You are on page 1of 33
José M. Ressano Garcia Lamas unpaeAocavcu cunsenat ruwonchornana'a calvin (A LeNcuOdlA nimattooreneucis COCO NO n t 2s OS ELEMENTOS MORFOLOGICOS DO ESPACO URBANO 5 A idenfificagdo de elementos marfolégicos pressupde conhecer quais os partes da forma eo modo como se estruturam nas diferentes escales, identificadas. Sendo a leitura e composicdo urbanas essencialmente arquitectonicas, podemos aplicar ao espace urbane os mesmo métodos interpretatives do arquitectura. Num-edificio, os elementos-morfaldgicos sao também elementos. construtivos-e espaciais, Nas épacas cldssicas, do Renascimento ao Borroco, podem-se identificar ‘as colunas, a frentao, o entablaments, a cornija, 6 sore e tontos.oviras: No-orqui- tectura amodernas, tais elementos nde existem, mos existem outros: o pilor, a vigo, a palade betdo e por af fora. Sao elementos diferentes, por serem diferentes epe- lo modo como se erganizam; diferencianra orquitectura dessas épocos. Janelas ¢ escadas © outros elementos sempre existiram ¢ sempre desempenha ram idénticas funcdes: iluminacdo interior ou ynido entre niveis diferentes. Tiveram dimensdes e formas diferentes, posicionamentas diversas, intencdes estéticas distin- tas; umas vezes tratados come simples elementos funcionais e discretamente inseri- des ne edificio, outras tratedos como elementos estéticos, marcantes, exocerbados, como a janela do Convento de Cristo, em Tomar. Estes elementos sd0, & portida e em si mesmos, exigéncias funcionais @;construtivas. O modo como se posicionam e se estruturam nos edificios tem a ver-com assas exigéncios, mas depende das inten- des de comunicagde estética oudaquile a que se convencionou chamar a «lingua- gem arquilecténicas. E evidente- que, ao dizer isto, aceite os contributes da semiolo- gio arquitecténica, na medida’em que a codificagde dos elementos arquitecténicos e a.analogia com a linguagem 4 um contribute tedrico interessante (!21. Os elementos mais génerices, como as poredes, as coberturas, os janelas, o8 yvdos, as portas, as escadas, as rampas e tantos outros, sao relativamente constan- tes no arquitectura (como, no sentido mais geral, sao relotivamente constants. as polavras no linguagem co longo dos tempos). As suas-caracteristicas 8 aspects ox- terior; o mode-como se inter-relacionom num-edificio 6 que variam de époco para époce ov de auter pare GUtore tém-a-ver.com-uma linguagem, com a estéticore o comunicacae @ Coima-organizacGo do proprio expaco. Em toda a arquitectura ocidental, podem-se identificar tais elementos: sao aque- fos portes minimas reconheciveis nos edificios com uma fungde construtiva ou pro- gramatica, uma finalidade estética e significante. Recorrende a onalogias extruturalistas da semiologia ¢ com alguma prudéncia, po- deria comparar a linguagem arquitecténica e os elementos marfolégicos dos edificios com a linguagem literéria (SI, na qual existe o texto eas polovras, Estas articulam-se.@ Posicionam-se para formar frases ¢ ideias. Pora transmitir uma ideia num texto, existem varia’ possibilidades lingufsticas, literdrias, de estilo ¢ de forma, tal eamoo mesmo adi- licio eu programa pede ser orgonizado e construide com formas e elinguagenss arqui- tecténicas diversas. Pode-se também verificor que, sendo os elementos mortolégices relativamente constantes na arg ‘turo, através do mado coma se estruturam @ se orgonizam que provém a comunicacdo estética do objecto arquitectonico. Esto constatacéo ¢ também extensive ao espaco urbano. Na cidade, o sentido figu- Fative, come obro de arte colectiva, provém dos objactos — edificios (ou construcdes} —¢ da sua articulacao com 0 espaco por eles definide, ‘O que disse sobre os edificios é extrapolavel para o espoco urbano. Tedavia, desde logo, existe a necessidade de estobslecer uma sescala de leituras, ou seja, estabelecer quais os elementos minimos no forma urbana! «Sub-repticiamentes j¢ 9 havia feito, quando, aofalar de portas, néo mencionei as dobradicas, at fechaduros @ batentes, ou, ao falarde escadas, nda referi a degrau, o caberter, 0 espelho, ou, ao falar de espace urbano, néo falel dos postes de iluminogao ou das fios eléctricos, que também sap importontes, mas cerlamente id em outro nivel de leitura. 