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PROJETO

GLEBA LEGAL

CORREGEDORIA-GERAL DA JUSTIÇA

GESTÃO 2004/2005
CORREGEDORIA-GERAL DA JUSTIÇA

GESTÃO 2004/2005

Des. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO


CORREGEDOR-GERAL DA JUSTIÇA

JUÍZES-CORREGEDORES:

Doutor AFIF JORGE SIMÕES NETO


Doutor ALBERTO DELGADO NETO
Doutora ÂNGELA MARIA SILVEIRA
Doutor CARLOS EDUARDO RICHINITTI
Doutor CLADEMIR JOSÉ CEOLIN MISSAGGIA
Doutor CLÁUDIO LUÍS MARTINEWSKI
Doutora CRISTINA PEREIRA GONZALES
Doutor EDUARDO JOÃO LIMA COSTA
Doutor EDUARDO UHLEIN
Doutora ELIZIANA DA SILVEIRA PEREZ
Doutor HONÓRIO GONÇALVES DA SILVA NETO
Doutor IVAN BALSON ARAÚJO
Doutor JOSÉ LUIZ REIS DE AZAMBUJA
Doutor LUCIANO ANDRÉ LOSEKANN
Doutor RICARDO PIPPI SCHMIDT
Doutora VIVIAN CRISTINA ANGONESE SPENGLER

GRUPO DE TRABALHO:

Doutor ARMANDO ANTÔNIO LOTTI. Procurador de Justiça;

Doutor JOÃO FIGUEIREDO FERREIRA, Tabelião de Protes


tos Cambiais;

Doutor JOÃO PEDRO LAMANA PAIVA, Tabelião de Protestos


Cambiais e Oficial de Registros Públicos;

Doutor JOSÉ LUIZ REIS DE AZAMBUJA, Juiz de Direito;

Doutor LUIZ CARLOS WEIZENMANN, Tabelião de Notas;

Doutor MÁRIO PAZUTTI MEZZARI, Oficial de Registro de


Imóveis.

COLABORADORES:

Doutor OLYNTHO MENDES DE CASTILHOS,


Oficial do Registro de Imóveis da 1ª Zona de Caxias do Sul;

Doutor DÉCIO ANTONIO ERPEN,


Desembargador jubilado;

COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL, Secção do RGS;

COLÉGIO REGISTRAL DO RGS;

SINDICATO DOS REGISTRADORES DO ESTADO DO RGS;

SINDICATO DOS NOTÁRIOS DO ESTADO DO RGS;

MANOEL GONÇALVES,
Oficial Superior Judiciário – SEDOC/CGJ (Capa).
APRESENTAÇÃO

O Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, através da Corregedoria-Geral da


Justiça – Gestão 2004/2005 – vem ofertar à Sociedade Gaúcha o Projeto Gleba Legal
(Provimento nº 07/2005-CGJ).

Em razão de uma legislação rural ultrapassada, cujas bases foram lançadas na década
de 60 do século passado, os produtores rurais brasileiros, especialmente os pequenos
proprietários, enfrentam atualmente severas dificuldades porque excluídos do sistema estatal
de distribuição de financiamentos agrícolas. Essa realidade advém da recusa de aceitação de
seus imóveis como garantia, por estarem registrados como frações ideais, ou seja, em
condomínio, embora de fato essas propriedades apresentem divisas certas e determinadas, em
situação consolidada, admitida, conhecida e respeitada pelos confrontantes.

Com análise criteriosa e acurada, repensando os objetivos e finalidades do conjunto de


normas que regram a atividade rural e verificando a necessidade de correção de rumos,
trabalhamos sobre as lacunas da lei e expressamos, neste Projeto, aquilo que a Administração
Pública Federal começa a perceber, porém ainda não conseguiu pôr em prática através da
dicção do próprio sistema legislativo.

A idéia da real inserção do pequeno produtor rural no sistema sócio-econômico


brasileiro possui um amplo espectro que se inicia no reconhecimento de sua vital importância
para o desenvolvimento de um país continental, cujo volume de terras agricultáveis é imenso,
passando pela necessidade de reconhecer-lhe garantias efetivas ao exercício do trabalho e
completando-se com a valorização de seus direitos fundamentais de dignidade e cidadania
que, a final, representam a própria afirmação do país no concerto das Nações.

