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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

FACULDADE DE METEOROLOGIA
DEPARTAMENTO DE METEOROLOGIA

Material de Apoio para as Aulas Teóricas da Disciplina de

AGROMETEOROLOGIA

Professora: Simone Vieira de Assis

Pelotas, RS.

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Unidade 1: INTRODUÇÃO

1.1 Objetivo da Agrometeorologia


A definição da Agrometeorologia segue diretamente daquela consideração fundamental
da biologia moderna, na qual o organismo e seu ambiente formam uma dialética.
A Agrometeorologia é a ciência que interage com as características físicas do ambiente
onde estão crescendo plantas e animais; é relacionada com o estudo dos processos físicos que
ocorrem neste ambiente e também com o aproveitamento e influência destes processos físicos na
agricultura. É uma combinação de ciências físicas e biológicas e existe uma valiosa ligação entre
elas. No seu sentido mais amplo, é aquele ramo da meteorologia aplicada que investiga as respostas
dos organismos vivos ao meio atmosférico.
Nas décadas recentes o uso da meteorologia na agricultura foi aumentando. Isto tem
sido devido, largamente, aos estudos de laboratório, casa de vegetação e de campo, nos quais as
respostas biológicas tem sido medidas sob condições controladas.
A Agrometeorologia inclui o estudo da energia solar, composição e intensidade da
radiação solar, métodos de medida da radiação solar recebida pelos cultivos agrícolas . Também
estuda a atmosfera, particularmente a camada em que as partes aéreas das plantas crescem e se
desenvolvem e, é de grande importância a questão do regime térmico, desta camada, e sua relação
com àquela da camada superficial ao solo. De igual importância são os movimentos verticais e
horizontais do ar nesta camada da atmosfera, bem como seu teor de umidade e formação de vários
hidrometeoros .
Não só auxilia ao estudo da camada da atmosfera mais próxima do solo (primeiros 2
metros), como também existe a preocupação em encontrar métodos que alterem alguns processos
físicos a fim de combater condições desfavoráveis do tempo como geadas, secas, ventos fortes e
outras.
O principal objetivo é melhorar a produção agrícola pela previsão mais precisa e pelo
controle do meio atmosférico. A previsão pode variar desde as estimativas dos rendimentos das
culturas e a sua qualidade, por um lado, até a estimativa da produção pecuária e os azares
climáticos, por outro, passando pelo controle das enchentes e a regulação da temperatura dos
estábulos e de outras instalações para animais. No sentido estrito, a Agrometeorologia pode ser

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definida como o estudo dos processos físicos na atmosfera, que produzem o tempo bem como suas
relações com a produção agrícola. É uma ciência horizontal, a qual aplica a física do ar atmosférico
e do solo à agricultura. De fato, muitos investigadores neste campo acreditam que as investigações
sobre o microclima das plantas e animais, assim como as estatísticas dos elementos do tempo, são
propriamente assuntos da meteorologia agrícola. Entretanto, nós enfatizamos o estudo das respostas
dos organismos vivos ao meio atmosférico, porque esta é a ligação entre a meteorologia e a
agricultura, e é o aspecto fundamental do assunto.
Os organismos vivos estudados na meteorologia agrícola são restritos as plantas
cultivadas, ao gado e as aves domésticas, aos insetos e ao microorganismo de importância
econômica. Nesse caso, o objeto de estudo da meteorologia agrícola é relacionado, principalmente,
com as relações quantitativas entre o meio atmosférico e as respostas biológicas das espécies
vegetais cultivadas e animais domésticos.
Outra importante tarefa da Agrometeorologia é estudar o solo, considerando a aeração,
regime térmico, balanço de umidade da camada mais superficial em relação a sua composição,
clima local e sua influência na formação do solo, e outros fatores. Uma interação com as medidas
agronômicas inclui a retenção de neve, uso de cobertura morta, uso de máquinas agrícolas para
lavrar a solo, irrigação e outras. Outros assuntos relacionados com a Agrometeorologia são:
desenvolvimento de zoneamento agrícola; exploração e uso racional do solo, incluindo solos
desnudos e plantados em regiões montanhosas e planas. A Agrometeorologia não deve ser
confundida com a Meteorologia Geral que estuda a atmosfera como um todo, sendo uma das suas
maiores tarefas, a previsão do tempo.
Existem diversas aplicações das técnicas meteorológicas às operações de campo.
Alguns exemplos importantes:
1. A previsão e proteção contra geadas;
2. Os avisos contra fogo nas florestas;
3. Planejamento da irrigação;
4. Os calendários de plantio e colheitas;
5. A seleção de lugares para as culturas;
6. Controle de insetos;
7. Controle de doenças;
8. Modificações microclimáticas, como a utilização da prática de quebra-ventos.

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Grande número de experimentos tem sido feitos no campo aberto, numa tentativa de
melhorar a produção agrícola. Entretanto, esses experimentos são complicados devido a vários
fatores do ambiente físico. Novas teorias metodológicas e instrumentos necessitam ser
desenvolvidos, para sobrepujar as limitações da pesquisa no campo natural.

1.2 Importância do tempo e do clima para produção agrícola


A agricultura é o manejo dos recursos naturais visando a produção das plantas para
satisfazer as necessidades do homem. A produção das plantas pode ser usada diretamente para
alimentação como no caso de frutas e hortaliças, ou pode ser convertida através dos animais em
produtos como ovos, leite, carne, etc. ou usada para propósitos industriais como a juta.
A agricultura é dependente da interação de todos os atributos dos recursos da terra com
os atributos do homem. Os vários campos das ciências aplicadas que tem sido desenvolvidos pelo
homem para estudar as várias limitações impostas pelos recursos figuram na Tabela I.
A maioria dos problemas agrícolas requer os conhecimentos de mais de uma ciência
para obtenção da melhor resposta agrícola, e equipes de trabalho são necessárias para a ciência
agronômica. Como o crescimento das plantas é o centro de objetividade de agricultura, é o
agrônomo que comumente age como integrador dos vários cientistas.

Tabela 1. Recursos da Terra e os atributos do homem


Recursos da Terra Ciências aplicadas ao seu manejo na agricultura
Clima Agrometeorologia, agroclimatologia
Topografia Conservação do solo
Solo Fertilidade do solo, física do solo
Vegetação Agronomia (incluindo silvicultura) fitopatologia
Animais Entomologia, zootecnia
Água Hidrologia – irrigação, drenagem

RECURSOS HUMANOS
Mão de obra Sociologia
Capital Economia

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Tecnologia Engenharia

Os recursos naturais não são ilimitados. Anos atrás, sob condições de população
escassa e exploração industrial mínima, parecia que a Terra poderia ser o provedor inesgotável dos
recursos naturais. Entretanto, a população cresceu e a industrialização se expandiu, e cada vez
mais, nós estamos preocupados com as limitações da Terra. As florestas são destruídas, os solos
erosionados, os depósitos minerais exauridos e o ar e a água se tornam cada vez mais poluídos, e
caso não sejam tomadas providências eles se tornarão um ambiente impróprio à vida.
Se a produção mundial, em crescimento, deve ser alimentada em níveis mínimos
aceitáveis, a produção mundial de alimentos precisa ser aumentada, as perdas agrícolas e pastoris
minimizadas, e a eficiência da produção agrícola melhorada.
Não se pode mais aceitar , hoje em dia, que o homem explore os recursos naturais de
uma área ou região (solo, água, ar) e após mude-se para outra região para novos assaltos ao
ambiente. A empresa agrícola moderna não mais realiza esta prática; entretanto, os métodos
presentes de exploração agrícola estão começando a prejudicar o ambiente, o solo, a água, o ar, de
outras maneiras.
Para melhorar esta tecnologia moderna, que não pode ser abandonada, precisamos
conhecer cada vez melhor o ambiente que usamos (solo, clima, água).
As plantas dependem, para o seu crescimento e desenvolvimento, da sua constituição
genética e das condições ambientais do solo e do clima. Como um fator ecológico na agricultura, o
solo tem sido mais bem estudado e é melhor compreendido do que o clima. Em geral, os
agricultores conhecem mais sobre o manejo do solo do que como explorar corretamente os recursos
climáticos. Uma razão para o lento progresso da meteorologia agrícola é o pensamento
generalizado de que o conhecimento das relações entre o clima e as plantas são de pouco valor
prático. Embora o homem não seja ainda capaz de mudar o tempo e o clima, exceto em escala
muito reduzida, ele é capaz de ajustar as práticas agrícolas ao clima.
A climatologia pode contribuir para solucionar o problema de escolha dos lugares para
uma dada cultura ou de uma dada cultura para um lugar. Embora a localização de muitas regiões
agrícolas, e por exemplo o trigo no Planalto Gaúcho ou a região arrozeira no litoral do Rio Grande
do Sul, tenha sido selecionada pelos agricultores muito antes do desenvolvimento da moderna
ciência da climatologia, a falta de um conhecimento detalhado das relações das plantas com o clima

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tem prejudicado o planejamento inteligente do uso da terra em uma escala maior. Até que a
interação do complexo climático com o processo físiológico da cultura seja entendido, a produção
desta cultura, adequada para condições climáticas locais, permanece no empirismo. A prática
comum de definir as chamadas analogias climáticas, primeiramente em termos de médias mensais
de temperatura e precipitação, tem provado ser inadequada como guia para a introdução de plantas
ou o planejamento do uso da terra. A radiação solar, a evapotranspiração, a amplitude diária de
temperatura, o balanço hídrico e outras variáveis meteorológicas precisam ser completamente
analisadas antes de estabelecermos um planejamento para obter o máximo retorno econômico em
função de determinado regime climático.
Desse modo, a agricultura torna-se dependente dos seguintes fatores do meio vegetal,
terrestre e atmosférico.

Climáticos
 Radiação Comprimento de onda
Intensidade
Fotoperíodo e outros ciclos

 Temperatura do ar
Temperatura do solo

 Vapor de água Quantidade

 Evaporação e Transpiração

 Nuvens

 Precipitação Quantidade
Freqüência
 Umidade do solo

 Vento Freqüência

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Velocidade
Direção

Edáficos
 Solo
 Propriedades químicas

Geográficos
 Gravidade
 Latitude
 Longitude
 Altitude

Topográficos e outros

Cada local na superfície da Terra possui sua combinação particular de recursos


naturais. Como as plantas são imóveis, a prática da agricultura, em dada propriedade agrícola,
depende do manejo do conjunto dos recursos naturais da propriedade. Isto envolve a integração de
todos os recursos para obtenção dos máximos rendimentos.
A distribuição atual das plantas cultivadas não é tão ligada com as condições de solo e
clima como poderia ser esperado. Fatores bióticos e o homem em particular tiveram um papel
muito importante nesta distribuição, e para atendê-la temos de conhecer a história econômica e
social de uma determinada cultura.
Finalmente devemos chamar a atenção para a grande importância da Ecologia na
Agricultura. Qualquer sistema agrícola que deva ser desenvolvido além da agricultura de
subsistência deve colocar sua ênfase na Economia para obter-se máximos retornos dos
investimentos em capital e mão-de-obra.

1.3 Crescimento e desenvolvimento de plantas cultivadas


É necessário diferenciar “crescimento” de “desenvolvimento”.

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Crescimento se refere a um aumento em peso ou volume de um certo órgão de uma
planta como um todo, dentro do intervalo de tempo de uma certa fase ou de toda a vida da planta.
Desenvolvimento é o aparecimento de uma fase ou de uma série de fases durante o
ciclo vital da planta. Por exemplo: o florescimento da planta é desenvolvimento, enquanto o
alongamento de um ramo é crescimento.
No que se refere às mudanças na composição química e física da planta, o crescimento
implica em mudanças quantitativas, mas não em profundas mudanças qualitativas. O
desenvolvimento, por outro lado, indica o progresso de uma série de mudanças qualitativas, através
de todos os estágios, até a morte.
Conclui-se que o crescimento pode ser medido pelo aumento de comprimento de um
ramo ou aumento de peso, etc. Entretanto, o desenvolvimento é usualmente observado pela data de
germinação, brotação, floração, frutificação, etc.
Em outras palavras, o estudo do desenvolvimento de uma planta, é morfológico e
fenológico (fenologia é o estudo dos acontecimentos periódicos da vida), mas o crescimento é
geralmente fisiológico e ecológico.
Os fisiologistas consideram o crescimento um fenômeno complexo, e de difícil
definição, porque o crescimento compreende aspectos como: a reprodução, o aumento em
dimensões, o ganho de peso, a multiplicação das células. Depende do órgão (da espécie do órgão),
que se toma como medida de crescimento.
Na prática agrícola, o descanso invernal das plantas, a quebra de dormência das
sementes e gemas, são problemas de desenvolvimento e não de crescimento. Uma vez que esses
são problemas essenciais em agricultura, a investigação das relações entre o meio e o
desenvolvimento, constituem importante trabalho de pesquisa.
Exemplo de fases visíveis e invisíveis: a maioria das fases e sub-fases de uma planta são
reconhecíveis morfologicamente, mas algumas não são aptas de serem vistas à olho nú. Entre as
visíveis temos a emergência, o empendoamento do milho a floração das ervilhas, etc. Entre as que
não podem ser vistas podemos citar o estágio formativo do milho, o estágio de rápido crescimento
da ervilha e a maturação da ervilha. Destas, algumas podem ser medidas com instrumentos, como
por exemplo, a maturação da ervilha pode ser medida com o tenderômetro, enquanto que o estágio
formativo do milho deve ser medido indiretamente pela contagem do número de folhas e altura das
plantas.

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Ao examinar-se a curva de crescimento de um vegetal, observa-se um período inicial de
crescimento lento, seguido de um rápido aumento de tamanho, culminando, finalmente, com uma
parada no processo (Figura 1).
O crescimento inicial lento ocorre porque a planta depende das reservas da semente para
a produção de seus órgãos. Em seguida, após o desenvolvimento do sistema radicular e a
emergência das folhas, os processo anabólicos dependentes da fotossíntese se intensificam e
resultam num crescimento rápido e eficiente. Por último, ao atingir o tamanho definitivo, a planta
inicia a fase de senescência, que se reflete inicialmente na paralisação da produção de matéria
orgânica.
Essa curva de crescimento representa, para plantas anuais, todo o ciclo de vida. Para
plantas perenes, ela representa o crescimento durante uma época do ano (em regiões temperadas, a
primavera e o início do verão).

Figura 1. Representação gráfica do crescimento de um vegetal.

1.4 Ecossistemas e cadeia nutritiva

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As plantas, animais e outros organismos não vivem só na natureza. Constituem
comunidades bióticas.
A comunidade biótica é uma unidade funcional mantida unida por uma
interdependência entre seus membros. A dinâmica total da comunidade ecológica, formada pelo
habitat (condições físicas) e pelos organismos que ocupam, denomina-se ECOSSISTEMA ou
sistema ecológico. No ecossistema os organismos e o habitat estão interrelacionados.
O ecossistema tem dois componentes:

1. Componente abiótico – como componente abiótico tem-se os processos físico-químicos do


meio, por exemplo, fatores climático (luz, temperatura, pluviosidade, ventos, etc) e fatores
edáficos (solo, pH, nutrientes, capacidade de retenção de água, etc) e quantidade de alimento
disponível.
2. Componente biótico – é aquele em que há a participação de organismos vivos, ou seja, o
predatismo e o parasitismo. O tamanho de uma população pode variar dependendo da
quantidade de predador e parasita encontrados nessa população.

Desse modo, todo ecossistema consta de quatro elementos principais:


a) substâncias abióticas;
b) produtores de alimento;
c) consumidores;
d) desintegradores dos compostos complexos de protoplasmas mortos e que produzem
substâncias simples para os produtores.
Exemplos de ecossistemas: lagos, bosques tropicais chuvosos, uma cultura de milho,
etc.
O homem pode interferir no funcionamento dos ecossistemas e conduzi-los à um futuro
magnífico ou a completa destruição. Por exemplo, o superpastoreio de campos de pastagens pode
destruí-los. É uma forma de má exploração dos recursos naturais que destrói o equilíbrio do
ecossistema natural. Prudentemente dirigidos, se pode obter a conservação e perpetuação de uma
grande quantidade de recursos naturais.

Cadeia nutritiva

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Da energia luminosa absorvida pelas plantas verdes, somente uma pequena parte é
transformada em energia potencial, a maior parte é dispersada na forma de energia calorífica. Um
animal recebe energia química potencial (alimento e converte grande parte dela em calor), para
restabelecer outra pequena parte como energia química potencial de protoplasma novamente
formado. A transferência, passo à passo, de energia de um organismo para outro, faz com que uma
grande parte dela seja degradada na forma de calor.
Segundo o conceito do princípio da estabilidade, qualquer sistema natural fechado, com
energia flutuante através dele, tende a mudar, até que se estabeleça um estado estável pela ação dos
mecanismos autorreguladores. Neste princípios que se baseia o estudo dos problemas ecológicos
das cadeias nutritivas e do conceito de produtividade.
Cadeia nutritiva é a transferência da energia nutritiva desde sua origem, nas plantas
verdes, através da série de organismos que comem e são comidos repetidamente. Toda cadeia
alimentar começa com o produtor e termina com o decompositor (bactérias, fungos e outros). Entre
eles temos os consumidores que são classificados em primários secundários, etc, dependendo de
quem se alimenta.
Por causa das perdas de energia, o número de etapas das cadeias nutritivas, é
usualmente limitado a quatro ou cinco. Quanto mais curta a cadeia, mais eficiente ela é na
formação de peso vivo ou biomassa.
Reconhece-se a existência de 3 classes de cadeias nutritivas:
a) predadora: dos menores aos maiores animais;
b) parasita: dos maiores aos menores organismos;
c) saprófita: da matéria morta aos microorganismos.
Os organismos que obtém seus alimentos dos plantas mediante o mesmo número de
etapas, pertencem ao mesmo nível trófico; os carnívoros que comem herbívoros ao 3º nível; os
carnívoros secundários ao 4º nível.
As cadeias nutritivas nos são mais ou menos familiares, pois o homem ocupa uma
importante posição no final de várias delas.

Referências Bibliográficas
ARIZA, D. Ecologia objetiva. São Paulo: Nobel, 1985. 225p.

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SAMPAIO, E. S. Fisiologia Vegetal: teorias e experimentos. Ponta Grossa: Editora UEPG,
1998.190p.

VITKEVICH, V. I. Agricultural Meteorology. Tradução: Israel Program for Scientific Translations.


Jerusalem: IPST Press, 1963. 312p.

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Unidade 2: RADIAÇÃO SOLAR

2.1 IMPORTÂNCIA DA RADIAÇÃO SOLAR PARA A AGRICULTURA


O Sol é considerado, cometendo-se um erro desprezível, a única fonte de energia
para os processos físicos e biológicos que ocorrem na Terra.
Em Agrometeorologia, um dos estudos mais importantes é o que diz respeito a esta
energia recebida do Sol. Tal estudo é fundamental em numerosos campos da ciência pura e
aplicada. Um conhecimento do total de radiação recebida e de sua distribuição, é de relevante
importância pois todo organismo, planta ou animal, na superfície da Terra está mergulhado neste
ambiente de radiação, respondendo de acordo.
A importância da radiação solar para a agricultura foi bem definida por Monteith
(1958), como sendo “a exploração da radiação solar, desde que haja um suprimento de água e
nutrientes para manutenção e crescimento das plantas”.
Em agricultura, a produção agrícola é diretamente proporcional a intensidade de
radiação solar que incide sobre uma determinada área, quando não existem outros fatores
limitantes como: falta de água, deficiência de elementos minerais, má estrutura do solo, etc. A
quantidade de radiação solar que atinge a superfície da Terra em dado local, tempo e época do
ano são fundamentais para a produtividade de uma cultura, devido a sua proporcionalidade
com relação à quantidade e distribuição durante o ano. A planta responderá a quantidades
instantâneas da radiação solar e, valores máximos durante o dia são críticos para determinados
processos da planta, por exemplo, crescimento, fotossíntese, aumento de peso úmido, reserva
de açúcar, absorção de água, etc, dependem sobretudo da quantidade de radiação de solar que
atinge a planta nas diversas horas do dia. A temperatura da planta, que governa a taxa de
processos biológicos, depende da radiação solar global ou total incidente sobre a planta.

2.2 ESPECTRO DA RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL E SEU SIGNIFICADO BIOLÓGICO


A distribuição da radiação eletromagnética emitida pelo Sol, como função do
comprimento de onda incidente no topo da atmosfera, é chamada de espectro solar. Medições
indicam que 99 % da energia solar está contida entre 0,25 m e 4,00m, ficando 1% para
comprimentos maiores do que 4,00 m. Por esse motivo, a radiação solar é conhecida como
radiação de ondas curtas.

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O espectro solar é classicamente dividido em três faixas ou bandas de comprimento de
onda, ou sejam:
Ultravioleta   0,38 m
Luz visível 0,38 m <   0,76 m
Infravermelho  > 0,76 m

A radiação solar visível, por sua vez é formada por:


Tabela 1: Variação de energia de acordo com a repartição do espectro solar.
Cores Comprimento de Energia (W.m-2) % da Constante
onda (m) Solar

Violeta 0,38 m a 0,42m 108,85 7,96

Azul 0,42 m a 0,49m 73,63 5,39

Verde 0,49 m a 0,54m 160,00 11,70

Amarelo 0,54 m a 0,59m 35,97 2,63

Laranja 0,59 m a 0,65m 43,14 3,16

Vermelho 0,65 m a 0,76m 212,82 15,57

Tabela 2: Percentual da energia solar correspondente as faixas de comprimento de onda.


Energia solar (%) Comprimento de onda (m)

95,2 0,30 – 2,40


1,2 < 0,30
3,6 > -2,40

Os seres vivos, especialmente as plantas, são direta e grandemente influenciados pela


radiação solar e a ação desta depende muito das condições de nebulosidade. Como a intensidade e a
composição dos raios solares são função do ângulo de elevação solar, essa influência é também
verificada sobre as plantas dependendo da hora do dia, da estação do ano, latitude e altitude do
ponto de observação, principalmente com relação ao albedo de várias culturas. Do ponto de vista

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quantitativo e qualitativo, a importância para a agricultura é fundamental no desenvolvimento
morfológico das plantas.
A intensidade da radiação afeta separadamente o desenvolvimento das células
vegetais, por exemplo, uma planta que tem seu habitat num ambiente escuro, experimenta
queimaduras e perfurações, principalmente provocadas pelos raios ultravioleta, quando
exposta diretamente à radiação solar.
A Comissão Holandesa de Irrigação Vegetal (1953) (citado por Mota, 1979)
estabeleceu os efeitos específicos causados por determinadas faixas do espectro solar,
estabelecendo oito divisões, com características próprias, que são:
1a faixa: Radiação com comprimento de onda maior que 1,0 mícronmetro (m)
 Não causa danos às plantas e é absorvida. O aproveitamento é sob a forma de
calor, sem que haja interferência com os processos biológicos.
2a faixa: Radiação entre 1,0 m e 0,72 m
 Esta é a região que exerce efeito sobre o crescimento das plantas. O trecho mais
próximo a 1,0 m é importante para o fotoperiodismo, germinação de sementes,
controle de floração e coloração do fruto.
3a faixa: Radiação entre 0,72 m e 0,61 m
 Esta região espectral é fortemente absorvida pela clorofila. Gera forte atividade
fotossintética, apresentando em vários casos, também, forte atividade
fotoperiódica.
4a faixa: Radiação entre 0,61m e 0,51 m
 É uma região espectral de baixo efeito fotossintético e de fraca ação sobre a
formação da planta. Corresponde à região verde do espectro.
5a faixa: Radiação entre 0,51 m e 0,40 m
 Esta é essencialmente a região mais fortemente absorvida pelos pigmentos
amarelos e pela clorofila. Corresponde a parte do azul e parte do violeta do
espectro de radiação solar, e é também, região de grande atividade fotossintética,
exercendo ainda vigorosa ação na formação da planta.
6a faixa: Radiação entre 0,40 m e 0,32 m
 Esta faixa exerce efeitos nocivos na formação do vegetal. As plantas tornam-se
mais baixas e as folhas mais grossas.

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7a faixa: Radiação entre 0,32 m e 0,28 m
 É prejudicial à maioria das plantas.
8a faixa: Radiação com comprimento de onda menor do que 0,28 m
 Mata rapidamente as plantas submetidas a esta faixa de radiação solar.

Essa divisão por faixas do espectro é importante até mesmo para a adequação ou
ambientação das plantas em diferentes locais do planeta. Além disso, em casa de vegetação
onde a radiação solar precisa ser complementada por outra fonte de energia, considerando que
em alguns lugares o número de horas de brilho solar é pequeno, lâmpadas incandescentes são
usadas para a geração de radiação na faixa do espectro correspondente ao vermelho e ao
amarelo e, algumas vezes na faixa do infravermelho (próximo) e pequenas quantidades na
faixa do azul e do violeta. Por exemplo, algumas espécies vegetais como girassol, repolho,
alface, espinafre, rabanete e outras são extremamente sensíveis a deficiência de radiação na
faixa do azul ao violeta, reagindo com forte elongação. Para tanto, lâmpadas de mercúrio com
bulbos de quartzo ou tubos luminosos cheios de vapor de mercúrio, devem ser incluídos, por
emitirem radiação com comprimentos de onda correspondentes do azul ao violeta e
ultravioleta.

2.3 ATENUAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR AO ATRAVESSAR A ATMOSFERA.


A energia radiante do Sol quando passa através da atmosfera é submetida a
transformações complicadas. Da camada exterior à atmosfera até chegar à superfície da Terra, a
energia radiante é absorvida e espalhada. Devido ao espalhamento desta energia observamos ao
nível da superfície do solo, não somente radiação solar direta, na forma de um feixe de raios solares
paralelos, mas também a radiação difusa provinda de cada ponto do céu. A radiação solar direta e a
radiação difusa constituem a radiação solar global.
Quando a radiação solar atravessa a atmosfera ela é parcialmente absorvida e
transformada (principalmente em energia calorífica) pela atmosfera dando origem neste processo, a
formação de ozônio e ionização das camadas superiores da atmosfera; ela é parcialmente espalhada
pelas moléculas de gás e minúsculas partículas de vários tamanhos e composições suspensas na
atmosfera e, ela é refletida pelas nuvens. Como resultado destes processos físicos a radiação solar
direta é atenuada na sua trajetória até atingir à superfície da Terra. A atenuação não é a mesma em

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todas as regiões do espectro; certas regiões são efetivamente mais enfraquecidas do que outras.
Consequentemente, após atravessar a atmosfera, a radiação solar muda não somente na intensidade
total, como também na composição.
Esta diferença entre a radiação extraterrestre e a radiação global incidente na
superfície da Terra é devido a atenuação sofrida pelos raios solares ao atravessar a atmosfera,
e os principais atenuantes são as nuvens, pó, vapor d’água, espalhamento pelas moléculas de
próprio ar, absorção pelo O3, H2O e CO2. Isso é facilmente visível na Figura 1, onde as
curvas das radiações extraterrestre e global estão representadas mostrando um grande
distanciamento entre elas, comprovando o quanto esta radiação é atenuada.

Radiação solar global


Radiação extraterrestre
Rads. solares global ext. e extraterrestre (MJ/m2)

45

40

35

30

25

20

15

10

0
-50 0 50 100 150 200 250 300 350 400

Dia Juliano

Figura 1. Comparação entre as radiações solares extraterrestre e global incidente.

2.3.1 Lei de Beer - Bouguer ( comprimento da trajetória ).


O envelope atmosférico de gases que circunda a Terra absorve quantidades
consideráveis da luz solar. Esta atenuação é uma função dos constituintes da atmosfera e, devido a
absorção seletiva por estes constituintes, certos comprimentos de onda são mais severamente
afetados do que outros.
A lei de Beer - Bouguer descreve a redução da densidade de fluxo da luz solar
como uma função da trajetória ( profundidade ) dentro do meio homogêneo absorvedor dx :

I1 / I0 = exp ( - x ) 1

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onde, I0 é a densidade de fluxo inicial da luz , I1 é a densidade de fluxo após passar através da
trajetória x do meio de coeficiente de extinção . A equação é facilmente adaptada a extinção
da radiação solar na atmosfera substituindo I0 pela constante solar Rsc e I1, pela densidade de
fluxo de radiação global Rs, então,

Rs = Rsc exp ( - a x ) 2

onde a é o coeficiente de extinção atmosférica.


Por causa de vários fenômenos envolvidos, o coeficiente de extinção deve, exatamente,
considerar as quantidades e características dos maiores materiais absorvedores e espalhadores,
como gases, gotas de água, pó e outros. O coeficiente de extinção a tem a forma tal qual proposta
por Sutton ( 1953 ), citado por Rosemberg.

a = ag + sas + waw 3
onde ag e as são os coeficientes espalhadores para as moléculas de ar (gasosas) e para
partículas secas sólidas, respectivamente; aw é o coeficiente de absorção para o vapor d’água;
s e w são os conteúdos de pó e outros sólidos e vapor d’água, respectivamente. Estes
coeficientes são dependentes do comprimento de onda. O coeficiente de extinção atinge
valores em torno de 0.01 km-1, no céu muito claro a 0.03 ou 0.05 km-1 no ar turvo.
Nota-se que esses dois fatores controlam a extinção da radiação solar. Isto é, o

comprimento da trajetória através da atmosfera, o qual depende do ângulo de elevação solar e

azimute, e os efeitos de extinção devido aos gases atmosféricos, pó, vapor d’água e outros

materiais em suspensão.

2.3.2 Turbidez.

Turbidez é definida como “ qualquer condição da atmosfera que reduz sua transparência
à radiação, especialmente a radiação visível “. Normalmente, o termo é aplicado a porção livre de
nuvens. Pó, pólen, vapor d’água, e todos os materiais em suspensão afetam a turbidez da atmosfera.

