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E-mail: Tatianadiasgomes@hotmail.com
PROVA 1: 18/07/2017
PROVA 2: 05/09/2017
Conteúdo programático:
AVALIAÇÕES
2 avaliações escritas.
Filmes que poderão ser objeto de visita ao cinema, com relatório valendo ponto.
AULA 01 – 09/05/2017
O livro “A questão agrária” de Karl Kautsky não nos serve, pois se trata da Russia do
inicio do século XX.
Existe também o livro de Caio Prado Jr., “A questão agrária no Brasil”. Também não
nos serve, pois foi escrito nos anos 30, encontrando-se um pouco obsoleto.
Sérgio Buarque de Holanda afirma que, desde início da concepção de Estado brasileiro,
ele tem grande dificuldade de se afirmar, por não conseguir conter esses grandes
proprietários de terra.
Já Nestor Duarte acredita que haja uma aliança entre Estado e grandes proprietários. A
propriedade constitui o poder. Nessa perspectiva, percebe-se uma maior articulação com
uma determinada leitura do pensamento social, que é o pensamento marxista /
marxiano.
Aqui queremos tratar das relações sociais construídas a partir da apropriação da terra na
Brasil. Abordaremos e interpretaremos essas relações sob um ponto de vista
sociológico, jurídico, historiográfico e econômico.
Quando se fala de terra aqui, não é apenas solo, mas também de outros bens
ambientais, assim como agua, subsolos, jazidas, bens vegetais, animais, etc.
Nos últimos 15 anos, no campo da macro política, em especial nos governos federais,
tivemos a retomada de um modelo de desenvolvimento econômico no que se
convencionou chamar de neodesenvolvimentismo, também chamado de
reprimarização da economia.
Com esses termos se quer tratar da ideia de se produzir apenas bens primários. São
aqueles bens que não passaram por processamento industrial. Geralmente são os que
provem da agropecuária. Começa com a colonização portuguesa. É o modelo
monoagraexportador, desde a colonização adotado no Brasil. Isso é: você cultiva as
vezes um único produto (monocultura - ex. Café, cacau, soja, os minérios também) em
vastas extensões territoriais voltados exclusivamente para exportação.
Nossa economia desde sempre foi exportar gêneros com baixo valor agregado em razão
da não industrialização. Estamos nessa posição no capitalismo mundial desde 1532.
Essa aposta na primarização, então, não é novidade. Nos últimos 15 anos, contudo,
temos uma revalorização da primarização. Decorre de fatos externos e internos também.
Um dos fatores externos é o fortalecimento de um novo mercado, que é o mercado
chinês.
Exemplo: Caetité, município baiano, possui jazidas minerais (ferro, cromo). Esse
minério de ferro é considerado de baixo teor (25%). Com a ascensão do mercado chinês,
tornou atrativo explorar mercado de ferro, mesmo esse de Caetité. Ocorreu então um
boom das commodities (produtos primários: ferro, grãos, carne bovina, suína, soja,
cana, eucalipto, etc) em razão desse mercado chinês, a partir do início dos anos 2000.
Valorizaram-se então esses minérios. Como se torna mais lucrativo exportar do que
gerar alimentos para consumo interno, temos um impacto ambiental muito forte a partir
desse momento. Daí nasceu a aposta nesse modelo de reprimarização.
AULA 02 – 11/05/2017
Primeiro foi devastada a Mata atlântica. Depois, nos anos 60-70, o Cerrado, um bioma
que antes era fraco em termos de potencialidade agrícola, passou a ser alvo de polticas
estatais para se tornar um novo bioma agrícola. Passaram a ser alvo de adaptação
tecnológica, e agora é bioma agrícola. O terreno do cerrado é arenoso e raso porque por
baixo deles passam os maiores aquíferos da américa latina, de modo que as chuvas
alimentem os aquíferos.
Com a correção do solo, que não são originalmente vocacionadas para essa agricultura
predatória, dependente de química, efeitos são gerados, como o exaurimento do bioma.
Há estudiosos que entendem que o bioma cerrado como a gente conhecia já esta extinto.
Agora há apenas pequenas faixas de cerrado.
Existem os custos ambientais, mas também os custos sociais. Essas regiões não são
desabitadas. Vários grupos sociais ocupam esses territórios, como os indígenas,
remanescentes de quilombos, criadores de animas em regime aberto/comunitário, etc.
Esses grupos sofrem violação de seus direitos com essas expansão das fronteiras
agrícolas, gerando conflitos.
Assim, é importante construí uma inter-relação entre todos esses elementos, e como
tudo isso impactará inclusive na produção legislativa. A ultima eleição foi a que elegeu
mais parlamentares da fonte agropecuária brasileira, também chamada de bancada
ruralista. Essa bancada, de posse da maioria no parlamento, imprime sua agenda
legislativa, inclusive se articulando com outros bancadas para emplacar suas pautas.
A legislação florestal antes do Código florestal impunha algumas barreiras para esse
desenvolvimento desenfreada do setor agropecuário. O Código foi um primeiro passo
para retirar essas barreiras. Inclusive, no bojo da reforma trabalhista, existe uma reforça
trabalhista rural.
Em 1976, tínhamos 4.538 mil hectares de área plantada de feijão. De soja, 6.948
hectares. Em 2016, no Brasil, temos de feijão plantados 2.837 hectares, De soja, 33.251
hectares. Isso porque não exportamos feijão, mas só soja. Na verdade, estamos até
importando feijão da Argentina.
Com tudo isso, ocorre o processo de desterritorialização. Isto é, quem estava lá antes
ocupando a terra será expulso, obrigado a migrar.
