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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Cel Inf ALEXANDRE DOS SANTOS GALLERA

O General Góis Monteiro e suas contribuições à estrutura do Exército


Brasileiro (1937-1943).

Rio de Janeiro
2017
Cel Inf ALEXANDRE DOS SANTOS GALLERA

O General Góis Monteiro e suas contribuições à estrutura do Exército


Brasileiro (1937-1943).

Texto apresentado é uma Dissertação de


mestrado, como requisito para a obtenção do
grau de Mestre em Ciências Militares.

Orientadora: Professora (Doutora) Monique Sochaczewski Goldfeld

Rio de Janeiro
2017
2

G166g Gallera, Alexandre dos Santos

O General Góis Monteiro e suas contribuições à estrutura do Exército


Brasileiro (1937-1943). Alexandre dos Santos Gallera. 2017.

35 f.; il.: 30 cm.

Orientação:Monique Sochaczewski Goldfeld

Trabalho de Conclusão de Curso, como requisito para a obtenção para


obtenção do grau de Mestre em Ciências Militares. Escola de Comando e
Estado-Maior, Rio de Janeiro, 2017.

Bibliografia: f. .

1. Góis Monteiro. 2. Reestruturação. 3. Transformação 4.Militar. 5.Exército


I. Título.

CDD 355
4

AGRADECIMENTOS

Ao Grande Arquiteto do Universo, pela saúde e motivação concedidas durante o


transcorrer desta maravilhosa jornada.
Aos meus pais e minha amada irmã, pela educação e incentivo em todas as minhas
“batalhas”. Eles são a fonte de inspiração para que eu prossiga nos meus objetivos
pessoais e profissionais.
À minha esposa, pelo apoio, exemplo. Além disso, pelo amor dedicado a mim com
uma feliz convivência em família.
Aos meus filhos fontes constantes de um eterno aprendizado e amor.
À Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), por ter me dado a
oportunidade de realizar esse trabalho e crescer como profissional na área militar e
acadêmica.
À Professora Monique Sochaczewski Goldfeld, pelo apoio e orientações relevantes
dessa produção acadêmica, as quais, indubitavelmente, me ampliaram a importante
visão sobre o ofício do historiador e a difícil tarefa da imparcialidade durante a
pesquisa.
Ao Arquivo Histórico do Exército (AHEx) e a Academia Militar das Agulhas Negras,
por terem disponibilizados as importantes fontes primárias para o desenvolvimento
da pesquisa.

“Armemo-nos! É esse um dos


supremos deveres nossos, se não
quisermos transmitir aos nossos filhos
e aos nossos netos humilhada,
injuriada, desonrada, talada
impiedosamente pela invasão
estrangeira, e até espoliada de
regiões vastíssimas, esta terra
amorável, esta doce Pátria que os
nossos avoengos nos legaram
íntegra, altiva, ouvida e respeitada no
conselho de todas as nações”. Cel
João Pereira, A Defesa Nacional,
julho de 1935.

“O valor do Exército está em não ser


utilizado”. Gen Ex Villas Boas,
Palestra na ECEME, 31 outubro de
2017
5

RESUMO

O trabalho tem como objetivo apresentar as principais contribuições à estrutura do


Exército Brasileiro no período em que o General de Divisão Góis Monteiro foi Chefe
do Estado-Maior do Exército (EME), de 1937 até 1943. A motivação deste trabalho é
analisar o resultado prático das ações de Góis Monteiro no que concerne o
desenvolvimento da estrutura do Exército. A dissertação englobará aspectos da
evolução da estrutura militar da Força Terrestre do fim do século XIX até 1937,
enfatizando a trajetória de Góis Monteiro desde os primeiros bancos escolares, nas
escolas de formação, até o início de sua chefia no EME. No prosseguimento do
trabalho, será abordado o pensamento de Góis Monteiro sobre segurança nacional,
com destaques para a consecução de um Plano de Guerra, datado de 1938. O
último capítulo abordará as contribuições na estrutura do Exército realizadas na sua
passagem pela chefia do Estado Maior-Exército, de julho de 1937 a dezembro de
1943, que, de fato, caracterizaram uma transformação na doutrina de emprego da
força terrestre. O objetivo da reestruturação desta instituição produziu naturalmente
um maior poder de dissuasão no entorno estratégico e a ampliação da confiabilidade
da nação no que concerne à força terrestre. Enfim, no presente trabalho, busca-se
demonstrar o legado do General Góis Monteiro na estrutura militar terrestre, devido
a sua visão militar e atuação destacada no cenário nacional e nos níveis
organizacional e estratégico do Estado Brasileiro.

Palavras-chave: Góis Monteiro, Transformação, Reestruturação, Militar, Exército.


6

SUMMARY

The objective of this paper is to present the main contributions to the structure of the
Brazilian Army during the period in which Division General Góis Monteiro was Chief
of Staff of the Army (EME) from 1937 to 1943. The motivation of this work is to
analyze the practical result of the actions of Góis Monteiro in what concerns the
development of the structure of the Army. The dissertation will cover aspects of the
evolution of the military structure of the Land Force from the end of the 19th century
until 1937, emphasizing the trajectory of Góis Monteiro from the first school benches
in the training schools to the beginning of his EME leadership. In the continuation of
the work Góis Monteiro's thinking on national security, will be approached, with
highlights for the achievement of a War Plan, dated 1938. The last chapter will
address the contributions in the structure of the Army carried out in its passage as
chief of Staff - Army, from July 1937 to December 1943, which, in fact, characterized
a transformation in the doctrine of employment of the land force. The objective of the
restructuring of this institution naturally produced a greater deterrence power in the
strategic environment and the enhancement of the nation's reliability with respect to
ground force. Finally, in the present work, we seek to demonstrate the legacy of
General Góis Monteiro in the military ground structure, due to his military vision and
outstanding performance in the national scenario and in the organizational and
strategic levels of the Brazilian State.

Keywords: Góis Monteiro, Transformation, Restructuring, Military, Army.


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................9

Pergunta de Pesquisa....................................................................................9

Revisão da literatura.....................................................................................11

Métodos e fontes ..........................................................................................15

Justificativas..................................................................................................18

Divisão dos Capítulos...................................................................................22

1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS..............................................................22

1.1 O Exército de Canudos (1896-1897) à criação do Estado Novo (1930)..........23

1.2 Góis Monteiro e sua trajetória militar até o Estado Novo ................31

1.3 Gen Góis Monteiro e as relações internacionais para reestruturar o


Exército Brasileiro....................................................................................................43
2 ASPECTOS DO PLANO DE GUERRA(1938).............................................45
2.1 Política de Guerra...................................................................................46
2.2 Bases em que se assenta a nova organização....................................48
2.3 O inimigo................................................................................................50

2.4 As nossas necessidades em função das possibilidades do inimigo 53

2.5 Relações entre o Exército de paz e o de guerra...................................55

2.6 Plano quinquenal.....................................................................................57

3 CONTRIBUIÇÕES DO EME.........................................................................65

3.1 Aspectos financeiros............................................................................65


8

3.2 Aspectos relativos aos efetivos.............................................................66

3.3 Aspectos das necessidades de construções de novas organizações


militares....................................................................................................................69

3.4 Aspectos do ensino para proporcionar o fortalecimento da estrutura


militar........................................................................................................................71

3.5 Aspectos da evolução do setor de saúde do Exército.......................74

3.6 Aspectos do setor fabril.........................................................................75

3.7 Aspectos relativos à Remonta.......................................... ....................81

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................82

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................86

ANEXO A.......................................................................................................97
9

INTRODUÇÃO

Pergunta de pesquisa

O problema deste trabalho é: Quais foram as contribuições do General de


1
Divisão Góis Monteiro no período em que foi Chefe do Estado-Maior do Exército
2 3
(EME) (1937- 1943) que provocaram uma transformação do Exército Brasileiro?
O estudo se desenvolverá de 1937 até 1943. Neste período, o Exército
4
Brasileiro teve projetos e leis que visaram a organização do Exército em tempo de
paz e na guerra. A intenção foi modernizar suas estruturas de combate, no mais
curto prazo possível, para se tornar um país eficaz na arte da guerra e, dessa forma,
defender seus interesses no seu entorno estratégico.
A questão a ser estudada no presente trabalho é a transformação do Exército
Brasileiro durante o Estado Novo, tendo como foco principal a participação do
General Góis Monteiro quando este era chefe do Estado-Maior do Exército. Para
tanto, a pesquisa se centrará em três pontos: os antecedentes identificados
inicialmete ainda no século XIX, mais especificamente no período que apontou as
5
deficiências estruturais no Exército, em especial nos embates de Canudos (1896-

1
A grafia utilizada neste trabalho será a de Góis, com a letra “i “ em vez de “e”, tendo em vista ser adotada pelo verbete do
CPDOC. (RAMOS, 2017).

2
A definição de Estado-Maior do Exército no presente trabalho será:“ O Estado-Maior do Exército é o fiador da estrutura e da
doutrina das Forças Terrestres. Estrutura pensante e atuante, tem que dar substância à Instituição e saber que uma e outra
evoluem, particularmente, no que se refere à eventualidade dos tipos e formas dos conflitos admitidos, ao progresso da técnica
e às mutações das próprias instituições políticas nacionais” (EME,1984, p.9). Complementando: “As raízes remotas do Estado-
Maior do Exército são encontradas, ainda no período colonial, no Comando de Armas da Corte, criado em 1808 pelo Conde de
Linhares, Primeiro Ministro da Guerra. Em 1824, logo após a Proclamação da Independência, D. Pedro I reorganizou o Exército
Imperial e estabeleceu o Quartel-General da Corte, com funções de Comando e Estado-Maior.O Ministério de Caxias, em
1857, substituiu o Quartel-General da Corte pela Repartição do Ajudante Geral.Após a Guerra da Tríplice Aliança, seguiu-se
um período de diminuição do espírito profissional, que desviou a inteligência militar para cogitações filosóficas e científicas e
para o positivismo, levando à participação política da qual resultou a "Questão Militar". O surgimento do Estado-Maior do
Exército correspondeu ao início da reação contra essa fase.O Estado-Maior do Exército foi criado em 24 de outubro de 1896,
pela Lei n° 403, sancionada pelo Presidente da República, Prudente de Moraes, com o objetivo de tornar o Exército uma
instituição moderna, que acompanhasse as evoluções da Arte da Guerra e que tivesse maior presteza administrativa. Sua
missão "preparar o Exército para a defesa da Pátria no Exterior e a manutenção das leis no Interior"”. (Disponível em:
http://www.eme.eb.mil.br/index.php/historico. Acessado em: 10/02/2017)
3
A transformação é a concretização de uma mudança de profundas repercussões, com alcance nos níveis técnico (tanto nas
capacidades materiais quanto na doutrina), tático (no concernente à doutrina), estratégico e político. (DA SILVA, 2013, p.35).
Nos estudos atinentes no EME, em especial as ações a serem realizadas pelas estruturas do Exército, entende-se que o foco
principal deva ser o soldado que, assim caracteriza-se como um ser que busca no aprendizado e na capacitação a melhoria de
seu desempenho e, também, a sua realização profissional e pessoal. (DRUCKER, 2002).

4
As principais legislações são: Lei de organização Geral do Exército; Lei de Organização do Ministério da Guerra, Lei de
quadros e effectivo do Exército Activo (MCCANN, 2009).
5
“A Guerra de Canudos, também conhecida como Campanha de Canudos, foi um confronto que durou aproximadamente dois
anos (1896 e 1897) e teve como participantes o Exército Brasileiro e os membros de um movimento popular social e religioso,
10

1897) até a assunção do General Góis Monterio à chefia do Estado Maior do


6
Exército; a análise dos aspectos principais do Plano Guerra (1938), documento que
provocou a criação de itens importantes para a defesa do país; e, por fim, as
contribuições para o Exército Brasileiro advindas da gestão daquele EME sob a
direção do Gen Góis Monteiro. Interessa, sobretudo, entender o processo em
questão, tanto por seu viés interno, da própria instituição, tanto pelo contexto
nacional mais amplo.
Para se ter uma visão das transformações oriundas da gestão de Góis
Monteiro, fatos históricos anteriores importantes devem ser levados em conta.
Assim, faz-se necessária a apresentação da formação do militar em questão,
retornando a 1903, quando, aos 14 anos de idade, ele ingressou na Escola
Preparatória e de Tática do Realengo 7, chegando às vésperas de assumir o EME. A
delimitação temporal não exime a pesquisa de verificar o período posterior também,
em especial aqueles que apontam os reflexos do legado do General Góis Monteiro
como Chefe do Estado-Maior do Exército, tendo como exemplos: ampliação da
segurança militar nas fronteiras norte, oeste e sul e a ampliação da rede ferroviária
no Brasil (ATLAS HISTÓRICO, 1941), pois, como aponta Bloch (2001, p.66-67): “o
discernimento do presente é primordial para a compreensão do passado”.
No que diz respeito à atuação do General Góis Monteiro no EME, interessa
8
analisar suas ideias apresentadas no Plano de Guerra de 1938 . Assim, serão
excluídos da pesquisa: a vida política de Góis Monteiro; as influências de Góis
Monteiro na Marinha; os aspectos e opiniões políticas de Góis Monteiro no que se
refere ao eixo central do poder e como se desenvolveram as obras da construção
das estruturas militares.

liderado por Antônio Conselheiro. A guerra aconteceu na cidade de Canudos, no interior da Bahia”. O Exército teve dificuldade
de resolver essas questões, devido à debilidade de suas tropas.
(Disponívél em https://www.zun.com.br/guerra-de-canudos-r. Acessado em: 01/02/2017).
6
Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=gv_confid&pagfis=312. Acessado em 02/08/2016
7
As atividades dessa Escola iniciram em 5 de Junho de 1898. Uma das suas principais finalidades era destinada ao ensino
teórico e prático do curso preparatório para a matrícula na Escola Militar do Brasil, sendo cursada por jovens que queriam
entrar para o Exército.(RODRIGUES, 2008).
8
O Plano de Guerra em questão foi realizado em 1938. Documento assinado pelo Gen Góis Monteiro quando chefe do EME
que contém um estudo pormenorizado das possibilidades e capacidades da estrutura militar da Argentina, do Uruguai e do
Paraguai e das intenções do primeiro país, no entorno estratégico brasileiro. Além disso, há diretriz para a construção,
ampliação e modernização da estrutura do Exército brasileiro para enfrentar ou dissuadir possíveis inimigos. (Disponível
em:http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=gv_confid&pagfis=312. Acessado em 01/02/2017).
11

9
Cabe destacar que, após a Revolução de 1930 , o ambiente político brasileiro
era conturbado, provocando consequências negativas para o Exército que, de fato,
já estava com o poder bélico aquém de suas responsabilidades constitucionais. Na
verdade, essa instituição encontrava-se bastante fragmentada e dividida, ensejando
problemas expressivos na sua hierarquia, disciplina e coesão. Tais aspectos, em
parte, devido à reinclusão de oficiais expulsos ou exilados pelas revoltas da década
10
de 1920 e também pelo expurgo de militares contrários à revolução de 1930
(MCCANN, 2009, p.384-395).
Assim, durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945), coube aos oficiais
de alta patente do Exército Brasileiro daquela época a adoção de medidas para
melhorar a estrutura da Força Terrestre. Dentre esses militares, o General Pedro
Aurélio de Góis Monteiro foi expoente, em especial no período de 1937 a 1943.

Revisão da literatura

É fundamental apresentar aqui algumas obras que foram de importância


seminal ao desenvolvimento da pesquisa. No que tange aos estudos teóricos sobre
o período de 1937 até 1943, os autores Frank Mccann e Boris Fausto destacam-se
como clássicos da História militar, sendo impossível percorrer o universo militar sem
recorrer aos trabalhos publicados por eles. Contudo, não vamos aqui nos ocupar de
uma explanação crítica das obras desses autores, fato que já foi realizado em outros
trabalhos, mas sim buscar nos clássicos o que pode ser importante para estudo do
período em questão.
Ademais, sobre os importantes trabalhos a respeito do Exército Brasileiro não
cabe inventariar os estudos e as pesquisas proeminentes sobre o tema, mas sim
apontar as que foram relevantes para análise em questão. Assim, a seguir serão

9
“Movimento armado iniciado no dia 3 de outubro de 1930, sob a liderança civil de Getúlio Vargas e sob a chefia militar do
Tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro, com o objetivo imediato de derrubar o governo de Washington Luís e impedir
a posse de Júlio Prestes, eleito presidente da República em 1º de março anterior. O movimento tornou-se vitorioso em 24 de
outubro e Vargas assumiu o cargo de presidente provisório a 3 de novembro do mesmo ano”. (Definição do verbete do
CPDOC.Disponível:http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/revolucao-de-1930-3. Acessado em:
01/02/2017).

10
Período compreendido entre os levantes de julho de 1922 e a internação da Coluna Prestes em território boliviano em
fevereiro de 1927. Os principais eventos foram: os conflitos de julho de 1922 na cidade do Rio de Janeiro, em Niterói e na
Primeria Circunscrição Militar de Mato Grosso; os levantes de julho de 1924 em São Paulo, Mato Grosso, Sergipe, Amazonas
e Pará, os de outubro do mesmo ano no Rio Grande do Sul e o levante de oficiais de baixa patente da Marinha no mês de
novembro no Rio de Janeiro; e a Coluna Prestes (1925-1927). (FAUSTO, 2006).
12

apresentados os trabalhos que foram fundamentais para problematizar ou esclarecer


as questões referentes ao tema pesquisado.
A obra de Góis Monteiro, intitulada: A Revolução de 1930 e a finalidade
política do Exército, de 1934, é enfática na proposta da necessidade de revisão
dos quadros das Forças Armadas, de maneira a fortalecer a instituição pela seleção
de valores individuais e permitir melhor rendimento nas atividades da caserna,
inclusive a formação de técnicos e especialistas. Dessa forma, sugere como
medidas importantes a implantação das seguintes ideias: a reorganização geral do
Exército em tempo de paz, tanto no que concerne o serviço militar como na questão
da mobilização; da implantação da lei dos quadros (reajustamento dos atuais,
promoções, movimento, técnicos e especialistas); e da organização e da preparação
das reservas.
A obra ainda tece comentários sobre a consecução de um plano de
reorganização progressiva no Exército para resultar em uma estrutura militar que
atenda as necessidades da mobilização geral, da preparação dos militares, para se
ter força bélica compatível com os anseios do país. Acrescenta que tais medidas são
fundamentais, pois, só assim, o Brasil conseguirá ter o domínio aéreo e marítimo e
possuir um Exército de campanha, para ter êxito no primeiro choque contra um
inimigo no seu entorno estratégico. Assim, essa fonte fornece subsídios para o
objetivo deste trabalho, referentes às contribuições de Góis Monteiro para a
estrutura militar terrestre.
Na obra de Coutinho (1956), cujo o título é: “General Góes depõe”. O autor
apresenta, entre outros aspectos, a trajetória militar do General Góis Monteiro, no
período da Primeira República (1889-1930), enfocando tanto o seu posicionamento
legalista, como a sua ação revolucionária. O objetivo de Coutinho (1956) é, de fato,
a caracterização dos principais fatos que levaram o General Góis Monteiro a tornar-
se um dos principais responsáveis pelo processo de transformação do Exército, no
período varguista. Dessa forma, a obra aponta sua formação profissional, sua
atitude legalista, sua participação no combate à Coluna Prestes11, suas atividades
na guarnição militar de São Luiz das Missões e do seu papel como soldado na
Revolução de 1930. É uma obra de apresentação didática e de grande valia para a

