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INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA SANTA CRUZ

ANDRÉ LUCAS ALVES BERNARDES

QUESTIONÁRIO DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL

Goiânia
2017
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ANDRÉ LUCAS ALVES BERNARDES

QUESTIONÁRIO DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL

Questionário apresentado à disciplina de


História da Filosofia Medieval como requisito
parcial para aprovação.

Professora: Ir. Raquel Mendes

Goiânia
2017
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 Qual a importância da Bíblia para a Filosofia?


Reale, num outro momento, já havia afirmado que a Arte e a Religião tendem a alcançar
resultados que são propriamente filosóficos. A Bíblia não pode ser considerada, de acordo
com os critérios antigos, como uma “filosofia”, porém, a específica e extraordinária visão de
realidade e de homem que ela traz em si muda radicalmente o cenário de praticamente todo
debate filosófico, de modo que não é mais possível filosofar ignorando a mensagem bíblica
cristã. De modo evidente, a mensagem cristã desafia a filosofia grega com realidades tais
como o monoteísmo absolutamente transcendental e a Criação a partir “do nada”, além da
novidade moral onde, uma vez que o homem é visto numa essencial relação com Deus, o
cosmocentrismo tradicional é substituído pelo humanismo cristão, os valores morais são
vistos como outorgados pelo próprio Deus e temas como “Providência” e “culpa original”
recebem uma luz absolutamente inédita, assim como a visão da constituição do ser humano,
ao qual é acrescida a dimensão do “espírito”.
 Explique o que vem a ser: Eros grego, Ágape Cristão e a Graça;
Eros e Ágape são tipos de amor: o primeiro ascendente, o segundo descendente; o
primeiro baseado na beleza, o segundo na graça, no dom de Deus. O amor Eros foi
amplamente desenvolvido no mundo grego por Platão e Plotino, sendo visto como uma força
que impulsionava para a Perfeição, para a realidade divina, era a tensão que elevava o homem
até Deus; já o amor Ágape (propriamente cristão) é sobretudo o amor de entrega, o amor
absolutamente gratuito de Deus aos homens, o amor manifestado em Cristo, que ama aqueles
que não merecem, de modo que quem ama realmente não é o homem, mas sim Deus, Ele é
detentor do Amor por excelência, e por ser este Amor um dom, ele é sempre “graça”.
 Quais são os valores fundamentais do cristianismo?
O modelo do cristão se revela na pureza e simplicidade das crianças. Logo, a humildade se
revela como a mãe de todas as virtudes, coisa absurda para o pensamento grego, de modo que,
como é evidente em inúmeras passagens bíblicas, os “grandes” passam a ser aqueles que mais
se fazem dependentes de Deus, que mais se entregam e se sacrificam por Ele. Por isso, o
Evangelho fala que é necessário em tudo sermos como “crianças”, ou seja, em tudo
dependermos do Pai celeste.
 Qual a nova medida do homem no pensamento cristão?
O homem só pode ser entendido na sua relação com Deus, não mais fechado em si mesmo
e não mais negando as misérias de sua própria existência. O homem passa a ser visto como
aquele que foi escolhido por Deus para realizar a Sua obra, para propagar Sua mensagem.
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Além disto, é visto como alvo de um amor infinito, de modo que o próprio Deus, movido por
este amor, assume a própria natureza amada e se faz, Ele mesmo, homem.
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CAPÍTULO 22
Johan Gottliebe Fichte (1762 - 1814) foi um filósofo alemão, discípulo de Immanuel
Kant, que levou o pensamento de seu mestre até as últimas consequências, criando assim a
filosofia idealista, também chamada de “idealismo alemão”.
Fichte estudou com Kant em Königsberg, e fascinou-se com a nova filosofia que, em
última análise, submetia a compreensão e o conhecimento da estrutura da realidade ao
pensamento e intelecto subjetivo. O que Kant realizou em campo moral, ao definir o homem
como legislador ético e moral, o fez Fichte em âmbito geral, extremando o pensamento
kantiano, a ponto de muitos dizerem que nem mesmo Kant concordaria com tal extremismo.
Para Fichte, o objetivo da filosofia de seu tempo era extirpar o dogma da “coisa em
si”, porque tal é um empecilho à liberdade de espírito. Desta forma se estrutura aquilo que
seria o idealismo: o objeto, sua consistência e sua realidade, são condicionados pelo subjetivo.
Fichte tinha como alvo analisar o conhecimento científico, razão pela qual ele não se ocupa de
fatos, mas sim de atos.
O idealismo considera que o “Eu” é o maior de todos os princípios, nada se
contrapõe ao Eu, é ele quem garante a própria consistência e é no confronto com o “não Eu”
que a consciência se forma e se afirma. Este princípio é uma atividade e não um fato, razão
pela qual ele não se prova, mas tem sua finalidade na ação.
A natureza, enquanto “não Eu”, é entendida como pressuposto para a liberdade, pois
é exatamente no confronto com ela que a liberdade do homem se afirma e se solidifica. Ao
contrário dos iluministas, para Fichte a natureza é um componente necessário para a própria
realização do espírito do homem.
Friederich Wilhelm Schelling (1775 – 1854) buscou reanalisar a relação entre
indivíduo e natureza, vendo os dois como uma unidade que se integra formando a Identidade.
Para ele a natureza é a concretização do espírito, o que estava em plenitude com as
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concepções filosóficas precedentes que haviam sido assumidas pelo espírito romancista.
Acaba-se assim a separação entre objeto conhecido e sujeito pensante.
Com esta última conclusão, Schelling une ideal e real, mostrando a totalidade do real
como campo para realização do espírito humano, não mais empecilho para a sua própria
liberdade, razão pela qual considera tão importante o papel de estética. A esta totalidade
Schelling chama de “Absoluto”, que é união do espírito humano e da realidade.
Georg Wilhelm Hegel (1770 - 1831) foi o cume mais elevado do idealismo alemão,
levando a cabo aquilo que para Fichte havia sido apenas idealização. Todas as aporias
levantadas por Fichte e Schelling são superadas por Hegel.
Com ele, o pensamento se torna o artificie e senhor do universo, nada pode barrar a
liberdade de espírito, há uma fusão completa da autoconsciência e é eliminada de uma vez por
todas a alteridade.
O pensamento, pela liberdade de espírito, torna-se então Deus, o legislador supremo
da realidade. Isto acontece eliminando todos os empecilhos a que antes haviam sido
estabelecidos de forma dogmática, sendo alguns eliminados por Fichte e outros pelo próprio
Hegel. A filosofia hegeliana é o sistema mais complexo e mais perfeito do idealismo alemão,
que colheu o s frutos mais subversivos da filosofia kantiana, sendo, por isso, um sistema
filosófico que implica um passado, um presente e um futuro, por isso o mais perfeito de todos
os sistemas idealistas.