AULA 03 – 18/05/2017
Tem a ver com trazer alguns elementos que apontem como o direito agrário se
intersecciona com outros campos do pensamento social, e como ele acaba sendo
elaborado no caso de nosso ordenamento jurídico.
Apesar da positivação, até 64 não há nenhuma medida efetiva do ponto de vista estatal
no sentido de dar concretude a essa ideia de desapropriação por interesse social, salvo
uma lei na gestão de João Goulart em 63 em que ele prevê alguns elementos deste tipo
de desapropriação. Essa lei inclusive foi decisiva para o golpe de 64.
A EC 10/64 trata do conteúdo dessa desapropriação por interesse social, já após o golpe,
trazendo expressamente: “É competência exclusiva da União legislar sobre direito
agrário”. Isso ocorreu pois em 1959, o Governo de Pernambuco promoveu a primeira
desapropriação por interesse social do brasil.
Até hoje, na CF 88, é competência exclusiva da União legislar sobre direito agrário.
Cabe ressaltar que os Estados também legislam sobre direito agrário. A CF se refere à
direito agrário para se limitar a competência legislativa em relação à desapropriação por
interesse social. O uso e ocupação de terras públicas estaduais, por exemplo, é legislada
em âmbito estadual, e por vezes ainda em âmbito municipal, quando se trata de terras
municipais.
Em 2014, o TJ-BA assumiu, via Instrução Normativa (nº 2/2014) a função que o artigo
126 lhe atribuiu ainda em 2004, criando finalmente as varas especializadas. O TJ define
que serão criadas 6 (seis) varas, que terão competência territorial semelhante à da
Justiça Federal (em regiões e seções judiciárias). Até agora, só 1 funciona, que é a vara
de Barreiras.
Textos-base desse ponto: 1- Pequena história territorial do brasil (Ruy Cirne – ler
principalmente sobre as sesmarias na legislação portuguesa e brasileira, 2 primeiros
capítulos); 2- Terras devolutas e latifúndio (Ligia Osório- principalmente debates
parlamentares para entender lei de terras); 3- O Cativeiro da terra (José de Souza
Martins – ler principalmente sobre a lei de terras em 1950); 4- Das sesmarias à
propriedade moderna (Laura Beck – principalmente virada do século XX, inicio da
república).
O índice de GINI, que mede a concentração fundiária no Brasil, era em 1920, em uma
escala de 0 a 1, 0,8. Em 2006, data do ultimo levantamento, era também de 0,8. Nota-se
manutenção da alta concentração fundiária no Brasil ao longo das décadas/séculos.
É esse instituo jurídico que será importado para o Brasil pela empresa colonial. Antes
desse instituto aparecer na legislação, ele teve uma origem fora do âmbito estatal.
Surgiu pelos costumes. Os próprios camponeses da Idade Média pensaram nesse
costume, com vista a permitir acesso e distribuição da terra. Atrela-se ao conceito de
“communalia”.
Segundo esse ultimo conceito, as terras de lavrar serão partilhadas entre a comuna. Essa
terra será necessariamente compartilhada com todos os membros daquela coletividade.
Cada um dos membros do grupo terá acesso a uma fração da terra, chamada de sexmo.
Sobre esse sexmo incide a obrigação de lavrar.
As terras comunais, que são essas que seguem a lógica da communalia, continuam
existindo em alguns locais, como nas terras tradicionalmente ocupadas por quilombolas,
índios, entre outras comunidades tradicionais. Também subsiste na Europa. O CC/16
tratava das terras comunais, que era o instituto do compáscuo, mas o de 2002 se calou.
Há tratamento em Convenções, leis extravagantes e na própria CF.
Em 1348 em Portugal, ocorre a Grande Peste. Com a queda demográfica, ocorre queda
também no abastecimento, já que eram os atingidos pela praga que produziam os
gêneros alimentícios.
Em 1375, o Rei de Portugal, Dom Fernando I, edita o que ficou conhecido como Lei de
Sesmarias. Isso ocorreu, para muitos, por conta dos efeitos da Grande Peste. Dom
Fernando teria incorporado esse costume numa norma jurídica para que todos aqueles
que se assenhorassem de determinado terreno/imóvel teria obrigação de lavrar.
A Coroa Portuguesa, ao definir essa positivação do uso da terra, também define valor
pelo uso da terra, que seria então de 1/10 (dízimo). A razão social da Coroa Portuguesa
era “mestrado de cristo”, justamente para trazer uma fundamentação divina à atuação
do monarca. Assim, justificava-se (religiosamente) o pagamento do dízimo sobre o uso
da terra.
Consequência da obrigação de lavrar é que, aquele que não lavrar, perderá a concessão
da sesmaria. Concessão, pois não havia propriedade privada como entendemos hoje. A
propriedade em si era do “mestrado de cristo”, e não de ocupante. Essa era apenas
cessionário do imóvel.
Além disso, a lei de sesmarias trouxe os chamados baldios e maninhos. São os terrenos
tidos como desocupados, sobre os quais não incidiam ocupação. Ao serem ocupados,
geravam a obrigação de lavrar.
No Código Justiniano havia o instituto do usucapio pro agro deserto. Segundo este, se o
titular do imóvel não executasse as obrigações decorrentes da titularidade daquele bem
em 2 anos, ele perderia o bem. É o que se chama hoje de prescrição aquisitiva.
Em Portugal, se deu assim: se no prazo de 6 meses aquele que recebeu a concessão da
sesmaria (ou já tinha ocupado antes, independentemente da concessão) não executa a
sua obrigação de lavrar, ele perderá a concessão. Será então obrigado a dar a terra para
que outro execute o cultivo. Além disso, se ele não ocupava o terreno nesse prazo de 6
meses, e outro estava promovendo a obrigação de lavrar, teria esse outro a partir disso o
direito de possuir a sesmaria. Essa seria a origem da usucapião especial rural, hoje
existente no ordenamento jurídico brasileiro. Até mesmo a Igreja estava sujeita a esse
regime.