11
Movimento revolucionário também chamado Coluna Miguel Costa-Prestes, que, sob a liderança dos “tenentes” Miguel Costa
e Luís Carlos Prestes, empreendeu longa marcha por vários estados do país entre abril de 1925 e fevereiro de 1927.
(Disponível em: http://atlas.fgv.br/verbetes/coluna-prestes. Acessado em 01/02/2017).
.
13

pesquisa. Embora a edição consultada seja de cunho predominantemente político, é


uma fonte importante sobre o pensamento militar do General Góis Monteiro.
O livro de Estevão Leitão de Carvalho, “Dever militar e política partidária”,
de 1959, proporcionou uma identificação do pensamento militar da época em estudo.
Aspectos atinentes às características militares e as interlocuções dos processos
decisórios para a evolução da estrutura militar são pontos importantes que foram
analisados.
Pinto (1999), no seu trabalho, cujo o título é: “A Doutrina Góis: síntese do
pensamento militar no Estado Novo”, afirma que o General Góis Monteiro é um
militar renomado no âmbito dos oficiais, sendo competente e conhecedor da história
do Exército brasileiro e atento às ideias de seu tempo. Dessa forma, as diversas
influências vivenciadas ao longo de sua carreira possilitaram um cabedal de
conhecimento que resultaram na produção de uma nova doutrina de emprego do
poder bélico nacional. No decorrer da obra, é citado como Góis Monteiro conseguiu
sobressair na instituição no momento em que os dois pilares da organização militar
— hierarquia e disciplina — estavam comprometidos pelas atividades do
“tenentismo”12. Outro aspecto apresentado foi a descrição da vitoriosa Revolução de
1930, na qual o planejamento militar ficou a cargo do General Góis Monteiro. Por
fim, tece comentários da implantação da doutrina Góis Monteiro, no período da
década de 1930.
Com Edmundo Campos Coelho, no livro “Em busca da Identidade: O
Exército e a política na sociedade brasileira”, de 2000, a questão estudada foi a
apresentação na obra da forma de pensar do Exército como organização, com três
processos intercalados: o desenvolvimento de interesses próprios da organização; a
conquista crescente da autonomia frente à estrutura de poder formal; e o
fechamento progressivo da interferência da sociedade civil.
Outra obra significativa é “Forças Armadas e Políticas no Brasil” de José
Murilo de Carvalho, de 2005. Trata-se de compilação dos principais artigos
produzidos pelo autor ao longo de três décadas sobre o tema militar. Ela nos fornece

12
A despeito de diversas interpretações do período ou fases da atuação do tenentismos, usaremos a definição a seguir. O
tenentismo foi um movimento político que recebeu esta denominação por ter na sua composição, principalmente, oficiais do
posto tenente do Exército Brasileiro. Assinala Fausto (1994, p. 313-314) que, durante o Governo do Marechal Hermes da
Fonseca, militares e civis formaram um grupo de apoio em torno do Presidente, que buscava combater as oligarquias.A
maneira de atuação dos tenentes consistia em aliciar oficiais jovens, e conseguir, com a ajuda deles e, eventualmente, com o
auxílio de praças, rebelar unidades isoladas. Neste contexto, para a obtenção do sucesso no que tange as adesões era
fundamental a presença de um oficial superiorde prestígio adepto ao movimento à frente do movimento ( em 1922, Hermes ;
em 1924, o Isidoro; e em 1930, Góis Monteiro). (CARVALHO, 2005, p. 49).
14

um apanhado geral das questões e problemas que dizem respeito ao Exército, em


sua formação histórica, nas questões políticas e nas ações belicosas. O autor
começa a obra com seu primeiro artigo sobre o Exército na República Velha,
demonstrado o poder desestabilizador da instituição nas primeiras décadas da
República. A leitura da História do Exército produzida pelo autor possiblilitou uma
visão de conjunto da instituição.
Outra obra de Frank McCann, “Soldados da Pátria: História do Exército
Brasileiro, 1889-1937”, de 2009, relata o caos político e militar dos anos 1920 e a
ascensão de Góis Monteiro no cenário das Forças Armadas. Além disso, menciona
o desejo deste de melhorar o Exército, assim como, a sua ambição que o levaram,
por fim, a concluir, sem dúvida, que apenas uma mudança radical na liderança
nacional criaria o ambiente apropriado para a reforma militar. Tece comentários
sobre a visão de Góis Monteiro da situação do Exército na década de 1930, da
necessidade do reaparelhamento, da corrida armamentista na América do Sul e das
ambições da Argentina no subcontinente, com possibilidade de conflito bélico
daquele país com o Brasil.
Foi pesquisada no acervo da Biblioteca da Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército a obra de título de Bretas (2008): “ General Góis Monteiro: a
formulação de um projeto para o Exército”. A publicação coloca Góis Monteiro
como ator proeminente do processo de transformação do Exército na década de
1930, quer seja como formulador de um papel para o Exército na sociedade, quer
seja como um personagem decisivo na realização de seu projeto.
Bretas (2008), menciona os cursos dirigidos pela Missão Militar Francesa13 no
Brasil que, de fato, produziram alguns dos elementos principais do pensamento
militar do General Góis Monteiro. Este desenvolveu novas concepções estratégicas
na estrutura de defesa do território brasileiro, voltadas, em parte, para a definição de
um “inimigo principal” (no caso brasileiro, a Argentina) e, indubitavelmente, a
consecução de um plano de guerra para evitar perdas territorias.
Além do citado, Bredas (2008) menciona, de forma clara, reflexões de Góis
Monteiro sobre a doutrina francesa no Brasil. Há crítica na conjuntura brasileira dos

13
O Decreto Nº. 3.741, de 28 de maio de 1919 autorizou o Governo do Brasil a contratar na França uma missão militar, para
fins de instrução no Exército. A assinatura do contrato para uma Missão Militar Francesa de Instrução (MMF) ocorreu em 08 de
setembro de 1919. No entanto, somente em março de 1920 desembarcaram na cidade do Rio de Janeiro os primeiros
instrutores, chefiados pelo General Gamelin. A MMF seria incumbida especialmente da direção da Escola de Aperfeiçoamento
de Oficiais, da Escola de Intendência e da Escola de Veterinária, além de comandar a Escola Superior de Guerra (Escola de
Estado-Maior). (CARVALHO, 2005).
15

anos 1920, afirmando que o problema do Exército está com os políticos, pois estes,
no poder, nada fazem para melhorar a situação das Forças Armadas.
Assim, essa fonte é um pressuposto teórico referente às ideias de Góis
Monteiro no que tange a transformação do Exército. Pelos relatos que contém sobre
as necessidades da Força Terrestre, a obra é fonte secundária para a análise deste
trabalho.
Com Bóris Fausto, no livro “História do Brasil”, em 2012, buscou-se a
síntese do pensamento militar brasileiro e o desenvolvimento do Exército no período
onde o General Góis Monteiro esteve na chefia da gestão do EME. É estudado na
obra o papel central atribuído, no período em análise, às Forças Armadas como
suporte e garantia da ordem interna e de como se fortaleceu tanto em números
quanto em reequipamento e posições de prestígio.
Ainda nesse contexto, foram estudados as seguintes obras: Atlas histórico,
catalogado na biblioteca da Academia Militar das Agulhas Negras como obra rara,
onde aponta as obras de reestruturação do Exército no Estado Novo. Nota-se, nesse
Atlas, o preparo do país para a guerra total, com notável desenvolvimento bélico. Na
verdade, tal fenômeno apontou para o compromisso de defesa do território nacional,
firmado no Plano de guerra de 1938.
A visão de segurança nacional foi em torno do desenvolvimento da guerra,
extensão dos meios a serem empregados e o esforço necessário para cada ação,
com estudo do seguinte documento de posse do Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC): Estudo de Góis
Monteiro sobre a capacidade, as necessidades e o objetivo do Exército
14
brasileiro , datado de 07-02-1938 e assinado pelo Chefe do EME, que, na
verdade, é o Plano de Guerra do Estado Brasileiro para enfrentar possível ameaça
do seu entorno estratégico.

Métodos e fontes

O trabalho usará a perspectiva histórica, tendo como foco: os antecedentes


históricos lincados com o processo de evolução da estrutura do Exército brasileiro e
a evolução de Góis Monteiro dentro do Exército; a análise do período que o General
14
Este documento a partir daqui será nominado como Plano de Guerra de 1938, tendo em vista que este nome e mais
apropriado para o entendimento do trabalho em questão.
16

Góis Monteiro esteve na chefia do EME, com ênfase nos estudos atinentes ao plano
de Guerra de 1938 e o Atlas Histórico de 1941; e, por fim, as contribuições deste
para o fortalecimento da Força terrestre.
A pesquisa iniciou-se a partir de um problema: Quais foram as contribuições
na estrutura do Exército Brasileiro do General Divisão Góis Monteiro como Chefe do
Estado- Maior do Exército no período de julho de 1937 a dezembro de 1943?
Para Silva Gomes (2012, p.73), quando o presente depara-se com uma
lacuna no conhecimento, de fato, surge a perspectiva sob a qual o passado seria
analisado, tendo em vista que é lá que poderemos encontrar as respostas para os
tempos atuais. Dessa feita, pode-se mencionar que a análise do passado, portanto,
poderá servir como subsídio para solucionar um problema presente, afinal, como
afirma Bloch (2001, p. 65 e p.66) "a incompreensão do presente nasce fatalmente da
ignorância do passado. Mas talvez não seja menos vão esgotar-se em compreender
o passado se nada se sabe do presente." A intenção é estudar fatos do passado
para apresentar possíveis tópicos de estudos, os quais servirão como ideias de
resolução de problemas em curso ou futuros no âmbito do Exército Brasileiro. Na
época do Estado Novo desejava-se ter uma Força Terrestre para dissuadir os
vizinhos fronteiriços e provocar sensação de Defesa para a população doméstica,
(MCCANN, 2009).
O método histórico deste trabalho possui dois pontos importantes: a revisão
da literatura secundária já existente e a pesquisa de fontes primárias, nos
documentos atinentes ao General Góis Monteiro sob tutela do Arquivo Histórico do
Exército (AHEx), da Biblioteca Marechal Castelo Branco da Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército (ECEME), Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN),
Arquivo Nacional, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea
do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV) e Instituto Histórico e
Biográfico Brasileiro (IHGB).
Para apresentar um quadro o mais real possível da trajetória militar do
General Góis Monteiro, várias consultas foram realizadas nos documentos sob
guarda do AHEx, entre eles: cartas pessoais, relatórios do EME, documentos
oficiais, estudos estratégicos. No acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil (CPDOC / FGV) , na Biblioteca Marechal Castelo
Branco (ECEME) e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) foram
estudadas as obras, em especial referentes à Missão Militar Francesa e exemplares
17

da Revista Defesa Nacional. Incluiremos, ainda, no AHEx, os Boletins do Exército e


os Relatório Anuais do Ministro da Guerra.
A finalidade da busca por arquivos foi adotada para se ter um melhor
entendimento das características e do modo de pensar do General Góis Monteiro no
que concerne a transformação do Exército.

Cabe aqui destacar um outro aspecto sobre os documentos pesquisados.


15
Trachtenberg ( 2006 p.17) menciona que: “Os fatos nunca apenas falam por si ”.
Dessa feita, assinala o cuidado que se deve ter nos documentos que servem como
base de uma determinada pesquisa .Na realidade, aponta que o documento que não
mostra o entorno político, social, econômico de um fato histórico, não oferece
resposta ao historiador, mas dá-lhe pistas claras para formular questões ajustadas
no seu processo de investigação, e guia-o, naturalmente, na busca de fontes
adequadas à obtenção dessas respostas. (TRACHTENBERG , 2006 p.34-391)

Ainda neste contexto, o Atlas histórico (1941), catalogado como obra rara, cujo
título é “O Exército e o Estado Novo”, foi plenamente analisado e comparado com
artigos, monografias e relatórios governamentais da época, dando clara visão do
foco principal deste trabalho: as contribuições na estrutura do Exército advindas do
período de 1937 até 1943. São itens que foram examinados: o fluxo dos recursos
financeiros concebidos para as obras nos anos 1938 até 1940; o Novo Quartel
General; a Escola Militar de Resende; os quartéis do Norte; as Guarnições de
fronteira; a Escola de Comando e Estado-Maior; a Escola Técnica do Exército
(Instituto Militar de Engenharia e Construção); a Escola de Artilharia de Costa; a
Policlínica Militar; os Estabelecimentos Ministro Mallet (Depósitos Centrais); as vilas
militares de oficiais e Sargentos; as rodovias e as ferrovias construídas e planejadas
para facilitar as operações militares; e as indústrias militares.
Na internet, na base Scielo, foi feita a busca de artigos que ocorreram, em
primeiro plano, pela pertinência do artigo em análise ao tema da dissertação,
empregando-se como fator de aderência as seguintes palavras: Goís Monteiro;
Getúlio Vargas; revolução 1932; transformação no Exército; Reestruturação no
Exército; militares e vargas; tenentismo; segurança nacional e pensamento militar.

15
Hanson, Percepção e Discovery , pp. 220, 237. Ver também as cotações em Hanson, Patterns of Discovery, pp. 183-84
Disponìvel em https://www.britannica.com/biography/Helmuth-von-Moltke. Acessado em 03/03/2017
18

Dentre os artigos considerados pertinentes, foram priorizados aqueles publicados


em periódicos com maior índice de citação.
Quanto à pesquisa na Revista A Defesa Nacional, a biblioteca do Exército
disponibilizou os artigos publicados com pertinência à dissertação, em especial as
matérias sobre a reconstrução do Exército, as deficiências estruturais da década de
1920 e 1930, as questões salariais dos militares e os ensinamentos advindos do
Exército Alemão e da Missão Militar Francesa.

Justificativas

Ao longo do período republicano, o Exército Brasileiro teve diversas fases de


modernização. Nos dias atuais, justamente, debate-se uma nova etapa. O período
deste trabalho (1937- 1943) apresentou um ponto de inflexão importante, pois
sinalizou a transformação de uma estrutura militar que estava aquém de suas
funções de defesa para uma força militar capaz de combater na Europa. Um dos
motivos foi, indubitavelmente, a possibilidade do Brasil ser invadido por um país do
seu entorno estratégico, a Argentina (MCCANN, 1995).

A relevância de se estudar a gestão de Góis Monteiro no Estado-Maior do


Exército, está no fato que após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas promoveu
vários oficiais, como foi o caso de Góis Monteiro, que era Tenente-Coronel e foi
sendo promovido com interstício mínimo, galgando todos os postos até o de
General-de-Divisão, em curto período de três anos. Esse oficial foi ator proeminente
na repressão da Revolução Constitucionalista de 1932 e no combate ao Levante
Militar de 1935, sendo escolhido em seguida para ser o Ministro da Guerra e
posteriormente Chefe do Estado-Maior do Exército no momento em que o Estado
varguista organizava o Golpe de 1937 para instalar o governo autoritário do Estado
Novo (RODRIGUES, 2008).

Outra justificativa importante é apontar o divisor temporal entre a doutrina


alemã e a adoção na estrutura de guerra da doutrina francesa. Góis Monteiro como
Chefe do Estado-Maior conduziu o planejamento para a defesa do país de uma
possível invasão da Argentina, exemplificado pelo Plano de Guerra de 1938. Neste
documento há clara mudança de pensamento militar.
como base de partida dos estudos, comecemos, pois, por
estabelecer o balanço dos meios ao alcance do nosso mais
provavel inimigo. Para tanto, abandonaremos o “methodo das
19

intenções”, tão do agrado dos alemães ao tempo de MOLTKE, para


abraçar o “methodo das possibilidades”, hoje, universalmente
acceito” (PLANO DE GUERRA, 1938, p.13).

Há ampla bibliografia sobre a trajetória de Góis Monteiro que o liga ao


processo político da Era Vargas. Do que foi apresentado, porém, percebe-se que
existe pouca referência ao período em que Góis Monteiro esteve na chefia do
Estado-Maior, especificamente como essa experiência impactou no processo de
transformação do Exército Brasileiro, em meados do século XX.
Atualmente, encontramos debates acadêmicos sobre as questões ou ideias
sobre o tema transformação militar, resultando em impactos na Força Terrestre.
Fruto disso, há várias pesquisas sendo desenvolvidas no âmbito do
PPGCM/ECEME, entre elas a do Major Braga defendida em 2016, cujo título é: O
Exército Brasileiro, a Transformação Militar e um estudo de Canudos à
Segunda Guerra Mundial (1897-1944). O seu objetivo foi identificar os principais
fatos históricos que garantiram a modernização militar no Brasil desde o término do
conflito em Canudos em 1897 até o embarque do Exército Brasileiro para a Segunda
Guerra Mundial em 1944.
Outro produto foi a dissertação de mestrado do Tenente Coronel Valentini,
cujo tema é: O Processo de Transformação do Exército: extensão, fontes e
fatores intervenientes, em que o autor tece comentários do processo de mudança
militar do Exército, estudando seus antecedentes. Além disso, pode-se citar a
pesquisa do Coronel Velôzo em andamento no Programa de Pós-Graduação em
História Comparada da UFRJ, em que compara o processo de modernização do EB,
na década de 1960 e 1970 com o do Exército chileno na década de 1990 e 2000.
Cabe mencionar, ainda, o professor do PPGCM/ECEME Luiz Rogério
Goldoni, também autor de pesquisa sobre a visão política de Góis Monteiro e se o
desenvolvimento do EB seria causa ou consequência do desenvolvimento nacional.
Este último produziu os seguintes trabalhos, entre outros: a tese de doutorado, com
o título: Indústria de Defesa no Brasil entre as duas Guerras Mundiais, UFF,
2011; e os seguintes artigos: Indústria bélica brasileira na primeira metade do
século XX. Revista da Escola de Guerra Naval (Ed. português), v. 19, p. 111-136, n.
2013; Vocação modernizadora do Exército brasileiro. Revista da Escola
Superior de Guerra, v. 28, p. 148-163, n. 2013 e Percepções sobre defesa e
20

industrialização durante o Estado Novo; Revista da Escola Superior de Guerra, v.


27, p. 63-78, n. 2012.
Buscando tomar parte desse esforço de certa forma coletivo e recente de
pesquisar sobre transformação militar do Exército no período republicano, espera-
se, ao final do trabalho, contribuir especificadamente com reflexões sobre o período
que vai de 1937 a 1943. Além disso, espera-se despertar pontos de análises sobre
aspectos da evolução da instituição, da formação dos militares do século passado e
da construção de novas unidades militares.
Góis Monteiro foi um dos intelectuais dos militares, nas décadas de 1930 e
1940. Neste contexto, Suano (2002) concorda com Ferreira (2000), pois afirma que
Góis Monteiro não só fez um diagnóstico da realidade brasileira, mas que também
elaborou uma doutrina de desenvolvimento e de segurança, contribuindo para
fortalecimento bélico do Exército.
A importância dos acontecimentos da época do Estado Novo e sua análise
detalhada são destacadas por diversos historiadores de expressão no cenário
nacional, especialmente pela complexidade dos fatos históricos e as diversas
consequências para o Estado brasileiro contemporâneo. Dessa forma, ressaltam-se
as palavras de Pandolfi (1999, p.9):

Poucas fases da história do Brasil produziram um legado tão


extenso e duradouro como o Estado Novo. Em função das
transformações ocorridas no país, o período tornou-se referência
obrigatória quando se trata de refletir sobre estruturas, atores e
instituições presentes no Brasil de hoje.

Após a leitura de obras importantes da história nacional, verifica-se que


General Góis Monteiro foi, de fato, um ator importante na Revolução de 1930. Sua
liderança é reconhecida por diversos autores proeminentes da literatura brasileira.
Em depoimento a Camargo, Cordeiro de Farias, assim comentou:
Góis foi uma figura decisiva. Era um homem de inteligência fora do
normal, profundo conhecedor de história militar. [...] , cumpriu
esplendidamente a tarefa de chefe do estado-maior de Getúlio
(CAMARGO, 1981, p. 167-168).