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O termo aerossol é usado para denominar partículas sólidas ou líquidas dispersadas ou suspensas na
mistura de gases que chamamos de ar atmosférico.
O fator de turbidez atmosférica é obtido por meio de cálculos matemáticos complexos.
Sabe-se que a atenuação da radiação solar na atmosfera é causada, principalmente, por três fatores:
espalhamento molecular, espalhamento e absorção da radiação pelo vapor d’água e gotas de água,
espalhamento e absorção da radiação pela poeira. O fator de turbidez caracteriza a correlação entre
a transparência da atmosfera e aquela da atmosfera ideal, na qual a atenuação da radiação solar é
causada somente pelo espalhamento molecular.
A transparência atmosférica não é constante durante todo o dia. A variação diurna

do fator de turbidez tem sido observada depender , de um modo bem marcante, das condições

observacionais. Na maioria dos casos, o fator de turbidez máximo ocorre ao meio dia, no

verão, como resultado do alto conteúdo de poeira nas camadas mais baixas da atmosfera,

devido a convecção grandemente desenvolvida nestas horas. No inverno, não há variação tão

marcante da transmissão atmosférica e várias ocorrências do fator de turbidez mínimo

(transparência máxima), foram encontradas ao meio dia. Tanto no inverno quanto no verão, a

transparência atmosférica durante à tarde é normalmente mais baixa do que antes do meio dia.

A variação diária da transparência atmosférica é complexa e muito dependente das


condições de observação (estação do ano, ventos e outros fatores do tempo meteorológico).
Medidas das características da transparência atmosférica mostram uma variação anual
comparativamente simples, com um máximo de transparência nos meses de inverno e um mínimo
durante os meses de verão.

2.4 RADIAÇÃO SOLAR GLOBAL


2.4.1 Radiação solar global
As informações obtidas sobre a radiação solar global tem amplas aplicações em
diferentes atividades, como por exemplo: agricultura, arquitetura, hidrologia, meteorologia,
biologia, entre outras.

19
Nos dias de céu claro, o total de radiação incidente de ondas curtas é composto por duas
partes: a radiação solar direta e a radiação difusa, cuja soma é chamada de radiação solar global.
Esta radiação compreende parte do ultravioleta do espectro, com comprimentos de onda entre
0,3m e 0,4 m; espectro visível, com comprimentos entre 0,4m e 0,7 m; e parte do
infravermelho relativamente próximo ao espectro visível, entre 0,7m e 5,0m (WMO, 1981)
Várias medidas experimentais foram obtidas com a finalidade de determinar a
composição espectral da radiação solar global. Tikhov, citado por Kondratyev (1969), foi o
primeiro pesquisador a mostrar experimentalmente que a composição espectral da radiação global,
recebida por uma superfície horizontal, é praticamente independente da altura solar e,
consequentemente, permanece constante no decorrer do dia. Sua afirmativa carece de explicações
sobre as condições de nebulosidade observadas no decorrer do experimento, as quais são de
extrema importância na caracterização da composição espectral da radiação solar global.
Ainda sobre a composição espectral, Kondratyev explica que a radiação global num dia
de céu sem nuvens, pode ser, aproximadamente, considerada dependente somente da altura solar e
da transparência atmosférica. E que, por conseguinte, os fluxos espectrais da radiação global
também dependerão da altura solar. Em outras palavras, quando se analisa os fluxos espectrais das
componentes da radiação global, realmente a dependência da altura solar deve ser considerada,
porque cada componente separadamente, terá fluxos variantes com a altura solar, ou seja, sofrerá
variações durante o dia. E concluiu que, se a composição espectral da radiação global for
independente da altura solar, torna-se claro então, que essa dependência do fluxo espectral da
radiação global (difusa e direta) será uniforme por todo o espectro, ou seja, os fluxos espectrais
continuarão dentro do mesmo intervalo do espectro.
Na presença de nebulosidade, o fluxo radiante pode aumentar ou diminuir. Se a
nebulosidade é parcial e o sol não é totalmente encoberto, o fluxo da radiação global é maior do que
aquele de um dia de céu claro. No caso de nebulosidade total, o fluxo da radiação global é sempre
menor do que aquele de um dia de céu sem nuvens (Duffie et al, 1980).
Num dia de céu claro ou parcialmente nublado, no intervalo entre 0,35m e 0,80m,
quando a altura solar é baixa, a radiação global, gradualmente perde muito nas faixas do espectro
correspondentes ao azul e violeta, resultando no avermelhamento da radiação global (comprimentos
de onda maiores do espectro visível). Ao mesmo tempo, há um aumento na porção relativa à
radiação difusa, a qual torna-se rica em azul e violeta. Este aumento praticamente compensa a

20
atenuação da radiação global na faixa do espectro azul-violeta. Desse modo, a composição espectral
da radiação global não sofre qualquer alteração significativa quando a altura do sol varia (Hess,
1979).

2.4.1.1 Instrumento utilizado para medida da radiação solar global


O instrumento usado para medida da radiação solar global é o piranômetro. Na Figura 1
tem-se um exemplo, um piranômetro protótipo que foi elaborado com corpo principal em alumínio,
o qual possui uma cúpula de vidro, sensor (termopilha de filme fino), chapéu sombreador pintado
de branco (colocado sobre o corpo do instrumento para impedir o aquecimento e refletir a radiação
incidente), nível de bolha, reservatório de sílica-gel para manter o ambiente livre de umidade,
conector elétrico e parafusos niveladores (Figura 2).
As termopilhas de filme fino foram construídas através do processo fotolitográfico e por
evaporação de metais, conforme metodologia desenvolvida por Escobedo (1997). Os tipos de
termopilhas utilizadas - estrela e disco concêntrico, contém em seus circuitos metálicos 36 de
termopares de bismuto-antimônio depositados em substratos de acrílico.

Figura 2. Corte vertical de um piranômetro protótipo.

2.4.1.2 Variação diária da radiação solar global


Nas figuras a seguir estão representadas as curvas correspondentes à variação diária das
radiações global medida sob três condições de nebulosidade: céu sem nuvens, parcialmente nublado
e nublado.
Nos dias com céu sem nuvens, as curvas de radiação global são totalmente sem picos e
alterações, e com ponto máximo próximo ao meio-dia (Figura 3a).

21
Nebulosidade parcial significa que em determinado período do dia o céu apresentou
algum tipo de nuvem como mostra a Figura 3b, em que na primeira metade do dia o céu esteve
claro e na outra, nublado. Na Figura 3c está a curva referente ao dia nublado.

1200

DENSIDADE DE FLUXO (W/m2)


1000

800

600

400

200

0
6 8 10 12 14 16 18
TEMPO(h)

(a)

1200
DENSIDADE DE FLUXO (W/m2)

1000

800

600

400

200

0
6 8 10 12 14 16 18
TEMPO(h)

(b)

22
1200

DENSIDADE DE FLUXO (W/m2)


1000

800

600

400

200

0
6 8 10 12 14 16 18
TEMPO(h)

(c)
Figura 3. Curvas de radiação solar global (a) céu sem nuvens (19/09/96) (b) céu parcialmente
nublado (15/09/96) (c) céu nublado (13/12/96).

2.4.1.3 Variação anual da radiação solar global


Como de se esperar, a variação anual da radiação solar global exibe valor mínimo em
junho e valores máximos nos extremos da curva. Cabe informar que essa medida foi feita na cidade
de Botucatu, cujas coordenadas geográficas são: Latitude 22º 54’ Sul e Longitude 48º 27’ Oeste.

22
21
Radiação solar global (MJ/m 2)

20
19
18
17
16
15
14
13
12
Dez5JanFevMar Abr Mai Jun Jul AgoSetOutNovD ez6
Figura 4. Variação anual da radiação solar global

2.5 ESPALHAMENTO DE ONDAS ELETROMAGNÉTICAS.

23
Quando uma onda eletromagnética atravessa um átomo (ou molécula), perturba o
movimento dos elétrons ligados, e o átomo (ou molécula) pode ficar em um estado excitado. Por um
processo recíproco, uma vez que os elétrons atuam como dipolos elétricos (duas cargas iguais e
opostas separadas por uma distância muito pequena) em oscilação forçada, o átomo excitado pode
emitir radiação eletromagnética de freqüência igual à da onda incidente sem atraso apreciável de
tempo. A energia que o átomo emite é a absorvida da onda incidente . Esse processo é chamado de
espalhamento.
No processo de espalhamento, a intensidade da onda primária, ou incidente, decresce
porque a energia absorvida da onda é reemitida em todas as direções, resultando em uma efetiva
remoção de energia da radiação primária.
Verificou-se experimentalmente que a intensidade da onda difundida depende da
freqüência da onda primária e do ângulo de espalhamento.
A intensidade da radiação difundida deve ser maior nas freqüências nas quais a energia
de absorção da onda é maior, e essas são as mesmas freqüências do espectro de emissão do átomo.
Outra propriedade interessante é que, para gases cujas moléculas tem um espectro de emissão na
região ultravioleta, a difusão de ondas eletromagnéticas da região visível aumenta com sua
freqüência. Isso é fácil de entender, desde que quanto maior a freqüência na região visível, mais
perto estará ela da freqüência de ressonância ultravioleta da molécula, e maior será a amplitude das
oscilações forçadas. Isso resulta em um espalhamento maior. O brilho e o azul do céu são atribuídos
à difusão da luz azul do sol pelas moléculas do ar atmosférico. Em particular, a cor azul é o
resultado do espalhamento mais intenso das freqüências maiores (ou comprimentos menores). O
mesmo processo explica a cor vermelho-brilhante observada ao nascer e ao por do sol , quando os
raios do mesmo atravessam uma grande espessura de ar antes de alcançar à superfície da Terra,
resultando uma forte atenuação para as freqüências altas (ou comprimento de onda curto ),
em virtude do espalhamento.
O espalhamento pode também ser produzido por pequenas partículas (tais como de
fumaça ou poeira) ou gotas d’água suspensas no ar.

2.5.1 Espalhamento de Rayleigh.

24
O conhecimento acerca da radiação solar avançou muito rapidamente durante a
última metade do século 19, devido ao trabalho de três fontes de trabalho: instrumentação,
observação e teoria.
A teoria da transferência radiativa num meio espalhador foi firmada em bases
teóricas por um proeminente físico inglês John Willian Strutt, posteriormente pelo Lord
Rayleigh, em 1871, através de sua famosa explicação sobre a polarização e cor da luz do céu.
A teoria de Rayleigh é postulada na consideração de que as partículas espalhadoras são
de pequenas dimensões comparadas com o comprimento de onda da radiação. Essas pequenas
partículas, como moléculas, e partículas muito menores como aerossóis, tornaram-se conhecidas
como partículas de Rayleigh, e uma atmosfera composta destas pequenas partículas é denominada
de atmosfera de Rayleigh.
Embora a teoria de Rayleigh tenha explicado muitas características observadas sobre a
luz celeste, ela não previu a existência de pontos neutros como aqueles já observados por Arago,
Babinet e Brewster. O físico francês J. L. Soret tentou, em 1888, explicar os pontos neutros
observados como sendo devido a um espalhamento secundário da radiação na atmosfera, enquanto
que o modelo de Rayleigh considerava somente um espalhamento primário (simples) pelas
moléculas gasosas.
Os efeitos óticos produzidos pelas cinzas vulcânicas injetadas na atmosfera pela erupção
do vulcão Krakatoa, em 1883, gerou uma avalanche de interesses nas medidas da luz celeste.
Durante os anos após a erupção do Krakatoa, a física experimental francesa Marie Alfred Cornu
apresentou um método de medida da polarização da luz com um alto grau de perfeição, por meio de
um fotopolarímetro (1890) baseado na combinação de um prisma Nicol polarizante e de uma mesa
giratória.
Da observação atmosférica com seu fotopolarímetro, Cornu primeiramente observou um
fato, agora bem conhecido, que o grau de polarização da luz celeste varia com o comprimento de
onda da radiação solar. Uma das considerações da análise de Rayleigh é que as partículas
espalhadoras tem caráter isotrópico.
Espalhamento é o processo pelo qual as moléculas do meio e as pequenas partículas em
suspensão no meio difunde a porção da radiação incidente em todas as direções.
A lei de Rayleigh estabelece que as moléculas interceptam e espalham a radiação
com uma eficiência proporcional a 1/ 4. Assim, a luz azul será espalhada em torno de 10

25
vezes mais efetivamente do que a luz vermelha. Por isso o céu é azul. Os raios diretos da
radiação solar que penetra na atmosfera é enriquecido da luz vermelha como resultado do
espalhamento da luz azul.
A teoria do espalhamento da luz na atmosfera inicialmente apareceu relacionada com a
tentativa de explicar a cor azul do céu. A mais importante contribuição neste campo foi feita por
Lord Rayleigh, satisfeito por descobrir que as moléculas de ar eram as causadoras do espalhamento
da luz. Esta premissa da teoria de Rayleigh, no entanto, não estava totalmente completa. Realmente,
o assim chamado espalhamento molecular de Rayleigh é o espalhamento da luz causado pela
flutuação da densidade. Investigações posteriores mostraram que não somente flutuações da
densidade, mas também flutuações da unisotropia molecular pode determinar o espalhamento da
luz.
São as seguintes considerações fundamentais da teoria de Rayleigh.
a) As dimensões das partículas espalhadoras são pequenas em comparação com o
comprimento de onda. As partículas são esféricas (não necessariamente).
b) As partículas espalhadoras e o meio não são condutores e não contém cargas elétricas
livres.
c) As constantes dielétricas da partícula espalhadora e do meio diferem muito pouco. O índice
de refração da partícula não é muito alto.
d) As partículas espalham a luz independentemente umas das outras.

Observações sobre a atenuação da radiação solar incidente pela atmosfera mostram que
em condições de claridade máxima do ar, a atenuação da radiação solar no espectro visível é, em
alto grau, causada pelo espalhamento de Rayleigh.
Tendo comparado os resultados computados por Rayleigh e os coeficientes de
espalhamento por aerossóis, Bullrich, citado por Kondratyev, mostrou que a influência do
espalhamento de Rayleigh torna-se importante somente quando o intervalo da visibilidade
meteorológica excede 5 km, sendo mais importante na região de ângulos de espalhamento em
torno de 1300 e aumenta quando o comprimento de onda diminui. Na camada superficial da
atmosfera, a contribuição do espalhamento de Rayleigh na atenuação da radiação de
comprimento de onda entre 0.4 a 1.0  pode alcançar 50 %.

26
É interessante, no entanto, que até para grandes altitudes o espalhamento pelo
aerossol pode ser muito importante. Medidas balométricas feitas por Newkirk e Eddy (citados
por Kondratyev) mostraram que o brilho do céu observado no nível de 25 km, com um
ângulo de espalhamento de 2.40 (relativo ao sol) é duas vezes maior do que o obtido por
Rayleigh.
Rayleigh deduziu uma fórmula que fornece a diminuição da intensidade monocromática
para o caso do espalhamento molecular. Na forma diferencial a diminuição da intensidade pelo
espalhamento é dada por:
dI / I = s dx 4

onde dx é o comprimento da trajetória da dispersão, e s é definido como coeficiente de


espalhamento pelo ar. No espalhamento de Rayleigh, s pode ter a forma

32  3 ( n  - 1 ) 2 
s = 5
34 N  0

onde N é o número de moléculas por cm3 nas condições padrões de pressão p0= 1013.25 mb
e T = 273 0 K, e n é o índice de refração para o comprimento de onda  para o ar sob estas
mesmas condições. 0 e  são as densidades padrão e real do ar seco.
O essencial da equação de Rayleigh é que o vetor elétrico de um pulso de radiação
eletromagnética causa um deslocamento dos centros da carga elétrica positiva e negativa de uma
molécula. Tal unidade elétrica, consistindo da cargas positivas e negativas separadas, é chamada de
dipolo elétrico.
Na radiação monocromática, o vetor elétrico do pulso da radiação oscila com uma certa
freqüência. Esta mesma freqüência é imprimida sobre a oscilação forçada do dipolo, o qual, agora
atua como uma fonte de radiação eletromagnética. Esta radiação da fonte do dipolo é emitida em
todas as direções, tem-se início a radiação não polarizada. A radiação incidente, a qual causou a
oscilação do dipolo, foi usada na geração da radiação espalhada.
Pode-se notar que no espalhamento de Rayleigh o coeficiente de espalhamento, s,
inversamente proporcional a 4 . Uma vez que  representa o comprimento de radiação, na
região visível entre 4 x 10-5 cm (azul) e 8 x 10-5 cm (vermelho) é notório que s será, em torno

27
de 16 vezes maior para a cor azul, do que para a cor vermelha. Desse modo, o
enfraquecimento da radiação pelo espalhamento será muito mais efetivo nos comprimentos de
onda menores.
No crepúsculo, no entanto, a trajetória maior percorrida pelos raios através da atmosfera
mais baixa, produz um espalhamento maior da luz azul, dessa forma, a luz refletida pelas nuvens,
ou espalhada por uma camada de névoa, comumente parece avermelhada.
Para partículas maiores do que as moléculas, Angstron mostrou que o coeficiente
de espalhamento pelo pó, sd ,pode ser expresso por
sd = - 6

onde  é proporcional a densidade da partícula, e  é um parâmetro que diminui com o


aumento do tamanho da partícula. Sob condições normais, o valor médio de  é 1.3, e o
diâmetro médio da partícula, para esta condição, é aproximadamente 1 . Quando o ar torna-
se poluído com partículas maiores, por exemplo, tempestades de poeira ou erupções
vulcânicas, o valor de  pode diminuir para 0.5 ou menos. O resultado do coeficiente de
espalhamento, mostrado acima, é para um espalhamento da radiação menos seletivo com
relação ao comprimento de onda. Por fim, o espalhamento por gotas de nevoeiro,
correspondendo a  = 0, e chamado de reflexão difusa. Neste caso, visto que o feixe de luz
solar incidente é constituído de “luz branca “, devido a reflexão difusa da luz, o nevoeiro
apresenta-se esbranquiçado.

2.5.2 Crepúsculo.
Após o pôr do sol, o mesmo se encontra abaixo do plano do horizonte e a Terra
gradualmente distribui sua sombra sobre a atmosfera, começando das camadas mais baixas. A
atmosfera acima fica iluminada pelos raios diretos do sol. Cada molécula da atmosfera e cada
partícula em suspensão espalha os raios solares incidentes. Isto é devido ao efeito do
crepúsculo. Para o sol abaixo do horizonte, a camada sombreada da atmosfera aumenta, e a
camada mais baixa da porção iluminada é deslocada para cima. O crepúsculo termina quando
o sol “ se coloca “ 6.50 abaixo do horizonte.
Astronomicamente, o crepúsculo é dito finalizar quando o sol está 180 abaixo do
horizonte; quando isto acontece, a escuridão total inicia e as estrelas de todos os tamanhos e

28
brilho são claramente visíveis. Um fenômeno idêntico é observado antes do nascer do sol. O
tempo que pode ser gasto no trabalho do campo sem recorrer a luz artificial depende do
intervalo entre o amanhecer e o fim do crepúsculo. A duração do período entre o amanhecer e
o crepúsculo é uma função da latitude e da data do calendário.

2.6 RADIAÇÃO DIFUSA


Dos cálculos teóricos obtidos, pode ser concluído que a radiação difusa do céu sem nuvens
difere fortemente na composição espectral da radiação solar direta.

Um objeto sombreado da luz solar direta, seria iluminado pela radiação espalhada ou
radiação celeste e não ficaria no escuro.

Particularmente, nas altas latitudes a radiação difusa é muito importante. Nas latitudes
médias, a radiação difusa pode contribuir com 30 a 40 % da radiação solar total. A
contribuição difusa é muito maior durante os meses de inverno quando o ângulo solar é
baixo (comprimento da trajetória é grande). A nebulosidade também aumenta,
grandemente, a razão entre a radiação difusa e a radiação direta.

Os efeitos biológicos da radiação difusa podem ser consideravelmente mais significantes


do que o valor de sua energia. Por exemplo, a radiação difusa penetra na comunidade
vegetal mais efetivamente do que os raios diretos.

2.5.4 Medida da radiação difusa.


Para objetivos tais como estudos do balanço de energia, a resposta dos organismos à luz,
efeitos direcionais na atmosfera e muitos outros, é desejável medir tanto a energia solar difusa e o
fluxo total da energia solar incidente numa superfície horizontal (isto é, radiação global). Por causa
do caráter difuso da luz celeste, uma integração por todo o hemisfério celeste é exigido para as
medidas da radiação difusa e global. Esta integração angular impõe difíceis exigências tanto nos
materiais usados para a confecção do instrumento, quanto no desenho dos piranômetros.
Para obtenção da medida da radiação difusa, pode-se utilizar dois métodos instrumentais
diferentes. O primeiro método, parte do princípio que a radiação solar global é constituída da soma
das radiações solar direta e difusa. Neste caso, mede-se a radiação solar global e a radiação solar

29
direta (usando-se um pireliômetro). Por diferença, global menos a direta, obtém-se a radiação
difusa.
No segundo método, mede-se instrumentalmente a radiação difusa. Esta medida é
obtida através do sombreamento de um piranômetro (o mesmo usado para medida da radiação
global). Este sombreamento é feito por meio da colocação de um anel acoplado a uma base
horizontal móvel, sobre a qual repousa o instrumento. A finalidade do anel é interceptar a radiação
direta projetando uma faixa sombreada sobre o sensor do piranômetro (Figura 5).
Figura 5. Piranômetro com anel de sombreamento.

A Figura 6 mostra a plataforma metálica que é constituída de duas placas


retangulares (sendo uma para suporte do piranômetro), suporte retangular do anel e eixo com
rosca sem fim. A placa suporte sob o anel, está acoplada ao eixo de rosca sem fim para
viabilizar o deslocamento do piranômetro ao longo da linha norte-sul com o objetivo de
manter o instrumento dentro da faixa sombreada. O suporte retangular do anel é inclinado em
relação ao plano horizontal de um ângulo equivalente à latitude local ( por exemplo. 22,910 S,
latitude de Botucatu). O anel de sombreamento é fixado ao suporte retangular que

30
por sua vez, encontra-se preso a base horizontal, a qual suporta o instrumento.

Figura 6. Plataforma metálica utilizada para medida da radiação difusa.

O centro do anel deve posicionar-se acima da base móvel, na mesma altura do


sensor do piranômetro. O plano do anel deve ser inclinado de um ângulo  em relação à
vertical local, de mesmo valor da latitude do local onde se fez a instalação. Dessa forma, seu
eixo fica paralelo ao eixo polar terrestre. O anel fixado nestas condições determina uma faixa
sombreada sobre a plataforma horizontal onde se colocou o piranômetro. Como a
declinação solar varia de -23.450 (solstício de verão no hemisfério sul) a +23.450 (solstício de
inverno no hemisfério sul), há necessidade de se deslocar o piranômetro ao longo do eixo do
anel, ou de sua projeção horizontal. A solução que se adota é a instalação de uma base móvel
para o deslocamento contínuo do piranômetro desde o solstício de inverno ao solstício de
verão e no sentido oposto do verão para o inverno.
Existem duas maneiras práticas de posicionar o sensor em relação ao anel para mantê-lo
sombreado. Uma delas consiste em posicionar o anel de forma que seu eixo permaneça paralelo ao
eixo polar da Terra e o seu sensor estacionado sobre o eixo do anel. Nesse caso, o anel deve ser
deslocado periodicamente, para compensar a variação da declinação solar. A outra forma mantém o
eixo do anel paralelo ao eixo polar da Terra e o sensor estacionado sobre a projeção do eixo do anel
no plano horizontal. Neste caso, para compensar a variação da declinação solar, o sensor é
deslocado periodicamente sobre a linha horizontal norte-sul. A periodicidade de deslocamento do

31
sensor depende da largura da faixa sombreada que, por sua vez, depende das dimensões do anel e
do raio do sensor.
A Figura 7 ilustra os dois sistemas que fazem uso do anel ( linhas AB e CD ).

Figura 7. Posicionamento do piranômetro sob o anel de sombreamento.

2.5.4.1 Fator de correção para a radiação difusa.

Ao utilizar-se o anel de sombreamento para interceptar a radiação direta sobre o sensor,


ele intercepta também uma pequena mais significativa fração da radiação difusa. Devido a isto, o
valor medido da radiação difusa deve ser corrigido por um fator de correção (FC) que depende das
dimensões do anel (raio e largura), da latitude local (), da declinação solar () e do ângulo horário
(). Os valores diários do fator de correção da radiação difusa, do dia 01 de janeiro a 31 de
dezembro foram obtidos usando a equação 7, cuja curva é mostrada na Figura 8. Este fator foi
definido por Melo (1993) como:

   1
FC = 1 - a  7
 t 

32
  r tg  - L / 2   2
onde, t = C  r sec  +   sen   8
  cos  +    

2
 2 CLr  cos   
e, 9
a =   p sen  sen  + cos  cos  sen p 
 cos   +   
onde,
R: raio do anel ( cm );
: declinação solar ( rad. );
: latitude local ( rad. );
L: largura do anel ( cm );
 p: ângulo horário no por do sol ( rad. );
t: radiação difusa incidente no sensor ( W/m2 );
a: radiação difusa interceptada pelo anel ( W/m2 );
C: constante de proporcionalidade ( W/m2 )

A razão entre a e t representa a fração da radiação interceptada pelo anel.

1,18
FATOR DE COR. DA RAD. DIFUSA

1,16

1,14

1,12

1,10

1,08
0 50 100 150 200 250 300 350 400

DIA JULIANO

Figura 8. Curva do fator de correção da radiação difusa.

33
O valor mínimo do fator de correção mínimo, 1.09503, ocorreu no dia número 173 do
ano e os dois máximos, 1.16675, ocorreram um por volta do dia número 72 e o outro em torno do
dia número 275 do ano. Este valor mínimo ocorreu no solstício de inverno, quando a largura da
faixa sombreada pelo anel, assume o menor valor e o sensor se posiciona no extremo sul em relação
ao anel.

2.5.4.2 Variação diária da radiação difusa


Na Figura 9 tem-se as curvas da radiação difusa referentes aos dias sem nuvens (9a),
parcialmente nublado (9b) e nublado (9c), respectivamente. Na Figura 9c, a parte da curva
correspondente ao céu sem nuvens, quase não apresenta alterações e os valores de radiação difusa
são menores quando comparados com os da outra parte da curva.

700 700 700


DENSIDADE DE FLUXO EXT. (W/m2)

DENSIDADE DE FLUXO EXT. (W/m2)

DENSIDADE DE FLUXO EXT.(W/m2)


600 600 600

500 500 500

400 400 400

300 300 300

200 200 200

100 100 100

0 0 0
6 8 10 12 14 16 18 6 8 10 12 14 16 18 6 8 10 12 14 16 18
TEMPO(h) TEMPO(h) TEMPO(h)

(a) (b) (c)

Figura 9. Curvas de radiação difusa externa nos dias com céu claro (a), parcialmente nublado
(b) e nublado (c)

2.5.4.3 Variação anual da radiação difusa


A curva representativa da variação anual da radiação difusa segue o mesmo
comportamento da radiação global, com valor mínimo no mês de julho, ao invés de junho, e valores
máximos nos extremos (Figura 10). Cabe ressaltar que o mês de julho apresentou-se claro, com
poucas nuvens, as quais diminuíram a sua contribuição para o aumento da radiação difusa na
localidade onde foram feitas as medidas.

34
10

Radiação difusa (MJ/m2)


7

1
Dez95Jan FevMar Abr Mai Jun Jul AgoSet Out NovDez96

Figura 10. Variação anual da radiação difusa

2.6 BALANÇO DE RADIAÇÃO SOLAR


A radiação solar que penetra na atmosfera e atinge a superfície da Terra depende
principalmente da turbidez atmosférica, cobertura por nuvens, topografia da região e tipo de
cobertura da superfície. A radiação solar ao atravessar a atmosfera tem parte refletida pelas
nuvens, parte espalhada pelas moléculas e partículas do ar e parte absorvida pelo vapor
d’água, dióxido de carbono, ozônio e compostos nitrosos. A porção absorvida aumenta a
temperatura da superfície e, por conseguinte, aumenta a emissão de ondas longas para a
superfície terrestre e para o espaço.
A avaliação dos diferentes componentes do balanço de radiação na superfície
indica como a entrada de radiação no sistema atmosfera-Terra é dividida e usada. O balanço
ou saldo de radiação representa as fontes e sumidouros de radiação que afetam as condições
meteorológicas e o clima do planeta.
2.6.1 Balanço de radiação de ondas curtas
O balanço ou saldo de radiação de ondas curtas (SRoc), definido pela diferença
entre a radiação de ondas curtas, que incide na superfície terrestre (radiação solar global) e a
radiação de ondas curtas que é refletida, é calculado pela equação:

SRoc = Rg – Rr 10

35
onde Rg é a radiação solar global e Rr é a radiação refletida.
Como o albedo (A) representa a relação entre a radiação refletida e a radiação solar
global, logo,
Rr
A e Rr = A Rg 11
Rg

então, SRoc = Rg – ARg ou SRoc= Rg (1-A) 12

A radiação solar refletida é pouco dependente do comprimento de onda, mas sendo


máxima no intervalo visível (Sauberer, citado por Geiger (1961)).

2.6.1.1 Albedo
O estudo do albedo é de grande importância porque é um dos fatores que modificam o
balanço de energia de uma superfície, participando, portanto, dos processos que condicionam a
quantidade de radiação disponível. O albedo reduz a radiação que é absorvida e,
consequentemente, dissipada pela troca de calor sensível e latente, a condução de calor no solo e a
emissão da radiação de ondas longas.

