paulo, correspondeu-se com ele por mais de duas
décadas, de 1929 a 1950. No Egito, Guénon se casou novamente, com Fátima, filha de
um cheikh da centenária confraria mística Qadirya, e teve quatro filhos.
128
Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais. Belo Horizonte, Interlivros, 1979. p. 59.
353
não obstante ajuda a melhor entendê-la. As categorias correspondem grosso modo a
períodos da vida de Guénon. A primeira é a dos escritos ocultistas, abrangendo até a
primeira década do século XX; vem em seguida a fase de crítica do ocultismo; a
terceira categoria é a dos escritos sobre a metafísica oriental; a quarta, sobre a
iniciação; e a quinta e última abrangendo a crítica da mentalidade materialista e
relativista.
129
Cf. AZEVEDO, Mateus Soares, René Guénon, entre o Loire e o Vedânta, Gazeta Mercantil, 28 de
dezembro de 2001. http://sabedoriaperene.blogspot.com.br/2008/06/mateus-soares-de-azevedo.html
354
extremista. Foi também um pioneiro da crítica da mentalidade materialista e
individualista de nossos tempos. Para ele, o moderno Ocidente vive em profunda crise
de valores e de sentido porque se separou de suas raízes espirituais e esqueceu as
dimensões mais profundas da existência."
Guénon foi, assim, um dos primeiros a dizer conscientemente não à euforia que
tomava conta do mundo nas primeiras décadas do século XX, quando a crença nos
poderes “mágicos” da ciência e tecnologia estava em seu apogeu. Ele representou para
muitos a objetividade em pessoa, vendo talvez melhor do que ninguém os perigos e
males do subjetivismo e do individualismo, e as conseqüências longínquas destes e de
outros pilares da “Weltanschauung”130 predominante, como o culto à indústria (que
levou à caótica situação ecológica atual, que ameaça a própria sobrevivência do
gênero humano) e ao assim chamado “progresso”, puramente material. Seu agudo
discernimento o fez ver exatamente o que estava errado com nosso mundo; ele foi
assim um dos primeiros a desafiar intelectualmente, com pleno conhecimento de
causa, as crenças do status quo.
a) Obras em vida
130
Fil. conjunto ordenado de valores, impressões, sentimentos e concepções de natureza intuitiva,
anteriores à reflexão, a respeito da época ou do mundo em que se vive; cosmovisão, mundividência.
Weltanschauung: a visão que temos de mundo: visão de mundo (ou Weltanschauung, como também
costuma ser chamada filosoficamente. Welt é "mundo" em alemão e Anschauung é "visão") é a
orientação subjetiva qual cada um possui, seja particular ou social. É uma perspectiva cognitiva que
abrange valores normativos e existenciais.
Uma visão de mundo é construída por explicações sobre o mundo, sejam metafísicas, científicas,
espirituais e até éticas. Todas são descritivas, fazendo uma análise ontológica do mundo, qual a moral,
ética, razão e concepção de mundo acabam sendo drásticamente influenciadas pelas respostas obtidas
ou aceitas pela pessoa. Em:
http://houseofreasonblog.blogspot.com.br/2011/04/weltanschauung-visao-que-temos-de-mundo.html
355
1932 – Os Estados Múltiplos do Ser.
1939 – A Metafísica Oriental.
1945 – O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos.
1946 – Os Princípios do Cálculo Infinitesimal.
1946 – A Grande Tríade.
1946 – Considerações Sobre a Iniciação.
b) Obras Póstumas
356
Estudos Tradicionais - A Sabedoria Perene
Sem René Guénon, não existiriam Titus, Lings, Nasr e todos os demais. Há o que
podemos chamar, ao lado da Cordilheira Guénon, um respeitável e respeitoso grupo
de elevações, isto é, autoridades e escritores "alavancados" ou "germinados" através
da luz intelectual refratada através da suma guenoniana.
Filosofia perene131
131
https://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia_perene
357
metafísica fundamental é una, universal e perene, e que as diferentes religiões
constituem distintas linguagens que expressam esta Verdade única.
Mais recentemente, o termo foi popularizado pelo autor britânico Aldous Huxley,
no livro de 1945, The Perennial Philosophy.
358
Entre os livros132 publicados em Português, incluem-se:
132
Obras de Frithjof Schuon em espanhol para baixar
https://sites.google.com/site/tradicionrc/home/autores/frithjof-schuon
133
Obras de Titus Burckhardt em espanhol para baixar
https://sites.google.com/site/tradicionrc/islam/titus-burckhardt
134
Obras de Martin Lings em espanhol para baixar
https://sites.google.com/site/tradicionrc/islam/martin-lings
359
escreveu sua famosa tese sobre o cheikh sufi Ahmad al-Alawi, "A Sufi Saint of the 20th
Century", publicada em diversas línguas.
360
Tage Lindbom (1909—2001)
PhD em ciência política, Lindbom pautou seus livros
pela escola marxista entre 1938 e 1965, quando se
desligou de suas funções de teórico e diretor dos arquivos
e da biblioteca central do Partido Social-Democrata sueco
para abraçar a escola perenialista de René Guénon e
Frithjof Schuon.
Nasr fala persa, inglês, francês, espanhol e árabe fluentemente. Em português foi
publicado o livro “O Homem e a Natureza” (Rio de Janeiro, 1977).
135
Um polímata (do "aquele que aprendeu muito") é uma pessoa cujo conhecimento não está restrito a
uma única área. Qualidade de que tem conhecimentos profundos sobre várias ciências ou domínios do
conhecimento humano.
361
Seu filho, o filósofo católico Rama Coomaraswamy,
organizou e publicou uma antologia de seus escritos: The
Essential Ananda Coomaraswamy.
136
Aqui encontramos obras de Ananda Coomaraswamy em espanhol para baixar
https://sites.google.com/site/tradicionrc/home/autores/ananda-kentish-coomaraswamy
137
Sedevacantismo é a posição defendida por uma minoria resoluta de católicos tradicionalistas que
afirmam que a Santa Sé está vaga desde a morte do Papa Pio XII, em 1958, ou de João XXIII em 1963. O
termo "sedevacantismo" é derivado da frase em latim sede vacante, que significa literalmente "a
cadeira vaga", onde o cadeira em questão é a de um bispo. A utilização específica da frase está no
contexto da vacância da Santa Sé, entre a morte ou renúncia de um Papa e a eleição de seu sucessor.
Para os sedevacantistas, a Igreja Católica não tem atualmente um Papa para a governar e guiar.
362
Em seus livros, procurou criar pontes intelectuais entre o Catolicismo anterior ao
modernismo do concílio Vaticano II e a escola da Filosofia Perene, estabelecida por
Frithjof Schuon e René Guénon, e da qual seu pai foi um dos principais expoentes.
Em 1923 Pallis visitou pela primeira vez o sul do Tibete numa expedição de
montanha, tendo aí regressado nos anos de 1933 e 1936, fruto de um profundo
interesse pela sua cultura tradicional, visitando os mosteiros em Sikkin e Ladakh.
Depois da Segunda Grande Guerra regressou para uma visita mais prolongada, altura
em que, após visitar o Ceilão e o Sul da Índia, tendo recebido o darshan de Ramana
Maharshi em Tiravunnamalai, se fixou perto de Shigatse onde estudou com lamas
Tibetanos e foi iniciado numa das linhagens com o nome Tibetano de Thubden
Tendzin.
138
Obras de Rama P. Coomaraswamy em espanhol para baixar:
https://sites.google.com/site/tradicionrc/cristianismo/rama-p-coomaraswamy
363
lições da Tradição que ainda sobrevivia na altura no Tibete. Pallis atingiu algum
conhecimento público quando participou na exposição da farsa de Lobsang Rampa.
Bibliografia:
- Peaks and Lamas (1939);
- The Way and the Mountain (1960);
- A Buddhist Spectrum (2004).
- Ocultismo e Religião: em Freud, Jung e Mircea Eliade (São Paulo, 2011). Em co-autoria
com Harry Oldmeadow.
- Homens de um livro só: o Fundamentalismo no Islã, no Cristianismo e no pensamento
moderno (Rio de Janeiro, 2008)
- A Inteligência da Fé: Cristianismo, Islã, Judaísmo (Rio de Janeiro, 2006)
- Mística Islâmica: convergência com a espiritualidade cristã (Petrópolis, 2001)
- Iniciação ao Islã e Sufismo (Rio de Janeiro, 2000)
364
Joseph Epes Brown (1920-2000)
Acadêmico americano que se dedicou ao longo de sua vida
às tradições dos nativos americanos ajudando a trazer o estudo
das tradições religiosas dos índios norte-americanos para o
ensino superior. Sua obra seminal foi um livro intitulado, “The
Sacred Pipe”, um relato de suas discussões com o homem santo
Lakota, Black Elk, sobre os ritos religiosos de seu povo.
Óscar Freire140
Autor tradicional argentino, seus artigos chamam a atenção imediatamente pela
ortodoxia, tal como nos foi legada pela obra de Guénon, a coerência (ajuste lógico
perfeito entre o todo e suas partes) e generosidade. Óscar Freire aborda uma vasta
gama de tópicos, tais como importantes questões lingüísticas, a mentalidade moderna
e a tradicional, o simbolismo e registros cuidadosamente preparados de formas
139
Mais conhecido pelo seu romance "Admirável Mundo Novo".
140
Obras de Óscar Freire em espanhol para baixar:
https://sites.google.com/site/tradicionrc/islam/oscar-freire
http://www.reneguenon.net/OscarFreire/OscarFreireTextoIndex.html
365
tradicionais pouco faladas, tais como os aborígines australianos e os nativos das três
Américas.
141
Obras de Julius Evola em espanhol para baixar:
https://sites.google.com/site/tradicionrc/otros-autores/julius-evola
142
O envolvimento de Evola com o fascismo é um dos motivos.
143
"Revolta Contra O Mundo Moderno" é em parte cópia e em parte desenvolvimento de "A Crise do
Mundo Moderno" de Guenon.
366
Luiz Pontual
Luiz Pontual144, prêmio Esso de jornalismo e diretor e editor do
Instituto René Guénon de Estudos Tradicionais. Publicou o livro
"Você ainda acredita em democracia?".
144
http://www.reneguenon.net/lpontual.html
367
A Revista Sabedoria Perene
São precisamente estes três sábios, cujo advento o mundo moderno não
conseguiu evitar, os ‘alvos’ do bloco “In memoriam” que antecipa o encerramento do
primeiro número. Procurar-se-á manter esta forma de conclusão em futuros números,
prestando homenagem às grandes iluminárias desta corrente de pensamento que
procura fazer emergir da escuridão este mundo dessacralizado.
368
No último bloco deste número, denominado “Fragmentos de espiritualidade”,
são oferecidas algumas pérolas de sabedoria espiritual de várias tradições da
humanidade, aquelas que fazem brotar “sutis lágrimas, … quando o corpo e a alma são
invadidos por Essa Infinitude que não cabe em parte alguma”.
145
http://www.box.net/shared/h2vbo2nlz2
369
Carta aberta sobre a Tradição (resumo) – James Cutsinger
Estudos da Tradição
O ponto de partida de René Guénon, parte I – Miguel Conceição
Esoterismo islâmico – René Guénon
Ritos e símbolos – René Guénon
Gnose cristã – Frithjof Schuon
Mulheres de Luz no Sufismo – Sachiko Murata
Sobre a tradução – Ali Lakhani
Religião, Ortodoxia e Intelecto – William Stoddart
Schuon e as grandes figuras espirituais do séc. XX – Mateus Soares de Azevedo
Nembutsu como ‘Lembrança’ – Marco Pallis
In memoriam
René Guénon – Martin Lings
A Tradição Primordial: Um tributo a Ananda Coomaraswamy – Ranjit Fernando
Um sábio para o nosso tempo: O papel e a obra de Frithjof Schuon – Harry Oldmeadow
Fragmentos de espiritualidade
Pitágoras – São Simeão, o Novo Teólogo – Padres Jean-Pierre de Caussade e Loius
Lallement – Frithjof Schuon – Black Elk – Bhagavan Sri Ramana Maharshi – Jalâluddîn Rumi
In memoriam
Titus Burckhardt e a escola perenialista – William Stoddart
146
http://www.box.net/shared/3tkribyar8
370
Revista Sabedoria Perene - Número 3147
Epílogo
Pontifex e Khalîfah – Frithjof Schuon
Links:
A Sabedoria Perene
http://sabedoriaperene.blogspot.com.br
La Tradición
https://sites.google.com/site/tradicionrc/home
Aqui encontramos todas as obras de Guenon em espanhol para
baixar e de vários outros autores perenialistas148.
Frithjof Schuon
Textos em português do grande porta-voz da Filosofia Perene
https://fschuon.net/
147
http://www.box.net/shared/ota0u8zsf8mrk87ikdmx
148
https://sites.google.com/site/tradicionrc/home/autores/rene-guenon
371
A Árvore da Tradição Primordial segundo o Instituto René Guénon de Estudos
Tradicionais - IRGET
372
A Metafísica Oriental149
Tomamos, como tema desta exposição, a metafísica oriental; teria sido melhor,
talvez, dizer simplesmente a metafísica, sem qualificativos, pois na verdade a
metafísica pura, situando-se, por essência, acima e além de todas as formas e todas as
contingências, não é nem oriental nem ocidental: é universal. Somente as formas
exteriores — com as quais ela se reveste para atender às necessidades de exposição,
para exprimir o quanto, nela, seja exprimível — somente tais formas é que podem ser
orientais ou ocidentais; mas, sob a diversidade delas, é um fundo idêntico que se
reencontra por toda a parte e sempre, ao menos, onde haja metafísica verdadeira, e
isto pela simples razão de que a Verdade é uma e única.
149
http://espelhosdatradicao.blogspot.com.br/2010/10/metafisica-oriental-rene-guenon.html
373
caso desses, que é o da civilização ocidental moderna. Tomando em consideração
somente as principais civilizações do Oriente, o equivalente da metafísica hindu
encontra-se na China, no Taoísmo; encontra-se também, por outro lado, em certas
escolas esotéricas do Islã (deve ficar bem entendido, aliás, que esse esoterismo
islâmico nada tem de comum com a filosofia externa dos árabes, na maior parte de
inspiração grega). A única diferença é que, fora da Índia, tais doutrinas são reservadas
a uma elite mais restrita e mais fechada; foi também o que se deu no Ocidente, na
Idade Média, num esoterismo comparável, sob muitos aspectos, ao do Islã e tão
puramente metafísico quanto este, mas de cuja existência os modernos, na maior
parte, sequer suspeitam. Quanto à Índia, não é possível falar de esoterismo, no sentido
próprio da palavra, porque lá não se encontra uma doutrina de duas faces, uma
exotérica outra esotérica; o que pode ocorrer é simplesmente um esoterismo natural,
no sentido de que cada um se aprofundará mais ou menos na doutrina e irá mais
longe ou menos longe conforme a medida das suas possibilidades intelectuais, desde
que há, para certas individualidades humanas, limitações que são inerentes à sua
natureza mesma, e que lhes é impossível superar.
Naturalmente, as formas mudam de uma civilização para outra, pois que devem
ser adaptadas a condições diferentes; mas, embora mais acostumado às formas
hindus, não tenho nenhum escrúpulo em empregar outras em caso de necessidade,
quando podem contribuir para a compreensão de certos pontos; não há nisto nenhum
inconveniente, já que se trata, afinal, de diferentes expressões da mesma coisa.
Novamente, aqui, a verdade é uma, e é a mesma para todos aqueles que, por qualquer
via que seja, tenham chegado ao seu conhecimento.
Dito isto, convém entendermo-nos quanto ao sentido que se deve dar aqui à
palavra "metafísica", tanto mais que tenho tido frequentemente a ocasião de
constatar que nem todo mundo a compreende da mesma maneira. Penso que o
melhor a fazer com as palavras que podem dar margem a algum equívoco é restaurar,
tanto quanto possível, sua significação primária e etimológica. Ora, de acordo com sua
composição, a palavra “metafísica” significa literalmente "além da física", tomando-se
a palavra "física" na acepção que ela sempre tinha para os antigos, que era a de
"ciência da natureza" em toda a sua generalidade. Física é o estudo de tudo aquilo
que pertence ao domínio da natureza; o que diz respeito à metafísica é aquilo que está
para além da natureza. Como então podem alguns alegar que o conhecimento
metafísico é um conhecimento natural, seja quanto ao seu objeto, seja quanto às
faculdades pelas quais esse conhecimento é obtido? Há nisto um verdadeiro contra-
senso, uma contradição nos próprios termos; e entretanto, o que é mais assombroso,
acontece que essa confusão é cometida por aqueles mesmos que deveriam ter
conservado alguma ideia da verdadeira metafísica e saber distingui-la mais
nitidamente da pseudo-metafísica dos filósofos modernos.
374
Mas, dirão, se essa palavra "metafísica" dá margem a tais confusões, não valeria
mais renunciar ao seu emprego e substituí-la por uma outra que apresentasse menos
inconvenientes? Na verdade isso seria desaconselhável, já que, por sua formação, essa
palavra convém perfeitamente àquilo de que se trata — e de resto não é possível fazê-
lo, porque as línguas ocidentais não possuem nenhum outro termo que seja tão bem
adaptado a esse uso. Empregar pura e simplesmente a palavra "conhecimento", como
se faz na Índia, — uma vez que se trata, com efeito, do conhecimento por excelência, o
único absolutamente digno desse nome — é algo que não se deve nem pensar; pois
isso seria ainda menos claro para os ocidentais, que, em matéria de conhecimento,
estão habituados a não ter em vista nada fora do conhecimento científico e racional. -
E, afinal, será necessário preocuparmo-nos tanto com o abuso que se fez de uma
palavra? Se devêssemos rejeitar todas as palavras que estão nesse caso, quantas
restariam ainda à nossa disposição? Não bastará tomarmos as precauções devidas
para afastar os enganos e os mal-entendidos? Não temos pela palavra "metafísica" um
apego maior do que por qualquer outra; mas, enquanto não nos houverem proposto
um melhor termo para substituí-lo, continuaremos a nos servir dele, como o temos
feito até agora.
Mas, sem dúvida, farão aqui uma objeção: será possível ultrapassar assim a
natureza? Não hesitaremos em responder de maneira bastante nítida: não somente
isso é possível, mas isso é. Não passa de uma afirmação, dirão ainda: que provas se
poderia oferecer disso? É verdadeiramente estranho que alguém peça provas da
possibilidade de um conhecimento, em vez de tentar averiguá-lo por si mesmo
mediante o trabalho necessário para adquiri-lo. Para quem possui tal conhecimento,
que interesse e que valor podem ter todas essas discussões? O fato de substituir a
375
"teoria do conhecimento" ao conhecimento mesmo é talvez a mais bela declaração de
impotência da filosofia moderna.
Existe, aliás, com toda certeza, alguma coisa de incomunicável; ninguém pode
atingir realmente um conhecimento qualquer senão através de um esforço
estritamente pessoal, e tudo o que um outro pode fazer é mostrar-lhe a ocasião e os
meios de lá chegar. Eis porque, na ordem puramente intelectual, seria vão pretender
impor qualquer convicção; a melhor argumentação não poderia, no caso, substituir o
conhecimento direto e efetivo.
Agora: pode-se definir a metafísica, tal como a entendemos? Não, porque definir
é sempre limitar, e aquilo de que se trata é, em si, verdadeiramente e absolutamente
ilimitado, portanto não poderia deixar-se encerrar em nenhuma fórmula e em nenhum
sistema. Pode-se caracterizar a metafísica de uma certa maneira, por exemplo dizendo
que ela é o conhecimento dos princípios universais; mas isto não é propriamente uma
definição e, de resto, não pode dar senão uma ideia bastante vaga do que seja
metafísica. Acrescentaríamos alguma coisa se disséssemos que o domínio dos
princípios se estende muito mais longe do que pensaram certos ocidentais, — que
entretanto fizeram metafísica, mas de uma maneira parcial e incompleta. Assim ,
quando Aristóteles encarava a metafísica como o conhecimento do ser enquanto ser,
ele a identificava com a ontologia, isto é, tomava a parte pelo todo. Para a metafísica
oriental, o ser puro não é o primeiro nem o mais universal dos princípios, pois ele é já
uma determinação; é preciso portanto ir além do ser, e aí está realmente aquilo que
mais importa. Eis por que, em toda concepção verdadeiramente metafísica, deve-se
sempre reservar a parte do inexprimível; e, com efeito, tudo o que se pode exprimir
não é literalmente nada em vista daquilo que ultrapassa toda expressão, tal como o
finito, qualquer que seja a sua grandeza, é nulo em face do infinito. Podemos sugerir,
muito mais do que exprimir, e este é, em suma, o papel que desempenham aqui as
formas exteriores; todas essas formas, trate-se de palavras ou de símbolos quaisquer,
não constituem mais do que um suporte, um ponto de apoio para nos elevarmos a
possibilidades de concepção que as ultrapassem incomparavelmente; voltaremos a
este assunto logo mais.
376
intelectual e uma intuição sensível; uma está além da razão, mas a outra está aquém;
esta última não pode apreender senão o mundo da mudança e do devir, isto é, a
natureza, ou antes, uma ínfima parte da natureza. O domínio da intuição intelectual,
ao contrário, é o domínio dos princípios eternos e imutáveis; é o domínio metafísico.
Teoria, dissemos, mas não é apenas de teoria que se trata, e este é ainda um
ponto que pede explicação. O conhecimento teórico, que ainda não passa de um
conhecimento indireto e de certo modo, simbólico, não é mais que uma preparação,
377
aliás indispensável, do verdadeiro conhecimento. Ele é, além do mais, o único que é
comunicável, de certo modo, e mesmo assim não completamente; eis por que toda
exposição não é mais do que um meio de abordar o conhecimento, e este
conhecimento, que não é, de início, mais do que virtual, deve em seguida ser realizado
efetivamente. Encontramos aqui uma nova diferença em relação àquela metafísica
parcial a que fizemos alusão anteriormente, a de Aristóteles por exemplo, já
teoricamente incompleta por limitar-se ao ser, e na qual, além do mais, a teoria
parece ser apresentada como algo que se bastasse a si mesmo, em lugar de ser
ordenada expressamente em vista de uma realização correspondente, assim como
sempre o é em todas as doutrinas orientais. Entretanto, mesmo nessa metafísica
imperfeita seríamos tentados a dizer, nessa semi-metafísica, encontramos às vezes
afirmações que, se tivessem sido compreendidas, deveriam ter conduzido à
consequências inteiramente outras: assim, Aristóteles não chega a dizer nitidamente
que um ser é tudo aquilo que ele conhece? Esta afirmação da identificação pelo
conhecimento é o princípio mesmo da realização metafísica; mas, no caso, esse
princípio permanece isolado, não tem mais valor que o de uma declaração
inteiramente teórica, não se tira dela nenhum proveito, e parece que, após tê-la
postulado, não se pensa mais nisso; como é possível que o próprio Aristóteles e seus
continuadores não tenham visto melhor tudo aquilo que ela implicava?
É verdade que o mesmo ocorre em muitos outros casos, e que eles parecem
esquecer às vezes coisas tão essenciais quanto a distinção entre o intelecto puro e a
razão, após as terem entretanto formulado, e de maneira não menos explícita; são
estranhas lacunas . Deveríamos ver nisso o efeito de certas limitações que fossem
inerentes ao espírito ocidental, salvo exceções mais ou menos raras, mas sempre
possíveis? Isto pode ser verdade numa certa medida, mas, entretanto não se deve crer
que a intelectualidade ocidental tenha sido em geral tão estritamente limitada,
outrora, quanto na época moderna. Só que doutrinas como estas não são afinal de
contas mais do que doutrinas exteriores — bem superiores a muitas outras, já que
abrangem apesar de tudo uma parte de metafísica verdadeira, mas sempre misturada
à considerações de outra ordem, que, por seu lado, nada têm de metafísica... Da nossa
parte, temos a certeza de que no Ocidente já existiu algo de diferente, na
Antiguidade e na Idade Média; que houve, para uso de uma elite, doutrinas
puramente metafísicas e que podemos dizer completas, incluindo a mencionada
realização, a qual, para a maior parte dos modernos, é sem dúvida uma coisa difícil de
conceber; se o Ocidente perdeu também totalmente a lembrança disso, é que ele
rompeu com suas próprias tradições, e eis por que a civilização moderna é uma
civilização anormal e desviada.
378
certeza matemática - que já está ligada a um tal conhecimento, ele não seria, em
suma, senão um análogo, numa ordem incomparavelmente superior, daquilo que na
sua ordem inferior, terrestre e humana, é a especulação científica e filosófica. Não é aí
que deve estar a metafísica; que outros se interessem por um "jogo de espírito" ou por
aquilo que pode parecê-lo, é assunto que somente a eles lhes diz respeito; quanto a
nós, as coisas desse gênero nos são antes indiferentes, e pensamos que as
curiosidades do psicólogo devem ser perfeitamente alheias ao metafísico. Para este,
aquilo de que se trata é de conhecer aquilo que é, e de conhecê-lo de tal modo que ele
mesmo seja, real e efetivamente, tudo aquilo que conhece.
Quanto aos meios da realização metafísica, bem sabemos qual objeção podem
fazer, naquilo que lhes concerne, aqueles que creem dever contestar a possibilidade
dessa realização. Esses meios, com efeito, devem estar ao alcance do homem; devem,
nos primeiros estágios, ao menos, ser adaptados às condições do estado humano, já
que é nesse estado que se encontra atualmente o ser que, partindo daí, deverá tomar
posse dos estados superiores. É, portanto, nas formas que pertencem a este mundo,
onde se situa a sua manifestação presente, que o ser tomará um ponto de apoio para
elevar-se acima deste mesmo mundo; palavras, signos simbólicos, ritos ou
procedimentos preparatórios quaisquer, não têm outra razão de ser nem outra
função: como já dissemos, são suportes e nada mais. Mas, dirão alguns, como é
possível que esses meios puramente contingentes produzam um efeito que os
ultrapassa imensamente, que é de uma ordem inteiramente outra que não aquela à
qual eles mesmos pertencem? Faremos desde logo notar que eles não são, na
realidade, mais do que meios acidentais, e que o resultado que eles ajudam a obter
não é de maneira alguma um efeito deles; eles colocam o ser nas disposições
requeridas para chegar mais facilmente ao resultado, e nada mais. Se a objeção que
temos em vista fosse válida nesse caso, ela valeria igualmente para os ritos religiosos, -
para os sacramentos, por exemplo - onde a desproporção não é menor entre o meio e
o fim; alguns daqueles que formulam tal objeção talvez não tenham nem sequer
pensado nisso. Quanto a nós, não confundimos um simples meio com uma causa, no
sentido verdadeiro desta palavra, nem encaramos a realização metafísica como um
efeito do que quer que seja, porque ela não é produção de alguma coisa que não
exista ainda, mas a tomada de consciência daquilo que é, de uma maneira permanente
e imutável, fora de toda sucessão, - temporal ou qualquer outra - pois todos os estados
do ser, encarados em seu principio, estão em perfeita simultaneidade no eterno
presente.
379
conhecimento teórico. Este, por outro lado, não poderia ir muito longe, sem um meio
que devemos assim considerar como aquele que desempenhará o papel mais
importante e mais constante: esse meio é a concentração; e aí reside alguma coisa de
absolutamente estranho, de contrário mesmo, aos hábitos mentais do Ocidente
moderno, onde tudo não tende senão à dispersão e à mudança incessante. Todos os
outros meios não são mais do que secundários em relação a esse: eles servem
sobretudo para favorecer a concentração, e também para harmonizar entre eles os
diversos elementos da individualidade humana, a fim de preparar a comunicação
efetiva entre essa individualidade e os estados superiores do ser.
380
sentidos para além do domínio corporal e sensível; e é através desses prolongamentos
que se poderá em seguida estabelecer a comunicação com outros estados.
381
geral, incluindo todos os estados individuais quaisquer que sejam, pois a forma é a
condição comum a todos esses estados, é aquilo pelo qual se define a individualidade
como tal. O ser, que já não pode mais ser dito humano, saiu doravante da "corrente
das formas", segundo a expressão extremo-oriental. Haveria, aliás, outras distinções a
fazer, pois esta fase pode-se subdividir: ela comporta, na realidade, muitas etapas,
desde a obtenção de estados que, se bem que informais, pertencem ainda à existência
manifestada, até o grau de universalidade que é aquele do ser puro.
Acrescentamos ainda que todo resultado, mesmo parcial, obtido pelo ser no
curso da realização metafísica, é obtido de uma maneira definitiva. Esse resultado
constitui, para esse ser, uma aquisição permanente, que nada poderá jamais fazê-lo
perder; o trabalho realizado nessa ordem, mesmo que venha a ser interrompido antes
do termo final, está feito de uma vez por todas, pela razão mesma de estar fora do
tempo. Isto é verdadeiro mesmo quanto ao conhecimento teórico, pois todo
conhecimento traz seu fruto em si mesmo, sendo, nisto, bem diferente da ação, que
não é mais do que uma modificação momentânea do ser, e que é sempre separada
382
dos seus efeitos. Estes, de resto, são do mesmo domínio e da mesma ordem de
existência daquilo que os produziu; a ação não pode ter por efeito libertar da ação, e
suas consequências não se estendem além dos limites da individualidade, enfocada
aliás na integralidade da extensão de que é suscetível. A ação, qualquer que seja, não
sendo oposta à ignorância, que é a raiz de toda limitação, não poderia fazê-la
desaparecer: só o conhecimento dissipa a ignorância, como a luz do sol dissipa as
trevas, e é então que o "Si", o eterno e imutável princípio de todos os estados
manifestos e não-manifestos, aparece em sua suprema realidade.
Após esse esboço bastante imperfeito, e que não dá seguramente mais do que
uma fraca ideia daquilo que pode ser a realização metafísica, deve-se fazer uma
observação que é inteiramente essencial para evitar graves erros de interpretação: é
que tudo aquilo de que se trata aqui não tem nenhuma relação com fenômenos
quaisquer, nem mais nem menos extraordinários. Tudo aquilo que é fenômeno é de
ordem física; a metafísica está para além dos fenômenos; e tomamos esta palavra em
sua mais ampla generalidade. Resulta daí, entre outras consequências, que os estados
dos quais acabamos de falar não têm absolutamente nada de "psicológico"; é preciso
dizê-lo claramente, porque às vezes se produziram, com respeito a isso, singulares
confusões. A psicologia, por definição mesma, não poderia abranger senão os estados
humanos, e ainda, tal como a entendem hoje, ela não atinge mais do que uma zona
muito restrita nas possibilidades do indivíduo, que se estendem bem mais longe do
que os especialistas dessa ciência podem supor. O indivíduo humano, com efeito, é ao
mesmo tempo muito mais e muito menos do que geralmente se pensa no Ocidente;
ele é muito mais em razão de suas possibilidades de extensão indefinida para além da
modalidade corporal, à qual se reporta em suma tudo aquilo que geralmente se estuda
a respeito; mas ele é também muito menos, já que, bem longe de constituir um ser
completo e suficiente em si mesmo, não é mais do que uma manifestação exterior,
uma aparência fugidia revestida pelo ser verdadeiro, e pelo qual a essência deste
não é de forma alguma afetada em sua imutabilidade.
383
levar a realização mais longe do que o grau ao qual já tenha chegado no instante em
que sobrevém esse desvio.
384
simples adaptação a tais ou quais circunstâncias particulares, às condições específicas
de uma raça ou de uma época determinada. Daí resulta a multiplicidade das formas;
mas o fundo da doutrina não é de maneira alguma modificado ou afetado por ela,
tanto quanto a unidade e a identidade essenciais do ser não são alteradas pela
multiplicidade de seus estados de manifestação.
385
limita à ordem humana nem à ordem natural, aquela que torna possível o
conhecimento metafísico puro em sua absoluta transcendência. Parece-me que basta
refletir um instante nessas questões para não ter nenhuma dúvida nem hesitação
alguma quanto à resposta que lhes convém dar.
386
Para Ler René Guénon - O Mestre da Tradição
Claro, essa obra tem caracteres tão especiais que a dificuldade de classificá-la –
e portanto de entender suas verdadeiras intenções – pode afastar mesmo os mais
honestos leitores.
387
O contraste é chocante para o leitor: de um lado, a humildade de quem não tem
nenhuma pretensão a ser original numa época onde esta parece ser a preocupação
maior de cada intelectual, e que não apenas reconhece como enfatiza seu débito para
com tradições de ensino várias vezes milenares; de outro lado, a arrogância intolerável
de que, não expondo uma simples opinião ou hipótese, mas nada menos que a
Verdade, exige mais do que um primeiro assentimento: exige a submissão integral.
Essa primeira impressão, por desagradável que seja, parece-me antes útil do que
prejudicial à compreensão dos textos, com a condição, entretanto, de que nenhum dos
termos venha mais tarde a ser esquecido, isto é, de que movido por uma reação
emocional qualquer, o leitor não venha a enfatizar nem a impessoalidade humilde do
homem, nem a rigidez dogmática dos textos, pois são termos que se complementam e
se explicam solidariamente. Esquecidos disso, os inimigos de Guénon embriagaram-se
em especulações sobre o seu “orgulho intelectual”, o que seria legítimo somente no
caso de ele alegar a posse pessoal da Verdade e assumir a defesa da sua doutrina,
coisa que ele jamais fez.
388
A vida de Guénon pode ser resumida em poucas linhas. Após estudos primários e
secundários brilhantes, perturbados apenas pela saúde instável, fez o curso superior
de matemática, durante o qual aproximou-se de grupos de estudos ocultistas,
liderados pelo famoso Papus. Não demorou a desligar-se deles, por perceber a
inconsistência de suas doutrinas e a ausência de qualquer vínculo verdadeiro com uma
Tradição inicial. Teve, em seguida, a felicidade de ligar-se a fontes legítimas das
tradições espirituais orientais, em particular a hindu, a taoísta e a islâmica (sufismo),
das quais seus livros representaram e representam, até hoje, a primeira e melhor
exposição em língua ocidental.
Tudo isso acaba por levá-lo a uma situação de quase total isolamento no
panorama cultural europeu. Na década de 30 ele parte para o Egito, onde, acredita, os
389
traços vivos de uma civilização tradicional lhe permitiriam viver segundo os princípios
que foram a base da sua vida e da sua obra, sem defrontar-se com os obstáculos que a
civilização moderna lhe opõe.
No Egito, Guénon adota o nome árabe Abdel-Wâhed Yahia (“João, servidor d’O
Único”) e casa-se com a filha de um xeque (mestre espiritual), com a qual veio a ter
quatro filhos. Nesse período continuou escrevendo artigos, em árabe e em francês
datando daí alguns de seus trabalhos mais importantes, como Le Règne da la Quantité.
Respeitado e temido, ele raramente foi e raramente é lido de maneira compreensiva,
responsável e “desde dentro”. Uma ideia da temerosa distância que dele manteve a
intelectualidade europeia do seu tempo é dada pela reação de André Gide: “Se
Guénon tem razão, então toda a minha obra cai por terra.”
Quando lhe perguntaram por que, então, não reformava suas posições. Gide
confessou: “O que Guénon diz é irrefutável, mas eu já estou velho demais para
recomeçar.”
Essa foi sua última frase, mas não sua última palavra. No instante derradeiro,
Guénon disse claramente: “Allah!” (“Deus!”)
Nesse sentido, não se entende como até um crítico compreensivo como Paul
Sérant (René Guénon, Paris, Le Courrier du Livre, 1977) tenha julgado que “ao homem,
390
como à obra, faltava sem dúvida alguma coisa. Que coisa? Talvez esse privilégio que
consagra a vitória do Espírito... esse privilégio ao qual a tradição ocidental deu, de uma
vez para sempre, o nome de santidade.”
Pois talvez não haja outra palavra para caracterizá-lo, senão a de Rama
Maharshi, para quem Guénon era “The Great Sufi”. Râmana, a quem ninguém negará a
condição de santo, usava a linguagem da Tradição, e nesta, o termo sufi não é
empregado para designar aquele que tenha qualquer ligação em qualquer nível com
uma certa corrente esotérica, mas unicamente aquele que alcançou o supremo grau
da realização espiritual, conhecido na Tradição hindu como a União ou a Libertação.
Não estou canonizando Guénon por conta própria, mas uma vida que, em
recompensa da anulação do indivíduo a serviço da Verdade, encontra apenas a
incompreensão, a perseguição e, para cúmulo, a acusação de orgulho, coroa-se de
uma certa aura que impõe silêncio e respeito, mesmo a seus adversários.
391
morte, em 1951, Guénon permanecerá, sem nenhuma alteração doutrinária o
defensor da Unidade contra “o espírito de negação e de revolta” da parte contra o
todo e do relativo contra o Absoluto, o qual espírito, personificado, recebe nas
tradições semíticas o nome de Shatan, Shaitan ou Satã, termos que querem dizer,
precisamente, “o Adversário”.
Foi o que ele fez, ao mostrar aos arautos da “civilização cristã ocidental” que os
“preceitos éticos”, em nome dos quais pretendiam civilizar o Oriente “bárbaro”, não
eram senão o eco histórico distante de velhíssimas doutrinas orientais, cujo sentido
intelectual se perdera no Ocidente, deixando apenas um ranço sentimental
substitutivo.
Assim ele fez, também, com a moderna ciência ocidental, ao mostrar que muitas
de suas teorias não passam de velhas verdades metafísicas mal compreendidas e
distorcidas pelo tempo. Por exemplo, ao mostrar que o sistema de numeração binária,
– que seu inventor, Leibniz, pretendia constituir a chave (finalmente descoberta!) dos
hexagramas chineses do I Ching – não passava de um aspecto secundário e
contingente dentro de um texto sagrado cujas verdadeiras dimensões nem Leibniz
nem todos os seus contemporâneos ocidentais estavam em condições de imaginar.
Tal ele fez também ao mostrar como o atual “progresso econômico” do qual o
Ocidente se orgulha, e em nome do qual invade, saqueia e descaracteriza outras
civilizações, não passa de um processo de quantificação crescente, que os antigos
textos védicos já previam, milênios atrás, como o auge da desqualificação e da
decadência.
392
Guénon conhece, compreende e exalta cada tradição em particular, incluindo as
religiões, e às vezes as expõe com uma retidão tanto ou mais “ortodoxa” do que
conseguiriam seus representantes “oficiais”. Mas, tão logo o representante de uma
religião ou de uma corrente esotérica pretendesse realçar sua “superioridade” perante
as demais, Guénon virava o disco, para mostrar a dependência dessa corrente
específica em relação à Tradição primordial.
Por isso, entre os representantes tanto das religiões quanto das sociedades
esotéricas, Guénon só obteve o apoio, velado ou declarado, dos homens de
inteligência mais universal, capazes de sobrepor o “espírito, que vivifica”, à “letra que
mata”. Sua obra surge, assim, como um divisor de águas, e por isso foi possível vê-lo,
ora discutindo com os representantes do oficialismo religioso (um Maritain, por
exemplo), em nome da Tradição, ora reconvertendo cristãos, muçulmanos ou judeus
modernizados, às suas tradições de origem. No Islã, onde terminou seus dias ignorado
pela maioria dos representantes da religião oficial, ele é hoje reconhecido como um
potente renovador dos estudos islâmicos. Mas pode-se dizer que os cristãos ainda não
reconheceram sua imensa dívida para com uma obra capaz, por si só, de dissolver
todas as objeções do mais empedernido “materialista científico” e devolvê-lo à Igreja
de Cristo, por uma força intelectual superior a toda confusão dialética do ateísmo
moderno.
1º) O combate aos erros modernos, que é a parte mais facilmente acessível de
sua obra, por estar mais próxima das preocupações do intelectual de hoje, dividida em
três setores:
393
c) Crítica da pseudo-espiritualidade. A maior parte das correntes pretensamente
esotéricas da atualidade derivam da decomposição e do desvio de correntes
tradicionais e, quando não resultam da ignorância pura e simples, emanam de uma
tendência deliberadamente contra-iniciática. Por exemplo: “O Erro Espírita” (1923); “O
Teosofismo – História de Uma Pseudo-Religião” (1921).
Muitos dos seus textos participam de vários desses temas ao mesmo tempo, e a
mais notável síntese de muitos planos de abordagem, a meu ver, é “O Reino da
Quantidade”, onde todos os temas se interpenetram em cada capítulo, de maneira
majestosamente sinfônica, enquanto em “A Metafísica Oriental”, por exemplo, apura e
simples exposição da doutrina esotérica, nas entrelinhas de um discurso dos mais
sóbrios e serenos, as mais explosivas condenações ao mundo moderno.
Quero dizer que essa estruturação é apenas uma das muitas possíveis para uma
obra tremendamente complexa, mas que ela basta para situar o leitor.
394
sob a orientação pessoal de Guénon), essa obra pode constituir-se, ela mesma, no
centro da vida de quem se dispõe a estudá-la.
http://hermetismoymasoneria.com/ps10frar2.htm
Proposta do IRGET
Colocamos esta obra à parte pois ali estão delimitados, ordenados e qualificados
os campos de estudo e, principalmente, os modos apropriados para que possam ser
empreendidos conforme o espírito oriental.
150
http://www.reneguenon.net/IRGETGuenonComoEstudar.html
395
Estes dois livros foram escritos segundo o mais rigoroso "método histórico", com
farta documentação que, na segunda edição, foi aumentada e tornou-se
superabundante.
3) O Mundo Moderno
O terceiro grupo de livros a estudar refere-se a um exame apurado das raízes e
engrenagens do mundo moderno, sob luz intelectual de magnitude, profundidade e
envergadura sem paralelo no mundo contemporâneo. Muitos se sentirão
profundamente desconcertados ao constatarem o quanto estão impregnados de falsas
ideias e pseudo-princípios, coisas do tipo "democracia", "progresso" e "ciência
moderna".
396
estudados à parte, calma e profundamente, pois são ferramentas fundamentais na
compreensão do conjunto.
"Oriente e Ocidente"
"Crise do Mundo Moderno"
"Autoridade Espiritual e Poder Temporal"
"O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos".
Em seguida veremos duas obras que fazem limite com o lado propriamente
doutrinal da obra de Guénon.
151
O “Rei do Mundo" é citado por Raymond Bernard em seu livro “Encontros Com O Insólito”.
397
De fato, trata-se da abordagem de um tema insólito e mais ou menos
inacreditável, isto é, a existência de um Reino Subterrâneo, a "Agartha" e de um
Sacerdote-Rei, Melquisedeque.
152
Sobre os muitos mitos estrangeiros que cresceram em volta da lenda de Shambhala encontrada na
literatura de Kalachakra do budismo tibetano, Ossendowski, Agharti, Agharta, Rei do Mundo, Saint-Yves
d' Alveidre, Shangri-lá, Horizonte Perdido, Blavatsky, A Doutrina Secreta, o deserto de Gobi, Nikolai
Roerich, Thule, Vril, Rudolf Steiner, Alice Bailey, o movimento Nova Era, nazismo, ocultismo, Sociedade
de Thule, Sociedade do Vril, suástica, ariosofia, raça ariana, Louis Pauwels e Jacques Bergier - "O
Despertar dos Mágicos", Alexandra David-Neel, Hitler, Ahnenerbe, ver os estudos do Dr. Alexander
Berzin em:
http://studybuddhism.com/pt/estudos-avancados/historia-e-cultura/shambhala/mitos-erroneos-sobre-
shambhala
e
http://studybuddhism.com/pt/estudos-avancados/historia-e-cultura/shambhala/a-conexao-nazista-
com-shambhala-e-o-tibete
398
Guénon, como Dante e Ibn Arabi, se dissolve como indivíduo no Mar da
Sabedoria, identifica-se ao Universal.
Uma pedra pode ser uma ponte ou um obstáculo intransponível; quem não se
der conta do que é "intuição intelectual" está no segundo caso e bem sabemos quão
profundo é o koan "água e pedra".
7) Pedra de Abóboda
O "fecho" ou - quem sabe, o melhor termo não seria "desfecho"? - da obra de
Guénon é o grupo de livros essencialmente doutrinais:
2) O Simbolismo da Cruz
399
sempre, junto à Maçonaria. Estas obras dissipam as dúvidas mais frequentes, pautam
rigorosamente os critérios de regularidade e ortodoxia, e ao final das contas, acabam
por descartar as inúmeras enganações que pululam por aqui e lá fora.
“Existe ainda um ponto que é para nós muito importante para que o deixemos de lado nestas
considerações preliminares, embora já o tenhamos explicado bastante em ocasiões anteriores; mas,
como nem todos parecem tê-lo compreendido, convém insistir ainda um pouco sobre ele. Este ponto é o
seguinte: o conhecimento verdadeiro, o único que temos em vista, tem pouca relação, se é que tem
alguma, com o saber “profano”; os estudos que constituem esse último não são em nenhum grau e sob
nenhum título uma preparação, mesmo longínqua, para abordar a “Ciência sagrada”, e às vezes eles
constituem ao contrário um obstáculo, em razão da deformação mental muitas vezes irremediável que
é a conseqüência mais comum de um certo tipo de educação. Para doutrinas como a que iremos expor,
um estudo tomado “do exterior” não teria nenhum proveito; não se trata de história, como já dissemos,
nem tampouco de filologia ou literatura; e acrescentaremos, embora arriscando-nos a nos repetir
fastidiosamente, que tampouco se trata de filosofia. Todas essas coisas, com efeito, fazem igualmente
parte deste saber que qualificamos de “profano” ou de “exterior”, não por preconceito, mas porque é
assim que é na realidade; cremos não ter de nos preocupar em agradar a uns ou desagradar a outros,
mas sim de dizer o que é e de atribuir a cada coisa o nome e o lugar que lhe convém normalmente. Não
é porque a “Ciência sagrada” tenha sido tão odiosamente caricaturada, no Ocidente moderno, por
impostores mais ou menos conscientes, que se deva evitar de falar nela, ou negá-la, ou no mínimo
ignorá-la; ao contrário, afirmamos alto e bom som não apenas que ela existe, mas ainda que ela é a
única de que iremos nos ocupar."
Aqueles que quiserem se reportar ao que já dissemos em outras ocasiões das extravagâncias dos
ocultistas e dos teosofistas compreenderão imediatamente que aquilo de que se trata é bem outra
coisa, e que estas pessoas não passam, a nossos olhos, de simples “profanos”, e mesmo de “profanos”
agravam singularmente se caso procurando fazer-se passar pelo que não são, o que é aliás uma das
principais razões por quê julgamos necessário mostrar a inanidade de suas pretensas doutrinas, cada vez
que se apresente a ocasião.”
400
Em seguida, veremos como Guénon apresenta "O Simbolismo da Cruz":
"No início de “O Homem e Seu Devir Segundo o Vedanta”, apresentamos aquela obra como
constituindo o começo de uma série de estudos nos quais poderíamos, conforme o caso, seja expor
diretamente certos aspectos das doutrinas metafísicas do Oriente, seja adaptar estas mesmas doutrinas
do modo que nos parecesse mais inteligível e proveitoso, embora sempre permanecendo fiel ao seu
espírito. É esta série de estudos que retomamos aqui, após have-la interrompido momentaneamente em
razão de outros trabalhos necessários a certas considerações oportunas, nos quais descemos antes de
tudo ao domínio das aplicações contingentes; mas, mesmo nestes casos, jamais perdemos de vista os
princípios metafísicos, que são o único fundamento de todo verdadeiro ensinamento tradicional.
Em “O Homem e Seu Devir Segundo o Vedanta”, mostramos como um ser tal como o homem é
encarado por uma doutrina tradicional e de ordem puramente metafísica, sempre nos mantendo, tão
estritamente quanto possível, dentro da rigorosa exposição e da interpretação exata da própria
doutrina, ou ao menos só saindo daí para assinalar, quando a ocasião permitia, as suas concordâncias
com outras formas tradicionais. De fato, jamais pretendemos permanecer fechados exclusivamente em
uma forma determinada, o que, aliás, seria bem difícil quando se tem consciência da unidade essencial
que se dissimula sob a diversidade das formas mais ou menos exteriores, que são como que vestimentas
diferentes de uma só e mesma verdade. Se, de modo geral, tomamos como ponto de vista central aquele
das doutrinas hindus, por razões já explicadas, isto não nos impediria de recorrer, quando cabível, aos
modos de expressão de outras tradições, desde que se tratasse de tradições verdadeiras, regulares e
ortodoxas, entendendo estes termos no sentido que já definimos em outras ocasiões.
É isto, em particular, que faremos aqui, de forma mais livre do que na obra precedente, porque se
trata, não mais da exposição de um certo ramo doutrinal, tal como ele existe numa dada civilização, mas
da explicação de um símbolo que é precisamente daqueles que são comuns a quase todas as
tradições, o que é para nós a indicação de que ele se liga diretamente à grande Tradição primordial.
É preciso, a este respeito, insistir um pouco sobre um ponto que é particularmente importante
para dissipar muitas confusões, infelizmente freqüentes em nossa época: trata-se da diferença capital
que existe entre “síntese” e “sincretismo”. O sincretismo consiste em juntar desde fora elementos mais
ou menos disparatados e que, vistos deste modo, não poderiam nunca ser unificados; não passa, no
fundo, de uma espécie de ecletismo, com tudo o que este comporta sempre de fragmentário e de
incoerente. Trata-se de algo puramente exterior e superficial; os elementos, tomados de todos os lados e
reunidos assim artificialmente não possuem senão o caráter de empréstimos, incapazes de se integrar
efetivamente numa doutrina digna deste nome. A síntese, ao contrário, efetua-se essencialmente desde
dentro; queremos com isto dizer que ela consiste propriamente em encarar as coisas na unidade de seu
princípio, em ver como elas derivam e dependem deste princípio, e em reuni-las assim, ou, antes, em
tomar consciência de sua união real, em virtude de uma ligação interior, inerente àquilo que há de mais
profundo em sua natureza. Para aplicar isso ao que nos ocupa no momento, podemos dizer que haverá
sincretismo todas as vezes em que se limite a emprestar elementos de diferentes formas tradicionais,
para soldá-los de certa forma exteriormente uns aos outros, sem saber que, no fundo, não há mais do
que uma doutrina única da qual estas formas não passam de expressões diversas, adaptações a
condições mentais particulares, em relação com circunstâncias determinadas de tempo e lugar.
Em semelhante caso, nada válido pode resultar deste conjunto; para usarmos uma comparação
facilmente compreensível, termos, ao invés de um conjunto organizado, uma maçaroca informe de
partes inutilizáveis, porque falta aí aquilo que poderia dar uma unidade análoga à de um ser vivo ou
de um edifício harmonioso; e é próprio do sincretismo, em razão mesmo de sua exterioridade, ser
incapaz de realizar tal unidade. Ao contrário, haverá síntese quando se parta da própria unidade, sem
perdê-la de vista através da multiplicidade de suas manifestações, o que implica que se tenha alcançado,
para além das formas, a consciência da verdade principal que se reveste delas para se exprimir e se
comunicar na medida do possível. Assim, poderemos nos servir de uma ou outra destas formas,
conforme a ocasião, exatamente do modo como podemos, para traduzir um mesmo pensamento,
empregar linguagens diferentes conforme as circunstâncias, a fim de se fazer compreender por
diferentes interlocutores; é isso, por sinal, que certas tradições designam simbolicamente como o “dom
das línguas”. As concordâncias entre todas as formas tradicionais representam, podemos dizer,
“sinonímias” reais; é assim que nós as encaramos e, do mesmo modo como a explicação de certas coisas
pode ser mais fácil em tal língua do que em outra, uma destas formas poderá servir melhor que as
outras à exposição de certas verdades e torná-las mais facilmente inteligíveis.
401
É portanto perfeitamente legítimo utilizar, em cada caso, a forma que parecer mais adaptada ao
que se pretende; não há nenhum inconveniente de passar de uma a outra, com a condição de se
conhecer sua equivalência, o que só pode ocorrer partindo de seu princípio comum. Assim, não haverá
sincretismo; este, de resto, não passa de um ponto de vista “profano”, incompatível com a noção mesma
de “ciência sagrada” à qual estes estudos se referem exclusivamente.
A cruz, dissemos, é um símbolo que, sob formas diversas, se encontra quase em toda parte, e
isto desde épocas muito recuadas; ele está, portanto, longe de pertencer exclusivamente ao
Cristianismo, como querem alguns. É preciso mesmo dizer que o Cristianismo, ao menos sob seu aspecto
exterior e geralmente conhecido, parece ter perdido um pouco de vista o caráter simbólico da cruz, para
ver nela não mais do que o signo de um fato histórico; na realidade, estes dois pontos de vista não se
excluem, e mesmo o segundo não é mais do que uma conseqüência do primeiro; mas este modo de ver
as coisas é a tal ponto estranho para a maioria dos nossos contemporâneos que devemos nos deter um
pouco aqui para evitar qualquer mal-entendido. De fato, existe uma tendência a se pensar que a
admissão de um sentido simbólico carrega em si a rejeição do sentido literal ou histórico; esta opinião
resulta da ignorância da lei de correspondência que é o fundamento mesmo de todo o simbolismo, e em
virtude de que cada coisa, procedendo essencialmente de um princípio metafísico do qual ela tira toda a
sua realidade, traduz ou exprime este princípio ao seu modo e segundo sua ordem de existência, de tal
maneira que, de uma ordem à outra, todas as coisas se encadeiam e se correspondem para concorrer à
harmonia universal e total que é, dentro da multiplicidade da manifestação, como que um reflexo da
própria unidade principial. É por isso que as leis de um domínio inferior podem sempre ser tomadas para
simbolizar as realidade de uma ordem superior, onde elas tem sua razão profunda, que é a um só tempo
seu princípio e seu fim; e podemos lembrar aqui, o erro das modernas interpretações “naturalistas” das
antigas doutrinas tradicionais, que invertem pura e simplesmente a hierarquia das relações entre as
diferentes ordens de realidades.
Este caráter simbólico, embora comum a todos os fatos históricos, deve ser particularmente mais
claro quando se referem àquilo que chamamos a “história sagrada”; e é o que encontramos, de modo
evidente, em todas as circunstâncias da vida do Cristo. Se ficou entendido o exposto, ver-se-á de
imediato que não só não há aí razão para negar estes eventos, tratando-os como “mitos” puros e
simples, mas ao contrário, estes eventos só poderiam ter sido como foram, e não poderiam ser
diferentes; como seria possível atribuir um caráter sagrado àquilo que seria completamente desprovido
de todo significado transcendente?
Em particular, se o Cristo morreu sobre a cruz, foi em função do valor simbólico que a cruz possui
em si e que sempre foi reconhecido por todas as tradições; é assim que, sem diminuir em nada seu
significado histórico, podemos vê-la como derivada deste próprio valor simbólico.
Uma outra conseqüência da lei de correspondência é a pluralidade de sentidos incluídos em cada
símbolo: uma coisa qualquer, de fato, pode ser considerada como representando não apenas os
princípios metafísicos, mas também as realidades de todas as ordens que lhe são superiores, mesmo que
ainda contingentes, porque estas realidades das quais ela depende também mais ou menos diretamente
desempenham em relação a ela o papel de “causas segundas”; e o efeito sempre pode ser tomado como
símbolo da causa, em qualquer grau que seja, porque tudo o que ele é não passa da expressão de
alguma coisa que é inerente à natureza desta causa. Estes sentidos simbólicos múltiplos e
hierarquicamente superpostos não se excluem mutuamente, assim como não excluem o sentido literal;
ao contrário, eles são perfeitamente concordantes entre si, porque eles exprimem na verdade as
aplicações de um mesmo princípio a ordens diversas; e assim eles se corroboram e se completam
integrando-se na harmonia da síntese total. É isto aliás que faz do simbolismo uma linguagem bem
menos limitada do que a linguagem comum, e o que o torna apto à expressão e à comunicação de certas
verdades; é por isso que ele abre possibilidades de concepção verdadeiramente ilimitadas; é por isso que
ele constitui a linguagem iniciática por excelência, o veículo indispensável a todo ensinamento
tradicional.
A cruz possui assim, como todo símbolo, múltiplos sentidos; mas nossa intenção não é de
desenvolver todos igualmente aqui, e alguns apenas indicaremos brevemente. O que temos
essencialmente em vista, de fato, é o sentido metafísico, que é aliás o primeiro e o mais importante, por
ser propriamente o sentido principial; todos os demais não passam de aplicações contingentes e mais ou
menos secundárias; e, se contemplarmos alguma destas aplicações, será sempre, no fundo, para ligá-las
à ordem metafísica, pois é isto o que, do nosso ponto de vista, as torna válidas e legítimas, conforme à
concepção, hoje completamente esquecida do mundo moderno, das “ciências tradicionais”.
402
Citações Escolhidas de René Guénon
“...o alcance do que vamos dizer está muito longe de se limitar à aplicação que se possa fazer
disso em uma forma iniciática particular, posto que se trata acima de tudo dos princípios fundamentais
que são comuns a toda iniciação, seja do oriente ou do ocidente.“ René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Efetivamente, a essência e a meta da iniciação são sempre e por toda parte as mesmas; só as
modalidades diferem, por adaptação aos tempos e aos lugares; e adicionaremos em seguida, para que
ninguém possa equivocar-se a este respeito, que esta própria adaptação, para ser legítima, não deve ser
nunca uma «inovação», quer dizer, o produto de uma fantasia individual qualquer, mas sim, como a das
formas tradicionais em geral, deve proceder sempre em definitivo de uma origem «não humana», sem a
qual não poderia haver realmente nem tradição nem iniciação, mas tão somente alguma dessas
«paródias» que encontramos tão frequentemente no mundo moderno, que não vêm de nada e que não
conduzem a nada, e que assim não representam verdadeiramente, caso possa se dizer, mais que um
nada puro e simples, quando não são os instrumentos de algo pior ainda.” René Guénon - Considerações
Sobre a Iniciação
“Então, é sabido o que se entende por “misticismo”, há já vários séculos, de maneira que não é
possível empregar este termo para designar algo distinto; e é isto o que, como dissemos, não tem e
não pode ter nada em comum com a iniciação, em primeiro lugar porque este misticismo compete
exclusivamente ao domínio religioso, quer dizer, exotérico, e depois porque a via mística difere da via
iniciática em todos seus caracteres essenciais, e esta diferença é tal que dela se deriva uma verdadeira
incompatibilidade.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Dissemos que a confusão que faz com que alguns vejam misticismo onde não há o menor traço
disso, tem seu ponto de partida na tendência de tudo reduzir aos pontos de vistas ocidentais; e é que, de
fato, o misticismo propriamente dito é exclusivamente ocidental e, no fundo, especificamente cristão.”
René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Não nos propomos atualmente expor em detalhe, e de forma completa, todas as diferenças que
separam na realidade os pontos de vista iniciático e místico, pois para isso seria necessário um volume
todo; nossa intenção é, sobretudo, insistir aqui sobre a diferença em virtude da qual a iniciação, em seu
próprio processo, apresenta caracteres totalmente distintos daqueles do misticismo, inclusive opostos, o
que basta para demonstrar que há aqui duas “vias” não somente diferentes, mas também incompatíveis
no sentido que indicamos. O que frequentemente se diz a este respeito é que o misticismo é “passivo”,
enquanto que a iniciação é “ativa”; isto é, de toda forma, muito verdadeiro, sob a condição de
403
determinar exatamente a acepção em que deve ser entendido. Isto significa principalmente que, no caso
do misticismo, o indivíduo se limita simplesmente a receber o que se lhe apresenta, e tal como se lhe
apresenta, sem que ele mesmo atue para nada; e, digamo-lo a seguir, nisto reside para ele o principal
perigo, no fato de que esteja assim “aberto” a todas as influências, sejam da ordem que sejam, e que,
desta forma, em geral e salvo raras exceções, não tem a preparação doutrinal que seria necessária para
lhe permitir estabelecer entre elas uma discriminação qualquer. No caso da iniciação, pelo contrário, é
ao indivíduo a quem corresponde a iniciativa de uma “realização” que perseguirá metodicamente, sob
um controle rigoroso e incessante, e que deverá levá-lo normalmente a superar as possibilidades
próprias do indivíduo como tal; é indispensável acrescentar que esta iniciativa não é suficiente, pois é
muito evidente que o indivíduo não poderia superar-se a si Mesmo por seus próprios meios, mas, e isto é
o que nos importa no momento, é ela o que constitui obrigatoriamente o ponto de partida de toda
“realização” para o iniciado, enquanto que o místico não tem nenhuma, inclusive para o que não vai
absolutamente além do domínio das possibilidades individuais. Esta distinção pode já parecer bastante
clara, já que demonstra bem que não poderiam ser seguidas ao mesmo tempo as vias iniciática e
mística, porém, não obstante, esta não poderia ser suficiente; poderíamos inclusive dizer que apenas
responde ao aspecto mais “exotérico” da questão, e, em todo caso, é muito incompleta no que concerne
à iniciação, da qual está bem longe de incluir todas as condições necessárias; mas, antes de abordar o
estudo destas condições, ficam ainda algumas confusões por dissipar.” René Guénon - Considerações
Sobre a Iniciação
Magia e Misticismo
A confusão da iniciação com o misticismo se deve sobretudo ao fato daqueles que, por razões
quaisquer, querem negar mais ou menos expressamente a realidade da própria iniciação reduzindo-a a
algo diferente; por outro lado, nos meios que têm, ao contrário, pretensões iniciáticas injustificadas,
como os meios ocultistas, tem-se a tendência de considerar como formando parte integrante do
domínio da iniciação, inclusive a constituindo essencialmente, uma multidão de coisas de outro gênero
que, elas também, são-lhe completamente estranhas, e entre as quais a magia ocupa o mais
frequentemente o primeiro lugar.
É assim como a magia é considerada em todas as civilizações orientais: que existe nelas, é um
fato que não há motivo para dúvida, mas está muito longe de ser tida em tanta honra como se
imaginam muito frequentemente os ocidentais, que emprestam tão prazerosamente a outros suas
próprias tendências e suas próprias concepções. No próprio Tibete, tanto quanto na Índia ou na China, a
prática da magia, enquanto «especialidade», caso se possa dizer assim, é abandonada àqueles que são
incapazes de se elevarem a uma ordem superior; isto, bem entendido, não quer dizer que outros não
possam produzir também, às vezes, excepcionalmente e por razões particulares, fenômenos
exteriormente semelhantes aos fenômenos mágicos, mas o propósito e, inclusive, os meios postos em
obra são então completamente diferentes na realidade. Além disso, para se ater ao que se conhece no
próprio mundo ocidental, somente se deverá tomar histórias de Santos e de bruxos, e ver quantos feitos
similares se encontram por uma parte e pela outra; e isso mostra bem que, contrariamente à crença dos
modernos «cientificistas», os fenômenos, quaisquer que sejam, não poderiam provar absolutamente
nada por si mesmos.
