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Instituto de Psicologia
Psicopatologia
Drielle Santos
Irani S. Silva
Marília Carneiro
Vanessa J. Santos
Vanessa P. Rocha
Salvador- BA
2014
Universidade Federal da Bahia
Instituto de Psicologia
Psicopatologia
Salvador - BA
2014
1. Introdução
Na área da saúde mental existem hoje vários posicionamentos e modos de intervenção
possíveis (Bezerra e Silva; Caldas, 2008). Sabe-se, no entanto, que a Reforma Psiquiátrica se
propôs a desconstruir os paradigmas clássicos da psiquiatria, no que diz respeito, a assistência
manicomial/hospitalocêntrica, bem como a lógica que os sustenta.
A psiquiatria abriu mão de uma série de tratamentos biológicos que eram utilizados no
tratamento de doenças mentais por julgarem estes inadequados, no entanto, dentre estes
tratamentos, temos a eletroconculsoterapia (ECT), que surgiu na mesma época, e se faz presente
ainda nos dias atuais.
Este trabalho visa refletir sobre aspectos ligados a ECT, inclusive se este tipo de
tratamento se inclui na proposta de não exclusão do doente mental e da sua subjetividade, como
trazido pela reforma psiquiátrica, ainda discute a cerca das implicações que trouxe a criação de
alas psiquiátricas em hospitais gerais universitários, onde a ECT é ofertado; dos critérios,
eficácia e aprimoramentos por quais passou a técnica. Também está presente aqui a discussão a
cerca dos embates teóricos e da falta de diálogo que existe entre os profissionais afins, levando o
tema a ser tratado sempre, por apenas, uma única perspectiva. Para esta reflexão, além de
consultar a literatura, foram feitas visitas na ala psiquiátrica do Hospital Universitário Edgar
Santos, o Complexo HUPES da Universidade Federal da Bahia.
Os mesmos autores contam que uma técnica, a malarioterapia, método de choque pela
febre proposto por Juareg (1917), foi responsável por abrir o circuito de tratamentos biológicos
em psiquiatria. Mas, foi Meduna (1933) quem deu origem a prática de provocar convulsões para
a melhora de sintomas psiquiátricos. O autor, ao perceber que era incomum que se ocorressem
convulsões em pacientes esquizofrênicos, e ao observar que estes tinham uma recuperação
facilitada após um episódio epléptico, lançou a hipótese de que a eplepsia seria capaz de
antagonizar a esquizofrenia. O que sugeriu este autor foi um antagonismo biológico entre as
convulsões da eplepsia e os delírios psicóticos, isto se apoia na ideia de que “...uma condição
psiquiátrica poderia ser alterada por uma doença sistêmica” (Fink, 2007, p. 206 apud Bezerra e
Silva; Caldas, 2008)
Segundo Silva (2012), inúmeros pacientes, em vários países, foram tratados com
eletrochoque, uma técnica que era indicada sem muitos critérios a qualquer um que apresentasse
um quadro grave, independente do diagnóstico. A autora ainda diz que os choques elétricos eram
utilizados para controlar o paciente, quando este apresentava inquietação, agressividade ou
inquietude, ou seja, usado como forma de amendontrar e subjugar o paciente.
A autora ainda denuncia que a aplicação era feita sem anestésicos, e que após as sessões
os pacientes apresentavam perda de memória, hematomas, lesões e fraturas causadas pelos
espasmos advindos do choque, quando não era o caso de óbito. As fraturas ósseas eram os
principais efeitos graves da ECT nessas condições, sendo a mais grave a fratura de coluna.
(Almeida et al. (1988) apud Ávila, 2010)
Assim, Silva (2012) diz que o eletrochoque tem uma história de abusos que não é negada
nem pelos seus defensores. Nas décadas de 1960 e 1970, o eletrochoque tem sua popularidade
diminuída, por conta dos movimentos contrários a essa técnica, devido a inadequação e violação
de direitos humanos, e paralelo a isso, tem-se também o avanço dos psicofármacos. Porém, “no
início da década de 1980, observa-se um retorno na indicação do eletrochoque como terapia
recomendada para os casos de fracasso ou de poucos resultados no tratamento centrado na
medicação” (Silva, 2012, p. 38). Esse retorno veio marcado de avanços técnicos, em relação a
aplicação, indicações e adequação ao tratamento, “As recomendações definem alguns cuidados
antes não observados, como o uso de anestesia geral, de relaxante muscular, o monitoramento do
funcionamento cardíaco, da pressão arterial e da oxigenação do sangue durante todo o
procedimento” (Silva, 2012, p. 40)
Silva (2012) diz que os avanços consideráveis da ECT, quanto ao procedimento, não
reformularam os princípios que guiam a técnica, diz também que as perdas de memória
persistem mesmo com os avanços científicos, o que é uma experiência angustiante para os
pacientes e que o eletrochoque ainda é uma polêmica que divide os envolvidos em polos opostos.