Havia um fiscal da Coroa, chamado de “vedor”, para verificar se as terras de fato eram
cultivadas.
Aula 04 – 25/05/2017
Assim, temos que e estatuto que vai ser dado à terra brasileira se relaciona com a
dinâmica do capitalismo mercantil vigente à época. Utiliza-se o modelo de acumulação
primitiva.
O dia 22 de abril de 1500 tem sido adotado como o marco inicial do contato entre os
brasileiros e os portugueses. Mas é em 1532 que ocorre a chegada de uma comitiva
representando a Coroa Portuguesa, organizada a partir da Bahia. Martim Afonso da
Silva foi investido no cargo de Governador Geral, e tinha a missão de garantir divisão
administrativa. O modelo administrativo pensado é o das capitanias hereditárias.
Cada um dos capitães donatários tem uma missão administrativa de dar terras em
sesmaria. As sesmarias são concedidas para aqueles conhecidos do donatário. Em geral
eram homens brancos, europeus. Já tivemos 1 caso de mulher sesmeira (ilha de
Itaparica), de indígenas e de 1 sesmeiro escravo alforriado. Os sesmeiros daqui tinham
algumas obrigações: (1) de cultivar (não conseguiam, por conta das dimensões
enormes das sesmarias àquela época). Esse cultivo era feito para fora, visto que se
tratava de empresa colonial. Aí começa-se a adotar o modelo monoagroexportador. A
partir daí iniciam-se os ciclos de produtos exportados, cana de açúcar, café, etc. A
agricultura de subsistência existia, mas não era o forte do engenho.
Outra função do sesmeiro era de (2) defesa, devendo edificar fortificações em seu
território visando evitar invasões de outros europeus.
Mas a principal obrigação dos sesmeiros era (3) utilizar mão de obra de escravizados
(as) de varias etnias diferentes provenientes do continente africano. Era fundamental
para o funcionamento da empresa mercantil e do capitalismo mercantil como um todo.
Ainda não havia mineração forte de ouro e prata no lado espanhol e no português na
américa do sul. Só a partir da escravização ocorre essa mineração, pois eram os
africanos que dominavam a técnica de extração mineral.
Para garantir a segurança das operações bancárias, era necessário lastro, garantia. Essa
garantia eram os escravos, através do instituo jurídico da hipoteca. Por todo esse valor
agregado, o escravo servia como garantia. As terras eram da coroa, então não podiam
ser utilizados. Se o sesmeiro precisa de dinheiro para ampliar produção, dá em garantia
o escravizado.
Essas terras dos sesmeiros (que antes da sua chegada eram chamados de “maninhos”)
também eram consideradas terras tributárias ao mestrado de cristo. Assim, o sesmeiro
ainda era obrigado a pagar o (4) dízimo. No século 18, esse dizimo sofre transformação,
por conta de nova legislação portuguesa. Passa a se denominar foro. A sesmaria se
transforma no que hoje se chama de concessão administrativa.
Desde essa legislação colonial, dessas concessões de sesmarias, aquelas terras onde se
encontrasse presença originária indígena, seriam considerados não suscetíveis de ser
concedidas em sesmarias. Eram os chamados indigenatos. Isso, como se sabe, não
ocorreu bem dessa forma. A determinação de indigenatos foram muito descumpridas.
Outra obrigação do sesmeiro era de (5) demarcar terras. As sesmarias não tinham
dimensão muito precisa à época. Eram enormes, como o exemplo da sesmaria Garcia
D´ávila. As terras que não estivessem ocupadas seriam concedidas novamente, para
garantir cultivo.
AULA 05- 31/05/2017
Entre 1822 e 1850 vingou o chamado regime das posses. Aqui, não se concede mais
sesmaria, e em seu lugar não temos mais nada. O Estado se isenta de ditar como será a
ocupação das terras brasileiros.
Quando o texto fala em “plenitude”, tem-se dois sentidos: (a) relativa à separação entre
aquele que exerce domínio pleno e o que exerce o domínio util. O domínio útil pode ser
cedido pelo portador do domínio pleno, devendo o que recebe domínio útil pagar ao
portador do domínio pleno (regime da enfiteuse); (b) o proprietário da terra é
proprietário não só do solo, como também das jazidas e minas, além do espaço aéreo.
Para alguns, até mesmo dos corpos hídricos presentes no terreno.
Essa ocupação primária vai gerar direitos. Mas esse direito não é gerado como no
direito romano, quando bastava ver a terra inocupada e toma-la para si. Ou seja, não
bastava o animus domini. Aqui, esse ânimo de se apossar, de ter a terra para si, deve
estar associado ao cultivo da terra. A posse-trabalho tem supremacia em relação ao
direito de propriedade, situação que continua no direito agrário até hoje. Consequência
disso é que, se o ocupante primário que cultiva for prejudicado por uma concessão a
sesmeiro, a posse de ocupante (também chamado de posseiro ou possuidor) prevalecerá
sobre a do sesmeiro. Ocorre a chamada legitimação da posse, positivada apenasem
1850.
Segundo Ruy Cirne Lima, que discordava do posicionamento do STF à época (até inicio
de século XX, que entendia que o ato de ocupação dependia de legitimação estatal) a
ocupação primária estaria de acordo com a Lei das boas razões de 1769, pois não é
contrária a lei alguma e em muitos casos superava o período de 100 anos previsto na lei.
Ele fundamenta ainda no costume português do “fogo morto”, que é a ideia de que, se o
fogo está morto, se o moinho não está se movendo, se não tem sinal de trabalho ali,
significa que está desocupado, podendo então ser ocupada por quem quer cultivar.