 Superfícies vegetadas exibem albedos diferentes, de acordo com o desenvolvimento da


cultura. No início da estação de crescimento ele é determinado, principalmente pelas
características óticas das partículas do solo, estrutura da superfície e conteúdo de umidade
do solo; e no final da estação de crescimento, pelas condições físicas das folhas e pela
estrutura do cultivo.
 O albedo do solo sem vegetação é dependente do tipo de solo (incluindo cor e textura), do
conteúdo de umidade, da rugosidade (presença de cavidades que podem atuar com
intensidade na absorção da radiação incidente) e outros fatores.
 O solo seco pode apresentar uma variação de albedo entre 8 % e 40 % e o solo úmido,
entre 4 % e 20 %. Esta diminuição com a umidade pode ser explicada devido ao fato de
que o albedo da água é significantemente menor do que o albedo do solo seco. Além
disso, o albedo de solos secos é, aproximadamente 1,8 mais alto do que o de solos úmidos
e diminui mais drasticamente quando o conteúdo de umidade aumenta de 1 a 15 ou 20 %.

36
 A variação diária do albedo é afetada pela rugosidade da superfície, ângulo de elevação
solar, razão entre radiação difusa e global, bem como pelas mudanças espectrais da
radiação incidente. Ao observar a curva diária do albedo, nota-se sua dependência do
ângulo de elevação solar, sobretudo nos dias com céu claro. Algumas espécies vegetais
exibem uma curva característica, a qual apresenta valor mínimo próximo ao meio-dia
(ângulo de elevação solar alto) e valores maiores pela manhã e final da tarde (ângulos de
elevação solar baixo).
Resultados obtidos por Idso et al (1975) mostraram que para solo úmido, a
variação diária do albedo exibe uma simetria em torno do meio-dia, em resposta aos
efeitos do ângulo de elevação solar. Este efeito tende a se anular à medida que o solo
perde umidade, voltando a apresentar a simetria quando o solo fica completamente seco.
Exemplos de albedos de algumas superfícies:
- neve fresca 0,80 a 0,95
- neve velha 0,42 a 0,70
- solos arenosos secos 0,25 a 0,45
- solos argilosos secos 0,20 a 0,35
- solos turfosos 0,05 a 0,15
- florestas caducas 0,15 a 0,20
- florestas coníferas 0,10 a 0,15

Radiação solar global


Radiação refletida
900
Radiação solar global e refletida(MJ/m2)

800

700

600

500

400

300

200

100

0
6 8 10 12 14 16 18
Tempo (h)

Figura 11. Radiação solar global e refletida num dia com céu nublado.

Radiação solar global


Radiação refletida
900
refletida (MJ/m2)

800

700 37
600

500
Figura 12. Radiação solar global e refletida num dia com céu claro.

0,30

0,25
Albedo

0,20

0,15

0,10
6 8 10 12 14 16 18
Tempo (h)

Figura 13. Variação diária do albedo da superfície vegetada, durante o ciclo da cultura de
alface, variedade Elisa (céu nublado).

0,35

0,30 38
o
Figura 14. Variação diária do albedo da superfície vegetada, durante o ciclo da cultura de
alface, variedade Elisa (céu descoberto).

0,50

0,45

0,40

0,35
Albedo

0,30

0,25

0,20

0,15

0,10

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Dias

Figura 15. Variação do albedo da superfície vegetada, durante o ciclo da cultura de alface,
variedade Elisa.

0,25

0,20
39
0,15
do
Figura 16. Variação do albedo da superfície descoberta.

2.6.2 Balanço ou saldo de radiação de ondas longas


A superfície terrestre emite radiação de ondas longas (R ol) com comprimento de
onda de 4 m a 100 m. Através da Lei de Stefan-Boltzman pode-se estimar essa emissão.

Rol =   Ts4 13

onde  é a emissividade da superfície;  é a constante de Stefan-Boltzman e Ts é a


temperatura absoluta da superfície (K).
Todos os objetos com temperaturas superiores a zero absoluto emitem radiações
proporcionais à quarta potência da temperatura absoluta. Cerca de 90 % da radiação infravermelho
emitida pela superfície terrestre ao espaço é absorvida pela atmosfera, particularmente pelo vapor
d’água, pelo gás carbônico e pelas nuvens. Grande parte dela volta à superfície terrestre.
Todas as camadas da atmosfera participam da absorção e emissão de radiação, porém os
processos são quantitativamente mais importantes nas camadas mais baixas onde os absorvedores
da radiação de ondas longas estão mais concentrados.
O balanço ou saldo de radiação de ondas longas (SRol) é a contabilização entre a
radiação que é emitida pela Terra e a que volta da atmosfera. Esta radiação retornada varia
com a temperatura do ar, teor de vapor d’água e cobertura por nuvens. Desse modo:

40
SRol = Rol - Rol 14

A diferença entre a radiação infravermelho ascendente da superfície da Terra e a


radiação descendente ou contraradiação da atmosfera é chamada de radiação terrestre efetiva
(Ret). A equação de Brunt (1934) para essa radiação é:

n


SRol  Ret  T 4 0,56  0,09 e  0,1  0,9 
N
 15

onde e é a tensão de vapor d’água do ar; n/N, razão de insolação; T, temperatura do ar


próximo ao solo (K) e , constante de Stefan-Boltzman.
A equação demonstra que quanto maior o conteúdo de vapor d’água e maior a
cobertura por nuvens, menor será a perda de radiação terrestre de onda longa. Sob condições
de céu claro 35 a 40 % da radiação hemisférica total é de onda longa1.
Na prática, o balanço ou saldo de radiação de ondas curtas (SRoc), pode ser
medido pelo albedômetro, o qual possui duas cúpulas , sendo uma na parte superior (para
medida da radiação incidente) e outra na parte inferior (para medida da radiação refletida) e o
saldo total de radiação (SRT) pode ser medido pelo saldo-radiômetro (net radiometer). Desse
modo, o saldo de ondas longas pode estimado do seguinte modo:

SRT = SRoc + SRol 16

A Figura 17 mostra a curva correspondente ao saldo de radiação total. Durante o


dia, em que se tem radiação de ondas curtas, a curva apresenta valores positivos, À noite,
acontece o contrário, não sem tem ondas curtas, e os valores negativos representam o saldo de
radiação de ondas longas.

900

800

700
LDO DE RADIAÇÃO (MJ/m2)

600

500

400
41
300

200
Figura 17. Saldo de radiação total.

1000
03.04.96 ENERGIA = 13.39 MJ/m2
900

800
SALDO DERADIAÇÃOEXTERNO (W/m2)

700

600

500

400

300

200

100

0
-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
TEMPO (h)

Figura 18. Saldo de radiação total (dia com céu claro).

______________________________
1 A radiação global e a radiação de ondas longas constituem a radiação hemisférica total

900

800

700
IAÇÃO (MJ/m2)

600
42

500
Figura 19. Saldo de radiação total (dia com céu nublado).

2.7 BALANÇO DE ENERGIA


A equação que se usa para o balanço de energia é expressa em termos de fluxos
verticais, de acordo com o modelo proposto por Tanner (1960):

SRT + G + LE + H + P  0 17
onde SRT é o saldo de radiação total disponível à superfície; Ge o fluxo de calor no solo, LE é
o fluxo convectivo da calor latente; H é o fluxo de calor sensível e P é a energia gasta nos
processos fotossintéticos.
Vários trabalhos envolvendo balanço de energia (Lemon, 1963; Tanner, 1960 e Villa
Nova et al, 1975) demonstraram que a energia utilizada nos processos fotossíntéticos pode ser
desconsiderada, sem acarretar erros significativos no balanço de energia, pois este termo raramente
excede 2 a 5 % do saldo de radiação total, estando portanto, dentro dos limites de erro do método de
estimativa do balanço de energia.
Os fluxos de calor latente e sensível podem ser estimados de acordo com a razão de
Bowen (1926) e método de Penman (1967), a partir de medidas de temperatura do ar (bulbo seco e
úmido) em dois níveis de altura.
A razão de Bowen ( = H/LE) pode ser determinada de acordo com a equação de Webb
(1965)

43
1
 18
 s      dTu   
   x  1
        dTs   

onde dTu é a diferença de temperatura do termômetro de bulbo úmido nos dois níveis de altura;
dTs; é a diferença de temperatura do termômetro de bulbo seco, nos dois níveis de altura; s é a
tangente à curva de saturação de vapor d’água;  é a constante psicrométrica reduzida.
O termo (s + )/ pode ser determinado de acordo com a metodologia descrita por
Penman (1967), do seguinte modo:

s       0,317 x exp 0,05979 xT   1 19


  0,5
 
  
onde T é a temperatura média do ar (ºC), obtida pela média dos valores de temperatura do bulbo
seco.
De acordo com os valores medidos de SR e G e valores estimados de , o fluxo de calor
latente de evaporação pode ser estimado usando a equação:

 SR  G 
LE   T  20
 1  
A Figura 20 mostra as curvas correspondentes aos termos do balanço de energia.
O fluxo de calor sensível (H) apresentou picos em torno de –100 W/m2 e 150 W/m2 (às
10 e 11 horas, respectivamente). O sinal positivo representa transferência de calor do ar para o solo.
Enquanto que o fluxo de calor no solo (G) atingiu valor em torno de –150 W/m2, sendo que neste
caso, o fluxo foi da superfície para as camadas mais internas do solo.

44
Figura 20. Variação diária dos componentes do balanço de energia.

2.8 DISTRIBUIÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR DENTRO DE UM DOSSEL VEGETATIVO


A densidade de fluxo de radiação solar global diminui à medida que penetra numa
comunidade vegetal , ao mesmo tempo que modifica sua composição espectral.
A atenuação da radiação solar em um dossel vegetativo é modificada pela geometria da
planta, assim como pela grande variedade de folhas, diferentes espécies, idades e origens de plantas.
Por exemplo plantas aquáticas transmitem 4 a 8 % da luz incidente, enquanto que árvores perenes e
grama transmitem de 5 a 10 %. Se todas as folhas estivessem dispostas verticalmente, poderiam,
com relativa facilidade, permitir a penetração da radiação. Entretanto, as folhas apresentam muitas
formas e modelos, assim como variáveis orientações e inclinações.
Para conhecermos a atenuação basta fazermos medidas do fluxo em diferentes níveis
dentro da cultura, o que pode ser feito através de medidas instrumentais.
Um conhecimento da radiação solar dentro do dossel vegetativo, baseado na
transmissibilidade, no arranjo e inclinação das folhas, densidade e altura das plantas e ângulo de
inclinação dos raios solares, é necessário para uma melhor compreensão das relações entre a
radiação e rendimento das culturas. A transmissibilidade se altera com a idade da planta. Na
primavera e início do verão, a transmissibilidade de folhas jovens é relativamente alta. Com a

45
maturação da folha, esta decresce no verão e torna a crescer quando as folhas se tornam amarelas no
outono.
Quanto ao arranjo foliar, se as folhas que transmitem 10 % de radiação estivessem
dispostas horizontalmente, em camadas contínuas, somente 1 % da radiação, na maioria das
regiões verdes, iria penetrar na segunda camada. Nichiprovich (1968) considerou que o
arranjo ideal para o uso eficiente da radiação é aquele em que 13 % das folhas mais baixas de
uma planta estivessem entre 0 e 300 em relação ao plano horizontal, 37 % das folhas
intermediárias entre 30 e 600 e as restantes 50 % superiores, entre 60 e 900.
A penetração da radiação em dosséis vegetativo pode ser descrita ou aproximada em
termos matemáticos. A primeira aproximação foi feita por Monsi-Saeki (os quais adaptaram a Lei
de Beer-Bougher) que expressa a distribuição da radiação dentro de uma comunidade vegetal.
I
 e  KF 21
I0

onde, I – intensidade da radiação a uma determinada altura dentro da comunidade de plantas;


I0 – intensidade da radiação na parte superior da comunidade de plantas;
e - base dos logaritmos naturais;
K – coeficiente de extinção pelas folhas;
F - índice de área foliar do topo da cultura até a altura em questão.

Para tanto eles consideraram que o dossel é um meio homogêneo e que toda a radiação
incidente é absorvida pela folha. Consideraram também que o céu é isotrópico (toda a radiação é
difusa) e que K é constante. O modelo está sujeito a erros pois a comunidade vegetal é de natureza
heterogênea, a inclinação das folhas é variável, a radiação é refletida, dispersa e absorvida, o céu
não é isotrópico e qualidade espectral da radiação muda.
O coeficiente de extinção é determinado em primeiro lugar pela inclinação e arranjo das
folhas e em segundo lugar pela transmissibilidade. Para uma comunidade herbária de folhas eretas,
o coeficiente K  0,3 a 0,5 e de folhas horizontais o coeficiente K  0,7 a 1,0, segundo Saeki, 1960.
Após a transmissão através da comunidade de plantas, a radiação solar tem sua composição
espectral modificada. A percentagem da radiação incidente que penetra no dossel vegetativo muda
notadamente com o ângulo do de elevação solar.

46
2.9 UTILIZAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR PELAS CULTURAS
Devido as múltiplas camadas de folhas , a eficiência na utilização do saldo de radiação
pelas culturas deveria aumentar, mas isto normalmente é reduzido por duas razões:
a) Porque a superfície do solo não é completamente coberta pela cultura, perdendo-se com
isso grande parte da radiação;
b) Porque existem deficiências variáveis de água, nutrientes minerais, doenças e
temperaturas desfavoráveis.
Além disso, a falta de informações sobre o material radicular (o qual pode
constituir até 30% da matéria seca total em termos de colheita), também pode contribuir para
a aparente baixa eficiência de utilização da radiação solar.
Spoher (1956) estimou que sob condições ótimas, o milho pode converter cerca de 1,5
% da radiação solar incidente em matéria orgânica, incluindo palha, espigas, colmos e raízes,
durante um período de crescimento de quatro meses.

2.10 FOTOPERIODISMO
Chamamos “fotoperíodo” ao período em tempo, em que existe radiação num
determinado local. Em outras palavras, fotoperíodo é a duração astronômica do dia, enquanto que as
reações das plantas frente a esta duração do dia é chamada “fotoperiodismo”.
O estudo do fotoperíodo é importante sob o ponto de vista fisiológico, sendo atuante em
processos fotossintéticos e morfológicos em uma planta e estabelecendo diferentes atividades em
insetos e aracnídeos predadores e também sob o ponto de vista físico, pois propicia a distribuição
diferencial de energia para um mesmo meio, ao longo do ciclo anual.
O primeiro estudo sobre fotoperíodismo foi publicado por Garner e Allard (1920), os
quais através de experimentos realizados em Washington, com diferentes variedades de soja,
estabeleceram que variedades podem ser de floração precoce ou tardia, de acordo com a duração do
dia que requerem para florescer.
As variedades que requerem dias longos para florescer são de “floração precoce” e
aquelas que para florescer necessitam de dias curtos são de “floração tardia”.
Quando um vegetal dispõe de condições favoráveis de temperatura, umidade, etc, para
crescer, mas a duração do dia não é adequada, a planta crescerá indefinidamente, produzindo-se

47
caso de gigantismo. Sabe-se até o presente que a duração astronômica do dia atua não só abreviando
ou aumentando o ciclo das plantas, mas também sobre sua composição química, formação de
bulbos e tubérculos, atividade e descanso vegetativo, tipos de flores e folhas, pigmentação,
desenvolvimento das raízes, resistência ao frio, etc. Assim, se uma planta de floração tardia deixa
de ser iluminada durante a noite, por 5 a 15 minutos, haverá um atraso na data da floração; o mesmo
efeito é verificado se a planta é iluminada desde o nascer do sol até a meia-noite. Nas plantas de
floração precoce, pelo contrário, o referido tratamento acelera a floração.
Com base em suas respostas ao fotoperíodo, as plantas podem ser chamadas de:
a) Plantas de dias curtos
São aquelas que com dias de duração solar inferior a 12 ou 14 horas (dias curtos)
aceleram seu ciclo, adiantando a floração, exemplos: milho, sorgo, mamona, feijão, algodão, etc.
Todas elas, quanto mais próximas do equador, forem cultivadas, menor o seu ciclo.
As espécies de dias curtos são originárias de regiões tropicais e subtropicais, mas
por ação seletiva do homem, se tem obtido variedades precoces sob a influência de dias
longos, o que permite seu cultivo nas latitudes mais altas.

b) Plantas de dias longos


São plantas que com dias de duração solar superior a 12 ou 14 horas (dias longos)
aceleram seu ciclo, adiantando a floração, exemplo: trigo, aveia, cevada, linho, etc.
São originárias de regiões montanhosas de zonas temperadas e, se cultivadas próximas
do equador, aumentam o seu ciclo. Dentro dessa categoria de plantas, também a ação seletiva do
homem tem permitido obter variedades que sob a ação de dias curtos podem ser cultivadas em
regiões equatoriais.

c) Plantas intermediárias e plantas indiferentes


 Intermediárias – são plantas que florescem com dias de duração de 11 a 13 horas,
exemplo, cana-de-açúcar.
 Indiferentes – são espécies que podem formar suas flores sob qualquer período de
iluminação. São indiferentes à duração do dia, exemplo, tomate, girassol, etc.
Além de influenciar no florescimento das plantas, o fotoperíodo influencia, também,
entre outros, na dormência, elongação, distribuição natural das plantas, etc. A dormência, ou seja, o

48
não desenvolvimento de gemas previamente formadas, é freqüentemente influenciada pelo
fotoperiodismo, pois o desenvolvimento da gema apical inibe a formação das gemas laterais e a
formação desta apical ocorre quase sempre em dias curtos. A diferença entre os efeitos do
fotoperiodismo no florescimento e na dormência está em que, em relação a dormência, dias curtos
sempre a promovem, e dias longos promovem o crescimento, ao passo que em relação ao
florescimento, este é promovido, segundo as plantas, ou por dias longos ou por dias curtos.
Em relação ao alongamento, muitas são as plantas em que o alongamento dos entrenós
está associado com o fotoperiodismo. As plantas de dias curtos, em geral, tem os entrenós formados
neste período, menores do que aqueles formados em dias longos. Já em plantas de dias longos,
algumas começam a elongação antes da formação de gemas floríferas, outras apenas depois da
formação destas.
O fotoperíodo é um importante fator na distribuição natural das plantas. Em geral, as
plantas originárias de baixas latitudes exigem dias curtos para florescer, enquanto que as das altas
latitudes são plantas de dias longos e quando deslocadas para baixas latitudes, não produzem flores.
Quando as plantas de baixas de latitudes são submetidas aos fotoperíodos longos das altas latitudes,
continuam a crescer vegetativamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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norte-sul e leste-oeste. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 9,
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em estufas nas orientações norte-sul e leste-oeste. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
METEOROLOGIA, 9, 1996b. Campos do Jordão. Anais...Campos do Jordão: SBMet,
1996b. v.1, p.357-60.

ASSIS, S.V., ESCOBEDO, J.F. Influência do ângulo de elevação solar no albedo da cultura
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In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 10, 1997. Piracicaba.
Anais..Piracicaba: SBA, 1997. p.476-78.

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effects of albedo change on drought in semi-arid regions. Journal of the Atmospheric
Sciences, v.34, p.1366-85, 1977.

49
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Thermal Process. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1980. p.28-110.

FRISINA, V. A. Otimização de um albedômetro e aplicação no balanço de radiação e


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Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.

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KONDRATYEV, K.Ya. Radiation in the atmosphere. New York: Academic Press, 1969.
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KONDRATYEV, K.Ya. The shortwave albedo and the surface emissivity. Garp Study
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MELO, J.M.D. Desenvolvimento de um sistema para medir simultaneamente radiações
global, difusa e direta. Botucatu, 1993. 129p. Tese ( Doutorado/Energia na Agricultura ) -
Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.

50
Unidade 3: Temperatura do ar e plantas cultivadas

3.1 Temperatura cardeal e Lei de Van’t Hoff

Temperaturas cardeais

Independentemente de quão favorável possam ser as condições de radiação solar, o


crescimento da planta pára quando a temperatura cai abaixo de um certo valor mínimo ou excede
um certo valor máximo.
Entre estes limites, existe um ótimo de temperatura no qual o crescimento se dá
com maior rapidez. Estes três valores são conhecidos como temperaturas cardeais.
Parker (1946) mostrou que a complexidade fisiológica da planta impede a
determinação precisa das temperaturas cardeais, porque diferentes processos exigem
diferentes temperaturas.
Entretanto, os valores aproximados das temperaturas cardeais são conhecidas para
a maioria das espécies vegetais.
Com culturas típicas de estação fria, como aveia, trigo, centeio e cevada, os
pontos são todos comparativamente baixos: mínimo de 0º a 5º C; ótimo 25º a 31º C e máximo
31º a 37º C.
Para plantas de verão, como melão e sorgo, as temperaturas são muito maiores:
mínima 15º a 18º C; ótimo 31º a 37º C e máxima 44º a 50º C.
As temperaturas cardeais também variam com o estágio de desenvolvimento.
Certas plantas exigem um período de baixas temperaturas durante a germinação e nos estágios
iniciais de plântula, para o crescimento ótimo. Muitas plantas bianuais devem receber
tratamento frio no fim do primeiro ano de crescimento para poder induzir-se a formação de
gemas florais e a subsequente floração durante o segundo ano. Aparentemente, algumas
substâncias destruídas por altas temperaturas se acumulam durante o período frio
atrapalhando o ciclo reprodutivo.

51
Lei de Van’t Hoff

Alguns investigadores acreditam que entre o mínimo e o ótimo de temperatura, a


formação de matéria seca segue a lei de Van’t Hoff. Isto é, para cada 10 º C de aumento da
temperatura, a razão de produção de matéria seca dobra, aproximadamente.

3.2 Temperatura do ar requerida durante o período vegetativo-reprodutivo

Como o desenvolvimento da cultura é muito afetado pela temperatura, a tabela abaixo


mostra algumas informações relacionadas com valores de temperatura.

Espécie vegetal Temperatura ótima Fotoperiodismo TM Tm


algodão entre 18 e 30º C sensível (adaptada a dias curtos) 40º C 14º C
amendoim entre 22 e28º C Não sensível 33º C 18º C
arroz Entre 22 e 30º C sensível 30º C 12º C
batata Entre 18 e 22º C Não sensível 30º C 15º C
cana de açúcar Entre 22 e 30º C sensível 30º C 20º C
Continuação..... ...... ...... .... ....
feijão Entre 15 e 20º C -- 27º C 10º C
milho Entre 15 e 20º C -- 25º C 14º C
soja Entre 18 e 35º C sensível 35º C 10º C
Fonte: Klaus Reichardt – A água em sistemas agrícolas (1987)

3.3 Fotossíntese em relação à temperatura

As plantas são seres autótrofos. Graças à presença de clorofila em suas folhas, elas são
capazes de captar energia luminosa do sol e utilizá-la na síntese de moléculas orgânicas, que lhes
servirão de alimento. Esse processo é chamado de fotossíntese. Considerada a fonte primária de
energia, a fotossíntese é o processo pelo qual as plantas sintetizam, na presença de luz, compostos
orgânicos a partir de matéria inorgânica. Essencial para a manutenção de todas as formas de vida, a

52
fotossíntese produz compostos que possuem mais energia do que as matérias primas que utiliza.
Assim, graças à energia solar, os compostos pobres em energia, como o gás carbônico e a água, são
convertidos em compostos energéticos e oxigênio. Nos cloroplastos ocorre a reação da mais
fundamental importância para a vida das plantas e, indiretamente, para a vida dos animais, que é a
fotossíntese. Os cloroplastos são geralmente discoidais, sua cor é verde devido à presença de
clorofila.
A fotossíntese é dividida em duas fases: clara e escura. A fase clara, também chamada
de fotoquímica, consiste na incidência da luz solar sob a clorofila A. A molécula de clorofila
absorve energia luminosa.
A fase escura ocorre no estroma dos cloroplastos e é nesta fase que se forma a glicose,
pela reação inicial entre o gás carbônico atmosférico e um conjunto de cinco carbonos.
Equação geral da fotossíntese:

6CO2 + 12H2 O C6H12O6 + 6H2O + 6O2

A estrutura da folha, o teor de clorofila e a quantidade de produtos acumulados podem


influenciar o rendimento fotossintético, são considerados como fatores internos. Como fatores
externos temos, a intensidade e a qualidade da luz, a concentração de CO2 e a temperatura, todos
esses influenciam a atividade de fotossíntese.
Sob condições de concentração normal de CO2 e saturação da intensidade luminosa, a
fotossíntese é afetada pela temperatura porque os processos químicos são limitados. Molga (1962)
apresentou informações que mostram na Figura 1 a relação entre a fotossíntese da batata, do tomate
e do pepino para diferentes temperatura das folhas. A taxa fotossintética aumenta com a
temperatura alcançando um máximo entre 30º C e 37º C, e então diminui para temperaturas mais
altas. Para muitas plantas de regiões temperadas e tropicais a temperatura ótima excede 25º C.

53
Embora a folha esteja completamente exposta à radiação solar, não apresenta eficiência
na utilização dessa energia para a fotossíntese. Intensidade de radiação extremamente baixa, a
eficiência pode alcançar 17 %; cai rapidamente para 8 % para a intensidade de 100 langleys/dia, e 3
% para 300 langleys/dia, como mostra a Figura 2.
A diminuição na eficiência da utilização da radiação solar com o aumento da
intensidade luminosa é causada pela resistência à difusão do dióxido de carbono, através da folhas,
pelo cloroplastos.

54
O menor índice fotossintético se verifica a 10º C, e a partir de 35º C as reações são
paralisadas pela desnaturação das enzimas envolvidas. A partir do ponto de saturação luminosa, a
intensidade de luz passa a limitar o processo (Figura 3A); na Figura 3B, tem-se a influência da
temperatura sobre a taxa de fotossíntese de uma planta exposta a alta intensidade e a baixa
intensidade luminosa.

Figura 3. Influência da intensidade luminosa e da temperatura na taxa fotossintética.

3.4 Estômatos

55
Os estômatos atuam como válvula regulando a principal passagem de água e CO2 entre
a planta e a atmosfera. Em algumas plantas eles ocorrem nas superfícies superior e inferior das
folhas, em outras, somente na inferior; encontram-se também nas partes não espessadas do caule,
parte das flores e muitos frutos (banana, abacate, etc). Sua densidade varia de 50 a 500 por mm2 ,
atingindo, às vezes, até 1 300 por mm2 . A Figura 4 mostra o movimento dos estômatos. A parte das
duas células-guardas voltada ao orifício, chamado ostíolo, tem as paredes mais grossas, portanto,
menos elásticas que as da parte restante. Quando as células estão túrgidas, a diferente elasticidade
das paredes produz deformações diferentes, abrindo o ostíolo. Quando as células perdem água,
tornam-se flácidas e o ostíolo se fecha. Através dos estômatos passam gás carbônico, oxigênio,
vapor d’água e, às vezes, gases poluentes existentes no ar.

Figura 4. Estrutura da estômato.

As plantas que vivem em ambiente seco e sob condições de alta intensidade de luz,
tendem a ter estômatos menores e em maior quantidade do que aquelas que vivem em ambientes de
sombra e úmidos.
Alguns fatores afetam a abertura dos estômatos, tais como a intensidade luminosa,
potencial de água na planta, concentração de CO2, idade da folha, doenças, etc.
A concentração de gás carbônico no ar é um fator importante a afetar a abertura
estomatal. As plantas expostas ao ar, livre de CO2, abrem os estômatos mesmo no escuro. Por outro
lado, o aumento do gás carbônico, além do teor normal existente no ar atmosférico, produz o
fechamento dos estômatos, mesmo na presença da luz.

56
A abertura dos estômatos aumenta gradualmente com a temperatura até um ponto
determinado (32 a 38º C). O efeito indireto da temperatura interferindo na concentração de vapor
d’água pode afetar substancialmente a transpiração, ocasionando inclusive o fechamento dos
estômatos por déficit hídrico. Schulze et al (1972) mostraram que baixos teores de umidade do ar
podem causar fechamento dos estômatos independentemente do teor de água das folhas.
O efeito da temperatura na abertura dos estômatos também é balanceado pela
concentração de gás carbônico. Altas temperaturas aumentam as taxas de respiração, levando a um
aumento da concentração interna de CO2 e, talvez, esta seja a causa do fechamento dos estômatos
em torno do meio dia.
Quando as plantas entram em desequilíbrio hídrico, isto é, perdem mais água do que
absorvem (Figura 5), as células-guardas tornam-se menos túrgidas e a abertura estomática decresce
até fechar-se completamente. Além disso, a umidade relativa do ar decresce em torno do meio-dia,

podendo afetar significativamente o movimento dos estômatos, fechando-os.

3.5 Constante térmica

O conceito da relação entre temperatura e a taxa de desenvolvimento de uma planta é


bem conhecido, pois certas fases de desenvolvimento são antecipadas com aumentos progressivos
de temperatura, dentro de certos limites. Este fato originou a criação de métodos de cálculos de
Unidades Térmicas de Desenvolvimento (UTD), baseados no somatório de temperatura acumulada

57
durante o dia. Com elas pode-se determinar as exigências térmicas de uma cultura para atingir uma
determinada fase, tornando possível a previsão da época em que ela será atingida. Além disso,
permite prever, com razoável exatidão a maturação de plantas, adaptação às diversas zonas, como
também determinação de épocas de semeadura, de maneira a fazer coincidir os períodos críticos
com as melhores disponibilidades climáticas.
Reaumur, há uns 200 anos, chegou a seguinte conclusão: se desde o momento em
que se verifica a germinação somarmos a temperatura média de cada dia até o momento da
maturação, a soma total é sempre a mesma, para determinado cultivo, qualquer que tenha sido
a situação determinada do cultivo e o ano considerado. O trabalho de Reaumur ficou
conhecido como a constante de Reaumur de fenologia, pois foi precursor do conhecido
sistema de unidades térmicas ou graus-dia, usado atualmente para a previsão do ciclo
fenológico de vários vegetais. O conceito de graus-dia pressupõe a existência de uma
temperatura base, abaixo da qual a planta não se desenvolve, e se o fizer é a uma taxa muito
reduzida. A cada grau de temperatura, acima da temperatura base, corresponde um grau-dia.
De acordo com esse autor, a cevada requer, desde a germinação até a maturação, uma soma de
1700º C aproximadamente, o trigo 2000º C e o milho 2500º C. A estas somas, fixas para cada
vegetal, deu-se o nome de CONSTANTE TËRMICA.
O cálculo de graus-dia acumulado (GDA) pode ser feito utilizando-se o seguinte
método:

n
GDA   (Ti  TB ) (1)
i 1

sendo
Tmáx  Tmín
Ti  (2)
2

em que Ti - temperatura média diária do ar (º C);


Tmáx - temperatura máxima diária do ar (º C);
Tmín - temperatura mínima diária do ar (º C);
Tb - temperatura base da cultura

58
n - número de dias do período considerado.