0 SOLO — 0 PAVIMENTO Ea portir do-territério existentee-de.sua topografia que-se-desenho ov constrdia ce dade, e comesaria no «chao que se pisos a identificar os elementos morfolégices do es- Paco urbano. E 0 topografia e modelagSo do terreno, mas so também os revestinen- fos ¢ pavimentos, os degraus # passeios ampedrados, os lancis, as faixas asfaltadas, os carris dos aléctricas @ tantas outros ospectos. © solo-pavimento ¢ um elemento de grande importancia no espaco urbano, mos elemento também de grande fragilidade ¢ tujeito a continuas mudoncas. Bosta relem- brar as evolugdes dos pavimentos, ao longo dos tempos. Mas, em contraportida, re- lembraria « enorme diferenca de aspecto « comodidade que 0 correcto tratamento do solo @ a povimentacdia conferem & cis Registo os conflitos dos interesses que disputam o solo publico — 0 tréfego rodavid- rio #0 use pedonal, pelo menos, e a evolucdo negativa deste conflito am cidades coma Lisboa, em que de ano para ¢ ano 9 sole disponivel para. o pedo val inexoravelmente diminuindo. a 2-19, forma urbana determinado pols exxperacoe des alemenmms mericingicak: ot mdf: Got. A sepecuingia sobre 0 sola, @ 0 dirhei, datersinam forme do cidade: Nive Yok, Viakas enerexmetricas da parts matidlanal de Monboron. Bes. orn 1980 82 2.20. O edifcio como elemento da forme urbane. O conjunto «Amoreiras» — Ara.° Tomés To- 83 08 EDIFICIOS — 0 ELEMENTO MINIMO Para definir qual o minimo elemento morfolégice identificavel na cidade, hé que es tobelecer uma hierarquic de valores e fazer uma selecco entre os coleccdes de objec- los que povoam o espaco wu Em primeire lugar, hé que mencionar os objects «parasitérioss, 54 ido profusa- mente ilustrados nas cidades copitolistas: néons, andincios, escaparates, mantras, etc., sucedem-se em profusde, com variagées que alteram a imagem da cidade. A outro es- caléo, o mabilidrio urbano: o banco, a bica, o quiasque e ainda a drvore, a canteiro ou os plantas caracterizam o imagem do espace urbano. Estas coleccdes de abjectos sia, «elementos méveiss, ofectando diferentemente a forma da cidade. Distinguiria, no entanto, a drvore, pela sua importancie e papel que- se id&nticos aot dos edificios. A esta questdo voltarei mais tarde. E atraves dos edificias que se constitui o espace urbanoe se organizam os diferentes espacos identificdveis e com «forma préprias: a rua, a praco, o beco, a avenida ou ou: tros espocos mais complexes ¢ historicamente determinados como as invengdes dos ur- banistas ingleses do século XVIII: crescents, squares, circus, etc., ov, de outro mode, s¢ identificam os espocos urbanos madernos. A Rue de Rivoli ou a Praca do Comércic seriam bem diferentes se os seus edificios no tivessem os areodas e expressdo orquifecténica que os caracterizam. ‘Os «telhados de tesouros, em Tavira, endo apenas partes dos edificios, contam de modo determinants na forma da cidade, As vorandes de «pate bravos (com balances de cerca de 1,50 metros) constituem particularidades agressivas em cidadés ontigas. Ramperam a légica do espaco urbanc, constituide por edificios de fachada plana ou com ligeiras saliéncias, destruindo os en- fiamentos visuais de ruas e perspectives. Todos estes elementos sGo determinantes ra forma do espage urbane, embora ao trator de certas questies os tenha de secundari- zor. E uma necessidade interpretative, como quando se semicerram os olhas para me- thor captor os