CAPÍTULO 23
A “Era de Goethe” foi a transição do século XVIII ao XIX, onde a Europa, de forma
geral, se via marcada por profundos abalos em todas as camadas sócias, cabendo à cultura
uma tarefa de reunificação do pensamento e da identidade europeia. Daí que surjam grandes
romancistas, entre eles Johan Wolfgang Goethe (1749 – 1832) e Friederich Von Schiller
(1759 – 1805).
É um período de reinterpretação de filosofias modernas, sobretudo de Kant e
Spinoza. Desprezando-se a visão de Aristóteles quanto à relação entre sujeito e objeto, tendo
o homem como criador no processo de conhecimento, esta época busca reconsiderar o papel
da subjetividade e da harmonia natural ao qual o homem se une.
Schiller na literatura e Beethoven na música são os responsáveis por dar à esta época
m novo papel para a arte, libertando-a do espírito tradicional vigente e traçando-a como
expressão da liberdade que não havia sido conquistada pelo iluminismo.
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Nesta época há uma sobreposição da cultura alemã sobre a francesa, que até então
era regra máxima quanto à cultura europeia, chamada “Sturm und Drang”. Entre os artistas
que participaram deste período, além dos já citados, estão Mozart e Weber. Muita influência
recebeu este movimento de ideais filosóficos, inclusive de Rosseau.
O Sturm und Drang foi o rompimento completo com os ideais franceses e iluministas
de outrora, solidificando a era que se seguiria ao iluminismo inglês e alemão. Neste tempo,
vale mais a originalidade que a servil imitação, donde surgem vários artistas de grande
renome, entre eles Mendelssohn e Shakespeare. A estética da cultura alemã se afirma com
vigor nunca visto e traça o caminho dos sistemas literários e filosóficos subsequentes.

