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As Obrigações dos Maçons

6.3 - Conduta quando os Irmãos se reúnem sem estranhos, fora


de uma Loja constituída

Saudar-se-ão uns aos outros de


maneira cortês, como ensinado,
chamando-se de Irmãos, dando
livremente as instruções de modo que
for conveniente, verificando que não
são vigiados ou observados; sem
ultrapassar o limite, ou faltar ao
respeito que é devido a todo o Irmão,
mesmo que não seja um Maçom; porque
todos os Maçons são iguais, Irmãos, ainda que a Maçonaria não elimine a
honraria do homem antes de sua Iniciação, ou sequer acrescente algo a esta,
especialmente se tenha merecido respeito da Fraternidade, que deve honrar
aquele que é merecedor, e evitar comportamento impróprio.

Fora de Loja, os maçons devem mutuamente tratar-se como se irmãos de sangue fossem:
saudarem-se como dois irmãos se saúdam, falar um como o outro como dois irmãos o fazem,
manter relações de cordialidade e amizade e consideração e cumplicidade em tudo similares às
dos irmãos.

Nenhum tratamento mais distante do que esse é admitido entre os maçons, seja qual for a sua
antiguidade, os ofícios que exercem ou não. Um recente Aprendiz trata e é tratado pelo Grão-
Mestre desta forma - e por nenhuma outra.

No entanto, esta Obrigação deixa também claro que a igualdade fundamental entre maçons, a
fraternidade que é razão de ser da instituição e norma de conduta irrevogável para todos, não
afasta ou ultrapassa as posições sociais, a consideração e o respeito devido pelo que o indivíduo
já era antes da sua iniciação e continua a sê-lo depois dela.

O marceneiro não pretende ensinar o Padre Nosso ao vigário e o ministro religioso não busca
ensinar aquele a fazer móveis. O escriturário não se arroga condições para estar mais bem
preparado para fazer diagnósticos que o médico e este reconhece que sabe bem menos de
técnica de arquivo, elaboração e encaminhamento de documentos do que aquele.

A fundamental igualdade da Maçonaria não é vão igualitarismo, não é pretender-se que todos
sejam tratados por igual, de igual modo. É aplicar a máxima de que o que é igual deve ser
tratado de forma igual e o que é diferente suscita diferente tratamento.

A igualdade fundamental da Maçonaria indubitavelmente que implica a igual consideração, o


igual respeito, a igual atenção, pelo que de fundamentalmente igual todos temos: a nossa
Humanidade, a nossa capacidade de aprender, o nosso propósito de melhorar, enfim a
absolutamente igual dignidade da pessoa humana, que implica que todos nascem livres e iguais
em direitos e deveres. Não é por um ser marceneiro que se pode ou deve presumi-lo como
menos capaz do que o ministro, tal como os maçons não consideram o médico mais nobre ou
digno de respeito do que o escriturário. Em Maçonaria, ser operário ou trabalhador manual e ser
intelectual ou colarinho branco são apenas ocupações, formas de trabalhar, de ganhar a vida
honestamente, não fontes de diferenciação ou de primazia ou de análise de valia pessoal. O
importante é que cada um seja, e procure ser o melhor que lhe seja possível no seu campo de
atividade, o melhor que consiga enquanto pessoa.

O maçom não confunde igualdade com igualitarismo, porque este procura igualizar por baixo
enquanto aquela busca nivelar por cima. Com efeito, o igualitarismo, o entendimento de que
todos devem ser tratados por igual, que todos são iguais, apesar de evidente e naturalmente
todos sermos diferentes, nivela por baixo, diminui os naturalmente mais capazes ou mais
desenvolvidos para o plano dos menos preparados ou dotados, única forma de todos igualizar.
Mas a verdadeira igualdade, reconhecendo que a dignidade e a humanidade de todos é
essencialmente igual, atenta em que as condições sociais, a educação, as diferenças de caráter, a
pura aleatoriedade da vida fazem destes seres estruturalmente iguais indivíduos com diversas
caraterísticas, diferentes saberes, diversificadas escolhas. Todos temos formas diferentes mas
essas formas são todas feitas da mesma massa. A aspiração de todos os diferentes é igual: atingir
o máximo do seu potencial. E é isso que a Maçonaria reconhece, busca e acalenta.

A igualdade fundamental praticada pela Maçonaria permite lograr que o marceneiro, o ministro,
o escriturário e o médico sejam, cada um deles, aquilo que são, que a sua história e evolução
pessoal determinam, mas adicionando a cada um deles algo do que os outros sabem e são e
sentem. E assim todos e cada um deles sabem um pouco de fazer móveis, de teologia, de
fisiologia e de técnicas de arquivo - para além daquilo que a fundo conhecem. A igualdade dos
maçons é a igualdade do desejo de melhorar, de aprender, a igualdade na capacidade de o
conseguir, a igualdade no propósito de o fazer em conjunto, partilhando saberes, dores, alegrias,
projetos, êxitos e fracassos.

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira,


Edições Cosmos, 2011, página 134.

Rui Bandeira

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