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Rússia, Irã e Venezuela são os mais afetados hoje, mas se a indústria do xisto não
paga os empréstimos aos bancos, está formada a crise mundial.
Trata-se de uma trama para jogar a humanidade cada vez mais no buraco. É um jogo
extremamente perigoso, mas que faz parte da indústria petrolífera mundial, desde que
furaram o primeiro poço na Pensilvânia no século XIX. Primeiro ponto: até a década de
1950 as chamadas Sete Irmãs – Exxon, Mobil, Shell, BP, Chevron, Texaco e Gulf Oil –
detinham 55% da produção mundial. Com exceção da Shell, anglo-holandesa, as outras
são petrolíferas nascidas nos Estados Unidos, na verdade quase todas descendentes do
primeiro truste do mundo montado por John Rockfeller. Hoje são quatro “majors” e
elas detêm 10% da produção e 5% das reservas mundiais. Os dados são do professor
da Escola Politécnica da UFRJ, Marcelo Marinho Simas, que também integra o corpo
técnico da Petrobras.
O trabalho elaborado por ele chamado “O Novo Papel das National Oil Companies”
cita as maiores consultorias do setor, como a Accenture e a PFC Energy que mostram a
nacionalização das reservas petrolíferas mundiais – 77% das reservas de petróleo e
51% das reservas de gás. Até a década de 1970, antes do embargo dos árabes de 1973,
as Sete irmãs nadavam de braçada, faziam o que queriam no Oriente Médio, no Golfo
Pérsico, era a “bandeira na frente e os negócios”, como diziam os executivos. O
trânsito era livre, porque mesmo pagando apenas 50% dos contratos aos governos ou
monarquias locais, as corporações manipulavam a tecnologia. Apenas em 1976, que os
sauditas assumiram o controle da Aramco, uma petrolífera montada com quatro sócios
estadunidenses. Conforme relato do livro de Daniel Yerguin – Petróleo, um dossiê de
quase mil páginas.
Então as corporações precisam de novas reservas. Claro que tiveram que investir nas
areias de piche de Alberta, no Canadá, no xisto betuminoso de Dakota do Norte e do
Texas, e em águas profundas na África, no sudeste asiático e no Brasil. Em setembro do
ano passado, um relatório da Agência de Informações de Energia dos Estados Unidos
criticava a posição do Brasil por nomear a Petrobras como única operadora do pré-sal,
com exigências de 60% local nos conteúdos dos equipamentos. “as operadoras
reclamam para si o direito de operarem no pré-sal”, registra uma matéria do Brasil
Econômico de setembro de 2014.
Porque o mercado arde? Esta semana a cotação do barril Brent fechou abaixo dos 50
dólares. O economista francês Jacques Safir, diretor de pesquisa da Escola Superior de
Ciências Sociais, diz que a rentabilidade da indústria do xisto nos Estados Unidos
começa quando a cotação do petróleo atinge 80 dólares. Também é conhecido o fato
de que pelo menos 50% das empresas que exploram xisto nos Estados Unidos são
independentes. Lá basta ter uma terra e algo embaixo, que está liberado. Fura, cava o
poço e o resto vai pro beleléu, inclusive a concorrência. O cálculo varia, mas está entre
4 e 6 milhões de poços exploratórios de xisto, uma indústria que alavancou a economia
estadunidense injetando 800 bilhões nos últimos cinco anos. Porém, a exploração
depende de financiamento dos bancos. E aí o negócio complica. Segundo o analista da
Casey Research, Marin Katusa, desde 2008 o mercado corporativo do xisto aumentou
sua dívida corporativa em US$150 bilhões. “Com 45 dólares o barril não é possível
refinanciar a dívida, isso é uma má notícia para a indústria do xisto”, diz ele, numa
nota publicada na Voz da Rússia, no final de 2014.
“Nos anos 1990, com as fusões e aquisições da Exxon-Mobil, BP-Amoco, Arco, Elf-Total-
Fine, Chevron-Texaco, Repsol-YPF e Conoco Philips as ‘majors’ voltaram a ganhar espaço
no mercado devido à falta de tecnologia de alguns produtores para exploração de
petróleo, além da exigência de abertura de mercados, desregulação e privatizações
promovidas no mundo inteiro pelas ideias neoliberais de Margareth Thatcher e Ronald
Reagan. As ideias foram introduzidas nos pacotes de assistência dos países em
dificuldades que iam ao FMI e ao BIRD, para renegociar suas dívidas”.
Nesta época, Margareth Thatcher vendeu 51% das ações que o governo possuía na
Brites Petróleo, desde que os ingleses, ainda na época de Wilson Churchill, entraram
na Pérsia para explorar petróleo com a empresa então chamada Anglo Perdiam, com
participação governamental. E ali permaneceram por 75 anos, incluindo o golpe que
colocou o Xá Rezha Pavlevi no poder por 26 anos – até a queda em 1979.
Agora vamos à trama. É por demais conhecido que vivemos uma época de mudança
climática e que as emissões de gás carbônico, o maior dos gases estufa, precisam ser
reduzidas. Em 2012, elas atingiram 31,6 gigatoneladas. E até 2020, ou seja, daqui a
cinco anos, não podem passar de 44 gigatoneladas, para que o mundo não sofra um
aumento de dois graus centígrados na temperatura. São números oficiais da Agência
Internacional de Energia, criada em 1974, logo após o embargo do petróleo realizado
pelos árabes e que só tem 28 sócios. A mesma AIE considera que o consumo dos
combustíveis fósseis precisa ser reduzido em 50% até 2050. Um número considerado
irrealista pelas petrolíferas, conforme está registrado no relatório Panorama
Energético Mundial, publicado há mais de 50 anos pela Exxon, a maior petrolífera do
mundo, com lucro de US$40 bi em 2012.