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ENSINO MÉDIO
RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar a relação entre a escolarização
do ensino médio e as práticas coletivas juvenis no interior da escola. Além disso, a
referida pesquisa objetiva em sua especificidade: identificar as suas formas de
participações juvenis na escola; avaliar as contribuições da escola a partir da
participação dos jovens em atividades culturais e políticas; diagnosticar as
dificuldades enfrentadas pelos jovens na participação em atividades escolares. A
metodologia utilizada para obtenção dos resultados foi a utilização de entrevistas
semi-estruturadas na qual já haviam sido realizadas. Desse material, houve um
recorte e foram selecionadas 20 entrevistas com os jovens matriculados no
terceiro ano de ensino médio em 3 (três) municípios da cidade metropolitana do
Recife. Os fatos analisados mostram ainda que o jovem deseja participar da
escola e ser protagonista no cenário escolar. Entretanto, nas escolas pesquisadas
concluímos que este objetivo não está se concretizando pela inexistência do
diálogo da escola com a juventude.
1. INTRODUÇÃO
1
Izabela de Melo Oliveira Lima. Graduanda do Curso de Pedagogia. Centro de Educação – UFPE.
E-mail: izabela_melooliveira@hotmail.com
2
Ramon de Oliveira. Professor Doutor do DFSFE-CE-UFPE. E-mail: ramono@elogia.com.br
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3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 JUVENTUDE
Além disso, ao que parece, a escola não está preparada para receber
esses jovens, ou seja, há uma distância significativa entre os alunos que chegam
à instituição e os alunos idealizados, esperados e valorizados pela cultura escolar.
Essa relação complicada entre a escola e o jovem se torna visível quando
questionamos sobre o sentido da escola para os jovens que chegam a essa
instituição? O que se percebe é que nem sempre as demandas e necessidades
apresentadas pelos jovens vão ao encontro dos objetivos preconizados pela
escola.
Além de todos os problemas, a escola ainda se mostra um espaço atraente
para adolescentes e jovens pela possibilidade do encontro com outros jovens. Nos
intervalos, os corredores, pátios e outras dependências transformam-se em
espaços de boas convivências, e por isso mesmo, são considerados
interessantes. Algumas escolas reconhecem a importância dessa convivência e
procuram favorecê-la fazendo com que adolescentes e jovens se apropriem do
espaço escolar e reforcem os laços de identificação com a escola.
O jovem tem expectativas bem coerentes em relação à escola, o jovem
espera sentir-se parte da instituição. Para isso, quer que a escola lhe ofereça
canais de participação, além da oportunidade de se envolver em questões que
digam respeito a ele mesmo e a sua comunidade, como as relacionadas à saúde
sexualidade, drogas etc.
Com isso, pressupõe-se que a partir do convívio com experiências
participativas e democráticas no seu ambiente escolar, o jovem no futuro possa
posicionar-se politicamente e socialmente de forma mais efetiva e amadurecida.
Sugerindo-se assim um protagonismo juvenil que remete à perspectiva da
formação do cidadão inserido nas transformações e dilemas da sociedade atual.
4. METODOLOGIA
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO
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E20 RECIFE “Aprender que o jovem é assim. Eles gostam de regras e gostam de seguir. Sendo
que também tem que tentar entender a cabeça do jovem. O jovem gosta de ter liberdade e
têm jovens que quer nada com a vida. Tem que lidar com maneira diferente com eles, tem
vez que tem que passar por eles pra saber a cabeça deles.”
E10 PAULISTA- “Muita coisa, também tem que entender a gente que é jovem que as vezes a
gente fala uma opinião que eles não entendem, eles não dão força aí é bom que eles
entendessem né a gente.”
E11 PAULISTA- “Rapaz... Acho que bastante coisa, principalmente tentar se colocar no meio deles
para poder entender melhor como agente gosta das coisas como pensamos entre outros.”
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E16 RECIFE “Porque muitos pensam que só porque a gente é jovem não tem maturidade pra falar
alguma coisa ou optar e ficar falando besteira”.
E20 RECIFE “É poder falar mesmo o que acha o que deve fazer ou não, porque não pode falar
muito né?”.