Segundo a autora:
Saber se o eletrochoque (ou ECT) é uma maneira de cuidar do outro ou uma forma de
eliminar a diferença que esse outro traz consigo é uma indagação que, por sua própria
formulação, já demonstra que a resposta independe da opinião técnica de especialistas
ou do resultado das recentes pesquisas psiquiátricas. (Silva, 2012, p.41)
1.2 A construção de alas psiquiátricas em hospitais gerais universitários
O hospital geral foi definido como “uma composição de várias clínicas” ou “um todo
dividido em partes” (4). A internação hospitalar é uma ação requerida por profissionais
especializados, quando se instala determinada condição do processo saúde-doença que requer
tratamento especializado, intensivo, evasivo, dentre outros, (Machado AL, Colvero LA.). No
Brasil, em 1954, na Bahia, surgiu a primeira Unidade de Internação Psiquiátrica em Hospital
Geral (UPHG). Em São Paulo, implantou-se no mesmo ano, com expansão progressiva para todo
o país.
A utilização desse procedimento é feita nas alas psiquiátricas desses hospitais sendo de
uma forma geral um retrocesso da reforma psiquiátrica? Em nossa visita técnica à instituição do
Hospital das Clinicas (HUPES), mas especificamente na ala psiquiátrica 3B, observou-se nas
entrevistas que a utilização do ECT não é algo que eles tentem esconder pelo contrário segundo
um de nossos entrevistados, (residente de psicologia) a aplicação do ECT é feita em ultimo caso
e que diferentemente do que ocorriam décadas passadas, hoje o ECT é feito de forma mais
segura e com a utilização da anestesia que antes não estava presente na aplicação do
eletrochoque em hospitais psiquiátricos.
Na ala 3B localizada no terceiro andar do hospital possui grades em seu entorno como
forma de segurança, segundo o entrevistado, residente de psicologia. Pois, muitos dos pacientes
que chegam até a ala vêm com ideação suicida e por questão de segurança do paciente as grades
estão presentes nesse espaço, sendo também que as portas são trancadas, tendo uma campanhia
para ter acesso à ala. Isso traz o problema do sujeito e sua autonomia.
Como pode uma ala que propõe humanizar a intervenção com os doentes mentais ter
espaços que lembram um hospital psiquiátrico, como as grades, portas trancadas e a aplicação
do ECT que parece está no descaminho do que a reforma propõe?
O que haveria de novo nesse espaço? Um hospital geral universitário como forma de
modificar o olhar e o tratamento com relação ao paciente possuidor de algum transtorno mental?
Estas são questões que serão discutidas e problematizadas com a análise das visitas e das
entrevistas aqui no relatório.
2. Objetivos
3. Método
Como não se obteve acesso a informação, através das visitas, de quando surgiu a
enfermaria e desde quando se aplica o ECT no HUPES, supomos que a mesma se instaurou com
a inauguração do hospital.
Para ter acesso à enfermaria, nós precisamos mandar um e-mail, para o responsável, já
que o mesmo se encontrava de licença, com oficio, emitido pela professora da disciplina, em
anexo. Ressaltando, que isso só aconteceu depois de duas semanas de tentativas. Na mesma
semana de envio do e-mail o responsável respondeu liberando o acesso. No meio desse processo
encontramos um residente de psicologia que foi a pessoa que nos deu todo o suporte durante as
visitas.
Foram realizadas, ao todo, três visitas, sempre em duplas para não interferir tanto na
dinâmica da enfermaria. Na primeira visita conhecemos as instalações da enfermaria. Ela está
localizada no terceiro andar do HUPES, na ala 3B, as portas são trancadas e existe uma
campainha para solicitar a entrada. Ao lado da campainha há instruções para tocar apenas uma
vez e aguardar e na porta uma instrução para dar duas voltas na chave ao trancar, além de ser a
única enfermaria gradeada em todo o hospital. Dentro, ela é composta por banheiros para
visitantes e para profissionais, e sala que funciona como estoque, uma sala de reunião onde são
discutidos os casos com toda a equipe, o refeitório, uma sala que funciona como espaço de
convivência onde são realizadas as atividades da terapia ocupacional e da psicologia. Nessa sala,
há uma televisão, algumas cadeiras, uma mesa e estantes com os trabalhos artesanais expostos.
Há um posto de enfermagem e a sala para aplicação do ECT e os corredores laterais que servem,
também, como espaço de circulação dos pacientes.
É uma enfermaria pequena e feminina, contem apenas 12 leitos e dois que funcionam
como uma espécie de apartamento, geralmente reservados para quando há necessidade de
internação de homens.
As sessões de ECT foi colocada para nós, tanto pela psiquiatria como pela psicologia,
como o ultimo recurso depois da falta de resposta pelo paciente a outras alternativas terapeuticas.
Com isso, essa enfermaria recebe, portanto, uma demanda de todo o Estado por ser o único
hospital publico que realiza a aplicação de ECT, ou seja, são pacientes de CAPs, ambulatórios e
hospitais de todo Estado da Bahia.