tracos essenciais do abjecto. Néo seria possivel continvar o aberdar esta questdo sem referir os estudos de Aymonino, Rossi e outros, da Faculdade de Arquitectura de Veneza, sobre as relagdes entre o «morfologia urbana ¢ a tipolagia edificadan (35, Nesses trabalhos, os elementos primérios de forma urbana sHo identificades com os tipas construtives. Os edificios ogrupam-se-em.diferentes tins, decorrentas da sua fungdo & forma, estabelacendarre- lagdes-biunivocas ¥ dialécticas ¢om-os formas urbonas. A queitie'dos tipor edificados, tam sido abordada por vdriot autores: desde Palla- dio, em que os tipos se identificam com as villas residenciais, 4s propostos clossificativas de Quatremare de Quincy ou de Durand. Paro este itimo, ia imagem da cidade? através das fachodas dos edificios (e dos seus volumes) es nas. A fachada é 0 invdlucro visivel da massa construi- el ¢0_Urbanol p— dos Santos, na Baixa Pombalina (1758); Percier e Fontaine, na Rue de Ri- voli (1819); Haussmann, nas renovacées de Paris (1856); ¢ também Wood (pal e filho), em Bath (1728. 1774) acentuaram ainda mais relogéo da forma urbana com at fo- chodas dos edificios, através de sistemas em que a fachade é desenhade previamente. A fachada obedece al a desenhos repetitivos. Por deirds das fachadas, os edificios construiam-se com relativa independéncia, segundo programas diferentes. Esta sistema evidencia outra sfuncdoe de fachada, o transicae entre emundocolec- tivo-do-espaco urbano-e-o-mundo-privado des edificagoes. A fachada assume em de- terminadas épocos concentragao do esforco estético, procurando o aparato, o repre- sentatividade, a ostentagdo € o prestigio, maldando a imagem e a estética das cidades. A partir do urbanism moderno, 0 edificic, # consequentemente a sua fachada, dei- xa de ocupar ng espaco urbane a pesicéo que detinhe na cidade tradicional, passondo a ser um objecto isolado em redor do qual existe espaco livre, Desaparecem as empe- nas, © as lados passam o ser vistos © o pertencer'd imagem da cidade. Consequente- mente, a crientacao dos edificios deixa de ser determinada pela orientacdo dos traca- dos ¢ deixa de existir a «fachada principal: pata o rua. Neste contexto, modifica-se for- jemente @ pasicéc @ a importancia de fachada na morfologia urbana. Em perelelo, as regras de erganizacdo e desenho dos edificios também se modifi- com. “Até-06- Mowimento Moderno, «-fachada-admitia graus de cutonomia.em-relacdo ‘a0 interior do edificio; obedecendo a leis de simetrio, repeticfio, equilibrio;hierarquia « enfotizacaa de alguns elementos mais significantes [a porta principal; sondar nobré, o eixo de simetria-e-oparte-central, etc.), evidentes nos orquitecturas eruditas ¢ tantas ve- Zes nas arquitectura populares. Tais regras erom aplicedes em fungao de uma imagem exterior pretendida, © que por vezes se subordinave o interior des edificios. A arquitectura moderna vai «moralizars esta situacdo, pela obrigacéio de traduzir 0 espaco interno e as funcBes do edificio na imagem exterior. A planta deve correspon- der a fachada. A leitura dos textos de Bruno Zevi® evidencia o esforgo moderno de telacionamento entre 9 interior ¢ © exterior dos edificios. Esso otitude teria no limite algumas perversdes nos anos sessenta, em que os editi- cios se organizavam como se de eorgenigramass com poredes se tratasse. Por via das regras medernas, a importéncia do tachada ¢ eliminada pela diferente Posicdo do edificio na estrutura urbana ¢ o volume e o massa edificada vdo abserver o esforco de comunicacaa estétice entre o edificio e o espaco urbano, substituinde a mé- trica, ritmos ¢ a estética des fachadas. 96 "Tae. Ainpertincin dos lochodas no expacourborw. ‘0 Ror daRivel (1800). 