Agora, é evidente que o fato de se iludir sobre o valor destas coisas, e sobre a importância que
convém lhes atribuir, aumenta grandemente seu perigo; o que é particularmente penoso para os
ocidentais que querem se meter a «fazer magia», é a ignorância completa em que estão
necessariamente, no estado atual das coisas e na ausência de todo ensino tradicional, daquilo com o que
tratam em parecido caso. Inclusive deixando de lado os prestidigitadores e os enganadores, tão
numerosos em nossa época, que não fazem em suma nada mais que explorar a credulidade dos
ingênuos, e também os simples fantasiosos que acreditam poder improvisar uma «ciência» à sua
maneira, aqueles mesmos que querem tentar seriamente estudar esses fenômenos, ao não terem dados
suficientes para lhes guiar, nem organização constituída para lhes apoiar e lhes proteger, são reduzidos
por isso a um empirismo muito grosseiro; atuam verdadeiramente como meninos que, liberados a si
mesmos, querem dirigir forças temíveis sem conhecer nada delas e, se de semelhante imprudência
resultam muito frequentemente acidente deploráveis, certamente não há lugar para se surpreender
muito com isso.
Ao falar aqui de acidentes, queremos fazer alusão sobretudo aos riscos de desequilíbrio aos
quais se expõem aqueles que atuam assim; este desequilíbrio é efetivamente uma consequência muito
frequente da comunicação com o que alguns chamaram o «plano vital» e que não é suma outra coisa
404
que o domínio da manifestação sutil, considerada, sobretudo, além do mais, naquelas de suas
modalidades que estão mais próximas da ordem corporal, e por isso mesmo as mais facilmente
acessíveis ao homem ordinário. A explicação disso é simples: nisso se trata exclusivamente de um
desenvolvimento de algumas possibilidades individuais e, inclusive, de um ordem bastante inferior; se
este desenvolvimento se produzir de uma maneira anormal, desordenada e inarmônica, e em detrimento
de possibilidades superiores, é natural, e em certo modo inevitável, que deva desembocar em tal
resultado, sem falar sequer das reações, que tampouco são desdenháveis e que às vezes são, inclusive,
terríveis, das forças de todo gênero com as quais o indivíduo fica em contato tão inadvertidamente.
Dizemos «forças», sem procurar precisar mais, já que isso importa pouco para o que nos propomos;
preferimos aqui esta palavra, por vaga que seja, à de «entidades», que, ao menos para aqueles que não
estão suficientemente habituados a algumas maneiras simbólicas de falar, corre o risco de dar lugar
muito facilmente a «personificações» mais ou menos fantasiosas. Além disso, como já o explicamos
frequentemente, este «mundo intermediário» é muito mais complexo e mais extenso que o mundo
corporal; mas, o estudo de um e do outro entra, sob o mesmo título, no que se pode chamar de «ciências
naturais», no sentido mais verdadeiro desta expressão; querer ver nisso algo mais é, repetimo-lo, iludir-
se da mais estranha maneira. Nisso não há absolutamente nada de «iniciático», como tampouco, além
disso, de «religioso»; de uma maneira geral, encontram-se inclusive muitos mais obstáculos que apoios
para chegar ao conhecimento verdadeiramente transcendente, que é muito diferente dessas ciências
contingentes e que, sem nenhum rastro de um «fenomenismo» qualquer, não depende mais que da
intuição intelectual pura, a única que é também a espiritualidade pura. René Guénon - Considerações
Sobre a Iniciação
“...Além do mais, não se precisará dizer que esta «saída de si» não tem absolutamente nada de
comum com a pretendida «saída em astral», que tem um papel tão grande nos delírios ocultistas.”
René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
Da Transmissão Iniciática
“Dissemos precedentemente que a iniciação propriamente dita consiste essencialmente na
transmissão de uma influência espiritual, transmissão que apenas se pode efetuar por meio de uma
organização tradicional regular, de tal sorte que não se poderia falar de iniciação fora da vinculação a
uma organização dessas. Precisamos que a «regularidade» devia ser entendida excluindo todas as
organizações pseudo-iniciáticas, quer dizer, todas aquelas que, quaisquer que sejam suas pretensões e
de qualquer aparência que se revistam, não sejam efetivamente depositárias de nenhuma influência
espiritual e, por consequência, não podem transmitir nada na realidade. Depois disso, é fácil
153
compreender a importância capital que todas as tradições dão ao que se designa como a «cadeia»
iniciática, quer dizer, a uma sucessão que assegura de uma maneira ininterrupta a transmissão de que
153
A palavra «cadeia» é o que traduz o hebraico shelsheletk, o árabe silsilah, e também, o sânscrito
paramparâ, que expressa essencialmente a ideia de uma sucessão regular e ininterrupta. Podemos usar
também o termo “linhagem”.
405
se trata; fora desta sucessão, efetivamente, a própria observação das formas rituais seria vã, já que
faltaria o elemento vital essencial para sua eficácia.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“...em hebraico, a palavra qabbalah, que tem exatamente o mesmo sentido de transmissão, está
reservada igualmente à designação da tradição tal como nós a entendemos, e inclusive de ordinário,
mais estritamente ainda, à designação de sua parte esotérica e iniciática, quer dizer, ao que tem que
mais «interior» e de mais elevado nessa tradição, o que constitui, de certa forma, seu espírito mesmo; e
isso mostra também que deve haver aí algo mais importante e mais significativo que uma simples
questão de uso no sentido no qual se lhe pode entender quando se trata apenas de quaisquer
modificações da linguagem corrente.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Retomando aqui os termos que empregamos em outra parte, poder-se-ia falar, inclusive ao
mesmo tempo, de uma transmissão «vertical», do supra-humano ao humano, e de uma transmissão
«horizontal», através dos estados ou os estágios sucessivos da humanidade; além do mais, a
transmissão vertical é essencialmente «intemporal», enquanto que a transmissão horizontal implica
somente uma sucessão cronológica.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Deve-se compreender agora porque tradição e transmissão podem ser consideradas, sem
nenhum abuso de linguagem, como quase sinônimas ou equivalentes, ou porque, ao menos, a tradição,
sob qualquer aspecto que se a considere, constitui o que se poderia chamar a transmissão por
excelência.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Com isto, igualmente, se pode compreender o que foram de verdade aqueles que, sem pertencer
eles mesmos a nenhuma organização conhecida (e entendemos por isso uma organização revestida de
formas exteriormente apreensíveis), presidiram em alguns casos a formação de tais organizações ou,
155
depois, inspiraram-nas e as dirigiram invisivelmente; tal foi concretamente, durante certo período , o
papel dos Rosa-Cruzes no mundo ocidental, e esse é também o verdadeiro sentido do que a Maçonaria
do século XVIII designa sob o nome de «Superiores Desconhecidos».” René Guénon - Considerações
Sobre a Iniciação
Do Segredo Iniciático
"...enquanto que tudo secreto de ordem exterior pode ser sempre traído, o segredo iniciático
não pode sê-lo nunca de maneira nenhuma, posto que, em si mesmo e em certo modo por definição, é
inacessível e inapreensível aos profanos e não poderia ser penetrado por eles, já que seu conhecimento
não pode ser mais que a consequência da iniciação mesma. De fato, este segredo é de natureza tal que
as palavras não podem lhe expressar; é por isso pelo que, como teremos que explicá-lo mais
completamente a seguir, o ensino iniciático não pode fazer uso mais que de ritos e de símbolos, que
sugerem melhor que expressam, no sentido ordinário desta palavra. Falando propriamente, o que se
transmite pela iniciação não é o segredo mesmo, posto que é incomunicável, a não ser a influência
espiritual que tem aos ritos como veículo, e que faz possível o trabalho interior por cujo meio, tomando
os símbolos como base e como suporte, cada um alcançará esse segredo e lhe penetrará mais ou
154
O Rei do Mundo.
155
Embora seja difícil atribuir aqui grande exatidão, pode-se considerar este período como se
estendendo do século XIV ao XVII; assim, pode-se dizer que corresponde à primeira parte dos tempos
modernos, e é fácil compreender desde então que se tratava acima de tudo de assegurar a conservação
do que, nos conhecimentos tradicionais da idade Média, podia ser salvo apesar das novas condições do
mundo ocidental.
406
menos completamente, mais ou menos profundamente, segundo a medida de suas próprias
possibilidades de compreensão e de realização." René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Nesta mesma categoria de segredos acessórios e não essenciais, deve-se colocar também outro
gênero de segredo que existe muito corriqueiramente nas organizações iniciáticas, e que é o que
ocasiona mais usualmente, entre os profanos, esse equívoco sobre o qual chamamos a atenção
precedentemente: este segredo é o que recai, seja sobre o conjunto dos ritos e dos símbolos em uso em
tal organização, ou seja, mais particularmente ainda, e também de uma maneira mais estrita, sobre
algumas palavras e alguns signos empregados por ela como «meios de reconhecimento», para
permitirem seus membros distinguirem-se dos profanos. Não terá que se dizer que todo segredo desta
natureza não tem mais que um valor convencional e completamente relativo, e que, por esse motivo,
de que concerna com formas exteriores, sempre pode ser descoberto ou traído, o que, além do mais,
correrá o risco de produzir-se tão mais facilmente quanto menos rigorosamente «fechada» seja a
organização; assim, deve-se insistir sobre isto, ou seja, que não só este segredo não pode ser
confundido de maneira nenhuma com o verdadeiro segredo iniciático, salvo por aqueles que não têm a
menor ideia da natureza deste, e que também sequer tem nada de essencial, de sorte que sua presença
ou sua ausência não poderia ser invocada para definir a uma organização como possuidora de um
caráter iniciático ou como desprovida dele.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“...os próprios místicos apenas consideram a «salvação», e nunca a «liberação», enquanto que,
157
ao contrário, esta é a meta última e suprema de toda iniciação ”. René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
O Rito e o Símbolo
“Além disso, ocorre frequentemente que o próprio traçado do símbolo deve se efetuar
regularmente em condições que lhe confiram todos os caracteres de um rito propriamente dito; disto se
tem um exemplo muito claro, em um domínio inferior, o da magia (que, apesar de tudo, é uma ciência
tradicional), com a confecção das figuras talismânicas; e, na ordem que nos concerne mais
156
Disciplina secreti ou disciplina arcani, dizia-se também na igreja cristã dos primeiros séculos, o que
parecem esquecer alguns inimigos do «segredo»; mas é mister destacar que, em latim, a palavra
disciplina tem o mais frequentemente o sentido de «ensino» que, além do mais, é seu sentido
etimológico, e inclusive, por derivação, o de «ciência» ou de «doutrina», enquanto que o que se chama
«disciplina» em francês não tem mais que um valor de meio preparatório em vista de uma meta que
pode ser de conhecimento como é o caso aqui, mas que pode ser também de uma ordem diferente, por
exemplo simplesmente «moral»; é inclusive desta última maneira como, de fato, é entendida mais
usualmente no mundo profano.
157
Ao se dizer que, segundo a distinção que consideraremos mais adiante, isto só é verdadeiro quanto
aos «mistérios maiores», responderemos que os «mistérios menores», que se detêm efetivamente nos
limites das possibilidades humanas, não constituem em relação a estes mais que um estágio
preparatório e que não são em si mesmos seu próprio fim, enquanto que a religião se apresenta como
um todo que se basta a si mesmo e que não requer nenhum complemento ulterior.
407
imediatamente, o traçado dos yantras, na tradição hindu, é também um exemplo não menos explícito
158
disso ”. René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Poder-se-ia dizer, também, que os ritos são símbolos «postos em ação», e que todo gesto ritual é
159
um símbolo «operado» ”. René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“...e se pode dizer que, finalmente, o mito já não foi, ao menos para a imensa maioria, mais que
um símbolo incompreendido, o mesmo que seguiu sendo para os modernos.” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“Há mais: estes dois termos, «mito» e «fábula», que foram tomados como equivalentes, derivam-
se de raízes que têm em realidade uma significação completamente oposta, já que, enquanto que a raiz
de «fábula» designa a palavra, a raiz de «mito», por estranho que isso possa parecer com primeira vista
quando se trata de um relato, designa ao contrário o silêncio”. René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“De fato, a palavra grega muthos, «mito», vem da raiz mu, e esta (que se encontra também no
161
latim mutus, mudo) representa a boca fechada, e por conseguinte, o silêncio ”; René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“Convém atrair a atenção sobre o parentesco das palavras «mito» e «mistério», saídas da mesma
raiz: a palavra grega mustêrion, «mistério», vincula-se diretamente, ela também, à ideia do «silêncio»; e
isto, além de tudo, pode se interpretar em vários sentidos diferentes, mas ligados uns aos outros, e cada
um dos quais tem sua razão de ser de certo ponto de vista.” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Por outra parte, o que mostra ainda o destino verdadeiramente singular de algumas palavras, é
que outro termo estreitamente aparentado aos que acabamos de mencionar é, como já o indicamos, o
de «místico» que, etimologicamente, aplica-se a tudo o que concerne aos mistérios: mustikos,
efetivamente, é o adjetivo de mustês, iniciado; assim, originariamente equivale a «iniciático» e designa
tudo o que se refere à iniciação, a sua doutrina e a seu objeto mesmo (mas neste sentido antigo, não
pode aplicar-se nunca a pessoas); de fato, nos modernos, esta mesma palavra «místico», a única entre
158
A isso se pode assemelhar, na antiga Maçonaria, o traçado do «tabuleiro da Loja maçônica» (em
inglês tracing board, e também, possivelmente por corrupção, trestle board), que constituía
efetivamente um verdadeiro yantra. Os ritos em relação com a construção de monumentos com o
destino tradicional poderiam citar-se também aqui como exemplo, posto que esses monumentos
tinham necessariamente, em si mesmos, um caráter simbólico.
159
Notaremos particularmente, desde este ponto de vista, o papel exercido nos ritos pelos gestos que a
tradição hindu chama mudrâs, e que constituem uma verdadeira linguagem de movimentos e de
atitudes; os «toques» (em inglês grips) empregados como «meios de reconhecimento» nas organizações
iniciáticas, tanto no ocidente como no oriente, não são outra coisa na realidade que um caso particular
dos mudrâs.
160
Não carece de interesse destacar que o que se chama na Maçonaria de «lendas» dos diferentes
graus, entra nesta definição dos mitos, e que a «entrada em ação» destas «lendas» mostra bem que
elas estão verdadeiramente incorporadas aos próprios ritos, dos quais é absolutamente impossível as
separar; assim, o que dissemos da identidade essencial do rito e do símbolo, aplica-se muito
particularmente também em parecido caso.
161
O mutus liber dos hermetistas é literalmente o «livro mudo», quer dizer, sem comentário verbal, mas
é também, ao mesmo tempo, o livro dos símbolos, enquanto que o simbolismo pode ser considerado
verdadeiramente como a «linguagem do silêncio».
408
todos estes termos de cepa comum, chegou a designar exclusivamente algo que, como o vimos, não
tem absolutamente nada em comum com a iniciação, e que tem inclusive caracteres opostos sob alguns
aspectos”. René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
Ritos e Cerimônias
“Toda cerimônia tem um caráter artificial, inclusive convencional por assim dizer, porque, em
definitivo, não é mais que o produto de uma elaboração completamente humana; inclusive se está
destinada a acompanhar um rito, este caráter se opõe ao do próprio rito que, pelo contrário, suporta
essencialmente um elemento «não humano». Aquele que cumpre um rito, se tiver alcançado certo grau
de conhecimento efetivo, pode e deve ter inclusive consciência de que se trata de algo que lhe
transcende, que não depende de maneira nenhuma de sua iniciativa individual; mas, no que se refere às
cerimônias, sim, podem ser imponentes para aqueles que assistem a elas, e que se encontram reduzidos
nelas a um papel mais de simples espectadores do que de «participantes», está muito claro que aqueles
que as organizam e que regulam seus preceitos sabem perfeitamente a que se devem ater a seu respeito
e se dão perfeita conta que toda a eficácia que se pode escapar delas está subordinada inteiramente às
disposições tomadas por eles mesmos e à maneira mais ou menos satisfatória em que sejam executadas.
Efetivamente, esta eficácia - por isso mesmo que não há nela nada que não seja humano, não pode ser
de uma ordem verdadeiramente profunda, e é em suma apenas puramente «psicológica»; por isso é
que se pode dizer que se trata efetivamente de impressionar os assistentes ou de se impor a eles por
toda sorte de meios sensíveis; e, na linguagem ordinária mesmo, um dos maiores elogios que se pode
fazer de uma cerimônia, não é justamente qualificá-la de «imponente», sem que, além disso, o
verdadeiro sentido deste epíteto seja geralmente bem compreendido? Destacamos ainda, a este
propósito, que aqueles que não querem reconhecer nos ritos mais que efeitos de ordem «psicológica» os
confundem também nisso, possivelmente sem o saberem, com as cerimônias, posto que desconhecem
seu caráter «não humano», em virtude do qual seus efeitos reais, enquanto ritos propriamente ditos e
independentemente de toda circunstância acessória, são, pelo contrário, de uma ordem totalmente
diferente disso.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Dito isso, recordaremos que a magia é propriamente uma ciência, pode-se dizer inclusive que é
uma ciência «física» no sentido etimológico desta palavra, posto que trata das leis e da produção de
alguns fenômenos (e além do mais, como já o indicamos, é o caráter «fenomênico» da magia o que
interessa a alguns ocidentais modernos, porque satisfaz suas tendências «experimentalistas»); somente,
importa estabelecer que as forças que intervêm aqui pertencem à ordem sutil, e não à ordem corporal, e
é por isso que seria completamente falso querer assimilar esta ciência à «física» tomada no sentido
restringido no qual a entendem os modernos; além do mais, este engano se encontra também de fato,
posto que alguns acreditaram poder referir os fenômenos mágicos à eletricidade ou a «radiações»
quaisquer da mesma ordem. Agora bem, se a magia tiver este caráter de ciência, alguém se perguntará
162
A concepção vulgar dos «mistérios», sobretudo quando se aplica ao domínio religioso, implica uma
confusão manifesta entre «inexpressável» e «incompreensível», confusão que é completamente
injustificada, salvo relativamente às limitações intelectuais de algumas individualidades.
409
talvez como é possível que haja ritos mágicos, e é necessário reconhecer que isso deve ser efetivamente
bastante embaraçoso para os modernos, dada a ideia que se fazem das ciências; ali onde veem ritos,
pensam que se trata necessariamente de algo muito diferente, que quase sempre procuram identificar
um pouco completamente com a religião; mas, digamo-lo já claramente, os ritos mágicos não têm, na
realidade, quanto a sua meta própria, nenhum ponto em comum com os ritos religiosos, nem tampouco
(e estaríamos inclusive tentados de dizer que com maior razão ainda) com os ritos iniciáticos, como
quereriam, por outro lado, os partidários de algumas das concepções pseudo-iniciáticas que têm curso
em nossa época; e, entretanto, embora estejam inteiramente fora destas categorias, há
verdadeiramente ritos mágicos.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Convém recordar também que a magia é, entre as ciências tradicionais, uma daquelas que
pertencem à ordem mais inferior, já que, bem entendido, aqui tudo deve ser considerado como
estritamente hierarquizado segundo sua natureza e seu domínio próprio; sem dúvida é por isso que,
163
possivelmente mais que toda outra ciência, a magia está sujeita a muitos desvios e degenerações .
Ocorre às vezes que toma um desenvolvimento fora de toda proporção com sua importância real,
desenvolvimento que chega até asfixiar de certo modo os conhecimentos mais altos e mais dignos de
interesse; e algumas civilizações antigas morreram por esta invasão da magia, como a civilização
moderna corre o risco de morrer pela invasão da ciência profana, que, além disso, representa uma
separação mais grave ainda, posto que a magia, apesar de tudo, é ainda um conhecimento tradicional.
Às vezes também, sobrevive-se, por assim dizer, a si mesma, sob o aspecto de vestígios mais ou menos
disformes e incompreendidos, mas ainda capazes de dar alguns resultados efetivos, e pode cair então
até o nível da baixa bruxaria, o que é o caso mais comum e o mais difundido, ou degenerar ainda de
alguma outra maneira. Até aqui, não falamos de cerimônias, mas é justamente disso que vamos falar
agora, já que constituem o caráter próprio de uma dessas degenerações da magia, até o ponto desta ter
recebido daquelas sua denominação de «magia cerimonial».” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Os ocultistas estariam certamente pouco dispostos a admitir que esta «magia cerimonial», a
única que conhecem e que tentam praticar, não é mais que uma magia degenerada, e entretanto é
assim; e inclusive, sem querer assimilá-la de modo algum à bruxaria, poderíamos dizer que está ainda
mais degenerada que esta sob alguns aspectos, embora de outra maneira. Explicar-nos-emos mais
claramente sobre isto: o bruxo cumpre alguns ritos e pronuncia algumas fórmulas, geralmente sem
compreender seu sentido, senão contentando-se repetindo tão exatamente quanto é possível o que lhe
foi ensinado por aqueles que os transmitiram (isto é um ponto particularmente importante desde que se
trata de algo que apresenta um caráter tradicional, como se pode compreender facilmente pelo que
explicamos anteriormente); e estes ritos e estas fórmulas que, o mais frequentemente, não são senão
restos bem desfigurados de coisas muito antigas, e que não se acompanham certamente de nenhuma
cerimônia, por isso não têm menos, em muitos casos, uma eficácia certa (não vamos fazer aqui
nenhuma distinção entre as intenções benéficas ou maléficas que possam presidir seu uso, posto que se
trata unicamente da realidade dos efeitos obtidos). Pelo contrário, o ocultista que faz «magia
cerimonial», não obtém geralmente nenhum resultado sério dela, por muito cuidado que ponha em
conformar-se a uma multidão de prescrições minuciosas e complicadas, que, além do mais, aprendeu
somente pelo estudo de livros, e não pelo fato de uma transmissão qualquer; pode se chegar às vezes a
se iludir, mas esse é um assunto muito diferente; e se poderia dizer que há, entre as práticas do bruxo e
as suas, a mesma diferença que entre uma coisa viva, embora esteja em um estado de decrepitude, e
uma coisa morta.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“De fato, a maior parte daqueles que acreditam, desta forma, «fazer magia» não fazem na
realidade mais que auto-sugestionar-se pura e simplesmente; e o mais curioso que há aqui é que as
cerimônias chegam a se impor, não só aos espectadores, se os houver, mas também àqueles mesmos
que as cumprem, e, quando são sinceros (não nos vamos ocupar mais que deste caso, e não daquele
onde intervém o charlatanismo), são verdadeiramente, à maneira dos meninos, enganados por seu
próprio jogo. Esses não obtêm pois, e não podem obter mais, que efeitos de ordem exclusivamente
psicológica, quer dizer, da mesma natureza que os que produzem as cerimônias em geral, e que, além
disso, no fundo, são toda a razão de ser destas; mas, inclusive se tiverem permanecido suficientemente
163
Cf. O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos, cap. XXVI e XXVII.
410
conscientes do que acontece neles e ao redor deles para se dar conta de que tudo se reduz a isso, estão
muito longe de suspeitar que, caso isso aconteça, não se atribua mais que a sua incapacidade e a sua
ignorância. Então, engenham-se em edificar teorias, de acordo com as concepções mais modernas, e
com isso incorporam diretamente em parte ou forçadamente, as da própria «ciência oficial», para
explicar que a magia e seus efeitos dependem inteiramente do domínio psicológico, como outros o fazem
também para os ritos em geral; o desafortunado é que aquilo do que falam não é magia, do ponto de
vista do qual semelhantes efeitos são perfeitamente nulos e inexistentes, e que, ao confundir os ritos
com as cerimônias, confundem também a realidade com o que não é mais que uma caricatura ou uma
paródia dela; se os «magistas» mesmos estão nisso, como surpreender-se de que semelhantes confusões
tenham curso entre o «grande público»?” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Estes ajustes bastarão, por uma parte, para vincular o caso das cerimônias mágicas ao que
dissemos primeiro das cerimônias em geral, e, por outra, para mostrar de onde provêm alguns dos
principais enganos modernos concernentes à magia. Certamente, «fazer magia», embora seja da
maneira mais autêntica possível, não é uma ocupação que nos pareça muito digna de interesse em si
mesmo; mas devemos reconhecer ainda que é uma ciência cujos resultados, pense-se o que se quiser de
seu valor, são tão reais em sua ordem como os de qualquer outra ciência, e não têm nada em comum
com ilusões e delírios «psicológicos».”
“Em alguns indivíduos, os «poderes» psíquicos são algo completamente espontâneo, o efeito de
uma simples aptidão que se desenvolve por si só; é muito evidente que, nesse caso, não há nenhum
motivo para tirar vaidade disso, como tampouco o há para tirar a de nenhuma outra aptidão qualquer,
posto que não dão testemunho de nenhuma «realização» expressa, e posto que, inclusive, aquele que os
possui pode não suspeitar a existência de tal coisa: se nunca não tiver ouvido falar de «iniciação», não
lhe virá certamente a ideia de acreditar-se «iniciado», porque vê coisas que todo mundo não vê, ou
porque tem às vezes sonhos «premonitórios», ou porque se lhe ocorre curar um doente por simples
contato, e sem que ele mesmo saiba como acontece isso. Mas há também o caso onde semelhantes
«poderes» são adquiridos ou desenvolvidos artificialmente, como o resultado de alguns «treinamentos»
especiais; isso é mais perigoso, já que se produz raramente sem provocar um certo desequilíbrio; e, ao
mesmo tempo, é neste caso onde a ilusão se produz mais facilmente: há pessoas que estão persuadidas
de que obtiveram alguns «poderes», perfeitamente imaginários de fato, seja simplesmente sob a
influência de seu desejo e de uma espécie de «ideia fixa», seja pelo efeito de uma sugestão que exerce
411
sobre eles, alguém desses meios onde se praticam de ordinário os «treinamentos» deste gênero. É aí
sobretudo onde se fala de «iniciação» a torto e a direito, identificando-a mais ou menos à aquisição
desses muito famosos «poderes»; assim, não é de sentir saudades que alguns espíritos débeis ou
ignorantes se deixem fascinar de certo modo por semelhantes pretensões, que, não obstante, basta para
reduzir a nada a constatação da existência do primeiro caso de que falamos, posto que, nesse caso,
encontram-se «poderes» completamente semelhantes, quando não inclusive mais desenvolvidos e mais
autênticos, sem que haja nisso o menor rastro de «iniciação» real ou suposta. O que talvez seja mais
singular e mais dificilmente compreensível é que, aos possuidores destes «poderes» espontâneos, ocorre-
se-lhes entrar em contato com esses mesmos meios pseudo-iniciáticos, sendo, às vezes, levados a
acreditar, eles também, que são «iniciados»; certamente, deveriam saber melhor a que ater-se sobre o
caráter real dessas faculdades que, além do mais, num grau ou noutro, encontram-se em muitos
meninos muito ordinários, embora frequentemente, desaparecem depois mais ou menos rapidamente. A
única desculpa para todas essas ilusões, é que nenhum daqueles que as provocam e que as mantêm em
si mesmos ou em outros tem a menor noção do que é a verdadeira iniciação; mas, bem entendido, isso
não atenua em modo algum seu perigo, seja quanto às perturbações psíquicas e inclusive fisiológicas
que são o acompanhamento habitual desta espécie de coisas, ou seja quanto às consequências mais
remotas, embora mais graves, de um desenvolvimento desordenado de possibilidades inferiores que,
como já o dissemos em outra parte, vai diretamente ao reverso da espiritualidade”. René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“É particularmente importante destacar que os «poderes» de que se trata podem coexistir muito
bem com a ignorância doutrinal mais completa, assim como é muito fácil constatá-lo, por exemplo, na
maior parte dos «clarividentes» e dos «curandeiros»; isso só provaria suficientemente que não têm a
menor relação com a iniciação, cuja meta não pode ser mais que de puro conhecimento. Ao mesmo
tempo, isso mostra que sua obtenção está desprovida de todo interesse verdadeiro, posto que aquele
que os possui não está por isso mais avançado na realização de seu ser próprio, realização que apenas se
constitui unida com o próprio conhecimento efetivo; não representam mais que algumas aquisições
completamente contingentes e transitórias, exatamente comparáveis nisso ao desenvolvimento
corporal, que ao menos não representa os mesmos perigos; e inclusive as poucas vantagens não menos
contingentes que pode contribuir seu exercício não compensam certamente os inconvenientes aos quais
acabamos de fazer alusão. Além disso, essas vantagens não consistem muito frequentemente mais que
em deslumbrar aos ingênuos e em se fazer admirar por eles, ou em outras satisfações não menos vãs e
pueris; e fazer exibição desses «poderes» é já fazer prova de uma mentalidade incompatível com toda
iniciação, embora seja do grau mais elementar; o que dizer então daqueles que se servem deles para
fazer-se passar por «grandes iniciados»? Não insistiremos mais, já que tudo isto não depende mais que
do charlatanismo, inclusive se os «poderes» em questão são reais em sua ordem; efetivamente, não é a
realidade dos fenômenos como tais o que importa aqui sobretudo, mas sim mas bem o valor e o alcance
que convém lhes atribuir.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Em suma, a própria palavra «poderes», quando empregada assim, tem o grande inconveniente
de evocar a ideia de uma superioridade que estas coisas não implicam de maneira nenhuma; ainda que
se possa aceitá-la, não o seria mais que como um simples sinônimo de «faculdades» que, além do mais,
tem etimologicamente um sentido quase idêntico164; efetivamente, tratam-se de possibilidades do ser,
mas de possibilidades que não têm nada de «transcendentes», posto que são inteiramente da ordem
individual, e posto que, inclusive nesta ordem, estão muito longe de ser as mais elevadas e as mais
dignas de atenção. Quanto a lhes conferir um valor iniciático qualquer, ainda que seja a título
simplesmente auxiliar ou preparatório, seria completamente o oposto da verdade; e, como a nossos
olhos unicamente esta conta, devemos dizer as coisas tal como são.” René Guénon - Considerações Sobre
a Iniciação
164
Este sentido original da palavra «faculdade» é também o do termo sânscrito correspondente indriya.
412
espiritual ou iniciática, antes de abandonar este tema, devemos insistir ainda sobre o fato de que, em
vista de tal realização, não só são indiferentes e inúteis, senão, inclusive, verdadeiramente prejudiciais
na maior parte dos casos. Constituem efetivamente uma «distração» no sentido rigorosamente
etimológico da palavra: o homem que se deixa absorver pelas múltiplas atividades do mundo corporal
nunca chegará a «centrar» sua consciência sobre realidades superiores, nem por conseguinte a
desenvolver em si mesmo as possibilidades correspondentes a estas; com maior razão será o mesmo
para aquele que se extravie e se «disperse» na multiplicidade, incomparavelmente mais vasta e mais
variada, do mundo psíquico com suas indefinidas modalidades, e salvo circunstâncias excepcionais, é
muito provável que nunca chegue a se liberar dele, sobretudo se, além do mais, faz-se sobre o valor
dessas coisas ilusões que ao menos não comporta o exercício das atividades corporais.” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“Por isso é que qualquer pessoa que tenha a vontade bem decidida de seguir uma via iniciática,
não só nunca deve procurar adquirir ou desenvolver esses muito famosos «poderes», mas sim deve, pelo
contrário, caso ocorra que se apresentem a ele espontaneamente e de maneira completamente
acidental, apartá-los inexoravelmente como obstáculos próprios a lhe desviar da meta única para a qual
tende.”
‘Por outro lado, como já o dissemos, aqueles mesmos que possuem naturalmente algumas
faculdades psíquicas anormais estão por isso mesmo em desvantagem, de certa maneira, quanto a seu
desenvolvimento espiritual; não só é indispensável que se desinteressem delas totalmente e que não lhes
dêem nenhuma importância, mas também pode lhes ser necessário inclusive reduzir seu exercício ao
mínimo, se não lhe suprimir por completo.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Não é necessário dizer que os perigos dos quais acabamos de falar já não existem para aquele
que chegou a certo grau da realização iniciática; e inclusive se pode dizer que esse possui implicitamente
todos os «poderes» sem ter que desenvolvê-los especialmente de uma maneira qualquer, por isso
mesmo que domina «por cima» as forças do mundo psíquico; mas, em geral, não as exerce, porque já
não podem ter nenhum interesse para ele.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
413
terreno onde tal luta é efetivamente possível; entenda-se bem que, como tivemos a ocasião de explicá-lo
em outra parte, a contra-iniciação não pode exercer sua ação mais que no domínio psíquico, e que tudo
o que é do domínio espiritual lhe está, por sua própria natureza, absolutamente proibido165.” René
Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Para concluir em algumas palavras, diremos que a iniciação não poderia ter de maneira
nenhuma como meta adquirir «poderes» que, do mesmo jeito que o mundo no qual são exercidos, não
pertencem definitivamente mais que ao domínio da «grande ilusão»; para o homem em via de
desenvolvimento espiritual, não se trata de se atar ainda mais fortemente a esta com novos laços, mas
sim, pelo contrário, de chegar a liberar-se inteiramente dela; e esta liberação não pode ser obtida mais
que pelo puro conhecimento, a condição, bem entendido, de que este não fique como simplesmente
teórico, mas que possa ser plenamente efetivo, posto que é nisso apenas o que consiste a «realização»
mesmo do ser a todos seus graus.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
A Prece e o Encantamento
“Assim que à prece, devemos fazer observar acima de tudo que esta palavra, embora na
linguagem corrente é entendida frequentemente num sentido muito vago, e embora às vezes se chegue
a tomá-la como sinônimo do termo «oração» em toda sua generalidade, pensamos que convém lhe
guardar ou lhe dar a significação muito mais especial e restringida que tem por sua própria etimologia,
já que esta palavra «prece» significa única e exclusivamente «petição» e não pode empregar-se sem
abuso para designar outra coisa; assim, será necessário não esquecer que é neste único sentido como a
entenderemos no curso das considerações que vão seguir.” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Assim, desde que é necessário ter em conta a natureza do ser humano tal e qual é de fato, na
ordem de realidade à qual pertence, não é de modo algum censurável, inclusive para aquele que é mais
que um simples «crente» (fazendo aqui uma distinção entre a «crença» e o «conhecimento» que
corresponde em suma à do exoterismo e o esoterismo), conformar-se com uma meta interessada.” René
Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Aqui, a ação da influência espiritual, deve ser considerada no estado puro, caso se possa
expressar assim; o ser, em lugar de procurar fazê-la descender sobre ele como o faz no caso da prece,
tende, pelo contrário, a elevar-se ele mesmo para ela. Este encantamento, que se define assim como
uma operação completamente interior em princípio, pode não obstante, em um grande número de
casos, ser expresso e «suportado» exteriormente com palavras ou gestos, que constituem alguns ritos
iniciáticos, tais como o mantra na tradição hindu ou o dhikr na tradição islâmica, e que devem ser
considerados determinando vibrações rítmicas que têm uma repercussão através de um domínio
razoavelmente extenso na série indefinida dos estados do ser.” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Não obstante, entre estes crentes, há-os, em pequeno número além disso, que adquirem algo
mais (e esse é o caso de alguns místicos, que se poderiam considerar neste sentido como mais
«intelectuais» que outros): sem sair de sua individualidade, senão em «prolongamentos» desta,
165
Ver O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos, cap. XXXVIII e XXXIX.
414
percebem indiretamente algumas realidades de ordem superior, não tais como são em si mesmas, mas
sim traduzidas simbolicamente e revestidas de formas psíquicas ou mentais.” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“Ainda se tratam de fenômenos (quer dizer, no sentido etimológico, aparências, sempre relativas
e ilusórias enquanto formais), mas fenomenais supra-sensíveis, que não são constatáveis para todos, e
que podem entranhar, para aqueles que os percebem, algumas certezas, sempre incompletas,
fragmentárias e dispersas, mas não obstante superiores à crença pura e simples à qual substituem; além
do mais, este resultado se obtém passivamente, quer dizer, sem intervenção da vontade, e pelos meios
ordinários que indicam as religiões, em particular pela prece e pelo cumprimento das obras prescritas, já
que tudo isso não sai ainda do domínio do exoterismo.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Num grau muito mais elevado, e inclusive já profundamente separado disso, colocam-se aqueles
que, tendo estendido sua consciência até os extremos limites da individualidade integral, chegam a
perceber diretamente os estados superiores de seu ser, embora sem participar deles efetivamente; aqui,
estamos no domínio iniciático, mas esta iniciação, real e efetiva quanto à extensão da individualidade
em suas modalidades extracorporais, ainda é apenas teórica e virtual em relação aos estados superiores,
posto que a mesma não desemboca atualmente na posse destes. Produz certezas incomparavelmente
mais completas, mais desenvolvidas e mais coerentes que no caso precedente, pois já não pertencem ao
domínio fenomênico; não obstante, o que as adquire pode ser comparado a um homem que só conhece
a luz pelos raios que chegam até ele (no caso precedente, não a conhecia mais que por reflexos, ou
sombras projetadas no campo de sua consciência individual restringida, como os prisioneiros da caverna
simbólica do Platão), enquanto que, para conhecer perfeitamente a luz em sua realidade íntima e
essencial, é necessário remontar até sua fonte, e identificar-se mesmo com esta fonte166.” René Guénon
- Considerações Sobre a Iniciação
“O que se chama as provas iniciáticas é algo completamente diferente, e nos bastará agora uma
palavra para resolver definitivamente todo equívoco: são essencialmente ritos, o que as pretendidas
«provas da vida» não são evidentemente de maneira nenhuma; e não poderiam existir sem este caráter
ritual, nem serem substituídas por nada que não possuísse este mesmo caráter. Com isto, pode-se ver
em seguida que os aspectos sobre os que mais se insiste geralmente são na realidade completamente
secundários: se estas provas estivessem destinadas verdadeiramente, segundo a noção mais «simplista»,
a mostrar se um candidato à iniciação possui as qualidades requeridas, é mister convir que seriam muito
ineficazes, e se compreende que aqueles que se atem a esta maneira de ver estejam tentados em
considerá-las como sem valor; mas, normalmente, aquele que é admitido sofrê-las já deve ter sido
166
É o que a tradição islâmica designa como haqqul-yaqîn, enquanto que o grau precedente, que
corresponde à «visão» sem identificação, chama-se aynul-yaqîn, e enquanto o primeiro, que os simples
crentes podem obter com a ajuda do ensino tradicional exotérico, é ilmul-yaquîn.
415
reconhecido, por outros meios mais adequados, como «bem e devidamente qualificado»; é mister
porque se trata de algo muito diferente.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Dir-se-ia, então, que estas provas constituem um ensino que se dá sob uma forma simbólica, e
que está destinada a ser meditada ulteriormente; isso é muito certo, mas se pode dizer outro tanto de
qualquer outro rito, já que todos, como o dissemos precedentemente, têm igualmente um caráter
simbólico e, por conseguinte, uma significação que se incumbe de aprofundar cada um, segundo a
medida de suas próprias capacidades.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Para mais precisão, diremos que as provas são ritos preliminares ou preparatórios à iniciação
propriamente dita; constituem seu preâmbulo necessário, de tal sorte que a própria iniciação é como sua
conclusão imediata. Terá de se destacar que se revestem frequentemente na forma de «viagens»
simbólicas; além disso, anotamos este ponto só de passagem, já que não podemos pensar em nos
estendermos aqui sobre o simbolismo da viagem em geral, e diremos somente que, sob este aspecto,
apresentam-se como uma «busca» (ou melhor uma «gesta», como se dizia na língua da idade Média)
que conduz ao ser das «trevas» do mundo profano à «luz» iniciática; mas ainda esta forma, que se
compreende assim por si mesma, é de certo modo apenas acessória, por muito apropriada que seja
aquilo do que se trata.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“No fundo, as provas são essencialmente ritos de purificação; e é isso o que dá a explicação
verdadeira desta palavra «prova», que tem aqui um sentido claramente «alquímico», e não o sentido
vulgar que deu lugar aos enganos que assinalamos. Agora, o que importa para conhecer o princípio
fundamental do rito é considerar que a purificação se opera pelos «elementos», no sentido cosmológico
deste termo, e a razão disso pode se expressar muito facilmente em algumas palavras: quem diz
elemento diz simples, e quem diz simples diz incorruptível.” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Se a água parece ter aqui um papel preponderante em relação aos outros corpos representativos
de elementos, é mister dizer, não obstante, que este papel não é exclusivo; possivelmente se poderia
explicar esta preponderância destacando que a água, em todas as tradições, é, ainda mais
particularmente, o símbolo da «substância universal».” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Além disso, haveria lugar para se perguntar se esta exaltação do sofrimento é verdadeiramente
inerente à forma especial da tradição cristã, ou se não lhe foi «sobreposta» de certo modo pelas
tendências naturais do temperamento ocidental.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
Da Morte Iniciática
“Contentar-nos-emos recordando, a este respeito, que todas as tradições insistem sobre a
diferença essencial que existe nos estados póstumos do ser humano conforme se trate do profano ou do
iniciado; se as consequências da morte, tomada em sua acepção habitual, estão condicionadas assim
por esta distinção, é porque a mudança que dá acesso à ordem iniciática corresponde a um grau
superior de realidade.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Entenda-se bem que a palavra «morte» deve se tomar aqui em seu sentido mais geral, segundo
o qual podemos dizer que toda mudança de estado, qualquer que seja, é simultaneamente uma morte e
um nascimento, conforme se considere por um lado ou por outro: morte em relação ao estado
antecedente, nascimento em relação ao estado consequente. A iniciação se descreve geralmente como
um «segundo nascimento», o que é efetivamente; mas este «segundo nascimento» implica
necessariamente a morte ao mundo profano e a segue em certo modo imediatamente, posto que nisso
não há, falando propriamente, mais que as duas caras de uma mesma mudança de estado.” René
Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Há lugar para se destacar concretamente, sobre este ponto, que toda mudança de estado deve
ser considerada como acontecendo nas trevas, o que dá a explicação do simbolismo da cor negra em
416
167
relação com aquilo do que se trata : o candidato à iniciação deve passar pela escuridão antes de
acessar à «verdadeira luz». É nesta fase de escuridão onde se efetua o que se designa como a «descida
168
aos Infernos», da qual já falamos mais amplamente em outra parte : poder-se-ia dizer que é uma
espécie de «recapitulação» dos estados antecedentes, através do que as possibilidades que se referem
ao estado profano serão definitivamente esgotadas, a fim de que o ser possa desenvolver após,
livremente, as possibilidades de ordem superior que leva nele, e cuja realização pertence propriamente
ao domínio iniciático.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“A «segunda morte», segundo o que acabamos de dizer, não é outra coisa que a «morte
psíquica»; pode-se considerar este fato como suscetível de se produzir a, mais ou menos, longo prazo
depois da morte corporal, para o homem ordinário, fora de todo processo iniciático; mas então esta
«segunda morte» não dará acesso ao domínio espiritual, e o ser, ao sair do estado humano, passará
simplesmente a outro estado individual de manifestação. Nisso há uma eventualidade temível para o
profano, para quem são, em tudo, vantagens manter-se no que chamamos os «prolongamentos» do
estado humano, o que, além do mais, é em todas as tradições, a principal razão de ser dos ritos
funerários. Mas é muito diferente para o iniciado, posto que este não realiza as próprias possibilidades
do estado humano senão para chegar a transpô-las, e posto que deve sair necessariamente deste
estado, sem ter necessidade de esperar para isso à dissolução da aparência corporal, para passar aos
estados superiores.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Adicionaremos ainda, para não omitir nenhuma possibilidade, que há outro aspecto
desfavorável da «segunda morte», que se refere propriamente à «contra-iniciação»; esta, efetivamente,
imita em suas fases à iniciação verdadeira, mas seus resultados são, de certa forma, o contrário desta e,
evidentemente, não pode conduzir em nenhum caso ao domínio espiritual, posto que, ao contrário, não
faz mais que afastar-se dele cada vez mais. Quando o indivíduo que segue esta via chega à «morte
psíquica», não se encontra em uma situação exatamente semelhante à do profano puro e simples, senão
muito pior ainda, em razão do desenvolvimento que deu às possibilidades mais inferiores da ordem sutil;
mas não insistiremos mais nisso, e nos contentaremos remetendo às alusões que fizemos a respeito em
170
outras ocasiões , já que, para falar a verdade, esse é um caso que não pode apresentar interesse mais
que sob um ponto de vista muito especial, e que não tem absolutamente nada que ver com a verdadeira
iniciação. A sorte dos «magos negros», como se diz usualmente, não concerne mais que a eles mesmos,
e seria no mínimo inútil proporcionar um alimento às divagações um pouco fantásticas às quais este
tema dá lugar muito frequentemente; não convém ocupar-se deles mais que para denunciar seus
desmandos quando as circunstâncias o exigem, e para se opor a eles na medida do possível; e,
167
Esta explicação convém igualmente no que concerne às fases da «Grande Obra» hermética, que,
como já o indicamos, correspondem estritamente às da iniciação.
168
Ver O Esoterismo de Dante.
169
No simbolismo maçônico, corresponde à exaltação ao grau de Mestre.
170
Ver O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos, capítulos XXXV e XXXVIII.
417
infelizmente, em uma época como a nossa, esses desmandos são singularmente mais extensos do que
poderiam imaginar aqueles que não tiveram a ocasião de dar-se conta disso diretamente.” René Guénon
- Considerações Sobre a Iniciação
“Pode-se chegar mais longe: a todo grau de iniciação efetiva corresponde também outra
modalidade diferente do ser; assim, este deveria receber um nome novo para cada um destes graus e,
inclusive se este nome não se lhe dá de fato, não por isso exista menos, pode-se dizer, como expressão
característica desta modalidade, pois um nome não é outra coisa que isso na realidade. Agora, como
estas modalidades estão hierarquizadas no ser, ocorre igualmente com os nomes que as representem
respectivamente; assim, um nome será tão mais verdadeiro quanto mais profundo seja a ordem da
modalidade à qual corresponda, posto que, por isso mesmo, expressará algo que estará mais próximo à
verdadeira essência do ser. De modo que, contrariamente à opinião vulgar, é o nome profano o que, ao
estar vinculado à modalidade mais exterior e à manifestação mais superficial, é o menos verdadeiro de
todos; e a coisa é sobretudo assim em uma civilização que perdeu todo caráter tradicional, e onde tal
nome não expressa quase nada da natureza do ser.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Agora, tudo o que dissemos até aqui desta multiplicidade de nomes, que representam outras
tantas modalidades do ser, refere-se unicamente a extensões da individualidade humana,
compreendidas em sua realização integral, ou seja, iniciaticamente, ao domínio dos «mistérios
menores», assim como o explicaremos a seguir de uma maneira mais precisa. Quando o ser passa aos
«mistérios maiores», quer dizer, à realização dos estados supra-individuais, passa por isso mesmo além
do nome e da forma, posto que, como o ensina a doutrina hindu, estes (nâma-rûpa) são as expressões
respectivas da essência e da substância da individualidade. Por conseguinte, tal ser, verdadeiramente, já
não tem nome, posto que o nome é uma limitação da qual, daqui para frente, está liberado; se houver
lugar para isso, poderá tomar qualquer nome para manifestar-se no domínio individual, mas esse nome
não lhe afetará de maneira nenhuma e lhe será tão «acidental» como uma simples vestimenta que se
pode tirar ou trocar à vontade.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Tudo isso, repetimo-lo, resulta da própria natureza das coisas da ordem iniciática, onde as
considerações individuais não contam para nada, e não tem como objetivo desviar algumas
investigações, embora, essa seja uma consequência de fato; mas, como poderiam supor os profanos que
haja nisso outra coisa que intenções tais como as que eles mesmos podem ter?” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
171
Além de tudo, isto é suscetível de uma aplicação muito geral em todas as civilizações tradicionais,
pelo fato de que o caráter iniciático está vinculado nelas aos próprios ofícios, de sorte que toda obra de
arte (ou o que os modernos chamariam assim), de qualquer gênero que seja, participa dele
necessariamente em certa medida. Sobre esta questão, que é a do sentido superior e tradicional do
«anonimato», ver O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos, capítulo IX.
418
que se saberá exatamente de que se trata: esse indivíduo pode ter sido apenas um porta-voz, inclusive
uma máscara; em caso semelhante, sua pretendida obra poderá implicar conhecimentos que ele não
terá tido nunca realmente; pode não ser mais que um iniciado de um grau inferior, ou inclusive um
172
simples profano que terá sido escolhido por razões contingentes quaisquer , e então, evidentemente,
não é o autor o que importa, mas sim unicamente a organização que lhe inspirou.” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
O Simbolismo do Teatro
“De uma maneira geral, pode se dizer que o teatro é um símbolo da manifestação, cujo caráter
173
ilusório expressa tão perfeitamente quanto é possível ; e este simbolismo pode ser considerado, seja do
ponto de vista do ator, quanto do próprio teatro. O ator é um símbolo do «Si mesmo» ou da
personalidade que se manifesta por uma série indefinida de estados e de modalidades, que podem ser
considerados como outros tantos papéis diferentes; e é necessário notar a importância que tinha o uso
174
antigo da máscara para a perfeita exatidão deste simbolismo . Sob a máscara, efetivamente, o ator
permanece ele mesmo em todos seus papéis, como a personalidade é «não afetada» por todas suas
manifestações; a supressão da máscara, ao contrário, obriga ao ator a modificar sua própria fisionomia
e assim parece alterar de algum jeito sua identidade essencial.” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Se passarmos a outro ponto de vista, podemos dizer que o teatro é uma imagem do mundo: um
e outro são propriamente uma «representação», já que o mundo mesmo, que não existe mais que como
uma consequência e uma expressão do Princípio, de que depende essencialmente em tudo o que é, pode
ser considerado como simbolizando, a sua maneira, a ordem primordial, e este caráter simbólico lhe
confere, além do mais, um valor superior ao que é em si mesmo, posto que é por isso que participa de
175
um grau de realidade mais alto .” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“O teatro, efetivamente, não está forçosamente limitado a representar o mundo humano, quer
dizer, um só estado de manifestação; pode representar também ao mesmo tempo os mundos superiores
e inferiores. Por esta razão, nos «mistérios» da idade Média, a cena estava dividida em vários andares
que correspondiam aos diferentes mundos, geralmente repartidos segundo a divisão ternária: céu, terra,
inferno; e ao se representar a ação simultaneamente nestas diferentes divisões, representava
efetivamente a simultaneidade essencial dos estados do ser. Os modernos, que já não compreendem
nada deste simbolismo, chegaram a considerar como uma «ingenuidade», por não dizer como uma
estupidez, o que constituía aqui, precisamente, seu sentido mais profundo; e o que é surpreendente, é a
rapidez com a que se desenvolveu esta incompreensão, tão chamativa já nos escritores do século XVII;
esta ruptura radical entre a mentalidade da idade Média e a dos tempos modernos não é certamente
um dos menores enigmas da história.” René Guénon - Considerações Sobre a Iniciação
“Para terminar estas poucas considerações, indicaremos ainda, no simbolismo do teatro, outro
ponto de vista, que se refere ao autor dramático: posto que os diferentes personagens são como
produções mentais deste, podem se considerar como representando modificações secundárias e, de
certo modo, como prolongamentos de si mesmo, quase da mesma maneira que as formas sutis
172
Por exemplo, parece que a coisa tenha sido assim, ao menos em parte, para as novelas do Santo
Graal; é também a uma questão deste gênero à qual se remetem, no fundo, todas as discussões às quais
deu lugar à «personalidade» de Shakespeare, embora, de fato, aqueles que se ocuparam delas não
tenham sabido levar nunca esta questão a seu verdadeiro terreno, de sorte que somente a têm feito
embrulhar de uma maneira quase inextricável.
173
Não dizemos irreal; entenda-se bem que a «ilusão» só deve ser considerada como uma realidade
menor.
174
Além do mais, há lugar para destacar que esta máscara se chamava em latim persona; a
personalidade é, literalmente, o que se oculta sob a máscara da individualidade.
175
É também a consideração do mundo, seja referente ao Princípio, seja unicamente no que é em si
mesmo, o que diferencia fundamentalmente o ponto de vista das ciências tradicionais e o das ciências
profanas.
419
produzidas no estado de sonho . Além do mais, a mesma consideração se aplicaria evidentemente à
produção de toda obra de imaginação, de qualquer gênero que seja; mas, no caso particular do teatro,
há isto de especial, ou seja, que esta produção se realiza de uma maneira sensível, que dá a própria
imagem da vida, assim como tem lugar igualmente no sonho. Por conseguinte, o autor tem a este
respeito, uma função verdadeiramente «demiúrgica», posto que produz um mundo que extrai
totalmente de si mesmo; trata-se do símbolo mesmo do Ser produzindo a manifestação universal. Neste
caso tanto como no do sonho, a unidade essencial do produtor das «formas ilusórias» não é afetada por
essa multiplicidade de modificações acidentais, como tampouco a unidade do Ser é afetada pela
multiplicidade da manifestação. Assim, desde qualquer ponto de vista onde alguém se coloque,
encontra-se sempre no teatro esse caráter que é sua razão profunda, por desconhecida que possa ser
para aqueles que têm feito dele algo puramente profano, razão que é constituir, por sua natureza
mesma, um dos símbolos mais perfeitos da manifestação universal.” René Guénon - Considerações Sobre
a Iniciação
“Ora os «Fedeli d’Amore» eram um movimento aparentemente literário, mas que comportava
no seu interior uma verdadeira organização iniciática. O seu tempo de existência é o fecundíssimo
século XIII, época que marca o apogeu da civilização da Idade Média; depois desse alto ponto será o
começo do declínio, assinalado com a próxima destruição da Ordem dos Templários...” René Guénon -
O Esoterismo de Dante
“Os «Fedeli d’Amore» não são, portanto, um grupo «herético» mas sim um movimento dos que já
não reconheciam aos Papas o prestígio de chefes espirituais da Cristandade (mundo ocidental).” René
Guénon - O Esoterismo de Dante.
“Beatriz tem ainda um simbolismo numérico: o seu número é o nove. «Um dia, quase na hora
nona», Dante julga ver Beatriz e escreve: «Se três é por si mesmo fator de nove, e se, por outro lado, o
fator por si mesmo dos milagres é três, isto é, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que são três e um, foi a
minha amada acompanhada pelo número nove para dar a entender que ela era um nove, ou seja, um
milagre, cuja raiz é somente a Santíssima Trindade»”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“Se nove é, na verdade, o número de Beatriz, noventa e nove, número cíclico, familiar aos
pitagóricos (o ano délfico tinha noventa e nove meses) é comum a Dante e ao seu mestre Virgílio: a
«Divina Comédia» tinha noventa e nove cantos, enquanto o número de versos da «Eneida» ronda os
nove mil e novecentos; o clímax desta última obra é dado nos primeiros 6300 versos; ora, é no canto 63°
da «Divina Comédia» que Dante faz aparecer Beatriz no carro triunfal da Igreja. Somemos 63 com 36 e
teremos 99... Além disso 63 divide o total de 99 segundo a relação 11/7 que tem valor capital na
simbólica pitagórica (estas aproximações do simbolismo numérico foram estudadas especialmente por
Denys Roman e André Raeymaeker, discípulos de Guénon, nas páginas de «Études Traditionnelles»).”
René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“Se São Bernardo nos aparece como o guia de Dante, e o diretor responsável da Ordem dos
176
Templários, de que a «Fede Santa » e os «Fedeli d’Amore» descendiam, não se espantará o leitor que
tenhamos feito incluir neste mesmo volume um outro trabalho de René Guénon, dedicado exatamente a
São Bernardo e ao significado da sua obra”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
176
http://symbolos.com/s23psrd2.htm#n36
420
“A Metafísica pura não é pagã nem cristã, é universal; os mistérios antigos não eram paganismo,
sobrepunham-se a este; igualmente na Idade Média houve organizações cujo caráter era iniciático e
não religioso, mas que tinham a sua base no Catolicismo. Se Dante pertenceu a algumas dessas
organizações, como nos parece incontestável, não é essa uma razão para o declarar «herético»; aqueles
que pensam assim têm da Idade Média uma ideia falsa ou incompleta, só vêem, por assim dizer, o seu
exterior, porque para tudo o resto nada existe no Mundo Moderno que lhes possa servir de termo de
comparação”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“A Associação da «Fede Santa», de que Dante parece ter sido um dos chefes, era uma terceira
Ordem de filiação templária, o que justifica a designação de «Frater Templarius»; e os seus dignitários
tinham o título de «Kadosch», palavra hebraica que significa «santo» ou «consagrado» e que se
conservou até aos nossos dias nos altos graus da Maçonaria. Vê-se já, por aí, que não foi sem razão que
Dante tomou como guia, para o fim da sua viagem celeste, a São Bernardo, que estabeleceu a regra da
Ordem do Templo; e parece ter querido indicar, assim, que era apenas por meio deste que era tornado
possível, nas condições próprias da sua época, o acesso ao supremo grau de hierarquia espiritual”. René
Guénon - O Esoterismo de Dante.
“Quanto a «Imperialis Principatus», talvez não se deva, para a explicar, limitar a considerar o
papel político de Dante, que mostra que as organizações às quais ele pertencia eram então favoráveis ao
poder imperial; deve-se notar, além disso, que o «Santo Império» tem significado simbólico e que ainda
hoje, na Maçonaria escocesa, os membros dos Supremos Conselhos são qualificados como dignitários do
Santo Império, enquanto o título de «Príncipe» entra nas denominações de um número bastante grande
de graus. E ainda mais: os chefes de diferentes organizações de origem rosacruciana, a partir do séc. XVI,
usaram o título de «Imperator»; há razões para pensar que a «Fede Santa», no tempo de Dante,
apresentava certas analogias com o que foi mais tarde a «Fraternidade da Rosa-Cruz», se é que esta
não derivou mais ou menos diretamente da outra”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“...o significado das diversas regiões simbólicas descritas por Dante e, mais particularmente, a
dos «céus». Essas regiões, com efeito, representam, na realidade, outros tantos estados diferentes e os
céus são propriamente «hierarquias espirituais», ou seja, graus de iniciação”. René Guénon - O
Esoterismo de Dante.
“Não é este o lugar para se procurar a origem histórica dos altos graus do Escocismo, nem de
discutir a teoria tão controversa da sua descendência templária; mas que tenha havido filiação real e
direta ou apenas reconstituição, não é menos certo que a maior parte destes graus, e também alguns
daqueles que se encontram noutros ritos, aparecem como vestígios de organizações tendo tido outrora
uma existência independente, e nomeadamente destas antigas Ordens de Cavalaria cuja fundação está
ligada à história das Cruzadas, ou seja, de uma época em que não houve apenas relações hostis, como
julgam aqueles que se prendem apenas às aparências, mas também ativas trocas intelectuais entre o
Oriente e o Ocidente, trocas que se operaram sobretudo por meio das Ordens em questão. Deve-se
admitir que foi ao Oriente que estas foram buscar os dados herméticos que assimilaram, ou não
deveremos, antes, pensar que possuíram desde a sua origem um Esoterismo deste gênero, e que foi a
sua própria iniciação que as tornou aptas a entrar em relações, neste campo, com os orientais? É essa
ainda uma questão que não pretendemos resolver, mas a segunda hipótese, embora menos vezes
encarada do que a primeira, nada tem de inverossímil para quem reconhece a existência, durante toda a
Idade Média, de uma tradição iniciática propriamente ocidental; e o que levaria ainda a admiti-lo é que
Ordens fundadas mais tarde, e que não tiveram relações com o Oriente, foram igualmente providas de
um simbolismo hermético, como a do Tosão de Ouro, cujo próprio nome é uma alusão tão clara quanto
possível a esse simbolismo. Seja como for, na época de Dante o Hermetismo existia certamente na
Ordem do Templo, tal como o conhecimento de certas doutrinas de origem mais seguramente árabe,
que o próprio Dante parece também não ter ignorado e que lhe foram, sem dúvida, transmitidas
também por essa via; explicaremos este ponto mais adiante”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.”
René Guénon - O Esoterismo de Dante
421
manifestou publicamente a sua existência em 1604 (aquela com quem Descartes tentou em vão
contatar) declarava-se nitidamente «antipapista». Mas devemos dizer que essa Rosa-Cruz do começo do
séc. XVII era já muito exterior e afastada da verdadeira Rosa-Cruz original, a qual nunca constituiu
uma sociedade no sentido próprio desta palavra; e, quanto a Lutero, parece não ter sido senão uma
espécie de agente subalterno, sem dúvida mesmo bastante pouco consciente do papel que tinha a
desempenhar; estes diversos pontos, aliás, nunca foram completamente elucidados”. René Guénon - O
Esoterismo de Dante.
“Esta interpretação, de resto, permite dar um sentido muito preciso à expressão «milícia santa»,
que encontramos um pouco mais adiante, nos versos que parecem mesmo exprimir discretamente a
transformação do Templarismo, após a sua aparente destruição, para dar origem ao Rosacrucianismo
(23)”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“...não existe qualquer dúvida sobre a existência na «Divina Comédia« e na «Eneida» de uma
alegoria metafísico-esotérica que esconde e expôs, ao mesmo tempo, as fases sucessivas pelas quais
passa a consciência do iniciado para alcançar a imortalidade».” René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“A mesma acusação de insuficiência que formulámos a respeito de Rossetti e de Aroux pode ser
feita a Éliphas Lévi que, ao salientar uma relação com os mistérios antigos, viu sobretudo uma aplicação
política, ou político-religiosa, a qual, aos nossos olhos, tem apenas uma importância secundária, e que
comete sempre o erro de supor que as organizações propriamente iniciáticas estão diretamente
implicadas nas lutas exteriores”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“Há ainda outra coisa que nos parece dificilmente sustentável: é a opinião que consiste em ver
Dante como uma «Kabbalista» no sentido próprio desta palavra; e aqui estamos tanto mais tentados a
desconfiar quanto sabemos demasiado bem como certos contemporâneos se iludem facilmente a este
respeito, julgando encontrar a Kabbala por toda a parte onde existe qualquer forma de Esoterismo.
Não vimos um escritor maçônico afirmar com ar grave que Kabbala e Cavalaria são uma única e mesma
coisa, e que, a despeito das mais elementares noções linguísticas, as duas palavras têm uma origem
comum? Perante tais inverosimilhanças, compreender-se-á a necessidade de nos mostrarmos
circunspectos e de não nos contentarmos com algumas vagas aproximações para fazer deste ou daquele
personagem um kabbalista; ora a Kabbala é essencialmente a tradição hebraica, e nós não possuímos
nenhuma prova de que uma influência judaica se tenha exercido diretamente sobre Dante. Essa opinião
nasceu unicamente do emprego que ele faz da ciência dos números; mas, se essa ciência existe
efetivamente na Kabbala hebraica e tem aí um lugar dos mais importantes, também se encontra noutro
lado; ir-se-á, então, pretender igualmente, com o mesmo pretexto, que Pitágoras era um kabbalista?
