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Teoria das Distribuições

e Equações Diferenciais
Parciais

Jaime E. Muñoz Rivera


Coordenação de Matemática Aplicada e Computacional
Laboratório Nacional de Computação Cientı́fica
Petrópolis, Rio de Janeiro - Brasil
Instituto de Matemática
Universidade Federal de Rio de Janeiro

Série de Textos de Pós graduação


Rio de Janeiro, Petrópolis 2004.
Laboratório Nacional de Computação Cientı́fica
Textos de Pós Graduação

Coordenação Editorial
Jaime E. Muñoz Rivera (Coordenador)
Marcio Murad
Gustavo Perla Menzala
Gilson Antonio Giraldi
Marcelo Fragoso

Ficha catalográfica elaborada pela Área de Biblioteca e Documentação do


LNCC.

Muñoz Rivera, Jaime Edilberto


M967t Teoria das Distribuições e Equações
Diferenciais Parciais / Jaime E. Muñoz Rivera.- Petrópolis,
RJ.:/Laboratório Nacional de Computação Cientı́fica, 2004.
242p. : il. 24 cm. (Textos de pós graduação)

ISBN 85-99961-06-3

1. Matemática Aplicada. 2. Equações Diferenciais Parciais.


I. Tı́tulo. II.Série.
CDD 519

ISBN 85-99961-06-3

LNCC - 2004 - 1a edição


Rua Getúlio Vargas, 333
Quitandinha - Petrópolis - Rio de Janeiro
25651-070
Brasil
Fax : 55-24-2231-5603

Depósito Legal na Biblioteca Nacional


Impresso no Brasil
Prólogo

Nestas notas desenvolvemos os tópicos de Teoria da Distribuições e Espaços de


Sobolev, que são lecionados no curso de Doutorado do Instituto de Matemática
da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Laboratório Nacional de Com-
putação Cientı́fica. O objetivo é facilitar aos alunos do curso o estudo dos
tópicos da ementa da disciplina. Introduzindo novas demostrações a teoremas
clássicos do Análise Funcional, ou simplificações de demostrações ja existentes
na literatura.
Este texto está dividido em seis capı́tulos. O primeiro está dedicado a
demonstração de desigualdades básicas, onde a convexidade joga um papel
importante. A convexidade é um conceito chave no análise funcional. Como
veremos no segundo capı́tulo este conceito está presente nas relações entre
a topologia fraca e forte, nas aplicações do Teorema de Hanh Banach e suas
conseqüencias. Para mostrar a importância da convexidade, no final do segundo
capı́tulo introduzimos os espaços Lp para 0 < p < 1, dotamos a este espaço de
sua métrica natural e mostramos que ele é um espaço vetorial completo. estes
espaços tem a propriedade que as bolas abertas ou fechadas não são conjuntos
convexos. Isto tem uma implicação curiosa: O dual topológico de Lp se reduz a
zero o que mostra como os espaços Lp são diferentes no caso em que 0 < p < 1
e p > 1, e a principal diferença entre ambos é a convexidade.
No segundo Capı́tulo estudamos os espaços Lp . O objetivo central é cara-
terizar os tipos de convergência que estão definidos neste espaço, e encontrar
as condições para calcular limites do tipo

lim f(uν ) = f(u)


ν→∞

quando a seqüência (uν )ν∈N está limitada em Lp para p > 1.


No tercer Capı́tulo fazemos uma breve introdução aos espaços de Banach,
onde tenos selecionado alguns dos principais resultados que utilizaremos neste
texto.
No quarto Capı́tulo fazemos um estudo das distribuições, dando uma rápida
introdução aos espaços vectoriais topológicos. Introduzimos as topologias que
fazem do espaço de distribuições um espaço de Fréchet. Terminamos este

iii
iv

capı́tulo estudando as distribuições temperadas e fazendo uma aplicação para


a equação do calor. No quinto Capı́tulo, introduzimos os espaços de Sobolev,
estudamos suas principais propriedades, como dualidade, aproximação por
funções suaves, operadores de prolongamento e as princiapais desigualdades
e teoremas de imersão. Damos também uma introdução as distribuições veto-
riais e estudamos teoremas de compacidade sobre os espaços W 1,p(a, b; X).
No Capı́tulo sexto, fazemos aplicações dos resultados dos capı́tulos 4 e 5
para os problemas de equilibrio assim como também o problema de Signorini.
No Capı́tulo 7, estudamos o teorema do traço nos espaços W m,p (Ω). Final-
mente, o capı́tulo 8 estão dedicados ao estudo da compacidade compensada,
onde o principal resultado é o Teorema do Divergente - Rotacional. Finalmente,
no Capı́tulo capı́tulo 9 fazemos aplicações ao problemas termo e viscoelásticos.
Termino este prólogo agradecendo ao Laboratório Nacional de Computação
Cientı́fica pela reprodução parcial destas notas.
Finalmente, aceito a completa responsabilidade pelos erros ou possı́veis
pontos obscuros na exposição destas notas e são bem vindos comentários ou
correções por partes dos leitores.
O Autor
Conteúdo

1 Desigualdades Básicas 5
1.1 Funções convexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Desigualdade de Jensen . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Desigualdade de Hölder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.4 Desigualdade de Clarkson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.5 Desigualdades tipo Gronwall . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 Espaços de Banach 19
2.1 Espaços métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Espaços normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Minimização em dimensão finita . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4 Minimização em dimensão infinita . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.5 Teorema de Hanh-Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6 Convergência fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.7 Topologı́a fraca estrela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.8 Espaços reflexivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3 Os Espaços Lp 41
3.1 Desigualdades de Hölder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.2 Desigualdade de Minkowski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.3 Desigualdade de Young . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.4 Convexidade e topologia fraca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.5 Lema de Mazur . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.6 Teorema da representação de Riesz para Lp . . . . . . . . . . . 54
3.7 Convergência fraca em Lp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.8 Convergência fraca em L1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.9 Convergência forte em Lp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
3.10 Conjuntos compactos em Lp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.11 Convexidade e semicontinuidade inferior . . . . . . . . . . . . . 64
3.12 Os Espaços Lp com 0 < p < 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

1
2 Conteúdo

3.13 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

4 Distribuições 73
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Espaços vetoriais topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.3 Espaços das funções testes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.4 Funções de decrescimento rápido . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.5 Transformada de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
4.6 Transformada de Fourier em L2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
4.7 Aplicação a equação do calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
4.7.1 Dedução Fı́sica do Modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
4.8 Solução da equação do calor no RN . . . . . . . . . . . . . . . . 96
4.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

5 Espaços de Sobolev 99
5.1 Os espaços W m,p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
5.2 Os espaços W −m,p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.3 Partição da unidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
5.4 Aproximações por funções suaves . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5.5 Operadores de prolongamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
5.6 Desigualdade de Poincaré . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
5.7 Desigualdades de Sobolev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
5.8 Teorema de Morrey . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134
5.9 Teorema das derivadas intermediarias . . . . . . . . . . . . . . 140
5.10 Desigualdades de interpolação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
5.11 Distribuições vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
5.12 Teoremas de compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158
5.13 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161

6 Problemas de Equilibrio 165


6.1 Principio de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
6.2 Aplicações as equações elı́ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
6.2.1 Problema de Dirichlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
6.2.2 Equação geral de segunda ordem . . . . . . . . . . . . . 170
6.2.3 Problema de Neumann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
6.2.4 Equação geral de Neumann de segunda ordem . . . . . 171
6.2.5 Compatibilidade do problema de Neumann . . . . . . . 173
6.3 Aplicações as desigualdades variacionais . . . . . . . . . . . . . 175
6.4 O problema penalizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
Conteúdo 3

7 Teorema do Traço 181


7.1 Os espaços H s (Ω) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
7.2 Os espaços H s (Γ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182
7.3 Teorema do traço em H m (Rn−1 ) . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
7.4 Um caso simple em W m,p (Ω) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
7.5 Espaços intermediarios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
7.6 Os espaços W s,p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
7.7 Teorema do traço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
7.8 Espaços W s,p (Γ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
7.9 Teorema do traço em W m,p (Ω) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
7.10 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 208

8 Extensão de Funcionais Convexos 211


8.1 Funções A-quase convexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
8.2 Funcionais A-quase convexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214
8.3 Exercicios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 217
8.4 Condição pontual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 218
8.5 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
8.6 Teorema do divergente - rotacional . . . . . . . . . . . . . . . . 224
8.7 Exercicios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226

9 Aplicações 229
9.1 Desigualdades variacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
9.2 Problema de Signorini em elasticidade . . . . . . . . . . . . . . 229
9.3 Existencia de soluções fracas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229

A Decomposição de campos vetoriais 239


4 Conteúdo
Capı́tulo 1

Desigualdades Básicas
Todo conhecimento é uma
resposta a uma questão
G. Bachelard

Neste capı́tulo estudaremos algumas desigualdades que serão de utilidade


ao longo deste texto. Estas desigualdades estão baseadas em propriedades de
funções convexas que estudaremos a seguir. A importância da convexidade na
estrutura topológica dos espaços vetoriais será visto no Capı́tulo 2.

1.1 Funções convexas


Definição 1.1.1 Seja V um espaço normado e denotemos por F a função
F : V → R.
Diremos que F é uma função convexa se satisfaz a seguinte desigualdade
F (θu + (1 − θ)v) ≤ θF (u) + (1 − θ)F (v), ∀u, v ∈ V, ∀θ ∈ [0, 1]
Diremos que F é estritamente convexa se a igualdade acima se verifica apenas
no caso em que u = v.

Exemplo 1.1.1 Seja V = R, F (x) = x2 . É simples verificar que F é uma


função convexa. De fato, seja θ ∈ [0, 1] tomemos x, y ∈ R então
F (θx + (1 − θ)y) = (θx + (1 − θ)y)2
= θ2 x2 + 2θ(1 − θ)xy + (1 − θ)2 y2
= θx2 + (1 − θ)y2
+(θ2 − θ)x2 + 2θ(1 − θ)xy + [(1 − θ)2 − (1 − θ)]y2
= θx2 + (1 − θ)y2 − (1 − θ)θ(x − y)2

5
6 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

De onde segue que

F (θx + (1 − θ)y) ≤ θF (x) + (1 − θ)F (y)

Portanto F é convexa.

Exemplo 1.1.2 Consideremos V = R2 e F (x, y) = x2 + y2 . Verifiquemos que


F é uma função convexa. De fato, denotemos por u = (a1 , b1 ), v = (a2 , b2 ).

F (θu + (1 − θ)v) = F (θ(a1 , b1) + (1 − θ)(a2 , b2 ))


= F (θa1 + (1 − θ)a2 , θb1 + (1 − θ)b2 )
= (θa1 + (1 − θ)a2 )2 + (θb1 + (1 − θ)b2 )2

Usando o fato que a função quadrática é convexa, teremos que

(θa1 + (1 − θ)a2 )2 ≤ θa21 + (1 − θ)a22

(θb1 + (1 − θ)b2 )2 ≤ θb21 + (1 − θ)b22


Utilizando estas desigualdades encontramos que

F (θu + (1 − θ)v) ≤ θa21 + (1 − θ)a22 + θb21 + (1 − θ)b22


= θ(a21 + b21 ) + (1 − θ)(a22 + b22 )
= θF (u) + (1 − θ)F (v)

Portanto F é convexa.
Rb
Exemplo 1.1.3 Considere o espaço V = L1 (a, b), seja F (v) = a |v(x)|2 dx.
Nestas condições teremos que a função F é convexa. De fato, consideremos
Z b
F (θu + (1 − θ)v) = |θu(x) + (1 − θ)v(x)|2 dx
a

Usando o fato que a função quadrática é convexa, encontramos que


Z b
F (θu + (1 − θ)v) = |θu(x) + (1 − θ)v(x)|2 dx
a
Z b
≤ θ|u(x)|2 + (1 − θ)|v(x)|2 dx
a
≤ θF (u) + (1 − θ)F (v)
1.1. Funções convexas 7

Observação 1.1.1 O conceito de funções convexas pode ser estendido a funções


definidas sobre conjuntos e não sobre espaços normados. Por exemplo podemos
definir a convexidade de uma função

F :Ω→R

mas para isto devemos de verificar que para qualquer par de termos x e y a
função este bem definida no ponto θx + (1 − θ)y. Isto é que θx + (1 − θ)y ∈ Ω.
Os conjuntos com esta propriedade são chamados de Conjuntos Convexos.

Definição 1.1.2 Diremos que um conjunto Ω ∈ Rn é um conjunto convexo se

x, y ∈ Ω ⇒ θx + (1 − θ)y ∈ Ω

A definição anterior nos diz que um conjunto é convexo se e somente se, para
cada par de pontos no conjunto, o segmento de reta que une a esses pontos
também pertence ao conjunto. Considere os seguintes exemplos.

y y
Ω Ω

x x

Conjunto Convexo Conjunto não Convexo

Em geral o procedimento para mostrar que uma função é convexa não é


simple. a seguinte proposição será de singular importancia para identificar as
funções convexas de classe C 2

Proposição 1.1.1 Seja F uma função C 2 , então F é convexa se e somente


∂ 2 F (x)
se a matriz Hessiana de F , HF (x) = ( ∂x i ∂xj
) é semi definida positiva

Demonstração.- Do Teorema de Taylor temos que existe um ponto ξ ∈]x, x +


h[ tal que
1
F (x + h) = F (x) + h · ∇F (x) + h · HF (ξ) · hτ
2
Tomemos x = u − h1 e h1 = (1 − θ)(u − v), nestas condições segue que existe
um ponto ξ0 ∈]u − h1 , u[ satisfazendo

1
F (u) = F (θu+(1−θ)v)+(1−θ)(u−v)·∇F (θu+(1−θ)v)+ h·HF (ξ0 )·hτ (1.1)
2
8 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

Tomando agora x = v − h2 and h2 = θ(u − v), teremos desta vez que existe um
ponto ξ1 ∈]v − h2 , v[ verificando

1
F (v) = F (θu + (1 − θ)v) + θ(u − v) · ∇F (θu + (1 − θ)v) + h2 · HF (ξ1 ) · hτ2 (1.2)
2
multiplicando as equações (1.1) e (1.2) por θ e (1−θ) respectivamente, somando
os produtos resultantes e lembrando que a matriz Hessiana de F , HF , é semi
definida positiva, teremos que

θF (u) + (1 − θ)F (v) ≥ F (θu + (1 − θ)v).

O que mostra que F é uma função convexa. Recı́procamente, suponhamos que


F seja convexa e de classe C 2 , então teremos que

F (v + θ(u − v)) ≤ F (v) + θ(F (u) − F (v)).

De onde chegamos a

F (v + θ(u − v)) − F (v)


≤ F (u) − F (v).
θ
Fazendo θ → 0 chegamos a

∇F (v) · (u − v) ≤ F (u) − F (v).

Intercambiando as variável u e v segue que

∇F (u) · (v − u) ≤ F (v) − F (u).

Somando as duas desigualdades acima segue que

(∇F (u) − ∇F (v)) · (u − v) ≥ 0.


Tomando u = x + h e v = x para h = τ ξ, onde τ ∈ R e ξ ∈ Rn , teremos

τ (∇F (x + τ ξ) − ∇F (x)) · ξ ≥ 0,

que implica que


∇F (x + τ ξ) − ∇F (x)
· ξ ≥ 0.
τ
Fazendo τ → 0 obtemos
ξ t HF ξ ≥ 0.
De onde segue que a matriz Hessiana de F é semidefinida positiva. O que
completa a demonstração
1.2. Desigualdade de Jensen 9

Proposição 1.1.2 Toda função convexa F satisfaz


Xm m
X m
X
F( θi ui ) ≤ θi F (ui ) ∀θi ≥ 0 e θi = 1.
i=1 i=1 i=1

Demonstração.- Raciocinemos por indução sobre m. Suponhamos que a


desigualdade

Xk k
X
F( θi ui ) ≤ θi F (ui )
i=1 i=1
é válida para m = k. Provaremos que a identidade acima também é válida
para m = k + 1. De fato, note que
k+1
X k+1
X k+1
X θi
F( θi ui ) = F (θ1 u1 + θi ui ) = F (θ1 u1 + (1 − θ1 ) ui ).
1 − θ1
i=1 i=2 i=2

Da convexidade de F segue que


k+1
X k+1
X θi
F( θi ui ) ≤ θ1 F (u1 ) + (1 − θ1 )F ( ui ).
1 − θ1
i=1 i=2

Como
k+1
X θi
= 1.
1 − θ1
i=2
Usando a hipótese indutiva, chegamos ao nosso resultado

1.2 Desigualdade de Jensen


Como uma aplicação da propriedades das funções convexas provaremos a de-
sigualdade de Jensen.

Teorema 1.2.1 Seja Ω um hipercubo unitário, então para toda função convexa
F e toda função integrável g ∈ L1 (Ω), teremos
Z Z
F ( g(x) dx) ≤ F (g(x)) dx
Ω Ω

Demonstração.- Denotemos Rpor R uma partição de ΩPe por ∆xi o i-ésimo


retángulo da partição. Como Ω dx = 1, teremos que ∆xi = 1. Como a
função F é convexa teremos que
Xm m
X
F( g(xi )∆xi ) ≤ F (g(xi ))∆xi
i=1 i=1
10 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

Tomando limite quando ∆xi → 0 segue nossa conclusão.

Observação 1.2.1 Usando as mesmas idéias da demonstração anterior, é


possivel mostrar para um conjunto Ω ⊂ Rn qualquer que
Z Z
F ( g(x)h(x) dx) ≤ F (g(x))h(x) dx
Ω Ω
R
onde h ≥ 0 é uma função integravel com Ωh dx = 1

Demonstração.- De fato, denotando por


m
X
h(ξi )∆xi
θi = Pm ⇒ θi = 1.
j=1 h(ξj )∆xj i=1

Usando a convexidade de F teremos que


Pm ! m
g(ξi )h(ξi )∆xi X F (g(ξi )) h(ξi )∆xi
i=1
Pm Pm
F ≤ .
j=1 h(ξ j )∆x j i=1 j=1 h(ξj )∆xj

Tomando limites quando ∆xi → 0 teremos que


R  R
ΩR
g(x)h(x) dx F (g(x))h(x) dx
F ≤ Ω R .

h(x) dx Ω
h(x) dx

De onde segue o resultado.

Observação 1.2.2 Utilizando a densidade das funções contı́nuas em L1 , pode-


mos extender o resultado anterior para toda função integrável a Lebesgue, pois
sobre as funções contı́nuas a integral de Lebesgue e a integral de Riemann
coincidem.

Observação 1.2.3 Tomemos µ ∈ Rn , seja F uma função convexa e Ω um


1
hipercubo então da desigualdade de Jensen 1.2.1 aplicada a h = ,g=
med Ω
µ + ξ(x) obtemos

Z Z
F (µ + ξ(x)) dx ≥ F (µ)med (Ω); ∀ξ tal que ξ(x) dx = 0 (1.3)
Ω Ω

A continuação provaremos que o recı́proco da propriedade anterior também é


verdadera.

Teorema 1.2.2 Seja f uma função contı́nua satisfazendo (1.3) para toda função
ξ ∈ [L∞ ]n e todo Ω ⊂ RN . Então f é uma função convexa.
1.2. Desigualdade de Jensen 11

Demonstração.- Como toda função h pode ser escrita como


Z  Z 
1 1
h= h(x) dx + h − h(x) dx ,
med (Ω) Ω med (Ω) Ω
| {z } | {z }
=µ =ξ

a relação (1.3) é equivalente a

Z  Z 
1
f(h(x)) dx ≥ f h(x) dx med (Ω); ∀h ∈ L∞ (Ω). (1.4)
Ω med (Ω) Ω

Provaremos que

f(λu + (1 − λ)v) ≤ λf(u) + (1 − λ)f(v),

para toda u, v ∈ RN e 0 < λ < 1, o que mostrará que f é uma função convexa.
Com efeito, denotemos por χ0 a função caraterı́stica sobre Ω0 ⊂ Ω e tomemos
λ tal que
med (Ω0 )
λ := ,
med (Ω)
denotando por w a função

w(x) := χ0 (x)u + (1 − χ0 (x))v,

é simples verificar que

f(w) = χ0 (x)f(u) + (1 − χ0 (x))f(v).


1
Integrando sobre Ω e multiplicando o resultado por temos
med Ω

Z
1
λf(u) + (1 − λ)f(v) = χ0 (x)f(u) + (1 − χ0 (x))f(v) dx
med (Ω) Ω
Z
1
= f (χ0 (x)u + (1 − χ0 (x))v) dx
med (Ω) Ω
 Z 
med (Ω) 1
≥ f χ0 (x)u + (1 − χ0 (x))vdx
med (Ω) med Ω Ω
= f(λu + (1 − λ)v),

de onde segue nossa conclusão.


12 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

1.3 Desigualdade de Hölder


Teorema 1.3.1 (Desigualdade de Hölder). Denotemos por ai números
reais e positivos e suponhamos que pi são reais satisfazendo pi ≥ 1 e
m
X 1
= 1.
pi
i=1

Então teremos que


m
Y Xm
1 pi
ai ≤ a
i=1
p
i=1 i

Demonstração.- É simples verificar que a função t 7→ −ln(t) é convexa.


Portanto teremos que

m
Y m
X
ln( ai ) = ln(ai )
i=1 i=1
Xm
1
= ln(api )
pi
i=1
Xm
1 pi
≤ ln( a ).
pi i
i=1

Tomando a função exponencial a cada membro da desigualdade, segue o resul-


tado

1.4 Desigualdade de Clarkson


Outra desigualdade importante é a chamada Desigualdade de Clarkson, para
mostrar ela precisaremos do seguinte Lema.

Lema 1.4.1 Seja ai para i = 1, · · · m números positivos. Denotemos por


(m ) p1
X
R(p) := api .
i=1

Então a função p 7→ R(p) é decrescente.


1.4. Desigualdade de Clarkson 13

Demonstração.- Suponhamos que q ≤ p. Como


 p  q
ai ai ai
≤1 ⇒ ≤
R(q) R(q) R(q)
Tomando sumatório de i = 1 a i = m teremos
Xm  p X m  q
ai ai
≤ = 1,
i=1
R(q) i=1
R(q)

e portanto
m
X
api ≤ (R(q))p ⇒ R(p) ≤ R(q),
i=1

que completa a prova.

Agora estamos em condições de mostrar as desigualdades de Clarkson.

Teorema 1.4.1 Suponhamos que a, b são números reais e que p é um número


real satisfazendo, 1 < p < 2 então teremos que

a + b p a − b p 1 p 1 p
+
2 2 ≥ 2 |a| + 2 |b| ,

se p ≥ 2 então segue que



a + b p a − b p 1 p 1 p
+
2 2 ≤ 2 |a| + 2 |b| .

Demonstração.- Para obter a primeira desigualdade tomemos

a+b a−b
m = 2; a1 = ; a2 = ; e 1<p<2
2 2
no Lema 1.4.1. Segue que R(2) ≤ R(p) ou equivalentemente
1 1
(a21 + a22 ) 2 ≤ (ap1 + ap2 ) p

isto é
 1 !1  1
a + b p a − b p p a + b 2 a − b 2 2 1 2 1 2 2
+ ≥ + = |a| + |b| .
2 2 2 2 2 2
14 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

Como a função s 7→ −|s|p/2 é convexa para p/2 < 1, então teremos que
  p2
a + b p a − b p 1 1 1 1
2 2
≥ |a|p + |b|p.
2 + 2 ≥ 2 |a| + 2 |b| 2 2
De onde segue a primeira desigualdade deste Teorema. Supponhamos agora
que p > 2. Nestas condições, aplicando o Lema 1.4.1 para
a+b a−b
m = 2; a1 = ; a2 = ; p > 2,
2 2
segue a desigualdade. A prova está completa.

1.5 Desigualdades tipo Gronwall


Lema 1.5.1 Seja f uma função real positiva de classe C 1 , satisfazendo

f 0 (t) ≤ −c0 f(t) + c1 e−γt

onde c0 , c1 , γ são constantes positivas. Então, existem constantes positivas c,


γ0 , tais que
f(t) ≤ ce−γ0 t .

Demonstração.- Seja
2c1 −γt
F (t) = f(t) + e .
γ
Derivando a função obtemos

F 0 (t) = f 0 (t) − 2c1 e−γt ≤ −c0 f(t) − c1 e−γt ≤ −γ0 F (t),



onde γ0 = min c0 , γ2 . Finalmente, integrando de 0 a t, temos

F (t) ≤ F (0) e−γ0 t ⇒ f(t) ≤ c2 e−γ0 t ,


2c1
onde c2 = f(0) + γ
. Isto completa a demonstração.

Lema 1.5.2 Seja f uma função real positiva de classe C 1 , satisfazendo

1+ p1 k1
f 0 (t) ≤ −k0 [f(t)] + ,
(1 + t)p+1
em que p > 1, k0 , k1 > 0. Então, existe uma constante k2 > 0, tal que
pf(0) + 2k1
f(t) ≤ k2 .
(1 + t)p
1.5. Desigualdades tipo Gronwall 15

2k1
Demonstração.- Tomemos h(t) = p(1+t)p e g(t) = f(t) + h(t). Nestas
condições teremos
 
0 0 2k1 1+ 1p k1
g (t) = f (t) − ≤ −k0 [f(t)] +
(1 + t)p+1 k0 (1 + t)p+1
 
 1
 p 1+ 1p 1 1

≤ −k0 [f(t)]1+ p + 1 [h(t)] 1+ p
.
 2 
k kp 0 1
( )
 1
p 1+ p 1
Seja a0 = min 1, 2 1 . Assim,
k0 k1p

n 1 1
o
g0 (t) ≤ −k0 a0 [f(t)]1+ p + [h(t)]1+ p .

Como existe uma constante positiva a1 , tal que


1
n 1 1
o
[f(t) + h(t)]1+ p ≤ a1 [f(t)]1+ p + [h(t)]1+ p ,

concluimos que
k 0 a0 1 g0 (t) k 0 a0
g0 (t) ≤ − [g(t)]1+ p , ⇒ 1 ≤− .
a1 [g(t)]1+ p a1

Integrando de 0 a t, temos

pp g(0) pp−1 [pf(0) + 2k1 ]


g(t) ≤ n op ≤ ,
p+ k0 a0
[g(0)] t
1
p ap2 (1 + t)p
a1

n 1
o  p−1
k0 a0 1 p
em que a2 = min p, a1 [g(0)] p . Tomando k2 = a2 a2 , segue-se o
nosso resultado.

Terminamos este capı́tulo enunciando uma variante do Lema de Gronwall

Lema 1.5.3 Suponhamos que m, g, e ϕ são funções positivas satisfazendo:


Z t
ϕ(t) ≤ g(t) + m(s)ϕ(s) ds, ∀t ∈ [0, T ].
0

Então teremos que


Z t R t
m(τ) dτ
ϕ(t) ≤ g(t) + m(s)g(s)e s .
0
16 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

Demonstração.- Introduzamos o funcional


Z t
ψ(t) = m(s)ϕ(s) ds.
0

Nestas condições teremos que

ψ0 (t) = m(t)ϕ(t) ≤ m(t)ψ(t) + m(t)g(t).


Fazendo
Rt
F (t) = e− 0
m(τ) dτ
ψ(t),
obtemos
Rt Rt
F 0 (t) = −m(t)e− 0 m(τ) dτ
ψ(t) + e− 0 m(τ) dτ
ψ0 (t)
Rt
= e− 0
m dτ
[−mψ + ψ0 ]
portanto
Rt
F 0 (t) ≤ m(t)g(t)e− 0
m(τ) dτ

Integrando a desigualdade anterior encontramos que


Z t Rτ
F (t) ≤ m(τ )g(τ )e− 0 m(s) ds dτ.
0
Finalmente, lembrando a definição de F teremos que

Z t Rt
m(s) ds
ψ(t) ≤ m(τ )g(τ )e τ dτ e como ϕ(t) − g(t) ≤ ψ(t).
0

segue nossa conclusão.


Corolário 1.5.1 Com as mesmas hipóteses do Lema 1.5.3, assumindo que g
é uma função crescente, teremos que
Rt
m(τ) dτ
ϕ(t) ≤ g(t)e 0

Demonstração.- De fato, do Lema 1.5.3 segue que


Z t Rt
ϕ(t) ≤ g(t) + m(s)g(s)e s m(τ) dτ ds
0

Fazendo uma integração por partes e usando o fato que g é crescente, teremos
que  Z t 
Rt
ϕ(t) ≤ g(t) 1 + m(s)e s m(τ) dτ ds
0
De onde segue a conclusão.
1.6. Exercı́cios 17

1.6 Exercı́cios
1. Mostre que toda função convexa definida sobre a reta, é uma função
contı́nua em RN . Pode-se extender este resultado a funções do RN ?.
Justifique sua resposta.
2. Mostre que toda função convexa F : RN → R possui um ponto de mı́nimo
na bola Br (0).
3. Mostre que se f : RN → R é uma função convexa tal que |x| → ∞ ⇒
f(x) → ∞ então f tem um ponto de mı́nimo em RN . Que pode afirmar
sobre a unicidade.
4. Mostre que o conjunto de todos os pontos de mı́nimos de uma função
convexa, forma um conjunto convexo e fechado.
5. Mostre que toda função estritamente convexa, possui um único ponto de
mı́nimo. (Uma função é estritamente convexa, quando

f(θu + (1 − θ)v) = θf(u) + (1 − θ)f(v) ⇒ u = v)

6. Mostre que a matriz Hessiana de uma função estritamente convexa de


classe C 2 , é definida positiva. Recı́procamente, se a matriz hessiana de
uma função é definida positiva, então a função deve ser estritamente
convexa.
7. Mostre que a media aritmética é maior ou igual que a média Geométrica.
Isto é v
un n
uY 1X
t
n
gi ≤ gi .
n
i=1 i=1

8. Sejam b e c funções de classe C 1 , positivas e decrescentes em [0, ∞[. Seja


f uma função que decai para zero exponencialmente, (f(t) ≤ ce−γt para
C, γ > 0). Mostre que a solução geral de

y00 (t) + b(t)y0 (t) + c(t)y(t) = f(t)


decai exponencialmente para zero.
9. No exercı́cio anterior suponha que f decai polinomialmente, isto é, existe
uma constante positiva C e um número real p tais que

C
f(t) ≤ .
(1 + t)p
18 Capı́tulo 1. Desigualdades Básicas

Mostre que a solução y da equação ordinaria deve decaer também polino-


mialmente com taxa igual a f. Que pode afirmar da solução do exercico
8 quando f apenas satisfaz:

lim f(t) = 0
t→∞

10. Sejam a e b números reais. Encontre uma condição necessária e suficiente


para que a solução geral da equação

y000 (t) + ay0 (t) + by(t) = 0

decaiga exponencialmente. Que relação deve satisfazer a e b.


11. Encontre o conjunto dos dados iniciais y0 e y1 , de tal forma que a solução
da equação diferencial ordinaria

y00 (t) + 2ay0 (t) − 2a2 y(t) = 0

y(0) = y0 , y0 (0) = y1
decaiga exponencialmente.
12. Sejam b e c funções de classe C 1 , positivas e decrescentes em [0, ∞[.
Mostre que a solução geral de

y00 (t) + b(t)|y0 (t)|p y0 (t) + c(t)y(t) = f(t)


satisfaz:
c
|y(t)| ≤ .
(1 + t)p+1
Para alguma constante c > 0.
Capı́tulo 2

Espaços de Banach

Faremos aqui uma introdução aos espaços de Banach e as diferentes topologı́as


que se podem definir nelas.

2.1 Espaços métricos


O conceito de espaço métrico é um dos conceitos mais básicos do análise fun-
cional. Para que um conjunto não vazio seja um espaço métrico apenas é
suficiente ter definido sobre ele uma aplicação que será chamada de métrica.
Mais precissamente

Definição 2.1.1 Diremos que um conjunto não vazio X é um espaço métrico,


se sobre ele está definida uma função

d : X ×X → R

satisfazendo as seguintes propriedades


• d(x, y) = 0 se e somente se x = y.
• A função d é simétrica, isto é d(x, y) = d(y, x)

• d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) (desigualdade triangular)


A função d é chamada de métrica.

Um espaço métrico esta definido desta forma pelo par ordenado (X, d).
Note que não precissamos ter definida nenhuma operação sobre X. Vejamos
alguns exemplos.

19
20 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Exemplo 2.1.1 Tomemos o conjunto de pontos P = {x1 , x2, · · · , xn }. Defin-


imos sobre este conjunto a função

d : P ×P → R

da seguinte forma
d(xi , xj ) = 1 − δij
onde δij é o delta de Kronoeker, definida como

δij = 0, se i 6= j, δii = 1.

Exemplo 2.1.2 Denotemos por X = x ∈ R3 ; kxk ≤ 1 . Sobre este conjunto
definimos a função
d : X ×X → R
da seguinte forma
d(x, y) = kx − yk
claramente esta função d satisfaz as condições de métrica, portanto o par (X, d)
é um espaço métrico.

Exemplo 2.1.3 Denotemos por X = C 1 (a, b) o conjunto de todas as funções


contı́nuas definidas sobre o conjunto fechado [a, b] com derivadas contı́nuas.
Sobre este conjunto definimos a função

d(f, g) = sup |f(x) − g(x)| + sup |f 0 (x) − g0 (x)|


x∈[a,b] x∈[a,b]

é simples verificar que este é um espaço métrico.



Exemplo 2.1.4 Seja X = f ∈ C 1 (a, b); |f(x)| ≤ 1, ∀x ∈ [a, b] Se definimos
sobre este espaço a métrica

d(f, g) = sup |f(x) − g(x)|


x∈[a,b]

Concluimos que este (x, d) é um espaço métrico.

Definição 2.1.2 Seja (X, d) um espaço métrico. Diremos que (xµ )µ∈N é uma
seqüência de Cauchy no espaço métrico X se xµ ∈ X para todo µ ∈ N e ainda
verifica que para todo  > 0 existe N > 0 tal que

µ, ν ≥ N ⇒ d(xµ , xν ) < 

Quando toda seqüência de Cauchy é convergente, diremos que o espaço métrico


é completo.
2.1. Espaços métricos 21

Exemplo 2.1.5 O conjunto dos números reais com a métrica dada pelo valor
absoluto é um espaço completo. Fato, suponhamos que (xµ )µ∈N ) seja uma
seqüência de Cauchy, então teremos que ela é limitada. Dado  > 0 existe
N > 0 tal que
µ, µ0 > N ⇒ |xµ − xµ0 | < .
Fixemos agora o ponto µ0 . Da desigualdade triangular teremos que

|xµ | < |xµ − xµ0 | + |xµ0 | <  + |xµ0 |.

Tomando como C0 =  + |xµ0 | encontramos que

|xµ | < C0 , ∀µ ≥ N.

Tomando C como
C = max {x1 , · · · xµ0 , C0} ,
encontramos que
|xµ | < C, ∀µ ∈ N
Como a seqüência é limitada, do teorema de Heine Borel, segue que existe uma
subseqüência de (xµ )µ∈N que a denotaremos por (xµk )k∈N e um número real x
tal que
xµk → x
Finalmente, mostraremos que toda a seqüência converge para x. Tomemos
 > 0, então existirá N > 0 tal que

µ, µk > N ⇒ |xµ − xµ0 | <
2
Portanto temos que
 
µ>N ⇒ |xµ − x| < |xµ − xµ0 | + |xµ0 − x| < + =
2 2
Exemplo 2.1.6 O espaço métrico dado por X = C(a, b) o conjunto das funções
contı́nuas sobre o intervalo [a, b] com a métrica

d(f, g) = sup |f(x) − g(x)|


x∈[a,b]

é um espaço métrico completo. De fato. Seja fµ uma seqüência de Cauchy,


então teremos que para todo  > 0 existe N > 0 tal que

µ, ν ≥ N ⇒ d(fµ , fν ) < 

isto é
µ, ν ≥ N ⇒ sup |fµ (x) − fν (x)| < 
x∈[a,b]
22 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Como em R toda seqüência de Cauchy é convergente teremos que para cada x,


(fµ (x))µ∈N é convergente. Isto é

fµ (x) → f(x)

Denotemos por f(x) este limite. Para mostrar que C(a, b) é completo, bastará
mostrar que f é uma função contı́nua. De fato, seja  > 0 pela convergência
existem N1 e N2 tais que

µ ≥ N1 ⇒ |fµ (x) − f(x)| <
3

µ ≥ N2 ⇒ |fµ (y) − f(y)| <
3
Denotemos por N = max {N1 , N2 }. Por outro lado, pela continuidade de fµ
teremos que existe δ > 0 tal que

|x − y| < δ ⇒ |fµ (x) − fµ (y)| <
3
Da desigualdade triangular obtemos que

|f(x) − f(y)| ≤ |f(x) − fµ (x)| + |fµ (x) − fµ (y)| + |fµ (y) − f(y)|

Tomando µ > N e |x − y| < δ concluimos que


  
|f(x) − f(y)| ≤ + + =
3 3 3
De onde segue a continuidade da f. Portanto f ∈ C(a, b). Logo o espaço é
completo.

2.2 Espaços normados


A estrutura de espaço métrico é uma estrutura básica onde isolamos o conceito
de métrica, para definir sobre ela uma convergência de seus elementos. Os
espaços normados são estruturas mais ricas, isto é são conjuntos não vazios que
possuem duas operações fechadas definidas sobre ele. Uma delas é a soma de
vetores, e a outra o produto por um escalar, isto é um espaço normado é um
espaço vetorial. Mais precissamente

Definição 2.2.1 Diremos que um espaço vetorial é um espaco normado, se


existe uma função N : E → R satisfazendo as seguintes propriedades
• N (x) ≥ 0 para todo x ∈ E e se N (x) = 0 ⇒ x=0
• N (x + y) ≤ N (x) + N (y) para todo x, y ∈ E
2.2. Espaços normados 23

• N (αx) = |α|N (x)

Note que a definição de espaço normado exige que E seja um espaço vetorial.
Em particular todo espaço normado é um espaço métrico, para ver isto basta
definir a métrica d(x, y) = N (x−y). Um espaço Normado é chamado de espaço
de Banach se ele é completo, isto é toda seqüência de Cauchy é convergente em
E.

Exemplo 2.2.1 Denotemos por L1 (a, b) o espaço de todas as funções definidas


sobre [a, b] integráveis a Lebesgue. É simples verificar que este espaço munido
da norma Z b
kfk1 = |f(x)| dx
a
é um espaço normado. Utilizando os resultados de teorı́a da medida mostra-se
que toda seqüência de Cauchy é convergente.

Exemplo 2.2.2 Denotemos por C([a, b]) o conjunto de todas as funções contı́nuas
no intervalo [a, b]. Isto é

C([a, b]) = {f : [a, b] → R; fé contı́nua}

Este é um espaço vetorial, pois soma de funções contı́nuas é contı́nua, e o


produto de uma constante por uma função contı́nua é também uma função
contı́nua. Este espaço vetorial tem estrutura de espaço normado se sobre ele
definimos a norma

kfk∞ = sup {|f(x)|; x ∈ [a, b]}

É simples verificar que k · k∞ é uma norma. De fato,

kfk∞ = 0 ⇒ f = 0.

Por outro lado temos que

kf + gk∞ ≤ kfk∞ + kgk∞

E Finalmente, que
kλfk∞ = |λ|kfk∞

Exemplo 2.2.3 Consideremos o mesmos espaço do exemplo 2.2.2, C([a, b])


o conjunto de todas as funções contı́nuas Como vimos é um espaço vetorial.
Podemos também dar a este espaço, estrutura de espaço normado, introduzindo
a norma Z b
kfk1 = |f(x)| dx
a
24 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

É simples verificar que k · k∞ é uma norma. De fato,


Z b
|f(x)| dx = 0 ⇒ f = 0.
a

Por outro lado temos que


Z b Z b Z b
|f(x) + g(x)| dx ≤ |f(x)| dx + |g(x)| dx
a a a

Apesar que algébricamente o espaço C(a, b) é igual ao do exemplo 2.2.2, eles


possuim caraterı́sticas muito diferentes. O espaco C(a, b) munido da norma
k · k1 não é um espaço completo. Para isto basta considerar a seqüência de
funções
fn : [0, 1] → R, fn (x) = xn .
É simples verificar

0, 0 ≤ x < 1
fn (x) → f(x), onde f(x) =
1, x = 1.

Por outro lado temos que


Z 1 Z 1
1
|fn (x) − f(x)| dx = xn dx = →0
0 0 n+1

De onde fn converge para f na norma k·k1 . Mais f não é uma função contı́nua.
Logo C([0, 1]) não é um espaço completo.

2.3 Minimização em dimensão finita


Como vimos na seção anterior, para encontrar uma solução de um problema de
equilibrio é necessário mostrar que o funcional que define a energı́a potencial
do sistema pode ser minimizado. Isto é que existe uma função u satisfazendo

J(u) ≤ J(v), ∀v ∈ Uad


Onde J é um funcional definido sobre um espaço normado E e Uad ⊂ E o
conjunto das funções admissiveis.
Problemas semelhantes aparecem em problemas de análise real onde muitas
vezes é necessário minimizar funcionais definidos sobre RN . Por exemplo uma
função quadrática da forma

q(x) = xAxt + a · x
2.3. Minimização em dimensão finita 25

Onde x = (x1 , · · · , xn ) e a ∈ RN . Em geral existem restrições, da forma

F (x) ≤ 0

Onde F : RN → R. Portanto o problema se resume em encontrar um ponto x0


de tal forma que F (x0 ) ≤ 0 e

q(x0 ) ≤ q(x), ∀x ∈ R, F (x) ≤ 0

Mostrar que este ponto existe não é tarefa dificil quando se tem as hipóteses
necessárias. Por exemplo que a matriz A seja definida positiva e F seja uma
função convexa. A ideia da demostração é a seguinte. Denotemos por Uad =
{x ∈ Rn ; F (x) ≤ 0}. Queremos encontrar x0 ∈ Uad tal que

q(x0 ) ≤ q(x), ∀x ∈ Uad

Primeiro note que como A é definida positiva, existe uma constante α > 0 tal
que
xAxt ≥ αkxk2 , ∀x ∈ Rn
Somando a · x a ambos termos da desigualdade anterior teremos que

a2 α
q(x) = xAxt + a · x ≥ αkxk2 + a · x ≥ αkxk2 − − kxk2
2α 2
De onde segue que
a2 a2
q(x) ≥ αkxk2 − ≥− (2.1)
2α 2α
Portanto q(x) é limitado inferiormente em RN e em particular sobre Uad . Sabe-
mos que toda função limitada possui um infimo. Da definição de infimo, existe
uma seqüência em xµ de elementos de Uad tais que

q(xµ ) → inf {q(x); x ∈ Uad } := I

Note que aqui não podemos aplicar compacidade diretamente porque o conjunto
sobre o qual minimizamos não é limitado. Usando a primeira desigualdade em
(2.1) encontramos que
 
2 1 a2
kxµ k ≤ q(xµ ) +
α 2α
Como o segundo membro da desigualdade acima é limitado concluimos que a
seqüência (xµ )µ∈Rn é limitada. Portanto pelo Teorema de Heine Borel, existe
um ponto x0 e uma subseqüência convergente tal que

xµk → x0
26 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Como xµk ∈ Uad para todo k e o conjunto Uad é fechado, teremos que x0 ∈ Uad .
Da continuidade de q obtemos que

I = lim q(xµk ) = q(x0 )


k→∞

portanto x0 é o ponto que minimiza o problema.

2.4 Minimização em dimensão infinita


O método de resolução do problema anterior é bastante geral e pode ser esten-
dido a casos mais gerais. Infelizmente não pode ser estendido dessa forma para
problemas de minimização em dimensão infinita. Isto porque em pontos cruci-
ais da demonstração utilizamos o fato que toda seqüência limitada possui uma
subseqüência convergente, isto é a compacidade. O problema deste resultado é
que somente é válido em espaços de dimensão finita.

Teorema 2.4.1 Uma seqüência limitada de elementos de um espaço de Ba-


nach E possui uma subseqüência convergente se e somente se E tem dimensão
finita.

Este teorema acaba com a posibilidade de aplicar o mesma ideia para mini-
mização de funcionais em Espaços de Banach. Examinando mais de perto este
problema, concluimos que o problema não radica no fato da dimensão ser finita
ou não e sim na convergência. Pois observe que não é necessario que

lim q(xµk ) = q(x0 )


k→∞

basta apenas mostrar que

lim q(xµk ) ≥ q(x0 )


k→∞

Esta desigualdade nos da a posibilidade de enfraquecer nosso conceito de con-


vergência. Observe que até agora temos tratado de convergencia no sentido
da norma. Isto é onde os conjuntos abertos estão definidos a partir de bolas
abertas do tipo
Br (x0 ) = {x ∈ E; kx − x0 kE < r}
Com estes conjuntos em espaços de dimensão infinita o conceito de compacidade
é mais exigente. Veja por exemplo o teorema de Compacidade para conjuntos
de Lp ou o teorema de Arsela Ascoli que carateriza conjuntos compactos no
espaço das funções contı́nuas. A questão agora é saber que tipo de topologı́a
podemos definir de tal forma que conjuntos limitados sejam precompactos em
espaços de dimensão infinita.
2.4. Minimização em dimensão infinita 27

Lembremos que uma função é contı́nua se e somente se a preimagem de


conjuntos abertos são também conjuntos abertos aberto. A ideia aqui é en-
fraquecer o conceito de convergência restringindo o conceito de continuidade.
Assim a ideia é considerar o conjunto de todas as funções lineares e contı́nuas.
Assim diremos que uma seqüência (xµ )µ∈N converge fraco para x se e somente
se para toda função f linear e contı́nua se verifica que

f(xµ ) → f(x).

O conceito de convergência agora é mais amplo que aquele que conhecemos


do cálculo diferencial e este novo conceito nos permitirá desenvolver uma nova
teoria que é chamada de Análise funcional.
Vejamos como os espaços de dimensão finita difierem nos espaços de di-
mensão infinita.

Exemplo 2.4.1 Seja (xn )n∈N uma seqüência de vetores em Rm . Suponhamos


que ela seja limitada. Isto é que exista uma constante C > 0 tal que
p
kxn k = |x1n|2 + |x2n |2 + · · · + |xm 2
n| ≤ C

Pelo Teorema de Heine-Borel existe uma subseqüência de xn , denotada por xnk


que é convergente em Rm . Por outro lado. Esta propriedade não é válida para
espaços de dimensão infinita. Por exemplo considere o espaço E = C 1 (0, 1)
com a norma kfk∞ dada por

kfk∞ = sup |f(x)|


x∈[0,2π]

Considere por exemplo a seqüencia:

yn = sen (nx)

Claramente é uma seqüência limitada em E. Mas não possui nenhuma sub-


seqüência convergente.

Para resolver problemas de minimização em espaços de dimensão infinita,


devemos extender o conceito de convergência.
Lembremos o conceito de continuidade para funções de uma variável. Seja
f : [a, b] → R uma função contı́nua no ponto x0 , para todo  > 0 existe δ > 0
tal que
|x − x0 | < δ ⇒ |f(x) − f(x0 )| < 
Esta definicão de continuidade é equivalente a seguinte: f é uma função contı́nua
se e somente se a preimagem de conjuntos abertos de R é um aberto de [a, b].
Mais precissamente temos o seguinte teorema.
28 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Teorema 2.4.2 Uma função f : [a, b] → R é contı́nua se e somente se para


todo aberto V de R, f −1 (V ) é um aberto de [a, b]

Demonstração.- Se f é uma função contı́nua o resultado é simple de verificar.


Mostraremos que quando a preimagem de abertos de R é um aberto de [a, b]
então f deve ser contı́nua. De fato, lembremos que para toda função f e para
todo conjunto V ⊂ R é válido

f(f −1 (V )) ⊂ V (2.2)

Tomemos agora uma vizinhança de f(x0 ), isto é

B (f(x0 )) = {y ∈ R; |y − f(x0 )| < }

Como f −1 (B (f(x0 ))) é um conjunto aberto e

x0 ∈ f −1 (B (f(x0 )))

então teremos que existe δ > 0 talque

Bδ (x0 ) ⊂ f −1 (B (f(x0 )))

Usando a propriedade (2.2) concluimos que

f(Bδ (x0 )) ⊂ f(f −1 (B (f(x0 )))) ⊂ B (f(x0 )))

que significa que se

x ∈ Bδ (x0 ) ⇒ f(x) ∈ f(Bδ (x0 )) ⊂ B (f(x0 )))

Ou equivalentemente, teremos que dado  > 0 existe δ > 0 tal que

|x − x0 | < δ ⇒ |f(x) − f(x0 )| < 

que mostra a continuidade de f.

O mesmo resultado é válido sobre os espacos de Banach. Isto é

Teorema 2.4.3 Seja E um espaço de Banach e denotemos por F uma função


da forma
F :E→R
Então F é uma função contı́nua se e somente se para todo aberto V de R,
F −1 (V ) é um aberto de E.
2.4. Minimização em dimensão infinita 29

A demonstração segue os mesmos passos que o correspondente teorema para


funções reais.

Note que a norma de E é sempre uma função contı́nua, portanto as bolas

Br (x0 ) = {x ∈ E; kx − x0 k < r}

são sempre conjuntos abertos, pois

Br (x0 ) = F −1 (]0, r[)

onde F (x) = kx − x0 k.

Extensão do conceito de convergência


Extenderemos o conceito de convergência a partir da seguinte propriedade pro-
priedade das funções contı́nuas. Se a seqüência (xν )ν∈N é convergente então
para toda função contı́nua F teremos que F (xν )ν∈N é também convergente.
Definiremos uma condição mais fraca que a anterior se exigimos que a con-
vergência seja válida apenas para as funções lineares e contı́nuas. Diremos
então que uma seqüência xn converge fracamente para x, se f(xn ) converge
para f(x), para todas as funções lineares e contı́nuas. Para formalizar esta
definição introduziremos o espaço dual.

Definição 2.4.1 Denotemos por E ∗ o conjunto das funções f : E → R lin-


eares e contı́nuas, isto é

E ∗ = {f : E → R; fé linear e contı́nua}

O conjunto E ∗ é chamado de espaço dual de E

Da definição concluimos que E ∗ é um espaço vectorial. Mais ainda, E é um


espaço normado com a norma dada por

kfkE ∗ = sup |f(x)|


kxkE ≤1

O seguinte resultado nos diz que o espaço dual de um espaço normado qualquer
é completo.

Teorema 2.4.4 Seja E um espaço normado, e denotemos por E ∗ o espaço


dual de E. Então E ∗ é um espaço completo.
30 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Demonstração.- Seja (fm )m∈N uma seqüência de Cauchy em E ∗ , então ter-


emos que para todo  > 0 existe N > 0 tal que

m, n > N ⇒ kfm − fn kE ∗ < .


Em particular teremos que

kfm (x) − fn (x)k ≤ kxkE kfm − fn kE ∗

Portanto, a seqüência (fm (x))m∈N é de Cauchy em R. Pela completitude dos


números reais teremos que existe f(x) tal que

fm (x) → f(x).

Mostraremos a seguir que f ∈ E ∗ . Note que

fm (αx + βy) = αfm (x) + βfm (y) → αf(x) + βf(y).

De onde segue que a função é linear. Mostraremos agora que f é contı́nua,


para isto bastará mostrar que é limitada.

|f(x)| = lim |fn (x)| ≤ lim kfn kE ∗ ≤ C


n→∞ n→∞

Pois toda seqüência de Cauchy é limitada. Portanto f ∈ E ∗ . Finalmente,


mostraremos que (fm (x))m∈N converge para f. Da definição de supremo, temos
que para  > 0 existirá um elemento x0 ∈ E tal que

kfm − fkE ∗ = sup |fm (x) − f(x)| < |fm (x0 ) − f(x0 )| +
kxkE ≤1 3

Tomando m tal que


1
|fm (x0 ) − f(x0 )| < 
3
Segue o resultado.

2.5 Teorema de Hanh-Banach


O Teorema de Hanh-Banach é a pedra fundamental do análise funcional. Uma
das conseqüências deste Teorema é que podemos caraterizar a convergência
fraca de uma forma relativamente simples. O Teorema nos diz que toda
aplicação linear e contı́nua definido sobre um subespaço de E pode ser es-
tendida continuamente a todo o espaço. Mais precissamente

Teorema 2.5.1 Seja E um espaço vetorial e denotemos por p uma seminorma


definida sobre E. Isto é
2.5. Teorema de Hanh-Banach 31

• p(λx) = λp(x), ∀x ∈ E, ∀λ > 0


• p(x + y) ≤ p(x) + p(y), ∀x, y ∈ E
Denotemos por G um subespaço de E e g : G → R uma aplicação linear tal que

g(x) ≤ p(x), ∀x ∈ G

Então existe uma forma linear f : E → R satisfazendo

g(x) = f(x), ∀x ∈ G

e ainda
f(x) ≤ p(x) ∀x ∈ E
Demonstração.- Seja E um espaço normado e G um subespaço de E. Se
G 6= E, então existe um elemento x0 ∈ E e x0 ∈
/ G. Definimos assim o espaço
G1 = G + Rx0 . Mostraremos que f pode ser estendido a G1 satisfazendo

f(x) ≤ p(x), ∀x ∈ G1 (2.3)

Denotemos por f1 a extensão de f dada por

f1 (x + tx0 ) = f(x) + tα

Onde α será escolhida posteriormente de tal forma que verifique a desigualdade


2.3. Isto é que se verifique que

f1 (x + tx0 ) ≤ p(x + tx0 )

Ou equivalentemente, para t > 0


x x x x
f1 ( + x0 ) ≤ p( + x0 ), ou f1 ( − x0 ) ≤ p( − x0 )
t t t t
Isto é equivalente a mostrar que

f1 (y + x0 ) ≤ p(y + x0 ), f1 (y − x0 ) ≤ p(y − x0 ) ∀y ∈ G

De onde obtemos que

f(y) + α ≤ p(y + x0 ), f(y) − α ≤ p(y − x0 ) ∀y ∈ G

Por outro lado, para x, y ∈ G e da desigualdade triangular temos

f(x + y) ≤ p(x + y) ≤ p(x + x0 ) + p(y − x0 ).