Assim, para Ruy Cirne Lima, não seria necessário qualquer ato estatal que legitimasse
essa ocupação primária, tendo em vista esses elementos da legislação e dos costumes
portugueses.
No contecto das colônias inglesa, não houve adoção do modelo escravista em sua
totalidade como nas outras colônias (portuguesa, espanhola, etc). Havia um modelo
misto, em que parte das colônias era pautada no modelo monoagroexportador
(plantation) escravista, e em outra parte havia a introdução do trabalhador livre que
chegava com status de colono.
Naquelas colônias britânicas que utilizavam o trabalhador livre, e não o escravo, esse
colono que contratava o trabalhador livre tinha preços no mercado internacional menos
competitivos. Isso gerou uma questão na Inglaterra de como dinamizar a produção
colonial inglesa. Ai, vários teóricos se debruçaram sobre o tema. O principal foi
Wakefield, que propôs uma experimentação nas colônias britânicas: para impedir, nas
colônias britânicas, essa baixa de preços do produto exportado produzido nessas
condições, e também para impedir que qualquer pessoa obtivesse a condição de
proprietário, gerando falta de mão de obra nessas colônias de trabalhadores livres,
propõe que o colono, ao invés de receber concessão de terra gratuitamente, pague um
“suficiente preço”.
Por conta dessa pressão externa, acelera-se a preocupação nas terras portuguesas para
que se regule a questão das terras, já que era iminente o fim do tráfico de escravos.
Assim, após os legisladores daqui terem acesso à literatura inglesa, nasce projeto de lei
tratando de apropriação privada da terra nos anos de 1830, na Câmara de Comércio
Exterior do governo. Como ainda não havia nessa época essa forte pressão da Inglaterra,
o projeto ficou arquivado. Apenas nos anos 40, com a pressão inglesa, a promulgação
da Lei Aberdeen que instituía a questão do navio que bombardeia os navios negreiros,
entre outras situações, é que o legislador do império volta-se novamente para a
regulamentação das terras, que somente entra em vigor com a Lei de Terras de 1850.
Figura central nessa época era o Senador Vergueiro. Ele iniciou projeto piloto de
imigração, chamado também de colonização particular. Ele foi até a Europa e trouxe
diversos imigrantes europeus para trabalhar em suas terras. Ele criou também o
principio do que se chamaria posteriormente de contrários agrários, em que o colono
entra com o trabalho e ele com a terra, devendo o colono pagar um preço pelo uso da
terra.
Essa forma foi fracassada, pois ele não conseguiu ser competitivo adotando esse
modelo. O que aconteceu depois foi o custeio, pelo Estado, da imigração de europeus
para o país. E a solução para custear essa imigração foi a venda de terras públicas,
originada com a Lei nº 601/1850, a Lei de Terras. É o ano também, não por acaso, da lei
que extinguiu o tráfico negreiro (lei eusébio de queiroz) e do Código Comercial.
AULA 06 – 01/06/2017
Havia forte pressão internacional oriunda da Inglaterra para o fim do escravismo, como
visto. No Brasil, por tudo isso, os cafeicultores, em especial do sul e sudeste, vão
tentando encontrar alternativas para enfrentar essa pressão internacional. Há iniciativas
tomadas por particulares, como a do Senador Vergueiro, já trazido acima. O preço do
escravizado subia com o fim do tráfico, e os cafeicultores tinham que importar
trabalhadores europeus. A ideia também era embranquecer a população.
Na Europa isso também produz repercussões, já que esses trabalhadores que aqui
chegavam muitas vezes eram submetidos a condições de trabalho degradantes. Há
vários registros de governos europeus pedindo informações e ameaçando aplicar
sanções ao Estado Brasileiro por conta da insalubridade a que os trabalhadores europeus
eram submetidos.
Tudo isso contribuiu para a edificação da Lei de Terras de 1850. O primeiro projeto de
lei que trata dessa matéria foi aquela elaboração da Secretaria de Comercio Exterior do
Imperio. É proposto na primeira Casa Legislativa, mas fica engavetado por vários anos.
Com a proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra através da Bill Aberdeen, o projeto
ganha força e começa a tramitar de novo no Senado, para resolver o problema. Já havia
a péssima experiência do Senador Vergueiro, que gerou prejuízo para seus negócios.
O projeto de lei sofre influencia dessa tese Wakefieldiana. Só foi votado no Senado 8
anos depois de sua votação na Câmara. Resumindo, essa lei só foi finalmente
promulgada pela combinação do (a) fim do tráfico negreiro, através da Lei Eusébio de
Queiroz e (b) as politicas publicas de imigração para garantir a mão de obra, agora
escassa.
O primeiro artigo do texto da Lei diz que “ficam proibidas as aquisições de terras
devolutas que não seja a titulo de compra”. Ou seja, até 1822 as terras eram concedidas
em sesmaria. Agora, elas só serão obtidas por meio de compra, assim como prevê a tese
wakefieldiana do preço suficiente. Logo, ficaram excluídos da propriedade da terra os
escravizados, os imigrantes pobres da Europa. Aqui temos mais um passo para garantir
a concentração fundiária. A própria lei de terras impede, mesmo que o imigrante
europeu consiga reunir dinheiro suficiente para tanto, que ele compre terras nos 3 anos
imediatamente subsequentes à sua chegada no país. Ele é obrigado a participar da
lavoura nesse período inicial.