E13 PAULISTA É que às vezes as pessoas não nos levam em consideração é que agente tem
nossas opiniões, nossas qualidades e daí às vezes não nos levam a sério eles acham que
agente é uma brincadeira, não agente tá a ponto de chegar à fase adulta onde outros já
agem como tal como, por exemplo, eu trabalho, eu já tenho minha vida e eles acabam não
dando o mérito que a gente merece.
E16 RECIFE “Uma das dificuldades é que a gente não pode expor nossa opinião porque a gente
ser jovem, só porque a gente é novo não pode da uma opinião [...]”.
E18 RECIFE - Sim os acontecimentos que está havendo, discute na sala de aula faz debate.
E16 RECIFE - Sim, discute é... sobre política, sobre um monte de coisa que ta acontecendo...
E17 RECIFE - Sim, é... bulliyng, preconceito, racismo.
E3 OLINDA - Discute, a vida ela em si, todo ela como ensinamento, político, convívio de casa,
drogas, todas essas coisas.
E7 PAULISTA- Sim, as provas do ENEM que vêm por aí, assistimos palestras que nos ensinam e
a praticar mais novas atividades.
E10 PAULISTA- Sim, é tipo racismo debates, religiões também agente debate muito.
E11 PAULISTA- Discute principalmente sobre é peças teatrais, organizações feitas por outras
escolas para entretenimento desses jovens para que eles possam se misturar com outras
pessoas já ocorreu muito isso aqui.
E13 PAULISTA Sim, ela discute sim. Ela procura está sempre discutir temas que interessam aos
jovens como preconceito, internet e etc.
E16 RECIFE - “Então, podia estimular mais como eu te falei, eu acho que falta exatamente isso a
gente aproximar mais os alunos do que tá acontecendo na cultura, na política, no mundo lá
fora, deveria ter mais aproximação disso”
E17 RECIFE - “Não, políticas nem pensar se o professor tiver a opinião dele formada sim ele vai
ficar com a dele formada, e pra que a minha? Vai estudar tipo eu vou estudar se eu tiver
interesse pela política ou pra o que ta acontecendo na minha própria comunidade ou no
país, enfim tanto cultural quanto política”.
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Através das falas dos entrevistados fica claro que a escola está distante do
que o jovem pensa e deseja. Essa realidade incentiva cada vez mais os jovens a
desejarem menos a escola e mais o mundo fora da escola. Além do mais, estes
jovens não querem fazer parte de como a escola está no presente. Apenas um,
dos 20 (vinte) jovens, participa de algum grupo na escola. Os motivos da não
participação são apenas dois: porque não tem ou porque eles não se interessam.
Referente a isso, as pesquisas recentes (Instituto Cidadania, 2003; Ação
Educativa, 2003; IBASE/POLIS, 2004; Santos Junior, 2004; UNESCO, 2005)
apontam que a participação dos jovens em entidades, associações e agremiações
é de baixa intensidade e acompanha tendência participativa do conjunto da
população brasileira. O Perfil da Juventude Brasileira (2003) aponta que, dos
jovens entrevistados, apenas 15% participa de algum tipo de grupo juvenil. Quase
metade desses jovens participa de grupos culturais, 4% deles de grupos religiosos
e a participação em partidos políticos não chegou a ser diferenciada em números
relativos, ficando agregada à categoria “outros”. Com isso, alguns jovens, mantêm
a motivação para a participação, porém, é um número reduzido que se encontra
disposto a fazê-lo em espaço escolar e também em torno de propostas cujos
significados não dialogam com as contemporâneas condições de vivência do
tempo da juventude.