Nesses termos, extremamente preocupado com a importância e necessidade de tal


valorização e inspirado no profundo alcance social da medida, o Poder Judiciário do Rio
Grande do Sul, por sua Corregedoria-Geral, desempenhando suas funções constitucionais e
sociais, lega à Sociedade Gaúcha, notadamente a rural, e à Comunidade Jurídica do Rio
Grande, o Projeto Gleba Legal, acreditando constituir-se em um instrumento de relevante
importância para a afirmação e reconhecimento do pequeno proprietário rural, assim como, por
extensão, ao exercício da cidadania como autêntico objetivo fundamental da construção de um
Estado Democrático de Direito.

Porto Alegre, 12 de abril de 2005.

DES. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO


Corregedor-Geral da Justiça
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EXPEDIENTE Nº 20366-0300/05-0
PARECER N° 032 2005 JLRA

SENHOR DESEMBARGADOR:

1. Relatório

Na condição de responsável pela matéria especializada relacionada às áreas Notarial e


de Registros Públicos e, por extensão, por alguns projetos cuja prioridade foi traçada por Vossa
Excelência nesta segunda gestão à testa da Corregedoria-Geral da Justiça, procedemos à
formação de Grupo de Trabalho com as finalidades de (1) revisar o Projeto More Legal 2
1
(Provimento nº 17/99/CGJ) , (2) elaborar o Projeto Gleba Legal, (3) atualizar a Consolidação
Normativa Notarial e de Registro/CGJ e (4) elaborar anteprojeto de lei relativo ao Fundo de
Compensação dos Oficiais do Registro Civil das Pessoas Naturais pelos atos gratuitos por eles
praticados, em face de determinação legal.

Mediante convite gentil e prontamente aceito, aliaram-se a esse desiderato o


Procurador de Justiça Dr. Armando Antônio Lotti, os Tabeliães Drs. João Figueiredo Ferreira e
Luiz Carlos Weizenmann, da Comarca da Capital, e os Registradores Drs. João Pedro Lamana
Paiva, da Comarca de Sapucaia do Sul, e Mário Pazutti Mezzari, da Comarca de Pelotas.

Reunido desde setembro de 2004, o Grupo debateu, discutiu e elaborou as linhas dos
projetos, do que resultou a conclusão do More Legal 3, assim como a do Projeto Gleba Legal,
ora apresentado, estando em adiantado estágio o trabalho de atualização da Consolidação
Normativa, com a matéria dividida em partes, para estudo, por seus componentes. Importante
consignar que a prioridade do momento é o Fundo de Compensação, cuja proposta deverá
estar finalizada até meados de maio/2005.

Porém, o fundamento principal do presente parecer é a apresentação do Projeto Gleba


Legal.

2. Introdução

A idéia do Projeto Gleba Legal partiu da verificação de uma situação de fato provocada
no decorrer de várias décadas pela ausência de atualização da legislação rural.

Não existem dúvidas de que um dos principais objetivos das regras legais
regulamentadoras do parcelamento do solo rural, sempre foi a proteção jurídica dos
adquirentes de imóveis e o asseguramento de condições para uma adequada produção
agrícola.

Contudo, a legislação rural, de competência da União, aí incluídas as normas do


Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), vem impondo, desde os
primórdios dos anos 60 do século passado, a escrituração e o registro de imóveis rurais como
frações ideais, o que impede sua correta e completa definição/localização e estabelecendo a
criação de milhares de condomínios irreais.

O Estatuto da Terra – Lei nº 4.504, de 30/11/1964 - e diplomas legais correlatos


impuseram limitação das áreas rurais por módulos em cada região do país, estabelecendo
frações mínimas de parcelamento que, em grande parte dos casos, não correspondem à
realidade dessas regiões. Situações localizadas – desconsideradas como micro-regiões - que
estavam a merecer enfoque pormenorizado em razão, principalmente, do tipo de cultura

1
Projeto já realizado, com a edição do More Legal 3 (Provimento nº 28/2004, de 28/out./2004).
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praticado, entre outras características e circunstâncias, foram ignoradas. Trata-se do resultado


de uma política centralizadora e unificada, cuja tendência conduziu a indesejável
generalização, cega a situações específicas, deficiência de que, aliás, se ressente imenso
contingente de vetores da Administração Pública neste país-continente.

