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Vê-se que a festa cuidadosamente preparada pelo senhor para dar as boas-novas
frustrou-se em seus objetivos, pois os ex-cativos souberam com antecedência que a
escravidão já havia sido abolida. Na manhã seguinte, o senhor experimentaria desgosto
maior ao constatar que os ex-escravos não atendiam à convocação ao trabalho, pois,
segundo o velho ex-escravo, "no outro dia não tinha ninguém mais no terreiro". p.374
Basta dizer que, um ano depois do Treze de Maio, as áreas rurais do Recôncavo baiano
ainda estavam conflagradas por conflitos envolvendo ex-escravizados e proprietários
rurais. Ali os ex-escravizados se recusaram a receber a ração habitual, e só aceitavam
trabalhar mediante pagamento semanal ou por diária. Recusaram-se também a cumprir
as mesmas jornadas de trabalho do tempo da escravidão. Exigiram trabalhar menos
horas nas lavouras dos fazendeiros e reivindicaram mais tempo para se dedicarem às
áreas que lhes eram reservadas para o cultivo de suas próprias lavouras. Trabalhar nos
termos das velhas relações escravistas era visto pelos libertos como "continuação do
cativeiro". P.375
Por seu lado, os libertos tiveram que se esforçar para efetivar sua condição de liberdade
num contexto de repressão que atingia não apenas os "treze de maio", mas toda a
população negra. Nos anos iniciais do Brasil republicano, recrudesceu o controle sobre
os candomblés, batuques, sambas, capoeiras e qualquer outra forma de manifestação
identificada genericamente como "africanismo". Esse antiafricanismo teve implicações
dramáticas para as populações negras, pois reforçou as barreiras raciais que
dificultavam o acesso a
melhores condições de vida e a ampliação dos direitos de cidadania. P. 376
Nos anos 1930, a Frente Negra Brasileira relembrava o fim do cativeiro, mas também
fazia daquele dia um momento para denunciar e reatualizar antigas demandas da
população negra, especialmente acesso à educação. P. 376