Baseado neste princípio ficava explicada a diferente duração do ciclo vegetativo


das culturas. Assim, por exemplo, o milho necessita de 2500º C. Se o cultivo se efetua numa
localidade onde a temperatura média diária é de 31º C, a planta necessitará de 100 dias para
alcançar a maturação; em troca, se a temperatura média da localidade for 21º C a planta
necessitará de 167 dias para amadurecer.
A constante térmica se calcula também, para qualquer subperíodo (ou fase) dos
vegetais. Por exemplo, para a amendoeira pode-se calcular a soma de temperatura que esta
requer desde a floração até a brotação.
Se tomarmos como exemplo uma variedade de trigo, veremos que em algumas
localidades, desde a germinação até a maturação, transcorrem 142 dias, em outras 155 dias ,
117 dias, etc.

3.6 Fatores ambientais que fazem variar a constante térmica

a) nível de fertilidade do solo


Altos teores de nitrogênio e, consequentemente um maior crescimento vegetativo
atrasam a maturação, ao passo que altos teores de fósforo tendem a acelerar.

b) população de plantas
Uma baixa população de plantas fará amadurecer mais cedo que uma população mais
densa, desde que ervas daninhas não mascarem a diferença.

c) tipo de solo
Os solos arenosos aquecem-se mais rapidamente do que os solos argilosos. Outras
variáveis tais como nível de fertilidade e características de umidade estão associados com o tipo de
solo.
d) temperaturas do solo

59
Durante o aquecimento de primavera, a temperatura do solo atrasa-se apreciavelmente
em relação à temperatura do ar. Portanto, unidades de calor acumuladas baseadas na temperatura do
ar podem ser altas demais. A temperatura do solo pode ser usada até a emergência.

e) umidade
Solos pobremente drenados são frios e também causam maior número de problemas de
nutrição. Seca durante o último período de vida da planta normalmente acelera a maturação.
A maturação será retardada se a umidade é escassa na época de semeadura ou durante o
período inicial de crescimento, embora as unidades de calor sejam acumuladas.

3.7 Termoperiodismo

A variação anual, diária e aperiódica da temperatura do ar tem um claro efeito no


desenvolvimento dos vegetais superiores.
Esta variação, num ciclo completo de um ano, um dia ou vários dias constitui um
termoperíodo anual, diário ou aperiódico, respectivamente e se caracteriza por apresentar dois
setores bem definidos: a termofase positiva e a termofase negativa.
A primeira termofase corresponde ao lapso mais quente e a segunda ao lapso mais frio
do termoperíodo.
A reação das plantas ao termoperíodo denomina-se termoperiodismo.
Distinguem-se três tipos de termoperiodismo: o anual, o diário e o aperiódico, segunde
se trate da resposta do vegetal à termoperiodicidade anual, diária ou aperiódica.
A importância da periodicidade anual da temperatura se manifesta na distribuição
geográfica das culturas. O êxito ou fracasso das introduções de espécies exóticas depende, em
grande parte, da semelhança ou não entre as condições termoperiódicas anuais das regiões de
origem e das regiões onde se pretenderá cultivá-las.
Burgos (1952) estabeleceu uma classificação das plantas, segundo a qual seu ciclo vital
coincide ou não com a variação anual da temperatura.

 Termocíclicas

60
Aquelas espécies que apresentam tecidos ativos à temperatura durante um ou mais
períodos anuais de variação da temperatura. Exemplos: plantas perenes (ameixeiras) e plantas
bianuais.

 Paratermocíclicas
As espécies anuais com tecidos ativos à temperatura em uma parte das termofases
positiva e negativa. Exemplo: cereais de inverno (trigo, cevada, etc).

 Atermocíclicas
As espécies anuais com tecidos ativos à temperatura somente na termofase positiva do
termoperiodismo anual. Exemplo: tomate, sorgo, milho, etc.

3.7.1 Termoperiodismo diário

Nas espécies termocíclicas a ação do termoperíodo diário deve considerar-se como de


interferência com o termoperíodo anual. Não acontece o mesmo nas espécies paratermocíclicas e
atermocíclicas, nas quais a termoperiodicidade diária tem uma ação importante na expressão do
desenvolvimento.
Em espécies paratermocíclicas como cereais de inverno, interessa destacar a ação
favorável da termofase negativa do termoperíodo diário, durante o estado juvenil para um normal
espigamento.

3.7.2 Termoperíodo aperiódico

A advecção irregular de massas de ar quente ou frio determina uma variação aperiódica


da temperatura do ar de notáveis conseqüências bioclimáticas.
Essa termoperiodicidade pode atuar por si só ou como sucede geralmente, interferindo
no termoperíodo anual e diário.
A influência do termoperíodo aperiódico se encontra exemplificada na adaptação
deficiente às condições climáticas de Buenos Aires da amendoeira e aveleira. Estas espécies exigem

61
uma termofase anual negativa de pouca intensidade e duração, e apresentam além disso um baixo
nível térmico de brotação. Em conseqüência, essas espécies de fruteiras raramente frutificam e se o
fazem são de baixa produtividade.
A ocorrência de um certo número de dias com temperaturas anormalmente elevadas traz
em consequência que o pessegueiro floresça prematuramente em plena época hibernal. Esta
floração é seguramente prejudicada pelas baixas temperaturas dos dias subsequentes.

3.8 Perfil da temperatura do ar acima do dossel


Durante a noite, a temperatura do solo e das superfícies vegetadas cai rapidamente por
causa do resfriamento radiativo, de modo que a superfície fica mais fria do que em outro local
acima da vegetação e do solo. Por conseguinte, desenvolve-se um inversão de temperatura,
mostrando que a camada mais baixa da atmosfera é estável.
Perfil da temperatura medido dentro do dossel vegetativo é diferente daquele medido
acima. Freqüentemente, durante o dia há uma temperatura máxima entre a metade e a porção
superior do dossel. Essa temperatura máxima ocorre próximo do nível de área foliar máxima e é
decorrente da radiação solar absorvida. Acima deste nível o perfil tem apresentação normal,
temperatura diminuindo com a altura. Abaixo deste nível, há uma inversão de temperatura porque o
dossel está mais quente do que o solo abaixo.
À noite, o perfil de temperatura no nível mais baixo do dossel está próximo de um
isotermia, uma vez que o topo do dossel aprisiona a radiação de onda longa emitida pelo solo. O
perfil de temperatura é invertido na parte superior porque a radiação de onda longa é transmitida
para o espaço. Naturalmente que alguns perfis podem ser diferentes devido a vários fatores, como
por exemplo a resistência estomatal que varia, fontes e sumidouros de calor sensível e calor latente
que sofre mudanças consideráveis.

Um exemplo de perfil de temperatura é apresentado a seguir, medido numa


cultivo de cacau. Quanto ao padrão médio da temperatura das folhas que compõem o terço
médio superior e inferior da copa do cacaueiro este é apresentada na Figura (6), para dois dias
com padrões diferenciados de nebulosidade. Através dela, se observa que, independentemente
da nebulosidade, a temperatura do estrato superior foi superior a do estrato inferior do dossel
onde os padrões horários de variação são menos acentuados. No entanto ao se examinar a

62
temperatura média diária do ar em relação a temperaturas superior e inferior do dossel, se
verifica que a temperaturas da camada superior e inferior do dossel, se mantiveram acima da
temperatura média diária do ar. Sob condições de céu parcialmente nublado, a temperatura
média das folhas do dossel superior mantiveram-se entorno de 30°C, durante grande parte do
dia, em níveis superiores da temperatura média diária do ar que foi de 29°C. Quanto as
temperaturas da camada inferior do dossel, estas se mantiveram em média entre 0° e 2°C
acima da temperatura média diária observada. Com relação ao ocorrido no dia ensolarado,
observou-se um concomitante aumento no perfil de variação das temperatura foliares nos dois
estratos logo no inicio da manhã até que uma brusca queda da temperatura média do estrato
superior foi observada em decorrência de período de nebulosidade.
Quanto as temperaturas médias do dossel inferior estas se mantiveram dentro de
um padrão de variação quase constante entre 11:00 e 17:00 (»33°C) e apresentando um desvio
positivo com relação a temperatura média diária de 32°C.
(Fonte: Ricardo Augusto Calheiros de Miranda – X CBMet, 1998)

63
Figura 6. Variação horária da temperatura do ar (Tar) e das temperaturas médias das camadas
superior e inferior do dossel exposto à padrões diferenciados de nebulosidade (Fonte:
Ricardo Augusto Calheiros de Miranda – X CBMet, 1998)

3.9 Vernalização

Em muitos países distinguem-se dois grandes grupos de trigo: os chamados hibernais e


os primaveris. Os trigos hibernais são semeados no outono, passam o inverno no campo (daí o seu
nome), continuam o seu desenvolvimento na primavera e são colhidos no verão.
Os trigos primaveris, por sua vez, são semeados na primavera e colhidos no verão ou
outono. É um fato bem conhecido que, quando um trigo do tipo hibernal é semeado na primavera,
espiga muito tardiamente e fornece em conseqüência um baixo rendimento. O mau comportamento
dos trigos hibernais quando semeados na primavera se deve, principalmente, a que requerem
durante seu estado jovem, um certo número de dias com baixas temperaturas (-2º a 10º C); esse frio
é conseguido quando os trigos hibernais são semeados no outono e não quando semeados na
primavera. Lysenko (1925), pesquisador russo, demonstrou que o frio requerido por uma variedade

64
durante a sua fase inicial pode ser fornecido à semente, antes da semeadura. Para tal preconiza o
seguinte método de trabalho:

1. Umedecer a semente com quantidade estritamente necessária de água (uns 55 litros para
cada 100 kg de sementes) para dar início à germinação. Como costuma apresentar certos
inconvenientes ao utilizar uma quantidade média de água, Mckinney e Sando (1933)
sugerem empapar as sementes com excesso de água dentro de um recipiente, durante
aproximadamente 18 horas. Transcorrido este período extrai-se todo o excesso de água.

2. Deixam-se as sementes umedecidas em um ambiente relativamente morno (10º a 15º C)


até que se observa que os embriões estão saindo das sementes.

3. Chegado este momento, as sementes devem ser mantidas em um ambiente escuro e frio
(4º a 5º C) durante um certo número de dias que depende, principalmente, da variedade,
porém, em geral oscila entre 20 e 25 dias para os trigos hibernais típicos.

Desde que, por meio deste tratamento, os trigos hibernais podem ser semeados se
dificuldade na época que corresponde aos trigos primaveris, Lysenko deu o nome russo de
“IAROVIZAÇÃO”, que traduzido corresponde à vernalização, palavra derivada de vernal que
significa pertencente à primavera.
O tratamento sugerido por Lysenko para o trigo pode ser aplicado, com certas variantes,
a outros cereais hibernais, tais como a aveia, centeio, etc.
A vernalização constitui definitivamente um processo de acumulação de baixas
temperaturas por parte da planta, desde o estágio de semente germinada até o momento da formação
do talo.
Foi demonstrado que o efeito da vernalização pode ser destruído pela ação de altas
temperaturas (20º C ou mais) durante vários dias posteriormente ao tratamento. Isto significa que o
processo é reversível. Com efeito, em plantas de aveia, demonstrou-se que temperatura de 20 a 25º
C inibem parcialmente, a ação das baixas temperaturas de vernalização do dia anterior e que este
efeito aumenta com a duração do período submetido a temperaturas elevadas.

65
Outra vantagem agronômica que se consegue, realizando a vernalização, é a utilização
de áreas geográficas inadequadas para uma cultura por falta total ou parcial de frio hibernal.

66
Unidade 4: Temperatura do solo

4.1 Importância da temperatura do solo para as culturas

Ao estudar alguns fenômenos que ocorrem no solo e que estão ligados a sua
fertilidade, tais como composição, atividade da flora microbiana, atividade de íons que tomam
parte numa reação de troca, energia livre de água no solo, decomposição da matéria orgânica,
germinação de sementes, e outros, verificou-se que eles dependem muito da temperatura.
Como exemplo, podemos citar que baixas temperaturas do solo fazem com que a viscosidade
da água diminua, diminuindo a velocidade de absorção pelas raízes; por outro lado, altas
temperaturas condicionam uma maior perda de água dos poros do solo.
Temperaturas do solo extremamente elevadas tem efeito prejudicial sobre as
raízes e podem causar lesões destrutivas nos caules. Por outro lado, as temperaturas baixas
impedem a absorção de nutrientes minerais.
Devido a estes fatos, o conhecimento do comportamento da temperatura no perfil
do solo é um aspecto importante em uma agricultura bem orientada e artifícios como irrigação
e coberturas mortas tem sido utilizados para seu melhor controle.
Sabemos que ao atingir a superfície da Terra, parte da radiação solar é refletida
e parte interage com a superfície do solo, transformando-se em energia térmica. A quantidade
de energia absorvida pelo solo depende da duração da radiação solar, da inclinação da
superfície receptora e das características físicas do solo, tais como: difusividade,
condutividade térmica e capacidade térmica.
A temperatura do solo responde mais aos efeitos locais, à radiação solar, à
topografia e outros efeitos semelhantes, podendo diferir muito da temperatura do ar. Muitas
localidades nas áreas polares e em algumas montanhas ficariam certamente sem vegetação se
não fosse o fato da temperatura do solo ser muito mais alta do que a do ar, especialmente
durante o período de sol. A temperatura do solo é mais responsável do que a do ar, pelo
contraste entre as diferentes encostas e exposições que ocorrem nas montanhas.
O significado ecológico da temperatura do solo é obviamente importante para
aqueles que trabalham na agricultura. Temperatura do solo desfavorável durante a estação de
crescimento pode retardar as colheitas. Os horticultores valorizam muito um solo que se

67
aquece rapidamente na primavera. Muito esforço tem sido feito pelos agricultores para
modificar a temperatura do solo.

4.2 Características térmicas dos diferentes tipos de solo

a) Calor específico (c)


É a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de 1 grama de solo de 1º
C. O calor específico de todos os solos minerais varia, em média, de 0,18 a 2,0 cal/g. ºC. o solo
humoso tem calor específico aproximadamente igual a 0,45 cal/g. ºC.

b) Capacidade térmica ou capacidade volumétrica de calor (Cv)


Capacidade de calor de uma substância ou do solo é a quantidade de calor necessária
para elevar a temperatura de 1 cm3 de solo de 1 ºC. A capacidade térmica de um solo varia de
acordo com seu conteúdo de umidade. Solos orgânicos secos tem capacidade térmica mais
baixa do que os solos minerais, devido a baixa densidade dos primeiros. No campo, solos
orgânicos e de textura fina, devido a sua alta capacidade de retenção de água, tem maior
capacidade térmica do que solos com textura mais grossa. A capacidade térmica da maioria
dos solos varia de 0,3 a 0,6 cal/cm3.ºC.

c) Condutividade térmica (k)


Indica a taxa de transferência de calor. Fisicamente representa a taxa em que o calor
flui, através de uma área unitária de determinada substância, quando existe um gradiente de 1º
C/cm. Unidade de medida cal/cm.seg.ºC.
Pode-se dizer também que é a quantidade de calor que flui por unidade de tempo
através de uma seção transversal de 1 cm2, responsável por um gradiente de temperatura de 1
ºC.
A condutividade térmica depende sobretudo da porosidade, conteúdo de umidade e
matéria orgânica do solo. Para um determinado conteúdo de umidade, a condutividade
térmica decresce dos solos pesados para os mais leves, conforme a porosidade aumenta. Em
termos de tensão de umidade do solo, a condutividade é praticamente idêntica para solos com
texturas diferentes (a espessura da película de água que envolve as partículas de solo é

68
praticamente idêntica). A matéria orgânica não transfere o calor tão rapidamente quanto um
solo mineral. Exemplos: solo arenoso seco k = 0,00046 cal/cm.seg.ºC; solo fino humoso k
= 0,00027 cal/cm.seg.ºC.

d) Difusibilidade térmica (K)


Indica a penetração de calor no solo e pode ser definida como sendo o quociente entre
a condutividade térmica (k) e a capacidade térmica (Cv), ou seja, D = k/Cv.
É a mudança, em graus Celsius que ocorre em um segundo, quando o gradiente de
temperatura aumenta 1 ºC/cm3. A difusividade térmica do solo aumenta com o aumento da umidade
atingindo um máximo, depois então decresce. Uma pequena quantidade de água no solo, entre as
partículas, reduz o efeito isolante do espaço poroso cheio de ar (aumenta o valor de K), mas um
aumento muito grande no conteúdo de água resulta num aumento acentuado da capacidade térmica,
diminuindo o aumento da temperatura produzido por uma determinada quantidade de calor, uma
vez que a capacidade térmica da água, que é alta, substitui a do ar que é quase negligenciável.
A matéria orgânica diminui a difusividade, devido ao aumento da porosidade, enquanto
que a compactação do solo a aumenta, porque diminui a porosidade. A difusividade térmica dos
solos está entre 10-2 e 10-3 cm-2.seg-1.

4.3 Condução de calor no solo


A transmissão de calor pode ser definida como sendo a transmissão de energia de uma
região para outra, devido a uma diferença de temperatura entre elas. No solo a transmissão de calor
se realiza, na maior parte , por condução e uma pequena parte por convecção, através de moléculas
de vapor d’água e ar que ocupam os espaços porosos do solo. Por outro lado, a perda de energia do
solo para a atmosfera dá-se por radiação.
O conhecimento do transporte de energia no solo é importante dentro do caráter de estímulo
às reações bioquímicas da germinação de sementes, decomposição de matéria orgânica, respiração e
crescimento do sistema radicular de uma planta qualquer, enfim, de toda a estrutura orgânica da
fauna e flora do solo, como também na energia livre da água no solo, troca de íons nos minerais,
etc.
A energia alcança a superfície do solo na forma de ondas eletromagnéticas e dependendo das
características da superfície elas podem ser mais ou menos absorvida. Em virtude disso, durante o

69
dia o fluxo de energia tem sentido descendente, caminhando da superfície em direção às maiores
profundidades, pois a superfície está recebendo energia desde o nascer até o pôr do sol, se
aquecendo e cedendo calor para as camadas inferiores. Durante a noite este sentido se inverte, uma
vez que a superfície em contato com o ar atmosférico é resfriada rapidamente e as camadas
inferiores começam a ceder calor para a superfície. Convencionalmente, a energia que vai em
direção à superfície é positiva e a que deixa a superfície é negativa.

4.4 Fluxo de calor no solo


Uma certa quantidade de calor no solo é requerida por todas as plantas, por exemplo, para
haver germinação de sementes de trigo e cevada, a temperatura mínima varia de 0 a 5º C e a
máxima de 31 a 37º C, e de melão de 15 a 18 e 44 a 50º C, respectivamente. As temperaturas do
solo ótimas para germinação do trigo variam de 25 a 31º C e para o melão de 31 a 37º C.
O desenvolvimento radicular sofre considerável influência da temperatura do solo; para
culturas de inverno, um bom desenvolvimento ocorre de 6 a 10º C. Decréscimos graduais na
temperatura do ar e do solo facilitam a sintetização do açúcar e o desenvolvimento de resistência ao
frio e até a seca. Decréscimos repentinos a menos de 0º C baixam as resistências.
A condução de calor se processa sempre no sentido contrário ao do gradiente de temperatura
e é proporcional ao valor desse gradiente. Considerando-se um volume de controle de um meio
homogêneo, limitado por arestas infinitesimais x, y, z orientadas segundo as direções dos eixos
cartesianos. Se todo o meio está sendo aquecido uniformemente na sua face superior, então, a
temperatura, a uma determinada profundidade, é a mesma em qualquer ponto. Logo, as
componentes horizontais do gradiente de temperatura é nula,

T  T 
i  j 0
x y 1

Assim, o transporte de calor (Q) se efetua de cima para baixo e depende apenas da
componente vertical do gradiente de temperatura, logo,

T  dT 
k k 2
z dz

70
Como o fluxo vertical (Fz) de calor é proporcional ao gradiente vertical de temperatura e
ocorre no sentido inverso, tem-se, em módulo:

dQ  dT 
Fz   k z   xy 3
dt  dz 

onde kz (cal.cm-2.s-1.K-1) é a constante de proporcionalidade, chamada de coeficiente de difusão de


calor ou condutividade calorífica do meio em questão.
A Figura 1 mostra a interferência da temperatura do solo sobre a fotossíntese líquida e sobre
a transpiração. Nota-se a sensibilidade da cultura do milho a temperaturas baixas próximas a 0º C.
O crescimento das plantas, a fotossíntese, a absorção de água, o metabolismo das raízes, o

suprimento de O2, a nutrição mineral e a morfologia das raízes são variáveis afetadas pela
temperatura do solo (Nielsen & Hunfries, 1966)
Figura 1. Efeito de temperatura do solo sobre a fotossíntese líquida e transpiração de uma cultura de milho
(Anderson & Macnaughton, 1973)

71
A temperatura do solo é continuamente alterada e os principais fatores atuantes estão relacionados
ao ciclo de radiação, que produz flutuações diárias significativas nos primeiros 30 cm abaixo da
superfície do solo nú; sob irrigação, a temperatura do solo aumenta mais rapidamente em solos de
textura grosseira que nos de textura fina (Fig. 2), decrescendo a curva de evaporação

proporcionalmente com o acréscimo da temperatura no solo; logo, quantidades significativas de


energia são convertidas em calor latente de vaporização (Klar, 1974).
Figura 2. Variação diária da temperatura de dois tipos de solo, com e sem irrigação numa cultura de cebola,
em condições de campo (Klar, 1974).
4.5 Inclinação e exposição de encostas
A exposição de uma encosta é de pequena importância nas baixas latitudes, mas é
importante fora dos trópicos. Nas médias e altas latitudes, no Hemisfério Sul, as encostas
norte recebem mais raios solares por unidade de área do que as que ficam expostas para o sul.
Para avaliar os raios solares pelas encostas devemos primeiramente separar a radiação direta e
a radiação difusa. Raios solares diretos são função da exposição e da inclinação e a radiação
difusa, sendo essencialmente uniforme em todos os azimutes, é dependente apenas da
inclinação.

Uma encosta com 100 de inclinação, exposta ao sul recebe igualmente tanta radiação
difusa como uma encosta com 100 de inclinação, exposta ao norte. Quanto maior a proporção
da radiação difusa em relação à radiação total, menor é a diferença de energia pelas várias
exposições de uma encosta. Em um dia totalmente nublado, quando não há radiação solar
direta, o efeito da exposição é minimizado.

72
Em geral, a proporção da radiação difusa com relação a radiação total é elevada nas
regiões polares devido a elevada nebulosidade e a baixa altitude do sol; semelhantemente esta
proporção é mais elevada no inverno do que no verão. Portanto, a exposição nas médias
latitudes é fator mais importante do que nas regiões polares e, mais ainda no verão do que no
inverno.

Na ausência de nuvens a encosta sudoeste é normalmente mais quente do que a


encosta sudeste. Isto porque os raios solares diretos incidem sobre a encosta sudeste depois de
prolongado resfriamento noturno e, além disso, a evaporação do orvalho pela manhã requer
energia.
As maiores diferenças de temperatura entre as encostas norte e sul ocorrem durante
a primavera e verão. Na primavera, as encostas norte esquentam rapidamente enquanto
que as encostas sul permanecem frias e úmidas.
A diferença nas temperaturas mínimas entre as exposições sul e norte é menor do que
a diferença entre suas temperaturas máximas. A amplitude da temperatura diurna é
consequentemente maior nas encostas norte. Além do mais, a temperatura máxima na
exposição sul freqüentemente demora mais a ocorrer do que na encosta norte.
No inverno, a diferença de temperatura entre as encostas sul e norte é menor. Com o
avanço da estação, o maior aquecimento da encosta norte é feito gradualmente. As culturas e a
vegetação iniciam mais cedo o seu crescimento nas exposições norte do que nas exposições
sul. Paradoxalmente, para algumas frutíferas a demora na floração e a conseqüente redução do
perigo de geada é uma vantagem na encosta sul, relativamente fria. A declividade da encosta
determina a quantidade de calor recebida por unidade de área.
As diferenças de temperatura entre as exposições é geralmente acentuada pela
declividade. Fora dos trópicos, no Hemisfério Sul, uma encosta suave, com inclinação norte, é
mais quente do que uma área plana.
Uma declividade de 50 na exposição norte pode receber a mesma quantidade de
radiação solar que um área plana a 450 km mais ao norte. Por outro lado, áreas com 10 de
declividade sul podem receber menor radiação do que uma área plana a 100 km ao sul. A
encosta mais quente é a estiver mais perpendicular aos raios solares.

73
4.6 Efeito do uso de diferentes coberturas na temperatura do solo
Já em 1914, Lehenbauer trabalhando com sementes de milho, em condições de
laboratório, verificou que o crescimento aumentou linearmente com a temperatura do solo
entre 100C e 300C; foi ótimo entre 300C e 31,70C; decresceu linearmente entre 32,20C e
43,90C; e foi paralisado abaixo de 100C e acima de 43,90C.
Weaver, 1926, verificou que para a maioria das plantas cultivadas, temperaturas do
solo inferiores a 4,40C são prejudiciais, provocando paralisação em seu crescimento.
A partir daí, cada vez mais foi sendo provado que as condições térmicas que envolvem
um vegetal são essenciais ao seu desenvolvimento e que, um controle total do microclima, em
condições de campo, é praticamente impossível. Muitos esforços tem sido realizados no
sentido de variar a temperatura do solo, com o propósito de criar um “habitat” favorável as
plantas. Por isso, vários tipos de coberturas mortas (mulching) tem sido utilizadas para
aumentar, diminuir ou ainda para estabilizar a temperatura do solo.
A cobertura morta do solo é uma técnica utilizada pelos agricultores há muitos anos,
com a finalidade de defender os cultivos e o solo da ação do agentes atmosféricos, os quais,
entre outros efeitos, provocam a compactação do terreno, diminuem a quantidade dos frutos,
esfriam a terra e causam a lixiviação dos elementos fertilizantes, tão necessários para o
desenvolvimento das plantas.
Para diminuir estes efeitos, os agricultores colocavam sobre a superfície do terreno
uma camada protetora formada por materiais de origem vegetal, como palha, serragem, folhas
de árvores, etc. Quando havia disponibilidade também era usada areia. Esta camada de
material atuava como barreira, isolando o solo do meio ambiente.
De acordo com as características desses materiais, era possível obter outras vantagens,
como a opacidade à luz que impedia, por falta de fotossíntese, o desenvolvimento das ervas
daninhas, e a absorção e armazenagem de calor para o período noturno, constituindo-se um
meio de defesa das plantas contra baixas temperaturas, influindo consideravelmente no
aumento da produção e maior precocidade na colheita dos frutos.
Há alguns anos foram feitos ensaios com diversos materiais, como papel parafinado,
lâmina de alumínio, etc, porém seu uso não se comprovou, tanto pelo alto custo como pela
dificuldade de aplicação.

74
A cobertura morta do solo passou a ser utilizada em grande escala com o surgimento
dos filmes plásticos, devido ao seu baixo custo, praticamente de aplicação e sobretudo pelas
evidentes vantagens que trazem aos cultivos. Esta técnica é hoje consagrada em quase todos
os países, na maior parte dos cultivos, nas mais sofisticadas lavouras e nas terras dos mais
modestos agricultores.
A cobertura morta de solo com filmes plásticos tem significantes vantagens sobre os
métodos comuns. As principais influências são:
 Umidade do solo;
 Temperatura do terreno;
 Estrutura do solo;
 Fertilidade da terra;
 Ervas daninhas;
 Proteção dos frutos;
 Época de colheita;
 Produção dos cultivos;
 Qualidade dos frutos.

4.7 Temperatura do solo e as diferentes fases do ciclo vegetativo das culturas

4.7.1 Germinação e emergência


Algumas espécies germinam assim que as condições externas como temperatura,
umidade, concentração de oxigênio sejam favoráveis.
Temperaturas frias entre 00 C e 100 C, durante algumas semanas ou meses tem
também efeito na quebra de dormência (macieira, pereira, pessegueiro).
Sachs determinou três pontos principais de atividade vital, que são:
 Uma temperatura mínima abaixo da qual não há atividade;
 Uma temperatura ótima onde ocorre o máximo de atividade;
 Uma temperatura máxima acima da qual a atividade pode ser nula.
Embora, em geral, os processos metabólicos dupliquem sua velocidade com o
aumento de 100 C de temperatura, o desenvolvimento expresso como germinação ou

75
elongação da haste mostra freqüentemente, dentro de certos limites, uma resposta linear entre
a temperatura mínima e ótima.
Uma unidade de calor (S) expressa em graus dias é suposta ser uma constante para um
estágio particular do desenvolvimento e pode ser calculada multiplicando-se a temperatura
ambiental (T) menos a temperatura mínima (Tmín), em graus centígrados, pelo período de
emergência (t), em dias. Assim,

S = (T – Tmín) . t 4

A relação entre T e o valor recíproco de t daria uma relação linear, na qual valores
desconhecidos de S e Tmín podem ser calculados de acordo com a seguinte expressão:

T = ( S / T ) + Tmín 5

Estes dois métodos de cálculo podem dar uma unidade de calor diferente quando a
temperatura média diária é menor do que a Tmín.
A unidade de calor para a germinação depende muito da profundidade na qual se
mede a temperatura do solo, que varia amplamente na camada de 10 cm de profundidade do
solo. Nessa camada, a variação do conteúdo de umidade é grande devido a evaporação e a
precipitação, mas as medidas da umidade do solo, nessa profundidade, são extremamente
difíceis.
Desde que a germinação depende também amplamente das condições disponíveis de
umidade que cercam a semente, isto poderia influir na unidade de calor sob condições de
excesso de umidade (ocorrendo falta de oxigênio) ou condições secas (falta de umidade).