Como já o dissemos, é mais ao Pitagorismo do que à Kabbala que, sob este aspecto, se poderia ligar
Dante, o qual provavelmente conhecia sobretudo do Judaísmo o que o Cristianismo dele conservou na
sua doutrina”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“«O seu Céu compõe-se de uma série de círculos kabbalísticos divididos por uma cruz como o
pentaclo de Ezequiel; no centro dessa cruz floresce uma rosa, e vemos aparecer pela primeira vez,
exposta publicamente e quase categoricamente explicado, o símbolo dos Rosa-Cruz». Aliás, na mesma
época, este mesmo símbolo aparecia também, embora talvez de uma maneira menos clara, numa outra
obra poética célebre: o «Romance da Rosa». Éliphas Lévi pensa que «o “Romance da Rosa” e “A Divina
Comédia”» são as duas formas opostas (seria mais exato dizer complementares) de uma mesma obra:
a iniciação à independência do espírito, a sátira de todas as instituições contemporâneas e a fórmula
alegórica dos grandes segredos da Sociedade dos Rosa-Cruz», a qual, para dizer a verdade, não usava
ainda esse nome, e além do mais, repetimo-lo, nunca foi (salvo nalgumas ramificações tardias e mais ou
menos desviadas) uma «sociedade» constituída com todas as formas exteriores que implica essa
palavra”. René Guénon - O Esoterismo de Dante.
“Aquilo que oferece um interesse particular para a história das doutrinas esotéricas é a
verificação de que diversas manifestações importantes destas doutrinas coincidem, apenas com poucos
anos de diferença, com a destruição da Ordem do Templo; existe uma relação incontestável, embora
bastante difícil de determinar com precisão, entre estes diversos acontecimentos. Nos primeiros anos do
séc. XIV, e sem dúvida já no decurso do século precedente, havia então, tanto em França como em Itália,
422
uma tradição secreta («oculta», se se quiser, mas não «ocultista») aquela mesma que devia, mais tarde,
usar o nome de tradição rosicruciana. A denominação de «Fraternidade Rosae-Crucis» aparece pela
primeira vez em 1374, ou mesmo, segundo alguns (nomeadamente Michel Maier), em 1413; e a legenda
de «Christian Rosenkreutz», o suposto fundador, cujos nome e vida são puramente simbólicos, só terá
sido inteiramente constituída no séc. XVI; mas acabamos de ver que o próprio símbolo da Rosa-Cruz é
certamente bem anterior.
Esta doutrina esotérica, qualquer que seja a designação particular que se lhe quiser dar até à
aparição do Rosicrucianismo propriamente dito (se todavia se crê necessário dar-lhe uma), apresentava
características que permitem fazê-la caber no que se designa geralmente por Hermetismo. A história
desta tradição hermética está ligada intimamente à das Ordens de Cavalaria; e na época de que nos
ocupamos ela era conservada por organizações iniciáticas como a da «Fede Santa» e dos «Fiéis de
Amor», e também essa «Massenia do Santo Graal», de que o historiador Henri Martin fala nos
seguintes termos, precisamente a propósito dos romances de cavalaria, que são ainda uma das grandes
manifestações literárias do Esoterismo na Idade Média...” René Guénon – O Esoterismo de Dante p.
42/43
“Além do mais, é reconhecido que houve influências islâmicas nas origens do Rosacrucianismo e é
a esse fato que aludem as supostas viagens de Christian Rosenkreutz no Oriente; mas a origem real do
Rosacrucianismo, já o dissemos, são precisamente as Ordens de Cavalaria e foram elas que formaram na
Idade Média o verdadeiro laço intelectual entre o Oriente e o Ocidente.” René Guénon – O Esoterismo de
Dante p. 49/50
“Sendo a verdadeira iniciação uma tomada de posse consciente dos estados superiores, é fácil
compreender que ela seja simbolicamente descrita como uma ascensão ou uma «viagem celeste»; mas
poder-se-ia perguntar porque é que essa ascensão deve ser antecedida por uma descida aos Infernos. Há
diversas razões para isso, que não poderíamos expor completamente sem entrarmos em demasiado
longos desenvolvimentos que nos levariam muito longe do tema especial do presente estudo; diremos
apenas o seguinte: por um lado, essa descida é como uma recapitulação dos estados que precedem
logicamente o estado humano, que determinaram as suas condições particulares e que devem, assim,
participar na «transformação» que se vai efetuar; por outro lado, ela permite a manifestação, segundo
certas modalidades, das possibilidades de ordem inferior que o ser traz ainda em si num estado não
desenvolvido, e que devem ser esgotadas por ele antes que lhe seja possível alcançar a realização dos
seus estados superiores.” René Guénon – O Esoterismo de Dante p. 54
“O fim real da iniciação não é apenas a restauração do «estado edênico», o qual nada mais é do
que uma etapa no caminho que deve conduzir bem mais alto, visto que é além dessa etapa que começa
realmente a «viagem celeste»; esse fim é a conquista ativa dos estados «supra-humanos», porque,
como Dante repete, de acordo com o Evangelho, «Regnum caelorum violenzia pate...» e essa é uma das
diferenças essenciais existentes entre os iniciados e os místicos.” René Guénon – O Esoterismo de Dante
p. 55
Esoterismo Católico
“O equívoco cometido frequentemente a respeito, do qual encontramos até certo ponto o eco no
artigo de Bédarride, parece-nos dever-se a dois motivos principais, sendo o primeiro o que geralmente se
concebe bastante mal sobre o que era o Catolicismo na Idade Média. Não se deveria esquecer que
assim como há um esoterismo muçulmano, também houve nessa época um esoterismo católico,
queremos dizer, um esoterismo que tomava a sua base e o seu ponto de apoio nos símbolos e nos ritos
da religião católica, sobrepondo-se a esta, mas sem opor-se de modo algum, não sendo duvidoso que
certas Ordens religiosas estivessem muito longe de ser estranhas a esse esoterismo. Se a tendência da
maior parte dos católicos atuais é negar a existência destas coisas, isso prova somente que eles não
estão melhor informados a respeito que o resto dos nossos contemporâneos”. René Guénon - Estudos
Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 9
423
177
“M. Le Forestier tem razão quando fala a esse respeito do “Cristianismo esotérico” , mas não
vemos porque se deve negar às concepções dessa ordem o direito de afirmarem-se autenticamente
cristãs. Limitar-se às ideias modernas de uma religião exclusiva e restritamente exotérica, é negar ao
Cristianismo todo o sentido verdadeiramente profundo, e é também desconhecer tudo o que ele tenha
sido na Idade Média, do qual podemos aperceber precisamente os últimos reflexos, já muito
enfraquecidos, em organizações possivelmente como a dos Élus Coens”. René Guénon - Estudos Sobre a
Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 18
O Companheirismo e a Maçonaria178
“...se ficar à parte o caso da sobrevivência possível de alguns raros agrupamentos de hermetismo
cristão da idade Média, aliás, extremamente restritas, é um fato que, de todas as organizações com
pretensões iniciáticas que estão atualmente estendidas no mundo ocidental, não há mais que duas que,
por decadentes que estejam uma e outra, consequência da
ignorância e da incompreensão da imensa maioria de seus
membros, podem reivindicar uma origem tradicional autêntica e
uma transmissão iniciática real; estas duas organizações, que, para
falar a verdade, não foram primitivamente mais que uma só,
embora com ramos múltiplos, são o Companheirismo e a
Maçonaria. Todo o resto não é mais que fantasia ou
charlatanismo, quando não serve inclusive para dissimular algo
pior; e nesta ordem de ideias, não há invenção, por absurda ou por
extravagante que seja, que não tenha em nossa época alguma
possibilidade de triunfar e de ser tomada a sério, dos delírios
ocultistas sobre as «iniciações no astral» até o sistema
americano, de intenções sobretudo «comerciais», das
pretendidas «iniciações por correspondência»!” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“O segundo motivo do erro que assinalámos, é imaginar-se que o que se oculta sob os símbolos
179
são quase exclusivamente concepções sociais ou políticas , mas na realidade trata-se de coisa diferente
disso. As concepções dessa ordem não podiam ter, aos olhos dos que possuíam certos conhecimentos,
mais que uma importância muito secundária, em suma, a de uma aplicação possível dentre muitas
outras. Acrescentamos mesmo que em todas as partes onde chegaram a tomar um lugar bastante
destacado e a tornar-se predominantes, invariavelmente foram uma causa de degeneração e
177
Invés de “Cristianismo esotérico” sem dúvida seria mais correto dizer “esoterismo cristão”, ou seja,
tomando como base o Cristianismo para indicar aquilo de que se trata não pertencer ao âmbito da
religião. Naturalmente, a mesma observação é válida para o esoterismo muçulmano.
178
Para mais detalhes ver o artigo “Rene Guenon e a Maçonaria”, de Francisco Ariza, em “Symbolos”,
Revista internacional de Arte - Cultura - Gnosis: http://hermetismoymasoneria.com/ps10frar2.htm ou
http://symbolos.com/index.html#CONTENIDO
179
Esta maneira de ver é em grande parte aquela de Aroux e de Rossetti no que respeita à interpretação
de Dante, encontrando-se também em muitas passagens da História da Magia de Eliphas Lévi.
424
180
afastamento . Foi precisamente isso o que fez perder à Maçonaria moderna a compreensão do que ela
ainda conserva do antigo simbolismo e das tradições de que, apesar de todas as suas insuficiências, é
preciso dizê-lo, parece ser a única herdeira no mundo ocidental atual”. René Guénon - Estudos Sobre a
Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 9
“Sem dúvida a Maçonaria dos fins do século XVIII já não tinha o que lhe fazia falta para cumprir
esta “Grande Obra”, da qual certas condições muito provavelmente escaparam ao próprio Joseph de
Maistre. Quer isto dizer que semelhante plano nunca poderá ser tentado novamente, de uma ou de
outra forma, por alguma organização que possua um caráter verdadeiramente iniciático e detenha o “fio
de Ariadne” que lhe permita guiar-se no labirinto das inumeráveis formas que velam a Tradição única, e
finalmente voltar a reencontrar a “Palavra Perdida” e fazer surgir “a Luz das Trevas, a Ordem do Caos”?
Não pretendemos de maneira alguma prever o futuro, porém, há certos sinais que permitem pensar que,
apesar das aparências desfavoráveis do mundo atual, isso talvez não seja inteiramente impossível”.
René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 14
“Sem pretender tratar aqui a questão tão complexa das origens históricas da Maçonaria,
lembramos somente que a Maçonaria moderna, na forma que conhecemos atualmente, resultou de
uma fusão parcial dos Rosa-Cruzes, que haviam conservado a doutrina gnóstica desde a Idade Média,
com as antigas corporações de Maçons Construtores, cujos utensílios já haviam sido utilizados, por outo
lado, como símbolos pelos Filósofos Herméticos, como se vê em particular numa figura de Basílio
Valentim”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 94
180
O exemplo de certas organizações muçulmanas, nas quais as preocupações políticas de alguma
maneira sufocaram a espiritualidade original, é muito claro a este respeito.
181
Durante o século XVIII a Maçonaria Escocesa fez uma tentativa de retorno à tradição católica,
representada pela dinastia dos Stuarts, por oposição à Maçonaria Inglesa, tornada protestante e
devotada à Casa de Orange.
182
Houve posteriormente uma outra mudança nos países latinos, essa num sentido antirreligioso, mas é
sobre a “protestantização” da Maçonaria Anglo-Saxónica que convém insistir em primeiro lugar.
425
Maçonaria Mista - Iniciação Feminina
“É fácil compreender que pode haver por esse lado, pelo menos em princípio, várias possibilidades
de iniciação feminina que não devem ser negligenciadas, mas dizemos em princípio porque infelizmente,
nas condições atuais, de fato não existe nenhuma transmissão autêntica que permita realizar essas
possibilidades. E não nos cansaremos de repetir, visto tratar-se de algo que muitos parecem perder
sempre de vista, que fora de uma tal transmissão não pode haver nenhuma iniciação válida, porque de
maneira alguma ela pode ser constituída por iniciativas individuais que, quaisquer que sejam, por si
mesmas não poderão conduzir senão a uma pseudo-iniciação, com o elemento supra-humano, ou seja, a
influência espiritual forçosamente faltando em tal caso”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-
Maçonaria e o Companheirismo p. 43
“Entenda-se que falamos aqui de uma Maçonaria onde as mulheres são admitidas
indiscriminadamente com os homens, e não da antiga “Maçonaria de Adopção” que tinha por motivo
satisfazer as mulheres que se queixavam de ser excluídas da Maçonaria, conferindo-lhes um simulacro
de iniciação que, apesar de ser totalmente ilusório e não ter nenhum valor real, pelo menos não tinha
nem as pretensões e nem os inconvenientes da “Maçonaria Mista”.” René Guénon - Estudos Sobre a
Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 43
“Tal é o caso da história bíblica da “confusão das línguas”, que apesar de ser possível reportá-la a
um período histórico determinado, não corresponde senão ao início da Kali-Yuga, sendo certo que muito
antes já existiam formas tradicionais particulares cada uma devendo ter a sua própria língua sagrada.
Essa persistência sobre a Língua única das origens não deve ser entendida literalmente, mas antes no
sentido em que, até então, a consciência da unidade essencial de todas as tradições ainda não havia
183
desaparecido .” René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 46
“Mas há algo que, pelo contrário, pertence propriamente à ordem esotérica e iniciática: trata-se
da busca desse algo perdido, ou, como se dizia na Idade Média, da sua queste, e isto compreende-se sem
dificuldade porque a iniciação, na sua primeira parte que corresponde aos “Pequenos Mistérios”, tem
efetivamente como objetivo essencial a restauração do Estado Primordial. Nisto convém assinalar que,
tal como na realidade a perda aconteceu gradualmente em etapas sucessivas antes de atingir o estado
atual, como já explicámos, igualmente a busca deve fazer-se gradualmente percorrendo no sentido
inverso as mesmas etapas, ou seja, remontando de alguma maneira no decurso do ciclo histórico da
Humanidade de um estado a outro até chegar ao próprio Estado Primordial. A essas etapas
corresponderão naturalmente outros tantos degraus de iniciação nos “Pequenos Mistérios”.” René
Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 47
“Desde logo, torna-se muito evidente que tudo quanto possa ser comunicado exteriormente não
é verdadeiramente a “Palavra Perdida” e tão-só a simbolizando, sempre de modo mais ou menos
inadequado como é toda a expressão das verdades transcendentes, e frequentemente esse simbolismo é
183
A esse respeito, pode assinalar-se que o que se designa como o “dom das línguas” (ver Apercepções
sobre a Iniciação, cap. XXXVII) identifica-se ao conhecimento da Língua primitiva, entendida
simbolicamente.
426
muito complexo devido à multiplicidade de significados que inclui, tal como os graus que comporta na
sua aplicação”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 48
“Nas iniciações ocidentais, há pelo menos dois exemplos muito conhecidos (o que não quer dizer
que sejam sempre bem entendidos por aqueles que falam deles) da busca aqui tratada: a “demanda do
Graal”, nas iniciações cavaleirescas da Idade Média, e a “procura da Palavra Perdida” na iniciação
maçônica, que respectivamente podem ser tomados como típicos das duas formas principais do
simbolismo que vimos tratando”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo
p. 48
184
“A “Távola Redonda” e a sua Cavalaria, como já dissemos noutro lugar , apresentam todos
sinais indicadores de tratar-se efetivamente da constituição de um Centro Espiritual autêntico, porém,
repetimos novamente, não sendo senão um Centro Espiritual secundário como imagem ou reflexo do
Centro Supremo, pelo que só pôde cumprir a função de “substituto” em relação a esse, tal como toda a
forma tradicional particular não é propriamente senão uma “substituta” da Tradição Primordial. Se
passarmos a considerar a “Palavra Perdida” e a sua procura na Maçonaria, podemos constatar que, pelo
menos no estado atual das coisas, esse assunto está envolto em muitas obscuridades. Certamente que
não temos a pretensão de conseguir dissipá-las inteiramente, mas pelo menos algumas observações que
iremos formular talvez sejam suficientes para eliminar aquilo que, à primeira vista, pode dar a impressão
de ser contraditório. A primeira coisa que assinalamos a esse respeito, é que o grau de Mestre, tal como
é praticado na Craft Masonry, insiste na “perda da Palavra”, que é apresentada como uma consequência
da morte de Hiram, mas parece não conter alguma indicação expressa quanto à sua procura, e menos
ainda se fala de uma “Palavra reencontrada”. Isso pode parecer verdadeiramente estranho, porque o
Mestrado, sendo o último dos graus que constituem a Maçonaria propriamente dita, deve
necessariamente corresponder, pelo menos virtualmente, à Perfeição dos “Pequenos Mistérios”, sem a
qual a sua própria designação é desde logo injustificada. Pode-se dizer com verdade que a iniciação
nesse grau em si não é propriamente senão um ponto de partida, pelo que em suma tudo isso é
perfeitamente normal, faltando ainda ver nessa mesma iniciação alguma coisa que permite “começar”,
se assim podemos dizer, a procura que constitui o trabalho ulterior devendo conduzir à realização efetiva
do Mestrado”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 48
“Queremos destacar esta passagem por ser particularmente importante no que respeita à
“adaptação” do ensinamento iniciático às capacidades, intelectuais ou outras, de cada um daqueles que
eram admitidos. Certos ocultistas contemporâneos, sempre perseguidos pela mesma obsessão,
sustentam que os verdadeiros sucessores dos “Templários” nessa época foram os “Jesuítas”, que haviam
retomado por sua conta o plano de vingança contra a Realeza e cujos agentes mais ativos em tal
empresa foram Fénelon (!) e Ramsay (ver Papus, Martinésisme, Willermosisme, Martinisme et Franc-
Maçonnerie, pp. 10-11). Sob a influência de semelhantes ideias chegou-se, contra toda a
verossimilhança, a converter os jesuítas nos inspiradores e chefes secretos dos “Iluminados da Baviera”.
Por outra parte, é certo que nem sequer se vacila em apresentar o barão von Hundt como “o criador da
Alta Maçonaria alemã” ou “Iluminismo alemão” (idem, p. 67). Maneira singular de escrever a História!”
René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 66
A Civilização Egípcia
Muitas vezes se criticou a maneira como certos «iniciados» costumam relegar os «Mestres» de
que se dizem seguidores, para uma qualquer região inacessível da Ásia central; com efeito, é um meio
fácil de tornar as suas asserções impossíveis de verificar, mas não é o único, porque o afastamento no
tempo pode também ter um papel comparável ao afastamento no espaço. Por isso, outros não hesitam
em ligar-se a qualquer tradição inteiramente desaparecida e apagada há séculos, milhares de anos,
mesmo; é certo que, a menos que não ousem afirmar que essa tradição se perpetuou durante todo o
tempo de modo secreto e de tal maneira escondida que ninguém conseguiu descobrir lhe o menor traço,
184
O Rei do Mundo, caps. IV e V.
427
isso os prive da vantagem apreciável de reivindicar uma filiação direta e contínua, e não teria a
aparência de verossimilhança que pode ter se se tratar de uma forma recente como é a da tradição
rosacruciana; mas este defeito parece ter pouca importância aos seus olhos, porque são tão ignorantes
das verdadeiras condições da iniciação que imaginam de bom grado que uma simples ligação «ideal»,
sem nenhuma transmissão regular, pode fazer a vez de uma ligação efetiva. Além disso, uma tradição
prestar-se-á melhor a todas as «reconstituições» fantasistas se estiver completamente perdida e
esquecida e se se desconhecer o significado real dos vestígios que subsistem, porque assim pode-se
fazer-lhe dizer tudo o que se quiser, cada um acrescentará naturalmente só o que estiver conforme com
as suas próprias ideias; não há certamente outra razão para explicar por que é que a civilização egípcia
é particularmente «explorada» neste sentido e por que é que tantos «pseudo-iniciados» de escolas tão
diferentes têm por ela uma predileção que de outro modo não se poderia compreender. Temos de
precisar, para evitar qualquer falsa aplicação do que acabamos de dizer, que estas observações não
dizem respeito de modo nenhum às referências ao Egito ou a outras coisas do mesmo gênero que
podemos encontrar por vezes também em certas organizações iniciáticas, mas que têm aí unicamente
um caráter de «lendas» simbólicas, sem qualquer pretensão a fazer-se valer de semelhantes origens; só
nos referimos àquilo que aparece como restauração, válida como tal, de uma tradição ou de uma
iniciação que já não existe, restauração que, aliás, mesmo na hipótese impossível de ser exata e
completa em todos os pontos, não teria ainda assim outro interesse a não ser o de uma simples
curiosidade arqueológica. René Guénon - O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos p. 234
Paramos por aqui estas considerações já longas e amplamente suficientes para fazer
compreender o que são, de modo geral, todas as falsificações «pseudo-iniciáticas» da ideia tradicional,
tão características na nossa época: uma mistura mais ou menos coerente (mais menos que mais), de
elementos em parte retirados em parte inventados, tudo dominado pelas concepções anti-tradicionais
que são próprias ao espírito moderno, e que só podem, por conseguinte, servir para espalhar ainda mais
essas concepções fazendo-as passar junto de alguns como tradicionais, sem falar do engano manifesto
que consiste em dar como «iniciação» aquilo que, na realidade, tem um caráter estritamente profano,
para não dizer «profanador». Se se retorquir dizendo, como tentativa de circunstância atenuante, que
há sempre, apesar de tudo, alguns elementos de proveniência realmente tradicional, responderemos:
qualquer imitação, para se fazer aceitar, deve naturalmente tomar, pelo menos, alguns dos traços
daquilo que ela simula, mas é isso que aumenta o perigo; a mentira mais hábil, e também a mais
funesta, não será aquela que mistura inextricavelmente o verdadeiro com o falso, esforçando-se em
pôr aquele ao serviço do triunfo deste? René Guénon - O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos p.
235
“É também por isso que os acontecimentos se desenrolam à velocidade acelerada que mencionei
inicialmente. Sem dúvida que isso pode continuar assim ainda algum tempo, mas não indefinidamente; e
embora não seja possível marcar um limite preciso, tem-se mesmo a impressão de que isso não pode
durar por muito mais tempo”. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
“Que fique bem entendido que não tenho qualquer pretensão de estabelecer de maneira
completa uma tal discriminação, o que seria, aliás, prematuro, visto que a crise não está ainda
solucionada e talvez não seja possível dizer exatamente quando e como o será”. René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
“Algumas das expressões que acabei de empregar evocarão certamente, para alguns, a ideia do
chamado “juízo final”; e isso, para dizer a verdade, não está errado, quer seja entendido literalmente,
428
quer simbolicamente (ou simultaneamente das duas maneiras, porque elas realmente não se excluem
nesse caso, mas este não é o lugar nem o momento de explicar inteiramente esse ponto)”. René Guénon
- Crise do Mundo Moderno
“Este fim não é, sem dúvida, o “fim do Mundo”, no sentido total em que alguns o querem
entender, mas é, pelo menos, o fim de um mundo; e se o que deve acabar é a civilização ocidental na sua
forma atual, é compreensível que aqueles que se habituaram a não ver coisa alguma fora dela, a
considerá-la como “a civilização” sem epíteto, julguem facilmente que tudo acabará com ela, e que, se
ela desaparecer, será realmente o “fim do Mundo”.” René Guénon - Crise do Mundo Moderno
“Direi, então, para remeter as coisas às suas justas proporções, que parece que nos aproximamos
realmente do fim de um Mundo, ou seja, do fim de uma época ou de um ciclo histórico que pode, além
disso, estar em correspondência com um ciclo cósmico, segundo o que ensinam a esse respeito as
doutrinas tradicionais. Já houve no passado muitos acontecimentos desse tipo, e sem dúvida haverá
ainda outros no futuro; acontecimentos de importância desigual, aliás, pois encerram períodos mais ou
menos extensos e dizem respeito ora a todo o conjunto da Humanidade terrestre, ora apenas a uma ou
outra das suas partes, uma raça ou um povo determinado. É de supor, no estado atual do Mundo, que a
mudança que ocorrer terá alcance muito geral, e que, seja qual for a forma de que vai se revestir – que
não pretendo tentar definir – afetará mais ou menos a Terra inteira”. René Guénon - Crise do Mundo
Moderno
“A doutrina hindu ensina que a duração de um ciclo humano, ao qual dá o nome de Manvantara,
divide-se em quatro Idades, que correspondem a fases de um obscurecimento gradual da espiritualidade
primordial; são esses mesmos períodos que as tradições da Antiguidade ocidental, por seu lado,
designavam como as Idades de Ouro, de Prata, de Bronze e de Ferro. Estamos presentemente na quarta
Idade, “Kali-Yuga” ou “Idade Sombria”, e estamos nela, afirma-se, há mais de seis mil anos, ou seja,
desde uma época bastante anterior a todas aquelas que são conhecidas da História “clássica”. Desde
então, as verdades que eram outrora acessíveis a todos os homens tornaram-se cada vez mais
dissimuladas e difíceis de atingir; aqueles que as possuem são cada vez menos numerosos e, se o tesouro
da sabedoria “não humana”, anterior a todas as idades, nunca se pode perder, ele se envolve no entanto
em véus cada vez mais impenetráveis, que o escondem aos olhares e sob os quais é extremamente difícil
descobri-lo. É por isso que por toda a parte se faz alusão, sob diversos símbolos, a qualquer coisa que se
perdeu, pelo menos aparentemente e em relação ao mundo exterior, e que devem encontrar aqueles que
aspiram ao verdadeiro conhecimento; mas também se afirma que aquilo que está assim escondido
voltará a ser visível no fim deste ciclo, que será ao mesmo tempo, em virtude da continuidade que liga
todas as coisas, o começo de um ciclo novo”. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
“Mas, perguntarão, sem dúvida, porque é que o desenvolvimento cíclico se deve cumprir assim
num sentido descendente, indo do superior para o inferior – o que, como é fácil de ver, é a própria
negação da ideia de “progresso”, tal como os modernos a entendem? É que o desenvolvimento de toda a
manifestação implica necessariamente um afastamento cada vez maior do princípio do qual ela procede;
partindo do ponto mais alto, ela tende forçosamente para baixo, e, como os corpos pesados, tende para
esse sentido com uma velocidade sem cessar crescente, até que encontra finalmente um ponto de
paragem”. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
“A Antiguidade dita “clássica” é então, para dizer a verdade, uma antiguidade muito relativa e
mesmo muito mais próxima dos tempos modernos do que a verdadeira Antiguidade, visto que ela não
remonta sequer à metade da “Kali-Yuga”, cuja duração é apenas, segundo a doutrina hindu, a décima
parte da duração do Manvantara”. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Eu poderia citar ainda muitos outros acontecimentos que se referem mais ou menos à mesma
data, mas farei apenas notar que ela foi para Roma o começo do período propriamente “histórico”,
sucedendo à época “legendária” dos reis, e que se sabe também, embora de modo um pouco vago, que
houve então importantes movimentos nos povos célticos; mas sem insistir demasiado nisso, chegaremos
ao que se refere à Grécia. Igualmente aí o século VI foi o ponto de partida da civilização dita “clássica”, a
única à qual os historiadores modernos reconhecem caráter “histórico”; e tudo o que a precede é
bastante mal conhecido para poder ser tratado como “legendário”, embora as recentes descobertas
429
arqueológicas já não permitam duvidar que houve aí uma civilização muito real. Tenho mesmo algumas
razões para pensar que esta primeira civilização helênica foi muito mais interessante intelectualmente
do que aquela que se lhe seguiu, e que as relações entre elas guardam analogia com as que existem
entre a Europa da Idade Média e a Europa moderna. No entanto, convém notar que a cisão não foi tão
radical como neste último caso, porque houve na Grécia, pelo menos parcialmente, uma readaptação
efetuada na ordem tradicional, principalmente no domínio dos “mistérios”; e que é preciso ligá-la com o
Pitagorismo, que foi sobretudo, sob uma nova forma, uma restauração do Orfismo anterior, e cujos laços
evidentes com o culto délfico do Apolo hiperbóreo permitem mesmo encarar uma filiação contínua e
regular com uma das mais antigas tradições da humanidade. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Do que acaba de ser dito, uma coisa se deve reter particularmente: é que convém procurar na
Antiguidade “clássica” algumas das origens do Mundo Moderno; este não está, portanto, inteiramente
errado quando se reclama herdeiro da civilização greco-latina e pretende ser seu continuador. A
verdadeira Idade Média, para mim, estende-se do reinado de Carlos Magno até o começo do século XIV;
nesta última data começa uma nova decadência que, através de diversas etapas, foi se acentuando até
nós. É aí que se situa o verdadeiro ponto de partida da crise moderna; é o começo da desagregação da
“Cristandade”, à qual a civilização ocidental da Idade Média se identificava essencialmente. Essa data
marca, ao mesmo tempo, o fim do regime feudal, estreitamente solidário com essa mesma
“Cristandade”, e a origem da constituição das “nacionalidades”. Será então necessário fazer remontar a
época moderna a cerca de dois séculos mais cedo do que se considera habitualmente. A Renascença e a
Reforma são sobretudo resultantes e só foram possíveis pela decadência prévia; mas, bem longe de
serem uma reparação, elas marcavam uma queda muito mais profunda, visto que consumaram a
ruptura definitiva com o espírito tradicional, uma delas no domínio das ciências e das artes, a outra no
próprio domínio religioso, que era, no entanto, aquele onde tal ruptura pareceria mais difícil de
conceber. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
O que se designa por Renascimento foi, na realidade, como eu já disse noutras ocasiões, a morte
de muitas coisas; sob pretexto de voltar à civilização greco-romana, só se tomou o que esta tinha de
mais exterior, porque apenas isso se tinha podido exprimir claramente nos textos escritos; e essa
incompleta restituição apenas poderia ter um caráter muito artificial, visto que se tratava de formas que
desde há séculos tinham cessado de viver a sua vida autêntica. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
O que é de fato extraordinário é a rapidez com que a civilização da Idade Média caiu no mais
completo esquecimento; os homens do século XVII já não tinham dela a menor noção, e os monumentos
dessa época que subsistiam já nada representavam aos seus olhos, nem na ordem intelectual, nem
mesmo na ordem estética. Por aí se pode calcular quanto a mentalidade tinha mudado nesse intervalo.
Não tentaremos aqui encontrar os fatores certamente muito complexos que concorreram para essa
mudança radical, tão radical que parece difícil admitir que ela se tenha operado espontaneamente e sem
a intervenção de uma vontade diretora, cuja natureza exata permanece forçosamente bastante
enigmática. A esse respeito, há circunstâncias bem estranhas, como a vulgarização e apresentação como
descobertas novas, num certo momento, de coisas que na realidade eram conhecidas desde há muito
tempo, mas cujo conhecimento não tinha sido espalhado até então no domínio público, em virtude de
185
certos inconvenientes que se arriscavam a ultrapassar as vantagens . Também é bastante inverossímil
que a legenda que fez da Idade Média uma época de “trevas”, de ignorância e de barbárie, tenha
nascido e se estabelecido por si mesma, e que a autêntica falsificação da história à qual os modernos se
entregaram tenha sido empreendida sem qualquer ideia preconcebida. Mas não iremos muito mais
longe no exame dessa questão porque, seja qual for a maneira como esse trabalho tenha sido feito,
neste momento o que nos importa mais, em resumo, é a verificação do resultado. René Guénon - Crise
do Mundo Moderno
Irá o Mundo Moderno até ao fundo desse declive fatal ou, como aconteceu na decadência do
mundo greco-romano, uma nova recuperação se produzirá ainda desta vez, antes que ele atinja o fundo
185
Citaremos apenas dois exemplos entre os fatos desse tipo que deviam ter as mais graves
consequências: a pretensa invenção da Imprensa, que os chineses já conheciam antes da era cristã, e a
“descoberta” oficial da América, com a qual tinham existido comunicações muito mais constantes do
que se pensa, durante toda a Idade Média.
430
do abismo para onde foi arrastado? Parece que uma paragem a meio do caminho já não será possível e
que, segundo todas as indicações fornecidas pelas doutrinas tradicionais, entramos realmente na fase
final de “Kali-Yuga”, no período mais sombrio desta “Idade Sombria”, neste estado de dissolução do
qual não é mais possível sair senão por um cataclismo, porque não é já necessária apenas uma simples
recuperação, mas antes uma renovação total. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Acrescentarei ainda que, como em toda mudança de estado, a Passagem de um ciclo para outro
só se pode efetuar na obscuridade; há aí uma lei muito importante e cujas aplicações são múltiplas, mas
186
cuja exposição mais detalhada, por isso mesmo, nos levaria demasiado longe . René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
A fim de melhor fixar ideias, lembrarei a divisão geral que adaptei anteriormente e que, embora
talvez um pouco simplificada demais se se quiser entrar no pormenor, é, no entanto, exata quanto às
suas grandes linhas: o Extremo Oriente, representado essencialmente pela civilização chinesa; o Oriente
Médio, pela civilização hindu; o Oriente Próximo, pela civilização islâmica. René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
Algumas pessoas, que certamente não se deram ao trabalho de ler meus livros, julgaram de seu
dever acusar-me de ter dito que todas as doutrinas tradicionais tinham origem oriental, que a própria
Antiguidade ocidental, em todas as épocas, tinha sempre recebido as suas tradições do Oriente. Nunca
escrevi nada de semelhante, nem mesmo algo que possa sugerir uma tal opinião, pela simples razão de
saber muito bem que isso é falso. De fato, são precisamente os dados tradicionais que se opõem
nitidamente a uma asserção desse gênero: por toda a parte se encontra a afirmação formal que a
Tradição primordial do ciclo atual proveio das regiões hiperbóreas; houve a seguir várias correntes
secundárias, correspondentes a diversos períodos, e de que uma das mais importantes, pelo menos entre
aquelas cujos vestígios são ainda reconhecíveis, partia incontestavelmente do Ocidente em direção ao
Oriente. Mas tudo isso se refere a épocas muito distantes, aquelas que são vulgarmente chamadas
“pré-históricas”, e não é isso que tenho em vista. O que digo, em primeiro lugar, é que desde há muito
tempo o depósito da Tradição primordial foi transferido para o Oriente, e que é aí que se encontram
atualmente as formas doutrinais nele originadas mais diretamente; e em segundo lugar que, no estado
atual das coisas, o verdadeiro espírito tradicional, com tudo o que implica, só tem representantes
autênticos no Oriente. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Mencionarei apenas de memória, neste gênero, a pretensa “tradição ocidental” fabricada por
certos ocultistas com a ajuda dos elementos mais disparatados, e destinada sobretudo a fazer
concorrência a uma “tradição oriental” não menos imaginária, a dos teosofistas. René Guénon - Crise
do Mundo Moderno
Mencionei há pouco a corrente tradicional vinda das regiões ocidentais; os relatos dos antigos
com respeito à Atlântida indicam a sua origem. Depois da desaparição desse continente, que foi o último
dos grandes cataclismos ocorridos no passado, não parece duvidoso que restos da sua tradição tenham
sido transportados para diversas regiões, onde se misturaram com outras tradições preexistentes,
principalmente com ramos da grande Tradição hiperbórea; e é muito possível que as doutrinas dos
186
Esta lei era representada nos mistérios de Elêusis pelo simbolismo do grão de trigo; os alquimistas
figuravam-na pela “putrefação” e pela cor negra que marca o começo da Grande Obra; o que os místicos
cristãos chamam a “noite negra da alma” é apenas a sua aplicação ao desenvolvimento espiritual do ser
que se eleva a estados superiores; e seria fácil assinalar ainda outras concordâncias.
431
celtas, em particular, tenham sido um dos produtos dessa fusão. Estou muito longe de contestar estas
coisas, mas que se pense bem nisto: a forma propriamente “atlante” desapareceu há milhares de anos,
com a civilização à qual pertencia, e cuja destruição só se pode ter produzido na sequência de um desvio
que era talvez comparável, em certos aspectos, ao que constatamos hoje, embora com uma notável
diferença, uma vez que a Humanidade não tinha ainda entrado em “Kali-Yuga”. René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
Pensemos também que essa Tradição já correspondia a um período secundário do nosso ciclo, e
que seria um grande erro pretender identificá-la com a Tradição primordial de que todas as outras
provieram, e que só ela permanece do começo até ao fim. Não viria a propósito expor aqui todos os
dados que justificam estas afirmações; reterei apenas a sua conclusão, que é a da impossibilidade de se
fazer reviver hoje uma Tradição “atlante”, ou mesmo de se ligar a ela mais ou menos diretamente.
Aliás, existe muita fantasia nas tentativas desse tipo. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Há outros que querem ver-se ligados ao “celtismo” e, como fazem apelo a alguma coisa que se
encontra menos afastada de nós, pode parecer que aquilo que propõem seja menos irrealizável; no
entanto, onde encontrariam eles, hoje, o celtismo no estado puro e dotado ainda de uma vitalidade
suficiente para que fosse viável fazer dele um ponto de apoio? René Guénon - Crise do Mundo Moderno
A verdade é que os elementos célticos subsistentes foram, na sua maior parte, assimilados pelo
Cristianismo na Idade Média; a lenda do “Santo Graal”, com tudo o que se liga a ela, é um exemplo
particularmente comprovador e significativo, nesse aspecto. Penso, além disso, que se uma tradição
ocidental chegasse a reconstituir-se, ela tomaria forçosamente uma forma exterior religiosa, no sentido
mais estrito da palavra, e que essa forma só poderia ser cristã, porque, por um lado, as outras formas
possíveis são há muito tempo estranhas à mentalidade ocidental, e, por outro lado, é somente no
Cristianismo, ou mais precisamente ainda, no Catolicismo, que se encontram, no Ocidente, os restos de
espírito tradicional que ainda sobrevivem. Qualquer tentativa “tradicionalista” que não leve em conta
este fato está inevitavelmente votada ao insucesso, porque carece de base; é demasiado evidente que só
podemos nos apoiar no que existe de modo efetivo, e que onde falta a continuidade só pode haver
reconstituições artificiais que não poderiam ser viáveis. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Alguns falam hoje de “defesa do Ocidente”, o que é verdadeiramente singular quando, tal como
veremos mais adiante, é este que ameaça submergir tudo e arrastar a Humanidade inteira no
turbilhão da sua atividade desordenada. Singular e injustificado, se pretendem, como parece, apesar de
certas restrições, que essa defesa deve ser dirigida contra o Oriente, porque o verdadeiro Oriente não
pensa em atacar nem em dominar o que quer que seja, a única coisa que pede é a sua independência e a
sua tranquilidade, o que, deve-se concordar, é bastante legítimo. René Guénon - Crise do Mundo
Moderno
Conhecimento e Ação
Consideremos agora, de uma maneira mais particular, um dos principais aspectos da oposição
que existe atualmente entre o espírito oriental e o espírito ocidental, e que é, mais geralmente, a do
espírito tradicional e do espírito anti-tradicional, tal como foi explicado. Num certo ponto de vista, que é
aliás um dos mais fundamentais, essa oposição aparece como a da contemplação e da ação, ou, para
falar mais exatamente, como dizendo respeito aos lugares respectivos que convém atribuir a um e a
outro destes dois termos. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
É aqui, direi mais uma vez, que o Oriente pode vir em auxílio do Ocidente, se este realmente o
desejar, não para lhe impor concepções que lhe são estranhas, como alguns pareceram recear, mas sim
para o ajudar a reencontrar a sua própria tradição, cujo sentido ele perdeu. René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
É justamente isso que ignoram os ocidentais modernos que, em matéria de conhecimento, não
veem mais do que o conhecimento racional e discursivo, portanto indireto e imperfeito: o que se
poderia chamar de conhecimento por reflexo. E ainda, além disso, apreciam cada vez mais esse
conhecimento inferior na medida em que ele pode servir imediatamente para fins práticos;
432
comprometidos na ação a ponto de negar tudo o que a ultrapassa, não percebem que essa ação
degenera, assim, por defeito de princípio, numa agitação tão vã como estéril. René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
É realmente esse o caráter mais visível da época moderna: necessidade de agitação incessante,
de contínua mudança, de velocidade sempre crescente, como aquela em que se desenrolam os próprios
acontecimentos. É a dispersão na multiplicidade, e numa multiplicidade que já não está unificada pela
consciência de qualquer princípio superior. Na vida corrente, assim como nos conceitos científicos, é a
análise levada ao extremo, a divisão indefinida, uma verdadeira desagregação da atividade humana
em todas as ordens em que se exerça; e daí a inaptidão para a síntese, a impossibilidade de qualquer
concentração, tão surpreendente aos olhos dos orientais. Essas são as consequências naturais e
inevitáveis de uma materialização cada vez mais acentuada, porque a matéria é essencialmente
multiplicidade e divisão, e é por isso, digamos de passagem, que tudo o que dela procede só pode
engendrar lutas e conflitos de todas as espécies, tanto entre os povos como entre os indivíduos. René
Guénon - Crise do Mundo Moderno
É, podemos dizer, como uma tendência para a instantaneidade, tendo por limite um estado de
puro desequilíbrio que, se pudesse ser atingido, coincidiria com a dissolução final deste mundo; e é
ainda um dos sinais mais claros do último período de “Kali-Yuga”. René Guénon - Crise do Mundo
Moderno
Deve-se também notar que as “filosofias do devir”, sob a influência da ideia muito recente de
“progresso”, assumiram entre os modernos uma forma especial que as teorias do mesmo gênero nunca
tiveram entre os antigos: essa forma, susceptível, aliás, de múltiplas variedades, é o que se pode de
modo geral designar pelo nome de “evolucionismo”. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Há uma multidão indefinida de ciências possíveis; pode acontecer que diversas ciências estudem
as mesmas coisas, mas sob aspectos de tal modo diferentes e, portanto, por métodos e com intenções
também de tal modo diferentes, que serão ciências realmente distintas. Este caso em particular pode se
apresentar para as “ciências tradicionais” de civilizações diversas, que, embora comparáveis entre si,
não são, no entanto, sempre assimiláveis umas às outras, de tal forma que muitas vezes constitui abuso
designá-las pelos mesmos nomes. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Simplesmente, foi só no século 19 que pudemos ver homens vangloriarem-se da sua ignorância –
porque proclamar-se “agnóstico” não significa outra coisa – e pretenderem proibir a todos o
conhecimento do que eles próprios ignoravam; e isso marcou mais uma etapa na queda intelectual do
Ocidente. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Com efeito, para a ciência atual, as coisas de que trata não podem pertencer senão ao domínio
das hipóteses, enquanto para as “ciências tradicionais” elas eram outra coisa e apresentavam-se como
consequências indubitáveis de verdades conhecidas intuitivamente, portanto infalivelmente, na ordem
metafísica. É, aliás, uma singular ilusão, própria do “experimentalismo” moderno, julgar que uma teoria
pode ser provada pelos fatos, quando, na realidade, os mesmos fatos podem sempre explicar-se
igualmente por diversas teorias diferentes. Certos promotores do método experimental, como Claude
Bernard, reconheceram eles próprios que não podiam interpretá-los senão com a ajuda de “ideias
preconcebidas”, sem as quais esses fatos permaneceriam “fatos em bruto”, desprovidos de qualquer
significação e de qualquer valor científico. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Na sua repartição hierárquica segundo os graus de existência aos quais se reportam, as ciências
constituem, então, como que escalões com a ajuda dos quais é possível elevar-se até à intelectualidade
433
187
pura . Ë demasiado evidente que as ciências modernas não podem, em nenhum grau, preencher
qualquer destes dois papéis; é por isso que elas não são e não podem ser senão a “ciência profana”,
enquanto as “ciências tradicionais”, pela sua ligação aos princípios metafísicos, estão incorporadas de
modo efetivo na “ciência sagrada”. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Há assim, em toda civilização normal, “artes tradicionais” que são tão desconhecidas dos
188
ocidentais modernos quanto as “ciências tradicionais” . René Guénon - Crise do Mundo Moderno
A verdade é que não existe, na realidade, um “domínio profano” que se oporia de certo modo ao
“domínio sagrado”; existe somente um “ponto de vista profano”, que é propriamente o ponto de vista
189
da ignorância . É por isso que a “ciência profana”, a dos modernos, pode, a justo título, ser olhada
como um “saber ignorante”; saber de ordem inferior, que se mantém inteiramente ao nível da mais
baixa realidade, e saber ignorante de tudo o que o ultrapassa, ignorante de qualquer finalidade
superior a si próprio e de todo o princípio que lhe poderia assegurar um lugar legítimo entre as diversas
ordens do conhecimento integral. Irremediavelmente encerrado no domínio relativo e limitado em que
se quis proclamar independente, tendo assim cortado ele próprio toda a comunicação com a verdade
transcendente e com o conhecimento supremo, não é mais do que uma ciência vã e ilusória que, para
dizer a verdade, não provém de nenhum ponto e a nada conduz. René Guénon - Crise do Mundo
Moderno
Astrologia e a Alquimia
É assim que, por exemplo, é falso dizer, como se faz habitualmente, que a Astrologia e a Alquimia
se tornaram respectivamente a Astronomia e a Química modernas, embora haja nessa opinião uma
certa parte de verdade do ponto de vista simplesmente histórico. Se num certo sentido é verdade que as
duas ciências recentes procedem efetivamente das primeiras, não é por “evolução” ou “progresso”,
como se pretende, mas pelo contrário, por degenerescência; e isto pede ainda algumas explicações.
Deve-se notar, primeiro que tudo, que a atribuição de significações distintas aos termos
“Astrologia” e “Astronomia” é relativamente recente; entre os gregos estas duas palavras eram
indiferentemente utilizadas para designar todo o conjunto daquilo que hoje é coberto por uma e outra.
Parece, então, à primeira vista, que se trata de mais uma dessas divisões por “especialização” que
separaram aquelas que eram primitivamente partes de uma ciência única. Mas o que há de particular
neste caso é que, enquanto uma destas partes, a que representava o lado mais material da ciência em
questão, atingia um desenvolvimento independente, a outra parte, pelo contrário, desaparecia
inteiramente. Isso é de tal modo verdade que não se sabe hoje o que pode ter sido a Astrologia antiga,
e que mesmo aqueles que tentaram reconstituí-la só chegaram a verdadeiras contrafações, seja por
querer fazer dela o equivalente de uma ciência experimental moderna, com intervenção das
estatísticas e do cálculo das probabilidades, seja aplicando-se exclusivamente a restaurar uma “arte
divinatória” que foi apenas um desvio da Astrologia em vias de desaparição, e na qual se podia ver,
quanto muito, uma aplicação muito inferior e bastante pouco digna de consideração, tal como é ainda
possível de verificar nas civilizações orientais. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
187
Em meu estudo sobre “O Esoterismo de Dante” indiquei o simbolismo da escada na qual, segundo
diversas tradições, os degraus correspondem a certas ciências, ao mesmo tempo que aos estados do
ser, o que implica necessariamente que essas ciências, em lugar de serem encaradas de uma maneira
totalmente “profana” como acontece entre os modernos, davam lugar a uma transposição, conferindo-
lhe um alcance verdadeiramente “iniciático”.
188
A arte dos construtores da Idade Média pode ser mencionada como exemplo particularmente
notável dessas “artes tradicionais”, cuja prática implicava, aliás, o conhecimento real das ciências
correspondentes.
189
Para nos convencermos disto basta observar fatos como este: uma das ciências mais “sagradas”, a
Cosmogonia, que como tal tem o seu lugar em todos os Livros inspirados, incluindo a Bíblia hebraica,
tornou-se para os modernos o objeto das hipóteses mais puramente “profanas”; o domínio da ciência é
o mesmo nos dois casos, mas o ponto de vista é totalmente diferente.
434
Acrescento ainda que os chamados renovadores da Alquimia, por seu lado, alguns dos quais se
encontram entre os nossos contemporâneos, só prolongam esse mesmo desvio, e as suas pesquisas
estão tão afastadas da Alquimia tradicional como as dos astrólogos o estão da antiga Astrologia. É por
esse motivo que tenho o direito de afirmar que as “ciências tradicionais” do Ocidente se encontram
realmente perdidas para os modernos. René Guénon - Crise do Mundo Moderno
Matemática Pitagórica
Num outro domínio seria possível mostrar que as Matemáticas modernas representam apenas,
por assim dizer, a casca da Matemática pitagórica, o seu lado puramente “exotérico”. A antiga ideia dos
números tornou-se mesmo absolutamente ininteligível para os modernos, porque também aí a parte
superior da ciência, aquela que lhe dava, com o caráter tradicional, um valor propriamente intelectual,
desapareceu totalmente; e este caso é bastante comparável ao da Astrologia. René Guénon - Crise do
Mundo Moderno
435
exatidão, cada um poderia extrair dele, sem dificuldades, deduções que permitiriam prever certos
acontecimentos futuros; ora, nenhuma tradição ortodoxa jamais encorajou buscas por meio das quais o
homem pode chegar a conhecer o futuro em maior ou menor medida, esse conhecimento apresentando
na prática, muito mais incon-venientes do que vantagens verdadeiras. Por isso, o ponto de partida e a
duração do Manvantara, sempre têm sido dissimulados mais ou menos cuidadosamente, seja
adicionando ou subtraindo um determinado número de anos às datas autênticas, ou bem multiplicando
ou dividindo as durações dos períodos cíclicos de modo que somente se conservem suas proporções
exatas; e acrescentaremos que certas correspondências às vezes foram também invertidas por motivos
similares. René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 19/20
Se a duração do Manvantara é de 4.320, a dos quatro Yugas serão respectivamente 1.728, 1.296,
864 e 432; mas, por qual número teremos que multiplicá-los para obter em anos a expressão destas
durações? É fácil observar que todos os números cíclicos estão em relação direta com a divisão
geométrica do círculo: assim, 4.320 = 360 x 12; não há, por outro lado, nada de arbitrário ou puramente
convencional nesta divisão, pois, por razões que procedem da correspondência que existe entre a
aritmética e a geometria, é normal que ela se efetue segundo múltiplos de 3, 9, 12, enquanto que a
divisão decimal seja a que propriamente convém à linha reta. Entretanto, esta observação, ainda que
verdadeiramente fundamental, não permitiria ir muito longe na determinação dos períodos cíclicos, se
não soubéssemos, além disso, que a base principal destes, na ordem cósmica, é o período astronômico
da precessão dos equinócios, cuja duração é de 25.920 anos, de maneira que o deslocamento dos
pontos equinociais é de um grau em 72 anos. Este número 72 é precisamente um submúltiplo de 4.320 =
72 x 60, e 4.320 é por sua vez um submúltiplo de 25.920 = 4.320 x 6; o fato de que para a precessão dos
equinócios nós voltamos a encontrar os números relacionados com a divisão do círculo é, aliás, mais
uma prova do caráter verdadeiramente natural disso; mas a pergunta que se coloca agora é esta: que
múltiplo ou submúltiplo do período astronômico que se trata corresponde à duração do Manvantara?
Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 20
O período que aparece mais frequentemente nas diferentes tradições, a dizer a verdade é talvez
menos aquele da precessão dos equinócios do que sua metade: de fato, este que corresponde
notadamente ao que era o “grande ano” dos Persas e Gregos, avaliado frequentemente em 12.000 ou
13.000 anos, sendo sua duração exata 12.960 anos. Dada à importância tão particular que desse modo
se atribui a este período, temos de presumir que o Manvantara deverá compreender um número inteiro
destes “grandes anos”; mas então qual será esse número? A este respeito, pelo menos, encontramos, em
outro lugar distinto da tradição hindu, uma indicação precisa, e que parece bastante plausível para
poder ser desta vez aceita literalmente: entre os Caldeus, a duração do reino de Xisuthros, que é
manifestadamente idêntico a Vaivaswata, o Manu da era atual, está fixada em 64.800 anos, ou seja,
exatamente cinco “grandes anos”. Observemos incidentalmente que o número 5, ao ser o dos bhûtas ou
elementos do mundo sensível, deve ter necessariamente uma importância especial desde o ponto de
vista cosmológico, o que tende a confirmar a realidade de uma avaliação assim; talvez fosse oportuno
considerar certa correlação entre os cinco bhûtas e os cinco “grandes anos” sucessivos de que se trata,
tanto mais que, de fato, se encontra nas antigas tradições da América Central uma expressa associação
dos elementos com certos períodos cíclicos; mas esta é uma questão que exigiria ser examinada mais de
perto. Seja como for, se essa é em verdade a duração do Manvantara, e se se continua tomando como
base o número 4.320, que é igual ao terço do “grande ano”, é, pois, por 15 que este número deverá ser
multiplicado. Por outro lado, os cinco “grandes anos” se repartirão naturalmente de modo desigual, mas
segundo proporções simples, nos quatro Yugas: o Krita-Yuga conterá 2, o Trêtâ-Yuga 1 1/2, o Dwâpara-
Yuga 1, e o Kali-Yuga 1/2 ; bem entendido, esses números são, aliás, a metade daqueles que tínhamos
precedentemente ao representar por 10 a duração do Manvantara. Quantificadas em anos ordinários,
estas mesmas durações dos quatro Yugas serão respectivamente de 25.920, 19.440, 12.960 e 6.480
anos, formando o total de 64.800 anos; e se reconhecerá que estas cifras se mantêm pelo menos dentro
de limites perfeitamente verossímeis, podendo muito bem corresponder à antiguidade real da presente
humanidade terrestre. René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 20/21
Atlântida e Hiperbórea
436
Só em uma época já afastada da origem, pode a sede da Tradição primordial, transferida a outras
regiões, converter-se, ora em ocidental, ora em oriental, ocidental para certos períodos e oriental para
outros e, em qualquer caso, sem dúvida oriental em último lugar e desde muito antes do começo dos
tempos chamados “históricos” (porque são os únicos acessíveis às investigações da história “profana”).
...consideramos a origem das tradições como nórdica, e mesmo, mais exatamente, como polar, pois isto
está expressamente afirmado no Vêda, assim como em outros livros sagrados.
A terra onde o sol dava volta no horizonte sem se pôr deveria estar de fato situada bem perto do
pólo, senão no próprio pólo; é dito também que, mais tarde, os representantes da tradição se
transportaram à uma região em que o dia mais extenso era o dobro do dia mais curto, mas isto se refere
já a uma fase posterior, que geograficamente já não tem nada a ver, evidentemente, com Hiperbórea.”.
René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 30/31
“Sabe-se que a Tula mexicana deve sua origem aos Toltecas; estes, diz-se, vinham de Aztlan, “a
terra no meio das águas”, que, evidentemente, não é outra senão a Atlântida, e tinham trazido esse
nome de Tula de seu país de origem; o centro ao qual deram esse nome devia provavelmente substituir,
em certa medida, o do continente desaparecido201. Mas, de outro lado, é preciso distinguir a Tula
atlante da Tula hiperbórea, e é esta última que, em realidade, representa o centro primitivo e supremo
para o conjunto do atual Manvantara; é ela que foi a “ilha sagrada” por excelência e, como dissemos,
sua situação era literalmente polar na sua origem”. René Guénon - O Rei do Mundo. p. 143
“Uma grande dificuldade, para determinar o ponto de junção da tradição atlante com a tradição
hiperbórea, provém de certas substituições de nomes que podem originar múltiplas confusões; mas a
questão, apesar de tudo, não é talvez totalmente insolúvel.
Ao falar desse “ponto de junção”, pensávamos sobretudo no Druidismo... os Druidas eram
possuidores de uma tradição da qual uma parte notável era indiscutivelmente de procedência
hiperbórea.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 32
“...dizemos “Hiperbórea” para conformarmos ao uso que tem prevalecido desde os Gregos; mas o
emprego desta palavra mostra que estes, ao menos na época “clássica”, já haviam perdido o sentido da
designação primitiva. De fato, bastaria, na realidade, dizer “Boreal”, palavra estritamente equivalente
ao sânscrito Vârâha, ou, melhor, quando se trata de uma terra, a seu derivado feminino Vârâha: é a
“terra do javali”, que se converteu também na “terra do urso” em uma determinada época, durante o
período de predominância dos Kshatriyas a qual coloca fim Parashu-Ráma.” René Guénon - Formas
Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 33
“Nós não “fazemos” da swastika o signo do pólo: dizemos que o é e que sempre o foi, que esse é
seu verdadeiro significado tradicional, o que é completamente diferente.” René Guénon - Formas
Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 34
437
“...o significado literal do nome Adam é “vermelho”, sendo precisamente a tradição atlante a da
raça vermelha; e parece também que o dilúvio bíblico corresponde diretamente ao cataclismo em que
desapareceu a Atlântida, e que, por conseguinte, não deve ser identificado com o dilúvio de Satyavrata
que, segundo a tradição hindu, surgida diretamente da Tradição primordial, precedeu imediatamente o
começo de nosso Manvantara.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 41/42
“Se fazemos esta última reserva, é porque parece particularmente difícil determinar como se fez a
junção da corrente vinda do Ocidente, depois da desaparição da Atlântida, com outra corrente
descendida do Norte e que procedia diretamente da Tradição primordial, junção que resultaria na
constituição das diferentes formas tradicionais próprias da última parte do Manvantara. Em todo caso,
não se trata de uma reabsorção pura e simples, na Tradição primordial, do que havia saído dela em uma
época anterior; trata-se de um tipo de fusão entre formas previamente diferenciadas, para dar origem a
outras formas adaptadas a novas circunstâncias de tempo e lugares; o fato de que as duas correntes
apareceram então, de certo modo como autônomas pode contribuir também para manter a ilusão de
uma independência da tradição atlante. Sem dúvida, se quiserem buscar, as condições em que se operou
esta junção, teria que se dar uma importância particular a Céltida e a Caldéia, cujo nome, que é o
mesmo, não designava em realidade a um povo particular, senão a uma casta sacerdotal; mas, quem
sabe, hoje em dia, o que foram a tradição Céltica e a Caldéia, assim como a dos antigos Egípcios?
Nunca se é excessivamente prudente quando se trata de civilizações totalmente desaparecidas, e por
certo não são as tentativas de reconstituição a que se entregam os arqueólogos profanos o que pode
esclarecer a questão; mas não é menos certo que muitos vestígios de um passado esquecido saem da
terra em nossa época, e isso não pode deixar de ter motivo.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos
Cósmicos p. 42/43.
(3). Pensamos que la duración de la civilización atlante debió ser igual a un "gran año", entendido
en el sentido de un semiperíodo de precesión de los equinoccios. En cuanto al cataclismo que puso fin a
esta civilización, ciertos datos concordantes parecen indicar que ocurrió siete mil doscientos años antes
del año 720 del Kali-Yuga, año que es el punto de partida de una era conocida, pero de la cual, aquellos
que la emplean todavía hoy no parecen ya saber su origen ni su significación. René Guénon - Formas
Tradicionais e Ciclos Cósmicos
438
geral é demasiadamente “simplista”, e, isso é verdadeiro em certos casos, como no dos Mistérios de
Eleusis (aos quais, neste caso parece se referir) existem outros aonde tal origem seria insustentável.
Agora bem, já se trate do próprio Pitagorismo ou do Orfismo anterior, não é em Eleusis onde temos que
buscar o “ponto de contato”, senão em Delfos, e o Apolo délfico absolutamente não é egípcio, mas sim
hiperbóreo, origem que, de todas as formas, é impossível de considerar em relação à tradição hebraica;
isto nos leva, aliás, diretamente ao ponto mais importante no que concerne à ciência dos números e as
formas diferentes de que se revestiram.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 62/63.
Kabbala e Hermetismo
“Devemos manter que o hermetismo é de fato de proveniência heleno-egípcia, e que não
podemos sem abuso estender essa tal denominação ao que, sob formas diversas, lhe corresponde em
outras tradições, do mesmo modo que não podemos chamar “Kabbala” uma doutrina que não seja
especificamente hebraica. Sem dúvida, se nós escrevêssemos em hebraico, diríamos qabbalah para
designar a tradição em geral, do mesmo modo que, escrevendo em árabe chamaríamos taçawwuf à
iniciação sob qualquer forma que seja: mas, transportá-las para uma outra língua as palavras hebraicas,
árabes, etc., devem ser reservadas à forma tradicional da qual a sua língua de origem é a respectiva
expressão, quaisquer que sejam, aliás, as comparações ou mesmo as assimilações às quais elas podem
dar margem legitimamente; é preciso não confundir em nenhum caso certa ordem de conhecimento, em
si mesma, com tal ou tal forma especial que lhe tenha sido revestido em determinadas circunstâncias
históricas.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 106
O Símbolo da Serpente
Colocar aqui pag 108 Quetzalcóatl - René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos, pag
108
“É importante notar que a oposição simbólica do pássaro e da serpente só se aplica quando esta
última é encarada sob seu aspecto maléfico; ao contrário, sob seu aspecto benéfico, ela se une às vezes
ao pássaro, como na figura de Quetzalcóatl das antigas tradições americanas. No entanto, encontra-se
também no México o combate da águia contra a serpente. Pode-se, para o caso da associação do
pássaro e da serpente, lembrar o texto evangélico: "Sejam doces como as pombas e prudentes como as
serpentes" (Mateus, 10,16).” René Guénon - Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, p. 62/63
“...a serpente se opõe ou se associa ao pássaro segundo lhe considere em seu aspecto maléfico
ou benéfico. Acrescentaremos que uma figura como a da águia
que submete uma serpente sob suas garras (que se encontra
precisamente no México) não evoca exclusivamente a ideia de
antagonismo que na tradição hindu representa o combate do
Garuda contra o Nâga; ocorre às vezes, especialmente no
simbolismo heráldico, que a serpente é substituída pela espada
(substituição particularmente impressionante quando esta tem a
forma da espada flamejante, que temos que relacionar, por outro
lado, com os raios que a águia recebe de Júpiter), e a espada em
seu significado mais elevado representa a Sabedoria e a força do
Verbo (ver, por exemplo, Apocalipse, 1,16). Ressaltamos que um
dos principais símbolos do Thoth egípcio era o ibis, destruidor de
répteis, e convertido por esta qualidade no símbolo de Cristo; mas,
no caduceu de Hermes, temos a serpente em seus dois aspectos
439
contrários, como na figura da “amfisbena” da Idade Média.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos
Cósmicos p. 109
“...entre os gregos, a medicina era atribuída a Apolo, quer dizer, ao princípio solar, e a seu filho
Asklêpios (que os latinos converteram em Esculápio); mas nos “livros herméticos”, Asklêpios se converte
em filho de Hermes, e também é de notar que o bastão que é seu atributo guarda estreitas
correspondências simbólicas com o caduceu.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos p.