Outro artigo importante é o art. 3º da lei, que define as chamadas terras devolutas. O
conceito antigo de terra devoluta é o de sesmaria devolvida, quando o sesmeiro não
cumpre suas obrigações para com a terra. A Lei de terras ampliou as condições em que
o conceito de terra devoluta será aplicado. São 4 hipóteses de terras devolutas:
O que não for terra devoluta é terra particular. A terra devoluta pode virar terra
particular, desde que seja vendida em hasta pública.
Os possuidores que deixam de proceder à medição nos prazos marcados pelo governo,
foram reputados caídos em comisso, perdendo o direito de ter a propriedade sobre
aquela terra. Conservaram-se, somente, as partes da propriedade que eram cultivadas,
devendo o resto ser considerado terras devolutas.
A Lei de Terras repete o que já aparecia nas Cartas Regias. O governo deve garantir
terras devolutas para garantir a presença do indigenato. O governo organizará ainda, por
freguesias (hoje chamadas de “bairros”) o registro de propriedades.
Era comum que fossem dados escravos (e, depois, terras) como garantia em face de
diversas instituições bancárias. Eram as chamadas hipotecas ocultas. Foi por conta
dessa prática, que podia gerar colapso dos bancos, que foram instituindo os cartórios de
registro de bens imóveis no Brasil.
AULA 07 - 06/06/2017
Depois da Lei de Terras, tivemos outro diploma legislativo importante, que foi a Lei
nº1237 de 1864. Ela instituiu o primeiro registro geral imobiliário e de hipotecas do
Brasil. A lei de terras já tinha instituído o registro paroquial (as propriedades deveriam
ser comunicadas ao pároco). Mas esse registro não tinha fins imobiliários, mas
meramente fins cadastrais. Foi somente com esse registro de 1864 que se adotou o
registro com o fito de garantir a segurança das operações de crédito, a dar transparência.
É o Estado que passa a se responsabilizar por esse registro. As hipotecas também eram
registradas, de modo a inibir as hipotecas ocultas.
Logo após esses decretos, tivemos a primeira Constituição Republicana de 1891. Nela,
o direito de propriedade é previsto da mesma forma da CF de 1824: “É garantido o
direito de propriedade em toda a sua plenitude”. Só que aqui a propriedade do solo já
existe, não é mais patrimônio da Coroa Portuguesa. O proprietário poderia usar, gozar,
dispor, reaver, fruir e destruir sua propriedade. Era uma visão bastante absenteísta do
Estado quanto à propriedade, tendo o direito de propriedade caráter absoluto.
Contudo, já estávamos no fim do século 19, e algumas ideia já abalavam essa ideia de
do direito de propriedade absoluto. No plano religioso, alguns papas escreveram as
chamadas encíclicas papais asseverando que direito de propriedade deveria ser
concebido considerando também o bem comum, da coletividade. Começa a aparecer a
doutrina social da Igreja Católica. Exemplo clássico foi a encíclica chamada “Rerum
Novarum”, de 1893. Advém da chamada teologia da libertação, ramo filosófico da
Igreja.
No inicio do século XX, o cientista político e sociólogo francês Leon Duguit cria a ideia
de função social da propriedade, o que também contribui para o enfraquecimento da
ideia de direito de propriedade absoluto.
Interessante é a questão das jazidas e minas terrestres. Até 1822, não se utilizava o
modelo de sesmarias, as sim das chamadas datas minerais. Isso some com a CF/1824,
tendo o proprietário/possuidor direito às jazidas de seu terreno.
Outro tema importante nessa virada do século XIX para o século XX foi a experiência
da Guerra de Canudos (1896-97). O exercito foi destacado para debelar essa
organização camponesa. Produziu-se extensa literatura sobre o ocorrido.
O viés interpretativo do governo e das forças armadas era no sentido de dizer que
estavam diante de indivíduos arcaicos, fanáticos religiosos, defensores da monarquia,
bestializados que estavam contra a ordem e progresso que a República propunha.
Algumas décadas depois, outro viés interpretativo trouxe que nada o corrido teve a
haver com arcaísmo, com fanatismo religioso, apesar de haver naquela comunidade uma
influencia de catolicismo popular. A experiência se orientava também pelo
questionamento quanto à forma de apropriação da terra naquela parte do Nordeste.
Talvez, tenha sido a primeira experiência organizada de luta pela reforma agrária,
mesmo que essa nomenclatura não fosse utilizada então. O próprio Antônio Conselheiro
teria sido expulso do Ceará por coronéis latifundiários, que se apropriaram de sua terra.
AULA 08 – 08/06/2017
Tudo isso contribui para o novo texto da Constituição Federal de 1934. A CF dispunha
que “é garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido sem observar ou
contra o interesse social ou coletivo”. Assim, não se trata mais de direito absoluto.
Porém, não há instrumentos jurídicos de operacionalização dessa mudança radical em
relação ao texto de 1891. Um instrumento jurídico só aparece nos anos de 1960, a
desapropriação por interesse social.
As ligas tem um lema: “reforma agrária na lei ou na marra”. Elas provocam e insistem
para que essa desapropriação por interesse social ocorra na prática. Alguns padres e
religiosos adotantes da teologia da libertação também faziam partes dessas ligas, e
ajudavam na capilarização dessa ideia de reforma agrária.
O Estatuto da Terra foi editado apenas alguns meses após o golpe militar. Por exemplo,
a “fruit company”, atual Kibon, tinha e tem diversos imóveis rurais na américa latina, e
estava preocupada com o acontecimento (Revolução) de Cuba em 1959, uma vez
ocorreu e estatização dos imóveis. Ela, então, financiou a ditadura militar, para garantir
a manutenção de sua propriedade.
Num contexto maior, criou-se uma aliança chamada de aliança para o progresso, que
se deu entre os EUA, corporações transnacionalizadas (como a Fruit Co.) e setores
políticos da América Latina para evitar novas revoluções socialistas na região. Nesse
contexto, o presidente do Chile foi assassinado e João Goulart renunciou.