De onde segue que

f(y) − p(y − x0 ) ≤ p(x + x0 ) − f(x)


32 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Tomando supremo no primeiro membro da desigualdade acima e depois infimo


no segundo membro obtemos que
sup {f(y) − p(y − x0 )} ≤ inf {p(x + x0 ) − f(x)}
y∈G x∈G

Tomamos α tal que


sup {f(y) − p(y − x0 )} ≤ α ≤ inf {p(x + x0 ) − f(x)}
y∈G x∈G

Encontramos que
f(y) + α ≤ p(y + x0 ), f(y) − α ≤ p(y − x0 ) ∀y ∈ G
De onde segue que
f1 (x + tx0 ) ≤ p(x + tx0 )
Isto é,
f1 (x) ≤ p(x), ∀x ∈ G1 .
Continuando com este mesmo reaciocinio encontramos uma cadeia de sube-
spaços de E verificando
G1 ⊂ G2 ⊂ · · · ⊂ E.
e uma seqüências de funções f1 , f2 , · · · , fn , onde fn está definido em Gn e fn
extende fn−1 . Podemos construir uma relação de ordem  da seguinte forma:
Diremos que (Gi , fi )  (Gj , fj ) se Gi ⊂ Gj e fj extende a fi . Claramente este
conjunto tem um maiorante, e portanto pelo Lema de Zorn possui um elemento
maximal, que é (E, f), Logo existe f satisfazendo as condições do Teorema.

Observação 2.5.1 Para o caso dos espaços de Dimensão finita o Teorema de


Hanh Banach é bastante simple. Seja E = RN e denotemos por G ⊂ RN um
subespaço de E. Denotemos por g : G → R uma função linear satisfazendo
g(x) = kxk, ∀x ∈ G
Então construiremos uma função f satisfazendo as condições do Teorema de
Hanh Banach. De fato, denotemos por {e1 , · · · , er } a base ortonormal de G.
Esta base pode ser estendida ortonormalmente a uma base do RN , denotemos
por B = {e1 , · · · , er , er+1 , · · · en } esta base. Tomemos x = c1 e1 + · · · + cn en e
f de tal forma que
f(er+1 ) = 0, · · · , f(en ) = 0, f(c1 e1 + · · · + cr er ) = g(x)
A função f assim definida satisfaz
f(x) = f(c1 e1 + · · · + cn en )
= f(c1 e1 + · · · cr er ) + f(cr+1 er+1 + · · · + cn en )
= g(x̄) ≤ kx̄k ≤ kxk
2.6. Convergência fraca 33

Corolário 2.5.1 Para todo x ∈ E existe f0 ∈ E ∗ tal que

kf0 k = kx0 k, f(x0 ) = kx0 k2

Demonstração.- Seja G = Rx0 , e definamos por g ao funcional definido sobre


G da seguinte forma

g(x) = g(tx0 ) = tkx0 k2 ⇒ kgk = kx0 k

Tomemos p(x) = kx0 kkxk. Do Teorema de Hanh-Banach existe uma função f0


definida sobre todo E que verifica

f0 (x) = g(x), ∀x ∈ G, |f0 (x)| ≤ p(x) = kx0 kkxk

Portanto f0 verifica as condições to Corolário.

Corolário 2.5.2 Para todo elemento x ∈ E temos que

kxkE = sup f(x)


f∈E ∗ ;kfk∗ ≤1

Demonstração.- Do teorema de Hanh Banach, existe uma aplicação f0 tal


que
kf0 k∗ = kxk, f0 (x) = kxk2
f0
Tomando f1 = kxk
concluimos que

kxk = f1 (x) ≤ sup f(x)


f∈E ∗ ;kfk∗ ≤1

Como
sup f(x) ≤ sup kfkkxk ≤ kxk
f∈E ∗ ;kfk∗ ≤1 f∈E ∗ ;kfk∗ ≤1

segue a nossa conclusão.

2.6 Convergência fraca


Na seção anterior vimos como pode ser estendido o conceito de convergência de
números reais para espaços de Banach. Esta convergência é chamada de forte
porque vem da norma. Se (xn )n∈N é uma seqüência que converge forte, então
para toda função contı́nua teremos que

f(xn ) → f(x)

A seguir definiremos o conceito de convergência fraca.


34 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Definição 2.6.1 Diremos que uma seqüência (xn )n∈N de elementos de um


espaço de Banach E, converge fraco para x ∈ E, se e somente se

f(xn ) → f(x), ∀f ∈ E ∗

Da definição concluimos que se uma seqüência convergência forte, então ela


converge fraco. De fato, se xn converge forte, então para toda função contı́nua
f teremos que f(xn ) → f(x), em particular para as funções f ∈ E. O recı́proco
não é verdade em geral. A exceção é quando E tem dimensão finita. Isto é,
a convergência fraca e forte são equivalentes nos espaços de dimensão finita.
De fato, considere por exemplo o caso unidimensional. Toda função linear e
contı́nua f : R → R é da forma f(x) = αx, para α ∈ R. Tomando f tal que
α 6= 0 encontramos que

f(xn ) → f(x) ⇒ αxn → αx ⇒ xn → x

No caso do RN a situação é semelhante. Note que todo funcional contı́nuo


f : RN → R é da forma f(x) = A · x onde A ∈ Rn . Tomando A =
(0, · · · , 0, 1, 0 · · ·, 0) encontramos que

f(x) = xi .

Portanto a condição de convergência fraca implica que

xni → xi , ∀i = 1, · · · n.

De onde temos que a seqüência xn converge forte. Nos casos de dimensão


infinita este resultado não é valido, pois por uma lado não podemos caraterizar
todos os funcionais lineares e contı́nuos de uma forma tão simples. E por outro
lado x não é necessariamente uma combinação linear finita de termos de uma
base. A convergência fraca está estreitamente viculada a semicontinuidade
inferior que definimos a seguir.

Definição 2.6.2 Diremos que um funcional J : E → R definido sobre um


espaço normado E é semicontı́nua inferiormente (SCI) se para toda seqüência
(uν )ν∈N convergindo para u temos que

lim inf J(uν ) ≥ J(u).


ν→∞

Para funções f : R → R, toda função contı́nua num ponto x será semi-


contı́nua inferiormente nesse ponto. Para funções f com discontinuidade de
primeira especie isto é quando existem os limites laterais, porém são diferentes,
a função deve verificar nos pontos de discontinuidade as seguintes relações

f(x− ) ≥ f(x), f(x+ ) ≥ f(x).


2.7. Topologı́a fraca estrela 35

Função S.C.I. Não é S.C.I.

Como uma conseqüência do Teorema de Hahn Banach, temos que a norma é


sempre uma função semicontı́nua inferiormente com respeito à topologı́a fraca.

Teorema 2.6.1 Seja E um espaço normado, e seja xν uma seqüência de ele-


mentos em E convirgindo fraco para x, então temos que

lim inf kxν k ≥ kxk


ν→∞

Demonstração.- De fato como a xν converge fraco, então temos que

f(xν ) → f(x), ∀f ∈ E ∗

Por outro lado

f(xν ) ≤ kfkkxν k ⇒ f(x) = lim inf f(xν ) ≤ kfk lim inf kxν k
ν→∞ ν→∞

Do Corolário 2.5.1, encontramos que existe um funcional f satisfazendo

kfk ≤ 1, f(x) = kxk.

Usando este funcional na desigualdade acima, segue o resultado.

2.7 Topologı́a fraca estrela


Dado um espaço normado E, podemos construir seu espaço dual E ∗ como
sendo o espaço formado por todos os funcionais lineares e contı́nuos definido
sobre E. Este espaço dual é por sua vez um espaço normado. Portanto neste
espaço podemos definir tanto a convergência forte como a convergência fraca.
Um ponto importante dos espaços duais, é que sobre eles podemos definir uma
terceira convergência, a chamada de convergência fraca estrela. Diremos que
uma seqüência de funções (fn )n∈N converge fraco estrela em E ∗ se

fn (x) → f(x), ∀x ∈ E.
36 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Observação 2.7.1 Os conjuntos abertos em E ∗


O dual de E, denotado por E ∗ é um espaço normado, com a norma dada
por
kfk∗ = sup f(x).
x∈B1 (0)

Portanto podemos definir os conjuntos abertos de E ∗ a partir das bolas abertas.


Isto é, a bola aberta centrada no zero e raio  é dada por

V (0) = {f ∈ E ∗ ; kfk∗ < }


( )
= f ∈ E∗; sup f(x) < 
x∈B1 (0)

= {f ∈ E ∗ ; |f(x)| < , ∀x ∈ B1 (0)}

Em geral podemos afirmar que uma vizinhança qualquer de zero é dada por

V = {f ∈ E ∗ ; |f(x)| < , x ∈ B}

onde B é um conjunto limitado qualquer. Portanto se fn converge forte para


f, é porque

kfn − fk∗ → 0 ⇐⇒ sup |fn (x) − f(x)| → 0


x∈B1 (0)

Por outro lado, Na convergência fraca estrela teremos que


?
fn * f ⇐⇒ fn (x) → f(x), ∀x ∈ E.

Onde a convergência não é uniforme em x.


Em particular se Tomamos B apenas um conjunto finito, teremos assim
uma classe de vizinhanças de zero, e esta topologı́a é chamada de topologı́a
fraca estrela.

Definição 2.7.1 Diremos que um espaço normado E é separável, se existe um


subconjunto numerável e denso em E

O conceito de separabilidade é importante, pois nos diz que todo elemento x


de E pode ser escrito como limite de uma subseqüência do conjunto numerável
e denso.

Teorema 2.7.1 Toda seqüência limitada de funcionais lineares e contı́nuas


definidos sobre um espaço normado separável, possui uma subseqüência que
converge fraco estrela
2.7. Topologı́a fraca estrela 37

Demonstração.- Seja {x1 , x2 , · · · , xn, · · ·} um conjunto numerável e denso.


Seja (fn )n∈N uma seqüência limitada, então a seqüência de números reais dados
por
f1 (x1 ), f2 (x1 ), f3 (x1 ), · · · fn (x1 ), · · ·

é limitada, portanto podemos extraer um subseqüência convergente, denotemos


ela por

(1) (1) (1)


f1 (x1 ), f2 (x1 ), f3 (x1 ), · · · fn(1) (x1 ), · · ·

que por nossa escolha é convergente. Consideremos agora a subseqüência de


(1)
(fn )n∈N dada por (fn )n∈N . Repetindo o mesmo raciocinio anterior concluimos
que a seqüência

(1) (1) (1)


f1 (x2 ), f2 (x2 ), f3 (x2 ), · · · fn(1) (x2 ), · · ·

é limitada, portanto existe uma subseqüência convergente. De onde existe


(2) (2) (2)
f1 (x2 ), f2 (x2 ), f3 (x2 ), · · · fn(2) (x2 ), · · ·

é também uma seqüência convergente. Assim temos encontrado um sistema de


seqüências tais que
(1) (1) (1)
f1 , f2 ··· fn · · ·,
(2) (2) (2)
f1 , f2 ··· fn · · ·,
(3) (3) (3)
f1 , f2 ··· fn · · ·,
··· ··· ··· ··· ···
Onde cada seqüência é uma subseqüência da anterior. Tomando agora a
(n) (n)
seqüência diagonal (fn )n∈N teremos pela construção que a seqüência (fn (xi ))n∈N
converge para todo i ∈ N. Como o conjunto {x1 , x2 , · · · , xn , · · ·} é denso ter-
(n)
emos que a seqüência (fn (x))n∈N convirge para todo x ∈ E. Isto quer dizer
que para cada x ∈ E existe um número f(x) De tal forma que

fn(n) (x) → f(x)

Note que f é linear pois cada termo fn é linear. Por outro lado

f(x) = lim fn(n) (x) ≤ lim kfn(n) (x)k ≤ ckxk, ∀kxk ≤ 1


n→∞ n→∞

pois a seqüência (fn )n∈N é limitada. Portanto f também é limitado. O que


completa a demonstração. Por outro lado, se E é um espaço separável, temos
que a bola unitária em E ∗ é metrizável. Mais precissamente temos
38 Capı́tulo 2. Espaços de Banach

Teorema 2.7.2 Denotemos por E um espaço normado separável. A topologı́a


fraca estrela induzida na bola B ⊂ E ∗
E = {f ∈ E ∗ ; kfk∗ ≤ 1}
é metrizável e sua métrica é dada por

X
d(f, g) = 2−n |hf − g , xn i|
n=0

onde (xn )n∈N é o conjunto numerável e denso da bola B.

A demonstração é simple

2.8 Espaços reflexivos


Assim como construimos o espaço dual de um espaço vetorial, também podemos
construir o espaço dual do dual. Isto é
E ∗∗ = {f : E ∗ → R; f é linear e contı́nua}
Este espaço E ∗∗ é também um espaço normado e completo. A norma do espaço
bidual esta dada por
kfk∗∗ = sup f(g)
g∈E ∗ ,kgk∗ ≤1

Em geral dado um espaço vetorial E qualquer, podemos definir os espaços dual


e bidual. Inclusive podemos relacionar o espaço E com o bidual E ∗∗ através
da seguinte aplicação
J : E → E ∗∗ , x 7→ J(x) ∈ E ∗∗
Onde
J(x) : E ∗ → R
Definindo de forma natural
hJ(x) , fi = f(x)
Para todo f ∈ E ∗ . Note que J é uma isometrı́a entre os espaços E e E ∗∗ . De
fato,
kJ(x)k∗∗ = sup hJ(x); fi = sup hf, xi = kxk
f∈E ∗ ,kfk∗ ≤1 f∈E ∗ ,kfk∗ ≤1

De onde obtemos uma aplicação injetora entre os espaços E e E ∗∗ . A aplicação


J é chamada de projeção canónica. Não é verdade em geral que J definida
acima, seja sobrejetóra. Os espaços nos quais J seja sobrejetora são chamados
de Reflexivos.
2.8. Espaços reflexivos 39

Definição 2.8.1 Seja E um espaço de Banach, diremos que E é um espaço


reflexivo quando a aplicação J definida acima é sobrejetora.

Observação 2.8.1 Como uma conseqüência imediata, temos que RN é um es-


paco reflexivo. Em geral podemos afirmar que todo espaço normado e completo
de dimensão finita é reflexivo.

Propriedades dos espaços duais


• E é um espaço reflexivo se e somente se E ∗ é reflexivo
• Se E ∗ é um espaço separável então E é separável.
• E é um espaço reflexivo e separável se e somente se E ∗ é um espaço
reflexivo e separável.

Teorema 2.8.1 Se E é um espaço reflexivo e separável, então a bola unitária


e fechada de E é um conjunto compacto com respeito à topologı́a fraca.

Demonstração.- Seja xn uma seqüência limitada em E. Por ser E reflexivo


teremos que
J : E → E 00
é uma bijeção. Logo teremos que J(xn ) é limitada em E 0 . Portanto existe uma
subseqüência de xn tal que

J(xnk ) * F fraco estrela em E 00

Onde F ∈ E 00 . Pela reflexividade, existe x ∈ E tal que J(x) = F . Da con-


vergência fraca estrela temos

hJ(xnk ), fi → hJ(x), fi ∀f ∈ E 0 .

De onde, pela definição de J temos

hf, xnk i → hf, xi ∀f ∈ E 0 .

O que significa que xnk converge fraco em E.


Por ser E numerável então a topologı́a inducida sobre a bola é metrizável.
Logo a bola é um espaço métrico onde toda seqüência limitada possui uma
subseqüência convergente. Portanto, concluimos que a bola é um conjunto
relativamente compacto.
Em geral temos
Teorema 2.8.2 E é um espaço reflexivo se e somente se toda seqüência limi-
tada possui uma subseqüência convergindo fraco.
40 Capı́tulo 2. Espaços de Banach
Capı́tulo 3

Os Espaços Lp
O espı́ritu só usa sua facultade criadora
quando a experiencia lhe impõe tal necessidade
H. Poincaré

Neste capı́tulo estudaremos as principais propriedades dos espaços Lp tais


como o teorema da Representação de Riesz, reflexividade, separabilidade e
a convexidade uniforme. Para isto utilizaremos essencialmente as desigual-
dades estudadas no capı́tulo anterior. As propriedades mais importantes dos
espaços Lp estão estreitamente vinculadas com a convexidade da norma, con-
sideraremos o caso Lp com 0 < p < 1. Como veremos ao final deste capı́tulo
estes conjuntos são espaços vetoriais métricos, com a propriedade que as bolas
abertas ou fechadas em Lp não são convexas. Este fato implica, surprendente-
mente, que os espaços duais se reduzem ao conjunto nulo.
Começaremos este Capı́tulo lembraremos alguns resultados importante da
Teria de integração

Lema 3.0.1 Seja (fν ) uma seqüência não negativa de funções, fν ≥ 0 e supon-
hamos que Z
sup fν dx < ∞
ν∈N RN

então a função definida como

f(x) = lim inf fν (x)


ν∈N

satisfaz, Z Z
1 N
f ∈ L (R ), f dx ≤ lim inf fν dx
RN ν∈N RN

41
42 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Teorema 3.0.3 (Teorema de Lusin) Seja Ω ⊂ Rn um conjunto mensurável


e de medida finita. Seja f uma função mensurável satisfazendo f(x) = 0 para
x ∈ Rn \ Ω. Então para todo  > 0 existe uma função g ∈ C0 (Ω) satisfazendo

sup |g(x)| ≤ sup |f(x)|, e med {x ∈ Rn ; f(x) 6= g(x)} < .


x∈Rn x∈Rn

Teorema 3.0.4 (Teorema da Convergência Dominada) Seja Ω ⊂ Rn um


conjunto mensurável e seja fµ uma seqüência de funções mensuráveis con-
vergindo quasi sempre para uma função f em Ω. Se existe uma função g ∈
L1 (Ω) verificando |fµ (x)| ≤ |g(x)|, para todo µ ∈ N e quase sempre em Ω
então Z Z
lim fµ (x) dx = f(x) dx
µ→∞ Ω Ω

Teorema 3.0.5 Para todo conjunto aberto Ω ⊂ Rn temos que o conjunto de


funções contı́nuas e com soporte compacto C0 (Ω) é denso em Lp (Ω)

Observação 3.0.2 Este Teorema nos diz que para qualquer função f ∈ Lp (Ω),
existe uma seqüência de funções fµ ∈ C0 (Ω), de funções contı́nuas e com su-
porte compacto que converge forte em Lp (Ω), isto é

fµ → f forte em Lp (Ω)

Observação 3.0.3 O Teorema 3.0.5 é muito útil para mostrar desigualdades


para funções integráveis, pois o teorema anterior nos diz que basta mostrar que
a desigualdade é válida para funções contı́nuas com suporte compacto, que pela
densidade ela pode ser extendida para funções integráveis.

3.1 Desigualdades de Hölder


Teorema 3.1.1 Suponhamos que pi ≥ 1 i = 1, · · · , m são tais que
m
X 1
= 1.
pi
i=1
Qm
If fi ∈ Lpi (Ω) for i = 1, · · · , n então temos que i=1 fi ∈ L1 (Ω) e ainda

Z m
Y m Z
Y  p1
i
| fi | dx ≤ |fi (x)|pi dx .
Ω i=1 i=1 Ω
3.1. Desigualdades de Hölder 43

Demonstração.- Denotemos por


|fi (x)|
ai := R p1 .
|f (x)|pi dx
Ω i
i

Aplicando a desigualdade de Hölder e integrando sobre Ω segue nossa conclusão

Como conseqüência das desigualdades de Hölder enunciamos os seguintes corolários.

Corolário 3.1.1 Tomemos 0 < p < 1 e q tal que 1/p + 1/q = 1. Sejam f e
g funções tais que |f|p ∈ L1 (Ω), g ∈ Lq (Ω), |g|q ∈ L1 (Ω). Nestas condições
teremos que
Z Z  p1 Z  1q
|f(x)g(x)| dx ≥ |f(x)|p dx |g(x)|q dx
Ω Ω Ω

Demonstração.- Aplicando as desigualdades de Hölder as funções F (x) :=


1/g(x) and G(x) := g(x)f(x), teremos que
Z Z
p
|f(x)| dx = |F (x)G(x)|p dx
Ω Ω
Z 1−p Z p
1 1−p p
≤ | | dx |g(x)f(x)| dx
Ω g(x) Ω
Z 1−p Z p
1 −q
≤ | | dx |g(x)f(x)| dx
Ω g(x) Ω

De onde segue o resultado

Como conseqüência da desigualdade de Hölder, obtemos as conhecidas desigual-


dades de interpolação.

Corolário 3.1.2 Suponhamos que f ∈ Lp (RN ) ∩ Lq (RN ), então temos que


f ∈ Lr (RN ) para todo r ∈ [p, q]. Alem disso temos que

kfkLr (RN ) ≤ kfkθLp (RN ) kfk1−θ


Lr (RN )

1 θ 1−θ
onde r
= p
+ q

Demonstração.- Note que


1 1 1 1 1
= p + q ⇒ 1= p + q
r θ 1−θ rθ r(1−θ)
44 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

p q
Por hipótese temos que |f|θr ∈ L rθ , |f|(1−θ)r ∈ L r(1−θ) . Portanto o pro-
duto |f|θr |f|(1−θ)r = |f|r ∈ L1 (RN )
Z Z
|f|r dx = |f|θr |f|(1−θ)r dx
RN RN

Aplicando a desigualdade de Hölder para as potencias temos que


Z Z Z  rθ
p
Z  r(1−θ)
p
|f|r dx = |f|θr |f|(1−θ)r dx ≤ |f|p dx |f|q dx
RN RN RN RN

De onde segue a desigualdade.

3.2 Desigualdade de Minkowski


Usando as desigualdades de Hölder mostraremos a desigualdade de Minkowski
que prova que o funcional
Z 1/p
f 7→ |f|p dx ,

é uma norma em Lp (Ω).

Teorema 3.2.1 (Desigualdade de Minkowski). Suponhamos que as funções


f, g ∈ Lp (Ω) e que p ≥ 1, então segue que
Z  1p Z  p1 Z  p1
p p p
|f(x) + g(x)| dx ≤ |f(x)| dx + |g(x)| dx
Ω Ω Ω

Por outro lado, se p < 1 teremos a desigualdade inversa de Minkowski


Z  1p Z  p1 Z  p1
p p p
|f(x) + g(x)| dx ≥ |f(x)| dx + |g(x)| dx
Ω Ω Ω

Demonstração.- Note que


Z Z
|f(x) + g(x)|p dx = |f(x) + g(x)||f(x) + g(x)|p−1 dx
Ω Ω

Z Z
p−1
≤ |f(x)||f(x) + g(x)| dx + |g(x)||f(x) + g(x)|p−1 dx
Ω Ω
3.2. Desigualdade de Minkowski 45

Como |f + g|p−1 ∈ Lq (Ω), a desigualdade de Hölders implica que


Z
|f(x) + g(x)|p dx ≤

(Z  p1 Z  p1 ) Z 1−1/p
p p p
|f(x)| dx + |g(x)| dx |f(x) + g(x)| dx
Ω Ω Ω

De onde segue a primeira desigualdade. Usando a desigualdade inversa de


Hölder concluimos que Z
|f(x) + g(x)|p dx ≥

(Z  p1 Z  p1 ) Z 1−1/p
p p
|f(x)| dx + |g(x)| dx |f(x) + g(x)|p dx
Ω Ω Ω

De onde segue a nossa conclusão.

Agora estamos em condições de mostrar as desigualdades Lp –Clarkson


Teorema 3.2.2 Suponhamos que 1 < p < 2 então toda função u, v ∈ Lp
teremos
Z  pq Z  qp  Z  qp
u − v p u + v p 1
dx + ≤ p p
|u| + |v| dx
2 2 dx 2 Ω
,
Ω Ω

onde q é tal que 1/p + 1/q = 1. Se p ≥ 2 então teremos que


Z Z Z
u − v p u + v p
dx + dx ≤ 1 |u|p + |v|p dx.
2 2 2 Ω
Ω Ω

Demonstração.- Consideremos o caso 1 ≤ p < 2. Note primeiro que


Z Z
q p q
( |f|p dx) p = ( (|f| q )q dx) p = k |f|q k qp .
L
Ω Ω
Usando a desigualdade inversa de Minkowski teremos que
k |f|q k p + k |g|q k p ≤ k |f|q + |g|q k p
Lq Lq Lq
Tomando f = (u + v)/2 e g = (u − v)/2 e como q > 2 temos
Z  pq Z  qp (Z  p ) pq
u − v p u + v p u − v q u + v q q

2 dx + 2 dx 2 + 2 dx
Ω Ω Ω
Z  qp
1 q q q
p
≤ (|u| + |v| ) dx
2 Ω
Z  qp
1 p p
≤ |u| + |v| dx
2 Ω
46 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Onde temos usado que


1 1
(|u|q + |v|q ) q ≤ (|u|p + |v|p ) p , ∀p ≤ q.

A outra desigualdade segue diretamente do Teorema 1.4.1. A prova está


completa

3.3 Desigualdade de Young


Nesta seção estudaremos a Desigualdade de Young para convoluções. As condições
sobre as quais esta desigualdade é válida estão resumidas no seguinte Teorema.

Teorema 3.3.1 Suponhamos que f ∈ L1 (RN ) e que g ∈ Lp (RN ), então se


verifica que
f ∗ g ∈ Lp (RN )
e ainda temos que

kf ∗ gkLp (RN ) ≤ kfkL1 (RN ) kgkLp (RN ) .

Por outro lado, se f ∈ Lq (RN ) e g ∈ Lp (RN ), então a convolução satisfaz


1 1 1
f ∗ g ∈ Ls (RN ), onde = + −1
s p q
e ainda temos que

kf ∗ gkLs (RN ) ≤ kfkLq (RN ) kgkLp (RN ) .

Demonstração.- Assumiremos primeiro que f e g são funções contı́nuas e com


suporte compacto. Nosso resultado seguira usando argumentos de densidade.
Para demostrar a primeira parte do Teorema utilizaremos a desigualdade de
Hölder. Note que

Z Z Z p

p
|f ∗ g| dx =
N f(x − s)g(s) ds dx
RN R N R
Z Z p
1
1− p10
≤ |f(x − s)| |f(x − s)|
p 0
|g(s)| ds dx

RN RN
p
Z Z
p0
≤ kfkL1 (RN ) |f(x − s)||g(s)|p ds dx
RN RN
p
Z Z
0
= kfkLp 1 (RN ) |f(x − s)| dx|g(s)|p ds
RN RN
1+ pp0
= kfkL1 (RN ) kgkpLp (RN )
3.3. Desigualdade de Young 47

De onde segue a primeira parte do Teorema. Para mostrar a segunda parte


utilizaremos a desigualdade que acabamos de mostrar.

Z Z Z s

s
|f ∗ g| dx =
N f(x − s)g(s) ds dx
RN R N R
Z Z s

≤ a
|f(x − s)| |f(x − s)| 1−a
|g(s)| ds dx

RN RN
Z  s0 Z Z  ps
0 p
≤ |f|ap dx |f(x − s)|(1−a)p |g(s)|p ds dx
RN RN RN
| {z }
:=I

Note que I é o producto de convolução das funções |f(x − s)|(1−a)p com |g(s)|p .
Éste último termo pertence a L1 (RN ), portanto para aplicar a primeira parte
deste Teorema, devemos escolher a de tal forma que
s
|f|(1−a)p ∈ L p (RN )
Isto é verdade quando a seja tal que [(1 − a)p]s/p = q isto é
q
(1 − a)s = q ⇔ a=1−
s
Por outro lado a também deve satisfazer,

p−1
ap0 = q ⇔ a= q
p

Das duas identidades acima obtemos que

1 1 1
= + −1
s p q

De onde segue
s
|f|(1−a)p ∗ |g|p ∈ L p (RN )
e ainda temos que
Z n o ps Z Z  ps
(1−a)p p q p
|f| ∗ |g| dx ≤ |f| dx |g| dx .
RN RN RN

Portanto
Z Z  sq Z  sq
s q p
|f ∗ g| dx ≤ |f| dx |g| dx .
RN RN RN
48 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Tomemos agora f e g, em Lq (RN ) e Lp (RN ), respectivamente. Então existem


seqüências fν e gν de funções contı́nuas e com suporte compacto satisfazendo:

fν → f forte em Lq (RN )
gν → g forte em Lp (RN )

Como conseqüência das convergências temos que as seqüências fν e gν possuem


subseqüências que convergem quase sempre em RN . Denotando da mesma
forma essas subseqüências é simples verificar que

|fν ∗ gν (x)|s → |f ∗ g(x)|s quase sempre em RN

Usando o Lema de Fatou e as desigualdades mostradas acima teremos que


Z Z
|f ∗ g|s dx ≤ lim inf |fν ∗ gν |s dx
RN ν∈N RN
Z  qs Z  ps
q p
≤ lim |fν | dx |gν | dx
ν→∞ RN RN

De onde segue o resultado

3.4 Convexidade e topologia fraca


Convergência fraca e convexidade são conceitos que estão interligados. Por
este motivo começaremos nosso estudo de convergência fraca analizando de
perto algumas propriedades dos conjuntos convexos. No seguinte Teorema
mostraremos que todo conjunto convexo e aberto, pode ser caraterizado atravéz
de uma função convexa, que será denominada Funcional de Minkowski.

Teorema 3.4.1 Seja C um conjunto aberto e convexo C de um espaço de


Banach E. Denotemos por

p(x) := inf α > 0; α−1x ∈ C .

Então p é uma seminorma satisfazendo


(i)
0 ≤ p(x) ≤ c0 kxk.

(ii) Mais ainda, C pode ser escrito como

C = {x ∈ E; p(x) < 1} .
3.4. Convexidade e topologia fraca 49

Demonstração.- Sem perda de generalidade podemos supor que 0 ∈ C e


portanto que existe um raio ρ > 0 tal que a bola

B(0, ρ) ⊂ C,

desta forma temos que para todo x ∈ E


 −1
ρx kxk
= x ∈ C,
kxk ρ

de onde segue que para todo x ∈ E é válida a desigualdade

kxk
p(x) ≤ .
ρ
Portanto (i) é válido c0 = ρ1 . Provaremos agora que o funcional p é uma
seminorma. Para isto tomemos x e y em E, é simples ver que
x y
, ∈ C.
p(x) +  p(y) + 

Como C é convexo, teremos


   
p(x) +  x p(y) +  y
+
p(x) + p(y) + 2 p(x) +  p(x) + p(y) + 2 p(y) + 
x+y
= ∈ C.
p(x) + p(y) + 2
De onde segue que
p(x + y) ≤ p(x) + p(y) + 2
para todo  > 0. Mostraremos finalmente (ii). Para isto se x ∈ C e como
C é aberto, então teremos que ( kxk+
kxk )x ∈ C, de onde segue que p(x) ≤ 1.
Recı́procamente, tomemos x ∈ E tal que p(x) < 1 e θ satisfazendo 0 < p(x) <
θ < 1, como 0 ∈ C temos que θ−1 x ∈ C, segue então que

x = θ(θ−1 )x + (1 − θ)0 ∈ C.
Isto prova o resultado.

Num espaço de Banach E a topologia definida pela norma é chamada


de Topologia forte. Nesta seção introduziremos uma outra topologia que a
chamaremos de Topologia fraca e a denotaremos por τf .

Definição 3.4.1 Chamaremos de topologia fraca a la topologia menos fina que


faz contı́nua a todos os funcionais limitados de espaço dual E ∗ de E.
50 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

É simples verificar que uma base para esta topologia é dado pela famı́lia de
conjuntos
Vfα = {x ∈ E; f(x) < α; } ;

onde α ∈ R e f ∈ E ∗ . Uma primeira pregunta neste ponto, é saber quais são as


diferenças e semelhanças entre a Topologia fraca e a topologia forte. Por exem-
plo nos espaços de dimensão finita estas topologias coincidem. Mas isto não é
verdade no caso geral. Pela definição da Topologia fraca, podemos verificar que
todo aberto pode ser expressado como a união de preimagenes de elementos de
E ∗ de abertos de R, que são abertos na topologia fraca. Portanto, todo aberto
fraco, é um aberto forte. Mas o recı́proco não é verdadero. Equivalentemente,
podemos afirmar que todo fechado fraco é um fechado forte. O recı́proco é
falso. Mas se a isto acrescentamos a convexidade, então teriamos que todo
convexo fechado na topologia forte, é também um fechado na topologia fraca.
Resumimos esta discussão no seguinte Teorema.

Teorema 3.4.2 Seja C é um conjunto convexo de E, então C é fechado na


topologia forte se e somente se C é fechado na topologia fraca.

Demonstração.- Suponhamos que C é fechado na topologia forte. Sem perda


de generalidade podemos supor que 0 ∈ C, (se este não for o caso, podemos
tomar C := C − y0 , para y0 ∈ C). Provaremos que o conjunto complementario
C c é um aberto fraco. De fato, tomemos x0 ∈ C c e denotemos por

C := C + {y ∈ E; kyk < } .

É simples verificar que C é um convexo aberto (na topologia forte) e para


 suficientemente pequenho x0 ∈ / C. De fato se x0 ∈ C para todo  > 0
teriamos que x0 = y + z , onde y ∈ C and kz k ≤ . De onde concluimso que
kx − y k = kz k <  para todo . Fazendo  → 0 concluimos que y → x0 , forte.
Como C é fechado, então x0 ∈ C, que é uma contradição.
Denotemos por p o funcional de Minkowski associado a C. Pelo Teo-
rema 3.4.1 temos que

p(x) < 1 se e somente se x ∈ C .


Definamos o funcional f da seguinte forma

g(tx0 ) = t.
Como x0 ∈ C c temos que

g(x0 ) := 1 ≤ p(x0 ) ⇒ g(tx0 ) := t ≤ p(tx0 ) ∀t ≥ 0.


3.4. Convexidade e topologia fraca 51

Se t é negativo, como p ≥ 0, segue então que

g(tx0 ) := t ≤ 0 ≤ p(tx0 ),
para todo t ∈ R. Portanto, teremos que

g(x) ≤ p(x), ∀x ∈ Rx0 .

Do Teorema de Hahn-Banach concluimos que existe um funcional f definido


sobre todo o espaço E que extende g tal que

f(x) ≤ p(x) ∀x ∈ E.

Consideremos o conjunto aberto

V = {x ∈ E; f(x) > 1} .

Claramente V é um aberto na topologia fraca. Como C ⊂ {x ∈ E; p(x) < 1} e


f(x) < p(x) < 1 então

V ∩ C = ∅;
c
isto significa que V ⊂ C . De onde segue nossa conclusão.

Teorema 3.4.3 Suponhamos que

uν → u fraco em E

então existe uma seqüência de combinações convexas que convergem forte para
u.

Demonstração.- Denotemos por C o fecho da capsula convexa do conjunto


{uν ; ν ∈ N}. É simples verificar que C é convexo e que u é um ponto de
acumulação de C. Portanto existe uma seqüência vµ de combinações convexas
de uν , que convergem forte para u. A prova agora está completa

Lema 3.4.1 Seja V um subespaço vetorial de Rm , e seja x0 ∈ Rm tal que


x0 6∈ V , então existe uma função linear f : Rm → R tal que

f(x) = 0, ∀x ∈ V, e f(x0 ) = 1

Demonstração.- Como x0 6∈ V , temos que dim(V )< m. Denotemos por

{w1 , · · · , wj }

uma base de V . Como x0 6∈ V , denotando por wj+1 = x0 temos que o conjunto

{w1 , · · · , wj , wj+1 }
52 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

é linearmente independente em Rm . Portanto podemos extender o conjunto


acima até formar uma base do Rm . Assim teremos que

{w1 , · · · , wj , wj+1 , · · · , wm }

é base de Rm . Portanto todo x ∈ Rm pode ser escrito como


m
X
x= α i wi
i=1

Definamos agora o funcional f tal que para j fixo tenhamos

f(wi ) = 0, ∀i 6= j, f(wj ) = 1

Extendendo f linearmente para todo x ∈ Rm . É simples verificar que f assim


definida, satisfaz as condições do Lema.

Lema 3.4.2 Seja E um espaço vetorial e denotemos por ϕ, ϕ1 , · · · , ϕm , fun-


cionais definidos sobre E, isto é

ϕ, ϕ1 , · · · , ϕm : E → R

satisfazendo a seguinte propriedade:

ϕi (x) = 0, ∀ 1 ≤ i ≤ m, ⇒ ϕ(x) = 0.
Então existem números reais λ1 , · · · λn tais que
m
X
ϕ= λi ϕi
i=1

Demonstração.- Denotemos por F o funcional

F (x) = [ϕ(x), ϕ1 (x), · · · , ϕm (x)]

Claramente temos que


F : E → Rm+1 .
Denotemos por S = F (E) ⊂ Rm+1 a imagem de F , então S é um subespaço
de Rm+1 e
x0 = [1, 0, · · ·, 0] 6∈ S.
Pelo Lema 3.4.1, existe uma função linear e contı́nua g definida sobre Rm+1 tal
que
g(x) = 0 ∀x ∈ S, g(x0 ) = 1.
3.5. Lema de Mazur 53

De onde segue que

g([ϕ(x), ϕ1 (x), · · · , ϕm (x)]) = 0 ∀x ∈ E.

Note que
m
X
[ϕ(x), ϕ1 (x), · · · , ϕm (x)] = ϕ(x)e1 + ϕi (x)ei+1
i=1

Onde por ei estamos denotando a base canónica do Rm+1 e e1 = (1, 0, · · · , 0) =


x0 . Da linearidade de g teremos que
m
X
g([ϕ(x), ϕ1 (x), · · · , ϕm (x)]) = ϕ(x) g(e1 ) + ϕi (x) g(ei+1 ) = 0
| {z } | {z }
i=1
=1 :=λ1

De onde segue o resultado

3.5 Lema de Mazur


Teorema 3.5.1 (Lema de Mazur) Suponhamos que uν é uma seqüência
satisfazendo
uν → u fraco em Lp (Ω)
então para todo  > 0 existe N = N () tal que para cada k > N teremos

Xm

u(x) − θk uνk (x) <  a.e. in Ω (3.1)

k=l

onde θk satisfaz
m
X
θk = 1
k=l

Demonstração.- Do Teorema 3.4.3 existe uma seqüência (vµ ) de combinações


convexas da seqüência uν que convergem forte para u. Portanto, existe um
subseqüência de (vµ ) que a denotaremos da mesma forma que converge quase
sempre em Ω. Isto significa que dado  > 0 existe N tal que

|vN (x) − u(x)| < .

Como vµ é uma conbinação convexa de elementos de (uν )ν∈N segue a relação


(3.1). A prova está completa.
54 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

3.6 Teorema da representação de Riesz para Lp


Apresentaremos aqui uma demonstração simple do Teorema da representação
de Riesz para os espaços Lp . Este teorema será de muita utilidade para en-
contrar uma condição necessária e suficiente para que uma seqüência tenha
convergência fraca nos espaços Lp .

Lema 3.6.1 Suponhamos que T é um funcional linear e contı́nuo definido em


Lp . Então existe uma função u em Lp (Ω) satisfazendo
Z
|u|p dx = 1; T (u) = kT k∗

Demonstração.- Pela definição de norma de um funcional linear limitado,


teremos que  Z 
kT k∗ = sup T (v); |v|p dx = 1 .

Denotemos por (uν )ν∈IN a seqüência satisfazendo
Z
T (uν ) → kT k∗ ; |uν |p dx = 1;

Para mostrar o resultado, é suficiente mostrar que (uν )ν∈IN é uma seqüência
de Cauchy. Dividiremos a prova em duas partes. Primeiro, suponhamos que
1 < p < 2. Do Teorema 3.2.2 temos que
Z  qp Z  qp  Z  qp
u ν − u µ p u ν + u µ p 1
dx + ≤ p p
|uν | + |uµ | dx
2 2 dx 2 Ω
Ω Ω

De onde segue que


Z  pq Z  qp  Z  pq
u ν − u µ p u ν + u µ p 1
dx ≤ − p p
|uν | + |uµ | dx
2 2 dx +
2 Ω
Ω Ω
 q
1
≤ −kT k−q
∗ T (uν + uµ ) + 1 → 0
2
quando ν, µ → ∞. Portanto, a seqüência (uν )ν∈N é de Cauchy.
Provaremos agora o caso quando p ≥ 2. Raciocinando como acima podemos
mostrar que

Z Z
uν − uµ p u ν + u µ p
dx ≤ 1− dx
2 2
Ω Ω
 q
−q 1
≤ −kT k∗ T (uν + uµ ) + 1 → 0
2
3.6. Teorema da representação de Riesz para Lp 55

quando ν, µ → ∞. de onde concluimos que (uν )ν∈N é uma seqüência de Cauchy.


A prova está agora completa

Teorema 3.6.1 (Teorema da Representação de Riesz) Seja Ω um aberto


do RN e denotemos por T um operador linear e limitado definido sobre Lp (Ω).
Então existe uma função w em Lq (Ω), 1/p + 1/q = 1, satisfazendo
Z
T (v) = w(x)v(x) dx ∀v ∈ Lp (Ω)

Demonstração.- Sem perda de generalidade, podemos supor que kT k∗ = 1.


Do Lema 3.6.1 existe uma função u tal que
Z
|u|p dx = T (u) = kT k∗ = 1.

Das desigualdades de Clarkson para 1 < p < 2 teremos

Z Z Z
u + tv u − tv p u + tv u − tv p
p p
|v| dx =
1+t 2 + 2 dx + 2 − 2 dx
Ω Ω Ω
Z Z
1 p 1 p
≥ |u + tv| dx + |u − tv| dx
2 Ω 2 Ω
Z
1 p 1 p
≥ 1 + T (v)t + |u − tv| dx,
2 2 Ω
a última desigualdade é válida porque kT k∗ = 1. De onte obtemos que
Z  Z 
p−1 p 1 p p
t |v| dx ≥ (|1 + tT (v)| − 1) + ( |u − tv| dx − 1) .
Ω 2t Ω

Fazendo t → 0+ teremos que


Z
0 ≥ T (v) − |u|p−2uv dx ∀v ∈ Lp (Ω),

Portanto Z
T (v) = |u|p−2 uv dx ∀v ∈ Lp (Ω).

O caso p ≥ 2 é similar. Tomando w = |u|p−2u, prova está completa

Note que se u ∈ Lp (Ω) então teremos que |u|p−2 u ∈ Lq (Ω) onde p e q são tais
que 1/p + 1/q = 1. Mais ainda, a aplicação

u 7→ |u|p−2u
define uma bijeção entre os espaços Lp (Ω) e Lq (Ω).
56 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

3.7 Convergência fraca em Lp


Toda função linear e contı́nua T sobre Lp (Ω) pode ser escrita como
Z
T (w) = vw dx

para uma função v ∈ Lq com 1/p + 1/q = 1. A seqüência uµ é fracamente


convergente para u em Lp (Ω) se e somente se
Z Z
uµ v dx → uv dx ∀v ∈ Lq (Ω)
Ω Ω
No seguinte Teorema, mostraremos que a bola unitaria é um compacto em
Lp com esta topologia.

Teorema 3.7.1 Toda seqüência limitada em Lp (Ω) com p > 1, possui uma
subseqüência que converge fraco em Lp (Ω)

Demonstração.- Seja (uν )ν∈N uma sequêcia limitada em Lp e denotemos por


(ϕµ )µ∈N a um subconjunto denso em Lp (Ω). Para todo µ ∈ N existe uma
constante positiva cµ tal que
Z

uν ϕµ dx ≤ cµ ,

Existe então um subseqüência de (uν )ν∈N que denotaremos por uν µ satisfazendo


Z
lim uνkµ ϕµ dx = Tµ .
k→∞ Ω

Repetindo o procedimento anterior, obtemos as seguintes convergências

Z
lim uνk1 ϕ1 dx = T1 ,
k→∞ Ω
Z
lim uνk2 ϕ2 dx = T2 ,
ν→∞ Ω
Z
lim uνkm ϕm dx = Tm .
ν→∞ Ω

A subseqüência (uνkk ) é uma subseqüência de todas as seqüências anteriores de


(uνkm ), de onde segue que
Z
lim uνkk ϕk dx = Tk .
k→∞ Ω
3.8. Convergência fraca em L1 57

Denotemos por V o espaço generado pela seqüência (ϕµ ). É simples verificar


que para todo v ∈ V teremos
Z
lim uν k v dx = Tv , (3.2)
k→∞ Ω k

onde
l
X l
X
v= ci ϕµi , Tv = ci Tµi .
i=1 i=1

Definamos o funcional linear


T (v) := Tv
Note que T é continuo em V . De fato
Z
T (v) = lim uνkk ϕk dx ≤ kuνkk kp kvkq
k→∞ Ω

Da densidade de V em Lq (Ω), podemos extender T para todo o espaço Lq (Ω) e


pelo Teorema da Representação de Riesz, existe uma função u ∈ Lp satisfazendo
Z
T (v) = uv dx.

Da identidade (3.2) teremos


Z Z
lim uνkk v dx = uv dx, ∀v ∈ Lq (Ω)
k→∞ Ω Ω

o que completa a demonstração

3.8 Convergência fraca em L1


Pelo Teorema 3.7.1 sabemos que toda seqüência de funções limitadas em Lp ,
possui um subseqüência que converge fraco também em Lp para p > 1. Infe-
lizmente este resultado não é válido para seqüências limitadas em L1 pois L1
não é reflexivo. Isto é, a limitação em L1 não é suficiente para garantir a ex-
istência de uma subseqüência convergente. No próximo teorema mostraremos
uma condição suficiente para obter uma convergência fraca em L1 . Para isto
utilizaremos o Teorema de Radon-Nikodim que enunciamos a seguir.

Teorema 3.8.1 (Radon-Nikodim) Seja µ uma medida complexa definida


sobre a σ-algebra Σ de subconjuntos do RN mesuráveis a Lebesgue. Denotemos
por ν a medida de Lebesgue. Então se

ν(A) = 0 ⇒ µ(A) = 0 ∀A ∈ Σ,
58 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

então existe uma única função f ∈ L1 (RN ) (unicidade exceto um conjunto de


medida nula) tal que Z
µ(A) = f(x) dx
A

Teorema 3.8.2 Seja Ω um aberto limitado de RN e suponhamos que (uν )ν∈N


é uma seqüência limitada em L1 (Ω) tal que para todo  > 0 exista δ > 0
satisfazendo
Z
med (E) < δ ⇒ |uν (x)| dx < .
E

Para todo conjunto E mensurável. Então existe uma subseqüência (uνk )ν∈N de
(uν )ν∈N e uma função u ∈ L1 (Ω) tal que

uν j * u fraco em L1 (Ω)

Demonstração.- Seja v ∈ L∞ (Ω). Mostraremos que existe uma subseqüência


uνk satisfazendo Z Z
| uνk v dx − uv dx| < . (3.3)
Ω Ω
1
Como uν é limitado em L (Ω) ⊂ M(Ω) com a imersão contı́nua, concluimos
que uν é uma medida limitada. Portanto existe uma subseqüência, que a
continuaremos denotando da mesma forma, e uma medida µ tal que
Z Z
uν ϕ dx → ϕ dµ.
Ω Ω

É simples verificar que µ é absolutamente contı́nua com respeito à medida de


Lebesgue. De fato, suponhamos que E ⊂ Ω é tal que
Z
dx = 0,
E
como para todo  > 0 existe δ > 0 satisfazendo
Z
med (E) ≤ δ ⇒ |uν | dx < ,
E
segue então que
|µ(E)| ≤ ,
portanto µ(E) = 0. Do Teorema de Radon Nikodim existe uma função u ∈
L1 (Ω) tal que Z
µ(ϕ) = uϕ dx.

3.9. Convergência forte em Lp 59

Seja v ∈ L∞ (Ω). Como L∞ (Ω) ⊂ Lp (Ω), existe uma seqüência de funções


φl ∈ C0∞(Ω) para os quais teremos

φl * v forte em Lp (Ω),

que implica que existe uma subseqüência, que a denotaremos da mesma forma,
tal que

φl → v a.e. Ω.
Do Teorema de Egorov, segue que para todo  > 0 existe um conjunto men-
surável E tal que med(E) < δ e ainda satisfaz

φl → v uniforme Ω \ E.

De onde segue

Z Z Z Z Z
uνk v dx − uv dx = uνk (v − φl ) dx + (uνk − u)φl dx − u(v − φl ) dx
Ω Ω Ω Ω Ω

Como

Z Z Z
uνk (v − φl ) dx = uνk (v − φl ) dx + uνk (v − φl ) dx
Ω E Ω−E
Z Z
≤ |v − φl |L∞ |uνk | dx +  |uνk | dx;
E Ω−E
R
como ku − φl k ≤ C e como med(E) < δ teremos então que E |uν | dx < ,
obtemos que
Z
| uνk (v − φl ) dx| ≤ C,

que implica Z
(uνk − u)φl dx ≤ ,

De onde segue nosso resultado

3.9 Convergência forte em Lp


Nesta seção estabeleceremos condições que uma seqüência deve satisfazer para
que ela convirja forte em Lp . Começaremos com o seguinte teorema.
60 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Teorema 3.9.1 Suponhamos que (uν )ν∈N converge forte para u em Lp e (vν )ν∈N
converge fraco para v em Lq com 1/p + 1/q = 1. Então teremos que
Z Z
lim uν vν dx = uv dx
ν→∞ Ω Ω

Demonstração.- Como
Z Z Z

uν vν − uv dx ≤ |(uν − u)vν | dx + u(v − vν ) dx


Ω Ω Ω

Das hipóteses sobre as seqüências, temos que para todo  > 0 existe N > 0 tal
que Z Z
|uν − u| dx < , | u(v − vν ) dx| <  ∀ν ≥ N
Ω Ω

Das desigualdades acima segue a conclusão

Teorema 3.9.2 Seja Ω um aberto limitado. Suponhamos que f seja uma


função contı́nua e uν uma seqüência satisfazendo

uν → u q.s. em Ω

f(uν ) limitado em Lp (Ω),


para p > 1. Então existe uma subseqüência de uν satisfazendo

f(uν ) → f(u) fraco em Lp (Ω)

Demonstração.- Pelo Teorema de Egorov existe um subconjunto Ωδ de Ω


satisfazendo
uν → u uniforme em Ωδ ,

f(uν ) → f(u) uniforme em Ωδ ,

med (Ω − Ω ) ≤ q
onde 1/p + 1/q = 1. Assim temos que

f(uν )φ → f(u)φ forte em Lp (Ωδ ),

para cada φ ∈ C0∞ (Ω). Isto implica que para todo δ > 0 existe N > 0 tal que
Z
|f(uν ) − f(u)| |φ| dx ≤  ∀ν ≥ N
Ωδ
3.9. Convergência forte em Lp 61

Por outro lado


Z Z Z
{f(uν ) − f(u)} φ dx = {f(uν ) − f(u)} φ dx + {f(uν ) − f(u)} φ dx
Ω Ω\Ωδ Ωδ
(Z ) q1 (Z ) p1
q p
≤ C |φ| dx |f(uν ) − f(u)| dx +
Ω\Ωδ Ω\Ωδ

≤ CkφkL∞ +  ∀ν ≥ N

Usando a densidade das funções teste em Lq podemos escrever


Z Z Z
{f(uν ) − f(u)} v dx = {f(uν ) − f(u)} (v − φ) dx + {f(uν ) − f(u)} φ dx
Ω Ω Ω
≤ Ckv − φkLq (Ω) +  ≤ c

De onde segue nossa conclusão.

Como conseqûencia dos Teoremas anteriores temos

Corolário 3.9.1 Seja Ω ⊂ Rn um aberto limitado. Suponhamos que uν é uma


seqüência limitada em Lp que converge quase sempre para u em Ω. Então se
verifica que
uν → u forte em Lr (Ω)

para todo 1 < r < p.

Demonstração.- Como uν é limitado em Lp (Ω) então a seqüência uν − u


também é limitada em Lp (Ω). Então para todo  > 0, a seqüência |uν − u|p−
p
é limitada em L p− (Ω). Do Teorema 3.9.2 temos que
p
|uν − u|p− * 0 fraco em L p− (Ω).

Como Ω é limitado, então teremos que


Z
|uν − u|p− · 1 dx → 0.

De onde segue a nossa conclusão

Do Corolário anterior concluimos que convergência fraca em Lp e munida a


convergência quase sempre implicam convergência forte em Lr para todo 1 <
r < p.
62 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

3.10 Conjuntos compactos em Lp


Nesta seção daremos uma condição necessária e suficiente para que um conjunto
limitado de Lp (Ω) seja um conjunto compacto.
Teorema 3.10.1 Um conjunto limitado K do Lp (Ω), é relativamente com-
pacto em Lp (Ω) se e somente se para todo  > 0 existe δ > 0 e um conjunto G
limitado tais que
R
(i) Ω\G |u|p dx < p
R
(ii) |h| < δ ⇒ Ω |e e|p dx < 
u(x + h) − u
Para todo u ∈ K e para todo h tal que |h| < δ. Por u
e estamos denotanto a
extensão nula de u fora de Ω.
Demonstração.- Sem perda de generalizade podemos supor que Ω = RN ,
caso contrario podemos considerar o conjunto K e = {e
u, u ∈ K}. Suponhamos
p
que K seja um compacto de L , então dado  > 0 existe um número finito de
funções φi satisfazendo:
K ⊂ ∪m i=1 B (φi )

onde B (φi ) = {w ∈ Lp ; kw − φi kLp < }. Pela densidade das funções C0∞ (RN )
em Lp (RN ), podemos supor que φi ∈ C0∞ (RN ). Denotemos por

Br = x ∈ RN ; kxk < r .

Tomemos r > 0 suficientemente grande, de tal forma que

Supp (φi ) ⊂ Br ∀i = 1, · · · m.
Logo o conjunto G = Br satisfaz a condição (ii). De fato,
Z Z Z
|u|p dx = |u − φi |p dx ≤ |u − φi |p dx < .
RN \G RN \G RN

Tomando |h| < 1 é simples verificar que

φi (x + h) − φi (x) = 0 ∀x ∈ Br+1 .

Denotando por Th o operador translação Th (u) = u(x + h) temos que


kTh (u) − ukLp ≤ kTh (u) − Th (φi )kLp +kTh (φi ) − φi kLp + kφi − ukLp
| {z } | {z }
≤/3 ≤/3

Como φi é contı́nua e possui suporte compacto, podemos encontrar δ > 0 tal


que

|h| < δ ⇒ kTh (ψi ) − φi kLp < .
3
3.10. Conjuntos compactos em Lp 63

De onde segue que

kTh (u) − ukLp ≤ .