Na segunda visita já foi possível observar uma sessão de ECT, assim como, entrevistar a
paciente porque ela estava internada na enfermaria, o que não seria possível com um paciente de
fora que vem apenas para a sessão. Também foi realizada uma entrevista com o psicologo
residente.
Na terceira visita pôde-se, novamente observar a uma sessão de ECT e, também, tivemos
a oportunidade de participar de uma sessão em grupo organizada pela psicóloga da enfermaria
que estava voltando de ferias.
A sala para aplicação do ECT é pequena. A sessão é realizada por uma equipe composta
por um psiquiatra, um anestesista e duas enfermeiras. O paciente é colocado na maca, são
colocados dispositivos que medem a pressão arterial e os batimentos cardiacos, é colocado um
acesso para a aplicação da anestesia e é utilizada uma bomba de oxigenio. Após observado,
pressão, batimentos e oxigenação é que a anestesia é aplicada. Somente, depois de confirmado o
efeito eficaz da anestesia a/o psiquiatra entra com o choque, em seguida se observa o tempo de
duração das convulsões e então a sessão é finalizada. Com menos de uma hora depois do
procedimento o paciente é liberado e sai andando normalmente.
4. Resultados e Discussão
Tais pressupostos ganharam espaço nas atuações e planejamentos de ações no que diz
respeito à loucura. Era de esperar, portanto que o paradigma biologicista estivesse obsoleto e não
recebesse mais incentivo nem por parte da máquina estatal, quanto da sociedade. Todavia a
realidade observada através do HUPES, hospital universitário da UFBA, mostra que a força do
modelo médico-biológico ainda tem grande aceitação dentro de nossa sociedade.
Eles vêem numa perspectiva psicossocial como se a variável biológica não fosse
importante. Por outro lado pessoas que trabalham em hospitais tem um reducionismo
biologicista também, como se a variável psicossocial não fosse importante. A gente precisa fazer
um exercício para tentar organizar isso, eu acho que eu, por exemplo, por ter uma formação de
psicólogo sou adepto as ideologias da reforma, percebo como isso é importante e necessário.
Mas por estar trabalhando dentro de um hospital uma perspectiva biológica prática então eu
não posso de forma nenhuma ficar tomando lado, eu tenho que tentar fazer uma ponte, até
porque o que se entende por “ser biopsicossocial”, onde está o bio, no psicossocial, e onde está
o social no biopsíquico? A gente tem que fazer essa ponte, eu acho que na UFBA temos uma
visão psicossocial principalmente, da reforma e do adoecimento do corpo.
Será que o psicólogo está interessado em saber que a esquizofrenia tem relação com a
dopamina e o caso de depressão tem a ver com a serotonina?
Interessados em saber que a psicoterapia tem efeitos biológicos. Não é uma intervenção
medicamentosa, mas que tem efeito no cérebro. Assim como um tratamento medicamentoso que
torna um paciente mais funcional possível de construir relações.
Este mesmo psicólogo também afirma que hoje “...a tendência da política em saúde
mental é que as internações aconteçam em hospitais gerais (...) a tendência é que o HG da
Bahia e do Brasil tenham enfermaria de psiquiatria e ai você abre espaços para novos
desafios.”
Quando sabemos que abrir leitos psiquiátricos em hospitais gerais é uma tendência atual
na saúde publica, há uma compressão de retrocesso frente à Reforma, mas de acordo com o
psicólogo entrevistado há uma mudança significante e que faz toda diferença para ele: (...)
internação em hospital psiquiátrico é uma coisa que choca, vai contra ao principio da reforma,
a internação em enfermaria é diferente por varias razões, o paciente aqui vai estar num centro
de saúde tratando o problema de saúde como qualquer outro paciente com problemas cardíaco,
ele não está isolado num hospital psiquiátrico, ele está num hospital como qualquer outro, outro
fato é que se ele tiver algum outro problema que não seja somente o transtorno metal , há a
possibilidade de tratá-lo aqui também, através da solicitação de interconsultas com outras
enfermarias, o que num hospital psiquiátrico era negligenciado.
A partir desta fala percebemos que não se colocam opostos aos pressupostos da Reforma
Psiquiátrica, criticam também o modelo de institucionalização dos Hospitais Psiquiátricos,
colocam o paciente como possuidor de direitos à saúde geral, não apenas como portador de um
transtorno mental. Este é um resultado ambíguo, pois, suas estratégias de intervenção são
voltadas para o tratamento biológico, com pouca ou nenhuma referencia ao pressuposto chave da
Reforma que é o sociocultural. Postura que nos coloca diante do seguinte questionamento: Quais
as brechas que a Reforma Psiquiátrica possui que fazem surgir tais interpretações como a
encontrada na Enfermaria 3B do HUPES?
Uma pista pode ser dada ao observarmos uma crítica existente à proposta de
desistitucionalização;
Uma das coisas que nos foi revelada pelo psicólogo residente entrevistado é que entre o
Serviço de Psicologia e a Ala 3B há um corte de relacionamento, devido a questões pessoais.