Na Era Vargas, o Exército instalou-se no poder de maneira mais ativa que na


Primeira República. Contudo, a situação da instituição era de dificuldade, em
decorrência dos desentendimentos internos e das várias divisões de pensamentos
entre praças e oficiais. Dessa forma, ganhou força no seio do Exército um projeto de
mudanças na estrutura interna da organização (CARVALHO, 2005, p. 64- 108).
21

O período do Estado Novo, tendo Góis Monteiro como Chefe do Estado-


Maior, de fato, foi caracterizado pela intenção deste em conseguir a unidade da
nação, condição que possibilitaria ao Exército voltar-se para sua atribuição que
julgava ser a mais importante: a defesa do País. A situação política, instaurada com
a Constituição de 1934, não favorecia essa unidade. A segurança do Brasil foi o
motivo principal para Góis Monteiro se colocasse ao lado de Vargas (MCCANN,
2009).
Com a nova Constituição de 1937 em vigor, fortaleceu-se o poder central.
Com um Exército forte e agora unificado, Góis Monteiro estava livre para iniciar seu
plano reestruturação. Dessa forma, realizou tratativas com o presidente para que
Oswaldo Aranha fosse mandado aos Estados Unidos em busca de financiamento
para a construção de estradas de ferro, rodovias e aquisição de equipamento militar
(MCCANN, 2009).
Assim, com um Exército mais bem equipado, Vargas cumpria a sua parte no
acordo com Góis Monteiro. A nova Constituição atribuía ao Exército o papel de
garantir a ordem, o que seria feito agora com mais recursos. A antiga Constituição
de 1934 já previa o reequipamento do Exército, mas nada havia sido de fato feito
nesse sentido (BORIS,1986).
Como Chefe do Estado-Maior do Exército, Góis Monteiro empenhou-se em
realizar aproximações estratégicas com outros países, entre eles os Estados Unidos
da América do Norte. Assim, chefiou uma missão militar brasileira àquela nação, a
fim de estreitar a diplomacia militar com aquela potência da esfera global
(COUTINHO, 1956).
As tratativas de Góis Monteiro com os militares dos Estados Unidos da
América do Norte foram importantes para o futuro do Brasil na esfera militar de
influência na América do Sul. Os acordos advindos dessa relação geraram sinergia
para mais uma reestruturação do Exército Brasileiro. Assim, depois da influência
alemã e da influência francesa, chegou a vez da influência norte-americana. Nos
anos que se seguiram surgiu um Exército disciplinado, mais moderno e realmente
em condições de enfrentar uma força armada bem constituída, como durante tanto
tempo desejara o General Góis Monteiro (McCANN, 2009). Mais que isso passou de
um Exército de extremas dificuldades da época de Canudos para uma Força
Terrestre com heróis de reconhecimento interno e internacional pelos seus feitos em
território europeu.
22

Divisão dos Capítulos

A dissertação será dividida em três capítulos. O primeiro deles abordará


antecedentes históricos relativos ao processo de evolução do Exército brasilerio e a
trajetória militar de Góis Monteiro até 1937. Dessa forma, serão apontados itens
importantes da necessidade de uma transformação do Exército e aspectos da
formação de Góis Monteiro nos bancos escolares, as influências advindas das
relações pessoais, seu preparo intelectual e sua participação ativa nas revoluções
que antecederam o Estado Novo.
No segundo capítulo, ocorrerá estudos atinentes à defesa nacional por meio
do Plano de Guerra (1938) na gestão de Góis Monteiro no EME. Haverá
comparações deste com as teorias geopolíticas de Everardo Backheuser e Mário
Travassos, para termos pontos semelhantes e dessemelhantes no que concerne à
doutrina de segurança adotada pelo Estado Novo, tendo como objeto indutor a
ameaça externa na América do Sul.
No último capítulo, serão estudadas as contribuições na estrutura do Exército
realizadas na passagem de Góis Monteiro pela chefia do EME, de julho de 1937 a
dezembro de 1943, o que, de fato, caracterizou uma transformação na doutrina de
emprego da força terrestre, advinda da necessidade de dissuadir ameaças do
entorno estratégico. Terão destaques os seguintes itens: o aporte dos recursos
financeiros concebidos para as obras nos anos 1938 até 1940; a necessidade de
instalações de guerra, quer na fronteira oeste quer na região sul; a pontencialização
do ensino, exemplificado na criação da Escola Técnica do Exército (Instituto Militar
de Engenharia e Construção) e da Escola de Artilharia de Costa; e o fortalecimento
das indústrias militares e do modal ferroviário.

1.ANTECEDENTES HISTÓRICOS
O primeiro capítulo tem como objetivo principal analisar às transformações no
Exército Brasileiro no período compreendido entre o fim do conflito de Canudos
(1896-1897) até o ano de início do Estado Novo (1930). Assim, é citado:
No período republicano, as alavancas de mais energetico efeito foram, sem
dúvida, as atuações de Mallet, reagindo contra a incultura dos quadros e
provendo as primeiras necessidades materiais, não obstante as aperturas
financeiras da economia de Campos Salles; depois é o período do 4
Distrito Militar, com as primeiras Grandes Manobras, defeituosas, é verdade,
mas marcando uma tendência; é ainda a ação reflexa de Rio Branco,
23

fazendo sentir que a política precisa de fôrça, mesmo quando é honesta, e


influindo para a reorganização das classes armadas, sob base do serviço
militar obrigatório; em seguida, é a reação simultanea e coincidente dos
poucos oficiais vindos de estagiar na Alemanha e das primeiras turmas de
aspirantes que, desprovidas de uma bagagem scientífica excessiva e inutil,
e de certo modo prejudicial aos interesses militares, implantaram nos corpos
a prática de um instrumento militar sistematizada, embora balbuciante e
incompleta e iniciando a obra colossal de reformar a mentalidade militar.(A
DEFESA NACIONAL, MOMENTOS MILITARES, 1932, Num 217, p.3-4)

Dessa forma, serão abordadas as principais transformações sofridas pela


força terrestre e as dificuldades encontradas para se tornar uma estrutura bélica
compatível às suas obrigações constitucionais. Inicialmente será assinalada a fase
compreendida do final do século XIX até 1930, com explicações pontuais sobre a
necessidade de se ampliar o poder bélico nacional. Em seguida, ocorrerá a
apresentação de um breve histórico dos esforços de transformação do Exército
Brasileiro. A próxima seção tratará da trajetória na caserna de Góis Monteiro, com o
intuito de se ter uma visão das características e do modo de pensar do General Góis
Monteiro no que concerne a transformação do Exército. Por fim, serão abordadas as
ações do Gen Góis Monteiro no que tange às relações internacionais para
reestruturar o Exército Brasileiro.

1.1 O Exército de Canudos (1896-1897) à criação do Estado Novo (1930).

Para se ter visão ampliada do período anterior a 1930, recorre-se a Fausto


(1986) o qual afirma que, no início do período republicano do Brasil, ocorreram
conflitos sociais que dificultaram o bem estar da população e apontaram deficiências
estruturais no Exército, em especial nos embates de Canudos (1896-1897) e do
16
Contestado (1912-1916). Assim, ficou patente a necessidade de se ampliar o
poder bélico nacional para adequar a instituição aos novos tempos. A atuação
despreparada de grande parte dos oficiais e praças naqueles conflitos e as perdas
humanas significativas, de fato, provocaram uma reflexão de parte importante da

16
“O conflito, que se alastrou por dezenas de cidades catarinenses, durou quatro anos e causou a morte de cerca de 20 mil
pessoas. Vários acontecimentos produziram este levante popular: a disputa de limites entre Paraná e Santa Catarina; a
construção da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande, pela poderosa multinacional Brazil Railway pertencente ao Sindicato
Farquhar; a instalação da segunda maior madeireira da América, a Southern Brazil Lumber & Colonization Company Inc. Este
conjunto de fatores convergia para uma mesma direção: a expulsão dos camponeses, habitantes nativos da região, a
ocupação de suas terras e a exploração das ricas reservas de pinheiro araucária”. (Disponível em:
http://contestadoaguerradesconhecida.blogspot.com.br/ Acessado em: 03/03/2017).
24

sociedade economicamente ativa no Brasil sobre a fraqueza e precariedade do


Exército (VALENTINI; ESPIG; MACHADO, 2012, p.34).
Euclides da Cunha (1897, p.32), no caso de Canudos mencionou: “Não
tínhamos Exército na significação real do termo”. A afirmação não era exagerada. O
equipamento era deficiente, o armamento obsoleto, as instruções de táticas de
guerra precárias e em alguns quartéis inexistentes. As reformas solicitadas e
sugeridas, tais como alterações nas leis de promoção e organização militar e
fortalecimento do ensino militar e a contratação de missões estrangeiras de
instrução eram necessárias para modernizar e adequar o Exército aos novos tempos
(MCCANN,2009).
Julga-se válido aqui traçar breve histórico dos esforços de transformação do
Exército Brasileiro ao longo da Primeira República, para que se possa ter dimensão
das alterações da virada da década de 1930 para a década de 1940. Dessa forma,
vale ressaltar que o Marechal João Nepomuceno Medeiros Mallet (1801-1886) fez
algumas realizações como Ministro da Guerra no período de 1898 a 1902.
Destaca-se, sobretudo, a aprovação do Regulamento do Estado-Maior do
Exército, em 1899, que deu vida ao órgão criado em 1896, abrindo as portas para
uma nova estrutura de direção do planejamento do Exército. Mallet dedicou o seu
maior esforço na instrução dos quadros e na preparação da tropa para a guerra,
introduzindo aperfeiçoamentos no ensino militar, de forma a dar-lhe cunho
profissional. Dentro dessa ótica, elaborou ainda o Plano de Reforma do Exército, em
1900, outro grande impulso para o movimento de renovação, do qual é tido como
precursor (MCCANN, 2009,p.106-107).
A maior contribuição de Mallet para a formação do pensamento militar foi a
determinação em demonstrar para os oficiais generais a necessidade de se ter a
execução de manobras regulares, para formar um Exército adestrado nas táticas
militares (MCCANN, 2009, p.110).
Na gestão seguinte, do Marechal Francisco de Paula Argola, de 1902 a 1906,
foram dados novos passos para a transformação do Exército. Pode-se destacar a
elaboração do Regulamento de Ensino de 1905, o início da construção de uma
fábrica de pólvora em Piquete, no Estado de Minas Gerais e as manobras militares
realizadas sob o comando do então General Hermes da Fonseca, cuja a finalidade
foi, entre outras, a formação da coesão da tropa (MCCANN, 2009, p.130-131).
25

No ano seguinte, já como Ministro da Guerra, Hermes da Fonseca daria início


ao seu projeto de transformação do Exército. Uma de suas primeiras preocupações
foi com o sistema de recrutamento vigente, baseado no voluntariado. Para ele,
apenas o serviço militar obrigatório supriria as necessidades da Força Terrestre,
possibilitando a todos os cidadãos o cumprimento de um dever cívico (MCCANN,
2009, p.139).
Conforme descreve Carvalho (2005, p. 27), no período de 1906 a 1910, com
a intenção de melhorar o nível profissional do Exército, o General Hermes da
Fonseca proporcionou o início do fluxo de oficiais brasileiros a estagiarem na
Alemanha, acentuando-se a influência prussiana na tática, organização, nos
costumes e no armamento do Exército Brasileiro. Esses oficiais trouxeram um
grande surto de renovação para os militares brasileiros, materializando o movimento
denominado "Jovens Turcos"17. Na verdade, quando na Alemanha em 1908, Hermes
chegara a negociar acordos para que uma missão militar alemã instruísse o Exército
Brasileiro, porém tais acordos não foram efetivados em função dos acontecimentos
na política europeia que acabaram ocasionando a 1º Guerra Mundial (1914-1918)
(MCCANN, 2009, p.214- 217).
Hermes, no decreto presidencial n. 7230, de 17 dezembro de 1908, regula a
Fábrica de Pólvora sem Fumaça do Piquete, em Minas Gerais, e preconizava a
fabricação no Brasil de todo material bélico necessário para o Exército,
proporcionando, em especial, o desenvolvimento no país das fábricas de pólvoras e
de cartuchos (BRASIL,1908).
McCann (2009, p.143) aponta que a mudança mais importante conseguida
por Hermes foi aplicada aos oficiais possuidores do curso de Estado-Maior. Em
agosto de 1909, muitas tarefas administrativas que eram encargos destes foram
passadas a sargentos e civis, permitindo que aqueles concentrassem suas
atividades na fiscalização da instrução e no planejamento de exercícios no terreno.
No contexto de modernização, o General Hermes cuidava dos problemas da
necessidade de se ter quartéis adequados e da modernização do material bélico,
17
“Por iniciativa do Marechal Hermes da Fonseca e do Barão do Rio Branco, visando a reestruturação do Exército brasileiro
foram enviados oficiais para estagiar no Exército alemão. A primeira turma, de quatro oficiais, ingressou em outubro de 1906; a
segunda, dois anos depois; a terceira e última, composta de 22 oficiais, em outubro de 1910, servindo na Alemanha durante
dois anos. Voltando ao Brasil, esses oficiais chamados "jovens turcos", por analogia à ação modernizante de jovens militares
na Turquia, orientados por instrutores alemães, produziram a difusão conhecimentos adquiridos na Alemanha”. (CASTRO,
1995).

.
26

para atender à nova organização do Exército. Tomou providências, particularmente,


para a construção da Vila Militar de Deodoro, no Rio de Janeiro, de inúmeros
quartéis no Rio Grande do Sul e de fortalezas no litoral fluminense (LEMOS, 2017,
p.11).
Cumpre agora afirmar, segundo Geromel (1990, p.16-17), que o General
Hermes concretizou as aspirações militares do início do novo século. A partir da sua
administração, nasceu um Exército mais moderno, verificando-se um significativo
incremento no profissionalismo.
Em 10 de dezembro de 1916 foi inaugurado o serviço militar obrigatório no
Brasil. Nesse dia foi realizado o primeiro sorteio, com a presença do Presidente
Venceslau Brás e do Ministro da Guerra, o General Caetano de Faria (PORTO
ALEGRE,1990,p.12). Cabe salientar que o serviço obrigatório foi palco de
preocupação, em especial pela não adoção do sistema na guerra da Tríplice
Aliança, onde o governo brasileiro enfrentou problemas devido a necessidade de
ampliar seu Exército e pela ausência de uma burocracia adequada ao recrutamento
militar (BATISTA, 2010, p.6-12).
Como exemplo de serviço obrigatório de outro país no período da guerra da
Tríplice Aliança, o Estado paraguaio, no início do conflito, dispunha de 300 a 400 mil
habitantes e um contingente variando entre 28 mil a 57 mil homens, mais os
reservistas entre 20 mil e 28 mil. Isto significa que praticamente toda população
masculina adulta estava apta à guerra (BATISTA, 2010, p.6-12).
Assim, segundo Mccann (2009, p. 217,218), ocorreu na década de 1910
amplo debate nacional sobre o serviço obrigatório, com basicamente três linhas de
pensamento. A primeira encabeçada pelos fundadores da revista A Defesa
Nacional18(ADN), os jovens turcos, que pregavam a transmissão para a sociedade
às seguintes virtudes de um bom Exército: disciplina hierárquica e social, o
abandono do interesse individual em favor do coletivo e o senso do dever e sacrifício
da pátria. Nesse sentido, eram a favor do aumento do número de recrutas alistados
a cada ano, para expandir tais conceitos na população de forma rápida.

18
O primeiro número foi publicado pelos Jovens Turcos, em 10 de Outubro de 1913, as edições apontam para as
transformações que ocorrem no país, desde as crises políticas dos anos 1920 até os limites desta pesquisa, em 1946. Ao
longo dos artigos publicados os autores, vão se colocando na condição de servidores dos interesses gerais do povo brasileiro,
representantes dos interesses da sociedade e da coisa pública, vendo-se como mantenedores da estabilidade social.
(MORAES, 2004).
27

19
A outra linha de pensamento era de Olavo Bilac (1865-1918) , que defendia
o serviço obrigatório. A intenção deste era trazer todas as classes sociais para o
quartel. A educação cívica dos cidadãos era a principal foco para o desenvolvimeto
social do País. Dessa forma, acreditava que o perigo da formação de casta militar
proeminente seria eliminado, caso o Exército fosse constituído pelo povo e o povo
fosse o Exército (MCCANN 2009, p. 217,218).
A terceira linha era a de Alberto Torres20, que opunha-se ao caráter
permanente do corpo de oficiais e do Exército como um todo. Para ele, era ilusão
que o recrutamento obrigatório fosse modelo de desenvolvimento social. Sua
proposta era a formação de uma guarda nacional ou uma milícia civil (MCCANN
2009, p. 223).
Ainda sobre os problemas do Exército, em 1919, ao assumir o Ministério
Guerra, João Pandiá Calógeras fez um relatório geral para ser entregue ao
Presidente do Brasil, Rodrigues Alves. Naquele documento, os principais itens
criticados por Calógeras eram: os tiros de guerra e o recrutamento; a questão dos
arsenais de guerra; o sistema de promoção de generais; e a instrução da tropa e da
situação caótica das forças armadas (CALÓGERAS,1919).
As reformas efetuadas nos anos que se seguiram, em especial, à de Pandiá
Calógeras não foram suficientes para colocar as forças armadas no patamar
adequado da época, mais que isso, criaram as condições para ser ter e difundir a
política dentro dos quartéis que permitiram a Getúlio Vargas e a militares a ele
ligados a exterminar o sistema político da Primeira República (FAUSTO, 2006).
Em 1930, o EME determina que a Inspetoria do 2º Grupo de Regiões Militares
realize um relatório21 sobre a situação funcional da instituição. Uma das conclusões:
“no Exército tudo falta ou nele existe deformado ou atrofiado”. São pontos desse
documento: o armamento é deficiente, velho, mal conservado e insuficiente; o

19
Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac), intelectual, jornalista e poeta, nasceu no Rio de Janeiro, RJ. Um dos
fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio. Foi
também delegado em conferências diplomáticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal.

20
Alberto Torres (1865-1917) foi um intelectual que fez uma análise crítica à Primeira República, nos mais diversos campos do
poder. Tal análise é constituída por meio de estudos dos problemas brasileiros, entre eles: as ameaças à soberania nacional e
a inexistência de uma consciência nacional. Possui pensamento contrário aos dos jovens turcos no que tange o serviço militar
obrigatório. A despeito disso, seus estudos influenciaram diversos segmentos militares. (PINTO, Jorge Eschriqui Vieira. O
Resgate do Pensamento de Alberto Torres para a compreensão historiográfica da política nacional do pósrevolução de 1930.
Disponível:http://www.baraodemaua.br/comunicacao/publicacoes/pdf/00026RESGATE.pdf.Acessado em:02/05/2017).
21
Plano Geral de ação para a organização definitiva do Exército. Arquivo Góes Monteiro, Arquivo Nacional (AGM-AN).
Microfilme 051.91 SA 678.
28

serviço militar é uma ilusão pelos contingentes que incorpora; a justiça militar é
precária; a hierarquia uma inexpressão; a instrução é livresca e escolástica, sem
amplitude, progressividade e persistência; o aquartelamento é medíocre e o
aparelhamento material é quase nulo: não há viaturas, não há equipamento, não há
arreiamento; e o relatório mencionou que, para a defesa nacional, o Exército estava
desorganizado.
O autor do relatório chegou à conclusão de que:

O exército nada mais é hoje do que um conglomerado de homens


de cultura variável, todos cheios de muitos direitos de que não
cisca, de obrigações implícitas e explicitas de que tem vaga notícia,
22
arranjados “a La diable” numa pseudo-hierarquia.