Portanto (i) é válida. Suponhamos agora que K é um conjunto limitado, sat-
isfazendo (i) e (ii). Tomemos G e  tais que
Z

∀u ∈ K ⇒ |u|p dx ≤ (3.4)
N
R \G 3

Note que
Z p

|ρδ ∗ u(x) − u(x)| p
= N ρδ (y) {u(x − y) − u(x)} dy
R
Z p
1− p1 1
p
= N ρδ (y)ρδ (y) {u(x − y) − u(x)} dy
R
Z  q1 Z
≤ ρδ dx ρδ (y)| {u(x − y) − u(x)} |p dy
RN RN
Z
≤ ρδ (y)| {u(x − y) − u(x)} |p dy
Bδ (0)

Integrando sobre RN teremos


Z
|ρδ ∗ u(x) − u(x)|p dx ≤ sup kTh u − ukpLp < 
RN |h|≤δ

Da condição (i) segue que


Z
lim |ρδ ∗ u(x) − u(x)|p dx = 0.
δ→0 RN

Mostraremos que o conjunto S = {ρδ u; u ∈ K} é um conjunto compacto sobre


C(G). Para isto utilizaremos o Teorema de Arsela - Ascoli, portanto bastará
mostrar que S é uma famı́lia de funções equicontı́nua e equilimitada. De fato,
note que se verificam as seguintes desigualdades

|ρδ ∗ u(x)| ≤ sup ρδ (h)1/pkukLp .


|h|≤δ

|ρδ ∗ u(x + h) − ρδ ∗ u(x)| ≤ sup ρδ (h)1/p kTh (u) − ukLp < 


|h|≤δ

Que mostra que S é relativamente compacto em C(G). Portanto existe um


conjunto finito de funções contı́nuas ψi sobre G tais que

S ⊂ ∪M
i=1 B (ψi )
64 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Denotemos por ψei a extensão nula de ψi fora de G. Assim lembrando a de-


sigualdade (3.4) teremos que para toda u ∈ K se verifica
Z Z Z
|u(x) − ψi (x)|p dx = |u(x)|p dx + |u(x) − ψi (x)|p dx
R N N
R \G G
Z
p
≤ +2 |ρδ ∗ u(x) − u(x)|p dx
Z G
p
+2 |ρδ ∗ u(x) − ψi (x)|p dx
G
≤ (1 + 2p+1 )

De onde segue o resultado.

3.11 Convexidade e semicontinuidade inferior


Nesta seção caraterizaremos o conjunto das funções contı́nuas com respeito à
topologı́a fraca. Isto é encontraremos uma condição nescessária e suficiente para
que uma função seja contı́nua com respeito à ésta topologı́a. Nosso primeiro
passo é caraterizar a classe de funcionais semicontı́nuos inferiormente respecto a
topologı́a fraca. Mostraremos que esta classe é formada pelas funções convexas.

Lema 3.11.1 Suponhamos que f ∈ Lploc (RN ) seja uma função perı́odica sobre
RN , com perı́odo igual a T , então teremos que
Z
1
fν := f(νx) * f(x) dx em Lp (Ω)
meas(D) D
onde D é um hipercubo de lado T . Se p = ∞ então teremos
Z
? 1
f(νx) * f(x) dx em L∞ (Ω).
meas(D) D

Demonstração.- Nos restringiremos ao caso unidimensional, no intervalo


[0, 1]. A prova para o caso do RN é análoga. Note que

kfν kL∞ = kfkL∞ .

Mostraremos que
Z 1
?
fν * f= f(x) dx
0
Isto é para toda ϕ ∈ Lq
Z 1 Z 1 Z 1
fν (x)ϕ(x) dx → f(x) dx ϕ(x) dx.
0 0 0
3.11. Convexidade e semicontinuidade inferior 65

Pela densidade das funções simples, bastará mostrar que para toda função
caraterı́stica χ[a,b] se verifica
Z 1 Z 1
χ[a,b] fν (x) dx → (b − a) f(x) dx.
0 0

Como
Z 1 Z b Z a
χ[a,b] fν (x) dx = f(x) dx − f(x) dx,
0 0 0

será suficiente mostrar que


Z α Z 1
fν (x) dx → α f(x) dx,
0 0

para toda 0 ≤ α ≤ 1. Note que


Z α Z α Z να
1
fν (x) dx = f(νx) dx = f(x) dx.
0 0 ν 0

Como f é uma função perı́odica


Z α Z 1 Z να
[να] 1
fν (x) dx = f(x) dx + f(x) dx
0 ν 0 ν [να]

Note que
1 [αν]
αν − 1 ≤ [αν] ≤ αν ⇒ α− ≤ ≤α
ν ν
e como Z Z
αν [αν]+1 Z 1

f dx ≤ |f| dx = |f| dx
[αν] [αν] 0

Fazendo ν → ∞ segue a nossa conclusão


Como conseqüência deste resultado obtemos o bem conhecido Lema de
Riemann Lebesgue , isto é

Lema 3.11.2 (Rieman Lebesgue) Seja f : [a, b] → R uma função contı́nua,


então temos que
Z b
lim f(x)sen (kx) dx = 0,
k→∞ a

Z b
lim f(x) cos(kx) dx = 0.
k→∞ a
66 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Demonstração.- Basta observar que tanto o seno e o cosseno são funções


perı́odicas de perı́odo T = 2π. Como
Z 2π Z 2π
sen (x) dx = 0, cos(x) dx = 0.
0 0

Segue o resultado.

Exemplo 3.11.1 Seja f : [0, 2] → R a função dada por



x se 0 ≤ x ≤ 1,
f(x) =
2 − x se 1 ≤ x ≤ 2,
Denotemos por F sua extensão perı́odica sobre R, nestas condições encontramos
que

6
y = f (x)
1

 -
1
?
6 y = F (x)
1
 -
−6 −4 −2 2 4 6
?

Z 2
f(x) dx = 1.
0
De onde concluimos que
Z 2
1
lim F (kx)g(x) dx = , ∀g ∈ L∞ (0, 2).
k→∞ 0 2
Estamos agora em condições de caraterizar todos os funcionais que são
semicontı́nuos inferiormente respecto a topologı́a fraca
Teorema 3.11.1 Seja F uma função contı́nua e denotemos por J ao funcional
Z
J(u) = F (u) dx.

Então J é um funcional semicontı́nuo inferiormente se e somente se F é uma


função convexa.
3.11. Convexidade e semicontinuidade inferior 67

Demonstração.- Suponhamos que J seja um funcional semicontı́nuo inferior-


mente e tomemos uν tal que

uν → u fraco estrela em L∞ (Ω),


então da hipótese segue que
Z Z
lim inf F (uν ) dx ≥ F (u) dx.
Ω Ω

Denotemos por D um hipercubo unitário e por D1 um subconjunto de D sat-


isfazendo
θ := meas(D1 ) ≤ 1.
Denotemos por χ1 a função caraterı́stica sobre D1 ,

1 if x ∈ D1
χ1 (x) =
0 if x ∈ D \ D1 ,

e por χ sua extensão perı́odica sobre todo o espaço RN . Portanto a seqüência


χν (x) = χ(νx) satisfaz
?
χν * meas(D1 ) = θ fraco estrela em L∞ (Ω).

Definamos a seqüência
uν := χν v + (1 − χν )w.
Nestas condições, é simples verificar que
?
uν * θu + (1 − θ)w fraco estrela em L∞ (R)

e ainda
?
F (uν ) = χν F (v) + (1 − χν )F (w) * θF (u) + (1 − θ)F (w) em L∞ (R);

Das hipóteses sobre F e como meas(D) = 1 teremos


Z
lim inf F (uν ) dx = θJ(u) + (1 − θ)J(w)

Z
≥ F (θv + (1 − θ)w) dx = J(θv + (1 − θ)w).

De onde segue a primeira parte do resultado. Mostraremos agora que se F é


convexa, então é semicontı́nua inferiormente respecto a topologı́a fraca. De fato
seja F uma função convexa e denotemos por uν uma seqüência satisfazendo
?
uν * u em L∞ (Ω).
68 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Sem perda de generalidade, podemos supor que


Z Z
L = lim inf F (uν ) dx = lim F (uν ) dx.
Ω Ω

Caso contrario podemos escolher uma subseqüência com a propriedade acima.


Como Ω é um conjunto limitado concluimos que

uν * u fraco em Lp (Ω)

para todo p > 1. Como todo conjunto fechado e convexo na topologı́a forte
é também um conjunto fechado na topologı́a fraca, segue que existe uma
seqüência formada de combinações convexas tal que para todo  > 0, existe
N () > 0 satisfazendo

m
X
αk uνk − u <  q.s. em Ω,

k=j
para j grande suficiente onde os coeficientes αk satisfazem
m
X
αk ≥ 0, αk = 1;
k=j

Como F é um funcional convexo e da convergência fraca estrela em L∞ segue


que

Z Z Xm
F (u) dx ≤ F( αk uνk ) dx + 
Ω Ω k=j
Z Xm m
X Z
F( αk uνk ) dx ≤ αk F (uνk ) dx.
Ω k=j k=j Ω

Assim para j suficientemente grande teremos que


m
X Z Z
lim αk F (uνk ) dx = L = lim inf F (uν ) dx.
m→∞ Ω Ω
k=j

De onde segue que


Z Z
F (u) dx ≤ lim inf F (uν ) dx + 2
Ω Ω

Como  é um número positivo qualquer segue nosso resultado


3.12. Os Espaços Lp com 0 < p < 1 69

O Teorema anterior carateriza todo funcional semicontı́nuo inferiormente.


Isto é o funcional Z
J(u) := F (u) dx

é semicontı́nuo inferiormente se e somente se F é uma função convexa. Em
particular, para que um funcional J seja contı́nuo, isto é J e −J seja semi-
contı́contı́nuo inferiormente, ele deve ser um funcional linear. Portanto os
únicos funcionais contı́nuos respecto a topologı́a fraca são os funcionais lin-
eares. Isto é temos mostrado o seguinte resultado.
R
Teorema 3.11.2 Um funcional J da forma J(u) = Ω F (u) dx é contı́nuo
com respeito à topologı́a fraca, se e somente se F é uma função linear.

3.12 Os Espaços Lp com 0 < p < 1


Os espaços Lp para p ≥ 1 são bastante ricos em propriedades, entre outras
coisas devido a desigualdade de Minkowski, que faz com que Lp seja um espaço
normado. A desigualdade de Miskowski, não é válida para 0 < p < 1, mas
mesmo assim podemos dar uma estrutura de espaço métrico para os espaços
Lp com p ∈]0, 1[.
Proposição 3.12.1 O espaço Lp é um espaço vetorial completo.
Demonstração.- De fato, denotemos por µ(f) o seguinte funcional
Z
µ(f) = |f|p dx

Pelo Lema 1.4.1 sabemos que para 0 < p < 1 é válido



p
(a + b) ≤ ap + bp
portanto teremos que
µ(f + g) ≤ µ(f) + µ(g)
p
De onde segue que L é fechado com respeito à soma. É simples verificar que o
produto por um escalar também é uma operação fechada em Lp , de onde segue
que Lp é um espaço vetorial. Para verificar que Lp é um espaço completo,
introduzamos a métrica d(·, ·) definida atravéz do funcional µ,
d(f, g) = µ(f − g)
Com o auxilio do Lema 1.4.1 podemos verificar que de fato d(·, ·) é uma métrica
e de forma análoga ao caso p > 1 podemos mostrar que Lp é completo. (Veja
exercı́cios).
A deficiencia destes espaços é que sua topologia é bastante pobre. A
seguinte proposição ilustra este fato
70 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

Proposição 3.12.2 Os únicos convexo abertos de Lp são ∅ e o proprio Lp .

Demonstração.- De fato, raciocinemos pelo absurdo. Suponhamos que V seja


um conjunto convexo e aberto. Sem perda de generalidade, podemos supor que
0 ∈ V. Então existe r > 0 tal que a bola

Br (0) = {v ∈ Lp ; µ(v) < r} ⊂ V.

Tomemos f ∈ Lp . Mostraremos que f ∈ V, o que mostrar a proposição. Como


p < 1 existe um número inteiro positivo M suficientemente grande tal que

M p−1 µ(f) < r.

Por simplicidade trataremos o caso unidimensional: Ω =]a, b[. Com as mesmas


idéias pode-se mostrar o caso n-dimensional. Denotemos por P a uma partição
de ]a, b[, P = {a = x0 < x1 · · · < xM = b}satisfazendo:
Z xi
1
|f(x)|p dx = µ(f) (3.5)
xi−1 M

Definamos agora para cada i a função gi como



M f(t) para xi−1 < t < xi
gi (t) =
0 Em outro caso.

Lembrando da identidade (3.5) teremos que


Z xi Z xi
µ(gi ) = |M f(x)|p dx = M p |f(x)|p dx = M p−1 µ(f) < r
xi−1 xi−1

De onde segue que gi ∈ V para todo i = 1, · · · , M . Como V é convexo e


lembrando a definição de gi segue que

M
X 1
f(t) = gi (t) ∈V
M
i=1

Portanto V = Lp

Este resultado traz como conseqüência um resultado curioso que resumimos na


seguinte proposição

Proposição 3.12.3 O dual do espaço Lp para 0 < p < 1 é {0}.


3.13. Exercı́cios 71

Demonstração.- Seja T ∈ (Lp )∗ , isto é T é un funcional linear e contı́nou.


Portanto preimagenes de abertos convexos de R, devem ser convexos abertos
de Lp (veja exercı́cio). Pela Proposição 3.12.2 teremos que

T (Lp ) ⊂]a, b[ ∀]a, b[⊂ R

em particular

T (Lp ) ⊂] − , [ ∀ > 0
De onde concluimos que T = 0. O que mostra a proposição
A Proposição anterior mostra a tremenda diferença entre os espaços Lp
quando p ∈]0, 1[ e p ≥ 1. A proposição anterior é também um importante
exemplo de como a convexidade joga um papel fundamental nesta teorı́a. Note
que para 0 < p < 1 as bolas não são convexas.

3.13 Exercı́cios
1. Denotemos por | · |p e | · |∞ as normas
v
u n
uX p
|x|p := t p
xi |x|∞ := max {|xi |; i = 1 · · · n} ,
i=1

do RN . Mostre que
lim |x|p = |x|∞
p→∞

2. Sejam X e E dois espaços métricos. Seja F uma função

F :X→E

Mostre que se F é contı́nua, então para todo convexo C de E o conjunto


F −1 (C) é um convexo de X. O resultado contı́nua válido se eliminamos
a continuidade de F ?. Justifique.
3. Denotemos por k · kp a norma de Lp (Ω), e por k · k∞ a norma de L∞ (Ω)
com Ω um aberto limitado. Suponhamos que u ∈ Lp (Ω), para todo p ≥ 1
e que existe uma constante positiva C tal que

kukp ≤ C ∀p ≥ 1

então teremos que u ∈ L∞ (Ω) mais ainda

lim kukp = kuk∞


p→∞
72 Capı́tulo 3. Os Espaços Lp

4. Suponhamos que uν converge forte em Lp (Ω), então mostre que existe


uma subseqüência que converge quase sempre em Ω
5. Mostre o Teorema da Representação Riesz para L1 (Ω).
6. Mostre que Lp é reflexivo para 1 < p < ∞.
7. Mostre que Lp é um espaço uniformemente convexo, para 1 < p < ∞
8. Se E é um espaço uniformente convexo, mostra que toda seqüência lim-
itada possui uma subseqüência convergente fraco em E.
9. Suponhamos que E é um espaço uniformente convexo e que (uν )ν∈N
satisfaz
uν * u fraco em E.
e ainda
lim sup kuν kE ≤ kukE .
ν→∞

Mostre que uν converge forte para u em E.


10. Mostre que os espaços Lp (Ω), para 0 < p < 1 e Ω um aberto do RN é
um espaço de Banach.
11. Seja Ω ⊂ Rn , mostre que em Lp (Ω) onde os únicos conjuntos convexos e
abertos são ∅ e o proprio Lp (Ω).
Capı́tulo 4

Distribuições
É bem mais belo saber alguma coisa de tudo
do que saber tudo de alguma coisa
B. Pascal

4.1 Introdução
Faremos aqui uma rapida introdução das funções δ de Dirac. No estudo
de resistência de Materiais, ou equilibrio de corpos muitas vezes as funções
estão definidas por unidade de comprimento, unidades de área ou unidades
de volume. Por exemplo, quando consideramos o problema de equilibrio de
uma corda presa no seus extremos, vemos que a corda se deforma pela ação
de seu proprio peso, que varia de acordo com o comprimento dela. Isto é, se a
corda é homogênea, o peso é considerado uma força constante uniformemente
distribuida ao longo dela.
f(x)=ρ

Na figura acima o peso da corda pode ser considerada uma força distribuida
constante a cada centrı́metro quadrado. A força resultante sobre a corda será
igual a área do gráfico, isto é ρL, atuando sobre o centro de masa da corda de
comprimento L. Em geral se a função não é homogênea então a função ρ não
será constante, portanto a força resultante por cada unidade de comprimento
dx será igual a f(x)dx, somando cada uma destas unidades, encontramos que
RL
a resultante estará dada pela integral 0 f(x) dx.

73
74 Capı́tulo 4. Distribuições

Considere agora uma força distribuida apenas numa parte de uma barra de
comprimento L, considere o comprimento da barra despresı́vel em comparação
de uma outra massa colocada acima da barra.

f(x)=ρ/L0
f(x)=ρ/L0

L-L0 /2 L0 L-L0 /2 L-L0 /2 L0 L-L0 /2


L L

f(x)=ρ/L0

L-L0 /2 L0 L-L0 /2
L

Observe que para cada uma das figuras acima, a força resultande aplicada
sobre a barra é igual a ρ. De fato, tomando nosso sistema de referencia sobre
o extremo inicial da barra teremos que a força resultande agindo sobre ela é
dada por
Y
f(x)=ρ/L0

L-L0 /2 L+L0 /2 L X


ρ/L0 se x ∈ [(L − L0 )/2, (L + L0 )/2]
fL0 (x) =
0 se x∈/ [(L − L0 )/2, (L + L0 )/2]
A resultante desta força é dada por
Z L Z L+L0 /2
ρ
F L0 = fL0 (x) dx = dx = ρ.
0 L−L0 /2 L0
4.2. Espaços vetoriais topológicos 75

A única diferença é que ela esta aplicada sobre regiões de menores em amplitude
sobre a barra. Uma força pontual sobre a barra será o limite quando L0 → 0.
O que significa que a força distribuida ou a densidade de força estará dada por

∞ se x = L/2
f0 (x) =
0 se x 6= L/2
Porêm deacordo com o desenvolvido acima teremos que
Z L Z L+L0 /2
ρ
F= f0 (x) dx = lim dx = ρ.
0 L 0 →0 L−L0 /2 L0

Uma função F satisfazendo as duas propriedades acima não é uma função


usual. Porém as propriedades de uma força pontual agindo sobre uma barra
de comprimento L estará dada pelo limite da função fL0 como definida acima.
Esta função é chamada de delta de Dirac. Precisamos então extender nosso
conceito de funções, para as chamadas funções generalizadas, ou distribuições
de Schwartz.
Antes de definir os espaços de Distribuições faremos uma breve introdução
aos Espaços vetoriais topológicos.

4.2 Espaços vetoriais topológicos


Definição 4.2.1 Diremos que (X, τ ) é um espaço topológico, se X é um con-
junto não vazio e τ é uma coleção de subconjuntos de X chamados de abertos
satisfazendo as seguintes propriedades:
(i) X e ∅ pertencem a τ
(ii) A interseção finita de abertos é aberta e a união arbitraria de abertos é
aberta.
A coleção τ é chamada de topologia de X.

A seguir enumeraremos os conceitos mais utilizados nos espaços topológicos:


• Diremos que um conjunto é Fechado se seu complemento é um aberto.
• O Fecho E de E é a interseção de todos os fechados que contém a E
• Chama-se Interior E 0 de um conjunto E a união de todos os abertos
que são subconjuntos de E.
• Uma Vizinhança de x é todo aberto que contém x
• O espaço (X, τ ) é chamado espaço de Hausdorff , se τ é uma topologia
de Hausdorff. Isto é se pontos diferentes de X possuem vizinhanças
disjuntas.
76 Capı́tulo 4. Distribuições

• Um subconjunto K de X é chamado de Compacto se todo cobertura


aberto de K possui uma subcobertura finita.
• Uma subcoleção G ⊂ τ é chamada de base de uma topológia se todo
membro de τ pode ser expressado como união dos elementos de G.
• Uma coleção γ de vizinhanças de um ponto p é chamada de Base local
em p, se toda vizinhança de p contém um membro de γ.
• Um conjunto A é chamado de Absorvente se para todo x ∈ E existe
um t > 0 tal que tx ∈ A.
• Um conjunto B é chamado de Balanceado se tB ⊂ B, para todo |t| < 1.

Definição 4.2.2 Diremos que E munido da topologia τ é um Espaço Vetorial


Topológico se todo ponto de E é um conjunto fechado e as operações, soma e
produto por um escalar, são contı́nuas com respeito à topologia τ .

Definamos os operadores Ta e Mλ como

Ta (x) = x + a, Mλ (x) = λx

Os operadores Ta : E → E e Mλ : E → E, são bijeções lineares e contı́nuas,


portanto são homeomorfismos topologicos de E sobre E. Como conseqüência,
toda topologia τ de um espaço vetorial topológico é invariante por translações.
Isto é S ⊂ E é um aberto se e somente se a + S é um aberto. Portanto τ está
completamente definida por qualquer base local.
A seguir definiremos o conceito de conjunto limitados em espaços topológicos,
onde não necessariamente existe definida uma métrica.

Definição 4.2.3 Diremos que um subconjunto B é um conjunto limitado de


um espaço vetorial topológico X, se para toda vizinhança V de 0 em X existe
s > 0 tal que
B ⊂ tV, ∀t > s
Faremos agora uma lista dos diferentes espaços topológicos que aparecem
com mais freqüência.

• Um EVT é chamado de Localmente Convexo se existe uma base local


cujos membros são convexos.
• Diremos que um EVT é Localmente Limitado, se 0 possui uma vizin-
hança limitada no sentido da Definição 4.2.3.
• Diremos que um EVT é Localmente Compacto, se 0 possui uma viz-
inhança cujo fecho é compacto.
• Um EVT é Metrizável se sua topologia é inducida por uma métrica.
4.3. Espaços das funções testes 77

• Diremos que um EVT é um espaço de Fréchet ou F -espaço se é um


espaço localmente convexo cuja topologia é inducida por uma métrica
invariante (invariante por traslações)
• Um EVT possui a propriedade de Heine-Borel se todo fechado e
limitado é um compacto.

Definição 4.2.4 Seja E um espaço vetorial e p uma função a valores reais.


Diremos que p é uma seminorma se satisfaz as seguintes propriedades
(i) p(x + y) ≤ p(x) + p(y)
(ii) p(αx) = |α|p(x)
Se além das propriedades acima também temos que

p(x) = 0 ⇒ x=0

então diremos que p é uma norma.

Da definição acima segue que p é não negativo. Para verificar isto, veja
que do item (ii) segue que p(0) = 0. Assim aplicando a condição (i) para
y = −x teremos que 0 = p(0) ≤ p(x) + p(−x). Aplicando a condição (ii)
concluimos que p(x) ≥ 0. Outra propriedade imediata de verificar é que o
conjunto {x; p(x) = 0} é um subespaço vetorial de E, e que o conjunto B =
{x ∈ E; p(x) < 1} é convexo e absorvente. (Veja Exercı́cios)

4.3 Espaços das funções testes


Para facilitar a análise introduzimos as seguintes notações, α = (α1 , ..., αn) ∈
Nn , x = (x1 , ..., xn) ∈ Rn e por

n
X ∂ α1 ∂ αn
|α| = αi ; xα = xα 1 α2 αn
1 x2 · · · xn , Dα = ( ) ···( ) .
i=1
∂x1 ∂xn

Seja Ω a um conjunto aberto do RN . Antes de considerar os espaços de


funções infinitamente diferenciáves, estudaremos os espaços de funções definidas
sobre Ω com k derivadas contı́nuas

O conjunto C k (Ω)
Denotaremos por C k (Ω) o espaço dado por

C k (Ω) = {f ∈ C(Ω); Dα f ∈ C(Ω) ∀α ∈ Nn , |α| ≤ k} .


78 Capı́tulo 4. Distribuições

O problema que se nos apresenta é encontrar uma métrica que faça de C k (Ω) um
espaço completo. A norma do supremo aqui não serve, porque as funções podem
ser não limitadas. Por exemplo a função ln x definida no intervalo Ω =]0, 1[ é
uma função infinitamente diferenciável em ]0, 1[ que não é limitada. Queremos
construir uma métrica que faça do espaço C k (Ω) um espaço completo.
Por outro lado, se K um conjunto compacto, então o espaço das funções
contı́nuas sobre K, C(K) é um espaço completo com a norma k · k∞

kfk∞ = sup |f(x)|,


x∈K

Análogamente, seja O um conjunto aberto e limitado de RN , tomando K = O


o fecho do conjunto O, podemos definir o conjunto C k (K) de funções k vezes
diferenciáveis. Neste caso, a norma k · k∞

kfkk,∞ = sup |Dα f(x)|,


x∈K,|α|≤k

Faz com que o espaço C k (K) seja completo. A ideia é utilizar estas normas
para definir uma métrica onde C k (Ω) seja completo quando Ω aberto do RN .
Para isto decomporemos Ω em componentes compactas. Isto é tomemos Ki
uma seqüência de conjuntos compactos satisfazendo
0
Ki ⊂ Ki+1 (interior de Ki+1 ), Ω = ∪i∈N Ki

Dai consideramos a famı́lia de seminormas dadas por

pi (ϕ) = max {|Dα ϕ(x)|; x ∈ Ki , |α| ≤ k}

A famı́lia P = {pi ; i ∈ N} de seminormas define uma topologia, localmente


convexa sobre C ∞ . Uma base local para esta topologia é dada pela famı́lia de
conjuntos  
1
Vi = ϕ ∈ C ∞(Ω); pi (ϕ) <
i
É simples verificar que Vi é um conjunto convexo. Esta topologia é metrizável,
para isto basta considerar a métrica

X 2−i pi (f − g)
d(f, g) = ,
1 + pi (f − g)
i=1

que é invariante por translações. O espaço C ∞ (Ω) munido da esta métrica é


completo, como é simples verificar. Portanto C ∞ (Ω) é um espaço de Fréchet.
Note que cada espaço C k (Ki ) pode ser identificado com um subespaço fechado
de C ∞ (Ω).
4.3. Espaços das funções testes 79

Funções Infinitamente diferenciáves


Denotaremos por C ∞(Ω) ao conjunto de funções infinitamente diferenciais so-
bre Ω, em simbolos:

C ∞ (Ω) = {f ∈ C(Ω); Dα f ∈ C(Ω) ∀α ∈ Nn } .


De forma análoga ao caso de funções k vezes diferenciáveis podemos definir
uma topologia, e uma métrica, que faz de C ∞ (Ω) um espaço de Fréchet, com
a propriedade de Heine Borel, isto é, todo fechado e limitado de C ∞ (Ω) é um
compacto. Para isto, tomemos uma coleção de compactos Ki , tais que
0
Ki ⊂ Ki+1 (interior de Ki+1 ), Ω = ∪i∈N Ki
Para cada n ∈ N introduzimos a seminorma
ρn (ϕ) = max {|Dα ϕ(x)|; x ∈ Kn , |α| ≤ n}
A famı́lia P = {ρn ; n ∈ N} de seminormas define uma topologia, localmente
convexa sobre C ∞ . Uma base local para esta topologia é dada pela famı́lia de
conjuntos  
1
Vn = ϕ ∈ C ∞ (Ω); ρn (ϕ) <
n
É simples verificar que Vn é um conjunto convexo. Esta topologia é metrizável,
para isto basta considerar a métrica
X∞
2−i ρi (f − g)
d(f, g) = .
i=1
1 + ρi (f − g)

d(·, ·) definida acima é uma métrica invariante por translações, que faz que o
espaço C ∞(Ω) seja completo. Portanto C ∞ (Ω) é um espaço de Fréchet. Note
que cada espaço C ∞ (K) é um subespaço fechado de C ∞ (Ω).

O espaço C0∞ (Ω)


As funções polinômicas, exponenciais, trigonométricas são exemplos de funções
infinitamente diferenciais. Mais funções que sejam infinitamente diferenciáves
e que se anulem fora de um conjunto compacto não são funções elementares.
Considere por exemplo a função
(
− 1
f(x) = e 1−|x|2 se |x| < 1
0 se |x| ≥ 1
É simples verificar que f é infinitamente differenciável em todo R e se anula
fora do intervalo [0, 1]. É conveniente introduzir o conceito de suporte de uma
função.
80 Capı́tulo 4. Distribuições

Definição 4.3.1 Seja f : Ω → R uma função contı́nua. Chamaremos de


soporte de f ao conjunto que denotaremos por Supp(f) e definiremos como

Supp f = {x ∈ Ω; f(x) 6= 0}.

Usando convoluções encontramos uma variedade maior de funções infinitamente


diferenciáveis com suporte compacto.

Exemplo 4.3.1 Denotemos por Ω = R, e consideremos f : R → R então


temos que
• Se f(x) = ex então Supp f = R
• Se f(x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · + a0 então Supp f = R
• Se f(x) = cos(x) então Supp f = R

Posteriormente extenderemos o conceito de suporte para funções mais gerais


que as contı́nuas.

Seja K um compacto de Ω, denotaremos por


DK = {f ∈ C ∞ (Ω); Supp f ⊂⊂ K}

Como na seção anterior fazemos Ω = ∪n∈N Kn e definimos a famı́lia de semi-


normas definidas na seção anterior.

ρn (ϕ) = kϕkn = max {|Dα ϕ(x)|; x ∈ Kn , |α| ≤ n} .

Denotemos por DKn o espaço munido com a norma (sobre Kn ) pn . é um espaço


normado completo. Definimos agora o espaço das funções testes

D(Ω) = ∪n∈N DKn


É simples verificar que D(Ω) é um espaço vetorial topológico. Seja K um
compacto qualquer de Ω. Como Kn ⊂ Kn+1 então existe n0 ∈ N tal que
K ⊂ Kn para todo n ≥ n0 . Assim DK , para qualquer compacto K, pode ser
considerado um subespaço de DKn0 com a topologı́a inducida por DKn0 . Uma
base local para a topologia de DK é dada por
 
1
Vn = ϕ ∈ DK ; kϕkn <
n
A topologia definida acima é localmente convexa e metrizable, embora apre-
sente a deficiencia de não ser completa. De fato consideremos Ω = R e a
seqüência
1 1 1
ψm = φ(x − 1) + φ(x − 2) + φ(x − 3) + · · · + φ(x − m).
2 3 m
4.3. Espaços das funções testes 81

Onde φ ∈ C0∞ (R), Supp(φ)= [0, 1] e φ ≥ 0. Pode-se mostrar que ψm é uma


seqüência de Cauchy, mais o limite dela não tem suporte compacto, portanto
o limite não pertence a D(R)

Definição 4.3.2 Toda aplicação linear e contı́nua sobre D(Ω) com respeito à
topologia anterior é chamada de Distribuição. O conjunto de todas distribuições
é chamado de espaço de distribuições e é denotado por D0 .

A topologı́a anterior induce o seguinte conceito de convergência. Uma


seqüência de funções {ϕν } de elementos C0∞ (Ω) é dito que converge para ϕ ∈
C0∞ (Ω) quando
(i) Existe K ⊂⊂ Ω tal que supp{ϕν − ϕ} ⊂ K, e
(ii) limν→∞ Dα ϕν = Dα ϕ uniforme sobre K e para todo multiindice α.
O espaço D0 (Ω) é dotado da topologia fraca estrela como dual de D(Ω), e é
um espaço topológico localmente convexo. Isto é, diremos que uma seqüência
de distribuições Tm converge para a distribuição T se e somente se

Tm (ϕ) → T (ϕ) em C
I

para toda função ϕ ∈ D(Ω)

Definição 4.3.3 Deja T uma distribuição, então definimos derivada de ordem


α de T ao operador denotado como Dα T e definido como

hDα T , ϕi = (−1)|α| hT , Dα ϕi

É simples verificar que a derivada de uma distribuição é também uma dis-


tribuição.

Definição 4.3.4 Diremos que uma distribuição tem ordem m se m é o menor


número que satisfaz

|T (φ)| ≤ CK kφkC m , ∀φ ∈ D(K)

para todo K ⊂⊂ Ω, onde CK > 0. Se não existe um único m para todo K,


diremos que T tem ordem infinito.

Exemplo 4.3.2 Seja v uma função localmente integrável em Ω. Então a dis-


tribuição Tv definida como
Z
hTv , ϕi = vϕ dx

é um distribuição de ordem zero.


82 Capı́tulo 4. Distribuições

Exemplo 4.3.3 Seja v uma função localmente integrável L1loc (Ω) que não seja
contı́nua em Ω. Então a distribuição Dα Tv é um distribuição de ordem |α|.

Exemplo 4.3.4 A função Delta de Dirac, é uma distribuição de ordem zero.


A derivada de primeira ordem da função Delta de Dirac, é uma distribuição
de primeira ordem.

Exemplo 4.3.5 Definamos a aplicação T : D(R) → R da seguinte forma

X∞
di
hTv , ϕi = ϕ(i)
i=1
dxi

É simples verificar que T é uma distribuição que tem infinito ordem.

Definição 4.3.5 Diremos que uma distribuição se anula num aberto O se para
toda φ ∈ C0∞ (Ω) tal que Supp φ ⊂ O teremos que T (φ) = 0. Denotemos por
Ω0 o maior aberto onde a distribuição T se anula. O conjunto fechado Ω \ Ω0
é chamado de suporte da convolução e é denotado por Supp(T )

Da definição anterior concluimos que se existe um fechado F tal que T se anula


em Ω \ F , então
Supp T ⊂ F

Exemplo 4.3.6 Seja v uma função localmente integrável. Então o suporte da


distribuição Tv definida como
Z
hTv , ϕi = vϕ dx

coincide com o suporte de v.

Teorema 4.3.1 Seja que T ∈ D0 (Ω). Suponhamos que Supp(T )⊂ {x0 }, para
x0 ∈ Ω e que T seja de ordem N . Então existem constantes cα tais que
X
T = cα Dα δx0
|α|≤N

Onde δx0 é a função de Dirac, dada por

hδx0 , φi = φ(x0 )

Demonstração.- A condição Supp(T )⊂ {x0 }, significa que a distribuição T


se anula sobre o conjunto Ω \ {x0 }. Sem perda de generalidade podemos supor
4.3. Espaços das funções testes 83

que x0 = 0 ∈ Ω. Faremos a demonstração no caso unidimensional Ω =] − 1, 1[


e quando a ordem N = 3. Seja φ ∈ D(] − 1, 1[)

φ0 (0) = 0, φ00 (0) = 0, φ000 (0) = 0 (4.1)


implica que
T (φ) = 0.
De fato, pela continuidade dado  > 0 existe uma vizinhança ] − , [ tal que

|φ000(x)| ≤ , ∀ |x| ≤ .

Usando o Teorema de Taylor


1 1
φ(x) = φ(0) + φ0 (0)x + φ00 (0)x2 + φ000(ξ)x3
2 6
e lembrando as hipoteses sobre φ e aplicando as fórmulas de Taylor para φ, φ0
e φ00 , encontramos

|φ(x)| ≤ c|x|3, |φ0 (x)| ≤ c|x|2, |φ00 (x)| ≤ c|x| ∀ |x| ≤ . (4.2)

Seja ψ uma função de C0∞ (] − 1, 1[) com suporte contido em ] − 1/2, 1/2[ e tal
que ψ = 1 em ]-1/4,1/4[. Definamos agora
x
ψr (x) = ψ( ), r > 0, x ∈] − 1, 1[.
r

Tomando r = 2 teremos que

Supp ψr ⊂ B( , 0) ⊂ B(, 0)
2
Usando as fórmulas de Leibniz’s teremos que

(ψr φ)(3)(x) = ψr000 φ + 3ψr00 φ0 + 3ψr0 φ00 + ψr φ000


1 000 x 1 x 1 x x
= ψ ( )φ(x) + 3 2 ψr00 ( )φ0 (x) + 3 ψr0 ( )φ00 (x) + ψr ( )φ000 (x)
r3 r r r r r r r
Usando a desigualdade (4.2) temos que
8 4 1

(ψr φ)(3)(x) ≤ C|x|3 + 3 2 C|x|2 + 5 C|x| + C
3  
≤ C0 .

Onde C = kψkC 3 . Assim temos

kψr φkC 3 ≤ kφkC 3 (4.3)


84 Capı́tulo 4. Distribuições

Como T é de ordem N = 3, existe uma constante C > 0 tal que |T (ψ)| ≤


CkψkC 3 , para todo ψ ∈ D(K). Como ψr = 1 em ] − /8, /8[ segue que

|T (φ)| = |T (ψr φ)| ≤ Ckψr φkC 3 ≤ CkφkC 3

Como  é arbitrario segue que T (φ) = 0. Em outras palabras temos que

φ0 (0) = 0, φ00 (0) = 0, φ000 (0) = 0 ⇒ T (φ) = 0.

Pelo Lema 3.4.2 segue o resultado, isto é existem constantes ci tais que
3
X di
T (φ) = ci δ(x).
i=1
dxi

4.4 Funções de decrescimento rápido


Nesta seção estudaremos as principais propriedades da transformada de Fourier.
Denotemos por S(RN ) o espaço das funções rápidamente decrescentes, isto é
funções infinitamente diferenciaveis satisfazendo

sup sup (1 + |x|2 )m |(Dα f)(x)| < ∞, ∀m ∈ N, ∀N ∈ N


|α|≤N x∈Rn

É simples verificar que


lim P (x)Dα f(x) = 0
|x|→∞
e que
C0∞ (RN ) ⊂ S
Sobre o conjunto S podemos definir uma métrica d, da seguinte forma:
X ρm (u − v)
d(u, v) =
2m (1 + ρm (u − v))
m∈N

onde por ρm (v) estamos denotando



ρm (v) = sup sup (1 + |x|2 )m |(Dα f)(x)|
|α|≤m x∈Rn

Com esta métrica o espaço das funções rápidamente decrescentes é completo.


Note que d(·, ·) não é uma norma devido a que não é homogeneo. (pela mesma
razão não é seminorma).

Definição 4.4.1 O conjunto de todas as aplicações lineares e contı́nuas com


respeito à topologia induzida pela métrica d, é denotado por S 0 (RN ) e é chamado
de espaço das Distribuições Temperadas.
4.4. Funções de decrescimento rápido 85

Note que um funcional T é linear e contı́nuo com respeito à topologia


induzida por d(·, ·) se e somente se existe uma constante positiva C e m ∈ N
tal que 
|T (φ)| ≤ C sup sup (1 + |x|2)m |(Dα φ)(x)|
|α|≤m x∈Rn

De fato, se φν é uma seqüência de funções convergindo para zero em S(RN ),


então teremos que

(1 + |x|2)m |(Dα φν )(x)| → 0, uniforme em RN


De onde segue que
T (φν ) → 0
Toda distribuição temperada é uma distribuição, isto é S 0 (RN ) ⊂ D0 (RN ). O
recı́proco é falso. Veja o seguinte exemplo.
Exemplo 4.4.1 D0 (RN ) 6⊂ S 0 (RN ). De fato, para simplificar, consideraremos
o caso unidimensional. Tomemos a função f(x) = ex . É simples verificar que
f ∈ D0 (R), pois ela é localmente integrável. Mais f 6∈ S 0 (R). Para mostrar
isto tomemos ϕ ∈ S(R) não negativa. Consideremos a seqüência ϕn (x) =
e−n/2 ϕ(x/n). É simples verificar que para cada m ∈ N temos que
n o
ρm (ϕn ) = e−n/2 sup sup (1 + |x|2)m n−i |ϕ(i) (x/n)|
i≤m x∈R
n o
−m −n/2
≤ n e sup sup (1 + n2 |σ|2 )m |ϕ(i) (σ)|
i≤m σ∈R
n o
≤ nm e−n/2 sup sup (1 + |σ|2 )m |ϕ(i)(σ)|
i≤m σ∈R
m −n/2
≤ cm n e →0
Para m ∈ N. De onde concluimos que
ϕn → 0 em S(R).
Por outro lado
Z
Tf (ϕn ) = ex ϕn (x) dx
RN
Z
≥ ex ϕn (x) dx
x≥n
Z
n/2
≥ e ϕ(x/n) dx
x≥n
Z
≥ nen/2 ϕ(σ) dσ → ∞
x≥1
0
portanto f 6∈ S (R)
86 Capı́tulo 4. Distribuições

4.5 Transformada de Fourier


Nesta seção introduziremos a transformada de Fourier para funções de decresci-
mento rápido e extenderemos esta transformada para as distribuições temper-
adas.

Definição 4.5.1 Seja f ∈ S(RN ), então denotaremos por F f a Transformada


de Fourier de f dada por
 n Z
1
F f(y) = √ f(x)e−ixy dx.
2π RN

Proposição 4.5.1 A transformada de Fourier satisfaz as seguintes propriedades:


∂u
(i) F ( ∂x i
) = iξi F u

(ii) F (f ∗ g) = ( 2π)2n F (f)F (g)
R R
(iii) RN F (f)g dx = RN fF (g) dx

Demonstração.- A propriedade (i) obtem-se fazendo integração por partes.


Demostraremos a identidade (ii). Para isto utilizaremos o Teorema de Fubini.
De fato,

Z Z Z
f ∗ geixξ dξ = f(ξ − y)g(y) dye−ixξ dξ
RN RN RN
Z Z
= f(ξ − y)g(y)e−ixξ dξdy
RN RN
Z Z
= f(ξ − y )e−ixξ dξg(y)dy
RN RN | {z }
:=σ
fazendo mudança de variável
Z Z
= f(σ)e−ix(σ+y) dσg(y)dy
RN RN
Z Z 
−ixσ
= f(σ)e dσ e−ixy g(y)dy
RN RN

= ( 2π)2n F (f)F (g)

De onde segue a demonstração. De forma análoga se mostra (iii).

Observação 4.5.1 A transformada de Fourier está bem definida para funções


f ∈ L1 (RN ) e ainda temos que

kF (f)kL∞ ≤ kfkL1
4.5. Transformada de Fourier 87

Em geral se f é uma função integrável, então sua transformada de Fourier é


também uma função contı́nua. De fato, seja xm uma seqüência convirgindo
para x, provaremos que

F (f)(xm ) → F (f)(x).

Pela definição temos


 n Z
1
F (f)(xm ) = √ f(y)e−iyxm dy
2π RN | {z }
:=gm (x)

Note que
|gm (y)| ≤ |f(y)|, gm (y) → g(y) = f(y)e−iyx
Do teorema da convergência dominada, encontramos que
 n Z  n Z
1 1
√ f(y)e−iyxm dy → √ f(y)e−iyx dy
2π R N 2π R N

Isto é
F (f)(xm ) → F (f)(x)
De onde segue a continuidade. Em resumo temos que

F : L1 (RN ) → C(RN ) ∩ L∞ (RN )

Proposição 4.5.2 A transformada de Fourier de uma função rápidamente


decrescente é também uma função rápidamente decrescente. Isto é

F : S(RN ) → S(RN )

Demonstração.- Temos que provar que

(1 + |ξ|2)m |F(φ)(ξ)| ≤ Cm , ∀ξ ∈ Rn

Pela continuidade é suficiente mostrar que a desigualdade é válida para |ξ| ≥ M


com M > 0. Consideremos o caso unidimensional. Fazendo integração por
partes temos Z Z
−iyξ 1
φ(y)e dy = − φ0 (y)e−iyξ dy
R iξ R
de onde segue que
Z

φ(y)e−iyξ dy ≤ 1 kφ0 kL1 ∀|ξ| ≥ M > 0.
|ξ|
R
88 Capı́tulo 4. Distribuições

Repetindo este proceso, podemos mostrar que


Z

φ(y)e−iyξ dy ≤ 1 kφ00 kL1 ∀|ξ| ≥ M > 0.
|ξ|2
R

Em geral teremos
Z

φ(y)e−iyξ dy ≤ 1 kφ(m) kL1 ∀|ξ| ≥ M > 0.
|ξ|m
R

Usando esta desigualdade, encontramos

 n Z
1
(1 + |ξ|2)m |F(φ)(ξ)| = (1 + |ξ|2 ) √ φ(y)e−iyξ dy

R
(1 + |ξ|2 )m (2m)
≤ kφ kL1
|ξ|m
≤ Ckφ(2m)kL1 ∀|ξ| ≥ M > 0.

Portanto, F (φ) ∈ S.
2
Lema 4.5.1 A transformada de Fourier da função x 7→ e−ax é dada por
r
2 π −ξ2 /4a
F (e−ax )(ξ) = e .
a
2
Demonstração.- Denotemos por f(ξ) = F (e−ax )(ξ), é simples verificar que
a derivada da função
Z
1 2
f(ξ) = √ e−ay e−iξy dy
2π R
satisfaz Z
i 2
f 0 (ξ) = − √ ye−ay e−iξy dy.
2π R

Integrando por partes teremos


Z
0 ξ 2
f (ξ) = − √ e−ay e−iξy dy.
2a 2π R

De onde segue que

ξ 2
f 0 (ξ) = − f(ξ) ⇒ f(ξ) = f(0)e−ξ /4a
.
2a
4.5. Transformada de Fourier 89

Lembrando que Z r
2 π
f(0) = e−ay dy =
R a
segue o resultado.

Outra relação importante é dada no seguinte Lema

Lema 4.5.2 Z ∞
sen x π
dx =
0 x 2
Demonstração.- Este valor pode ser calculado usando a função
Z ∞
sen x
F (t) = e−xt dx
0 x
De fato, note que o valor que desejamos calcular é dado por F (0). Por outro
lado é simples verificar que
lim F (t) = 0. (4.4)
t→∞
Derivando a função F teremos que
Z ∞
F 0 (t) = − e−xt sen x dx
0

Integrando por partes a expressão anterior, encontramos que


1 0 1 1
(1 + )F (t) = − 2 , ⇒ F 0 (t) = −
t2 t 1 + t2
De onde segue que
F (t) = −arctag t + c
Aplicando a identidade (4.4) concluimos que
π
c = arctag ∞ =
2
De onde segue o resultado.

Introduzamos o funcional
 n Z
1
Fef = √ f(x)eixy dx
2π RN

Mostraremos que Fe é a transformada inversa de Fourier de F . Isto é



Fe(F (φ)) = ( 2π)n φ, ∀φ ∈ S(RN )
Para isto precisaremos da seguinte identidade
90 Capı́tulo 4. Distribuições

Lema 4.5.3 Sejam u e v funções em S(RN ). Então é válido


Z Z
v(y)F (u)eixy dy = u(σ + x)F (v) dξ
RN RN

Demonstração.- De fato, consideremos


Z √ −n Z Z
v(y)F (u)eixy dy = 2π v(y)u(ξ)e−iξy eixy dξ dy
R N R N R N
√ −n Z Z
= 2π u(ξ) v(y)e−i(ξ−x)y dy dξ
RN RN
Z
= u(ξ)F v(ξ − x) dξ
RN
Fazendo mudança de variável
Z
= u(σ + x)F v(σ) dσ
RN

De onde segue a identidade

Proposição 4.5.3 Para toda função φ ∈ S(RN ) temos que


√ n
Fe(F φ) = 2π φ

Demonstração.- Do Lema 4.5.3 temos que


Z Z
v(y)F (φ)eixy dy = φ(σ + x)F (v) dξ.
RN RN

Seja
2
v(x) = e−|x| /2

Denotemos por v (x) = v(x), nestas condições lembrando o Lema 4.5.1 tere-
mos que

Z √ n Z
2
/22
v (y)F (φ)(y)eixy dy = 2π −n φ(σ + x)e−ξ dξ
RN RN
Fazendo mudança de variável
√ n Z 2
= 2π φ(x + y)e−ξ /2 dy
RN

Fazendo  → 0 teremos que


Z √ n Z 2
F (φ)eixy dy = 2π φ e−ξ /2
dy = (2π)n φ
RN RN

De onde segue o resultado


4.6. Transformada de Fourier em L2 91

Teorema 4.5.1 (Identidade de Plancherel) Para toda função φ ∈ S(RN )


temos que Z √ −n Z
|φ|2 dx = 2π |F(φ)|2 dx
RN RN

Demonstração.- De fato, considere

Z Z
2
|φ| dx = φφ dx
RN RN
√ −n Z
= 2π Fe(F (φ))φ dx
RN
√ −n Z
= 2π F (φ)Fe(φ) dx
RN
√ −n Z
= 2π F (φ)F (φ) dx
RN

De onde segue o resultado

4.6 Transformada de Fourier em L2


Para funções em L2 , o produto com e−ixy não é em geral uma função L1 .
Portanto a integral Z
f(x)e−iξx dx
RN

não está definida neste espaço. Utilizando a identidade de Plancherel definire-


mos a transformada de Fourier no espaço L2 (RN ) por densidade. De fato, seja
u uma função de L2 (RN ), então existe uma seqüência de funções φν em S(RN )
tais que
φν → u forte em L2 (RN )
Utilizando a Identidade de Plancherel teremos que
√ n
kF (φν ) − F(φµ )kL2 (RN ) = 2π kφν − φµ kL2(RN )

De onde concluimos que a transformada de Fourier da seqüência φν é também


uma seqüência de Cauchy em L2 (RN ), portanto existe uma função û ∈ L2 (RN )
tal que
F (φν ) → û forte em L2 (RN )
O Limite û é tomado como a transformada de Fourier de u.
Definiremos a seguir a transformada de Fourier de uma Distribuição tem-
perada. Isto é feito por transposição na seguinte definição.
92 Capı́tulo 4. Distribuições

Definição 4.6.1 A transformada de Fourier de uma distribuição temperada


T , é definida como a distribuição T̂ satisfazendo

T̂ (φ) = T (φ̂)

Antes de considerar alguns exemplos provaremos um conhecido Lema,

Lema 4.6.1 Seja F uma função contı́nua, e com derivadas laterais. Então é
válido Z b
sen k(x − x0 )
lim F (x) dx = F (x0 )π
k→0 a x − x0

Demonstração.- Consideremos a seguinte identidade


Z b Z b
sen k(x − x0 ) F (x) − F (x0 )
F (x) dx = sen k(x − x0 ) dx (4.5)
a x − x0 a x − x0
Z b
sen k(x − x0 )
+F (x0 ) dx
a x − x0

Fazendo a mudança de variável σ = k(x − x0 ) temos que

Z b Z k(b−x0)
sen k(x − x0 ) sen σ
dx = dx
a x − x0 k(a−x0) σ
Z 0 Z k(b−x0)
sen σ sen σ
= dx + dx
k(a−x0) σ 0 σ

Usando o Lema 4.5.2 temos que


Z b
sen k(x − x0 )
lim dx = π
k→∞ a x − x0
Do Lema de Riemann Lebesgue e da identidade 4.5 segue o resultado.

Exemplo 4.6.1 É simples verificar que todas as funções constantes são dis-
tribuições temperadas. Portanto todas elas possuim Tranformada de Fourier
no sentido das distribuições temperadas. Utilizaremos o Lema anterior para
calcular a transformada de 1. Consideraremos o caso unidimensional. Seja T1
sua correspondente distribuição. Pela definição teremos que

T̂1 (φ) = T1 (φ̂)


4.6. Transformada de Fourier em L2 93

Note que a transformada de T1 pode ser aproximada por


Z β
1
T̂1 = √ lim e−ixy dy
2π β→∞ −β
1 −ixy y=β
= e |y=−β
−ix
sen βx
= 2
x
De onde segue Pelo Lema 4.5 que
Z
1 sen βx
T̂ (φ) = √ lim φ dx = 2πφ(0)
2π β→∞ R x
Portanto temos que √
1̂ = 2πδ0
Outra forma mais direta de calcular o valor da transformada de 1, é utilizando
a tranformada inversa, isto é
Z √ √ √
ˆ
T1 (φ) = T1 (φ̂) = φ̂ dx = 2π Fe(φ̂)(0) = 2πφ(0) = 2πδ0 (φ)
R

Portanto, Tˆ1 = 2πδ0 .

Exemplo 4.6.2 Calcularemos agora a Transformada de Fourier da função


sen(x). Porcedendo como no exemplo anterior termos que calcular a trans-
formada da distribuição Tsen que pode ser aproximada da seguinte forma

Z β
1
T̂sen = √ lim sen ye−ixy dy
2π β→∞ −β

1 eiy − e−iy −ixy
= √ lim e dy
2π β→∞ −β 2i
( Z Z )
1 1 β −i(x−1)y 1 β −i(x+1)y
= √ lim e dy − e dy
2π β→∞ 2i −β 2i −β
 
1 isen (β(1 − x) isen (β(1 + x)
= √ lim − −
2π β→∞ 1−x 1+x

De onde segue que


r r
π π
T̂sen = −i δ1 − i δ−1
2 2
94 Capı́tulo 4. Distribuições

4.7 Aplicação a equação do calor


Faremos nesta seção uma aplicação a equação do calor. Isto é, a equação que
modela o fluxo do calor num corpo configurado sobre um conjunto Ω ⊂ R3 .

4.7.1 Dedução Fı́sica do Modelo


A equação do Calor é uma conseqüência de

• O princı́pio da conservação da energia.


• A lei de diferençabilidade térmica dos corpos sólidos, conocida como Lei
de Fourier, que estabelece que o fluxo de calor através de uma superfı́cie
S é proporcional a derivada normal da temperatura sobre a superfı́cie.
A constante de proporcionalidade que denotaremos por k é chamada de
condutividade térmica. Se denotamos por q a quantidade de calor
que flui por unidade de tempo e por y a temperatura, temos:

∂y
q = −k = −k∇u · ν. (4.6)
∂ν
Por ν estamos denotando a normal a superfı́cie S.
• A Lei de Newton estabelece que a quantidade de calor que flui durante
uma unidade de tempo através da área σ da superfı́cie do corpo ao meio
ambiente é proporcional a diferença da temperatura do corpo com o meio
ambiente. Isto é,
q = −σα(y − y0 ), (4.7)
onde σ é a área da superfı́cie, α é o coeficiente de intercambio de calor.