4.7.2 Fases vegetativa e reprodutiva


Após a germinação, a temperatura do solo pode ainda influir no desenvolvimento do
índice de área foliar das plantas.
Gradualmente, a temperatura do ar e outros fatores climáticos, como radiação solar,
por exemplo, tornam-se de maior importância para a fase vegetativa e reprodutiva.

76
Para temperaturas quase ótimas a absorção de água aumenta na ordem de 10 % para
cada grau de aumento de temperatura do solo. Por outro lado, a condução de água nos vaso do
xilema e nas folhas aumenta somente da ordem de 1 % para cada grau de incremento da
temperatura do solo. Este último aumento pode ser atribuído principalmente à mudança da
viscosidade.
A faixa acima da qual ocorrem temperaturas do solo quase ótimas, depende da
espécie, por exemplo: baixa para a alface (40 C – 100 C); moderada para tomate (100 C – 160
C) e elevada para o pepino (150 C – 190 C).
O cálculo da unidade de calor, entretanto, depende muito da profundidade do solo em
que foi feita a medida e as condições de umidade do solo.

77
Unidade 5: UMIDADE DO SOLO

5.1 Algumas características do solo

A palavra solo tem sentidos diferentes, dependendo dos objetivos. O engenheiro, por
exemplo, o considera um material que suporta fundações, estradas ou aeroportos; o
pedologista, como parte da crosta terrestre que proveio de desintegração de rochas por
processos físicos e químicos. O interesse deste profissional limita-se aos 2 – 3 metros de
profundidade; então o solo pode ser definido como um sistema poroso constituído por
partículas sólidas e volume de vazios, que podem ser ocupados pelo ar e pela água sendo,
portanto, um armazenador de nutrientes e água para as plantas. Para estes terem um bom
desenvolvimento, o solo deverá ser suficientemente macio e friável para permitir o
desenvolvimento das raízes, sem obstrução mecânica, equilibrado em distribuição e volume
de poros, para reter água facilmente disponível e assegurar condutibilidade adequada não só
da água como também do ar até as raízes das plantas.
O tipo de solo resulta da integração entre clima, topografia, vegetação, tempo e tipo
de rocha que lhe deu origem. Os solos tropicais são mais desenvolvidos por estarem sujeitos a
altas temperaturas e elevadas precipitações pluviométricas; à medida que se caminha para
regiões mais frias, são menos intemperizados. É algo mais que um complexo de partículas
provenientes de rochas minerais. As plantas o utilizam como suporte, fonte de nutrientes e
fornecem matéria orgânica necessária á alimentação dos microorganismos do solo e dos
animais, os quais a decompõem produzindo gás carbônico e água. Se isso não ocorresse,
haveria exaustão do gás carbônico da atmosfera pela fotossíntese em poucas décadas.
Ele é constituído de materiais sólidos, líquidos e gasosos. As partículas sólidas formam um
arranjo poroso tal que os espaços vazios, denominados poros, tem a capacidade de armazenar
líquidos e gases, se constitui de partículas classificadas de acordo com o tamanho médio dos grãos
em areia, limo (silte) e argila, cujas proporções determinam a textura do solo. O arranjo das diversas
partículas, juntamente com os efeitos cimentantes de materiais orgânicos e inorgânicos, determinam
a estrutura do solo. Os materiais orgânicos consistem de resíduos vegetais e animais (incluindo
fungos, bactérias, insetos e outros) parte dos quais são vivos e o restante se apresentando em
diversos estágios de decomposição, denominados húmus.

78
A parte líquida do solo constitui-se essencialmente de água, contendo minerais
dissolvidos e materiais orgânicos solúveis. Ocupa parte (ou quase todo) do espaço vazio entre
as partículas sólidas dependendo da umidade do solo. Esta água é absorvida pelas raízes das
plantas ou é drenada para camadas de solo mais profundas e, por isso, precisa ser
periodicamente reposta pela chuva ou pela irrigação, para garantir uma produção vegetal
adequada, Daí, a importância agrícola do conhecimento deste reservatório de água para as
plantas e dos princípios que governam seu funcionamento.
A parte gasosa ocupa os espaços vazios não ocupados pela água. Esta é uma fração
importante do sistema solo, pois a maioria das plantas exige certa aeração do sistema
radicular. Na prática da irrigação é importante manter-se certo balanço entre a porção dos
poros, ocupada pela água, e a ocupada pelo ar.

Tabela 1. Composição volumétrica (%) de alguns solos


Fração sólida
Solo Mineral Orgânica Água Ar
“ideal” 45 5 30 20
Regossol 61 1 4 34
Latossol Roxo 35 7 32 26
Podzólico 50 2 24 24

5.1.1 Composição do solo


1) Textura
A textura do solo refere-se tão somente à distribuição das partículas em termos de
tamanho. A escala de tamanho varia enormemente, desde cascalhos de diâmetro da ordem de
centímetros, até partículas diminutas, como colóides que não podem ser vistos a olho nú. O
tamanho das partículas é de grande importância, pois ele determina o número de partículas por
unidade de volume ou de peso e a superfície que estas partículas expõem. De acordo com o
tamanho as partículas podem ser classificadas em areia, limo (ou silte) e argila e, suas proporções
determinam a textura do solo.

79
2) Estrutura do solo
A estrutura do solo refere-se ao arranjo das partículas e à adesão de partículas menores na
formação de maiores denominadas de agregados. Na proximidade da superfície, a estrutura do solo
é afetada pelo preparo do solo e, nos horizontes mais profundos, ela é típica para cada solo. Solo
sem estrutura é massivo, pesado para ser trabalhado, com problemas de penetração de água e de
raízes.
A estrutura do solo, ao contrário da textura, pode ser modificada. Ela pode ser
mantida ou mesmo melhorada com práticas agrícolas adequadas, tais como a rotação de
culturas, cultivo apropriado e incorporação de matéria orgânica (adubo verde ou esterco).
Ciclos de secamento e de molhamento melhoram a estrutura do solo. A umidade do solo no
momento de seu preparo (aração e gradagem) é importante, pois solos preparados quando
muito úmidos ou muito secos, perdem a estrutura.
O solo ocorre em camadas distintas. Um horizonte é qualquer camada que pode ser
distinguida visual ou texturalmente das camadas vizinhas acima e abaixo. Um perfil é um
conjunto de horizontes expostos normalmente para exame na parede vertical de uma
trincheira. O solo do topo é a zona de primeira importância para o horticultor, pois é nele que
as sementes são lançadas, as plantas transplantadas e as culturas estabelecidas . Depois do
estabelecimento, as raízes exploram também o subsolo que tende a ser menos rico em
nutrientes, mas, pelo menos, tão importante quanto o solo do topo pelo fornecimento de água.
Abaixo do subsolo, está a camada de rocha. A espessura dos diferentes horizontes varia
enormemente dentro e entre as diferentes séries de solo.
A propriedade da fase sólida do solo em formar unidades estruturais complexas a
partir de unidades menores chama-se “capacidade de agregação do solo”. A estrutura começa
a se formar através da fragmentação das rochas.
A estrutura dos solos pode agrupar-se em três tipos principais: grãos simples
(partículas completamente desunidas umas das outras), maciça (as partículas são unidas entre
si, formando grandes blocos), são comuns aos subsolos pesados encontrados em regiões
úmidas e a água se move muito lentamente, agregados (é um tipo intermediário entre os dois
anteriores) dentro dos blocos, as partículas são unidas de forma mais ou menos estável entre
si.

80
Solos argilosos ou de textura fina possuem teores elevados de argila coloidal, sendo
plásticos e coesos quando úmidos, tornando-se duros, com formação de torrões, quando secos.
Os solos arenosos são friáveis, desagregáveis, de boa drenagem, aeração adequada e
aração fácil, porém tem baixas capacidades de retenção e condução de água e nutrientes.
A compactação do solo está diretamente ligada à estrutura. Como o solo é um
material poroso, por compressão, a mesma massa de material sólido pode ocupar um volume
menor. Isto afeta a sua estrutura, o arranjo de poros, o volume de poros e as características de
retenção de água.

3) Peso específico do solo


O peso específico das partículas (ou peso específico real) do solo está em torno de
2,60 a 2,75 g.cm-3. Isto porque o quartzo, o feldspato e os silicatos coloidais compõem a
maior parte dos solos minerais. Matematicamente, o peso específico real ou das partículas (r)
pode ser representado por:

ms
r 
Vs
(1)

onde ms é o peso das partículas sólidas do solo e Vs é o volume das partículas sólidas do solo.
O conhecimento do peso específico real é importante para os cálculos da velocidade de
sedimentação das partículas para efeito de determinação da densidade das suspensões na análise
mecânica; do teor de umidade do solo, através do método de pesagens.

O peso específico total ou aparente do solo (a) é representado pela relação entre o peso
das partículas sólidas (ms) e o volume total do solo seco (Vt). nesse caso, consideram-se os espaços
porosos (Vp).
ms m
a   s
V s  V p Vt

(2)

81
Logo, quanto mais estruturado e maior o teor de matéria orgânica do solo menor será seu
peso específico aparente, que varia de 0,9 a 1,8 g.cm-3. Os solos arenosos, que são menos porosos e
mais pobres em matéria orgânica, são mais densos que os argilosos. O peso específico aparente é
afetado pela estrutura, grau de compactação e pelas características de contração e expansão do solo
que, por sua vez, são controladas pelo teor de umidade.
Em agronomia, o peso específico aparente é importante, entre outros objetivos, para a
determinação da quantidade de água e aplicar no solo projetos de irrigação.

4) Porosidade do solo
O volume total de poros do solo (Vp) se chama de espaço poroso. O tamanho, a
forma e as combinações dos poros variam consideravelmente, pois são resultados de
partículas enormemente variáveis em tamanho, forma e características superficiais.
O volume total (Vt) é igual ao volume de partículas (Vs) adicionado do número de
vazios (Vp), logo:

% Vp = 100 - % Vs
(3)

a
logo, % Vp = 100 - Vt
r

a
Vp  1
r
(4)

Os valores de Vp variam de 0,3 a 0,6. Solos de textura grosseira são menos porosos
que os de textura fina, sendo neste, a porosidade bastante variável, devido à estruturação,
contrariamente aos arenosos, que são mais estáveis, embora possuam poros individuais
maiores.
A profundidade do solo é negativamente correlacionada com os espaços porosos. O
cultivo e as culturas afetam o espaço poroso. Quanto maior a porosidade, maior a capacidade

82
do solo em armazenar água, daí os solos de textura fina terem maior capacidade de retenção e
disponibilidade de água às plantas do que os de textura grosseira.

5) Umidade do solo
A Umidade do solo pode ser expressa de duas maneiras:

a) em relação à massa de sólidos, geralmente chamada de “base em peso seco” (a).


Considera-se o solo seco, quando colocado em estufa a 105/110º C, até peso constante. O
valor do teor de umidade a pode variar de 0 a 60 %, dependendo do peso específico
aparente. Matematicamente pode expressá-lo como:
mw
a%  100
ms
(5)

ou seja, a% é a relação entre o peso de água (mw) e o peso de sólidos do solo (ms).

b) a umidade pode ser expressa com base em volume, ou teor volumétrico de água () e
baseado no volume total do solo. Pode ser representada por:

Vw Vw
 
Vt V s  V p

(6)
O uso de  torna-se mais adequado que a, no caso de computação9 de quantidades
de água adicionadas ao solo por irrigação ou chuva e retiradas por drenagem ou
evapotranspiração.

6) Ar do solo
O ar do solo é fonte de oxigênio para as raízes das plantas e para os microrganismos
aeróbicos. O ar encontra-se me três condições: livre, ocupando os solos livres de água;
adsorvido, concentrado na superfície das partículas e dissolvido na água do solo.

83
A composição do ar do solo não é constante, dependendo de sua quantidade e
mobilidade, dos processos bioquímicos e outros, diferindo marcadamente do ar atmosférico,
por exemplo, o ar atmosférico tem 0,03 % de CO2 e o do solo tem 0,2 a 1%, em média na
camada superficial; o ar do solo não é contínuo, variando em composição de um local para
outro; tem teor de umidade mais elevado que o ar atmosférico, aproximando-se, geralmente
dos 100 % de umidade relativa,; o teor de oxigênio do ar atmosférico é cerca de 20 % e do
solo pode atingir 10 a 12 %.
A composição do ar do solo altera-se constantemente com as mudanças da atmosfera
em conexão às flutuações diárias de temperatura, velocidade do vento, infiltração de água, etc.
As relações solo-água afetam a composição do ar do solo, devido à constante
movimentação de água e, em solos de textura fina, poderá haver aeração deficiente; à medida
que o teor de água do solo decresce, há aumento do volume de ar e maior razão de troca entre
o ar do solo e as raízes, pois há diminuição na espessura do filme de água através da qual a
difusão ocorre.
Há plantas adaptadas ao déficit de ar, como o arroz, que possui grandes espaços
porosos internos. Outras adaptações que ocorrem são os sistemas de raízes rasos e a
respiração anaeróbica.

5.2 Movimentação da água no solo


A entrada de água no solo, proveniente de chuva , irrigação ou inundação é
governada pela taxa de infiltração ou taxa de percolação. Se a água chega sobre a superfície
do solo a uma taxa que excede a taxa de infiltração máxima, isso resulta em escoamento,
danos para a estrutura do solo, redução na taxa de infiltração e conseqüente aumento na taxa
de escoamento. Se a precipitação é na forma de grandes gotas com alta energia cinética, isso
também danifica a estrutura do solo e reduz a taxa de infiltração. Um exemplo extremo é
oferecido pelo estado da superfície do solo sob as copas de arbustos de baixo crescimento,
sujeita a repetidas batidas por gotejamento pesado da folhagem.
Durante o processo de infiltração e após ter cessado, a água continua distribuindo-se
dentro do solo.

84
Quando o fornecimento de água é localizado, como é o caso da irrigação por sulcos,
a infiltração (e redistribuição) dá-se em todas as direções, pois a água sempre procura regiões
de potencial mais negativo (Figura 1).

Figura 1. Irrigação por sulcos ou por gotejamento.

Durante o processo de infiltração, se o solo estiver relativamente seco, existe uma


diferença “visível” entre o solo molhado pela lâmina de água que avança e o solo seco. Este
plano é denominado de frente de molhamento (Figura 2).

Figura 2. Frente de molhamento.

O processo de infiltração ocorre porque a água da chuva ou da irrigação tem


potencial aproximadamente nulo e a água do solo tem potencial negativo, isto é, tanto mais
negativo quanto mais seco é o solo.

85
A água é retida no solo, isto é, em seus poros, devido a fenômenos de capilaridade e
adsorção. A capilaridade está ligada à afinidade entre as partículas sólidas do solo e a água,
havendo a necessidade de interfaces água-ar. Estas interfaces água-ar, chamadas de meniscos,
apresentam uma curvatura que é tanto maior quanto menor for o poro. A curvatura determina
o estado de energia da água e, por isso, diz-se que tanto menor o poro, tanto mais retida se
encontra a água. Assim, para esvaziar um poro grande precisa-se aplicar menos energia do
que para esvaziar um poro pequeno. Como o solo possui uma grande variedade imensa de
poros, em forma e diâmetro, quando se aplica uma dada energia ao solo (através de sucção),
esvaziam-se inicialmente os poros maiores. Aumentando-se a energia aplicada, esvaziam-se
cada vez poros menores.
A capilaridade atua na retenção de água dos solos na faixa úmida, quando os poros se
apresentam razoavelmente cheios de água. Quando um solo se seca, os poros vão se
esvaziando e filmes de água recobrem as partículas sólidas. Nestas condições , o fenômeno
de adsorção passa a dominar a retenção de água. A energia de retenção da água nestas
condições é muito maior ainda e, por isso, grandes quantidades de energia são exigidas para
se retirar esta água do solo.
Muitos fatores afetam a retenção da água em um solo. O principal deles é a textura,
pois ela diretamente determina a área de contato entre as partículas sólidas e a água e
determina as proporções de poros de diferentes tamanhos. A textura refere-se apenas ao
tamanho da partícula e, além do tamanho, também é de grande importância na retenção de
água a qualidade do material, principalmente das argilas. Existem argilas que, devido às suas
características cristalográficas, tem ótimas propriedades de retenção de água, como por
exemplo a montmorilonita, a vermiculita e a ilita. Outras argilas como a caulinita e a gibsita,
já não apresentam boas propriedades de retenção de água. A matéria orgânica também
apresenta boas propriedades de retenção de água, por isso, adições repetidas de esterco ou
matéria orgânica ao solo, podem aumentar suas propriedades de retenção de água.

5.3 Acumulação de sais no solo

A carga salina de uma fonte de água pode ser aumentada por irrigação excessiva de
culturas, com aplicações pesadas de fertilizantes rio acima, por evaporação dos reservatórios,

86
por reciclagem e re-uso de água e por poluição direta de resíduos industriais e depósitos de
materiais, como cinza de combustível pulverizado, escória e resíduos de carvão. Salinidade
em excesso é prejudicial para as culturas por causa da pressão osmótica na água do solo e
também da toxidade dos próprios sais. Além dos íons metálicos comuns, elementos como
boro, arsênico e selênio e os metais pesados podem estar presentes em concentrações tóxicas.
As culturas variam em sua sensibilidade aos elementos tóxicos e os solos variam em
sua habilidade de ocluir ou liberar materiais prejudiciais.
A água, normalmente se move para baixo através do solo, mas sob condições de alta
evaporação existe movimento lento para cima por capilaridade; a evaporação água da superfície do
solo pode então concentrar solutos a tal extensão que a alta pressão osmótica resultante pode
interferir na absorção de água e assim reduzir o crescimento vegetal independentemente de que
quaisquer elementos particulares estejam numa concentração fitotóxica.
Águas moderadamente salinas podem ser usadas para irrigação, contanto que seja
aplicada em excesso, em cada irrigação, de modo que exista drenagem e lixiviação dos sais
prejudiciais fora da zona das raízes. Isso não é uma prática de irrigação válida onde há água
de boa qualidade e disponível.
Em casas de vegetação, a concentração de cloro é mais prejudicial do que a
concentração salina total e onde culturas são regularmente supridas com fertilizante dissolvido
na água de irrigação, fertilizantes livres de cloro são comumente usados. O cloreto prejudica
as plantas enquanto o sódio danifica a estrutura do solo, especialmente de solos com alto teor
de argila, ou limosos e barro-limosos.
A Tabela 2 mostra a tolerância relativa ao íon cloreto, de plantas de diferentes
culturas; por proeminência entre estas estão a beterraba e outras plantas cultivadas, derivadas
de espécies da costa marítima. Concentrações tão baixas quanto 3 mm/l de cloreto (105 ppm
de Cl) na água de irrigação tem prejudicado citrus maduros, frutos com caroço e amêndoas.

Tabela 2. Tolerância de culturas típicas a concentração de íon cloreto no solo à capacidade de


campo.
Concentração de Cloreto Culturas que sofrem 10 % de redução Taxa de sensibilidade

87
(g Cl -/ l) na produção
0,35 morango tulipa feijão trevo
maçã narciso ervilha Muito sensível
ameixa azaléa
framboesa gladíolo cebola milho
0,75 rosa cenoura crista
de galo
alface prado Sensível
rabo-de-
raposa
1,45 Uva crisântemo couve-flor trigo
cravo repolho aveia
clematite batata alfafa
centeio Moderadamente tolerante
beterraba beterraba
vermelha branca

2,50 aspargo manga


espinafre couve Tolerante
cevada

5.4 Armazenamento de água no solo


Os corpos, na natureza, possuem energia em diferentes formas e quantidades.
Considerando-se que a energia cinética da água no solo tem valores baixos, a de retenção
torna-se importante. As propriedades físicas do solo (textura, estrutura, etc) afetam a
capacidade de retenção. Solos de textura mais fina retém água em maior quantidade que os de
textura grosseira. Isto se deve à maior área superficial daqueles. Pode-se demonstrar isto
facilmente: duas provetas com dois solos, diferenciados texturalmente, recebem pequena e
igual quantidade de água; logo se percebe que a velocidade de movimentação é diferente em
ambos e que o argiloso retém aquela mesma quantidade de água num volume de solo menor.

88
Forças de atração bastante elevadas existem entre as partículas do solo e as
moléculas de água e são responsáveis pelo abaixamento da energia potencial da água do solo.
De acordo com Slatyer (1967) existem dois mecanismos principais pelos quais a água é retida
no solo, que são provenientes das interfaces ar-líquido e sólido-líquido. A tensão superficial é
a principal força atuante na interface ar-água e desenvolve interfaces curvas nas proximidades
das partículas (Figura 3). Se o solo não se trincar a partir da saturação enquanto a água estiver
sendo removida, a tensão, atuando nas interfaces curvas, consegue equilibrar-se com as forças
extrativas, constituindo-se no principal mecanismo de retenção da água.
A tensão superficial e a repulsão entre partículas freqüentemente atuam
simultaneamente, desde que a extração de água é geralmente acompanhada por algum
fendilhamento e alguma entrada de ar.

Figura 3. Retenção de água devido às forças desenvolvidas na interface água-


ar.

Solutos osmoticamente ativos abaixam a pressão relativa de vapor d’água do solo,


constituindo-se noutro fator de retenção, porém, não atuam contra uma pressão, a não ser que
a força aplicada o seja através de uma membrana impermeável aos solutos. No caso de raízes,
que são dotadas de camadas de células com diferentes permeabilidades à solução do solo, a
maior ou menor concentração de sais torna-se importante para a disponibilidade de água às
plantas, pois afetam a energia distendida por estas na absorção. Saliente-se que a interface
água-ar funciona como uma membrana semipermeável, portanto, age sobre a evaporação e a
difusão de vapor através do solo.

89
5.4.1 Limite inferior de água disponível (ponto de murchamento permanente)
As forças que retém a água no solo aumentam coma diminuição de umidade (Figura
4). Assim, existe uma sucção total a que a água não mais passará do solo para as raízes; então,
a perda por evaporação excede a entrada, e as folhas murcham. Para muitos solos isto
acontece em aproximadamente 15 bars e a umidade dos solos a 15 bars tem sido comumente
referida como “o ponto de murchamento permanente” (ou “percentagem”). O conceito é
aberto à discussão, porque ele sugere que todas as espécies se comportem similarmente em
diferentes solos.
Uma das espécies que mostra murchamento a diferentes sucções em dois solos é o
girassol, uma planta freqüentemente usada para a determinação biológica do ponto de
murchamento permanente.

Método do girassol para determinar o ponto de murcha permanente.


Girassol é crescida numa amostra de solo de aproximadamente 200 ml, contida numa
lata que não deixa vazar água. Quando se percebe que as raízes preencheram completamente a
amostra inteira, a superfície do solo é selada com uma capa impermeável ou com cera, e a
água não é mais aplicada. A planta é examinada diariamente e, quando se viu que o seu
primeiro par de folhas verdadeiro murchou, a cultura é colocada numa atmosfera saturada
(uma redoma contendo um recipiente com água). Se as folhas não retomam à turgidez, o solo
assume o ponto de murchamento permanente e sua umidade é determinada
gravimetricamente.
Para determinar o ponto de murcha no laboratório, uma amostra de solo é trazida ao
equilíbrio de umidade à 15 bars no aparelho de membrana de pressão e sua umidade
determinada gravimetricamente.
É, portanto, melhor se referir ao limite inferior de água disponível como a
umidade a 15 bars, omitindo-se referência ao comportamento da planta. Entretanto, a
determinação física da umidade de equilíbrio de um solo, à pressão de 15 bars, requer
aparelhos muito mais complicados do que o teste biológico. Resultados do teste biológico
são aceitáveis, contanto que sejam claramente definidos como a condição de umidade a
que uma planta específica, normalmente girassol, murchou e não recobrou a turgidez,
mesmo quando suas folhas foram colocadas numa atmosfera saturada.

90
Figura 4. Curva característica de perda de água, para um solo barro-arenoso e um solo argiloso;
metade da água no barro-arenoso é retida a uma sucção matricial abaixo de 2 bars, mas, no
argiloso, metade da água é retida acima de 4 bars ( hachuriado – água retida a alta sucção;
pontuado – água retida à baixa sucção).

5.4.2 Limite superior de água disponível (capacidade de campo)


O solo saturado se encontra em um estado instável; a água é puxada para baixo pela
gravidade aumentada pela sucção exercida pelas zonas não saturadas inferiores. A ação da
gravidade é constante, mas a ação das zonas não saturadas depende de sua condição de
umidade; quanto mais secas elas são, mais fina é a camada de água ao redor de cada partícula
de solo e, consequentemente, maior a tensão superficial ou sucção. A ação de uma zona não
saturada depende também de sua profundidade vertical abaixo, porque existe uma coluna
contínua de água ligando as partículas de solo e isso origina uma pressão hidrostática negativa

91
simples ou sucção. Quando essa coluna termina em um lençol freático onde existe água livre,
de potencial máximo ou sucção mínima, essa limitação de seu comprimento limita
obviamente a sucção total sobre o solo saturado acima; assim a sucção, a que um solo
saturado drenado livremente é sujeito, depende de muitos fatores. Não é certamente a mesma
para todos os solos e todas as condições.
O efeito desta sucção é drenar água para fora da zona saturada e substituí-la com ar
vindo da atmosfera. A taxa de drenagem depende da condutividade do solo a qual depende da
umidade; quanto mais baixa a umidade, mais fina a camada de água ao redor de cada partícula
do solo e mais altas as forças que lá a retém e lhe impedem o movimento.
Se o lençol freático está a dois metro, a sucção máxima possível é 0,2 bar. Em solos
com água disponível especialmente livre, a sucção correspondente à capacidade de campo é
não mais que 0,1 bar.
A determinação gravimétrica da umidade do solo é feita em amostras retiradas,
quando o solo parece, por observação, estar à capacidade de campo, por exemplo no início da
primavera no Reino Unido. Em outras estações, uma armação de madeira de
aproximadamente 1 metro quadrado e 0,1 metro de altura é colocada sobre o solo e cheia com
água, a qual é permitida percolar no solo. Uma cobertura impermeável evita a evaporação e
depois de 48 horas ou mais, quando a drenagem é considerada estar a uma taxa baixa,
amostras de solo são retiradas para determinação gravimétrica de sua umidade.
A capacidade de campo pode também ser medida no laboratório. As amostras são
trazidas ao equilíbrio de umidade a 0,1 bar sobre a mesa de tensão ou mesa de areia (Figura 5)
ou a 0,33 bar, usando-se o aparelho de membrana de pressão, qualquer que seja considerada
como equivalente à capacidade de campo para o solo particular. A umidade de equilíbrio é
então determinada gravimetricamente.

92
Figura 5. Mesa de tensão de areia. Para montagem, o sorvedouro é cheio com água e primeiro areia
grossa e então areia fina adicionada de maneira que se assentem sob a água; o ar é
removido por manipulação de torneiras. O dispositivo de sucção constante “bebedouro de
galinha” (à esquerda) é abaixado para produzir a tensão necessária que é checada na
superfície de areia pelo tensiômetro horizontal (à direita). As amostras de solo em cilindros
de metal sem fundo são colocadas sobre a superfície de areia para atingirem o equilíbrio de
umidade e então sua umidade é determinada gravimetricamente.

5.4.3 Capacidade de água disponível


A partir das definições de capacidade de campo e ponto de murcha permanente,
segue-se que a diferença entre esses dois parâmetros representa a água que as plantas
podem extrair do solo ou seja, a capacidade de água disponível no solo ou capacidade do
reservatório do solo. Quando o reservatório está cheio, o potencial de água do solo é alto e
a ela está prontamente disponível para a absorção das plantas. À medida que a quantidade
de água do reservatório diminui, a sucção do solo aumenta e a absorção de água pelas

93
raízes se torna crescentemente difícil, até que, no ponto de murcha permanente, a sucção
do solo excede a sucção que pode ser exercida pela planta, e a absorção cessa. Tem sido
mostrado que mesmo além do ponto de murcha permanente, uma quantidade muito
pequena de água continua a entrar na planta, mas esta é insuficiente para suportar o
crescimento.
Na literatura isso é normalmente encontrado expresso na base de volume em
unidades de milímetros de água por cem milímetros de profundidade de solo, ou polegadas de
água por profundidade de um pé. Desse modo,

CAD 
CC  PMP  X DA X Comprimento
100
(7)

onde, CAD - capacidade de água disponível;


CC - capacidade de campo;
PMP - ponto de murchamento permanente;
DA - densidade aparente.

O comprimento pode ser entendido como a profundidade desejada onde se quer


calcular a capacidade de água disponível.