A análise precisa do oficial responsável pelo relatório aponta que não existia
organização industrial capaz de aproveitar os recursos do país em caso de guerra; e
não existia quantidade suficiente de homens instruídos e organizados na arte da
guerra para defender o país. A visão política do autor apontou que o estado das
estruturas organizacionais do Exército era agravado com a agitação política que,
desde 1922, invadiu as escolas militares e os quartéis. Políticos regionais ligavam-se
aos oficiais e estes deixavam de preocupar-se com as coisas da caserna para
vivenciarem as atividades políticas (CIDADE, 1953).
Da mesma forma que o relatório citado anteriormente, Fausto (2006)
menciona as soluções que deveriam ser tomadas para a correção dos problemas,
entre elas: organizar seus quadros, instruindo-os, educando-os, hierarquizando-os
convenientemente para que se tenha pessoal capaz de fazer a guerra; um regime de
promoções lógico e honesto; uma lei de movimento de quadros que repartisse
equitativamente o ônus e as vantagens do serviço;a reorganização do Alto
Comando; e a dotação imediata dos recursos necessários à instrução dos quadros.
Segundo Magalhães (1998, p.334) as ações acima foram executadas com as
reformas na organização militar, a partir de 1934. Assim, durante o período de 1934-
1935, uma série de leis e decretos foram lançadas com o intuito de remodelar o
Exército Brasileiro. A intenção era reestruturar a instituição, que ainda sofria com
efeitos da década de 1920 e do movimento de 1930. Tais mudanças teriam como
base a percepção por parte de Góis Monteiro dos conflitos daquela época como
“guerras de materiais”. O General tinha em mente que pouco adiantaria o
22
Plano Geral de ação para a organização definitiva do Exército” Arquivo Góes Monteiro, Arquivo Nacional (AGM-AN).
Microfilme 051.91 SA 678 .
29

treinamento da tropa, caso não existissem meios adequados para equipá-la. Na


verdade, adestrar o soldado para ter adequado rendimento em um conflito armado é
tão importante quanto fabricar itens bélicos de boa qualidade e de elevada precisão.
A base para tudo isso seria a educação de toda a sociedade. A incorporação de
valores militares como a honra, a disciplina, o sentimento do dever cumprido e o
espírito do sacrifício em nome de um bem maior deveriam ser amplamente
concretizados (SUANO, 2002, p. 146-7).
Em pesquisa feita na Biblioteca do Exército, pode-se constatar que a
campanha efetuada entre 1931 e 1934 em favor das reformas foi marcante na
Revista ADN. Artigos, editoriais e notas, ressaltavam aspectos importantes para
garantir que as reformas fossem feitas e funcionassem, tais como: a cobrança em
relação aos superiores, que deveriam trabalhar mais para garantir vida à
organização militar; a ideia de que faltava continuidade nas soluções para o
Exército; e a consciência de que as mudanças eram feitas, muitas vezes, sem
discussão no meio militar e sem um objetivo específico de ação.
O 1º Tenente Segadas Vianna (1931) publica artigo de capital importância,
em fevereiro de 1931, na Revista ADN: A organização do Exército. Seu texto faz
reflexões da organização geral do Exército, da dotação de armas entre pelotões, do
tamanho das divisões de infantaria, dos batalhões e especificidades de cada arma.
A intenção do tenente era: acabar com o Exército teórico, de papel, que não existe
na prática, apontando que isso é um perigo ao país. Acrescentava que esse
“Exército de papel” era percebido por todos os oficiais que serviam em tropas quase
inexistentes, com dotação mínima de soldados, ou mesmo unidades misturadas que,
além da falta de efetivo, não possuíam armamentos.
Cabe lembrar que a publicação acima não foi o primeiro estudo relevante
sobre o assunto no início da Era Vargas. Um anteprojeto, em novembro de 1930,
feito pelo chefe do Serviço do Estado-Maior, foi apresentado a Getúlio Vargas,
Oswaldo Aranha23, General Leite e Castro24, General Malan25, Tenente Coronel Góis

23
Pessoa do círculo de amizade de Getúlio Vargas, foi o principal articulador da campanha da Aliança Liberal nas eleições,
agindo nos bastidores para organizar o levante armado que depôs Washington Luís e tornou realidade a Revolução de 1930. A
atuação política de Aranha sempre foi guiada pelo pan-americanismo. Para ele, o caminho a ser seguido na política
internacional era uma cooperação Brasil-EUA (SEITENFUS, 2003).
24
Quando eclodiu a Revolução de 1930, em 3 de outubro, veio para o Rio de Janeiro a fim de participar do movimento.
Integrou o grupo de militares depôs o presidente Washington Luís. Em 3 de novembro, foi nomeado ministro da Guerra. Em
janeiro de 1931, foi promovido a general de divisão. (Disponivel em http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/CASTRO,%20Leite%20de.pdf. Acessado em: 03/02/2017).
30

Monteiro e outros. São abordados no documento a reestruturação dos quadros, da


tropa, das comissões, do alto comando, das forças estaduais, do armamento, do
uniforme e da reserva. Há anotações sobre tal precioso material histórico militar26 no
documento de Góis Monteiro. Pelas suas observações, verifica-se minucioso estudo.
Na verdade, há diversos artigos Revista ADN da década de 1930, entre eles:
Organização do Exército, ano XVII, nº 206, de fevereiro de 1931 e A Constituição e a
Defesa Nacional, ano XVIII, n. 220 de março de 1932 mencionavam que os militares
tinham a consciência situacional de que o maior obstáculo para o fortalecimento da
estrutura bélica do Exército era a falta de continuidade do trabalho, pois as reformas
eram efetivadas sem objetivos específicos, de forma que tudo voltava ao estado
precário rapidamente. Tal afirmação foi elucidada pelo editorial publicado em julho
de 1932, cujo o título era: “A Reconstrução Militar”. O texto realiza uma análise das
mazelas da caserna, colocando como consequência o planejamento e a execução
equivocada das reformas anteriores, apontando que tudo foi fruto do quadro político-
militar do Brasil que estava vivenciando.
Para Magalhães27, a situação de abandono militar vivida pelo Brasil era
reflexo da mentalidade miliciana e da falta de continuidade das políticas em relação
às reformas na instituição militar: “o espírito miliciano é, talvez, o único responsável
[...] tal é o que se chama o militar político”. Na verdade, segundo Junior e
Nascimento (2014, p.11) tanto para Góis Monteiro como para Magalhães, a Primeira
República deteriorou o Exército, as disputas políticas regionais e sua infiltração
acentuada nos quartéis corroeram a disciplina e a hierarquia da Instituição e, ainda,
afirmavam que o liberalismo continuava sendo um sistema político não ideal no
território nacional. A debilidade da caserna era dificultada pela incompreensão do
papel do Exército pelos políticos. Para reorganizar a instituição, fazia-se necessária
25
O General Malan era favorável à anistia ampla para os rebeldes que participaram dos movimentos de 1922 e de 1924. Após a
eclosão do movimento revolucionário de 1930, foi um dos signatários do manifesto que intimava Washington Luís a renunciar.
Na manhã de 24 de outubro de 1930, encontrava-se no quartel do 3º Regimento de Infantaria, a fim de assumir o comando de
um dos setores do movimento, chefiado pelo general João de Deus Mena Barreto. Comandou o destacamento formado pelo 3º
RI e pelo 2º Grupo de Artilharia da Costa, incumbido de tomar o palácio Guanabara. (Disponívelem :
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/alfredo-malan-d-angrogne. Acessado em: 03/02/2017).

26
Anteprojeto do Chefe de Serviço de EMG das Forças Nacionais. AHEx, Arquivo Gen Góis Monteiro, caixeta 09 pasta 01, Doc
01.
27
João Batista Magalhães fez parte grupo mantenedor da ADN de 1926 a 1929 e foi redator de novembro de 1931 até agosto
de 1934, sendo responsável pela produção dos editoriais da revista. Cabe mencionar que foi contemporâneo de jovens
militares que tiveram sua formação em Porto Alegre: Francisco de Paula Cidade, Góis Monteiro, e Eurico Dutra. Em 1912,
Magalhães termina seu período de formação na Escola de Artilharia e Engenharia do Realengo. Foi aluno destacado da
Missão Militar Francesa e realizou estudos militares a Escola Superior de Guerra da França, entre 1929 e 1931. Serviu como
oficial do Estado Maior do Exército em diversas funções até, aproximadamente, meados de 1938. (MAGALHÃES, J. B. A
Evolução Militar do Brasil. Rio de Janeiro: BIBLIEX, 1998)
31

uma lei de promoções para assegurar a entrada dos mais capazes ao oficialato e ser
capaz de afastar aqueles homens que não possuíssem vocação para a profissão
militar.
Em fevereiro de 1934, Magalhães traduz um artigo do general Von Seeckt,
oficial do Estado-Maior do Exército alemão, alinhando as ideias sobre como deve ser
a relação do Estado com as Forças Armadas. Para Von Seeckt, o Exército é o braço
armado do Estado, sendo sua função a defesa contra inimigos externos e solucionar
questões internas que ameaçam o equilíbrio da Nação. Assim, o Estado possui
obrigações para com o Exército, como provê-lo de material bélico e de uma estrutura
para cumprir sua missão de forma satisfatória. O texto termina dizendo que o
Exército é uma instituição política porque é uma instituição do Estado: “no sentido
em que o compreendo, o Exército deve ser uma instituição política, dando a essa
palavra a estrita significação de instituição de Estado. O Exército não deve,
certamente, servir à política de partidos”. Ou seja, a opinião de Von Seeckt era a
mesma de Góis Monteiro (JUNIOR E NASCIMENTO, 2014, p.12).
A publicação do artigo acima nos permite inferir que: a influência dos ”Jovens
Turcos” foi importante para a construção de um pensamento militar de Góis
Monteiro, tendo em vista que aquele considerava o Exército como um símbolo do
progresso porque a guerra, ao integrar toda a nação e dela necessitar, desenvolve o
país.

1.2 Góis Monteiro e sua trajetória militar até o Estado Novo

A finalidade deste item é apresentar a trajetória militar de Góis Monteiro até


às vésperas de sua atuação como chefe do Estado Maior do Exército. Entende-se
válida essa ação aqui no sentido de compreendermos como este oficial envolveu-se
com as questões sobre a modernização militar. Trata-se, portanto, de um preâmbulo
importante para a compreensão de como se encontrava o Exército Brasileiro no final
da década de 1930.
A construção do pensamento de um militar depende muito de como foi
formado. São nas escolas que frequentam que os vínculos militares se iniciam e se
fortalecem. Aos 14 anos de idade, no ano de 1903, Góis Monteiro saiu, portanto, de
Alagoas, seu estado natal, para iniciar no Rio de Janeiro os estudos de ingresso ao
oficialato do Exército Brasileiro, em três fases. Em uma primeira etapa foi para
32

Escola Preparatória e de Tática do Realengo, onde permaneceu por um ano


(RAMOS, 2016, p.1).
A segunda fase foi na Escola Militar do Brasil, na Praia Vermelha 28. Em 1904,
contudo, ocorreu uma revolta que resultou o seu fechamento pelo Governo. Um
grande contingente que não se envolveu nos inquéritos subsequentes à Revolta da
Vacina29 foi transferido para Porto Alegre (SEVCENKO,1987, p.10).
Por essa razão, Góis Monteiro foi para a terceira etapa de sua formação, a
30
Escola de Guerra , em Porto Alegre, conforme consta nas suas alterações
(documento que registra todas as suas atividades importantes realizadas pelos
militares ao longo de sua carreira): Desligamento – Em 13 – III – 1906, foi desta
Escola por ter de seguir para o Rio Grande do Sul, a fim de continuar seus estudos
na Escola de Guerra (AN – FGM, SA 16, p. 330). O currículo31 para entrar nesta
escola apontava para aquisição de jovens com alto poder intelectual, no início do
século XX.
No ano seguinte, porém, na cidade de Porto Alegre, um grupo de alunos
militares já estava firmemente engajado nas disputas eleitorais do Partido
Republicano Rio-Grandense (PRR)32, compondo, junto aos alunos da faculdade de
Direito, o “Bloco Acadêmico Castilhista33”. Pertenciam a esse grupo, o próprio Pedro

28
Os alunos oriundos da Escola Militar do Brasil, mais conhecida como Escola Militar da Praia Vermelha, tinham um ensino
em que predominavam a matemática e as ciências físicas e naturais, ao invés de um ensino profissional. (RODRIGUES, 2008).
29
Para Sevcenko, a questão iniciou com a campanha de vacinação na população contra a varíola. Aproveitando-se disso,
alguns segmentos da oposição política, inflamaram as reações de indignação da população, gerando uma verdadeira
convulsão social. Entre os opositores estavam oficiais e alunos da Escola Militar da Praia Vermelha. (SEVCENKO, 1993, p.10).
30
Oriunda da Escola Militar do Brasil, era destinada à instrução militar preliminar teórica e prática, das armas de Infantaria e
Cavalaria, com duração de dois anos, cuja instrução seria completada na Escola de Aplicação de Infantaria e
Cavalaria.(RODRIGUES, 2008).
31
“Ter revelado aptidão para o serviço militar e ser de conduta irrepreensível, o que seria atestado pelo respectivo comandante
de corpo; Ter a precisa robustez física, provada em inspeção de saúde a que seria submetido na Escola antes da matrícula; Ter
mais 17 e menos de 22 anos de idade;- Ser solteiro ou viúvo sem filhos; Apresentar atestados válidos de aprovação nas
seguintes doutrinas: Desenho Linear, Português, Francês, Inglês ou Alemão, Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria,
Elementos de mecânica e astronomia, Física e Química, História Natural, Geografia do Brasil e História do Brasil;- Extinção do
título de alferes-aluno.” (AHEx. Acervo História da Escolas Militares, caixeta Regulamentos militares, pasta 1. Art. 205, do
R.E.M. de 1905).
32
De 1892 a 1930, o PRR governou o Rio Grande do Sul. Seus principais líderes foram Júlio de Castilhos que de forma
autoritária, monopolizou a máquina governamental e Antônio Augusto Borges de Medeiros. Tanto sob Júlio de Castilhos quanto
sob Borges de Medeiros o poder do PRR foi assegurado pela intervenção direta nas eleições locais e nos assuntos
administrativos. Os principais membros do PRR nessa fase foram: Borges de Medeiros, Getúlio Vargas, Flores da Cunha, João
Neves da Fontoura e Osvaldo Aranha. (Fonte:ArquivoCPDOC. Disponível em:
http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/PARTIDO%20REPUBLICANO%20RIO-
GRANDENSE%20(PRR).pdf . Acessado em 3/3/2017).
33
Quando ainda cursava a faculdade de Direito em 1907, Getúlio Vargas e alguns amigos da graduação fundaram o chamado
Bloco Acadêmico Castilhista. Nessa época, a palavra ditadura, pelo viés do castilhismo, nem carregava significado negativo.
Na verdade, era sinônimo de hierarquia e disciplina partidária (FRANCO, 1967).
33

Aurélio de Góis Monteiro, o aluno Eurico Gaspar Dutra34 e o jovem Getúlio Vargas35,
conforme assinala Drummond (1986, p.190-191). Assim, com esta convivência ao
longo de sua formação acadêmica, Góis Monteiro naturalmente foi influenciado
pelas ideias do castilhismo, que é, como todo sistema autocrático de governo, um
pensamento ou maneira de agir que está próximo do autoritarismo 36.Segundo
Ricardo Vélez (2000, p.15), o castilhismo é caracterizado da seguinte forma:

enquanto para o pensamento liberal o bem público resultava da


preservação dos interesses dos indivíduos que abrangiam
basicamente a propriedade privada e a liberdade de intercâmbio,
bem como as chamadas liberdades civis, para Castilhos o bem
público ultrapassava os limites dos interesses materiais dos
indivíduos, para tornar-se impessoal e espiritual. O bem público se
dá na sociedade moralizada por um Estado forte, que impõe o
desinteresse individual em benefício do bem-estar da coletividade.

Assim, sem dúvida, o período de formação no Rio Grande do Sul foi


fundamental para Góis Monteiro por várias razões. Neste ambiente deu início a
formação do militar com ideias autoritárias e renovadoras advindas do meio civil, que
iriam ser seguidas ao longo de sua carreira. Fortaleceu vínculos pessoais com
Getúlio Vargas e Eurico Dutra, dois importantes personagens da história do Brasil e,
ainda, verificou os danos que a interferência política podia causar em jovens oficiais.
Promovido a segundo-tenente em abril de 1914, permaneceu no Rio Grande
do Sul até 1916. Nesse ano, casou-se com Conceição Saint Pastous, de uma família
tradicional de Alegrete (RS), e regressou ao Rio de Janeiro para realizar um curso
de engenharia militar, interessando-se, simultaneamente, pelos processos de tática
e organização militar, adotados pelo exército alemão e aqui introduzidos pelos
jovens turcos (RAMOS, 2016, p.3). Em seu depoimento a Coutinho (1956, p.2), Góis
Monteiro menciona:“[...] autodidatismo em assuntos militares, principalmente depois
que me deixei empolgar pelos ensinamentos do Exército alemão em questões de
tática e organização [...]”.

34
Ver anexo A

35
Ver anexo A
36
Derivando do absolutismo, o autoritarismo caracteriza-se pelo exercício do poder por uma só pessoa, que toma medidas a
seu bel-prazer, caracterizando-se pelo arbítrio na prática desse mesmo poder. Não seguindo modelos superiores jurídicos ou
éticos, o autocrata reveste-se de particularidades despóticas, possuindo uma série de mecanismos executivos como, por
exemplo, tribunais e forças armadas. Um exemplo foi durante o Estado Novo que em 1937, Getúlio apresentou à nação a nova
constituição, acabando com os partidos políticos. (autoritarismo in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora,
2003-2017. [consult. 2017-04-06 02:43:16]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/$autoritarismo.
34

Para Denys (1985, p.8-9), o regresso em 1912 dos oficiais (entre eles:
Bertholdo Klinger, Eduardo Cavalcanti de Albuquerque Sá, Epaminodas de Lima e
Silva, Estevão Leitão de Carvalho) que estagiaram na Alemanha serviu para dar
maior intensidade à nova orientação profissional no Exército. Foram os jovens turcos
que lançaram a campanha renovadora da instituição na década de 1910, marcando
a formação de diversos militares brasileiros, entre eles Góis Monteiro. Além disso,
difundiram o caráter disciplinador do Exército alemão, a emergência do
profissionalismo militar e as ideias de Clausewitz37.
Na concepção da atuação militar advinda das ideias de Clausewitz, a
sagração do combatente ocorre, e só pode ocorrer, no altar da pátria, onde a
bandeira nacional paira como item supremo. Assim, a defesa dos interesses do país
tanto justifica tirar a vida do outro quanto permite morrer de forma gloriosa. Dessa
forma, considera que quem guerreia em nome de Deus é fanático; o civilizado
guerreia pela pátria sagrada (DOMINGOS NETO, 2005, p.51).
Voltando à cronologia da vida de Góis Monteiro, assinala Ramos (2016, p. 3)
que, em janeiro de 1919, foi promovido a primeiro-tenente e, em 1921, foi chamado
ao Rio de Janeiro para realizar o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais ministrado
pela Missão Militar Francesa.
Segundo Bastos Filho (1994, p.137), as ideias propagadas pela Missão Militar
Francesa são balizadas pela isenção política, em proveito da hierarquia e da
disciplina, como forma de garantir o profissionalismo das Forças Armadas. Verifica-
se, portanto, o componente de legalidade e o fortalecimento das ideias de busca de
uma instituição forte e coesa na formação militar de Góis Monteiro, proporcionando-
lhe novos conceitos.
Nos anos que se seguiram, a visão de Góis Monteiro sobre a real situação de
pessoal do Exército foi complementada e ampliada, em parte, também, pelas
edições da Revista ADN. As publicações, em especial nos primeiros anos,
retratavam, entre outros assuntos, a insatisfação dos oficiais com seus superiores e
deixavam claro os momentos de quebra de hierarquia quando, por falta de oficiais
superiores responsáveis, tenentes e capitães eram postos no comando de batalhões
e regimentos que deveriam ser chefiados por majores, tenentes-coronéis ou
coronéis. Como exemplos históricos, verificam-se nas publicações da Revista ADN

37
Verificar Anexo A
35

de 1919 e de 192038: em 1919, no 5º Regimento de Artilharia um 1º tenente como


comandante em Campo Grande; no 8º Regimento de cavalaria, em Uruguaiana, um
major comandava uma Brigada e o capitão dirigia o Regimento; em 1920, em Belém,
um tenente conduzia, simultaneamente, três companhias de Infantaria e um outro
militar, de Bagé, admitiu a falta de disciplina na caserna, inclusive entre oficiais,
desmotivados com o trabalho e com as situações adversas que tinham nos corpos
de tropa do interior do Brasil.
Em janeiro de 1924, promovido ao posto de capitão, Góis Monteiro foi
nomeado professor estagiário do curso de Estado-Maior. Sobre isso declara a
COUTINHO (1956, p.8):
Eu ainda não havia concluído o curso de Estado-Maior e tive outra
surpresa: era nomeado Professor estagiário antes da conclusão do
referido curso, o que representava uma exceção [...]. Realmente o
conceito de que desfrutava era excelente.