Tais determinações legais, a par de estabelecerem registros imobiliários deficientes e


não correspondentes à realidade, têm obstado o direito dos agricultores, notadamente os
pequenos proprietários, de disporem de seus imóveis para a obtenção de financiamentos
bancários destinados ao próprio desenvolvimento agrícola. O maior banco do país, principal
instrumento do Estado para a realização e distribuição do crédito rural, tem-se negado a
receber, em garantia de financiamentos, imóveis rurais registrados como frações ideais de um
todo maior, antevendo as severas dificuldades que virá a enfrentar em sede de eventuais
ações de execução, à vista da insuficiência de descrição das áreas, além de outras implicações
legais e jurídicas daí decorrentes.

Esse estado de coisas erige-se, indubitavelmente, como um quase invencível entrave


ao desenvolvimento da política agrícola nacional e, mais do que isso, contraria frontalmente
preceitos constitucionalmente estabelecidos.

O artigo 186 da Carta Política do Brasil estabelece que a função social da propriedade
rural é cumprida quando atende ela aos requisitos de aproveitamento racional e adequado,
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente,
observação das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o
bem-estar dos proprietários e trabalhadores.

Destaca-se, portanto, a necessidade de reversão da atual situação. A experiência de


quase meio século demonstra que o rumo tomado ao início merece ser corrigido, o que há
muito se espera do Poder Legislativo Federal.

O Projeto Gleba Legal tem a inspiração de reversão de um quadro que se tornou


anacrônico, descortinando uma visão comprometida com a atualidade e com a necessidade de
promoção de uma correta política agrícola e fundiária, na verdadeira acepção da função social
da propriedade.

3. O Projeto

O Projeto Gleba Legal concretiza-se mediante um provimento, instrumento jurídico-


administrativo com caráter de instrução, a permitir a regularização de parcelas de imóveis
rurais registradas em condomínio, com posse mínima de cinco anos pelo proprietário, porém
em situação de fato pro diviso, abrangendo quaisquer glebas rurais, mesmo aquelas em que
impossível definir a área maior e seus respectivos condôminos, sempre respeitada a fração
mínima de parcelamento (FMP) definida pelo INCRA.

Para a localização, é exigida a anuência dos confrontantes da parcela a ser extremada


e, para a comprovação do prazo mínimo de posse localizada, será suficiente a declaração do
proprietário, corroborada pelos confrontantes.

A instrumentalização do ato será procedida mediante escritura pública declaratória,


com obrigatória intervenção de todos os confrontantes da gleba a ser localizada, sejam ou não
condôminos na área maior.

Na hipótese de impossibilidade de obtenção da anuência de qualquer confrontante no


ato notarial, será ele notificado, no endereço fornecido pelo requerente ou no próprio imóvel
contíguo, através do Ofício do Registro de Títulos e Documentos, para manifestar-se em prazo
determinado. Caso não encontrado ou dado como em lugar incerto ou desconhecido, a
notificação far-se-á por edital, publicado em jornal local, após o que a anuência será
considerada presumida.
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Para os casos de simples localização de parcela, desnecessária a retificação da


descrição da área, será suficiente a apresentação do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural
(CCIR) e a comprovação da quitação do Imposto Territorial Rural (ITR), cuja transcrição
constará na escritura. Nestas hipóteses dispensa-se a apresentação de planta e memorial.

No caso da necessidade de retificação da descrição da gleba – entendida como a que


altere ou inclua dados necessários, não constantes na descrição original (medidas de
perímetro ou segmentos, ângulos, etc) – serão aplicadas as normas relativas à retificação de
registro imobiliário (artigos 212 e seguintes, Lei 6.015//73).

Firmada a escritura pública declaratória, à qual se aplicam os emolumentos relativos às


divisões e extinções de condomínio, será protocolada no Ofício do Registro Imobiliário da
circunscrição do imóvel, quando o Registrador verificará de sua regularidade em atenção aos
princípios registrais e lavrará ato de registro, tal como procede com as escrituras de divisão, daí
resultando a abertura de matrícula para a gleba localizada. Tratando-se de localização
cumulada com retificação de descrição da área, o Registrador praticará dois atos, o registro
daquela e a averbação desta.