7, Ondesenos de Evpdsi dos Santos « Carlos Mord Baling 8, Fachades dos palicior bre a rie Git wom Tavira (ste. XV, XVI) XV 7 Como se pode conclu la tem ume importancic-e significado diferentesna morfologia urbana. da cid icionate-na-cidede moderna. Pora finalizar, direi que, G0 identificor a fachada como um elemento morfoldgico, a antendo como um elemento determinonte na forma @ imagem da cidade, elemento ao qual desde sempre se atribuiu um alte significado no project arquitecténico. O reen- contro com a arte urbana terd de assumir de novo o cendrio urbano — néo dasligando @ desenho das fachades dos problemas de urbanismo — e através desta questao asta- belecer também um elo de continuidade ¢ integracéo entre desenho urbane e project arquitecténico, 0 LOGRADOURO © logradouro-constitui oespaco privede-de_lote nde ocupade por-canstrucdo, os traseiras, o espaco privado, separado do espaco publico pelos continuos edificados, ‘O logradoure foi, também, na cidade lack um residuo, ov resultado dos acertos da lotaamentas e de geometrias de ccupacées dos lotes. Teve-wérias-ulilizacSes_s¢-tongo-det épeces; desde a horta ov quintatohts oficine, garagem.cu.anexo,-au utilizagao colectiva emisituacées mais recentes, em sistema de condémino. E, em baa medida, no utilizagdo'de logradouro que se torna possivel ¢ evolucéo des malhas urbanas: densificacdo, reconstrucdo, ocupacde. O logradoura voi oferecendo solo as modificacées e intensificacSes de usos acolhendo numerosas ac- tividades que ndo encentram outro lugar na cidade. através do utilizacéo @ desenho.do logradauro que se faz parcialmente o evolu- 90 das formas urbanas do «quartéirGox até ao «bloca». Tadavia nao creio que o logradoure constituisse um elemento morfolégico auténo- mo. €, fundamentalmente, uni complementa residual, um espace que fica escondide: néo é utilizade pela habitagdo nem centribui para a forma des espacos publicos. Este lugar modesto na mortologia da cidade tradicional é justamente o seu maior atributo, permitindo-lhe jogar um papel relevante na evolugéo da cidade. E através da utilizagSo ¢ desenho do legradoure que se faz parcialmente a ewolu- Go das formas urbanas do aquarteirda» até ao sblocos construido. OTRACADOIHA RUA. O-tragede. é um dos elementos-mais-claramente identificaveis tanto na forma de uma cidade come-ne gesto-de o projector: Assento num suporte geogrdfico preexisten- 3B ED. Ox Wagedor: 1, Projests de uebarizacdo da parte oxidenial de Lisboa, por Eugénia daw Santos 2 Carlen Mardi (I756]: 2. Tracado de Brasiia, por Lice Costa [1986], esbeco iniciel 9 te, regula a disposicgo-dos edificios ¢-quarteirSes, liga os véries-espacos-e partes da-ci- dade, ¢ confunde-se com o gesto criador. As antigas cidades romanas, de ossentamento militar, pravinham de disposigao de dois tragades ertogonais principals (cardus ¢ o decumanvs maximus), sles préprios na sua orientecGo e posicéo reciproca ravestides de atributos césmicos e religiosos. Dois mil anos mais tarde Lcio Costa explico assim o «tragada» de Brasflia: sNosceu do gesto inicial com que qualquer um localiza um lugar ¢ dele toma posse. Dois eixos que se cruzam em éngulo recto, formande o sinal da cruz. Este sinal odoptou-se depois 4 tapografia, 4 indinacdo natural do terreno & melhor orientagda: os extremos de um dos eixos curvaram-se, formando um sinal que pode inscrever-se num triangule equildétero que limita a zona a urbanizare 1, © geste do tracade — quase fendmeno césmico entaizado na humanidade — 6 en- conttade também nos a:sentamentos coloniais, nas cidades militares , de um modo. geral, em todas as cidades ploneodas. Para Pote, Lavedan e Tricarti#\!, 0 tracado tem um cardcter de permanéncia, ndo totalmente modificavel, qué lhe permite resistir as transformagées urbanas. Assim, encontramos 0 tracado romano ainda visivel em muitas cidades. ‘O tragada astabelece a relagdo mais directa dé assentamento entre a cidade eo territério. Na