Ficou subtendido em sua fala que era relacionada a abordagens teóricas, pois, segundo este ele e
a outra psicóloga que trabalha na 3B trabalham com a TCC (Teoria Cognitivo Comportamental)
e as demais psicólogas do Serviço do HUPES são psicanalistas e ele por ser residente é o único
que faz essa “ponte”.
Porem mais tarde quando foi feita a pergunta se entre a 3B e o Serviço de Psicologia em
relação a esses pacientes que fazem ECT se o Serviço também há acompanhamento conjunto dos
casos?
Ele respondeu que se a pessoa que faz ECT estiver internado sim. “Tem a residência (em
psicologia) aqui, com psicólogos residentes e tem a psicóloga , todos os pacientes são
acompanhados, já os pacientes que vem só para o ECT, a gente não tem como dá suporte
porque o serviço de psicologia daqui só atende pacientes que estão hospitalizados.”
Quando foi perguntado sobre como é feita a triagem ele revelou um pouco mais sobre
como é o funcionamento do trabalho (diálogo) dos psicólogos dentro do HUPES:
É solicitado uma interconsulta, todos os profissionais aqui do hospital pode solicitar
interconsulta com o serviço de psicologia , daí a gente vai avaliar o paciente e se identificarmos
que há uma necessidade a gente acompanha, vai depender muito de cada caso.
Existem desmembramento do serviço de psicologia lá na parte pediátrica do serviço,
ambulatório de saúde mental infanto-juvenil são totalmente a parte, não há interação também
por problemas interpessoais, então existem ilhas aqui no hospital e não existe um acesso muitas
vezes. A psicóloga que trabalha aqui na 3B não está mais vinculada ao serviço de psicologia,
ela trabalha aqui, eu como residente de psicologia estou vinculado ao serviço então eu faço esta
ponte , estou aqui e lá , mas o pessoal que está no serviço não está aqui, e o pessoal da 3B não
está lá.
Este tipo de conduta pode ser prejudicial para além dos pacientes que demandam os
serviços de psicologia do HUPES, lembrando que este é um espaço universitário que visa a
construção de conhecimentos, como atingir este objetivo se não há diálogo?
Não resta dúvida que eles falam sobre os pacientes, mas será que eles falam com os
pacientes? Por isso foi questionado como era o diálogo dos psiquiatras de lá com os pacientes,
nisto O psicólogo entrevistado foi sincero em responder que não passa muito de um “oi tudo
bem, como está? Bem? Bem!” Deixando assim explicito que se a fala é pouca, então a escuta é
provavelmente limitada.
Em relação aos pacientes que são fora do HUPES e vão somente para a ECT a maioria
deles são acompanhados em CAPS ou ambulatórios, vão para o tratamento específico, um ou
dois dias na semana a depender do caso, ou eles são acompanhados nos ambulatórios Magalhães
Neto, do laboratório de psiquiatria, de psiquiatria geral. Segundo o entrevistado “Existe alguma
relação, mas não dá pra acompanhar de forma muito sistemática todos os dias o paciente que
está funcional, que está trabalhando, estudando e fazendo acompanhamento no CAPS, agora,
infelizmente ainda é falha comunicação entre o CAPS e a equipe daqui (HUPES) e vice versa,
seria por uma resistência da equipe de lá ou daqui, mas o fato é que a comunicação não se dá
de forma muito efetiva ainda . Temos um exemplo próximo que é o CAPS 2 UFBA que é aqui
muito próximo no território, tem muitas vezes paciente que vem de lá que vem pra cá e o
processo que referência e contra-referência não é muito adequado, então o paciente volta sem
haver uma diálogo , não existe um contato muito direto, isso ocorre também devido ao fatores de
relacionamento interpessoal, mas isso acontece em muitos lugares e infelizmente quem fica
prejudicado é o paciente.”
Esse é um dado muito significante, pois evidencia não só a falha de diálogo do HUPES,
ou de algum CAPS, mas a falha de toda rede de apoio territorial de saúde mental, um
pressuposto técnico-assistencial da Reforma Psiquiátrica.
Durante a oportunidade de visitas à 3B podemos observar duas sessões de ECT, a primeira delas
foi com uma paciente que estava na sua penúltima sessão. Antes desta a paciente estava em pé no
corredor, e aparentemente calma. Depois da sessão conversamos com o psiquiatra residente que
estava presente, ele nos tirou dúvidas do procedimento, seus efeitos colaterais e respectivos
benefícios. Confiante em seu discurso ele disse-nos que se quiséssemos podíamos até falar com a
paciente mais tarde quando ela acordasse.
A curiosidade era saber como ficava o estado de nervos, fala, capacidade de raciocínio de
uma pessoa logo após um procedimento como esse. Aguardamos o tempo necessário de um
breve descanso dela, então pedimos o psicólogo residente para falar com ela, ele ficou um pouco
receoso, disse que ela não estava respondendo bem ao tratamento, perguntou o que
perguntaríamos a ela, nós respondemos que apenas observar como uma pessoa fica e se sente
depois de um procedimento como esse.