Outro coeficiente térmico é a Capacidade térmica c0 , que se define como


quantidade de calor necessária para elevar uma unidade de volume a uma
unidade de temperatura. Temos assim definido o aumento da temperatura
de um corpo e a capacidade térmica do material, podemos conhecer então a
quantidade de calor que foi introduzida ao material. Assumiremos neste texto
que todos os coeficientes de proporcionalidade descritos acima são constantes.
Para obter a equação diferencial que a temperatura y satisfaz, consideremos
primero uma pequena região R do sólido configurado sobre Ω, cuja superfı́cie
denotaremos por S. Suponhamos que o fluxo de calor durante o intervalo
de tempo [t, t + h] incrementou em y(x, t + h) − y(x, t) a temperatura, então
usando a definição da capacidade térmica concluı́mos que a quantidade de calor
consumida neste processo é

Q = c0 (y(x, t + h) − y(x, t))dV,


4.7. Aplicação a equação do calor 95

onde por dV estamos denotando o diferencial de volume. Portanto, a quanti-


dade de calor em toda a região R é de
Z
QT otal = c0 (y(x, t + h) − y(x, t))dV.
R
Aplicando o teorema do valor médio obtemos:
Z
∂y
QT otal = h c0 (x, ξ) dV ξ ∈]t, t + h[.
R ∂t
Como S é a superfı́cie da regão R. Da lei de Fourier temos que a quantidade
de calor QT otal introduzida a região R é igual:
Z
∂y
QT otal = − k (x, t)h dS.
S ∂ν

De onde temos: Z Z
∂y ∂y
c0 (x, ξ0 ) dV = − k dS.
R ∂t S ∂ν
Fazendo h → 0 obtemos:
Z Z
∂y ∂y
c0 (x, t) dV = −k (x, t) dS
R ∂t S ∂ν

Das fórmulas de Green segue


Z Z
∂y
c0 (x, t) dV = k ∆y(x, t) dV.
R ∂t R

Sendo R uma região qualquer do material, concluı́mos que:

c0 yt = k∆y, em Ω×]0, T [.
Por outro lado, a temperatura inicial do material deve ser uma função y0 co-
nhecida, isto é,
y(x, 0) = y0 (x) em Ω.
Devemos ter também informação da solução na fronteira de Ω. Por exemplo,
o valor da temperatura, isto é,
y(x, t)|∂Ω = g(x, t).
onde g é uma função conhecida. Esta condição de contorno é chamada de
Condição de Dirichlet.
Outra condição de contorno caso não seja conhecido o valor de y no bordo
de Ω é a seguinte
∂y
k (x, t)|∂Ω = q(x, t).
∂ν
Esta condição é chamada de condição de Neumann.
96 Capı́tulo 4. Distribuições

4.8 Solução da equação do calor no RN


Como vimos na seção anterior, a equação do calor é dada por

yt − ∆y = 0 em Rn ×]0, ∞[

y(x, 0) = y0 (x) em Rn
onde y0 é uma função dada. Note que neste caso não temos condição de con-
torno, porque não temos bordo. Suponhamos que y0 ∈ L2 (RN ). Procuremos
uma solução utilizando a Transformada de Fourier. Assim depois de tomar
transformada de Fourier na equação do Calor teremos

ŷt + |ξ|2 ŷ = 0

ŷ(ξ, 0) = ŷ0
Agora a equação em derivadas parciais se transformou numa equação diferencial
ordinaria de primeira ordem, cuja solução está dada por
2
ŷ = e−|ξ| t ŷ0 (ξ).

Pela parte (ii) da proposição 4.5.1 teremos que


 n
1 2
ŷ = √ F (Fe(e−|ξ| t ) ∗ Fe(ŷ0 ))

 n
1 1 |x|2
= √ F (( √ )n e− 4t ∗ y0 )).
2π t

Depois de tomar transformada inversa, segue que


Z
1 n |x−ξ|2
y = (√ ) e− 4t y0 (σ) dξ. (4.8)
2πt RN

Onde y representa a solução da equação do calor. Em virtude da fórmula (4.8)


podemos obter as seguintes concluções.

Proposição 4.8.1 Seja y0 ∈ L2 (RN ), então existe uma única solução da


equação do calor, satisfazendo:
(i) O problema está bém colocado e a solução depende contı́nuamente do dado
inicial y0 , isto é
ky(·, t)kL2 (RN ) ≤ ky0 kL2 (RN )
Em geral temos que se y0 ∈ Lp (RN ), pela desigualdade de Young segue
que
y(·, t) ∈ Lp (RN )
4.9. Exercı́cios 97

pois núcleo da convolução,


1 n − |x|2
S(x, t) := ( √ ) e 4t
2πt

é uma função que pertence a L1 (RN ), e ainda satisfaz:


Z
1 n |x|2
(√ ) e− 4t dx = 1
2πt RN

(ii) Se m ≤ y0 (x) ≤ M então a solução da equação do calor satisfaz: m ≤


y(x, t) ≤ M para todo t > 0. Esta propriedade é conhecida como Princi-
pio do máximo da equação do calor.
(iii) A norma de y em L2 (RN ), ky(·, t)kL2(RN ) decai uniformente quando
t → ∞, isto é
C
ky(·, t)kL2 (RN ) ≤ √ ky0 kL2 (RN )
t
o que define o Comportamento Asintótico da solução.
(iv) Como a função S(x, t) é uma função infinitamente diferenciável para x ∈
RN e t > 0 a convolução y = S ∗ y0 é também uma função infinitamente
diferenciável para t > 0. Note que esta propriedade não depende do dado
inicial. Isto é o dado inicial y0 pode ser irregular que a solução y será
infinitamente diferenciável para t > 0. Esta propriedade é conhecida
como Efeito Regularizante

4.9 Exercı́cios
1. Mostre que a função x 7→ cos x é uma distribuição temperada e calcule
sua transformada de Fourier
2
2. Mostre que x 7→ ex não é uma distribuição temperada, mais é uma
distribuição de D(RN )
3. Seja φ ∈ D(RN ) e T ∈ D0 (RN ). Alguma das relações

φT = 0, T (φ) = 0

implica a outra
4. Seja u ∈ D0 (R), mostre que
u − τx u
→ Du, em D0 (R)
x
98 Capı́tulo 4. Distribuições

5. Mostre que a função x 7→ ex cos (ex ) é uma distribuição temperada.


6. Mostre que C0∞ (RN ) é denso em S(RN )
7. Seja f ∈ L1 (RN ), f 6= 0. Seja λ um número complexo tal que F (f) = λf.
Que pode dizer sobre λ?
8. Suponhamos que exista uma constante C > 0 independente de φ tal que
Z
uφ dx ≤ CkφkLp(RN ) , ∀φ ∈ C0∞ (RN )
RN
0
então u ∈ Lp (RN ).
9. Calcular a transformada de Fourier da função x 7→ cos x, x 7→ sen (x −
x0 )
10. Mostre que a função x 7→ tg x é uma distribuição temperada.
11. Seja p uma seminorma. Mostre que o conjunto V = {x ∈ E; p(x) = 0}
é um espaço vetorial e que o conjunto C = {x ∈ E; p(x) < 1} é um
conjunto convexo.
12. Se ϕ ∈ S(RN ) mostre que
lim q(x)ϕ(x) = 0 ∀q polinomio
|x|→∞

13. Seja p uma seminorma. Mostre que o conjunto {x; p(x) = 0} é um sube-
spaço vetorial de E, e que o conjunto B = {x ∈ E; p(x) < 1} é convexo
e absorvente. (Veja Exercı́cios)
14. Seja Ω ⊂ Rn . Considere o espaço Lp (Ω) com 0 < p < 1. Mostre que as
bolas  Z 
p p
Br (0) = f ∈ L (Ω); |f| dx < r

forman uma base para a topologia induzida pela métrica definida na
seção 3.12. Verifique que os conjuntos Br não são convexos.
2
15. Seja f(x) = e1/x mostre que ela não é uma distribuição em sobre Ω =
R \ {0}
16. Mostre que a aplicação T : D(Ω) → R dada por
X
hT , ϕi = Dα ϕ(x0 )
|α|≤m

com x0 ∈ Ω é uma distribuição.


17. Mostre que a função f(x) = eax não é uma distribuição temperada para
todo a 6= 0.
Capı́tulo 5

Espaços de Sobolev
Quando puder avaliar o que está falando
e exprimirlo por números, você sabe algo
a respeito disso; mas quando não conseguir avaliar,
nem exprimir por números, seu conhecimento é medı́ocre
e não pode lhe dar satisfação
Sir W. Thomson

5.1 Os espaços W m,p


Nesta seção introduziremos os espaços W m,p e mostraremos algumas de suas
principais propriedades.
Diremos que uma função u tem derivadas fracas em Lp (Ω), se existe uma
função vi tal que Z Z
∂ϕ
u dx = − vi ϕ dx
Ω ∂xi Ω
Seja m um número não negativo e p satisfazendo 1 ≤ p ≤ ∞. Denotaremos
por k · km,p , a expressão
 1/p
 X Z 
kukm,p = |Dα u|p dx , quando 1 ≤ p < ∞
 Ω 
0≤|α|≤m

kukm,∞ = max kDα uk∞


0≤|α|≤m

O espaço W m,p é definido como


W m,p (Ω) = {v ∈ Lp (Ω); Dα v ∈ Lp (Ω) ∀|α| ≤ m, no sentido distribucional}
Usando o fato que os espaços Lp são completos podemos mostrar que os espaços
W m,p também são espaços completos.

99
100 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Teorema 5.1.1 Os espaços W m,p são espaços completos

Demonstração.- (Exercı́cio)

Teorema 5.1.2 Os espaços W m,p são separáveis, reflexivos e uniformemente


convexos para 1 < p < ∞.

Demonstração.- (Veja Exercı́cios)


Para demostrar o teorema acima basta lembrar do conhecido resultado de
Análise Funcional:

Teorema 5.1.3 Seja E um espaço de Banach e V um subespaço fechado de


E com respeito à topologia da norma de E. Então V é um espaço de Banach
com a norma de E, e ainda temos:

• V é separável se E é separável

• V é reflexivo se E é reflexivo

• V é uniformemente convexo se E é uniformemente convexo

Um espaço importante, é o espaço que denotaremos por


k·kW m,p
H m,p (Ω) = {u ∈ C m (Ω); kukW m,p < ∞} .

Uma conjetura que ficou em aberto por muitos anos foi se a igualdade

H m,p (Ω) = W m,p (Ω)

era verdadera. Este resultado foi mostrado por Meyers e Serrin [28] em 1964.
Como conseqüência de que o espaço W m,p (Ω) é completo temos a seguinte
inclusão:

W m,p (Ω) ⊂ H m,p (Ω)

Denotemos agora por W0m,p (Ω) o fecho do espaço C0∞ (Ω) com respeito à
0
norma de W m,p (Ω). O dual deste espaço é denotado por W −m,p (Ω).
m,p
Uma das propriedades de W0 (Ω) está resumida no seguinte teorema.

Teorema 5.1.4 Se v ∈ W0m,p (Ω)∩C m (Ω) então teremos que Dα v(x) = 0 para
x ∈ ∂Ω e para todo |α| ≤ m − 1.
5.1. Os espaços W m,p 101

Demonstração.- Como v ∈ W0m,p (Ω) teremos que existe uma seqüência de


funções vν ∈ C0∞ (Ω) satisfazendo

vν → v, forte em W m,p (Ω)


Usando as fórmulas de Gauss encontramos que
Z Z
∂vν ∂ϕ
ϕ dx = − vν dx ∀ϕ ∈ C 1 (Ω)
Ω ∂xi Ω ∂xi
Aplicando a convergência de vν segue que
Z Z Z Z
∂v ∂ϕ ∂v
ϕ dx = − v dx = ϕ dx − vϕνi dΓ.
Ω ∂xi Ω ∂xi Ω ∂xi Γ

De onde concluimos que


Z
vϕνi dΓ = 0 ∀ϕ ∈ C 1 (Ω)
Γ

Em particular tomando ϕ = vνi teremos que


Z
|v|2 dΓ = 0
Γ

De onde segue o resultado para m = 1. Para mostrar o caso para m > 1


repetimos o mesmo processo para Dα v no lugar de v, assim teremos que Dα v =
0 para todo |α| ≤ m − 1. O que completa a demonstração.

Proposição 5.1.1 u ∈ W m,p (Ω) se e somente se existe uma constante C tal


que Z

uDα φ dx ≤ Ckφk p0 ∀ϕ ∈ C0∞ (Ω), ∀|α| ≤ m.
L (Ω)

Demonstração.- Fixemos α ∈ Nn tal que |α| ≤ m. Se u é uma função de


W m,p (Ω), então existe uma função v em Lp (Ω) tal que
Z Z
uDα φ dx = (−1)|α| vφ dx
Ω Ω

De onde segue que


Z Z 1/p

uDα φ dx ≤ |v| p
dx kφkLp0 (Ω)


| Ω {z }
=C
102 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Que mostra que a condição é necessária. Para mostrar que esta condição é
suficiente Definimos o operador
Z
T (φ) := φ 7→ uDα φ dx

0
Da hipótese temos que T é um operador linear e continuo definido sobre Lp (Ω),
portanto pelo teorema da Representação de Riez, existe uma função v satis-
fazendo: Z Z
vφ dx = T (φ) = uDα φ dx
Ω Ω
De onde segue que u possui derivadas fracas até o ordem m. Portanto u ∈
W m,p (Ω).
O seguinte Lema é bastante útil para caraterizar funções que tem média
zero.

Lema 5.1.1 Seja B =]a1 , b1 [×]a2 , b2 [× · · · ×]an , bn [ um hipercubo do RN . Seja


φ ∈ C0∞ (B) tal que Z
φ dx = 0.
B
Então existem funções φj ∈ C0∞ (B) tais que
Z bj
φj (x) dx = 0
aj

e ainda
n
X
φ(x) = φj (x)
j=1

Demonstração.- Consideremos primeiro o caso n = 3. Definamos


Z b1 Z b1 Z b2
ψ2 (x2 , x3 ) = φ(t1 , x2 , x3 ) dt1 , ψ3 (x3 ) = φ(t1 , t2 , x3) dt1 dt2 .
a1 a1 a2
R bj
Tomemos agora uj ∈ C0∞ (aj , bj ) e aj
uj dx = 1. Definamos

ω2 = u1 ψ2 , ω3 = u1 u2 ψ3 .
Logo
φ 1 = φ − ω2 , φ 2 = ω3 − ω2 , φ 3 = ω3 .
Satisfaz as condições do teorema. Cosideremos o caso geral. Para j ∈ N
Rb
tomemos uj satisfazendo uj ∈ C0∞ (aj , bj ) e ajj uj dx = 1. Denotemos por Bj
e ψj o conjunto e a função dadas por
Bj =]aj , bj [×]aj+1 , bj+1 [× · · · ×]an , bn [
5.1. Os espaços W m,p 103

Z b1 Z b2 Z bj−1
ψj (xj , · · · , xn ) = ··· φ(t1 , · · · , tj−1, xj , · · · , xn ) dt1 · · · dtj−1
a1 a2 aj−1

respectivamente. Tomemos
ωj (x) = u1 (x1 ) · · · uj−1 (xj−1 )ψj (xj , · · · , xn).
Note que ψj ∈ C0∞ (Bj ) e ωj ∈ C0∞(B). Alem disso teremos que
Z Z
ψj (xj , · · · , xn) dxj · · · dxn = φ(x) dx = 0
Bj B

As funções φj estão definidas por


φ1 (x) = φ − ω2 , φn (x) = ωn , φj (x) = ωj − ωj+1 , para 2 ≤ j ≤ n − 1

É simples verficar que as funções φj satisfazem as condições requeridas.

Lema 5.1.2 Seja Ω um aberto conexo do RN . Tomemos T ∈ D0 (Ω) tal que


∂T
∂xj = 0 para todo 1 ≤ j ≤ n, então existe uma constante k tal que T = k.

Demonstração.- Verifiquemos primeiro a seguinte propriedade


Z
φ dx = 0 ⇒ T (φ) = 0 (5.1)
B
De fato, do Lema 5.1.1 teremos que existem φj ∈ C0∞ (B) tais que
n
X
φ= φj .
j=1

Denotemos por
Z xj
θj (x) = φj (x1 , · · · , xj−1, t, xj+1, · · · , xn ) dt
aj

é simples verificar que θj ∈ C0∞ (B), de onde segue que


n
X n
X ∂θj ∂T
T (φ) = T (φj ) = T( )= (θj ) = 0
j=1 j=1
∂xj ∂xj

Que mostra (5.1). Suponhamos agora que T 6= 0, então existe uma função φ0
tal que T (φ0 ) = k1 6= 0 satisfazendo
Z
φ0 dx 6= 0.

104 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Caso contrario pelo discutido acima teriamos que T = 0. Denotemos agora por
k1 e k2 os valores, Z
T (φ0 ) = k1 , φ0 dx = k2

Assim teremos que Z


k1
T (φ0 ) = k1 = φ0 dx.
k2 Ω
|{z}
:=k

Tomemos φ ∈ C0∞ (B) arbitraria. É simples verificar que


Z  R 
φ(x) dx
φ(x) − B φ0 (x) dx = 0.
B k2

Da relação (5.1) teremos que


 R 
B
φ(x) dx
T φ(x) − φ0 (x) = 0
k2

De onde segue que


R Z
B
φ dx
T (φ) = T (φ0 ) = k φ dx
k2 B

Portanto T = k, o que completa a demonstração.

Teorema 5.1.5 Seja Ω um aberto do RN , então u


e, a extensão nula de u ∈
W0m,p (Ω) fora de Ω pertence a W m,p (RN )

Demonstração.- Tomemos u ∈ W0m,p (Ω), então existe uma seqüência de


funções ϕν ∈ C0∞(Ω) tais que

ϕν → u forte em W m,p (Ω)

Como para todo ν ∈ N temos que ϕν ∈ C0∞ (Ω) concluimos que a extensão nula
eν ∈ C0∞ (RN ) e ainda formam uma seqüência de Cauchy em
de ϕν satisfaz ϕ
W m,p (RN ) que verifica

ϕ
eν → e forte em W m,p (RN )
u
Portanto, ue pertence a W m,p (RN ).
A seguinte proposição nos da uma condição necessária e suficiente para que
uma função de Lp (Ω) pertença a W 1,p (Ω)
5.1. Os espaços W m,p 105

Proposição 5.1.2 Seja u ∈ Lp (Ω), então u ∈ W 1,p (Ω) se e somente se para


todo ω ⊂⊂ Ω se verifica

|h| < dist(ω, Ωc ) ⇒ kTh u − ukLp (Ω) ≤ c|h|. (5.2)

Demonstração.- Da densidade de C01 (Ω) em Lp (Ω) podemos supor que u ∈


C01 (Ω). Denotando por v(t) = u(x + th), teremos que
Z 1
d
u(x + h) − u(x) = v(t) dt
0 dt
Z 1
= h · ∇u(x + th) dt.
0

Aplicando a desigualdade de Hölder e elevando a potência p temos


Z 1
|u(x + h) − u(x)|p ≤ |h|p |∇u(x + th)|p dt.
0

Integrando sobre ω ⊂⊂ Ω obtemos


Z Z Z 1
p p
|Th u − u| dx ≤ |h| |∇u(x + th)| dt dx
ω ω 0
Z 1Z
= |h|p |∇u(x + th)| dx dt
0 ω
Z 1Z
= |h|p |∇u(y)| dydt
0 ω+th

Tomando h pequeno temos que

kTh u − ukLp (ω) ≤ |h|k∇ukLp(Ω)

Portanto a condição é necessária. Suponhamos agora que a propriedade 5.2


seja válida. Tomemos uma função ϕ ∈ C01 (Ω). Então existe ω ⊂⊂ Ω tal que
Supp ϕ ⊂ ω, assim
Z
{u(x + h) − u(x)} ϕ(x) dx ≤ kTh u − ukLp (Ω)kϕkLp0 (Ω)
ω
≤ c|h|kϕkLp0 (Ω)

para todo h tal que h < dist(ω, Ωc ). Fazendo uma mudança de variável, obte-
mos Z Z
{u(x + h) − u(x)} ϕ dx = u(x) {ϕ(x + h) − ϕ(x)} dx,
Ω Ω
106 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

de onde segue que


Z  
ϕ(x − h) − ϕ(x)
u dx ≤ ckϕkLp0 (Ω) .
Ω h

Tomando h = |h|ei e fazendo h → 0 na desigualdade anterior, segue que


Z
∂ϕ
− u dx ≤ ckϕkLp0 (Ω)
Ω ∂xi

Para todo ϕ ∈ C01 (Ω). O resultado segue da Proposição 5.1.1.

5.2 Os espaços W −m,p


0
Nesta seção caraterizaremos os espaços W −m,p (Ω). Denotemos por M o
número de multi indices α satisfazendo |α| ≤ m. Os espaços W m,p (Ω) po-
dem ser considerados um subespaço fechado de [Lp(Ω)]M utilizando a seguinte
injeção
i : W m,p (Ω) → [Lp (Ω)]M

v 7→ i(v) = (Dα v)|α|≤m

É simple verificar que o operador i é uma isometria entre W m,p (Ω) e i(W m,p (Ω)).
A seguir mostratemos que toda distribuição de W −m,p (Ω) é a soma de derivadas
de funções de Lp (Ω). Para isto utilizaremos o seguinte Lema.

Lema 5.2.1 Tomemos 1 ≤ p < ∞. Então para todo elemento T ∈ (W m,p (Ω))∗
0
dual do espaço W m,p (Ω), existe um elemento v ∈ [Lp (Ω)]M , da forma v =
(vα )|α|≤N tal que
X Z
T (v) = Dα u vα dx
|α|≤N Ω

Demonstração.- Denotemos por W a imagem do espaço W m,p (Ω) pela aplicação


i. Definamos um operador T ∗ sobre W como sendo

T ∗ (i(u)) = T (u), ∀u ∈ W m,p (Ω)

Como i é um isomorfismo isométrico teremos que kT ∗k = kT k. Pelo Teorema


de Hanh Banach existe uma extensão Te de T ∗ a todo o espaço [Lp (Ω)]M . Pelo
Teorema da representação de Riesz para os espaços Lp , teremos que existe um
elemento
0
v = (vα )|α|≤N ∈ [Lp (Ω)]M ,
5.2. Os espaços W −m,p 107

tal que para todo elemento

u = (uα )|α|≤N ∈ [Lp (Ω)]M ,

se verifica
X Z
Te(u) = uα vα dx.
|α|≤N Ω

Portanto se u ∈ W m,p (Ω) então teremos que


X Z
e
T (u) = T (u) = Dα uvα dx
|α|≤N Ω

Mais ainda, teremos que

kT k(W m,p (Ω))∗ = kvkLp0 (Ω)

De onde segue o resultado


0
Teorema 5.2.1 Tomemos 1 ≤ p < ∞. Então para todo elemento T ∈ W −m,p (Ω)
dual do espaço W0m,p (Ω), existem funções vα tais que
X
T = (−1)|α| Dα Tvα
|α|≤N

Demonstração.- Do Lema 5.2.1 podemos supor, usando o Teorema de Hanh


Banach se for necessario, que
X Z
T (u) = Dα uvα dx
|α|≤N Ω

0
para vα ∈ Lp (Ω). Tomemos um elemento φ ∈ C0∞ (Ω), nestas condições tere-
mos que

X Z
T (φ) = Dα φvα dx
|α|≤N Ω

X Z
= (−1)|α| φDα vα dx
|α|≤N Ω

Aplicando densidade, obtemos o resultado


0
Observação 5.2.1 O resultado anterior nos diz que todo elemento de W −m,p
é soma de derivadas de até ordem m de elementos funções em Lp
108 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

5.3 Partição da unidade


Lema 5.3.1 Seja Φ uma coleção de abertos do RN tais que

Ω = ∪O∈Φ O

Então existem funções ϕi ∈ D(Ω), ϕ ≥ 0 tais que


(i) ∀ϕi , ∃ O ∈ Φ, tal que Supp ϕi ⊂ O
P∞
(ii) i=1 ϕi (x) = 1, ∀x ∈ Ω
(iii) ∀ Compacto K ⊂ Ω ∃m ∈ N e um conjunto W aberto, K ⊂ W tal que

ϕ1 (x) + ϕ2 (x) + · · · + ϕm (x) = 1, ∀x ∈ W

Demonstração.- Seja S um subconjunto denso e numerável de Ω. Denotemos


por {B1 , B2 , B3 , · · ·} a famila de bolas fechadas com centro em pi ∈ S e tais que
Bi ⊂ O para algum O de Φ. Denotemos por Vi a bola aberta com centro em pi
e raio r2i . É simples verificar que Ω = ∪∞ ∞
i=1 Vi . Denotemos por ψi ∈ C0 (R )
N

tal que ψi ≥ 0, ψi = 1 em Vi , e ψi = 0 fora de Bi . Definamos por

ϕ1 = ψi , ϕi+1 = (1 − ψ1 ) · · · (1 − ψi )ψi+1 , i ≥ 1.

Note que ϕj = 0 fora de Bj , o que prova a parte (i). Por outro lado, para toda
i se verifica a identidade

ϕ1 + ϕ2 + · · · + ϕm = 1 − (1 − ψ1 ) · · · (1 − ψi−1 )ψi

De fato, para n = 1 a identidade acima é válida. Para verificar que esta


identidade também é válida para i + 1 no lugar de i, basta somar as duas
identidades anteriores para obter

ϕ1 + ϕ2 + · · · + ϕi+1 = 1 − (1 − ψ1 ) · · · (1 − ψi )ψi+1

Portanto a identidade é válida para todo i ∈ N. Como ψ = 1 em Vi segue que

ϕ1 (x) + ϕ2 (x) + · · · + ϕm (x) = 1, ∀x ∈ ∪m


i=1 Vi

De onde segue (ii). Finalmente, se K é um compacto, existe um número j tal


que
K ⊂ ∪ji=1 Vi
| {z }
=W

De onde segue a demonstração.


5.4. Aproximações por funções suaves 109

5.4 Aproximações por funções suaves


Denotemos por ρ ≥ 0 uma função C0∞ (Ω) com as seguintes propriedades:

• ρ(x) = 0 se |x| ≥ 1, e
R
• RN ρ(x) dx = 1.

Por exemplo considere a função


( 1

ρ(x) = κe 1−|x|2 se |x| < 1
0 se |x| ≥ 1
R
Onde κ é tomado de tal forma que RN ρ(x) dx = 1. Definamos por ρ a
seqüência
x
ρ (x) = −n ρ( ).

Esta seqüência é chamada de seqüência regularizante. As propriedades desta
seqüência estão resumidas nos seguintes Lemas.

Exemplo 5.4.1 Como uma aplicação da seqüência regularizante podemos con-


struir uma função f ∈ C0∞(R) satisfazendo as seguinte propriedades:

f(x) = 1, ∀|x| ≤ 1; f(x) = 0, ∀|x| ≥ 2

Para isto definamos 


 1 x ∈ ] − 23 , 32 [
h(x) =

0 x 6∈ ] − 32 , 32 [
Fasendo f(x) = ρ ∗ h(x), para  < 12 , se verificam as condições.

Lema 5.4.1 Seja u ∈ Lp (Ω), então se verifica que

lim kρ ∗ u − ukLp (Ω) = 0.


→0

Demonstração.- Mostraremos que para todo η > 0 existe δ > 0 tal que

<δ ⇒ kρ ∗ u − ukLp (Ω) < η.

Para isto usaremos o fato que as funções contı́nuas com suporte compacto são
densas em Lp (Ω). Assim dado η existe ϕ ∈ C0 (Ω) tal que
η
kϕ − ukLp (Ω) <
3
110 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Aplicando a desigualdade de Young (Teorema 3.3.1) teremos que


η
kρ ∗ u − ρ ∗ ϕkLp (Ω) < .
3
Finalmente, note que
Z
|ρ ∗ ϕ(x) − ϕ(x)| = | ρ (x − y)(ϕ(y) − ϕ(x)) dy|
RN
≤ sup |ϕ(y) − ϕ(x)|
|x−y|<

Tomando  suficientemente pequeno e lembrando que ϕ possui suporte com-


pacto, podemos escrever
η
kρ ∗ ϕ − ϕkLp (Ω) < .
3
Das desigualdades acima teremos que

kρ ∗ u − ukLp (Ω) ≤ kρ ∗ u − ρ ∗ ϕkLp (Ω) + kρ ∗ ϕ − ϕkLp (Ω) + kϕ − ukLp(Ω) .

De onde segue que

kρ ∗ u − ukLp (Ω) ≤ η.

Que mostra o resultado.

O Lema anterior não implica que ρ ∗ u converge para u em W m,p (Ω). O


problema é que para valores de x proximos de ∂Ω e valores de y variando na bola
B(x, |x − y|), a diferencia x − y não necesariamente está em Ω. Isto é a con-
volução não está bem definida,
Z
α α
D ρ ∗ u = ρ ∗ D u = ρ (y)Dα u(x − y) dy.

O procedimento padrão nestes casos é extender a função nula fora de Ω, mais


isto cria problemas com as derivadas. Por enquanto somente mostraremos o
seguinte resultado.

Lema 5.4.2 Seja Ω0 ⊂⊂ Ω, nestas condições teremos que

ρ ∗ u → u em W m,p (Ω0 )
5.4. Aproximações por funções suaves 111

Demonstração.- Tomemos  < dist(Ω0 , ∂Ω). A derivada no sentido das dis-


tribuições de ρ ∗ u é dada por
Z Z Z
ρ ∗ uDα ϕ(x) dx = e(x − y)ρ (y)Dα ϕ(x) dxdy
u
Ω 0 R N R N
Z Z
|α|
= (−1) Dα ue(x − y)ρ (y)ϕ(x) dxdy
RN RN
Z
= (−1)|α| ρ ∗ Dα uϕ(x) dxdy
Ω0

De onde segue que


Dα ρ ∗ u = ρ ∗ Dα u
Aplicando o Lema 5.4.1, obtemos o resultado.

Observação 5.4.1 Seja Ω =] − 1, 1[\ {0} é simples verificar que a função



−1 se x < 0
sinal(x) = ∈ C ∞(Ω)
1 se x > 0

isso porque o único ponto de discontinuidade é o zero, que não pertence ao


conjunto. No sentido fraco sinal(x) é um função que pertence a W m,p (Ω).
Similarmente em dimensão dois. Denotemos por Ω o conjunto
 
1
Ω =]0, 1[×]0, 1[\ (x, y); x = , y ∈]0, 1[
2

Nessas condições teremos que


 
−1 se 0 < x < 12
f(x, y) = 1 ∈ C ∞ (Ω)
1 se 2 < x< 1

Para verificar que tanto x 7→ sinal(x) como f são funções em W 1,p (Ω), mostraremos
que elas tem derivadas fracas em Lp (Ω). De fato, tomemos uma ϕ ∈ C0∞ (Ω),
satisfazendo Supp ϕ ⊂⊂ Ω.

Ω =]0, 21 [∪] 21 , 1[×]0, 1[


1

1
2 1
112 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Integrando temos,
Z Z 0 Z 0
0 0
sinal(x)ϕ (x) dx = − ϕ (x) dx + ϕ0 (x) dx = 0 ∀ϕ ∈ C0∞ (Ω)
Ω −1 1

d
De onde segue que dx sinal(x) = 0 e portanto x 7→ sinal(x) ∈ W 1,p (Ω). De
forma análoga mostramos que f ∈ W 1,p (Ω). Como a derivada é nula em ambos
casos, teremos que

x 7→ sinal(x) ∈ C ∞ (Ω), f ∈ C ∞ (Ω).


Portanto o espaço C ∞ (Ω) não está formado apenas por funções suaves para
qualquer aberto Ω ⊂ Rn . Nosso seguinte paso é mostrar que C ∞(Ω) é um
conjunto denso em W m,p (Ω)

Teorema 5.4.1 Seja Ω um aberto do RN , então teremos que


k·kW m,p (Ω)
C ∞ (Ω) = W m,p (Ω).

Demonstração.- Seja u ∈ W m,p (Ω), mostraremos que dado  > 0 existe uma
função φ ∈ C ∞ (Ω) tal que

ku − φkW m,p (Ω) < .

Para isto utilizaremos a partição da unidade. Denotemos por Ωk o conjunto


 
1
Ωk = x ∈ Ω; |x| < k, e dist(x, ∂Ω) >
k
Denotemos por Ω0 = Ω−1 = ∅. Definamos por O a famı́lia de abertos,
n c
o
O = Uk ; Uk = Ωk+1 ∩ (Ωk−1 ) , k = 1, 2 · · ·

Esta famı́lia de conjuntos é um cobertura aberto de Ω. Denotemos por Ψ a


partição da unidade associada a O, isto é

X
Supp ϕi ⊂ Ui , e ϕ(x) = 1, ∀x ∈ Ω.
i=1

1
Tomemos 0 <  < (k+1)(k+2)
então teremos que

Supp(ρ ∗ (ϕk u)) ⊂ Vk := Ωk+2 ∩ (Ωk−2 )c .

Note que ϕk u ∈ W m,p (Ω), podemos então escolher 0 < k tal que

kρk ∗ (ϕk u) − ϕk ukW m,p (Ω) = kρk ∗ (ϕk u) − ϕk ukW m,p (Vk ) < .
2k
5.4. Aproximações por funções suaves 113

Por outro lado, para todo Ωk ⊂⊂ Ω temos que



X
ψ(x) = ρk ∗ (ϕk u)
k=1

é uma soma finita, portanto ψ ∈ C0∞ (Ω) e ainda temos que


k+2
X
u= ϕj u.
j=1

De onde segue que


k+1
X
ku − ψkW m,p (Ωk ) ≤ kρj ∗ (ϕj u) − ϕj ukW m,p (Ω) < 
j=1

Usando o teorema de convergência monótona, segue o resultado.

Na observação 5.4.1 mostramos um aberto Ω ⊂ Rn para o qual se verifica


que sinal(x) pertence a W m,p (Ω). Veremos porteriormente que a convergência
em W m,p para m > n/p implica em convergencia uniforme, portanto existem
funções em W m,p (Ω) que não podem ser aproximadas por funções em C0∞(RN ).
Portanto é falso que as funções suaves do RN sejam densas em W m,p (Ω) para
todo aberto Ω. Definiremos a seguir uma classe de abertos Ω onde as restrições
de funções C0∞ (RN ) são densas em W m,p (Ω).

Definição 5.4.1 (Propriedade do Segmento) Diremos que um aberto Ω


possui a propriedade do segmento se para todo ponto x ∈ ∂Ω existe uma vizin-
hança de x, que a denotaremos por Ux e uma direção, yx ∈ Rn tais que

∀z ∈ Ux ∩ Ω ⇒ z + tyx ∈ Ω, ∀ t ∈]0, 1[

Exemplo 5.4.2 Como primer exemplo considere um conjunto aberto Ω do


qual removemos um segmento de reta, como se mostra na figura. Isto é os
pontos do segmento de reta não pertencem a Ω. O conjunto assim definido não
satisfaz a propriedade do segmento.

 

rz r Ux '

x
R
@
r
∂Ω ∂Ω
yx
Ω @
 %@
@
R
114 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Pois para qualquer direção yx , incluindo aquela que segue o segmento de reta,
o conjunto z + tyx com 0 < t < 1, não está integralmente contido em Ω.

Exemplo 5.4.3 Se acrescentamos os pontos do segmento de reta no Exemplo


5.4.2 a Ω o conjunto resultante satisfaz a propriedade do segmento, pois para
qualquer ponto x ∈ Ω ∩ Ux teremos que existe yx tal que o segmento de reta
z + tyx ∈ Ω para todo 0 < t < 1. Veja a figura

 rx 
rz

'
R Ux
@

r
∂Ω

Ω @yx
 %
@
R
@

Agora estamos em condições de mostrar que as funções suaves com suporte


compacto definidas sobre todo o espaço RN são densas nos espaços W m,p (Ω)
quando Ω possui a propriedade do segmento. A principal diferença deste resul-
tado respeito ao Teorema 5.4.1, é que neste caso precissamos definir a função
suave sobre todo RN .
Teorema 5.4.2 Suponhamos que Ω possui a propriedade do segmento, então
o as restrições a Ω das funções C0∞ (RN ) são densas em W m,p (Ω).
Demonstração.- A demonstração será feita em tres etapas. A primera con-
siste em mostrar que toda função de W m,p (Ω) pode ser aproximada por uma
função com suporte limitado que denotaremos por K. Na segunda etapa, ex-
plorando o fato que Ω possui a Propriedade do Segmento, construiremos uma
famı́lia de abertos que cobrem ao conjunto K. Associada a esse cobrimento
utilizaremos as funções da partição da unidade para definir as funções sobre
cada um dos abertos que cobrem K. O problema central é mostrar que existe
uma função de C0∞(RN ) que aproximem estas componentes.
Seja f ∈ C0∞ (RN ), satisfazendo

f(x) = 1 se |x| ≤ 1
f(x) = 0 se |x| ≥ 2
α
|D f(x)| ≤ M ∀0 ≤ |α| ≤ m

Definamos a seqüência f (x) = f(x) para todo  > 0. É simples verificar que
f satisfaz as seguintes propriedades
1
f (x) = 1 se |x| ≤ , |Dα f (x)| ≤ M |α| ≤ M, para  < 1

5.4. Aproximações por funções suaves 115

Definamos a função u = f u, note que usando as fórmulas de diferenciação,


teremos que u ∈ W m,p (Ω). Alem disso, o suporte de u é limitado em Ω (não
necessariamente um compacto de Ω), isto é Supp(u ) ∩ ∂Ω 6= ∅. Denotemos
por  
1
Ω = x ∈ Ω; |x| ≥

Lembrando a definição de u obtemos que

ku − ukW m,p (Ω) = ku − u kW m,p (Ω )


≤ kukW m,p (Ω ) + kukW m,p (Ω )
≤ CkukW m,p (Ω ) → 0

quando  → 0. Portanto, toda função u ∈ W m,p (Ω) pode ser aproximada por
uma função com suporte limitado em Ω. Seja K = supp(u ). Da definição de
u K é limitado. Denotemos por Ux a coleção de conjuntos abertos dados pela
definição da propriedade do segmento. Então teremos que o conjunto

F = K \ (∪x∈∂Ω Ux )

é um compacto contido em Ω.
Y
6
Z
Z
Z
Z
Z
Z
Ω Z
C
C
 C
B U0
B C
B K C
 

 


q
B
  C
C
 

 


 B -
? X
Como F é compacto contido em Ω, existe um aberto U0 tal que

F ⊂⊂ U0 ⊂⊂ Ω.

com a propriedade que


K ⊂ ∪kj=0 Uj .

Mais ainda, podemos encontrar abertos Uej satisfazendo


116 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Uej ⊂⊂ Uj , e K ⊂ ∪kj=1 Uej .


n o
Denotemos por Φ a partição C ∞ da unidade subordinada aos abertos Ue0 , Ue1 , · · · , Uek
e por uj = ψj u para ψj ∈ Φ. Mostraremos que para cada ψj temos

kuj − ψj kW m,p (Ω) ≤ , (5.3)
k+1
Pk
fazendo ψ = j=0 ψj teriamos
k
X
ku − ψkW m,p (Ω) ≤ kuj − ψj kW m,p (Ω) ≤ 
j=0

De onde segue a demonstração deste teorema. Portanto nosso objetivo será


mostrar que a desigualdade (5.3) é válida para todo j. Como Supp(u0 ) ⊂
Ue0 ⊂⊂ Ω, pelo Lema 5.4.2 existe uma função ψ0 satisfazendo a desigualdade
(5.3). Resta portanto encontrar funções ψj satisfazendo (5.3) para j = 1, · · · , k.
Para cada j estendamos uj sendo zero fora de Ω. Portanto teremos que uj ∈
W m,p (RN \Γ), onde Γ = Uej ∩∂Ω. Seja y o vetor não nulo associado ao conjunto
Uj na definição da propriedade do segmento. Denotemos por Γt = Γ − ty, onde
t é tomado tal que
n o
0 < t < min 1, dist(Uej , RN \ Uj )/|y|

Uej Γ Ω
Γt
Uj

Então, pela propriedade do Segmento, Γt ⊂ Uj e ainda temos que Γt ∩Ω = ∅.


Definamos a função uj,t = uj (x + ty), então é simples verificar que uj,t ∈
W m,p (RN \ Γt ). Como as translações são contı́nuas em Lp então teremos que
Dα uj,t → D α uj em Lp (Ω)
quando t → 0+ . Portanto é suficiente mostrar que existe uma ψj ∈ C0∞ (RN )
tal que
kuj,t − ψj kW m,p (Ω) ≤ .
5.4. Aproximações por funções suaves 117

Como o conjunto Ω ∩ Uj ⊂⊂ Rn \ Γt pelo Lema 5.4.2, podemos tomar ψj =


ρδ ∗ uj,t para δ suficientemente pequenho. Isto prova o resultado.
Como conseqüência do resultado anterior teremos

Corolário 5.4.1 W0m,p (RN ) = W m,p (RN )

Uma pergunta natural neste ponto, é se existem outros conjuntos abertos


Ω para os quais se verifica

W0m,p (Ω) = W m,p (Ω) (5.4)

Observação 5.4.2 Uma condição necessária para que a indentidade (5.4) seja
válida é que o complemento Ωc de Ω tenha medida nula. De fato, suponhamos
que o complemento Ωc de Ω tenha medida positiva e que (5.4) seja válido.
Então existirı́a um aberto limitado B que interseta Ω e Ωc em conjuntos de
medida positiva. Denotemos por φ ∈ C0∞ (RN ) tal que φ(x) = 1 se x ∈ Ω ∩ B,
então a restrição de φ a Ω, pertence a W m,p (Ω) e portanto φ ∈ W0m,p (Ω).
Portanto podemos extender φ a todo o RN como sendo nula fora de Ω. Neste
e
caso φe ∈ W m,p (RN ). Mas ∂x ∂φ
j
é nula em sobre B, de onde φe deve asumir
valores constantes em B, Como φe = 1 em B ∩ Ω e φe = 0 em B ∩ Ωc, temos a
contradição procurada.

Introduzamos agora os conjuntos (m,p’) polar

Definição 5.4.2 Diremos que um conjunto fechado F é (m-p’) polar se para


0
toda distribuição T ∈ W −m,p (RN ) é válido

Supp(T ) ⊂ F ⇒ T =0

Observação 5.4.3 Todo conjunto (m,p’) polar deve ter medida nula. De fato,
se Med(F ) é positiva, denotemos por K um compacto K ⊂⊂ F tal que Med(K)
seja positiva. Assim definimos TK como sendo a distribuição associada a χK
em L1loc (RN ), onde por χK estamos denotando a função caraterı́stica sobre K.
Logo teriamos que

Supp(TK ) ⊂ F
mas TK não é nula.

Observação 5.4.4 Os conjuntos (m,p’) polares dependen da dimensão, de m


e p. Por exemplo, consideremos W m,p (RN ) tal que mp < n. Então todo ponto
x0 é um conjunto (m,p’) polar. De fato, se

Supp(T ) ⊂ {x0 }
118 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Pelo Teorema 4.3.1 teremos que T deve ser o Delta de Dirac ou uma combinação
linear das derivadas dele. Veremos mais adiante que quando mp < n

W m,p (RN ) 6⊂ C(RN ),


0 0
isto é δx0 6∈ W −m,p (RN ). Mais ainda Dα δx0 6∈ W −m,p (RN ) para todo multi
indice α. Logo a única distribuição em W m,p (Ω) com suporte em {x0 } é T = 0.
No caso em que mp > n, Teremos que

W m,p (RN ) ⊂ C(RN ).


0
Logo δx0 ∈ W −m,p (RN ), então teriamos que o conjunto {x0 }, não pode ser um
conjunto (m,p’) polar. Neste caso o único conjunto (m,p’) polar é o conjunto
vazio.

O seguinte resultado é bastante ilustrativo.

Teorema 5.4.3 O conjunto C0∞ (Ω) é denso em W m,p (RN ) se e somente se o


complemento Ωc é (m,p’) polar.

Demonstração.- Suponhamos que C0∞ (Ω) é denso em W m,p (RN ). Tomemos


uma distribuição T talque seu suporte esteja contido em Ωc isto é

Supp T ⊂ Ωc

Provaremos que T é nula. De fato, tomemos u ∈ W m,p (RN ), pela hipótese


segue que existe uma seqüência de funções ϕν em C0∞ (Ω) tal que

ϕν → u em W m,p (RN ).

Note que Supp(ϕν )⊂ Ω. Como o suporte de T está contido no complemento


de Ω teremos que

T (u) = lim T (ϕν ) = 0, ∀u ∈ W m,p (RN )


ν→∞

De onde segue que T = 0. Portanto Ωc é (m,p’) polar.


Recı́procamente, suponhamos que C0∞ (Ω) não seja denso em W m,p (RN ).
Lembrando que as extenções nulas fora de Ω de funções em W0m,p (Ω) são el-
ementos de W m,p (RN ), podemos identificar W0m,p (Ω) como um subconjunto
de W m,p (RN ). Logo existe um elemento v de W m,p (RN ) que não pertence a
W0m,p (Ω). Pelo teorema de Hahn-Banach existe uma aplicação linear, contı́nua
0
e não nula T sobre W m,p (RN ), isto é T ∈ W −m,p (RN ) tal que T = 0 em
m,p m,p
W0 (Ω) e T (v) 6= 0. Como T se anula em W0 (Ω) o suporte deve estar
contido em Ωc , mais como T é não nula, então Ωc não pode ser (m,p’) polar.
5.4. Aproximações por funções suaves 119

Teorema 5.4.4 • Se W m,p (Ω) = W0m,p (Ω) então Ωc é (m,p’) polar.


• Se o complemento de Ω, Ωc é simultaneamente (m,p’) polar e (1,p) polar,
então teremos que W m,p (Ω) = W0m,p (Ω)

Demonstração.- Suponhamos que W m,p (Ω) = W0m,p (Ω). Pelo Exemplo 5.4.2,
temos que Ωc tem medida nula. Tomemos uma função v ∈ W m,p (RN ) e de-
notemos por u sua restrição ao conjunto Ω, portanto como

u ∈ W m,p (Ω) = W0m,p (Ω).

Denotemos por u e a extensão de u ao RN nula fora de Ω. Por ser zero em Ωc


podemos aproximar u e por funções de C0∞ (Ω). Mas v = u e quase sempre em
R . Portanto, suas derivadas distribucionais coincidem em W m,p (RN ). Logo,
N

C0∞ (Ω) é denso em W m,p (RN ). Pelo Teorema 5.4.3 segue que Ωc deve ser
(m,p’) polar.
Para demostrar a segunda parte do teorema, suponhamos que Ωc seja simul-
taneamente (m,p’) polar e (1,p) polar. Tomemos u ∈ W m,p (Ω). Mostraremos
que u ∈ W0m,p (Ω). Denotemos por u e a extensão de u nula fora de Ω, então
teremos que u e ∈ Lp (RN ). Denotemos por TDj ue, a distribuição associada a
Dj u
e. Claramente temos que

TDj ue ∈ W −1,p(RN ).

^
Por outro lado, como (D p N
j u) ∈ L (R ) ⊂ W
−1,p
(RN ), portanto temos que

TDg
ju
∈ W −1,p(RN )
Logo segue que

TDj ue−Dg
ju
∈ W −1,p(RN ).

Como Dj u g
e−Dj u é nula em Ω, então temos que

Supp TDj ue−Dg


ju
⊂ Ωc

Sendo Ωc (1,p) polar, teremos que

Dj u g
e=Dju

no sentido das distribuições. Raciocinando da mesma forma podemos mostrar


que
Dα u
e=D gαu

no sentido das distribuições. Mas a identidade acima implica que

e ∈ W m,p (RN ).
u
120 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Finalmente, como Ωc é (m,p’) polar segue que as funções C0∞ (Ω) são densas em
W m,p (RN ), portanto existe uma seqüência de funções em C0∞ (Ω) convergindo
para u e que implica em particular que u ∈ W0m,p (Ω). O que completa a demon-
stração.

5.5 Operadores de prolongamento


Nesta seção estudaremos algumas das condições que deve satisfazer um aberto
Ω para que exista um operador que possa extender funções de W m,p (Ω) para
W m,p (RN ).

Definição 5.5.1 Diremos que um operador P é de prolongamento se satisfaz


as seguintes propriedades:

• P : W m,p (Ω) → W m,p (RN ).

• P u(x) = u(x), quase sempre em Ω

• kP ukW m,p (RN ) ≤ CkukW m,p (Ω)

Estes operadores são importantes porque permitem extender as propriedades


que tem os espaços W m,p (RN ) aos espaços W m,p (Ω). Por exemplo, se a imersão
W m,p (RN ) ⊂ Lq (RN ) é conhecida, então usando as propriedades de oper-
ador prolongamento podemos extender os resultados para abertos limitados
W m,p (Ω) ⊂ Lq (Ω). De fato, tomemos u ∈ D(Ω)

kukLq (Ω) ≤ ckP ukLq(RN ) ≤ cKkP ukW m,p (RN ) ≤ c2 kukW m,p (Ω)

Como D(Ω) é denso em W m,p (Ω) segue o resultado. Para mostrar a existência
destes operadores, introduziremos as seguintes notações.
Se x ∈ RN , escreveremos x = (x0 , xn) o vetor tal que x0 ∈ Rn−1 e x0 =
(x1 , · · · , xn−1). Introduzimos também os seguintes conjuntos:

RN
+ = {x = (x0 , xn ); xn > 0}
Q = {x = (x0 , xn ); |x0 | < 1, |xn | < 1}
Q+ = Q ∩ Rn+
Q0 = {x = (x0 , xn ); |x0 | < 1, xn = 0}
5.5. Operadores de prolongamento 121

Y
6
Q+
 q - X
Q0
Q−
Q
?

No gráfico acima temos que Q = Q+ ∪Q− ∪Q0 . Nesta seção nos limitaremos
a estudar a existência dos operadores Prolongamento para dominios de classe
C m , que definimos a seguir.

Definição 5.5.2 Diz-se que um aberto Ω é de classe C m , se para todo x ∈ ∂Ω,


existe um entorno de x que denotaremos por Vx e uma aplicação bijetiva

H:Q → Vx ,

satisfazendo as seguintes propriedades,

H ∈ C m (Q), H −1 ∈ C m (Vx ), H(Q+ ) = Vx ∩ Ω, H(Q0 ) = Vx ∩ ∂Ω,

No seguinte Lema construiremos um operador que extende as funções W m,p (Q+ )


para W m,p (Q+ ∪ Q− ∪ Q0 ). Gráficamente teremos
Para construir um operador prolongamento que seja contı́nuo, teremos que
extender as funções por simetria ou por reflexões, veja os gráficos.

Y
#
Y 6
$ '
6

#!
&$ '%
y = f(x) y = f(x)
 q -
q
y = f(−x)
#!
 - X
X

? !?
Gráfico obtido por simetrı́a Gráfico obtido por reflexão
122 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Lema 5.5.1 Existe um operador p : W m,p (Q+ ) → W m,p (Q), com as seguintes
propriedades:
• pu(x) = u(x) para todo x ∈ Q+
• kpukW m,p (Q) ≤ kukW m,p (Q+ )

Demonstração.- Denotemos por D(Q+ ) o espaço de todas as restrições de


funções de C0∞ (RN ) ao conjunto Q+ . Pelo teorema de densidade, D(Q+ ) é
denso em W m,p (Q+ ). Definamos p da seguinte forma:
 0
0 u(x
Pn , xn ) se 0 < xn < 1
pu(x , xn ) = 0 1
α
k=1 k u(x , − x
k n ) se −1 < xn < 0
Onde os valores αk são escolhidos tais que
m
X
(−1)j k −j αk = 1 ∀ j 0 ≤ j ≤ m − 1.
k=1

É simples verificar que toda função φ ∈ D(Q+ ) satisfaz

∂mP φ
pφ ∈ C m−1 (Q+ ), ∈ Lp (Q+ ).
∂xm
n

Portanto para φ ∈ D(Q+ ) temos que

p(φ) ∈ W m,p (Q).

fazendo uma mudança de variável verificamos a desigualdade

kpφkW m,p (Q) ≤ CkφkW m,p (Q+ ) . (5.5)

Pela densidade das funções D(Q+ ) em W m,p (Q+ ) podemos extender de forma
única o operador P ao espaço

p : W m,p (Q+ ) → W m,p (Q).

O operador P verifica as propriedades do Lema. De fato, seja u ∈ W m,p (Q+ ).


Então existe uma seqüência de funções testes φν convergindo forte para u. Se
x ∈ Q+ , teremos que

pu(x) = lim P φν (x) = lim φν (x) = u(x), quase sempre em Q+ .


ν→∞ ν→∞

Finalmente, por densidade podemos extender a desigualdade (5.5) para toda


função W m,p (Q). De onde segue o resultado.
5.5. Operadores de prolongamento 123

Teorema 5.5.1 Suponhamos que Ω seja um aberto de classe C m com fronteira


limitada. (Ou Ω = RN
+ ). Então existe um operador prolongamento

P : W m,p (Ω) → W m,p (RN )

linear, tal que para todo u ∈ W m,p (Ω) satisfaz


• P u(x) = u(x), para quase todo x ∈ Ω
• kP ukW m,p (RN ) ≤ CkukW m,p (Ω)
Onde C é uma constante que somente depende de m, p e Ω.

Demonstração.- Usando as cartas locais podemos retificar o dominio Ω. Pelas


hipóteses existem abertos U1 , U2 , · · · Um e aplicações bijetivas Hi : Q → Ui , tais
que

H ∈ C m (Q), H −1 ∈ C m (Ux ), H(Q+ ) = Ux ∩ Ω, H(Q0 ) = Ux ∩ ∂Ω,

Denotemos por U0 um aberto tal que U0 ⊂⊂ Ω tal que

Ω ⊂ ∪m
j=0 Uj

Sejam ψj as funções de partição da unidade associada ao cobertura de Ω acima.


Tomemos u ∈ W m,p (Ω), e denotemos por uj = uψj . Assim teremos que
m
X m
X
u= uψj = uj .
j=0 j=0

Nosso objetivo é extender cada uma das funções uj para j = 1, · · · , m. Como


Supp(u0 )⊂⊂ Ω, então teremos que a extensão nula de u0 fora de Ω satisfaz

u0 ∈ W m,p (RN )
f

e ainda temos que


kf
u0 kW m,p (RN ) ≤ kf
u0 kW m,p (Ω) .
O nosso próximo paso é extender as funções ui para i = 1, · · · , m. Para este
propósito utilizaremos as aplicações Hi . Definamos o operador Ri como

Ri (ui ) = ui (Hi (y)) ∀y ∈ Q+

Pelas hipóteses temos que Ri (ui ) ∈ W m,p (Q+ ). Usando o Lema anterior,
existe um operador prolongamento pi que extende a função Ri (ui ) para todo o
quadrado Q e ainda satisfaz,

pi (Ri (ui )) = Ri (ui ) ∀x ∈ Q+


124 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

kpi (Ri (ui ))kW m,p (Q) ≤ CkRi (ui )kW m,p (Q+ ) ≤ Ckui kW m,p (Ω∩Ui ) (5.6)
Voltaremos agora ao dominio inicial usando a função Hi−1 definindo
ei (wi )(x) = wi (H −1 (x)),
R para x ∈ Ui .
i
eopi oRi satisfaz
Assim teremos que o operador R
eopi oRi (ui )(x) = ui (x)
R ∀x ∈ Ui ∩ Ω.
Agora o operador que extende a função ui de Ui ao Rn estará dado por

eopi oRi (ui )(x) se x ∈ Ui
ψi (x)R
Ei (ui ) =
0 / RN \ Ui
se x ∈
Note que se x ∈ Ui ∩ Ω, então teremos que
Ei (ui )(x) = ui (x)φi (x)
E ainda que

kEi (ui )kW m,p (RN ) ≤ C ≤ Ckui kW m,p (Ui∩Ω)


Finalmente, o operador Prolongamento de u está dado por
m
X
Pu = f
u0 + Ei (ui )
i=1

O que completa o resultado


Se Ω é um hipercubo, então com aplicações sucesivas do Lema 5.5.1 pode-
mos construir um operador prolongamento, sem necesidade de introduzir cartas
locais nem a partição da unidade. De fato, usando o Lema 5.5.1, existe um
operador p1 que extende Ω para Ω1 , onde
Ω1 = Ω ∪ R1 ∪ (Ω ∩ R1 )
Veja a figura.
6

R3
R4
R2 q

 -
R1

?
5.6. Desigualdade de Poincaré 125

De forma análoga podemos definir um operador prolongamento de Ω1 para


Ω2 onde

Ω2 = Ω1 ∪ R2 ∪ (Ω1 ∩ R2 ).