A ideia era então esmaecer a possiblidade de reforma agrária naqueles termos propostos
pelas Ligas Camponesas, que envolvia a extinção dos latifúndios e a redistribuição
direta da terra, cominadas com políticas públicas para melhorar as condições de vida
camponesas. Os setores patronais rurais acharam que poderia resolver o problema com a
modernização do latifúndio arcaico, atrasado, até então predominante. Assim, não
seria necessário extinguir o latifúndio, mas apenas modernizá-lo.
A reforma agrária do Estatuto da Terra tem caráter residual, pois ocorreu apenas em
alguns imóveis, que estavam “em zonas críticas de tensão e conflito social”. Se deu
ainda de imóvel por imóvel, ou seja, o Estado tinha que observar qual imóvel está em
1
Regulando o tema tivemos O texto dos anos 60 tratando do tema foi o “Plano Nacional de
Desenvolvimento dos Defensivos agrícolas”. Nos anos 80 há, a “Lei de Agrotóxicos”.
condições de ser desapropriado. É ainda reforma agrária onerosa, pois deve haver justa
indenização.
O latifúndio arcaico terá então que se transformar na chamada empresa rural, adotando
as ideia da revolução verde.
Como se vê, o Estatuto da Terra, ao invés de contribuir para a melhor distribuição das
terras, ajudou apenas a aumentar a concentração fundiária no Brasil.
AULA 09 - 13/06/2017
A Constituição de 1934 traz que “será respeitada a posse de terra de silvícolas”. Prevê
então o modelo tutelar, que prevê que os índios não são proprietários, mas apenas
possuidores de forma permanente da terras que ocupam. Na CF atual esse instituto da
posse das terras indígenas não desaparece, apenas adiciona-se o adjetivo “permanente” a
posse. Assim, do ponto de vista jurídico, as terras indígenas são bens públicos da União.
A União, quando demarca a terra indígena, não pode anular essa demarcação. Essa é a
ideia da posse permanente.
O modelo da CF atual traz outra ideia, mais ampla, que é o da terra tradicionalmente
ocupada, englobando não apenas as terras em que se encontram indígenas vivendo.
Existem locais que eram de indígenas, mas estes foram expulsos. Esses locais também
podem ser considerados tradicionalmente ocupados.
No Estatuto da Terra temos ainda a definição do que se entende por função social da
propriedade da terra. A função social acontece quando a propriedade (1) favorece o
bem estar dos proprietários e dos trabalhadores (entenda-se como da coletividade, e
não só dos trabalhadores do estabelecimento), (2) com níveis satisfatórios de
produtividade (uso adequado e racional, no texto constitucional atual), que (3)
assegura a conservação dos recursos naturais (respeito ao meio ambiente e
atendimento da legislação ambiental, na CF/88. A nova CF traz a ideia não só de função
social, mas função socioambiental) e (4) respeita a legislação trabalhista.
Concretamente, não temos a aplicação dessa ideia de desapropriação por função social
da propriedade durante o Governo Militar. Ele apenas aumenta a concentração
fundiária.
Os imóveis serão classificados pelo Estatuto da Terra em: (a) minifúndios, que são
aqueles que não atendem as condições de manutenção de uma família. Assim,
nacionalmente se instituem padrões para saber qual será a fração mínima de
parcelamento de terra que garante sustento de uma família. Essa fração mínima é a
propriedade familiar. Os minifúndios, para o estatuto, deveriam ser banidos,
desapropriados, para que no processo se remembramento se tornem ao menos
propriedades familiares; (b) propriedade familiar, que corresponde a 1 (um) modulo
rural. Esses módulos são definidos regionalmente e municipalmente através do INRA,
considerando condições ambientais, solo, clima, etc; (c) latifúndios, que podem ser por
extensão ou por exploração. Por extensão é aquele imóvel que excede em 600 vezes a
média dos imóveis rurais da região em que se localiza, devendo o INRA localizar esses
imóveis, independemente de haver produção em todo o terreno. Por exploração é o
latifúndio que, independemente da extensão (só não pode ser 1 modulo, porque ai vai
ser propriedade familiar), não atinge níveis satisfatórios de produtividade, está sendo
explorado em desconformidade coma legislação ambiental e trabalhista, etc. O
latifúndio, assim como o minifúndio, também deve ser banido por interesse social ; e
(d) empresas rurais, que são aqueles imóveis explorados tanto por pessoa jurídica
como por pessoa física, sendo explorado racionalmente e garantindo níveis de
produtividade. A ideia da modernização era, portanto, transformar os latifúndios
arcaicos em empresas rurais. Por isso não se atinge o problema central, que é a
concentração fundiária.
Os latifúndios e minifúndios não são desapropriados caso não estejam em zona crítica
ou de tensão social (art. 15, Estatuto da Terra). Dessa forma, a reforma fica ainda mais
limitada.
Outra questão da modernização conservadora é que essa empresa rural, tida como
modelo ideal a ser perseguido, é ainda mais incentivada nos anos 70, se transformando e
outro modelo, que é o complexo agroindustrial, que é aquele em que o empresário,
além de produzir a matéria prima, ele mesmo beneficia essa matéria prima, transporta o
bem até o consumidor, etc.. Assim, ele controla toda a cadeia produtiva. As vezes esses
complexos controlam até a rodovia onde os caminhões passam, via concessão
administrativa. Exemplo claro é a JBS. Isso tudo é potencializado pelos recursos
advindos do SNCR.