Certamente, trata-se de um expressivo reconhecimento da capacidade militar


de Góis Monteiro. Os instrutores franceses eram rigorosos nas avaliações escolares
em relação aos oficiais brasileiros. Assim, somente um oficial com elevado nível de
dedicação, poderia, de fato, ter significativa deferência. Góis Monteiro foi o primeiro
colocado no referido curso com aproximadamente dois pontos na média final melhor
que o segundo colocado, conforme registrado nas suas alterações: “Exames – em
03 – jan– 1925, nos de fim do curso de estado maior foi aprovado com nota geral
8,437 (oito quatrocentos e trinta e sete milésimos), menção “muito bem” e
classificado, por ordem de merecimento intelectual, em 1º lugar”. (AN – FGM, SA 16,
P. 369).
Em São Paulo, as agitações políticas colocaram Góis Monteiro nos combates
ao Movimento Tenentista de 192439, onde fez parte das forças de ataque, como
membro do Estado-Maior do General Carlos Arlindo, incumbido do cerco às forças
rebeldes (MORAES, 1976,p.170).
A ampliação do conhecimento do território do brasileiro foi proporcionado por
um fato histórico que marcou, também, os movimentos revoltosos da década de

38
A Caserna em A Defesa Nacional, ano VII, setembro de 1919 e Efetivos e disciplina militar em A Defesa Nacional, ano VIII,
agosto de 1920.
39
No dia 5 de julho de 1924 ocorreu mais um levante Tenentista. Esse episódio concentrou-se no estado de São Paulo, mas
teve repercussão e desdobramentos em nível nacional. Os militares que se rebelaram em 1924 tinham como objetivo político
principal restabelecer os ideais de 1889, combatendo os desvios da administração civil que seriam os grandes responsáveis
pela degradação do quadro social do Brasil. (FAUSTO, 1994).
36

1920, a Coluna Prestes. (PINTO SÁ, 2006, p. 14). Os rebeldes de São Paulo40, no
dia 2 de abril, no entorno da localidade de Benjamin Constant (PR), uniram-se às
forças gaúchas de Luís Carlos Prestes41 e formaram a Coluna Miguel Costa-Carlos
Prestes (RAMOS, 2011, p. 7).
Góis Monteiro participou das operações que empurraram a Coluna Prestes
para o Paraguai, de onde iria retormar mais tarde para suas ações em território
nacional. Em abril de 1925, Após os rebeldes entraram nesse país, Góis Monteiro
passou breve período no Mato Grosso no Estado-Maior do General Malan, sendo
então chamado de volta ao Rio de Janeiro (RAMOS, 2011, p. 9).
Em janeiro de 1930, assumiu o comando do 3º Regimento de Cavalaria. De
acordo com Bretas (2008, p.38), a percepção de Góis Monteiro do poder de combate
do Regimento foi de perplexidade, sendo assim descrito pelo mesmo em carta a
Caiado de Castro:
Tenho cerca de 600 homens. Destes, 450 recrutas, quase todos
analfabetos, distribuídos por 2 esquadrões. Estão mal fardados, mal
arrumados (não tenho munições nem armas suficientes); mal
alojados. Para instruí-los, apenas 4 oficiais, uns 15 sargentos e uns
20 cabos [...]É um problema quase insolúvel.

Do exposto, com a constatação da estrutura militar do seu Regimento, a


posição de legalista de Góis Monteiro praticamente se desintegrou, resultando na
mudança definitiva de sua postura, a fim de criar um Exército em novas bases, com
forte poder bélico e, assim, pronto para cumprir seus preceitos constitucionais e
defender a nação. Enfim, estava aberto o caminho para a ação revolucionária de
Góis Monteiro.
Às duas horas da madrugada de 1º de outubro de 1930, Oswaldo Aranha,
entra com o Tenente-Coronel Góis Monteiro, recém-chegado de São Luís das
Missões, nos aposentos particulares do Presidente do Estado no Palácio de Piratini
e antigo colaborador do Bloco Acadêmico Castilhista, Getúlio Vargas (RAMOS,
2016, p.15).
Naturalmente, a motivação com a qual se propunha era principalmente a
busca do fim do sistema oligárquico vigente no País, o qual iria proporcionar, na sua
visão, a geração de bem estar para a população brasileira (FREIXINHO, 1997, p.
40
A retomada da capital paulista pelas tropas legalistas não significou o término do conflito armado no estado, pois cerca de
três mil revolucionários se retiraram, preservando sua capacidade de combate. Além disso, o descontentamento nos meios
militares provocava uma situação propícia à eclosão de revoltas em outros estados. (FAUSTO, 1994).

41
Verificar Anexo A
37

214). Ainda segundo Freixinho,(1997, p.214-215), Góis Monteiro respondeu da


seguinte forma, com extrema visão estratégica, a Getúlio Vargas sobre a
possibilidade de êxito da Revolução :
Se depois de dois meses de operação ainda não tenhamos logrado
conquistar a capital federal, Rio de Janeiro, com o auxílio das forças
revolucionárias de Minas e do Norte, poderemos pleitear, no campo
externo, nosso reconhecimento como beligerantes e refluir para o
Rio Grande do Sul, oferecendo resistências sucessivas, obtendo
então, nos países do Prata, os recursos que nos faltam, ganhando,
assim, condições de tempo e de força para negociar a paz com os
detentores do poder em condições menos desfavoráveis.

Depois do êxito militar da revolução, o valor profissional de Góis Monteiro no


âmbito nacional foi registrado no Boletim Número 01 das Forças Revolucionárias, do
dia 3 de outubro. Tal documento relata:

Camarada! O dia hoje fulgurará nas páginas radiosas da história


pátria como um dos mais gloriosos, um daqueles que hão de
atravessar os tempos porvindeiros com uma perene acentuação
coeva ou como uma dessas recordações immorríveis que passam a
constituir um pedaço mesmo da nossa própria alma. [...] Velavam
pela Pátria, concertavam planos, ligavam-se aos bravos de 22 e 24,
agremiavam novos elementos e incumbiam esse extraordinário
Góis Monteiro, esse Moltke do Brasil contemporâneo, de organizar
technicamente o movimento que aniquilaria o despotismo e
regeneraria a República. [...] (AN – FGM, SA 791-1, p. 11-16).

Comparar Góis Monteiro com o General do Exército Prussiano, que é


considerado o idealizador dos estudos de Estado-Maior, é digno de nota e retrata a
importância daquele para o Exército Brasileiro. Daroz (2014, p.1) define o
planejamento militar de Moltke como:

O planejamento militar tal como era concebido pelo Estado-Maior


de Moltke partia das hipóteses de guerra concebidas pela política
de defesa nacional e compreendia: o plano de mobilização, o plano
de concentração, o plano de transporte e o plano de operações.
Assim, a preparação para a guerra era feita com antecedência,
atentando para os mínimos detalhes, e esse planejamento
precisava ser constantemente atualizado para atender às
modificações indicadas pela política de segurança nacional.

Após a Revolução de 1930, cabe destacar que a consolidação do poder


militar exigiu um longo esforço. Uma das razões é que a revolução não foi resultado
do consenso na Força. Na verdade a maioria dos oficiais não aderiu ou, se o fez, foi
quando já não havia condições de resistência. Outra importante razão é que a
minoria rebelde era composta principalmente de oficiais subalternos, diversos eram
remanescentes das revoltas da década de 1920, cuja reintegração e rápida
38

promoção perturbaram profundamente a hierarquia e o sistema de promoções


(CARVALHO, 2005, p. 62- 63).
A despeito disso, Góis Monteiro, após 1930, conquistou posição proeminente
no cenário nacional e alto prestígio no Exército, devido à sua participação no
movimento e pelos seus atributos pessoais. Sobre esta ascensão, esse declara:

Na manhã de 4 de outubro de 1930, olhei para o céu, contemplando


a aurora que desponta e, então, uma sequência de reflexões me
assaltou a mente. Até à véspera era eu um simples Comandante de
tropa de fronteira, completamente anônimo, e, no entanto, em
poucas horas passara a ter nas mãos o destino do Brasil, que, em
grande parte, já começara a condicionar- se e continuaria a
condicionar-se à minha atuação.. (COUTINHO, 1956, p. 118-119).

Porém, atitudes presidenciais provocaram dificuldades na obtenção da


harmonia do meio militar. Carvalho (2005, p. 62), aponta que um dos atos de Getúlio
Vargas, durante o Governo Provisório, foi conceder anistia a todos os oficiais
revoltosos dos anos 1920, que foram reintegrados ao Exército e passaram a ocupar
postos importantes no governo. A medida aflorou um problema na estrutura pessoal
do Exército. A participação dos tenentes no poder revirava a hierarquia militar,
aumentando as tensões entre a baixa e alta oficialidade.
Além disso, ao analisar o Almanaque de oficiais do Exército de 1930 a 1945,
podemos perceber outra medida do Governo Provisório, os expurgos de militares do
Exército, os quais não foram acompanhados da imediata promoção de outros
militares, a fim de preencher os claros abertos com a Revolução. Somente como
exemplo, os três mais antigos que foram para reserva eram militares com cargos
importantíssimos na estrutura do Exército, sendo um responsável pelo planejamento
da Força Terrestre, outro pela fiscalização na região militar de maior poder
econômico da Federação e por fim o Gen Divisão Rondon que foi fundamental no
processo de integração do país.
É importante destacar que, com a passagem de muitos oficiais, desgostosos
com a situação, para a reserva, Góis Monteiro foi promovido no começo de 1931 por
merecimento a Coronel e no mesmo ano promovido a General de Brigada 42.
Participou, nessa ocasião, no cargo de comandante da 2ª Região Militar, de
conversações entre revoltosos e legalistas para que não houvesse perseguição aos

42
AHEX, Almanaque de Oficiais do Exército, de 1930 a 1945, p.2.
39

comandantes militares que participaram da repressão às revoltas tenentistas.


(CARVALHO, 2005, p. 62-76).
Em busca de maior coesão interna, Góis Monteiro iniciou a busca de medidas
para fortalecer a nova cúpula militar, o que resultou inicialmente nos objetivos
traçados em 24 fevereiro de 1931, com o Pacto de honra entre o Gen Góis Monteiro,
Leite de Castro e Juarez Távora. O acordo buscava unir oficiais revolucionários para
dar apoio a Getúlio Vargas, delegando para isso poderes expressivos para Góis
Monteiro com a direção da 2º, 3º e 5º Regiões Militares (RM) e a Circunscrição
Militar de Mato Grosso, a Leite de Castro a 1º e 4º RM, e ao último a 6º, 7º, 8º RM. A
finalidade era colocar elementos revolucionários em postos de comando e na
comissão de promoções, proporcionando uma reorganização do pessoal do Exército
(CARVALHO, 2005 p.71).
Contudo, diversos segmentos militares não concordavam com o postulado
no Pacto de Honra, inclusive dentro do quadro de oficiais revolucionários, como foi a
reação do Cap. Heitor de Fontoura Hangel, explicitado em carta ao primeiro tenente
Alcides Etchegoyen, na qual acusava Góis Monteiro de ajudar a implantar a
subversão e a anarquia no Exército, acrescentando o perigo de dividir este em três
regiões. Por fim, acrescentou que a revolução não foi feita pelo Exército e sim pelo
povo que não podia ser tutelado por aquele (CARVALHO, 2005 p.72).
Com o recrudescimento dos conflitos entre os grupos militares divergentes
nos primeiros anos do Governo de Getúlio Vargas, a classe de oficiais
revolucionários criaram o Clube Três de Outubro para fortalecer a nova elite militar
que se instalava. O Clube foi fundado durante uma reunião na residência do
chanceler Afrânio de Melo Franco, sendo Góis Monteiro nomeado o seu primeiro
presidente. Os seus objetivos eram, indubitavelmente, impedir ou deter a divisão nas
forças armadas e congregar civis e militares para defender os princípios da
revolução (ELIAS SILVA, 1991, p.42). Sobre isso comenta Góis Monteiro
(COUTINHO, 1956, p. 157): “O objetivo que tive com a fundação desse clube foi
impedir que os tenentes levassem questões políticas para os quartéis, ficando estas
adstritas ao Clube, o que resguardaria a disciplina”.
Quando eclodiu a Revolução Constitucionalista de 1932, Góis Monteiro teve
destacada ação na repressão ao movimento, sendo comandante do Destacamento
do Exército Brasileiro de Leste. Findado o conflito, Góis Monteiro foi designado como
presidente de uma comissão que avaliou a atuação dos oficiais revoltosos,
40

conseguindo reparações que regularam o assunto definitivamente. No decorrer dos


combates, seu irmão, Cícero, tombou à frente do batalhão que comandava, após ser
atingido por um estilhaço de granada de artilharia paulista. Outro de seus irmãos,
delegado de polícia, lutou pela causa constitucionalista, mas, a despeito de sua
lealdade, foi atacado e ferido por ser irmão do General. Mais tarde, quando foi
transferido para Santo Amaro, envolveu-se em uma briga para defender a honra do
irmão militar, em decorrência da qual veio a falecer. A Revolução de 1932 cobrou
um alto preço à família Góis Monteiro (COUTINHO, 1956).
Ao regressar ao Rio de Janeiro, Góis Monteiro, triunfante e fortalecido, foi
promovido a general-de-divisão, atingindo, aos 42 anos de idade, o último posto
então existente no Exército. Dessa feita, naturalmente foi se diminuindo as
manifestações contrárias ao seu crescente poder na esfera nacional. (RAMOS,2016
p.18 ).
Assim, estudioso como sempre foi e militar de visão prospectiva, nessa fase
da História, tornou-se importante uma apresentação da reestruturação do Exército
pelo anteprojeto43 do Chefe do Serviço do Estado Maior Geral (EMG) em novembro
de 1930, junto às seguintes autoridades: Getúlio Vargas,Oswaldo Aranha, Gen Leite
de Castro, Gen Malan, entre outros. Além das considerações iniciais sobre a
situação do País, são abordadas no documento a reestruturação dos quadros, da
tropa, das comissões, do alto comando, da instrução, das forças estaduais, do
armamento, do uniforme e das reservas.
Outro estudo, de 04 janeiro de 1933, do 3º Sargento Pedro Navarro Mendes
com o título: “Forma natural, racional e científica do Estado”44, é importante na
apresentação de como está a situação dos quartéis e sua destinação para a defesa
do Estado. Em seguida, o citado, em 18 maio de 1934, apresenta sugestões para
um programa de reformas no Exército45, onde destaca de início a importância da
força aglutinadora dos sargentos da tropa, e no sistema político, social e
administrativo nacional. Tais documentos possibilitaram, juntamente com sua
formação e vivência na caserna, a formação do pensamento crítico com relação à
estrutura física do Exército.

43
“Anteprojeto do Chefe do Serviço do Estado Maior Geral” Arquivo Góis Monteiro, AHEX- Caixeta nº 9 pasta nº1
docº 1.
44
“Forma natural, racional e científica do Estado” Arquivo Góis Monteiro, AHEX- Caixeta nº 9 pasta nº1 docº 2.
45
“Estudo para reforma do Exército ” Arquivo Góis Monteiro, AHEX Caixeta nº 9 pasta nº1 docº 3.
41

Na verdade, um dos pilares do pensamento de Góis Monteiro é a sua


ideologia de guerra. Assim, de acordo com Tomaz (2012,p.115) Góis não acreditava
na possibilidade da paz mundial, em razão da característica agressividade inerente
ao homem. Assim, declara o General:

“A guerra é natural porque humaniza mais o homem, tornando-o


igual ao seu semelhante, pelas próprias contingências em que ela
se passa. Fora da guerra, na “calma dos paúes”, o homem torna-se
mais lobo do homem e não há medida capaz de aferir o drama
vivido pelas sociedades, nas quaes o eGóismo e os vícios mais
torpes tudo avassalam. [...] A paz é a guerra branca que não mata
com brutalidade, mas, violenta os seres infelizes com torturas
physicas e moraes de um requinte inominável. Mata a fogo lento”.
(AN – FGM, SA 688-6, p. 460-461).

Dessa feita, para o General, a guerra era inevitável.O pensamento de um


Exército forte e coeso era pronunciado em jornais e documentos da época46, tendo
em vista que considerava que as nações fracas e despreparadas para um conflito
bélico estariam, portanto, condenadas a serem dominadas ou a desaparecer,
vítimas da supremacia das grandes potências (AN – FGM, SA 688-6, p. 461). Para
Góis Monteiro, de acordo com Saes (2011, p. 5-6), o Estado Brasileiro era debilitado
e atrasado em todas as suas estruturas de governança, sendo importante e urgente
prepará-lo para que fosse capaz de enfrentar e sobreviver a um conflito de grande
proporção que se anunciava. Assinalava o General:
“A organização militar do paiz deve ser aparelhada de modo que
attenda efficazmente às exigências da guerra, que é a sua suprema
finalidade, e se torne, sobretudo, capaz de: utilizar, num prazo
mínimo, os recursos de que pode dispor; empregar, tanto quanto
possível, todos os recursos nacionais em homens, animaes e
material de toda espécie. (AN – FGM, SA 824-3, p. 223). [...]
Cumpre, porém, interessar a Nação pelo instrumento de sua
defesa. Na guerra, não é o Exército que se mobilisa, é toda a
Nação, que, mobilisando integralmente suas forças vivas, se vae
bater. (AN – FGM, SA 636-6, p. 576). [...] Na futura guerra – as
surpresas aéreas, eletro-químicas e mecanização poderão exceder
a qualquer previsão. Não é sem apreensões que um Estado fraco e
desprovido de meios industriais e de técnicos-especialistas deverá
sentir a iminência de um conflito armado”. (AN – FGM, SA 185-12-1,
p. 592).

O General Góis Monteiro tinha plena convicção de que era importante dispor
de um Exército forte para dar sustentação a um Brasil de importância no contexto
das nações soberanas. Contudo, elucida que o principal não é ter efetivos
expressivos de forma permanente, mas apenas o necessário para a formação das
reservas e um corpo técnico competente. Acrescenta Góes (AN – FGM, SA 636-6, p.