andlise de M. Poate, a rue ou 9 fracado relaciona-se directamente coma formagao e crescimento da cidade da mado hierarquizado, em func&o do importéncia funcional da deslocagio, do percurso e damobilidade de bens, pessons e ideios. Eo tragado que define o plano — intervindo na organizacée da forma urbana a diferentes dimensées. E também de importéncio ‘vital na orientacéa em uma qualquer cidade, Para finalizar, diria que o tracado, a rua, existem como elementos morfolégicos nos vérios niveis ou escalas de forma urbana. Desde a rua de pedes 4 travessa, & avenida, ou 4 vio rdépida, encontra-se uma correspandéncia entre a hierorquia dos tracados e ¢ hierarquic das escalos da forma urbana. Nas cidades islamicos, o praca néo existe. Quanto muito, o cruzamento de ruas produz uma rea mais larga no ponto de confluancia. A prace-é-um-elemento-morfalé- gico-das ci ocidentais ¢ distingue-se de outros espacas, que sdo resultada aciden- tol de alargamento au confluéncia de tracados — pela organizacéo aspacial e intencio- nalidade de desenho. Esta intencionolidede repousa na situagSo da Praca no estrutura urbana no seu desenho e nos elementos martalégicos (edifices) que « caracterizam, A praca pressupSe a vontade ec desenha de uma forme ¢ de um programa, Seq rua, Ceara 2.3), Raber! Kriec Diferertes formas de progos apratentedeas em l'Espace ol lo Ville ‘9 tracado, so os lugares de circulag&o, a praca é-o lugar intencional de encontro, do permanéncia, dos acontecimentos, de préticas sociais, de manifestagder de vide urba- na. e comunitéria.ede prestigia, e, consequentements, de funcdes estruturantes © orq tecturas significatives, Outros espacos come o largo, o terreiro, nfio podem ser assimi- ladas aa conceit de praca, Sé0 de carta maneira aspacos acidentais: vazios ou alar- gamentos da estrutura urbana @ que, com e tempo, foram apropriados ¢ usados. Mas nunca adquirem significagéo igual ao da praga porque nao nesceram como tal, Praca, . larga, terreiro, sso também elementos morfaldgicos identificdveis na forma da cidade & utilizdveis no desenho urbane na concepgde arquitectinica. A geometria de uma praca pode variar do quadrade ao tridngulo, passando-por citculos, semicirculos, elipses, paralelogramos regulares; irregulares, etc. Robert Krier, * no Espago do Cidade '41, tento uma colaccao algo exaustiva de formas geométricas das Procas. Colecedo inesgotdvel, embeora poss ser sistematizada. A praca é um elemento de grende permanéncia nas cidades. A Lisboa anterior 00 terramoto de 1755 tinha jé 9 Terreiro do Pago — no mesmo local onde Eugénio das Santos desenha a Praca do Comércia. A Praca de So Marcos, em Veneza, evoluiu com modificacées de forma ¢ pormenores, mas manténdo a sua localizagéo. O largo da mercado, o adre fronteiro 4 igreja, ou outros pequenos espacos vazios da cidade medieval ndo so ainda verdadeiras pragas. E o partir da Renoscimenta que 9 praca se inscreve em definitive na estrutura urbono e adquire o seu estatuto até fazer parte obrigatéria do desenho urbana nos séculos XVIII @ XIX. A definigéoa de praca na cidade tradicional implica, como na mya, o estreita relacdo do vario (espaco de permanéncia) com os edificios, 0: seus planos marginals e as fa- chadas. Estas definem os limites da praca e caracterizem-na, orgonizanda o cenério urbanc. A praca reine a énfese de desenho urbane como espaco colectivo de signifi. cacao importante. Este é um dos seus atributos principais e que a distingue dos outros vazios da estrutura dos cidades.Na urbanistica moderna, a praca permanece, embora suscitando as dificuldades de delimitagao e definigéo provocadas pela menor incidan- cia dos ediffcios e fachadas na sua definicao. No «nave urbanismos actualmente, o re- curso ao desenho de pragas tem side par vezes um logro, na medida em que o desenho do espaga ndo é acompanhede pele qualificacéio ¢ significacdo funcional, ‘0 MONUMENTO: ‘Osdicionérios definem © monumento coma «canstructio, obra de arquitectura- ov-es- culturo destinada a transmitir 6 posteridade a recordagde-de- um grande hemem ou feito; ‘ou obra de arquitectura considerdvel pela sua dimenséo ou magnificiéncia; ou constru- Go que recobre umo sepultura». 