111
“Em torno do bastão de Esculápio está enroscada somente uma serpente que representa a força
benéfica, pois a força maléfica tem que desaparecer precisamente porquê se trata do gênio da
medicina. Notemos igualmente a relação desse mesmo bastão de Esculápio, enquanto sinal de cura,
com o símbolo bíblico da “serpente de bronze”.” René Guénon - Formas Tradicionais e Ciclos Cósmicos
p. 111
“...De fato, se este foi o Mestre de Seyidna Idris, não pode ter sido outro senão Seyidna Shith, ou
Seja, Set, filho de Adão; é verdade que autores árabes antigos o designam com os nomes, estranhos em
aparência, de Aghatimun e Adhimun; mas, evidentemente, estes nomes não são senão deformações do
grego Agathodaimôn, que, se reportando ao simbolismo da serpente considerada em seu aspecto
benéfico, se aplica perfeitamente a Set, como explicamos em outra ocasião.” René Guénon - Formas
Tradicionais e Ciclos Cósmicos p. 117
O Set Egípcio
“O tigre e os outros animais similares são, enquanto "destruidores", emblemas do Set egípcio,
irmão e assassino de Osíris, ao qual os gregos deram o nome de Tífon... Mas o ponto que parece trazer
a maior dificuldade é a significação maléfica do nome Set ou Sheth que, por outro lado, na medida em
que designa o filho de Adão, longe de significar a destruição, evoca, ao contrário, a ideia de
estabilidade e de restauração da ordem. Todavia, se quisermos estabelecer paralelos bíblicos, o papel
do Set egípcio em relação a Osíris lembrará o de Caim em relação a Abel. Podemos notar, a esse
respeito, que certos autores fazem de Nemrod um dos "cainitas" que teriam escapado ao cataclismo
diluviano. Mas o Set do Gênesis é oposto a Caim, longe portanto de poder ser-lhe assimilado. Como
então o seu nome encontra-se aqui associado?
Na verdade, a palavra Sheth, no próprio hebreu, possui realmente os dois sentidos contrários:
de "fundamento" e de "tumulto" e "ruína"; e na expressão beni-Sheth (filhos de Set) encontra-se
também essa dupla significação. É verdade que os linguistas julgam tratar-se de duas palavras distintas,
provenientes de duas raízes verbais diferentes: shith para a primeira e shath para a segunda. Mas a
distinção entre essas duas raízes parece inteiramente secundária e, em todo caso, seus elementos
constitutivos essenciais são muito idênticos. Na realidade, é preciso ver nisso uma aplicação do duplo
sentido dos símbolos, fato a que já nos referimos em muitas ocasiões e essa aplicação se refere mais em
particular ao simbolismo da serpente.
De fato, se o tigre ou o leopardo é um dos símbolos do Set egípcio, a serpente é outro, o que
podemos compreender sem dificuldade se a encaramos sob seu aspecto maléfico, que lhe é mais
comumente atribuído. Mas quase sempre se esquece que a serpente tem ainda um aspecto benéfico,
que se encontra de igual modo no simbolismo do antigo Egito, em especial sob a forma de serpente real,
"uraeus" ou basilisco. Mesmo na iconografia crista a serpente é às vezes um símbolo de Cristo. E o Set
bíblico, cujo papel assinalamos também na lenda do Graal, é muitas vezes considerado como
prefiguração de Cristo. Podemos dizer que os dois Set nada mais são, no fundo, que as duas serpentes
do caduceu hermético são, se o quisermos, a vida e a morte, ambas produzidas por um poder único em
sua essência, mas duplo em sua manifestação.
440
Se nos detivemos nessa interpretação em termos de vida morte, ainda que ela seja em suma
apenas uma aplicação particular da consideração de dois termos contrários ou antagônicos, é porque o
simbolismo da serpente está de fato ligado, antes de tudo, à idéia da própria vida: no árabe, a
serpente é el-hayyah, e a vida, el-hayâh (no hebreu hayâh é, ao mesmo tempo, "vida" e "animal", e vem
da raiz hayi, que é comum às duas línguas). Isso, que se liga ao simbolismo da Árvore da Vida, permite
ao mesmo tempo entrever uma singular relação da serpente com Eva (Hawâ, "a vivente"); podemos
ainda lembrar as figurações medievais da "tentação" em que o corpo da serpente enrolada na árvore
tem acima dela um busto de mulher. Coisa não menos estranha ocorre no simbolismo chinês, em que
Fahi e sua irmã Niu-Koua, dos quais se diz que reinaram juntos, formando um casal fraterno, tal como se
encontra de igual modo no antigo Egito, são às vezes representados com corpo de serpente e cabeça
humana; e acontece mesmo que essas duas serpentes estejam enlaçadas como no caduceu referindo-se
sem dúvida à complementaridade do yang e do yin. Sem insistir mais sobre esse ponto, o que nos faria
correr o risco de ir muito longe podemos ver em tudo isso a indicação de que a serpente teve, em épocas
sem dúvida muito recuadas, uma importância atualmente insuspeitável; e se estudássemos de perto
todos os aspectos de seu simbolismo, em particular no Egito e na Índia, poderíamos ser levados a
constatações muito inesperadas.” René Guénon - Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, p.
143/144
“Mas voltemos aos animais simbólicos do Set egípcio. Temos ainda o crocodilo, que se explica
por si mesmo, e o hipopótamo, no qual alguns pretenderam ver o Behemoth do livro de Jó, talvez com
alguma razão, embora essa palavra (plural de behemah, em árabe bahimah) seja propriamente uma
designação coletiva de todos os grandes quadrúpedes. Mas um outro animal que tem aqui uma
importância pelo menos igual à do hipopótamo; por mais surpreendente que isso possa parecer, é o
jumento vermelho, representado como uma das mais temíveis entidades dentre todas que o morto
devia encontrar no curso de sua viagem além-túmulo, ou, o que esotericamente é a mesma coisa, o
iniciado encontra no curso de suas provas; não seria ele, mais ainda que o hipopótamo, a "besta
escarlate" do Apocalipse? Em todo caso, um dos aspectos mais tenebrosos dos mistérios "tifonianos"
era o culto ao "deus de cabeça de jumento", ao qual sabemos que os primeiros cristãos foram às vezes
injustamente acusados de se ligarem. Temos algumas razões para pensar que, sob uma forma ou outra,
esse culto continuou até nossos dias, e alguns chegam mesmo a afirmar que deve continuar até o final
do ciclo atual.” René Guénon - Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, p. 145
“Dessa última questão pretendemos ao menos extrair uma conclusão: no declínio de uma
civilização, é o lado mais inferior da sua tradição que persiste por mais tempo, em particular o lado
"mágico", que contribui, além disso, pelos desvios a que dá margem, para completar sua ruína; isso teria
ocorrido, diz-se com a Atlântida. É isso também a única coisa que tem sobrevivido de forma
fragmentária das civilizações que desapareceram por completo. Tal constatação é fácil de ser feita
para o Egito, Caldéia e o próprio druidismo; e sem dúvida o "fetichismo" dos povos negros tem igual
origem. Poderíamos dizer que a feitiçaria é constituída por vestígios de civilizações mortas. Não seria
por isso que a serpente, em épocas mais recentes, quase que só guardou sua significação maléfica, e
que o dragão, antigo símbolo extremo-oriental do Verbo, só desperte ideias "diabólicas" no espírito dos
modernos ocidentais?” René Guénon - Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, p. 145/146
Suástica
“O próprio plano das catedrais é eminentemente simbólico, como já observámos em outras
ocasiões. Falta acrescentar ainda que dentre os símbolos utilizados na Idade Média, além daqueles que
os Maçons modernos conservaram a lembrança, mas sem entenderem o seu significado, há muitos
outros de que eles não têm a menor ideia. Tivemos ultimamente a ocasião de assinalar, na catedral de
Estrasburgo e sobre outros edifícios da Alsácia, um número vultoso de marcas de talhadores de pedra
datadas de épocas diversas, desde o século XII até ao início do século XVII. Entre essas marcas há muitas
bastante curiosas e encontramos especialmente a suástica, a que M. Bédarride faz alusão, num dos
torreões em flecha da catedral de Estrasburgo”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o
Companheirismo p. 8
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PARTE III - APORTES TEÓRICOS: A
PSEUDO-TRADIÇÃO E A CONTRA-
TRADIÇÃO
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Em 1945 é publicada a obra “O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos”, de
René Guénon, a qual Luiz Pontual se refere como “uma joia incomparável da
intelectualidade tradicional”:
A Contra-Iniciação
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se trata de uma designação convencional empregue para falar mais comodamente
daquilo que não tem verdadeiramente nome, mas uma expressão que corresponde o
mais exatamente possível a realidades muito precisas.
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século XVIII, devia, com teorias sucessivas, tornar-se cada vez mais quantitativa, ao
mesmo tempo que o materialismo, insinuando-se na mentalidade geral, conseguia
determinar aí esta atitude, independente de qualquer afirmação teórica, mas ainda
mais difundida e transformada finalmente no estado de uma espécie de «instinto», a
que chamamos o «materialismo prático». E esta mesma atitude devia ainda ser
reforçada pelas aplicações industriais da ciência quantitativa, que tinham como efeito
ligar cada vez mais os homens só a realizações «materiais». O homem «mecanizava»
todas as coisas, e acabava finalmente por «mecanizar-se», caindo pouco a pouco no
estado das falsas «unidades» numéricas perdidas na uniformidade e na indistinção da
«massa», isto é, na multiplicidade; é esse, seguramente, o mais completo triunfo da
quantidade sobre a qualidade.
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seguem-se logicamente e só sucessivamente é que têm o seu efeito pleno; de resto,
assim que se constituiu o materialismo, a primeira etapa estava de certo modo
virtualmente completada e bastava-lhe desenrolar-se através do desenvolvimento
daquilo que estava implicado no próprio materialismo; e foi precisamente nesse
momento que começou a preparação da segunda etapa, da qual só agora começamos
a ver os primeiros efeitos, já suficientemente visíveis para permitir prever o que vai
seguir-se, e para que se possa dizer, sem exagero, que é este segundo aspecto da ação
anti-tradicional que, a partir de agora, passa verdadeiramente para o primeiro plano
nos desígnios daquilo que designamos primeiro coletivamente como o «adversário» e
que podemos, com mais precisão, chamar agora a «contra-iniciação».
Desvio e Subversão
Consideramos a ação anti-tradicional, através da qual foi, de certo modo,
«fabricado» o mundo moderno, como constituindo no seu conjunto uma obra de
desvio em relação ao estado normal que é o de todas as civilizações tradicionais,
quaisquer que sejam, aliás, as suas formas particulares; isto é fácil de compreender e
não precisa de comentários mais desenvolvidos. Por outro lado, há uma distinção a
fazer entre desvio e subversão: o desvio é susceptível de graus infinitamente
múltiplos, de modo que se pode operar pouco a pouco e quase insensivelmente; um
exemplo disso é o encaminhamento gradual da mentalidade moderna do
«humanismo» e do racionalismo para o mecanicismo, e depois para o materialismo, e
igualmente o processo segundo o qual a ciência profana elaborou sucessivamente
teorias de caráter cada vez mais exclusivamente quantitativo, o que permite dizer
que todo este desvio, desde a sua origem, teve sempre como tendência o
estabelecimento progressivo do «reino da quantidade». Mas, quando o desvio chega
ao seu termo último, atinge uma «inversão», isto é, um estado que é diametralmente
oposto à ordem normal, e é então que se pode falar propriamente em «subversão»,
no sentido etimológico da palavra; é claro que esta «subversão» não deve ser de modo
nenhum confundida com a «reviravolta» ou «inversão» de que falamos a propósito do
instante final do ciclo, e é mesmo o seu contrário, já que a «reviravolta», que vem
precisamente da «subversão» e no exato momento em que esta parece estar
completa, é, na realidade, uma «recuperação» a restabelecer a ordem normal, e a
restaurar o «estado primordial» que representa nele a perfeição no domínio humano.
Poder-se-ia dizer que a subversão, assim entendida, não é mais do que o último
grau e a própria finalização do desvio, ou ainda, o que equivale ao mesmo, que todo o
desvio tende para a subversão, o que é realmente verdade; no estado presente das
coisas, embora ainda não se possa dizer que a subversão esteja completa 191, já há
sinais muito visíveis em tudo o que apresenta a característica de «imitação» ou de
191
Lembre-se, Guenon escreveu esta obra em 1945...
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«paródia» a que já fizemos muitas vezes alusão, e a que voltaremos mais amplamente
a seguir. Por agora, limitar-nos-emos a notar, a propósito, que esta característica
constitui, por si só, uma marca muito significativa quanto à origem real daquilo que é
afetado por ela e, por conseguinte, do próprio desvio moderno, do qual ela põe bem
em evidência a NATUREZA VERDADEIRAMENTE «SATÂNICA»; com efeito, esta última
palavra aplica-se propriamente a TUDO O QUE É NEGAÇÃO E INVERSÃO DA ORDEM, e
é aí, sem a menor dúvida, que podemos constatar melhor os efeitos à nossa volta; o
que é o próprio mundo moderno senão a negação pura e simples de qualquer
verdade tradicional? Mas, ao mesmo tempo, este espírito de negação é também, de
certo modo por necessidade, o espírito de mentira; reveste todos os disfarces, muitas
vezes os mais inesperados, para não ser reconhecido tal como é, para se fazer passar
pelo contrário, e é aí que aparece a imitação; é altura de lembrar que se diz que «Satã
é o arremedo de Deus», e também que «se transfigura em anjo de luz». No fundo, isto
equivale a dizer que ele imita à sua maneira, alterando e falsificando de modo a
utilizar essa imitação para os seus fins, mesmo para aquilo a que se quer opor: assim,
fará de maneira que a desordem tome a aparência de uma falsa ordem, dissimulará a
negação de todos os princípios afirmando falsos princípios, e assim por diante.
Naturalmente, tudo isto não poderá ser, na realidade, senão simulacro e mesmo
caricatura, mas habilmente apresentada para que a imensa maioria dos homens caia
no logro; como poderemos espantar-nos com isto quando vemos quantas imitações,
mesmo grosseiras, conseguem facilmente impor-se à multidão, e quantas, pelo
contrário, é difícil impor para repor a verdade daquela? «Vulgus vult decipi», diziam já
os antigos da época «clássica»; e sempre se encontraram pessoas, embora não tão
numerosas como nos nossos dias, dispostas a acrescentar: «Ergo decipiatur»!
No entanto, quando se diz imitação, diz-se, por isso mesmo, paródia, porque
são termos quase sinônimos, há invariavelmente, em todas as coisas deste gênero, um
elemento grotesco que pode ser mais ou menos aparente, mas que, em todo o caso,
não devia escapar a observadores mais ou menos perspicazes, se as «sugestões» que
sofrem inconscientemente não abolissem a sua perspicácia natural. É este o lado pelo
qual a mentira, por mais hábil que seja, não pode deixar de trair e, claro, também isso
é uma «marca» de origem, inseparável da própria imitação, e que deve normalmente
permitir reconhecê- la. Se quiséssemos citar aqui exemplos tirados das mais diferentes
manifestações do espírito moderno, só teríamos o embaraço da escolha, desde os
pseudo-ritos «cívicos», e «laicos», que conheceram tamanha expansão por todo o lado
nestes últimos anos, e que visam fornecer à «massa» um substituto puramente
humano dos verdadeiros ritos religiosos, até às extravagâncias de um denominado
«naturismo», que, a despeito do nome, não é menos artificial, para não dizer «anti-
natural», do que as inúteis complicações da existência contra as quais tem a pretensão
de reagir com uma comédia risível, cujo verdadeiro propósito é, aliás, fazer crer que o
«estado natural» se confunde com animalidade; e nem sequer o simples repouso de
ser humano deixa de estar ameaçado de desnaturação pela ideia contraditória em si,
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mas muito conforme com o «igualitarismo» democrático, de uma “organização dos
tempos livres”! Só mencionamos aqui, intencionalmente, fatos conhecidos de toda a
gente, fatos que pertencem incontestavelmente àquilo que se chama o «domínio»
público, e que cada um pode constatar facilmente; não é incrível que aqueles que
sentem, não o perigo, mas o ridículo, sejam tão raros que representem verdadeiras
exceções? «Pseudo-religião», deveria dizer-se a este propósito, «pseudo-natureza»,
«pseudo-repouso» e assim igualmente para outras tantas coisas; se quiséssemos falar
estritamente segundo a verdade dos fatos, deveríamos utilizar sempre a palavra
«pseudo» junto da designação de todos os produtos específicos do mundo moderno,
incluindo a ciência profana, que não é mais do que uma «pseudo-ciência» ou um
simulacro de conhecimento, para indicar o que tudo isso é na realidade: falsificações e
nada mais, cuja finalidade é demasiado evidente para aqueles que ainda são capazes
de refletir.
Dito isto, voltemos às considerações de ordem mais geral: o que é que toma
possível esta falsificação até mais possível e mais perfeita, se assim nos podemos
exprimir num caso destes, quanto mais se avança na marcha descendente do ciclo? A
razão profunda está na relação da analogia inversa que existe, tal como explicamos,
entre o ponto mais alto e o ponto mais baixo; é isso que nomeadamente a realização,
na medida correspondente àquela em que nos aproximamos do domínio da
quantidade pura, destas espécies de falsificações da unidade principial que se
manifestam na «uniformidade» e na «simplicidade», para as quais tende o espírito
moderno, e que são a expressão mais completa do seu esforço de redução de todas as
coisas ao ponto de vista quantitativo. Talvez isto mostre melhor que ao desvio basta
desenrolar-se e prosseguir até ao fim para levar à subversão propriamente dita,
porque, quando o que há de mais inferior (pois que se trata daquilo que é mesmo
inferior a qualquer existência possível), procura imitar e falsificar os princípios
superiores e transcendentes, é mesmo de subversão que podemos falar efetivamente.
No entanto, convém lembrar que, pela própria natureza das coisas, a tendência para a
quantidade pura nunca pode chegar a produzir o seu verdadeiro efeito; para que a
subversão possa ser completa de fato, é preciso pois, que intervenha outra coisa, e
poderemos repetir a este propósito, colocando-nos num ponto de vista ligeiramente
diferente, aquilo que dissemos atrás sobre a dissolução; nos dois casos, aliás, é
evidente que se trata igualmente daquilo que diz respeito ao termo final da
manifestação cíclica; e é precisamente por isso que a «recuperação» do instante
último deve aparecer, da maneira mais exata, como uma inversão de todas as coisas
relativamente ao estado de subversão no qual elas se encontravam imediatamente
antes desse mesmo instante.
Tendo em conta a última anotação que acabamos de fazer, podemos ainda dizer
o seguinte: a primeira das duas fases que distinguimos na ação anti-tradicional
representa simplesmente uma obra de desvio, cuja finalidade própria é o materialismo
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mais completo e mais grosseiro; quanto à segunda fase, ela poderia ser caracterizada
mais especialmente como uma obra de subversão (porque é para isso que ela tende
mais diretamente), que deve chegar à constituição daquilo a que já chamamos uma
«espiritualidade ao invés», tal como veremos adiante mais claramente. As forças sutis
inferiores, às quais se faz apelo nesta segunda fase podem ser verdadeiramente
qualificadas de forças «subversivas» sob todos os pontos de vista; e também aplicamos
mais atrás a palavra «subversão» à utilização feita «ao invés» daquilo que resta das
antigas tradições que o «espírito» abandonou; de resto, é sempre de casos
semelhantes que se trata, porque esses vestígios corrompidos, em tais condições,
caem necessariamente nas regiões inferiores do domínio sutil. Daremos outro
exemplo particularmente nítido da obra de subversão, que é a inversão intencional do
sentido legítimo e normal dos símbolos tradicionais; aliás, aproveitaremos a ocasião
para explicar mais completamente a questão do duplo sentido que os símbolos
contém geralmente em si próprios. Já falamos tantas vezes dele ao longo desta
exposição, que não vem a despropósito precisar um pouco mais.
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hierárquico, e não pretender transportá-lo a um domínio no qual ele não teria nenhum
significado aceitável.
Nestas condições, pode compreender-se que o fato de se ver num símbolo dois
aspectos contrários é, em si mesmo, perfeitamente legítimo, e, aliás, o considerar um
destes aspectos não exclui absolutamente nada o considerarmos o outro, já que cada
um deles é igualmente verdadeiro sob determinada relação e até, pelo fato da
correlação entre eles, a sua existência é de certo modo solidária. É, pois, um erro,
bastante frequente de resto, pensar que ao considerar-se respectivamente um ou
outro destes aspectos ele deva ser relacionado com doutrinas ou escolas que se
encontrem em oposição; aqui tudo depende da predominância que possa ser
atribuída a um em relação ao outro, ou, por vezes também, da intenção segundo a
qual o símbolo pode ser empregue, por exemplo, como elemento que intervém em
certos ritos, ou ainda como meio de reconhecimento para os membros de certas
organizações; mas este é um dos pontos a que teremos de voltar. O que mostra bem
que os dois aspectos não se excluem e são suscetíveis de serem vistos
simultaneamente, é que eles podem encontrar-se reunidos numa mesma figuração
simbólica complexa; a este propósito, convém notar, embora seja impensável
desenvolver isso completamente aqui, que uma dualidade, que pode ser oposição ou
complementaridade segundo o ponto de vista em que nos coloquemos, pode, quanto
à situação dos seus termos um em relação a outro, dispor-se num sentido vertical ou
num sentido horizontal; isto resulta imediatamente do esquema crucial do
quaternário, que é possível decompor em duas dualidades, uma vertical e outra
horizontal.
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simbolicamente (e isto leva-nos ao valor propriamente qualitativo das direções do
espaço), estes dois pares de termos são susceptíveis de aplicações múltiplas, de que
não será difícil descobrir traços até na linguagem corrente, o que indica bem que se
trata de coisas de alcance muito geral.
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«maléfico», que é desde há muito tempo já, o caso da generalidade dos Ocidentais192;
e o que dizemos da serpente poderia aplicar-se igualmente a muitos outros animais
simbólicos, os quais comumente e quaisquer que sejam as razões, aliás, se encaram só
num dos dois aspectos opostos que eles possuem na realidade. Para os símbolos
susceptíveis de ter duas posições inversas, e especialmente para aqueles que se
reduzem a formas geométricas, pode parecer que a diferença seja muito mais nítida; e,
no entanto, nem sempre é assim na realidade, porque as duas posições do mesmo
símbolo são suscetíveis de ter ambas um significado legítimo, além de que a sua
relação não é forçosamente a do «benéfico» e do «maléfico», relação que não é mais,
voltamos a dizer do que uma simples aplicação particular entre todas as outras. O que
importa saber em tais casos, é se há realmente uma vontade de «inversão», se assim
se pode chamar, em contradição formal com o valor legítimo e normal do símbolo; é
por isso, por exemplo, que o emprego do triângulo invertido está bem longe de ser
sempre um sinal de «magia negra» como alguns creem, embora seja assim em alguns
casos, efetivamente, em que essa representação se liga à intenção de mostrar o
sentido diametralmente oposto do triângulo cujo vértice está virado para cima; e,
notemo-lo de passagem, uma tal «inversão» intencional exerce-se também em
palavras ou fórmulas, de modo a formar espécies de mantras invertidos, como se
pode constatar em certas práticas de bruxaria, mesmo na simples «bruxaria de
aldeia», tal como existe ainda no Ocidente.
192
É por esta razão que o próprio dragão extremo-oriental, que na realidade é um símbolo do Verbo
tem sido muitas vezes interpretado como um símbolo «diabólico» pela ignorância ocidental.
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que é utilizada; acontece por vezes, infelizmente, que aqueles que creem combater o
diabo, seja qual for a ideia que façam dele, se encontram muito simplesmente, sem se
darem minimamente conta disso, transformados nos seus melhores servidores!
A Pseudo-Iniciação
Quando qualificamos de «satânica» a ação anti-tradicional da qual estudamos
aqui os diversos aspectos, deve ser bem entendido que isso é inteiramente
independente da ideia mais particular que cada um poderá fazer a respeito daquilo a
que se dá o nome de «Satã», seja sob o ponto de vista teológico ou outro, porque,
como é óbvio, as «personificações» não interessam para o nosso ponto de vista e não
têm que intervir nestas considerações. O que deve ser considerado aqui é, por um
lado, o espírito de negação e de subversão no qual «Satã» se resolve
metafisicamente, quaisquer que sejam as formas especiais que possa revestir para se
manifestar neste ou naquele domínio, e por outro lado, aquilo que o representa
propriamente e o «encarna», por assim dizer, no mundo terrestre em que a sua ação
se realiza, e que não é mais do que aquilo a que chamamos «contra-iniciação». Note-
se que falamos em «contra-iniciação» e não em «pseudo-iniciação», que é algo muito
diferente; com efeito, não se deve confundir o falsificador com a falsificação, de que a
«pseudo-iniciação», tal como existe hoje em numerosas organizações, a maior parte
das quais ligadas ao «neo-espiritualismo», não passa de um dos múltiplos exemplos,
no mesmo nível daqueles que já constatamos em ordens diferentes, embora ela
apresente talvez, enquanto falsificação da iniciação, uma importância mais especial
que a falsificação de outra coisa qualquer. A «pseudo-iniciação» é, na realidade, um
dos produtos do estado de desordem e de confusão na época moderna provocado
pela ação «satânica» que tem o seu ponto de partida consciente na «contra-
iniciação»; aquela, também pode ser, de maneira inconsciente, um instrumento desta,
mas, no fundo, isso dá-se igualmente, num ou noutro grau, com todas as falsificações,
no sentido em que representam outros tantos meios coadjuvantes da realização do
mesmo plano de subversão, em que cada uma tem um papel específico, mais ou
menos importante, que lhe foi atribuído nesse conjunto, o que, de resto, constitui mais
uma falsificação da própria ordem e harmonia contra as quais este plano é dirigido.
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iniciação”. Quanto à «pseudo-iniciação», não passa de uma paródia pura e simples, o
que equivale a dizer que não é nada em si mesma, que está vazia de qualquer
realidade profunda, ou, se quisermos, que o seu valor intrínseco não é positivo, como
o da iniciação, nem negativo como o da «contra-iniciação», mas simplesmente nulo;
se no entanto não se reduz a um jogo mais ou menos inofensivo como seríamos talvez
tentados a acreditar atendendo a estas condições, a razão está naquilo que
explicamos, de modo geral, sobre o verdadeiro caráter das falsificações e do papel a
que estão destinadas; é preciso acrescentar ainda, neste caso especial, que os ritos,
em virtude da sua natureza «sagrada», no sentido mais restrito da palavra, são
qualquer coisa que não é possível nunca simular impunemente. Pode dizer-se ainda
que as falsificações «pseudo-tradicionais», às quais se ligam todas as desnaturações da
ideia de tradição, de que falamos atrás, atingem aqui o seu máximo de gravidade,
primeiro porque se traduzem por uma ação efetiva, em vez de se ficarem no estado de
conceitos mais ou menos vagos, e depois porque atacam o lado «interior» da tradição,
aquilo que constitui o seu próprio espírito, isto é, o domínio esotérico e iniciático.
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que se encontra em todo o lado, e da maneira mais evidente, no mundo atual, em que
a máquina invade tudo cada vez mais, em que o próprio ser humano está reduzido,
em toda a sua atividade, a parecer-se o mais possível com um autômato, porque se lhe
retirou toda a espiritualidade? Mas é aí que se toma mais notória a inferioridade das
produções artificiais, mesmo que uma habilidade «satânica» tenha presidido à sua
elaboração; podem-se fabricar máquinas, mas não se podem fabricar seres vivos,
porque, mais uma vez, o espírito continua e continuará a faltar sempre.
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pelo contrário, de concepções profanas e modernas, logo anti-tradicionais; já notamos,
a propósito do «neo-espiritualismo» que a ideia de «evolução», nomeadamente, tem
sempre a este respeito um papel preponderante. E fácil compreender que, por isso
mesmo, as coisas se agravam ainda mais; não se trata simplesmente, nestas condições,
da constituição de uma espécie de «mosaico» de restos tradicionais, o que não seria,
em suma, mais do que um jogo totalmente vão, mas quase inofensivo; trata-se da
desnaturação e, podíamos dizer, do «desvio» dos elementos apropriados noutros
lados, porque se lhes vai atribuir um sentido alterado, para estar de acordo com a
«ideia mestra», até ir diretamente contra o sentido tradicional. É bem claro que
aqueles que assim agem podem não ter disso uma consciência nítida, porque a sua
mentalidade moderna pode causar a este respeito uma verdadeira cegueira; em tudo
isto é preciso ter em conta quer a incompreensão pura e simples devido a essa
mentalidade moderna, quer também, e devíamos dizer sobretudo, às «sugestões» de
que estes «pseudo-iniciados» são as primeiras vítimas, antes de contribuírem por seu
lado para inculcá-las noutros; mas esta inconsciência não transforma em nada o
resultado e não atenua de modo nenhum o perigo desta espécie de coisas, que
apesar disso, estão aptas a servir, mesmo que seja em «segunda mão», os fins que se
propõe alcançar a «contra-iniciação». Pomos de lado aqui os casos em que os agentes
desta tenham provocado ou inspirado, por uma intervenção mais ou menos direta, a
formação de «pseudo-tradições» semelhantes; podíamos dar alguns exemplos, mas
isso não quer dizer que, mesmo assim, estes agentes conscientes tenham sido os
criadores aparentes e conhecidos das formas «pseudo-iniciáticas» de que falamos,
porque é evidente que a prudência recomenda-lhes que se dissimulem sempre o mais
possível atrás de simples instrumentos inconscientes.
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moderna, a quantidade é muito mais importante para eles, o que bastaria, aliás, para
demonstrar suficientemente como estão longe da mais elementar noção daquilo que é
realmente esoterismo e iniciação.
É desnecessário dizer que o que descrevemos aqui não corresponde só a
possibilidades mais ou menos hipotéticas, mas a fatos reais e devidamente
constatados; não acabaríamos se tivéssemos de os enumerar todos, e isso seria pouco
útil, no fundo; basta citar alguns exemplos característicos. Assim, é pelo processo
«sincrético» de que acabamos de falar, que vemos constituir-se uma pretensa
«tradição oriental», a dos teósofos, que só tem de oriental uma terminologia mal
compreendida e mal aplicada; e como este mundo está sempre «dividido contra si
mesmo», segundo a palavra evangélica, os ocultistas franceses, por espírito de
oposição e de concorrência, edificaram por sua vez uma «tradição ocidental» do
mesmo estilo, da qual muitos elementos, nomeadamente aqueles que foram tirados
da Cabala, dificilmente podem ser chamados ocidentais quanto à sua origem, senão
mesmo quanto à maneira especial como foram interpretados. Os primeiros
apresentaram a sua «tradição» como sendo a própria expressão da «sabedoria
antiga»; os segundos, talvez um pouco mais modestos nas suas pretensões,
procuraram sobretudo fazer passar o seu «sincretismo» por uma «síntese» — não
houve ninguém que tivesse usado tanto esta palavra como eles. Se os primeiros se
mostravam mais ambiciosos, foi talvez porque, havia realmente na origem do seu
«movimento» influências bastante enigmáticas de que eles próprios seriam incapazes
de determinar a verdadeira natureza; quanto aos segundos, sabiam muito bem que
não havia nada por detrás, que a sua obra era verdadeiramente só a de algumas
individualidades reduzidas aos seus próprios meios, e se, no entanto, «alguma coisa»
diferente foi introduzida, isso aconteceu certamente muito mais tardiamente; não
seria difícil aplicar a estes dois casos, considerados sob este aspecto, aquilo que
dissemos há pouco, e deixamos a cada um o cuidado de tirar as conclusões que lhe
parecerem lógicas.
É claro que nunca houve nada a que se pudesse chamar autenticamente
«tradição oriental» ou «tradição ocidental»; tais designações são demasiado vagas
para se poderem aplicar a uma forma tradicional definida, já que, a menos que se
recue até à tradição primordial que está fora de causa aqui, por razões muito fáceis de
compreender, e que não é nem oriental, nem ocidental, há e sempre houve formas
tradicionais diversas e múltiplas, tanto no Oriente como no Ocidente.
Outros julgaram que faziam melhor e que inspirariam facilmente mais confiança
apropriando-se do nome de alguma tradição que tivesse realmente existido em
época mais ou menos longínqua, fazendo-a etiqueta de uma construção tão
heteróclita como as precedentes, porque, mesmo usando naturalmente aquilo que
podem chegar a saber dessa tradição a que lançaram mão, são muitas vezes forçados
a completar esses poucos dados sempre muito fragmentários, e muitas vezes
hipotéticos, recorrendo a outros elementos retirados noutros sítios ou até
inteiramente imaginários.
De qualquer modo, o menor exame de todas estas produções é suficiente para
fazer ressaltar o espírito especificamente moderno que presidiu, e que se traduz
invariavelmente pela presença de algumas dessas mesmas «ideias mestras», a que
fazíamos alusão mais atrás; não vale a pena, pois, levar as investigações mais longe e
darmo-nos ao trabalho de determinar exatamente em pormenor a proveniência real
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deste ou daquele elemento de tal conjunto, já que essa constatação mostra bastante
bem, sem deixar lugar para dúvidas, que nos encontramos em presença de uma
falsificação pura e simples.
Um dos melhores exemplos deste último caso são as numerosas organizações
que, na época atual, se intitulam «rosa-cruzes» e que, como é evidente, não deixam
de estar em contradição umas com as outras, combatendo-se mesmo mais ou menos
abertamente, todas pretendendo igualmente ser representantes de uma e mesma
«tradição». De fato, podemos dar razão a todas sem exceção, quando cada uma delas
denuncia a outra como ilegítima e fraudulenta; nunca houve tantos que se
reclamassem «rosa-cruz», como desde que não há nenhum autêntico! Aliás, não há
grande perigo em fazer-se passar pela continuação de qualquer coisa que pertence
inteiramente ao passado, sobretudo quando os desmentidos não são de recear, visto
que esta associação esteve sempre envolta de uma certa obscuridade, de tal modo
que nem a sua origem, nem o seu final se conhecem bem; e quem, entre o público
profano e até entre os «pseudo-iniciados» pode saber o que foi ao certo a tradição
que, durante um certo período, se qualificou de rosacruciana? Devemos acrescentar
que estas anotações dizem respeito à usurpação do nome de uma organização
iniciática e não se aplicam a um caso como o da pretensa «Grande Loja Branca» de
que, curiosamente, se fala cada vez mais, e não só da parte dos teósofos; com efeito,
esta denominação nunca teve o menor caráter autenticamente tradicional e, se este
nome convencional pode servir de «máscara» a qualquer coisa que tenha alguma
realidade, não é certamente do lado iniciático que devemos procurá-la.
Muitas vezes se criticou a maneira como certos «iniciados» costumam relegar os
«Mestres» de que se dizem seguidores, para uma qualquer região inacessível da Ásia
central; com efeito, é um meio fácil de tomar as suas asserções impossíveis de
verificar, mas não é o único, porque o afastamento no tempo pode também ter um
papel comparável ao afastamento no espaço. Por isso, outros não hesitam em ligar-se
a qualquer tradição inteiramente desaparecida e apagada há séculos, milhares de
anos, mesmo; é certo que, a menos que não ousem afirmar que essa tradição se
perpetuou durante todo o tempo de modo secreto e de tal maneira escondida que
ninguém conseguiu descobrir-lhe o menor traço, isso os prive da vantagem apreciável
de reivindicar uma filiação direta e contínua, e não teria a aparência de
verossimilhança que pode ter se se tratar de uma forma recente como é a da tradição
rosacruciana; mas este defeito parece ter pouca importância aos seus olhos, porque
são tão ignorantes das verdadeiras condições da iniciação que imaginam de bom
grado que uma simples ligação «ideal», sem nenhuma transmissão regular, pode
fazer a vez de uma ligação efetiva. Além disso, uma tradição prestar-se-á melhor a
todas as «reconstituições» fantasistas se estiver completamente perdida e esquecida e
se se desconhecer o significado real dos vestígios que subsistem, porque assim pode-
se fazer-lhe dizer tudo o que se quiser, cada um acrescentará naturalmente só o que
estiver conforme com as suas próprias ideias; não há certamente outra razão para
explicar por que é que a civilização egípcia é particularmente «explorada» neste
sentido e por que é que tantos «pseudo-iniciados» de escolas tão diferentes têm por
ela uma predileção que de outro modo não se poderia compreender. Temos de
precisar, para evitar qualquer falsa aplicação do que acabamos de dizer, que estas
observações não dizem respeito de modo nenhum às referências ao Egito ou a outras
coisas do mesmo gênero que podemos encontrar por vezes também em certas
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organizações iniciáticas, mas que têm aí unicamente um caráter de «lendas»
simbólicas, sem qualquer pretensão a fazer-se valer de semelhantes origens; só nos
referimos àquilo que aparece como restauração, válida como tal, de uma tradição ou
de uma iniciação que já não existe, restauração que, aliás, mesmo na hipótese
impossível de Ser exata e completa em todos os pontos, não teria ainda assim outro
interesse a não ser o de uma simples curiosidade arqueológica.
Paramos por aqui estas considerações já longas e amplamente suficientes para
fazer compreender o que são, de modo geral, todas as falsificações «pseudo-
iniciáticas» da ideia tradicional, tão características na nossa época: uma mistura mais
ou menos coerente (mais menos que mais), de elementos em parte retirados em
parte inventados, tudo dominado pelas concepções anti-tradicionais que são próprias
ao espírito moderno, e que só podem, por conseguinte, servir para espalhar ainda mais
essas concepções fazendo-as passar junto de alguns como tradicionais, sem falar do
engano manifesto que consiste em dar como «iniciação» aquilo que, na realidade,
tem um caráter estritamente profano, para não dizer «profanador». Se se retorquir
dizendo, como tentativa de circunstância atenuante, que há sempre, apesar de tudo,
alguns elementos de proveniência realmente tradicional, responderemos: qualquer
imitação, para se fazer aceitar, deve naturalmente tomar, pelo menos, alguns dos
traços daquilo que ela simula, mas é isso que aumenta o perigo; a mentira mais hábil,
e também a mais funesta, não será aquela que mistura inextricavelmente o
verdadeiro com o falso, esforçando-se em pôr aquele ao serviço do triunfo deste?
Da Anti-Tradição à Contra-Tradição
Coisas como as que referimos em último lugar têm, como tudo o que pertence
essencialmente ao mundo moderno, um caráter profundamente anti-tradicional; mas,
num certo sentido, vão ainda mais longe que a «anti-tradição», entendida como a
negação pura e simples, e tendem à constituição daquilo a que poderíamos chamar
mais propriamente uma «contra-tradição». Há entre elas uma distinção semelhante à
que fizemos atrás entre desvio e subversão, e que corresponde ainda às duas mesmas
fases da ação anti-tradicional considerada no seu conjunto: a «anti-tradição» teve a
sua expressão mais completa no materialismo que podemos chamar «integral», tal
como ele reinava no final do século passado; quanto à «contra- tradição», só agora
estamos a ver os sinais precursores193, constituídos precisamente por todas as coisas
que visam à falsificação de uma maneira ou de outra da própria ideia tradicional.
Podemos acrescentar imediatamente que a tendência para a «solidificação», expressa
pela «anti-tradição», não tendo ainda podido atingir o seu limite extremo, que seria
verdadeiramente fora e abaixo de qualquer existência possível, é de prever que a
tendência para a dissolução, encontrando por sua vez a expressão na «contra-
tradição», também não possa atingir esse limite; as próprias condições da
manifestação, enquanto o ciclo não está completamente acabado, exigem
evidentemente que assim seja; e, quanto ao fim desse mesmo ciclo, ela supõe a
«recuperação» que permitirá que essas tendências «maléficas» sejam
«transmutadas» para um resultado definitivamente «benéfico», tal como explicamos
atrás. Aliás, todas as profecias (é claro que tomamos aqui esta palavra no seu sentido
193
Guenon escreve em 1945.
460
verdadeiro) indicam que o triunfo aparente da «contra-tradição» só será passageiro,
e que é no momento exato em que ele parece mais completo que será destruído pela
ação de influências espirituais que intervém então para preparar imediatamente a
«recuperação» final194; bastará, com eleito, uma simples intervenção direta para pôr
fim, no momento exato, à mais terrível e à mais verdadeiramente «satânica» de todas
as possibilidades incluídas na manifestação cíclica; mas sem antecipações,
examinemos mais de perto o que representa na realidade essa «contra-tradição».
Para isso, temos de voltar ainda ao papel da «contra-iniciação»; com efeito, é
esta evidentemente que, depois de ter trabalhado constantemente na sombra para
inspirar e dirigir invisivelmente Iodos os «movimentos» modernos, chegará finalmente
a «exteriorizar», se nos podemos exprimir assim, qualquer coisa como a contrapartida
de uma verdadeira tradição, pelo menos tão completa e tão exatamente quanto o
permitem os limites que se impõem necessariamente a toda a falsificação. Como a
iniciação, tal como dissemos, é aquilo que representa efetivamente o espírito de uma
tradição, a «contra-iniciação» terá um papel parecido em relação à «contra-tradição»;
mas, claro, seria totalmente impróprio e errôneo falar-se aqui em espírito, já que se
trata precisamente daquilo em que o espírito está o mais possível ausente, daquilo que
seria mesmo o seu oposto se o espírito não estivesse essencialmente para além de
toda a oposição, mas que, em todo o caso, tem a pretensão de se lhe opor, imitando-o
como a sombra invertida de que já falamos por diversas vezes; é por isso que, por mais
longe que vá essa imitação, a «contra-tradição» nunca poderá ser mais do que uma
paródia, e será a maior e a mais extrema de todas as paródias, de que só vimos até
agora, através de toda a falsificação do mundo moderno, «experiências» parciais e
«prefigurações» muito pálidas, em comparação com aquilo que se prepara num futuro
que alguns veem próximo e que a rapidez cada vez maior dos acontecimentos tende a
dar razão. E evidente, aliás, que não temos nenhuma intenção de procurar fixar datas
mais ou menos precisas, à maneira dos amantes de pretensas «profecias»; mesmo que
isso fosse possível devido a um conhecimento da duração exata dos períodos cíclicos
(embora a principal dificuldade esteja sempre, em tais casos, na determinação do
ponto de partida real que é preciso tomar para efetuar o cálculo), conviria guardar a
maior reserva a esse respeito, por razões precisamente contrárias às que motivam os
propagadores conscientes ou inconscientes de predições desnaturadas, isto é, para
não nos arriscarmos a contribuir para aumentar ainda mais o grau de inquietação e de
desordem que reinam presentemente no nosso mundo.
Seja como for, o que permite que as coisas possam chegar a tal ponto, é que a
«contra-iniciação», é preciso dizê-lo, não pode ser assimilada a uma invenção
meramente humana, que não se distinguiria em nada, pela sua natureza, da «pseudo-
iniciação» pura e simples; em verdade, é mais do que isso, e para o ser efetivamente, é
preciso necessariamente que, de certo modo, e quanto à sua própria origem, provenha
da fonte única a que se liga toda e qualquer iniciação, e também, de maneira mais
geral, a tudo o que manifesta no nosso mundo um elemento não-humano; só que ela
194
É a isto que se refere a fórmula: «Quando tudo parecer perdido é que tudo será salvo», repetida de
certo modo maquinalmente por um grande número de «videntes», e que é, naturalmente, aplicada
àquilo que ele julga poder compreender, geralmente a acontecimentos de importância menor, muitas
vezes até secundária e simplesmente «local», em virtude da tendência «restritora» que já assinalamos a
propósito das histórias relativas ao «Grande Monarca», que leva a ver neste exclusivamente um futuro
rei de França; é evidente que as verdadeiras profecias se referem a coisas de uma grandeza
completamente diferente.
461
provém dessa fonte por degenerescência - já que chega ao grau mais extremo, isto é,
até à «inversão» que constitui o «satanismo» propriamente dito. Tal degenerescência
é evidentemente muito mais profunda que a de uma tradição simplesmente desviada
numa certa medida, ou mesmo truncada e reduzida à sua parte inferior; há aí mesmo
qualquer coisa a mais do que no caso dessas tradições verdadeiramente mortas e
inteiramente abandonadas pelo espírito, cuja própria «contra-iniciação» pode utilizar
os «resíduos» para os seus fins tal como explicamos. Isto leva-nos logicamente a
pensar que essa degenerescência deve remontar muito mais longe no passado; e, por
mais obscura que seja a questão das origens, podemos admitir como verossímil que
ela está ligada à perversão de alguma das antigas civilizações que pertenceram a este
ou àquele continente desaparecido nos cataclismos que se produziram durante o
presente Manvantara195. Em todo o caso, quase nem é preciso repeti-lo, desde que o
espírito se retira já não se pode falar em iniciação seja de que modo for; de fato, os
representantes da «contra-iniciação», ao mesmo tempo em que são total e
irremediavelmente uns simples profanos, ignoram o essencial, isto é, qualquer
verdade de ordem espiritual e metafísica, a qual, até nos princípios mais
elementares, se lhes tornou alheia desde que «o céu se fechou» para eles196. Não
podendo conduzir os seres aos estados «supra- humanos», nem limitar-se, aliás, ao
simples domínio humano, a «contra- iniciação» leva-os inevitavelmente ao «infra-
humano», e é justamente aí que ainda lhe sobra algum poder efetivo; é fácil
compreender que é algo diferente da comédia da «pseudo-iniciação». No esoterismo
islâmico, diz-se que aquele que se apresenta a determinada «porta» sem ter sido pela
via normal ou legítima, vê essa porta fechar-se-lhe na cara e é obrigado a voltar pelo
mesmo caminho, não como simples profano, o que é já impossível, mas como sâher
(feiticeiro ou mágico que opera no domínio das possibilidades sutis de ordem
inferior197); não poderíamos encontrar uma expressão mais exata: é esta a via
«infernal» que pretende opor-se à via «celeste» e que apresenta na verdade
aparências exteriores de uma tal oposição embora, na realidade, só possa ser ilusória;
como dissemos mais atrás a propósito da falsa espiritualidade onde vão perder-se
alguns seres comprometidos numa espécie de «realização ao invés», ESSA VIA SÓ
PODE LEVAR A «DESINTEGRAÇÃO» TOTAL DO SER CONSCIENTE E À SUA DISSOLUÇÃO
SEM REGRESSO198.
Naturalmente, para que a imitação por reflexo invertido seja o mais completa
possível, podem constituir-se centros aos quais se ligarão organizações que dependem
da «contra iniciação», centros exclusivamente «psíquicos», claro, como as influências
195
O capítulo VI do Gênesis poderia, embora sob uma forma simbólica, fornecer algumas indicações que
se ligam a estas origens longínquas da «contra-iniciação».
196
Pode-se aplicar aqui analogicamente o simbolismo da «queda dos anjos», já que o que tratamos
corresponde efetivamente a isso na ordem humana; é, aliás, por isso que se pode falar, a este respeito,
em «satanismo», no sentido mais próprio e mais literal do termo.
197
O último grau da hierarquia «contra-iniciática» é ocupado por aquilo a que se chama os «santos de
Satã» (awliyâ esh-Shaytân), que são, de certo modo, o inverso dos verdadeiros santos (awliyâ er-
Rahman), e que manifestam assim a “pressão” mais completa da «espiritualidade ao invés» (Cf. Le
symbolisme de la Croix, p. 186).
198
É evidente que este final extremo constitui um caso excepcional, que é precisamente o dos awliyâ
esh-Shaytân; para os que foram menos longe neste sentido, trata-se só de uma via sem saída, onde
podem ficar fechados numa eternidade «eoniana» ou cíclica.
462
que utilizam e que transmitem, e não espirituais como no caso da iniciação e da
tradição verdadeira, mas dos quais podem, em razão do que acabamos de dizer,
tomar até certo ponto as aparências exteriores, o que dá a ilusão da «espiritualidade
ao invés». Não devemos espantar-nos, aliás, se os próprios centros, e não só certas das
organizações que lhes estão mais ou menos diretamente subordinadas, se possam
encontrar em luta uns com os outros, porque o domínio em que se situam, sendo o
que está mais próximo da dissolução «caótica», é, por isso mesmo, aquele em que
todas as oposições se digladiam, quando não estão harmonizadas e conciliadas pela
ação direta de um princípio superior, que aqui falta necessariamente. Daí resulta,
muitas vezes, no que diz respeito às manifestações destes centros ou do que emana
deles, uma impressão de confusão e de incoerência que, essa, não é ilusória, e que é
mesmo uma «marca» característica deles; os centros só estão de acordo
negativamente, podíamos dizer, quando se trata da luta contra verdadeiros centros
espirituais, na medida em que estes se encontram a um nível que permite haver uma
tal luta, isto é, só no que diz respeito a um domínio que não ultrapassa os limites do
nosso estado individual199. Mas é aqui que aparece aquilo a que poderíamos chamar
verdadeiramente a “palermice do diabo”: ao agir deste modo, os representantes da
«contra- iniciação» tem a ilusão de se opor ao próprio espírito, ao qual ninguém se
pode opor realmente; mas, ao mesmo tempo, sem querer e sem darem por isso,
estão-lhe, no entanto, subordinados de fato e não podem nunca deixar de estar, tal
como tudo o que existe, mesmo inconsciente e involuntariamente, está submetido à
vontade divina, à qual ninguém pode eximir-se. Portanto, também eles são utilizados,
embora contra sua vontade, e apesar de pensarem o contrário, para a realização do
«plano divino no domínio humano»; também eles representam nela, como todos os
outros, o papel que é próprio a sua natureza, mas, em vez de estarem efetivamente
conscientes desse papel como estão os verdadeiros iniciados, só estão conscientes do
seu lado negativo e invertido; assim, são duas vezes logrados, e de uma maneira bem
pior para eles do que a pura e simples ignorância dos profanos, já que, em vez de
ficarem sempre no mesmo ponto, o resultado é que são atirados cada vez para mais
longe do centro principial, até caírem finalmente nas «trevas exteriores». Mas se
encararmos as coisas, já não em relação a estes seres em si, mas em relação ao
conjunto do mundo, devemos dizer que, tal como os outros, eles são necessários no
lugar que ocupam, enquanto elementos desse conjunto e como instrumentos
«providenciais», diríamos em linguagem teológica, da marcha deste mundo no seu
ciclo de manifestação, porque é desta maneira que todas as desordens parciais,
mesmo quando aparecem como a desordem por excelência, não deixam de
concorrer apesar de tudo para a ordem total. Estas considerações devem ajudar a
compreender como é possível a constituição de uma «contra-tradição», mas também
por que é que ela não poderá nunca deixar de ser eminentemente instável e quase
efêmera, o que não a impede de ser verdadeiramente em si mesma, como dizíamos
atrás, a mais terrível de todas as possibilidades. Deve compreender-se igualmente
que é essa a finalidade que a «contra-iniciação» se propõe realizar realmente e que
199
Este domínio é aquele que, do ponto de vista iniciático, se designa como os «pequenos Mistérios»;
pelo contrário, tudo o que diz respeito aos «grandes Mistérios», como é de ordem essencialmente
«supra-humana», está por isso mesmo isento de uma tal oposição, já que esse é o domínio que, pela
sua própria natureza, é absolutamente inacessível à «contra-iniciação» e aos seus representantes em
todos os graus.
463
sempre se propôs no seguimento da sua ação, da qual a «anti-tradição» negativa só
representava afinal a preparação; resta-nos agora, depois disto, examinar um pouco
mais de perto aquilo que é possível prever desde já, segundo vários índices
concordantes, quanto às modalidades em que se poderá realizar essa «contra-
tradição».
Através de tudo o que fomos dizendo até agora, é fácil darmo-nos conta que a
constituição da «contra-tradição» e o seu triunfo aparente e momentâneo serão
propriamente o reino daquilo a que chamamos «a espiritualidade ao invés», que,
naturalmente, não é mais do que uma paródia da própria espiritualidade, que ela
imita em sentido invertido, de tal modo que parece ser o próprio contrário dela;
dizemos que parece e não que é realmente, porque, quaisquer que sejam as suas
pretensões, não há nem simetria nem equivalência possível. Importa insistir sobre este
ponto, porque muita gente que se deixa levar pelas aparências, imagina que há no
mundo como que dois princípios opostos que disputam a supremacia entre si,
concepção errônea que é, no fundo, igual à que, em linguagem teológica, põe Satã no
mesmo nível que Deus, e que, com razão ou sem ela, se atribui normalmente aos
Maniqueístas; é certo que há atualmente muitas pessoas que são «maniqueístas»
neste sentido sem saberem, o que é mais um efeito de «sugestão» das mais
perniciosas. Com efeito, esta concepção leva à afirmação de uma dualidade principial
radicalmente irredutível, ou, noutros termos, à negação da Unidade suprema que está
acima de todas as oposições e de todos os antagonismos; que tal negação seja
característica dos aderentes da «contra-iniciação», não é de espantar, e até pode ser
sincera da sua parte, já que o domínio metafísico lhes está completamente fechado;
que seja necessário para eles espalhar e impor esta concepção é ainda mais
evidente, porque é só por esse meio que podem conseguir fazer-se tomar por aquilo
que não são e não podem ser na realidade, isto é, por representantes de qualquer
coisa que pudesse pôr-se em paralelo com espiritualidade e até ser-lhe superior.
A bem dizer, esta «espiritualidade ao contrário» não é mais, afinal, do que uma
falsa espiritualidade, falsa até no grau mais extremo que se possa conceber; mas
também se pode falar em falsa espiritualidade em todos os casos em que, por
exemplo, o psíquico é tomado pelo espiritual, sem chegar forçosamente à subversão
total; por isso que para designar esta, a expressão «espiritualidade invertida» é em
definitivo aquela que mais convém, com a condição de explicar exatamente o modo
como se deve entendê-la. Com efeito, é essa «renovação espiritual» de que muitos
inconscientes anunciam com insistência a vinda, ou ainda a «nova era» na qual muitos
se esforçam por fazer entrar a humanidade atual200, e que o estado de «espera» geral
criado pela difusão das predições de que já falamos pode contribuir também para
200
É quase impossível acreditar as vezes que esta expressão «nova era» tem sido, nestes últimos
tempos, espalhada e repetida em todos os meios, com significados que podem parecer muitas vezes
bastante diferentes uns dos outros, mas que, no fundo, tendem todos a estabelecer a mesma persuasão
na mentalidade pública.
464
apressar efetivamente. A atração do «fenômeno», que já analisamos como um dos
fatores determinantes da confusão do psíquico e do espiritual, pode igualmente ter a
este respeito um papel muito importante, porque é através dele que a maior parte dos
homens será conquistada e enganada no tempo da «contra-tradição», já que está
escrito que os «falsos profetas» surgirão então e «farão tão grandes sinais e prodígios
que, se fosse possível, até enganavam os próprios eleitos»201. É sobretudo sob este
aspecto que as manifestações da «metafísica» e das diferentes formas do «neo-
espiritualismo» podem aparecer já como uma espécie de «prefiguração» daquilo que
se produzirá a seguir, embora só deem disso uma ideia fraca; no fundo, é sempre uma
ação das mesmas forças sutis inferiores, mas que serão então postas em movimento
com um poder incomparavelmente maior; e quando vemos quantas dessas pessoas
estão sempre prontas a dar inteira confiança a todas as divagações de um simples
«médium», unicamente porque estão apoiados por «fenômenos», porque nos
espantaríamos se a sedução vier então a ser geral? É por isso que nunca é de mais
insistir que os «fenômenos» em si mesmos não provam absolutamente nada quanto à
verdade de uma doutrina ou de um ensinamento qualquer, que é o domínio por
excelência da «grande ilusão», na qual tudo o que alguns tomam facilmente por sinais
de «espiritualidade» pode sempre ser simulado e falsificado pelo jogo das forças
inferiores; é talvez mesmo o único caso em que a imitação pode ser verdadeiramente
perfeita, porque, na verdade, se trata dos mesmos «fenômenos», tomando esta
palavra no seu sentido próprio de aparências exteriores, que se produzem num e
noutro caso, e a diferença reside só na natureza das causas que intervém
respectivamente, causas que a grande maioria dos homens é forçosamente incapaz de
determinar, de tal modo que o melhor que tem a fazer é não ligar a menor
importância a tudo o que é «fenômeno», e mesmo ver nisso a priori um sinal
desfavorável; mas como fazê-los compreender isso com a mentalidade
«experimental» dos nossos contemporâneos, mentalidade que, moldada primeiro pelo
espírito «cientista» da «anti-tradição», se torna deste modo um dos fatores que
podem contribuir mais eficazmente para o sucesso da «contra-tradição»?
465
fim que ela se propõe; tudo isso se destina a preparar a vinda ulterior de outra coisa
que parece constituir um resultado mais «positivo», e que é precisamente a «contra-
tradição». É por isso que se vê já esboçar, entre as diversas produções cuja origem ou
inspiração «contra-iniciática» não deixa dúvidas, a idéia de uma organização que seria
uma espécie de contrapartida, mas também a falsificação, de uma concepção
tradicional tal como a do «Santo Império», organização que deve ser a expressão da
«contra-tradição» na ordem social; e é também por isso que o Anticristo deve
aparecer como aquilo a que podemos chamar, segundo a linguagem da tradição hindu,
um Chakravartí ao contrário202.
202
Sobre o Chakravarti ou «monarca universal», ver O Esoterismo de Dante, e O Rei do Mundo, (Ed.
lrget). O Chakravarti é literalmente «aquele que faz andar a roda», o que implica que esteja colocado no
centro de todas as coisas, enquanto que o Anticristo é, pelo contrário, o ser mais afastado do centro; e
também pretenderá «fazer andar a roda», mas no sentido inverso ao movimento cíclico normal (o que
«prefigura», aliás, inconscientemente a ideia moderna do «progresso»), enquanto que, na realidade,
qualquer mudança na rotação é impossível antes da «inversão dos pólos», isto é, antes da
«recuperação» que só pode operar-se devido à intervenção do décimo Avatara; mais precisamente, se
ele é designado por Anticristo é porque parodia a seu modo o próprio papel deste Avatara final,
representado como a «segunda vinda de Cristo» na tradição cristã.
203
Pode ser considerado como o chefe dos awliyêsh-Shaytân, e como será o último a ter esta função, ao
mesmo tempo que aquele com quem há de ter no mundo a maior importância, podemos dizer que será
como que o seu «selo» (Khátem), segundo a terminologia do esoterismo islâmico; não é difícil de ver
pelo exemplo junto até onde irá efetivamente a paródia da tradição sob todos os seus aspectos.
204
A própria moeda, ou o que fizer às vezes dela, terá de novo um caráter qualitativo, já que está escrito
que «ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da Besta, ou o
número do seu nome», (Apocalipse. 23, 17), o que implica, a este respeito, um uso efetivo dos símbolos
invertidos da «contra-tradição».
466
cume será ocupado pelo ser que tocar mais perto no próprio fundo dos «abismos
infernais».
Este ser, mesmo que apareça sob a forma de uma personagem determinada,
será realmente menos um indivíduo que um símbolo, e como que a própria síntese de
todo o simbolismo invertido para uso da «contra-iniciação», que ele manifestará em si
o mais completamente possível, já que nesta função, não tem predecessor, nem
sucessor. Assim para exprimir o falso no seu grau mais extremo, deverá ser «falso» sob
todos os pontos de vista, e como que uma encarnação da própria falsidade 205. E por
isso mesmo, aliás, e em razão desta extrema oposição ao verdadeiro sob todos os
aspectos, que o Anticristo pode tomar os próprios símbolos do Messias, mas, claro,
num sentido igualmente oposto206; e a predominância dada ao aspecto «maléfico»,
ou até, mais exatamente, a substituição deste pelo aspecto «benéfico», através da
subversão do duplo sentido dos símbolos, é aquilo que constitui a sua marca
característica. Igualmente pode e deve haver uma estranha semelhança entre as
designações do Messias (El-Mesíha, em árabe) e as do Anticristo (El-Mesikh)207; mas
estas últimas não são mais que uma deformação daquelas, tal como o próprio
Anticristo é representado como disforme em todas as descrições mais ou menos
simbólicas que dele são feitas, o que é bem significativo. Com efeito, estas descrições
insistem sobretudo nas dissimetrias corporais, o que supõe essencialmente que estas
são as marcas visíveis da própria natureza do ser ao qual são atribuídas, e,
efetivamente, são sempre sinais de qualquer desequilíbrio interior; é por isso, aliás,
que tais deformidades constituem «desqualificações» sob o ponto de vista iniciático,
mas, ao mesmo tempo, não é difícil conceber que elas possam ser «qualificações» em
sentido contrário, isto é, relativamente à «contra-iniciação». Com efeito, esta, indo ao
contrário da iniciação, vai, por conseguinte no sentido de um crescimento do
desequilíbrio dos seres, cujo final extremo é a dissolução ou a «desintegração» de que
já falamos; o Anticristo deve evidentemente estar tão perto quanto possível desta
«desintegração», de tal modo que se poderia dizer que a sua individualidade, ao
mesmo tempo que se desenvolve de maneira monstruosa, está, no entanto, quase
aniquilada, realizando assim o inverso do apagamento do «eu» diante do sujeito
«indeterminado», ou, em outros termos, a confusão no «caos», em vez da fusão na
Unidade principial; e este estado, figurado pelas próprias deformidades e as
desproporções da sua forma corporal, está verdadeiramente no limite inferior das
possibilidades do nosso estado individual, de modo que o cume da «contra-
hierarquia» é bem o lugar que lhe convém propriamente neste «mundo invertido» que
será o seu. Por outro lado, mesmo do ponto de vista puramente simbólico, e enquanto
205
É mais uma vez a antítese de Cristo que diz: «Eu sou Verdade», ou de um vali como El-Hallâj dizendo
igualmente: «Anâ-el-Haqq».
206
«Talvez ainda não se tenha reparado suficientemente na analogia que existe entre a verdadeira
doutrina e a falsa; Santo Hipólito, no seu opúsculo sobre O Anticristo dá dele um exemplo memorável
que não espantará as pessoas que tenham estudado o simbolismo: o Messias e o Anticristo têm ambos
como emblema o leão» (P. Vulliaud, La Kabbale juive, t. II, p. 373). - A razão profunda, do ponto de vista
cabalístico, está na consideração das duas faces, a luminosa e a escura de Metatron; é igualmente por
isso que o número apocalíptico 666, o «número da Besta», é também um número solar (cf. Le Roi du
Monde, p. 34-35).
207
Há aqui um duplo significado intraduzível: Mesikh pode ser tomado como deformação de Mesiha,
pela simples junção de um ponto à letra final; mas, ao mesmo tempo, esta palavra também quer dizer
“disforme”, o que exprime muito propriamente o caráter do Anticristo.
467
representante da «contra-tradição», o Anticristo não é menos necessariamente
disforme: com efeito, dizíamos há pouco que não pode haver mais do que uma
caricatura da tradição, e quem diz caricatura diz, por isso mesmo, deformidade; de
resto, se assim não fosse não haveria exteriormente nenhuma possibilidade de
distinguir a «contra-tradição» da tradição verdadeira, e é necessário para que os
«eleitos», pelo menos, não sejam seduzidos, que ela traga a «marca do diabo». Além
disso, o falso é forçosamente também o «artificial», e, a este respeito, a «contra-
tradição» não poderá deixar de ter, mais uma vez, apesar de tudo, esta característica
«mecânica» que é a de todas as produções do mundo moderno de que ela será a
última; mais exatamente ainda, haverá nela qualquer coisa de comparável ao
automatismo desses «cadáveres psíquicos» que referimos precedentemente, e será
constituída como eles, só de «resíduos» animados artificial e momentaneamente, o
que explica mais uma vez que não pode ter nada de durável; este amontoado de
«resíduos» galvanizado, se assim nos podemos exprimir, por uma vontade «infernal» é
bem, seguramente, o que dá a idéia mais nítida de qualquer coisa que chegou aos
próprios confins da dissolução.