46
Cartas, estudos,exposições de motivos e circulares.Arquivo Góis Monteiro, AHEX Caixeta nº 9-A pasta nº2 .
42

574) que “O essencial é contar-se com todos os meios materiais: fábricas, vias de
comunicações, riqueza, esquadra e aeronáutica convenientes à situação do paiz e
estado moral alevantado pela eliminação das discórdias e rivalidades”.
Contudo, de acordo com Freixinho (1997, p. 314-317) e Carvalho (2005,
p.61-73), a implantação das medidas de Góis Monteiro à frente da pasta da Guerra
tornou-se insustentável, devido particularmente ao descontentamento de alguns
chefes militares com a questão dos vencimentos. Estas se refletiram diretamente em
dois pontos: na indisciplina dos subalternos e no aumento dos desentendimentos do
Ministro com o Governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, que desfrutava,
naquela ocasião, de crescente prestígio no cenário político do país.
Ainda nesse contexto, Góis Monteiro tinha ressalvas, também, ao fato de
Flores da Cunha dispor de sua forte e bem equipada milícia, a Brigada Militar,
apoiada por “Corpos Provisórios”, reunindo meios provavelmente mais potentes que
os do Exército, na 3ª Região Militar. Góis Monteiro passou a pressionar o Governo
para que diminuísse a autonomia dos estados em administrar as forças policiais, em
especial o do Rio Grande do Sul (FREIXINHO1997, p.317).
Concordando com Freixinho (1997, p.317), a situação dos vencimentos
somada ao recrudescimento dos conflitos de ideias com Flores da Cunha
provocaram desgaste para Góis Monteiro. Diante dos fatos,em 7 de maio de 1935,
Góis enviou correspondência a Getúlio Vargas, pedindo demissão do Ministério da
Guerra.
Assinala Ramos (2011, p. 31) que Góis Monteiro, após se demitir do cargo de
Ministro da Guerra, em maio de 1935, permaneceu sem função no Exército, por
alguns meses. Contudo, continuou agindo nos bastidores da política brasileira, tendo
como maior incentivador o Presidente Vargas, com quem mantinha frequentes
contatos. Dessa feita, por ocasião da deflagração da Intentona Comunista, em
novembro de 1935, no Rio de Janeiro, Recife e Natal, pela Aliança Nacional
Libertadora (ANL), Góis Monteiro fez-se presente na repressão ao movimento,
estando no ataque contra o 3º Regimento de Infantaria (RI), na Praia Vermelha, no
Rio de Janeiro (COUTINHO, 1956, p. 270).
Em 24 dezembro de 1935, Góis Monteiro recebeu carta de Oswaldo de
Aranha, que, nesta oportunidade, estava como embaixador do Brasil nos Estados
Unidos da América do Norte, em que se refere ao acontecimentos da Intentona
Comunista, dando a Góis Monteiro uma visão positivada daquele país sobre a
43

atuação do Exército Brasileiro neste fato histórico. Além disso, Oswaldo de Aranha
tece comentários de como lidar com os americanos, ferramenta esta que seria útil
nos anos subsequentes (MCCANN, 2009). Ocupando a presidência do Clube Militar
em janeiro de 1937 e o Estado Maior do Exército em julho do mesmo ano, teve
papel fundamental na sustentação ao “Golpe do Estado Novo”, executado por
Getúlio Vargas em novembro do mesmo ano (CARVALHO, 2005).
Podemos concluir que a trajetória militar de Góis Monteiro foi caracterizada
pela captação de ensinamentos do Exército alemão e francês, possibilitando cabedal
de conhecimento para entender a estrutura debilitada do Exército Brasileiro e formar
condições para uma transformação na instituição. O General Góis Monteiro foi um
ator proeminente que, de fato, colaborou para a criação de uma nova elite militar. O
seu principal legado nesta época é fortalecer a disciplina no Exército.

1.3 Gen Góis Monteiro e as relações internacionais para reestruturar o Exército


Brasileiro

A posição do Brasil em relação aos eventos bélicos relacionados à 2ª Guerra


Mundial (1939-1945) foi caracterizada, inicialmente, pela ambiguidade entre o apoio
aos países do Eixo, sob a liderança da Alemanha, e Aliados, liderados, inicialmente,
pela Inglaterra e França. Esta dubiedade foi provocada pelo atrito de posições entre
duas pessoas proeminentes na condução da política externa brasileira: o Ministro
das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, e o Ministro da Guerra, General Eurico
Dutra. O primeiro, tinha como foco a aproximação política e militar do Brasil com os
EUA; o outro, embora não se manifestando contrário àquela aproximação, exerceu
uma posição mais cautelosa. Assinala Ramos (2011, p. 37) que o posicionamento
do Gen Dutra se justificava pelas boas relações entre o Brasil e a Alemanha, da qual
comprava armamentos.

Considera Freixinho (1997, p. 375) que, a despeito dessas considerações, o


Brasil mantinha estreita colaboração com os EUA, particularmente, no âmbito da
política pan-americana. Neste quadro, foi combinada uma visita do Chefe do Estado-
Maior do Exército norteamericano, General Marshall, cujos entendimentos foram
assim descritos no Diário de Getúlio Vargas:
“A 19 de fevereiro de 1939 - À noite, recebi o Ministro da Guerra
(general Eurico Gaspar Dutra) e o general Góis (Pedro Aurélio de
44

Góis Monteiro - Chefe do Estado-Maior do Exército) que mandara


chamar. Dei-lhes conhecimento de um novo telegrama do Oswaldo
que precisava de urgente resposta. Tratava-se de uma consulta do
Governo americano sobre a vinda do Chefe do Estado- Maior do
Exército americano em visita ao nosso (Góis), para combinar os
meios de cooperação e assistência”. (VARGAS apud OLIVEIRA,
1996, p. 34).

A visita se concretizou em maio de 1939. Em seus contatos com Gen Góis


Monteiro, o Chefe do Estado-Maior norte-americano informou que presenciou
despreparo das forças armadas brasileiras, apontando debilidade de treinamento
militar e falta de adoção de armamentos modernos. Além disso, questionou sobre o
material bélico importado da Alemanha. Aponta Ramos (2011, p. 38-39) que, diante
disso, Marshall sugeriu que o governo brasileiro enviasse uma missão militar aos
Estados Unidos. Com a aprovação de Vargas, em junho, no mesmo navio em que
Marshall regressava para os Estados Unidos, viajaram o General Góis Monteiro e
diversos oficiais. Nas alterações do Chefe EME ficou assim registrada:

“Em 1 – VI, deixou a chefia do Estado Maior do Exército, por ter de embarcar
para os Estados Unidos da América do Norte, no dia 7 do mesmo mês, pelo
Crusador Americano NASHVILL, em retribuição a visita de S. Excia. o Sr.
General George C. Marshall, chefe do E. M do referido país”. (AN – FGM, SA
16, p. 411).

De forma contrária, o Jornal Correio Paulista 47 da época aponta que a


imagem que Marshall teve das tropas brasileiras foram altamente positivas. Diante
disso, o Brasil foi convidado para visitar o Exército norte-americano. Assim, a
comitiva brasileira nos Estados Unidos visitou arsenais, fábricas de munições e
instalações de adestramento de pessoal militar (CORREIO PAULISTA, 1939, p1).
Góis Monteiro esteve com Roosevelt na Casa Branca e dele ouviu a
afirmação convicta de que a guerra estouraria ainda naquele ano. O General ficou
impressionado com o poderio dos Estados Unidos, comentando o seguinte:

“Tudo que me era mostrado fazia-me pensar no nosso atraso, sob todos os aspectos.
Embora os males que pude lá observar, como, por exemplo, a questão racial e o
domínio capitalista, receei adquirir complexo de inferioridade em contato com aquele
modo de viver tão diferente do nosso”. (MONTEIRO apud COUTINHO, 1956, p. 362).

Em carta48 direcionada ao presidente Vargas, o Gen Góis Monteiro relatou a


sua admiração pelo exército dos EUA e aconselhou ao governo brasileiro maior

47
Disponível em:http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=090972_08&PagFis=29525&Pesq= Acessado em:
03/02/2017
48
Cartas, estudos,exposições de motivos e circulares.Arquivo Góis Monteiro, AHEX Caixeta nº 7-A pasta nº1 .
45

estreitamento das relações comerciais, culturais e militares entre os dois países.


Assinala Balocco (2011, p. 910) que, diante do que Góis Monteiro viu nos EUA, este
chegou à conclusão que os EUA estabeleceria um ponto de atuação na América do
Sul independente da aceitação do Brasil em ceder o Nordeste brasileiro, sendo a
Argentina a segunda opção, o que traria grandes prejuízos ao equilíbrio de poder
sul-americano. No relatório do EME de 1939, há citação de Góis Monteiro sobre a
referida visita, reforçando as medidas urgentes para o aumento do efetivo da tropa
brasileira e a necessidade de aumento dos gastos governamentais para área militar.
Medidas estas em consonância com o Plano de Guerra (1938).

Diante disto, ocorreram, na gestão de Góis Monteiro, fatos importantes, entre


eles: o aumento do efetivo e a elevação dos gastos militares. O salto foi de cerca de
oitenta e um mil em 1937 para aproximadamente cento e setenta e um mil em
194349. Do mesmo modo, no que se refere a recursos orçamentários, estes também
aumentaram consideravelmente. O esforço econômico para atender à demanda
orçamentária do Exército foi significativa. De 1936 para 1943, os fluxos financeiros
aumentaram de cerca de 10 vezes (ATLAS HISTÓRICO, 1941 p. 6).

2. ASPECTOS DO PLANO DE GUERRA (1938)


O intuito deste capítulo é apresentar as ideias da composição do Plano
Guerra (1938) ligadas diretamente à modernização militar e que nortearam os
destinos da força militar. A preparação para um conflito armado, na década de 1939,
seguiu a seguinte citação:
As classes armadas produzem preparando-se para a guerra, estudando-a e
treinando-se nos atos e práticas que ela exige; prevendo o que ela pode exigir e
tomando precauções em consequencia... A guerra, porém, pode tomar várias
formas relativas ao inimigo, ao terreno e ás circustancias diversas... Prepará-las
todas de um modo completo é caro... Por isso os povos inteligentes e previdentes
preparam-se para a guerra mais importante, de acôrdo com a probabilidade mais
urgente. E em tôrno dessa preparação para a guerra mais provavel e importante
eles aprendem a fazer qualquer guerra (A DEFESA NACIONAL, A
RECONSTRUÇÃO MILITAR, 1932, Num 222, p.284).

49
Fontes: 1937 e 1943, Almanaque do Ministério da Guerra, 37, 43. Os dados para as praças em 1937 são da Coleção de
Leis (Lei 131 de 9 de dezembro de 1935). O total para 1943 foi tirado de documento do Arquivo Getúlio Vargas. GV 43.06.00.
Neste último ano, estão classificados como praças 1.080 cadetes, 732 alunos de escolas preparatórias e 6.330 dos CPOR e
NPOR. O quadro foi montado por Lúcia Lahmeyer Lobo. (CARVALHO, 2005, p. 87).
46

Plano de Guerra (1938) foi dividido nos seguintes itens : Política de Guerra, as
bases em que se assenta a nova organização, o inimigo, as nossas necessidades
em função das possibilidades do inimigo, relações entre o Exército de paz e o de
guerra e o plano quinquenal. A intenção é apontar às demandas existentes e as
medidas necessárias para se ter uma força terrestre compatível para assegurar a
defesa do País de um possível invasor, sendo analisado aqui a Argentina como
principal ameaça a soberania nacional.

2.1 Política de Guerra

O Plano de Guerra foi confeccionado pelo EME, na chefia do Gen Góis


Monteiro, o qual assina o documento que tem como classificação o termo secreto.
Na parte inicial o documento faz-se referência ao General Françês RENÉ
ALTMAYER50, militar autor do livro “Estudos de táctica geral”. Tal obra aborda
conceitos defensivos do exército francês e aspectos doutrinários que foram base
para o estudo no Brasil de oficiais na Escola de Estado-Maior, além disso dá clara
visão da função de um Exército, no que se concerne à preparação para um conflito
bélico.
“ O Exército não é um meio em que, em materia de emprego, todas
as phatasias do pensamento possam admitiidas. Nós militares, não
somos homens exclusivamente consagrados ás cousas de espirito;
ao contrario, estudando a guerra, nos preparamos para a acção sob
a sua fórma a mais intensa e, para nós, o pensamento, que é
sómente potencia, não acha seu estado completo senão no acto.
Ora, na guerra, toda a manobra, em sua concepção, é uma
combinação de direcções e de forças, por conseguinte, de esforços;
ella só póde attingir aos seus fins se estas direcções são realmente
seguidas, se estes esforços são effetivamente fornecidos e se cada
um em qualquer escalão que esteja colocado, aja conforme a
vontade do Chefes quer dizer que abordamos nossos estudos em
um espirito de disciplina, collocando no primeiro plano de nossas
preocupações a acção, ao sentido desejado pelo commando, do
qual dependemos” (PLANO GUERRA, 1938 . p.3-4).

Ainda na parte introdutória do documento, nota-se preocupação como o


processo de continuidade de fortalecimento bélico da força terrestre (PLANO
GUERRA, 1938, p. 4). Dessa forma, o documento menciona que o principal é
atualizar e aperfeiçoar o que já existia como embrião. A necessidade de

50
O General francês produziu o livro “ Études de tactique générale”. A obra faz referência às composições dos batalhões das
armas em um campo de batalha, em especial no que concere àforma de um Exército defender uma possível invasão do seu
território. Fonte: Autor
47

modificações na estrutura de defesa foram justificadas no documento tendo em vista


que: a lei orgânica do Exército (1934-1935)51 não se monstrou eficiente; melhor
conhecimento das possibilidades dos prováveis inimigos 52; evolução dos
armamentos53 nos últimos quatro anos; e colaboração mais extreita da missão
francesa que veio abrir novos horizontes no que tange às normas de ação e aos
princípios de organização do Alto Comando do Exército (ACE)54.

No segundo item do documento, de fato, dá-se importância aos conceitos de


uma política de guerra adotada por uma nação e faz referência à política pacifista do
Brasil. Dessa feita, é citado:
[...] a política militar de um povo é funcção directa de sua orientação
política ao concerto internacional, e funcção indirecta das
tendencias e reacções desse ambiente sobre seus interesses vitaes
e a sua propria segurança.Estabelecidos esses princípios, desde
logo se revela claramente o setido pacifista do Brasil, adoptado
ininterruptamente por todos os governos, no Império e na
Republica, como o que melhor attende aos nossos interesses, pois
a seu rythmo poderemos desenvolver e aproveitar o immenso
patrimonio de que somos possuidores, uma vez que a paz nos
fovorece o progress, emquanto que a guerra, - e a história do
conflicto com o Paraguay noi-o confirma exhuberantemente, -
sacrificará o presente com empecimento do futuro, retrardando
assim a evolução nacional (PLANO GUERRA, 1938, p.6-7).

Seguindo a linha de raciocínio de Mccann (2009), a política internacional


adotada pelo Brasil é historicamente de paz. A despeito do Plano de Guerra (1938,
p.7) citar pensamento análogo ao mencionado escritor, o documento em questão
aponta a necessidade de reestruturação da Força Terrestre devido aos seguintes
itens: um agravamento na corrida armamentista no continente; desenfreado
pensamento mundial no que concerne à conquista territorial; a existência de território
brasileiro de grande proporções, pouco povoado, mal defendido e possuidor de
riquezas cobiçadas por nações fortes; a contradição praticada pelas chancelarias sul

51
O biênio de 1934-1935 , à frente do Ministério da Guerra, Góis Monteiro, com vistas à reorganização do Exército, direcionou
a elaboração do Regulamento do EME, da Lei de Reorganização Geral do Ministério da Guerra, da Lei de Reorganização
Geral do Exército, da Lei do Serviço Militar, da Lei de Regulamentação do Movimento de Quadros do Exército em Tempos de
Paz, e da Lei do Estado de Sítio e Agressão Estrangeira. Essas ações deram início a mudanças significativas no Exército. A
força terrestre deixou de funcionar apenas como uma instituição burocrática e começou a ganhar o perfil de uma verdadeira
instituição militar (MCCANN, 2009).

52
Argentina coligada a Uruguai, Paraguai e Bolívia. (PLANO GUERRA, 1938, p.10)

53
A partir da década de 1930, um novo tipo de metralhadora foi introduzido nos principais exércitos do mundo: a
submetralhadora. O Exército alemão criou as revolucionárias MP- 40 Schmeisser e o dos EUA a Colt Thompson M1. (fonte:
http://armasperfeitas.blogspot.com.br/2009/11/uma-breve-historia-sobre-as.html. Acessado em 19/9/2017).

54
O Alto Comando do Exército (ACE) do Brasil é formado pelo Comandante do Exército e pelos generais-de-exército (generais
de 4 estrelas) que se encontram em serviço ativo. Na época em estudo, cabe lembrar que o posto mais alto era general -de-
divisão. Nota do autor.
48

americanas (incentivo à aproximação entre as nações) e intensificação das compras


militares de vulto, em especial do Chile e da Argentina (PLANO GUERRA, 1938, p.7-
8).

O ponto importante a examinar é a análise feita no Plano de Guerra (1938)


sobre o crescimento militar argentino. Tal objetivo, segundo o documento, foi traçado
em 1923. É mencionado que a citada nação contava, na época, com recursos
financeiro expressivos para aumentar o poderio militar interno. Acrescenta, ainda,
que a política de cordialidade ostensiva para com o Brasil não a tolhe na reunião de
meios para a execução de sua política militar, o que lhe deu posição prepoderante
no continente. Além disso, menciona que o poderio econômico argentino atrai para
sua área de influência o Paraguai e o Uruguai. Tal aspecto cogita uma possível
coligação militar destes três países contra o Brasil (PLANO GUERRA, 1938, p.10).

Dessa forma, o Plano de Guerra (1938, p.11) cita que tal situação de
inferioridade militar do Brasil em relação a Argentina impossibilita a nação brasileira
de impedir de início uma campanha militar daquele país na região sul de seu
território. Com isso, é citado no referido documento:

“Convictos de que os nossos interesses continuam a encontrar


melhor salvaguardar num regimen de paz continental, não
queremos preparar o Paiz para promover uma guerra de aggressão,
comtudo podemos com os meios necessarios e organisar a Nação
para manter intragivel o territorio Nacional. É a politica a que
corresponde este estudo, coherente com a do passado, de
defensiva diplomatica e militar, mas promptos a orientar as
operações, em caso de guerra, de forma que seja impedido o
aggressor de tomar pé no território Nacional” (PLANO GUERRA,
1938, p.11).

2.2 Bases em que se assenta a nova organização

As bases para uma nova organização militar foram retiradas, entre outros, do
Livro do General Francês Altmayer55, do qual menciona:
“para nós, militares, a ideia não tem valôr senão quando associada
á vida e á acção ella só tem interesse em sua applicação. Vivemos
n’ uma disposição de esperito ea não nos deixar guiar senão pelos
factos. Iniciamos nossos trabalhos em uma submissão constante do
indivíduo ao objecto. Isto é, de nossas concepções ao facto material
e moral cuidadosamente controlado em um trabalho commum de
nossas razão e de nossa imaginação. Não nos preparamos para
uma guerra abstracta; preparamos-nos, especialmente, para uma
guerra”(PLANO GUERRA, 1938, p.12).

55
Citado na página 51.
49

Assim, da mesma forma que mencionado por Mcann (2009), o Plano de


Guerra (1938) elenca como o mais provável inimigo a Argentina, o Paraguai e o
Uruguai coligados. Assim, o documento assinado pelo Gen Góis Monteiro cita que o
bom senso aconselhava a nação brasileria que se preparasse para uma guerra
contra aqueles países.

O Plano de Guerra (1938, p.13) aponta que, para uma preparação adequada,
o Brasil necessitava, antes de mais nada, procurar conhecer as possibilidades reais
do mais provável inimigo, as suas tendências gerais, os fundamentos das suas
possíveis cogitações de ordem estratégica e os seus processos táticos.

Dessa feita, é mencionado:

“Não se poderia, com effeito, comparar completamente as


operações de Exércitos que operam em condições moraes e
materiaes differentes um agindo em grandes massas e o outro com
effectivos restrictos; um mobilizando toda a Nação e o outro
constituido por soldados profissionaes; um operando em uma paiz
de comumunicações faceis e o outro agindo em uma região pouco
provida de vias ferreas e de estradas; um possuindo um material
abundantee o outro só dispondo de engenhos restrictos em numero
e qualidade” (ALTMAYER, 1937).

