TEOLOGIA DE UMBANDA

Desenvolvido e Ministrado por Alexandre Cumino

Aula Digitada 02 Parte 04

Obs.: este documento é a transcrição fiel do discurso das vídeo-aulas, portanto poderá conter erros gramaticais
mantendo a originalidade da origem.

Olá meus irmãos. Esse é o quarto e último bloco dessa aula sobre Umbanda e Candomblé. Nós já
falamos que os Orixás tem uma origem cultural Africana, mas tem uma origem Teológica em Deus e que
na Umbanda os Orixás são tratados de uma maneira diferente, na qual eles são tratados no Candomblé.
Umbanda é uma religião, Candomblé é outra religião em algum momento elas se encontram e tem algo
em comum, como a mediunidade e o culto de Orixás em si.
O Candomblé com essa sua estrutura diferente da Umbanda tem um olhar mitológico para a vida
e tudo é explicado por meio de mitologia, ou seja, de lendas. Então, aqui para nossa curiosidade, eu
vou apenas citar algumas lendas do Candomblé por meio das quais se explicam os Orixás. Tudo tem
origem em Olorum – Oló – Orum: Oló = Senhor/ Orum = céu. Olorum é Deus, é o Senhor do Céu e,
também, é chamado de Olodumare, que é o “Senhor supremo dos nossos destinos”. Olorum criou o
primeiro dos Orixás, o mais velho dos Orixás: Oxalá. E deu a Oxalá a incumbência de criar o mundo, deu
para Oxalá um saco chamado “o saco da criação” e disse pra Oxalá: - “Com esse saco, você vá e crie o
mundo”. Então, Oxalá sai do Orum que é o céu em direção ao Ayê que é a Terra, ou se preferir, ele sai
do lado interno da criação para o lado externo ou lado exterior de Olorum para criar o mundo. E,
acredite ou não, Oxalá é o primeiro dos Orixás, mas quando ele sai para o Ayê, Exu já existia. Exu já
estava lá, muito provavelmente, porque Oxalá é o primeiro dos Orixás a habitar esse universo, mas Exu
é alguém que existe antes do universo ser criado. Oxalá é o primeiro a surgir numa ordem cronológica,
ou seja, na linha do espaço e do tempo, em que Oxalá é o próprio espaço que faz um par com o tempo.
Exu, ele existe antes do espaço e do tempo ser criado. Oxalá é o espaço, Exu é o vazio que existia
antes da plenitude de Oxalá ocupá-lo, por isso Exu já estava lá. E Oxalá saindo do Orum vem para o
Ayê, Oxalá cruza, Oxalá vem descendo, Oxalá vem descendo em linha, imaginariamente vertical, Oxalá
desce do Orum para o Ayê, de cima para baixo e ele cruza a linha divisória que separa o Ayê do Orum.
Então, nesse momento nós temos a primeira encruzilhada da criação. A encruzilhada em que Oxalá
desce na vertical cruzando a horizontal que separa Orum e Ayê e na primeira encruzilhada da criação
está Exu. Oxalá sai do Orum para o Ayê e não oferenda o Orixá Exu. Exu, senhor da magia, então,
vendo que não foi oferendado por meio de um feitiço, ele faz com que Oxalá comece a sentir sede,
sede muita, muita, muita sede e ao chegar no Ayê, Exu tinha colocado ali uma palmeira, uma palmeira
cheia de vinho. Oxalá pega seu cajado chamado “Opachorô” e Oxalá fura a palmeira e o que sai é vinho
de palmeira e Oxalá começa a beber, beber, beber, beber, beber, embriagas, Oxalá fica embriagado,
cai embriagado do lado da palmeira. Então, Exu vem, ele rouba o saco da criação e entrega para o
irmão de Oxalá, que essa altura já existe: Odudua. E disse pra Odudua: - “Oxalá dormiu. Você não quer
você cumprir as ordens de Olorum e criar o mundo?” Então, Odudua acorda, perdão, Oxalá dormindo,
Odudua pega o saco da criação e ali, ele cria um mundo e todas as coisas. E quando Oxalá acorda o
mundo já está criado. Oxalá vai até Olorum e explica a situação para o seu pai Olorum o que lhe
aconteceu. Olorum lhe diz: - “Então, meu filho lhe darei uma outra incumbência. O mundo já está
criado e eu lhe dou agora a reponsabilidade de criar os homens, modelar homens e mulheres. Você faça
isso a partir do barro”. Oxalá volta para o Ayê, se estabelece no Ayê, faz uma casinha, coloca o seu
forno, pega do barro, modela o homem, modela a mulher, põe no forno, mas quando ele tira do forno,
o homem e a mulher feitos de barro modelado por Oxalá não tem vida. Então, Oxalá mais uma vez
chama Olorum e fala: - “Meu Pai, fiz tudo como o Senhor mandou, modelei, os fiz do barro, mas não
tem vida”. Então, Olorum, Olodumare diz a Oxalá: - “Presta atenção, vou fazer uma vez para você ver
