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Detecção de Barras Quebradas em Motores Elétricos Através de Técnicas Preditivas

Professores: Jorge Nei Brito e Paulo Cezar Monteiro Lamim Filho

Capítulo 2

Fundamentos Básicos dos Motores de Indução Trifásicos (Mit)

Os fundamentos básicos sobre motores de indução trifásicos apresentados neste capítulo,


têm como objetivo facilitar o entendimento do estudo dos defeitos em motores elétricos (barras
quebradas ou trincadas e sem defeito).

2.1 Características construtivas

O motor de indução trifásico trabalha com velocidade praticamente constante, sofrendo


pequenas variações com a carga mecânica acoplada ao eixo. É largamente utilizado por ser
adequado a quase todos os tipos de cargas encontradas na prática, sendo composto
fundamentalmente de duas partes: estator e rotor.

O rotor é a parte móvel da máquina, colocado no interior do estator, tendo para o efeito. O
rotor é constituído por um empilhamento de chapas magnéticas que constituem o núcleo
magnético e por enrolamentos colocados em ranhuras. O rotor pode ser de dois tipos: Rotor em
gaiola de esquilo (que pode ser de gaiola simples, de gaiola dupla ou de gaiola de barras
profundas) e Rotor bobinado.

Rotor de gaiola simples: Neste tipo de rotor os condutores são colocados em ranhuras, curto-
circuitados em cada extremidade por um anel condutor. O conjunto do material condutor tem o
aspecto de uma gaiola de esquilo (origem do nome dado a este tipo de rotor). Em certos tipos de
rotores, a gaiola é inteiramente moldada, constituindo um conjunto robusto. Os condutores
podem ser de cobre ou de alumínio. O alumínio sob pressão é comumente utilizado. Junto aos

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anéis dos topos podem ser encontradas aletas para a ventilação. Estas aletas são partes da peça
rígida que constitui os condutores e os anéis que os curto-circuitam. Estes motores possuem um
torque na partida de fraca intensidade. A corrente absorvida nesta situação é várias vezes superior
à corrente nominal.

Rotor de gaiola dupla: Este tipo de rotor tem duas gaiolas concêntricas. A gaiola exterior é
constituída para ter uma resistência suficientemente elevada, permitindo um bom torque na
partida. A gaiola interior é constituída por uma resistência baixa, garantindo um bom rendimento
em funcionamento nominal. Na partida do motor, funcionará essencialmente a gaiola exterior. Na
situação normal, funcionará a gaiola interior. O grande benefício que se obtém da utilização de
motores deste tipo consiste no aumento do torque de partida. Consegue-se também uma ligeira
diminuição do valor da corrente de partida.

Rotor de gaiola de barras profundas: Este tipo de rotor tem o aspecto da gaiola simples,
embora as barras que constituem o seu enrolamento sejam de considerável profundidade. As suas
características de arranque são análogas às do rotor de gaiola dupla.

Na Figura (2.1), tem-se o rotor de gaiola constituído por um conjunto de barras não isoladas
e interligadas por anéis em curto circuito.

Figura 2. 1 - Rotor de gaiola: (a) dupla de cobre e latão e (b) de alumínio, Brito (2002).

Na Figura (2.2), tem-se as várias formas da barra do rotor e detalhes da sua montagem junto
às chapas magnéticas.
A construção mais simples consiste em montar os condutores do rotor nas respectivas ranhuras e curto-
circuitar estas ranhuras por intermédio de dois anéis, um em cada topo. Freqüentemente este enrolamento é obtido

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vazando alumínio no núcleo do rotor, montado num molde, moldando-se ao mesmo tempo as aletas destinadas à
ventilação. Como os condutores estão curto-circuitados permanentemente, não há necessidade de isolá-los.

(a) (b)
Figura 2. 2 - Barras do rotor: (a) Tipos de barras. (b) Detalhes das barras do rotor.

O rotor de anéis tem três enrolamentos separados, ligados normalmente em estrela. Um dos
terminais de cada enrolamento é ligado a um ponto comum e os outros três terminais são ligados
a três anéis conectados entre si.