Com base em estudos e relatórios56, o EME, sob a direção de Góis Monteiro,


começou, em 1937, a estabelecer medidas para enfrentar provável inimigo. Para
tanto, foi abandonado o método da intenções (estipulado pelos alemães e advindos
especialmente dos jovens turcos ao tempo de Moltke57), para adotar o “método das
possibilidades”, preconizado pelo Gen Altmayer.

Diante do apresentado, o Gen Góis Monteiro cita, no Plano de Guerra (1938),


o seu pensamento sobre a necessidade do estudo a ser realizado sobre o possível
inimigo :

“Estamos em uma disposição de espirito a não nos deixar guiar


senão pelos factos; pedimos á informação a certeza, antes da
precisão. Não se trata aqui de advinhar, de adquirir uma convicção,
de determinar dentre todas as operações que o inimigo póde fazer
aquelle que elle fará; de discernir, em uma palavra, “as suas
intenções”. Empenhamo-nos, sómente, na falta de poder fazer
melhor, a eliminar, a grupar todas as manobras que o inimigo póde
executar, isto é, todas as suas possibilidades, em um pequeno

56
Relatório dos Trabalhos do EME, durante o ano de 1937.

57
Moltke apontava que a estratégia militar tem de ser gerada por um sistema de opções, iniciando pelos planejamentos siples
dos escalões menores que irão participar de um conflito bélico. Diante disto, a principal tarefa das lideranças militares era a
exaustiva preparação de todas as possíveis conseqüências. Sua tese foi simplificada em duas frases: "Nenhum plano de
batalha sobrevive ao contato com o inimigo" e "Guerra é uma questão de conveniência".Disponìvel em
https://www.britannica.com/biography/Helmuth-von-Moltke. Acessado em 03/03/2017
50

numero de hypotheses amplas e nitidamente distinctas. A escolha


assim não poderá ser duvidosa para quem cede o passo aos factos
sobre as eventualidades; á certeza sobre a probabilidade á razão
sobre a imaginação” (PLANO GUERRA, 1938, p.14).

Cabe aqui uma crítica ao Plano de Guerra (1938). Há, de fato, um


personalismo em diversos itens do documento, que, em última análise, deveria ser
expressar a diretriz do Estado Brasileiro e não de um só indivíduo. As ideias e
concepções de defesa são expostos pela visão pessoal de Góis Monteiro e não da
instituição Estado-Maior do Exército. São citados de forma clara as memórias do
Chefe do EME como fator único para a tomada das medidas necessárias para ser
enfrentar um País ou coligação de nações no subcontinente sul-americano (PLANO
DE GUERRA,1938, p.29-34).
Segundo Trachtenberg ( 2006 p.17), o qual cita “Os fatos nunca apenas falam
58
por si .” Na verdade, aquele ainda acrescenta que os documentos de pesquisas, não oferecem
respostas ao historiador, mas dá-lhe pistas claras para formular questões ajustadas no seu processo
de investigação, e guia-o, naturalmente, na busca de fontes adequadas à obtenção dessas respostas.

Assim, o Plano de Guerra (1938) nunca estará livre da subjetividade. Há


vários itens que podem ser contestados por não refletir na sua plenitude o contorno
histório, político e econômico da época. Além, disso cabe destacar que o referido
documento reproduz o pensamento militar de um soldado com formação e vida na
caserna cacarcterizada pelo autoritarismo.

2.3 O inimigo

O Plano de Guerra apresenta uma análise pessoal do Gen Góis Monteiro


sobre as possibilidades e estratégia de um possível inimigo do Brasil no contexto
sul-americano. Desta forma, menciona as palavras do citado general:
“O Adversario provavel é a Republica Argentina, só ou alliada ao Uruguay ou
ao Paraguay, ou a ambos, e ainda a outras potencias (Bolivia,
etc.)”.Considerando que a Republica Argentina, mesmo isolada, possue

58
Hanson, Percepção e Discovery , pp. 220, 237. Ver também as cotações em Hanson, Patterns of Discovery, pp. 183-84

Disponìvel em https://www.britannica.com/biography/Helmuth-von-Moltke. Acessado em 03/03/2017


51

forças militarespara a guerra incomparavelmente superiores ás de qualquer


dos seus possiveis alliados, é o poder militar d’ella e a fórma pela qual se
quer enfrentai-o que indicarão as nossas necessidades em forças terrestres,
navaes e aéreas. De faes necessidae decorrerrá a constituição do nosso
primeiro escalão de mobilização no concernente ás forças terrestres:numero
de G.U59. do tempo de paz”. (PLANO GUERRA, 1938, p.15).

Dessa forma, Góis Monteiro cita no Plano de Guerra a composição mínima do


Exército Argentino, divindindo-o em três itens: da passagem do exército de paz para
guerra composta de 06 (seis) divisões de Exército, 05 (cinco) Divisões de Cavalaria,
02 (dois) destacamentos de montanha, elementos de artilharia de Exército, e
elementos de Engenharia e unidades de carro de combate; a reserva do Exército
permanente com 02 (duas) Divisões de Exército, 02(duas) Divisões de Cavalaria e
02 (dois) destacamentos de montanha; os reservista da guarda Nacional com 02
(duas) divisões de Exército, 02 (duas) Divisões de Cavalaria e 01 (um)
destacamento de montanha (PLANO GUERRA, 1938, p.15).

Ainda nesse contexto, segundo os estudos do EME daquela época, há


possibilidade da República Argentina ter uma coligação com o Exército do Uruguai,
Paraguai e Bolívia. Tal aspecto configurava-se na pior hipótese de conflito para o
Brasil, pois os inimigos teriam condições de ter 20 Divisões de Infantaria e 08
Divisões de Cavalaria (PLANO GUERRA, 1938, p.16-17).

No que diz respeito à análise do inimigo com relação ao poder aéreo, o Plano
de Guerra (1938) menciona que as forças do Exército Argentino, em tempo de paz,
constituiam uma Divisão, estando ainda naquela época em condições de organizar
uma segunda, cujo o material advindo dos Estados Unidos da América do Norte, em
parte, já estava em solo argentino. Dessa forma, é relatado que, em caso de guerra,
a Argentina teria as 02 (duas) divisões com uma composição provável de 03 (três)
regimentos, a 02 (dois) grupos de 02(duas) Esquadrilhas de 10(dez) aviões (PLANO
GUERRA, 1938, p.18).

Ainda com relação ao poder aéreo, o Gen Góis Monteiro tece os seguintes
comentários:
“ o seu poder aéreo poderá corresponder, assim, a cerca de 240
aviões, dos quaes 80 bombardeiro, 80 de informações e
observação e 80 de caça. Elle poderá ainda ser reforçado, na
proporção de um terço, com aviões das escolas de aviação civil e
das companhias de transporte aéreos ( para as missões de ligação

59
Na época era organizações militares de elevado poder numérico de combate, podendo ser de Exército( predominatemente
de elementos de infantaria) ou de Cavalaria. A primeira de composição tenária de batalhoes e a outra sendo quartenária de
regimentos de cavalaria. (Nota do Autor).
52

e transporte. A aviação argentina póde ser ainda reforçada


consideravelmente, uma vez que se affectuem as allianças
previstas. A aviação de bombardeiro, no caso de guerra contra o
Brasil, dadas as suas características e a doutrina de guerra aérea
seguida pelo exercito argentino, poderá ser empregada contra os
nossos grndes centros de recursos, bases de aviação e
ferrovias.Então, assim, sob a possibilidade de ataques aéreos: o
territorio dos Estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catharina, do
Paraná e as regioes Sul de Mato Grosso e São Paulo, inclusive a
Capital deste; todo o percurso das vias ferreas São Paulo - Rio
Grande e São Paulo – Matto Grosso”. (PLANO GUERRA, 1938,
p.18).

No que concerne a uma análise das possibilidades dos meios de fabricação


da Argentina para uma eventual guerra, o Plano de Guerra (1938) cita que o parque
industrial daquele país vinha se desenvolvendo no transcorrer dos últimos anos,
mediante ação tenaz e inteligente do seu povo e governo. Dessa forma, coloca de
forma clara que estavam capazes de produzir tipos de materiais bélicos importantes,
como munição de qualquer espécie e aviões e, ainda, iriam conseguir em pouco
tempo a capacidade de fabricar canhões, pólvora e explosivos em quantidade
suficientes para as suas necessidades durante uma campanha contra o Brasil
(PLANO GUERRA, 1938, p.18).

O Gen Góis Monteiro utilizou o artigo do Gen Francês Paul Azan60 para
embasar suas ideias sobre as capacidades de combate da Argentina. O documento
exprime a seguinte análise:
“O Exercito Argentino é a imagem da Nação Argentina: elle se
fórma, elle se desenvolve, elle está em pleno crescimeto; para
encontrar sua orientação, elle observe os exercicios extrangeiros e
colhe ensinamentos onde quer que estima encontrai-os. Emquanto
que os velhos exercitos europeus experimentam grandes
difficuldades em modificae sua organização,sua instrucção, seu
material, suas installações, seu systema defensivo, em funcção das
necessidades actuaes da guerra, o jovem exercito argentino póde
assimilar as formulas novas adptando-as com intelligencia e
flexibilidade ás suas condições particulares; elle póde tambem
evitar experiencias custosas e inuteis[...] Por toda a parte, vi reinar o
treinamento, quer se trate das divisões de Buenos Ayres ou de
Cordoba, da Escola de Aviação ou da fabrica de aviões, do
agrupameto de montanha de Mendoza, especialmente na
Cordilheira do Andes” (PLANO GUERRA, 1938, p.23-24).

Dessa forma, pode-se concluir que o Gen Góis Monteiro possuía a seguinte
visão do Exército Argentino: uma tropa com capacidade bélica capaz de ganhar
uma possível guerra contra o Brasil, em especial se tivesse o apoio bélico do

60
No final da década de 1920, após uma tarefa de ensino no Centro des hautes études militaires em Paris, Azan foi
comandante interino da 1ª Brigada de Infantaria em Túnis e ordenou a supressão de uma série de tumultos anti-coloniais.
Promovido a general de brigada em 1928, o general Azan foi nomeado chefe do "Serviço histórico da
armadura". Como generalista, ele era chefe das forças militares na Tunísia francesa de 1933 a 1936. Publicou o artigo
“L’Armée Argentine” na revista France Militaire,em 22 novembro de 1937.
53

Uruguai, Paraguai e Bolívia. Há ainda a caracterização da mudança de pensamento


militar do alemão para o francês, como fator fundamental por parte do Exército
Brasileiro para superar possível ataque daqueles países sul-americanos citados
acima.

2.4 As nossas necessidades em função das possibilidades do inimigo

O Gen Góis Monteiro menciona no Plano de Guerra (1938, p.29) as


necessidades das forças de combate brasileria para enfrentar uma guerra contra a
Argentina.
“Para enfrentar com exito o poder militar argentino e compensar as
dificuldades de nossa mobilização e concentração, decorrentes as
primeiras das imperfeições do nosso serviço de recrutamento e das
condições desfavoraveis da distribuição da população pelo nosso
vastissimo territorio, e as segundas, da escassez do nosso systema
ferroviario( que não chega a formar uma rêde propriamente vital),
do seu pequeno rendimento e de seus traçados não se haverem
inspirado em fins estrategicos- teremos que: possuir em paz um
exercito bem mais forte que o argentino e manter as tropas de
cobertura com effectivos aproximados dos de guerra; ter o maximo
de forças localizadas na região sul do Paiz e proximo aos provaveis
theatros de operações.” (PLANO GUERRA, 1938, p.29-30).

Além disso, o Plano de Guerra (1938) apresentou estudo para manter a


intangibilidade do território nacional, no teatro de operações do Rio Grande do Sul,
mencionando a necessidade de formar uma força de cobertura ao Sul de Ibicuhy 61,
com até 02(duas) Divisões de Cavalaria e 01(uma) Divisão de Infantaria ao Norte
Ibicuhy.

Dessa forma, é apresentada, na visão do Chefe do EME, a composição


necessária para fazer face às capacidades da Argentina:
“A) Forças terrestres
1) Grandes Unidades
- 13 ( treze) Divisões de Infantaria
- 05 (cinco) Divisões de cavalaria
2) Elementos de Exército( para 3 Exercitos e 2 Destacamentos de
Exercito)
- Art de Exército: - 06 a 9 Reg de 75, - 06 Reg de 155 C, - 06
Reg 105 L.

61
O rio Ibicuhy é um rio brasileiro localizado no estado do Rio Grande do Sul.É um afluente do rio Uruguai, que
dali vai à Bacia Platina e, daí, por sequência, ao Oceano Atlântico, no Oeste do Rio Grande do Sul. (Disponível
em :https://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Ibicu%C3%AD Acessado em: 28/09/2017.).
54

- Engenharia de Exercito,: - 10 Btls rodoviários,- 5 Btls


ferroviarios,- 5 Btls Sap.-ponteiros,- 3 Btls pontaneiros,-5 Btls de
transmissão.
- Carros de Combate: - 3 Btls, e formação de serviços
motorizados.
3) Destacamento de Cobertura
Fronteira Oéste de Santa Catharina:
- 1 R.C.D
- 1G.B.C
- 1 G.A.Do
- 1 Cia Sap-Pont
- 1 Cia de transmissão
- Elementos de serviços
Fronteira Oéste do Paraná
- composição identica.
4) Elementos para a defesa da costa
- Artilharia de Costa:
- 6 G.A.C( já existentes)
- 8 B.I.A.C(idem)
- I Grupo ou Bia A.C (a crear) para a defesa da Barra do Rio
Grande.
- Defesa terretre movel:
-3G.B.C(T.Q.T), entregue, segundo as necessidades do momento,
a determinadoscommandos territoriais de Região Militar
5) Elementos para a D.C.A
Artilharia Anti- Aérea fixa:
- Grupos de 105, destinados aos G.A.C
- Bias de 105, destinadas ás Bias A.C( Total= 8 Bias.)
Artilharia Anti-Aérea movel:
- Unidades de 75 em numero sufficiente para fornecer;
- o minimo de 6 grupos a cada Exercito
- e de 2 grupos a cada Dest. Ex. ( 22 grupos no total)
- o minimo de I grupo por zona de desdobramento de unidades
aéreas( 6 grupos).
B) Forças Aéreas
Uma Divisão Aérea(autonoma), comprehendendo
I - Bda de caça.
I - Bda de bombardeio.
I - Regiemto de Reconhecimento.
Elementos não divisionarios:
- 1 Reg. de Reconhecimento
- 2 Reg. de Observação
- 1 Grupo Independente de Observação
- 7 Corpos de Bases Aéreas” (PLANO DE GUERRA, 1938,
P.31-34).

Cabe salientar que o Gen Góis Monteiro afirma que o Exército tem como
função em tempo de paz a preparação para as guerras possíveis. Dessa feita, o
Plano de Guerra (1938) de uma nação deve responder a duas questões primordiais:
quais são as forças e meios que devem existir em tempo de guerra? e qual tipo de
emprego militar elas podem realizar inicialmente? Assim, segundo o General, em
última análise, trata-se de reunir, em certo lapso de tempo, uma quantidade
necessária de soldados e materiais para enfrentar possível inimigo. Contudo, o
mesmo militar afirma que a quantidade de homens combatentes não pode figurar
todos sob a tutela do Exército em tempo de paz, como também não há possibilidade
da Força Terrestre possuir material necessário de forma permanente para o esforço
55

de guerra. Há, assim, necessidade imperiosa de ordem política, social e econômica


que limitam o número de homens e a quantidade de material de que pode dispor o
Exército de tempo de paz (MONTEIRO, 1934).
Continuando na mesma linha de pensamento do Gen Góis Monteiro é
novamente citado no Plano Guerra (1938):
“Mas o Exercito do tempo de paz tem por função essencial crear, no
momento e nos prasos desejados, o Exercito do tempo de Guerra.
D’ahi se conclue que o Exercito do tempo de paz é função do
Exercito do tempo de Guerra que se deseja crear, sendo este ultimo
condicionado pelo Plano de Guerra[..] É assim que o Exercito do
tempo de paz deve: - dar nascimento ao Exercito
mobilizado(Exercito do tempo de Guerra);- assegurar a cobertura
das operações de mobilização e de concentração; -assegurar a
manutenção da ordem ao interior do Paiz, no decurso das
operações de guerra.[..] – dispôr sob Bandeiras, de um determinado
numero de homens;- dispôr, em qualquer tempo, de uma
quantidade determinada de material(em serviço e em stock); -
achar-se articulado de modo conviente no territorio. Só assim o
Exercito do tempo de paz, no dizer do ilustre chefe M.M.F, póde
constituir um verdadeiro collario do Exercito do tempo de guerra,
collario elle proprio de vontade da nação”(PLANO DE GUERRA,
1938, p.35- 36).

Ao analisar o livro do general françês René Altmayer, verifica-se que a


doutrina é defender cada direção estratégica com uma força para cada três
atacantes (ALTMAYER, 1937). Ou seja, para cada três Divisões de infantaria
atacando deveria ter um Divisão de infantaria defendendo. De forma simplória, nota-
se que ocorreu um esforço de guerra expressivo do Brasil, pois a projeção do EME é
possuir 13 Divisões de Infantaria e 05 de Calavaria contra 20 Divisões de Exército e
08 de Cavalaria. A ideia do EME era, indubitavelmente, ter um forte poder de
dissuasão.

2.5 Relações entre o Exército de paz e o de guerra

O Exército deve ser, na sua essência, a força militar bélica das guerras
possíveis. Além disso, em tempo de paz, as questões do tamanho do Exército passa
pelas necessidades políticas, socias e econômicas do País (PLANO DE GUERRA,
1938, p.35).
Dessa forma, o Plano de Guerra (1938) elenca itens importantes de como
deve ser o Exército em tempo de paz, são eles:
“dar nascimento ao Exercito mobilizado( Exercito do tempo de
guerra); assegurar a cobertura das operações de mobilização e de
concentração; e assegurar a manutenção da ordem no interior do
Paiz, no decurso das operações de guerra”[...] dispôr sob Bandeira,
de um determinado numero de homens; dispôr, em qualquer tempo,
56

de uma quantidade determinada de material ( em serviço e em


stock); achar-se articulado de modo conveniente no territorio
nacional ( PLANO DE GUERRA, 1938, P.36).

As forças terrestres que foram mencionadas do Plano de Guerra (1938)


elaborado pelo EME para formar o poder defensivo do Brasil em tempo de paz são:
02 Divisões de Infantaria e 04 Divisões de Cavalaria no Rio Grande do Sul; 01
divisão de infantaria e 01 divisão de cavalaria em Mato Grosso e região nordeste de
São Paulo e as seguintes áreas com uma Divisão de Infantaria: Santa Catharina,
Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Capital Federal (Rio de janeiro e Espírito Santo,
Nordeste (da Bahia, ao Ceará), e, no Norte, do Piauí ao Acre (PLANO DE GUERRA,
1938, p.38).

Estabelecendo uma comparação entre o Exército de paz e o de Guerra, nota-


se um grande esforço para a consecução do primeiro a fim de poder em curto
espaço de tempo rapidez para ser o segundo de forma eficaz. Ficou evidenciado
também, a preocupação de se ter como centro de gravidade das forças de tempo de
paz a região do Rio grande Sul, implicando em distribuição não homogênia de tropa
nos estados da federação (PLANO DE GUERRA, 1938, p.43). Nota-se que ficou
para o sistema de mobilização, em um eventual esforço de guerra, formar 03
Divisões de Infantaria.