Antes é necessário descrever um pouco sobre RS. Ela era técnica de enfermagem do
Roberto Santos, tem 50 anos, é casada, tem filhos, possui um histórico de hepatite que não
respondeu ao tratamento.
Considerações finais
O que destacou de mais relevante neste trabalho, não foi somente a questão da aplicação
do ECT em plena vigência da Reforma e em sentimento de pertença a essa, na coexistência dos
paradigmas sociocultural e biológico sobre a saúde mental, mas que essa coexistência não é
pacífica como era de esperar, considerando que seus pressupostos as vezes são opostos. Mas o
que se espera principalmente dentro do espaço de um ambiente acadêmico é que desse embate
teórico surjam conhecimento, crescimento, possibilidades.
Uma crítica bem fundamentada é o que precisamos, tanto para quem defende a Reforma sem
ECT, quanto para quem defende a Reforma que conversa com o biológico, a fala do psicólogo
residente ilustra adequadamente tal necessidade: “Um centro fechado possibilita a isolação de
direitos humanos, o que é importante também verificar, o que parece também é que o pessoal do
instituto (de psicologia) parece estar alheio ao que acontece aqui dentro (na 3B). Então há uma
critica externa a nível de reforma, mas há também um critica interna , então é necessário você
se aproximar conhecer para daí você fazer criticas bem fundamentadas.”
Esta é uma realidade que engessa o atendimento a quem necessita. Onde estão as
pesquisas de ambas as partes na UFBA para defender seu ponto de vista? Aqui não conhecemos,
lá também não, prova disto é uma breve pesquisa pelo sistema de biblioteca da universidade
sobre o tema “Eletroconvulsoterapia” ou “Eletrochoque”, sendo que a depender o termo
colocado já se carrega um juízo de valor. Mas ciência não se faz com julgamentos infundados, e
sim com evidencias. Precisamos delas de ambos os lados para que possamos atender bem a
quem precisa.
Referências bibliográficas
Sala de atendimento, banheiro dos pacientes e visitantes, sala de terapia ocupacional (atividade,
oficinas, artesanato, festa de aniversário de paciente), Sala dos leitos, Área gradeada, refeitório /
área de socialização.
Por que as grades?
Por questões de segurança, alguns pacientes começam a subir pela grade e se não tivesse as
grade deixaria o espaço livre, e se acontecesse um acidente o hospital seria o responsável e como
seus profissionais.
As demandas:
Normalmente vem paciente com ideia ou tentativa de suicídio , mais a maior demanda é
pacientes com transtornos de personalidade, além de estado depressivo, transtorno de ansiedade.
A paciente que esteve mais tempo aqui desde que estou aqui é de duração de seis meses.
E os pacientes chegam de onde?
Chega do Magalhães neto, dos ambulatórios, dos CAPS. Dos mais diversos lugares.
A capacidade da enfermaria?
Ao todo são 12, os leitos são apenas de mulheres. Tendo internações especiais em uma sala para
homens. Que vem de outras instituições nos hospitais dias. O paciente fica internado de dia e sai
de noite para voltar para casa.
Como é feito o atendimento aos pacientes internados na enfermaria?
O Atendimento não ocorre apenas nos leitos, pode ocorrer nos momentos em que os pacientes
estão no refeitório, aonde os pacientes estão circulando pela ala. Pela noite só ficam os técnicos
e enfermeiros.
* Os pacientes fumam muito, muitos deles começam a fumar com a entrada deles na ala de
enfermaria.
Olá meninas!
Hoje nossa visita foi muito proveitosa, nós ficamos lá das 8:00 h té por volta das 11:30 h, além
de assistir a sessão, nós conversamos com o residente de psiquiatria que estava na equipe que
aplicava ECT e com a paciente que recebeu o eletrochoque. Ela é diagnosticada com depressão
profunda e não estava respondendo bem ao tratamento. Depois disso nós conversamos com
Diego sobre o caso dela.
Não me lembro de todas as perguntas que fizemos, pois foram inúmeras entre elas:
-capacidade da enfermaria
-tempo de internação dos pacientes
-quanto tempo a 3B faz ECT
-limite de idade para se aplicar o ECT
-se existem outra forma de tratamento aliada ao ECT
-as consequencias da terapia para o paciente(efeitos colaterais)
-as consequencias da terapia para o paciente (benefícios)
-quais as patologias(quadros) que são indicados ECT
-intervalo entre as sessões
-quando se sabe que o ECT foi efetivo e se não foi qual o procedimento
-se é feito o acompanhamento dos pacientes encaminhados
-se existem pesquisas no hospital, já que é universitário, referente ao ECT, com o objetivo de
comprovar a eficácia da tecnica
-opinião a respeito da reforma psiquiátrica
-comunicação com o serviço de psicologia do hospital
-comunicação dos médicos psiquiatras com os pacientes
Como é o vinculo dessas pessoas que só vem para a sessão de ECT com a equipe?