No rotor de anéis, as escovas transferem os terminais das bobinas para fora do motor. Estes
terminais dos enrolamentos podem ser ligados em curto circuito ou através de um conjunto de
resistências externas, que alteram a resistência total do circuito rotórico. Na Figura (2.3), tem-se
um MIT de rotor de anéis.

Na Figura (2.4), tem-se o estator formado por três partes distintas: carcaça [1] que é a
estrutura suporte do conjunto, núcleo de chapas magnéticas [2] e enrolamento trifásico [3]. O
enrolamento é composto de três conjuntos iguais de bobinas, um para cada fase, formando um
sistema trifásico que será ligado à rede de alimentação.

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Figura 2. 3 - Mit de rotor bobinado.

(a) (b)
Figura 2. 4 - Estator da máquina de indução trifásica. (a) Estator. (b) Chapa magnética do núcleo.

Na Tabela (2.1), tem-se o número de barras ou ranhuras no estator e rotor, para diversos
tipos de carcaça WEG.

Tabela 2. 1 - Número de barras ou ranhuras.

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Número de Barras ou Ranhuras no Estator e Rotor


II Pólos IV Pólos VI Pólos VIII Pólos
Carcaça
Estator Rotor Estator Rotor Estator Rotor Estator Rotor
63 24 18 24 30 24 30 24 30
71 24 18 24 28 24 28 24 28
80 24 22 36 44 36 44 36 24
90 24 18 36 44 36 44 36 44
100 24 28 36 44 36 33 36 33
112 36 28 36 44 36 33 48 44
132 36 28 48 40 36 40 36 44
160 36 28 48 40 48 54 48 54
180 36 28 48 54 72 58 72 58
200 36 28 48 54 72 58 72 58
225 48 40 72 58 72 56 72 56
250 48 40 72 58 72 56 72 56
280 48 40 72 58 72 58 72 56

2.2 Campo magnético girante

Para compreender a teoria de máquinas de corrente alternada, é necessário estudar a


natureza do campo magnético produzido por um enrolamento trifásico.

Um campo magnético girante e de amplitude constante, girando à velocidade síncrona,


pode ser produzido por qualquer grupo polifásico de enrolamentos deslocados no espaço da
armadura. Isto é possível, se as correntes que circulam através dos enrolamentos também
estiverem defasadas no tempo.

Todas as máquinas de indução trifásicas necessitam de três enrolamentos individuais e


idênticos, deslocados no estator de 120 no espaço, pelos quais circulem correntes também
defasadas de 120 no tempo.

Na Figura (2.5), tem-se o deslocamento espacial de um enrolamento trifásico concentrado


típico, onde aa' representa a Fase A, bb' a Fase B e cc' a Fase C.

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Figura 2. 5 - Deslocamento espacial dos enrolamentos aa', bb' e cc'.

Na Equação (2.1), tem-se o valor das correntes I a, Ib e Ic, para um sistema de alimentação
trifásico balanceado fluindo através dos enrolamentos, onde Im é a amplitude da corrente, wé a
velocidade angular e t o tempo. Estas correntes instantâneas são mostradas na Figura (2.6).

Ia(t) = Im cos wt
Ib (t) = Im cos (wt - 120) (2.1)
Ic(t) = Im cos (wt + 120)

Figura 2. 6 - Relações entre correntes defasadas de 120° no tempo.

No instante t1, a fase A está num valor máximo num determinado sentido. As correntes nas
bobinas das fases B e C alcançam exatamente a metade do seu valor máximo no sentido oposto.

Na Figura (2.7a), tem-se as direções das correntes que circulam nas bobinas "a", "b" e "c".
A força magnetomotriz (fmm) ao longo do eixo da fase "a" possui o seu valor máximo (F a = Fmáx)

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devido a corrente na fase "a" ser máxima. Tem-se também que Fb = Fmáx/2 e Fc = Fmáx/2 em Fa,
produzem um fluxo constante F = 1,5 Fmáx. As componentes de quadratura dessas projeções
cancelam-se entre si, uma vez que elas são iguais e opostas em sua posição de fase.
Na Figura (2.7b), tem-se a forma de onda da força magnetomotriz (f mm) e a sua resultante no
instante de tempo t1.