CAPÍTULO 24
O sistema filosófico de Hegel, devido a sua estrutura dialética, concepção de síntese
e antítese, possui em si o potencial para englobar todos os sistemas filosóficos, sendo por isso
considerado o sistema filosófico definitivo. Com este sistema, que é muito mais do que um
método dialético, Hegel completa e supera os sistemas idealistas de Fichte e Schelling.
Com sua filosofia dialética, Hegel abole o princípio da não contradição, que
considerava os opostos fechados em si mesmos, sem coexistirem. Para ele, é exatamente a
mediação dos opostos, sua união numa síntese superior, que forma a concretude da realidade,
ao passo que o ser não existe puramente, mas somente como abstração.
A lógica hegeliana se baseia no tripé do ser (imediato), da essência (mediata) e do
conceito (síntese do ser e da essência). Para ele, a ideia é o princípio e o fim da realidade.
Todas as relações são triádicas, e não binárias, ao contrário do que pensavam Fichte e
Schelling. Apesar disso, concorda com eles ao dizer que o Absoluto é o objeto da filosofia, e
este é o todo, mas não pode ser entendida sem um termo mediador, por isso, relação triádica.
A negação cumpre um papel fundamental na filosofia hegeliana: é por meio do
processo dialético, de negação, que a realidade se sintetiza em si mesma e se torna espírito.
Para Hegel o real é o que é pensado, sendo Deus a realidade mais excelente, mais eterna, nada
efêmera, enquanto o que não pode ser pensado sequer é digno de atenção.
Antepõe-se o intelecto à razão: enquanto esta é capaz de ver a limitação e superá-la
por meio da negação, aquele só é capaz de constatar a finitude, sendo, portanto base para
todas as ciências que se fundam na exatidão. Com isso Hegel forma uma filosofia da história
que visa tornar-se a Ideia, a concretização do Espírito. Hegel bebe muito da tradição clássica,
hebreu-cristã, mas elimina dela todo dualismo entre infinito e finito, o que é característica
comum desde a filosofia platônica. Hegel não entende o infinito como algo diferente do finito,
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mas sim como a totalidade das finitudes, a soma de todas elas. A verdade, o Absoluto, são
então entendidos nesta concepção do todo, sendo, portanto, infinito.
A relação intrínseca entre sujeito, consciência e objeto de Hegel é por vezes chamada
de panlogismo ou pantragedismo, aludindo-se exatamente à supremacia da razão e à luta
criada pela negação que constitui esta própria relação.
A realidade se funde com o discurso dialético, de forma que, como já foi dito, não se
pode entender ou conhecer uma realidade não pensada. Há assim a fusão da lógica e da
metafísica. Outra questão importante para Hegel era o papel do desenvolvimento do espírito,
onde o próprio processo histórico é entendido como uma mediação para a concretização do
mesmo, sendo o mal e o próprio indivíduo processos acidentais. Mas estes se tornariam temas
que filosofias posteriores atacariam como pontos capitais de seus sistemas.