O Projeto contempla, ainda, situações específicas relacionadas com a incidência de


cláusulas restritivas, ônus e gravames sobre a parcela objeto da localização, prevendo a
conduta em cada caso (hipoteca, penhora judicial, penhora fiscal, anticrese, usufruto, alienação
fiduciária, indisponibilidade judicial e administrativa, arrolamento).

O Projeto Gleba Legal constitui-se em um instrumento de proteção jurídica aos


proprietários de imóveis rurais, através da obtenção de registro imobiliário individuado e
definido, assegurando-lhes condições de inserção no sistema estatal de distribuição de
financiamentos agrários, absolutamente necessários para uma adequada produção agrícola.

A Constituição Federal, quando consagrou o Direito de Propriedade, não estabeleceu


limitações à garantia do acesso à posse e à propriedade, que decorre da imprescindível
titulação do imóvel, procedida com definição precisa e suficiente.

É este o espírito do Projeto.

Acredito que Vossa Excelência, ao patrocinar o Projeto Gleba Legal, estará conferindo
a milhares de produtores rurais um instrumento hábil a proporcionar-lhes segurança jurídica,
advinda da autonomia que passarão a desfrutar, permitindo que suas propriedades cumpram,
com muito maior amplitude, o preceito constitucional da destinação social da propriedade rural.

4. Necessidade de divulgação/parcerias/convênios:

Considerada a natureza do Projeto e a importância da participação dos Municípios do


Estado no processo de sua utilização como instrumento de integração, cidadania, harmonia e
justiça social, é curial a realização de convênios com a Federação das Associações dos
Municípios do RGS (FAMURS) e com União dos Vereadores do RGS (UVERGS) para que o
Gleba Legal tenha adequada divulgação.

5. Conclusão

Do exposto, opino:

a) pelo acolhimento do presente parecer, com o lançamento do Projeto GLEBA


LEGAL, por provimento, cuja minuta sugerida vai anexa;

b) pela confecção de cartilha do Projeto, com a capa cujo modelo encontra-se


neste expediente, com tiragem de dois mil (2000) exemplares, para posterior
distribuição aos Juízes de Direito Diretores de Foro do Estado, Prefeitos
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Municipais, Presidentes de Câmaras de Vereadores, Promotores de Justiça,


Tabeliães e Registradores;

c) pela realização de convênios com a FAMURS e UVERGS, com a finalidade de


divulgação do Projeto;

d) Pela fixação da data de 12 de abril de 2005, às 11 horas, para o lançamento


público do Projeto, nesta Corregedoria-Geral de Justiça, com a presença da
Imprensa, Autoridades e convidados.

É o parecer que submeto à elevada consideração de Vossa Excelência.

Porto Alegre, 21 de março de 2005.

José Luiz Reis de Azambuja


Juiz-Corregedor
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PROVIMENTO Nº 07/2005-CGJ

INSTITUI O PROJETO “GLEBA LEGAL”

O Excelentíssimo Desembargador ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE


NETO, Digníssimo Corregedor-Geral da Justiça, no exercício de suas atribuições legais,

CONSIDERANDO que o universo das normas da legislação ordinária que versam


sobre a função da propriedade imóvel, sua aquisição e perda, deve ser visto pelo prisma dos
objetivos constitucionais, para a preservação da unidade e coerência do sistema jurídico;

CONSIDERANDO que a inviolabilidade do direito à propriedade merece ser


dimensionada em harmonia com o princípio, também constitucional, de sua função social;

CONSIDERANDO que a construção de um Estado Democrático de Direito, em que a


plenitude do exercício da cidadania avulta como um de seus autênticos objetivos fundamentais,
com o resguardo dos valores mínimos da dignidade humana;

CONSIDERANDO que a moderna função do Direito não se limita à clássica solução


conceitual de conflitos de interesses e de geração de segurança jurídica mas, além disso,
importa na criação de condições para a valorização da cidadania e na promoção da justiça
social;

CONSIDERANDO que um dos principais objetivos das regras legais


regulamentadoras do parcelamento do solo rural sempre foi a proteção jurídica dos adquirentes
de imóveis e o asseguramento de condições para uma adequada produção agrícola, não
obstante a ausência de preocupação do Legislador com a formação de condomínios pro diviso;