(a) (b)
Figura 2. 7 - Fluxos produzidos pelos condutores nas diversas fases.

O mesmo procedimento é seguido no instante t 2. Neste caso, a corrente na fase "b" está
invertida e é igual a fase "a" e de mesmo sentido. A fase "c" está no seu valor máximo no instante
t2. O fluxo resultante é novamente desenhado para cada uma das fases. Neste instante F a e Fb
produzem componentes em quadratura (que se cancelam) e componentes em fase com F c que
produzem um fluxo resultante F de mesmo valor que o existente no instante t 1. Assim, no instante
t2, 60 elétrico posterior ao instante t1, o fluxo resultante gira de 60, permanecendo com seu
valor constante.

Examinando os valores da força F nos instantes t 1 e t2, percebe-se que o estator pode ser
tratado como um solenóide. Todos os condutores do lado do sentido da força F carregam corrente
entrando no estator, e todos os condutores que se localizam do outro lado têm correntes saindo do
estator. Assim, no instante t3 o fluxo resultante terá um outro sentido, entrando no estator num
pólo norte (N) e deixando o estator num pólo sul (S). Na Figura (2.8), tem-se a posição da força
magnetomotriz para o instante de tempo t2.

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Figura 2. 8 - Campo magnético girante, instante de tempo t = t2.

2.3 Velocidade síncrona

A velocidade de rotação do campo girante define a velocidade síncrona do motor (n 1 dado


em rpm). Equação (2.2), onde f é a freqüência da corrente que circula nos enrolamentos do
estator, dada em ciclos por segundo (Hertz), e p é o número de pares de pólos, Equação (2.2).

n1 = 120 x f/p (rpm) (2.2)

O campo magnético girante, Figura 2.8, fornece um sentido anti-horário para a seqüência
de fases ABCABCA, Figura 2.6. Se quaisquer dois terminais de linha das bobinas do estator
forem trocados entre si, a seqüência de fases inversa produzirá reversão do sentido de rotação do
campo magnético. Conseqüentemente, o sentido da rotação de qualquer motor de indução pode
ser invertido (invertendo-se simplesmente a seqüência de fases). Para isto, basta trocar a posição
de quaisquer duas das três conexões de linhas que o ligam à fonte de alimentação trifásica.

2.4 Princípio do motor de indução

O rotor se acha imerso no campo girante produzido pelas correntes no estator. Nos
condutores do rotor, cortados pelo fluxo do campo girante, são induzidas forças eletromotrizes
(fem) que dão origem a correntes. Estas correntes reagem sobre o campo girante produzindo um
conjugado motor que faz o rotor girar no mesmo sentido do campo. Este é o princípio de
funcionamento dos motores de indução trifásicos, Figura (2.9).

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Figura 2. 9 - Principio de funcionamento do Mit.

A velocidade do rotor nunca pode atingir a velocidade do campo girante (velocidade


síncrona). Se esta velocidade for atingida, os condutores do rotor não serão cortados pelas linhas
de força do campo girante. Conseqüentemente, não produzirão correntes induzidas e o conjugado
motor será nulo. Por isto, estes motores são também chamados assíncronos.

Quando o motor funciona sem carga, o rotor gira com velocidade quase igual à síncrona.
Com carga, o rotor se atrasa mais em relação ao campo girante e correntes maiores são induzidas
para desenvolver o conjugado necessário.

O escorregamento (s) é dado pela Equação (3.3), onde n1 é a velocidade síncrona e n é a


velocidade do rotor.

s = (n1 – n)/n1 (2.3)

O escorregamento é, geralmente, expresso em porcentagem, variando em plena carga (de 1


a 5%), conforme o tamanho e o tipo do motor.

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A freqüência da corrente induzida no rotor (fs), também chamada de freqüência de


escorregamento, é dada pela Equação (3.4), onde s é o escorregamento e fl é a freqüência de linha
que circula nos enrolamentos do estator.

fs = s x fl (Hz) (2.4)

A tensão induzida no circuito do rotor (E 2s), é dada pela Equação (2.5), onde s é o
escorregamento e El é a tensão nos enrolamentos do estator.