Pensamos que não é necessário insistir mais em todas estas coisas; no fundo,
seria pouco útil procurar prever em pormenor como será constituída a «contra-
tradição», e, aliás, estas indicações gerais são já quase suficientes para aqueles que
quiserem fazer por si próprios as aplicações a pontos particulares, o que não está, de
modo nenhum, nos nossos propósitos. Seja como for, chegamos ao último termo da
ação anti-tradicional que deve encaminhar o mundo ao seu fim; depois deste reino
passageiro da «contra-tradição», para chegar ao momento último do ciclo atual, não
pode haver senão uma «recuperação» que, pondo todas as coisas no seu lugar normal,
no momento em que a subversão parecia completa, prepara imediatamente a «idade
de ouro» do ciclo futuro.
468
PARTE IV - A PSEUDO-TRADIÇÃO E
A PSEUDO-INICIAÇÃO
469
Dentre os movimentos que surgiram no século XIX que, segundo Guenon, fazem
parte da pseudo-tradição/pseudo-iniciação destacamos o Ocultismo, a Teosofia e a
Ordem Hermética da Aurora Dourada. Os dois primeiros criaram a falsa divisão de
uma pretensa “Tradição Ocidental” e outra suposta “Tradição Oriental”.
“Tudo isso, com efeito, é mais ou menos «pseudo-religião»; esta expressão, que aplicamos ao
teosofismo, poderíamos aplicá-la também ao espiritismo; embora este último proclame frequentemente
pretensões científicas em razão do lado experimental no que crê encontrar, não só a base, senão a fonte
mesma de sua doutrina, no fundo não é mais que uma separação do espírito religioso, conforme a
mentalidade «cientificista» que é a de muitos de nossos contemporâneos”. René Guénon - O erro
espírita, p. 4.
470
“Não vamos voltar, porque já reproduzimos em outra parte numerosos extratos delas, sobre as
críticas, às vezes muito violentas, que dirigiram ao espiritismo os chefes do teosofismo, muitos dos
quais, não obstante, tinham passado por esta escola; de uma maneira geral, as críticas dos ocultistas
franceses estão formuladas em termos mais moderados. Não obstante, no começo houve ataques
bastante vivos de uma parte e da outra; os espíritas estavam particularmente ofendidos de ver-se
tratados de «profanos» por pessoas entre as quais se encontravam alguns de seus antigos «irmãos»;
mas em seguida se puderam observar tendências à conciliação, sobretudo do lado dos ocultistas, cujo
«ecletismo» predispunha a concessões, bem deploráveis. Seu primeiro efeito foi a reunião em Paris,
desde 1889, de um «Congresso espírita e espiritualista» onde estavam representadas todas as escolas;
naturalmente, isso não fez desaparecer as dissensões e as rivalidades; mas, pouco a pouco, os ocultistas,
em seu «sincretismo» pouco coerente, chegaram a conceber uma parte cada vez mais ampla às teorias
espíritas, bastante inutilmente já que os espíritas jamais consentiram por isso em lhes considerar como
verdadeiros «crentes». Houve não obstante exceções individuais: enquanto se produzia esta evasão, o
ocultismo se «vulgarizava» cada vez mais, e seus agrupamentos, mais amplamente abertos que na
origem, acolhiam a pessoas que, embora entrassem nelas, não deixavam de ser espíritas; estes
representavam possivelmente uma elite no espiritismo, mas uma elite muito relativa, e o nível dos meios
ocultistas foi sempre se rebaixando; possivelmente descrevamos algum dia esta «evolução» ao
contrário. Já falamos, a propósito do teosofismo, dessas pessoas que aderem simultaneamente a escolas
cujas teorias se contradizem, e que apenas se preocupam disso, porque são acima de tudo sentimentais;
acrescentaremos que, em todos esses agrupamentos, prepondera o elemento feminino, e que muitos
não se interessam jamais, no ocultismo, mais que pelo estudo das «artes adivinhatórias», o que dá a
justa medida de suas capacidades intelectuais”. René Guénon - O erro espírita, p.71.
Antes de ir mais longe, daremos a explicação de um fato que assinalamos do começo: há, entre os
espíritas, numerosos indivíduos e pequenos grupos isolados, enquanto que os ocultistas se vinculam
quase sempre a alguma organização, mais ou menos sólida, mais ou menos bem constituída, mas que
permite aos que formam parte dela chamar-se «iniciados» em algo, ou lhes dar a ilusão de está-lo. Os
espíritas não têm nenhuma iniciação e nem sequer querem ouvir falar de nada que lhe pareça de perto
ou de longe, já que um dos caracteres essenciais de seu movimento é estar aberto a todos sem distinção
e não admitir nenhuma espécie de hierarquia; assim, alguns de seus adversários erraram
completamente o caminho ao acreditar poder falar de uma «iniciação espírita», que é inteiramente
inexistente; pelo resto, é necessário dizer que, por diversos lados, abusou-se muito desta palavra
«iniciação». Os ocultistas, ao contrário, pretendem recomendar-se de uma tradição, sem razão é certo,
mas o pretendem; por isso é que pensam que os falta uma organização apropriada pela que possam
transmiti-las ensinos de uma maneira regular; e, se um ocultista se separar de tal organização,
ordinariamente é para fundar outra e se tornar por sua vez «chefe de escola». Certamente, os ocultistas
se equivocam quando acreditam que a transmissão dos conhecimentos tradicionais deve fazer-se por
uma organização que revista a forma de uma «sociedade», no sentido claramente definido no que esta
palavra é tomada habitualmente pelos modernos; seus agrupamentos não são mais que uma
caricatura das escolas verdadeiramente iniciáticas. Para mostrar a pouca seriedade da suposta
iniciação dos ocultistas, basta mencionar, sem entrar em outras considerações, a prática, corrente entre
eles, das «iniciações por correspondência»; não é difícil tornar-se «iniciado» nessas condições, e não é
mais que uma formalidade sem valor nem alcance; mas se quer ao menos proteger algumas
aparências”. René Guénon - O erro espírita, p. 72
“...aos nossos olhos, os ocultistas igualmente não são mais que «profanos», e ninguém pode
pensar de outro modo entre os que sabem o que são as verdadeiras doutrinas tradicionais”. René
Guénon - O erro espírita, p. 73.
“Papus escreveu isto: «O que o espírita chama um espírito, um eu, o ocultista o chama um
208
elemental, um cascão astral» .” René Guénon - O erro espírita, p. 108
“Como os teosofistas, os ocultistas em geral estão cheios de desprezo para com os espíritas, e isso
se compreende até um certo ponto, já que o teosofismo e o ocultismo têm ao menos uma aparência
208
Traité méthodique de Science occulte, p. 347.
471
superficial de intelectualidade que não tem o espiritismo, e podem se dirigir a espíritos de um nível um
pouco superior.
Assim vemos Papus, fazendo alusão ao fato de que Allan Kardec era um antigo professor de
instituto, tratar ao espiritismo de «filosofia primária»; e eis aqui como aprecia os meios espíritas: «Ao
recrutar poucos crentes nos meios científicos, essa doutrina se rebaixou sobre a quantidade de membros
que lhe proporcionam as classes médias e, sobretudo o povo. Os “grupos de estudos”, mais científicos
uns que outros, estão formados de pessoas sempre muito honestas, sempre de grande fé, antigos
oficiais, pequenos comerciantes ou empregados, cuja instrução científica e, sobretudo filosófica deixa
muito a desejar. Os professores de instituto são “luzes” nesses grupos». Esta mediocridade é, com efeito,
muito chamativa; mas Papus, que critica tão vivamente a falta de seleção entre os membros do
espiritismo, esteve ele mesmo, quanto a sua própria escola, isento sempre de tudo que reprove a este
respeito? Teremos respondido suficientemente a esta pergunta quando tivermos feito observar que seu
papel foi, sobretudo o de um «vulgarizador»; esta atitude, bem diferente da de Eliphas Lévi, é
inteiramente incompatível com as pretensões ao esoterismo, e há nela uma contradição que não nos
encarregaremos de explicar. Em todo caso, o que há de certo, é que o ocultismo, assim como o
teosofismo, não têm nada em comum com um esoterismo verdadeiro, sério e profundo; e é necessário
não ter noção nenhuma destas coisas para deixar-se seduzir pela vã miragem de uma «ciência
iniciática» suposta, que não é em realidade mais que uma erudição completamente superficial e de
segunda ou terceira mão. A contradição que acabamos de assinalar não existe no espiritismo, que
rechaça absolutamente todo esoterismo, e cujo caráter eminentemente «democrático» concorda
perfeitamente com uma intensa necessidade de propaganda; é mais lógica que a atitude dos ocultistas,
mas as críticas destes não são por isso menos justas em si mesmas, e nos ocorrerá citá-las em seu
momento”. René Guénon - O erro espírita, p.
“Convém mencionar ainda o que concerne às consequências atribuídas às ações através da série
das existências sucessivas, o que os teosofistas chamam o «Carma»; ocultistas e espíritas rivalizam em
detalhes inverossímeis sobre estas coisas, e voltaremos sobre isso mais adiante quando retomarmos a
reencarnação; aí também, os espíritas podem reivindicar a prioridade. Prosseguindo este exame,
encontrar-se-iam ainda muitos outros pontos nos que a similitude não pode explicar-se se não ser por
apropriações feitas do espiritismo, ao qual o ocultismo deve assim muito mais do que confessa; é
verdade que tudo o que lhe deve não vale grande coisa; mas o que é mais importante, é ver como e em
que medida os ocultistas admitem a hipótese fundamental do espiritismo, quer dizer, a comunicação
com os mortos”. René Guénon - O erro espírita, p. 75
472
cujos fundadores e chefes, tendo sido primeiro espíritas em sua maioria, guardaram sempre algo de suas
primeiras ideias”. René Guénon - O erro espírita, p. 145
Reencarnação
“Dito isto, podemos voltar para a questão das relações do ocultismo e do espiritismo; e devemos
precisar que, no que segue, tratar-se-á exclusivamente do ocultismo papusiano, muito diferente, já o
dissemos, de Eliphas Lévi. Este último, com efeito, era formalmente anti-espírita, e, além disso, jamais
acreditou na reencarnação; fingiu-se às vezes considerar-se ele mesmo como Rabelais reencarnado, isso
não foi por sua parte mais que uma simples brincadeira: sobre este ponto tivemos o testemunho de
alguém que lhe conheceu pessoalmente, e que, sendo reencarnacionista, não pode ser suspeito de
parcialidade nesta circunstância. Agora, a teoria da reencarnação é uma das apropriações que o
ocultismo, tanto como o teosofismo, fizeram do espiritismo, já que há as tais apropriações, e estas
escolas sofreram a influência do espiritismo que lhes é anterior, apesar de todo o desprezo que
testemunham a seu respeito”. René Guénon - O erro espírita, p.73
“Quanto à reencarnação, a coisa está muito clara: já dissemos em outra parte como Mme
Blavatsky tomou esta ideia aos espíritas franceses e a transplantou aos meios anglo-saxões; por outra
parte, Papus e alguns dos primeiros aderentes de sua escola tinham começado sendo teosofistas, e
quase todos os outros vieram diretamente do espiritismo; não há, pois necessidade de procurar mais
longe”. René Guénon - O erro espírita, p. 73
“De fato, sabe-se que os espíritas americanos e ingleses, quer dizer, os representantes da forma
mais antiga do espiritismo, foram unânimes no começo em opor-se à teoria reencarnacionista, que
Dunglas Home, em particular, criticou violentamente; para que alguns dentre eles se decidissem mais
tarde a aceitá-la, foi necessário que, no intervalo, esta teoria tenha penetrado nos meios anglo-saxões
por vias estranhas ao espiritismo. Na França mesmo, alguns dos primeiros espíritas, como Piérart e
Anatole Barthe, separaram-se de Allan Kardec sobre este ponto; mas, hoje em dia, pode-se dizer que o
espiritismo francês todo inteiro tem feito da reencarnação um verdadeiro «dogma»; Allan Kardec
mesmo, aliás, não tinha vacilado em chamá-la com este nome. É ao espiritismo francês, recordamo-lo
ainda, ao que a teoria em questão foi tomada pelo Teosofismo em primeiro lugar, depois pelo
ocultismo papusiano e diversas outras escolas, que têm feito dela igualmente um de seus artigos de fé;
por muito que estas escolas reprovem aos espíritas conceber a reencarnação de uma maneira pouco
«filosófica», as modificações e as complicações diversas que elas lhe contribuíram não poderiam
mascarar esta apropriação inicial”. René Guénon - O Erro Espírita, p. 215
“O termo «reencarnação» deve ser distinto de outros dois termos ao menos, que têm uma
significação totalmente diferente, e que são os de «metempsicosis» e de «transmigração»; se trata de
coisas que eram muito bem conhecidas pelos antigos, como o são ainda pelos orientais, mas que os
ocidentais modernos, inventores da reencarnação, ignoram absolutamente. Entenda-se bem que,
quando se fala de reencarnação, isso quer dizer que o ser que esteve já encarnado retoma um novo
corpo, quer dizer, que volta para estado pelo que já passou; por outra parte, admite-se que isso
concerne ao ser real e completo, e não simplesmente aos elementos mais ou menos importantes que
tenham podido entrar em sua constituição a um título qualquer. Fora destas duas condições, não pode
tratar-se de reencarnação; agora bem, a primeira destas condições a distingue essencialmente da
transmigração, tal como se considera nas doutrinas orientais, e a segunda não a diferença menos
profundamente da metempsicosis, no sentido em que a entendiam concretamente os órficos e os
pitagóricos. Os espíritas, embora afirmem falsamente a antiguidade da teoria reencarnacionista,
dizem bem que não é idêntica a metempsicosis; mas, segundo eles, somente se distingue dela no que
tange às existências sucessivas que são sempre «progressivas», e em que devem considerar-se
exclusivamente os seres humanos: «Há, diz Allan Kardec, entre a metempsicosis dos antigos e a
doutrina moderna da reencarnação, esta grande diferença, ou seja, que os espíritos rechaçam de
maneira absoluta a transmigração do homem nos animais, e reciprocamente». Os antigos, na realidade,
jamais consideraram uma tal transmigração, como tampouco a do homem em outros homens, como
poderia definir-se a reencarnação; sem dúvida, há expressões mais ou menos simbólicas que podem dar
lugar a mal-entendidos, mas somente quando não se sabe o que querem dizer verdadeiramente, e que é
473
isto: há no homem elementos psíquicos que se dissociam depois da morte, e que podem acontecer
então a outros seres vivos, homens ou animais, sem que isso tenha mais importância, no fundo, que o
fato de que, depois da dissolução do corpo desse mesmo homem, os elementos que lhe compunham
possam servir para formar outros corpos. Nos dois casos, trata-se de elementos mortais do homem, e
não da parte imperecível que é seu ser real, e que não é afetado de maneira nenhuma por essas
mutações póstumas. A este propósito, Papus cometeu um equívoco de outro gênero, ao falar «das
confusões entre a reencarnação ou retorno do espírito a um corpo material, depois de uma estadia
astral, e a metempsicosis ou travessia pelo corpo material de corpos de animais e de plantas, antes de
voltar para um novo corpo material»; sem falar de algumas raridades de expressão que podem ser
lapsos (os corpos de animais e de plantas não são menos «materiais» que os corpos humanos, e não são
«atravessados» por este, mas sim por elementos que provêm dele), isso não poderia chamar-se de
maneira nenhuma «metempsicosis», já que a formação desta palavra implica que se trata de elementos
psíquicos, e não de elementos corporais. Papus tem razão ao pensar que a metempsicosis não concerne
ao ser real do homem, mas se equivoca completamente sobre sua natureza; e por outra parte, quanto à
reencarnação, quando diz que «foi ensinada como um mistério esotérico em todas as iniciações da
antigüidade» , confunde-a pura e simplesmente com a transmigração verdadeira”. René Guénon - O
Erro Espírita, p. 224/226
"...depois de haver dito no que consiste verdadeiramente a metempsicosis, vamos dizer agora o
que é a transmigração propriamente dita: desta vez, trata-se em efeito do ser real, mas não se trata
para ele de um retorno ao mesmo estado de existência, retorno que, se pudesse ter lugar, seria talvez
uma «migração» se se quiser, mas não uma «transmigração». Do que se trata é, ao contrário, da
passagem do ser a outros estados de existência, que estão definidos, como dissemos, por condições
inteiramente diferentes daquelas às quais está submetida a individualidade humana (com a única
restrição de que, enquanto se trate de estados individuais, o ser está revestido sempre de uma forma,
mas que não poderia dar lugar a nenhuma representação espacial ou outra, mais ou menos modelada
sobre a da forma corporal); quem diz transmigração diz essencialmente mudança de estado. É isto o
que entendem todas as doutrinas tradicionais do oriente, e temos múltiplas razões para pensar que este
ensino era também o dos «mistérios» da antiguidade; inclusive em doutrinas heterodoxas como o
budismo, não se trata de outra coisa, apesar da interpretação reencarnacionista que tem curso hoje em
dia entre os europeus. É precisamente a verdadeira doutrina da transmigração, entendida segundo o
sentido que lhe dá a metafísica pura, a que permite refutar de uma maneira absoluta e definitiva a
ideia de reencarnação; e, sobre este terreno, não há nenhuma outra refutação que seja possível. Somos,
pois conduzidos assim a mostrar que a reencarnação é uma impossibilidade pura e simples; por isso é
mister entender que um mesmo ser não pode ter duas existências no mundo corporal, considerando este
mundo em toda sua extensão: pouco importa que seja sobre a terra ou sobre outros astros quaisquer;
importa pouco também que seja em ser humano ou, segundo as falsas concepções da metempsicosis,
sob qualquer outra forma, animal, vegetal ou inclusive mineral.
Adicionaremos ainda: importa pouco que se trate de existências sucessivas ou simultâneas, já que
alguns têm feito esta hipótese, ao menos extravagante, de uma pluralidade de vidas que se desenvolvem
ao mesmo tempo, para um mesmo ser, em diversos lugares, verossimilmente sobre planetas diferentes;
isso nos leva ainda uma vez mais aos socialistas de 1848, já que parece que seja Blanqui quem tem
imaginado o primeiro uma repetição simultânea e indefinida, no espaço, de indivíduos supostos
idênticos. Alguns ocultistas pretendem também que o indivíduo humano pode ter vários «corpos
psíquicos», como eles dizem, vivendo ao mesmo tempo em diferentes planetas; e chegam até afirmar
que, se ocorrer a alguém sonhar que foi morto, é, em muitos casos, que, nesse mesmo instante, foi-o
efetivamente em outro planeta! Isto poderia parecer incrível se nós mesmos não o tivéssemos ouvido;
mas, no capítulo seguinte, ver-se-ão outras histórias tão fortes como esta. Devemos dizer também que a
demonstração que vale contra todas as teorias reencarnacionistas, qualquer que seja a forma que
tomem, aplica-se igualmente, e ao mesmo título, a certas concepções de matiz mais propriamente
filosófico, como a concepção do «eterno retorno» do Nietzsche, e em uma palavra a tudo o que suponha
no Universo uma repetição qualquer". René Guénon - O Erro Espírita, p. 231/232
474
O Ocultismo
“O ocultismo é também uma coisa muito recente, possivelmente um pouco mais recente ainda
que o espiritismo. Este termo parece ter sido empregado pela primeira vez por Alphonse-Louis
Constant, mais conhecido sob o pseudônimo de Eliphas Lévi, e nos parece muito provável que ele seja
seu inventor. Se a palavra for nova, é porque o que serve para designar não o é menos: até então, tinha
havido «ciências ocultas», mais ou menos ocultas ademais, e também mais ou menos importantes; a
magia era uma dessas ciências, e não seu conjunto como alguns modernos o hão pretendido; de igual
modo a alquimia, a astrologia e muitas outras ainda; mas jamais se procurou as reunir em um corpo de
doutrina única, o que implica essencialmente a denominação de «ocultismo». Para falar a verdade, o
suposto corpo de doutrina está formado de elementos bem desatinados: Eliphas Lévi queria lhe
constituir com a kabbala hebraica, o hermetismo e a magia. Aqueles que vieram depois dele deviam dar
ao ocultismo um caráter bastante diferente. As obras de Eliphas Lévi, embora muito menos profundas
do que pretendem seus ares, exerceram uma influência extremamente extensa: inspiraram aos chefes
das escolas mais diversas, como a Mme Blavatsky, a fundadora da Sociedade Teosófica, sobretudo na
época em que publicou Isis Sem Véu, como ao escritor maçônico americano Albert Pike, como aos neo-
rosacrucianos ingleses, etc. Pelo resto, os teosofistas continuaram empregando com bastante
entusiasmo o termo de ocultismo para qualificar sua própria doutrina, que se pode considerar, com
efeito, como uma variedade especial de ocultismo, já que nada se opõe a que se faça desta designação o
nome genérico de escolas múltiplas das que cada uma tem sua concepção particular; entretanto, não é
assim como se entende o mais habitualmente. Eliphas Lévi morreu em 1875, o mesmo ano em que foi
fundada a Sociedade Teosófica; na França, passaram então alguns anos durante os quais apenas se
tratou de ocultismo; é por volta de 1887 quando o Dr. Gérard Encausse, sob o nome do Papus, retomou
esta denominação, esforçando-se em agrupar ao redor dele todos aqueles que tinham tendências
análogas, e é, sobretudo a partir do momento em que se separou da Sociedade Teosófica, em 1890,
quando pretendeu em certo modo monopolizar o título de ocultismo em proveito de sua escola. Tal é a
gênese do ocultismo francês; há-se dito às vezes que este ocultismo não era em suma mais que
«papusismo», e isso é verdade em mais de um aspecto, já que uma boa parte de suas teorias não são
efetivamente mais que a obra de uma fantasia individual; há-as inclusive que se explicam
simplesmente pelo desejo de opor, à falsa «tradição oriental» dos teosofistas, uma «tradição
ocidental» não menos imaginária. Não vamos fazer aqui a história do ocultismo, nem a expor o
conjunto de suas doutrinas; mas, para falar de suas relações com o espiritismo e do que lhe distingue
dele, eram indispensáveis estas explicações sumárias, a fim de que ninguém possa surpreender-se de nos
ver classificar ao ocultismo entre as concepções «neo-espiritualistas»”. René Guénon - O erro espírita, p.
68
475
Pretensa “Tradição Oriental” e Pretensa “Tradição Ocidental” - Teosofia Vs.
Ocultismo
“Assim, é pelo processo «sincrético» de que acabamos de falar, que vemos constituir-se uma
pretensa «tradição oriental», a dos teósofos, que só tem de oriental uma terminologia mal
compreendida e mal aplicada; e como este mundo está sempre «dividido contra si mesmo», segundo a
palavra evangélica, os ocultistas franceses, por espírito de oposição e de concorrência, edificaram por
sua vez uma «tradição ocidental» do mesmo estilo, da qual muitos elementos, nomeadamente aqueles
que foram tirados da Cabala, dificilmente podem ser chamados ocidentais quanto à sua origem, senão
mesmo quanto à maneira especial como foram interpretados. Os primeiros apresentaram a sua
«tradição» como sendo a própria expressão da «sabedoria antiga»; os segundos, talvez um pouco mais
modestos nas suas pretensões, procuraram sobretudo fazer passar o seu «sincretismo» por uma
«síntese» — não houve ninguém que tivesse usado tanto esta palavra como eles. Se os primeiros se
mostravam mais ambiciosos, foi talvez porque, havia realmente na origem do seu «movimento»
influências bastante enigmáticas de que eles próprios seriam incapazes de determinar a verdadeira
natureza; quanto aos segundos, sabiam muito bem que não havia nada por detrás, que a sua obra era
verdadeiramente só a de algumas individualidades reduzidas aos seus próprios meios, e se, no
entanto, «alguma coisa» diferente foi introduzida, isso aconteceu certamente muito mais tardiamente;
não seria difícil aplicar a estes dois casos, considerados sob este aspecto, aquilo que dissemos há pouco,
e deixamos a cada um o cuidado de tirar as conclusões que lhe parecerem lógicas”.
“É claro que nunca houve nada a que se pudesse chamar autenticamente «tradição oriental» ou
«tradição ocidental»; tais designações são demasiado vagas para se poderem aplicar a uma forma
tradicional definida, já que, a menos que se recue até à tradição primordial que está fora de causa aqui,
por razões muito fáceis de compreender, e que não é nem oriental, nem ocidental, há e sempre houve
formas tradicionais diversas e múltiplas, tanto no Oriente como no Ocidente”. René Guénon - O Reino da
Quantidade e os Sinais dos Tempos p. 232
“Com isso, fica dada a resposta à objeção que possa surgir no pensamento de alguns: se Martines
foi “comissionado” por alguma organização iniciática, como se explica que a sua Ordem não estivesse
de alguma maneira completamente “pré-formada” desde o início, com os seus rituais e os graus, e que
de fato permaneça até hoje no estado de bosquejo imperfeito sem nada de definitivamente acabado?
Sem dúvida muitos dos sistemas maçônicos de altos graus que viram a luz na mesma época padeceram
situações semelhantes, e alguns não existiram senão “no papel”. Porém, se eles só representavam
476
simples concepções particulares de um indivíduo ou de um grupo, então não haverá nisso nada de
surpreendente, enquanto para a obra de um representante autorizado de uma organização iniciática
real, desde logo as coisas passam-se de maneira completamente diferente. Mesmo assim, essa não é
senão uma maneira muito superficial de encarar o problema, pois na realidade e pelo contrário deve-se
considerar que a “missão” de Martines comportava precisamente o trabalho de “adaptação” que devia
conduzir à formação da Ordem dos Élus Coens, trabalho que os seus “predecessores” não quiseram
realizar porque, por uma ou outra razão, ainda não era o momento, e talvez nem o quisessem fazer,
como já dissemos anteriormente. Martines não conseguiu concluir inteiramente esse trabalho, porém,
isso não prova nada contra o que havia no seu início”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-
Maçonaria e o Companheirismo p. 32/33
“Longe de nós pensarmos que a iniciação recebida por Martines tenha sido de um certo grau
muito limitado, mas em todo o caso não ultrapassando o domínio dos “Pequenos Mistérios”, nem que
os seus conhecimentos, apesar de bastante reais, tenham tido verdadeiramente o caráter
“transcendente” que ele lhes atribui. Sobre isso já demos a nossa explicação noutra altura e deixámos
assinalado, como traços característicos a esse respeito, a presença da “magia cerimonial” revestindo as
“operações” rituais e a importância dada a resultados de ordem puramente “fenomênica”. Mas mesmo
isso não é razão para reduzir aquelas, muito menos os “poderes” de Martines, ao simples nível de
“fenômenos metapsíquicos”, como hoje se os entende”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-
Maçonaria e o Companheirismo p. 33
“Por outra parte, devemos ainda acrescentar uma observação particularmente importante: sendo
a Ordem dos Élus Coens uma forma nova isto não lhe permitia constituir, por si só e de modo
independente, uma iniciação válida e regular. Por esta razão, ela não podia recrutar os seus membros
senão entre aqueles que já pertencessem a uma organização iniciática, à qual ele se sobrepunha com um
conjunto de graus superiores. Como dissemos mais atrás, essa organização que lhe forneceu a base
indispensável que antes lhe faltava, inevitavelmente terá sido a Maçonaria. Por conseguinte, uma das
condições requeridas para a “preparação” de Martines, além dos ensinamentos recebidos de outras
fontes, era a posse dos graus maçónicos. Esta condição verdadeiramente faltava aos seus
“predecessores”, e por isso não conseguiram fazer o que ele fez. Efetivamente, foi como Maçom e não de
outra maneira que Martines se apresentou desde o começo, tendo sido “no interior” de Lojas
preexistentes que, como todo o fundador de um sistema de altos graus, ele começou, com mais ou
menos sucesso conforme os casos, a edificar os “Templos” onde alguns membros dessas mesmas Lojas,
escolhidos como os mais aptos, trabalhariam seguindo o rito dos Élus Coens. Pelo menos não poderá
existir nenhum equívoco sobre o seguinte: se Martines recebeu uma “missão”, esta foi a de ele fundar
um rito ou “regime” maçônico de altos graus, no qual introduziria, revestindo-o com uma forma
apropriada, o que havia adquirido de uma outra fonte iniciática”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-
Maçonaria e o Companheirismo p. 33
“Não sendo necessário descrever aqui todas as vicissitudes conhecidas, lembramos somente que
a Ordem dos Élus Coens estava então muito longe de receber a sua forma definitiva, e nisto de fato tanto
a lista dos seus graus como, com maior razão, os seus rituais, nunca ficaram completamente fixados. O
outro aspecto da questão, na nossa ótica, é o mais importante, e a este respeito é essencial destacar,
antes de tudo, que o próprio Martines nunca teve a pretensão de assumir-se chefe supremo de uma
hierarquia iniciática. O seu título de “Grande Soberano” não constitui aqui uma objeção válida, porque a
palavra “Soberano” também figura nos títulos de diversos graus e funções maçônicas, sem que a
realmente isso implique que os seus portadores estejam isentos de toda a subordinação”. René Guénon -
Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 34
“Assim, Martines, segundo as suas próprias declarações, não era de maneira alguma o “chefe
principal” da Ordem dos Élus Coens, mas como de qualquer modo se vê ser ele próprio a constituí-la,
parece que esse chefe foi aquele (ou um daqueles) da organização que inspirou essa nova formação, e
nisto o temor expresso por Martines não seria o de que desaparecendo esse personagem se
interrompessem prematuramente certas comunicações? Ademais, é muito evidente que o modo como
falou não se pode aplicar senão a um homem vivo, e não a qualquer entidade mais ou menos
fantasmagórica. Como os ocultistas têm espalhado tantas ideias extravagantes dessa espécie, esta
477
observação não é inteiramente supérflua”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o
Companheirismo p. 34
“Em todo o caso, na carta de 1822 que já citámos, Willermoz declara que “de todos os Réaux que
conheci pessoalmente nenhum continua vivo, de maneira que me é impossível indicar algum depois
deles”, e se já não existiam mais “Réau-Croix”, então não era mais possível nenhuma transmissão
para perpetuar a Ordem dos Élus Coens. Descartada a “sobrevivência direta”, segundo a expressão de
M. van Rijinberk, poderá restar a possibilidade da “sobrevivência indireta”, consistindo no que ele
denomina as duas “metamorfoses willermosista e martinista”, mas esse é um equívoco que convém
dissipar. O Regime Escocês Retificado nunca foi uma metamorfose dos Élus Coens e sim uma derivação
da Estrita Observância, o que é totalmente diferente. Se é verdade que Willermoz, pelo papel
preponderante que teve na elaboração dos rituais dos seus graus superiores, particularmente naquele do
“Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa” onde introduziu algumas das ideias que havia recolhido na
organização de Martines, não é menos verdade que os Élus Coens, na sua grande maioria, reprovaram
fortemente a sua preferência por um outro rito, o que aos seus olhos era quase uma traição, como
também reprovaram em Saint-Martin uma mudança de atitude de um outro género”. René Guénon -
Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 36
“No respeitante a Martines de Pasqually, sem dúvida é muito difícil saber exatamente o que era o
que ele chamava “a Coisa”. Porém, em todas as partes onde vimos essa palavra empregada por ele,
parece não ter querido designar outra coisa senão as suas “operações”, o que mais vulgarmente se
entende por a Arte. São os ocultistas modernos que pretendem ver aí “aparições” pura e
simplesmente, em conformidade com as suas próprias ideias, apesar do IT Franz von Baader previne-nos
que “será errado pensar que a sua Física (de Martines) reduzia-se aos espectros e aos espíritos”. Havia
nisso, como ademais no fundo de toda a Alta Maçonaria dessa época, algo muito mais profundo e mais
verdadeiramente “esotérico”, que o conhecimento do Ocultismo atual não basta de modo algum para
poder penetrar”.” René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 76
478
“A obra está dividida em três partes. A primeira trata das “doutrinas e práticas dos Élus Coens”; a
segunda, das relações entre “os Élus Coens e a tradição ocultista” (e aqui o termo “esotérico”
certamente teria sido mais apropriado); finalmente, a terceira trata da “organização e da história da
Ordem”.” René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 17
“A primeira parte constitui uma excelente visão geral sobre o conteúdo do Tratado da
Reintegração dos Seres, obra muito confusa, escrita num estilo incorreto e por vezes pouco inteligível,
ademais tendo ficado inacabada. Não é fácil extrair dela uma exposição coerente, e deve-se elogiar M.
Le Forestier por tê-lo conseguido. No entanto subsiste uma certa ambiguidade quanto à natureza das
“operações” dos Élus Coens: seriam verdadeiramente “teúrgicas” ou somente “mágicas”? O autor
parece não aperceber-se de que essas são duas coisas essencialmente diferentes que não são da mesma
ordem. É possível que essa confusão tenha existido sempre entre os próprios Élus Coens, cuja iniciação
sempre pareceu ser demasiado incompleta em muitos aspectos, e seria bom ter deixado essa
observação. Nós diríamos de bom grado que parece tratar-se de um ritual de “magia cerimonial” com
pretensões teúrgicas, deixando a porta abertas a muitas ilusões, pois a importância atribuída a simples
manifestações “fenomênicas”, e o que Martines chamava “passes” não passava disso, prova
efetivamente ainda não ter ultrapassado o domínio da ilusão. O que há de mais deplorável nessa
história, para nós, é o fundador dos Élus Coens ter-se acreditado na posse de conhecimentos
transcendentes, quando eram somente conhecimentos que, apesar de reais, não passavam de uma
ordem bastante secundária. Ademais e pelas mesmas razões, persistiu sempre nele uma certa confusão
entre a perspectiva “iniciática” e a perspectiva “mística”, porque as doutrinas que exprimiu tomam
sempre uma forma religiosa, enquanto as suas “operações” não se afastam desse carácter”. René
Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 17
“Por outro lado, ele observa que o que Martines chama “reintegração” não ultrapassa as
possibilidades do ser humano individual. Este ponto é claramente fixado pelo autor, mas devia ter
retirado dele conclusões muito importantes sobre as limitações do ensinamento que o chefe dos Élus
Coens podia transmitir aos seus discípulos, e consequentemente sobre o grau de “realização” a que os
conseguia levar”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 18
“A terceira parte é dedicada à história da Ordem dos Élus Coens, cuja existência efetiva foi muito
breve, e à exposição do que se sabe dos rituais dos seus diferentes graus, que parecem nunca terem sido
inteiramente acabados e deixados prontos, como igualmente aqueles das famosas “operações”.” René
Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 19
“Então, na realidade não se trata de uma imitação do termo “Rosa-Cruz”, que lhe teria sido muito
mais fácil apropriar-se pura e simplesmente dele como tantos outros têm feito, mas de uma das
numerosas interpretações ou adaptações que legitimamente possam dar-lhe, mas isto, bem entendido,
não quer dizer que as pretensões de Martines no respeitante aos efeitos reais da sua “ordenação de
Réau-Croix” fossem inteiramente justificadas”.” René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o
Companheirismo p. 20
479
O Martinismo
“Devemos ocupar-nos um pouco mais desse caso de
Saint-Martin, nem que seja pelo fato de tudo o que se pretende
extrair dele atualmente. A verdade é que se Saint-Martin
abandonou todos os ritos maçônicos aos quais estivera ligado,
inclusive o dos Élus Coens, foi porque adotou uma atitude
exclusivamente mística, desde logo incompatível com a
perspectiva iniciática, e por conseguinte não foi para ele próprio
fundar uma nova Ordem. De fato, o nome “Martinismo”,
utilizado unicamente no mundo profano, não se aplicava senão
às doutrinas particulares de Saint Martin e dos seus aderentes,
tivessem ou não relações diretas com ele, tendo o próprio Saint
Martin chegado a qualificar com ironia de “Martinistas” os
leitores das suas obras. No entanto parece que alguns dos seus
discípulos receberam pessoalmente dele um certo “depósito”,
que desde logo, verdade se diga, não era constituído senão “por
duas cartas e algumas observações”, e foi esta transmissão que esteve na origem do “Martinismo”
moderno. Mesmo que isso tenha sido real, como é que uma comunicação desse tipo, realizada sem
nenhum rito, pode representar uma iniciação qualquer? As duas cartas indicadas possuem as iniciais S.
I. que, qualquer que seja a interpretação que se lhes dê (e existem inúmeras), parecem exercer em
alguns uma verdadeira fascinação. Mas qual será a sua proveniência? Seguramente não se trata de
uma reminiscência dos “Superiores Incógnitos” da Estrita Observância, e de resto não é necessário
procurar tão longe porque alguns Élus Coens usavam essas iniciais nas suas assinaturas. A esse respeito,
M. van Rijinberk formulou uma hipótese bastante plausível, segundo a qual elas teriam sido o sinal
distintivo dos membros do “Tribunal Soberano” encarregado da administração da Ordem (do qual o
próprio Saint-Martin fez parte, assim como Willermoz), sendo então indicativas não de um grau mas
simplesmente de uma função. Nessas condições e apesar de tudo, não deixa de parecer estranho que
Saint-Martin tenha procurado adotar essas iniciais em vez de, por exemplo, R. C., se elas não tinham em
si mesmas nenhum significado simbólico próprio e, em definitivo, os seus diferentes usos não passavam
de derivados. Seja como for, há um fato curioso que demonstra que efetivamente Saint-Martin atribuía-
lhes uma certa importância: com essas iniciais ele formou, no Crocodilo, o nome de uma imaginária
“Sociedade dos Independentes”, que desde logo não é verdadeiramente uma sociedade nem
tampouco uma organização qualquer, e sim uma espécie de comunhão mística presidida por Madame
209
Jof, ou seja, pela Fé personificada . Outra coisa ainda bastante singular, é que perto do final da história
o judeu Eleazar é admitido na “Sociedade dos Independentes”. Sem dúvida
pode ver-se aí uma alusão não a algo que se refira pessoalmente a Martines,
mas antes à passagem de Saint-Martin da doutrina dos Élus Coens a esse
misticismo em que se encerrou durante toda a última parte da sua vida.
Comunicando aos seus discípulos mais próximos as iniciais S. I. como uma
espécie de sinal de reconhecimento, de certa maneira não quereria dizer com
isso que eles podiam considerar-se como membros do que pretendeu
representar como a “Sociedade dos Independentes”?
Essas últimas observações seguramente farão compreender porque
estamos muito longe de compartilhar as opiniões demasiado “otimistas” de
M. van Rijinberk, quando perguntando-se se a Ordem dos Élus Coens
“pertence completa e exclusivamente ao passado”, inclina-se a responder
negativamente apesar de reconhecer a ausência total de toda a filiação
direta, que é a única a ter em consideração no domínio iniciático. O Regime Escocês Retificado continua
a existir, contrariamente ao que ele parece acreditar, mas não procede a nenhum título do que aqui foi
tratado. Quanto ao “Martinismo” moderno, podemos assegurar que tem muito pouco a ver com Saint-
Martin e absolutamente nada com Martines e os Élus Coens”.” René Guénon - Estudos Sobre a Franco-
Maçonaria e o Companheirismo p. 36
209
Willermoz, por sua parte, também se serviu das mesmas iniciais para dar o nome de “Sociedade dos
Iniciados” ao agrupamento muito real que ele fundou para estudar certos fenômenos de sonambulismo.
480
“É necessário dizer que também ocorreu às vezes que outros, depois de terem entrado realmente
na via iniciática, e não só nas ilusões da pseudo-iniciação, como aqueles de quem falamos aqui,
abandonaram esta via pelo misticismo; os motivos são então, naturalmente, bastante diferentes, e
principalmente da ordem sentimental, mas, quaisquer que possam ser, é mister ver sobretudo, em
parecidos casos, a consequência de um defeito qualquer sob a relação das qualificações iniciáticas, ao
menos no que concerne à aptidão para realizar a iniciação efetiva; um dos exemplos mais típicos que se
pode citar neste gênero é o de Louis-Claude de Saint-Martin.” René Guénon - Considerações Sobre a
Iniciação
“Um dos melhores exemplos deste último caso são as numerosas organizações que, na época
atual, se intitulam «rosa-cruzes» e que, como é evidente, não deixam de estar em contradição umas
com as outras, combatendo-se mesmo mais ou menos abertamente, todas pretendendo igualmente ser
representantes de uma e mesma «tradição». De fato, podemos dar razão a todas sem exceção, quando
cada uma delas denuncia a outra como ilegítima e fraudulenta; nunca houve tantos que se reclamassem
«rosa-cruz», como desde que não há nenhum autêntico! Aliás, não há grande perigo em fazer-se passar
pela continuação de qualquer coisa que pertence inteiramente ao passado, sobretudo quando os
desmentidos não são de recear, visto que esta associação esteve sempre envolta de uma certa
obscuridade, de tal modo que nem a sua origem, nem o seu final se conhecem bem; e quem, entre o
público profano e até entre os «pseudo-iniciados» pode saber o que foi ao certo a tradição que, durante
um certo período, se qualificou de rosacruciana? Devemos acrescentar que estas anotações dizem
respeito à usurpação do nome de uma organização iniciática e não se aplicam a um caso como o da
pretensa «Grande Loja Branca» de que, curiosamente, se fala cada vez mais, e não só da parte dos
teósofos; com efeito, esta denominação nunca teve o menor caráter autenticamente tradicional e, se
este nome convencional pode servir de «máscara» a qualquer coisa que tenha alguma realidade, não é
certamente do lado iniciático que devemos procurá-la”. René Guénon - O Reino da Quantidade e os
Sinais dos Tempos p. 233/234
“...Com isto, igualmente, se pode compreender o que foram de verdade aqueles que, sem
pertencer eles mesmos a nenhuma organização conhecida (e entendemos por isso uma organização
481
revestida de formas exteriormente apreensíveis), presidiram em alguns casos a formação de tais
organizações ou, depois, inspiraram-nas e as dirigiram invisivelmente; tal foi concretamente, durante
certo período, o papel dos Rosa-Cruzes no mundo ocidental, e esse é também o verdadeiro sentido do
que a Maçonaria do século XVIII designa sob o nome de «Superiores Desconhecidos».” René Guénon -
Considerações Sobre a Iniciação
“Trata-se dos “Rosacrucianos” que publicaram cerca de 1610 a Fama Fraternitatis, seguida de
vários outros manifestos, os quais Descartes procurou inutilmente por toda a Alemanha. Muitas
sociedades modernas com pretensões iniciáticas, não se fundamentam mais que sobre o estudo das
doutrinas e das teorias contidas em tais escritos. Os seus adeptos (?) acreditam que dessa maneira
ligam-se “misticamente” com aqueles que foram os seus autores. As tendências destes foram muito
claramente “protestantes” e “antipapais”, a tal ponto que Krauzer interpretou as três letras F. R. C.
(“Frater Roseacrucis”) como “Frater Religionis Calvanistae”, “visto que decoram as suas obras com
textos apreciados pelos Reformistas” (citado por Sédir, Histoire des Rose-Croix, p. 65). Tal explicação
pode ser, se não mais exata literalmente, pelo menos mais adequada que aquela outra que identifica os
“Superiores Incógnitos” com os jesuítas, e daquela opinião de I T Ragon que atribui aos mesmos jesuítas
a invenção do grau maçônico que leva precisamente o nome de “Rosacruz”.” René Guénon - Estudos
Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 65
“...Na verdade, na nossa época o Rosacrucianismo já não tem um significado bem definido: uma
multidão de pessoas que se intitulam "Rosacruzes" ou «Rosacrucianos» não tem qualquer vínculo entre
si, nem tampouco têm com as velhas organizações do mesmo nome, e ocorre exatamente o mesmo com
aqueles que se intitulam "Templários". Mesmo sem considerar os graus maçônicos, que em vários ritos,
ostentam o título de Rosacruzes ou algum outro dele derivados, poderíamos dar, se não fosse fora do
nosso assunto, uma longa lista de sociedades mais ou menos secretas que não só tem em comum mais
que esta mesma denominação, na maioria das vezes acompanhadas por um ou mais epítetos distintos.
Portanto, devemos estar em guarda quando se trata Rosacrucianismo, o mesmo que quando se trata de
Maçonaria, para não atribuir a um grupo o que pertence a outro que pode ser-lhe completamente
estranho.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião p. 32
A A.M.O.R.C.
“Ressalta-se apenas uma dessas sociedades, que se intitula A. M. O. R. C. (Ancien Mystic Order of
the Rosy-Cross), fundada em 1916 "a fim de salvar a civilização" (sic); temos diante de nossos olhos uma
circular anunciando que está se constituindo um ramo francês, e que "um enviado especial virá dos
Estados Unidos em maio (1921) para dar a Iniciação e abrir os trabalhos" (em seguida, nos foi dito que
sua viagem não pôde ocorrer). Esta organização tem a sua cabeça um Imperator, mas que,
evidentemente, não é o mesmo que o da Golden Dawn; ela não está ligada ao teosofismo, mas sabemos
que os teosofistas já são bastante numerosos entre os seus adeptos.” René Guénon - O Teosofismo,
História de uma Pseudo-Religião p. 32
“A A.M.O.R.C. não parece ter tido um grande sucesso na França; no entanto, seu chefe veio a
Paris em 1927, e até mesmo foi solenemente recebido, em 12 de julho, pelo "Grande Colégio dos Ritos",
ou seja, o Conselho Supremo do Grande Oriente da França, o que é ainda mais singular uma vez que não
tem relação com as organizações maçônicas americanas, que consideram como "irregulares"; talvez a
Ordem Rosacruz em questão tampouco possua muita "regularidade".” René Guénon - O Teosofismo,
História de uma Pseudo-Religião p. 32
482
emprego desse termo não implica qualquer filiação histórica entre os Rosa-Cruzes propriamente ditos e
os Élus Coens, e em todo o caso não há razão para englobar no mesmo vocábulo organizações tais como
a Estrita Observância e o Regime Escocês Retificado, que seguramente não tinham nem no seu espírito
nem na sua forma qualquer característica rosacruciana. Dizemos mais: nos Ritos maçônicos onde existe
um “grau de RosaCruz”, este não foi tomado do Rosacrucianismo senão como símbolo, pelo que
qualificar os seus possuidores de “Rosa-Cruzes” sem mais explicações é criar-se um grande e lamentável
equívoco”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo p. 21
“Pensamos que os documentos que se reportam aos Élus Coens têm uma outra importância do
ponto de vista iniciático, malgrado as lacunas que sempre existiram a esse respeito no ensinamento de
Martines que já apontámos no nosso último artigo. M. Vulliaud tem toda a razão quando insiste sobre o
erro daqueles que pretendem fazer de Martines um kabalista, pois o que nele é de inspiração
incontestavelmente judaica não implica, com efeito, qualquer conhecimento do que deva designar
propriamente de Kaballah, termo que frequentemente se utiliza incorreta e despropositadamente. Mas
por outro lado, perante a má ortografia e o estilo defeituoso de Martines, que M. Vulliaud sublinha com
uma não pouco excessiva complacência, isso não prova nada contra a realidade dos seus conhecimentos
num certo nível. Não se deve confundir a instrução profana com saber iniciático: um iniciado de ordem
muito elevada (que certamente Martines não foi) pode mesmo ser um completo iletrado, como se
observa frequentemente no Oriente”. René Guénon - Estudos Sobre a Franco-Maçonaria e o
Companheirismo p. 22
Teosofia e Teosofismo
483
H. Spencer Lewis, em seu livro "Perguntas e Respostas Rosacruzes, com a história
completa da Ordem"210, comenta:
“Alguns desses Avatares tiveram permissão para organizar seus próprios movimentos,
convenientes à época e ao desenvolvimento do povo com que lidavam. Um exemplo típico a este
respeito foi a obra de Madame Helena Blavatsky, que durante toda a sua infância foi alvo de inspiração
e preparação cósmicas. Ela se entregou ao impulso cósmico de fundar uma organização independente,
que denominou Teosofia, devido à atração que deveria exercer sobre o tipo de pessoas com que ela
acreditava que teria de lidar. Quando se harmonizou mais completamente com o Cósmico, estabeleceu
finalmente contato com os Mestres da Grande Fraternidade Branca, e nos últimos anos de sua vida sua
obra teve o apoio dessa Fraternidade, que a utilizou como um dos canais de suas atividades. Por ocasião
de sua transição, sua obra como Avatar da Grande Fraternidade Branca estava completa. Os escritos e
ensinamentos de Madame Blavatsky permanecerão como monumento ao seu contato com a
Fraternidade e ao grande bem que outras atividades semelhantes podem realizar. A organização que ela
fundara havia cumprido sua missão específica, e não parecia haver necessidade de que continuasse sob
o nome e a forma que ela empregara.”
Blavatsky depois partiu dos EUA, primeiro com destino à Índia, e mudou-se
posteriormente para Londres. Mais tarde a organização foi dividida igualmente em
dois movimentos, a Fraternidade Universal e Sociedade Teosófica, e a Sociedade
Teosófica da América. Judge dirigiu a Sociedade Teosófica de Adyar até sua morte em
1896. Madame Blavatsky fundou também a Escola Esotérica de Teosofia, em Londres.
Dirigiu a Sociedade Teosófica com mão firme até o momento da morte em 1891. Aliás,
de certa forma, continuou a dirigi-la mesmo depois de morta, graças às obras que
deixou, como Ísis sem Véu e A Doutrina Secreta. Annie Besant dirigiu a organização até
o momento de sua morte em 1933. Besant foi eleita, em 1917, presidenta do
Congresso Indiano, atuando de maneira decisiva sobre a vida política da Índia.
210
Perguntas e Respostas Rosacruzes, com a história completa da Ordem, Harvey Spencer Lewis, pág.
202
484
“Antes de tudo, devemos justificar a palavra pouco utilizada que serve de título a nosso estudo:
por que «Teosofismo» e não «teosofia»? É que para nós, estas duas palavras designam duas coisas
muito diferentes, sendo importante dissipar, inclusive ao preço de um neologismo ou do que pode
parecer tal, a confusão que deve produzir naturalmente a similitude de expressão. E isso importa tão
mais, desde nosso ponto de vista, por quanto algumas pessoas têm, ao contrário, muito interesse em
manter esta confusão, a fim de fazer acreditar que se vinculam a uma tradição a qual, na realidade, não
podem vincular-se legitimamente, como tampouco, ademais, a nenhuma outra.”
“Com efeito, muito anteriormente à criação da Sociedade Teosófica, o vocábulo teosofia servia
de denominação comum a doutrinas bastante diversas, mas que, não obstante, pertenciam todas a um
mesmo tipo, ou ao menos, procediam todas de um mesmo conjunto de tendências; assim, convém lhe
conservar a significação que tem historicamente.”
“Sem procurar aprofundar aqui a natureza dessas doutrinas, podemos dizer que têm como traços
comuns e fundamentais serem concepções mais ou menos estritamente esotéricas, de inspiração
religiosa ou inclusive mística, embora de um misticismo um pouco especial sem dúvida, e que se
proclamam de uma tradição completamente ocidental, cuja base é sempre, sob uma forma ou outra, o
cristianismo. Tais são, por exemplo, doutrinas como as de Jacob Boehme, de Gichtel, de William Law, de
Jane Lead, de Swedenborg, de Louis-Claude de Saint-Martin, de Eckartshausen; não pretendemos
oferecer aqui uma lista completa, nos limitando a citar alguns nomes entre os mais conhecidos.”
“Pois bem, a organização que se intitula atualmente «Sociedade Teosófica», da que entendemos
nos ocupar aqui exclusivamente, não depende de nenhuma escola que se vincule, nem sequer
indiretamente, a alguma doutrina deste gênero; sua fundadora, Mme. Blavatsky, pôde ter um
conhecimento mais ou menos completo dos escritos de alguns teósofos, especialmente de Jacob
Boehme, e pôde tirar deles idéias que incorporou a suas próprias obras, junto com uma multidão de
outros elementos das procedências mais diversas, mas isso é tudo o que é possível admitir a este
respeito. De uma maneira geral, as teorias mais ou menos coerentes que foram emitidas ou sustentadas
pelos líderes da Sociedade Teosófica, não têm nenhum dos caracteres que acabamos de indicar, exceto a
pretensão ao esoterismo; apresentam-se, falsamente, pelo resto, como tendo uma origem oriental, e
se se julgou bom lhes adicionar há um certo tempo um pseudo-cristianismo de uma natureza muito
peculiar, por isso não é menos certo que sua tendência primitiva era, ao contrário, francamente anti-
cristã. «Nossa meta, dizia então Mme Blavatsky, não é restaurar o hinduísmo, mas sim varrer o
211
cristianismo da face da terra» .”
“Mudaram tanto as coisas desde então como poderiam fazer acreditar as aparências? Ao menos
é lícito desconfiar, ao ver que a grande propagandista do novo «Cristianismo esotérico» é Mme Besant,
a mesma que exclamava antigamente que era necessário «acima de tudo combater a Roma e a seus
212
sacerdotes, lutar por toda parte contra o cristianismo e arrojar a Deus dos Céus» . Sem dúvida, é
possível que a doutrina da Sociedade Teosófica e as opiniões de sua presidente atual tenham «evoluído»,
mas é possível também que seu neo-cristianismo não seja mais que uma máscara, já que, quando se
trata de semelhantes meios, é mister esperar-se tudo; acreditamos que nossa exposição mostrará
suficientemente quão errôneo seria ater-se à boa fé das pessoas que dirigem ou inspiram movimentos
como este que tratamos.”
211
Declaração feita a M. Alfred Alexander, e publicada em The Medium and Daybreak, Londres, janeiro
de 1893, p. 23
212
Discurso de encerramento do Congresso dos livre-pensadores, realizado em Bruxelas em setembro
de 1880.
485
“Seja o que seja deste último ponto, a partir de agora podemos declarar claramente que entre a
doutrina da Sociedade Teosófica, ou ao menos o que faz às vezes de doutrina nela, e a teosofia no
verdadeiro sentido desta palavra, não há absolutamente nenhuma filiação, nem sequer simplesmente
ideal. Assim, deve-se rechaçar como quiméricas as afirmações que tendem a apresentar a esta
Sociedade como a continuadora de outras associações, tais como a «Sociedade Filadelfiana», que existiu
em Londres até fins do século XVII e à qual se acredita ter pertencido Isaac Newton, ou a
«Confraternidade dos Amigos de Deus», que se diz ter sido instituída na Alemanha, no século XIV, pelo
místico Jean Tauler, em quem alguns quiseram ver, não sabemos muito bem por que, a um precursor de
Lutero . Estas afirmações estão possivelmente menos fundamentadas, e isto não quer dizer pouco, que
aquelas pelas quais os teósofos tentam vincular-se aos neo-platônicos, sob pretexto de que Mme
Blavatsky adotou efetivamente algumas teorias fragmentárias destes filósofos, ademais, sem havê-los
assimilado verdadeiramente.”
“As doutrinas, na realidade completamente modernas, que professa a Sociedade Teosófica, são
tão diferentes, sob quase todos os aspectos, daquelas às que se aplica legitimamente o nome de
teosofia, que não se poderiam confundir umas com as outras mais que por má fé ou por ignorância: má
fé nos líderes da Sociedade; ignorância na maioria dos que os seguem, e também, é mister dizê-lo, em
alguns de seus adversários, que, insuficientemente informados, cometem o grave engano de tomar a
sério suas asserções, e de acreditar, por exemplo, que representam uma tradição oriental autêntica,
enquanto que não há nada disso. A Sociedade Teosófica, como se verá, não deve seu nome mais que a
circunstâncias completamente acidentais, sem as quais teria recebido uma denominação
completamente distinta: seus menbros igualmente, não são de modo algum teósofos, mas sim são, se se
quiser, «teosofistas». Ademais, a distinção entre estes dois termos, «theosophers» e «theosophits», faz-
se quase sempre em inglês, idioma no qual a palavra «theosophism», para designar a doutrina desta
Sociedade, é de uso corrente; ela nos parece suficientemente importante como para que seja necessário
mantê-la igualmente em francês, apesar do que possa ter de inusitado, e é por isso que tivemos que dar
acima de tudo as razões pelas quais há nisso algo mais que uma simples questão de palavras.”
“Falamos como se houvesse verdadeiramente uma doutrina teosofista; mas, para falar a
verdade, se se tomar a palavra doutrina em seu sentido mais estrito, ou inclusive se quer designar
simplesmente com isso algo sólido e bem definido, é mister convir que não a há. O que os teosofistas
apresentam como sua doutrina aparece, segundo um exame um pouco sério, como cheio de
contradições; além disso, de um autor a outro, e às vezes em um mesmo autor, há variações
consideráveis, inclusive sobre pontos que são considerados como os mais importantes. Sob este aspecto
se podem distinguir, sobretudo dois períodos principais, que correspondem à direção de Mme Blavatsky
e a de Mme Besant. É certo que os teosofistas atuais tentam frequentemente dissimular as contradições
interpretando à sua maneira o pensamento de sua fundadora e pretendendo que ao começo a tinha
entendido mal, mas o desacordo não é por isso menos real. Compreende-se então sem dificuldade que o
estudo de teorias tão inconsistentes não possa ser separado apenas da história mesma da Sociedade
Teosófica; é por isso que não julgamos oportuno fazer nesta obra duas partes distintas, uma histórica e
outra doutrinal, como teria sido natural fazê-lo em qualquer outra circunstância.” René Guénon - O
Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 5/8
“Assim, foi em 1848 quando começou a extraordinária vida de aventuras de Mme. Blavatsky; ao
percorrer a Ásia menor com sua amiga a condessa Kiseleff, conheceu um copto (outros dizem que era
caldeu) chamado Paulos Metamon, que se fazia passar por mago, e que parece ter sido um
prestidigitador. Continuou sua viagem em companhia deste personagem; com quem foi a Grécia e ao
Egito; depois, como seus recursos estavam quase esgotados, retornou à Europa, achando-se em Londres
em 1851, dando lições de piano para viver. Seus amigos afirmaram que foi a essa cidade com seu pai a
486
fim de seguir estudos musicais; isto é manifestamente falso, pois, naquela época, estava brigada com
toda sua família, e é por isso que não se atreveu a retornar a Rússia. Em Londres, frequentou por sua
vez os círculos espíritas e os meios revolucionários; relacionou-se concretamente com Mazzini e, por
volta de 1856, filiou-se à associação carbonária a «Jovem Europa».” René Guénon - O Teosofismo,
História de uma Pseudo-Religião, p. 10
“Por volta de 1858, Mme Blavatsky decidiu retornar a Rússia; reconciliou-se com seu pai e
permaneceu a seu lado até 1863, época em que se deslocou ao Cáucaso e se encontrou novamente com
seu marido. Um pouco mais tarde, partiu para a Itália, de onde tinha sido chamada, verossimilmente,
por uma ordem carbonária. Em 1866, está com Garibaldi, a quem acompanha em suas expedições;
213
Le Monde Occulte, p. 45 da tradução francesa de F. K. Gaboriau.
487
combate no Viterbo, depois na Mentana, onde cai gravemente ferida e é dada por morta no campo de
batalha; não obstante, recupera-se e vai passar sua convalescença em Paris. Ali, esteve durante algum
tempo sob a influência de um certo Victor Michal, magnetizador e espírita, cujo nome foi às vezes
desfigurado nos relatos que se referem a esta parte de sua vida: alguns o chamaram Martial e outros
Marchal , o que lhe tem feito confundir com um abade Marchal que se ocupava também de hipnotismo e
de investigações psíquicas. Este Michal, que era jornalista, pertencia à Maçonaria, o mesmo que seu
amigo Rivail, aliás, Allan Kardec, antigo professor convertido em diretor de teatro das Folies-Marigny
e fundador do espiritismo francês; foi Michal quem desenvolveu as faculdades mediúnicas de Mme
Blavatsky, e, a partir de então, não falou nunca sem uma sorte de espanto da «dupla personalidade»
que ela manifestava desde aquela época, o que explica bem as condições muito particulares nas que
compôs mais adiante suas obras. Mme Blavatsky mesma era então espírita, ao menos assim o dizia, e
se apresentava, precisamente, como pertencendo à escola de Allan Kardec, de quem conservou ou
retomou depois algumas idéias, concretamente no que concerne à «reencarnação». Se parecemos pôr
em dúvida a sinceridade do espiritismo de Mme Blavatsky, apesar de suas múltiplas afirmações do
período anterior à fundação de sua Sociedade, é porque, mais adiante, ela mesma declarou que nunca
214
tinha sido «espiritualista» (sabe-se que, nos países anglo-saxões, esta palavra se toma
frequentemente como sinônimo de espírita); por conseguinte, é permissível perguntar-se em que
momento mentiu.
Seja como for, o certo é que, desde 1870 a 1872, Mme Blavatsky exerceu a profissão de médium
no Cairo, onde se tinha encontrado novamente com Metamon, e onde, de acordo com ele e com uns
hoteleiros franceses, os esposos Coulomb, de quem terei que voltar a falar, fundou seu primeiro «clube
de milagres». René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 12/13
“Não obstante, esta empresa não prosperou, pois, ao cabo de pouco tempo, Mme Blavatsky foi
sentenciada de fraude, como, algum tempo depois, devia sê-lo também em várias ocasiões na América,
para onde se mudou para exercer o mesmo ofício. Este caso está muito longe de ser raro entre os
médiuns profissionais; não queremos dizer com isto que tudo seja falso nos fenômenos que servem de
apoio ao espiritismo; estes fatos, em si mesmos, são perfeitamente independentes da interpretação
absurda que lhes dão os espíritas; mas, em todo caso, foram simulados frequentemente por
mistificadores, e todo indivíduo que faz da produção destes fenômenos um ofício é eminentemente
suspeito, posto que, embora tenha algumas qualidades mediúnicas reais, seu interesse lhe incitará a
enganar quando, por uma causa ou outra, encontre-se na impossibilidade de apresentar fenômenos
verdadeiros. Tal foi, certamente, o caso de muitos médiuns conhecidos e reputados, como a famosa
Eusapia Paladino, por exemplo; tal foi provavelmente também, no começo, sobretudo o de Mme
Blavatsky. Esta, quando se viu desmascarada, abandonou precipitadamente o Cairo e retornou a Paris,
onde tentou viver com seu irmão; mas, não podendo entender-se com ele, partiu logo para a América,
onde, dois anos depois, viria a fundar sua Sociedade Teosófica.” René Guénon - O Teosofismo, História
de uma Pseudo-Religião, p. 14
214
Light, 19 de fevereiro de 1881; 11 de outubro e 11 de novembro de 1884.