Assim, cada vez mais a pauta da reforma agrária vai sendo encolhida, inclusive
orçamentariamente. Ela passa a ser então residual, pois situada apenas nas zonas
criticas e de tensão social; parcelada, pois acontecerá de imóvel por imóvel; e onerosa,
pois acontece via indenização, até então por títulos da divida pública (hoje por títulos da
divida agrária).
Outro capitulo que vai ser interpretado como reforma agraria são as politicas de
colonização: o Estado Brasileiro (tanto a União, como Estados e Munícipios) doa
extensões territoriais para constituição de projetos de colonização, de ocupação de
territórios que o Estado brasileiro considera vazios demográficos. O Estado cede a terra
através de concessão real de uso, alienação, entre outros instrumentos administrativos.
O bioma amazônico e o cerrado foram bastante utilizados com esse processo.
Por isso o INRA passa a se chamar INCRA (Instituto nacional de colonização e reforma
agrária).
Se pensamos numa ótica civilística a posse está fundamentada numa teoria clássica da
posse, qual seja, a teoria objetiva da posse. Para Jhering, formulador original dessa
teoria, a posse decorria do direito de propriedade. Posse e propriedade não eram
autônomos entre sim, sendo a posse exteriorização da propriedade. Já Savigny,
formulador da teoria subjetiva entendia que a posse decorria de 2 elementos: animus
domini (intenção de ser dono) e corpus (a relação de fato do dono com o objeto). Essa
teoria é subjetiva porque depende da intenção.
No âmbito agrarístico, por sua vez, o elemento de distinção que caracteriza a posse é o
trabalho. A posse toma concretude não mais da mera transcrição do cartório de registro
de imóveis, mas numa relação fática com muito mais concretude, que é a ideia de
trabalho. Alguns autores trazem a distinção dizendo que na posse agrária há
efetividade, pois se verifica se há existência de atividade agrária e quem a exerce, sendo
ela que determina a posse agrária. Por atividade agrária se entende tudo que for
desempenhado no terreno com continuidade, como a agricultura, pecuária, extrativismo,
artesanato, etc.
Extrativismo não só vegetal e animal, mas também em relação aos corpos hídricos do
imóvel rural, incluindo a pesca artesanal (realizada em grande escala em regime de
economia familiar).
Imóvel rural é juridicamente, o prédio rustico, no sentido de necessário á atividade
agrária. Isso está no Estatuto da Terra. Para definição do imóvel rural, importa a
destinação às atividades agrárias. Se assim está destinado, é imóvel rural. Mesmo que
esteja no perímetro urbano de Salvador, será imóvel rural. Note que isso não importa
para fins tributários, que levará em consideração apenas a localização.
Assim, as teorias clássicas da posse não servem para entender a posse agrária. A posse
agrária está normatizada pela CF, no capítulo específico (em especial art. 191); o
Estatuto da Terra também faz referencia; o Decreto nº 59.566/76, que trata dos contratos
agrários, também faz referencia a essa ideia de trabalho; a Lei 8629, etc.
Na Bahia também existem normas, como a Lei Estadual nº 3038/72, que chama a posse
agrária de “ocupação”. Ocupante aqui é aquele que valoriza a terra com seu trabalho.
Esse ocupante tem direito preferencial à terra no momento da regularização fundiária.
A ideia por trás da posse agrária é que a terra é um bem de produção, com função
econômica importante, que não pode ficar vulnerável à ociosidade, ao absenteísmo.
Deve estar sempre disponível para realização de uma finalidade coletiva, que se realiza
a partir do trabalho. Isso é aplicado diretamente aos imóvel rurais, mas serve também
para o imóvel urbano, mas adicionam-se mais funções, como moradia, serviços
públicos, etc.
Importante notar que não se pode falar de posse agrária para os empregados, pois o
vínculo empregatício impossibilita isso. No caso de arrendamento, apesar de não ter
vinculo empregatício, também não pode constituir-se posse agrária.
2
O Código Florestal define a área não aproveitável de um terreno como Reserva Legal,
cuja percentagem varia de acordo com o bioma (Amazonia-80%; Cerrado- 35%;
Restante do Brasil-20%)
c) o usucapiente não pode ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano;
d) deve valorizar a terra com seu trabalho ou com auxilio de sua família;
g) não pode haver oposição, que é a propositura de ação que discuta outra posse agrária,
devendo nessa ação o proprietário que se contrapõe consiga de fato demonstrar que tem
posse agrária. Se não conseguir, não se configura a oposição, significando que ele é
absenteísta.
Obs. Lei 6969/81 prevê a possibilidade da usucapião poder servir como matéria de
defesa na própria contestação do réu. Contudo, jurisprudencialmente, mesmo nas ações
possessórias, o Poder Judiciário tem se contentado apenas com o registro imobiliário,
sem se preocupar se há posse agrária ou não. A parte contrária terá que se esforçar para
demonstrar existência da usucapião.
Sendo imóvel público, pode gerar propriedade através de regularização fundiária. Não
é sempre que a regularização fundiária gera direito de propriedade, pois por vezes não
há transferência de domínio, mas mera concessão de direito real de uso.
3
Quanto aos deslocados por interesse público (exemplo daqueles que já tinham
cumprido requisitos para legitimação de posse em um terreno e que foram deslocados
por conta de construção de barragem que inundou vários terrenos) o direito a
legitimação da posse permanece numa situação como essa, pois ele foi desapropriado
e) deve valorizar a terra com seu trabalho ou com auxilio de sua família;
f) deve morar no imóvel;
g) não pode haver oposição, nos mesmos moldes do que ocorre na usucapião.
Na lógica trazida pela CF/88, não tem sentido a União, Estados ou Munícipios acumular
terrenos. A lógica antes era arrecadar tributos com os imóveis. Hoje, a ideia primordial
da CF é a regularização fundiária de interesse social.