102 2.38, A Prove do Plane Direct de EXPO 98 apretirtode palo Condidatora Portuguese 20 BEI, (1991/1997) ora Carn Duos aut Lams) cama weamplo emorsinciduohands 1 dinate sedortl 0 © monumento ¢ um facto urbana singular, elemento-morfalagice individualizado pela sus-presenga, configuracéa 6 pasicionamento na cidede-e-pelo sev-significada. Para Poéte, é um dos elementos que fundomentam o principio das permanéncias — um dos factos urbanes que melhor persistem ne tecide urbane @ resistem a tronsformacSes. A sua prasenca é determinante na imagem da cidade. A imagem de Roma, Paris ou Lis- boo é também oc imogem dada pelos seus monuments, sojam eles mercos sem finalida- de de uso, mai com significagao sociel, histérica ov cultural (a caluna de Trajano, o obelisco da Concorde ov ¢ estétua equestre de D. José), ov edificios utilitérios com va- lor social ¢.importancia cultural. Poéte identifica também no monumento um dos ele- mentos de maior potencial na composicéo da cidade, mesma apés a perda do seu sig- nificado utilitario: «O edificio publica ov o monuments como individualidade e come lo- calizagée devem intervir em primeira még na composicdo da cidade. Nao 6 localizam em qualquer panto, Tém o seu lugar marcada. Servem para compor a fisionomia urbo- na is) Rossi é mais peremptério ao afirmar que os «05 factos urbanos persistentes se identi- ficam cam os monumentos, so persistentes na cidade-e efectivamente persistem Fisica- mente (excepto, finalmante, em casos bastante particulares)s \6_ © estudo dos monumentos permite também questionar as teorias funcionalistos so- bre a cidade. A existéncia do monumento situa-se muito para la do desempenho de ume-funcde = assume significador culturais,-histéricas @ estéticos bem precisos, mesma quando o sua funcao primitiva ja nao existe. ‘© monumento desempenha um popel.essencial no desenho urbane, caracteriza a 4rea ou bairra e torna-se pélo estruturante do cidade. Nas «urbonizacées operacio- naiss, a auséncia de monumentos representa, de certo modo, 9 vazio de significado destas estruturas ¢ o vazio cultural'des gestdes urbanisticas contemporaneas. A ampliagée de conceite de mamumento desenvolvida nas ultimas décadas partiu do elemento singular arquitecténico: ov escultério para abranger conjuntos urbonos, centros histéricos ou os préprias cidades. A evalucdo destes conceitos e um nove olhar sobre a cidade do passade come «cidade do presentes alteraram a «maneira de pensar © urbanismos, recolocande a patriménio edificade na vide da sociedade. Acdistancia é grande de atitudes como 9 do Plan Voisin, para Paris, ou as enuncia- dos na Caria de Atenas @ referantes co patriménio edificado. As dreas histéricas e of Greas antigas vo assim constituir permanéncias na cidade como os monumentos, mui- to embora o sau uso @ funcdo possa ser completamente diferente. As atitudes de Six- fo V, ao tragar a Roma barroca sobre as ruinas da Romo imperial, ou de Haussmann, ao destruir/reconstruindo o cosco histérico da Paris medieval, ou de Le Corbusier, pro- ponda o renovacdo do ilét insalubre no Plan Voisin, (6 néo sao defensdveis nem deve- riom ser possiveis. 2.53. O monumante, Deserho de Eupénio dos Soitos pore 0 enitue eqensire de D\ Jost Prove de Comnérdg + méquine paso Wontperte « elocaco no padetral (1757). chatariz ne five do lunqusia, om Liaoa (VHZ6]. © monuments 00 25 da Az, em Usboo, Concarma (1988) — propeata do Arg. A. Marques Migus! 