5.5 Energia da água no sistema solo-planta-atmosfera


Depois da umidade, o estado de energia da água é, provavelmente, a característica
mais importante do solo. Energia, em termos bem simples, é capacidade de produzir trabalho.
A energia pode ser cinética, que é aquela que os corpos possuem em virtude de seu
movimento, quantitativamente dada por ½ mv2 , sendo m a massa do corpo com velocidade
v. No solo e na planta, a velocidade da água é relativamente pequena e, por isso, sua energia
cinética é geralmente desprezada com segurança. A energia pode também ser potencial, que é
aquela que um corpo possui em virtude de sua posição em campos de força. Um exemplo de
campo de força é o campo gravitacional. Devido à sua existência constante, todos os corpos
da superfície da Terra são atraídos na direção de seu centro. Isto também acontece com a

94
água no solo. Em decorrência disso, aparece o peso dos corpos, que é uma força igual a mg,
sendo g a aceleração da gravidade. A energia potencial gravitacional é medida pela força
necessária para mover um corpo contra este campo de força gravitacional e é o produto da
força pela distância a que o corpo se moveu (na direção das linhas de força do campo). Se
uma pedra de massa m é elevada de uma altura z1 para uma altura maior z2, é preciso ser feito
trabalho. Este trabalho é mg (z2 - z1) e é energia adquirida pela pedra na nova posição z2. A
pedra, ao voltar de z2 para z1 , libera esta energia mg (z2 – z1). A energia potencial
gravitacional na posição z1 é mgz1 e na posição z2 é mgz2.
A energia gravitacional pode ser tanto positiva como negativa. Esta fato decorre da
escolha da superfície do solo como referência, o que é completamente arbitrário. Se
escolhêssemos como referência o topo do morro, todos os valores seriam negativos e se
escolhêssemos o fundo do poço, todos os valores seriam positivos. Considerando a água no
solo, o campo gravitacional de forças pode ainda afetar o estado de energia da água através
de uma pressão. Assim, por exemplo, a água em um ponto a 2 metros de profundidade em
uma piscina, está submetida a uma pressão hidrostática de uma coluna de água de 2 metros de
altura. Esta pressão é, na verdade, uma energia por volume, que é adicional à energia
gravitacional.
Para definir o estado de energia da água dentro do solo, é necessário considerar
vários campos de força, não só o gravitacional. Trata-se de campos de força que são
responsáveis pelos fenômenos de tensão superficial, capilaridade, adsorção, etc. Estes
fenômenos são o resultado da interação entre as partículas sólidas do solo, organizadas em
dada estrutura (também chamadas de matriz do solo) e a água. Como é difícil separar todos
estes fenômenos para fazer uma análise detalhada, eles todos são considerados em conjunto e
de sua atuação resulta a energia potencial, designada matricial.
Além dos fenômenos matriciais, a presença de solutos na água do solo também afeta
seu estado de energia. Como Os solutos se movem junto com a água, esta energia potencial
chamada de osmótica, geralmente não é importante. Ela é importante na presença de
membranas semipermeáveis, que permitem a passagem da água e não dos solutos.
A energia potencial total da água é a soma de todas as energias acima discutidas. Por
simplicidade, ela é chamada de potencial total e o símbolo mais freqüente é .

95
5.5.1 Diferença de potencial
Se o potencial da água em dado ponto A no solo é (A) e em outro ponto b é (B),
logicamente a diferença de potencial entre A e B é:
 = A - B
(8)

Se A é maior que B,  é positivo, o que significa que a água ao passar de A para
B o faz espontaneamente, liberando a energia . Ela procura espontaneamente o estado B,
mais estável, de menor energia. Se A é menor que B,  é negativo, o que significa que
precisamos dar energia  para a água, para que ela passe de A para B. Por exemplo, em
uma cultura agrícola, em pleno desenvolvimento, se o potencial de água no solo é da ordem
de –1 atm, na planta da ordem de - 5 atm e na atmosfera da ordem de –100 atm, a tendência
natural da água é passar do solo para a planta e da planta para a atmosfera. Desse movimento
resulta o fluxo de evapotranspiração.

5.5.2 Gradiente de potencial


O gradiente é uma grandeza física que mede o sentido no qual um campo
potencial apresenta maior crescimento. Assim, se a diferença de potencial  =  A - B
(onde A é maior que B) for dividida pela distância x entre os pontos A e B, entre os
quais  foi medido, obtemos o gradiente de potencial na direção A e B, ou grad :

grad  (9)
x

As unidades de gradiente potencial podem ser as mais variadas possíveis,


dependendo das unidades de  e de x. Assim, podemos Ter atm/cm; cm H2O/cm, e se
 for medido em pascal e a distância em m, o resultado será o Newton. Lembrando ainda
que  é medido em energia por volume, o gradiente de  sempre será força por unidade
de volume de água. O gradiente potencial é, então, igual à força responsável pelo
movimento da água, porém, de sentido contrário.

5.5.3 Componentes do potencial da água

96
a) Componente gravitacional (g)
Considerando apenas o campo gravitacional, a água tem uma energia potencial
gravitacional, que depende da posição na qual ela se encontra, em relação a um dado plano
referencial. Esta é a componente gravitacional, que tem valor zero no plano de referência,
positiva acima dele e negativa abaixo dele. O plano de referência é o estado padrão para a
gravidade e o plano mais comumente escolhido é a superfície do solo. Desse modo,
mgz
g   dgz (10)
V

onde d – densidade da água (massa por unidade de volume) igual a 1 g.cm-3

b) Componente de pressão (p)


A pressão a qual a água pode estar submetida é, na verdade, energia por volume.
Daí, quanto maior a pressão, maior o estado de energia da água, e esta energia referente à
pressão é denominada de componente de pressão p. A componente de pressão é medida
em relação a uma condição padrão, tomada como sendo a da água submetida à pressão
atmosférica local e, nestas condições, assume-se p = 0.
Imagine um solo inundado, com uma lâmina de 20 cm de água sobre sua
superfície. No ponto A, teremos a pressão atmosférica local e, portanto, p = 0. No ponto
B, além da pressão atmosférica, atua carga hidráulica de 20 cm, que é uma pressão
positiva, acima da atmosférica, que aumenta o estado de energia da água em relação ao
ponto A. Da hidrostática sabemos que a pressão em um ponto situado a uma profundidade
h, em um líquido de densidade d, é dada por:

p = dgh
(11)

Assim, para o ponto B, teremos:


p = (1g.cm-3) (981 cm.s-2) (20 cm) = 19,62 bária, ou 0,019 atm, ou 20 cm H2O ou
1,96 kPa.

97
c) Componente matricial (m)
Esta componente se refere aos estados de energia da água devidos à sua interação
com as partículas sólidas do solo, também chamadas de matrizes do solo. Esta interação se
refere a fenômenos de capilaridade e adsorção e eles conferem à água estados de energia
menores do que o estado da água “livre” à pressão atmosférica e, como para este último é
atribuído o valor zero (estado padrão), a componente matricial m será sempre negativa.
Por isso, muitos autores a denominam de componente de pressão negativa ou mesmo
tensão da água no solo.
Os fenômenos de capilaridade e de adsorção dependem principalmente do arranjo
poroso, distribuição de poros segundo seu diâmetro médio, tensão superficial da água,
afinidade entre a água e as superfícies sólidas, superfície específica do solo, qualidade das
partículas sólidas, etc.
Para um solo saturado, no qual todos os poros estão cheios de água, não existem
meniscos (interfaces água/ar) e a adsorção também é nula. Nestas condições a componente
matricial é nula (m = 0). Com a saída de água, o solo vai se tornando não saturado e o ar
repõe a água inicialmente nos poros maiores. Aparecem meniscos e a capilaridade começa
a atuar. Como conseqüência, a componente matricial torna-se cada vez mais negativa. A
água sempre vai ocupar os poros menores, nos quais a energia é mais negativa. Portanto,
quanto menor , mais negativo m. Na prática, m é medido, não calculado.

d) Componente osmótica (os)


Considerando os íons e outros solutos encontrados na água do solo, a água adquire
uma energia potencial osmótica e esta é a componente os . Observa-se que quanto mais
concentrada a solução, menor o estado de energia da água e, portanto, mais negativo o
valor de os. Uma forma aproximada de calcular a componente osmótica é através da
equação de van’t Hoff:

os = - RTC
(12)

98
onde R é a constante geral dos gases; T é a temperatura absoluta da solução, dada em 0K e
C a concentração de soluto.

e) Potencial total de água ()


O potencial total de água é a soma de todas as componentes e é dado pela
equação:

 = g + p + m + os
(13)

No solo
 No solo saturado e imerso em água

 = g + p
Neste caso, g é importantíssima, p depende do valor da carga hidráulica que
atua sobre o solo, m = 0, pois não há interfaces água/ar e os não é considerado por não
haver membrana semipermeável.

 Solo não saturado


 = g + m

Neste caso, g é de grande importância na faixa úmida e vai perdendo


importância com o decréscimo de umidade. Com este decréscimo da umidade, m vai
ganhando importância até que, para o solo bem seco,  = m. Como não existe água livre
no sistema, p = 0 e os não é considerado por não haver membrana semipermeável.

Passagem da água do solo para as raízes


 Solo inundado (por exemplo: arroz irrigado)

 = g + p + os

99
 Solo não saturado (por exemplo: arroz de sequeiro)

 = g + m + os

Na planta
 Em células de tecido tenro (por exemplo: folha)

 = p + os

Neste caso, p é o turgor celular, uma pressão positiva que aparece em células
túrgidas devido à entrada de água em um volume celular limitado. Em casos extremos, a
turgidez pode arrebentar a célula. Em caso de falta de água, p tende para zero e a planta
entra em murcha. os aparece devido à presença de solutos na água da planta.

 Tecido vegetal fibroso ou lenhoso

 = m + os

Aqui aparece a componente m, porque as fibras de celulose e aglomerados de amido


comportam-se como matriz sólida do solo. Sementes e outros tecidos lenhosos em caules,
raízes e tubérculos podem apresentar valores bem negativos de m. Como os também é
negativo, o valor final de  fica bem negativo. Por isso, sementes são ávidas por água e
absorvem com rapidez, muitas vezes dobrando seu volume.

Na atmosfera
 = p

100
Na atmosfera a água encontra-se na fase de vapor e seu estado é definido pela
pressão parcial de vapor e. g é desprezado, m e os não entram em consideração pelo
fato de se tratar de vapor d’ água “dissolvido” em ar.

5.6 Absorção de água pelas plantas


Ao abordar o solo como um reservatório de água, mostrou-se que apenas parte da
água que um solo pode reter fica disponível para as plantas. Esta parte é comumente aceita
como sendo a água retida entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente.
Mostrou-se também que as forças responsáveis pelo movimento de água no sistema solo-
planta-atmosfera são os gradientes de potenciais gravitacionais, matricial, de pressão e
osmótico, sendo o movimento de água um processo espontâneo à procura de um potencial
(ou estado de energia) mais baixo. A absorção de água não consome, portanto, energia
metabólica da planta . É claro, porém, que a atividade metabólica da planta é responsável
pela composição da água da planta (sais minerais, açúcares, etc) e que esta determina o
potencial osmótico. O que se quer dizer é que no processo de absorção de água do solo
pelas plantas, estas não despendem diretamente energia.
Em plantas que se encontram transpirando água em taxas médias e altas, o
potencial muito negativo da água da atmosfera é o responsável pela grande perda de água
pelas folhas e, em conseqüência, a água líquida nos terminais do xilema na folha assume
potenciais bem negativos. Esta grande diferença de potencial de água entre folhas e o solo
é que causa o grande fluxo de água na planta, isto é, da absorção de água. Esta absorção é
geralmente denominada absorção passiva.
Já em plantas que se encontram a baixas taxas de transpiração, o que acontece em
casos de: (1) atmosfera saturada (ou perto da saturação); (2) pouca energia disponível para
o processo de evaporação; (3) plantas em dormência (sem ou quase sem folhas), a principal
força responsável pelo fluxo de água é o gradiente de potencial osmótico. A água na planta
assume pressão positiva, geralmente denominada pressão de raiz. É o caso da gutação nas
bordaduras das folhas, que acontece pela madrugada, quando praticamente não há
transpiração, e o caso da seiva que escorre de plantas dormentes recém-podadas. Esta
absorção é denominada absorção ativa.

101
5.6.1 Fatores que afetam a absorção d água pelas plantas
São inúmeros os fatores que afetam a absorção de água pelas plantas, sendo que a
importância de cada um é relativa, dependendo de cada caso em particular. Estes fatores,
sem obedecer uma ordem preferencial, são:

A. Referentes à planta:
- extensão e profundidade do sistema radicular
- superfície de permeabilidade radicular
- idade da raiz
- atividade metabólica da planta

B. Referentes à atmosfera
- umidade relativa do ar
- disponibilidade de radiação solar
- vento
- temperatura do ar

C. Referentes ao solo
- umidade do solo
- capacidade de água disponível
- condutividade hidráulica do solo
- temperatura do solo
- aeração do solo
- salinidade da água do solo

A absorção de água por plantas em solo úmido, bem aerado, com temperatura
ideal (25 a 300 C) é principalmente controlada pela taxa de transpiração. Em condições de
campo, a absorção de água é freqüentemente limitada pela extensão (e profundidade) e
eficiência dos sistemas radiculares, pelo decréscimo da umidade do solo, pelo aumento da
concentração salina da água do solo, por temperatura baixa (tanto do solo como do ar) e
por aeração deficiente.

102
Os fatores do solo atuam variando o gradiente de potencial total da água e a
condutividade hidráulica, determinando, desta forma, o fluxo de água no solo (ou do solo
para as raízes)
O aumento da concentração salina da água do solo diminui o gradiente de
potencial entre o solo e a raiz, reduz o crescimento radicular, reduz a permeabilidade
radicular e sua acumulação no tecido vegetal inibe processos metabólicos.

103
Unidade 6: VENTO
6.1 Introdução
A camada superficial estende-se desde o solo até 50 ou 100 metros de altura e é
dominada por forte mistura ou movimentos turbulentos. A estrutura do vento, nesta camada, é
principalmente determinada pela natureza da superfície subjacente e pelo gradiente vertical de
temperatura do ar. Os efeitos da rotação da Terra, a força de Coriolis, é pequena e pode ser
negligenciada quando os efeitos do atrito da superfície dominam.
Na camada superficial, a camada de maior interesse em Micrometeorologia, o
movimento do ar é altamente irregular e é caracterizado por flutuações, vórtices ou turbilhões.
Pequenas flutuações associadas com altas freqüências são principalmente devido a turbulência
mecânica gerada pelos efeitos do atrito com a superfície. Grandes flutuações associadas com
baixas freqüências são resultantes da turbulência térmica gerada devido aos efeitos da
flutuação.

6.2 Perfil da velocidade do vento próximo ao solo


O conhecimento da forma do perfil do vento (variação da velocidade do vento
com a altura) é necessário, pelo menos, por duas razões. Da descrição do perfil, é possível
estimar a efetividade dos processos de troca vertical. Com o conhecimento da velocidade do
vento, num nível fixo ou de referência, é também possível estimar a velocidade do vento em
outros níveis para várias aplicações.
A forma típica do perfil do vento médio, sob condições de estabilidade
atmosférica neutra, sobre um local relativamente liso e aberto, pode ser descrita como uma
função logarítmica da elevação,
u z
U z   ln
k zo
(1)

onde U(z) é a velocidade média do vento para a altura z; k é a constante de von Karman
(valor em torno de 0,4); u* é a velocidade de atrito e zo é o comprimento de rugosidade.
A superfície é considerada “rugosa” se ela é coberta com protuberâncias,
normalmente referenciada como elementos de rugosidade. Para perfis da velocidade média do

104
vento sobre superfícies rugosas, como por exemplo dosséis, o deslocamento do plano zero d é
introduzido e a equação (1) transforma-se em,
u z  d
U z   ln
k zo
(2)

A velocidade de atrito u* é dada por,

1/ 2
  
u    
 a 
(3)

onde  é a tensão de cizalhamento, a é a densidade do ar e u* representa a velocidade


característica do fluxo e diz respeito a efetividade da troca turbulenta sobre a superfície.
O comprimento de rugosidade ou parâmetro de rugosidade zo é uma medida da
rugosidade aerodinâmica da superfície sobre a qual o perfil da velocidade do vento está sendo
medido. zo é determinado pelas medidas extrapolantes de U(z) e ln z para o ponto onde U = 0.
No caso de cultivos e outras superfícies rugosas ln z é substituído por ln (z - d).
O parâmetro de rugosidade para cultivos está em torno de um ordem de
grandeza muito menor do que a altura do cultivo.
O deslocamento do plano zero, d, pode ser considerado como indicativo para
o nível médio no qual o momentum é absorvido pelos elementos individuais da comunidade
de plantas, que é, o nível de ação do arrasto do volume aerodinâmico da comunidade vegetal.
Em geral, d/h está no intervalo entre 0,5 e 0,8.
Por erros e tentativas, pode-se encontrar o valor de d, tal que a plotagem de U
(em escala linear) versus (z – d) (na escala logarítimica) torna-se uma linha reta. A interseção
do eixo (z – d) dá zo e o declive da linha reta é u* / k.
As razões d/h e zo/h depende do espaçamento dos elementos de rugosidade e da
razão de área acumulada de cada elemento por unidade de área da superfície subjacente. O
problema da estimativa precisa de zo e d é aumentado devido ao fato de que os cultivos,
baixos ou altos, ajusta-se à força mecânica do vento. Algumas vezes ocorre o encurvamento,

105
como em cereais. Alguns cultivos tornam-se “projetados em forma aerodinâmica” devido a
força do vento.
Com o conhecimento de zo e d, o perfil completo do vento acima do dossel
pode ser obtido do valor de U num nível fixo ou de referência,
U 2 ln  z 2  d   ln z o

U 1 ln  z1  d   ln z o
(4)

onde U1 e U2 são as velocidades médias para as elevações z1 e z2 , respectivamente (z1 pode


ser considerado o nível de referência). É importante notar que a validade das equações do
perfil logarítimico do vento, equações (1) e (2), está sujeito a duas considerações importantes:
(1) a existência de estabilidade atmosférica neutra;
(2) d disponibilidade de ‘fetch” adequado.
6.2.1 Camada limite interna e fetch adequado
Cada campo ou característica da superfície ao variar a rugosidade ou altura das
protuberâncias, afeta o fluxo de ar que passa sobre ele. O movimento do vento após sofrer a
mudança da rugosidade da superfície começa a se ajustar às novas condições da superfície
limite (Figura 1). A camada de ar, afetada pela nova superfície subjacente, é chamada de
camada limite interna. A espessura , da camada limite interna aumenta com o fetch ou
distância da borda, na direção do vento.

Figura 1. Desenvolvimento de uma camada limite interna quando o fluxo de ar passa de uma superfície lisa para uma rugosa, coberta
por vegetação.

Experimentos em túneis de vento e outros estudos micrometeorológicos


sugerem que somente os 10 % mais baixos da camada limite interna é totalmente ajustada,

106
isto é, fica em completo equilíbrio com as novas condições limites. A espessura desta camada
totalmente ajustada, , medida acima do deslocamento do plano zero, pode ser obtida de
acordo com Munro e Oke (1975) por,
 1  x   0,1x 4 / 5 z 1o / 5
(5)

onde x é a distância da borda, na direção do vento e zo é o comprimento de rugosidade da


nova superfície subjacente.

6.2.2 Velocidade do vento dentro do dossel vegetativo


São muitas as dificuldades envolvidas na descrição precisa do perfil da velocidade
do vento médio. A velocidade do vento dentro do dossel é ainda difícil de ser estabelecida.
Um bom exemplo da complexidade da estrutura do vento no dossel pode ser
visualizada na Figura 2, a qual mostra a forma de um perfil típico do vento. Campbell (1977)
considerou que o regime do fluxo dentro do dossel é dividido em 3 camadas.
1. O topo da camada (d<z<h) é a camada que exerce muito arrasto no vento acima do
cultivo. O vento nesta camada diminui exponencialmente com a distância abaixo do topo
do dossel e tem a mesma direção do vento médio acima do dossel.
2. A segunda camada (em torno de 0,1 h<z<d) está compreendida desde os galhos até a base
do cultivo. Lá, o vento pode não ter relação nem com a velocidade nem com a direção do
vento acima do dossel.

107
3. O perfil do vento na terceira camada (z>0,1 h) é idêntica àquela acima do dossel. O perfil
nesta camada é influenciado pelas rugosidades da superfície do solo ao invés das

rugosidades do cultivo.
Figura 2. Velocidade do vento acima e dentro de uma plantação. Allen,1968)

6.3 Quebra-ventos
O ambiente onde as plantas crescem nem sempre é o ideal ou ótimo para a
produtividade. Os agricultores ou horticultores, nos tempos primitivos, já tentavam encontrar
alguma forma de proteger suas planta da adversidade do ambiente natural.
Os problemas resultantes da velocidade do vento tem sido da maior
importância na determinação das características agrícolas em muitas regiões do mundo
Os quebra-ventos são também usados para outros objetivos mais específicos. O
consumo de calor em casas de vegetação é reduzido com quebra-ventos.
Pode-se observar que animais pastando procuram abrigar-se dos fortes ventos.
Isto é em resposta ao desconforto físico causado pelo resfriamento provocado pelo frio, pelo

108
ressecamento devido aos ventos quentes, ou simplesmente pela pressão mecânica sobre o
animal.
As plantas, também estão sujeitas ao prejuízo causado pelo resfriamento
excessivo, altas temperaturas, ressecamento e injúria mecânica.
Quebra-ventos (qualquer estrutura que reduz a velocidade do vento) e faixa ou
cinturão protetor (filas de árvores plantadas para proteção do vento) podem, por reduzir estes
estresses, ser profundamente benéficos ao crescimento de plantas.
Torna-se evidente que as árvores da faixa protetora compete com os cultivos
adjacentes nos nutrientes do solo e na água e que, os cinturões verdes podem sombrear os
cultivos próximos, o suficiente para reduzir sua produção.

6.3.1 Relações entre quebra-vento, conservação de umidade, crescimento de planta e


produção
Acredita-se que a maior influência dos quebra-ventos no crescimento das plantas,
particularmente sob condições de secas, é devido a re-distribuição e conservação de água no
solo. Nas altas latitudes o quebra-vento pode, se adequadamente planejado, ajudar a
uniformemente distribuir água e assim melhorando o suprimento de umidade do solo para os
cultivos. Por reduzir a velocidade do vento, a evaporação direta da umidade do solo também é
reduzida.
Atmômetros, tanques de evaporação e solo umedecido em recipiente isolado,
algumas vezes são usados para estudar a influência do quebra-vento na evaporação do solo.
Esses métodos e técnicas medem o potencial de evaporação que ocorre com a disponibilidade
irrestrita de água da superfície evaporante. Os resultados previstos são: menos vento, menos
evaporação.
Uma taxa de evaporação muito baixa, de um solo protegido, pode gerar uma
importante vantagem na manutenção de melhores condições para germinação de sementes. O
efeito do quebra-vento na evapotranspiração real é mais difícil de prever. Por exemplo,
sementes que germinam rapidamente, por causa do efeito benéfico do quebra-vento, geram
grandes plantas e ramificação de raízes mais rápida.
O aumento da área foliar diminui a importância relativa do quebra-vento na
evaporação direta do solo. Considerando que a transpiração é uma função somente da área

109
foliar, a água no solo numa área protegida do vento, poderia ser esgotada mais rapidamente e
a taxa de evaporação diminuiria em poucos dias. Isto pode conduzir a um desenvolvimento
mais rápido do estresse de umidade do solo, na área abrigada do vento. Assim, é possível
comparar o desenvolvimento de plantas protegidas contra o vento, com aquelas não
protegidas.
A proporção relativa da água transpirada com relação a evaporada deve
também aumentar. Tem sido discutido se há aumento da produção de matéria seca ou
produção da safra quando ocorre o aumento entre a razão de água transpirada e água
evaporada..

6.3.2 Velocidade do vento e turbulência nas áreas abrigadas do vento


O objetivo do quebra-vento é reduzir a força do vento na região protegida do
vento. Modelos do fluxo do vento em torno das barreiras são muito complexos e difíceis de
serem definidos com precisão. Plate (1971) distinguiu várias zonas, com diferentes
comportamentos aerodinâmicos na direção e contra o vento, de uma barreira em forma de
cunha.
Quebra-ventos variam na efetividade, dependendo de suas alturas, porosidade e
comprimento. Quebra-vento mais alto, maior será a distância da descida do vento, assim
como a subida do vento. O comprimento da zona protegida é normalmente descrita em termos
da variável h, altura da barreira.
Como mostrado na Figura 3, uma densa barreira pode proteger uma área em
torno de 10 - 15 h na direção do vento. Aumentando a porosidade, em cerca de 50 %, a
distância, na direção do vento, pode ser aumentada para 20 – 25 h (Figura 4). Este aumento da
porosidade permite a passagem do vento e previne o retorno turbulento do ar que tenha
ultrapassado a barreira.
Maior o quebra-vento, mais constante é a sua influência. Se a barreira é muito
baixa ou se tem grandes fendas nela, os efeitos dos esguichos do vento podem realmente
aumentar, mais do que reduzir a velocidade do vento e, consequentemente, o dano às plantas
será maior próximo às fendas. A efetividade do quebra-vento é também influenciada pela
estabilidade térmica: ar mais instável, maior a distância protegida na direção do vento.

110
Para reduzir melhor a velocidade do vento e tornar maior a influência na
direção do vento, o quebra-vento deve ser mais poroso próximo ao solo, onde a velocidade é
mais baixa. A densidade da barreira deve aumentar logaritimicamente com a altura, de acordo
com o perfil da velocidade do vento.
A redução da velocidade do vento e a redução da turbulência, por um quebra-
vento, não são relacionadas. Brown e Rosemberg (1971) descreveram modelos da velocidade
do vento e o grau da mistura turbulenta que ocorre na área abrigada.

111
Figura 3. Influência de um quebra-vento denso na razão da velocidade do vento no quebra-
vento (Us) e no campo aberto (U) (Eimern et al 1964).

Figura 4. Influência de um quebra-vento permeável na razão da velocidade do vento no


quebra-vento (Us) e no campo aberto (U) (Eimern et al 1964).
6.3.3 Microclima próximo ao quebra-vento
As mudanças na velocidade do vento e na turbulência que ocorrem como
resultado do quebra-vento, deve afetar o microclima da região abrigada.

1. Balanço de radiação
A radiação solar global (Rg) e o saldo de radiação pode ser significantemente
reduzido nas áreas sombreadas por quebra-ventos. Este efeito não tem sido considerado como
importante nos sistemas de quebra-ventos orientados na direção norte-sul, uma vez que
somente pequenas áreas são sombreadas durante o dia, especialmente durante a estação de
crescimento, quando o sol está alto. Em determinadas horas do dia, a diferença no balanço de
radiação entre as áreas próximas e distantes da barreira pode ser totalmente negligenciada. Na
área leste do quebra-vento o sombreamento ocorre pela manhã, durante a tarde, o quebra-
vento refletirá alguma radiação.

112
Quebra-vento orientado na direção leste-oeste, por outro lado, pode ter um
efeito maior devido ao sombreamento. Áreas voltadas para o sul, principalmente durante as
estações em que o sol está mais baixo, será sombreada por longos períodos. Áreas voltadas
para o norte estarão sujeitas à reflexão do quebra-vento do começo ao fim do dia. O
sombreamento depende, certamente, da altura da barreira, da latitude, da estação e hora do
dia.

2. Temperatura do ar e umidade
É observado nos dias com céu claro que a temperatura do ar, durante o dia, é
maior próximo ao quebra-vento do que no campo aberto. Isto é devido, aparentemente, a
redução da mistura turbulenta e a consequente redução da remoção de calor sensível gerado
pela planta e pela superfície do solo. Se a evaporação é também suprimida, próximo ao
quebra-vento, a energia fica disponível para a geração de calor sensível. Quando a mistura
turbulenta é reduzida, a resistência aérea ra aumenta e o gradiente de temperatura é
intensificado.
Inversões de temperatura normalmente se desenvolvem à noite tanto no
quebra-vento, quanto na área protegida; então a planta e a superfície do solo tornam-se um
sumidouro, muito mais do que uma fonte de calor sensível. O vento mistura a camada de
inversão noturna. A redução do vento e a efetividade da mistura turbulenta, no quebra-vento,
significa que a inversão de temperatura será mais intensa próximo a ele. A não ser que
prevaleça uma calma total, o ar será mais frio à noite no quebra-vento do que no campo
aberto.
Kaminski (1968) notou que a incidência de geadas na Polônia, foi reduzida
próximo ao quebra-vento, em ambos os lados. Entre 4 e 16 horas, a incidência de geada
aumentava. O pesquisador não deu nenhuma explicação sobre este fato. A redução do
resfriamento próximo ao quebra-vento poder ter sido devido a troca radiativa com as árvores.
Possivelmente, o conteúdo de vapor d’água naquela região pode ter reduzido a taxa de
resfriamento radiativo.
Os gradientes de umidade e de vapor d’água também aumentaram no área
abrigada. O vapor d’água evaporado e transpirado não é totalmente transportado para longe
da fonte, ou seja da superfície evaporante, diferente do que ocorre no campo aberto. A pressão

113
de vapor permanece mais alta na área abrigada, por toda a noite, exceto durante períodos de
deposição de orvalho. Foi observado que tais gradientes de temperatura e pressão de vapor
são intensificados sob diferentes condições climáticas, com vários tipos de barreiras
vegetativas e não vegetativas, usadas para proteger diferentes tipos de cultivos.
Além do aumento de temperatura, a umidade relativa é geralmente maior
durante o dia, na área abrigada. A diferença na umidade relativa entre a área protegida e não
protegida, é maior à noite por causa da baixa temperatura do ar próximo ao abrigo.
É importante reconhecer que as diferenças microclimáticas que se
desenvolvem próximo ao abrigo, variam com a distância a partir do quebra-vento, com as
condições do tempo e com a hora do dia.