CAPÍTULO 25
Entendendo o Espírito como a totalidade da consciência, Hegel o subdivide em
espírito subjetivo, objetivo e absoluto, e põe na tríade com a Ideia e a Natureza, sendo cada
uma destas divididas em novas tríades, que formam novas trifurcações.
O espírito subjetivo é a consciência contrária à natureza, que evolui no espírito
objetivo, sendo o que reconhece a objetividade do conhecimento intuitivo e da história. Por
fim, o espírito absoluto é a síntese dos dois anteriores, constituindo-se da consciência da
totalidade e do desenvolvimento de todas as coisas, sendo as suas três categorias a Arte, a
Religião e a Filosofia.
Hegel entende aquilo que se antepõe ao ser consciente como um processo que deve
ser integrado na consciência infeliz, basta que este ser reconheça que nada é alheio a si
mesmo. O primeiro passo da formação da consciência é o reconhecimento da própria
corporeidade, pois a própria alma é uma fusão entre espírito e corpo, o que significa que o
dualismo corpo e alma é rejeitado totalmente. Já o segundo momento é o afastamento de tudo
o que é sensível e transitório, da própria individualidade e sensibilidade, o que constitui um
verdadeiro itinerário espiritual. Por fim a própria alma se torna inteligência e vontade, que se
encontra primeiramente no espírito subjetivo mas deve voltar-se para o objetivo.
Depois deste processo o espírito deve incorporar-se à concretude da realidade, às leis
e à política e normas históricas, a fim de libertar-se do individualismo. Para Hegel, a liberdade
não é uma potencialidade avulsa, mas sim objetiva, sempre se é livre com um objetivo e
nunca como simples negação de algo.
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O espírito objetivo atinge sua plenitude na eticidade, onde toda a sociedade é vista
como um indivíduo a caminho do Espírito. Este é o objetivo de cada ser consciente: integrar-
se na sociedade histórica, com sua personalidade e peculiaridades, a fim de contribuir para
uma liberdade plena e objetiva de todo o povo, de forma que o caminho histórico de um povo
é a formação de seu próprio espírito.
A História é o lugar da concretização do Absoluto, é nela que ele realmente aparece,
o que condiz muito com a idéia cristã de providência, mas contrasta muito com a Identidade
de Schelling. O espírito objetivo deve voltar-se para si mesmo, a fim de ser plena
autoconsciência e tornar-se absoluto.
O primeiro processo de volta é a arte, e esta é primeiramente simbólica: no Oriente
há a completa desproporção entre conteúdo e forma, devido a tentativa de alcançar o absoluto
e partir-se para desproporcionalidades; já no classicismo há a perfeita união entre conteúdo e
forma, que depois se desassocia na arte cristã, com nova tentativa de abarcar a infinitude.
Depois disso há a morte da arte com a interiorização desta desproporcionalidade,
uma vez que o sujeito sabe não ser mais capaz de expressar a grandeza de Deus, estando a
Arte, assim, fada ao fracasso, necessitando ser sobrepujada por sua antítese, a Religião.
A Religião é de primeira forma natural, depois artística e por fim revelada, formando
um degrau de liberdade e pureza cada vez maior. Hegel contraria as doutrinas de Kant,
Schleiermacher e Jacobi, que não compreendem a religião como componente necessário e de
valor teorético, mas apenas sentimental e moralista. Hegel afirma ser o cristianismo a mais
elevada das formas de religião, visto ser Cristo Encarnado e perfeita unidade entre espírito e
absoluto, superação da aporia entre finitude e infinitude. Porém, depois reviu suas teses e
concluiu ser a Religião uma mediação da arte para a Filosofia.
A Filosofia constitui então o grau máximo do Espírito Absoluto, onde a verdade é
captada por meio do conceito, que é a explicação do material religioso, expresso na arte.
Hegel concebe então a síntese entre História da Filosofia e Filosofia, sendo a própria filosofia
de seu tempo o coroamento de todo o processo histórico passado. A própria História se revela
como um processo dialético da realização do Espírito, o papel da filosofia é mover este
processo, explicitando-o e compreendendo-o.
Devido a abrangência do sistema filosófico hegeliano, afirmou-se ser ele a conclusão
de toda a filosofia, e o fato de depois dele não haver surgido nenhum sistema que o superasse
ou equiparasse serve ainda mais para fomentar esta tese. Porém a própria filosofia hegeliana
se entende como coroamento de todo o processo filosófico existente na História,
impossibilitando a existência de outros sistemas que não estejam já incluídos dentro deste.
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CAPÍTULO 26
Após Hegel a filosofia imediatamente tomou dois caminhos: o da direita hegeliana,
que buscava corroborar com os ideais vigentes por ele, inclusive identificando a unidade entre
filosofia e religião; e o da esquerda hegeliana, que se distanciaram dos ideais de Hegel, sendo
os que mais se destacam Feuerbach e Marx.
O que fica evidente é que Hegel marcou todo o período filosófico posterior, mesmo
porque todas as filosofias subseqüentes não teriam como ser se ignorassem o seu próprio
sistema filosófico.
Artur Schopenhauer (1788 – 1860) foi o primeiro a criticar enfaticamente a pretensão
totalizadora do sistema hegeliano. Foi um hipócrita ao tentar ocultar o mal e a dor, presenças
inegáveis na realidade. De forma otimista, ele critica todo o idealismo, dizendo ser confusão a
identificação do racional com o real. Ao invés, identifica homem como produto da vontade
universal.
Esta vontade universal, ao contrário do que parece, se contrapõe à visão otimista,
pois na verdade todos os seres dotados de vontade vivem na busca pela satisfação do próprio
egoísmo, portanto, quanto mais consciente se é, mais dolorosamente se vive, pois nada há que
possa matar essa sede egoística.
A verdade se alcança então pelo gênio, de forma livre do espaço e do tempo. Com
isso se afirma que a arte é a única realidade que pode se ver livre das condições aparentais da
realidade. A libertação de todas as formas concretas é vista como ápice do espírito humano,
sendo a música a modalidade que melhor permite isto. A moralidade aparece como um
corolário desta veia artística, sendo entendida como negação da vontade e constituída de
justiça e compaixão.
Com Schopenhauer a falta de sentido para a existência se manifesta para ser um tema
filosófico subseqüente, o que culminaria numa nova reflexão sobre o suicídio.
Um opositor destas concepções desesperadoras e mortíferas será Sören Kierkegaard
(1813 – 1855), que com uma filosofia marcada acentuadamente por ma fé luterana buscará
uma esperança em meio a estas trevas.
A filosofia kierkegaardiana é marcada pela contradição entre a verdade da revelação
cristã e a concepção da filosofia como englobadora do todo, de forma a ser a realidade
submetida a categorias lógicas. Esta filosofia e a de Schopenhauer caracterizam-se como
resíduos da filosofia hegeliana.
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Kierkegaard considera a existência como a consolidação de vontade radical,