105 A polémica internacional que envolveu a destruigéo da Maison du Peuple de Victor Horta, em Bruxelas, ou a operacdo dos Halles, em Paris, com a demelicéo dos pavi- |hées Beltord, em 1968, marcou o ponto de viragern na reutilizacao dos velhos edificios e dos dreas antiga: das cidades. Hoje, todas os erquitectos, urbanistas, administrado- ret & a populacdo em geral, estariam de acordo am salvar, com adaptacco e novos uses, os Famosos pavilhes. Tedavia foi necessdrio cometer grandes erres (as Halles, em Paris, o Monumental, em Lisboa vinte anos depois... ¢ tantos outros}, pora que a sonsciencializagdo destes problemas se fosse enraizando no cultura urbana. Quer isto dizer que se ampliou e diversificou 9 conceito de monumento e de patriménio em con- tedde cultural ¢ em drea géagrdfica, aplicanda-se no caso-limite 4 totalidade da forme urbana, Conceito que se tornou operetive na gestGo da cidade pela reabilitaco e re- cuperacéo dos factos urbanes antigos para novos usos @ nowas funcées. 7 A i © AARVORE EA VEGETACAO Do-conteire 4 drvore, a9 jardim de beirre ov ae grande parque urbano, ay estrutu- ras_verdes constituem também elementos ideniificéveis-no-estrutura urbana. Carac- terizam_ imagem do cidede; tém individvalidade-prdpria; desempenham funcdes pre- cisas: s60.elementos de composicdio-e do desenho urbono; servem pare organizar, de- finireconter.espacas. Certamente que a estrutura verde néo fem a mesma «durezay cu Permanéncia que os partes edificadas da cidade. Mas situa-se ao mesmo nivel da hie- rerquia morfolégica e visual. Uma rug’sem as suas drvores mudaria completamente de forma e de imagem; um jardim ou Um parque sem a sua vegetacdo transfarmar-se-ia apenas num terreiro... As simples Grvores e vegetacdo existente: am logradauros pri- vados so de grande importéncia-na forma urbana, no controle do clima e qualifice- $00 da cidade, e como tal daveriam ser entendidas no urbenismo e gestdio urbeno. A este titulo veja-se 0 destruigdo das drvores na Rua da Junqueira, em Lisboa, o- da em 1992, Uma rua histérica viu-se destruida pelas técnicas acéfalas do trénsito ro- doviério, pela diminuiggo dos passsio: « destruigSo dos drvares, para o cumento da foixa de circulago. O seu atpecte o forma muderam redicalmente para pior. A construcdo de territério tanto pode utilizar elementos duras ou minerais como ve getais ou plantados. Trata-se de um mesmo. problema de desenho arquitecténico em que a drvore, as plantagdes, se encontram na mesma escala de valores que a parede, a fochada ou ou- tro elemento consirutivo. \. Um tragado pode ser definide tonto por um alinhomente de drvores como por um ios. Umarprega também. clinhomento-de-edil 106 a+ rest bl dpe a Hes ines DVO Ey eae ers Ve Piiaipie psi pheno epi umtyindebe aby er ergo pannel -aplpoun ie snse 107 Retomo aqui o que disse antes sobre a existéncia de arquitectura de intencdo estéti- ca fanto nas estruturas rurais come mos urbanas, tanto no jardim come no cidade. O desenho de espase no tem duos dreas ou niveis de trabalho — o do edificado @ o dos estruturas verdes, $80 ombos elementos da mesma actuacdo, porventura exiginds alguns conhecimentos discipli i : Os exemples do Histéria s6o o este respeito concludentes. No Alhambra de Grana- do, construct @ vegetacdo confundem-se num todo coerente. Haussmann, em Paris, compreende c impartancia da drvore nas avenidas e boule- vards. Para evitar o crescimento das érvores, que retardaria por dezenas de anos a contemplacao e efeita do nova obra, desenvolve sistemas de tronsplantacdo de érvo- fes j6 adultos. A inauguracdo dos boulevards dé-se assim com as suas etiruturas ver- des totalmente desenvolvidas ¢ acabadas, ou seja, com a sus imagem jé sedimentada, Nos transformocSes recentes em Barcelana, Sevilha ov Madrid, tombém drvores adul- tes so plontadas, dando ao espaca recém-construido