6.4 Efeito do vento no crescimento das plantas


O vento afeta o crescimento das plantas sob três aspectos: transpiração,
absorção de CO2 e efeito mecânico sobre as folhas e ramos.
Experimentos controlados comprovam que a transpiração aumenta com a
velocidade do vento até um certo ponto, além do qual não se verificam modificações
significativas. O exato relacionamento entre o vento e a transpiração, entretanto, varia
grandemente com as espécies.
Em condições naturais, o efeito do vento sobre a transpiração pode variar de
acordo com a rugosidade, que é determinada pela superfície exposta. Geralmente o efeito é
maior em plantas altas e isoladas, diminuindo quando as plantas estão abrigadas umas pelas
outras e a superfície exposta é contínua e lisa.
O efeito do vento sobre a transpiração pode também variar com a temperatura e
a umidade do ar que incide sobre as plantas, podendo atingir cerca de 6 % da perda total de
água de uma cultura anual, porém com valores maiores, sob condições áridas, provocando
rápido secamento das plantas.
A fotossíntese aumenta com o suprimento de CO2 , que por sua vez é
favorecido pela turbulência.
Altas velocidades são prejudiciais ao crescimento das plantas. A configuração
peculiar das árvores no litoral ou nas áreas montanhosas é conhecida. Folhas danificadas pelo
vento tem reduzida a sua capacidade de translocação e fotossíntese.

114
Em 1963, Hart, estudando cana-de-açúcar concluiu que:
 Quando somente a nervura central de uma folha foi quebrada, permanecendo o limbo
ileso, a translocação foi inibida em 34 a 38 %; a fotossíntese, medida com analisador
infravermelho, foi diminuída em 30 %.
 Quando porém, foram quebrados a nervura central e o limbo, a translocação foi reduzida
em 99 % a 100 % e a fotossíntese, acima da região quebrada, foi reduzida em 84 %. A
translocação foi medida 6 horas após a quebra da nervura e a fotossíntese no dia seguinte.
Determinações de umidade nas folhas mostraram que a inibição da fotossíntese
não foi devido a perda de água. Uma vez que as plantas não reagem da mesma maneira aos
ventos fortes, Whitehead (1957), classificou-as em três grupos:

a) as que escapam à ação do vento


São plantas comumente pequenas, cuja parte aérea não cresce acima de uma camada de
ar relativamente fina, próxima ao solo e, sendo assim, são menos afetadas pelos ventos fortes.

b) as que toleram os ventos


Plantas deste grupo (por exemplo, cevada) apresentaram uma marcada diminuição
da produção de matéria seca com o aumento da velocidade do vento, porém em menor
proporção do que as plantas do grupo a seguir.

c) as sensíveis ao vento
Plantas destas espécies são afetadas pelos ventos fortes de tal maneira que não
podem sobreviver. Tanto a altura da planta como a produção de matéria seca decresceram
rapidamente com o incremento da velocidade do vento.
Plantas que tenham crescido em condições de ventos fortes por um longo
período, podem desenvolver certas características fisiológicas, por exemplo, maior proporção
de raiz em comparação com a parte aérea, maior largura e espessura das folhas, etc.

115
Unidade 7: EVAPOTRANSPIRAÇÃO
7.1 Definições

a) Evaporação
É o fenômeno pelo qual uma substância passa da fase líquida para a fase gasosa
(vapor). A evaporação ocorre tanto numa massa contínua (mar, lago, rio, poça) como numa
superfície úmida (planta, solo). É um fenômeno que exige o suprimento de energia externa
sendo, portanto, um processo que utiliza essa energia externa ao sistema e a transforma em
calor latente.

b) Poder evaporante do ar
A atmosfera está em contínuo movimento, misturando e renovando o ar que
envolve uma superfície, seja esta coberta de água ou vegetação. Esta renovação dificulta que
o ar imediatamente acima da superfície se satura, mantendo o déficit de saturação e, por
conseqüência, a continuidade do processo evaporativo. Portanto, a movimentação atmosférica
mantém um poder evaporante, isto é, a capacidade de secamento da superfície. Esse
fenômeno é notado quando se estende roupa no varal e esta seca mesmo não havendo
incidência direta dos raios solares, apenas pelo efeito do vento.
Matematicamente, o poder evaporante do ar (Ea) é representado pela expressão

Ea = f(u) e (1)

Em que f(u) representa uma função empírica da velocidade do vento (u). O déficit de
saturação ( e = es - ea) aumenta exponencialmente com a temperatura devido à relação entre
es e T. Em condições meteorológicas normais o poder evaporante do ar aumenta durante o dia.
A função f(u) descreve uma relação positiva, geralmente linear, com a velocidade do vento.

c) Transpiração
Transpiração é a evaporação da água que foi utilizada nos diversos processos
metabólicos necessários ao crescimento e desenvolvimento das plantas. Essa evaporação se dá
através dos estômatos que são estruturas microscópicas (<50 µm) que ocorrem nas folhas (de

116
5 a 200 estômatos/mm2) e que permitem a comunicação entre a parte interna da planta e a
atmosfera. Através dos estômatos fluem gás carbônico, oxigênio e vapor d'água e que, na
maioria das plantas, permanecem abertos durante o dia fechados durante a noite e nas
condições de acentuado estresse hídrico. Estresse hídrico ocorre em duas situações:

1) quando o solo não contém água disponível às plantas;


2) quando o solo contém água disponível mas a planta não é capaz de absorvê-la em
velocidade e quantidade suficiente para atender à demanda atmosférica (poder evaporante
do ar).

A demanda atmosférica é elevada quando e é grande e quando a velocidade do


vento também é grande. Nesse caso, es é dado pela temperatura da folha, e existe uma
diferença de pressão parcial de vapor d'água entre a folha e o ar circundante. A transpiração
evita que as folhas sofram superaquecimento pela incidência direta da radiação solar, pois
parte da energia absorvida é utilizada na evaporação. No caso de deficiência hídrica, essa
energia não é dissipada havendo aumento da temperatura da folha com conseqüente
acréscimo em e , daí a necessidade da planta controlar a perda d'água fechando os estômatos
para evitar secamento e morte da folha.

7.2 Efeito da advecção


Suponha uma extensa área vegetada, sem restrição de umidade no solo e
circundada por uma outra área seca (Figura 1). Sob as mesmas condições meteorológicas as
duas áreas apresentam balanço de energia distintos. Na área seca, a evapotranspiração é
limitada pelo solo e grande parte da radiação solar disponível é usada para aquecer o solo e o
ar (calor sensível). Na área vegetada a maior parte da energia é utilizada na evapotranspiração
resultando em menor aquecimento do ar. Essa situação induz o aparecimento de um gradiente
térmico entre as duas áreas. Havendo deslocamento do ar (vento)da área seca para a vegetada,
haverá transporte horizontal de calor sensível para a área úmida.

117
Figura 1. Efeito da advecção sobre a evapotranspiração. (Pereira et al, 1997)

Na condição suposta anteriormente, o balanço de energia vertical da superfície


vegetada é aumentado pela contribuição lateral de calor sensível da área seca adjacente. À
medida que o ar seco se desloca sobre a superfície vegetada ele vai umedecendo e resfriando,
pois há transferência de calor do ar para a superfície. Evidentemente, a contribuição lateral de
energia é maior na interface e decresce com a distância a sotavento. Na transição (área seca e
área úmida) ocorre o efeito varal, onde a evapotranspiração aumenta exageradamente. Dentro
da área úmida, à medida que se caminha na direção dos ventos predominantes, a
evapotranspiração diminui acentuadamente até um valor limite inferior que é resultante
apenas do balanço vertical local de energia. Denomina-se área tampão (área fetch, buffer
ou bordadura) à distância entre a região de transição e o ponto onde a evapotranspiração se
torna mínima (potencial). O tamanho da área tampão depende do clima da região e do porte
da vegetação. Vegetação mais alta e mais rugosa (arbustos e árvores) necessita de maior área
tampão.

7.3 Evapo(transpi)ração
Numa superfície vegetada ocorrem simultaneamente os processos de evaporação e
transpiração. Evapotranspiração é o termo que foi utilizado por Thornthwaite, no início da

118
década de 40, para expressar essa ocorrência simultânea. Anteriormente, utilizava-se o termo
uso consuntivo (Jensen, 1973), mas este considera a água retida na planta.
A evapotranspiração é controlada pela disponibilidade de energia, pela demanda
atmosférica e pelo suprimento de água do solo às plantas. A disponibilidade de energia
depende do local e da época do ano. O local é caracterizado pelas coordenadas geográficas
(latitude e altitude) e pela topografia da região. A latitude determina o total diário de radiação
solar potencialmente passivo de ser utilizado no processo evaporativo.
Quanto mais seco estiver o ar, maior será a demanda atmosférica. No entanto
existe interrelação entre a demanda pelo ar e o suprimento de água pelo solo. Resultados
experimentais de Denmead & Shaw (1962) mostram que o solo é um reservatório ativo que,
dentro de certos limites, controla a taxa de perda de água pelas plantas. Observa-se pela
Figura 2 que:
1) se a demanda atmosférica for baixa (tanque Classe A < 5 mm/d, curva A), a planta
consegue extrair água do solo até níveis bem baixo de água disponível
2) se a demanda for alta (curva C, >7,5 mm/d), mesmo com bastante umidade no solo, a
planta não consegue extraí-la numa taxa compatível com as necessidades, resultando em
fechamento temporário dos estômatos para evitar o secamento das folhas. Portanto, há

interrelação entre disponibilidade de radiação solar, demanda atmosférica e suprimento de


água pelo solo.

119
Figura 2. Relação entre evapotranspiração relativa (%) e água disponível no solo (%)
Adaptado de DENMEAD & SHAW (1962).

7.3.1 Evapotranspiração potencial


O conceito de evapotranspiração potencial (EP) foi introduzido por
Thornthwaite e aperfeiçoado em diversas oportunidades. EP corresponde à água utilizada por
uma extensa superfície vegetada, em crescimento ativo e cobrindo totalmente o terreno,
estando este em bem suprido de umidade, ou seja, em nenhum instante a demanda atmosférica
é restringida por falta de água no solo. Para Penman (1956), a vegetação deve ser baixa e de
altura uniforma. A grama foi prontamente tomada como padrão pois esta é a cobertura
utilizada nos postos meteorológicos. Assim definida a EP é um elemento climatológico
fundamental, que corresponde ao processo oposto da chuva (Thornthwaite, 1946) sendo
expressa na mesma unidade de medida (mm). A comparação entre chuva e a EP resulta no
balanço hídrico climatológico, indicando excessos e deficiências de umidade ao longo do ano
ou da estação de crescimento das culturas.
Condições realmente potenciais ocorrem 1 a 2 dias após uma chuva generalizada,
onde toda a região está umedecida e as contribuições advectivas são minimizadas,
independente do tamanho da área vegetada. Essa condição não ocorre em regiões áridas e
semi-áridas, e também nos meses de estiagem em regiões com chuvas sazonais.

7.3.2 Evapotranspiração real


Evapotranspiração real (ER) é aquela que ocorre numa superfície vegetada,
independente de sua área, de seu porte e das condições de umidade do solo. Portanto, ER é
aquela que ocorre em qualquer circunstância, sem imposição de qualquer condição de
contorno. Logo, ER pode assumir tanto valor potencial como o de oásis, ou outro qualquer. A
ER pode ser limitada tanto pela disponibilidade de radiação solar como pelo suprimento de
umidade pelo solo.

7.3.3 Evapotranspiração de oásis

120
O oásis é uma região vegetada em meio a um grande deserto, ou seja, é uma
pequena área com umidade disponível circundada por extensa área seca. No caso da
evapotranspiração, define-se a condição de oásis quando:
a) uma pequena área irrigada está rodeada por área seca;
b) a área tampão não é suficiente para eliminar os efeitos advectivos do calor
sensível.
A evapotranspiração, nessas condições, representa um valor exagerado pela
advecção de calor sensível e Villa Nova & Reichardt (1989) a denominaram de
evapotranspiração máxima (ETm).

7.3.4 Evapotranspiração da cultura e coeficiente de cultura


Desde o plantio até a colheita, uma cultura vai progressivamente crescendo e
ocupando a área disponível. Evidentemente, nessas condições ocorre a evapotranspiração real,
que na prática é denominada evapotranspiração da cultura (ETc). O conhecimento da ETc
é fundamental em projetos de irrigação, pois ela representa a quantidade de água que deve ser
reposta ao solo para manter o crescimento e a produção em condições ideais.
Sabe-se que para dar bons resultados, a irrigação deve ser bem quantificada. Caso
contrário, se as regas forem leves, insuficientes e freqüentes, repõem a água apenas nas
camadas superficiais do solo, não umedecendo toda a zona das raízes. Por isso elas se tornam
superficiais e incapazes de explorar o volume de solo disponível. Em conseqüência, diminui
consideravelmente a reserva hídrica útil do solo, prejudicando as plantas, desperdiçando
recursos valiosos e aumentando os custos da água aplicada. Irrigação em quantidades
insuficientes de água agrava os problemas de salinização do solo na zonas áridas e semi-
áridas, intensificados pelo emprego de água com alto teor de sais.
Regas excessivas também são contra indicadas, pois acarretam perdas de água e
de nutrientes, pela percolação abaixo da zona das raízes, além de favorecer a proliferação de
microorganismos patogênicos. Em casos de terrenos mal drenados, com impedimentos à
percolação, o solo ficará saturado prejudicando as raízes que poderão parecer por falta de
arejamento.

121
Para contornar essas dificuldades, utiliza-se estimativas da evapotranspiração
potencial (ou de referência) para gramado, corrigidas por um coeficiente de cultura (Kc).
Esse coeficiente de ajuste representa o quociente (Jensen, 1968),

ETc
Kc 
ETo

e varia com a cultura e com seu estádio de desenvolvimento, sendo apresentado em tabelas.
A evapotranspiração de referência (ETo ou ETr) é definida como o limite
superior ou a evapotranspiração máxima que ocorre numa cultura de alfafa (Medicago sativa
L.), com altura de 0,3 a 0,5 m, numa dada condição climática e com aproximadamente 100 m
de área tampão.

7.4 Determinação da evapotranspiração


Existem diversos métodos para obtenção da evapotranspiração:
a) métodos empíricos;
 método do tanque classe A
 método de Thornthwaite
 método de Makking
 método da radiação solar
 método de Jensen-Haise
 método de Linacre
 método de Hargreaves-Samani
 método de Blaney-Criddle

b) métodos aerodinâmicos;
c) métodos de balanço de energia;

d) métodos combinados que conjugam partes do balanço de energia e do transporte de


massa;
 método de Penman

122
 método de Slatyer e McIlroy
 método de Penman simplificado
 método de Penman-Monteith

e) método da correlação dos turbilhões;

7.5 Medidas da evapo(transpi)ração

a) Evaporação
 tanque classe A
 tanque GGI – 3000
 tanque 20m2

b) Evapotranspiração
 balanço hídrico do solo
 lisimetria

c) Poder evaporante do ar
 Evaporímetro (ou atmômetro) de Piche

7.5.1 Lisímetros ou Evapotranspirômetros


São tanques com terra, enterrados no terreno para medir a percolação da água
através do solo e a evapotranspiração. Devem ser suficientemente grandes para ser reduzido o
efeito de borda e proporcionar bom desenvolvimento radicular, sem restrições.

a) Evapotranspirômetros de drenagem
Operam baseados no princípio do balanço de água, ou seja, mede-se a água
precipitada e a percolada; como é um processo demorado, ele é preciso para períodos mais
longos, que variam de acordo com o regime de chuva ou irrigação, a profundidade do
evapotranspirômetro e com o movimento da água. É constituído por um tanque contendo solo
tendo, na parte inferior, um filtro com 10 a 15 cm de espessura, formado de materiais com

123
diferentes granulações (Figura 3). Para a confecção desse filtro normalmente empregam-se, a
começar do fundo, camadas superpostas de brita, cascalhinho, areia grossa e areia fina. Na
parte inferior do tanque há um dreno, que possibilita medir a água escoada por infiltração.
Quando do início da operação, o solo do interior do evapotranspirômetro é abundantemente
regado, deixando-se escoar livremente o excesso de água pelo dreno. Isso assegura que o solo
ficou em capacidade de campo. Alguns dias depois, dependendo da rotina estabelecida, uma
lâmina de água (Ac) é colocada no tanque medindo-se lâmina correspondente ao excesso
percolado (Ap). A diferença (Ac-Ap) representa a lâmina de água necessária à recondução do
solo à capacidade de campo e, portanto, traduz o consumo total de água naquele período. Se
houve chuva, esta deve ser adicionada ao consumo. A evapotranspiração total (E) no período
será pois:

E = Ac – Ap + P

b) Evapotranspirômetros de lençol freático


O evapotranspirômetro de lençol freático regulável (Figura 4) é idêntico ao de
drenagem no que concerne ao tanque contendo o solo e a vegetação. A diferença fundamental
está na forma como é feito o suprimento hídrico, de maneira a manter, no fundo desse tanque,
um lençol freático à profundidade escolhida. Quando ocorre precipitação, o nível do lençol
freático torna-se superior ao previsto e o excesso de água acumulado precisa ser drenado. O
evapotranspirômetro de lençol freático regulável presta-se bem à determinação da
evapotranspiração em culturas, para o caso específico de plantas que tenham um sistema
radicular não muito profundo. O nível do lençol freático é rebaixado à medida que o sistema
radicular das plantas vai se desenvolvendo, de maneira a assegurar à vegetação pleno
abastecimento hídrico, durante todas as fases do ciclo evolutivo.

c) Evapotranspirômetros de flutuação
Nesse equipamento o tanque evapotranspirométrico, geralmente pequeno, é
flutuante e possui, em seu interior, um compartimento hermeticamente fechado que constitui
uma câmara de flutuação (Figura 5). Na porção inferior do tanque flutuante há um pesado
lastro, destinado a mantê-lo verticalmente aprumado. O tanque evapotranspirométrico fica

124
imerso em um cilindro com água, em cuja superfície põe-se uma fina camada de óleo, para
evitar a evaporação. A drenagem da água, que se acumula no fundo do tanque
evapotranspirométrico, é feita por uma bomba de sucção, através de um tubo, cuja
extremidade repousa na camada mais profunda do solo.
São mais baratos e simples que os de pesagem. Porém grandes espaços são
necessários para o líquido que mantém o tanque em flutuação. Esse equipamento consiste de
um volume de solo contido num reservatório que flutua num fluido de alta densidade, por
exemplo, o ZnCl2. A variação do nível do fluido num sistema de vasos comunicantes permite

determinar a variação da massa do sistema. Conhecendo-se a drenagem profunda, computa-


se a evapotranspiração

Figura 3. Esquema de um evapotranspirômetro de drenagem

125
Figura 4. Esquema de um evapotranspirômetro de lençol frático regulável.

Figura 5. Esquema de um evapotranspirômetro de flutuação.

126
Unidade 8: FENÔMENOS METEOROLÓGICOS
ADVERSOS
8.1 Geada
8.1.1 Tipos de geada
O Glossário de Meteorologia define geada como uma condição que existe quando
a temperatura da superfície terrestre e de outros objetos fica abaixo do ponto de congelamento
(0º C).
Geada de radiação ocorre nas noites claras (sem nebulosidade) e calmas, quando a
radiação terrestre emitida, perde-se no espaço, devido a ausência de nuvens e grande
concentração de vapor d’água.
Severidade da geada de radiação varia consideravelmente com as condições gerais
atmosféricas bem como diferenças locais da topografia e vegetação.
Geada branca é causada pela sublimação dos cristais de gelo sobre objetos tais
como ramos de árvores e outros, quando estes objetos estão a uma temperatura abaixo do
ponto de congelamento.
Geada negra ocorre quando a vegetação é congelada devido à redução da
temperatura do ar, que não contém umidade suficiente para a formação de gelo sobre a
superfície.
Biel (1961) diferenciou geada de radiação, que é um fenômeno essencialmente local,
da geada de advecção, que resulta do transporte de massa de ar de larga escala. A geada de
advecção é, frequentemente chamada de gelo severo.
O ar seco e frio advectado para uma região, inicia o estágio de desobstrução da fonte
de calor proveniente do solo e da planta. Similarmente, o processo radiativo contribui para a
troca de calor durante a geada de advecção.
Sob condições de geada de radiação, os ventos são normalmente suaves e, inversão
de temperatura se desenvolve quando o ar em contato com superfícies radiantes frias, tornam-
se resfriados e pesados. A geada de advecção frequentemente ocorre com ventos fortes,
inversão de temperatura não se desenvolve sob estas condições.

8.1.2 Climatologia da incidência de geada.

127
A extensão da estação de crescimento para qualquer tipo de cultivo é fixo (em
regiões sujeitas à geada), essencialmente pela ocorrência de geada na primavera e no outono
com temperaturas suficientemente baixas para matar o cultivo.
A data média da última temperatura mínima (0º C), na primavera e a primeira do
outono, frequentemente são usadas como medida razoável da ocorrência de geada e para
definir o comprimento da estação, livre de geada.
Em regiões montanhosas é muito difícil manter uma rede adequada de estações de
observação. Assim, longos registros de datas de geada não são disponíveis. A topografia
complica a interpretação dos limitados dados disponíveis, por causa das grandes diferenças do
desenvolvimento de temperaturas noturnas causadas por forte inversão.
Durante o mês de junho de 99, em Pelotas, foram registradas ocorrências de geada
fraca, com temperatura mínima em torno de 3,0º C; geada forte com temperatura mínima em
torno de 2,4º C e em torno de 1,2º C.

8.1.3 Métodos de proteção de geada


Em média, as geadas de advecção ocorrem mais cedo na primavera e mais tarde
no outono do que as geadas de radiação e a temperatura ambiente é, frequentemente, mais
baixa.
A maioria dos métodos de proteção está baseada no conhecimento das condições
que favorecem a ocorrência de geada de radiação, que são:
a) massa de ar estável e fria;
b) céu sem nuvens;
c) vento fraco ou calmaria que previne a mistura de ar próximo à superfície com o ar mais
quente acima;
d) temperatura do ponto de orvalho relativamente alta;
e) formas topográficas que favoreçam a drenagem do ar frio para as baixadas.

Dessa forma, os métodos de proteção de geada são baseados nos seguintes


princípios:

1. seleção do local;

128
- evitar plantio em declives, vales, etc
- proximidade de corpos de água é um importante fator por causa da brisa

2. interceptação da radiação;
- geração de nuvens artificiais injetando água no ar acima do campo, que oferecem a
possibilidade de fechar a janela atmosférica à radiação infravermelho
- formação de nuvens artificiais de fumaça

3. isolamento térmico;
- cobrir as plantas com determinado tipo de material; estas coberturas são colocadas
sobre as pequenas plantas no fim da tarde e removidas na manhã seguinte

4. mistura de ar;
- usando-se ventiladores ou helicópteros

5. aquecimento convectivo do ar;


- usando-se aquecedores (a base de óleo ou querosene) que promovem a formação de
correntes convectivas, não permitindo a formação de uma camada de inversão

6. manipulação do solo.
- usando-se cobertura morta como palha, restos vegetais, plástico agrícola e outros.

Todos os métodos citados são dispendiosos e necessitam de alguns cuidados ao


serem usados ou aplicados. A seguir, apresenta-se algumas informações com relação a
situações de devem ser observadas quando for usado o sistema de aquecimento.
A utilização de vários aparelhos de aquecimento ou pequenas fogueiras tem
grande aplicação por alguns agricultores. A finalidade do método consiste na adição de
calor suficiente às camadas mais baixas que se encontram abaixo da inversão, de maneira a
impedir a ocorrência de uma temperatura crítica. A Figura 1, ilustra a ocorrência de uma
temperatura crítica que pode ocorrer desde 0ºC até a temperaturas mais baixas, dependendo
do tipo de cultura e do seu estágio de desenvolvimento. O aquecimento é muito eficiente

129
quando existem condições de uma forte inversão e de pequeno ou nenhum desvio do ar
provocado pelo vento.

Figura 1. Área abaixo da inversão que precisa ser aquecida.

Se a combustão for bastante intensa ou de temperatura excessivamente elevada,


pode provocar a formação de um poderoso jato de ar quente que vai atravessar a inversão,
causando o efeito de uma chaminé, furando a inversão como mostra a Figura 2, determinando
a perda de calor e impulsionando ar frio para dentro da área.

130
Figura 2. Jato de ar quente atravessando uma inversão.

Na prática, o número de aquecedores é aumentado de maneira a formar mais calor


onde for necessário, tal como nas áreas mais baixas, onde houve acúmulo de ar frio. A
drenagem de ar frio (Figura 3) resulta do fato de o ar frio ser mais denso do que o ar quente
que vai, geralmente, se acumular nos lugares mais baixos. Daí a designação de “bolsões de
geada” para as áreas que permitem que o ar frio se escoe.

Figura 3. Drenagem do ar frio.

Deve ser lembrado que durante o aquecimento, sua finalidade não é aquecer todo
o ambiente, mas a área que fica abaixo da inversão, onde ocorrem as temperaturas críticas,
como mostra a Figura 4.

131
Figura 4. Temperaturas mais baixas na altura do pomar.

No caso do uso de aparelhos de aquecimento, os mesmos devem ser acesos no


momento em que a temperatura começa a diminuir, e à medida que continua a baixar, o
número de aparelhos deve ser aumentado, ou o aumento da intensidade do calor liberado.
Cada aparelho de aquecimento aquece convectivamente uma área (Figura 5).

132
Figura 5. Área aquecida por convecção.

Para impedir a ocorrência de um “efeito chaminé”, através do qual o calor se


perde para o espaço, como mostra a Figura 6, a velocidade térmica do ar aquecido pelo
aquecedor deve ser de tal ordem que o resfriamento adiabático, provocado pela expansão à
medida que o ar sobe, transfira à parcela de ar uma temperatura que se torne igual à do
ambiente, o que fará com que o ar páre antes de atingir a mais alta temperatura dentro da
inversão.

133
Figura 6. Efeito chaminé.

A emissão de um simples aquecedor deve combinar com as emissões dos outros


aquecedores de modo a produzir o desejado efeito de aquecimento.
8.2 Granizo
Dentro de todas as nuvens os processos de condensação e agregação produzem
partículas de tamanhos grandes. A precipitação ocorre quando parte destas partículas alcança
tal tamanho e se projetam para fora das nuvens e das correntes ascendentes que as sustentam.
Se as partículas são capazes de sobreviver a evaporação, que elas experimentam enquanto
caem através do ar insaturado abaixo das nuvens, a precipitação alcança o solo; caso
contrário, a precipitação restringe-se somente a parte mais próxima da nuvem, sendo
denominada de virga.
Algumas vezes a superfície do solo e outros objetos ficam cobertos por uma fina e
transparente camada de gelo, este fenômeno é chamado de “glaze” (cobertura por gelo).
Glaze forma-se quando gotas de chuva ou leve chuvisco são superresfriados; caindo
sobre os objetos eles imediatamente congelam e formam uma camada crescente de gelo. O
glaze pode ser depositado sobre a vegetação, superfície do solo, ramos de árvores, etc. O peso
do gelo pode quebrar ramos de árvores. Algumas vezes camada de gelo de considerável

134
espessura forma-se no solo. Na pastagem, a presença do glaze pode causar a morte do rebanho
devido ao fato de que os animais não serem capazes de triturar o gelo e alcançar a forragem.

8.3 Estiagem
A seca constitui um grave risco para a agricultura tanto nas regiões temperadas
quanto nas regiões tropicais. Apesar de haver várias definições do termo “seca”, concorda-se
geralmente que esta pode ocorrer sempre que o suprimento de umidade armazenada no solo
seja insuficiente para atender às necessidades hídricas das plantas. Quatro tipos de seca ou
estiagem podem ser identificados, a saber: permanente, sazonal, contigente e invisível.
Nas regiões áridas ocorre a seca permanente, onde nenhuma estação de precipitação
é suficiente para satisfazer as necessidades hídricas das plantas. Em tais áreas a agricultura é
impossível sem a irrigação por toda a estação de plantio e crescimento.
A seca sazonal ocorre em áreas com estações seca e úmida bem definidas, como na
maior parte dos trópicos. Todos os anos a seca pode ser esperada, pois esta se deve às
variações sazonais nos padrões de circulação atmosférica. A agricultura praticada com maior
êxito durante a estação chuvosa ou com o uso de irrigação durante a estação seca.
A seca contingente e a invisível resultam da irregularidade e da variabilidade da
precipitação.
A seca contingente é característica de áreas sub-úmidas e úmidas e ocorre quando a
chuva deixa de cair num dado período de tempo. A seca contingente constitui um sério risco
para a agricultura devido a sua imprevisibilidade.
A seca invisível é diferente dos outros tipos porque é menos facilmente reconhecida.
Este tipo de seca ocorre sempre que o suprimento de água ou armazenamento de água no solo
deixe de ser igual às necessidades hídricas diárias das plantas. Disso resulta uma lenta
secagem do solo, impedindo um crescimento ótimo das plantações. A necessidade de planejar
a irrigação torna-se difícil porque os cultivos não murcham.
Outros tipos de seca são evidenciados pelo murchamento dos cultivos ou pela falta
de maior crescimento vegetativo.
Uma vez que a seca é uma condição na qual a necessidade de água é maior do que a
umidade disponível, os danos da seca aos cultivos em crescimento podem ser prevenidos do
seguinte modo:

135
- diminuindo-se as necessidades de água dos cultivos, e/ou
- aumentando-se o suprimento de água
Assim sendo, cultivos resistentes à seca, com pequenas necessidades de água para
seu crescimento e desenvolvimento, e os de curta estação devem ser plantados, evitando-se
cultivar culturas que exijam muita umidade ou longa estação de crescimento, para não
acontecer o conseqüente aumento da probabilidade de ocorrência de seca.
Certas práticas de cultivos ajudam a conservar a umidade do solo e devem ser
desenvolvidas em áreas sujeitas à seca. Por exemplo, os legumes e as gramíneas melhoram a
capacidade de retenção de água pelo solo, bem como o uso de matéria orgânica e de
fertilizantes. As ervas daninhas devem ser controladas, uma vez que aceleram a perda de água
pela transpiração, em detrimento das culturas.
Em ambientes sub-úmidos e semi-áridos a técnica de cultivo em áreas secas é
comumente praticada. Isso envolve o uso de dois ou três anos de precipitação para se realizar
o cultivo de um ano. Melhor explicando: durante os dois primeiros anos, deixa-se o campo em
pousio. Ele é somente cultivado para matar as ervas daninhas e criar uma estrutura
edafológica que permitirá tanta umidade quanto possível (Critchfield, 1974)
O método mais eficiente de combater a seca é através da adução de água
artificialmente ou pela irrigação. O estímulo artificial da precipitação é, no presente, um
método insignificante de combater a seca. Por outro lado, a irrigação é um método comum e
difundido com a finalidade de atender a todas as necessidades hídricas dos cultivos ou parte
dessas necessidades. Num meio árido a agricultura é possível somente com a irrigação. Em
áreas semi-áridas e sub-úmidas a irrigação aumenta a produtividade da lavoura e a duração da
estação de crescimento, tornando possível o cultivo de maior variedade de plantas. Em uma
região úmida, a irrigação ajuda a combater o efeito da seca e a aumentar a produtividade da
lavoura. Entretanto, a prática da irrigação apresenta problemas, sendo os maiores deles:
- a disponibilidade de água, superficial ou subterrânea;
- o custo da exploração e adução da água nos campos cultivados.
Há também necessidade de aplicação criteriosa da água de irrigação nas lavouras. As
necessidades hídricas das culturas em vários estágios de seu crescimento devem ser
cuidadosamente conhecidas. Enquanto a subutilização também o é, pois pode reduzir a
produtividade do cultivo e criar outros problemas. Dessa forma, a irrigação excessiva pode:

136
- reduzir a utilização de nutrientes pela planta por causa da diluição;
- causar a dispersão de nutrientes para fora da área de cultivo;
- supersaturar o solo com a umidade, de modo que a falta de oxigênio se torne um
problema.
Além de tudo, a irrigação é muitas vezes limitada a cara, de modo que a super-
utilização não faz sentido econômica e ecologicamente.