como é”, chega pertinho do homem e (assopra) lhe dá o sopro da vida. E, assim, surgem os homens e as
mulheres modelados por Oxalá, mas que receberam o sopro da vida de Olorum. Se diz que Oxalá ainda
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estava um pouco embriagado e é por isso que uns saem mais queimados, outros saem menos
queimadinho, tem uns que saem mais gordinho, uns saem menor, outros maiores e ninguém sai muito
igual porque Oxalá estava um pouquinho embriagado, ali Oxalá se estabelece na sua casa. Então, essa é
a maneira Nagô Yorubá de ensinar sobre os Orixás, não é pra dizer que Exu é um egocêntrico, não é pra
dizer que Exu é ladrão que roubou o saco da criação, é para dizer que: até Oxalá antes de fazer
qualquer coisa ou quando passar numa encruzilhada tem que saldar, reverenciar e oferendar Exu. Até
Oxalá oferenda Exu, então, por que é que você não quer oferendar? Por que você não oferendaria Exu
em primeiro lugar, se até Oxalá tem que oferendar. É pra isso que servem as lendas. As lendas nos
dizem sobre o perfil dos Orixás, que Oxalá é um modelador, a lenda diz que você não vê Exu, mas ele
está lá que ele chega em primeiro lugar. As lendas ainda dizem essa mesma lenda diz que Oxalá
estabelecido no Ayê começa a receber visitas de muitos Orixás. Todos os Orixás querem visitar o mais
velho dos Orixás porque ele é considerado o mais sábio, está fazendo os homens, mas Exu vai morar
com Oxalá e olha só, Oxalá recebe Exu com os braços abertos, isso quer dizer que Oxalá, também, é o
Orixá do perdão. Oxalá ou porque ele é muito velho ou porque ele é muito esquecido ou simplesmente
porque ele perdoa, ele não se lembra das falhas de Exu ou simplesmente é a sua qualidade, a sua
característica, o seu mistério de perdoar nossas falhas, os nossos erros ao mesmo tempo em que nos dá
a responsabilidade de corrigi-los fazendo o bem, edificando, construindo. Assim, Exu é recebido por
Oxalá, mas Exu naquele momento se oferece pra trabalhar pra Oxalá, então, Oxalá o recebe como um
trabalhador, como um auxiliar. Exu se torna ali o amigo de Oxalá, o morador da casa de Oxalá, ele diz:
“Peça o que quiser, estou aqui para servi-lo”, pra ele aprender as coisas que são de Oxalá. Oxalá muito
agradecido, mostra pra Exu que antes de chegar na sua casa tem uma encruzilhada e Oxalá dá aquela
encruzilhada de presente pra Exu morar. A partir daí Exu passa a morar na encruzilhada e ninguém,
ninguém mais chega na casa de Oxalá sem passar pela casa de Exu. A partir desse momento e essa
lenda é feita pra explicar isso, sempre que alguém vai visitar Oxalá antes deve fazer um agrado pra
Exu. Um dia, Oxalá é visitado por Orunmilá. Orunmilá é o Orixá da revelação, Orixá que conhece
presente, passado e futuro. Orunmilá é o Orixá do oráculo, do oráculo de Ifá. É o Orixá ao qual se
dedicam os sacerdotes, os Babalôs. Orunmilá vai visitar Oxalá e diz que quer um filho, que Oxalá lhe
faça um filho homem. Oxalá é muito lento, Oxalá é muito devagar ou talvez Oxalá tenha seu próprio
tempo que não é muito compreendido por todos os outros Orixás, dentro da mitologia. Um dia,
Orunmilá chega na casa de Oxalá e fala: - “Pois, você não fez nenhum filho pra mim, então, eu quero
aquele que está na encruzilhada”. E Oxalá diz: - “Não, você não vai querer ele como seu filho” - “Eu
quero aquele que está na encruzilhada como meu filho” e Oxalá, ali Orunmilá é tão enfático em querer
aquele que está na encruzilhada que é Exu, que Oxalá lhe diz: - “Então, passe pela encruzilhada e
quando estiver ali do lado dele, coloque sua mão sobre a cabeça dele e pense em sua esposa, sua
mulher. Volte pra casa, encontre sua mulher que ele vai nascer”. Então, nove meses depois, nove
meses de Orixá, deve ser milênios, depois na casa de Orunmilá nasce Exu. E Exu nasce com muita fome
porque Exu é o “senhor da boca coletiva”, o que quer dizer que ele fala pela boca de todos os homens,
esse é o significado da simbologia, mas metaforicamente, quer dizer que ele tem fome de tudo, ele
come de tudo, tudo ele como, quando não tem mais o que ele comer de comida, ele come porta, ele
come a mesa, ele come tudo. Então, Orunmilá vai até Olorum pedir orientação e Olorum diga, e