CONSIDERANDO que a Magna Carta, ao consagrar o Direito de Propriedade, não


estabeleceu limitações outras, assegurando ao cidadão não apenas o acesso à propriedade e
à posse, mas sua decorrente e imprescindível titulação, porque só com a implementação deste
requisito torna-se possível seu pleno exercício;

CONSIDERANDO que a legislação federal vem impondo, desde os primórdios dos


anos 60 do século passado, a escrituração e o registro de imóveis rurais como frações ideais,
impedindo sua correta e completa definição/localização e estabelecendo a criação de milhares
de condomínios irreais;

CONSIDERANDO que essa situação, a par de estabelecer registros imobiliários


deficientes e não correspondentes à realidade, tem obstado o direito dos agricultores,
notadamente os pequenos proprietários, de disporem de seus imóveis para a obtenção de
financiamentos bancários destinados ao próprio desenvolvimento agrícola;

CONSIDERANDO que esse estado de coisas erige-se como obstáculo ao


desenvolvimento da política agrícola nacional, contrariando preceitos constitucionalmente
estabelecidos;

CONSIDERANDO haver imóveis rurais com situação fática consolidada e irreversível,


mas cujo título não espelha a real localização, impedindo que cada quinhão adquira autonomia
e destinação social compatíveis, com evidente repercussão na ordem jurídica, prejuízo aos
proprietários e ao desenvolvimento da política governamental de apoio à agricultura;

CONSIDERANDO o peculiar interesse da sociedade na regularização dos


condomínios pro diviso, através de normatização inexistente até o momento;
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CONSIDERANDO que nem sempre é possível ao proprietário da parcela obter a


anuência de todos os condôminos, obrigando-se a recorrer ao Poder Judiciário, o que gera
importante oneração de prazos e custos;

CONSIDERANDO o empenho de Notários e Registradores de Imóveis para que, com


segurança jurídica, possam ser alcançadas as soluções necessárias;

CONSIDERANDO a edição da Lei federal 10.267, de 28 de agosto de 2001, que


alterou dispositivos das Leis 4.947, de 6 de abril de 1966, 5.868, de 12 de dezembro de 1972,
6.015, de 31 de dezembro de 1973, 6.739, de 05 de dezembro de 1979 e 9.393, de 19 de
dezembro de 1996;

CONSIDERANDO a edição da Lei federal 10.931, de 02 de agosto de 2004, que


alterou o procedimento de retificação no Registro Imobiliário;

RESOLVE PROVER:

TÍTULO I
Das disposições gerais

Art. 1º - A regularização de parcelas de imóveis rurais registradas em condomínio,


porém em situação localizada, ou seja, pro divisas, obedecerá ao disposto neste Provimento.

Parágrafo único – A regularização abrangerá quaisquer glebas rurais, sem distinção


entre as oriundas de condomínios em que seja impossível definir a área maior e seus
respectivos condôminos, daquelas dentro de área maior identificada e da qual sejam eles
conhecidos.

TÍTULO II
Da Regularização do Imóvel Rural

Art. 2º - Nas comarcas do Estado do Rio Grande do Sul, para os condomínios rurais
pro diviso que apresentem situação consolidada e localizada, a regularização de frações com
abertura de matrícula autônoma, respeitada a fração mínima de parcelamento, far-se-á com a
anuência dos confrontantes das parcelas a serem extremadas.

Parágrafo único - A identificação do imóvel a regularizar obedecerá ao disposto nos


artigos 176, inciso II, n.º 3, e 225 da Lei 6.015/73;

Art. 3º - A posse do proprietário sobre a parcela pro diviso a extremar, deve contar no
mínimo cinco (05) anos, permitida a soma do tempo de posse dos proprietários anteriores.

Parágrafo único - Para comprovação do prazo de posse localizada será suficiente a


declaração do proprietário, corroborada pelos confrontantes.

Art. 4º - A instrumentalização do ato para fins de localização da parcela será feita


mediante escritura pública declaratória.

§ 1° - É obrigatória a intervenção, na escritura pública, de todos os confrontantes da


gleba a localizar, sejam ou não condôminos na área maior.

§ 2° - Na impossibilidade de obtenção da anuência de qualquer confrontante no ato


notarial, será ele notificado a manifestar-se no prazo de quinze (15) dias, através do Ofício do
Registro de Títulos e Documentos, a requerimento do interessado.
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§ 3° - A notificação será dirigida ao endereço fornecido pelo requerente ou ao próprio


imóvel contíguo; não encontrado ou dado como em lugar incerto e não sabido, o lindeiro será
notificado mediante edital, publicado em jornal local, com o mesmo prazo fixado no § 2°.