(Observação: texto sobre Estiagem (seca) tirado do livro Introdução à Climatologia para os
Trópicos; autor J. O. Ayoade - 5ª edição)

137
Unidade 9: FENOLOGIA
9.1 Generalidades

Os pesquisadores tentam determinar a provável duração das fases de


desenvolvimento das plantas, com o objetivo de classificá-las e distribuí-las em regiões
adequadas, na busca de maiores produções.
Os elementos do clima como radiação solar, vento, precipitação e temperatura tem
influência decisiva sobre o desenvolvimento e o crescimento das plantas. Com relação à
precipitação, sua falta pode ser suprida através da irrigação suplementar. Assim, é possível
ajustar as culturas aos locais e épocas adequadas ao seu desenvolvimento e a sua produção
econômica.
Para cada processo fisiológico e para cada tipo de planta há uma faixa térmica,
dentro da qual o processo atinge sua maior intensidade.
O estudo das inter-relações clima-planta não se baseia somente na determinação das
exigências térmicas; a disponibilidade de água no solo deve ser também considerada para que
as plantas apresentem bom desenvolvimento e tenham produtividade econômica satisfatória.
A deficiência hídrica pode não só afetar a duração do ciclo do vegetal, como também
ocasionar sensíveis danos à produtividade.
Assim, fenologia é a disciplina científica que relaciona o clima com os eventos
periódicos das plantas e animais, ou seja, é o estudo dos fenômenos periódicos da vida e suas
relações com o tempo e clima. A palavra fenologia vem do grego “fenos” (fenômeno) e
“logos” (estudo, tratado). Como consequência, temos o estudo dos fenômenos periódicos da
natureza em relação a variação anual dos elementos meteorológicos.
Estes fenômenos periódicos do ciclo vital podem ser detectáveis ou não. Os
detectáveis podem ser vistos diretamente por observação visual ou medidos por instrumentos.
Tomando como exemplo as plantas, teremos: brotação de ramos e folhas, floração, queda de
folhas e frutos, etc; nos animais teremos, a lactância, a migração, a hibernação, a queda ou
mudança do pelo, etc.
Fenômenos latentes ou fases não detectáveis diretamente por observação visual,
sendo obtidos somente por meio anatômico ou bioquímico, são considerados os seguintes: a
germinação das plântulas, desenvolvimento radicular, formação do promórdio floral,

138
crescimento vegetativo, etc. Na observação destes eventos se dá ênfase a data de ocorrência
dos seguintes: chegada de pássaros, data de brotação prematura ou floração, atraso na
maturação do cultivo, etc.
Desse modo, há uma fenologia dos animais, que é a zoofenologia; dos insetos é a
entomofenologia; das plantas, fitofenologia ou fenologia, como é comumente referida.

9.2 Crescimento e desenvolvimento

É necessário diferenciar crescimento de desenvolvimento. Durante seu ciclo


evolutivo, a planta sofre contínuas transformações do volume, peso, forma e estrutura, de
acordo com o momento do ciclo em que se encontre. O crescimento é verificado pelo
incremento do peso sólido ou seco do ser vivente. O desenvolvimento é caracterizado pelas
mudanças da forma, bem como pelo grau de diferenciação alcançado pelo organismo. Resulta
assim, que o crescimento é, em termos gerais, um processo quantitativo relacionado com o
aumento da massa do organismo, enquanto que o desenvolvimento é um processo qualitativo
e se refere às mudanças experimentadas pela planta.
Durante o crescimento dos vegetais a temperatura e a água adquirem importância
fundamental.
No desenvolvimento influem a temperatura, na acumulação de calor, as baixas
temperaturas e a duração do dia (fotoperíodo), e tudo mais, como uma interação do complexo
ambiental.
Em outras palavras, o estudo do desenvolvimento de uma planta é morfológico e
fenológico, enquanto que crescimento é geralmente fisiológico e ecológico.
Crescimento pode ser medido pelo aumento do comprimento de um ramo ou o
aumento de peso, ao passo que desenvolvimento é normalmente observado pela data de
germinação, brotação, floração, frutificação, etc.
Em geral, o ciclo de vida de uma planta anual, segundo a interpretação de alguns
autores (Azzi, 1956; White, 1966) pode ser dividido em 4 estágios e são similares para todas
as plantas anuais:

semente – vegetativo – florescimento – reprodutivo

139
É evidente que as exigências meteorológicas de um vegetal variam de forma
notável segundo o momento de sua evolução, por isso, torna-se imprescindível dividir sua
vida em várias etapas ou sub-períodos. As fases servem para dividir o período vegetativo em
sub-períodos.

9.3 Fenodatas

Fundamentalmente, a fenologia registra a data em que se produzem as fases e, do


mesmo modo que são traçadas as isotermas, isóbaras, isoietas, etc, na fenologia se traçam as
isofenas, que são linhas que unem pontos onde um fenômeno da natureza (fase) ocorre na mesma
data. A anotação da data em que se apresenta uma determinada fase denomina-se fenodata.
Comparando os vegetais em distintos lugares mediante as fenodatas, é possível
chegar a uma idéia do microclima do lugar, por exemplo, se em determinado lugar se produz
cacau, sem mencionar o clima, sabe-se, indiretamente que o clima é úmido e que ali não são
registradas temperaturas abaixo de 10º C; se em outro lugar crescem maçãs, deduzimos que o
inverno é muito frio.
Os vegetais reagem às mudanças climáticas do meio circundante mediante a
aparição, transformação ou desaparecimento de órgãos, brotos, flores, frutos, etc, o que se
denomina fase. Como, entre a sucessão de fenômenos meteorológicos e a sucessão das fases
nas espécies vegetais deve existir uma exata coincidência das condições climáticas, se diz que
as plantas, na fenologia, desempenham um papel análogo ao dos instrumentos registradores
em Meteorologia. A sensibilidade das plantas às mudanças climáticas é muito grande.
Todo valor que se afaste do valor médio correspondente a essa fase, constitui uma
anomalia fenológica. Na anomalia positiva, a fase se adianta e na negativa, ela se atrasa.
Por outro lado, a energia de fase é a força com que se produz a aparição de novos
órgãos e se mede pelo número de dias que duram desde o primeiro ao último órgão da fase.
Quanto maior a energia de fase, menor o número de dias para o desenvolvimento e vice-versa.
Na energia de floração, por exemplo, influi não somente o solo, mas também o comprimento
do dia e a umidade do solo. A seguir, é mostrado um exemplo de observação fenológica,
sendo cada fase dividida em subperíodos.

140
Tabela 1. Fenodatas da cultura de feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.)
Estádio fenológico Data Dia do ano
Data do plantio 15/10/94 288
Emergência das plantas 22/10/94 295
Folhas primárias completamente expandidas 24/10/94 297
Primeira folha trifoliada completamente aberta 31/10/94 304
Terceira folha trifoliada completamente aberta 08/11/94 312
Aparecimento do primeiro botão floral 15/11/94 319
Aparecimento da primeira flor aberta 17/11/94 321
Aparecimento da primeira vagem 24/11/94 328
Desenvolvimento de sementes (vagem c/ comprimento 12/12/94 346
máximo)

Início da maturação (primeira vagem apresenta mudança de cor 22/12/94 356


Fonte: Souza, 1996

9.4 Observações fenológicas de plantas anuais.

Para os cultivos anuais uma ampla variedade de fatores bioclimáticos deve ser
levada em consideração: se os cultivos são de inverno, verão ou de estação intermediária;
sensibilidade à baixas temperaturas; quantidade de calor exigida; sensibilidade ao
comprimento do dia; quando irrigar e a quantidade de água a ser aplicada. Todas essas
informações são necessárias para tornar as observações mais detalhadas sobre as
características fenológicas particulares ou fases e órgãos que não são comuns a todas as
espécies.
Porém, a principal diferença está no fato de que as fases dos cultivos anuais
dependem da data de semeadura. Cada época diferente de semeadura capacita o cultivo a
reagir, aos vários elementos que compõem seu ambiente, de modo diferente e com diferentes
resultados os quais refletem numa sequência particular de fases, que deve ser analisada
diferentemente, de acordo com o cultivo em questão.

141
Uma vez plantado num determinado lugar, cultivos perenes não estão sujeitos as
variações da época de semeadura, porém reage ao ciclo do tempo de cada ano, que não varia
tão amplamente como os complexos atmosféricos, como os resultantes das diferentes épocas
de semeadura.
Nas observações fenológicas, prioridades devem ser dadas a extensão de critério
usado na interpretação da intensidade das fases. Isto, por causa da energia que cada processo
fenológico exige, quando medido pelo número de dias entre o início e complementação do
processo, indicando quando a planta tem suas exigências bioclimáticas satisfeitas.
Quanto menor o número de dias, mais satisfatoriamente a planta tem se ajustado com
as condições meteorológicas prevalecentes naquele momento. Isto pode ser chamado de
“energia de fase”, que é uma generalização do conceito de “energia de florescimento”,
introduzido por Ledesma em 1951, definida anteriormente.
Durante o ciclo da cultura do arroz (Oryza sativa L.), foram obtidos os seguintes
dados fenológicos:
a) data de plantio;
b) data de florescimento (quando 50 % das plantas se encontravam com as glumelas
das flores abertas e com os filetes e anteras expostos);
c) data da maturação (quando todas as espécies estavam com os grãos do 2/3
superiores na fase de massa dura e o restante na fase de massa semidura, ainda
“verdoengos”).

Rodrigues et al, 1999, avaliaram as características fenológicas do cultivo de arroz-


de-sequeiro, cultivar IAC 201, sob três regimes hídricos, sendo um deles o regime hídrico
natural e os outros dois, irrigação baseada no coeficiente da cultura. As características
fenológicas observadas foram florescimento pleno e ciclo da cultura. Com o aumento da
disponibilidade de água, por estádio de desenvolvimento da cultura, ocorreu uma diminuição
do número de dias para o florescimento e do ciclo da cultivar.
Houve uma diminuição do período de florescimento devido ao acréscimo da
quantidade de água fornecida à cultura do arroz. Isto mostra como as condições ambientais e
as não ambientais oferecidas as plantas alteram o seu comportamento, crescimento e
desenvolvimento.

142
9.5 Observações fenológicas de plantas perenes

Como exemplo de planta perene temos o cacaueiro (Theobroma cacao L.) que é
uma planta que atinge a altura de 4 a 8 metros de altura, apresentando tronco principal que
cresce até, aproximadamente, os 14 meses de idade. A partir dessa idade cessa o crescimento
da gema terminal, emergindo 3 a 5 ramas primárias, que dão origem às ramas secundárias.
A raiz primária pode atingir uma profundidade d 2 metros, se o solo for profundo e
bem arejado.
Em plantas perenes de crescimento intermitente, a queda de folhas geralmente segue
o ritmo de renovação foliar ocorrendo simultaneamente com o crescimento das folhas novas.
O lançamento de folhas novas é associado ao mecanismo termoperiódico. Aumenta a
amplitude térmica, aumenta o lançamento de folhas novas.
O cacaueiro se comporta como planta de floração contínua em regiões que não
apresentam diferenças sazonais de temperatura e de precipitação.
A passagem brusca de período seco para outro úmido provoca um estímulo externo
da floração do cacaueiro. A floração pode ser inibida durante épocas de deficiência hídrica no
solo, tornando-se intensificada após o reinício das chuvas.
Os frutos de cacau, que se desenvolvem nos meses mais quentes levam de 140 a 175
dias, desde a fecundação da flor até seu amadurecimento. Desse modo, os eventos fenológicos
do cacaueiro, planta perene, são os seguintes:
a) lançamento de folhas novas;
b) queda de folhas;
c) floração;
d) produção de frutos maduros;
e) incidência de pecos.

O peco do cacaueiro é caracterizado pelo amarelecimento dos frutos jovens que


murcham e adquirem coloração marrom. Dois tipos de pecos são identificados: o de origem
externa ou biótica, causada por ataque de fungos ou insetos; e o de origem interna ou
fisiológica, resultante de distúrbios metabólicos da própria planta. Provavelmente o peco

143
fisiológico do cacaueiro tem mecanismo semelhante ao da queda de frutos jovens de algumas
árvores frutíferas como a laranjeira, o abacateiro, a macieira, o coqueiro e outras.
De modo geral, o registro fenológico de plantas perenes consiste dos seguintes
passos:
a) florescimento e maturação dos frutos;
b) brotação e crescimento de ramos;
c) mudança da cor das folhas e dos frutos antes da maturação;
d) queda das folhas e dos frutos.

Em áreas de regime climático estável, onde os processos fenológicos seguem um


modelo ajustado às condições meteorológicas, somente momentos representativos das fases
serão observados, por exemplo: o início da brotação, do florescimento, clímax da maturação
do fruto, clímax da queda de folhas, etc, datas que são usadas para a compilação de boletins
fenológicos ou para a caracterização bioclimática das estações do ano por meio de plantas
especialmente selecionadas.
Naquelas com regime climático variável, onde o modelo fenológico e suas fases são
interrompidas por fenômenos do tempo, é essencial conduzir observações simultâneas do
estágio de desenvolvimento de todas as fases visíveis de uma planta individual.

9.6 Estação de crescimento

Várias variáveis meteorológicas são testadas para verificação da influência na


determinação do período de crescimento de um vegetal. Godoy (1960) testou cinco épocas de
plantio (com 10 variedades de arroz) e determinou parâmetros de crescimento e produção de
grãos. Utilizando variedades precoces e tardias, constatou que, para todos os cultivares, o
atraso na época de semeadura acarretava antecipação na época de florescimento, indicando
sensibilidade ao fotoperíodo. Isto porque o arroz é influenciado, de forma muito variada, pela
duração do dia. Algumas vezes pode ser relacionada à temperatura do ar, principalmente
aquelas abaixo de 15ºC durante quatro dias. Também pode ser considerada como
influenciável no crescimento de uma cultura a temperatura da água de irrigação, intensidade
da luz, umidade atmosférica, e outras.

144
Souza, 1989, determinou a estação de crescimento utilizando o método de Frére e
Popov, o qual estabelece que o início da estação acontece quando a precipitação atinge 50 %
da evapotranspiração potencial e não se registram períodos secos na semana seguinte.
Analogamente, o término da estação de crescimento é determinado como sendo a semana em
que a precipitação se reduz a metade da evapotranspiração potencial.

Bibliografia consultada.

RODRIGUES, R.A.F. et al. Características fenológicas, acamamento e produtividade da


cultura do arroz-de-sequeiro (Oryza sativa L.) conduzida sob diferentes regimes hídricos.
In: CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEOROLOGIA, 11, 1999. Florianópolis.
Anais...Florianópolis: SBA, 1999.

SCERNE, R.M.C. Estudo agroclimático do cacaueiro (Theobroma cacao L.), em Belém, PA.
Viçosa, 1988. 64p. Dissertação (Mestrado/Meteorologia Agrícola) – Departamento de
Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa.

SOUZA, A. Avaliação agroclimática para o manejo da cultura do arroz (Oryza sativa L.),
para as microrregiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Viçosa, 1989. 91p.
Dissertação (Mestrado/Meteorologia Agrícola) – Departamento de Engenharia Agrícola,
Universidade Federal de Viçosa.

145
SOUZA, J.L. Saldo radiômetro com termopilha de filme fino e aplicação no balanço de
radiação e energia em cultivo de feijão-vagem (Phaseolus vulgaris L.) com e sem
cobertura de polietileno. Botucatu, 1996. 172p. Tese (Doutorado/Energia na Agricultura) -
Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.

146
Unidade 10: TÓPICOS ESPECIAIS

10.1 AMBIENTE PROTEGIDO


Ambiente protegido é aquele que propicia um microclima adequado ao
desenvolvimento vegetal. Ele pode ser coberto com vidro ou plástico e são comumente
chamado chamados de estufas ou casas de vegetação.
No início do século 19, foram feitos estudos sobre a forma ideal de um ambiente
protegido, cujo material de cobertura seria o vidro, e foi observado que uma cobertura
hemisférica proporcionaria transmissão máxima da radiação. A partir daí, vários estudos
relacionados com a estrutura, forma e material de cobertura forma desenvolvidos com o
objetivo de minimizar os custos e proporcionar condições próxima do ideal para as plantas.
As estufas variam no tamanho e no tipo, de modo a satisfazerem um grande número
de necessidades dos agricultores. Podem ser climatizadas ou não. As do primeiro tipo são
usadas em regiões de clima muito frio, onde as baixas temperaturas não permitem o
desenvolvimento das plantas, contando somente com o calor armazenado dentro delas devido
ao efeito estufa. É necessário o uso de equipamentos que controlem a temperatura, umidade
relativa do ar e ventilação. Normalmente, são utilizadas para culturas sensíveis, como flores,
quando requerem faixas mínimas de tolerância relativa ao ambiente.
Essas estufas climatizadas são desenvolvidas de tal forma a permitir um alto
percentual de automatização dos equipamentos, para que se consiga um grande controle
ambiental. Devido a todas as exigências que as cercam, são construções dispendiosas e por
isso só devem ser empregadas em situações especiais.
As estufas não climatizadas são construções simples, baratas e geralmente
construídas pelos próprios agricultores. Não dispõem de equipamentos de calefação. O
controle do ambiente é feito pelo manejo das aberturas e cortinas. O calor quando desejado é
obtido pelo efeito estufa. São utilizadas em clima quente e ameno e restringem-se à culturas
menos sensíveis, como hortaliças e outras, e alguns tipos de flores.
Dificilmente se consegue manter as condições do ambiente, durante todo o tempo,
dentro da faixa ideal exigida pela cultura.
Um efeito que ocorre no interior de um ambiente protegido é o chamado efeito
estufa. A radiação solar de onda curta consegue passar pela cobertura plástica ou pelo vidro, é

147
absorvida pelo solo contribuindo para elevar a sua temperatura. Qualquer superfície
aquecida, como o solo, emite radiação sob a forma de onda longa, que sob a forma de calor
vai aquecer a atmosfera adjacente ao solo. Esse calor, dentro do ambiente protegido, é
transferido para camadas mais superiores, não sendo totalmente perdido devido ao anteparo
que é a cobertura plástica, ou de vidro. Por esse motivo, tem-se um ambiente sempre quente,
algumas vezes com temperaturas elevadas.

10.2 MODELOS DE ESTUFAS


Sempre que se pretenda se adquirir uma estufa, deve-se ter em mente o espaço
disponível para sua construção e, o tamanho adequado à espécie vegetal que será plantada.
As estufas devem ser completamente revestidas com chapas de vidro e podem ser
construídas em tijolos até determinada altura. Se o cultivo da maioria for realizado em vasos,
é essencial a existência de bancadas, podendo então, a área destinada à colocação das
mesmas ser de qualquer material sólido e relativamente denso.
Os fatores de maior importância na escolha do modelo da estufa são a facilidade de
acesso e a transmissão da luz, bem como a estabilidade e a durabilidade.
Os diferentes modelos de estufas, surgiram ao longo do tempo, por diversos fatores,
cada qual aliado a uma série de exigências que podem ser entendidas pelas características da
cada um. Os modelos mais conhecidos são:

a) Capela – tem estrutura semelhante a um galpão ou aviário, com duas abas da cobertura

inclinadas, formando um triângulo.

b) Pampeana – é a evolução da estufa capela. A única diferença da estrutura é o telhado em

148
forma de arco. Tem maior resistência ao vento.

c) Belle Unión – esta estufa leva o nome da cidade onde se originou, que fica no Uruguai,
próxima à divisa com o Brasil. A parte correspondente ao telhado, lado norte, tem
inclinação quase perpendicular aos raios solares, cuja orientação é mais inclinada no
inverno.

d) Londrina – é construída basicamente de esteios e arames. A água da chuva penetra no


interior da estufa, em locais determinados pela própria origem do projeto.

e) Dente-de-serra – este modelo de estufa é muito adotado na Europa e nos Estados Unidos.
O que diferencia esse modelo de estufas das outras é o telhado, semelhante aos dentes de
uma serra. Sua construção deve ser no sentido da direção dos ventos predominantes, com
a parte semelhante aos dentes de serra voltada para o lado contrário da incidência maior de
vento. Sua utilização fica restrita aos cultivos não exigentes a luz.

f) Arco – oferece grande resistência ao vento. O teto abaulado obtém um excelente


aproveitamento da luz solar.

149
g) Espanhola – a estufa espanhola se desenvolveu em grande escala na costa da Almeria, sul
da Espanha. Como a precipitação da região é muito baixa, a parte superior da estufa é
plana. Pode ser construída com maior caimento para facilitar o escoamento da água da
chuva.

10.3 ORIENTAÇÃO DE UMA ESTUFA


Ao se construir uma estufa, a recomendação é que deve-se observar a orientação
dos ventos predominantes, ou seja, a construção nunca deve ser perpendicular à direção do
vento, e sim, construída no sentido da sua direção (Figura 1). Mas, para se obter a máxima
vantagem da radiação solar, principalmente no inverno, a estufa deve ter seu eixo maior na
direção leste-oeste. Esta posição reduz a um mínimo o sombreamento das vigas da estrutura.
No final da década de 40, as pesquisas foram voltadas para verificar qual a melhor
orientação; e em 1957, foi evidenciado que estufas orientadas na direção leste-oeste eram
mais eficientes na transmissão da radiação solar, e até nos dias atuais, esta orientação tem sido
amplamente adotada (Harnett et al, 1979). É importante que o formato do teto e o material
usado para cobertura obstrua o mínimo possível a radiação solar global, no período de menor
incidência.
Os pesquisadores citados no parágrafo anterior, mediram a radiação solar global em
quatro tipos de estufas cobertas com vidro, sendo duas com múltiplos-vãos, orientadas nas
direções leste-oeste e norte-sul; outra no estilo convencional (chamada de Bella Unión, no
Brasil); e uma quarta estufa com teto no estilo água-furtada (com janelas no teto), sendo as

150
duas últimas orientadas na direção leste-oeste. As transmissões da radiação solar das estufas
foram comparadas e os resultados confirmaram que o alinhamento leste-oeste teve melhor
desempenho do que o norte-sul, tanto para estufas com múltiplos-vãos quanto para vão
simples. Além disso, houve vantagem, em termos de produção, do cultivo de tomate e de
pepino.

Figura 1. Orientação de uma estufa de acordo com os ventos predominantes.

151
10.4 MEDIDA E COMPORTAMENTO DAS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS

 Transmissividade
Avaliação da transmissão da radiação solar em estufas com orientações diferentes
tem merecido destaque nos estudos sobre as complexidades da transmissão da radiação solar e
seu aproveitamento pelos cultivos.
Edwards, citado por Critten (1993), calculou a transmissividade da radiação solar, no
período de 1957 a 1961, em estufas com vãos simples e orientações diferentes. A transmissão
da radiação solar foi 48 % para a orientação norte-sul, e entre 55 % e 65 %, para a orientação
leste-oeste.
Para estudar a intensificação da transmissividade da radiação solar, Li et al (1995)
alteraram algumas partes de duas estufas. Na primeira, colocaram material transparente em
uma das paredes e no teto, e verificaram que a transmissividade aumentou 6,1%, no início do
inverno e 3,2 % a 12,6 %, na primavera e verão. Na segunda estufa, usaram um refletor
aluminizado, posicionado verticalmente, da cumeeira até o solo, e comprovaram a
contribuição da radiação refletida. Houve um aumento de 37 %, no início do inverno e 23 %,
no final.
A radiação solar incidente, medida a partir de julho de 91 a janeiro de 92 por
Buriol et al (1995) objetivou o cálculo da transmissividade em estufas de polietileno de baixa
densidade, com 100 m de espessura. A transmissividade variou de 56,2 %, no início da
manhã a 81,3 %, em torno do meio-dia.
Assis, 1998, concluiu que a transmissividade da radiação solar global dentro das
estufas variou na faixa de 55 % a 77% na orientação norte-sul e entre 66 % e 78 %, na leste-
oeste, sendo que durante 11 meses a orientação leste-oeste transmitiu acima de 70 % da
radiação global, como mostra a Figura 2.

152
100
95
90

TRANSMISSIVIDADE (%)
85
80
75
70
65
60
55
50
Dez95
JanFevMarAbrMaiJun JulAgoSetOutNov
Dez96
ESTUFA LESTE-OESTE
ESTUFA NORTE-SUL

Figura 2. Transmissividade da radiação solar em estufas com orientação leste-oeste e norte-sul

 Radiação solar
De modo geral, as curvas se mantiveram distantes até setembro, após,
distanciaram-se novamente, devido à superioridade dos valores de energia da estufa leste-
oeste sobre a norte-sul, entre 4% e 15%. A média mensal da energia global variou entre 13,20
MJ.m-2 e 20,48 MJ.m-2; ; 9,84 MJ.m-2 e 15,96 MJ.m-2 ; e 8,37 MJ.m-2 e 14,89 MJ.m-2, para a
global externa, estufa leste-oeste e estufa norte-sul, respectivamente.
Na estufa leste-oeste, a energia foi superior a obtida na estufa norte-
sul, entre 3 % e 25 %. As diferenças maiores foram observadas entre os meses de março e
agosto, período em que o sol apresenta baixos ângulos de elevação solar e neste período, a
orientação leste-oeste apresentou-se mais vantajosa do que a norte-sul. A média anual da
estufa leste-oeste representa 74 % da energia externa, e a da norte-sul, 65 %.

153
22

ENERGIA MÉDIA MENSAL INTERNA E EXTERNA (MJ/m2)


20

18

16

14

12

10

0
Dez5 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez6

Gex EST.L.O EST.N.S

Figura 3. Variação anual da energia solar global externa e interna

 Radiação difusa
As curvas representativas da variação anual da energia mensal difusa,
medida dentro e fora das estufas, seguem o mesmo comportamento da energia mensal global.
O valor mínimo externo ocorreu em julho e nas estufas, em junho. Na estufa leste-oeste,
durante este período, a energia difusa, em média, representou 96 % da difusa externa,
enquanto que na estufa norte-sul este percentual foi, aproximadamente 94 % da difusa
externa.

154
10

ENERGIA MÉDIA MENSAL ( MJ/m2)


8

2
Dez/95Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out NovDez/96

DIF.EXT. DIF.LO DIF.NS

Figura 4. Variação anual da energia solar difusa externa e interna.

 Albedo
Na Figura 5, estão as curvas correspondentes ao albedo. No início do ciclo, o albedo
médio diário apresentou valores em torno de 0,16, 0,13 e 0,22 nas estufas leste-oeste, norte-
0 0
sul e externo, respectivamente. Entre os 5 e o 10 dias, houve um decréscimo do albedo
devido a ocorrência de precipitação (71,5 mm). Valores mais altos foram atingidos 15 dias
após o transplantio da alface, quando o solo já estava parcialmente coberto pela cultura, e no
decorrer do desenvolvimento houve um aumento gradativo. O albedo da estufa leste-oeste foi
maior do que o da norte-sul durante quase todo o ciclo.

155
0,50

0,45

0,40

0,35

0,30

ALBEDO
0,25

0,20

0,15

0,10

0,05

0,00
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
DIAS DO CICLO

ALB.LO ALB.NS ALB.EXT.

Figura 5. Variação do albedo durante o ciclo da cultura de alface, variedade Elisa.

 Saldo total de radiação


As curvas da Figura 6 representam o saldo entre as radiações de onda curta e de
onda longa. No período noturno não se observam diferenças entre os valores internos e o
externo; já durante o dia, as curvas representativas do saldo total externo e da estufa leste-
oeste confundem-se, ou seja, os valores são muito próximos.

Saldo total externo


Saldo total norte-sul
900 Saldo total leste-oeste
SALDO TOTAL DE RADIAÇÃO (MJ/m2)

800

700

600

500

400

300

200

100

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Tempo (h)

Figura 6. Saldo total de radiação solar em estufas com orientação norte-sul e leste-oeste.

156
157

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