E2s = s El (2.5)

2.5 Circuito equivalente do motor de indução trifásico

Os motores de indução trifásicos são formados por um conjunto de resistências, indutâncias


e reatâncias. Podem ser estudados a partir do circuito equivalente, Figura (2.10), onde: E l é a
tensão por fase no estator, R1 é a resistência por fase do enrolamento no estator, X 1 é a reatância
por fase do enrolamento no estator, I é a corrente no estator, X 20 é a reatância por fase do
enrolamento no rotor, R2 é a resistência por fase do enrolamento no rotor, I r é a corrente no rotor,
Xm é a reatância por fase de magnetização, Im é a corrente de magnetização,S é o escorregamento
unitário.

Figura 2. 10 - Circuito equivalente (por fase) de um Mit.

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Na Equação (2.6), tem-se o torque mecânico (T) no eixo do motor, desprezando-se a


resistência do estator.

 X 
E 2 20 R 2 1  1 
Tmec. 
60  Xm   N.m (2.6)
2 n s R 2 2  X1  
2
X 1 X 20 
2 2

s 1  X    X 1  X 20  X 
 m  m 

Observando-se a Figura 2.10, e considerando constante a tensão E l aplicada no estator,


qualquer variação sentida pelo motor (seja flutuação da carga ou oscilações em qualquer um dos
elementos eletromagnéticos do motor), a corrente I no estator será afetada com o mesmo
conteúdo harmônico.

Problemas no estator (desbalanceamento de forças magnéticas e bobinas em curto) variam a


impedância do estator e, conseqüentemente, afetam a corrente I.

Problemas da indução magnética (variação no gap de ar provocadas por excentricidade do


rotor) variam a impedância de magnetização, conseqüentemente, afetam a corrente I.

Problemas no rotor (barras quebradas ou trincadas) alteram a impedância do rotor e,


conseqüentemente, afetam a corrente I.

Conclui-se que, tanto os defeitos ocorridos no estator ou no rotor, como os problemas


magnéticos, afetam a corrente I do estator.

Portanto, medindo e analisando-se as oscilações do campo magnético, é possível


diagnosticar defeitos no motor.

2.6 As máquinas de indução de dupla gaiola e de gaiola de barras profundas

As características da máquina de indução estão fortemente condicionadas pelas suas


reatância e pela resistência do secundário R2, Equação (2.6), que determina o torque mecânico.
Esta reatância é função da reatância de dispersão relativa ao estator e da reatância de dispersão
relativa ao rotor. Assim, pode-se concluir que, se puder variar a indutância de fugas de um dos

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lados (estator ou rotor) ou de ambos os lados, então pode-se alterar significativamente as


características da máquina.

Numa máquina de indução de rotor em gaiola, a indutância de fuga associada a cada barra
varia de forma acentuada com a sua profundidade. Conforme mostrado na Figura (2.11), se a
barra se encontrar junto ao entreferro, as linhas de força do campo de fugas fazem um percurso
longo no ar. Conseqüentemente, a sua indutância de dispersão será pequena. No caso contrário,
quando as barras se encontrarem longe do entreferro a sua indutância de dispersão será grande.
Note-se que, no primeiro caso, o fluxo terá de circular pelo ar (entreferro) que tem uma
permeabilidade magnética muito inferior à do ferro. No segundo caso, barra no interior do ferro,
o fluxo de fugas circula pelo ferro e, portanto, a sua indutância é maior.

Figura 2.11 - Influência da profundidade dos condutores na indutância de dispersão

Na máquina de rotor em gaiola, também se pode considerar dois casos, no que diz
respeito à resistência das barras e, conseqüentemente, à resistência dos enrolamentos do rotor.
Esta resistência está diretamente relacionada com a secção de material condutor e com a sua
condutividade, Figura (2.12). Assim, se o objetivo é ter uma máquina com uma elevada
resistência no rotor, devem-se construir as suas barras com um material de elevada
(relativamente) resistividade e com uma seção pequena. Se o objetivo é ter uma máquina com
uma resistência do rotor baixa, devem-se construir as suas barras de material com baixa
resistividade e com uma grande secção. Naturalmente que a obtenção de casos intermédios é feita
jogando com estas duas grandezas - a seção da barra e a condutividade do material condutor.