488
puramente acidental, posto que não foi adotado mais que para agradar a um adepto a quem se tinha
muito interesse em agradar por causa de sua grande fortuna; pelo resto, abundam os exemplos de
pessoas ricas que, em um momento ou em outro, foram seduzidas pelos líderes da Sociedade Teosófica,
e dos que, lhes prometendo toda sorte de maravilhas, tiraram subsídios para si mesmos e para sua
organização. Assim, foi por esta única razão que se desprezou a oposição de Felt, que teria preferido o
título de «Sociedade Egiptológica».” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p.
26/27
“Chegados a este ponto, impõe-se uma constatação: é que os nomes dos supostos «guias
espirituais» de Mme Blavatsky; John King primeiro, Serapis depois e finalmente o «Kashmiri Brother»,
não faziam em suma mais que traduzir as diferentes influências que se exerceram sucessivamente
sobre ela; isso é o mais real que há sob toda a fantasmagoria com que se rodeava, e até agora, em
geral, destacaram-se muito pouco estas relações que existiram entre a Sociedade Teosófica, tanto em
suas origens como depois, e algumas outras organizações de caráter mais ou menos secreto; não
obstante, todo este lado muito descuidado de sua história é dos mais instrutivos. De tudo o que temos
exposto, pode-se concluir legitimamente que Mme Blavatsky foi, sobretudo, em muitas das
circunstâncias, um «sujeito» ou um instrumento nas mãos de indivíduos ou de agrupamentos ocultos
que se mantinham por trás de sua personalidade, assim como outros foram por sua vez instrumentos
nas mãos dela; isso é o que explica suas imposturas, sem chegar, não obstante, a desculpá-las, e aqueles
que acreditam que ela inventou tudo, que fez tudo por si mesma e por sua própria iniciativa, equivocam-
se quase tanto como aqueles que, ao contrário, dão fé a suas afirmações concernentes a suas relações
com os pretensos «Mahâtmâs». Mas há ainda outra coisa, que permitirá dar talvez alguns detalhes
novos sobre o tema dessas influências às quais acabamos de fazer aluso: queremos falar da ação de
algumas organizações rosacrucianas ou supostamente tais, que, pelo resto, e contrariamente àquelas
das quais falamos até aqui, continuaram mantendo sempre excelentes relações com a Sociedade
Teosófica.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 31
“... Olcott contou em várias ocasiões, no Theosophist e em seus livros, que Mme. Blavastky
levava sempre consigo uma joia da Rosa-Cruz “que tinha recebido de um adepto”. Entretanto, quando
estava sob a influencia da H.B. of L., Olcott não tinha mais que desprezo para os rosicrucianos
489
modernos: em 1875 escrevia a Staiton Moses «A Fraternidade (dos Rosa-Cruz), como ramo ativo da
Ordem verdadeira, morreu com Cagliostro, como a Franco-maçonaria (operativa) morreu com Wren; o
que ainda resta não é mais que a casca».” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 37/38
“...o Dr Franz Hartmann, quem desempenhou um papel importante - TIRAR FOTO PAGINAS 39 a
41
“Os teosofistas consideram os «Adeptos» como homens vivos, mas homens que desenvolveram
neles faculdades e poderes que podem parecer sobre-humanos: tal é, por exemplo, a possibilidade de
conhecer os pensamentos alheios e de comunicar-se direta e instantaneamente, por «telegrafia
psíquica», com outros Adeptos ou com seus discípulos, em qualquer lugar que se encontrem, e a de
transportar-se eles mesmos, em sua forma «astral», não só de uma extremidade a outra da terra, mas
490
também a outros planetas. Mas não basta saber que a ideia de seus «Mahâtmâs» fazem os teosofistas,
e inclusive não é isso o que mais importa; mais que nada, e sobretudo, seria mister saber a que
corresponde tudo isso na realidade. Com efeito, embora se tenha feito um uso muito amplo da fraude e
do engano, e já mostramos que assim foi, ainda não se disse tudo a respeito destes personagens
fantásticos, já que há muito poucas imposturas que não se apoiem sobre uma imitação ou, se se preferir,
sobre uma deformação da realidade, e, pelo resto, é a mescla do verdadeiro e do falso o que, quando se
faz habilmente, faz-as mais perigosas e mais difíceis de desmascarar. A célebre mistificação de Léo
Taxil proporcionaria a respeito, toda uma série de exemplos extremamente instrutivos, e há nisso uma
aproximação que apresenta bastante naturalmente ao pensamento, posto que, assim como Léo Taxil
acabou por declarar que tinha inventado tudo, Mme Blavatsky fez o mesmo, embora menos
publicamente, em alguns momentos de cólera e desânimo. Não só disse em uma de suas últimas obras
que a acusação de ter imaginado os «Mahâtmâs» e seus ensinamentos, longe de prejudicá-la, honrou
extremamente a sua inteligência, o que, ademais, é contestável, e «que ela chegou quase a preferir que
não se acredite nos Mestres», mas sim também, no que concerne aos «fenômenos», encontramos sob a
caneta de Olcott esta declaração muito clara: «Em certos dias, encontrava-se em tal disposição que
ficava a negar os poderes mesmos dos quais nos tinha dado as máximas provas cuidadosamente
215
controladas por nós; então pretendia que tinha enganado a seu público!» . E Olcott se perguntava a
este respeito: «se não terá querido às vezes zombar de seus próprios amigos»; é muito possível, mas era
quando lhes mostrava «fenômenos» quando se zombava deles, ou quando pretendia que os
«fenômenos» eram falsos?
“Seja como for, as negações de Mme Blavatsky acabaram ultrapassando o círculo de seus
próximos, pois um dia escreveu isto a seu compatriota Solovioff: «Direi e publicarei no Times e em todos
os periódicos que o «Mestre» (Morya) e o «Mahâtmâ Koot Hoomi» são só o produto de minha própria
imaginação, que eu os inventei, que os fenômenos são mais ou menos aparições espiritualistas, e terei a
216
vinte milhões de espíritas detrás de mim» .” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 52/53
“Tudo o que quisemos mostrar, é que Mme Blavatsky atribuiu simplesmente aos «Mahâtmâs» o
que sabia ou acreditava saber sobre o tema dos «Mestres»; nisto cometeu alguns enganos, e chegou a
tomar ao pé da letra relatos que eram, sobretudo simbólicos; mas não teve que fazer grandes esforços
de imaginação para compor o retrato desses personagens, aos quais relegou finalmente a uma região
inacessível do Tibet a fim de fazer impossível toda verificação. Assim, ultrapassava toda medida quando
escrevia a Solovioff a frase que citamos mais atrás, já que o tipo segundo o qual tinha concebido aos
«Mahâtmâs» não era em modo algum de sua invenção; só o tinha deformado com sua compreensão
imperfeita, e porque sua atenção estava voltada, sobretudo para o lado dos «fenômenos», que as
associações iniciáticas sérias consideraram sempre, ao contrário, como uma coisa muito desdenhável;
além disso, mais ou menos voluntariamente, estabelecia uma confusão entre os «Mahâtmâs» e seus
verdadeiros inspiradores ocultos, que, certamente, não possuíam nenhum dos caracteres que ela lhes
emprestava assim gratuitamente. Posteriormente, por toda parte onde os teosofistas encontraram
alguma alusão aos «Mestres», no rosicrucianismo ou onde fosse, e por toda parte onde encontraram
algo análogo no pouco que puderam conhecer das tradições orientais, pretenderam que se tratava dos
Mahâtmâs e de sua «Grande Loja Branca»; isso é propriamente inverter a ordem natural das coisas,
pois é evidente que a cópia não pode ser anterior ao modelo.” René Guénon - O Teosofismo, História
de uma Pseudo-Religião, p. 57
215
Extraído de Old Diary Leaves, reproduzido em Lotus Blue, 27 de novembro de 1895, p. 418.
216
Carta de fevereiro de 1886.
491
“...a Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres, cuja atenção tinha sido atraída pela
propaganda que a Sociedade Teosófica fez há pouco tempo por toda parte na Europa, tinha nomeado
uma comissão para estudar a natureza dos «fenômenos» de Mme Blavatsky. Delegado por esta
comissão, o Dr Richard Hodgson se deslocou a Adyar; chegou ali em novembro de 1884, e fez uma
minuciosa investigação que durou até abril de 1885. O resultado foi um longo relatório no qual se expôs
em detalhe todos os «truques» empregados por Mme Blavatsky, e que terminavam com esta conclusão
formal: «que não é a porta-voz de videntes que o público ignora, nenhuma aventureira vulgar, mas sim
conquistou seu lugar na história como um dos impostores mais completos, mais engenhosos e mais
interessantes, cujo nome merece passar à posteridade». Este relatório não foi publicado mais que em
dezembro de 1885, depois de ter sido cuidadosamente examinado pela Sociedade de Investigações
Psíquicas, que declarou, por conseguinte a Mme Blavatsky «culpada de uma combinação longamente
continuada com outras pessoas, com o fim de produzir, por meios ordinários, uma série de aparentes
maravilhas para o sustento do movimento teosófico». Este novo litígio teve muito maior ressonância que
os precedentes: não só provocou muito mais demissões em Londres, mas também logo foi conhecido
fora da Inglaterra, e, junto com outros incidentes que contaremos mais adiante, foi para o ramo de Paris
a causa de uma ruína quase completa.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião,
p. 65/66
492
“Já citamos mais atrás o caso de Bavadjî, levado pela sugestão hipnótica a fazer-se cúmplice das
fraudes de Mme Blavatsky, e isto de uma maneira inconsciente, ao menos enquanto que esteve em
Adyar. O mais frequentemente, entretanto, Mme Blavatsky usava da sugestão no estado de vigília,
como se vê na anedota contada por Arthur Amould; este gênero de sugestão é habitualmente mais difícil
de realizar que o outro e requer uma força de vontade e um treinamento muito maiores, mas era
facilitado geralmente pelo regime alimentar muito restrito que Mme Blavatsky impunha a seus
discípulos sob o pretexto de «espiritualizá-los». É já desta maneira como as coisas passavam em Nova
Iorque: «Nossos teósofos, dizia, estão obrigados em geral, não só a não tomar uma gota de bebida, mas
também a jejuar continuamente. Eu ensino a não comer nada; se não morrerem, aprenderão; mas não
podem resistir, o que é tão melhor para eles». Não há que se dizer que Mme Blavatsky mesma estava
longe de se aplicar um regime semelhante: ao mesmo tempo em que recomendava energicamente o
vegetarianismo e que lhe proclamava inclusive indispensável para o «desenvolvimento espiritual», não
lhe adotou nunca para si mesma, nem tampouco o fez Olcott; além disso, tinha o hábito de fumar
quase sem interrupção da manhã até a noite. Mas nem todo mundo é igualmente acessível à sugestão;
e, provavelmente, quando se sentia impotente para provocar alucinações da vista e do ouvido, era
quando recorria aos «Mahâtmâs de musselina» e a sua campainha de prata.” René Guénon - O
Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 84/85
“A atração que exercia Mme Blavatsky é tão mais surpreendente quanto que seu aspecto físico
estava muito longe de ser agradável; W. T. Stead há dito inclusive que era «horrivelmente feia,
monstruosamente grossa, com maneiras grosseiras e violentas, um caráter horrível e uma língua
profana», e também que era «cínica, zombadora, insensata, apaixonada», em uma palavra que era
«tudo o que um hierofante dos mistérios divinos não deve ser». Apesar disso, sua ação magnética é
inegável, e se encontra também uma prova surpreendente disso na influência que exerceu
imediatamente sobre Mme Annie Besant quando esta foi apresentada, em 1889, pelo socialista Herbert
Burrows. A indômita livre-pensadora que tinha sido até então - a futura presidenta da Sociedade
Teosófica - foi conquistada desde a primeira entrevista, e sua «conversão» foi tão repentina que apenas
se poderia acreditar, se ela mesma não tivesse contado todas as circunstâncias com uma ingenuidade
verdadeiramente desconcertante. É certo que Mme Besant parece ter sido, naquela época ao menos,
particularmente volúvel e impressionável; um de seus antigos amigos há dito: «Não tem o dom da
originalidade; está a mercê de suas emoções e especialmente de seus últimos amigos». Assim, muito
provavelmente, era de boa fé ao começo, talvez inclusive enquanto viveu Mme Blavatsky, que fez dela
sua secretária e que, no curso de uma viagem ao Fontainebleau, fez aparecer ante ela ao «Mahâtmâ»
Morya.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 85
“Em 1887 apareceu igualmente a primeira revista teosofista francesa, chamada Le Lotus, que,
desprovida de caráter oficial, fez prova de uma certa independência; esta revista cessou sua publicação
ao cabo de dois anos, em março de 1889, e seu diretor, F. K. Gaboriau, expressou-se então muito
severamente sobre o que chamava o «caso patológico» de Mme Blavatsky, e confessou que havia sido
enganado inteiramente quando a tinha visto em Ostende em novembro de 1886, «refutando com
habilidade maravilhosa, que nós tomávamos então por sinceridade, todos os ataques dirigidos contra
ela, desnaturalizando as coisas, fazendo dizer às pessoas palavras que muito tempo depois
reconhecemos errôneas; resumindo, nos oferecendo durante os oito dias que permanecemos na solidão
com ela, o tipo perfeito da inocência, do ser superior, bom, devoto, pobre e caluniado... Como eu me
inclino mais a defender que a acusar, foram-me necessárias provas indubitáveis da duplicidade desta
pessoa extraordinária, para afirmar o que afirmei aqui». Segue um julgamento pouco adulador sobre “A
Doutrina Secreta”, que acabava de aparecer: «É uma vasta enciclopédia sem ordem, com um índice de
493
matérias inexato e incompleto, de tudo o que se agita há uma dezena de anos no cérebro de Mme
Blavatsky... M. Subba Rao, que devia corrigir “A Doutrina Secreta”, renunciou a isso declarando que era
“um barulho inextrincável”... Certamente, esse livro não poderia provar a existência dos Mahâtmâs, e
faria mais bem duvidar dela... Prefiro acreditar que os Adeptos do Tibet não existem em outra parte que
nos Dialogues philosophiques de M. Renan, que já antes de Mme Blavatsky e de M. Olcott, tinha
inventado uma fábrica de Mahâtmâs no centro da Ásia sob o nome de Asgaard, e redigido conversações
ao estilo de Koot Hoomi antes da manifestação deste». René Guénon - O Teosofismo, História de uma
Pseudo-Religião, p. 88/89
“... O Dr Cowes respondeu publicando um artigo no que fazia saber que as pretensas revelações
dos «Mahâtmâs», às que se atribuía agora a inspiração do “Isis Sem Véu” assim como a da “Doutrina
Secreta”, tinham sido tiradas grande parte, no que concerne ao menos à primeira dessas duas obras, de
livros e manuscritos legados a Mme Blavatsky pelo barão de Palmes; e fazia observar que o que teria
devido servir de indício, é que um dos autores mais frequentemente citados nessas comunicações
supostamente vindas do Tibet, era o ocultista francês Eliphas Levi. O barão do Palmes tinha morrido
em Nova lorque em 1876, legando à Sociedade Teosófica tudo o que possuía; Sinnett pretendeu que,
fora de sua biblioteca, não tinha deixado absolutamente nada; entretanto, Mme Blavatsky escrevia em
julho de 1876: «deixou toda sua propriedade à nossa Sociedade», e em 05 de outubro seguinte: «A
propriedade consiste em uma boa quantidade de ricas minas de prata e dezessete mil acres de terra».
Sem dúvida, não eram bens desdenháveis; mas em todo caso, o que parece melhor estabelecido, é que
o conteúdo da biblioteca foi amplamente utilizado para a redação de “Isis Sem Véu”, que devia
aparecer no ano seguinte. As divulgações do Dr. Cowes tiveram alguma ressonância na América do
Norte, sobretudo por causa da personalidade de seu autor; assim, Judge acreditou seu dever
empreender um processo contra este e contra o periódico onde tinha aparecido seu artigo, por
«calúnias contra a honra dos fundadores da Sociedade»; de resto, este processo não teve continuidade,
pois foi abandonado no momento da morte de Mme Blavatsky, em cujo nome tinha sido empreendido.
Esta última tinha tomado como pretexto este assunto para dirigir aos membros do ramo francês, em 23
de setembro de 1890, uma longa carta em que, queixando de que «calúnias» semelhantes se
difundiram também em Londres, declarava que seus «inimigos pessoais» eram ajudados por «um
membro dos mais ativos da sociedade francesa», o qual não era outro que Papus, que tinha
«atravessado uma ou duas vezes a Mancha com esta finalidade honorável», adicionava que sua
paciência tinha chegado ao limite, e ameaçava levar ante os tribunais a tudo o que se permitisse em
adiante elevar contra ela tais acusações.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 91/93
494
tratados sobre Kabala e Hermetismo.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião,
p. 97
...Olcott e outros colaboraram na redação de “Isis Sem Véu”, do mesmo modo que, mais
adiante, Subba Rao e outros colaboraram na “Doutrina Secreta”; essa é uma explicação muito simples
das variações de estilo que se observam nestas obras, e que os teosofistas atribuem a passagens
ditadas por «Mestres» diferentes. A este propósito, contou-se inclusive que Mme Blavatsky encontrava
às vezes, quando despertava, vinte ou trinta páginas de uma escritura diferente da sua, que era a
continuação do que tinha redigido na véspera; ademais, não respondemos este fato em si mesmo, pois é
perfeitamente possível que tenha sido sonâmbula e que escrevesse realmente durante a noite o que
encontrava assim pela manhã; os casos deste gênero são inclusive bastante comuns como para que não
haja lugar a maravilhar-se por isso. Ademais, o sonambulismo natural e a mediunidade andam bastante
frequentemente juntos, e já explicamos que as fraudes devidamente constatadas de Mme Blavatsky não
obrigavam a lhe negar forçosamente toda faculdade mediúnica. Assim, podemos admitir que
desempenhasse às vezes o papel de «médium escritor», mas, como ocorre muito frequentemente em
semelhante caso, o que ela escrevia então não era em suma mais que o reflexo de seus próprios
pensamentos e dos de seu entorno.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p.
98/99
“No que concerne à procedência dos livros dos que Mme Blavatsky se servia em Nova Iorque, e
dos que alguns podiam ser bastante difíceis de encontrar, sabemos por Mme Emma Hardinge-Britten,
antiga membro da primeira Sociedade Teosófíca, e membro também da H. B. of L. que, «com o dinheiro
da Sociedade, Mme Blavatsky comprou e guardou, em sua qualidade de bibliotecária, muitos livros
estranhos cujo conteúdo apareceu em “Isis Sem Véu”. Por outro lado, vimos que herdou a biblioteca do
barão de Palmes, e que esta biblioteca continha em particular manuscritos que tiveram o mesmo uso,
como o há dito o Dr. Cowes, e que compartilharam com as cartas de Swâmí Dayânanda Saraswatí a
honra de serem transformados ulteriormente em comunicações dos «Mahâtmâs». Emfím, Mme
Blavatsky tinha podido encontrar diversas resenhas nos papéis de Felt «nos livros dos que este se servia
para preparar suas conferências sobre magia e «Kabala Egípcia», documentos que lhe deixou quando
desapareceu; é ao Felt a quem parece dever-se a primeira idéia da teoria dos «elementais», que atribuía
bastante gratuitamente aos antigos egípcios.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 99/100
495
corrupção de “Mahat”; em outras ocasiões, fabricava-as com elementos tirados de línguas orientais
diferentes: encontram-se assim compostos metade sânscritos e metade tibetanos ou mongóis, como
«dêvachan», em lugar do sânscrito «dêva-loka», ou também «Dhyan-Chohan», por Dhyâni-Bouddha».
Ademais, de uma maneira geral, esses termos orientais, empregados um pouco sem tom nem som, não
servem quase sempre mais que para disfarçar concepções puramente ocidentais: no fundo, não estão aí
mais que para desempenhar um papel análogo ao dos «fenômenos», quer dizer, para atrair a uma
clientela que se deixa impressionar facilmente pelas aparências, e é por isto que os teosofistas não
poderão renunciar nunca completamente a eles. Com efeito, há muitas pessoas que são seduzidas pelo
exotismo, inclusive da qualidade mais medíocre, e que, ademais, são perfeitamente incapazes de
verificar seu valor. Um «esnobismo» deste gênero não é estranho ao êxito do teosofismo em alguns
meios.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 99/100
As Estâncias de Dzyan
“Adicionaremos ainda uma palavra mais no que concerne especialmente à origem dos textos
tibetanos supostamente muito secretos que Mme citou em suas obras, concretamente as famosas
217
Estâncias de Dzyan , incorporadas à “Doutrina Secreta”, e à “Voz do Silêncio”. Estes textos contêm
muitas passagens que são manifestamente «interpoladas» ou inclusive inventadas, e outras que
foram ao menos «arrumadas» para acomodá-las às idéias teosofistas; quanto a suas partes autênticas,
estão tomadas simplesmente de uma tradução de fragmentos do Kangyur ou Tengyur (Kanjur ou
Tanjur), publicada em 1836, no volume XX das “Asiatic Researchs” de Calcutá, por Alexandre Csoma de
218
Koros . Este, que era de origem húngara, e que se fazia chamar Scander-Beg, era uma pessoa original
que tinha viajado durante muito tempo pela Ásia Central a fim de descobrir, pela comparação das
línguas, a tribo da qual tinha saído sua nação.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 101/102
217
Dzyan deve ser uma corrupção de uma palavra sânscrita, ou jnana, conhecimento, ou dhyana,
contemplação; a mesma Blavatsky tinha indicado estas duas derivações (a primeira em Lotus de
dezembro de 1887 e a segunda na introdução da “Doutrina Secreta”), sem que ao parecer se apercebera
de sua incompatibilidade.
218
"Do Kanjur e do Tanjur, Alexandre Csoma de Koros publicou uma análise e traduziu alguns
fragmentos no volume XX dos "Asiatic Researches", Calcutá, 1836, e daqui a famosa Mme. Blavatsky
plagiou, por azar, uma boa parte desta "teosofia" que pretende haver recebido por telepatia de estilitas
ocultos no coração do Tibet, sem dúvida não longe da "Asgaard" de Renán (ver “Dialogues et
Fragments”, Paris, 1876)" (Augustin Chaboseau, “Essai sur la Philosophie Bouddhique”, p. 97). Citemos
também este outro extrato da mesma obra, que define perfeitamente o “sincretismo” teosofista: "Estes
(os fundadores da Sociedade Teosófica), apelando para as reminiscências de numerosas leituras, mas
apressadas e mal entendidas, apropriando-se da substância de tantos livros esquecidos ou pouco
conhecidos, plagiando à bondade de Deus os sistemas religiosos, as doutrinas filosóficas e as teorias
científicas a medida que se ofereciam a seu pensamento, tem elaborado compilações nas que se acham
fragmentos de Vedantismo, pedaços de Taoísmo, fragmentos de Egipcianismo, amostras de Mazdeísmo,
pedaços de Cristianismo, relevos de Brahmanismo, brisas de Gnosticismo, detritos de Cabala hebraica,
ninharias de Paracelso, de Darwin e de Platão, migalhas de Swedenborg e de Hegel, de Schopenhauer e
de Spinoza, e tem propagado isto por todos os continentes, afirmando que tal era o Esoterismo Búdico...
a escola teosofista, apesar de suas perpétuas contradições, de seus fidedignos erros, de seus provados
descaramentos, lhe tem bastado um momento para erigir-se em reveladora de toda coisa oculta, em
dispensadora de todos os "poderes latentes", em construtora da última síntese" (Prólogo, pp. 9-10).
496
“Do amálgama de todos esses elementos heterogêneos que acabamos de indicar saíram as
grandes obras de Mme Blavatsky, “Isis Sem Véu” e “A Doutrina Secreta”; e estas obras foram o que
deviam ser normalmente em semelhantes condições: compilações indigestas e sem ordem; verdadeiros
caos onde alguns documentos interessantes estão afogados em meio de um amontoado de asserções
sem nenhum valor; certamente, seria perder o tempo procurar aí dentro o que pode ser encontrar muito
mais facilmente em outras partes. De resto, abundam os enganos e as contradições, que são tais que as
opiniões mais opostas poderiam encontrar aí sua satisfação: por exemplo, diz-se sucessivamente que há
um Deus, depois que não o há; que o «Nirvana» é uma aniquilação, e depois que é justamente o
contrário; que a metempsicose é um fato, depois que é uma ficção; que o vegetarianismo é indispensável
para o «desenvolvimento psíquico», depois que é sim plesmente útil, e assim com todo o resto. Mas tudo
isto se compreende sem muito esforço, já que, além de que as ideias de Mme Blavatsky variaram
certamente em uma medida muito ampla, escrevia com uma rapidez prodigiosa, sem referir-se nunca às
fontes, nem, provavelmente, ao que ela mesma já tinha escrito. Entretanto, é esta obra tão defeituosa a
que formou sempre o fundo do ensino teosofista, e apesar de tudo o que pôde vir a adicionar-se ou a
sobrepor-se a ela depois, e inclusive das correções que lhe puderam fazer sofrer sob a coberta da
«interpretação», goza sempre, na Sociedade, de uma autoridade incontestada, e, se não conter a
doutrina toda inteira, contém ao menos os princípios fundamentais, se é que se pode falar de doutrina e
de princípios quando se está em presença de um conjunto tão incoerente.” René Guénon - O
Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 102/103
“Se se considerar em seu conjunto a suposta doutrina teosofista, percebe-se imediatamente que o
que constitui seu ponto central, é a ideia de «evolução». Pois bem, esta ideia é absolutamente estranha
para os Orientais, e, inclusive no Ocidente, é de data muito recente. Com efeito, a ideia mesma de
«progresso», da qual a ideia de «evolução» não é mais que uma forma mais ou menos complicada por
considerações que se pretendem «científicas», não se remonta apenas além da segunda metade do
século XVIII, tendo sido seus verdadeiros promotores Turgot e Condorcet; assim, não há necessidade de
remontar-se muito longe para encontrar a origem histórica desta ideia, que, por efeito de seus hábitos
mentais, tantas pessoas chegaram a acreditar essencial ao espírito humano, enquanto, entretanto, a
219
maior parte da humanidade continua ignorando-a ou sem tê-la em conta . Daí resulta imediatamente
uma conclusão muito clara: desde que os teosofistas são «evolucionistas» (e o são até o ponto de
admitir inclusive o transformismo, que é o aspecto mais grosseiro do evolucionismo, embora se apartem
219
Guenon escreve isto em 1921.
497
em alguns pontos da teoria darwiniana), não são o que pretendem ser, e seu sistema não pode «ter por
base a mais antiga filosofia do mundo». Sem dúvida os teosofistas estão longe de ser os únicos em
tomar como uma «lei» que não é mais que uma simples hipótese, e inclusive a nosso juízo, uma hipótese
muito banal; toda sua originalidade consiste aqui em apresentar esta pretensa lei como um dado
tradicional quando seria justamente o contrário. Ademais, não se vê muito bem como a crença no
progresso pode conciliar-se com a filiação a uma «doutrina arcaica» (a expressão é de Mme Blavatsky):
para qualquer um que admita a evolução, a doutrina mais moderna deveria ser, logicamente, a mais
perfeita; mas os teosofistas, que não vêêm nisso nenhuma contradição, nem sequer parecem conceber a
questão.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 113/114
“Não nos deteremos muito na história fantástica da evolução da humanidade, tal como a
descrevem os teosofistas: sete «raças mães» se sucedem no curso de um «período mundial», quer dizer,
enquanto a «onda de vida» permanece em um mesmo planeta; cada «raça» compreende sete «sub-
raças», das quais cada uma se divide por sua vez em sete «ramos». Por outro lado, a «onda de vida»
percorre sucessivamente sete globos em uma «ronda», e esta «ronda» se repete sete Vezes em uma
mesma «cadeia planetária», depois da qual a «onda de vida» passa a outra «cadeia», composta
igualmente de sete planetas, e que será percorrida por sua vez sete vezes; há assim sete «cadeias» em
um «sistema pla-netário», chamado também «empresa de evolução», e, finalmente, nosso sistema solar
está formado por dez «sistemas planetários»; ademais, há alguma flutuação sobre este último ponto.
Nós estamos, atualmente, na quinta «raça» de nosso «período mundial», e na quarta «ronda» da
«cadeia» da qual faz parte a Terra, e na qual ocupa a quarta fila; esta «cadeia» é igualmente a quarta
de nosso «sistema planetário», e compreende, como já o indicamos, outros dois planetas físicos, Marte e
Mercúrio, mais quatro globos que são invisíveis e que pertencem a «planos superiores»; a «cadeia»
precedente é chamada «cadeia lunar», porque é representada no «plano físico» só pela Lua. Ademais,
alguns teosofistas interpretam estes dados de uma maneira bastante diferente, e pretendem que tudo
isto não se trata mais que de estados diversos e de «encarnações» sucessivas da Terra mesma, e que os
nomes dos outros planetas não são aqui mais que designações puramente simbólicas; estas coisas são
verdadeiramente muito obscuras, e não acabaríamos com elas se quiséssemos fazer notar todas as
asserções contraditórias às quais deram lugar. É mister adicionar também que há sete «reinos», que
são três reinos «elementares», mais os reinos mineral, vegetal, animal e humano, e que, ao passar de
uma «cadeia» a seguinte, os seres de um destes reinos passam em geral ao reino imediatamente
superior; com efeito, são sempre os mesmos seres os que se supõe que cumprem sua evolução mediante
múltiplas encarnações no curso dos diferentes períodos que acabamos de enumerar.” René Guénon - O
Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 114/115
“As cifras que se indicam para a duração desses períodos não são menos inverossímeis que todo
o resto: assim, segundo a “Doutrina Secreta”, a aparição do homem sobre a Terra na quarta «ronda»,
remonta-se a dezoito milhões de anos, e faz trezentos milhões que a «onda de vida» alcançou nosso
globo na primeira «ronda». É certo que é muito menos afirmativo hoje a este respeito do que era no
começo; M. Leadbeater chegou a declarar inclusive que «ignoramos se todas as rondas e todos os
períodos raciais têm uma longitude igual», e que, ademais «é inútil procurar avaliar em anos esses
enormes períodos de tempo». No que concerne aos períodos mais restritos, Sinnett afirmou que «a atual
raça da humanidade, a quinta raça da quarta ronda, começou a evoluir faz um milhão de anos», e que
este é «um número verdadeiro, que se pode tomar ao pé da letra» (sublinhado por ele mesmo) ; por
outro lado, segundo os autores das «Vidas d’Alcyone», às quais já tivemos feito alusão, «a fundação da
quinta raça se remonta ao ano 79997 antes de Jesus Cristo»; esta última afirmação, que é de uma
precisão surpreendente, quase não parece poder conciliar-se com a precedente, e, verdadeiramente, não
498
vale a pena zombar de sábios que, sem dúvida, não ficam mais de acordo na avaliação da duração dos
períodos geológicos, mas que, ao menos, não apresentam seus cálculos senão como puramente
hipotéticos. Aqui, ao contrário, estamos frente a pessoas que pretendem estar em medida de verificar
diretamente suas asserções, e ter ao seu dispor, para reconstituir a história das raças desaparecidas os
«arquivos âkâshicos», quer dizer, as imagens mesmas dos acontecimentos passados, registrados
fielmente e de uma maneira indelével na «atmosfera invisível» da terra.”
“As concepções que acabamos de resumir não são, no fundo, mais que uma absurda caricatura
da teoria hindu dos ciclos cósmicos; esta é, na realidade, completamente diferente e, bem entendido,
não tem nada de evolucionista; além disso, os números que se referem a ela são essencialmente
simbólicos, e tomá-los literalmente por números de anos não pode ser mais que o efeito de uma
ignorância grosseira, da qual, ademais, os teosofistas não são os únicos em dar provas; podemos dizer
inclusive, sem insistir mais nisso, que esta teoria é uma daquelas cuja verdadeira significação é mais
dificilmente acessível aos ocidentais em geral.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 115/116
“Em todo caso, a exposição que acabamos de dar, por sucinta que seja, parece-nos suficiente
para mostrar a pouca seriedade da suposta doutrina teosofista, e sobretudo para estabelecer que,
apesar de suas pretensões, não se apoia sobre nenhuma base tradicional verdadeira. Simplesmente,
deve-se colocá-la ao lado do espiritismo e das diversas escolas de ocultismo, com as quais tem um
evidente parentesco, nesse conjunto de produções extravagantes da mentalidade contemporânea, ao
qual se pode dar a denominação geral de «neo-espiritualismo». A maioria dos ocultistas lhes agrada
aderir-se também a uma «tradição ocidental», que é tão completamente fantasiosa como a «tradição
oriental» dos teosofistas, e que está formada igualmente por um amálgama de elementos
desatinados. Uma coisa é procurar o fundo idêntico que em muitos casos, pode dissimular-se muito
realmente sob a diversidade de forma das tradições de povos diferentes, e outra é fabricar uma pseudo-
tradição tomando de uns e outros farrapos mais ou menos disformes e juntando quão bem mal, mais
mal que bem, sobretudo quando não se compreendem verdadeiramente nem seu alcance nem sua
significação, o que é o caso em todas estas escolas.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma
Pseudo-Religião, p. 125/126
“Um inconveniente de outra ordem, que é especial do teosofismo, em razão das pretensões
particulares de que faz ornamento neste aspecto, é que, pela confusão que cria e que mantém,
desacredita o estudo das doutrinas orientais e afasta delas muitos espíritos sérios; e também, por
outra parte, dá aos orientais a ideia mais odiosa da intelectualidade ocidental, da qual os teosofistas
lhes aparecem como tristes representantes, e não porque sejamos únicos em dar prova de uma
incompreensão total a respeito de algumas coisas, mas sim porque as aparências de «iniciados» que
querem dar-se fazem essa incompreensão mais chocante e mais indesculpável. Nunca insistiremos muito
sobre o ponto de que o teosofismo não representa absolutamente nada quanto ao pensamento
oriental autêntico, e é deplorável ver com quanta facilidade os ocidentais, devido à ignorância completa
que têm geralmente deste, deixam-se enganar por enganadores audazes; isto lhes ocorre inclusive a
orientalistas profissionais, cuja competência, é preciso dizê-lo, não transborda apenas o domínio da
linguística ou da arqueologia. Quanto a nós, se formos tão afirmativos sobre este tema, é porque o
estudo direto que temos feito das verdadeiras doutrinas orientais, dá-nos o direito a sê-lo; e, além
disso, sabemos muito exatamente o que se pensa do teosofismo na Índia, onde não teve nunca o
menor êxito fora dos meios ingleses ou anglófilos; a mentalidade ocidental atual é a única suscetível de
acolher com favor produções deste gênero. Já havemos dito que os verdadeiros hindus, quando lhe
conhecem, têm pelo teosofismo um profundo desprezo; e os líderes da Sociedade Teosófica sabem tão
bem que, nos escritórios que sua organização possui na Índia, não é possível obter nenhum de seus
499
tratados de inspiração supostamente oriental, assim como tampouco as ridículas traduções que têm
feito de alguns textos, mas sim só obras relativas ao cristianismo. Assim, na Índia, o teosofismo é
considerado usualmente como uma seita protestante de caráter um pouco particular, e é mister
reconhecer que, hoje em dia ao menos, tem todas as suas aparências: tendências «moralizantes» cada
vez mas acentuadas e exclusivas, hostilidade sistemática contra todas as instituições tradicionais
hindus, propaganda britânica exercida sob o disfarce de obras de caridade e de mas os capítulos
seguintes farão compreender isto muito melhor.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 126/128
500
pela de Leadbeater. Este último estava ameaçado de procedimentos judiciais. Um dos jovens de sua
convivência veio a mim desesperado e me suplicou que tentasse impedir essas diligências, pois teria
sido obrigado a dar testemunho das práticas imorais de Leadbeater. O procedimento não teve lugar...
Em 1914, Leadbeater se estabeleceu conosco em Sydney. Aceitei sua opinião, que era também a da
senhora, e o considerei como um Arhat, submeti-me voluntariamente a sua influência e desempenhei
com alegria todos seus projetos. Continuando, muitas coisas me assombraram nele... Por exemplo, certo
dia do mês de julho de 1917, disse a cinco de nós que tínhamos recebido distintas iniciações. Ninguém
recordava nada... Nesta época, Mme. Martyn sofria muito pela estadia de Leadbeater em nosso
domicílio... Mais tarde (1918-1919), houve um surto de febre escarlatina em casa, que foi a causa da
momentânea partida de Leadbeater e de seus moços; todos os meus esforços de persuasão não
bastaram para induzir a Mme. Martyn a reabrir nosso lar... Em 1919 eu estava na América. O jovem Van
Hook se encontrava em Nova Iorque. Falava livremente da imoralidade de Leadbeater e da tolice das
‘vidas’ (trata-se das famosas “Vidas de Alcione”). Já temos pois os testemunhos de dois jovens a
respeito de Leadbeater, o daquele que encontrei em 1906 e o do jovem Van Hook; se a eles acrescento os
comprometedores fatos ocorridos em minha casa (e não faço mais que esboçar o tema nesta carta),
uma conclusão se impõe: Leadbeater é um pervertido sexual. Sua mania reveste uma forma particular
que não tenho descoberto senão recentemente, mas que é muito conhecida e muito comum nos anais da
criminologia sexual”.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 249/250
Teosofismo e Maçonaria
“Por outro lado, se nos colocarmos no ponto de vista histórico, é muito cômodo, e também muito
simples, falar da Maçonaria em geral como de uma espécie de entidade indivisível; a realidade é que as
coisas são muito mais complicadas, e, aí como quando se trata do Rosacrucianismo (coisa que já temos
feito observar precedentemente a propósito deste último), sempre é mister saber fazer as distinções
necessárias e dizer de que Maçonaria se quer falar, qualquer que seja, ademais, a opinião que se possa
ter sobre as relações ou a ausência delas das diversas Maçonarias entre si. É por isso, pelo que cuidamos
de precisar que o que dizíamos faz um momento não concerne mais que à Maçonaria «regular»; com
efeito, o caso é muito diferente se se considerar a Maçonaria «irregular», muito menos conhecida pelo
grande público, e que compreende organizações muito variadas, algumas das quais estão
estreitamente ligadas ao ocultismo; em geral são agrupamentos ordinários, mas que se pretendem
muito superiores à Maçonaria ordinária, enquanto que esta, por sua parte, afeta tratá-las com o mais
profundo menosprezo, chegando a considerá-las inclusive como vulgares «falsificações».
Uma das figuras mais curiosas desta Maçonaria «irregular» foi o inglês John Yarker, que morreu
em 1913; autor de numerosas obras sobre a história e o simbolismo maçônico, professava sobre estes
temas idéias muito particulares, e sustentava, entre outras opiniões extravagantes, que «o Maçom
iniciado é sacerdote de todas as religiões». Criador ou renovador de vários ritos, estava vinculado ao
mesmo tempo a uma multidão de associações ocultas, com pretensões iniciáticas mais ou menos
justificadas; era concretamente membro honorário da Societas Rosicruciana in Anglia, cujos chefes
formavam parte igualmente de suas próprias organizações, pertencendo, não obstante, a essa
Maçonaria «regular» que ele mesmo tinha abandonado fazia muito tempo. Yarker tinha sido amigo de
Mazzini e de Garibaldi, e, em seu entorno, tinha conhecido antigamente a Mme Blavatsky; esta lhe
nomeou membro de honra da Sociedade Teosófica desde que a criou. Em troca, depois da publicação de
“Isis Sem Véu”, Yarker conferiu a Mme Blavatsky o grau de «Princesa Coroada», o mais elevado dos
graus «de adoção» (quer dizer, femininos), do Rito de Menfis e Misraím, do que ele mesmo se auto
titulava «Grande Hierofante». Estas cortesias recíprocas são de uso comum entre os chefes de
semelhantes agrupamentos; pode-se achar que o título de «Princesa Coroada» convinha muito mal à má
presença lendária de Mme Blavatsky, até o ponto de que parecia quase uma ironia; mas conhecemos
501
outras pessoas a quem lhes tinha conferido o mesmo título, e que não possuíam sequer a instrução mais
elementar. Yarker pretendia ter recebido de Garibaldi sua dignidade de «Grande Hierofante», mas a
legitimidade desta sucessão foi contestada sempre na Itália, onde existia outra organização do Rito de
Mênfis e Misraím, que se declarou independente da sua. Em seus últimos anos, Yarker teve como
principal auxiliar a um certo Theodor Reuss, de quem já falamos a propósito da «Ordem dos
Templários Orientais», da qual se instituiu chefe. Este Reuss, que se faz chamar agora Reuss-Willsson, é
um alemão estabelecido em Londres, onde, por espaço de muito tempo, desempenhou funções oficiais
na «Theosophical Publishing Company», e que, assim nos foi afirmado, não poderia voltar para seu país
sem expor-se a perseguições judiciais por certas indelicadezas cometidas anteriormente; isso não lhe
impediu de fundar, sem sair da Inglaterra, um suposto «Grande Oriente do Império da Alemanha», que
contou entre seus dignatários o Dr Franz Hartmann. Voltando para Yarker, devemos assinalar também
que este mesmo personagem constituiu um certo Rito Swedenborgiano, que, embora supostamente
«primitivo e original» (do mesmo modo que o Rito de Mênfís, por seu lado, titulava-se «antigo e
primitivo»), era tudo inteiramente de sua invenção, e não tinha nenhum vínculo com os ritos maçônicos
que, no século XVIII, inspiraram-se mais ou menos completamente nas idéias de Swedenborg, e entre os
quais se pode citar concretamente o rito dos «Iluminados Teósofos», estabelecido em Londres, em 1767,
Por Bénédict Chastanier, e o dos «Iluminados de Avignon», baseado pelo beneditino Dom A. J. Pernéty.
Ademais, é inteiramente certo que Swedenborg mesmo não tinha instituído nunca nenhum rito
maçônico, nem tampouco nenhuma Igreja, embora, por outro lado, exista atualmente uma «Igreja
Swedenborgiana», chamada «de Nova Jerusalém», e que é uma seita claramente protestante. No que
concerne ao Rito Swedenborgiano de Yarker, possuímos uma lista de seus dignatários, que data de
1897, ou, segundo a cronologia que é particular a este rito, de 7770 A. O. S. (Ab Origine Symbolismi),
nessa lista figura o nome do Coronel Olcott como representante do Conselho Supremo ante a Grande
Loja e Templo de Bombaim. Adicionamos que, em 1900, Papus tentou estabelecer na França uma
Grande Loja Swedenborgiana vinculada ao mesmo rito, tentativa que teve muito pouco êxito; Papus
tinha nomeado Yarker membro do Supremo Conselho da Ordem Martinista, e Yarker, por
reciprocidade, tinha-lhe feito um agrado, com o título de «Grande Marechal», no Supremo Conselho de
seu Rito Swedenborgiano.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 264/266
“Este pretenso «Congresso Nacional Hindu», é bom dizê-lo, foi criado pela administração inglesa
com a cooperação dos teosofistas, se não foi sob a inspiração destes, e isso em vida de Mme Blavatsky:
502
esta escreveu que esse Congresso era «um corpo político com o qual nossa Sociedade nada tem que
fazer, embora estivesse organizado por nossos membros indianos e anglo-indianos»; mas, no mesmo
artigo adicionava um pouco mais adiante: «Quando começou a agitação política, o Congresso Nacional
convocado foi modelado de acordo com nosso plano, e foi conduzido principalmente por nossos
membros que tinham servido como delegados na nossa Convenção». Até estes últimos tempos, esse
Congresso permaneceu submetido quase inteiramente à influência de Mme Besant; seu verdadeiro
objetivo era pôr um dique às aspirações à autonomia, lhes dando uma aparência de satisfação,
ademais, quase completamente ilusória.” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-
Religião, p. 314
“Uma nova prova do papel político de Mme. Besant é sua atitude hostil com respeito ao
movimento Anti-inglês de Gandhi; já vimos que ela declarou a adesão a este movimento como sendo
incompatível com a qualidade de membro da E. S. ou "seção esotérica"; e eis aqui o que ela mesma teria
escrito a este respeito: "Quando se mostrou o primeiro sinal do espírito de revolução na pequena
tentativa de desobediência civil conduzida por Gandhi em 1919, eu me elevei contra tal espírito, vendo
nele o destruidor da verdadeira liberdade, o inimigo do processo político, do ideal pelo qual tinha lutado
na Índia durante vinte e seis anos" (The Theosophist, março de 1922; tradução aparecida no “Bulletin
Théosophique” de abril de 1922). Em outras palavras, não pode haver para a Índia "progresso político"
nem "verdadeira liberdade" mais que sob a dominação britânica; não é isto levar o cinismo muito
longe?” René Guénon - O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião, p. 316
503
retorna à sua forma humana e caminha entre os homens com um único intuito: dar a
Resposta. Para eles, o jovem Krishnamurti era a reencarnação do Mestre que, antes
surgira no mundo no corpo de Krishna e de Jesus Cristo.
Foi organizada, portanto, uma “Igreja Católica Liberal” que deveria servir como
instrumento para Krishnamurti, o Cristo. Ao lado dela, Ordem da Estrela seria a
principal organização do Messias. A Sociedade Teosófica e a Escola Esotérica de Adyar
foram transformadas em instrumentos auxiliares do Advento. O catecismo do novo
Mestre deveria ser o pequeno livro “Aos Pés do Mestre”, escrito por Leadbeater, mas
apresentado ao público em 1910 como sendo resultado das instruções dadas por um
Mestre de Sabedoria ao seu discípulo Krishnamurti. Supostamente, o garoto teria feito
anotações dos ensinamentos do Mestre.
Mary Lutyens, íntima amiga de Jiddu Krishnamurti e autora das suas principais
biografias, relata que as supostas anotações feitas por Krishnamurti “desapareceram”.
O detalhe significativo é que os únicos originais disponíveis eram os datilografados por
C. W. Leadbeater.
“Na Sociedade Teosófica de Adyar, Annie Besant obteve poder político nos anos 1890
graças ao fato de abandonar o caminho estreito e íngreme que leva à verdade, e que foi
ensinado por Helena Blavatsky e os Mestres de Sabedoria. O bom senso foi deixado de lado e,
desde então, a lei do carma tem estado batendo na porta da Sociedade de Adyar com
intensidades variadas.”
220
http://www.filosofiaesoterica.com/ler.php?id=1030#.V_-i88n52ap
504
“Depois de diversas crises, que incluíram farsas messiânicas como um “retorno de
Cristo” e outros eventos ainda piores, o Sr. C. Jinarajadasa inaugurou em 1934 um ciclo
de 70 anos de relativa estabilidade, que trouxe a Sociedade de Adyar até 2004. Neste
ano, as batidas na porta ficaram outra vez mais fortes.”
“Foi em dezembro de 2003 que o Dr. John Algeo, enquanto ainda era vice-
presidente internacional de Adyar, publicou como autêntica uma coleção de
maledicências contra a Sra. Helena Blavatsky. Como agravante, tentou fazer o público
acreditar que se tratava de confissões escritas por H.P.B. O fato funcionou como um
acelerador cármico para o movimento todo...”
505
A Ordem Hermética da Aurora Dourada - Hermetic
Order of The Golden Dawn (1887)
O responsável pela criação da ordem foi Dr. William Wynn Westcott, Mestre
Maçon Secretário Geral da SRIA - Sociedade Rosacruciana em Anglia (Inglaterra) além
de médico legista, e sua origem é um tanto dúbia: a primeira versão diz que um
manuscrito cifrado foi entregue a Westcott, em 1887, pelo reverendo e maçom A.F.A.
Woodford que, por sua vez, disse ter recebido-o de um mercador. Westcott então
encarregou outro maçom e expert em ocultismo S.L.M.Mathers, para decifrá-lo com
base em uma chave encontrada em um livro do abade Johann Trithemius.
Entre o manuscrito, foi encontrado uma carta de uma velha soror alemã
chamada Anna Sprengel (Soror Sapiens Dominabitur Astris cuja tradução seria "O Sábio
Será Governado pelas Estrelas") que continha o seu endereço para aqueles que
conseguissem decifrar os documentos. Westcott então passou a manter contato com a
mulher que revelou-se uma iniciada em uma ordem secreta chamada Die Goldene
Dammerung, ou A Aurora Dourada, que o autorizou a abrir uma loja e deu-lhe plenos
poderes.
Na realidade Mathers, como já fizera notar Eliphas Lévi, vivia nas salas de leitura
de museus e bibliotecas. No Museu Britânico copiou uma quantidade enorme de
manuscritos sobre os ritos e a doutrina da magia. Copiou ainda muitos outros nas
bibliotecas do Continente. Mathers casou-se com Moira, irmã do filósofo Henri
Bergson, defensor do intuicionismo.
O seu desenvolvimento foi muito rápido: no mesmo ano foram erguidos mais
dois templos, o Templo de Osíris e o Templo de Hórus e passou a atrair várias pessoas
de destaque na sociedade inglesa como políticos, poetas e escritores. Logo depois da
fundação da ordem, Westcott anuncia a morte de Anna Sprengel. A estrutura da
506
ordem no início era resumida em estudos coletivos, palavras de passe e sinais secretos
e os graus baseados na Árvore da Vida.
507
A sociedade está dividida em 11 graus, divididos em três ordens. O esquema
relembra bem de perto a SRIA, e não por simples acaso, pois a Golden Dawn deriva
realmente dela.
Neóphyte (Neófito)
1. Zelator
1ª Ordem
2. Theoricus
da Aurora Dourada
Exterior 3. Practicus
4. Philosophus
2ª Ordem 5. Adeptus Minor
da Rosa Vermelha 6. Adeptus Major
e Cruz Dourada 7. Adeptus Exemptus
8. Magister Templi
3ª Ordem 9. Magus
10. Ipsissimus
A 3ª Ordem era reservada aos Chefes Secretos - ao que parece - não seres
humanos, mas entidades.
508
Símbolos da Rosa e da Cruz sobre o Compromisso no
Rolo de pergaminho da Segunda Ordem.
509
Thme em Boston, Themis na Filadélfia e Thoth-Hermes em Chicago. Em 1900 o último
templo, o de Hórus na Inglaterra.
Os Cismas.
Nos anais da Golden Dawn abundam os cismas, as excomunhões mútuas e até
mesmo cenas de violência, bem como os encantamentos por ódio. A contínua tensão
nervosa dos afiliados explica, razoavelmente, essas tempestades; e talvez, também, a
intervenção de “demônios hostis”.
510
Para piorar a situação, Aleister Crowley foi iniciado na segunda ordem com
apenas um ano como membro da ordem, causando revolta. Mathers enviou Crowley
para tomar posse dos pertences do ritual da segunda ordem e William Yeats expulsou
ambos da ordem e proclamou-se Imperator da Golden Dawn. Horniman foi reefetivada
mas outra cisão ocorreu com a formação de um grupo por Farr chamado Esfera,
dedicado a viagens astrais e contatos com os Chefes Secretos.
Em 1901, Mathers foi ludibriado (?) pelo casal de charlatões Senhor e Sra. Horos
que, de algum modo, convenceram-no de que ela era Annie Sprengel e roubaram
rituais de iniciação da ordem. Um erro muito comum que muitos biógrafos de Crowley
cometem, foi de que ele havia "matado" a Golden Dawn magicamente ao publicar seus
rituais no Equinócio. Eles foram publicados bem antes pelo casal Horos nos jornais
londrinos.
A Stella Matutina.
Retido na Grã-Bretanha, o Imperator Mac Gregor confiou a Aleister Crowley a
missão de restabelecer a ordem e a harmonia e, eventualmente, castigar os rebeldes,
principalmente Yeats, que presidia e urdia as intrigas. Disfarçado, com um kilt escocês,
brandindo uma espada de dois gumes, Crowley apareceu inesperadamente à porta do
templo, onde estava sendo realizada uma cerimônia. Afastou o guardião exterior,
penetrou no santuário e quis despojar Yeats de suas insígnias. Houve uma discussão e
em seguida uma luta. Ela determinou os encantamentos de morte, durante os quais -
segundo dizem - Crowley escapou de morrer. Consumou-se, então, a primeira cisão.
Foi então que W. B. Yeats criou uma nova associação iniciática, a Stella Matutina, que
logo após se dividiu em capelas rivais.
Dion Fortune.
Quando Mathers morreu em 1918, sua mulher Moira sucedeu-o na direção
daqueles que tinham permanecido fiéis ao seu marido. Entre eles encontrava-se uma
511
jovem - Violet Firth (Dion Fortune) - com quem, pouco depois começava a ter
problemas. Uma série de artigos seus na Revista do Oculto denunciavam uma série de
abusos que existiam no campo do ocultismo. Iniciou-se então uma verdadeira “guerra
no plano astral” entre as duas ocultistas. Para parar com a publicação, Moira Mathers
recorreu a “ataques astrais”. Dion Fortune percebeu posteriormente que do pescoço
até a cintura estava cheia de arranhões profundos, que pareciam feitos por um animal
com garras. Soube depois por amigos, que Moira era conhecida por este tipo de
“ataques no plano astral”. Em 1929, quando Netta Fornario foi encontrada morta por
colapso cardíaco numa ilha da Escócia, tendo aqueles arranhões característicos nas
costas, Dion Fortune não deixou de atribuir a morte dela a um ataque violento de
Moira Mathers.
Dion Fortune passou a dirigir, então, a Alpha Omega, uma capela da Stella
Matutina. Posteriormente fundou a associação dissidente A Luz Interior.
512
capítulos nos quais foi explanado o caso midiático de ‘Madame Horos’ e seu marido e
os diversos atentados contra a honra e bons costumes do período vitoriano de então.
Mesmo havendo veracidade nos crimes cometidos, foi inevitável que respingasse na
própria instituição e seus membros por culpa de seus maiores dirigentes, ‘MacGregor’
Mathers e William Westcott, respectivamente por atos despóticos, arbitrários, de
dependência financeira e até mesmo omissão.
Nas palavras de Gilbert:
“O presente livro pretende, simplesmente fornecer uma visão geral da Ordem e
contar sua história através das vidas e das ações (ou inércia) de seus membros. Se
parece que me concentrei em suas loucuras e erros, é porque a história da Ordem é, em
grande parte, uma história de loucuras e erros.”
Seguindo uma linha temporal bem organizada, Gilbert aborda após a introdução
do livro a possível origem mais acertada da ordem e a falibilidade documental dos
famosos ‘Manuscritos Cifrados’ tanto como da existência pouco crível de ‘Anna
Sprengel’ e as tais ‘correspondências’ que deram o ‘aval’ de construção da ‘filial’ em
solo britânico. No decorrer de todo o livro fica evidente as diversas omissões de
Westcott sobre a real origem da ordem e de tais documentos e personagens já
mencionados, atestando que não havia de modo algum (analisando fria e ceticamente
os fatos) uma origem mais antiga da instituição ou mesmo de seus ditos ‘Mestres
Secretos’, em páreo com o que Peter Whashington desmistificou (destruiu, para
alguns) a imagem, até então, ‘incólume’ de Blavatsky em seu livro e a falibilidade das
‘Estâncias de Dzyan’ e os ‘Mestres Ascensos’ do Oriente.
513
seus membros. A ordem também atraía membros da Sociedade Teosófica que estavam
desencantados com o dimensionamento oriental dos ensinamentos da Sociedade e
com a declarada impostura descoberta em Adyar, em 1885, durante a investigação
feita pela Sociedade de Pesquisa Psiquicas.” p. 27/28
“Na Nota de uma conversa com A. F. A. W., Woodford afirmava possuir “alguns
verdadeiros manuscritos Rosa-cruz cifrados, com uma completa série de graus”.
Woodford sugeriu a Westcott que, “algum dia, eu possa vir a dá-los, quem sabe, a
você. Não posso usá-los. A linguagem cifrada pode ser traduzida para o Inglês, porém
chegaram até a mim de um correspondente da França com o relato de que haviam
passado pelas mãos de Lévi e, de fato, uma folha solta entre eles tem uma nota com a
assinatura A. L. C.”. Mais tarde, ele deu os manuscritos para Westcott, enviando junto
esta extraordinária carta:
6 Liston Road,
Grafton Square Clapham Road. 8 de agosto de 1887
Prezado Dr. Westcott,
Junto a esta envio o manuscrito selado e cifrado que prometi. Confere àquele que
o possui e compreende, o entendimento dos antigos segredos Rosa-cruz e os graus de
Heoos chruse ou Aurora Dourada. Procure encontrar a velha Soror “Sapiens
dominabitur astris” na Alemanha. Ela morava em Ulm. Como Hockley já faleceu, não
conheço mais ninguém que possa ajudá-lo.
Sinceramente
A. F. A. Woodford
“Durante o transcurso dos dois anos seguintes, Westcott recebeu mais quatro
cartas — autorizando-o a assinar o moto de Fraulein Sprengel em seu lugar, enviando-
lhe mais manuscritos de modo a trabalhar com os níveis de adeptos, elogiando-o pelo
seu progresso e dando total independência aos três Chefes, junto a um certificado que
oficialmente conferia o Grau de 7 = 4 (Adeptus Exemptus) aos mesmos e que lhes
permitia trabalhar até os níveis 6 = 5 (Adeptus Major). A última carta da Alemanha não
514
foi da Soror S. D. A., mas do Frater ex Uno Disces Omnes, que escreveu em 23 de agosto
de 1890 para contar a Westcott que Anna Sprengel morrera e que os demais adeptos
alemães não haviam aprovado a fundação de Isis Urânia, e que nem voltariam a
escrever nem dariam mais ajuda. Mas, por essa época, mais dois templos haviam sido
fundados e a Aurora Dourada estava em plena atividade. Anna Sprengel fora de
grande utilidade para Westcott.
Entretanto, havia muita coisa suspeita tanto nas cartas quanto nos manuscritos
criptografados que, com o tempo, provaram ser uma corda no pescoço de Westcott. P.
33
515
1916, R. W. Felkin, que comandava a facção da Stella Matutina e que estava
predisposto a acreditar em Chefes Secretos, rituais antigos e qualquer coisa que
atravessasse sua visão psíquica, contou a A. E. Waite que “Sapere Aude (Westcott)
colocara todas as referências egípcias nos Manuscritos Criptográficos, enquanto S. A.
contou-me que apenas os corrigira”. Por volta de 1938, quando publicou sua
autobiografia, o próprio Waite pensou que “as Notas dos Rituais da A. D. foram
produzidas bem depois de 1870 — talvez mesmo dez anos depois”, mas também
manteve que “não eram trabalho de Wéstcott, Woodman e Mathers”. Mais adiante,
deu a entender que Kenneth Mackenzie pode ter possuído e produzido os manuscritos
em questão. Como muitos de seus correligionários, Waite mantinha estima por
Westcott e não desejava condená-lo duramente.”
“Uma reticência similar fica aparente nos comentários de Arthur Machen, que
não deu nomes aos “criadores” da Aurora Dourada e deixa claro ter apreciado as
pretensões da Ordem, embora esta “não tenha me brindado com nenhuma revelação
importante”:”
A Estrela do Crepúsculo (A Aurora Dourada) foi uma moeda falsa — para usar uma
expressão antiga. Sua verdadeira data de fundação foi entre 1880-1885. O “Manuscrito
Cifrado” foi escrito em papel que trazia a marca d’água de 1809, com tinta esmaecida. Mas
continha informações que só poderiam ser conhecidas, por qualquer criatura viva, vinte anos
mais tarde. Era, sem dúvida, uma falsificação do início do século dezenove. Seus criadores
deviam ter algum conhecimento de Maçonaria e, tão bem engendrada foi essa fraude oculta
“apresentada ao mercado” que, segundo penso, seu financiamento permanece um mistério até
hoje. Mas, que mistério interessante! E afinal, não fez mal a ninguém.” P. 34/36
516
Yorkshire que pertenciam a ela e à S.T., a fim de que fizessem o mesmo”. Os discípulos,
entretanto, eram mais fortes e, embora espantados com a ordem de Madame
Blavatsky, prontamente partiram em delegação para protestar contra ela, de modo
que “H. P. B. (Madame Blavatsky) percebesse que cometera um erro e ela escreveu-me
pedindo conselhos os quais dei, e a consequência foi que ela retirou o dito decreto com
relação à Sociedade Rosa-cruz”.” p. 44/45
“Mas isso não foi tudo, porque “o Dr. Wynn Westcott, chefe dessa Sociedade
Rosa-cruz, uniu-se à Seção Esotérica da S. T., com mais 20 outros e cerca de 14
membros de Yorkshire. Tudo está bem quando acaba bem!”” p. 46
“...Dois meses após essa visita, o próprio Westcott foi a Bradford e endereçou
uma longa e eficaz preleção aos membros de Hórus, seguido por Mathers em 1893 —
que ameaçou o Templo de suspensão, caso seus membros não parassem de contar
sobre as atividades para o impenitente Oliver Firth. Ordenou que não encarassem a
Aurora Dourada e a Sociedade Teosófica como oponentes e que então “ponderassem
sobre a solenidade observada nas Cerimônias”, e lembrassem “da humildade e entrega
pessoal necessárias em toda a verdadeira ciência oculta”.” p. 50
517
Ordem Interna, mas não era dono de seus adeptos nem tampouco esses eram meros
ocultistas, pois, ao contrário da Ordem Externa, a R.R. at A.C. era magia pura, e os que
a frequentavam eram magos.” p. 50
Westcott poderia ter-se defendido com mais veemência — possuía uma série de
depoimentos relativos ao aparente recebimento de cartas de Anna Sprengel e sua
primazia na Ordem —, mas escolheu não fazer uso disso. Limitou-se a dizer a W. B.
Yeats, designado para aproximar-se dele, que “falando legalmente, creio que não
posso provar os detalhes da origem e conhecimento da história da Aurora Dourada,
portanto, não seria justo nem prudente que endossasse suas opiniões sobre o assunto”.
p 57
518
muito corretos, sem dúvida, em termos de símbolos cabalísticos, mas com pouco poder.
Talvez Mathers estivesse louco, mas era, sem dúvida, um gênio da magia, e sem ele
nenhuma luz mágica brilhou sobre a Ordem. A partir do dia de sua expulsão, a Aurora
Dourada morreu. p. 61
O verdadeiro teste dos progressos alcançados pelo iniciado vinha muito tempo
depois, quando este ingressava na Segunda Ordem. Através das cerimônias da Ordem
Exterior, similaridades com os ritos maçônicos (e ainda mais com os da Societas
Rosicruciana in Anglia) eram fáceis de se perceber, mas os trabalhos de R. R. at A. C.
eram de estilo bem diferente e representavam uma abordagem totalmente nova do
ritual esotérico. A estrutura e mito da Segunda Ordem eram baseados nos Manifestos
Rosacruzes: os três panfletos anônimos publicados no início do século XVII que diziam
revelar a vida e doutrinas do legendário Christian Rosencreutz, um adepto do século
quinze que, supostamente, viajara ao Oriente Médio em busca de sabedoria, retornara
à Alemanha e fundara uma secreta Irmandade da Rosa Cruz com o duplo objetivo de
curar os doentes e propagar o conhecimento Hermético. Apenas o segundo objetivo
dizia respeito a R. R. at A. C. p. 70/71
519
conduzido para dentro da cripta e o agora ressuscitado Adepto Chefe dirigia-se a ele,
recebendo-o como Adeptus Minor pleno, explicando a simbologia do grau em detalhes.