Seguidamente prolongamos de Ω2 ate Ω3 onde

Ω3 = Ω2 ∪ R3 ∪ (Ω2 ∩ R3 )

Indutivamente podemos prolongar de Ωi−1 para Ωi , onde

Ωi = Ωi−1 ∪ Ri ∪ (Ωi−1 ∩ Ri )

até a 2n -eixo. Finalmente, tomamos uma função ϕ ∈ C0∞ (RN ) tal que ϕ = 1
em Ω, logo o operador

P = ϕp2n op2n^
−1 o · · · op1 (u)

é um operador prolongamento.

5.6 Desigualdade de Poincaré


Nesta seção mostremos a desigualdade de Poincaré para funções em W m,p (Ω),
quando Ω é limitado numa direção. Quando o conjunto Ω é limitado, ele está
contido num hipercubo, veja o gráfico.
6
Y

 R
@
@
Ω @
 q -X
& 

Mostraremos a desigualdade de Poincaré no caso em que Ω seja um aberto


limitado numa direção. Quando a direção em que ela é limitado é paralela a
algum eixo, temos a seguinte situação.
126 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev
Y
6 6 6

B
B Ω
B
Bq
B
a b -X
 %

Quando a limitação do aberto Ω é dada numa direção que não é paralela


aos eixos temos por exemplo que Ω é da forma

Y
6 


 q
&
-
X
?

Teorema 5.6.1 Seja Ω ⊂ Rn um aberto limitado numa direção. Então, existe


uma constante positiva C = C(Ω, p), tal que

||u||W 1,p(Ω) ≤ C||∇u||Lp(Ω) , ∀u ∈ W01,p(Ω).


0

Demonstração.- Primeiro assumiremos que Ω é um conjunto limitado numa


direção paralela aos eixos coordenados. Portanto, sem perda de generalidade
podemos supor que

Ω ⊂ {x ∈ Rn ; x = (x0 , xn ); a < xn < b} := C

Denotemos por ϕ a uma função de C0∞ (Ω), então teremos que ϕ, e a extensão de
ϕ nula fora de Ω, pertence a C0∞ (RN ), mais ainda a restrição de ϕ e ao conjunto
C pertence a C0∞ (C). Por outro lado, é simples verificar que
Z y
∂ϕe
e 1 , · · · , xn−1, y) =
ϕ(x (x1 , · · · , xn−1 , s) ds, ∀x ∈ C.
a ∂x n
5.6. Desigualdade de Poincaré 127

Usando a desigualdade de Hölder teremos que


(Z ) 1p
b
1 ∂ϕe p
|ϕ(x
e 1 , · · · , xn−1, y)| ≤ (b − a) q | (x1 , · · · , xn−1 , s)| ds .
a ∂xn

Elevando a potência p e integrando novamente sobre [a, b] teremos que

Z b Z b
p 1+ q1 ∂ϕe
|ϕ(x
e 1 , · · · , xn−1, s)| ds ≤ (b − a) | (x1 , · · · , xn−1, s)|p ds.
a a ∂xn

Integrando com respeito as variáveis (x1 , · · · , xn−1) teremos que


Z Z
1 ∂ϕe p
|ϕ|p dx ≤ (b − a)1+ q | | dx.
C C ∂x n

Aplicando a densidade das funções C0∞ (Ω) em W01,p (Ω) segue que a desigual-
dade anterior é valida para todo u ∈ W01,p(Ω), isto é
Z Z
1 ∂e
u p
u|p dx ≤ (b − a)1+ q
|e | | dx
C C ∂x n

De onde segue o resultado. No caso em que a direção v = (a1 , · · · , an ) não


seja paralela a algum eixo fazemos uma rotação de forma que o novo sistema
coordenado tenha um eixo que seja paralelo ao vetor v. Aplicando o resultado
anterior a este caso obtemos
Z Z
∂w
e p
e p dx ≤ c
|w| | | dx
Ω Ω ∂xn

Tomando u(x) = w(b1 x1 , · · · , bn xn ) aplicando mudança de variaves obtemos o


resultado.
A desigualdade de Poincaré é válida também para funções que se anulam
(no sentido de traço) em apenas uma parte Rda fronteira ∂Ω e também para as
1
funções que tem média nula, isto é med (Ω) Ω
u dx = 0.

Teorema 5.6.2 Seja Ω ⊂ Rn um aberto limitado e seja u ∈ W 1,p(Ω) com


média nula, então, existe uma constante positiva C = C(Ω, p), tal que
Z
||u||W 1,p(Ω) ≤ C||∇u||Lp(Ω) , ∀u ∈ W 1,p(Ω) tal que u(x) dx = 0

Demonstração.- Este resultado vale para qualquer aberto limitado regular,


faremos aqui a prova no caso em que Ω é um hiperparalelepı́pedo. Suporemos
primeiro que u é uma função C 1 (Ω) nosso resultado seguirá por densidade.
128 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Suporemos que n = 3, o caso geral segue de forma semelhante. Do teorema


fundamental do cálculo teremos
Z x1
∂u
u(x1 , x2, x3 ) − u(y1 , x2 , x3 ) = (x, x2 , x3 ) dx
y1 ∂x 1
De forma análoga teremos
Z x2
∂u
u(y1 , x2 , x3 ) − u(y1 , y2 , x3 ) = (y1 , w, x3) dw
y2 ∂x2
Finalmente,
Z x3
∂u
u(y1 , y2 , x3 ) − u(y1 , y2 , y3 ) = (y1 , y2 , w) dw
y3 ∂x3
Somando estas tres últimas identidades, obtemos
Z x1
∂u
u(x1 , x2 , x3 ) − u(y1 , y2 , y3 ) = (x, x2 , x3) dx
y1 ∂x1
Z x2
∂u
+ (y1 , w, x3) dw
y2 ∂x2
Z x3
∂u
+ (y1 , y2 , w) dw
y3 ∂x3

Integrando com relação a y = (y1 , y2 , y3 ) (note que x = (x1 , x2 , x3 ) é constante


com relação a y) e aplicando o fato que u tem média nula, obtemos
Z Z x1
∂u
med(Ω) u(x1 , x2 , x3) = (x, x2 , x3) dx dy
Ω y1 ∂x 1
Z Z x2
∂u
+ (y1 , w, x3) dw dy
Ω y2 ∂x 2
Z Z x3
∂u
+ (y1 , y2 , w) dw dy
Ω y3 ∂x 3

Tomando valor absoluto, aplicando a desigualdade de Hölder e usando o fato


que Ω é limitado, obtemos
Z 1/p
med(Ω) |u(x1 , x2, x3 )| ≤ C |∇u|p dy

Onde C é uma constante que depende de Ω. Elevando a potência p a desigual-


dade anterior e integrando novamente com relação a Ω obtemos
Z Z
p 1−p p
|u(x1, x2 , x3 )| dx ≤ med(Ω) C |∇u|p dy
Ω Ω

De onde segue o resultado.


5.7. Desigualdades de Sobolev 129

5.7 Desigualdades de Sobolev


Teorema 5.7.1 (Sobolev, Gagliardo, Niremberg) Seja 1 ≤ p < N e denotando
por p∗ ao número tal que p1∗ = 1p − N1 , temos que

W 1,p (RN ) ⊂ Lp (RN )

e ainda temos que existe uma constante C > 0 tal que

kukLp∗ ≤ Ck∇ukLp , ∀u ∈ W 1,p(RN )

Demonstração.- Para mostrar este teorema utilizaremos o seguinte Lema


Lema 5.7.1 Tomemos N ≥ 2 e denotemos por f1 , f2 , · · · , fN ∈ LN−1 (RN−1 ).
Para cada x = (x1 , x2 , · · · , xN ) ∈ RN e para cada subı́ndice 1 ≤ i ≤ N escreve-
mos
x̃i = (x1 , x2 , · · · , xi−1, xi+1 , · · · , xN ) ∈ RN−1 .
Então a função definida por

f(x) = f1 (x̃1 )f2 (x̃2 ) · · · fN (x̃N )

pertence a L1 (RN ) e ainda temos:


N
Y
kfkL1 (RN ) ≤ kfi kLN−1 (RN−1 )
i=1

Demonstração.- O caso N = 2 é trivial. Consideremos o caso N = 3.


Z Z
|f(x)| dx3 = |f3 (x1 , x2 )| |f1 (x2 , x3 )||f2 (x1 , x3 )| dx3
R R
Z 1/2 Z 1/2
≤ |f3 (x1 , x2 )| |f1 (x2 , x3)|2 dx3 |f2 (x1 , x3)|2 dx3
R R

Integrando com respeito à x2 obtemos e aplicando a desigualdade de Hölder


obtemos
Z Z
|f(x)| dx3 dx2 ≤
R R
Z  12 Z 1/2 Z 1/2
2 2
|f3 (x1 , x2)| dx2| |f1 (x2 , x3 )| dx3 dx2 |f2 (x1 , x3 )| dx3
R R R
Finalmente, integrando com respeito à x3 e repetindo o argumento anterior
obtemos Z
|f(x)| dx ≤ kf1 kL2(R2 ) kf2 kL2 (R2 ) kf3 kL2 (R2 ) .
R3
130 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Onde dx = dx1 · · · dxN . Suponhamos que o Lema seja válido para N , mostraremos
que ele também será válido para N +1. De fato, fixemos xN+1 . Da desigualdade
N
de Hölder temos para p = N , q = N−1 que
Z Z
|f(x)| dx1 · · · dxN ≤ |f1 f2 · · · fN ||fN+1 | dx
RN RN
Z  N−1
N
N
≤ kfN+1 kLN (RN ) |f1 f2 · · · fN | N−1 dx1 · · · dxN
RN

N N N
Aplicando as hipótese indutivas para |f1 | N−1 , |f2 | N−1 , · · · |fN | N−1 resulta que
Z N Z
Y  N−1
1
N
|f1 f2 · · · fN | N−1 dx1 · · · dxN ≤ |fi |N dx
RN i=1 RN−1
N
Y N
= kfi kLN−1
N (RN−1 ) .

i=1

Das duas desigualdades acima obtemos


Z N
Y
|f| dx1 · · · dxN ≤ kfN+1 kLN (RN ) kfi kLN (RN−1 )
RN i=1

Como cada uma das funções xN+1 7→ kfi kLN (RN−1 ) pertence a LN (R) para
1 ≤ i ≤ N , integrando a expressão acima sobre R concluimos que o produto
pertence a L1 (R) e utilizando a desigualdade de Hölder obtemos

N+1
Y
kfkL1 (RN+1 ) ≤ kfi kLN (RN )
i=1

De onde segue o resultado.

Demostração do Teorema 5.7.1 Comensemos com o caso p = 1, e u ∈


C01 (RN ) assim é simples verificar que
Z x1 Z +∞
∂u ∂u
|u(x1 , x2 , · · · , xN )| =
(t, x2 , · · · , xN ) dt ≤
(t, x2 , · · · , xN ) dt
−∞ ∂x1 −∞ ∂x1

De forma análoga teremos que


Z +∞
∂u
|u(x1 , x2 , · · · , xN )| ≤
∂xi (x1 , x2 , · · · , xi−1, t, xi+1 , · · · , xN ) dt := fi (x̃i )
−∞
5.7. Desigualdades de Sobolev 131

Para i = 2, · · · , N . De onde
N
Y N
Y
N 1
|u(x)|N ≤ fi (x̃i ) ⇒ |u(x)| N−1 ≤ fi (x̃i ) N−1
i=1 i=1

Do Lema 8.6.1
Z N
Y N
Y
1
N 1 ∂u N−1
|u(x)| dx ≤ kfi k N−1
=
∂xi 1 N ,
N−1
L1 (RN−1 )
RN i=1 i=1 L (R )

de onde segue que


N
Y
1
∂u N
kuk ≤ ≤ k∇ukL1(RN ) .
N
L N−1 (RN ) ∂xi 1
i=1 L (RN )

Que mostra o resultado para p = 1. Consideremos t ≥ 1 e tomemos na de-


sigualdade anterior |u|t−1u no lugar de u. Dai segue que
N
Y
1 N
Y
1
t t−1 ∂u N t−1 ∂u N
kuk ≤t
tN
L N−1 (RN ) |u| ∂xi 1 ≤ t kukLp0 (t−1) (RN ) ∂xi p
i=1 L (RN ) i=1 L (RN )

N−1 ∗
Tomando t de tal forma que N t = (N − 1)p0 (t − 1), temos t = N p . Assim
obtemos que
N
Y
1 N
Y
1
t−1 ∂u N ∂u N
kuktLp∗ (RN ) ≤t
|u| ∂xi 1 ≤ t kukt−1

Lp (RN )

∂xi p (5.7)
i=1 L (RN ) i=1 L (RN )

De onde segue que existe uma constante positiva tal que

kukLp∗ ≤ Ck∇ukLp , ∀u ∈ C01 (RN )

Nosso resultado segue aplicando a densidade e o Lema de Fatou

Observação 5.7.1 Note que de (5.7) segue que

∂u N1
kukLp∗ (RN ) ≤ tΠm
i=1 k k p N
∂xi L (R )
N − 1 ∗ m ∂u N1
≤ p Πi=1 k k p N
N ∂xi L (R )
N − 1 m ∂u N1
≤ pΠ k k p N
N − p i=1 ∂xi L (R )
132 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Observação 5.7.2 No caso unidimensional segue imediatamente que

W 1,p (R) ⊂ L∞ (R)

Com a imersão contı́nua. De fato, tomemos u ∈ W 1,p(R), sem perda de gen-


eralidade podemos supor que u ∈ C0∞ (R). Tomemos agora x ∈ R. Como
R = ∪i∈N ] − i, −i + 1]∪]i, i + 1] teremos que x ∈]a, a + 1] portanto podemos
escrever
Z y
du
u(x) − u(y) = ds, para x, y ∈]a, a + 1]. (5.8)
x ds

Integrando a desigualdade anterior sobre ]a, a + 1] com respeito à y e usando o


teorema do valor intermediario teremos
Z a+1 Z y0
du
u(x) = u(y) dy + ds, x, y ∈]a, a + 1].
a x ds
Usando a desigualdade de Hölder, teremos
Z a+1  1p Z a+1  1p
p du p
|u(x)| ≤ |u(y)| dy + | | ds .
a a ds

De onde concluimos que

kukL∞(a,a+1) ≤ kukW 1,p (R)

Sendo a um inteiro qualquer teremos que

kukL∞ (R) ≤ kukW 1,p (R)


De onde segue o resultado.
Da identidade (5.8) segue que

1 du
|u(x) − u(y)| ≤ |x − y|1− p k kLp (R)
ds
Portanto as funções de W 1,p (R) são contı́nuas.

Observação 5.7.3 Como conseqüência do resultado anterior, temos que se


u ∈ W m,p (RN ) possui uma derivada parcial nula em Lp (RN ), então u = 0.

Corolário 5.7.1 Seja u ∈ W 1,p(RN ) para 1 ≤ p < N , então teremos que para
todo q ∈ [p, p∗] é valido
1−α
kukLq (RN ) ≤ Ckukα
Lp(RN ) kukW 1,p (RN )
5.7. Desigualdades de Sobolev 133

em particular temos que

W 1,p(RN ) ⊂ Lq (RN ), ∀q ∈ [p, p∗],

com a imersão contı́nua

Demonstração.- Para todo q ∈ [p, p∗] é válido


1 α 1−α
= + , 0≤α≤1
q p p∗

Portanto se u ∈ W 1,p(RN ) ⊂ Lp (RN ). Do Teorema anterior temos u ∈



Lp (RN ), de onde por interpolação nos espaços Lp segue que

W 1,p (RN ) ⊂ Lq (RN ), ∀q ∈ [p, p∗]

Para ver que a imersão é contı́nua ponhamos

kukLq ≤ kukα 1−α


Lp kukLp∗ ≤ kukLp + kukLp

Finalmente, do Teorema obtemos que kukLp∗ ≤ CkukW 1,p De onde segue o


resultado.

Corolário 5.7.2 Para p = N se verifica:

W 1,N (RN ) ⊂ Lq (RN ), ∀q ∈ [N, ∞[

com imersão contı́nua.

Demonstração.- Podemos supor que u ∈ C01 (RN ). Usando a desigualdade


encontrada na demonstração do Teorema 5.7.1,
N
Y 1 N
Y 1
t t−1 ∂u N t−1 ∂u N
kuk ≤t
tN
L N−1 (RN ) |u| ∂xi 1 ≤ t kukLp0 (t−1) (RN ) ∂xi p
i=1 L (RN ) i=1 L (RN )

para p = N teremos

kuktLtN/(N−1) ≤ tkukL
t−1
(t−1)N/(N−1) k∇ukLN , ∀t ≥ 1

De onde segue que



t 1− 1t 1
kukLtN/(N−1) ≤ tkukL(t−1)N/(N−1) k∇ukLt N , ∀t ≥ 1

Da desigualdade de Young obtemos:

kukLtN/(N−1) ≤ C (kukL(t−1)N/(N−1) + k∇ukLN ) (5.9)


134 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Tomando t = N encontramos

kukLN 2 /(N−1) ≤ CkukW 1,N

Das desigualdades de interpolação resulta que

N2
kukLq ≤ CkukW 1,N , ∀N ≤ q ≤
N −1
Tomando t = N + 1, N + 2 · · · em (5.9) encontramos que

kukLq ≤ CkukW 1,N , ∀N ≤ q ≤ ∞

Onde C é uma constante que depende de N . O que completa a demon-


stração

Observação 5.7.4 A imersão acima é estrita para N > 1. De fato, para


isto basta considerar a função f(x, y) = ln(x2 + y2 ), é simples verificar que
f ∈ W 1,1 (B1 (0)), onde B1 (0) é a bola do R2 centrada no zero e de raio unitário
e que f não é limitada na bola. Podemos também construir um exemplo em
W 1,1 (R2 ), utilizando o operador prolongamento P . De fato, P (f) ∈ W 1,1 (R2 )
e P (f) não é limitada.

5.8 Teorema de Morrey


Teorema 5.8.1 Seja p > N então temos que

W 1,p (RN ) ⊂ L∞ (RN ) ∩ C(RN )

com imersão contı́nua. Alem disso se verifica que

|u(x) − u(y)| ≤ C|x − y|α k∇ukLp (5.10)


n
onde α = 1 − p e C é uma constante positiva.

Demonstração.- Como antes suporemos que u ∈ C01 (RN ). Denotemos por Q


um cubo aberto de lado r que comtem ao 0, e tomemos x ∈ Q. Assim teremos
que
Z 1
d
u(x) − u(0) = u(tx) dt
0 dt
então é simples verificar que
Z N
1X
∂u
|u(x) − u(0)| ≤
|xi | (tx) dt.
0 ∂xi
i=1
5.8. Teorema de Morrey 135

1
R
Denotemos por u = |Q| Q u(x) dx. Integrando a desigualdade anterior e mul-
tiplicando por 1/|Q| temos:
Z Z N
1X
r
|u − u(0)| ≤ ∂u (tx) dtdx.
|Q| ∂xi
Q 0 i=1

Mudando a ordem de integração temos


Z Z X
1 N
1 ∂u
|u − u(0)| ≤ (tx) dxdt
r N−1 ∂xi
0 Q i=1
Z 1 Z X N
1 1 ∂u
≤ (x) dxdt.
r N−1 N
0 t tQ ∂xi
i=1

Da desigualdade de Hölder se verifica


Z Z p  p1
∂u ∂u 1

∂xi (y) dy ≤ ∂xi (y) dy |tQ| p0 ,
tQ Q

pois tQ ⊂ Q para 0 ≤ t ≤ 1. De onde obtemos

Z 1 N/p0
1+N( p10 −1) t r 1−N/p
|u − u(0)| ≤ r k∇ukLp (Q) dt = k∇ukLp (Q)
0 tN 1 − N/p
Por translação a desigualdade acima é válida para todo cubo de lado r e de
aristas paralelas aos eixos coordenados. De onde segue:
r 1−N/p
|u − u(x)| ≤ k∇ukLp (Q) (5.11)
1 − N/p
Inserindo o termo u(y) e aplicando a desigualdade triangular obtemos

2r 1−N/p
|u(y) − u(x)| ≤ k∇ukLp (Q)
1 − N/p
Finalmente, para dois pontos quaisquer x, y do RN , existe um cubo de arista
r = |x −y| que contém eles. Do onde segue a desigualdade (5.10). Para mostrar
que a imersão é contı́nua usamos a desigualdade (5.11) para obter:

|u(x)| ≤ |u| + Ck∇ukLp(Q) ≤ CkukW 1,p(Q) ≤ CkukW 1,p (RN ) , ∀x ∈ Rn

De onde segue o resultado

Da imersão acima e da densidade das funções C0∞ (RN ) em W 1,p(RN ) segue que
limx→∞ u(x) = 0, para toda função u ∈ W 1,p(RN ) para N < p < ∞.
136 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Os teoremas anteriores facilmente podem ser estentidos para os espaços W m,p


como se mostra no seguinte Corolário.

Corolário 5.8.1 Seja m um inteiro m ≥ 1 e 1 ≤ p < ∞, então se verifica.


1 m 1 1 m
− > 0 ⇒ W m,p (RN ) ⊂ Lq (RN ) onde = −
p N q p N
1 m
− = 0 ⇒ W m,p (RN ) ⊂ Lq (RN ) ∀q ∈ [p, ∞[
p N
1 m
− < 0 ⇒ W m,p (RN ) ⊂ L∞ (RN ) ∩ C(RN ),
p N
Com as imersões contı́nuas. Além disso se m− np > 0 não é um número inteiro,
denotamos por
 
N N
k = m− e θ =m− − k, 0 < θ < 1.
p p

Verificamos que para toda u ∈ W m,p (RN ) é válido

kDα ukL∞ ≤ kukW m,p ∀α, |α| ≤ k

e ainda temos

|Dα u(x) − Dα u(y)| ≤ C|x − y|θ kukW m,p .

Em particular temos que W m,p (RN ) ⊂ C k (RN ).

Demonstração.- A demonstração é baseada na seguinte fórmula de recorrência.


1 1 1
p∗0 = p, = ∗ − .
p∗i pi−1 N

para i = 1, · · · , m. Fazendo q = p∗m obtemos que


1 1 1 1 2 1 m 1 m
= ∗ − = ∗ − = ··· = ∗ − = − .
q pm−1 n pm−2 N p0 N p N

Aplicando o Teorema 5.7.1 temos

kukLq ≤ Ck∇ukLp∗m−1 ≤ Ck∇2ukLp∗m−2 ≤ Ck∇3ukLp∗m−3 ≤ · · · ≤ Ck∇m ukLp∗0 .

Suponhamos agora que


1 m 1 m−1
− =0 ⇒ − >0
p N p N
5.8. Teorema de Morrey 137

Da primeira parte deste Teorema encontramos que


∂u 1 1 m−1 1
u, ∈ W m−1,p (RN ) ⊂ Lp∗ (RN ) onde = − =
∂xi p∗ p N N
A ainda
∂u
kukLp∗ (RN ) ≤ CkukW m−1,p (RN ) , k k p∗ N ≤ CkukW m,p (RN )
∂xi L (R )
De onde segue que u ∈ W 1,N (RN ), pois p∗ = N . Pelo Corolário 5.8.1 con-
cluimos que

kukLq (RN ) ≤ CkukW 1,p∗ (RN ) ≤ CkukW m,p (RN ) , ∀q ∈ [p, ∞[.

Finalmente, consideremos
1 m
− < 0.
p N
Sem perda de generalidade podemos supor que m é o menor número para o
qual é verdadera a desigualdade acima. Caso que m = 1 o resultado segue
imediatamente. Suponhamos que m ≥ 2, então temos que
1 1 m−1
= − > 0.
p∗ p N
Da primeira parte deste Teorema segue que
∂u
u, ∈ W m−1,p (RN ) ⊂ Lp∗ (RN )
∂xi
De onde segue que u ∈ W 1,p∗ (RN ), e ainda

kukW 1,p∗ (RN ) ≤ CkukW m,p (RN ) .

como
1 1 1 m
− = − < 0.
p∗ N p N
Pelo Teorema 5.8.1 segue que W 1,p∗ (RN ) ⊂ L∞ (RN ) com imerssão contı́nua.
De onde segue o resultado

Corolário 5.8.2 Seja Ω um aberto limitado de fronteira de classe C 1 , ou


também Ω = RN+ . Seja 1 ≤ p < ∞, então se verifica.

1 1 1
p<N ⇒ W 1,p(Ω) ⊂ Lq (Ω) = −
onde
q p n
1,p q
p=N ⇒ W (Ω) ⊂ L (Ω) ∀q ∈ [p, ∞[
p>N ⇒ W 1,p(Ω) ⊂ L∞ (Ω) ∩ C(Ω),
138 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Com as imersões contı́nuas. Além disso se m − Np > 0 não é um número


inteiro, denotamos por
 
N N
k = m− e θ =m− − k, 0 < θ < 1.
p p

Verificamos que para toda u ∈ W m,p (Ω) é válido

kDα ukL∞ ≤ kukW m,p ∀α, |α| ≤ k

e ainda temos

|Dα u(x) − Dα u(y)| ≤ C|x − y|θ kukW m,p .

Em particular W m,p (Ω) ⊂ C k (Ω).

Demonstração.- A demonstração faz uso dos operadores de Prolongamento.


(Exercı́cio)

Teorema 5.8.2 (Rellich-Kondrachov) Suponhamos que Ω seja um conjunto


limitado de classe C 1 , nestas condições teremos:
1 1 1
p<N ⇒ W 1,p(Ω) ⊂ Lq (Ω) ∀q ∈ [1, p∗[ onde ∗
= −
p p n
p=N ⇒ W 1,p(Ω) ⊂ Lq (Ω) ∀q ∈ [1, ∞[
1,p
p>N ⇒ W (Ω) ⊂ C(Ω),

Com as imersões compactas.

Demonstração.- No caso p > n aplicamos o Teorema 5.8.1 e o Teorema de


Arselá-Ascoli. Nos casos restantes se aplica o critério de compacidade em Lp .
Denotemos por B a bola unitária de W 1,p . Seja 1 ≤ q ≤ p∗ , pode-se escrever
1 α 1−α
= +
q 1 p∗

Sejam ω ⊂⊂ Ω, u ∈ B, e h < dist(ω, Ωc ). Das desigualdades de interpolação


teremos
1−α
kτh u − ukLq (ω) ≤ kτh u − ukα
L1(ω) kτh u − ukLp∗ (ω) .

Portanto
kτh u − ukLq (ω) ≤ C|h|k∇ukα 1−α
L1(Ω)) kukLp∗ (Ω) ≤ C|h|.

De onde segue que


kτh u − ukLq (ω) ≤ 
5.8. Teorema de Morrey 139

para h suficientemente pequeno. Finalmente, das desigualdades de Hölder se


tem: q
kukLq (Ω\ω) ≤ kukLp∗ (Ω\ω) |Ω \ ω|1− p∗ < 
Para ω escolhido convenientemente. De onde pelo Teorema 3.10.1 segue que B
é compacto em W 1,p .

Corolário 5.8.3 Seja Ω um aberto limitado do RN então a imersão


W m,p (Ω) ⊂ W j,p(Ω)
é compacta pata m > j.

Demonstração.- Seja ϕν uma seqüência limitada em W m,p (Ω), então teremos


que existe uma subseqüência dela, que a denotaremos da mesma forma, tal que
ϕν → ϕ forte em Lp (Ω)
Da mesma forma concluimos que para j < m que
Dα ϕν → Dα ϕ forte em Lp (Ω)
para |α| ≤ j. O que significa que ϕν converge forte em W j,p (Ω).

Observação 5.8.1 As imersões compactas indicadas nos teoremas 5.8.2 so-


mente são válidas em domı́nios limitados. De fato, mostraremos que o espaço
W 1,p (]0, ∞[) não esta imerso compactamente em Lp (]0, ∞[). Para esto tomemos
uma função ϕ ∈ C01 (R) não nula com suporte contido em ]0, ∞[. Definimos a
seqüência ϕν (x) = ϕ(x − ν) de elementos de W 1,p(]0, ∞[). Note que ϕν tem
suporte compacto contido em ]0, ∞[, portanto teremos que
lim ϕν (x) = 0 (5.12)
ν→∞

Por outro lado, esta seqüência é limitada em W 1,p (]0, ∞[), pois
Z ∞ Z ∞ Z ∞ Z ∞
kϕν kpW 1,p = |ϕ(x−ν)|p dx+ |ϕx (x−ν)|p dx = |ϕ|p dx+ |ϕx|p dx
0 0 0 0

Para todo ν ∈ N, pois o suporte da função ϕ está sontido em ]0, ∞[. Se


a imersão fosse compacta em Lp (]0, ∞[), existirı́a uma subseqüência ϕνk que
converge forte para uma função χ.
ϕνk → χ forte Lp (]0, ∞[)
Esta última convergência implica existe uma subseqüência (que a denotaremos
da mesma forma) que converge quasi sempre em ]0, ∞[, isto é
ϕνk (x) → χ(x) q.s. ]0, ∞[
140 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Da convergência em (5.12) concluimos que χ = 0. Mais isto é contradictório,


pois pela convergencia forte teremos que
Z ∞ Z ∞
p
|ϕ(x)| dx = lim |ϕ(x − νk )|p dx = 0
0 ν→∞ 0

Que é contraria a nossa escolha de ϕ.

5.9 Teorema das derivadas intermediarias


Nesta seção estudaremos o Teorema das derivadas intermediarias para aber-
tos Ω do RN satisfazendo a propriedade do cone. Para facilitar a exposição
começaremos considerando o caso unidimensional.

Teorema 5.9.1 Seja a e b números reais tais que −∞ ≤ a < b ≤ ∞. Tomemos


1 ≤ p < ∞ e 0 < 0 < ∞. Então existe uma contante K = K(0 , p, b − a) tal
que para todo 0 <  ≤ 0 e para toda f ∈ W 2,p(a, b) se verifica
Z b Z b Z b
|f 0 (t)|p dt ≤ K |f 00 (t)|p dt + K−1 |f(t)|p dt
a a a

A desigualdade acima é válida para todo  > 0 quando b − a = ∞

Demonstração.- Usando argumentos de densidade, é suficiente mostrar a


desigualdade acima para funções de classe C 2 . Sem perda de generalidade
podemos supor que 0 = 1. Começaremos analizando o caso a = 0 e b =
1. Tomemos uma função g definida sobre [0, 1]. Do teorema fundamental do
cálculo teremos que Z x
g0 (x) = g0 (λ) + g00 (σ) dσ .
λ
| {z }
:=G(x)

Integrando com respeito à λ sobre [α, β] ⊂ [0, 1] e aplicando o teorema de valor


medio para integrais teremos que existe x0 ∈ [a, b] tal que

(β − α)g0 (x) = g(β) − g(α) + (β − α)G(x0 ).

Integrando a expressão acima com respeito à β sobre [0, 1] teremos


Z 1
1 1
( − α)g0 (x) = g(β) dβ − g(α) + ( − α)G(x0 ).
2 0 2

Finalmente, integrando com respeito à α no intervalo [0, 21 ] teremos que


5.9. Teorema das derivadas intermediarias 141

Z 1 Z 1
1 1 1 1 2 1 1
( − )g0 (x) = g(β) dβ − g(α) dα + ( − )G(x0 ).
4 8 2 0 2 0 4 8
Tomando valor absoluto, podemos escrever a identidade acima como
Z 1 Z
1 0 1 1 00
|g (x)| ≤ |g(β)| dβ + |g (s)| ds
8 0 8 0
Aplicando a desigualdade de Hölder, e elevando a potencia p a desigualdade
resultante, teremos
Z 1 Z 1
|g0 (x)|p ≤ Kp |g(s)|p ds + Kp |g00 (s)|p ds,
0 0
de onde segue que
Z 1 Z 1 Z 1
0 p p
|g (s)| ds ≤ Kp |g(s)| ds + Kp |g00 (s)|p ds.
0 0 0

Onde Kp é uma constante dependendo somente de p. Note que toda função f


definida sobre o intervalo [α, β] pode ser escrita como
x−α
f(x) = g( ),
β−α
para alguma função g definida em [0, 1]. Assim teremos que
 1 x−α  1 x−α
f0 x = g0 ( ), f 00 x = 2
g00 ( ).
β −α β −α (β − α) β −α

Fazendo a mudança de variável s = (β − α)x + α e levando em consideração


que
Z β Z 1
p
|f(s)| ds = (β − α) |g(x)|p dx,
α 0
Z β Z 1
|g0 (x)|p
|f 0 (s)|p ds = (β − α) dx,
α 0 (β − α)p
Z β Z 1
|g00 (x)|p
|f 00 (s)|p ds = (β − α) dx.
α 0 (β − α)2p
teremos que
Z β Z β Z β
0 p −p p p
|f (s)| ds ≤ Kp (β − α) |f(s)| ds + Kp (β − α) |f 00 (s)|p ds.
α α α
142 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Note que para todo  > 0 existe n ∈ N tal que

1 p1 b−a 1
 ≤ ≤ p. (5.13)
2 n

 -
a = α1 α2 α3 α4 α5 α6 α7 b = α8

Para mostrar a desigualdade, subdividiremos o intervalo [a, b] em subinter-


valos de amplitude menor ou igual a . Para isto, ponhamos αj = a+ (b−a)j
n para
b−a
j = 0, 1, · · ·n. Note que αj − αj−1 = n , a chave da demonstração é tomar
n grande de tal forma que se verifique a desigualdade (5.13). Assim podemos
escrever:

Z b n Z
X βj
|f 0 (s)|p ds = |f 0 (s)|p ds
a j=1 αj
n
( p Z  p Z )
X b−a βj
n βj
00 p p
≤ Kp |f (s)| ds + |f(s)| ds
n αj b−a αj
j=1
( Z Z )
b
1 b
≤ K1  |f 00 (s)|p ds + |f(s)|p ds
a  a

Onde K1 = max {(b − a)p , 2p(b − a)−p }. O que mostra o resultado no caso em
que b − a seja finito. Caso em que b − a seja infinito, subdividimos o intervalo,
na seguinte forma

]a, b[ = ∪i∈N ]a + (i − 1), a + i], se a<∞eb=∞


]a, b[ = ∪i∈N ]b − (i − 1), b − i], se a = −∞ e b < ∞
]a, b[ = ∪i∈N (] − i − 1, −i]∪]i − 2, i − 1]) , se a = −∞ e b = ∞

e a cada uns dos subintervalos aplicamos o resultado obtido no caso finito.


Neste caso a amplitude de cada subintervalo pode ser arbitraria, logo neste
caso é válido o Teorema para todo  > 0. Isto completa a demonstração.
5.9. Teorema das derivadas intermediarias 143

Corolário 5.9.1 Seja ]a, b[ um intervalo não limitado. Então existe uma con-
stante positiva K tal que
1 1
kf 0 kLp (a,b) ≤ KkfkL2 p (a,b) kf 00 kL2 p (a,b)

Demonstração.- Do Teorema 5.9.1 segue que para todo  > 0


Z b Z b Z b
|f 0 (t)|p dt ≤ K |f 00 (t)|p dt + K−1 |f(t)|p dt
a a a

 p/2
kfkLp (a,b)
Tomando  = kf 00 kLp (a,b) , segue o resultado.

Observação 5.9.1 Denotemos por |||f|||p2,p = kfkpLp (a,b) + kf 00 kpLp (a,b). Do


Teorema 5.9.1 obtemos que
 
1
kf 0 kLp (a,b) ≤ K |||f|||2,p + kfkLp (a,b)

kfk
L (a,b) p
Tomando  = 0 |||f||| 2,p
, e substituindo na expressão acima teremos que existe
uma constante positiva, tal que
1 1
e
kf 0 kLp (a,b) ≤ K|||f||| 2,pkfkLp (a,b)
2 2

Como conseqüência do Teorema 5.9.1 temos o seguinte resultado.

Corolário 5.9.2 Suponhamos que f ∈ Lp (a, b) e f (m) ∈ Lp (a, b) então existe


um 0 > 0 tal que para todo  ≤ 0 se verifica
 
1
kf (j) kLp (a,b) ≤ K m−j kf (m) kLp (a,b) + j kfkLp (a,b)


Para j = 1, · · · , m. Se b − a = ∞  pode ser qualquer número real.

Demonstração.- Por densidade podemos supor que f ∈ C0∞ ([a, b]). Do Teo-
rema 5.9.1 temos
 
0 p 00 p 1
kf kLp (a,b) ≤ K ηkf kLp (a,b) + kfkLp (a,b) , ∀0 ≤ η ≤ 0 . (5.14)
η

para f 0 ∈ W m,p (a, b) no lugar de f temos


 
00 p 000 p 1 0
kf kLp (a,b) ≤ K kf kLp (a,b) + kf kLp (a,b)

144 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Podemos supor que K > 1. Do Teorema 5.9.1, usando (5.14) temos

K 2 η 00 K2
kf 00 kpLp (a,b) ≤ Kkf 000 kpLp (a,b) + kf kLp (a,b) + kfkLp (a,b)
 η

Tomando η = 2K 2
< 0 teremos
 
1 00 p 1
kf kLp (a,b) ≤ K1 kf 000 kpLp (a,b) + 2 kfkLp (a,b)
2 
Sustituindo a desigualdade na expressão (5.14) segue que
 
1
kf 0 kpLp (a,b) ≤ K2 2 kf 000 kpLp (a,b) + kfkLp (a,b)

De onde é válida nossa afirmação para m = 3. Usando indução sobre m segue
o resultado.

Observação 5.9.2 O Corolário anterior estima as derivadas intermediarias


em termos da função e da última derivada. Isto é equivalente a afirmar que
dm dj
se u ∈ Lp (a, b) e dt p p
m u ∈ L (a, b) então teremos que dtj u ∈ L (a, b) para

j = 1, · · · , m.

Observação 5.9.3 O Teorema das derivadas intermediarias a podemos apre-


sentar na forma de interpolação da seguinte forma,
j/m 1−j/m
kf (j) kLp (a,b) ≤ CkfkLp (a,b)kfkW m,p (a,b)

Ou em termos das normas dos espaços W m,p


j/m 1−j/m
kfkW j,p (a,b) ≤ CkfkLp (a,b) kfkW m,p (a,b)

Pode-se mostrar também que estas desigualdades são também válidas para
espaços fracionários, isto é quando 0 ≤ j ≤ m são números reais.

A seguir mostraremos que a desigualdade das derivadas intermediarias vale


para todo domı́nio Ω do RN com a propriedade Uniforme do Cone que
definimos a seguir. Começaremos definindo a propriedade do cone.

Definição 5.9.1 (Propriedade do Cone) Diremos que um aberto Ω ⊂ Rn


possui a propriedade do Cone, se existe um cone C tal que todo ponto x do
bordo é o vértice de um cone Cx contido em Ω e congruente a C. Isto é Cx é
igual a C depois de um movimento rı́gido.
5.9. Teorema das derivadas intermediarias 145

Cone
C

Cones
Cx

Conjunto com a propriedade do Cone


Conjunto sem a propriedade do Cone
Definiremos a seguir a propriedade Uniforme do Cone.
Definição 5.9.2 Diremos que um conjunto Ω possui a Propriedade Uni-
forme do Cone se existe um cobertura aberta {Uj ; j ∈ N} de ∂Ω e um con-
junto de cones {Cj ; j ∈ N}, todos eles congruentes a um único cone C tais
que
(i) Exista M tal que diam(Uj ) < M .
(ii) Exista δ > 0 tal que Ωδ = {x ∈ Ω; dist(x, ∂Ω) < δ} ⊂ ∪j∈N Uj
(iii) Para todo j ∈ N, ∪x∈Ω∩Uj (x + Cj ) := Qj ⊂ Ω
(iv)Toda interseção de R + 1 Qj é vazia.

Teorema 5.9.2 Seja Ω ⊂ Rn um aberto com a propriedade Uniforme do Cone.


Então existe 0 > 0, uma constante K(0 , m, p, Ω) tais que para todo 0 <  < 0
e todo 0 < j < m se verifica

k∇j ukLp (Ω) ≤ K m−j k∇m ukLp(Ω) + j kukLp (Ω) .
Por k∇j kLp (Ω) estamos denotando a norma em Lp de todas as derivadas de
ordem j.

Demonstração.- Repetindo os mesmos argumentos que aqueles utilizados na


demonstração do caso unidimensional, será suficiente mostrar a desigualdade
146 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

acima para o caso m = 2 e j = 1. Pela definição de abertos com a propriedade


uniforme do cone, existe um cobertura aberta de ∂Ω tal que

∂Ω ⊂ ∪∞
i=1 Ui

e também existe δ > 0 verificando

Ωδ = {x ∈ Ω; dist(x, ∂Ω)} ⊂ ∪∞
i=1 Ui ,

∪x∈Ω∩Uj (x + Cj ) := Qj ⊂ Ω
e ainda a interseção de R + 1 Qj é vazia. Para cada λ ∈ Zn , denotemos por
 
δ δ
Hλ = x ∈ Rn ; λk √ ≤ xk ≤ (λk + 1) √ , para k = 1, · · · , n
2 n 2 n

É simples verificar que


RN = ∪λ∈Z Hλ

δ δ

t t

2 2
(λ1 , λ2 ) √
2 2
(λ1 , λ2 )

δ δ
√ λ
2 2 1
≤x≤ √
2 2
(λ1 + 1)
δ

2 2 Hλ
δ δ
√ λ
2 2 2
≤y≤ √
2 2
(λ2 + 1)

t t
δ δ

2 2
(λ1 , λ2 ) √
2 2
(λ1 , λ2 )

δ

2 2

Denotemos por Ω0 o conjunto

Ω0 = ∪Hλ ⊂Ω Hλ

e tomemos δ > 0 tal que


Ω \ Ωδ ⊂ Ω0 ⊂ Ω
Mostraremos que se verifica
 
2 1
k∇ukLp(Ω0) ≤ K k∇ ukLp (Ω0 ) + kukLp (Ω0)

5.9. Teorema das derivadas intermediarias 147

e para cada j ∈ N que


 
1
k∇ukLp(Ω∩Uj ) ≤ K k∇2 ukLp(Ω∩Uj ) + kukLp (Ω∩Uj )

Tomando somatório teremos

X
k∇ukLp(Ω) ≤ k∇ukLp(Ω∩Uj ) + k∇ukLp(Ω0 ) .
j=1

Como os conjuntos Qj somente tem interseção no máximo de R + 1 termos,


então teremos que
 
1
k∇ukLp(Ω) ≤ K(R + 1) k∇2 ukLp(Ω) + kukLp(Ω) .

De onde segue o resultado. Provaremos primeiro o teorema para Ω0 . Aplicando
o Teorema 5.9.1, teremos que
Z √δ (λk +1) ( Z δ Z √δ (λk +1) )
√ (λk +1)
2 n
p p
2 n
2 p 1 2 n
p
|Dk u| dxk ≤ K  |Dk u| dxk + p |u| dxk
√δ
λk δ
√ λk  δ
√ λk
2 n 2 n 2 n

Integrando na direção ortogonal de ek teremos


Z  Z Z 
1
|Dk u|p dxk ≤ K p |Dk2 u|p dxk + p |u|p dxk
Hλ Hλ  Hλ
Como as interseções de Hλ é vazio ou tem medida nula, teremos que

Z X Z  Z Z 
p 1
|Dk u| dxk ≤ |Dk u| dxk ≤ K p
p
|Dk2 u|p dxk + p p
|u| dxk
Ω0 Hλ Ω0  Ω0
λ∈Zn

Provaremos agora que a desigualdade também é válida sobre Qj . Denotemos


por
Ωjv = {y + tv; y ∈ Ω ∩ Uj , v uma direção do cone}
Claramente teremos que
Ω ∩ Uj ⊂ Ωjv ⊂ Qj
Cada reta paralela a v ou tem interseção vazia ou tem interseção com Ωjv com
uma amplitude igual a ρ, onde ρ satisfaz

h ≤ ρ ≤ h + diamUj ≤ h + M
onde h é a altura do cone. Usando novamente o Teorema 5.9.1 na direção de v
para
f(t) = u(x + tv),
148 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

teremos que
Z x+ρv  Z x+ρv Z x+ρv 
1
|f 0 |p dt ≤ K p |f 00 |p dt + |f|p dt .
x x p x

De onde segue que

Z x+ρv  Z x+ρv Z x+ρv 


1
|Dv u|p dt ≤ K p |∇2 u|p dt + |f|p dt .
x x p x

Integrando na direcção ortogonal a v teremos que

Z ( Z Z )
p p 2 p1 p
|Dv u| dt ≤ K  |∇ u| dt + p |f| dt .
Ω∩Uj Ω∩Uj  Ω∩Uj

Tomemos uma base do RN de vetores unitários v1 , v2 , · · · vn com direções no


cone. Nestas condições teremos que
X n
∂u
= ai Dvi u.
∂xj
i=1

De onde segue que


Z ( Z Z )
1
|∇u| dx ≤ K p
p 2
|∇ u| dx + p p p
|u| dx
Ω∩Uj Ω∩Uj  Ω∩Uj

O que completa a demonstração.

5.10 Desigualdades de interpolação


Começaremos estudando a versão unidimensional do Terema de Interpolação

Teorema 5.10.1 (Desigualdade de Gagliardo-Nirenberg). Seja 1 ≤ q ≤


p ≤ ∞ e tomemos r > 1, então teremos que
kukLp (a,b) ≤ kuk1−α 0 α
Lq (a,b) ku kLr (a,b)

se o intervalo b − a = ∞. Quando b − a é finito teremos,

kukLp(a,b) ≤ kuk1−α α
Lq (a,b) kukW 1,r (a,b)

onde
1 1
q
− p
α= 1 1
q +1− r
5.10. Desigualdades de interpolação 149

Demonstração.- Pela densidade de D([a, b]) podemos supor que u ∈ C0∞ (R).
Portanto podemos escrever
Z y
u(x) = u(y) + u0 (ξ) dξ
x

Integrando com respeito à y sobre [α, β] teremos


Z β Z x
(β − α)u(x) = u(y) dy + (β − α) u0 (ξ) dξ
α y0

Na identidade acima temos usado o teorema do valor medio para integrais.


Aplicando a desigualdade de Hölder teremos
(Z ) 1q (Z ) 1r
q
β β
r−1
q 1+ 0 r
(β − α)|u(x)| ≤ (β − α) q−1 |u(y)| dy + (β − α) r |u | dx
α α

Elevando a potência p e integrando com respeito à x teremos que


Z (Z ) pq
β p(q−1)
β
+1
(β − α)p |u(x)|p ≤ 2p (β − α) q |u(y)|q dy
α α
(Z ) pr
p(r−1)
β
p 1+p+ 0 r
+2 (β − α) r |u | dx (5.15)
α

Onde temos usado


(A + B)p ≤ 2p (Ap + B p )
b−a
No caso em que b − a seja finito, tomemos  > 0 tal que 0 <  < m−1 .
Decompomos o intervalo [a, b] da seguinte forma
(b − a)i
[a, b] = ∪m
i=1 [αi , αi+1 ], onde αi = a +
m
No caso em que b − a = ∞, podemos supor que b = ∞, (as outras posibili-
dades se mostram da mesma maneira), podemos decompor o intervalo [a, b] da
seguinte forma
[a, b] = ∪∞
i=1 [αi , αi+1 ], onde αi = a + i
Da expressão 5.15 teremos que
Z αi+1 Z αi+1  qp
p(q−1)
p p p +1 q
(αi+1 − αi ) |u(x)| ≤ 2 (αi+1 − αi ) q |u(y)| dy
αi αi
Z αi+1  rp
p(r−1)
p 1+p+ 0 r
+2 (αi+1 − αi ) r |u | dx
αi
150 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

De onde obtemos

Z αi+1 Z αi+1  qp Z αi+1  rp


p(q−1) p(r−1)
+1−p
|u(x)|p ≤ 2p  q |u(y)|q dy +2p 1+ r |u0 |r dx
αi αi αi

tomando somatório teremos

Z b m Z
X αi+1  qp
p(q−1)
p p +1−p q
|u(x)| dx ≤ 2  q |u(y)| dy
a i=1 αi
m
X Z αi+1  rp
p(r−1)
p 1+ 0 r
+2  r |u | dx
i=1 αi

p p
Usando o Lema 1.4.1 para q ≥1e r ≥ 1 segue que

Z (Z ) pq (Z ) pr
b p(q−1)
b b
+1−p 1+ p(r−1)
|u(x)|p dx ≤ 2p  q |u(y)|q dy +2p  r |u0 |r dx
a a a

Que implica
n 1 1 1 r−1
o
kukLp (a,b) ≤ K  p − q kukLq (a,b) +  p + r ku0 kLr (a,b) (5.16)
No caso em que b − a = ∞, podemos tomar
 σ
kukLq (a,b)
=
ku0 kLr (a,b)

substituindo  na desigualdade (5.16) teremos


 
σ( p1 − 1q )+1 1 1
0 σ(− p + q ) σ( p1 + r−1
r )
1 r−1
0 1−σ( p + r )
kukLp(a,b) ≤ K kukLq (a,b) ku kLr (a,b) + kukLq (a,b) ku kLr (a,b)

Igualando as potências teremos


   
1 1 1 r−1
σ − +1= σ +
p q p r
De onde obtemos
1
σ= 1 1
q +1− r

Tomando
1 1
q
− p
α= 1 1
q +1− r
5.10. Desigualdades de interpolação 151

teremos n o
kukLp(a,b) ≤ 2K kuk1−α
q
L (a,b)
ku 0 α
k r
L (a,b)

De onde segue a primeira desigualdade. No caso em que b − a seja finito


a substituição de  é válida somente para valores menores do que 0 < 1.
Tomando neste caso  
kukLq (a,b)
 = 0
ku0 kW 1,r (a,b)
e fazendo o mesmo raciocioneo, segue o resultado. A prova está completa.

Teorema 5.10.2 (Desigualdade de Gagliardo-Nirenberg).


Seja Ω ⊂ RN um conjunto aberto, com a propriedade uniforme do cone.
Sejam 1 ≤ q ≤ p ≤ ∞ e r > n, p ≥ r. Então, existe uma constante C > 0, tal
que
||u||Lp(Ω) ≤ C||u||1−α α
Lq(Ω) ||u||W 1,r (Ω) , ∀u ∈ W 1,r (Ω)
 
com α satisfazendo α q1 + n1 − 1r = 1q − 1p .

Demonstração.- Pela densidade de C ∞ (Ω̄) podemos supor que u ∈ C ∞ (Ω̄).


Assim teremos que
Z 1
d
u(x) = u(y) + u(tx + (1 − t)y) dt
0 dt
Z 1
= u(y) + ∇u(tx + (1 − t)y) · (x − y) dt
0

Integrando com respecto a y1 no intervalo [α1, β1 ] obtemos


Z β1 Z β1 Z 1
(β1 − α1 )u(x) = u(y) dy1 + ∇u(tx + (1 − t)y) · (x − y) dtdy1
α1 α1 0

Tomando módulo e aplicando a desigualdade de Cauchy-Schwards, obtemos,

(Z ) q1
β1
q−1
q
(β1 − α1 )|u(x)| ≤ (β1 − α1 ) q |u(y)| dy1
α1

Z (Z ) 1r
1 β1
r−1
r r
+(β1 − α1 ) r |∇u(tx + (1 − t)y)| |x − y| dy1 dt
0 α1
Qn
Tomando x e y no paralelepı́pedo ω := i=1 [αi , βi ] temos que

|x − y| ≤ max {βi − αi , i = 1 · · · n} := L,
152 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

obtemos
(Z ) 1q
q−1
β1
(β1 − α1 )|u(x)| ≤ (β1 − α1 ) q |u(y)|q dy1
α1

Z (Z ) r1
1 β1
r−1
r
+(β1 − α1 ) r L |∇u(tx + (1 − t)y)| dy1 dt
0 α1

Note que
Z β1 Z β1
r
|∇u(tx+(1−t)y)| dy1 = |∇u(tx1 +(1−t)y1 , · · · , txn +(1−t)yn )|r dy1
α1 α1

Fazendo uma mudança de variável obtemos


Z β1 Z tx1+(1−t)β1
1
|∇u(tx+(1−t)y)|r dy1 = |∇u(σ, · · ·, txn +(1−t)yn )|r dσ1
α1 1−t tx1 +(1−t)α1

Lembrando que α1 < x1 ≤ β1 concluimos que


Z β1 Z β1
1
|∇u(tx + (1 − t)y)|r dy1 ≤ |∇u(σ1 , · · · , txn + (1 − t)yn )|r dσ1 .
α1 1−t α1

De onde obtemos
(Z ) 1q
β1
q−1
q
(β1 − α1 )|u(x)| ≤ (β1 − α1 ) q |u(y)| dy1
α1

Z (Z ) 1r
1 β1
r−1 1
+(β1 − α1 ) r L 1 |∇u(σ1, · · · , txn + (1 − t)yn )|r dσ1 dt
0 (1 − t) r α1

Integrando sobre [α2 , β2 ] com respecto a y2 e repetindo os mesmos argumentos,


encontramos que

2 2
(Z Z ) q1
Y Y q−1
β1 β2
(βi − αi )|u(x)| ≤ ( (βi − αi )) q |u(y)|q dy1 dy2
i=1 i=1 α1 α2

2 Z (Z Z ) r1
Y r−1
1
1 β2 β1
+( (βi −αi )) r L 2 |∇u(σ1, σ2 , · · · , wn )|r dσ1 dσ2 dt
i=1 0 (1 − t) r α2 α1

onde wn = txn + (1 − t)yn . Repetindo este processo desde i = 3 · · · n encon-


tramos que
5.10. Desigualdades de interpolação 153

n
Y n
Y Z  1q
q−1
q
(βi − αi )|u(x)| ≤ ( (βi − αi )) q |u(y)| dy1 dy2
i=1 i=1 ω

n
Y Z 1 Z  1r
r−1 1 r
+( (βi − αi )) r L n |∇u(σ1 , σ2 , · · · , σn )| dσ dt,
i=1 0 (1 − t) r ω
Qn
com ω := i=1 [αi , βi ]. Ou equivalentemente
n
Y Z q 1
q−1
−1 q
|u(x)| ≤ ( (βi − αi )) q |u(y)| dy1 dy2
i=1 ω

n
Y Z 1 Z  1r
r−1 1
+( (βi − αi )) r −1 L n |∇u(σ1, σ2 , · · · , σn)|r dσ dt,
i=1 0 (1 − t) r ω

Como Z 1
dt r
n =
0 (1 − t) r r−n
Tomando αi e βi de tal forma que

βi − αi = 

encontramos que
Z  1q n Z  r1
−n q r− r +1 r
|u(x)| ≤  q |u(y)| dy + |∇u| dσ dt.
ω r−n ω

De onde segue que


Z  pq np Z  pr
p − pn q r− r +p r
|u(x)| ≤  q |u(y)| dy + |∇u| dσ ,
ω r−n ω

Integrando sobre ω con respecto a x, encontramos que


Z Z  pq np Z  pr
p n− pn q r− r +p+n r
|u(x)| ≤  q |u(y)| dy + |∇u| dσ
ω ω r−n ω
Pm
Como Ω = j=1 ωj , tomando somatório e aplicando o Lema 1.4.1 obtemos
que
Z Z  pq np Z  pr
p n− pn q r− r +p+n r
|u(x)| ≤  q |u(y)| dy + |∇u| dσ
Ω Ω r−n Ω
154 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Para p > n. Finalmente, tomando


 σ
kukLq (Ω)
=
k∇ukLr (Ω)
De onde encontramos que
Z  σ(n− pnq )
Z  pq
p kukLq (Ω)
|u(x)| ≤ |u(y)|q dy
Ω k∇ukLr(Ω) Ω
 σ(− np +p+n) p
Z  rp
kukLq (Ω) r
r r
+ |∇u| dσ ,
k∇ukLr (Ω) (r − n)p Ω
Ou equivalentemente

Z
σ(− pn +n)+p σ( pn −n)
|u(x)|p ≤ kukLq (Ω)q q
k∇ukLr(Ω)

rp σ(− npr +p+n) σ( npr −p−n)+p
+ kuk L q (Ω) k∇uk L r (Ω) .
(r − n)p
Nosso seguinte passo é encontrar σ de tal forma que as potências fiquem uni-
formes. Com este propósito igualamos as potências na norma de u,
pn np pn np
σ(− + n) + p = σ(− + p + n), ⇒ p = σ( − + p)
q r q r
De onde
1
σ= n n
q − r +1
Note que
1 1
pn p
−q
σ(− + n) + p = p + p 1 1 1
q q − r + n
Tomando
1 1
q
− p
α= 1 1 1
q − r + n
Encontramos que
pn pn
σ(− + n) + p = p − pα, σ( − n) = pα
q q
Sustituindo estes valores encontramos
Z
rp
|u(x)|p ≤ (1 + p
)kukp−αp pα
Lq (Ω) k∇ukLr (Ω) .
Ω (r − n)
De onde segue o resultado.
5.11. Distribuições vetoriais 155

5.11 Distribuições vetoriais


Nesta seção introduziremos brevemente o conceito de Distribuições vetoriais.
Seja X um espaço de Banach, com norma k · kX . Seja f um função definida a
valores em X.