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Figura 2.12 - Características construtivas das barras do motor de dupla gaiola.

O motor de indução de dupla gaiola é uma das variedades do motor assíncrono em curto-
circuito e tem como características mais notórias o melhoramento das características de partida.

O estator do motor de dupla gaiola é inteiramente idêntico ao estator do motor de gaiola


simples. As duas gaiolas deste motor têm características construtivas, e, por conseguinte,
características elétricas diferentes.

A gaiola superior, a que está mais próxima do entreferro, é constituída por um material de
elevada resistividade (latão, bronze, alumínio, etc.). Ou então, constituída com uma seção baixa
de modo a apresentar uma resistência considerável. A gaiola inferior é constituída de material de
pequena resistividade (cobre).

As duas gaiolas estão separadas uma da outra por ranhuras estreitas. A gaiola superior é
caracterizada por uma indutância de dispersão pequena. A gaiola inferior é caracterizada por uma
dispersão grande. Naturalmente, existirá uma ligação magnética entre as duas gaiolas.

As gaiolas, inferior e superior, são curto-circuitadas na periferia por anéis, que


correspondem a uma resistência e uma indutância de fugas. Cada gaiola pode ter o seu próprio
anel, ou existir um anel comum. Na prática, usa-se a construção de anéis separados uma vez que
neste caso as barras de cada gaiola podem dilatar-se independentemente.

Os motores de dupla gaiola, com vazamento de alumínio, podem ter diferentes


geometrias. Na Figura (2.2a), tem-se a representação de várias formas geométricas das ranhuras.
São visíveis as ranhuras correspondentes a gaiolas simples a diferentes profundidades, ranhuras
correspondentes a gaiolas duplas e ranhuras correspondentes à máquina de barras profundas.

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Neste caso, a grande resistência da janela superior é obtida diminuindo a secção. A capa de
alumínio, que une as duas gaiolas, serve como distribuidor de calor entre elas.

2.6.1 Princípio de funcionamento do motor de dupla gaiola

Para compreender o funcionamento do motor de indução de dupla gaiola, tem-se de ter


em mente que a freqüência das grandezas do rotor depende do escorregamento. Como as
reatâncias são funções do valor da freqüência deve-se concluir que, no caso do motor de dupla
gaiola, as reatâncias de dispersão das duas gaiolas são funções da freqüência das correntes do
rotor fr=s f1 e, conseqüentemente, da velocidade de rotação. Já as resistências, são grandezas
aproximadamente constantes (independentes da velocidade).

Note-se também que, na partida, a freqüência é grande e as reatâncias são preponderantes


face às resistências. Na situação normal de funcionamento acontece o inverso, isto é, as
reatâncias são desprezadas e as resistências são preponderantes.

Durante a partida, nos primeiros instantes, a corrente é dividida pelas duas gaiolas na
relação inversa entre as suas reatâncias. Assim, como a reatância da gaiola inferior é muito
superior à reatância da gaiola superior, a corrente circulará na quase totalidade pela gaiola
superior. Como esta gaiola é caracterizada por uma resistência relativamente elevada, o torque de
partida é beneficiado, Figura (2.13).

À gaiola superior, dá-se o nome de gaiola de partida (arranque). À medida que aumenta a
velocidade do motor, diminui a freqüência das correntes do rotor e diminui a reatância da gaiola
inferior. Como conseqüência, começa a aumentar a corrente nesta gaiola, bem como o caráter
resistivo das duas gaiolas. Ou seja, os termos R2/s tornam-se preponderantes. Assim, a gaiola
inferior também começa a desenvolver um torque significativo.

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Figura 2.13 - Características Eletromecânicas correspondentes a cada uma das gaiolas.