o seu aspecta final. E, de facto, o.alinhomento de érvores plantadas em caldeira é téo fundamental na cidade trad nal como & nas propostas actuais de nave urbanisma: O-MOBILIARIO- URBANO Deliberadomente, € no final que refiro.o mobilidrio urbano, constitvide por etemen- tos méveis.que emobilam» # equipam a-idede: 0 banco,o chafariz,o cesto de papéis, © condesiro, o-marco do correio,-¢-sifalizacée, ele. ov (& com dimensao dé Constru- §40,-como.o quiosque, 0 abrigo-detransportes;--autros. O mobiliério urbana sitva-s2 na dimensdo sectorial, na escala de ru, nao podende ser considerado de ordem sectindéria, dadas as suas imy Jes na forma © equipa- mento da cidade. E tombém-de-grande importéncia- pore o desenhe da cidade e asua orgonizagéo, para a qualidade do espacoe comodidade. Durante anos, terd sido de: curade em muites arranjos e intervencBes. Hoje voltou de nove a cena profissional, apoiando a requalificagde da cidade e acabando por interessar & propria producdo industrial. Tombém se poderia referir esse conjunto de elementos «parasitérios» que nes socie- dodes de consumo invader e se colam as estruturas edificadas, came elementos posti- £08 © méveis: andncios, montras, sinais, reclamas, luzes, iluminacdes, ete. Por simplificardo de exposiséo, ndo se conferiv a estes elementos a mesma impor- tancio e relevo dados aos elementos da morfalogia urbana. E também por razdes que se relacionalizam quer com a mobilidade (sendo portanto efameros, em constante mo- dificagéa) quer com as suot coracteristicas de elementos eposticoss ¢ adicionals. Ven- 108 Spaces 2.95. O desanha dos espacos verdes: Srvore « vegetecio. |. Jardins da Wile d'Exte ar Tiveli bee. XVI}. 2, Phone de Porque de Berry — arojecta vercedor do concurso. Arq” Mi, Fernand a 1 la Cavin fptiaglata) 0? turi, em Learning from Las Vegas, demonstra a grav de impocte © comunicasao que es- fas elementos levados & exacerbacao e saturacdo podem a:sumir na imagem da cido- de. A imagem de Las Veges ¢ constituida em boa parte pela presenca dos slemantos Poratitérios e méveis: ondncios e letreiros, luzes, etc. Mas este é, sem divida, um caso extremo, que no pade ser generalizado. Chegado a este ponto, resta clarificar as relacdes dos elementos mortoldgicos com es dimensBes ou escalas do espaco urbano. * Na dimensGo sectorial, ou 4 eseala de rua, os elemantos morfoldgicos identificéveis $60 essencialmente os edificies (com as svas fachadas e planos mergincis), © tracado @ também @ drvore ov a asirutura verde, desenho do solo « o mobilidrio urbana, * No dimensao urbana, ou escala de bairro, s80 08 tracadas ¢ pracas, os quarteirdes @ monumentos, os jardins ¢ Greas verdes, que constituem os elementos morfolégicos identificdveis, Diremos também que a forma a esta escala se constitui pela adicéo de formas a escola inferior. O movimento ¢ necessdrio ao entendimento da cidade e a li- gare, ov colagem, das varias partes urbanos. + Na dimenséo territorial, ou escola urbana, os elementos morfolégicos identificam-se com os bairres, os grandes infra-estrututas. vidrias e as grandes zonas verdes relacio- nadas com o suparte geografico © as-estruturas fisicas da paisagam. Esta hierarquizacéo das elementos morfolégicos encadeade por agregagdo da uni- dades menores formands outras unidades a uma escala maior nao significa a adopcao de um sistema em «drvores (#4, O homem vive nume totalidade de ambiente que ndo é seccionada por fronteiros rigidas. A experiéncia ambiental pressupde o conhecimento de diversos conjuntos, a suo orticulagdo ¢ desagregacGe sucessivos. A leitura de cidade e do territéric faz-se simultaneamente a diferentes nivels ou es cales'¢ também pelo percurto e sequéncias, o que significa que a forma urbana s6 po- de ser estudada ¢ compreendida em sistema de semi-reticula #6), 0

You might also like