O cerimonial chegava ao fim, e o novo Adeptus Minor estava pronto a iniciar sua
carreira de magia. P. 72/73
Mas em 1891, a teoria cabalística, assim como o triunvirato dos Chefes, chegou
ao fim. Em 20 de dezembro, Woodman morreu e os dois chefes remanescentes
dividiram os espólios. Westcott transformou-se em Mago Supremo da S. R. I. A. e
Mathers apossou-se da Aurora Dourada. P. 82
...Mas por razões que nunca deixou claras — suas desculpas naquele momento
foram extremamente fracas — Westcott não fez uso desses depoimentos e recusou-se
a defender-se das acusações de Mathers. Se ele tivesse rebatido as acusações de
falsificação, voltando a ter um papel efetivo na Ordem, todo o furor, sem dúvida, teria
se dissipado. Forçosamente, Mathers ainda teria sido rejeitado mas a Aurora Dourada
teria permanecido intacta. Então, por que Westcott preferiu ficar calado?
Apenas duas respostas nos vêm à mente. Uma, que as acusações eram
verdadeiras, que Westcott falsificara as cartas — e assim, implicitamente, falsificara
a história dos manuscritos cifrados também. Contra isso, Westcott não tinha defesa,
porém poderia, dentro do razoável, esperar o benefício da dúvida, nada dizendo a não
ser, para distrair a atenção, o fato de desejar proteger a Sra. Woodman. A outra
resposta plausível é que, independente do fato de as acusações serem verdadeiras ou
não, Westcott estava apavorado com a ideia de Mathers tornar o escândalo público e,
assim procedendo, expor a atitude não muito honesta de Westcott a respeito de sua
520
vida profissional, assim denegrindo sua carreira maçônica (e, quem sabe, a médica
também). P. 87/88
Mas parece que Mathers fazia o mesmo quando lhe convinha. Fora por fim
demitido da S. R. I. A. em 1902, não tendo comparecido a nenhuma reunião desde
1893, mas sempre mantinha uma atitude distante — a não ser para conseguir dinheiro
da sociedade. Em março de 1901, tomou emprestadas £ 10 que nunca restituiu, outro
fator que contribuiu para sua expulsão. P . 118
521
Annie Horniman (1860-1937) e Florence Farr (1860-1917)
“...Seu tino teatral unido ao de Florence Farr, sem dúvida garantiu que os rituais
da Aurora Dourada se transformassem em espetáculos grandiosos quando ambas
participaram deles, respectivamente como Sub-Praemonstratrix e Praemonstratrix de
Ísis-Urânia, em 1895 e 1896.” p. 140
“O Grupo da Esfera que fez com que Yeats e Annie Horniman se unissem contra
ele (Mathers), foi criação de Florence Farr. Era amiga da Srta. Horniman e durante toda
a vida foi amiga íntima de Yeats, por mais que este considerasse mau seu grupo de
magia. Os três estavam unidos pelo amor dualístico pela magia e o teatro, mas
enquanto Yeats levava a magia ao drama, Florence Farr—como Annie Horniman —
levou o teatro à Aurora Dourada.” p. 148
221
Qliphoth / Qlippoth / Qelippot ou Kelipot (as diferentes grafias em inglês são utilizadas nas tradições
cabalísticas alternativas da Cabala Hermética e Cabala Judaica, respectivamente), literalmente
"escudos" ou "cascas", são a representação de forças espirituais más ou impuras no misticismo judaico,
os pólos opostos das santas Sephirot. O reino do mal é também denominado "Sitra Achra/Ahra" (o
“outro lado” da santidade) em textos da Cabala.
522
vietnamita, comentou: "Alguma pessoas dizem que a prática budista é para dissolver o
"eu". Eles não entenderam que não há um "eu" para ser dissolvido. Há somente a
noção de "eu" para ser transcendida."
523
a maioria seguiu o Dr. Felkin e rebatizou sua facção da Ordem como Stella Matutina.
Alguns poucos deram de ombros e afastaram-se de ambas as facções. P. 180
524
o Templo de Ahathoor, suportado por Crowley, Berridge e os poucos adeptos que
permaneceram, como perversamente denominavam-se, “leais”. Por outro lado, havia
Yeats, Florence Farr e a grande maioria dos membros da R. R. et A. C. que já não
conseguiam tolerar o comportamento bombástico de Mathers. Mantendo-se firme em
sua posição neutra, mas com gestos de simpatia para um e outro lado, de acordo com
seus interesses, estava o Dr. Westcott. E então aconteceu o julgamento dos Horos.”
“De um dia para o outro, a Aurora Dourada desapareceu. Seu lugar foi tomado
pela Alpha et Ômega de Mathers e pelos adeptos londrinos de Morgen Rothe, todos
membros fugidos quando o terror do ridículo, ou algo pior, atingiu a sensibilidade da
classe média. Entre eles estava William Peck, o Astrônomo da Cidade de Edinburgh.
“Peck estava apavorado com o caso Horos”, escreveu Westcott para Gardner em 1902,
“e apressadamente queimou todos os papéis referentes às suas palestras, cartas,
destruiu jóias e roupas etc.” Para os que ficaram, havia mais divisões a caminho.” P.
190/191
525
Donorum Dei Dispensatio Fidelis), tomara partido de Mathers em 1900, mas logo
viajou para o Oriente. Entretanto, manteve sua dedicação à magia, e em 1906
trabalhou com afinco ao lado de Crowley, em Shanghai, na invocação mágica de
Aiwass, seu eu interno deformado.”
Se o Dr. Robert William Felkin possuía um pecado, era o de crer, com absoluta
convicção, no fato de os Chefes Secretos não apenas existirem em carne e osso, mas
que ele iria conhecê-los.” P. 193
Mas era tarde demais. Para a Srta. Stoddart, agora Soror Het Ta no papel de
Chefe Regulamentadora da Ordem, todas essas entidades astrais eram más e era seu
dever fazer-lhes oposição. Nem por uma vez questionou sua realidade objetiva. Daí,
começou a, sistematicamente, destruir a Stella Matutina, ou melhor, tentar destruí-
la—já que, como veremos, haviam outros igualmente dispostos a salvá-la. Durante
quatro anos ela trabalhou em sua obra Investigations into the Foundations of the
Order G. D. and R. R. et A. C. and the Source of lts Teachings, uma história interna sobre
a Stella Matutina na qual ela concluía que a Ordem era intrinsecamente má. Mais
tarde, reescreveu o texto para inclusão em seu livro Light Bearers of Darkness (1930)
onde suas fantasias paranóicas tinham rédea solta.” P. 196
526
Israel Regardie (1907-85) publicou seu extenso trabalho de quatro volumes, The
Golden Dawn, entre 1936 e 1940. Nesse, revela as obras internas da Ordem.
Embora tal argumento possa não ser válido nem verdadeiro ao que se propõe,
deixa claro um fato: os Chefes da Stella Matutina não iriam publicar os ensinamentos
da Aurora Dourada. Então, muito bem, se não iam fazer isso, Regardie tomou a
iniciativa.
527
deixada em paz, mantida como uma curiosidade histórica e um capítulo da descoberta
espiritual do Homem.
528
Até o presente momento o livro de Robert Vanloo “Os Rosacruzes do Novo
Mundo” (Les Rose-Croix Du Nouveau Monde222 - 1996) é o único a desmascarar as
pretensões dos movimentos rosacrucianos da América de uma maneira tão clara.
Outras obras focaram em outros grupos ou movimentos, mas sempre trazendo
revelações surpreendentes e contundentes do abismo existente entre os supostos
ideais dos líderes e sua verdadeira prática.
222
Pode ser encontrado na íntegra, em francês, em:
https://pt.scribd.com/document/266919754/Les-Rose-Croix-Du-Nouveau-Monde-1996
223
O Babuíno de Madame Blavatsky, Peter Washington. Editora Record. Rio de Janeiro, 2000. 458 págs.
529
Umberto Eco
Já no livro "O Pêndulo de Foucault"224, Umberto Eco desfila um compêndio
satírico sobre o ocultismo, as ciências ocultas, as sociedades secretas, as conspirações
cósmicas, as revelações da cabala, da numerologia, dos ritos druídicos, do candomblé,
das seitas esotéricas, dos Iluminados da Baviera, dos Templários, dos Rosacruzes,
Maçonaria, Memphis-Mizraim, etc., etc. Cita Spencer Lewis
nestas palavras: “Na América do Norte Spencer Lewis
“desperta” o Anticus Mysticus Ordo Rosae Crucis e em 1916
executa com sucesso num hotel a transformação de um
pedaço de zinco em ouro”225, pág. 404.
Perguntado sobre as semelhanças das obras de Dan Brown com a sua obra, Eco
foi ácido respondendo: “Eu inventei Dan Brown”! Nesta mesma entrevista Umberto
Eco mostrou seu desagrado dizendo de Brown que “Ele é um dos personagens
grotescos do meu romance que levam a sério um monte de material estúpido sobre
ocultismo. Ele usou grande parte do meu material. Em “O Pêndulo de Foucault” eu
havia inserido um bom número de ingredientes esotéricos, que podem ser encontrados
no “Código Da Vinci”. Os meus personagens, ao elaborarem os seus projetos, levam em
conta a importância do Graal, por exemplo. Eu quis fazer uma representação grotesca
daquilo que eu via em volta de mim, de uma tendência da qual eu previa o
224
O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco, Editora Record, Rio de Janeiro, 1989. Para baixar:
http://www.projetovemser.com.br/blog/wp-includes/downloads/Umberto%20Eco%20-
%20O%20P%EAndulo%20de%20Foucault.pdf
225
Russ House (aluno de Jean Dubuis) diz que a peça não pesava tanto quanto deveria o ouro de
verdade (peça falsa?). Gary L Stewart afirmou ser apenas galvanização, nada de alquimia e sim um
processo comum. Resumindo então: trabalho tipo aqueles que fazíamos em feira de ciências escolar e
nada alquímico. Fonte: https://www.facebook.com/groups/tradicaorosacruz/
530
crescimento. Era fácil fazer uma profecia como esta. Ao pesquisar para escrever “O
Pêndulo de Foucault”, eu esvaziei todas as livrarias que já se especializavam nessa
"gororoba cultural". Dan Brown copia livros que podiam ser encontrados trinta anos
atrás nos sebos da Rue de la Huchette, em Paris. O sucesso pode ser explicado pelo fato
de que os autores desses best-sellers levam tudo isso a sério, e ainda pelo fato de que
as pessoas são sedentas por mistérios. Em “O Pêndulo de Foucault”, eu cito a frase de
G. K. Chesterton: "Quando os homens não acreditam mais em Deus, isso não se deve
ao fato de eles não acreditarem em mais nada, e sim ao fato de eles acreditarem em
tudo".
Estudos recentes na historiografia nos revelam que talvez esta ideia de uma
“Tradição Ocidental” isolada seja na verdade uma construção ideológica, assim como a
própria ideia de “Oriente”. Esta opinião, embora não seja unanimemente aceita, é
exposta por Edward W. Said, o que analisaremos no seguimento.
531
Estudo Comparativo dos Graus
Duvidosos:
10. Vicarius Salomoni?
11. Rex Salomonus?
532
PARTE V - A ANTI-TRADIÇÃO E A
CONTRA-INICIAÇÃO
533
“... no declínio de uma civilização, é o lado mais inferior da sua tradição que persiste por mais
tempo, em particular o lado "mágico", que contribui, além disso, pelos desvios a que dá margem, para
completar sua ruína; isso teria ocorrido, diz-se com a Atlântida. É isso também a única coisa que tem
sobrevivido de forma fragmentária das civilizações que desapareceram por completo. Tal constatação
é fácil de ser feita para o Egito, Caldéia e o próprio druidismo; e sem dúvida o "fetichismo" dos povos
negros tem igual origem. Poderíamos dizer que a feitiçaria é constituída por vestígios de civilizações
mortas.” René Guénon - Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, p. 145/146
534
Toda iniciação autêntica admite a fase na qual as forças irracionais devem ser
enfrentadas. Um simbolismo análogo é manifestado pela vitória do Guardião do
Umbral (ou Terror do Umbral), fantasma assustador, desde que temido; escravo
submisso se lhe impomos a fixidez calma e profunda dos olhos. Mas infeliz daquele
que é vencido pelo Guardião do Umbral. Sua personalidade se desagrega, e ele se
torna a presa da contra-iniciação, em vez de receber a Cruz e a Rosa da Iniciação. Entre
aqueles que foram vencidos pelo Terror do Umbral citamos os sectários da Ordem do
Templo Solar. A sua origem, como vimos anteriormente, está indiretamente ligada à
AMORC e a Raymond Bernard, que criou a Ordem Renovada do Templo.
Muito cedo na vida, Joe Di Mambro ficou interessado pelo esoterismo como
também pela espiritualidade. Di Mambro procurava pelo líder carismático que o
ajudaria a expandir sua organização.
No início dos anos 80, Di Mambro e Jouret encontram Julien Origas, um suposto
antigo agente da Gestapo envolvido com a Ordem Renovada do Templo (ORT), um
535
grupo que combinava idéias de Templarismo e Rosacrucianismo. Em 1981, Jouret se
tornou membro da ORT, e após a morte de Origas em 1983, se tornou Grande Mestre.
Dentro de um ano, porém, ele sai do grupo, levando metade dos membros com ele.
Jouret, já envolvido com grupos de Di Mambro desde 1982, era então capaz de
preencher a necessidade de Di Mambro como líder carismático para atuar em sua
Ordem. Não só possuía carisma, mas também era médico, e como tal seria levado mais
seriamente. Juntos, os dois fundaram a Ordem do Templo Solar em 1984. Este plano
foi bem sucedido, Jouret desenvolveu centenas de conferências e também falou na
rádio. A partir de 1983, deu conferências na Suíça, França e Canadá.
No início dos anos 90, uma parcela dos membros começaram a se distanciar do
grupo, tanto em termos de assistência como também financeiramente. Os doadores
começaram a pedir reembolsos. As pessoas começaram a questionar muitas das
facetas do grupo, inclusive o próprio filho de Di Mambro, Elie Di Mambro, pois o pai
reivindicou ser um representante dos “Mestres” em Zurique. O próprio Elie começou a
duvidar da existência destes “Mestres”. O mundo de Di Mambro estava se
desintegrando. Seus membros leais estavam começando a questionar as práticas do
grupo e ele e Jouret não estavam sempre em completo acordo. Di Mambro e Jouret
começaram a preparar seu grupo para uma “transição” para outro mundo. As
convicções do grupo eram sempre apocalípticas e se radicalizaram. Embora Di
Mambro considerasse o ressurgimento de 1952 como um “primeiro impulso”, o
ressurgimento real começou para eles em 21 de março de 1981. Naquele dia, os
“cavaleiros” renovaram seu juramento de submissão à Ordem do Templo e para o
Mestre Oculto que está por vir. Di Mambro teve como uma de suas metas alcançar a
“Unidade do Templarismo” e para este propósito reuniu líderes de dois Movimentos
neo-templários: Jean-Louis Marsan, convidado, Grande Mestre da O.S.T.S. (Ordem
Soberana do Templo Solar) e Julien Origas, Grande Mestre da O.R.T. (Ordem Renovada
do Templo). Como Di Mambro, ambos Origas e Marsan, haviam sido conectados com o
ressurgimento do neo-templarismo.
Enfim, o resultado com certeza não trouxe nenhuma iluminação, nas mais de 50
mortes que não foram nada iniciáticas.
536
Maiores informações sobre o ocorrido na Ordem do Templo Solar, incluindo
mídias audiovisuais de emissoras de TV e de rádio na época, podem ser encontradas
em:
http://v.i.v.free.fr/menu/mots.html
537
a morte, para a estrela Sirius. A morte seria a solução para fugir ao fim do mundo e ir
para a estrela Sirius.
Fonte: http://www.prevensectes.com/ots3.htm#1
Em seu livro “Encontro Secreto em Roma”, Raymond Bernard afirma ter sido
feito um cavaleiro do templo por um misterioso "Cardeal Branco", dignitário da
verdadeira Ordem do Templo. O encontro misterioso com o aristocrático personagem,
na noite romana, nos anos sessenta, leva um Raymond Bernard já integrado a diversas
correntes de sobrevivência do Templo, à antiga cripta da Abadia de São Nilo, a trinta
quilômetros de Roma. Nessa cripta, de origem pré-cristã, ele é recebido por um alto
dignatário do Templo, um sábio que o seu coração chamou de o Cardeal Branco, e
recebe então uma sagração especial. Embora esta história fosse inventada pela sua
fértil imaginação, um "Cardeal Branco" existiu realmente sob o nome de Gregorio
Baccolini (1913-1917), um antigo chapeleiro da República fascista de Salò que se
tornou um prelado ortodoxo.
Fonte: http://www.prevensectes.com/ots11.htm
538
539
A Ordo Templi Orientes (OTO - 1895 ou 1902)
A OTO foi criada em 1902 (segundo outros 1895) por Karl Kellner, Franz
Hartmann e Theodor Reuss. Kellner era um vienense rico que tinha feito várias viagens
ao Oriente, onde tinha aprendido as técnicas da magia sexual sob a orientação de dois
yogues indianos. Hartmann, um médico alemão que viveu vários anos nos Estados
Unidos, pertencia à Sociedade Teosófica e também possuía uma certa experiência no
campo dos rituais orientais, tendo estudado durante alguns anos no quartel-general da
Sociedade Teosófica, em Adyar. Reuss era um alto dignatário de um dos mais secretos
ramos da maçonaria (aquele que deriva do Soberano Santuário do Rito de Mênfis e
Mizraim) e trabalhava junto ao serviço secreto alemão.
O encontro destes três homens resultou numa miscelânea muito particular: os
ritos maçônicos, com seu complicado simbolismo, foram aceitos na nova organização,
porém foram interpretados operativamente à luz das práticas sexuais do tantra hindu.
Os Templários Orientais garantiam que “a nossa Ordem possui a CHAVE que abre
todos os segredos maçônicos e herméticos, nomeadamente o ensino da magia sexual,
o qual explica, sem exceção, todos os segredos da natureza, todo o simbolismo da
Maçonaria Livre e todos os sistemas de religião”.
Quando Aleister Crowley afirmou que o simbolismo maçônico devia ser
interpretado sob uma chave sexual, viu chegar a sua casa um senhor alemão que lhe
pediu para não revelar daquela maneira irresponsável os segredos de sua Ordem; era
Theodor Reuss. Crowley ficou atônito. Nada sabia sobre aquilo. Contudo, o encontro
iria marcar o curso de sua vida.
Em 1912, Aleister foi iniciado na OTO. Em 1921 assumiu o controle da
organização. Crowley imprimiu na ordem uma guinada inquietante, pintando de
“negro” a magia sexual praticada pelos adeptos do Templo. Entretanto, afastou-se das
idéias tântricas e adotou outros elementos, acrescentando ainda graus de iniciação
esotérica de sua criação. Sob a direção de Crowley, a OTO atravessou uma fase de
impressionante recrutamento, correspondente a uma relativa exteriorização e não
privatização da Ordem.
Com a morte de Crowley, assumiu a direção da OTO Karl Gemer. A Germer
sucedeu o suíço Metzger e na Suíça alemã, em Stein, encontra-se o quartel-general da
Ordem. O edifício chama-se Thelema e ali celebram-se os ritos de uma Igreja Gnóstica,
cujo o Patriarca é o mesmo Grão-Mestre da OTO. Pode-se ver, com frequência, nos
jornais de Zurique o comunicado de tais ofícios, cujo ingresso é livre. O mesmo não
acontece com os ritos da Ordem, que são estritamente secretos. Nessa Santa Igreja
Católica Gnóstica aconteceria o “milagre da missa”, através do qual o “espírito se torna
carne”, como acontece toda vez que uma criança nasce.
No livreto Documentos Rosacruzes, da AMORC226, consta um documento que
estabelece “laços de amizade” entre a OTO e a AMORC, o que já fizemos referencia em
capítulo anterior. O referido documento confere a H. Spencer Lewis o título de
226
Documentos Rosacruzes, pág. 38.
540
Membro Honorário da OTO. O mesmo está assinado por Theodor Reuss, que usa o
nome místico de Peregrinus, e data de 1921. Talvez isto pouco signifique, pois um
membro honorário não é participante; contudo, nos perguntamos o quanto Lewis
sabia sobre as práticas da OTO. Em tudo isso é muito pertinente a afirmação de
Guenon sobre os laços que unem a pseudo-iniciação à contra-iniciação: "Aliás, é muito
provavelmente por esta razão que há múltiplos laços entre as manifestações «pseudo-
iniciáticas» e muitas outras coisas que, à primeira vista, pareceriam não dever ter com
elas a mínima relação." 227
227
René Guénon - O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos p. 228
541
antigo no alto dos penhascos que dão para o Loch Ness, na Escócia. Construiu um
templo no castelo e reiniciou suas cerimônias satânicas.
Nesta mesma ocasião, a Golden Dawn esteve a ponto de se dissolver em virtude
de uma discussão violenta entre seus membros. Aleister se precipitou para Londres.
Que Mathers provou não ser nenhum Mestre, e a Ordem nenhuma Ordem, mas a
encarnação da Desordem, fez logo Crowley perder as esperanças de salvá-la.
Durante os anos seguintes viajou para toda a parte do mundo. Conheceu o
México, o Oriente e muitos outros lugares. Segundo seus discípulos, no México ele
“invocou certos Deuses, Deusas e Espíritos à aparição visível, aprendeu a curar
doenças físicas e espirituais, como se tornar invisível, como obter comunicações de
fontes espirituais, como controlar outras mentes, etc...228”
Segundo ele próprio, no México encontrou Eckenstein, que mais tarde soube ser
um “mensageiro da Grande Fraternidade Branca”. Do México partiu para Honolulu,
Japão, China e Ceilão, onde estudou yoga. Visitou, também, a Índia e os Himalaias. Em
1903 regressa a sua casa na Escócia.
Tudo o que “conseguiu” com a magia e a yoga, posteriormente abandonou. As
intuições da Cabala pôs para trás, sorrindo da tolice de sua juventude; a magia, se
verdadeira, não conduzia a parte alguma; a yoga virou psicologia. Para a solução dos
seus problemas originais quanto ao universo, voltou-se para a metafísica: dedicou o
seu intelecto ao vulto da razão absoluta. Estudou Kant, Hume, Spencer, Huxley,
Mansel, Fischte, Schelling, Hegel, e muitos outros. Contudo em novembro de 1903 se
dedica a exibição de um brinquedo de magia na Câmara do Rei da Grande Pirâmide,
quando por suas invocações encheu aquela câmara de uma claridade como a da lua
cheia. Seus sectários insistem em esclarecer que para a visita noturna da dita câmara,
o dinheiro passou de mão em mão. Dizem que é preciso explicar isto para evitar que
leitores de mentalidade romântica considerem que foi um “grande feito”, ou o
produto de “palavras de passe com as antigas fraternidades” para efetuar uma tal
cerimônia no “Egito Secreto” de jornalistas charlatães.
Casou-se em seguida com Rose, irmã de Gerard Kelly, pintor bastante conhecido
na época. Rose teve dificuldades em conviver com seu marido. Experimentou algumas
drogas e logo se tornou uma viciada. A princípio, olhava com pequeno interesse para
os assuntos ocultistas. Mas depois, durante o efeito da droga, começou a ter visões.
Numa delas viu Hórus, o deus egípcio com cabeça de falcão, que lhe comunicou uma
mensagem para Crowley. Ele deveria ir ao Museu Nacional. Ali Aleister encontrou uma
urna com a imagem de Hórus. O número da urna estava catalogado como 666. Sob a
direção de Rose, em 1904, escreveu o Liber AL (O Livro da Lei), que segundo afirmava,
lhe fora ditado pelo seu anjo da guarda, Aiwass, ministro do deus egípcio Hoor-Paar-
Kraat. A introdução de tal livro começa assim:
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.
O estudo deste livro é proibido. É sábio destruir esta cópia após a primeira
leitura.
228
O Equinócio dos Deuses.
542
Quem não presta atenção a isto incorre em perigo e risco pessoais. Estes são
dos mais pavorosos.
Aqueles que discutem o conteúdo deste Livro devem ser evitados por todos,
como focos de pestilência.
Todas as questões da Lei devem ser decididas apenas por apelo aos meus
escritos, cada qual por si mesmo.
229
O Equinócio dos Deuses.
230
O Equinócio dos Deuses.
543
"(…) não posso separar Crowley da Golden Dawn, pois Crowley era a Golden
Dawn, e a Golden Dawn era Crowley. Crowley, era, usando um dos meus clichês mais
antigos, um graduado sem diploma da Golden Dawn. Ele pegou os ensinamentos da
Golden Dawn e transformou uma parte deles, usou outras partes literalmente, mas
ainda era tudo baseado na Golden Dawn, mesmo embora ele tenha dado à sua Ordem
outro nome, a A.A.. Então eu me senti muito em casa na Golden Dawn, e realmente
não tive nenhum problema em absorver o material, navegando através dele
enfaticamente, muito rapidamente assim como Crowley fez muitos anos antes."
231
Uma Entrevista com Israel Regardie - Este texto é parte do livro Regardie Pontificates. Fonte:
https://www.hadnu.org/publicacoes/34-uma-entrevista-com-israel-regardie
544
etc. — constituía o símbolo «daquele que está prestes a tudo sacrificar». No ritual
secreto da O. T. O. chamado De arte mágica, fala-se no artigo XV até duma «morte no
orgasmo», denominada mors justi. O limite do esgotamento ou do frenesi e da
embriaguez era indicado como o momento de lucidez mágica, do transe lúcido no
homem ou na mulher”. Julius Evola, A Metafísica do Sexo, p 303/304
545
Thelema: Uma Religião da Nova Era
por Carlos Raposo
raposo@artemagicka.com
Nota Editorial: Este Artigo - que aqui está reproduzido em sua versão integral - foi originalmente
publicado na Revista Sexto Sentido nº 50, de Abril de 2004, da Mythos Editora.
Desde bem cedo, o jovem Crowley, obrigado por seus pais, fanáticos membros de uma
radical seita protestante vitoriana, viu-se às voltas com um bem comum modo de vida inglês,
cuja monótona rotina oscilava entre os cultos diários da Irmandade e o intenso estudo da
Bíblia cristã. Segundo seus biógrafos, esta seria uma das principais razões de sua alucinada
546
rebeldia que o levaria, mais tarde, a romper com todos os modos e costumes da tradicional
aristocracia inglesa do final do século XIX.
Por volta de 1896, Crowley inicia a leitura de alguns livros sobre magia e misticismo.
Algo começava a tomar forma dentro de seu irrequieto ser; porém, foi a leitura de “Nuvem
sobre o Santuário”, do místico Karl von Eckhartshausen, obra lhe recomendada pelo famoso
ocultista Arthur Edward Waite, que fez com que Crowley decidisse abandonar os estudos em
Cambridge, bem antes de sua graduação, para dedicar a vida ao estudo do Ocultismo e da
Magia. Assim, ele se determina a empenhar-se com afinco no sentido de encontrar os Mestres
Secretos e a Grande Fraternidade Branca, mencionados no livro de Eckhartshausen. Começa
aqui a carreira mágica de Aleister Crowley.
Através de dois amigos, Julian Baker e George Cecil Jones, Crowley é apresentado a
Samuel Liddell "MacGregor" Mathers, um dos lideres da Ordem Hermética da Aurora Dourada
(The Hermetic Order of the Golden Dawn, a G.'.D.'.), uma das mais influentes Ordens iniciáticas
do final do século XIX. A G.'.D.'., fundada pelo próprio Mathers, junto com os maçons William
Wynn Westcott e William Robert Woodman, em 1887, proporcionaria a Crowley sua primeira
Iniciação e o contato com os primeiros mistérios mágicos, os quais tanto ansiava.
Crowley é iniciado por Mathers ao Grau de Neófito, primeiro grau da G.'.D.'., tomando
como mote mágico o nome de Perdurabo ("eu perdurarei até o fim"). Sua inteligência e
aptidão em assimilar novos conhecimentos, além de sua dedicação ao estudo e a prática do
ocultismo, o conduziram rapidamente aos Graus subseqüentes da G.'.D.'.. Durante este
período, além do intenso estudo do ocultismo, o constante uso de drogas e uma obsessão
praticamente incontrolável por sexo, consistiam suas atividades principais.
Crowley viajou pelas Américas do Norte e Central, toda a Europa, África e Oriente
Médio. Dotado de uma fantástica capacidade de mimetismo, assimilava a cultura local
passando como se fosse um nativo das inóspitas regiões onde estivesse, seja Índia ou Himalaia.
No Oriente Médio, encontrou-se e instruiu-se com Mestres de Yoga e Tantra.
O ano de 1904 revela a Crowley o mistério que o acompanhou até seu último momento:
a Lei de Thelema. Com sua esposa Rose Kelly, Crowley viaja pelo Egito. Segundo seu relato,
quando de sua estadia no Cairo, após uma série de Rituais e Invocações ao Deus Thoth,
iniciadas durante o Equinócio de Primavera (Hemisfério Norte) daquele ano, um ser preter-
humano, identificando-se como Aiwass lhe dita, nos dias 8, 9 e 10 de abril, o Liber Al vel Legis,
o Livro da Lei. Nascia a religião de thelema.
547
Liber Al vel Legis, de acordo com os thelemitas, proclama o fim da Era, ou Éon, num
evento de passagem denominado por eles como o “Equinócio dos Deuses”. O velho Éon, ainda
segundo os thelemitas, era marcado pelo sofrimento, pela necessidade de intermediação
entre Deus e o homem. Em seu lugar, começava a época do deus de alegria, onde o homem
teria a liberdade de realização de sua própria vontade. A epígrafe "Faze o que queres há de ser
o todo da Lei", contida em Liber Al e utilizada nos escritos de natureza thelêmica, sintetiza a
própria regra de conduta a ser tomada como tônica do Éon então nascido.
Crowley por sua vez, a essa altura já tendo se afastado da G.'.D.'., no sentido de divulgar
a Lei de Thelema, funda em 1907 a sua própria organização iniciática: a Argenteum Astrum,
A.'.A.'., a Ordem da Estrela de Prata, que bem mais tarde seria instalada na Abadia de
Thelema, na Sicília.
Um pouco mais tarde, Crowley toma a liderança de uma outra Ordem, chamada O.T.O. -
Ordo Templi Orientis. Sob o novo Mote de Baphomet XIº, reestrutura esta Ordem, de modo
que ela sirva aos seus propósitos, recheando-a com os preceitos thelêmicos em seus Rituais de
Iniciação, fazendo desta uma nova Ordem religiosa, um novo instrumento de divulgação de
sua religião thelêmica. Crowley lidera a OTO até sua morte, ocorrida em 1º de dezembro 1947.
Ao longo de toda sua vida, Crowley seguiu orientando e ensinando seus discípulos, ainda
que estivesse comumente envolvido em escândalos nos quais os principais ingredientes
costumavam ser duelos mágicos, drogas, orgias e até mesmo a simulação de seu suicídio. Ora
ignorado ora perseguido, às vezes considerado pernicioso à moral e aos bons costumes,
Crowley, absolutamente convencido de sua missão como o Profeta do Novo Éon, se dizia ‘além
da Sabedoria e da Tolice’, e sem considerar o pouco caso que por vezes lhe faziam, continuava
proclamando a todos: "Faze o que queres há de ser o todo da Lei".
A Religião Thelêmica
Thelema é uma palavra grega que significa vontade. A Religião thelêmica pode ser
entendida como aquela que fará com que seu seguidor identifique, conheça e, então, passe a
seguir a sua própria vontade pessoal. Esta vontade pessoal, de acordo com Crowley, deve estar
obrigatoriamente em harmonia com a Vontade que tudo rege. Somente assim, estas duas
vontades passam a ser uma única vontade, chamada de Vontade Verdadeira, a orientar a vida
do Iniciado.
Algumas máximas, extraídas de Liber Al, servem como guias para os fiéis da religião
criada por Crowley. Entre elas, as mais conhecidas são “Faze o que queres há de ser o todo da
Lei”, “Amor é a lei, amor sob vontade”, "a palavra de pecado é restrição" e a bem
poeticamente mística “todo homem e toda mulher é uma estrela”.
548
Thelema (ou Vontade), para ter o devido equilíbrio em força e beleza, deve ser usada
em igual proporção a Agape, palavra grega para Amor. Daí a compreensão do axioma “Amor é
a lei, amor sob vontade” ser de vital importância para o exercício da religião thelêmica. A
demonstração deste mistério pode ser apresentada através do uso da gematria, técnica em
que valores são atribuídos às palavras. Deste modo, chega-se a uma fórmula bem simples, uma
expressão matemática de busca de identidade, ou da Unidade, o numero 1. A palavra
"Vontade", Thelema, segundo a gematria normalmente adotada, vale 93. A palavra "Amor",
Agape, também valerá 93. Assim, dizem os thelemitas, "amor sob vontade" pode ser
representado por "93/93" e essa fração é igual a 1, a Unidade. O ser humano dotado de iguais
medidas de Amor e de Vontade, teria assim a capacidade de realização espiritual máxima,
sendo, ele mesmo, a expressão viva da Unidade primordial.
Segundo Crowley e sua religião, "a palavra de pecado é restrição". Crowley é bem claro
sobre o que significa "Restrição". Ele diz: "qualquer coisa que prenda a vontade, que a impeça,
ou que a desvie, é Pecado". Sendo, pois, a restrição da vontade pessoal o principal obstáculo
ao desenvolvimento individual, o esforço do fiel da religião thelêmica, o thelemita, deve ser
orientado no sentido de identificar dois pontos básicos: a Vontade Verdadeira e os elementos
que impedem a sua manifestação. Eliminando o segundo, aquele faria o homem brilhar como
estrela: "Todo homem e toda mulher é uma estrela", arremata Crowley.
Thelema traz ainda um alentado apelo liberal, que a mente menos perspicaz, em espécie
aquela presa ou afetada por dogmas religiosos relacionados a sexualidade, pode entender
como promíscuo ou libertino. Ainda sobre pecado ser identificado com restrição, por exemplo,
Crowley completa: "o instinto sexual é uma das mais profundamente enraizadas expressões da
Vontade; e não deve ser restringido". Ele é ainda mais enfático e claro quando diz que “o
homem tem o direito de amar como quiser: tomai sua fartura de amor como quiser, quando,
como, onde e com quem quiser”. Quando recriminado em relação a suposta imoralidade de
seus atos, ele simplesmente diz que “quando você bebe ou dança e desfruta de alegrias, você
não está sendo ‘imoral’ nem ‘prejudicando sua alma imortal’, você está sendo inteiramente de
acordo com os preceitos de nossa Religião”.
549
Uma das formas mais belas e significativas encontradas por Crowley para demonstrar
este mistério está presente em sua dramatização ritualística. Descrevendo-a, após a entrada
do postulante no templo, o oficiante principal que conduz o rito lhe pergunta em tom solene:
“em todos os casos de dificuldade e perigo, em quem tu depositas a tua confiança?”. Por sua
livre iniciativa e vontade, o candidato deverá responder confiante “em mim mesmo”. Deste
modo, o oficiante dará continuidade ao Rito. Entretanto, qualquer outra resposta vacilante
indicará que aquele postulante ainda não está preparado para a comunicação dos mistérios
thelêmicos ali celebrados, devendo ser o candidato imediatamente retirado do templo.
Talvez devido a seu forte apelo libertário, muitos dos entusiásticos seguidores da Lei de
Thelema sejam levados a tomar sua religião como totalmente revolucionária e completamente
nova. No entanto, a Religião thelêmica, se por um lado é o resultado da busca individual de um
Iniciado, se ela é a demanda por irrestrita liberdade, por outro, ela possui como elementos
fundamentais, alguns princípios sacados livremente por Crowley das mais variadas fontes, com
as quais ele esteve em contato.
Apenas citando alguns nomes, por exemplo, encontramos em Santo Agostinho (que
proclamou, ainda na aurora do cristianismo, “ama e faze o que quiseres”), uma de suas
principais referências. Em François Rabelais (especificamente em Gargantua e Pantagruel),
Crowley buscou o conceito de sua famosa “Abadia de Thelema”. Nos “Provérbios do Inferno”
do igualmente desconcertante William Blake, que dizia “o caminho do excesso leva ao palácio
da sabedoria”, Crowley encontraria inspiração para recomendar que seus discípulos
“excedessem”. Do filósofo Nietzsche, considerado por Crowley uma espécie de “avatar de
mercúrio”, seria absorvida a forte idéia anticristã da completa negação de Deus. “Não há
Deus”, diz enfaticamente o filósofo em seu Anticristo, ao que Crowley completa, inspirado:
“não há deus senão o homem”.
Apesar de, em muitos aspectos, a religião thelêmica não ser simpática ao cristianismo
(“eu bico os olhos de Jesus enquanto ele está dependurado na cruz”, diz explicitamente o Livro
da Lei dos thelemitas), paradoxalmente, foi exatamente a Bíblia cristã uma das principais
fontes para Crowley montar sua religião. Por exemplo, o conceito de vontade, de acordo com a
religião thelêmica, está muito próximo da máxima cristã “seja feita a tua vontade” (Mateus,
6:10). Apenas citando mais um exemplo, a exortação do Livro da Lei - “Existe a pomba e existe
a serpente. Escolhas bem" - possui clara inspiração bíblica, quando esta compara pomba e
serpente, através da alegada palavra de Jesus, ao recomendar que seus seguidores devessem
ser “prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mateus 10:16).
550
Outros conceitos fundamentais para o entendimento da religião thelêmica estão
presentes nas fantásticas imagens da Besta 666 e de sua consorte, a voluptuosa deusa
Babalon. “A Grande Besta” (ver em Apocalipse, 13:18) foi talvez o principal nome mágico de
Crowley e a descrição de sua divindade Babalon, versão corrigida de Crowley para a palavra
inglesa Babylon, a Grande Prostituta que cavalga a Besta de sete cabeças, foi inteiramente
sacada da Bíblia (ver Apocalipse, 17:3-5).
Não devemos supor, entretanto, que os textos bíblicos que tão fortemente marcaram a
vida de Aleister Crowley, formem a única fonte de seu culto thelêmico. Há também em seu
sistema de realização espiritual, muito de yoga, de magia e de misticismo. Do oriente, Crowley
sorveu dos escritos de Vivekananda e Patanjali; enquanto que, do ocidente, todo o sistema de
magia, assim como lhe ensinado pela G.'.D.'. original, foi aproveitado para que ele montasse o
seu próprio sistema iniciático, e também sua magick. Em relação ao misticismo, muito foi
revivido por Crowley a partir de ensinamentos que remontam a época das seitas gnósticas, em
espécie aquelas relacionadas a Basilides e Valentino, os quais foram considerados pelo Profeta
Crowley como autênticos Santos de sua Igreja Católica Gnóstica. Tão marcante é a influência
destes na mente de Crowley que um dos principais ícones da crença thelêmica, Baphomet, foi
concebido por ele a partir da suposta compreensão mística que lhe davam estes gnósticos.
O fértil panteão de deuses egípcios foi outras das fontes de onde Crowley mais buscou
estereótipos que comporiam os seus próprios deuses. Além da já citada Nuit, uma variação da
deusa Nu, Crowley aproveitaria conceitos como de Osíris, Hórus, Isis (poeticamente entendida
por Crowley como acróstico de “Infinite Space, and the Infinite Stars”) e tantos outros deuses
mais, para formular o panteão de sua religião. E há ainda quem remonte a criação de seus
deuses a culturas ainda mais longínquas, relacionando, por exemplo, Aiwass, a entidade que
ditou o Livro da Lei para Crowley, com deuses cultuados na antiqüíssima Suméria.
551
sejam as únicas reais responsáveis pela obtusa condição em que se encontram centenas de
milhões de homens e mulheres, massacrados por não qualificáveis condições de vida, seguro
retorno do bi-milenar investimento sócio-religioso e econômico, que é a miséria.
Contudo, até mesmo numa religião onde se pressupõe que a liberdade irrestrita seja a
grande motivação, novamente existe a ameaça de se fazer valer o ditado homo homini lupus (o
homem é o lobo do homem). Assim, embora atualmente contando com um inexpressivo
séquito, existem algumas poucas seitas thelêmicas institucionalizadas, que se digladiam
ferrenhamente pela posse das rentáveis obras de Aleister Crowley. O objetivo de tudo é,
seguindo o conhecido modelo empregado pela Igreja Católica quando de seu famoso Concílio
de Nicea, se transformar na única representante oficial da religião da nova era, condenando
qualquer outra opção à marginalidade. Estas seitas, infelizmente, por mais novas que sejam, já
têm suas histórias marcadas pelo dogma, pragmatismo e pelo fanatismo, impingindo
perseguições a todo e qualquer estudante sincero que não se submeta às suas rédeas.
No Brasil, a Lei de Thelema, apenas a partir da década de 1970 é que viria ganhar certa
popularidade, através da obra do genial Raul Seixas. Alguns de seus sucessos, muitos destes
compostos em parceria com Paulo Coelho, tiveram como origem os textos do mago Aleister
Crowley. Atualmente, graças às facilidades promovidas pela internet, cresce no Brasil o
número de estudantes não sectários (aqueles que não pertencem a ordens sectárias) da Lei de
Thelema.
A Lei de Thelema está completando 100 anos. Aleister Crowley para muitos representa o
papel de Profeta, Vate e Apóstolo. Sua grande aspiração reflete a aspiração de todo ser
humano: o anseio do homem por Liberdade. Seu trabalho pode ser compreendido não apenas
como o resultado dos caprichos de uma controvertida personalidade, mas, principalmente, da
necessidade humana de tomada de consciência, necessidade de Vontade, necessidade de
entendimento. Este era todo o anseio de Crowley e também o anseio de qualquer ser humano.
Isto é liberdade, liberdade apenas para a realização da Vontade Verdadeira de cada um de nós,
nada mais.
Thelema pode ser livremente resumida como o eterno anseio do homem insatisfeito
querendo revolucionar. Toda esta necessidade, de dar um novo sentido aos estudos, de fazer
do velho, algo de fato novo, agora me faz relembrar das últimas palavras a mim dirigidas pelo
meu velho mestre, que apesar de sua notável erudição, brilhantismo, cortesia e sabedoria,
sempre insistiu em permanecer desfrutando de um completo saudável anonimato. Momentos
552
antes de partir para o Oriente Eterno, ele me falou, feliz e reflexivo, que toda sua luta pessoal
por revolucionar a senda mística certamente tinha feito de sua vida um exemplo para nós,
sedentos aprendizes. Contudo, se eu quisesse ainda usufruir uma gota de sabedoria daquele
mestre, que escutasse uma inspirada canção. E ele cantarolou, meio que risonho – saudosa Elis
Regina – “nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não. Minha dor é
perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e
vivemos como nossos pais”.
553
Alguns Pontos da “Doutrina” Thelemica
Além do símbolo da árvore da vida com as suas dez Sephiroth e vinte e dois caminhos,
que representam os diferentes aspectos da psique, existiria o lado obscuro da cabala, as dez
Qliphoth e os túneis que atravessam o lado noturno da existência.
Qliphoth / Qlippoth / Qelippot ou kelipot (as diferentes grafias em inglês são utilizadas
nas tradições cabalísticas alternativas da Cabala Hermética e Cabala Judaica, respectivamente),
literalmente "escudos" ou "cascas", são a representação de forças espirituais más ou impuras
232
http://circulotifoniano.blogspot.com.br/2014/11/minha-jornada-nos-caminhos-da-noite-2.html
554
no misticismo judaico, os pólos opostos das santas Sephirot. O reino do mal é também
denominado "Sitra Achra/Ahra" (o “outro lado” da santidade) em textos da Cabala.233
A árvore Qliphothica possui 22 túneis antagônicos aos 22 caminhos da Otz Chiim (Árvore
da Vida). Sabemos que tudo que existe no conceito das sephiroth também existe no conceito
das Qliphoth, porém atuando de forma contrária. Logo existem 22 túneis qlipothicos e 22
caminhos sephirothicos. Existem também 22 letras do alfabeto cabalístico, e existem 22 cartas
de Tarot (os arcanos maiores). Sabemos também que cada letra do alfabeto hebraico
cabalístico, equivale a uma das cartas do tarot, ou seja, para interpretação do significado de
cada letra, e como cada letra equivale a uma caminho, o tarot também é utilizado para se
interpretar o significado do caminho sephirothico.
As Qliphoth são os opostos perfeitos das sephiroth, e cada túnel qliphothico tem o
significado contrário de cada caminho sephirothico, como lados opostos de uma mesma
moeda.
O Estudo das Qliphoth (ou Qlipoth) não é algo que deva ser feito por pessoas sem o
devido conhecimento de Kabbalah, mas certamente faz parte do entendimento necessário a
todo estudante de Hermetismo para compreender o mundo ao nosso redor. Através do estudo
das cascas, conseguimos compreender os mecanismos pela qual a ignorância, o fanatismo e a
violência se entranham na sociedade, tentando corromper todo o Caminho da Criação.
233
https://en.wikipedia.org/wiki/Qliphoth
234
https://anticorpos.wordpress.com/about/projetos/projeto-exodos/el-loco-no-tarot/a-arvore-da-
vida-e-a-da-morte-iv/
555
pode ser considerado receptáculos qliphóticos da essência sutil e incompreendida que
representa nossa verdadeira identidade.235
Qliphoth é o plural de Qliphah, cujo significado dado pelos cabalistas judeus é "Mulher
Indecente". Cada sephirah possui um fator de equilíbrio dinâmico cujos aspectos são
desagradáveis ao ser humano. Representam os conteúdos indesejáveis da nossa personalidade
constantemente renegados pelo ego. Também possui o significado de desorientação espiritual.
235
http://www.deldebbio.com.br/2016/01/11/qliphoth/
236
http://www.ocultura.org.br/index.php/Qliphoth ou
http://wiki.deldebbio.com.br/index.php?title=Qliphoth
556
Choronzon, o Habitante do Abismo
Choronzon é um demônio (ou força Qliphótica) que poderia tanto auxiliar o adepto na
Travessia do Abismo quanto conduzi-lo a uma insanidade tremenda. Tudo depende da
preparação daquele que o enfrenta.
Choronzon recebe muitos nomes. Senhor da Dispersão, Senhor das Alucinações, Senhor
do Triângulo, entre outros. Seu número é 333, a metade do número da Besta. Por esse motivo,
há quem o considere como o aspecto feminino da Besta. O número 333 está diretamente
ligado a seu símbolo, composto de três triângulos. Coincidência ou não, é bastante similar ao
símbolo globalmente usado para indicar radioatividade.
É claro que esse demônio (como qualquer outro) pode aparecer para atormentar o
adepto sem ser convidado. Mas o adepto (normalmente) só se encontra deliberadamente com
ele na intenção de obter sucesso na travessia do abismo. E a ideia não é derrota-lo – é deixar
que ele dissolva por completo o Ego, possibilitando assim uma travessia adequada.
Tendo poder suficiente, o adepto faz com que essa força aja a seu favor. Falhar nessa
operação resulta invariavelmente em uma mente em frangalhos, e a loucura é praticamente
inevitável. Os livros Liber Null e Psiconauta reiteradamente advertem o leitor para os perigos
inerentes ao contato com o demônio Choronzon.237
237
Artigo retirado de: http://www.penumbralivros.com.br/2016/09/choronzon-o-senhor-da-dispersao/
557
Astrum Argentum A.·.A.·. (Estrela de Prata)
Breve Histórico
Em 1898, Aleister Crowley foi apresentado à Hermetic Order of the Golden Dawn
por um homem chamado George Cecil Jones. Crowley tornou-se um ardente apoiador
do líder da ordem, Samuel Liddell Mac Gregor Mathers. Por diversas razões, Crowley
perdeu a fé e se separou de Mathers, e algum tempo depois, junto com Jones, decidiu
formar sua própria ordem que pretendia substituir e superar a Golden Dawn.
558
Em 1911, devido à má publicidade que Crowley tinha e à publicação de materiais
no órgão divulgador oficial da A.·.A.·., The Equinox, a ordem passou a ser atacada pelos
jornais, descrita como satânica e pervertida. Isso culminou num processo de G. C.
Jones contra o tabloide The Looking Glass, que insinuava uma possível relação
homossexual sua com Crowley (assumidamente bissexual). A audiência foi
tendenciosa, uma das testemunhas de defesa do jornal era S. L. Mathers, ex-instrutor
e ex-amigo de Crowley. Querendo vingança contra Crowley de um desentendimento
de ambos, Mathers ajudou a quebrar a sua relação com Jones. No final, Jones e outro
membro da Ordem, J.F.C. Fuller, romperam com Crowley.
Após Crowley
Adesão
Estrutura Iniciática
559
números compõem três grupos, subdivisões da A.·.A.·.; respectivamente as Ordens da
S. S., da R.C. e da G.D.
Estudante
Externamente a todas Ordens
Probacionista (0°=0□)
Neófito (1°=10□)
Philosophus (4°=7□)
(Estes números têm significados especiais para o iniciado e são comumente empregados
para designar os graus.) As características gerais e atribuições desses Graus são indicadas pelas
suas correspondências sobre a Árvore da Vida, como pode ser estudado em detalhes no Livro
777.
560
Início no Brasil
A A.·. A.·. iniciou no Brasil, como instituição organizada, com Marcelo Ramos Motta
(Frater Adjuvo). A primeira publicação da A.·. A.·. em nosso país foi Chamando os Filhos do Sol,
em 1962, na cidade do Rio de Janeiro, por Motta.
The Equinox
Aos 21 anos, se tornou secretário particular de Aleister Crowley, e foi seu último
discípulo direto. Além de ser o pupilo direto de Aleister Crowley, Kenneth Grant teve contato
pessoal com Austin Osman Spare, de quem foi amigo pessoal; Dion Fortune, de quem era
profundo admirador; Frieda Harris, a ilustradora do famoso Tarô de Thoth; Michael Bertiaux,
pioneiro da linha do Voudon Gnóstico; e muitos outros.
Grant criou sua própria linha de trabalho. Entre 1955 e 1962, Grant comandou a Loja
Nu-Isis da OTO, onde teve a oportunidade de desenvolver e divulgar seu trabalho pouco
convencional. Sua linha de atuação veio a ser conhecida como a Corrente Tifoniana. Após o
desligamento da OTO tradicional, Grant liderou a OTO Tifoniana, mais tarde renomeada como
Ordem Tifoniana. Seu trabalho na Ordem Tifoniana durou até sua morte.
238
H. P. Lovecraft (1890-1937) foi um escritor estadunidense que revolucionou o gênero de terror,
atribuindo-lhe elementos fantásticos que são típicos dos gêneros de fantasia e ficção científica. H.P
Lovecraft originou o ciclo de histórias que posteriormente passaram a ser categorizadas no denominado
Cthulhu Mythos e também desenvolveu o fictício grimório Necronomicon, supostamente vinculado ao
astrônomo e ocultista britânico do século XVI, John Dee. Ao decorrer de suas criações, Lovecraft
produziu um panteão de entidades extremamente anti-humanas com as quais, nas suas histórias,
geralmente os seres humanos se podem comunicar através do Necronomicon. Os seus trabalhos
expressam uma atitude profundamente pessimista e cínica. Os protagonistas de Lovecraft eram o
oposto dos tradicionais gnose e misticismo por momentaneamente anteverem o horror da última
realidade e do abismo. Stephen King chamou Lovecraft de "o maior praticante do século XX do conto de
horror clássico.
561
massas. E o Opositor ofereceria conhecimento. A Corrente Tifoniana está também ligada ao
conhecimento oculto e proibido. Este conhecimento pode ser alcançado pela “expansão” da
consciência. Esta “expansão” leva a resultados inesperados, como o tráfego com inteligências
de além fora deste plano.
Sua obra mais famosa é o livro O Renascer da Magia, da qual fazemos a seguir algumas
citações:
“Para um indivíduo vivendo cinco mil anos atrás - bem antes da versão bíblica do Gênesis
ter sido escrita - o Culto de Satan, ou Shaitan como então chamado, de Crowley, não evocaria
quaisquer sentimentos de perversidade e culpa. Mesmo as posteriores tradições pagãs, francas
e livres de vergonha, sentir-se-iam à vontade com as ideias de Crowley”. p. 10
“Até que nós tratemos da questão com um espírito de investigação imparcial, e, até mais
importante, até que nós refreemos a tendência em interpretar conceitos à luz de sua
decadência, ao invés de seguir seus valores primitivos, nós falharemos em compreender a obra
de Crowley e a natureza real do renascimento mágico que ele ajudou a pôr em movimento.”
p. 10
“Antes que o atual renascimento mágico possa, portanto, ser compreendido, nós temos
de saber o que é Magia, e o quê exatamente está sendo revivido, pois, estranho como pode
parecer, o que está ressurgindo agora é a Gnose pré-cristã, o Culto de Shaitan, ainda que, até
aqui, ele esteja somente começando a retornar de uma forma vacilante e interrompida.”
“Foi Aleister Crowley quem abanou a chama para o calor da fornalha, feito por ele
quando o “mundo foi destruído pelo fogo” em 1904. Esta é uma frase técnica; ela significa
destruição e supercessão em um sentido que pode ser interpretado somente recorrendo-se aos
míticos ciclos astronômicos dos quais ela deriva. O assunto é mais amplamente comentado
mais adiante. Crowley estava no Cairo no momento deste evento. Lá ele recebeu O Livro da Lei
e a Nova Gnose, o último Tantra, o mais complexo Grimoire de uma Inteligência praeter-
humana chamada Aiwaz, um mensageiro daquele mais anciente deus cuja imagem era
adorada nos desertos sob o nome de Shaitan, e, muitas eras antes, como Set, a alma ou duplo
de Hórus.” p 11
“A gênese desta mudança ocorreu na última metade do século passado, quando Helena
Blavatsky escancarou as portas do Esoterismo Oriental e tornou-o acessível ao mundo
562
ocidental. Também, a tendência da opinião científica mudou de curso e começou a confirmar
as descobertas dos místicos e cientistas ocultistas, antigos e modernos. Estes fios foram
reunidos e concentrados em um único nó no ano de 1875, o ano no qual dois eventos de
importância de longo alcance coincidiram: a fundação, por Blavatsky, da Sociedade Teosófica,
e o nascimento em Warwickshire, Inglaterra, de Aleister Crowley.”
“Esta fórmula é primariamente destrutiva; ela invoca aquele poder de Hórus conhecido
como Ra-Hoor-Khuit (ou Herakhaty), que necessariamente precede ao advento de seu poder
gêmeo e complementar, simbolizado por aquele antigo “diabo” da raça acadiana a quem
Crowley invoca sob a máscara, ou persona, de Hoor-paar-Kraat (Harpócrates, também
chamado Aiwaz).” p 11
“O Livro da Lei foi publicado diversas vezes durante a vida de Crowley, e cada publicação
foi seguida num período comparativamente curto de tempo por desastres internacionais: a
guerra dos Balcãs, a Primeira Grande Guerra, a guerra Sino-Japonesa e a Segunda Grande
Guerra. Era crença de Crowley que quando o Livro fosse finalmente publicado em estrito
acordo com as instruções dadas por Aiwaz em seu terceiro capítulo, isto resultaria na total
destruição da civilização como nós a conhecemos. Até aqui, as instruções foram
imperfeitamente executadas e o holocausto, incompleto.” p. 15
563
Marcelo Ramos Motta
Marcelo Ramos Motta (1931–1987) foi o primeiro escritor Thelêmico Brasileiro, membro
da Astrum Argentum, e fundador da Sociedade Ordo Templi Orientis (S.O.T.O.). Nasceu no Rio
de Janeiro, e muito pouco é conhecido sobre sua infância, apenas que era de descendência
germânica e que recebeu uma educação muito severa, educação esta que só veio a aumentar
com a sua admissão à Academia Militar do Rio de Janeiro. Seu pai era seguidor da doutrina de
Allan Kardec e sua mãe era católica.
De acordo com Motta, com a idade de 11 anos ele diz ter lido os livros de Eliphas Levi,
Papus, Blavatsky, Edward Bulwer-Lytton, Patânjali, Paracelsus e Arnold Krumm-Heller. Através
da obra de Krumm-Heller, ele tornou-se muito interessado nos mistérios rosacrucianos. Mas o
seu primeiro contato com uma "verdadera" organização rosacruciana, o ramo brasileiro da
AMORC, não o deixou satisfeito, então começou sua busca por uma escola iniciática do tipo
daquela encontrada no romance "Rose-Croix" de Krumm-Heller.
Durante sua estadia na academia militar, ele ficou interessado em Astrologia e Tarot,
dentre outras coisas do gênero. Aos 17 anos, tomou contato com a Fraternitas Rosacruciana
Antiqua, Ordem rosacruciana de Krumm-Heller onde Motta teve sua primeira iniciação, na
mesma idade, em 1948. Tensões políticas locais o impeliram a mudar-se para a Europa, e de lá
para os Estados Unidos. Sua missão nesta viagem, dada por um líder brasileiro da FRA, era
encontrar-se com Parsival Krumm-Heller (filho de Arnold Krumm-Heller e líder oficial da FRA) e
mediar o contato entre o grupo brasileiro e a liderança internacional.
O primeiro contato de Motta com Thelema foi através do livro de J. Symond chamado
The Great Beast. Depois, nos Estados Unidos, P. Krumm-Heller apresentou Motta para Karl
Germer, cabeça-externa da Ordo Templi Orientis na época. Germer deu a Motta a chance de
escolher entre OTO e A.'.A.'.. E a segunda destas foi escolhida.
Retornando para o Brasil em 1962, Motta traduziu e publicou o Liber Aleph, além do
Chamando os Filhos do Sol, a primeira publicação thelêmica publicada no Brasil. Entre este ano
e 1987, Motta teve numerosos Estudantes na A.´.A.´. sob sua tutela, e tentou estabelecer uma
Loja da OTO no Brasil, apesar de nunca ter sido membro da Ordo Templi Orientis.
Marcelo Motta foi o Instrutor de dois probacionistas muito famosos no Brasil: Paulo
Coelho e Raul Seixas. Outro conhecido pupilo de Motta foi Euclydes Lacerda de Almeida, que
fundou dois importantes grupos thelêmicos no Brasil, a Ordem dos Cavaleiros de Thelema e a
Sociedade Novo Aeon.
Em 1978 Motta tentou tomar o controle da OTO de Grady McMurtry. De acordo com
muitas fontes, Germer ordenou que sua esposa, Sasha, que deixasse o controle da Ordem para
Motta. Sasha escreveu uma carta para Motta para tal efeito, porém ele nunca a recebeu.
564
Todavia, Motta tentou assumir a liderança da OTO, e em processo judicial nos Estados Unidos,
clamou a liderança da Ordem e os direitos autorais da mesma, tendo seu pedido sido
recusado. Ele fundou então a SOTO, um grupo completamente distinto da Ordo Templi
Orientis original.
No Brasil, depois de sua morte, a divulgação de Thelema foi fortemente mantida por
Frater Thor (Euclydes Lacerda de Almeida) e, mais tarde, por Frater QVIF (Marcos Pagani)
quem mantiveram sua memória através da A.'.A.'. com seus respectivos descendentes.
565
Descendentes da Golden Dawn
Fraternitas Saturni
A Fraternitas Saturni (FS), sociedade secreta alemã, foi fundada nos anos 20 por Eugene
Grosche (1888-1994). Enquanto Aleister Crowley e a O.T.O. apenas acanhadamente
confessavam a prática da magia sexual, Eugene Grosche a tomou diretamente como objetivo
em seu universo saturnino.
Magia Sexual Licantrópica - As forças que a magia sexual licantrópica liberam estão
profundamente enraizadas no subconsciente do ser humano. Por detrás do Rito de Passagem
estão as energias bafométicas e lilitianas. As energias acima mencionadas são a base da Magia
Sexual Licantrópica.
Envolveu-se em sua adolescência com uma mulher a quem se referia como "Mrs.
Paterson" que clamava ser uma bruxa descendente das bruxas de Salem, esta mulher assumiu
uma grande posição na vida de Spare, que se referia a ela como "Witch Mother" (Mãe Bruxa).
A Senhora Paterson era considerada pela sociedade Vitoriana como sendo uma bruxa. Essa
senhora não apenas ensinou Spare a visualizar e evocar espíritos e elementais, como também
o iniciou na via sabática, no qual durante um encontro, recebeu seu nome "Zos".
No ano de 1908, após uma exibição na galeria Bruton em Londres, atraiu a atenção do
Mago Aleister Crowley que prontamente o convidou para ilustrar as edições de sua revista
"Equinox", sendo então, guiado por Crowley para Astrum Argentum, uma sociedade mágica
conhecida como "A Estrela de Prata".
Porém Spare era dotado de um gênio indomável, e logo se voltou a seu próprio sistema
mágico e à conclusão de seu mais conhecido livro "O Livro do Prazer".
Quando em 1916, Spare ingressou no exército como um artista oficial, não se imaginava
que sofreria um acidente, que paralizaria todo seu lado direito do corpo. Muitos sequer
acreditavam que ele voltasse a desenhar ou pintar novamente, mas seis meses após isso,
estava novamente desenhando e pintando habilmente. Fato esse que por muitos era atribuido
a Spare e seu contato com elementais e espíritos.
Em 1948 encontra-se com Kenneth Grant, inicia então seu grimório definitivo cohecido
como "Zos Kia Cultus", não finalizando por sua morte em 1956
566
Por muitos é considerado o Avô da Chaos Magick, uma vez que suas idéias e técnicas
foram uma das maiores influências para a criação desse sistema/paradigma moderno de
magia.
Ordem de Phosphorus
Order of Phosphorus é uma Ordem Luciferiana Magica sem fins lucrativos fundada por
Michael W. Ford. A Ordem, e o seu braço eclesiástico "The Church of Adversarial Light",
santifica as principais bases características do luciferianismo, sendo essas a auto-disciplina, a
excelência espiritual e à busca predatória do conhecimento.