Quando o motor se aproximar da velocidade de funcionamento normal (próxima da


velocidade de sincronismo), o escorregamento s é bastante pequeno. Portanto, a freqüência das
correntes do rotor também será pequena. Nesta situação, ambas as reatâncias são desprezáveis e a
corrente é dividida agora na razão das duas resistências. Ou seja, a maior parte da corrente
circulará na gaiola inferior devido à sua menor resistência. Neste caso a maior parte do torque é
gerado na gaiola inferior. A esta gaiola dá-se o nome de gaiola de trabalho.

2.6.2 Circuito equivalente

O circuito equivalente da máquina de indução de dupla gaiola toma a forma indicada na


Figura (2.14). O fluxo de dispersão relativo à gaiola de partida (arranque) é normalmente
desprezado devido ao seu baixo valor. Conseqüentemente, o circuito que representa a gaiola de
partida tem um caráter resistivo puro. Quando se pretender trabalhar com maior precisão, e tiver
em conta o referido fluxo de dispersão, deverá incluir-se uma reatância em série com a resistência
Rarr/s.

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Figura 2.14 - Circuito equivalente do motor de dupla gaiola.

Para fins de análise, na Figura (2.15), tem-se o circuito equivalente aproximado do motor
de dupla gaiola.

Figura 2.15 - Circuito equivalente aproximado do motor de dupla gaiola.

Baseado no circuito equivalente, Figura (2.10), tem-se as relações dadas por (2.7), sendo o
fator de correção a é igual a 1+x1/xm.

X1=a x1 R1=a r1 Xtr.arr=a2x'tr.arr (2.7)


Rarr=a2rarr Xtr=a2 x'tr Rtr=a2 r'tr X11=X1+Xtr.arr

Exemplo: Considere uma máquina de rotor em gaiola dupla. Os parâmetros do seu circuito
equivalente simplificado encontram-se indicados na figura abaixo.

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Determine:
a) Os valores equivalentes das correntes das duas gaiolas nas seguintes situações: a.1. Arranque e
a.2. Situação nominal.
b) Determine o valor do binário nas duas situações anteriores. Qual a contribuição de cada
gaiola?

Resolução: Aparte a corrente de magnetização que é fácil de determinar, as correntes


equivalentes das duas gaiolas podem ser determinadas resolvendo o circuito da Figura (2.15).
Através do método das malhas obtém-se o sistema de equações:

 Rar  
  R    jX  jX R1  jX11   
   1 S 11 arr
U 1    I  arr 
 
U    R tr    I tr 
 1  R1  jX11 R1    jX11  jXtr   
  S 
As correntes Iarr e Itr são obtidas depois de resolvido o sistema de equações. O sistema de
duas equações complexas, acima indicado, é equivalente a um sistema de quatro equações reais
quando se separa cada número complexo nas suas partes real e imaginária. Para a resolução de tal
sistema optou-se por utilizar um computador. Alguns dos resultados obtidos encontram-se na
tabela abaixo.

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s Iarr [A] Itr [A] Mar [Nm] Mtr [Nm] Mem [Nm]
1 77,59 42 241 13 254
sn 3,59 18,41 25,9 129,55 155,45

Comentários: Na situação de partida (arranque), a corrente da gaiola de partida (arranque) é


inferior ao dobro da corrente que circula na gaiola de trabalho. Contudo, o torque gerado por esta
gaiola é cerca de dezoito vezes o torque criado pela gaiola de trabalho. Isto resulta pelo fato do
caráter indutivo apresentado pela gaiola de trabalho (cos=0,088) ser bastante inferior ao da
gaiola de arranque (cos=0.85). Pode dizer-se que nesta situação a corrente na gaiola de trabalho
é limitada apenas pela indutância (4.5j) enquanto que a corrente na gaiola de arranque é limitada
por uma impedância com um caráter resistivo predominante (2.1+j1.3).

Em regime de funcionamento nominal, a corrente na gaiola de trabalho é agora muito


mais importante do que a da gaiola de arranque (cerca de cinco vezes superior). Nesta situação,
ambas as gaiolas apresentam um caráter praticamente resistivo pois as resistências do circuito
equivalente foram divididas por s e tornaram-se muito superiores as respectivas indutâncias.