Dhiego: Bem, acho que o que primeiro deve se discutir é os critérios para se fazer ECT,não é
todo paciente que vem pra vá que vai fazer ECT, não é o tratamento de primeira escolha, por
assim dizer, ele ( o paciente) vai ser acompanhado pelos profissionais e terá tratamento
farmacológico , terapia ocupacional, são os tratamentos que a maioria dos paciente passam, e na
maioria das vezes surte o efeito com eles, daí eles vão ser encaminhado para outros serviços
Caps ou os ambulatórios aqui , onde eles podem ser acompanhados, a maioria deles saem daqui
fazendo acompanhamento no ambulatório, a ECT só é indicada em casos em que o paciente não
respondem a esses tratamentos tradicionais, por exemplo em paciente com transtorno bipolar
grave que não responde a outro tipo de tratamento , em casos de depressão muito grave,
depressão com sintomas psicóticos , situação de casos em que é difícil trabalhar, na linguagem
medica seria os pacientes chamados refratários , onde utiliza-se ECT como um alternativa, e
muitas vezes ao passar pelo ECT, o paciente passa a responder ao tratamento , então isso tem
uma relação que não está muito bem estabelecida em dados científicos, mas o que acontece é que
muitas vezes o paciente que está esquizofrênico, catatônico , não responsivo, totalmente alheio
ao mundo , após o tratamento ele pode se desenvolver ai você pode entrar com psicoterapia, até o
tratamento farmacologico passa surtir algum efeito. Então é uma aposta , não quer dizer que
todos os paciente que passam por ECT saem melhores .
Vanessa: Fiquei achando que aqui a gente encontraria pesquisas com percentuais de
melhoras
Dhiego; eu não vou dizer que não exista pesquisa, eu não sei pode ser que existe mas eu não sei.
Mas basicamente acompanhamos o critério clinico de melhoras, observamos se o paciente
melhorou. O paciente que esta acamado alheio seja por uma depressão muito grave, seja por
sintomas psicóticos graves, eles está não responsivo a nada, a qualquer tipo de estimulação e
passa o ECT e começa responder, então a gente percebe que tem o critério clinico de melhora
pois há um acompanhamento dos pacientes, em relação os paciente que fora daqui e vem para o
ECT a maioria deles é acompanhados em caps ou ambulatórios, eles vem pra com a tratamento
especifico vem um ou dois dias na semana a depender do caso, há uma vinculo com a equipe
pois a maioria já passou por internação anterior ou por que eles são acompanhados nos
ambulatórios Magalhaes Neto, do laboratório de psiquiatria, de psiquiatria geral , existe alguma
relação, mas não dá pra acompanhar de forma muito sistemática todos os dias o paciente que está
funcional, que está trabalhando, estudando e fazendo acompanhamento no caps , agora,
infelizmente ainda é falha comunicação entre o caps e a equipe daqui (HUPES) e vice versa,
seria por uma resistência da equipe de lá ou daqui, mas o fato é que a comunicação não se dá de
forma muito efetiva ainda . Temos um exemplo próximo que é o Caps 2 ufba que é aqui muito
próximo no território, tem muitas vezes paciente que vem de lá que vem pra cá e o processo que
referencia e e contrareferencia não é muito adequado , então o paciente volta sem haver uma
dialogo , não existe um contato muito direto, isso ocorre também devido ao fatores de
relacionamento interpessoal , mas isso acontece em muitos lugares e infelizmente que fica
prejudicado é o paciente.
Dhiego: Se ele está internado sim. Tem a residência ( em psicologia) aqui, com psicólogos
residentes e tem a psicóloga , todos os pacientes são acompanhados , já os pacientes que vem só
para o ECT, a gente não tem como dá suporte porque o serviço de psicologia daqui só atende
pacientes que estão hospitalizados , internados , então se o paciente tem uma demanda de
acompanhamento a gente encaminha, um serviço como nosso que é pequeno ainda pela questão
de mudança de prefeitura , alguns profissionais que estavam a locados no hospital voltaram a seu
local de origem , forma trabalhar em outras unidades de saúde e temos um serviço agora com
poucos profissionais , e não tem como darmos conta de todas as interconsultas do hospital .
Dhiego: É solicitado uma interconsulta , todos os profissionais aqui do hospital pode solicitar
interconsulta com o serviço de psicologia , daí a gente vai avaliar o paciente e se identificarmos
que há uma necessidade a gente acompanha, vai depender muito de cada caso .
Existem desmembramento do serviço de psicologia la no cppho parte pediátrica do serviço,
ambulatório. de saúde mental infanto-juvenil são totalmente aparte , não há interação também
por problemas interpessoais, então existem ilhas aqui no hospital e não existe um acesso muitas
vezes. A psicóloga que trabalha aqui na 3B não está mais vinculada ao serviço de psicologia, ela
trabalha aqui , eu como residente de psicologia estou vinculado ao serviço então eu faço esta
ponte , estou aqui e lá , mas o pessoal que está no serviço não está aqui, e o pessoal da 3B não
está lá
Dhiego: Nunca vi fazendo com crianças não , até por que o paciente que tem que dá autorização ,
ele vai dizer se quer fazer ou não, ou a família em caso de o paciente não tá em condições de
responder naquele momento, a família é quem decide , não é obrigatório fazer o ECT, há uma
proposta .