antepondo-se a formas alternativas de existência como mera propriedade de “ser”, sendo
assim uma dialética qualitativa.
O primeiro plano da existência é o estético, caracterizado pelo homem sedutor que
nada é além de um caçador de prazeres; o segundo é o ético, caracterizado pelo matrimônio,
onde o homem é capaz de abrir-se para uma dimensão supra-individual; e o terceiro é o
religioso, onde o plano estético é relegado a segundo plano, tendo em face unicamente Deus,
onde o único valor é a fé incondicional, o que acentua a influência luterana em sua filosofia.
Outra influência luterana se mostra na concepção de um cristianismo
individualizante, o que se contrapõe a Hegel com sua dialética conceitual e universal.
CAPÍTULO 27
Feuerbach (1804 – 1872) buscou transformar a filosofia de Hegel numa antropologia,
criando nova contraposição entre filosofia e religião. Para ele, todo o conhecimento religioso
é conhecimento antropológico, toda a teologia nada mais é que antropologia. Feuerbach
buscou a construção de uma antropologia perfeita, onde Deus era entendido como uma ilusão
a ser combatida pela filosofia. A própria existência de uma religião é fruto de um espírito
humano que busca projetar para fora de si solução de suas inquietações, toda a religião deve
ser purificada e transformada em termos filosóficos a fim de se tornar autêntica antropologia.
Em sua filosofia buscou livrar-se da abstração comum em Hegel, buscando um
sistema “realista”, limitado pela concretude do material, que tenha valor à vida humana
material como é. Sem com isto voltar ao empirismo. Para ele a autêntica filosofia não pode
ser direcionada teologicamente ou metafisicamente, mas sempre deve ser antropologia. Daí
que deve partir qualquer raciocínio dialético que influencie uma sociedade política.
O que Hegel fez interpretando os sistemas filosóficos da história o fez Marx
interpretando os sistemas da práxis, o que se deve muito à situação concreta de seu tempo. Ele
buscou dar à Alemanha o impulso que até então estava apenas no campo teorético. A filosofia
é então entendida como instrumento de mudança social. Com isso a primeira conclusão é a do
materialismo histórico. Para Marx, o espírito e a consciência são apenas representações da
política e da economia, formando assim as chamadas “superestruturas”, criações do
pensamento, que em conjunto formam as civilizações.
Marx institui o materialismo científico, o que, concordando com Hegel, implica um
caminho da História rumo à definição, de ordem econômica. Tal concepção se antepõe aos
ideais dos idealistas utópicos. No estudo sobre os modelos econômicos se elabora o conceito
da mais-valia, de acordo com o qual o valor de um objeto vem da força do trabalho, o que
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implica a abolição do lucro em favor da justiça ao trabalhador. O capitalismo ergue-se então