Definição 5.11.1 Diremos que f

f : [a, b] → X

é uma função simple se a imagem de f é constituı́da por um número finito


{x1 , · · · , xm } de vetores de X. Diremos que uma função simples f é mensurável
se para todo x ∈ X f −1 ({x}) é um conjunto mensurável de ]a, b[. Finalmente,
diremos que uma função
g : [a, b] → X
é uma função mensurável se existe uma seqüência de funções simples fν tal
que
fν (s) → g(s) q.s. em ]a, b[.

Uma caraterização das funções mensuráveis é dada pelo seguinte Proposição.

Proposição 5.11.1 Uma função F :]a, b[→ X é mensurável se, e somente se


verificam as seguintes propriedades:
(i) A imagem de ]a, b[ por F é separável quase sempre. Isto é existe um
conjunto S de medida nula tal que F (]a, b[\S) é separável.
(ii) F é fracamente mensurável. Isto é para todo w ∈ X ∗ a função s 7→
hF (s) , wi é mesurável

Definição 5.11.2 Diremos que uma função F :]a, b[→ X é integrável se F é


mensurável e Z b
kF (s)kX ds < ∞
a

A definição anterior também é chamada de Teorema de Bochner.


A seguir enunciaremos teoremas clássicos que são extensões dos Teoremas
sobre RN .

Teorema 5.11.1 (Teorema da Convergência Dominada) Seja f uma


seqüência de funções integráveis tal que

fν (s) → f(s) q.s. em ]a, b[

e que exista uma função integrável ϕ :]a, b[→ R satisfazendo


156 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

kfν (s)kX ≤ ϕ(s) ∀ν ∈ N.


Então, f é integrável e ainda temos
Z b
lim kfν (s) − f(s)kX ds = 0.
ν→∞ a

Lema 5.11.1 (Lema de Fatou) Seja fν uma seqüência de funções integráveis


tal que

fν (s) → f(s) fracamente q.s. em ]a, b[


Isto é hfν (s) , wi → hfν (s) , wi quase sempre em ]a, b[ para todo w ∈ X ∗ .
Suponhamos que exista uma constante C, tal que
Z b
kfν (s)kX ds ≤ C, ∀ν ∈ N.
a

Então f é integrável e ainda temos que


Z b Z b
kf(s)kX ds ≤ lim inf kfν (s)kX ds.
a ν→∞ a

Denotaremos por Lp (a, b; X), o conjunto

Lp (a, b; X) = {f mensurável; s 7→ kf(s)kX ∈ Lp (a, b)}

O espaço acima, munido da norma


(Z ) 1p
b
p
kfkLp (a,b;X) = kf(s)k ds
a

é um espaço de Banach. Quando X é um espaço reflexivo, então o espaço


Lp (a, b; X) também será um espaço reflexivo para p > 1 e seu dual é identificado
0
por Lp (a, b; X ∗ ), onde 1/p + 1/p0 = 1. Se X é um espaço de Hilbert, é simple
verificar que L2 (a, b; X) é também um espaço de Hilbert.

Definição 5.11.3 Seja P uma partição de ]a, b[, isto é, P = {a = a1 < · · · < an = b}.
Diremos que uma função f :]a, b[→ X é de variação limitada, se
m
X
sup kf(ak ) − f(ak−1 )kX < ∞.
P ∈P
k=1

Onde por P estamos denotando o conjunto de todas as partições sobre ]a, b[.
Denotaremos por Var(f, [a, b]) ao valor
5.11. Distribuições vetoriais 157

m
X
Var(f, [a, b]) = sup kf(ak ) − f(ak−1 )kX
P ∈P
k=1

Var(f, [a, b]) é chamado variação total de f. Denotaremos por V B(a, b; X) o


conjunto de todas as funções de variação limitada sobre X. Por simplicidade
escreveremos Vf (s) = Var(f, [a, s]).

Proposição 5.11.2 Seja X um espaço reflexivo e seja f uma função de variação


limitada f ∈ V B(a, b; X). Então f é derivavel quase sempre,

df
∈ L1 (a, b; X)
ds
e ainda temos que
Z b
df
k (s)k ds ≤ V ar(f; [a, b]),
a dt
df d
k (s)k ≤ Vf (s), q.s. ]a, b[.
dt ds

Definição 5.11.4 Diremos que uma função f :]a, b[→ X é absolutamente


contı́nua sobre X se para todo  > 0 existe um δ > 0 tal que para toda seqüência
de subintervalos ]ai , bi [ disjuntos dois a dois se verifica
m
X m
X
|ai − bi | < δ ⇒ |f(ai ) − f(bi )| < .
i=1 i=1

Mostra-se como no caso escalar que toda função f absolutamente integrável


é de variação limitada. Além do mais a aplicação s 7→ Vf (s) é absolutamente
contı́nua e ainda temos que
Z s
d
Vf (s) = Vf (τ ) dτ.
a dt

Denotaremos por D(]a, b[; X) o espaço da funções infinitamente diferenci-


aiveis com suporte compacto contido ]a, b[ e a valores em X.
Diremos que uma função f ∈ Lp (a, b; X) possui uma derivada fraca em
L (a, b; X) se existe uma função v ∈ Lp (a, b; X) satisfazendo
p

Z b Z b
f(s)α0 (s) ds = − v(s)α(s) ds, ∀α ∈ D(a, b).
a a

Assim definimos o espaço


W 1,p(a, b; X) =
158 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

{f ∈ Lp (a, b; X); tal que f tenha derivada fraca em Lp (a, b; X)}


Este espaço munido da norma

kfkpW = kfkpLp (a,b;X) + kf 0 kpLp (a,b;X) ,

é um espaço de Banach.

Proposição 5.11.3 Seja X um espaço reflexivo. Então as seguintes pro-


priedades são equivalentes.
(i) f ∈ W 1,1 (a, b; X)
R b−h
(ii) a kf(s + h) − f(s)kX ds ≤ Ch ∀h ∈]a, b[.
R b−h
(ii) | a hf(s), dϕ ds (s)i| ≤ CkϕkL (a,b;X)
∞ ∀ϕ ∈ D(a, b; X ∗ ).

Proposição 5.11.4 As propriedades seguintes são equivalentes


(i) f ∈ W 1,p(a, b; X).
(ii) Existe v ∈ Lp (a, b; X) tal que
Z b−h
f(s + h) − f(s)
lim k − v(s)k ds = 0.
h→0 a h

(iii) Existe k ∈ Lp (a, b; X) tal que


Z s
f(s) = f(a) + k(τ ) dτ.
a

5.12 Teoremas de compacidade


Nesta seção mostraremos resultados de compacidade para espaços de distribuições
vetoriais. Denotemos por B0 , B e B1 espaços de Banach onde B0 e B1 são
espaços reflexivos satisfazendo:

B0 ⊂ B ⊂ B1 , A imersão de B0 em B compacta. (5.17)

Definamos o espaço

W = {v; v ∈ Lp0 (0, T ; B0 ), vt ∈ Lp1 (0, T ; B1 )} ,

com T finito e 1 < pi < ∞, i = 0, 1. É simples verificar que W munido da


norma
kvkW = kvkLp0 (0,T ;B0 )) + kvt kLp1 (0,T ;B1 ) ,
é um espaço de Banach.
5.12. Teoremas de compacidade 159

Lema 5.12.1 Suponhamos que (5.17) seja válida, então para todo η > 0 existe
uma constante C(η) > 0 tal que

kvkB ≤ ηkvkB0 + C(η)kvkB1

Demonstração.- Caso contrário existe uma subseqüência de funções (uνk ), e


um número η0 > 0 que verifica

kuνk kB ≥ η0 kuνk kB0 + cηk kuνk kB1 (5.18)

Podemos tomar cηk ≥ k de onde teremos que

kuνk kB ≥ η0 kuνk kB0 + kkuνk kB1 .

Denotando por wk = uνk /kuνk kB obtemos

1 ≥ η0 kwk kB0 + kkwk kB1 . (5.19)


De onde segue que

1
kwk kB = 1, kwk kB1 ≤ , ∀k, (5.20)
k
Portanto, teremos

wk → 0 em B1 , wk * 0 fraco em B0
Da imersão compacta de B0 em B segue que

wk → 0 forte em B.

De onde temos que


1 = lim kwk kB = 0.
k→∞

Esta contradição mostra o resultado

Nestas condições temos o seguinte teorema devido a Lions.

Teorema 5.12.1 Sejam 1 < p0 , p1 < ∞ e suponhamos que (5.17) seja válida.
Então a imersão de W sobre Lp0 (0, T ; B) é compacta.
160 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

Demonstração.- Seja uν uma seqüência de funções limitadas em W. Mostraremos


que existe uma subseqüência, que a denotaremos da mesma forma, que con-
verge forte em Lp0 (0, T ; B). Da reflexividade de W existe uma subseqüência
de uν e uma função u ∈ W tal que
uν → u fraco em W,
sem perda de generalidade podemos supor que u = 0, caso contrário, considere
a seqüência ûν = uν − u no lugar de uν . Do Lema 5.12.1 segue que para todo
η > 0 existe uma constante cη > 0 para o qual temos:
kuν kLp0 (0,T ;B) ≤ ηkuν kLp0 (0,T ;B0 ) + cη kuν kLp0 (0,T ;B1 ) . (5.21)
p0
Note que uν está limitado em L (0, T ; B0 ). Assim podemos tomar η tal que

kuν kLp0 (0,T ;B) ≤
+ cη kuν kLp0 (0,T ;B1 ) .
2
Finalmente, para provar que uν converge forte para zero, bastará mostrar que
uν converge forte para zero em Lp0 (0, T ; B1 ). É simples verificar que uν pode
ser identificada por uma função contı́nua em C(0, T ; B1), portanto limitada
em [0, T ]. Do teorema de Lebesgue, falta apenas verificar que uν converge
pontualmente. Integrando por partes temos a identidade
Z s+h Z s+h
(s + h − τ )u0ν dτ = (s + h − τ )uν (τ )|s+h
s + uν dτ.
s s
De onde segue
Z s+h Z s+h
1 1
uν (s) = uν (τ ) dτ − (s + h − τ )u0ν (τ ) dτ.
h s h s

É simples verificar que


Z Z
1 s+h s+h

0
(s + h − τ )uν (τ ) dτ ≤ ku0ν (τ )kB1 dτ ≤ .
h s s 2

Para h pequeno. Da compacidade segue


Z Z
1 s+h 1 s+h
uν (τ ) dτ → 0 fraco em B0 , ⇒ uν (τ ) dτ → 0 forte em B1 ,
h s h s

concluı́mos assim que


uν (s) → 0, ∀s ∈ [0, T ]
O que completa a demonstração

Finalmente, estudaremos uma melhora do Teorema anterior devido a J.U. Kim


[?].
5.13. Exercı́cios 161

Teorema 5.12.2 Seja uν uma seqüência de funções tal que


uν → u fraco * em L∞ (0, T ; H β (Ω))
u0ν → u0 fraco em L∞ (0, T ; H α(Ω))
Para −1 ≤ α < β ≤ 1. Então teremos que
uν → u forte em C(0, T ; H r (Ω))
para todo r ≤ β.
Demonstração.- Sem perda de generalidade podemos supor que α e β são
diferentes de 1/2. Denotemos por r = θα+(1−θ)β. Então usando interpolação
teremos para quase todo par de pontos t1 e t2 que
kuν (t2 ) − uν (t1 )kH r (Ω) ≤ Cθ kuν (t2 ) − uν (t1 )kθH α (Ω) kuν (t2 ) − uν (t1 )k1−θ
H β (Ω)
Z t2 θ
≤ Cθ ku0ν (t)kH α (Ω) dt
t1
θ
≤ Cθ |t1 − t2 | 2
Conseqüentemente uν está em C([0, T ]; H r(Ω)) e como a imersão de H s (Ω)
é compacta em H r (Ω) para s > r, podemos usar o teorema de Ascoli para
concluir nosso resultado. A prova está completa

5.13 Exercı́cios
1. Mostrar que existem conjuntos Ω que não satisfazem a propriedade do
segmento e números m e p tais que D(Ω) é denso em W m,p (Ω).
2. Encontre os menores números m para os quais a k−ésima derivada de
δx pertença a W −m,p (Ω)
3. Suponhamos que m − np > 0 não é um número inteiro, denotamos por
 
n n
k = m− e θ = m − − k, 0 < θ < 1.
p p
Mostre que para toda u ∈ W m,p (RN ) é válido
kDα ukL∞ ≤ kukW m,p ∀α, |α| ≤ k
e ainda que
|Dα u(x) − Dα u(y)| ≤ C|x − y|θ kukW m,p .
Finalmente, que W m,p (RN ) ⊂ C k (RN ).
162 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

4. Mostre que o espaço W m,p (Ω) é completo, reflexivo e uniformemente


convexo.
5. Seja Ω = RN \ {0}. Em que casos teremos que C0∞ (Ω) é denso em
W m,p (Ω).
6. Mostre através de um exemplo que a propriedade do cone não implica a
propriedade do segmento.
7. Mostre que se Ω é um aberto de classe C m então Ω possui a propriedade
do segmento e a propriedade uniforme do cone.
8. Mostre que os espaços W definido na seção 5.11 são espaços completos.
9. Na demonstração do Teorema 5.12.1 pode ser trocada a hipothese (5.17)
por B = B1 ?. Justifique sua resposta.
10. Escreva uma função satisfazendo |u| ∈ L1 (Ω) e u 6∈ L1 (Ω)
11. Mostre que Lp (a, b; L2(]a, b[)) = Lp (]a, b[×]a, b[)
12. Mostre que se

u ∈ Lp (a, b; Ls (Ω)) ∩ Lq (a, b; Lr (Ω)).

Então teremos que 0 0


u ∈ Lp (a, b; Lq (Ω))
onde
1 θ 1−θ 1 θ 1−θ
0
= + , 0
= +
p p q q s r
para todo θ ∈ [0, 1].
13. Seja u uma função satisfazendo

u ∈ Lp (a, b; H s (Ω)) ∩ Lq (a, b; H r (Ω))

então teremos que


0
u ∈ Lp (a, b; H θs+(1−θ)r(Ω))

onde
1 θ 1−θ
= +
p0 p q
14. Caraterize como um espaço de Sobolev o fecho de C0∞ (RN ) com respeito
à norma k∇ϕkLp(RN )
15. Seja Ω um aberto limitado de classe C 2 . Caraterize o fecho de C0∞(Ω)
com respeito à norma k∇ϕkLp(Ω)
5.13. Exercı́cios 163

16. Mostre que em H 2 (RN ) sua norma usual é equivalente a kuk2∆ = kuk2L2 (RN ) +
k∆uk2L2(RN ) que pode afirmar sobre a norma kuk2∆ = kuk2L2(Ω) +k∆uk2L2(Ω)
sobre o espaço H 2 (Ω).

17. Considere o espaço: H = ϕ ∈ L2 (Ω); ∆ϕ ∈ L2 (Ω) munido da norma
kϕk2∆ = kϕk2L2 (Ω) + k∆ϕk2L2(Ω) O espaço H é completo?. Justifique sua
resposta.
18. Encontre o menor número m para que a k-ésima derivada da distribuição
δ0 (Delta de Dirac) pertença a W −m,p (Ω)
19. Mostre que uma função w pertence a W 1,p (Ω), com p > 1 se e somente
se existe uma constante C > 0 verificando

kTh w − wkLp (Ω0 ) ≤ C|h| ∀Ω0 ⊂⊂ Ω

e |h| < dist(Ω0 , Ωc)


20. Mostre através de um exemplo
n que a imerssão W m,p (Ω) ⊂oLp (Ω) não é
Pn−1
compacta, quando Ω = (x1 , · · · , xn ) ∈ Rn ; i=1 |xi | ≤ 1

21. Enuncie e mostre o teorema das derivadas intermediárias no caso unidi-


mensional
22. Seja u ∈ C 2 (a, b). Mostre que para todo  > 0 existe um C tal que
(Z ) 21 (Z ) 12
b b
2 2
ux (x) ≤ C |ux | dx + |uxx| dx .
a a

23. Mostre que sobre W m,p (a, b) as normas


m Z
X b
kwkpW m,p (a,b) = |w (i)|p dx
i=0 a
Z b Z b
kwkpW = |w|p dx + |w (m) |p dx
a a

são equivalentes. Por w (j) estamos denotando a j-ésima derivada de w.


24. Seja u uma função tal que sua m-ésima derivada u(m) ∈ Lp (R). Em que
espaço se encuentra a propria função u?. Que pode afirmar sobre suas
derivadas intermediarias?.
25. Seja u ∈ W m,p (RN ). Mostre que se uma derivada parcial de u é nula
então u = 0.
164 Capı́tulo 5. Espaços de Sobolev

26. Considere o conjunto Lp (a, b) para 0 < p < 1. Mostre que Lp (a, b) é um
espaço vetorial e que o funcional
Z b
d(f, g) = |f − g|p dx
a

Define uma métrica sobre Lp (a, b) que faz o espaço completo. Verifique
que a bola ( )
Z b
p p
B(0) = f ∈ L (a, b), |f| dx < 1
a

não é convexa.
27. Defina os espaços W 1,p(a, b) com 0 < p < 1. Mostre que é um espaço
vetorial, um espaço métrico completo e que a bola unitaria
( Z )
b
B(0) = f ∈ W 1,p(a, b), |f|p + |f 0 |p dx < 1
a

não é convexa.
R
28. Seja Ω um hipercubo. Mostre que se u ∈ W 1,p (Ω) é tal que Ωu dx = 0.
Então é válida
kukLp(Ω) ≤ k∇ukLp(Ω)

29. Mostre que a função f(x) = ex é uma distribuição, mas não é uma
distribuição temperada.
30. Mostre que os espaços W m,p são uniformente convexos.
31. De um exemplo de um aberto bidimensional que não tenha a propriedade
uniforme do cone
32. Seja H = {v ∈ Lp (0, ∞); v00 ∈ Lp (0, ∞)}. Verifique que o funcional
Z ∞  p1
µ(f) = |f 00 |p dx
0

é uma norma sobre H. O espaço H é fechado?. Caraterize o espaço H


como um espaço de Sobolev.
33. Mostre que si uma distribuição T tem ordem 0 e é tal que SuppT ⊂ {x0 }
então T = δx0
Capı́tulo 6

Problemas de Equilibrio

Neste capı́tulo estudaremos alguns problemas de equilibrio. Começaremos


fazendo uma dedução fı́sica do problema utilizando o princı́pio Bernoulli, também
conhecido como princı́pio de trabalho virtual ou pequenhos deslocamentos.

6.1 Principio de Bernoulli


O princı́pio de Bernoulli ou princı́pio de trabalho virtual, estabelece que a
posição de equilibrio de um corpo é aquela que minimiza sua energia potencial.
Isto é para calcular a posição de equilibrio de um corpo, será necessario primeiro
calcular a energia potencial associada a cada posição admissivel do material.
Por exemplo, suponhamos que temos uma membrana inicialmente posi-
cionada sobre o plano XY. Sobre ela se encontra atuando uma força externa f
e a ação de seu próprio peso. Denotemos por u(x) a função que define a posição
de equilibrio. Suponhamos que a tensão da membrana é conhecida e igual a k
e que o coeficiente de elasticidade é definido pela função a(x). Denotemos por
Γ o bordo da membrana e suponhamos que ela esta presa isto é
u(x) = 0, em Γ.
Esta condição é chamada de Condição de Dirichlet. Suponhamos que a re-
sistência elástica ao desplaçamento vertical, segue a lei de Hooke, portanto
esta força pode ser calculada como o produto −a(x)u(x), logo o trabalho que
ela realiza para desplazar o ponto x da posição de reposo até a posição de equi-
librio será igual a − 12 a(x)u2 (x). Assim teremos que o trabalho realizado pela
força externa f e pela resistência elástica do material para mover a membrana
da posição inicial à posição de equilibrio é igual a
Z
a(x) 2
T1 = f(x)u(x) − u (x) dx
Ω 2

165
166 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

A membrana também é acionada pela ação das forças internas. Portanto a


tensão k realizará trabalho na direção da deformação. Se denotamos por ∆S
a área da superficie deformada e por ∆x o valor da superfı́cie inicial, teremos
que o trabalho realizado sobre ∆x será igual a
−k(∆S − ∆x).
No caso unidimensional (∆S − ∆x) representa o incremento da deformação
de uma corda. O trabalho é negativo, porque a força se opone a deformação.
Sabemos que p
∆S = 1 + |∇u|2∆x.
Portanto o trabalho total da tensão k realizado sobre toda a membrana será
igual a Z Z np o
− k(∆S − ∆x) = − k(x) 1 + |∇u|2 − 1 dx.
Ω Ω
Assim teremos que a energı́a potencial é dada por

Z np o a
J(u) = k(x) 1 + |∇u|2 − 1 dx + u2 (x) − f(x)u(x) dx
Ω 2
Para simplificar a expressão anterior, suporemos que o gradiente de u, ∇u é
pequenho.
√ De fato, sabemos pelos desenvolvimentos por series de Taylor que
1 + x pode ser escrita como
√ x 1 1
1 + x = 1 + − x2 + ξ 3
2 8 12
onde ξ ∈]0, x[. Assumindo que |∇u| seja pequeno, então podemos despreciar
os termos |∇u|4 e |∇u|6. Assim teremos que
p 1
1 + |∇u|2 − 1 ≈ |∇u|2.
2
Podemos então, aproximar J pela expressão
Z
1 a
J(u) = k(x)|∇u|2 dx + |u(x)|2 − f(x)u(x) dx.
Ω 2 2
Portanto a posição de equilibrio da membrana será aquela que seja um ponto
crı́tico para o funcional J(u) sobre o conjunto de todas as funções admissiveis.
Neste caso o conjunto das funções admissiveis é o espaço:
K = H01 (Ω).
Neste capı́tulo estudaremos alguns teoremas de convergências sobre os
espaços Lp e suas aplicações as Equações Diferenciais Parciais. Começaremos
com o seguinte resultado de minimização
6.1. Principio de Bernoulli 167

Teorema 6.1.1 Seja J um funcional semicontinuo inferiormemte definido so-


bre V , um espaço reflexivo com norma k · k. E seja K um conjunto convexo e
fechado de V . Suponhamos que J satisfaz
J(v) ≥ α para todo v∈V
Onde α > 0. Suporemos ainda que J é um operador coercivo, isto é
kvk → ∞ ⇒ J(v) → ∞. (6.1)
Nestas condições teremos que existe u ∈ K tal que
J(u) ≤ J(v) ∀v ∈ K

Demonstração.- Denotemos por


I = inf {J(v); v ∈ K}
Das hipóteses sobre J concluimos que I ∈ R. Denotemos por vν a seqüência
de vetores em V satisfazendo
J(vν ) → I, (6.2)
da condição (6.1) concluimos que existe uma constante positiva C tal que
kvν k ≤ C ∀ν ∈ IN.
Como V é um espaço reflexivo, concluimos que existe um vetor u ∈ V e uma
subseqüência de (vν ) ∈ K, que a denotaremos da mesma forma, satisfazendo
vν → u fraco em V.
Como K é um convexo fechado, teremos que u ∈ K. Da semicontinuidade
inferior de J teremos
I = lim J(vν ) ≥ J(u) ≥ I.
ν→∞

De onde concluimos que J(u) = I. Finalmente, da relação (6.2) segue nossa


conclusão

Teorema 6.1.2 (Teorema de Lions Stampachia) Seja V um espaço de Hilbert


com norma k · kV e denotemos por K um conjunto convexo de V . Seja a(·, ·)
uma aplicação bilinear simétrica satisfazendo:
a(v, v) ≥ α0 kvk2V , a(v, w) ≤ α1 kvkV kwkV .
Finalmente, seja f ∈ V ∗ . Então existe uma única solução do problema
a(u, v − u) ≥ hf, v − ui, ∀v ∈ K.
168 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

Demonstração.- A domonstração é baseada no Teorema 6.1.1. Para isto


definimos
1
J(v) = a(v, v) − hf, vi.
2
Verificamos que J satisfaz todas as hipótese do Teorema 6.1.1, portanto existe
um único elemento u ∈ K tal que

J(u) ≤ J(v), ∀v ∈ K.

Passaremos agora a caraterizar este elemento. Para isto definimos a função


ϕ(θ) como
ϕ(θ) = J(u + θ(v − u))
Note que esta função está bem definida no intervalo [0, 1] e tem seu mı́nimo no
ponto θ = 0. Isto significa que ϕ0 (0) ≥ 0. Caso contrario ϕ não pode atingir o
mı́nimo em θ = 0. Note que

1
ϕ(θ) = a(u + θ(v − u), u + θ(v − u)) − hf, u + θ(v − u)i
2
1
= a(u, u) + 2θa(u, v − u) + θ2 a(v − u, v − u) − hf, ui − θhf, v − ui
2
Derivando com relação a θ encontramos

ϕ0 (θ) = a(u, v − u) + θa(v − u, v − u) − hf, v − ui

De onde temos que

ϕ0 (0) ≥ 0 ⇒ a(u, v − u) − hf, v − ui ≥ 0 ∀v ∈ K.

De onde segue o resultado.

Como uma aplicação direta do Teorema de Lions-Stampachia temos

Teorema 6.1.3 (Lema de Lax-Milgram) Seja V um espaço de Hilbert com


norma k · kV e donotemos por a(·, ·) uma aplicação bilinear simétrica satis-
fazendo:
a(v, v) ≥ α0 kvk2V , a(v, w) ≤ α1 kvkV kwkV .
Finalmente, seja f ∈ V ∗ . Então existe uma única solução do problema

a(u, v) = hf, vi, ∀v ∈ V.

Demonstração.- Basta considerar K = V no teorema 6.1.2.


6.2. Aplicações as equações elı́ticas 169

6.2 Aplicações as equações elı́ticas


Nesta seção estudaremos algumas aplicações dos resultados obtidos na seção
anterior para problemas elı́ticos. Começaremos com uma aplicação do Teo-
rema 6.1.1. Denotaremos por Ω um aberto limitado do RN .

6.2.1 Problema de Dirichlet


Seja f uma função de L2 (Ω). Mostraremos que existe uma única solução para
a equação

−µ∆u + γu = f em Ω (6.3)

u=0 em ∂Ω.
Neste caso tomamos V = H01 (Ω), K = V e definimos a bilineal a(·, ·) da
seguinte forma Z Z
a(v, w) = µ ∇v∇w dx + γ vw dx.
Ω Ω

Identificando L2 (Ω) com seu dual, teremos que

H01 (Ω) ⊂ L2 (Ω) ⊂ H −1 (Ω).

Portanto f ∈ L2 (Ω) implica que f ∈ H −1 (Ω). Mais ainda


Z
hf, vi = fv dx.

Usando o Lema de Lax-Milgram encontramos que existe uma única u ∈ V tal


que Z Z Z
µ ∇u∇v dx + γ uv dx = fv dx ∀v ∈ V.
Ω Ω Ω

Tomando v ∈ C0∞ (Ω), concluimos que


Z
{−µ∆u + γu − f} v dx = 0 ∀v ∈ C0∞ (Ω).

Note que não aparecem integrais de superfı́cie porque v ∈ C0∞ (Ω). Portanto
no sentido das distribuições temos que

−µ∆u + γu − f = 0.

Como u ∈ H01 (Ω) então ela verifica a condição de contorno.


170 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

6.2.2 Equação geral de segunda ordem


Denotemos por V = H01 (Ω), com Ω ⊂ Rn . Definamos por a(·, ·) a bilineal
Xn Z
∂u ∂v
a(u, v) = aij dx
Ω ∂xi ∂xj
i,j=1

Suponhamos que a matriz A = (aij ) seja simétrica e definida positiva, isto é


que exista uma constante positiva a0 > 0 satisfazendo
n
X
ηi ηj aij ≥ α0 kηk2
i,j=1

onde cada um dos termos aij ∈ L∞ (RN ) Nestas condições usando o teorema
6.1.3 encontramos que para todo f ∈ L2 (Ω) existe uma única solução do prob-
lema Z
a(u, ϕ) = fϕ dx, ∀ϕ ∈ V

Usando integração por partes concluimos que a solução do problema acima
verifica a equação
Xn  
∂ ∂u
− aij = f em Ω
∂xi ∂xj
i,j=1

u(x) = 0, em ∂Ω

6.2.3 Problema de Neumann


Seja f uma função de L2 (Ω). Mostraremos que existe uma única solução para
a equação

−µ∆u + γu = f em Ω (6.4)

∂u
= 0 em ∂Ω.
∂ν
Neste caso tomamos V = H 1 (Ω), K = V e definimos a bilinear a(·, ·) da
seguinte forma Z Z
a(v, w) = µ ∇v∇w dx + γ vw dx.
Ω Ω

É simples verificar que a(·, ·) é contı́nua e coerciva em H 1 (Ω). Portanto usando


o Lema de Lax Milgram 6.1.3 concluimos que para toda função f ∈ V ∗ existe
uma única função u satisfazendo:
a(u, v) = hf, vi
6.2. Aplicações as equações elı́ticas 171

Isto é
Z Z Z
µ ∇u∇w dx + γ uw dx = fw dx ∀w ∈ C0∞(Ω). (6.5)
Ω Ω Ω

De onde temos que


Z
{−µ∆u + γu − f} w dx = 0 ∀w ∈ C0∞ (Ω).

Portanto no sentido das distribuições a função u satisfaz

−µ∆u + γu − f = 0.

Finalmente, voltando a equação (6.5) para w ∈ H 1 (Ω), e usando a igualdade


anterior obtemos
Z
∂u ∂u
µ w dΓ = 0 ∀w ∈ H 1 (Ω) ⇒ = 0.
Γ ∂ν ∂ν

Observação 6.2.1 No problema de Neumann, a condição de contorno é uma


conseqüência da formulação variacional.

6.2.4 Equação geral de Neumann de segunda ordem


Seja Ω ⊂ Rn um aberto limitado com fronteira ∂Ω e com normal exterior
denotada por ν = (ν1 , · · · , νn ). Denotemos por V = H 1 (Ω), com Ω ⊂ Rn .
Definamos por a(·, ·) a bilineal
n Z
X Z
∂u ∂v
a(u, v) = aij dx + γ uv dx
i,j=1 Ω ∂x i ∂xj Ω

Suponhamos que γ > 0 e que a matriz A = (aij ) seja simétrica e definida


positiva, isto é que exista uma constante positiva a0 > 0 satisfazendo
n
X
ηi ηj aij ≥ α0 kηk2
i,j=1

onde cada um dos termos aij ∈ L∞ (RN ). É simples verificar que a(·, ·) é uma
aplicação bilinear, contı́nua, simétrica e coerciva. Nestas condições usando o
teorema 6.1.3 encontramos que para todo f ∈ L2 (Ω) existe uma única solução
do problema Z
a(u, ϕ) = fϕ dx, ∀ϕ ∈ V (6.6)

172 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

Usando integração por partes concluimos que a solução do problema acima


verifica a equação
X n  
∂ ∂u
− aij + γu = f em Ω
i,j=1
∂xi ∂xj

No sentido das distribuições. Por outro lado usando esta identidade em (6.8)
encontramos que
X n Z  
∂u
− aij νi w dΓ = 0 ∀w ∈ H 1 (Ω)
∂Ω ∂xj
i,j=1

De onde concluimos que


n 
X 
∂u
aij νi = 0
∂xj
i,j=1

Denotando por
Xn  
∂u ∂u
= aij νi
∂νA i,j=1
∂xj

Concluimos que existe uma única solução do problema


Xn  
∂ ∂u
− aij + γu = f em Ω
∂xi ∂xj
i,j=1

∂u
= 0, em ∂Ω
∂νA
Observação 6.2.2 A coercividade é uma propriedade necessária para que ex-
ista solução do problema. Por exemplo, considere o problema de Newmann
dada por
uxx = 1, em ]0, L[, ux (0) = ux (L) = 0.
Com L > 0. É simples verificar que este problema não possui solução. De fato
razonemos pelo absurdo. Suponhamos que exista uma solução do problema.
Integrando a primeira equação acima no intervalo [0, L] encontramos que

ux (L) − ux (0) = L

Por otro lado, aplicando a condição de contorno, obtemos que

ux(L) − ux(0) = 0, ⇒ L=0

O que é uma contradição.


6.2. Aplicações as equações elı́ticas 173

A contradição no exemplo anterior é devido a que na formulação variacional


associada ao problema acima, devemos ter que
Z L
a(u, v) = ux vx dx
0

e o espaço onde esta bilinear está definida deve ser V = H 1 (0, L), note que esta
bilinear não é coerciva em H 1 , pois não existe nenhuma constante α0 > 0 tal
que
a(u, u) ≥ α0 kuk2H 1 u ∈ H 1 (0, l)
Dado que as funções constantes pertencem a H 1 (0, L) e não verificam a de-
sigualdade acima, pois neste caso a(u, u) = 0.

6.2.5 Compatibilidade do problema de Neumann


De acordo com a observação 6.2.2, a não existência de soluções é devido a falta
de coercividade do operador a(·, ·). Consideremos o problema

uxx = f, em ]0, L[, ux (0) = ux (L) = 0. (6.7)

Onde f ∈ L2 (0, L). Lembremos que a contradição vem depois de integrar e


aplicar as condições de contorno. Se repetimos este procedimento obtemos
Z L
0 = ux (L) − ux (0) = f(x) dx
0

A contradição vem do fato de escolher uma função que não tem integral nula.
Não existirı́a contradição se a integral de f fosse nula. A pergunta que nos
podemos formular neste caso é se neste caso existe solução. Para isto temos
que verificar se a bilinear é coerciva no espaço das funções que tem média nula.
Isto é denotemos por
( Z )
L
V = w ∈ H 1 (0, L); w(x) dx = 0
0

É simples verificar neste caso que


Z L
a(u, v) = ux vx dx
0

é uma bilinear contı́nua, simétrica e coerciva em V , isto é existe uma constante


α0 > 0 tal que
a(u, u) ≥ α0 kuk2H 1 u ∈ H 1 (0, l)
174 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

veja Teorema 5.6.2. Portanto do Lema de Lax Milgram Teorema 6.1.3 segue
que existe uma única solução do problema
Z L Z L
a(u, v) = fv dx, ∀f ∈ L2 (0, L), f(x) dx = 0.
0 0

Ou equivalentemente, existe uma única solução do problema 6.7 para toda


função f de média nula.
Este problema pode ser generalizado na seguinte. Seja Ω ⊂ Rn um aberto
limitado com fronteira ∂Ω e com normal exterior denotada por ν = (ν1 , · · · , νn ).
Denotemos por  Z 
V = v ∈ H 1 (Ω); v dx = 0

com Ω ⊂ Rn . Definamos por a(·, ·) a bilineal


n Z
X ∂u ∂v
a(u, v) = aij dx
i,j=1 Ω ∂xi ∂xj

Suponhamos que a matriz A = (aij ) seja simétrica e definida positiva, isto é


que exista uma constante positiva a0 > 0 satisfazendo
n
X
ηi ηj aij ≥ α0 kηk2
i,j=1

onde cada um dos termos aij ∈ L∞ (RN ). É simples verificar que a(·, ·) é uma
aplicação bilinear, contı́nua, simétrica e coerciva. Nestas condições usando o
teorema 6.1.3 encontramos que para todo f ∈ L2 (Ω) existe uma única solução
do problema Z
a(u, ϕ) = fϕ dx, ∀ϕ ∈ V (6.8)

Usando integração por partes concluimos que a solução do problema acima


verifica a equação
n
X  
∂ ∂u
− aij =f em Ω
∂xi ∂xj
i,j=1

No sentido das distribuições. Por outro lado usando esta identidade em (6.8)
encontramos que
n Z
X  
∂u
− aij νi w dΓ = 0 ∀w ∈ H 1 (Ω)
i,j=1 ∂Ω ∂x j
6.3. Aplicações as desigualdades variacionais 175

De onde concluimos que


n 
X 
∂u
aij νi = 0
∂xj
i,j=1

Denotando por
n 
X 
∂u ∂u
= aij νi
∂νA ∂xj
i,j=1

Concluimos que existe uma única solução do problema

Xn  
∂ ∂u
− aij =f em Ω
i,j=1
∂xi ∂xj

∂u
= 0, em ∂Ω
∂νA

6.3 Aplicações as desigualdades variacionais


As desigualdades variacionais aparecem quando queremos resolver problemas
de contato, isto é um problema de vibrações onde um corpo elástico pode entra
em contato com um obstáculo rı́gido.

Obstáculo
| | | | | | @
@
| | | | | | | @
@
Barra elástica @
@
| | | | | | @
@
@
@
| | | | | | | @
@
| | | | | | @
@
@
@
| | | | | | | @
@
@
@
| | | | | | @
@
| | | | | | | @
@
@
@
@
@
0 1 1+g
| {z }
salto

Seja Ω um aberto limitado do RN , com fronteira Γ dividida em duas partes.


A parte Γ0 do bordo é onde o material esta assegurado, enquanto que Γ1 é a
parte do material que pode entrar em contato com um obstáculo rı́gido.

Γ := Γ0 ∪ Γ1 .
176 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

Corpo Elástico

Γ0

g(x)

Obstáculo rı́gido

A equação que modelam o problema é dado por

−µ∆u + γu = f em Ω (6.9)

∂u ∂u
u = 0 em Γ0 u ≤ g; ≤ 0; (u − g) = 0. (6.10)
∂ν ∂ν
O problema acima é chamado de problema de Signorini ou problema de
contacto. Neste caso estamos considerando que o obstáculo é rı́gido, isto é não
existe penetração. Introduzimos as seguintes notaçoes:

V = w ∈ H 1 (Ω); w|Γ0 = 0

K = w ∈ V ; w|Γ0 = 0, w(x) ≤ g(x) em Γ1
Z Z
a(v, w) = µ ∇v∇w dx + γ vw dx.
Ω Ω
Usando o Teorema de Lions Stampachia encontramos que existe uma única
u ∈ V tal que
Z Z Z
µ ∇u∇(v − u) dx + γ u(v − u) dx ≥ f(v − u) dx ∀v ∈ V. (6.11)
Ω Ω Ω

Tomando v = u + ϕ, com ϕ ∈ C0∞ (Ω), segue que u deve satisfazer

−µ∆u + γu = f em Ω (6.12)
No sentido das distribuições De fato, usando as fórmulas de Green teremos
Z Z Z
− µ∆uφ dx + γuφ dx ≥ fφ dx, ∀φ ∈ C0∞ (Ω),
Ω Ω Ω

de onde segue que


6.4. O problema penalizado 177

Z
[−µ∆u + γu − f]φ dx = 0, ∀φ ∈ C0∞ (Ω).

Logo concluimos que u satisfaz (6.12). Voltando a (6.11) e usando as fórmulas
de Green desta ves para v ∈ K, teremos
Z
∂u
(v − u) dΓ ≥ 0 ∀v ∈ K. (6.13)
Γ ∂ν
Tomando v = w + u com w(x) ≤ 0 em Γ1 , é simple de verificar que v ∈ K.
Alêm disso teremos que
Z
∂u
w dΓ ≥ 0 ∀w ≤ 0,
Γ ∂ν

que implica que ∂u/∂ν ≤ 0. Finalmente, como u ∈ K e tomando v ∈ H 1 (Ω)


em (6.13), tal que v = 0 em Γ0 e v = g em Γ1 , teremos
Z
∂u
− (g − u) dΓ ≥ 0.
Γ ∂ν

De forma análoga, tomando v ∈ H 1 (Ω) em (6.13), tal que v = 0 em Γ0 e


v = 2u − g em Γ1 teremos
Z
∂u ∂u
(g − u) dΓ ≥ 0 ⇒ (u − g) = 0.
Γ ∂ν ∂ν
Em conclusão, se u é uma solução regular do problema de contato, então ela
deve satisfazer

−µ∆u + γu = f em Ω

∂u ∂u
u = 0 em Γ0 u ≤ g; ≤ 0; (u − g) = 0. (6.14)
∂ν ∂ν

6.4 O problema penalizado


Um método alternativo que nos permite aproximar a solução de forma direta
é o chamado de método de Penalização. Este método consiste em minimizar
o funcional J sobre todo o espaço. Como conseqüência disso teremos como
resultado uma equação diferencial e não uma desigualdade variacional, como
foi obtida no caso do problema de obstáculo.
A ideia consiste em perturbar o funcional a minimizar, da seguinte forma
Z
1
J (v) = J(v) + |(v − g)− |2 dΓ
 Γ1
178 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio

Note que quando  → 0 teremos que o peso sobre a integral à direita da


igualdade anterior aumenta indeterminadamente. Portanto se funcional J fosse
limitado, deveriamos ter que
Z
|(v − g)+ |2 dΓ → 0
Γ1

o que significa que v ≤ g. Assim quando  → 0 o ponto de mı́nimo de J


convirge para a solução do problema de contato. Faremos isto com detalhe a
seguir. Denotemos por HΓ1 0 (Ω) o espaço

HΓ1 0 (Ω) = v ∈ H 1 (Ω); v = 0 sobre Γ0 .

Utilizando o Teorema 6.1.1 mostramos que existe u ∈ H 1 (Ω) solução de



J (u ) = inf v ∈ H 1 (Ω) (6.15)

e com os mesmos argumentos utilizados na seção anterior, podemos verificar


que a solução do problema acima é caraterizada como

−µ∆u + γu = f em Ω (6.16)



∂u 1
u = 0; = − [u − g]+ on Γ0 .
∂ν 
+
Onde [λ] = max {0, λ}. Nestas condições teremos

Lema 6.4.1 Com as notações anteriores a solução u do problema (6.15),


convirge para u solução do problema de contato.

Demonstração.- Note que K ⊂ H 1 (Ω) portanto teremos que



inf J (v); v ∈ HΓ1 0 ≤ inf {J (v); v ∈ K}

Como sobre K os funcionais J e J coincidem, da desigualdade anterior desprende-


se que

J (u ) ≤ J(u) (6.17)


Onde u é a solução do problema de contato. Como o funcional J é coercivo,
concluimos que a seqüência u é limitada em H 1 (Ω). Portanto existe uma
subseqüência de u , que por comodidade a continuaremos denotando da mesma
forma, e uma função ũ tal que

u → ũ fraco em H 1 (Ω)
Da compacidade de H 1−δ (Ω) em H 1 (Ω), podemos supor que u satisfaz
6.4. O problema penalizado 179

u → ũ Forte em H 1−δ (Ω)


Usando a desigualdade (6.17) concluimos que
Z
|(u − g)+ |2 dΓ1 ≤ J(u)
Γ1

Tomando δ < 12 , da convergência forte em H 1−δ e pelo teorema do Traço, da


desigualdade anterior concluimos que
Z
u − g)+ |2 dΓ1 = 0.
|(e
Γ1

De onde segue que ũ ≤ g, protanto ũ ∈ K. Finalmente, da semicontinuidade


inferior de J e como J(v) ≤ J (v), teremos que

lim inf J(u ) ≤ lim inf J(u ) ≤ J(u)


→0 →0

De onde segue que


J(ũ) ≤ J(u)
Como ũ ∈ K então teremos que ũ = u, pois J é um funcional estritamente
convexo (Veja exercicio 5). De onde segue o resultado
O resultado anterior nos fornece uma forma de calcular uma solução aprox-
imada para o problema de contato, utilizando os métodos de Equações Difer-
enciais Parciais, via elementos finitos por exemplo.
180 Capı́tulo 6. Problemas de Equilibrio
Capı́tulo 7

Teorema do Traço

Nesta seção mostraremos o Teorema do Traço para funções em W m,p (Ω).


Começaremos com o caso simples p = 2.

7.1 Os espaços H s(Ω)


Um dos problemas do centrais do teorema de traço é definir o espaço ótimo
onde os traços de funções em W m,p (Ω) pertençam. Estes espaços são espaços
fracionarios da forma W m−1/2,p(∂Ω) . No caso de p = 2 podemos definir
estes espaços de forma simples usando as transformadas de Fourier. É simples
verificar que o espaço
 m
W m,2 (RN ) = u ∈ L2 (RN ); (1 + |ξ|2 ) 2 û ∈ L2 (RN )

onde por û estamos denotando a transformada de Fourier de u. No que segue


denotaremos por H m (RN ) = W m,2 (RN ). Note que pela identidade de Parseval,
teremos que
Z
kuk2H m (RN ) = (1 + |ξ|2)m |û(ξ)|2 dξ
RN

Assim, para todo número real s > 0 definimos o espaço H s (RN ) como sendo
 s
H s (RN ) = u ∈ L2 (RN ); (1 + |ξ|2 ) 2 û ∈ L2 (RN )

Claramente este espaço coincide com os espaços H m (RN ) quando s é o número


inteiro m. De forma análoga ao caso W m,p (Ω) podemos mostrar que as funções
C0∞ (RN ) são densas em H s (RN ) para todo s ∈ Rn . Definimos H s (RN ) para
valores negativos de s como sendo o espaço dual de H −s (RN ).

181
182 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

No caso em que Ω seja um aberto de classe C m podemos definir para s < m


os espaços fracionarios

H s (Ω) = v|Ω ; v ∈ H s (RN )

Se munimos estes espaços com a norma



kukH s(Ω) = inf kvkH s (RN ) , v = u em Ω ,

podemos mostrar que H s (Ω) é um espaço de Hilbert. (Veja exercı́cio)

7.2 Os espaços H s(Γ)


Denotando por Γ a fronteira de Ω, utilizando as cartas locais podemos definir
os espaços H s (Γ) para s < m da seguinte forma: Sejam (hi , Vi ), i = 1, · · · , ν
a famı́lia de cartas locais de Γ, e denotemos por αi a partição da unidade
associada a Vi ∩ Γ (Ver Definição 5.5.2). Toda função sobre Γ pode ser escrita
como

u= (αi u)
i=1

Note que a função h∗ v(x) = v(h(x)) está definida sobre o quadrado Q e para
valores em Γ, h∗j v = v(h(x)) toma valores sobre Q0 . Assim teremos que a
função h∗j (αj u) está definida sobre Rn−1 se a tomamos como sendo 0 fora de
Q0 , isto é

v(hj (x)) se x ∈ Q0
h∗j v(x) =
0 se x 6∈ Q0

Agora definimos o espaço H s (Γ)



H s (Γ) = u ; h∗j (αj u) ∈ H s (Rn−1 ), ∀j = 1 · · · , ν

Munindo ao espaço acima a norma do grafo, isto é


ν
X
kukH s (Γ)) = kh∗j (αj u)kH s (Rn−1 )
j=1

O espaço H s (Γ) é um espaço de Hilbert.


Com estas definições a versão do teorema do Traço para conjuntos abertos
de fronteira limitada é conseqüencia imediata do Teorema de traço para funções
em H m (RN + ) que estudamos na seguinte seção.
7.3. Teorema do traço em H m(Rn−1 ) 183

7.3 Teorema do traço em H m (Rn−1 )


A dificuldade principal na demonstração do Teorema do Traço, é a definição
dos espaços fracionarios W s,p(RN ). A definição destes espaços é simples no
caso de p = 2, devido a que podemos usar a transformada de Fourier. Isto
não é possı́vel no caso geral dos espaços W s,p (Ω), p 6= 2. O que nos obriga
a utilizar um método mais complexo chamado método de interpolação real.
Portanto de forma introdutoria, contruiremos primeiro os espaços fracionarios
para H s (RN ). Estes espaços serão a chave para definir os espaços H s (Ω) e
H s (Γ), para Ω um aberto do RN com fronteira Γ que assumiremos de classe
C m.
Começamos estudando o caso Ω = RN + . Depois consideraremos o caso de
abertos regulares de classe C m fazendo uso das cartas locais. No que segue
usaremos a seguinte notação

(x0 , xn ) ∈ Rn+ , com x0 ∈ Rn−1

Teorema 7.3.1 A Aplicação γ definida por


m−1
Y 1
m
γ: H (RN
+) → H m−j− 2 (Rn−1 )
j=0
n o
γ(u) = u(j)(x0 , 0); 0 ≤ j ≤ m − 1
é uma aplicação linear contı́nua e sobrejetiva.

Demonstração.- Provaremos primeiro que a aplicação γ é contı́nua. Sem


perda de generalidade podemos supor que u ∈ D(RN+ ). Denotemos por ϕ ∈
C0∞ (R) uma função satisfazendo
1
ϕ(0) = 1, ϕ(t) = 0, para t >
2
Nestas condições teremos que
Z t
0 0 2 d  1
|u (x , 0)| = ϕ|u(x0 , σ)|2 dσ, t >
0 dσ 2
Z t Z t
dϕ du(x0, σ)
= |u(x0, σ)|2 dσ + 2 ϕu(x0 , σ) dσ
0 dσ 0 dσ
Tomando transformada de Fourier com respeito à variavel x0 teremos
Z t Z t
0 2 dϕ 2 dû(ξ, σ)
|û (ξ, 0)| = |û(ξ, σ)| dσ + 2 ϕû(ξ, σ) dσ
0 dσ 0 dσ
184 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

1
Multiplicando por (1 + |ξ|2 )m− 2 teremos

Z t
1 1 dϕ
(1 + |ξ|2 )m− 2 |û0 (ξ, 0)|2 = (1 + |ξ|2 )m− 2 |û(ξ, σ)|2 dσ
0 dσ
Z t
1 dû(ξ, σ)
+2(1 + |ξ|2 )m− 2 ϕû(ξ, σ) dσ
0 dσ
Integrando sobre Rn−1 teremos que

Z t
kuk2 m− 1 n−1 ≤ C ku(·, σ)k2H m(Rn−1 ) dσ
H 2 (R ) 0
Z t
+C ku(·, σ)kH m (Rn−1 ) kuσ (·, σ)kH m−1 (Rn−1 ) dσ
0
Z tn o
≤ C ku(·, σ)k2H m (Rn−1 ) + kuσ (·, σ)k2H m−1 (Rn−1 ) dσ
0
≤ Ckuk2H m (Rn ) .
+

De forma análoga teremos que

Z ∞ Z ∞
(j) 2 dϕ
|û (ξ, 0)| = (σ)|û(j)(ξ, σ)|2 dσ + 2 ϕ(σ)û(j+1) (ξ, σ)û(j)(ξ, σ) dσ
0 dσ 0
1
Multiplicando por (1 + |ξ|2 )m−j− 2 obtemos

Z t
2 m−j− 12 (j) 2 dϕ 1
(1 + |ξ| ) |û (ξ, 0)| = (1 + |ξ|2 )m−j− 2 |û(j)(ξ, σ)|2 dσ
0 dσ
Z t
1
+2 ϕ(1 + |ξ|2 )m−j− 2 û(j+1)(ξ, σ)û(j)(ξ, σ) dσ
0
Integrando sobre R n−1
teremos

Z t
(j)
ku (·, 0)k2 m−j− 1 ≤ ku(j)(·, σ)k2 m−j− 1 dσ
H 2
0 H 2
Z t
+C ku(j)(·, σ)kH m−j ku(j+1)(·, σ)kH m−j−1 dσ
0
Z t
≤ ku(j)(·, σ)k2H m−j + ku(j+1)(·, σ)k2H m−j−1 dσ
0
≤ Ckuk2H m (RN )
+
7.3. Teorema do traço em H m(Rn−1 ) 185

De onde segue a continuidade. Para mostrar qua a aplicação é sobre tomemos


uma função

m−1
Y 1
a = (a1 , · · · , am ) ∈ H m−j− 2 (Rn−1 ).
j=0

Mostraremos que existe uma função u ∈ H m (RN


+ ) tal que

γ(u) = a.

De fato, tomemos uma ϕj ∈ D([0, ∞)) tal que


(j)
ϕj (0) = 1.