O luciferianismo é um antigo culto de mistérios que tem origem nos cultos de adoração
às serpentes. Apesar de muito posterior aos Mistérios Clássicos, como os de Elêusis, Delos e
Delfos, contém traços que deitam suas origens nas práticas pagãs primitivas da Grécia e
principalmente na Religião Órfica. O Luciferianista presta reverência à entidade romana
conhecida como Lúcifer, o Andrógino, o Portador de Luz, o espírito do Ar, a personificação do
esclarecimento. Lúcifer era o nome dado à estrela matutina (a estrela conhecida por outro
nome romano, Vênus) e posteriormente descontextualizado e corrompido pelo Cristianismo. A
estrela matutina aparece nos céus logo antes amanhecer, anunciando o Sol ascendente. O
nome deriva do lucem ferre do termo latino, o que traz, ou o que porta a luz. Lúcifer vem do
latim, lux + ferre e é denominado muitas vezes, como sendo a Estrela da Manhã. De entre
todas as entidades da angelologia e demonologia tradicionais, Lúcifer foi aquela a manter a
relação mais notável com a Humanidade.
A ordem segue uma linha bem incomum da maioria das sociedades secretas ao explorar
o lado negro da magia e o Caminho da Mão Esquerda , junto de outras sociedades como
Templo de Set, Ordo Templi Orientis e a Ordem de Phosphorus.
567
Entre os associados existem músicos, pintores e escritores. Musicalmente, o compositor
Richard Wagner e suas operas mitológicas são importantes para a Dragon Rouge, embora
bandas de rock modernas sejam de muita importância, como por exemplo, a banda de metal
sinfonico Therion, cujas letras são escritas por um dos fundadores da Dragon Rouge, Thomas
Karlsson.
Satanismo LaVey
O Satanismo LaVeyano ou Satanismo de LaVey foi fundado em 1966 por Anton Szandor
LaVey. Sua crença se baseia na magia, ou seja eles creem na magia negra. Seus ensinamentos
também são baseados no individualismo, na auto-indulgência e na moral da lei de talião, com
influências dos rituais e cerimônias do ocultista Aleister Crowley e dos filósofos Friedrich
Nietzsche e Ayn Rand. Empregando a terminologia de Crowley, os praticantes definem o
Satanismo como o "Caminho da Mão Esquerda", religiosa e filosoficamente, rejeitando o
tradicional "Caminho da Mão Direita" de religiões como o Cristianismo por sua percepção da
negação da vida e ênfase na culpa e na abstinência. Diferentemente do Satanismo Teísta, o
Satanismo LaVeyano não envolve nenhum tipo de adoração, usando "Satã" como um símbolo
dos valores carnais e terrenos, inerentes à natureza humana.[1]
Magia do Caos
Magia do Caos ou Caoísmo (dentre tantos
outros nomes adotados pelos praticantes) é uma
forma de ritual e magia relativamente nova,
utilizando-se de quebras de paradigmas e alterações
do estado de consciência (ora de formas excitativas,
ora de formas inibitórias), como técnicas gnósticas,
meditativas, sufis, orgásticas, ou com uso de
substâncias psicoativas.
Austin Osman Spare era inicialmente envolvido com a Ordem da Golden Dawn, e
também com ordens como a OTO e a Astrum Argentum de Aleister Crowley; porém, mais
tarde se afastou delas para trabalhar independentemente.
Dali em diante ele iria desenvolver práticas e teorias que iriam, após a sua morte,
influenciar profundamente a I.O.T.. Especificamente, Spare desenvolveu o uso de sigilos, e
568
técnicas envolvendo estados de êxtase para dar poder a estes sigilos. Spare também foi
pioneiro no desenvolvimento de um "alfabeto sagrado pessoal", e, sendo um artista plástico
talentoso, usou imagens como parte de sua técnica de magia. A maior parte dos trabalhos
recentes em sigilos remete ao trabalho de Spare: a construção de uma frase detalhando o
intento mágico, seguida da eliminação de letras repetidas e a recombinação artística
(normalmente simétrica) das letras restantes em uma só imagem formando o sigilo.
Embora ele não tenha originado o termo, e talvez não aprovasse o mesmo, hoje ele é
visto como o primeiro Magista do Caos.
Após a morte de Aleister Crowley (e a do então obscuro Spare), a magia praticada pelos
ocultistas remanescentes no Reino Unido tendeu a se tornar cada vez mais experimentalista,
pessoal, e bem menos ligada às tradições mágicas estabelecidas pelas ordens. Reações a isso
incluem a disponibilidade pública de informações secretas antes do século XX (especialmente
nos trabalhos publicados por Crowley e Israel Regardie), o Zos Kia Cultus (nome do estilo de
magia radicalmente inortodoxa de Austin Osman Spare), a influência do Discordianismo e seu
popularizador Robert Anton Wilson, o Dadaísmo, e a grande popularização da magia causada
por cultos folcloristas embasados em sistemas mágicos de Crowley, como a Wicca, e o uso de
drogas psicodélicas.
O termo Magia do Caos apareceu pela primeira vez no Liber 0 (também chamado "Liber
Null") de Peter Carroll, publicado pela primeira vez em 1978. Nele, Carrol formulou vários
conceitos de magia radicalmente diferentes daqueles considerados "mistérios mágicos" na
época de Crowley. Este livro, junto ao "Psychonaut" (1981) do mesmo autor, mantém
importantes fontes magistas que se alinham a estas ideias costumam se chamar de várias
formas, evitando repetir a mesma. Algumas destas formas de nomenclatura são: "Caoísta",
"Caota", "Magista do Caos", "Caoticista", "Eriano", "Discordista", "Caoseiro", dentre outros
tantos nomes - por vezes muito bem humorados e/ou pouco polidos.
A Fundação do Pacto
O Pacto foi anunciado em agosto de 1987. O Pacto Mágico dos Iluminados de
Thanateros é uma comunidade de indivíduos, que praticam magia individualmente e em grupo
e que apóiam, inspiram e encorajam uns aos outros à exploração do vasto campo da magia.
Em organizações seculares tradicionais assim como em organizações místicas, nós
encontramos a forma da pirâmide, no topo da qual há um líder ou Guru ou pessoa similar. A
posição do Guru é superior a de todos os outros membros e acima de qualquer criticismo. O
Guru ensina, comanda e critica aqueles que possuem menor grau.
A estrutura do Pacto, com seu sistema de graus, tem a forma de uma pirâmide também.
No topo, contudo, não há uma pessoa, um mestre único, mas o Conselho dos Magi, similar ao
que é conhecido em sociedades tradicionais como Conselho de Anciões. A ascensão na
hierarquia e maestria é baseada em realizações mágicas e organizacionais genuínas.
569
“Existem mundos dentro de nós, e o universo é infinitamente mais misterioso, tenho
certeza, do que todas as nossas teorias juntas. Espero que o Pacto produza alguns dos
explosivos que nos propulsionam um pouco mais adiante dentro destes estranhos domínios.
Eu não tenho idéia de como vai ser o encontro do Pacto este ano, exceto que lá estarão
magistas de várias terras sentados em círculo, prontos para oferecerem suas especialidades
em tudo que diz respeito ao esoterismo, de budismo até magia norueguesa e aplicação
matemática do Caos, junto com Voodoo e magia do gelo. Nós temos a tecnologia e somos
loucos o suficiente para usá-la!” Peter J. Carroll
Carroll também co-fundou com Ray Sherwin O Pacto Mágico dos Illuminates of
Thanateros, ou, na abreviatura mais conhecida, I.O.T., uma organização que continua a
pesquisa e desenvolvimento da Magia do Caos hoje em dia. A maior parte dos autores e
praticantes renomados de Magia do Caos mencionam afiliação ou algum grau de influência a
esta. Porém, a Magia do Caos tem como característica marcante ser uma das vertentes de
magia menos organizadas do mundo, fazendo isso propositalmente.
Como a base de trabalho dos ritos caoístas consiste na total desconstrução de tudo
rumo ao Caos (daí o nome Caoísmo), uma técnica muito utilizada no treinamento pessoal dos
caoístas é a chamada "quebra do ego", que consiste em negar e trocar gostos pessoais como
uma forma de banimento pessoal, indo contra tudo aquilo que o ego acredita como pessoa,
gerando em si mesmo a desconstrução buscada pela Magia do Caos. Um exemplo de quebra
do ego é por exemplo, um vegetariano comer carne. Aqui cabe imaginação ao magista, para
aplicar estes exercícios em âmbitos profissionais, sexuais, familiares, gregários, entre outros, e
conseguir permanecer são - podendo ser até este conceito questionado.
570
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1536606363310537&id=13939064242
47199
571
PARTE VI - MITOS ERRÔNEOS
SOBRE SHAMBHALA E AGHARTA
572
Algumas palavras de advertência...
A obra “O Rei do Mundo” (1927), de René Guenon, também aborda este tema
insólito e mais ou menos inacreditável, isto é, a existência de um Reino Subterrâneo,
chamado "Agartha" e de um Sacerdote-Rei, chamado Melquisedeque.
239
http://www.hermanubis.com.br/Biografias/BioSaintYves.htm
573
Em “Ossendowski e a Verdade” (1925), Sven Hedin, o explorador sueco do
Tibete, rejeitou as asserções de Ossendowski ter ouvido de Agharti através dos lamas
mongóis. Ele escreveu que o cientista polonês tinha tirado o mito de Agharti de Saint-
Yves d' Alveidre e o tinha moldado à sua história a fim de atrair a leitura de um público
alemão já familiarizado, a um certo nível, com o oculto.
O Dr. Alexander Berzin (nascido em 1944) cresceu em Nova Jersey nos EUA e
recebeu, em 1972, conjuntamente dos departamentos de Sânscrito e Estudos Indianos
e Línguas do Extremo Oriente (Chinês) seu PhD pela Universidade de Harvard.
Inspirado pelo processo através do qual o budismo foi transmitido de uma civilização
asiática à outra e de como foi traduzido e adotado, seu foco tem sido construir uma
ponte entre as culturas budistas tradicionais e as culturas ocidentais modernas.
Dr. Berzin residiu na Índia por 29 anos. Serviu ocasionalmente de intérprete para
S.S. o Dalai Lama e organizou diversos projetos internacionais para ele. Estes incluíram
a preparação de textos básicos budistas em mongol coloquial para ajudar a revitalizar
o budismo na Mongólia; e a abertura de um diálogo entre o budismo e o islamismo em
universidades do mundo islâmico. Autor e tradutor prolífico, Dr. Berzin publicou 17
livros.
240
http://www.raymond-bernard.net/
241
Encontros Com O Insólito, 3.a Edição — 1982, Editora Renes, Rio de Janeiro. Pode ser encontrado
também em: https://pt.scribd.com/document/238813286/Raymond-Bernard-Encontros-Com-O-
Insolito-Rev
242
Op. Cit. Pág. 71.
574
No final de 1998, Dr. Berzin voltou ao ocidente com aproximadamente 30.000
páginas de manuscritos de livros, artigos e traduções não publicados que preparou,
transcrições de ensinamentos de grandes mestres que traduziu e anotações de todos
os ensinamentos que recebeu destes mestres. Convencido do benefício desse material
para outras pessoas e determinado a não perder este conteúdo, intitulou-o “Os
Arquivos de Berzin”243 e estabeleceu-se em Berlim, Alemanha. Lá, com o incentivo de
S. S. o Dalai Lama, decidiu disponibilizar gratuitamente para o mundo, através da
internet, este vasto acervo, em quantas línguas fosse possível.
243
http://studybuddhism.com/web/pt/
575
Mitos Errôneos sobre Shambhala244
Dr. Alexander Berzin
Introdução
Muitos mitos estrangeiros cresceram em volta da
lenda de Shambhala encontrada na literatura de
Kalachakra245. Alguns foram espalhados para ganhar apoio
militar ou político, tal como a identificação da Rússia, da
Mongólia ou do Japão como Shambhala. Outros
apareceram dentro de movimentos ocultistas e misturaram
ideias budistas com conceitos de outros sistemas de
crenças. Vários até organizaram
expedições para encontrar a terra
legendária.
244
http://studybuddhism.com/pt/estudos-avancados/historia-e-cultura/shambhala/mitos-erroneos-
sobre-shambhala
245
Kalachakra é um termo em sânscrito usado no budismo tântrico que literalmente significa "ciclos de
tempo", sendo que o tempo é uma medida de mudança, tanto externa, no mundo e no universo,
quanto interna, no corpo. Como tal, podemos medi-lo de diversas formas. Externamente, existem os
ciclos das órbitas dos planetas, dos meses e das estações do ano, as fases da lua, as horas de um dia e
assim por diante, sem falar nos ciclos históricos de períodos de paz e guerra. Internamente temos os
ciclos dos períodos da vida (infância, juventude, idade adulta e velhice), o ciclo menstrual, o ciclo do
sono e o circadiano, o respiratório e assim por diante. Podemos traçar um paralelo entre os ciclos
externos e os internos. Assim como as estrelas, galáxias e universos passam por ciclos de formação,
permanência, dissipação e extinção, seres humanos passam por ciclos de nascimento, vida adulta,
velhice e morte, além do bardo, o período intermediário. E ainda, tanto os ciclos internos quanto os
externos vêm se repetindo desde tempos sem início com o renascimento contínuo dos universos e da
vida. http://studybuddhism.com/pt/budismo-tibetano/tantra/kalachakra/o-que-e-o-kalachakra
246
O famoso filme "Lost Horizon" (Horizonte Perdido), de 1937, com direção de Frank Capra e baseado
no romance de James Hilton, segundo relatos da AMORC, contou com a habilidade de H. Spencer Lewis
na criação dos cenários, que teria abrido mão dos direitos autorais para Stephen Grooson. O filme foi
muito recomendado por Lewis na época aos membros da AMORC, em várias ocasiões. Existe outra
versão deste filme, mais recente, de 1973. É um musical colorido que não teve a mesma repercussão do
anterior.
576
ocultismo apresentam esta interpretação. É importante não se confundir qualquer
uma destas distorções com o próprio budismo. Deixem-nos traçar o fenômeno.
Teosofia
A Madame Helena Blavatsky (1831-1891) nasceu na Ucrânia filha de aristocracia
Russa. Dotada com poderes extrassensoriais, viajou pelo mundo em busca de
ensinamentos ocultos e secretos, e passou muitos anos no subcontinente indiano. De
1867 a 1870, ela estudou budismo tibetano com mestres indianos, muito
provavelmente das regiões culturais tibetanas dos Himalaias indianos, durante a sua
suposta estadia no Mosteiro de Tashilhunpo no Tibete.
577
telepaticamente dos seus professores no Tibete. Ela escreveu numa carta que, embora
os seus professores fossem “byang-tzyoobs” ou “tchang-chubs” (Tib: byang-chub,
Sânsc: bodhisattva) reencarnados, ela tinha-os chamado “mahatmas” dado que esse
termo era mais conhecido pelos ingleses na Índia.
Não está claro até que ponto Blavatsky realmente estudou os textos de
Kalachakra diretamente. O primeiro material ocidental sobre o tópico foi um artigo de
1833 intitulado “Note on the Origins of the Kalachakra and Adi-Buddha Systems”
[Observações sobre as Origens dos Sistemas de Kalachakra e de Adi-Buddha] pelo
pioneiro erudito húngaro Alexander Csomo de Körös (Körösi Csoma Sandor). De Körös
compilou o primeiro dicionário e gramática tibetana numa língua ocidental, o inglês,
em 1834.O “Tibetan-Russian Dictionary and Grammar” [Dicionário e Gramática
Tibetano-Russa], de Jakov Schmidt depressa seguiu em 1839. A maioria do
conhecimento de Blavatsky sobre o Kalachakra, contudo, veio do capítulo intitulado
“The Kalachakra System” [O Sistema de Kalachakra] em “Buddhism in Tibet” [Budismo
no Tibete] (1863), por Emil Schlagintweit, como evidenciado pelo empréstimo de
muitas passagens desse livro nas suas obras. Seguindo o seu princípio de tradução, no
entanto, ela rendeu Shambhala em termos de conceitos semelhantes ao hinduísmo e
ocultismo.
Noutro lugar, ela escreveu que quando Lemúria se afundou, parte do seu povo
sobreviveu em Atlântida, enquanto que parte dos seus eleitos migrou para a ilha
sagrada de “Shamballah” no deserto de Gobi. No entanto, nem a literatura de
578
Kalachakra nem The Vishnu Purana, mencionam Atlântida, Lemúria, Maitreya ou
Sosiosh. Contudo, a associação de Shambhala com eles continuou entre os seguidores
de Blavatsky.
579
A primeira cerimônia pública no templo teve lugar em 1913. Foi um ritual para a
longa vida da Dinastia dos Romanov no aniversário do seu tricentenário. De acordo
com Albert Grünwedel, o explorador alemão da Ásia central, em “Der Weg nach
Shambhala” [O Caminho para Shambala] (1915), Dorjiev falou da Dinastia dos
Romanov como os descendentes dos regentes de Shambhala.
Ossendowski e Agharti
No livro de 1922 “Beasts, Men and Gods” [Bestas, Homens e Deuses ] , Ferdinand
Ossendowski (1876-1945), um cientista polonês que passou a maior parte da sua vida
na Rússia, escreveu sobre as suas viagens recentes à Mongólia Exterior durante as
campanhas do Barão von Ungern-Sternberg. Ossendowski relatou que vários lamas
mongóis lhe tinham falado de Agharti, um reino subterrâneo debaixo da Mongólia,
governado pelo Rei do Mundo. No futuro, quando o materialismo arruinar o mundo,
irá haver uma guerra terrível. Nessa altura, o povo de Agharti virá à superfície ajudar a
terminar a violência. Ossendowski relatou que ele convenceu Ungern da sua história e
que, subsequentemente, Ungern mandou missões em busca Agharti duas vezes,
conduzidas pelo Príncipe Poulzig. As missões falharam e o Príncipe nunca retornou da
segunda expedição.
580
Kamil Gizycky era um engenheiro do exército polonês que também lutou contra
os Bolcheviques na Sibéria e depois se juntou às forças de Ungern na Mongólia. Não
fez menção nenhuma de Agharti na sua narrativa dos eventos da altura, “Poprzez
Urjanchej i Mongolie” [Através de Urankhai e da Mongólia] (1929). Interessantemente,
relatou que Ossendowski ajudou o Barão Louco oferecendo-lhe a fórmula para fazer
gás venenoso.
Saint-Yves d' Alveidre pode ter, de fato, retirado vários elementos da sua história
da discussão de Kalachakra sobre Shambhala. O número 1800 aparece repetidamente
como um motivo na literatura de Kalachakra e os textos clássicos relatam que os
líderes de Shambhala possuíam o conhecimento para construir armas para derrotar as
forças do invasor. Não obstante, o autor francês claramente escreveu um trabalho de
ficção.
Uma explanação adicional, no entanto, poderia ser que Ossendowski usou o mito
de Agharti para obter o favorecimento de Ungern. Ungern teria sem dúvida
identificado as forças materialistas do Anticristo, que Agharti iria ajudar a derrotar,
como os bolcheviques, contra quem ele estava lutando. Visto que Sukhe Batur estava a
mobilizar as suas tropas com a promessa de Shambhala, Ungern poderia igualmente
usar a estória de Agharti para seu próprio proveito. Se este fosse o caso, poderíamos
581
de aqui traçar a versão da lenda de Shambhala que descreveu Shambhala
desfavoravelmente.
A busca de Roerich de Shambhala foi talvez parcialmente inspirada por Der Weg
nach Shambhala [O Caminho para o Shambhala] de Grünwedel, que continha uma
247
“O pintor russo Nicholas Roerich (1874-1947) tornou-se membro da AMORC em 1929, no período em
que ele foi proposto como candidato ao Prêmio Nobel da Paz. H. Spencer Lewis relatou que conheceu
Nicholas Roerich na inauguração do Museu Roerich em Nova York, em outubro de 1929. Os dois
estavam em condições tão amigáveis que Nicholas Roerich foi nomeado Legado da AMORC e foi
encarregado de certas missões para a Ordem. Em 1934, durante uma expedição na China e Mongólia
para encontrar plantas capazes de combater a desertificação das pradarias americanas, Roerich parou
em Harbin, a fim de atender seus compatriotas Rosacruzes. A imprensa local relatou as atividades dos
Rosacruzes que participaram durante a sua estada na China”. Fonte: “Harvey Spencer Lewis, Um Mestre
da Rosa-Cruz” - Uma coleção de ensaios por e sobre Harvey Spencer Lewis, p. 25, AMORC.
“Harvey Spencer Lewis estava interessado em fazer de Roerich um legado da AMORC em sua expedição
ao Tibete, que aparentemente Roerich nunca foi, apesar de sua estreita relação com Lewis. No entanto,
a AMORC afirma até hoje que Roerich comunicou certas técnicas ocultas do Tibete que foram
integradas em seus ensinamentos Rosacruzes. Lewis se vangloriou da correspondência que ele recebeu
da segunda expedição de Roerich”. Em: “Black Terror White Soldiers: Islam, Fascism & the New Age”
de David Livingstone.
Na página seguinte temos uma imagem de Nicholas Roerich como Legado da Grande Fraternidade
Branca, que saiu no “The Rosicrucian Digest”, july 1933 em:
https://pt.scribd.com/document/151806306/The-Rosicrucian-Digest-June-and-July-1933-pdf
582
tradução de The Guidebook to Shambhala [O Guia para Shambhala] (Tib. Sham-bha-la’i
lam-yig), escrito em meados do século XVIII pelo Sexto Panchen Lama (1738-1780). No
entanto, o Panchen Lama explicou que a viagem física a Shambhala poderia levar-nos
apenas até um certo ponto. Para alcançar o reino legendário, teríamos de fazer uma
quantidade enorme de práticas espirituais. Ou seja, a viagem a Shambhala era na
verdade uma viagem ao interior. Esta explanação, entretanto, não pareceu deter
aventureiros intrépidos tal como os Roerichs de tentar alcançar Shambhala
meramente caminhando até lá.
Em 1929, os
Roerichs criaram o
Agni Yoga,
incorporando os
ensinamentos
teosóficos como sua
base. Eles talvez
tivessem também
seguido o modelo de
Blavatsky de traduzir
terminologia budista
com as imagens e
expressões que eram
mais familiares,
vindas do hinduísmo e
do ocultismo. Os
Roerichs, afinal,
afirmavam que
Shambhala era a
fonte de todos os
ensinamentos
indianos. Também
chamaram os seus
regentes “os Senhores
do Fogo que irão lutar
contra os Senhores da
Escuridão”.
Agni é a palavra
sânscrita para fogo – especificamente, o fogo purificador sagrado dos Vedas. De
acordo com isto, Roerich explicou que os mestres de Shambhala utilizam os seus
poderes para a purificação. Os praticantes de Agni Yoga escolhem Buda, Jesus, ou
Maomé como guia para a prática espiritual. Concentrando-se nos seus guias
583
escolhidos, rezam para a paz fazendo simultaneamente simples visualizações de
purificação de obstáculos.
Assim, a principal associação que Roerich fez com Shambhala era como um lugar
de paz. Em “Shambhala: In Search of a New Era” [Shambhala: Em Busca de Uma Nova
Era] (1930), Roerich descreveu Shambhala como uma cidade sagrada ao norte da Índia.
O seu regente revela os ensinamentos do Buda Maitreya para a paz universal. Cada
tradição descreve Shambhala de acordo com a sua própria compreensão e, assim, a
lenda do Santo Gral, por exemplo, é uma versão da estória de Shambhala. Constantino
o Grande, o Chinggis Khan (Genghis Khan) [Gêngis Khan], e Prester John encontram-se
entre aqueles que receberam mensagens dos ensinamentos do “Misterioso Local
Espiritual e Irmandade no coração da Ásia”.
Depois de voltar da Ásia, Roerich viajou a Nova Iorque onde, em 1929, foi
instrumental na promulgação do Pacto de Roerich, um tratado internacional para a
proteção de monumentos culturais do mundo. A bandeira da paz que Roerich propôs
tinha três círculos, que, ele explicou, são encontrados em todas as tradições
espirituais, incluindo a dos “Rigden Jyelpos”, os Reis de Shambhala. Nada como isto,
entretanto, é encontrado nos textos de Kalachakra. Numerosos países do mundo
assinaram o pacto, incluindo os Estados Unidos em 1935. O símbolo dos três círculos
foi mais tarde adotado como uma insígnia usada em numa banda nos braços de
algumas pessoas fisicamente inválidas indicando a sua necessidade de tratamento
delicado.
584
Em “Shambhala: In Search of a New Era” [Shambhala: Em Busca de uma Nova
Era], Roerich também deu a entender uma similaridade entre Shambhala e Thule, o
reino escondido no pólo norte, que, como veremos mais adiante, inspirou os alemães
na sua busca por um reino secreto. Ele também mencionou a associação de Shambhala
com a cidade subterrânea de Agharti (Agarthi), alcançada através de túneis sob os
Himalaias. Os seus habitantes emergirão na “época da purificação”. Nas suas
“Collected Letters” (1935 – 1936) [Cartas Coletados (1935-1936)], Helena Roerich
observou que Saint-Yves d' Alveidre tinha identificado incorretamente Shambhala com
Agharti, mas que não são o mesmo lugar.
Jocelyn Godwin, em “Arktos, The Polar Myth in Science, Symbolism and Nazi
Survival” [Arktos, o Mito Polar na Ciência, no Simbolismo e na Sobrevivência Nazista]
(1993), identificou o poder de Agni com vril. Vril é o poder psicocinético protegido
pelos habitantes de Thule, que os nazistas tentaram obter para ajudar a fortalecer a
sua super-raça ariana. Roerich, contudo, nunca fez esta associação.
585
De acordo com Steiner, Cristo, o verdadeiro profeta, irá revelar o Reino de
Shamballa com a sua Segunda Vinda. Shambhala, que desapareceu há muito tempo, é
o reino de Maitreya. Numa palestra intitulada “Maitreya – Cristo ou Anticristo”,
Steiner explicou que “tudo que virá dos lábios de Maitreya virá através do poder de
Cristo”.
Steiner enfatizou o conflito entre o bem e o mal, como personificado por Lúcifer
e Ahriman. Blavatsky já tinha diferenciado Lúcifer de Satanás. De acordo com “A
Doutrina Secreta”, Lúcifer é o “Portador da Luz”, a “Luz Astral” dentro de cada uma das
nossas mentes que tanto é o nosso sedutor como o liberador do nosso animalismo
puro. Serve tanto para criar como para destruir, e manifesta-se na paixão sexual.
Embora Lúcifer possa elevar a humanidade a um plano mais elevado, os eruditos
latinos transformaram-no no completamente malévolo Satanás.
586
medo e a ignorância. Ofereceu um método eficaz para as pessoas aterrorizadas
naquele tempo para superar suas ansiedades fortemente sentidas.
587
A força de Shambhala, Bailey explicou, é a energia extremamente volátil da
vontade do eu. Em si, é extremamente destrutiva e pode ser a origem do “Mal”. No
entanto, quando vista como a Vontade Divina, os iniciados podem utilizá-la para o
“Bem” último. Uma “Hierarquia” em Shambhala, dirigida por Maitreya, protege a
Força e, na altura certa, irá iniciar os que estiverem prontos nos “Mistérios das Eras”,
no “Plano”. Ficamos curiosos de saber se as suas idéias inspiraram a visão da “Força”
na Guerra nas Estrelas, como um poder que pode ser utilizado para o bem ou para o
mal, e que é protegido por uma irmandade de Cavaleiros de Jedi.
588
Haushofer, a Sociedade de Thule e a Alemanha Nazista
Após a Segunda Guerra Mundial, Bailey explicou a política nazista afirmando que
Hitler tinha apropriado a Força de Shambhala e, como um “instrumento das forças da
escuridão”, tinha abusado dela para combater a “Energia da Luz”.
O astrônomo britânico Sir Edmund Halley, também nos finais do século XVII,
promoveu a teoria de que a terra é oca. O escritor francês Júlio Verne popularizou a
idéia em “Viagem ao Centro da Terra” (1864). Em 1871, o escritor britânico Edward
Bulwer-Lytton, em “A Raça Futura”, descreveu uma raça superior, os Vril-ya, que viveu
debaixo da terra e planejou conquistar o mundo com o vril, uma energia psicocinética.
Em “Os Filhos de Deus” (1873), o autor francês Louis Jacolliot ligou o vril com o povo
subterrâneo de Thule. O defensor da liberdade indiano, Bal Gangadhar Tilak, em “O Lar
Árctico dos Vedas” (1903), identificou a migração ao sul do povo de Thule com a
origem da raça ariana. Em 1908, o autor americano Willis George Emerson publicou o
seu livro “O Deus Esfumaçado, Viagem ao Mundo Interior”, que descreve a viagem de
um marinheiro norueguês através de uma abertura no Pólo Norte a um mundo
escondido dentro da Terra.
A Sociedade de Thule foi fundada em 1910 por Felix Niedner, o tradutor alemão
dos nórdicos Eddas. Identificou o povo germânico com a raça ariana, os descendentes
de Thule, e procurou a sua transformação em uma super-raça através da utilização do
589
poder do vril. Como parte do seu emblema, tinha a suástica, um símbolo tradicional
para Thor, o nórdico Deus dos Relâmpagos. Ao fazê-lo, a sociedade de Thule seguiu o
precedente de Guido von List que, nos finais do século XIX, fez da suástica um
emblema para o movimento neo-pagão na Alemanha.
Juntamente com Jorg Lanz von Liebenfels e Phillip Stauff, von List tinha sido
proeminente na fundação do movimento ariosofista, popular antes e durante a
Primeira Guerra Mundial. A ariosofia combinou o conceito de raças da teosofia com o
nacionalismo alemão para asseverar a superioridade da raça ariana como justificação
para a Alemanha conquistar os impérios coloniais globais dos ingleses e franceses
como o justo regente das raças inferiores. A Sociedade de Thule abraçou as convicções
da ariosofia. No entanto, deve-se notar que o movimento teosófico nunca pretendeu
que os seus ensinamentos sobre raças fossem usados como uma justificação para
afirmar a superioridade de uma raça sobre outra, ou o direito destinado de uma raça
para governar as outras.
Karl Haushofer era um conselheiro militar alemão ao Japão após a Guerra Russo-
Japonesa de 1904-1905. Ficou extremamente impressionado pela cultura japonesa,
estudou a língua, e tornou-se mais tarde instrumental no estabelecimento da aliança
entre a Alemanha Nazista e o Japão Imperial. Ele também aprendeu sânscrito e
supostamente estudou no Tibete durante um ano. Fundou a Sociedade de Vril em
Berlim em 1918, que além aos credos da Sociedade de Thule, também promovia a
procura do vril entre seres sobrenaturais debaixo da terra. O local mais provável seria
o Tibete, que ele via como a terra natal dos emigrantes arianos de Thule.
590
Ahnenerbe (Departamento para o Estudo da Herança Ancestral) em 1935. A sua tarefa
principal era situar as origens da raça ariana, especialmente na Ásia central. Em 1937,
Himmler incorporou este departamento nos SS (alemão: Schutzstaffel, Equipe de
Proteção).
591
Shambhala, uma cidade de violência, de maldade e de materialismo. Agharti era
possessor do Caminho da Direita e do vril positivo, enquanto que Shambhala era
custódio do pervertido Caminho da Esquerda e da energia negativa.
592
das asserções de Pauwels, Bergier e Frére que Agharti seguiu o caminho da direita e
Shambhala o da esquerda.
Recordem que embora Blavatsky tivesse escrito sobre Lúcifer e Ahriman, ela não
fez dos dois um par e não associou nenhum dos dois com Shambhala ou Agharti. Além
disso, Blavatsky explicou que embora a erudição latina tenha transformado Lúcifer
num Satanás puramente maléfico, Lúcifer tinha o poder de destruir e de criar. Ele
representava a presença portadora de luz na mente de todos que podia elevar as
pessoas do animalismo e causar uma transformação positiva para um plano mais
elevado de existência.
Foi Steiner que tinha enfatizado Lúcifer e Ahriman como representando os dois
polos do poder destrutivo. Todavia, Steiner descreveu Lúcifer como a força destrutiva
fundamentalmente benevolente para a regeneração, e Ahriman como totalmente
malévolo. Além disso, Steiner associou Lúcifer com Shambhala e não com Agharti e, de
fato, como Blavatsky e Bailey, nunca mencionou Agharti. E mais, nenhum dos três
autores ocultistas descreveu Shambhala como situado no subterrâneo. Somente os
Roerichs tinham associado Shambhala com a cidade subterrânea de Agharti, mas
tinham esclarecido que os dois eram diferentes e nunca afirmaram que Shambhala era
subterrânea.
593
Ravenscroft prosseguiu dizendo que os mestres de Agharti concordaram ajudar a
causa nazista e, a partir de 1929, grupos de tibetanos vieram à Alemanha, onde se
tornaram conhecidos como a Sociedade de Homens Verdes. Juntamente com membros
da Sociedade do Dragão Verde do Japão, estabeleceram escolas ocultistas em Berlim e
em outros lugares. Notem que Pauwels e Bergier afirmaram que colônias não só de
tibetanos, mas também de hindus estavam presentes em Berlim e em Munique desde
1926, e não só desde 1929.
594
Vamos deixar de lado, por um momento, a pergunta se a Sociedade de Thule e o
Ahnenerbe realmente enviaram missões ao Tibete procurando a ajuda de Shambhala e
de Agharti. No entanto, deixem-nos supor, também por um momento, que Haushofer
tenha realmente misturado as lendas de Shambhala e Agharti com as convicções da
Sociedade de Thule e que a mistura resultante representava a posição ocultista nazista.
Se esse fosse o caso, então a seguinte teoria para explicar a asserção que Shambhala
rejeitou a abordagem nazista, enquanto que Agharti a aceitou faria sentido.
Com Dorjiev, Shambhala foi associada com a Rússia e mais tarde também com o
comunismo, enquanto que com Ossendowski, Agharti foi associada com as forças anti-
semíticas e anticomunistas do Barão alemão von Ungern-Sternberg. Desde a
Revolução Comunista bavariana de 1918, a Sociedade de Thule e Hitler eram
fervorosamente anticomunistas. Antes disto, ambos já eram antissemíticos. Assim, em
seus olhos, Shambhala era uma força escura e negativa que suportava a “ciência
Judaica-Marxista-Liberal” totalmente materialista. Com esta forte atitude
anticomunista, Hitler assinou o Pacto Anti-Commintern com o Japão em Novembro de
1936, em que ambos os países declararam a sua hostilidade mútua em relação à
propagação internacional do comunismo. Ambos concordaram que não iriam assinar
quaisquer tratados políticos com a União Soviética. Não obstante, para evitar uma
guerra europeia em duas frontes, Hitler assinou o Pacto Nazi-Soviético com Stalin em
agosto de 1939. Contudo, ele quebrou este pacto em junho de 1941, quando as forças
nazistas invadiram a União Soviética.
595
Em “Tempestade sobre Ásia” (1924), o espião alemão Wilhelm Filchner ligou a
causa soviética da conquista da Ásia central com o interesse dos Romanov pelo Tibete
desde o começo do século. Em 1926, os Roerichs entregaram terra, supostamente dos
mahatmas do Tibete, a Chicherin, o Ministro do Estrangeiro soviético, para colocar na
sepultura de Lenin. Helena Roerich referiu tanto a Marx como a Lenin como sendo
mahatmas e afirmou que os emissários dos mahatmas dos Himalaias se tinham até
encontrado com Marx na Inglaterra e Lenin na Suíça. Os mahatmas suportavam os
ideais comunistas de irmandade universal.
596
Entre 1929 e 1935, cinco livros pela aventureira francesa Alexandra David-Neel
apareceram em tradução alemã, tal como “Místicos e Magos no Tibete”. David-Neel
tinha passado muitos anos estudando e viajando no Tibete, e relatou que os mestres
de lá tinham poderes extra físicos que lhes permitiam desafiar a gravidade e correr
numa velocidade sobre-humana. Consequentemente, a fantasia sobre o Tibete como a
terra dos misteriosos poderes mágicos cresceu descontroladamente.
Em 1936, Theodor Illion, um explorador alemão que viajou ao Tibete nos inícios
da década de 1930, publicou “No Tibete Secreto” sob o pseudônimo Theodor Burang.
Nele, descreveu também os poderes sobrenaturais que os mestres tibetanos
possuíam. No seu segundo livro, “Escuridão sobre o Tibete” (1937), descreveu ter sido
conduzido a uma cidade subterrânea no “Vale do Mistério”, onde “uma Fraternidade
Oculta” canalizou energia espiritual para obter poder. O seu regente era o Príncipe
Mani Rimpotsche. Embora este “Príncipe da Luz” fingisse ser um regente benevolente,
era na verdade o líder de um culto malévolo, um “Príncipe da Escuridão”. Illion nunca
mencionou Shambhala, mas as suas obras populares também teriam adicionado peso
à asserção ocultista nazista de Shambhala como uma terra de mágica malévola.
597
do Tibete” (1934). Além disso, em “Ossendowski e a Verdade” (1925), Hedin
desacreditou a asserção de Ossendowski que os lamas mongóis lhe tinham falado de
Agharti. Nele, expôs Agharti como uma fantasia extraída da novela de Saint-Yves d'
Alveidre de 1886.
A Conexão Calmuque
O relatório por Pauwels e Berger que no fim da guerra, os russos encontraram
em Berlim um grande número de cadáveres de soldados de raça Himalaia, vestidos em
uniformes nazistas, que tinham cometido suicídio, também precisa ser posto à prova.
A implicação não-falada é que os russos encontraram os cadáveres dos adeptos
Tibetanos-Agharti que estavam ajudando a causa nazista e que, como Haushofer,
cometeram o suicídio ritual.
Primeiro, o hara-kiri era um costume japonês dos samurais, que muitos soldados
japoneses na Segunda Guerra Mundial seguiram para evitar a captura. Os seguidores
do budismo tibetano, contudo, consideram o suicídio um ato extremamente negativo
com consequências terríveis em vidas futuras. Nunca é justificável. O relatório atribui
598
incorretamente costumes japoneses aos tibetanos. Segundo, quaisquer soldados de
origem Himalaia encontrados em uniforme nazista seriam muito provavelmente
mongóis da Cálmúquia, e não tibetanos. E mais, os calmuques lutarem no exército
alemão não prova que apoiavam a ideologia nazista; e ademais também não prova que
apoiava suas crenças no budismo tibetano. Deixem-nos examinar os fatos históricos,
suplementando-os com informação obtida de entrevistas com calmuques vivendo em
Munique, Alemanha, que tinham participado em muitos dos eventos descritos abaixo.
Em 1763, a Czarina Catarina II, a Grande, convidou quase trinta mil alemães a
estabelecerem-se na região do Volga ao norte dos calmuques. Queria que eles
cultivassem a terra fértil e a protegessem dos “tártaros”. Tentou forçar o cristianismo e
a agricultura aos calmuques, fazendo com que muitos fugissem de volta a Dzungaria
em 1771. Por fim, porém, aqueles que permaneceram na Rússia foram aceitos,
especialmente porque que eram soldados excelentes. Durante as Guerras
napoleônicas (1812-1815), por exemplo, o exército russo teve um regimento
calmuque. Durante o século seguinte, os soldados calmuques estiveram em destaque
em divisões por todo o Exército Czarista.
599
Em 1931, Stalin coletivizou os calmuques, fechou os mosteiros budistas e
queimou os textos religiosos. Deportou para a Sibéria todos os monges e todos os
seguidores de gado que possuíam mais de quinhentos carneiros. Em parte devido à
política de coletivização de Stalin, rompeu-se uma grande fome de 1932 a 1933.
Aproximadamente sessenta mil calmuques morreram.
Quando a 16a Divisão Panzer nazista sob Field Marshal Mannstein conquistou a
Calmúquia nos inícios de 1942, foram acompanhados por três membros deste comitê.
Vários calmuques de Belgrado também participaram na invasão, tendo-se juntado ao
exército alemão após a ocupação nazista da Sérvia em abril de 1941. O povo da
Calmúquia saudou o exército alemão com manteiga e leite, a oferta tradicional para
dar as boas-vindas a convidados, como libertadores do regime opressivo de Stalin. Os
alemães disseram que iriam desmontar as coletivas e que iriam dividir e privatizar a
terra. Permitiram que os calmuques praticassem o budismo uma vez mais. Em
resposta, os calmuques exumaram os textos religiosos que tinham enterrado para sua
preservação e construíram um templo provisório. Em novembro e em dezembro de
1942, contudo, o exército vermelho retomou a Calmúquia e destruiu tudo que as
pessoas tinham reconstruído.
600
foram para Silésia, na Polônia e quinhentos para Zagrebe, na Croácia, onde foram
reorganizados para lutar contra os adversários.
Com base nas expedições nazistas à Antártica Nazi e nos relatos acima, o
ocultista alemão Ernst Zündel escreveu vários livros na década de 1970, incluindo
“OVNIs: Armas Secretas Nazistas?”, afirmando que os nazistas mantinham uma base
601
secreta numa área de lagos de água morna que haviam encontrado na Antártica. Lá,
eles teriam escondido a sua arma secreta, OVNIs. Zündel é também conhecido como o
proponente mais ardoroso sobre a teoria de que o holocausto na realidade nunca teria
acontecido.
Conclusão
A história de Kalachakra sobre Shambhala tem ativado as imaginações de muitas
figuras políticas estrangeiras e autores ocultistas. Distorcendo a lenda original e
interpolando ideias permeadas de fantasia, incorporaram o mito nos artigos que
escreveram para servir aos seus próprios propósitos. Atribuir estas distorções à
intenção original dos ensinamentos de Kalachakra seria fazer uma injustiça ao
budismo. Futuras pesquisas poderão revelar mais sobre estes assuntos.
Introdução
Muitos membros superiores do regime nazi, incluindo Hitler, mantinham crenças
ocultas bizantinas. Entre 1938 e 1939, impelidos por essas crenças, os alemães
enviaram uma expedição oficial ao Tibete, a convite do governo tibetano, para assistir
às celebrações do Losar (Ano Novo).
248
http://studybuddhism.com/pt/estudos-avancados/historia-e-cultura/shambhala/a-conexao-nazista-
com-shambhala-e-o-tibete
602
tibetano na Mongólia Interior, que tinha anexado como parte de Manchukuo, o seu
estado-fantoche na Manchúria. Alegando que o Japão era Shambhala, o governo
imperial estava tentando ganhar o apoio dos mongóis, sob seu domínio, para uma
invasão da Mongólia Exterior da Sibéria com o propósito de criar uma confederação
pan-mongol, sob proteção japonesa.
O segundo ingrediente era a ideia de uma terra oca. No fim do século XVII, o
astrónomo britânico Sir Edmund Halley sugeriu pela primeira vez que a terra era oca,
consistindo em quatro esferas concêntricas. A teoria da terra oca excitou as
imaginações de muitas pessoas, especialmente com a publicação, em 1864, da
“Viagem ao Centro da Terra” do novelista francês Júlio Verne.
603
povo subterrâneo de Thule, que irá aproveitar o poder de Vril para se transformar em
super-homens e dominar o mundo.
604
Em 1919, a sociedade criou o Partido Alemão dos Trabalhadores. Começando
mais tarde, nesse ano, Dietrich Eckart, um membro do círculo mais restrito da
Sociedade de Thule, iniciou Hitler na sociedade e começou a treiná-lo nos seus
métodos para utilizar o poder de Vril para a criação de uma raça ariana de super-
homens. Hitler teve uma inclinação para o misticismo desde a sua juventude, quando
estudou o Oculto e a Teosofia em Viena. Mais tarde, Hilter dedicou o “Mein Kampf” a
Eckart. Em 1920, Hitler tornou-se líder do Partido Alemão dos Trabalhadores,
renomeando-o então para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães
(Partido Nazista).
Após ter servido como general na Primeira Guerra Mundial, Haushofer fundou a
Sociedade Vril, em Berlim, em 1918. Partilhava as mesmas crenças básicas que a
Sociedade de Thule, e dizem que era o seu círculo mais restrito. A Sociedade procurou
contatar seres sobrenaturais debaixo da terra para deles obter os poderes de Vril.
Afirmou também que a raça ariana tinha tido origem na Ásia central. Haushofer
desenvolveu a doutrina da Geopolítica e, nos finais da década de 1920, tornou-se
diretor do Instituto de Geopolítica da Universidade Ludwig-Maximilians, em Munique.
A geopolítica advogava a conquista de territórios, para obter mais espaço vital
(alemão: Lebensraum), como um instrumento de obtenção de poder.
605
A Suástica
A suástica é um antigo símbolo indiano de boa sorte imutável. “Suástica” é um
aportuguesamento da palavra sânscrita svastika, que significa o bem-estar ou a boa
sorte. Usada por hindus, budistas e jainistas durante milhares de anos, também se
tornou difundida no Tibete.
Nos finais do século XIX, Guido von List adotou a suástica como emblema para o
movimento Neo-Pagão da Alemanha. No entanto, os alemães não usaram a palavra
sânscrita suástica, mas em vez disso chamaram-na “Hakenkreutz”, significando “cruz
enganchada”. Derrotaria e substituiria a cruz, assim como o neo-paganismo derrotaria
e substituiria o cristianismo.
606
bandeira nazi apareceu pela primeira vez em 1920. É mais provável que Haushofer
tivesse usado a presença da suástica, difundida na Índia e no Tibete, como evidência
para convencer Hitler de que esta região era o local dos antepassados da raça ariana.
607
A política nazi de tolerância ao budismo não prova qualquer influência de
ensinamentos budistas a Hitler ou à ideologia nazi. Uma explanação mais provável
seria a Alemanha não pretender prejudicar as relações com o seu aliado budista, o
Japão.
O Ahnenerbe
Sob a influência de Haushofer, Hitler autorizou Frederick Hielscher, em 1935, a
estabelecer o Ahnenerbe (Departamento para o Estudo da Herança Ancestral) com o
coronel Wolfram von Sievers como diretor. Entre outras funções, Hitler encarregou-o
de pesquisar runas germânicas e as origens da suástica, e situar a origem da raça
ariana. Tibete era o candidato mais prometedor.
608
Em 1937, Himmler transformou o Ahnenerbe numa organização oficial associada
às SS (alemão: Schutzstaffel, Equipa de Proteção) e selecionou o professor Walther
Wüst, presidente do Departamento de Sânscrito da Universidade de Ludwig-
Maximilians, em Munique, como seu novo diretor. O Ahnenerbe teve um “Instituto do
Tibete”, que foi renomeado de “Instituto de Sven Hedin para Ásia Interior e
Expedições” em 1943.
609
marcas corporais. Concluiu que os tibetanos ocupavam uma posição intermediária
entre as raças mongóis e europeias, com o elemento racial europeu mais
pronunciadamente marcado entre a aristocracia.
Com exceção do fato de que Himmler não estabeleceu o Ahnenerbe, mas, em vez
disso, incorporou-o nas SS em 1937, o relato de Ravenscroft contém outras afirmações
dúbias. A principal é o suposto suporte de Agharti pela causa nazi. Em 1922, o cientista
polaco Ferdinand Ossendowski publicou “Bestas, Homens e Deuses”, descrevendo as
suas viagens através da Mongólia. Nele, relatou ter ouvido falar do reino subterrâneo
de Agharti sob o deserto Gobi. No futuro, os seus poderosos habitantes viriam à
superfície salvar o mundo do desastre. A tradução alemã do livro de Ossendowski
Tiere, Menschen und Götter apareceu em 1923 e tornou-se muito popular. Sven Hedin
contudo publicou, em 1925, “Ossendowski e a Verdade”, através do qual denunciou as
afirmações do cientista polaco. Chamou a atenção de Ossendowski ter recolhido a
ideia sobre Agharti da novela de Saint-Yves d’Alveidre, escrita em 1886, intitulada
610
“Missão da Índia na Europa” para tornar a sua história mais atraente para o público
alemão. Dado que Hedin tinha uma forte influência no Ahnenerbe, é improvável que
este departamento tivesse enviado uma expedição especificamente para encontrar
Shambhala e Agharti e, subsequentemente, tivesse recebido auxílio do último.
611
PARTE VII – A TRADIÇÃO
OCIDENTAL
612
Orientalismo, o Oriente como Invenção do Ocidente
613
Na introdução da obra, o autor esclarece que o "...Oriente não é apenas
adjacente à Europa; é também o lugar das maiores, mais ricas e mais antigas colônias
europeias, a fonte de suas civilizações e línguas, seu rival cultural e uma das suas
imagens mais profundas e mais recorrentes do Outro. Além disto, o Oriente ajudou a
definir a Europa (ou o Ocidente) com sua imagem ideia, personalidade, experiência
contrastantes. Mas nada nesse Oriente é meramente imaginativo. O Oriente é uma
parte integrante da civilização e da cultura material europeia. O Orientalismo expressa
e representa essa parte em termos culturais e mesmo ideológicos, num modo de
discurso baseado em instituições, vocabulário, erudição, imagens, doutrinas,
burocracias e estilos coloniais."
“Afora os orientalistas mais ou menos "oficiais", que têm ao menos em seu favor,
na falta de outras qualidades mais intelectuais, uma boa fé geralmente incontestável,
não há, como apresentação ocidental das doutrinas do Oriente, senão os devaneios e
as divagações dos teosofistas, que não passam de uma série de erros grosseiros,
agravados ainda pelos procedimentos do mais baixo charlatanismo. Consagramos a
este assunto um estudo especial249, no qual, para fazer completa justiça a todas as
pretensões dessas pessoas e para demonstrar que não têm qualificação para serem
recomendados pelo Oriente, muito pelo contrario...” 250
249
“O Teosofismo, História de uma Pseudo-Religião” - Ver também “Introdução Geral ao Estudo das
Doutrinas Hindus”, 4ª parte, cap. III.
250
Pág. 111 de "Oriente e Ocidente", de René Guénon.
614
“Se não há vestígios de "tradição oriental" entre os teosofistas, tampouco
existe "tradição ocidental" autêntica entre os ocultistas; mais uma vez, nada há de
sério em tudo isto, existe apenas um "sincretismo" confuso e um tanto incoerente,
dentro do qual as concepções antigas são interpretadas da maneira mais falsa e mais
arbitrária, cuja única função parece ser a de servir de disfarce para o mais pronunciado
"modernismo"; se qualquer coisa nele existe de "arcaísmo", é apenas nas formas
exteriores, e as concepções da Antiguidade e da Idade Média ocidental lhes são tão
completamente incompreensíveis quanto aquelas do Oriente o são no Teosofismo.”
“Certamente, não é por aí que o Ocidente poderá jamais encontrar sua própria
tradição, muito menos poderá reunir-se à intelectualidade oriental, e pelas mesmas
razões: aqui ainda, estas duas coisas são estreitamente ligadas, o que quer que possam
pensar alguns que vêm oposições e antagonismos ali aonde não poderiam existir, entre
os ocultistas precisamente, existem os que se acreditam obrigados a não falar do
Oriente, do qual eles ignoram tudo, senão com epítetos injuriosos que traem um
verdadeiro ódio, e provavelmente também o despeito de sentir que existe ali
conhecimentos que eles não poderão jamais penetrar. Não reprovaremos de forma
alguma aos teosofistas ou aos ocultistas sua insuficiência de compreensão, pela qual,
apesar de tudo, eles não são responsáveis; mas, se é ocidental (nós estamos falando do
ponto de vista intelectual), que se reconheçam francamente, e que não use uma
máscara oriental; se temos o espírito moderno, que se ouse ao menos o confessar
(existem muitos que se vangloriam disso!), e que não se invoque uma tradição que
não se possui.” 251
Uma das ideias muito divulgadas é de que essa separação entre Oriente e
Ocidente deveu-se a falta de comunicação, mas a atual historiografia está
demonstrando que o intercâmbio de ideias Oriente/Ocidente sempre existiu! A seguir
veremos os estudos da professora Drª. Carmen Lícia Palazzo sobre a Rota da Seda.
251
Páginas 112 e 113 de "Oriente e Ocidente", de René Guénon.
252
Página 114, ob. Cit.
615
No seu artigo sobre a Rota da Seda, a professora Drª. Carmen Lícia Palazzo253 nos
dá uma ideia deste intercâmbio:
253
Doutora em História pela Universidade de Brasília (UnB, 1999). Atualmente é pesquisadora
convidada do UniCeub (Centro Universitário de Brasília). É consultora do PEJ/UnB (Departamento de
História) e membro dos grupos de pesquisa Estudos Persas, da UnB e Officium, da Universidade Federal
da Paraíba. Foi pesquisadora visitante da Georgetown University (Washington, DC). Possui cursos de
especialização na Itália, na França, no Uruguai e nos Estados Unidos. É membro da Middle East Studies
Association, da Society for the Medieval Mediterranean e da International Society for Iranian Studies.
Trabalha com Relatos de Viajantes, História do Oriente e intercâmbio entre culturas. Publicou, entre
outros, os artigos “Hildegarda de Bingen: o excepcional percurso de uma visionária medieval”, na revista
Mirabilia, nº 2, e “Hildegarda de Bingen”, na Conociendo a Hildegarda (coordenada por Azucena
Fraboschi, Buenos Aires), e os livros Entre Mitos, Utopias e Razão: Os Olhares Franceses Sobre o Brasil
(EdiPucrs) e Alexandra David-Neel - Itinerários de uma Orientalista (Annablume).
616
séculos, atravessando uma longa extensão geográfica, passando pelas mãos de
diversos intermediários, no caminho de inúmeras caravanas que percorriam uma vasta
região desde a China até o Mediterrâneo. O que posteriormente veio a se denominar
Rota da Seda constituía-se numa imensa rede de caminhos, de oásis, de estradas e
desvios que, desde a Antiguidade, foram percorridos por mercadores, peregrinos e
aventureiros, entre o território chinês e os diversos portos do Mediterrâneo, tais como
Istambul, Antioquia e Tiro.”
“À medida em que nossa pesquisa for sendo desenvolvida esperamos chegar aos
reflexos e apropriações de toda esta riqueza cultural por uma Europa que, em muitos
momentos, alimentou-se da sabedoria oriental e dela tirou as forças que necessitava
para sua renovação. Especialmente na Península Ibérica e na Itália pode ser
encontrada, em inúmeros domínios, uma parte significativa do legado do Oriente –
oferta generosa que o mundo moderno esqueceu.”
254
O professor Edward Saïd discutiu freqüentemente tanto o termo “orientalismo” quanto suas
repercussões ao ser utilizado pelos acadêmicos ocidentais. Ver, deste autor, Orientalismo: o Oriente
como invenção do Ocidente, São Paulo: Companhia das Letras, 1990. Trata-se de uma obra que tem
despertado polêmica entre os especialistas, mas que é importante para esclarecimento de alguns
conceitos.
617
CONCLUSÃO
Como pudemos constatar ao longo desta pesquisa a Antiga (de 1915) e Mística
Ordem Rosacruz AMORC, historicamente, foi criada por Harvey Spencer Lewis a partir
de ideias pessoais do que seria o rosacrucianismo. Na elaboração de seus
“ensinamentos” Lewis utilizou um amálgama de ideias provindas de fontes diversas
como o movimento do Novo Pensamento, Yoga (exercícios respiratórios, utilização da
sílaba OM, yoganidra, etc...), Teosofia (mestres Kuthumi e El Morya), e mais tarde
material que entrou em contato através da OTO e FUDOSI.
Para os “Perenialistas” ela não passa de apenas mais uma organização pseudo-
tradicional. Como diria Guenon: "Fora da Tradição não há salvação255", após romper
com as ordens com data de fundação...
255
Em René Guénon, A Crise do Mundo Moderno, 1927.
256
Pág. 187 de "Oriente e Ocidente", de René Guénon.
618
LINKS
TODAS AS REVISTAS
http://www.iapsop.com/archive/materials/index.html
The Equinox
Official organ of the A.A. The Review of Scientific Illuminism. 1909-1919 Semiannual
http://www.iapsop.com/archive/materials/equinox/
http://www.the-equinox.org/vol1/no1/index.html
http://hermetic.com/crowley/equinox/
Eon - the teachings of the Order of the Lily and the Eagle
Revue Spiritualiste / Initiatique. 1920-1925 Semimonthly, monthly, bimonthly, quarterly
(irregular). Paris, France. Language: French. Editor: Dr. P. Semelas, R. Weill, J. Dupont.
Mme Z. Goltdammer-Dupont.
http://www.iapsop.com/archive/materials/eon/
619
Paris, France. Publisher: Chacornac Freres. Editor: Rene Guenon, director; Rene Allar; Andre
Preau; Frithjof Schuon;
http://www.iapsop.com/archive/materials/vdi_etudes_traditionnelles/
La Iniciacion
A todos aquellos que, cansados de aprender, desean, por fin, saber / Mensuario del Grupo
Independiente de Estudios Esotericos (GIDEE). 1942-1947 Monthly (irregular)
Montevideo, Uruguay. Language: Spanish.
Corporate author: Grupo Independiente de Estudios Esotericos / Orden Martinista de America
del Sur. 1/1, May 1942-December 1947.
http://www.iapsop.com/archive/materials/iniciacion_montevideo/
L' Initiation
Revue philosophique independente des hautes etudes: Hypnotisme, Force Psychique,
Theosophie, Kabbale, Gnose, Franc-Maçonnerie, Sciences Occultes. 1888--1912 Monthly
Paris, France. Language: French. Publisher: Georges Carre / Librairie du Merveilleux /
Chacornac / Librairie Initiiatique / Paul Ollendorff. Editor: Papus (Dr. Gerard Encausse) and
Georges Montiere, with the assistance of F. Ch. Barlet, Stanislas de Guaita, and Julien Lejay.
Succeeded by: Mysteria-->L'Initiation (1953, revived by Papus's son, Philippe Encausse)
1/1, October 1888-96/12, September 1912. 96 pp. (varies). 10 francs a year in France, 12
beyond. Indexed.
http://www.iapsop.com/archive/materials/l_initiation/
Die Oriflamme
Este é o famoso jornal, mais referido do que realmente visto, que Reuss eventualmente usou
para espalhar a palavra da OTO (Ordo Templi Orientis).
http://www.iapsop.com/archive/materials/oriflamme/
620
Tränker (1880-1956), em Nova York, em 1932, que era uma continuação do Collegium
Pansophicum fundado por Tranker e sua esposa, na Alemanha, no início de 1920.
http://www.iapsop.com/archive/materials/pansophic_intellectualizer/
Rosa-Cruz.
Revista de Ciencia Rosa-Cruz y Estudios Afines / Luz del Mundo.
Ciencia, Filosofia, Espiritualismo / Pro Integral Mejoramiento Humano
Other titles: Fraternidad Rosa-Cruz / Rosa-Cruz / Revista Rosa-Cruz / Rosa-Cruz de Oro /
Fraternidad Rosa-Cruz Antigua
1934 Monthly (irregular), semiannual, then quarterly
Bogata, Colombia. Language: Spanish. Editor: Israel Rojas Romero.
Corporate author: Organo del Centro Rosa-Cruz de Bogata
http://www.iapsop.com/archive/materials/rosa-cruz/
The Shekinah
Devoted to the Emancipation of Mind, the Elucidation of Vital, Mental, and Spiritual
Phemonena, and the Progress of Man. 1851 a 1853 Quarterly, then every other month, then
monthly. Bridgeport, CT, and then New York, NY. Publisher: S.B. Brittan, and then Partridge &
Brittan (September 18,1852 on). Editor: Samuel Byron Brittan. Succeeded by: Buchanan's
Journal of Man
http://www.iapsop.com/archive/materials/shekinah/
============================
621
escrever e um método da duplicação foi necessária para produzir aulas). Lições por correio
ocultas também abriram novos mecanismos de supressão para o Estado, tornando professores
ocultos sujeitos a regulamentos de fraude postal, e serviu como mais uma prova, nas mãos dos
detratores de venda por correspondência, que o modelo de negócio de vendas por
correspondência era um sério mal social que precisava ser legislado.
http://www.iapsop.com/lessons/
=====================================
BIBLIOTECA DE LIVROS
O Standard Spiritualist and Occult Corpus (SSOC) é um projeto de texto de código aberto, com
foco em textos de livro completo, em Inglês, cobrindo o Espiritismo, o Oculto, Novo
Pensamento e Paraciências Aliadas (mesmerismo, magnetismo, frenologia, alquimia,
quiromancia e assim por diante) publicados entre 1790 e 1940. Atualmente, o SSOC consiste
em mais de 3.500 textos de livro completo (mais de 2,1 milhões de páginas) por mais de 300
autores, e inclui muitos dos textos considerados "clássicos" em espiritualismo e ocultismo.
Cada texto no SSOC é fornecido, gratuitamente, em formato PDF indexado, permitindo que ele
seja armazenada eletronicamente, pesquisados, impressos e convertidos (para a imagem,
HTML ou texto).
http://www.iapsop.com/ssoc/
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NO SCRIBD:
622
https://pt.scribd.com/doc/90520865/Rosicrucian-Manual-1927
As "cartinhas" da AMORC
https://pt.scribd.com/doc/298589615/AMORC-Letters-1960-1961
https://pt.scribd.com/doc/295232707/AMORC-Hail-Neophyte-signed-by-Thor-kiimalehto-1940
https://pt.scribd.com/doc/206807486/Frater-Thor-Kiimalehto-Complained-for-Money-Due-
1923
https://pt.scribd.com/doc/179934311/Dr-H-Spencer-Lewis-holding-a-benediction-stone-1930-
pdf
https://pt.scribd.com/doc/145590167/Rosicrucian-Initiation-A-Sealed-Book-1921-pdf
https://pt.scribd.com/doc/182161127/AMORC-A-Complete-System-of-Natural-Harmonics-
1918-pdf
https://pt.scribd.com/doc/245854734/Inner-Hermetic-Teachings-1959
https://pt.scribd.com/doc/160348106/AMORC-The-Triangle-September-1921-color-pdf
https://pt.scribd.com/doc/177224674/Eleusis-1
https://pt.scribd.com/doc/303944081/AMORC-Modern-Theories-of-Matter-and-atomic-
Structure-1942
https://pt.scribd.com/doc/303943154/AMORC-Cosmic-Rays-1942
https://pt.scribd.com/doc/118469247/AMORC
https://pt.scribd.com/doc/118468760/AMORC
623
Martinismo - cita a FUDOSI
https://pt.scribd.com/doc/70082403/Martinism-International-College-of-Esoteric-Studies-
ICES-Liber34
https://pt.scribd.com/doc/94444757/Martinist-Tradition-v-6
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Incluindo:
Books Concerning Magick
Martinist and Rectified Scottish Rite Library
Masonic Rosicrucian Library
Memphis-Misraim Library
Rito de Memphis-Misraim
Vários livros do Memphis-Misraim em pdf para baixar:
http://oadriax.net/FTP/Memphis-Misraim%20Library/
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Bibliografia
625
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“Você precisa entender, a maioria destas pessoas não está preparada para
despertar. E muitas delas estão tão inertes, tão desesperadamente dependentes do
sistema, que irão lutar para protegê-lo.”
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