O torque da gaiola de trabalho é agora bastante superior ao torque da gaiola de partida


(arranque). A relação entre os dois torques (cerca de cinco vezes também) está de acordo com a
relação das correntes. Isto se verifica, pois ambas as gaiolas tem um caráter resistivo muito
acentuado.

2.6.3 - Motores de gaiola de barras profundas

Os motores de gaiola de barras profundas, de forma análoga aos motores de dupla gaiola,
têm as características de arranque melhoradas em comparação com os motores normais em curto-
circuito.

Conforme mostrado na Figura (2.2), os motores de gaiola de barras profundas têm


diversas geometrias de barras.

De forma análoga ao motor de dupla gaiola, a corrente distribuir-se-á de forma diferente


na extremidade superior e inferior da freqüência das correntes do rotor. Às correntes da parte

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inferior da ranhura está associado um fluxo de dispersão superior ao provocado pelas correntes na
parte superior de ranhura.

A distribuição da corrente da barra ao longo da profundidade desta para duas freqüências,


encontra-se representada na Figura (2.16). Nesta figura, pode perceber que a corrente se distribui
de uma forma mais uniforme para a freqüência mais baixa.

(a) (b) (c)


Figura 2.16 - Distribuição de correntes ao longo da barra para duas frequências diferentes.

Verifica-se que a resistência e a reatância efetivas das barras da gaiola variam com a
respectiva freqüência. Ou seja, os parâmetros do rotor não são constantes, mas são funções da
freqüência das grandezas do rotor. Conseqüentemente, variam com a velocidade de rotação. O
estudo mais detalhado deste motor, permite concluir que esta máquina pode ser estudada como
uma máquina de gaiola simples com parâmetros variáveis com a freqüência.

Na Figura (2.17), tem-se o circuito equivalente do motor de gaiola profunda. O índice ( ran)
refere-se à parte do enrolamento do rotor no interior da ranhura. O índice ( fron) refere-se à parte
associada aos anéis frontais. Apesar dos anéis frontais também apresentar o efeito pelicular, ele é
menos importante, e é desprezado para não complicar excessivamente o modelo. Assim, a
resistência e a reatância dos anéis frontais não são afetadas pela variação da velocidade. Os
parâmetros Kr e Kx são funções do escorregamento e traduzem a variação dos parâmetros atrás
referidos.

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Detecção de Barras Quebradas em Motores Elétricos Através de Técnicas Preditivas
Professores: Jorge Nei Brito e Paulo Cezar Monteiro Lamim Filho

Figura 2.17 - Circuito equivalente do motor de gaiola profunda.

Para o caso em que as barras são de forma retangular, Figura. (2.16), os termos que
traduzem a variação dos coeficientes com a freqüência são k r e kx, Equações (2.8) e (2.9),
respectivamente. A variável  representa a altura virtual da barra. É um parâmetro
adimensional, dado pela Equação (2.10).

s h 2   sen 2
kr  
ch 2   cos 2

(2.8)

3 s h 2   sen 2
kr  (2.9)
2 ch 2   cos 2

b barr f 2
  h 0  (2.10)
b ran 

Na Equação (2.10), bbarr é a espessura da barra, bran é espessura da ranhura, f2 é a freqüência


da corrente no rotor e  é a resistividade do material da barra. No sistema internacional, para
f1=50 Hz, tem-se que  é dado pela Equação (2.11).

b barr s
  0,014 h (2.11)
b ran 

Quando bbarr = bran, o material da barra for cobre a 50°C e  = 0,02 (mm2/m), tem-se o
novo valor de  é dado pela Equação (2.12). Para  > 2, tem-se que kr = e kx = 3/2 .

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Detecção de Barras Quebradas em Motores Elétricos Através de Técnicas Preditivas
Professores: Jorge Nei Brito e Paulo Cezar Monteiro Lamim Filho

  100 h s (2.12)

Quando as barras tomam formas diferentes da retangular, os parâmetros tomam formas


analíticas mais complexas. Na situação de funcionamento normal do motor, ou seja, de vazio até
ao ponto de binário máximo, tem-se que Kr = Kx = 1.

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