como um sistema injusto desde as bases.
Retomando o mito do Escravo e do Senhor de Hegel, Marx põe o proletário como a
única classe não exploradora e sempre explorada, vendo como sua missão a criação de uma
sociedade sem classes. Este projeto é de nível global, embora referindo-se especialmente à
Alemanha na situação vivida em atraso com o desenvolvimento inglês e francês.

CAPÍTULO 28
O positivismo pode ser definido como um sistema filosófico imanentista e
utilitarista, preso aos dados da experiência e contrastante com a visão “espiritual” proposta
pelo idealismo. Marca-se inicialmente na relação entre o ser humano e o reino animal, para
depois apontar a marca diferenciadora entre estes, a “condição evoluída” ou “progresso”. O
dogma da “evolução” do homem e da natureza se espalha com esta doutrina positivista.
Os positivistas deixaram uma série de questões em aberto, devido ao fato de se
preocuparem mais com afazeres concretos e reorganização da moralidade. Tais, longe de criar
verdadeiras especulações filosóficas, nada faziam além de constatar fatos acontecidos,
realidades auto-evidentes, cheias de contradições.
A moral perde o seu sentido perante a ciência, ela é vista como algo “contra á
natureza”, pois o homem está sempre evoluindo. A moral só subsiste sob a forma de
utilitarismo, tudo pode ser feito em nome da ciência e do progresso.
Stuart Mill tentou dar alguma base para esta questão, mas sem muito sucesso, pois
considerava, dogmaticamente, ser o bem individual sempre o bem comum, o que é demasiado
problemático numa moral utilitarista.
O grande problema do positivismo é o mito do progresso custe o que custar, o que
não poucas vezes proporciona resultados catastróficos para a existência humana, seja em
conjunto, seja em sociedade. Apesar disto, o positivismo foi a inauguração da ciência
sociológica, ao tentar entender a existência social como natural ao homem.

CAPÍTULO 29
Auguste Comte (1798 – 1857), assim como Darwin e Spencer por seu
evolucionismo, delineia a sociologia como uma física social. O homem é então entendido
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como ser integrante da natureza, enquanto a categoria do seu espírito sequer chega a ser
considerada. Para ele, o agir humano pode ser condicionado e medido ao método das ciências
naturais.
Assim como outros filósofos modernos, Comte desenvolve uma filosofia da História:
primeiro dividindo as épocas orgânicas (organizadas) das críticas (de revolução e mudança
social); depois dividindo a história em três estágios: teológico, metafísico e positivo, sendo o
primeiro o ponto de partida e o último o de chegada da organização social perfeita, maracada
pelo cientificismo.
No teológico o homem se esforça para fingir que dele brota uma ordem social; no
metafísico há um avanço, mas a busca pelas causas e princípios primeiros funciona como
âncora que impedem de chegar ao estágio perfeito, o positivo.
Em nome do progresso, toda a sociedade deve ser regulada e unificada pelas
ciências, que formam elas mesmas uma unidade e trabalham para o progresso. O método
positivo é estritamente cientificista, nada metafísico, mas materialista. Torna-se ridículo falar
de uma ordem sobrenatural da pessoa, muito mais de amor a deus, ao invés deve haver um
entusiasta amor à humanidade, o que constitui grande analogia com uma verdadeira religião.
Tudo isto proporcionou o nascimento do evolucionismo, primeiramente por ver o
home, inclusive em sociedade, como um ser animal, material, nada metafísico ou elevado,
sequer detentor de direitos. Isto irá se fundir a idéias de cientistas que contrariam os ideais de
Lineu, sendo eles os já citados Darwin e Spencer, além de Buffon e Lamarck, cirador da
teoria da adaptação e da seleção natural.
As concepções evolucionistas de Darwin fizeram grande sucesso por incorporarem-
se como uma forma de se livrar de qualquer resíduo de metafísica e teologia. Nestas
concepções a superioridade do homem desaparece, sendo ele rebaixado ao nível de qualquer
outro animal.
Spencer tentou alargar o alcance do sistema evolucionista a fim de dar uma
explicação geral da realidade, em todos os campos existentes. Tal coisa foi a reinserção da
religião em harmonia com a ciência.
Este sistema, inicialmente biológico, acabou incorporando-se de forma sociológica e
filosófica na civilização ocidental, sobretudo pela idéia de seleção natural.