No entanto entendemos que para esses jovens-alunos o modelo de escola
vivido por eles mostra-se atrasado em relação às condições juvenis construídas
socialmente, isto é, a escola não tem acompanhado os avanços e mudanças
culturais, estando presa a modelos e conceitos que para os jovens já estão
ultrapassados. Como exemplo disso, destacamos algumas falas referentes a
temas que a escola discute e que interessam à juventude:
E16 RECIFE “É porque os professores já passaram já pela época da gente, mas as coisas agora
são diferentes, o mundo mudou tudo mudou né, e agora a cabeça o mundo dos jovens é
diferente e ele tem que compreender um pouco o lado da gente, por eu sei que eles
passaram assim, foram jovens também tudinho, mas na época deles não era como agora
que há muitas coisas, na época eu acho que não envolvia essas coisas de drogas essas
coisas que, no mundo é violência tudo mais, aí pronto, da minha parte mesmo a
dificuldade que eu tenho é porque eu tenho uma filha, muitas vezes eu falto por causa
dela, e eu tive ela muito cedo né, aí pronto alguns compreendem e outros não”
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E11 PAULISTA “Já volta pra sua pergunta anterior, a essa que você fez no caso, que é
exatamente isso de você colocar esses temas pra juventude sabe, a gente discute muito
sobre drogas, sobre o que não deve usar educação sexual, mas sei lá, tem tanta coisa
além disso sabe?”
E13 PAULISTA “Eu acho que eles deviam incentivar a gente fazer mais coisa, incentivar mais a
arte, os esportes, fazer coisas com que façam com que os alunos olhem para escola não
só como um lugar de estudar, mas algo pra fazer a gente interagir com a escola e ter
história pra contar, tipo, eu fiz isso uma vez na escola, joguei bola pela escola, essas
coisas”.
E16 RECIFE “Eu gosto de aprender um assunto de verdade, quando eu consigo tirar minhas
dúvidas e poder ajudar alguém com determinado problema na matéria”
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E1 OLINDA “Eu gosto, eu acho que da turma, tipo da bagunça do grupo, do meu grupo, do grupo
que eu convivo, do estar com as pessoas, e de aprender coisas novas”.
E17 RECIFE “É exigências sem necessidade, é porque há tantas coisas que não tem como, vai de
um simples grito que recebe pra pessoa parar de ta fazendo, parar de ta gritando, parar de
fazer alguma coisa que é fora do padrão de uma escola, até o modo de conquistar o aluno
pra que ele consiga aprender alguma coisa, não que tenha que ser sempre uma reta, mas
porque ele possa aprender por outros caminhos também, pra que invada o mundo do
aluno, invada o que ele passa”
E13 PAULISTA “Eu não gosto, não gosto de algumas aulas, que eu tenho que ficar quebrando a
cabeça e olhando pro livro pra aprender uma coisa que deveria vim de uma maneira mais
fácil de entender, e dos outros alunos poderem calar a boca que tem muita conversa, muita
coisa que atrapalha o meu desenvolvimento e de outros alunos”
E20 RECIFE- “A falta de professores e tem professores que não usam o livro didático a falta muito
grande que faz tem, acho que a todos os professores que não usam o livro, da mas não
usam”.
E1 OLINDA- “Que deveria tirar, a maioria dos professores, tem muitos professores que ficam
ausentados, deveria tirar os meninos que fuma cigarro”.
Percebe-se que nas falas dos estudantes da escola de Recife e Olinda, que
a falta de professores é a questão mais presente do que deveria deixar de ocorrer
na escola. Coincide também com a de Paulista e Recife sobre o excesso de
exigências da escola, principalmente de exigir aos alunos estudar o tempo todo na
escola, mas que deixem eles um pouco livres.
Como fechamento dessa análise compreende-se que para as escolas os
jovens não são tratados como atores com identidade própria. A instituição não
considera a diversidade entre as juventudes. Desta forma, essas dificuldades
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ocupam grande espaço e geram diversas barreiras para que o jovem possa atuar
na mesma.
6. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
AÇÃO EDUCATIVA. Pesquisa de opinião sobre Controle Social. São Paulo: ONG
Ação Educativa/IBOPE, 2003, disponível em: www.acaoeducativa.org.br
CORTI, A. P.; FREITAS, M. V.; SPÓSITO, M. P.; SOUZA, Raquel. Diálogos com o
mundo juvenil: subsídios para educadores. São Paulo: Ação Educativa
Assessoria, Pesquisa e Informação, 2004.
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Senna, 1996.
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médio. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2014.
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LUZ, Sergio Edgard da. A organização do Grêmio Estudantil. São Paulo: 1998.
RUA, Maria das Graças. As políticas públicas e a juventude dos anos 90. Jovens
acontecendo na trilha das políticas públicas. V.2. Brasília: CNPD, 1998.