Dhiego: não saberia dizer, aqui não fazemos por que não há crianças internadas, no maximo
adolescentes, o mais comum é termos paciente adultos , mas zás vezes acontece de termos um
menor aqui embora não seja o mais adequado e o mais comum.
Em relção ao numero de sessões existem protocolos de ECT, então supondo que seja transtorno
de humor temos uma media de 8 a 10 sessões , o Maximo normalmente chega a 20 sessões , o
paciente não fica fazendo para sempre , excetuando se no tratamento dele exija que para ele estar
bem precise fazer ECT de forma continuada.
Pergunta: A partir de quanto esse tratamento começou a ser utilizado aqui no Hupes?
Dhiego: Data, período não sei dizer.
(uma enfermeira que trabalha a 30 anos no Hupes, afirma que desde que ela entrou já se aplicava
este tratamento)
Havia antes também a insulinoterapia, tem a ver com o nível de insulina no organismo deixou
de ser feito pois alguns pacientes entravam no chamado coma insulínico, que foi um tratamento
experimental que não havia comprovação cientifica , assim como a lobotomia.
O ECT funciona de uma forma completamente diferente do que um dia foi chamado de
eletrochoque. Existe todo um estigma do eletrochoque por que foi usado como punição, utilizado
de forma inadequada , o paciente que não queria “obedecer” e até em pessoas que eram
internadas indevidamente , pessoas ditas indesejáveis, que não possuíam nenhum tipo de doença
mental , eram gays , mulheres adulteras, desafetos políticos , então é natural que as pessoas se
revoltassem contra certas coisas, mas uma coisa que devemos ponderar também é que os
primeiro antipsicoticos vieram na década de 50 , e antes deles não se sabia o que fazer, então
colocavam as pessoas em grandes hospitais , por que estas precisavam ser afastadas da sociedade
e serem “tratadas”, fazendo uma higiene social . Mas ao mesmo tempo a ideia original que
produziu o afastamento dos loucos foi uma proposta de Phillip Pinel, que foi um dos pais da
psiquiatria, a ideia era que o paciente de doença mental estão doentes pela relação doentia com a
família, se este é o principio, eu o afastando da família eu consigo tratar,dando origem ao que foi
quando de tratamento moral, esse tratamento que as pessoas fazem tentando restaurar o louco,
para que ele funcione, possa trabalhar e produzir , para continuar girando as engrenagens do
capitalismo , onde você só existe se você produzir, se você é um louco é improdutivo você não é
nada , então o correto é te isolar. Então os desdobramentos da ideia de Pinel foi o que provou
todas essas criticas históricas, mas a ideia dele não era maltratar e punir, isso foi um
desdobramento. Então a gente não pode culpar o cara que criou a ideia pelo desdobramento
dela, ele nãop tem controle sobre isso .
Outro problema é que quando você isola um paciente em um hospital psiquiátrico não é possível
identificar problemas outros que o paciente venha ter, existe uma priori que o paciente tem
transtornos mentais. apenas . Um centro fechado possibilita a isolação de direitos humanos , o
que é importante também verificar, o que parece também é que o pessoal do instituto ( de
psicologia) parece estar alheio ao que acontece aqui dentro (na 3b). Então há uma critica externa
e nível de reforma, mas há também um critica interna , então é necessário você se aproximar
conhecer para daí você fazer criticas bem fundamentadas . As pessoas acham que internação é
sempre internação e isso não é verdade, internação em hospital psiquiátrico é uma coisa que
choca, vai contra ao principio da reforma, a internação em enfermaria é diferente por varias
razões, o paciente aqui vai estar num centro de saúde tratando o problema de saúde como
qualquer outro paciente com problemas cardíaco, ele não está isolado num hospital psiquiátrico,
ele está num hospital como qualquer outro, outro fato é que se ele tiver algum outro problema
que não seja somente o transtorno metal , há a possibilidade de trata-lo aqui também, através da
solicitação de interconsultas com outras enfermarias, o que num hospital psiquiátrico era
negligenciado. O fato de estar num hospital geral não significa que o paciente seja isento de
preconceito e discriminação, isso acontece muito, por isso nos do serviço de psicologia
precisamos estar perto para poder ajudar a desconstruir essas coisas, infelizmente se a gente não
estiver aqui a possibilidade de esse paciente sofrer praticas abusivas é muito grande.
Eu prefiro colocar a frente a saúde do paciente do que a defesa de uma ideologia qualquer.
Acho que limitar a atuação do profissional de psicologia dizendo que ele deve estar num
programa de proteção básica e não num hospital para mim isso é burrice.
A tendência da política em saúde mental é que as internações aconteçam em hospitais gerais,
infelizmente nós temos uma quantidade muito pequena de vagas em instituições que oferecem
esse tratamento e internação, então os pacientes ou ficam sem internação ou são encaminhados a
hospitais psiquiátricos como o Juliano Moreira ,as a tendência é que o HG da Bahia e do Brasil
tenham enfermaria de psiquiatria e ai você abre espaços para novos desafios, que é trabalhar
essas pessoas, esses profissionais que atuam aqui para lidarem com esses paciente, lidarem com
problemas que inevitavelmente acontecem no manejo desses pacientes.