CAPÍTULO 30
Nietzsche (1844 – 1900) combateu a própria concepção de “sistema” e buscou
destruir toda a tradição especulativa ocidental. Seu pensamento é demasiado marcado por uma
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perturbação biográfica, patológica até, embora tenha encontrado o coração dos problemas da
modernidade. Pode ser encarado como uma filosofia eclética que sintetiza várias filosofias de
várias épocas históricas.
Sua reflexão começa analisando a essência do classicismo grego, que, ao contrário
do que era pensado, não se baseia em equilíbrio e em proporção, mas sim em desequilíbrio e
desproporção, figuradas na tragédia grega. O espírito trágico é definido como dois
movimentos:
O primeiro é o espírito apolíneo, figurado pela poesia e pela escultura, que tem como
encarnação Sócrates e Eurípedes, onde o homem grego aparece como um ser imperturbável
que supera a dor da existência por meio de uma visão intelectualizada de mundo.
O segundo é o espírito dionisíaco, figurado pela dança, onde o homem entrega-se à
embriaguez, num êxtase que ultrapassa os abismos individuais e lança-se na comunhão com o
todo.
Na luta entre estes dois espíritos, aconteceu que a inteligência (apolíneo) sobrepujou
a vida (dionisíaco), o que acaba formando a chamada “morte da existência”. A história é
entendida como preenchida de mortalidade, pois tudo aquilo que é passado é desprovido de
vida, a civilização que busca dominar o conhecimento histórico já está morte em relação ao
futuro. O conhecimento e a força dos fatos são, na verdade, incapazes de mover a vida
humana.
A morte da civilização ocidental deveu-se ao classicismo grego ( na verdade,
começou aí), ao judaísmo e ao cristianismo, que, ao apontar para uma realidade diferente do
mundo concreto, disseram “não” à vida. Para ressuscitar o Ocidente, livrando-se desta
concepção niilista, é necessário decretar a “morte de Deus”, abrindo um novo caminho para o
futuro, com o término de toda a civilização vigente.
A moral então se torna “além do bem e do mal”, onde todos os valores e concepções
cristãs (justiça, compaixão, etc) são desprezados como fruto de uma época ultrapassada. O
que deve sobrepor-se a toda esta mortandade é o homem imoral, o super-homem.
O mundo é entendido como um eterno retorno, um processo cíclico sem sentido, mas
que apesar disto, pode proporcionar uma forma de vida ao homem. Porém esta possibilidade
foi destruída pela civilização ocidental, que deve ser então destruída.
Nietszche constituiu a maior crítica ao sistema filosófico ocidental, marcado desde o
centro pelo ateísmo, que acaba, em última análise, retirando o sentido de existência ao próprio
homem.
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CAPÍTULO 31
O sistema filosófico dos positivistas acabou ruindo, e isto, ao contrário do que
poderia se pensar, não se deu por uma contraposição com valores éticos e religiosos, mas sim
devido às requisições das próprias ciências, que encontraram nas concepções kantianas uma
orientação mais valida e coerente com o método científico.
O empiriocriticismo aparece como alternativa ao positivismo, também ele negando
qualquer traço metafísico, chegando até mesmo a negar a diferenciação entre físico e
psíquico, desconsiderando o papel do sujeito no processo do conhecimento e reduzindo a
ciência à uma condição utilitarista.
Marcante é a descoberta das geometrias não euclidiana e, que nascem da negação do
quinto postulado de Euclides. Embora de um grande nível abstrato e teorético, estas
descobertas tiveram grande impacto nos campos filosófico e científico, uma vez que
derrubavam a concepção tradicional de espaço e dimensões. Tal acontecerá da física de
Einstein, que com a teoria da relatividade, estreitamente baseada em geometrias não
euclidianas, buscará reorganizar as doutrinas da física clássica.
Einstein concebe, a partir de reduzidas variáveis, uma unidade harmoniosa para todo
o campo científico. O que traz a tona a visão de uma realidade completamente objetiva. Isto
contrária as linhas científicas citadas antes, pois caminha para tornar a ciência cada vez mais
lógica e independente do puro empirismo.
Outro grande cientista deste período foi Max Planck, homem de grande religiosidade
que, por meio da física atômica, descobriu novos princípios de uma harmonia do mundo
físico, apontando para a sua objetividade.
Na linha de Planck e Einstein aparece Heisenberg, que reaplicar as concepções
kantianas da realização entre sujeito e objeto para afirmar, mais uma vez, a impossibilidade de
um conhecimento total de uma realidade, mesmo que por métodos científicos. O que fazem
estes no campo científico físico o faz Hugo De Crise no campo biológico, contrariando a
concepção darwiniana e spenceriana, negando o evolucionismo ao negar a continuidade nas
variações de organismos vivos.