§ 4° - Transcorrido o prazo sem oposição, a anuência será presumida.

Art. 5° - Tratando-se de simples localização de parcela, desnecessária retificação da


descrição do imóvel, dispensar-se-á a apresentação de planta, memorial ou outro documento,
bastando a exibição do Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) e a prova de quitação
do Imposto Territorial Rural (ITR), que deverão ser certificados na escritura.

§ 1° - Por retificação da descrição do imóvel entende-se aquela que altere ou inclua


dados necessários não constantes na descrição original, como medidas de perímetro e
segmentos, ângulos e outros. Para este fim, serão aplicadas as normas relativas à retificação
de registro imobiliário constantes nos artigos 212 e seguintes da Lei dos Registros Públicos.

§ 2° - Tratando-se de localização cumulada com retificação de descrição da parcela,


serão exigidos por ocasião da escritura pública declaratória os seguintes documentos:
I – planta do imóvel;
II – memorial descritivo incluindo a descrição das configurações da planta;
III – anotação de responsabilidade técnica (ART) do responsável pelo projeto.

Art. 6º - A escritura pública declaratória será protocolada no Ofício do Registro


Imobiliário da circunscrição do imóvel, verificando o Oficial de sua regularidade em atenção aos
princípios registrais.

§ 1° - O Registrador localizará a gleba lavrando ato de registro, a exemplo do que


ocorre com as escrituras de divisão, do que resultará a abertura da respectiva matrícula para a
parcela localizada.

§ 2° - Tratando-se de localização cumulada com retificação de descrição da gleba, o


Registrador praticará dois atos, a averbação desta e o registro daquela.

Art. 7º - À escritura de localização da parcela e ao respectivo registro aplicam-se os


emolumentos relativos às divisões e extinções de condomínio.

Art. 8º - A adoção do procedimento previsto neste Provimento não elide a possibilidade


de efetivação de escritura pública de divisão ou ajuizamento de ação de divisão, restando ao
interessado a opção, respeitadas as circunstâncias de cada caso.

Art. 9º - Na eventualidade da incidência de cláusulas, ônus ou gravames sobre a


parcela objeto da localização ou retificação, serão observadas as providências abaixo.

I – No caso de hipoteca, não será necessária a anuência do credor hipotecário, todavia


o Registrador de Imóveis comunicará a ele a realização do registro da localização da parcela;

II – No caso de penhora, não será necessária prévia autorização judicial para o registro
e/ou retificação, mas o Registrador comunicará o fato ao Juízo, por ofício;

III – No caso de penhora fiscal em favor do Instituto Nacional de Seguridade Social


(INSS), havendo o devedor ofertado o imóvel em garantia da dívida, não será admitida a
localização da gleba sem a expressa anuência daquele Órgão, uma vez que perdida a
disponibilidade do bem na forma do artigo 53 da Lei 8.212, de 24/07/1991;

IV – No caso de anticrese, indispensável a anuência do credor anticrético;


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V – No caso de propriedade fiduciária, a localização da parcela será instrumentalizada


em conjunto, pelo credor e pelo devedor;

VI – No caso de usufruto, a localização será obrigatoriamente firmada pelo nu-


proprietário e pelo usufrutuário;

VII – No caso de indisponibilidade por determinação judicial ou ato da administração


pública federal, não será admitido o processamento, uma vez que consistente em ato de
disposição;

VIII – Na hipótese de estar a parcela sob arrolamento, medida de cautela fiscal,


possível o registro da localização, porém o Registrador comunicará o fato imediatamente ao
agente fiscal;

IX – No caso da incidência de outros ônus, cláusulas e gravames não expressamente


previstos neste artigo, será aplicada a regra qualificatória inerente às escrituras públicas de
divisão;

Art. 10 - A necessidade ou não de prévio georreferenciamento da parcela a ser


localizada será determinada de acordo com as normas da legislação federal.

Art. 11 - Este Provimento entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as


disposições em contrário.

Porto Alegre, 12 de abril de 2005.

Des. ARISTIDES PEDROSO DE ALBUQUERQUE NETO


Corregedor-Geral da Justiça

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