Denotemos por wj (ξ, t) a função cuja transformada de Fourier é


 j/2  
1 1
ŵj (ξ, t) = âj (ξ)ϕj (1 + |ξ|2 ) 2 t .
1 + |ξ|2

Note que
(j)
wj (ξ, 0) = âj (ξ).
Por outro lado é simples verificar que wj assim definido satisfaz:

wj ∈ H m (RN
+)

De fato,
Z tZ Z ∞
2
|wj (ξ, t)| dξdt ≤ |ϕj |2 dσkaj k2 1 ,
0 RN 0 H m−j− 2 (Rn−1 )
+

Z tZ
(m)
|wj (ξ, t)|2 dξdt =
0 RN
+
Z tZ  
(m) 1
= (1 + |ξ|2 )m−j |âj (ξ)|2 |ϕj (1 + |ξ|2 ) 2 t |2 dξdt
0 Rn−1
Z Z t  
(m) 1
2 m−j j 2
= (1 + |ξ| ) |â (ξ)| |ϕj (1 + |ξ|2 ) 2 t |2 dtdξ
Rn−1 0
Z Z t  
1 (m) 1
2 m−j− 2 j 2
= (1 + |ξ| ) |â (ξ)| dξ |ϕj (1 + |ξ|2 ) 2 t |2 dt
Rn−1 0
≤ kâj k2 m−j− 1 n−1 .
H 2 (R )
186 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

Finalmente, denotemos por u a função


m−1
XX m
u(x0 , xn ) = crj wj (x, rxn)
j=0 r=1

onde os coeficientes crj são tomados de forma que


m
X 
0 se k 6= j, 0 ≤ k ≤ m − 1.
r k crj =
1 se k = j.
r=1

Assim teremos que


m
X (k)
u(k)(x0 , 0) = r k crj w (k)(x, 0) = wk (x, 0) = ak (x).
r=1

De onde segue a demonstração.

Como uma aplicação do Teorema do Traço temos o seguinte resultado

Corolário 7.3.1 Seja f uma função satisfazendo:

f ∈ L2 (0, ∞; H 1(RN )), f 0 ∈ L2 (0, ∞; L2(RN ))

Então teremos que


1 1
f ∈ C(0, ∞; H 2 (RN )) ∩ L∞ (0, ∞; H 2 (RN ))

Demonstração.- Do Teorema de Fubini e a definição dos espaços H s (RN )


segue que

H 1 (Rn+1 2 1 N 0 2 2
+ ) = f; f ∈ L (0, ∞; H (R )), f ∈ L (0, ∞; L (R ))
N

Do Teorema do Traço segue que


n o
kf(0)k2H 1/2 (RN ) ≤ c kfk2L2 (0,∞;H 1 (RN )) + kf 0 k2L2 (0,∞;L2 (RN ))
Usando traslações podemos obter que

n o
kf(s)k2H 1/2 (RN ) ≤ c kfk2L2 (0,∞;H 1 (RN )) + kf 0 k2L2 (0,∞;L2 (RN )) , ∀s > 0.

Da densidade das funções D(Rn+1+ ) podemos aproximar f por uma seqüência


1
de funções contı́nuas convergindo forte na norma de L∞ (0, ∞; H 2 (RN )), de
onde segue nossa conclusão.
De forma geral temos
7.3. Teorema do traço em H m(Rn−1 ) 187

Corolário 7.3.2 Seja f uma função satisfazendo:


f ∈ L2 (0, ∞; H m(RN )), f 0 ∈ L2 (0, ∞; H r(RN ))
para m > r, então teremos que
m+r m+r
f ∈ C(0, ∞; H 2 (RN )) ∩ L∞ (0, ∞; H 2 (RN ))
Demonstração.- Tomemos a ∈]0, ∞[. Denotemos por ϕ ∈ C0∞ (R) uma função
satisfazendo
1
ϕ(a) = 1, ϕ(t) = 0, para t > a +
2
Z t
d  1
|u0 (x0 , a)|2 = ϕ|u(x0 , σ)|2 dσ, t > a +
a dσ 2
Z t Z t
dϕ du(x0 , σ)
= |u(x0 , σ)|2 dσ + 2 ϕu(x0 , σ) dσ
a dσ a dσ
Tomando transformada de Fourier com respeito à variavel x0 teremos
Z t Z t
dϕ dû(ξ, σ)
|û0 (ξ, a)|2 = |û(ξ, σ)|2 dσ + 2 ϕû(ξ, σ) dσ
a dσ a dσ
m+r
Multiplicando por (1 + |ξ|2 ) 2 teremos

Z t
m+r m+r dϕ
(1 + |ξ|2 ) 2 |û0 (ξ, a)|2 = (1 + |ξ|2 ) 2 |û(ξ, σ)|2 dσ
0 dσ
Z t
2 m+r dû(ξ, σ)
+2(1 + |ξ| ) 2 ϕû(ξ, σ) dσ
a dσ
Integrando sobre RN e lembrando que r < (m + r)/2 < m teremos que

Z t
2
ku(·, a)k m+r ≤ C ku(·, σ)k2H m (RN ) dσ
H 2 (RN ) 0
Z t
+C ku(·, σ)kH m(RN ) kuσ (·, σ)kH r (RN ) dσ
0
Z tn o
≤ C ku(·, σ)k2H m (RN ) + kuσ (·, σ)k2H r (RN ) dσ
n0 o
≤ C kuk2L2(0,∞;H m (RN )) + kut k2L2 (0,∞;H r (RN ))

Da arbitrariedade de a segue que


n o
kuk2 ∞ m+r
N
≤ C kuk 2
2 m N
L (0,∞;H (R )) + ku t k 2
2 r N
L (0,∞;H (R ))
L (0,∞;H 2 (R ))
188 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

O resultado segue por densidade.

Utilizando a desigualdade de Hölder obtemos o seguinte resultado de inter-


polação.
Corolário 7.3.3 Seja f uma função satisfazendo:
f ∈ Lp (a, b; H s(RN )) ∩ Lq (a, b; H r (RN ))
Então teremos que
f ∈ Ll (a, b; H σ (RN ))
onde
1 θ 1−θ
= + , σ = θs + (1 − θ)r, ∀θ ∈ [0, 1]
l p q
e ainda que

(Z )1/l (Z ) θp (Z ) 1−θ
b b b q

kuklH σ (RN ) dτ ≤ kukpH s (RN ) dτ kukqH r (RN ) dτ


a a a

Note que para σ = θs + (1 − θ)r temos


Z
kukH σ (RN ) = (1 + kξk2 )σ kûk2 dξ
RN
Z
= (1 + kξk2 )θs+(1−θ)r kûk2 dξ
RN
Z
 θ  1−θ
= (1 + kξk2 )s kûk2 (1 + kξk2 )s kûk2 dξ
RN
Z θ Z 1−θ
2 s 2 2 s 2
= (1 + kξk ) kûk dξ (1 + kξk ) kûk dξ dξ
RN RN

De onde segue que


kukH σ (RN ) ≤ kukθH s (RN ) kuk1−θ
H r (RN )

Finalmente, aplicando a desigualdade de Hölder teremos

Z b Z b
l(1−θ)
kuklH σ (RN ) dτ ≤ kuklθ
H s (RN ) kukH r (RN ) dτ
a a
(Z ) θlp (Z ) (1−θ)l
b b q

≤ kukpH s (RN ) dτ kukqH r (RN ) dτ


a a

De onde segue o resultado.


7.4. Um caso simple em W m,p (Ω) 189

7.4 Um caso simple em W m,p (Ω)


Estudaremos uma versão simples do Teorema de traço nos espaços W 1,p . Este
se resumirá no seguinte teorema.
Teorema 7.4.1 Seja Ω = RN + , então existe uma constante positiva tal que
Z  p1
0 p 0
|u(x , 0)| dx ≤ CkukW 1,p (Ω) ∀u ∈ C01 (RN )
RN−1

Demonstração.- Tomemos uma função u ∈ C01 (RN ) e definamos g(t) =


|t|p−1 t. Nestas condições teremos:
Z +∞ Z +∞
0 ∂g(u(x0 , xN )) ∂u(x0 , xN )
g(u(x , 0)) = − dxN = − g0 (u(x0 , xN )) dxN .
0 ∂xN 0 ∂xN
Aplicando a desigualdade de Hölder obtemos
Z +∞
0 p 0
0
p−1 ∂u(x , xN )
|u(x , 0)| ≤ p |u(x , xN )| ∂xN dxN
0
Z +∞ 
∂u(x0 , xN ) p
≤ C 0 p
|u(x , xN )| + dxN .
∂xN
0

Integrando sobre a variável x0 segue o resultado

7.5 Espaços intermediarios


Nesta seção introduzimos os espaços fracionarios, que serão utilizados na demon-
stração do Teorema do Traço. O método de construção que utilizaremos é
chamado de Interpolação Real. Denotemos por B1 e B2 dois espaços de Ba-
nach, contidos num espaço X. Denotemos por S o espaço soma de B1 e B2
isto é:
S = B1 + B2 .
Note que S é um espaço completo, se munido da norma:
kukS = inf {ka1 kB1 + ka2 kB2 ; b1 + b2 = u, b1 ∈ B1 , b2 ∈ B2 } .
Fixados os espaços de Banach B1 e B2 denotemos por
W p,ν = {f : [0, ∞[→ B1 ; tν f ∈ Lp (0, ∞; B1), tν f 0 ∈ Lp (0, ∞; B2 )} .
Este espaço é um espaço de Banach quando munido da norma

kukW p,ν = max ktν fkLp (0,∞;B1 ) , ktν f 0 kLp (0,∞;B2 )
O seguinte Lema nos fornece os valores que deve tomar ν para que as funções
do espaço W p,ν possuam traço em t = 0.
190 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

1
Lema 7.5.1 Denotemos por θ = p + ν. Se 0 < θ < 1, então teremos que para
todo f ∈ W p,ν existe o limite
lim f(t) = b, em S
t→0

Demonstração.- Se f é uma função de W p,ν , ela satisfaz


f ∈ L1loc (0, ∞; B1), f 0 ∈ L1loc (0, ∞; B2)
Portanto ela será uma funcão contı́nua a valores em S para todo valor de t > 0.
Mais ainda podemos escrever
Z t
f(t) = b + f 0 (τ ) dτ, ∀t ∈]0, ∞[ (7.1)
1

Para mostrar o Lema, devemos verificar que f é limitado numa vizinhança de


t = 0. Note que isto não é imediato porque o peso tν definido na norma de
W p,ν , pode criar singularidades em f no ponto t = 0. Mostraremos que isto
não pode acontecer. É simples verificar que
Z t
f(t) − f(s) = f 0 (τ ) dτ (7.2)
s

Note que
Z t Z t
k f 0 (τ ) dτ kB2 ≤ kf 0 (τ )kB2 dτ
s s
Z t
= τ ν kf 0 (τ )kB2 τ −ν dτ
s
Z t  1p Z t  p−1
p
νp
≤ kτ fν 0
(τ )kpB2 dτ τ − p−1

s s
≤ ckτ ν f 0 kpLp (0,∞;B2 )

Onde temos usado a hipótese


1 νp
+ν < 1 ⇒ <1
p p−1
que implica que a integral
Z t
νp
τ − p−1 dτ < ∞.
s

Portanto a integral é limitada numa vizinhança de t = 0, logo o segundo mem-


bro da identidade (7.2) é limitada quando s < t → 0. Portanto tomando limite
quando t → 0 em (7.1) segue a nossa conclusão.
7.5. Espaços intermediarios 191

O Lema anterior nos permite introduzir um novo espaço. Um espaço de


traços, que o denotaremos por T ν,p e o definiremos como

T ν,p = {f(0); f ∈ W ν,p } .


É simples verificar que este espaço munido da norma

kukT ν,p = inf {kfkW ν,p ; u = f(0), f ∈ W ν,p }

é um espaço completo.
De forma análoga a feita no capı́tulo anterior podemos mostrar que as
funções infinitamente diferenciaveis são densas em W ν,p . Isto está resumido no
seguinte Lema.

Lema 7.5.2 O conjunto


n o
C ∞ ([0, ∞[; B1) = ϕ : [0, ∞[→ B1 ; ϕ(m) ∈ C([0, ∞[; B1), ∀m ∈ N

é denso em W ν,p .

Os espaços T ν,p definidos acima são espaços intermediarios entre B2 e B1 .


Isto pode ser apreciado no seguinte Lema.

Lema 7.5.3 Seja θ = p1 + ν satisfazendo 0 < θ < 1. Nestas condições teremos


que
n o
(i) kukT ν,p = inf ktν fk1−θ ν 0 θ
Lp (0,∞;B1 ) kt f kLp (0,∞;B2 ) ; u = f(0), f ∈ W
ν,p

(ii)Se u ∈ B1 ∩ B2 então existe K > 0 tal que

kukT ν,p ≤ Kkuk1−θ θ


B1 kukB2 .

Demonstração.- Seja u ∈ T ν,p , então dado  > 0 existe f ∈ W p,ν tal que

kfkW ν,p ≤ kukT ν,p + .

Denotemos por fλ (t) = f(λt). É simples verificar que

fλ ∈ W ν,p , fλ (0) = u.

Da desigualdade anterior teremos que

kfkW ν,p ≤ kukT ν,p +  ≤ inf {kfλ kW ν,p ; λ > 0} + . (7.3)


192 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

A seguir estimaremos o valor de inf {kfλ kW ν,p ; λ > 0}. Note que
Z ∞
ν
kt fλ kLp (0,∞;B1 )p = τ νp kfλ (τ )kB1 dτ
0
Z ∞
= τ νp kf(|{z}
λτ )kB1 dτ
0

Z ∞
= λ−1−νp σ νp kf(σ)kB1 dσ
0
= λ−1−νpkσ fkLp (0,∞;B1 )p
ν

De onde segue que

ktν fλ kLp(0,∞;B1 ) = λ−θ kσ ν fkLp (0,∞;B1 ) .


De forma análoga teremos que

ktν fλ0 kLp (0,∞;B2 ) = λ1−θ kσ ν fkLp (0,∞;B2 )

Assim da relação (7.3) teremos que

kfkW ν,p ≤ kukT ν,p +  ≤ inf {kfλ kW ν,p ; λ > 0} + 


 
≤ inf max λ−θ kτ ν fkLp (0,∞;B1 ) , λ1−θ kτ ν f 0 kLp (0,∞;B2 ) + .
λ>0

Tomando
kτ ν fkLp (0,∞;B1 )
λ=
kτ ν f 0 kLp (0,∞;B2 )
obtemos que

max λ−θ kτ ν fkLp (0,∞;B1 ) , λ1−θ kτ ν f 0 kLp (0,∞;B2 )
= kτ ν fk1−θ ν 0 θ
Lp (0,∞;B1 ) kτ f kLp (0,∞;B2 )

Note que

kτ ν fk1−θ ν 0 θ
Lp (0,∞;B1 ) kτ f kLp (0,∞;B2 ) ≤ kfkW
ν,p

De onde segue que

kfkW ν,p ≤ kukT ν,p +  ≤ inf {kfλ kW ν,p ; λ > 0} + 


≤ kτ ν fk1−θ ν 0 θ
Lp (0,∞;B1 ) kτ f kLp(0,∞;B2 ) + .
≤ kfkW ν,p + .
7.5. Espaços intermediarios 193

Pela arbitrariedade de  segue a primeira parte deste Lema. Para mostrar a


segunda parte tomemos u ∈ B1 ∩ B2 e seja ϕ ∈ C 1 ([0, ∞[) uma função tal que
ϕ(0) = 1, ϕ(t) = 0 para t ≥ 1. Aplicando a parte (i) a funçâo f(t) = ϕ(t)u
segue o resultado. O que completa a demonstração.
Uma outra propriedade importante é que os espaços T ν,p são espaços re-
flexivos para 1 < p < ∞ e ainda verifica que
0
[T ν,p (B1 , B2 )]∗ = T −ν,p (B2∗ , B1∗ )

Para a demonstração veja [22].


No seguinte teorema mostramos através de um exemplo, como os espaços
T ν,p se realizam como espaços de interpolação. Este resultado também será
importante para obter resultados de imersões dos espaços W s,p(Ω) sobre os
espaços Lr (Ω).

1
Teorema 7.5.1 Denotemos por θ = p
+ν, e suponhamos que p, q, θ satisfazem

1 ≤ p ≤ q ≤ ∞, 0<θ<1

Então teremos que


T ν,p (Lq (Ω), Lp (Ω)) ⊂ Lr (Ω)
onde
1 1−θ θ
= +
r q p

Demonstração.- Tomemos um elemento f ∈ W ν,p . Utilizando argumentos


de densidade podemos supor que f ∈ C ∞ ([0, ∞[; Lq(Ω)), assim teremos
Z t
f(x, 0) = f(x, t) − f 0 (x, τ ) dτ
0

de onde segue que:


Z 1 Z 1
|f(x, 0)| ≤ |f(x, t)| dt + |f 0 (x, t)| dt
0 0
"Z  1p Z  p1 # Z 1− p1
1 1 1 pν
νp p 0 p − p−1
≤ τ |f(x, t)| dt + |f (x, t)| dt t dt
0 0 0
"Z  p1 Z  1p #
1 1
νp p 0 p
≤ C τ |f(x, t)| dt + |f (x, t)| dt .
0 0

A última desigualdade é verdadera pelas hipóteses sobre θ. Denotemos por


fλ (t) = f(λt). Substituindo fλ por f na desigualdade acima obtemos
194 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

"Z  p1 Z  p1 #
1 1
νp p νp
|f(x, 0)| ≤ C τ |fλ (x, τ )| dτ + τ |fλ0 (x, τ )|p dτ
0 0

ou equivalentemente

"Z  p1 Z  p1 #
1 1
|f(x, 0)| ≤ C τ νp |f(x, λτ )|p dτ + τ νp|f 0 (x, λτ )|p dτ
0 0

Aplicando a mudaça de Variaveis σ = λt teremos que

" Z  p1 Z  p1 #
1 1
−θ νp p 1−θ νp 0 p
|f(x, 0)| ≤ C λ σ |f(x, σ)| dσ +λ σ |f (x, σ)| dt
0 0

Tomando nR o p1
1
0 σ νp |f(x, σ)|p dσ
λ= n o p1
R 1
0
σ νp |f 0 (x, σ)|p dt
Obtemos que

Z 1  pθ Z 1  (1−θ)
p
νp p νp 0 p
|f(x, 0)| ≤ 2C σ |f(x, σ)| dσ σ |f (x, σ)| dt .
0 0

De onde segue que


Z 1  rθ
p
Z 1  r(1−θ)
p
r νp p νp 0 p
|f(x, 0)| ≤ 2C σ |f(x, σ)| dσ σ |f (x, σ)| dt
0 0

Integrando sobre Ω teremos que


Z
|f(x, 0)|r dx

Z Z 1  rθ
p
Z 1  r(1−θ)
p

≤ 2C σ νp |f(x, σ)|p dσ σ νp|f 0 (x, σ)|p dt dx


Ω 0 0

Aplicando a desigualdade de Hölder teremos que


Z
|f(x, 0)|r dx ≤

7.5. Espaços intermediarios 195

  10   s1
Z Z ∞  s0pθr s Z Z ∞  s(1−θ)r
p
K tνp|f 0 (t)|p dt dx  tνp |f(t)|p dt dx
Ω 0 Ω 0

Tomando s tal que


(1 − θ)sr = q
teremos da definição de r que
 
1 (1 − θ)r 1 1 θ θr
= ⇒ 1− = − r =1− ⇒ θrs0 = p.
s q s0 r p p

De onde segue que

Z
|f(x, 0)|r dx

Z Z ∞  10 Z Z ∞  qp ! 1s
s
≤K tνp |f 0 (t)|p dtdx tνp |f(t)|p dt
Ω 0 Ω 0

Como
1 θr
0
= .
s p
Portanto teremos que

kf(·, 0)kLr (Ω) ≤ Kkτ ν f 0 kθLp (0,∞;Lp (Ω)) kτ νpfk1−θ


Lp (0,∞;Lq (Ω))

De onde segue o resultado


O seguinte Lema será útil para caraterizar os espaços de traço T ν,p

Lema 7.5.4 Seja f uma função integrável definida quase sempre sobre [0, ∞[.
Denotemos por g a função
Z
1 t
g(t) = f(ξ) dξ.
t 0
1
Então para 1 ≤ p < ∞ e θ = p + ν < 1 é válido
Z ∞ Z ∞
νp p 1
t |g(t)| dt ≤ tνp |f(t)|p dt
0 (1 − θ)p 0

Demonstração.- Fazendo a mudança de variável

t = eτ ; f(eτ ) = f˜(τ ) ξ = eσ , g(eτ ) = g̃(τ )


196 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

é equivalente mostrar
Z ∞ Z ∞
1 ˜ )|p dτ
eνpτ |g̃(τ )p eτ dτ ≤ tνp |f(τ
−∞ (1 − θ)p −∞

onde
Z eτ
g̃(τ ) = e−τ f(ξ) dξ
0
Z τ
= e−τ f˜(σ)eσ dσ.
0

Denotemos por

e(θ−1)τ t>0
E(τ ) = eθτ , F (τ ) =
0 t < 0.

Note que
Z τ
E.g̃(τ ) = eθτ e−τ f˜(σ)eσ dσ
−∞
Z τ
= ˜
f(σ)e (θ−1)τ+σ

−∞
Z τ
= e(θ−1)(τ−σ) f˜(σ)eθσ dσ
−∞
= F ∗ E f˜(τ )

Da desigualdade de Young teremos


Z ∞  Z ∞ 
kE · g̃kLp ≤ F (t) dt ˜ p
|E f | dt
−∞ −∞
Z ∞
1 ˜ p dt
= |E f|
1 − θ −∞
De onde segue a demonstração
A seguir vamos caraterizar os espaços T ν,p. Por simplicidade tomaremos
B1 = W 1,p(R) e B2 = Lp (R). Um procedimento análogo é feito para o caso do
RN . Denotemos por T o espaço
 Z ∞ 
p (ν−1)p p
T = v ∈ L (R); t kTt v − vkLp (R) dt < ∞
0

onde por Tt v estamos denotando o operador traslação dado por

Tt v(x) = v(x + t)
7.5. Espaços intermediarios 197

O espaço T munido da norma


Z ∞
kwkpT = kvkpLp (R) + t(ν−1)pkTt v − vkpLp (R) dt
0

é um espaço de Banach.

Observação 7.5.1 O espaço T é um espaço intermediario entre W 1,p(R) e


Lp (R). Isto é
W 1,p (R) ⊂ T ⊂ Lp (R).
De fato, Pela definição a segunda inclusão acima é imediata. Mostraremos a
primeira. Para isto tomemos w ∈ W 1,p(R), pela Proposição 5.1.2 teremos que
∂v p
kTt v − vkpLp (R) ≤ k k p tp
∂x L (R)
De onde segue que
Z 1 Z ∞
kvkpT = kvkpLp (R) + t (ν−1)p
kTt v − vkpLp (R) dt + t(ν−1)pkTt v − vkpLp (R) dt
0 1
Z 1 Z ∞
∂v
≤ kvkpLp (R) + k kpLp (R) t(ν)p dt + 2 t(ν−1)p dtkvkpLp (R)
∂x 0 1
≤ CkvkpW 1,p (R)

De onde segue que v ∈ T .

Fixemos agora os espaços B1 = W 1,p(R) e B2 = Lp (R). Portanto de aqui em


diante por T ν,p estaremos denotando ao espaço

T ν,p = T ν,p (W 1,p (R), Lp (R))

Nosso seguinte objetivo será mostrar que no caso acima T = T ν,p . Este fato
munido da observação anterior nos diz que o espaço T ν,p é um espaço inter-
mediario entre W 1,p(R) e Lp (R). Esta propriedade nos abre as portas para a
definição dos espaços fracionarios. Resumimos isto no seguinte teorema
1
Teorema 7.5.2 Seja 0 < ν + p
< 1. Então é válida a identidade:

T = T ν,p

e ainda as correspondentes normas são equivalentes.


Demonstração.- Seja u ∈ T ν,p . Mostraremos que u ∈ T . De fato, denotemos
por f ∈ W ν,p uma função tal que

f(0) = u
198 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

é simples verificar que


Z t

f(x, t) = f(x + t, 0) + {f(x + t − τ, τ )} dτ
0 ∂τ
Z t Z t
∂ ∂
= f(x + t, 0) − f(x + t − τ, τ ) dτ + f(x + t − τ, τ ) dτ
0 ∂x 0 ∂τ
Z t
= f(x + t, 0) − h(x + t − τ, τ ) dτ
0

onde
∂ ∂
h(x, t) = − f(x, t) + f(x, t)
∂x ∂t
De onde segue que
Z t
f(x + t, 0) − f(x, t) = − h(x + t − τ, τ ) dτ
0
Z t Z t
∂f
f(x + t, 0) − f(x, 0) = dτ − h(x + t − τ, τ ) dτ.
0 ∂τ 0

Dividindo por t e tomando norma em Lp (R) teremos


Z Z
Tt u − u 1 t 0 1 t
k kLp (R) ≤ kf (·, τ )kLp(R) dτ + kTt−h h(·, τ )kLp(R) dτ
t t 0 t 0
Z Z
1 t 0 1 t
≤ kf (·, τ )kLp(R) dτ + kh(·, τ )kLp(R) dτ.
t 0 t 0

Elevando a potência p a desigualdade acima, multiplicando por tνp e integrando


sobre [0, ∞[, teremos

Z ∞ Z  Z t
∞ p
1
t(ν−1)pkTt u − ukpLp (R) ≤ 2p tνp
kf 0 (·, τ )kLp(R) dτ
0 0 t 0
Z ∞  Z t p
1
+2p tνp kh(·, τ )kLp(R) dτ
0 t 0

Aplicando o Lema 7.5.4 teremos que

Z ∞ Z ∞
2p
t (ν−1)p
kTt u − ukpLp(R) ≤ tνpkf 0 (·, τ )kpLp(R) dτ
0 (1 − θ)p 0
Z ∞
2p
+ tνp kh(·, τ )kpLp(R) dτ
(1 − θ)p 0
7.5. Espaços intermediarios 199

Lembrando que h(x, t) = − ∂f


∂x (x, t) +
∂f
∂x (x, t) obtemos

Z ∞ Z ∞
2p+1
t(ν−1)pkTt u − ukpLp (R) ≤ tνp kf 0 (·, τ )kpLp(R) dτ
0 (1 − θ)p 0
Z ∞
2p ∂f
+ p
tνp k (·, τ )kpLp(R) dτ
(1 − θ) 0 ∂x
2p+1
≤ kfkpW ν,p
(1 − θ)p

Tomando o infimo obtemos


Z ∞
2p+1
t(ν−1)pkTt u − ukpLp(R) ≤ kukpT ν,p
0 (1 − θ)p

De onde segue que kukT < ∞ e portanto u ∈ T . Recı́procamente, suponhamos


que u ∈ T , tomemos ϕ ∈ C ∞([0, ∞[) satisfazendo ϕ(0) = 1, ϕ(t) = 0 para
t > 1, e denotemos por
f(t) = ϕ(t)g(t)
onde Z t
1
g(x, t) = u(x + τ ) dτ
t 0
Note que
Z t
∂ 1 ∂
g(x, t) = u(x + τ ) dτ
∂x t ∂x 0
Z
1 t ∂
= u(x + τ ) dτ
t 0 ∂x
Z t
1 ∂
= u(x + τ ) dτ
t 0 ∂τ
1
= {u(x + t) − u(x)}
t
De onde segue que

Z 1 Z 1  p

t νp
kg(·, t)kpW 1,p(R) dt = t νp
kg(·, t)kLp(R) + k g(·, t)kLp (R) dt
0 0 ∂x

lembrando a definição de g obtemos


Z 1 Z 1 Z 1
p p
νp
t kg(·, t)kW 1,p (R) dt ≤ 2 p νp
t dtkukLp(R) +2 p
t(ν−1)pkTt u−ukpLp (R) dt
0 0 0
200 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

De onde obtemos que


Z 1
tνp kg(·, t)kpW 1,p (R) dt ≤ CkukpT
0

Finalmente, estimemos a norma de g0 em Lp . Note primeiro que


Z
0 1 t 1
g (x, t) = − 2 u(x + τ ) dτ + u(x + t)
t 0 t
Z t
1 1
= − 2 {u(x + τ ) − u(x)} dτ + {u(x + t) − u(x)}
t t
| 0 {z } | {z }
:=I1 :=I2

Pela definição da norma em T temos que o termo I1 pode ser estimado da


seguinte forma

Z 1 Z 1
Tt u − u p
tνp k kLp (R) dt ≤ t(ν−1)pkTt u − ukpLp (R) dt
0 t 0
= kukpT

Para estimar I2 utilizamos o Lema 7.5.4, assim teremos que


Z 1 Z t Z ∞
1 1
νp
t k p Tτ u − u dτ kpLp (R) dt ≤ t(ν−1)pkTt u − ukLp (R) dt
0 t 0 (2 − θ)p 0
= kukpT .

De onde segue que


Z 1
tνp kg0 (·, τ )kpLp(R) dτ ≤ kukpT
0

Tomando infimo teremos que

kukpT ν,p ≤ CkukpT

De onde segue o resultado

Observação 7.5.2 O resultado anterior pode ser estendido de forma simple


para o caso n-dimensional. Neste caso o espaço T estará definido da seguinte
forma
( n Z ∞
)
X p
p N (ν−1)p i
T = u ∈ L (R ); t kTt u − ukLp(RN ) dt < ∞
i=1 0
7.6. Os espaços W s,p 201

onde
Tti u(x) = u(x1 , · · · , xi−1 , xi + t, xi+1 , · · · , xn )
Assim como no caso unidimensional, o espaço T munido da norma
n Z
X ∞
kukpT = kukpLp (RN ) + t(ν−1)p kTti u − ukpLp(RN ) dt
i=1 0

é um espaço de Banach. Usando os mesmos argumentos que no Teorema an-


terior podemos mostrar que

T = T ν,p (W 1,p (RN ), Lp (RN ))

O que implica que os espaços T ν,p são espaços intermediarios entre W 1,p (RN )
e Lp (RN ) esto é
W 1,p (RN ) ⊂ T ν,p ⊂ Lp (RN ).

Agora estamos em condições de definir os espaços W s,p (RN ) para s um número


real. Isto será realizado na seguinte seção.

7.6 Os espaços W s,p


Nesta seção utilizaremos os conceitos de espaços intermediarios discutidos na
seção anterior para introduzir os espaços fracionarios de Sobolev, isto é W s,p (RN )
quando s ∈ R.

Definição 7.6.1 Seja s um número real. Denotaremos por W s,p (RN ) ao


espaço
W s,p (RN ) = W m,p (RN ), se m=s∈N
Se s = m + σ onde 0 < σ < 1, então teremos
n 1
o
W s,p (RN ) = u ∈ W m,p (RN ); Dα u ∈ T 1−σ− p ,p , |α| = m

O espaço W s,p (RN ) munido da norma


X
kukpW s,p = kukpW m,p + kDα uk 1−σ− 1 ,p
p
T
|α|=m

é um espaço de Banach.
1
Pode-se mostrar que o espaço T 1−σ− p ,p é um espaço reflexivo para 1 < p <
∞. Portanto utilizando o isomorfismo

P u = (u, (Dα u)|α|=m )


202 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

entre os espaços
Y 1
W s,p (RN ) → W m,p (RN ) × T 1−σ− p ,p
|α|=m

Segue que os espaços fracionarios W s,p (RN ) são também reflexivos para todo
s ∈ R+ . Para s < 0, definimos W s,p(RN ) como sendo o dual topológigo do
espaço W −s,p(RN ). Finalmente, podemos afirmar que para todo s ∈ R os
espaços W s,p (RN ) são reflexivos.

7.7 Teorema do traço


Nesta seção mostraremos o Teorema do Traço para funções em W m,p (RN ).
Para isto introduziremos os espaços intermediarios de ordem superior. De-
notaremos por
(0)
1−σ− p1 ,p
T=T

Note que

( n Z
)
(0) X ∞
p N (ν−1)p
T = w ∈ L (R ); t kTti w − wkLp(RN ) dt < ∞
i=1 0
 
 n Z
X X ∞ 
(k)
T = w ∈ W k,p (RN ); t(ν−1)pkTti Dα w − Dα wkLp (RN ) dt < ∞
 0 
|α|=k i=1

Finalmente, denotaremos por


(k) n o
p N ν (i) p m−i,p
W = f : [0, ∞[→ L (R ); t f ∈ L (0, ∞; W (RN )), i = 1, ·, k

Este espaço munido da norma

kfk(k) = max ktν f (k) kLp (0,∞;W m−k,p (RN ))


W 0≤k≤m

é um espaço de Banach. Nesta condições teremos

Teorema 7.7.1 Sobre as condições anteriores existe uma constante C > 0 tal
que
m−1
X
kf (k) (·, 0)k (m−k−1) ≤ Ckfk(m)
T W
k=0
7.7. Teorema do traço 203

(m)
Demonstração.- Tomemos f ∈ W e |α| < m − k − 1, então teremos que

tν Dα f (k) ∈ Lp (0, ∞; W 1,p(RN ); tν Dα f (k+1) ∈ Lp (0, ∞; Lp(RN );

de onde segue que


Dα f (k) (·, 0) ∈ T ν,p .
Portanto aplicando a definição de norma teremos que

kDα f (k) (·, 0)kT ν,p ≤ Ckfk(m)


W

De onde concluimos que


(m−k−1)
f (k) (·, 0) ∈ T
e ainda verificamos que

kf (k) (·, 0)| (m−k−1) ≤ Ckfk(m)


T W

De onde segue que


m−1
X
kf (k) (·, 0)| (m−k−1) ≤ mCkfk(m)
T W
k=0

De onde segue o resultado


Nosso seguinte objetivo é aplicar o Teorema anterior para funções W m,p (Ω)
Isto será feito como no caso dos espaços de Hilbert H m (Ω). Isto é, primeiro
no caso Ω = Rn+1 + e depois extenderemos o resultado para o caso de dominios
regulares de classe C m utilizando para isto as cartas locais. Observe primeiro
que no caso em que ν = 0, é simples verificar que
(m) n o
W m,p (Rn+1 p N
+ ) = W = f : [0, ∞[→ L (R ); f
(k)
∈ Lp (0, ∞; W m−k,p(RN )) k = 0, · · · , m .

Por outro lado, note que da definição dos espaços fracionarios teremos que

( n Z
)
X ∞
T 0,p
= p
w ∈ L (R );N
t −p
kTt w − wkpLp (RN ) dt < ∞
i=1 0

= W σ,p (RN )

ν + 1p de onde segue que σ = 1 − 1p . Portanto é válida a


Onde 1 − σ = |{z}
=0
identidade
204 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

1
T 0,p = W 1− p ,p (RN )
De forma análoga e lembrando a definição de W s,p (RN ) teremos

 
(k)  n
X Z ∞ 
T = w ∈ W k,p (RN ); t−p kTt Dα w − Dα wkLp(RN ) dt < ∞
 0 
i=1,|α|≤k

= W k+σ,p (RN ).

Lembrando que 1 − σ = p1 , teremos que σ = 1 − 1p . Assim obtemos que


(k) 1
k+1− p ,p
T=W (RN )
Utilizando o Teorema 7.7.1 obtemos que
m−1
X
kw (k)(·, 0)k m−k− 1 ,p ≤ CkwkW m,p (Rn+1 ) (7.4)
W p (RN ) +
k=0

Portanto temos mostrado o teorema:

Teorema 7.7.2 Seja γ a aplicação


m−1
Y
γ : D(Rn+1
+ ) → D(RN )
k=0

definida como
γ(ϕ) = (ϕ(·, 0), ϕ0(·, 0), · · · , ϕ(m−1) (·, 0))
Pode ser estendida continuinamente aos espaços
m−1
Y 1
γ : W m,p (Rn+1
+ ) → W m−k− p ,p (RN )
k=0

Isto é, existe uma constante C > 0 que verifica a desigualdade (7.4) para toda
função em W m,p (RN+)

7.8 Espaços W s,p (Γ)


Denotando por Γ a fronteira de Ω, utilizando as cartas locais podemos definir
os espaços W s,p(Γ) para s < m da seguinte forma: Sejam (hi , Vi ), i = 1, · · · , ν
a famı́lia de cartas locais de Γ, e denotemos por αi a partição da unidade
7.8. Espaços W s,p (Γ) 205

associada a Vi ∩ Γ (Ver Definição 5.5.2). Toda função sobre Γ pode ser escrita
como

u= (αi u)
i=1

Note que a função h v(x) = v(h(x)) está definida sobre o quadrado Q e para
valores em Γ, h∗j v = v(h(x)) toma valores sobre Q0 . Assim teremos que a
função h∗j (αj u) está definida sobre Rn−1 se a tomamos como sendo 0 fora de
Q0 , isto é

v(hj (x)) se x ∈ Q0
h∗j v(x) =
0 se x 6∈ Q0

Agora definimos o espaço W s,p (Γ)



W s,p(Γ) = u ; h∗j (αj u) ∈ W s,p (Rn−1 ), ∀j = 1 · · · , ν

Munindo ao espaço acima a norma do grafo, isto é


ν
X
kukW s,p (Γ)) = kh∗j (αj u)kW s,p (Rn−1 )
j=1

O espaço W s,p (Γ) é um espaço de Banach.


Com estas definições a versão do teorema do Traço para conjuntos abertos
de fronteira limitada é conseqüencia imediata do Teorema de traço para funções
em W m,p (RN + ) que estudamos na seção anterior.
Seja Ω um aberto de classe C m . Definimos como W s,p(Ω) o espaço:

W s,p (Ω) = w|Ω ; w ∈ W s,p (RN )

Este espaço munido da norma



kwkW s,p (Ω) = inf kwkW s,p (RN ) ; v ∈ W s,p (RN ), v = w em Ω

É um espaço de Banach.
A seguir deixamos aos cuidados do leitor a demonstração dos seguintes
teoremas:

Teorema 7.8.1 C0∞(RN ) é denso em W s,p(RN )

Teorema 7.8.2 Seja s = m + σ com m inteiro e 0 < σ < 1. Seja Ω de classe


C m+1 , então D(Ω) é denso em W s,p(Ω).
206 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

7.9 Teorema do traço em W m,p (Ω)


Nesta seção utilizaremos as mesmas notações que na seção anterior. Isto é,
suporemos que Ω é de classe C m , assim teremos

Teorema 7.9.1 Seja γ a aplicação


m−1
Y
γ : D(Ω) → D(Ω)
k=0

definida como
∂ϕ ∂ (m−1) ϕ
γ(ϕ) = (γ0 (ϕ), γ1 (ϕ), · · · , γm−1 ϕ) = (ϕ|Ω , , · · · , (m−1) ).
∂ν |Ω ∂ν |Ω

Então γ pode ser estendida continuamente aos espaços


m−1
Y 1
γ : W m,p (Ω) → W m−k− p ,p (Γ)
k=0
Isto é, existe uma constante C > 0 que verifica a desigualdade
m−1
X
kγk (w)k m−k− 1 ,p
p
≤ CkwkW m,p (Ω)
W (Γ)
k=0
para toda função em W m,p (Ω)

Demonstração.- Seja α a partição da unidade de Ω associada a Vj então


teremos que
h∗j (αu) ∈ W s,p(RN
+)
Aplicando a Teorema 7.7.2 teremos que
∂ ∗
k h (αu)(x0 , 0)k m−k− p1 ,p ≤ ckh∗j (αu)kW m (Q+ )
∂xn j W (Γ)
≤ ckukW m (Ω)
De onde segue o resultado.

Como uma aplicação do Teorema do Traço temos o seguinte resultado

Corolário 7.9.1 Seja f uma função satisfazendo:


f ∈ Lp (0, ∞; W 1,p(RN )), f 0 ∈ Lp (0, ∞; Lp(RN ))
Então teremos que
1 1
f ∈ C(0, ∞; W 1− p ,p (RN )) ∩ L∞ (0, ∞; W 1− p ,p (RN ))
7.9. Teorema do traço em W m,p (Ω) 207

Demonstração.- Do Teorema de Fubini e a definição dos espaços W s,p (RN )


segue que

W 1,p(Rn+1 p
+ ) = f; f ∈ L (0, ∞; W
1,p
(RN )), f 0 ∈ Lp (0, ∞; Lp(RN ))
Do Teorema do Traço segue que

n o
kf(0)kp 1− 1 ,p
≤ c kfkpLp (0,∞;W 1,p (RN )) + kf 0 k2Lp (0,∞;Lp (RN ))
W p (RN )

Usando traslações podemos obter que

n o
kf(s)kp 1− 1 ,p
≤ c kfkpLp (0,∞;W 1,p (RN )) + kf 0 k2Lp (0,∞;Lp (RN )) , ∀s > 0.
W p (RN )

Da densidade das funções D(Rn+1+ ) podemos aproximar f por uma seqüência


1
de funções contı́nuas convergindo forte na norma de L∞ (0, ∞; W 1− p ,p (RN )),
de onde segue nossa conclusão.
Utilizando a desigualdade de Hölder obtemos o seguinte resultado de inter-
polação.

Corolário 7.9.2 Seja f uma função satisfazendo:


f ∈ Lr (a, b; W 1,p(RN )) ∩ Ls (a, b; Lp(RN ))
Então teremos que
f ∈ Ll (a, b; W θ,p(RN ))
onde
1 θ 1−θ
= + , ∀θ ∈]0, 1[
l r s
e ainda que

(Z )1/l (Z ) θr (Z ) 1−θ
b b b s

kfklW θ,r (RN ) dτ ≤C kfkrW 1,p (RN ) dτ kfksLp (RN ) dτ


a a a

Notemos que pela definição dos espaços fracionarios teremos que


n 1
o
W θ,p (RN ) = u ∈ Lp (RN ); u ∈ T 1−θ− p ,p (W 1,p (RN ), Lp (RN ))

onde ν = 1 − θ − p1 . Do Lema 7.5.3 temos que


1− 1 −ν
p
1

kfk 1−θ− 1 ,p
p
≤ ckfkW 1,p (RN )
kfkLp p (RN )
T
= ckfkθW 1,p (RN ) kfk1−θ
Lp (RN )
208 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

De onde obtemos

kfk 1−θ− 1 ,p
p
≤ ckfkθW 1,p (RN ) kfk1−θ
Lp (RN )
.
T
Finalmente, aplicando a desigualdade de Hölder teremos

Z b Z b
l(1−θ)
kfklW θ,p dτ ≤ kfklθ
W 1,p (RN ) kfkLp (RN ) dτ
a a
(Z ) θlr (Z ) (1−θ)l
s
b b
≤ kfkrW 1,p (RN ) dτ kfksLp (RN ) dτ
a a

De onde segue o resultado.

7.10 Exercı́cios
1. Mostre que a norma kukH s (Ω) satisfaz a lei do paralelogramo, portanto
faz de H s (Ω) um espaço de Hilbert.
2. Qual é o mı́nimo valor de s ∈ R para que uma função em W s,p(Ω), tenha
bem definido seu traço. Justifique sua resposta
3. Considere o problema de Dirichlet
−∆u = 0 em Ω
u=g em Γ = ∂Ω
Qual é o maior espaço que deve ser tomado g para que o problema tenha
uma solução em H m (Ω). Justifique sua resposta.
4. Mostre que se Ω é um aberto limitado de classe C 3 então a aplicação
traço está bem definida nos seguintes espaços:
1 1
γ : W 2,p (Ω) → W 2− p ,p (∂Ω) × W 1− p ,p (∂Ω)
∂f
f 7→ (f|∂Ω , )
∂ν |∂Ω
5. Seja Ω de classe C m+1 , mostre que a aplicação
m−1
Y 1
γ : H m (Ω) → H m−k− 2 (∂Ω)
k=0

f 7→ f|∂Ω
é linear e contı́nua.
7.10. Exercı́cios 209

6. Seja Ω um hipercubo do RN , mostre que


kukLp(Ω) ≤ Ckuk1−α α
Lq (Ω) kukW 1,r (Ω)

onde 1 ≤ q ≤ p, r ≥ n e α é dado por


1 1
q − p
α= 1 1 1
q
+ n
− r

7. Mostre que se f ∈ Lp (a, b; Lq (Ω)) e f 0 ∈ Lp (a, b; Lq (Ω)) então f é uma


função contı́nua a valores em Lq (Ω).
8. Mostre que se f ∈ L2 (a, b; H 1(Ω)) e f 0 ∈ L2 (a, b; L2 (Ω)) então f satisfaz:
f ∈ C([a, b]; H 1/2(Ω))
(Sugestão, utilize a mesmas idéias que a demonstração do teorema de
traço para t = s onde s ∈ [a, b], assim mostre que
Z b
kf(s)k2H 1/2 (Ω) ≤ kf(τ )k2H 1 (Ω) + kf 0 (τ )k2L2(Ω) dτ
a

Usando a densidade de C (a, b; H 1 (RN )) conclua o resultado)


9. Mostre que se f ∈ Lp (a, b; W 1,p(RN )) e f 0 ∈ Lp (a, b; Lp(RN )) então f


satisfaz: 1
f ∈ C([a, b]; W 1− p (RN ))
10. Mostre que existe uma solução fraca da equação
utt − uxx + u3 = 0 em ]0, L[×]0, ∞[
u(x, 0) = u0 , u(x, 0) = u0 , em ]0, L[
u(0, t) = u(L, t) = 0 para t > 0

11. Mostre que se u ∈ Lp (a, b; Ls (RN )) ∩ Lq (a, b; Lr (RN )) então teremos que
0 0
u ∈ Lp (a, b; Ls (RN ))
onde
1 θ 1−θ 1 θ 1−θ
= + , = +
p0 p q s0 s r
12. Mostre que se u ∈ Lp (a, b; H s (RN )) ∩ Lq (a, b; H r (RN )) então se verifica
que 0
u ∈ Lp (a, b; H θs+(1−θ)r (RN ))
onde
1 θ 1−θ
= + .
p0 p q
210 Capı́tulo 7. Teorema do Traço

13. Mostre que


T ν,p (W 1,p(RN ); Lp (RN ))
( n Z ∞
)
X p
= f ∈ Lp (RN ); t(ν−1)pkTti w − wkLp(RN ) dt < ∞
i=1 0

onde
Tti w = w(x1 , · · · , x1+t , · · · xn )
Capı́tulo 8

Extensão de Funcionais
Convexos

O Propósito deste capı́tulo é introduzir o conceito de funcionais quase convexos


e A-quase convexos e encontrar condições sobre as quais estes funcionais são
seqüêncialmente contı́nuos, respecto a convergência fraca, onde a seqüência
possui restrições nas derivadas.

8.1 Funções A-quase convexas


extenderemos o conceito de convexidad, a partir da seguinte propriedade que
carateriza as funções convexas. Isto é, usando Teorema 1.2.1 e a observação
1.2.3 concluimos que f é uma função convexa se e somente se verifica a seguinte
propriedade
Z
f(µ + ξ(x)) dx ≥ f(µ)meas(Ω) ∀ξ ∈ L∞ (D);

R
onde D
ξ(x) dx = 0. Ao longo destas notas suporemos que ξ satisfaz
m
X ∂uj
Aξ := ai,j,k = 0.
∂xk
j,k=1

Nestas condições teremos

Definição 8.1.1 Diremos que um funcional J é A-quase convexo, quando se


verifica Z
f(µ + ξ(x)) dx ≥ f(µ)meas(Ω),

211
212 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

R
para todo ξ ∈ L∞ (D) tal que D ξ(x) dx = 0 e Aξ = 0.

Denotaremos por
 Z 

L(D) = ξ ∈ L (D); ξ(x) dx = 0, e Aξ = 0 .
D

Consideremos alguns exemplos.

Exemplo 8.1.1 Seja A o operador diferencial definido como

A(ξ1 , ξ2 ) = ∇(ξ1 − ξ2 ),

e denotemos por L(D) o espaço


 Z 
L(D) := ξ = (ξ1 , ξ2 ) ∈ L∞ (D) × L∞ (D); ξ dx = 0; Aξ = 0 .
D

Como D é um cubo, a condição Aξ = 0 implica que

ξ1 − ξ2 = c,
R
para alguma constante c. Como D ξ dx = 0 teremos
Z Z
ξ1 (x) dx = ξ2 (x) dx = 0.
D D

De onde segue que c = 0. Portanto, todo ξ ∈ L(D) pode ser escrito como

L(D) := {ξ ∈ L∞ (D) × L∞ (D); ξ1 = ξ2 } . (8.1)

Por outro lado, é simples mostrar que a função f(x, y) = xy não é uma função
convexa, pois sua matriz Hessiana não é definida positiva nem negativa. Mas
f é A−quase convexa. De fato, tomemos ξ ∈ L(D) então é simples verificar
que
Z Z
f(µ + ξ) dx = f(µ1 + ξ1 , µ2 + ξ2 ) dx
D D
Z
= f(µ)meas(D) + ξ1 ξ2 dx;
D

de (8.1) obtemos que


Z Z
f(µ + ξ) dx ≥ f(µ1 + ξ1 , µ2 + ξ2 ) dx = f(µ)meas(D).
D D

Portanto, temos construido uma função contı́nua que não é convexa mas é
A−quase convexa
8.1. Funções A-quase convexas 213

Exemplo 8.1.2 Consideremos o mesmo operador do exemplo (8.1.1), e de-


notemos por f a função
f(x, y) = x2 − y2 .
Claramente f não é uma função convexa, muito menos uma função linear. Mas
ela é uma função A−quase linear. De fato,
f(µ1 + ξ1 , µ2 + ξ2 ) = f(µ1 , µ2 ) + 2µ1 ξ1 − 2µ2 ξ2 + f(ξ1 , ξ2 )
Como ξ ∈ L(D) teremos
f(µ1 + ξ1 , µ2 + ξ2 ) = f(µ1 , µ2 ) + 2µ1 ξ1 − 2µ2 ξ2
Integrando sobre D e aplicando o fato que ξ ∈ L(D) concluimos que
Z
f(µ + ξ) dx = f(µ)meas(D).
D
Finalmente, como −f e f são A-quase convexos, concluimos que f é A-quase
linear. Portanto, temos um exemplo de uma função não linear que é uma
função A-quase linear.
Exemplo 8.1.3 Consideraremos o mesmo operador A que no exemplo 8.1.1
e denotemos por f uma função quadrática de duas variaveis. Sem perda de
generalidade podemos supor que f é da forma
f(x, y) := ax2 + bxy + cy2 ;
Queremos determinar quais são as relações que deven satisfazer os coeficientes
a, b, e c para que f seja un funcional A-quase convexo e A-quase linear. Para
isto consideremos
f(µ + ξ) = a(µ1 + ξ1 )2 + b(µ1 + ξ1 )(µ2 + ξ2 ) + c(µ2 + ξ2 )2
= f(µ1 , µ2 ) + 2aµ1 ξ1 + bξ1 µ2 + bµ1 ξ2 + 2cµ2 ξ2 + f(ξ1 , ξ2 )
Integrando sobre D e aplicando as condições sobre ξ teremos
Z Z
f(µ + ξ(x)) dx = f(µ1 , µ2 )meas(D) + f(ξ1 (x), ξ2 (x)) dx. (8.2)
D D
Portanto, f é uma função A-quase convexa se
f(ξ1 , ξ1 ) ≥ 0 isto é (a + b + c)ξ12 ≥ 0.
Assim todo funcional quadrático f é A-quase convexa se a soma dos coeficientes
dos termos quadráticos é não negativa. Usando 8.2 concluimos que f é A-quase
linear se
f(ξ1 , ξ1 ) = 0 isto é (a + b + c)ξ12 = 0.
Portanto todo funcional quadrático é A-quase linear se a soma dos coeficientes
quadráticos é zero.
214 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

Exemplo 8.1.4 Denotemos por


A(ξ1 , ξ2 , ξ3 , ξ4 ) = (∇(ξ1 − αξ3 ), ∇(ξ2 − αξ4 )) .
| {z } | {z }
=u =v

Onde α é um número real. A seguir caraterizemos o espaço L(D). Primero


notemos que
A(ξ1 , ξ2 , ξ3 , ξ4 ) = 0,
implica que existe um vetor constante C := (c1 , c2 ) ∈ R2 tal que
u − αv = C.
R R
Como D u dx = D v dx = 0, então teremos que
u + αv = 0.
Portanto, podemos reescrever L(D) como
 Z Z 
∞ 2 ∞ 2
L(D) = (u, v) ∈ [L (D)] × [L (D)] ; u dx = v dx = 0, u = −αv .
D D

Consideremos a função determinante


det (uτ , vτ )
É simples verificar que a função (u, v) 7→ det (uτ , vτ ) é não linear, mas é uma
função A-quase linear.

8.2 Funcionais A-quase convexos


O propósito desta seção é mostrar um resultado similar ao Teorema 3.11.1
para funçionais A-quase convexos. Infelizmente não é possivel obter uma
condição necessária e suficiente com este grau de generalidade. Em com-
pensação mostraremos uma condição necessária e logo outra suficiente. Começaremos
mostrando uma condição necessária para que uma função f seja semicontı́nua
inferiormente.

Teorema 8.2.1 Suponhamos que para toda seqüência uν satisfazendo


?
uν * u fraco estrela em L∞ (D)
Auν limitado em [L2 (D)]m
teremos que Z Z
lim inf f(uν ) dx ≥ f(u) dx.
ν→∞ D D
Então f é uma função A-quase convexa.
8.2. Funcionais A-quase convexos 215

Demonstração.- Tomemos ξ ∈ L(D), denotemos da mesma forma sua ex-


tensão perı́odica ao RN . Ponhamos
ξν (x) := ξ(νx) ∀x ∈ RN ,
então teremos que
?
ξν * 0 fraco estrela em L∞ (D).
Por outro lado
Z Z Z
1
f(µ + ξν (x)) dx = f(µ + ξ(νx)) dx = n f(µ + ξ(x)) dx
D D ν νD
Z
= f(µ + ξ(x)) dx;
D

aplicando as hipóteses concluimos que


Z Z
f(µ)meas(D) ≤ lim inf f(µ + ξν (x)) dx = f(µ + ξ(x)) dx;
D D

De onde segue nosso resultado

Mostraremos agora uma condição suficiente. Para isto suporemos que a seqüência
satisfaz

A(u − uν ) = 0 (8.3)

Teorema 8.2.2 Sob as hipóteses do Teorema 8.2.1 junto com a relação (8.3)
teremos que Z Z
lim inf f(uν ) dx ≥ f(u) dx;
D D
para toda função A-quase convexa.

Demonstração.- Denotemos por fl a seqüência de funções dado por




 f(x) if −l ≤ x ≤ l



fl (x) = f(l) if x≤l





f(−l) if −l ≤ x.