CAPITULO 32
O positivismo é rigorosamente atacado, com suas próprias bases comtianas, por
Boutroux, que nega a supremacia do método científico e a fé cega que se virava na sua
potencialidade de explicação dos fenômenos.
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Boutroux aponta os limites do método científico, mas tenta superá-los por meios
transcendentais e metafísicos, o que é tão errôneo quanto a questão da subjetividade das
categorias kantianas.
Todas as leis físicas encontradas na realidade não são mais que correspondentes
simbólicos, de forma que toda a cultura nada vida além da transformação de tudo numa
realidade espiritual. A ciência é o que torna cognoscível e exprimível esse arranjo simbólico
da natureza.
Tal pretensão vida a definitiva conclusão de todo o conhecimento, “reduzindo a
natureza à uma equação”, onde não pode existir a multiplicidade ou variação inexplicável.
Boutroux mostra que para a ciência prosseguir ela não pode concluir o seu objetivo: obter a
explicação de todas as coisas. A religião assume um papel primordial, pois sempre tive aos
moldes científicos. A ciência e a fé devem andar juntas a fim de proporcionar ao homem a
totalidade daquilo que necessita.
Neste contexto surge o matemático Henri Poincaré, inaugurando a corrente
denominada convencionalismo, segundo a qual os axiomas da geometria podem ser
escolhidos com base numa convenção, sem com isto negar uma objetividade real, o que é
convencional é a linguagem de abordagem, e não a coisa em si.
As concepções de Heisenberg criticaram o princípio de causalidade, que é o alicerce
de todo o conhecimento científico, mostrando que a ciência é recém do princípio de causa e
efeito, uma vez que não é capaz de analisar ou explicar sem alterar a realidade, a coisa
estudada. Deste modo o saber científico se torna tão fácil é insustentável quanto os
conhecimentos metafísicos e religiosos que ele mesmo negou. No fundo, o que deveria ter
sido feito era obedecer Kant.
A filosofia sofrerá estes impactos em todas as linhas que seguem de alguma forma o
idealismo e o realismo, por serem demasiado fixados num monismo entre o sujeito e o objeto.
Retorna-se assim ao ponto inicial de anteposição entre realidade e verdade.
O sistema é então ruído ao se compreender a própria verdade como uma coisa cada
vez mais distante e inacessível.

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