Olorum diz: - “Faça uma oferenda pra Ogum e coloque uma espada”. No retorno ao seu lar com a
espada da oferenda em mãos, Orunmilá chega em casa e vê que Exu comeu tudo, comeu a casa, comeu
porta, comeu janela e Exu engoliu a mãe. Orunmilá começa uma perseguição a Exu e Exu foge para o
Orum, vai para o 1º Orum, para o 2º Orum, para o 3º Orum, fugindo de Orunmilá. Então, Orunmilá
encurrala Exu em algum canto do 9º Orum, são nove Oruns, e ali no canto de Orum Exu diz: - “Não,
não, não papai. Eu devolvo, devolvo tudo, devolvo a mamãe” e Orunmilá diz para ele: - “Então, por
favor, assim se faça”. Exu lhe devolve a mulher e Orunmilá diz: - “A partir de hoje você terá o meu
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agradecimento, vou lhe oferecer um oráculo. Vou lhe dar o Merindilogun, o oráculo de dezesseis búzios,
será seu. A partir de hoje você pode falar com os homens e as mulheres por meio do jogo de búzios”,
que é um oráculo de Exu, é um oráculo dedicado a Exu. Exu fica muito agradecido e se oferece para
servir Orunmilá eternamente e lhe dá sua amizade. A partir daí Exu e Orunmilá se tronam dois melhores
amigos, dois muito queridos um ao outro. Isso gerou um ciúme numa das esposas de Orunmilá, Oxum,
gera um ciúme. E nas lendas os Orixás têm muitas esposas e um é companheiro de uma e é
companheiro da outra e numa lenda um é companheiro de uma, e noutra lenda esse um é companheiro
de outra porque são lendas e são mitos, eles não são homem e mulher no sentido terreno e porque as
divindades têm muitas ligações de energia, de vibração, de simpatia, têm muitas ligações. Quando diz
que um Orixá é par do outro, não é no sentido homem e mulher como a nossa instituição monogâmica
terrena de casamento. Isso quer dizer par vibratório, de energia, então, uma das esposas de Orunmilá,
ou seja, uma daquelas que ele faz par de vibração, vibratório, Oxum, ficou enciumada. Então, ele diz
para Oxum: - “Em tua homenagem minha mulher, meu amor, minha Oxum, em tua homenagem as
mulheres poderão jogar o jogo de búzios”. Já que o oráculo de Ifá, que é o oráculo exclusivo de
Orunmilá é um oráculo só para homens, para os Babalaôs. E a partir daí surge o jogo de búzios que é o
oráculo mais usado no Candomblé Brasileiro e essa lenda diz que: “Por meio desse oráculo, Exu fala em
nome de todos os Orixás. Exu é mensageiro dos Orixás”. Então entenda, Exu é, Exu também é
mensageiro dos Orixás, ele não é apenas mensageiro dos Orixás, ele não é office-boy, Exu não é um
carteiro. Lembre-se: Exu é senhor da magia, Exu é senhor da encruzilhada, Exu é senhor das passagens,
Exu é senhor do vazio, Exu é aquele que surge antes do espaço e do tempo, Exu é aquele que surge
antes da razão, do conhecimento, do pensamento. Por isso, ele é algo que vem antes de qualquer
coisa, ele é o Orixá do vazio. Então, digo: “Oxalá é o primeiro. Exu é o número zero, que vem antes do
número um”. Então, entendam essas lendas tentam explicar, metaforicamente, porque é uma lenda,
fala por metáforas. Mitos falam por metáforas. O objetivo é, metaforicamente, falar sobre os Orixás.
Então, entendam que, nada disso aconteceu. Historicamente, nada disso aconteceu, são mitos e lendas
que buscam de uma forma metafórica falar sobre os orixás. Na Umbanda nós temos uma outra maneira
de estudar, mas nós podemos entender vários mitos e lendas dos Orixás e reinterpreta-los sobre uma
ótica Umbandista. É isso que a gente fez um pouquinho aqui agora, hoje, pra que pudesse ter um pouco
de entendimento aí sobre Umbanda, Candomblé e Orixás, está bom?
(Na próxima)... Eu espero que estejam conseguindo aproveitar as aulas, peço que se programe
que procure ter uma disciplina pra não perder o ritmo das aulas. É importante que você assista à aula
na semana que ela entra para o ar e coloque suas dúvidas naquela semana. Não deixe atrasar, não
deixe acumular porque isso atrapalha o seu estudo e também dificulta o meu acompanhamento das
dúvidas daquilo que está sendo colocado por você. Então, desejo bons estudos a todos.
Que Oxalá nos abençoe. E o nosso próximo bloco vamos estudar sobre Umbanda e Espiritismo.
Muito obrigado e até a próxima aula.

DIGITAÇÃO – Equipe Umbanda EAD