É simples verificar que para todo l ∈ N a função fl é limitada. Denotemos uma


vk a seqüência de funções simples satisfazendo
vk → u forte em L2 (Ω)
vk (x) → u(x) q.s. em Ω.
216 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

Nestas condições teremos

fl (uν ) − fl (u) = fl (u + (uν − u)) − fl (vk + (uν − u))


+fl (vk + (uν − u)) − fl (vk ) + fl (vk ) − fl (u)

Da continuidade de f, da convergência forte de vk e do Teorema de Lebesgue


seque que para  > 0 existe N tal que
Z
|fl (u + (uν − u)) − fl (vk + (uν − u))| dx < 

Z
|fl (vk ) − fl (u)| dx < .

De onde seque que
Z Z
fl (uν ) − fl (u) dx +  ≥ fl (vk + (uν − u)) − fl (vk ) dx.
Ω Ω | {z }
ξν

Denotando por Z
1
ην = ξν − ξν dx,
meas(Ω) Ω
teremos
?
ην * 0 em L∞ (Ω),
Aην = 0,
|ην − ξν | → 0.
Usando a convergência anterior e tomando ν ≥ N para N suficientemente
grande obtemos
Z Z
fl (vk + ξν ) − fl (vk ) dx = fl (vk + ξν ) − fl (vk + ην ) dx
Ω Ω
Z
+ fl (vk + ην ) − fl (vk ) dx
Z Ω
≥ fl (vk + ην ) − fl (vk ) dx − 

Como vk é uma função simple, podemos obter uma decomposição em sub-


retângulos tais que

Z L Z
X
fl (vk + ην ) − fl (vk ) dx = fl (vk + ην ) − fl (vk ) dx, (8.4)
Ω i=1 Di
8.3. Exercicios 217

onde vk é constante em cada Di . Como f é A-quase convexa, o lado direito da


identidade anterior é positiva. Das relações (8.3)–(8.4) teremos
Z Z
fl (uν ) dx − fl (u) dx + 2 ≥ 0.
Ω Ω

Portanto teremos que,


Z Z
lim inf fl (uν ) dx ≥ fl (u) dx − 2.
ν→∞ Ω Ω

Por outro lado, para todo  > 0 segue que


Z Z
lim inf fl (uν ) dx ≥ fl (u) dx.
Ω Ω

Finalmente, como uν é limitado em L , da definição da seqüência fl existe um
número positivo M tal que

fM (uν ) = f(uν )

Se onde segue a nossa conclusão

8.3 Exercicios
1. Seja g uma função convexa g : R → R. Mostre que g é uma função
contı́nua.
2. Se (xν )ν∈N é uma seqüência de números reais convirgindo para x. Mostre
que a seqüência
N
1 X
vN := xν → x
N ν=1

3. Seja f : R → R uma função perı́odica de periodo T . Encontre o limite


fraco da seqüência fν (x) := f(νx).
4. Seja φi uma função A-quase linear para i = 1 · · · s. Mostre que para toda
função g : Rs → R a função f definida como

f(x) = g(φ1 , · · · , φs ),

é A-quase convexa.
5. Encontre a maior clase de funções cúbicas que sejam A-quase convexa e
A-quase lineares para o operador A dado por

Aξ = ∇ (ξ1 − ξ2 )
218 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

6. Suponhamos que ξ : R3 → R3 . Encontre a maior classe de funções


quadráticas que sejam A-quase convexas e A-quase lineares para o oper-
ador A dado por
Aξ = curl ξ;

8.4 Condição pontual


Nesta seção encontraremos uma condição necessária e suficiente para que um
funcional quadrático f seja semicontı́nuo inferiormente (ou continuou) com re-
specto a topologı́a fraca. É claro que para evitar os casos de funcionais convexos
(ou lineares) considerarmos aqui hipóteses adicionais sobre a convergência da
seqüência. Faremos referência a estas hipóteses com a letra H.
 ?

 uν *P u P em [L∞ (Ω)]m
m n ∂ujν
(H) Auν = j=1 k=1 aijk ∂xk Bounded in L2 (Ω)

 ?
f(uν ) * l em L∞ (Ω).
Queremos encontrar a maior classe de funções quadráticas que sejam seqüêncialmente
contı́nuas respecto convergência fraca munida a condição da hipótese H.
Como vimos na seção 3.11 uma função f é semicontı́nuo inferiormente re-
specto a topologı́a fraca estrela se f é uma função convexa, e é contı́nua respecto
a mesma topologı́a se e somente se f é linear. Nesta seção extenderemos a classe
de funções convexas para obter resultados similares aos obtidos naquela seção.
Vejamos os seguintes exemplos.

Exemplo 8.4.1 Denotemos por f : R2 → R. Suponhamos que a seqüência


uν , vν são limitados em L∞ e que
∂uν ∂vν
são limitados em L2 .
∂x ∂y
Nestas condições teremos que

?
uν * u in [L∞ (Ω)]m
?
vν * v in [L∞ (Ω)]m
?
f(uν , vν ) * l in L∞ (Ω).
As condições que impomos sobre as derivadas de uν e vν não são suficientes
para obter l = f(u, v), para toda função contı́nua. Nosso propósito é encontrar
a maior classe the funções contı́nuas f para as quais seja válido f(u, v) = l?.
Para isto tomemos transformada de Fourier, assim obtemos
ξ1 ûν e ξ2 v̂ν são limitados em L2 .
8.5. Propriedades 219

Portanto, existe uma subseqüência da que converge fortemente em H −1 , que


implica que a subseqüência

ξ12 2 ξ22
|û ν | + |v̂ν |2
1 + |ξ|2 1 + |ξ|2

converge forte em L2 . A questão aqui é como usar esta convergência. Para que
tipos de funções teremos que f(u, v) = l?. Como as técnicas que utilizaremos
são baseadas na transformada de Fourier teremos que restringirnos a funcionais
quadráticos.

Nosso primeiro ponto é estabelecer uma condição necessária pontual que


uma função f deve satisfazer para ter f(u, v) = l. Para isto introduziremos um
novo conceito de convexidade

Definição 8.4.1 Diremos que uma função f é convexa na direção de Λ se


para todo x, y ∈ Rm tais que x − y ∈ Λ temos

f(θx + (1 − θ)y) ≤ θf(x) + (1 − θ)f(y)

Assim como a A-quase convexidade, a convexidade na direção de Λ também


extende a noção usual de convexidade. Isto é toda função convexa é convexa
em qualquer direção. Analizemos as seguintes propriedades.

8.5 Propriedades
• Para funções f : R → R, temos apenas uma direção, portanto funções
na direção de Λ ⊂ R e convexidade em R são equivalentes. Para evitar
casos triviais consideraremos funções de pelo menos duas variaveis.
• Uma função f é convexa na direção de Λ se e somente se a função φ(t) :=
f(x + tλ) é convexa em R, para toda x ∈ RN e para toda λ ∈ Λ. De
fato, denotemos por α e β dois números reais tais que α − β = λ̂ ∈ Λ.
Portanto lembrando a definição de convexidade na direção de Λ teremos

f(θα + (1 − θ)β) ≤ θf(α) + (1 − θ)f(β). (8.5)

Tomemos y ∈ Rm tal que

α = y+λ
θ
β = y− λ.
1−θ
220 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

para λ ∈ Λ. Substituindo α e β em (8.5) obtemos

θ
f(y) ≤ θf( y + λ ) + (1 − θ)f(y − λ). (8.6)
| {z } 1−θ
:=x+tλ
| {z }
:=x+sλ

Para x ∈ R escolhido apropriadamente. Nestas condições teremos

y = x + tλ − λ
θ
y = x + sλ + λ
1−θ
Multiplicando a primeira identidade acima por θ e a segunda por 1 − θ
somando os produtos resultantes teremos

y = x + θtλ + (1 − θ)sλ

Sustituindo y em (8.6) obtemos a desigualdade desejada.


• Se f é uma função de classe C 2 convexa na direção de Λ uma carater-
ização util é a seguinte

∂2f
λi λj ≥ 0 para todo λ ∈ Λ.
∂xi ∂xj

Esto segue do fato que a função g(t) := t 7→ f(x + tλ) é uma função
convexa de classe C 2 , portanto teremos que g00 (t) ≥ 0. Usando a regra
da cadeia, segue nossa conclusão
• Notemos que quanto menor seja o conjunto Λ, menores serão as restrições
sobre a convexidade na direção de Λ. Por exemplo, se Λ = {0} então
toda função contı́nua será convexa na direção de Λ. Enquanto que se
Λ = RN , então convexidade na direção de Λ e convexidade usual serão
equivalentes.

As propriedades anteriores mostran a facilidade em conferir se uma função


é a não convexa na direção de Λ. No caso se funções A-quase convexas a
verificação era mais complicada. Para explourar a convexidade na direçõa de Λ
introduziremos o seguinte funcional associado ao operador A. Denotemos por
B o operador
 
m X
X n m X
X n
B(λ, ξ) :=  a1jk λi ξk , · · · , aqjk λi ξk 
j=1 k=1 j=1 k=1
8.5. Propriedades 221

Denotemos por V o espaço vetorial cujas primeiras componentes são ortogonais


com respecto a aplicação bilinear B, isto é

V := {(λ, ξ) ∈ Rm × Rn ; B(λ, ξ) = 0)} ⊂ Rm × Rn


Notemos que a projeção de V sobre Rm é ortogonal com respecto as derivadas.
Portanto para encontrar funções seqüêncialmente contı́nuas respecto a topologı́a
H devemos de ter que f seja nula sobre esta projeção. Introduzimos então o
seguinte conjunto

Λ := {λ ∈ Rm ; ∃ξ ∈ Rn − {0} tal que (λ, ξ) ∈ V}

Isto é Λ tem a direção que é ortogonal respecto as direção onde as derivadas


são limitadas. Nosso próximo objetivo é mostrar que toda forma quadrática
nula sobre Λ é uma função seqüêncialemente contı́nua respecto a convergência
definida em H. Para atingir este objetivo o seguinte Lema será muito impor-
tante

Lema 8.5.1 Suponhamos que g seja um funcional quadrático da forma xM xt


tal que g(λ) ≥ 0∀λ ∈ Λ, então para todo α > 0 existe uma constante positiva
cα tal que
 2 
q
 X X 
2
Re g(λ) ≥ −α|λ| − cα  aijk λj ηk 

i=1 j,k

para todo λ ∈ C m e η ∈ Rm tal que |η| = 1

Demonstração.- Raciocinemos por redução ao absurdo. Suponhamos que


existe α0 tal que para todo ν ∈ N tenhamos
2
q
X X
2
Re g(λν ) ≤ −α0 |λν | − ν ν ν
aijk λj ηk (8.7)

i=1 j,k

para todo λ ∈ C m , η ∈ Rm tal que |λν | = 1 e |η ν | = 1. Portanto existe uma


subseqüência de (λν ) e (η ν ), que a continuaremos denotando da mesma forma,
tal que
λν → λ∞ ; η ν → η ∞ .
Da desigualdade (8.7) concluimos
2 2
Xq X
Xq X

a λν ν
η → a ∞ ∞
ijk j k = 0,
λ η
ijk j k
i=1 j,k i=1 j,k
222 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

que implica que λ∞ ∈ Λ + iΛ. Das hipóteses sobre g concluimos que

Re g(λ∞ ) ≥ 0.

Por outro lado da desigualdade (8.7) e lembrando que |λ∞ | = 1 segue que

g(λ∞ ) ≤ −α0 < 0,

que é uma contradição, portanto segue nossa afirmação.

Teorema 8.5.1 Suponhamos que seja uma função quadrática da forma f(x) =
xM xt , onde M é uma matriz simétrica. Suponhamos ainda que
 ∗

 uν → uP in [L∞ (Ω)]m
P j
(H 0 ) Auν = m j=1
n ∂uν
k=1 aijk ∂xk
−1
compact in Hloc (Ω)

 ∗ 0
f(uν ) → l in D (Ω).

Então teremos que

f(λ) ≥ 0 ∀λ ∈ Λ ⇒ l ≥ f(u).

f(λ) = 0 ∀λ ∈ Λ ⇒ l = f(u).

Demonstração.- Sem perda de generalidade podemos supor que u = 0. A


ideia é aplicar Transformada de Fourier. Para isto introduzimos a seqüência
wν = φuν , onde φ ∈ C0∞ (Ω), que consideraremos definida em todo o espaço
RN sendo zero fora de Ω. é simples verificar que
 ∗

 wν → 0 in [L∞ (Ω)]m
Pm Pn ∂w j
−1
 Awν = j=1 k=1 aijk ∂xkν →0 strong in Hloc (Ω)

wν possui suporte compacto e fixo .

Nestas condições mostraremos que


Z
lim inf f(wν ) dx ≥ 0.
ν→∞ RN

Denotemos por ŵν a transformada de Fourier de wν . Como wν possui


suporte compacto sobre K, então fácilmente concluimos que

wˆν → 0 q.s. em RN
|wˆν (ξ)| ≤ C
8.5. Propriedades 223

Usando o Teorema de Lebesgue concluimos que

wν → 0 Forte em L2loc (RN )

Mais ainda, das hipóteses sobre as derivadas de wν teremos


1 X
aijk ŵνj (ξ)ξk → 0 in [L2 (RN )]q (8.8)
1 + |ξ|
j,k

Como estamos tratando com números complexos podemos extender a função


f do Rm para C m da seguinte forma

fˆ(w) = wM w t

Das hipóteses comcluimos que


ˆ ≥0
Re f(λ) ∀λ ∈ Λ + iΛ

Usando a identidade de Plancherel teremos


Z Z Z
f(wν ) dx = fˆ(ŵν ) dξ = Re fˆ(ŵν ) dξ
RN RN RN

Para mostrar o Teorema falta apenas verificar que


Z
lim inf Re fˆ(ŵν ) dξ ≥ 0
ν→∞ RN

Como Z Z Z
fˆ(ŵν ) dξ = fˆ(ŵν ) dξ + fˆ(ŵν ) dξ,
RN |ξ|≤1 |ξ|≥1
e Z
fˆ(ŵν ) dξ → 0
|ξ|≤1

Resta apenas verificar o caso quando |ξ| ≥ 1. Do Lema 8.7 concluimos que
para todo α > 0 existe cα para os quais teremos
 2 
X q X

ν ξk 
Re fˆ(ŵν (ξ)) ≥ −α|ŵν (ξ)|2 − cα 
a ŵ 
|ξ|
ijk j
i=1 j,k

Apois integrar sobre RN teremos


2
Z Z Z Xq X
ξ
ν k

fˆ(ŵν (ξ)) dξ ≥ −α |ŵν (ξ)|2 dξ − cα
a ŵ dξ.
|ξ|
ijk j
RN RN RN i=1 j,k
224 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

Usando (8.8) segue que


Z Z
lim inf fˆ(ŵν (ξ)) dξ ≥ −α lim sup |ŵν (ξ)|2 dξ.
RN RN

Como α é arbitrario e wν é limitado em L2 teremos


Z
lim inf ˆ ŵν (ξ)) dξ ≥ 0.
f(
ν→∞ RN

Que é a desigualdade desejada

8.6 Teorema do divergente - rotacional


Examinemos de perto algumas aplicações do Teorema anterior

Exemplo 8.6.1 Encontrar a maior classe de funções quadráticas contı́nuas


respecto seguinte convergência

• Sejam uν , vν : Ω ⊂ R2 → R tais que

(uν , vν ) * (u, v) fraco em L2 (Ω) × L2 (Ω)


∂uν ∂vν
∂x
, ∂y
limitado em L2 (Ω)

Primero caraterizaremos o espaço Λ, depois encontraremos todas as funções


quadráticas que se anulam em Λ. We first construct the Para isto denotemos
por B ao operador

B(λ, ξ) := (λ1 ξ1 , λ2 ξ2 ).
Lembrando a definição de Λ teremos

Λ := λ ∈ R2 ; ∃ξ ∈ R2 , tal que B(λ, ξ) := 0 .

Tomemos λ ∈ Λ, então existe ξ 6= 0 tal que

λ1 ξ1 = λ2 ξ2 = 0. (8.9)

Como ξ1 6= 0 ou ξ2 6= 0, então λ1 6= 0 ou λ2 6= 0. Portanto uma das compo-


nentes de λ deve ser nula. Reciprocamente, se uma das componentes de λ é
zero, por exemplo λ1 , então existe ξ = (1, 0) satisfazendo (8.9), então λ ∈ Λ.
Portanto, podemos escrever Λ como

Λ = λ = (λ1 , λ2 ) ∈ R2 ; tal que λ1 = 0, or λ2 = 0 .
8.6. Teorema do divergente - rotacional 225

Portanto a maoir classe de funções que se anulam em Λ é todo multiplo escalar


da função
f(x, y) = xy.
Com isto, temos provado o seguinte Corolário

Corolário 8.6.1 Denotemos por uν , vν seqüências satisfazendo

uν , vν : Ω ⊂ R2 → R

(uν , vν ) * (u, v) fraco em L2 (Ω) × L2 (Ω)


∂uν ∂vν
, limitado em L2 (Ω)
∂x ∂y

então teremos que

uν vν * uv em D0 (Ω)

Exemplo 8.6.2 Encontrar a maoir classe de funções quadráticas que sejam


contı́nuas respecto a seguinte convergência
• uν , vν : Ω ⊂ Rn → Rn tais que

(uν , vν ) * (u, v) fraco em [L2 (Ω)]n × [L2 (Ω)]n



( div uν , curl vν ) limitado em L2 (Ω) × [L2 (Ω)]n

Como no exemplo 8.6.1 para encontrar o conjunto Λ, denotamos por B a


seguinte forma bilinear
 
n
X 
B(λ, µ, ξ) :=  ξk λk , ξi µj − ξj µi 
k=1
| {z }
n componentes

Tomemos λ ∈ Λ, então existe ξ 6= 0 tal que


n
X
ξk λk = 0, ξi λj − ξj µi = 0,
k=1

isto é equivalente a
ξi ξj
λ⊥ξ e = ⇔ µkξ
µi µj
226 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos

Portanto (λ, µ) ∈ Λ se e somente se λ ⊥ µ isto é


Λ = {(λ, µ) ∈ Rn × Rn ; tal que λ ⊥ µ}
Finalmente, a maior classe de funções que se anulam sobre Λ são múltiplos
escalares da função
n
X
f(x1 · · · xn , y1 · · · yn ) = xi yi
i=1
Portanto temos mostrado o Lema do Divergente Rotacional
Corolário 8.6.2 Div-curl Lema.- Denotemos por uν , vν : Ω ⊂ Rn → Rn tal
que

(uν , vν ) * (u, v) fraco em [L2 (Ω)]n × [L2 (Ω)]n


(div uν , curl vν ) limitado em L2 (Ω) × [L2 (Ω)]n

então teremos que

uν · vν * u · v em D0 (Ω)

8.7 Exercicios
1. Construa um funcional A-quase convexo que não seja convexo na direção
de Λ
2. Sejam v, w : R2 → R e denotemos por A ao operador dado por
 
∂v ∂w ∂v ∂w
A(v, w) = a +b ,a −b
∂x ∂y ∂x ∂y
Encontre Λ
3. Com as mesmas hipóteses que no exercicio 2, construa uma função quadrática
que seja linear na direção de Λ pero que não seja uma função linear.
4. Suponhamos que a seqüência de funções uν satisfaz
uνt e uνx limitadas L2 (Ω),
uνtt − uνxx = fν ;
onde fν é limitada em L2 (Ω). Então mostre que
Z Z
lim |uνt |2 − |uνx|2 dxdt = |ut |2 − |ux|2 dxdt
ν→∞ Ω Ω
8.7. Exercicios 227

5. Suponhamos que para toda função f tal que |f(x)| ≤ c + |x|p, e toda
seqüência uν satisfazendo

uν → u fraco em Lp (Ω)

Auν limitado em L2 (Ω)m


tenhamos que Z Z
lim inf f(uν ) dx ≥ f(u) dx
D D
Então f é uma função A-quase convexa.
6. Faça uma generalização do Corolário 8.6.1 para o caso n-dimensional.
7. Mostre que o funcional
Z Z
||v||2∗ := 2
kcurl vk dx + |div v|2 dx
Ω Ω

é uma norma em [H01 (Ω)]3 equivalente a sua norma natural


228 Capı́tulo 8. Extensão de Funcionais Convexos
Capı́tulo 9

Aplicações

9.1 Desigualdades variacionais


Compacidade compensada aplicada as desigualdades variacionais Neste capı́tulo
faremos uso do método de compacidade compensada para mostrar existência
de soluções para diferentes desigualdades variacionais de evolução

9.2 Problema de Signorini em elasticidade


Estudaremos nesta seção o problema de obstáculo em elasticidade unidimen-
sional. A equação que modela este problema é dado por

utt − uxx = f, em (0, 1) × (0, T ). (9.1)


Com as seguintes condições de contorno

u(0, t) = 0, (9.2)

u(1, t) ≤ g, ux (1, t) ≤ 0, (u(1, t) − g)ux (1, t) = 0, (9.3)


e a condição de valor inicial

u(x, 0) = u0 (x), ut (x, 0) = u1 (x). (9.4)

9.3 Existencia de soluções fracas


Para mostrar a existência de soluções fracas introduzimos os seguintes conjuntos

229
230 Capı́tulo 9. Aplicações

V = {η ∈ H 1 (0, 1); η(0) = 0} (9.5)


e
K = {η ∈ V ; η(1) ≤ g}. (9.6)
Assumiremos que os dados iniciais satisfazem

(u0 , u1 ) ∈ K × L2 (0, 1); f ∈ H 1 (0, T ; L2 (0, 1)) (9.7)


A formulação variacional do sistema anterior é equivalente a encontrar uma
função u satisfazendo

u ∈ W 1,∞(0, T ; L2 (0, 1)) ∩ L∞ (0, T ; K)


Z 1 Z 1 Z 1
utt (v − u) dx + ux(vx − ux ) dx ≥ f(v − u) dx,
0 0 0
para toda v ∈ H 1 ((0, T ) × (0, 1)) tal que v(., t) ∈ K.

Para mostrar a existência de soluções usaremos o método chamado de Pe-


nalização, isto é para todo ε > 0, encontraremos uma solução u satisfazendo

u ∈ W 2,∞ (0, T ; L2 (0, 1)) ∩ L∞ (0, T ; K)


uxt , uxx ∈ L∞ (0, T ; L2(0, L)) (9.8)
e também

Z 1 Z 1
1
utt v + ux vx dx = fv dx − (u(1, t) − g)+ v(1, t)
0 0 ε
−εut (1, t)v(1, t); (9.9)
para todo v ∈ H 1 ((0, T ) × (0, 1)), com v(0, t) = 0. Para mostrar a existência
de soluções utilizaremos os seguintes Lemas.

Lema 9.3.1 Suponhamos que {uk }∞


k=1 é uma seqüência de funções tais que


uk * u em L∞ (0, T ; H β (0, 1)
∂t uk * ∂t u em L2 (0, T ; H α (0, 1))
onde −1 ≤ α < β ≤ 1. Então teremos que
uk → u em C([0, T ]; H r(0, 1))
para r < β.
9.3. Existencia de soluções fracas 231

Lema 9.3.2 Suponhamos que

(u0 , u1 ) ∈ [H 2 (0, 1) ∩ K] × H01 (0, 1). (9.10)

and f satisfazendo (9.7). Então existe uma solução de (9.9), satisfazendo (9.8).

Demonstração.- Denotemos por U

U = u − u0 (x) − tu1 (x), (9.11)

e
F = f + u0,xx + tu1,xx (9.12)
Portanto a equação (9.9) é equivalente a
Z 1 Z 1
1
Utt v + Ux vx dx = F v dx − (U (1, t) − g)+ v(1, t)
0 0 ε
−εUt (1, t)v(1, t), (9.13)

para toda v ∈ H 1 ((0, T ) × (0, 1)), com v(0, t) = 0. Para mostrar a existência
de soluções para a equação (9.9) utilizaremos o método de Galerkin.
Seja {zj }∞ ∞
j=1 ⊂ C ([0, 1]) uma base ortonormal de V e denotemos por
m
V = [z1 , . . . , zm ] o espaço generado pelos primeiros m vectores da base.
Tomemos U m tal que para todo t ≥ 0,
m
X
Um = cj (t)zj (x) ∈ Vm (9.14)
j=1

O problema aproximado é dado por


Z 1 Z 1
Uttm zj dx + Uxm zj,x dx = (9.15)
0 0
Z 1
1
= F zj dx − (U m (1, t) − g)+ zj (1) − εUtm (1, t)zj (1)
0 ε
Com as seguintes condições iniciais

U m (x, 0) = 0, Utm (x, 0) = 0, 0 < x < 1, (9.16)

É bem conhecido que existe somente uma solução U m de (9.15) dado por (9.14)
definido sobre (0, T m ) para algum T m > 0. Multiplicando a equação (9.15) por
c0j (t) e somando de j = 1, . . . , m teremos
232 Capı́tulo 9. Aplicações

Z L
1 d 1
{ |Utm |2 + |Uxm |2 dx + |(U m (1, t) − g)+ |2 } + ε|Utm (1, t)|2
2 dt 0 ε
Z L
= F Utm dx. (9.17)
0

Usando a desigualdade de Gronwall segue que


Z L
|Utm (., t)|2 + |Uxm(., t)|2 dx ≤ C, ∀ t ≥ 0, (9.18)
0

|(U m (1, t) − g)+ |2 ≤ Cε, ∀ t ≥ 0, (9.19)


onde C é uma constante independente de m e ε. Podemos portanto extraer
uma subseqüência de U m , a qual denotaremos da mesma forma, tal que

Um * U em W 1,∞(0, T ; L2 (0, 1))
Derivando a equação (9.15) com respecto a t, e repetindo o mesmo razonamento
anterior teremos
Z L
1 d
{ |Uttm |2 + |Uxt
m 2
| dx + ε|Uttm (1, t)|2 (9.20)
2 dt 0
1
+ [(U m (1, t) − g)+ ]t Uttm (1, t) = (Ft , Uttm ).
ε
Tomando t = 0 em (9.15), multiplicando por c00j (0) e somando sobre j, teremos

Z 1 Z 1
|Uttm (x, 0)|2 dx = F (x, 0)Uttm(x, 0) dx
0 0

esta última identidade implica que, Uttm (x, 0) é limitado em L2 (0, 1). Por outro
lado, de (9.19) segue que

m +
{U (1, t) − g}t ≤ c|Utm (1, t)|.
Usando a desigualdade de Gronwall segue que
Z 1 Z T
m 2
|Uttm |2 + |Uxt | dx + ε|Uttm (1, t)|2 dt ≤ Cε . (9.21)
0 0
onde Cε é uma constante positiva dependendo apenas de ε. Por tanto existe
uma subseqüência de U m , Θm , as quais a seguiremos denotando da mesma
forma, que convirgem fraco estrela.
9.3. Existencia de soluções fracas 233

Estamos agora em condições de estabelecer o resultado de existência e


regularidade do problema penalizado (9.9). De (9.15) temos que
Z T Z 1 Z T Z 1
Uttm v dx dt + Uxm vx dx dt (9.22)
0 0 0 0
Z T Z 1 Z T Z T
1
= F v dx dt − (U m (1, t) − g)+ v(1, t) dt − ε Utm (1, t)v(1, t) dt.
0 0 ε 0 0
Fazendo m → +∞ para ε fixo, temos
Z TZ 1 Z T Z 1
Utt v dx dt + Ux vx dx dt (9.23)
0 0 0 0
Z T Z 1 Z T Z T
1 +
= F v dx dt − (U (1, t) − g) v(1, t) dt − ε Ut (1, t)v(1, t) dt.
0 0 ε 0 0

para todo v ∈ V m0 , w ∈ W m0 , m0 < +∞, w(x, T ) = 0. Como {zj }∞ j=1 é uma


base de V , a relação (9.23) é válida para todo v ∈ H 1 ((0, T ) × (0, 1)) tal que
v(0, t) = 0. De (9.21) e do Lema 9.3.1 teremos

Um → U em C([0, T ]; H r(0, 1)), ∀r < 1.


1 r
Como r > 2 implica que H (0, 1) ⊂ C([0, 1]) teremos

U m (1, t) → U (1, t) in C([0, T ]),

que implica

(U m (1, t) − g)+ → (U (1, t) − g)+ in C([0, T ]).

De onde segue a nossa conclusão


Estamos agora em condições de mostrar a existência de soluções do prob-
lema de obstáculo. Suponhamos que u0 ∈ V , u1 ∈ L2 (0, 1) e θ0 ∈ L2 (0, 1).
Primero definiremos o que entenderemos por solução do problema (9.1)–(9.4).

Definição 9.3.1 Diremos que u é uma solução fraca de (9.1) se

u ∈ W 1,∞(0, T ; L2 (0, 1)) ∩ L∞ (0, T ; K), (9.24)


u(x, 0) = u0 (x), ut (x, 0) = u1 (x). (9.25)

Z T Z 1 Z T Z 1
− ut (vt − ut ) dx dt + ux (vx − ux) dx dt (9.26)
0 0 0 0
234 Capı́tulo 9. Aplicações

Z T Z 1
− < ut (·, T ), v(·, T ) − u(·, T ) > + < u1 , v(·, 0) − u0 >≥ f(v − u) dx dt
0 0

para todo v ∈ H 1 ((0, T ) × (0, 1)) tal que v(·, t) ∈ K, para todo t > 0.

Denotemos por uε0 , uε1 os dados iniciais satisfazendo (9.10) tais que

(uε0 , uε1 ) → (u0 , u1 ) in V × L2 (0, 1).

então teremos que uε satisfaz


Z T Z 1 Z T Z 1
− uεt (vt − uεt ) dx dt + uεx (vx − uεx) dx dt (9.27)
0 0 0 0

< uεt (·, T ), v(·, T ) − uε (·, T ) > − < uε1 , v(·, 0) − uε0 >
Z T Z 1 Z T
1
= f(v − uε ) dx dt− [ (uε (1, t)−g)+ +εuεt (1, t)](v(1, t)−uε (1, t)) dt,
0 0 0 ε

para todo v ∈ L2 (0, T ; K) ∩ H 1 ((0, T ) × (0, 1)). Antes de mostrar o teorema


de existência enunciaremos o seguinte Lema

Lema 9.3.3 Seja uε uma seqüência de funções em H 1 ((0, T ) × (0, 1)) satis-
fazendo as seguintes propriedades

uε * u em H1 fracamente ε → 0, (9.28)

Z T Z 1
|uεtt − uεxx|2 dxdt ≤ C, ∀ε ≥ 0, (9.29)
0 0

Z 1
|uεt (·, t)|2 + |uεx(·, t)|2 dx ≤ C, ∀t ∈ [0, T ], ∀ε ≥ 0, (9.30)
0

então teremos
Z TZ L Z T Z L
lim {|uεt |2 − |uεx|2 } dx dt = {|ut |2 − |ux|2 } dx dt (9.31)
ε→0 0 0 0 0

Demonstração.- Tomemos 0 < δ0 < 12 fixo, e denotemos por p(x) a uma


função suave não decrescente igual a −1 para x ∈ [0, δ) e 1 para x ∈ (1 − δ, 1].
Como uεtt ∈ L2 (0, T ; L2 (0, 1)) de (9.29) segue que uεxx ∈ L2 . Portanto para
todo δ < δ0 , teremos
9.3. Existencia de soluções fracas 235

Z T Z 1−σ Z T
1
− uεxxpuεx dx dt = − (uεx(1 − σ, t))2 + (uεx (σ, t))2 dt (9.32)
0 σ 2 0

Z T Z 1−σ
1 0 ε2
+ p |ux| dx dt
0 σ 2
e

Z T Z 1−σ
uεtt puεx dx dt =
0 σ
Z 1−σ
uεt (x, T )p(x)uεx(x, T ) − uεt (x, 0)p(x)uεx(x, 0) dx
σ
Z T Z T Z 1−σ
1 1 0 ε2
− (uεt (1 − σ, t)) 2
+ (uεt (σ, t))2 dt + p |ut | dxdt
(9.33)
2 0 0 σ 2

somando as identidades (9.32) e (9.33) temos

Z T
1
[(uεt (1 − σ, t))2 + (uεt (σ, t))2 + (uεx (1 − σ, t))2 + (uεx (σ, t))2 ] dt
2 0

Z T Z 1−σ
= (uεtt − uεxx )puεx dx dt
0 σ
Z T Z 1−σ
1 0
+ p {(uεt )2 + (uεx)2 } dx dt
0 σ 2
Z 1−σ
+ uεt (x, T )p(x)uεx (x, T ) − uεt (x, 0)p(x)uεx(x, 0) dx,
σ

De (9.29)–(9.30) segue que


Z T
1
[(uεt (1 − σ, t))2 + (uεt (σ, t))2 + (uεx (1 − σ, t))2 + (uεx (σ, t))2 ] dt ≤ C,
2 0

onde C é uma constante independente de δ. Integrando com respecto a σ sobre


[0, δ) com δ < 21 temos
Z T Z
|uεx|2 + |uεt |2 dx dt ≤ Cδ. (9.34)
0 (0,δ)∪(1−δ,1)
236 Capı́tulo 9. Aplicações

denotemos por

U ε = (uεt , −uεx), W ε = (uεt , uεx)

Como
div U ε = uεtt − uεxx é limitado em L2 ((0, 1) × (0, T ))

curl W ε = 0
Do Lema de Divergente Rotacional segue que

|uεt |2 − |uεx |2 → |ut |2 − |ux|2 in D0 ((0, 1) × (0, T )) (9.35)

agora escolhemos η ∈ C0∞ ((0, 1) × (0, T )), 0 ≤ η ≤ 1, η ≡ 1 em (δ, 1 − δ) ×


(δ, T − δ) então teremos
Z Z Z TZ 1
T 1
ε 2 ε 2 2 2
{|ut | − |ux | } dx dt − {|ut| − |ux | } dx dt ≤
0 0 0 0
Z Z Z Z
T 1 T 1
ε 2 ε 2 2 2
{|ut | − |ux| }(1 − η) dx dt + {|ut| − |ux| }(1 − η) dx dt
0 0 0 0
Z Z Z TZ 1
T 1
ε 2 ε 2 2 2
+ {|ut | − |ux| }η dx dt − {|ut | − |ux| }η dx dt
0 0 0 0

de (9.30) e (9.34) segue que


Z T Z 1

{|uεt|2 + |uεx |2 }(1 − η) dxdt ≤ Cδ
0 0

portanto obtemos
Z Z Z TZ 1
T 1
ε 2 ε 2 2 2
lim {|ut | − |ux| } dx dt − {|ut | − |ux | } dx dt ≤ Cδ
→0 0 0 0 0

De onde segue o resultado

Agora estamos em condições de mostrar o terorema de existência de soluções


para o problema de obstáculo.

Teorema 9.3.1 Seja u0 ∈ V , u1 ∈ L2 (0, 1) e f, ∈ H 1 (0, T, L2 (0, 1)) então


existe uma solução fraca de (9.1).
9.3. Existencia de soluções fracas 237

Demonstração.- Mostraremos que as desigualdades (9.18) permanecen válidas


quando colocamos ε no lugar de m, para dados iniciais uε0 , uε1 , limitados em
V e L2 (0, 1) respectivamente. Note que uε , satisfaz a equação (9.1) com as
seguintes condições de contorno
1
uεx(1, t) = − (uε (1, t) − g)+ − εuεt (1, t), (9.36)
ε
uε (0, t) = 0. (9.37)
De (9.9) temos
Z 1 Z 1
ε ε 1
utt v + ux vx dx = fv dx − (uε (1, t) − g)+ v(1, t) − εuεt (1, t)v(1, t);
0 0 ε
(9.38)
para todo v ∈ H 1 ((0, T ) × (0, 1)). Tomando v = uεt em (9.38) temos

Z 1 
1 d 1
|uεt |2 + |uεx|2 dx + |(uε (1, t) − g)+ |2 + ε|uεt (1, t)|2 = (f, uεt ),
2 dt 0 ε
(9.39)

Usando a desigualdade de Gronwall, podemos ver que existe uma subseqüência


de uε satisfazendo


uε * u em L∞ (0, T ; H 1(0, 1)),

uεt * ut em L∞ (0, T ; L2(0, 1)).

De (9.38) concluimos que


uεtt − uεxx = f. (9.40)
2 2
Usando (9.40) e como f ∈ L (0, T ; L (0, 1)) das convergências anteriores con-
cluimos que

uεtt * utt in L2 (0, T ; H −1 (0, 1))). (9.41)


Do Lema 9.3.1 temos

uεt → ut em C([0, T ]; H −r(0, 1))) (9.42)


onde r > 0. Também temos

uε → u in C([0, T ]; H α(0, 1))

onde α < 12 . Tomando α = r < 1


2 segue que

uεt (·, T ) → ut (·, T ) em H −r (0, 1),


238 Capı́tulo 9. Aplicações

uε (·, T ) → u(·, T ) em H r (0, 1),


portanto temos que

< uεt (·, T ), v(·, T ) − uε (·, T ) >H −r ×H r → < ut (·, T ), v(·, T ) − u(·, T ) >H −r ×H r
(9.43)
e ainda
< uε1 (·), v(·, 0) − uε0 (·) >→< u1 (·), v(·, 0) − u0 (·) > . (9.44)
Para mostrar a solução do problema de obstáculo, deacordo com a equação
(9.27) temos que pasar ao limite na seguinte expressão

Z T Z 1
I1 := | uεt |2 − |uεx |2 dx dt
0 0
I2 := β(uε (1, t))
1 ε
I3 := (u (1, t) − g)+ (v(1, t) − uε (1, t))
ε
Os outros termos são simples. Do Lema 9.3.3 temos que
Z T Z 1
lim I1 = | ut |2 − |ux|2 dx dt
ε→0 0 0

Respeito ao termo I2 , temos que uε converge fraco em H 1 ((0, T ) × (0, 1)) queu
implica uε → u forte em C([0, T ]; H α(0, 1)), α < 1. Para α > 12 temos que
H α (0, 1) ⊂ C([0, 1]) com imersão compacta, portanto teremos

uε (1, .) → u(1, .) forte em C([0, T ])

Para o termo I3 temos

Z T Z T
1 1
I3 = (uε (1, t) − g)+ uε (1, t) dt − (uε (1, t) − g)+ v(1, t) dt
ε 0 ε 0
Z T Z T
1 1
= [(uε (1, t) − g)+ ]2 dt − (uε (1, t) − g)+ (v(1, t) − g) dt
ε 0 ε 0
≥ 0

como v(1, t) ≤ g, v(·, t) ∈ K e − 1ε (uε (1, t) − g)+ (v(1, t) − g) ≥ 0. De onde


obtemos o resultado
Apéndice A

Decomposição de campos
vetoriais

Provaremos aqui que o vetor deslocamento pode ser decomposto em duas


partes: selenoidal e irrotacional, cujas correspondentes energias decaem para
zero com taxas que dependem da regularidade dos dados inicias. A seguir esta-
beleceremos as condições para as quais esta decomposição é válida. Denotemos
por α = (α1 , ..., αn) ∈ Nn , x = (x1 , ..., xn) ∈ Rn e por

n
X ∂ α1 ∂ αn
|α| = αi ; xα = x1α1 xα αn
2 · · · xn ;
2
∂α = ( ) · · ·( )
i=1
∂x1 ∂xn

Definamos por U (x) a função


 1
 2π ln |x| se n=2
U (x) =
 1
se n>2
(n−2)σn|x|n−2

onde σn representa a área da bola unitaria do Rn . É bem conhecido que a


solução da equação

∆u = f em Rn (A.1)
é dado por
Z
u(x) = U (x − ξ)f(ξ)dξ
RN

Sempre que f seja uma função contı́nua.

239
240 Apéndice A. Decomposição de campos vetoriais

Observação A.0.1 Se F ∈ L1 (Rn ) ∩ Ls (Rn ) e φ, ψ pertence a Ls (Rn ) e


L1 (Rn ) respectivamente então temos que

φ ∗ F ∈ Ls (Rn ) e ψ ∗ F ∈ Ls (Rn )
mais ainda, a desigualdade Young estabelece
Z 1/s Z 1/s Z 
s s
|φ ∗ F | dξ ≤ |φ| dξ |F |dξ
RN RN RN
Z 1/s Z  Z 1/s
s s
|ψ ∗ F | dξ ≤ |ψ|dξ |F | dξ
RN RN RN
em particular,

{φ + ψ} ∗ F ∈ Ls (Rn )
e ainda,
Z 1/s
|{φ + ψ} ∗ F |s dξ ≤
RN
Z 1/s Z  Z  Z 1/s
s s
|φ| dξ |F |dξ + |ψ|dξ |F | dξ
RN RN RN RN

Lema A.0.4 Suponhamos que v seja uma função contı́nua satisfazendo ∂ α v ∈


Lp (R2 ) para |α| = 1, então as seguintes desigualdades são válidas
Z
p 1−2/p
|v(x)| ≤ |v(0)| + 8 |x| ( |∇v|pdξ)1/p
p−2 R2

Demonstração.- Consideremos a identidade


Z 1
v(ξ) − v(x) = ∇v(tξ + (1 − t)x).[ξ − x]dt
0
1
integrando sobre a bola B de centro x de raio 2 |x − y| e fazendo a mudança
de variável y = t(ξ − x) + x obtemos

Z Z Z 1

v(ξ)dξ − π |x − y| 2 v(x) ≤ |∇v(tξ + (1 − t)x).[ξ − x]|dt dξ
4
B B 0
Z Z 1
≤ |x − y| |∇v(t(ξ − x) + x)|dt dξ.
B 0
Z 1 Z
−2
≤ |x − y| t |∇v(ξ)|dξdt (A.2)
0 tD
241

Onde D é o disco de centro no origem e raio t|x − y|. Como t ≤ 1 e tD ⊆ D,


segue que
Z Z
1/p0 2/p0 2/p0
|∇v(ξ)|dξ ≤ π |x − y| t ( |∇v(ξ)|p dξ)1/p
tD D

que junto com (A.2) nos levam a


Z Z

v(ξ)dξ − π |x − y|2 v(x) ≤ π 1/p0 p |x − y|1+2/p0 ( |∇v(ξ)|p dξ)1/p
4 p−2
B D

intercambiando os papéis de x e y e aplicando a desigualdade do triângulo


obtemos
π 2
|x − y| |v(x) − v(y)| ≤
4
Z Z

v(ξ)dξ − π |x − y|2 v(x) + v(ξ)dξ − π |x − y|2 v(y)
4 4
B B

de onde segue
Z
p
|v(x) − v(y)| ≤ 8 |x − y|1−2/p( |∇v(ξ)|pdξ)1/p (A.3)
p−2 D

Tomando y = 0 e usando novamente a desigualdade do triângulo segue nosso


resultado.

Nos seguintes lemas estabeleceremos resultados de regularidade para a solução


da equação (A.1).

Lema A.0.5 Seja f uma função satisfazendo

f ∈ C(R2 ), o(f) = o(|x|−θ ) quando |x| → +∞; θ > 2, para n = 2

então existe uma função contı́nua u com ∂ α u ∈ H 1 (R2 ) para |α| = 1, satis-
fazendo (A.1). Finalmente, se

f ∈ L1 (Rn ) ∩ Lp (Rn ) para n ≥ 3


onde p ∈ max{q, q 0 }, q > n/n − 2 e 1q + 1q 0 = 1. Então existe uma solução u de
(A.1) satisfazendo u ∈ Lq (Rn ); ∂ α u ∈ H 1 (Rn ), para|α| = 1.

Demonstração.- Denotemos por fν a convolução em Rn , fν = ρν ∗ f, onde ρν


é a função regularizante satisfazendo
242 Apéndice A. Decomposição de campos vetoriais

Z
1
ρν (−x) = ρν (x), ρν (ξ)dξ = 1 e ρν (x) = 0 se |x| ≥ .
RN ν

É bem conhecido que fν converge para f em Lr para todo r ≥ 1, para f ∈ Lr .


Note que a seqüência (uν )ν∈N definida como
Z
uν (x) = U (x − ξ)f ν (ξ)dξ,
RN
satisfaz a equação

∆uν = fν . (A.4)
De onde facilmente segue
Z Z
2
|∇uν (x)| dx ≤ |uν ||fν (x)|dx (A.5)
RN RN
Z Z
|∆uν (x) − ∆uµ (x)|2 dx ≤ |fν (x) − fµ (x)|2 dx (A.6)
RN RN

Das hipóteses sobre f temos que (fν )ν∈N é uma seqüência de Cauchy em
L2 (Rn ) e portanto também (∆uν )ν∈N . Em conseqüência para provar que
∂ α u ∈ H 1 (Rn ) para |α| = 1, temos apenas que mostrar que ∂ α u ∈ L2 (Rn ).
Para isto é suficiente mostrar que o lado direito de (A.5) é limitado. Primero
consideraremos o caso n = 2, para o qual a derivada da função uν satisfaz
Z
∂ ∂ 1
| uν (x) − uµ (x)| ≤ |x − ξ|−1 |fν (ξ) − fµ (ξ)|dξ
∂x i ∂x i 2π RN
As hipóteses sobre f implicam que f ∈ Lr (R2 ), ∀r ≥ 1. Como θ > 2, existe
p > 2 tal que θ−(1− 2p ) > 2. Aplicando a observação A.0.1 para ψ = χ|ξ|−1 , φ =
χc |ξ|−1 , F = fν − fµ e s = p, onde χ e χc denotam as funções caracteristicas
sobre a bola B(0, 1) e seu complemento respectivamente, temos que
Z
−1
x 7→ |x − ξ| |fν (ξ) − fµ (ξ)|dξ ∈ Lp (R2 )
RN
portanto
∂ p
uν (x) ∈ L (R2 ) ∀ν ∈ N
∂x i
e
Z 1/p
∂ ∂
| uν (x) − uµ (x)|pdx ≤
R 2 ∂x i ∂x i
243

Z Z 1/p  Z  Z
1 1
χ|ξ|−1 dx |fν − fµ |pdx + χc |ξ|−pdx 1/p |fν −fµ |dx
2π R2 R2 2π R2 R2
conseqüêntemente (∂uν /∂xi )ν∈N é uma seqüência de Cauchy em Lp (Rn ), por-
tanto limitada. Aplicando o lema A.0.4 a uν (x) − uµ (x) obtemos

Z 1/p
a p
|uν (x) − uµ (x)| ≤ |uν (0) − uµ (0)| + C|x| |∇uν (ξ) − ∇uµ (ξ)| dξ
R2

onde a = 1 − p2 . Para provar que (uν )ν∈N é uma seqüência de Cauchy em


C(RN ) somente necesitamos provar que a seqüência numérica (uν (0))ν∈N é
convergente, pero isto segue imediato da definição de uν e das hipóteses sobre
f, portanto existe uma função contı́nua u tal que

uν → u uniforme em conjuntos limitado de R2 ,

∂ α uν → ∂ α u forte em Lp (R2 ) para p > 2, |α| = 1.


O Lema A.0.4 implica que
Z
8p|x|1−2/p
|uν (x)| ≤ |uν (0)| + ( |∇uν (ξ)|p dξ)1/p .
p−2 R2

Como o(f) = o(|x|−θ ) então o(fν ) = o(|x|−θ ). De fato, considere a identidade


Z
fν (x) = ρν (ξ)f(x − ξ)dξ
|ξ|≤ ν1

e aplique as hipóteses sobre f. Portanto temos


−θ+a
o(fν uν ) = o(|x| ) quando x → ∞,
logo fν uν é limitado em L (R ) para todo ν ∈ N. Portanto o lado direito
1 2

de (A.5) é limitado. De onde segue nosso resultado. Consideremos o caso


n > 2. Provaremos que (∂ α uν )ν∈N é limitado em H 1 (Rn ) para |α| = 1. De fato,
como χU e χc U pertencem a L1 (Rn ) e Lq (Rn ) onde q > n/n − 2, aplicando a
observação A.0.1 para ψ = χU, φ = χc U, s = q e F = fν nos levam a
Z
1/q
[ |uν (x) − uµ (x)|q dx] ≤
RN
Z Z Z Z Z
C |χcU |dx[ |fν − fµ |q dx]1/q + C[ |χc U |q dx] |fν − fµ |dx.
RN RN RN R Rn
Portanto (uν )ν∈N é uma seqüência de Cauchy em Lq (R ) então temos que n

existe u em Lq tal que


244 Apéndice A. Decomposição de campos vetoriais

uν → u forte em Lq (Rn )
0
Como fν converge para f em Lq (Rn ) concluı́mos que o produto fν uν converge
para fu em L1 (Rn ), então de (A.5) segue

∂ α uν → ∂ α u forte em L2 (Rn ), |α| = 1.

A demonstração está completa

Lema A.0.6 Seja F um campo vetorial em [H k (Rn )]n tal que o divergente de
F , (div F = f) satisfaz as condições do Lema A.0.4. Então podemos decompor
F em duas partes, ambas em [H k (Rn )]n , uma delas um gradiente e a outra
uma função selenoidal (isto é, com divergente nulo).

Demonstração.- Do lema A.0.5 existe uma função p tal que ∂ α p ∈ H 1 (Rn )


para |α| = 1, satisfazendo

∆p = div F em Rn
Como ∆p = div F ∈ H k−1 (Rn ) então temos que ∂ α p ∈ H k (Rn ) para todo
|α| = 1, e da identidade

F = ∇p + (F − ∇p)
obtemos a decomposição desejada
Indice

Aberto de classe C m , 117 Definida positiva, 202


Absorvente, 73 Delta de Dirac, 71
Densidade das funções C0 , 40
Base, 73 Derivadas intermediarias, 135
Local, 73 Desigualdade
Lp –Clarkson, 42
Canónica, Projeção, 37 de Clarkson, 12
Capacidade térmica, 91 de Hölder, 11, 40
centro de masa, 71 de Interpolação, 41
Coercivo, 161 de Minkowski, 42
Compacidade, 152 de Poincaré, 121
Comportamento Asintótico, 94 de Young, 43
Condição inversa de Hölder, 40
de Dirichlet, 92 de Gagliardo-Nirenberg, 145
de Neumann, 92 de Gronwall, 13
Condição de Dirichlet, 159 de Interpolação, 145
Condição de Signorini, 169 de Jensen, 9
Condição Pontual, 211 de Sobolev, 124
Condição pontual, 208 de Sobolev, Gagliardo, Niremberg,
Condutividade térmica, 91 124
Conjunto Gagliardo-Nirenberg unidimensional,
limitado, 74 142
Absorvente, 73 Inversa de Minkowski, 42
Balanceado, 74 Desigualdades variacionais elı́ticas, 168
compacto, 73 Dirac
Convexo, 6 Delta, 71
Fechado, 73 Distribuição, 78
Conjuntos de ordem infinita, 79
(m,p’) polar, 113 Temperada, 82
compactos em Lp , 58 Vetorial, 152
Continuidade Absoluta, 55
Convergência Fraca em L1 , 55 Efeito Regularizante, 94
Convergência Fraca em Lp , 53 Equação de ondas, 217
Convexa, Estritamente, 16 Equação do Calor, 91
Convexidade e Topologia Fraca, 46 Equações Elı́ticas, 162
Espaço
Decaimento H s (Γ), 174
Exponencial, 17 W s,p (Γ), 196
Polinomial, 17 Hausdorff, 73
Decomposição de campos vetoriais , 227 métrico é completo, 20
Decomposição: rotacional e selenoidal, 227 Reflexivo, 37
Definida negativa, 202 Vetorial Topológico, 73

245
246 Indice

Espaço das funções testes, 78 Variação, 151


Espaço Dual, 28 Localmente compacto, 74
Espaço reflexivo, 37 Localmente Convexo, 74
Espaço Topológico, 73 Localmente Limitado, 74
Espaços Lp com 0 < p < 1, 66
Espaços de Sobolev, 97 Métrica, 19
Espaços localmente convexos, 79 Matriz
Espaços reflexivos, 36 Hessiana, 7
Espaços Vetoriais Topológicos, 73 Metrizável, 74
Meyers, 98
Fatou Minkowski, 66
Lema, 150
Fecho, 73 Normas, 74
Fréchet, 74
Função
Ordem de Uma distribuição, 79
Convexa, 5
Ordem infinita de uma Distribuição, 79
Convexa, Estrictamente, 5
Estrictamente Convexa, 5
Integrável, 149 Pequenhos deslocamentos, 159
mensurável, 149 Plancherel, 88
simple, 149 Principio de Bernoulli, 159
Função estritamente convexa, 16 Principio de trabalho virtual, 159
Funções A-quase convexas, 201 Principio do Máximo, 94
Funções infinitamente diferenciaveis, 75 Problema de contato, 169
Funcional de Minkowski, 46 Problema de Signorini, 169, 217
Problemas de Obstáculos, 217
Gagliardo-Nirenberg Projeção Canónica, 37
Desigualdade, 142, 145 Propriedade de Heine-Borel, 74
Gauss, 98 Propriedade do Cone, 139
Gronwall, 13 Propriedade do Segmento, 110
Propriedade do segmento, 111
Propriedade Uniforme do Cone , 140
Hausdorff, 73
Propriedade Uniforme do Cone, 139
Heine-Borel, 74
Propriedade Uniforme do cone, 139
Identidade de Plancherel, 88
Interior, 73 Quadratic Function, 203
Interpolação real, 174
Irrotacional, 227 Radon-Nikodim, 55
Reflexivo, 37
J.U. Kim, 155 Reflexivos
Jensen Espaços, 36
Desigualdade de, 9 Regularidade
rotacional e selenoidal, 227
Lei de Fourier, 91
Lei de Newton, 91 Selenoidal, 227
Leibniz, 81 Semicontinuidade Inferior, 33, 161
Lema Seminormas, 74
Mazur, 51 Semipositiva Definida, 7
de Fatou, 127 Serrin, 98
de Gronwall, 15
Lema de Fatou, 150 Teorema
Lema de Rieman Lebesgue, 62 Convergência Dominada, 150
Limitada da Representação de Riesz, 52
Indice 247

da representação de Riesz para Lp ,


51
de Egorov, 56
de Lions Stampachia, 161
de Morrey, 129
de Rellich-Kondrachov, 133
do Traço em H m (Rn−1 ), 174
do Traço em Lp (Rn−1 ), 180
Bochner, 150
de Hanh Banach, 31
de Sobolev, Gagliardo, Niremberg,
124
Lions, 152
Meyers-Serrin, 98
Radon-Nikodim, 55
Teorema da Convergência Dominada, 40
Teorema de Lusin, 39
Topologia
Forte, 47
Fraca, 47
Topologia Fraca, 47
Topologia fraca estrela, 79
Traço de funções em W 1,p , 180
Transformada de Fourier, 83
Transformada de um distribuição, 89
Transformada Inversa de Fourier, 87

Variação
Limitada, 151
Total, 151
Vizinhança, 73
248 Indice
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