AULA 11 – 29/06/2017
Quanto à usucapião, temos a usucapião especial rural no art. 191 da CF/88, com os
requisitos já tratados acima.
AULA 12 – 04/07/2017
No atual procedimento, o autor, ajuíza a ação, o juiz pode ou não determinar audiência
de justificação da posse. Se não determinar, expede o mandado de cumprimento da
liminar. Depois disso, há possibilidade de 2ª audiência, ai sim convocando os órgãos
federais e estaduais interessados na situação fundiária (urbana ou rural), no sentido de
dizer se é possível construção de solução conciliada. Essa ultima se chama audiência de
mediação. O que mudou é que essa mediação, que antes não fazia parte do processo e
ocorria antes do cumprimento do mandado de reintegração/manutenção, passou a fazer
parte do processo e a ocorrer, necessariamente, após o cumprimento da liminar.
Quando a CF faz referencia a essas terras de uso comum, é no capítulo que se refere aos
povos indígenas, no art. 231 (copiar).
A principal critica dos grupos indígenas em relação aos textos constitucionais anteriores
era a perspectiva assimilacionista que existia neles. Segundo essa perspectiva,
deveriam ser reconhecidos direitos aos indivíduos na medida em que eles abdicassem de
sua diversidade, de sua tradição.
Essa discussão contra o assimilacionismo já existia a algum tempo, há mais de 30 anos,
o que resultou na Convenção nº 169 Organização internacional do Trabalho (OIT) em
1989, determinando reconhecimento direitos aos povos originários em consonância com
o reconhecimento de seus aspectos tradicionais. Isso ocorria pois a OIT tem
representação não apenas dos Estados, mas também patronal e de trabalhadores. Foram
os trabalhadores que trouxeram essa questão para discussão.
Mas como definir o grupo? Quem é índio, não índio, tribal ou não tribal? A Convenção
nº 169 traz a ideia de auto identificação para definir isso. Não se trata hétero-
identificação, não é um terceiro que identifica, mas o próprio individuo e sua
coletividade que vão se identificar como pertencente a um determinado grupo.
AULA 13 – 06/07/2017
AULA 14 – 11/07/2017
5.1. POSSE E RECONHECIMENTO DE TERRITÓRIOS TRADICIONAIS
INDÍGENAS
A ideia aqui é abarcar não apenas o aspecto econômico da posse da terra, mas também o
aspecto religioso, cultural, etc. Ex. Um cemitério de indígenas deve ser protegido, pois
envolve tradição religiosa, devendo ser considerado também como terra
tradicionalmente ocupado. Todos os lugares onde ocorre reprodução física, material,
imaterial, cultural, econômica, religiosa, esportiva e educacional do grupo étnico devem
ser abarcados pela ideia de terra tradicionalmente ocupada.
O STF sempre interpretou dessa forma, mas a 2º turma do STF, a partir do que se infere
de seus julgados (e em especial após o julgamento do caso Fazenda Raposa Serra do
Sol), quer romper com essa noção diacrônica de terra tradicionalmente ocupada,
mantendo a ideia sincrônica tão somente de “terra ocupada”.
A Convenção nº 169 da OIT traz a noção de território, mas traz outras ideias muito
importantes. Se aplica aos povos “indígenas e tribais”. Aqui no Brasil, essa ideia de
tribal está vinculada aos povos tradicionais. Ex. quilombolas, fundos e fechos de pasto,
ciganos, seringueiros do acre, pescadores artesanais: a todos eles se aplica essa
Convenção, pois todos eles seriam “povos tribais”, no conceito trazido pela Convenção.
4
A luta de Chico Mendes e os seringueiros para possibilitar o uso das florestas de modo sustentável
para o extrativismo deu origem a uma espécie de unidade de conservação chamada “Reserva
Extrativista”. Essas reservas são destinadas às comunidades tradicionais.
Além disso, estabelece que esses povos tradicionais não devem ser retirados de seus
territórios tradicionais. Contudo, ressalva a possibilidade excepcional de deslocamento
dos povos de seu território temporariamente, e caos não seja possível voltar, o
pagamento de indenização. Isso acaba enfraquecendo bastante essa ideia de terra
tradicionalmente ocupada na Convenção.
Posteriormente temos a Carta Régia de 1680 enviada pelo Rei de Portugal, e que
proibia a tomada de propriedade pelos sesmeiros dos territórios ocupados pelos
indígenas.
O Estatuto do Indio trazia gradação entre as terras indígenas: (i) Terras Ocupadas; (ii)
Terras Reservadas; (iii) Propriedade Particular.
Nessa ideia de terra reservada, estão abrangidas quadro modalidades: parque, reserva,
colônia agrícola e território federal indígena. As que mais proliferaram foram os
parques e as reservas.
A ideia de terra ocupada dialoga mais com a ideia de terras tradicionalmente ocupadas.
Já a propriedade particular é a terra de domínio das comunidades indígenas, ou mesmo
de um só determinado indivíduo indígena.
Essas terras são de propriedade da União, sendo os bens vegetais, minerais, hídricos,
animais são de usufruto exclusivo dos indígenas. O aproveitamento dos recursos
hídricos e minerais por terceiros depende de consulta previa, livre e informada das
populações, aqui com poder de veto, e posterior aprovação de Congresso Nacional.
Além disso, segundo a CF, os povos indígenas não podem ser removidos de seu
território, salvo situações de catástrofe e epidemia. Cessadas essas situações
excepcionais, eles devem retornar a seu território.
Depois, esses laudos antropológicos serão submetidos à FUNAI, que então efetuará
analise. Há o prazo de 15 dias do recebimento dos estudos para que sejam publicados os
estudos. Após esse prazo, possíveis interessados podem ...