Mudar um pouco dessa realidade que temos que realmente o psicólogo não está no SUS.
Nessa visita começamos pela sessão de ECT. Logo quando cheguei vi uma paciente saindo da
sala, então Diego pediu para esperarmos para assistir a próxima. na sala tinha uma psiquiatra, um
anestesista e duas enfermeiras. Todos, aparentemente, muito calmos. Quando entramos na sala a
paciente já estava deitada na maca (ela entrou e deitou-se sem a ajuda de ninguém) e com acesso
para aplicação da anestesia. Uma enfermeira colocou um balão de oxigênio na boca da paciente,
eles estavam controlando pressão e batimento cardíaco. A anestesia foi aplicada, ele apresentou
alguns espasmos por conta da medicação e quando ela parou foi controlada a oxigenação para
depois de todo esse processo a psiquiatra aplicar o choque. O procedimento foi muito rápido e a
convulsão durou dois minutos.
Acabado a sessão tiramos algumas duvidas com a psiquiatra. Ela explicou que após 25 segundos
de convulsão o efeito já é confirmado. Os espasmos foi efeito da anestesia e que em uma hora ela
já estaria de pé e liberada.
O quadro da paciente é de depressão profundo, importante, é acompanhada pelo Ambulatório do
Magalhães Neto. Ela já realizou ECT outras vezes, mas quando parava com as sessões ela
retornava ao quadro depressão profunda, por esse motivo ela vai fazer semanalmente sem
periodo determinado para suspender.
Depois que acabou a sessão de ECT Diego nos convidou para participar de um grupo organizado
pela psicologa da enfermaria, que estava voltando de ferias naquele dia. Achei o grupo muito
rico e proveitoso para nossa visita. Participaram cinco pacientes, dois visitantes, Diego, Iri, Eu,
Lene(psicologa) e uma enfermeira que entrou no meio do grupo.
A psicologa foi conduzindo e cada uma falou um poco de sua historia.
….
O grupo foi realmente muito rico, para mim mais rico do que acompanhar a sessão de
eletrochoque, porque a gente ver o que acontece e nos dizem que de alguma forma aquilo será
eficaz, mas e depois como fica o paciente? No grupo, havia uma paciente que estava passando
por tratamento com ECT e como a psicóloga sabia que esse era nosso interesse explorou o caso.
Ela pediu que a paciente explicasse o que era ECT para os outros pacientes que não estavam
sendo tratados com esse mesmo procedimento, ela explicou, achei boa a explicação. Mas depois,
ela se mostrou um pouco insatisfeita por não ter perguntado logo de início mais sobre o ECT, ela
diz que isso aconteceu porque logo quando soube que passaria por esse tratamento, ela viu como
algo benéfico para ela, então teve uma aceitação muito positiva. A paciente apresenta depressão
grave. O interessante é que ela já hiva passado pela última sessão de eletrochoque. Queixou-se
por conta das perdas de memória, segundo ela coisas simples que ela não deveria esquecer, e ela
acaba esquecendo, isso por conta do ECT. Achei legal a intervenção de Diego que disse que
onde a paciente estava havia um bloco que ela sempre podia utilizar para anotar as coisas que ela
não queria esquecer, o que parece que não estava sendo feito. Ela ainda disse que estava muito
ansiosa para a última sessão, e que ela refletia sobre qual a melhora que o ECT havia trazido para
ela. O que me parece e também a gente discutiu depois com Diego e a psicóloga é que ela havia
depositado todas as expectativas dela no ECT. E como Diego mesmo falou, o ECT as vezes é
uma porta de entrada para que outros tramentos possam dar certo, ou seja, não é porque foi a
última sessão que o tratamento acabou. A paciente ela também vem de um histórico de insucesso
no tratamento de Hepatite C que ela possui. No grupo a paciente, se mostrando preocupada,
ainda perguntou aos profissionais qual a melhora que eles viram no tratamento dela, a psicóloga
falou sobre, contou que a situação dela antes era bem grave, ela nem saia do quarto, Diego
também falou sobre isso. A psicóloga também colocou para o grupo (os outros pacientes), e dois
ressaltaram a melhora que viram nela.
Então, segundo os relatos os sintomas que a paciente apresentava realmente foram amenizados,
mas ainda precisa ser trabalhado com ela, até por conta do seu histórico, porque ela ainda não
consegue enxergar essa melhora no seu tratamento, ou o tratamento ainda não supriu tudo o que
ela esperava, mas como foi falado o tratamento não acabou porque acabaram as sessões de ECT.
Outra coisa é que a psicóloga que retornou das férias disse que a mesma paciente já havia
passado por tratamento com ECT antes, e que havia tido uma melhora muito boa, só que parece
que a paciente não se lembrava, Diego não sabia disso.