O Plano de Guerra (1938) justifica a distribuição heterogênia das tropas em


tempo de paz no fato do Brasil ter dimensão do território nacional significante,
trazendo dificuldades no ponto de vista de mobilização. Há também a questão das
precariedades do sistema de transporte rodoviário e ferroviario do sentido norte e
nordeste e suldeste do Brasil para as regiões sul e oeste. Tais ligações eram
desprovidos de condições de suportar o deslocamento de grandes cargas e ainda
com poucos pontos de conexões, tornando-se inadequados para um esforço de
Guerra (PLANO DE GUERRA, 1938, p.44).

Outra preocupação do Gen Góis Monteiro no Plano de Guerra (1938) é a


administração das tropas em tempo de Paz. Dessa forma, realiza medidas para
dissiminar nos quartéis à necessidade de se ter uma gestão eficiente nas
organizações militares. Com isso, é promulgado o Decreto nº 3.251, de 9 de
Novembro de 1938, que aprova o novo o Regulamento de Administração do Exército.
Neste está escriturado :
57

“ Art. 3º A administração militar resume-se na previsão e satisfação das


necessidades materiais do Exército com o fim de completar o aparelhamento
indispensável à Segurança Nacional.
§ 1º O vocábulo administração, neste Regulamento, quer dizer gestão
econômico-financeira do patrimônio do Estado na parte que interessa ao
Ministério da Guerra.
§ 2º Patrimônio é o conjunto de todos os bens, valores, direitos e
obrigações apreciáveis pecuniariamente.
§ 3º Administração econômico-financeira é a série de funções exercidas
por qualquer orgão, agente ou pessoa, com o fim de conservar, utilizar e
tornar produtivos determinados bens, valores ou riquezas.
§ 4º A palavra gestão, além da significação geral com que foi empregada
no § 1º, traduz tambem, em sentido especial e restrito, a duração do
desempenho de funções administrativas e abrange todas as operações de
receita e despesa, débito e crédito, entrada e saida, carga e descarga, por
meio das quais se evidencia a situação de cada agente responsável.
§ 5º A ação do administrador é exercida por meio de atos e fatos
administrativos.
§ 6º Os atos administrativos consistem em providências gerais
necessárias à boa marcha da administração e não atingem, materialmente,
o patrimônio. São exemplos de atos administrativos :
a) organização de uma proposta de orçamento;
b) abertura de uma concorrência, pública ou administrativa;
c) tomada de contas de um responsavel;
d) e outros de natureza semelhante.
§ 7º Os fatos administrativos alteram ou atingem materialmente o
patrimônio. São exemplos de fatos administrativos:
a) aquisições ou vendas;
b) recebimentos ou fornecimentos;
c) cargas ou descargas;
d) e outros de natureza semelhante.
§ 8º Os atos e fatos administrativos, coordenados e registados de modo
cronológico e sistemático, constituem o índice geral da gestão econômico-
financeira, evidenciando o bom ou mau estado da administração.”

2.6 Plano quinquenal

Uma parte importante do Plano de Guerra (1938) foi a apresentação de um


plano quinquenal. Nessa parte do documento, são apresentadas as fases para se
conseguir uma força terrestre com condições de enfrentar os desafios de se ter
segurança nacional eficaz e compatível com a dimensão do território brasileiro.
Dessa forma, é citado:
“Necessariamente, pórem, o praso total de cinco annos, deverá ser
repartido em etapas bem definidas no tempo, ou phases,
correspondendo a cada uma dessas phases ou etapas, realizações
parciais concretas no que respeita á montagem progressiva do
instrumento de força que queremos crear. Para as realizações a
emprehender em cada uma das phases, serão, sem duvida,
levados em contas: - em primeiro logar, as necessidades mais
urgentes do ponto de vista da Segurança Nacional; - á seguir, as
possibilidades da Nação do ponto de vista economico-financeiro; - e
os passos necessarios para collocar o Exercito, no que respeito ao
pessoal e installações, em condições de receber e utilizar-se dos
novos postos ao seu alcance.” ( PLANO DE GUERRA, 1938,
p.47).

Como fator de crítica ao plano quinquenal, este nasceu do esforço e diretriz


do Chefe do EME. Não foi concedido pelos orgãos financeiros daquela época em
parceira com a instituição militar.
58

Assim sendo, é mencionado que o Plano quinquenal será apresentado ao


Governo Federal e fixará as seguintes metas :
I-Quanto ao pessoal :aumento de 100% da admissão de candidatos
ao “Corpo de cadetes”, bem como de Cadetes candidatos á arma
de Aeronautica; - funccionamento dos cursos de observação áerea
para officiais de Estado Maior e Artilharia;- funccionamento dos
projectados Centros de Preparação do Pessoal da Reserva Aérea; -
funccionamento dos cursos de motorisação e mechanisação e de
gazes de combate;- intensificação dos cursos technicos e de
especialisação para officiaes; de aperfeiçoamento para officiaes e
sargentos; de praças especialistas; de candidatos a sargentos e
cabos das armas; de operarios militares.
II- Quanto ao material: [...] aquisições e fabricação.
III- Quanto ás instalações: ampliação e renvação dos edicios
existentes e construcção de novos [...]- ampliação do equipamento
dos estabelecimentos fabris do Exercito.[...] –remodelação das
fortificaçõs do littoral e execução da defesa do Porto de Rio Grande.
( PLANO DE GUERRA, 1938, p.52).

O Plano de Guerra (1938) estabece a divisão da ampliação do poder bélico nacional em duas partes. A primeira é a
constituição de todos os orgãos do Exército segundo a futura implantação da lei de organização dos quadros e efetivos
estabelecido pelo EME. Tal fato tornou-se realidade com o decreto-lei nº 556, de 12 de julho de 193862. O outro item é a
realização das aquisições materiais destinadas à formação das Grande Unidades da Reserva. Na verdade, outras leis na área
de ensino, pessoal, financeira e de material, que serão apresentadas no próximo capítulo, darão base para a construção de um
Exército capaz de defender seu território nacional da Argentina.

Segundo Pavanelli (2013), as propostas de aquisições de material bélico pelo


Exército foi consequência, entre outros itens, do crescimento militar da Argentina, o
qual poderia resultar em uma convulsão bélica na América do Sul. O receio de um
conflito bélico também era mencionado por geopolíticos da época, entre eles:
Everardo Backheuser e Mário Travassos.
Nas décadas 1920 e de 1930, surgem no Brasil os estudos do professor
Everardo Backheuser (1879-1951), considerado o precursor do estudo geopolítico
no país com critério científico, que seguiu os ensinamentos do alemão Friedrich
Ratzel63 e do sueco Rudolf Kjellén64 (FEREZIN, 2012, p.63).

62
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-556-12-julho-1938-349741-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acessado em: 03/04/2017.

63
“Ratzel foi um profundo estudioso do conceito e comportamento do Estado moderno. Para ele, o Estado seria
a sociedade organizada para construir, defender ou expandir o seu território. Ele originou o conceito de
Lebensraum, ou "espaço vital", que relaciona os grupos humanos com as unidades espaciais onde se
desenvolvem. Ratzel tenha apontou a propensão de um estado para expandir ou contrair seus limites de acordo
com as capacidades racionais, seus conceitos serviram para outras teorias e intepretações, entre elas a do
politólogo sueco Rudolf Kjellén.”. (Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Friedrich-Ratzel.
Acessado em: 04/04/2017)
64
“Kjellén foi um cientista político e político sueco, cuja teoria conservadora do estado era influente além das
fronteiras da Suécia. Kjellén é mais conhecido pelos trabalhos sistemáticos em que ele tratou estados modernos
como sistemas orgânicos que florescem e depois se deterioram. Ele cunhou os termos geopolitik ("geopolítica"),
os problemas e condições dentro de um Estado que decorrem de suas características geográficas; oecopolitik,
os fatores econômicos que afetam o poder do Estado; e demopolitik, os elementos raciais da nação e os
59

Neste contexto, Backheuser (1948,p.177-178) define a função das fronteiras


da seguinte forma:
“As funções da fronteira decorrem de suas mesmas finalidades
fundamentais: distinguir,proteger,separar e unir[...]Para efetivar
eficientemente a função de proteger,os governos instalam nas
fronteiras estabelecimentos militares(quarteis e fortalezas) e
estabelecimentos civis(alfandegas,postos de política e sanitários),
ou seja, dão-lhe todo o aparelhamento para a zelosa atividade de
impedir tôda sorte de entradas julgadas nocivas à Nação: soldados
estrangeiros em atitude de agressão [...]”.

Everardo Backheuser considerava, dentre outros itens, que as fronteiras


refletiam o poder de um Estado e deveriam ser protegidas para a integridade física
do país. Para ele, deveriam ser ocupadas por assentamentos humanos “cheios de
vitalidade” e subordinadas ao governo central. Assim, deixar as áreas de fronteira
para a administração de políticos locais era temerário, já que os locais “não
expressam nenhuma sensibilidade em relação aos problemas nacionais”
(BACKHEUSER, 1926, p. 32).
Ainda nessa linha de pensamento, Backheuser (1948, p.160-162) fez estudos
significativos, em especial no que tange a um Estado com bom índice de vitalidade
em uma determina fronteira em relação a outro limítrofe que a deixou perecer ou não
teve capacidade de torná-la dinâmica. Dessa feita, alerta:
“Haverá possibilidade de invasão[ ...] que pode ser pacífica ( de boa
ou má fé), ou militar, adrede preparada. A possibilidade de êxito no
deslocamento da fronteira será tanto maior quanto mais sensível for
o desnível de vitalidade intrínsica entre os dois Estados
confrontantes”.

Backheuser (1948, p.252) ao realizar uma análise histórica e conclusões da


situação fronteiriça do Brasil, destacou:
“Com as Guianas[...] Sem que haja indícios atuais de qualquer espécie de
agressão, conviria não dormirmos despreocupados, porque as potências
famintas de terras armam de um momento para outro “casos”nem sempre
fáceis de resolver. Há ainda a temer a hipótese de uma venda ou cessão a
alguma terceira potência, também ambiciosa e capaz de não respeitar os
direitos de países mais fracos. Tôda a atenção portanto deve ser dada às
nossas fronteiras nessa região.
A fronteira entre Acre e Perú, bem como entre Acre e Bolívia, possui
sensível vitalidade[...] Aquéles nossos vizinhos, seguramente por efeito de
longa e tendenciosapropaganda monstra-se receiosos de uma
agressividade imperialista do Brasil, muito decantada por lá, por isso mesmo
sua pressão sôbre a nossa fronteira evidencia “ um estado de alertamento.
A vivificação da fronteira brasil- uruguai existe em ambos os lados.

problemas que eles criam”. (Disponível em:https://www.britannica.com/biography/Rudolf-Kjellen. Acessado em:


04/04/2017)
60

A fronteira com o Paraguai, a partir de Baía Negra e Forte


Coimbra[...] a vitalidade da orla é pequena do nosso lado e com
pouco mais de atividae política no flanco paraguaio, do que a nítida
infiltração linguística, sendo alí corrente o castellhano e do guarani.
Ao chegar a linha fronteiriça ao rio Paraná é por êste rio que se faz
a separação entre o nosso e aquelê país.Há por todo o trajeto
desse rio, entre Pôrto Guairá( Sete Quedas) e a foz do Iguaçú(
Quedas do Iguaçú) exploração de ervais [...] para mercado
consumidor, que é principalemte a República Argentina.Tôda essa
região [...] influência argentina.
Da confluência do Iguaçu em diante, a fronteira é com a República
Argentina. Aí o contraste é flagrante desfavorável ao Brasil.[...] A
influência argentina como antecipamos acima, atinge mais longe.
Vai até o Alto Paraná Brasileiro. [...] Tôdas essas condições
antropogeográficas e mais as circunstância de existir acolá poerosa
fonte de energia hidráulica (salto do Iguaçú) confrontante com os
três países( Brasil, Argentina e Paraguai) torna êsse trecho da
fronteira dos mais necessários de sagaz vivificação por nossa
parte”.

Com relação as intenções militares da proteção das fronteiras contante no


Plano de Guerra(1938), pode-se mencionar:
“Os dois Destacamentos da fronteira Oéste de Santa Catharina e do
Paraná, deverão existir, desde o tempo de paz, disfarçados, porém,
no quadro das D.I estacionados nos referidos Estados [...]Para a
vigilancia e cooperação na nacionalização das regiões fronteiriças,
tornar-se ainda necessaria a existencia de, pelo menos, 5 batalhões
de fronteira, convenientemente distribuidos pelos locaes que, pela
sua situação geoprafhica, estão a exigir a sua benefica acção
catalytica.” PLANO DE GUERRA, 1938, p.39-40).

Nota-se, aqui, semelhança nas preocupações de Backheuser com o Plano de


Guerra (1938) do General Góis Monteiro. A preocupação com a segurança das
fronteiras Sul, em especial os corredores de mobilidade que penetram até o centro
do Rio Grande do Sul. Com isso, a criação de organizações militares ajudaria na
vivificação na fronteira, tendo em vista a presença de militares e de suas famílias e
o devido deslocamento de atividades comercias para atender os fluxos
polulacionais.
Outra semelhança é quando se compara as ideias de Backheuser (1948,
p.160-162) e o idealizado no Atlas Histórico (1941, p.18). Com relação às regiões
Norte e Centro Oeste, as ideias geopolíticas de Backheuser (ocupação e
desenvolvimento) convergem com as ideais de preservação da unidade territorial por
parte de Góis Monteiro. Dessa forma, ocorreram, sob direção do EME, a
implantação e a transformação de guarnições de fronteira em Tabatinga, Porto
Velho, Guajará Mirim e Porto Murtinho (ATLAS ESTADO NOVO, 1941, p.18).
61

Do exposto, pode-se acrescentar as seguintes organizações militares criadas


ou transformadas na área no Norte - Oeste65 do Brasil:
“Em 1937, foi criada a 3ª Companhia/2º Batalhão de Fronteira em
Porto Velho e, nesta mesma data, os Contingentes de Guajará-
Mirim, Forte Príncipe da Beira e Porto Velho foram transformados
em pelotões subordinados à Companhia. O 2º B Fron foi criado
em 24 de maio de 1939, a partir da aglutinação da 2ª Companhia de
Fronteira (2ª Cia Fron), sediada em Cáceres desde 1932, com a 4ª
Companhia de Fronteira (4ª Cia Fron, em Cáceres desde 1937). Em
1940, a 3ª Companhia/2º Batalhão de Fronteira passou a ser
denominada 3ª Companhia Independente de Fronteira”.

Outra semelhança está na responsabilidade da defesa das fronteiras do


Brasil. O Plano de Guerra(1938) afirma que a responsabilidade da Defesa do país
está nas mãos do EME. De maneira análoga, Backheuser (1948, p.265) menciona:
“É indiscutivelmente da alçada do Estado Maior do Exército, e não aberrantamente
de possíveis Estados Maiores das polícias Estaduais o encargo de planejar e
superintender a Defesa Nacional”.
Utilizando conceitos da geopolítica tanto de Ratzel66 quanto de Mackinder67, o
capitão do Exército brasileiro Mário Travassos escreve a obra intitulada Projeção
Continental do Brasil, com a finalidade de apresentar estudos não apenas para
questões mais urgentes que o Estado Brasileiro deveria compreender, mas, além
disso, procurar superá-las por meio de um projeto de defesa nacional
(TRAVASSOS, 1938). A obra do capitão é acatada quase imediatamente nos meios
militares brasileiros (SCENNA, 1976, BARROS, 1938).
Magnoli (1986) cita que Travassos propõe que o coração sulamericano
encontrava-se no território boliviano: o triângulo econômico Cochabamba – Santa
Cruz de la Sierra – Sucre, sendo fundamental a defesa das vias de acesso a este
em território nacional.

65
Dados retirados do site da 17 Brigada de Infantaria de Selva, a qual relata a historicamente a presença do Exército nesta
parte da Amazônia Ocidental com as devidas mudaças e transformações das unidades militares. (Disponível
em:http://www.17bdainfsl.eb.mil.br/index.php?option=com_content&view=article&id=97&Itemid=315 Acessado em :
04/04/2017)
66
Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um pensador alemão, considerado como um dos principais teóricos clássicos da Geografia
e o precursor da Geopolítica, este influenciado em seus estudos pelos fatores espaço (“raum” área ocupada por um Estado) e
posição (“lage” situação geográfica), origem do termo “lebensraum” (espaço vital), estabeleceu duas premissas: “o Estado é
um organismo vivo” e “espaço é poder”. Essas premissas serviram de base para a elaboração dos primeiros princípios e leis
da Geopolítica, mas não para conceituá-la. Uraci Castro Bonfim ,Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do exército
ensino a distância CPEAEx / EAD,2005, p.16.
67
Sir Halford John Mackinder foi um geógrafo e geopolítico inglês. Em 1904, publicou o paper The Geographical Pivot of
History, onde formulou a Teoria do Heartland, que influenciaria a política externa das potências mundiais desde então. Uraci
Castro Bonfim ,Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do exército ensino a distância CPEAEx / EAD,2005, p.59.
62

Travassos (1938) sintetiza a preocupação dos generais brasileiros ao apontar


a dianteira da Argentina na corrida armamentista na América do Sul, através da
projeção ferroviária que atraía para o Prata a economia do heartland sul-americano.
Afirmava que caberia ao Estado Brasileiro neutralizar tal intenção, criando formas de
atração da economia boliviana. Dessa feita, sinalizou como objetivo importante a ser
atingindo a construção de uma estrada de ferro ligando Santa Cruz a Corumbá, que
seria a base de articulação da economia boliviana ao eixo portuário Santos – Rio
Grande. Assim, faz o seguinte comentário:
“[...] a situação da Bolívia é hoje das mais delicadas [...]. Trabalhada pelas
bacias amazônica e platina oscila, instável, entre a Argentina e o Brasil.
Como a verdadeira amputada da Guerra do Pacífico e ante a indiferença
brasileira, teve de sujeitar-se, sem direito de escolha, à influência argentina”.
(TRAVASSOS, 1938: 82-83)

Em acordo com as observações mencionadas anteriormente, é citado:


“Com efeito, esse aspecto geopolítico confere à Argentina papel
preeminente na balança de poder regional sul-americana. Não
havia dúvidas, reconhecido pelo próprio Travassos, que o Estado
argentino havia adiantado sua construção de poder nacional bem
antes dos demais vizinhos. A saber, boa rede ferroviária, estradas
de rodagem, expressiva Armada, economia de alta produção de
riquezas, avanço considerável na educação etc.” (HAGE, 2013,
p.08)

A 26 de janeiro de 1935, a inspetoria militar da fronteira Madeira-Guaporé68,


por intermédio do capitão inspetor Aluízio Pinheiro Ferreira 69, presta informações ao
comando da 8ª Região Militar70 sobre a situação do conflito no Chaco71. A ofensiva
das forças militares do Paraguai pelo território em disputa colocava, para os
interesses estratégicos brasileiros, um perigo imediato: a real possibilidade do
avanço das tropas do Exército da citada nação até o centro do continente, no
território boliviano. (ARQUIVO GÓES MONTEIRO, 1935. Arquivo Nacional. Rio de
Janeiro Cx. 51(7) Pac.)

68
Região de Madeira-Guaporé é uma das duas mesorregiões do estado de Rondônia. Foi a primeira região a ser habitada no
estado de Rondônia por conta da construção do Forte Príncipe da Beira em 1776 no vale do Rio Guaporé. Foi nessa região
também onde foi construída a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que impulsionou a fundação de Guajará-Mirim e Porto
Velho e, por conta disso, são estas as únicas microrregiões em que está dividida a mesorregião.Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv2269_2.pdf,Acessado em 03/04/2017.
69
Militar, em 1931, assumiu a direção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, tendo sido promovido a major em março de 1940.
Três anos depois, foi escolhido para ser o primeiro governador do recém-criado território federal de Guaporé, hoje Rondônia.
Deixou a estrada de ferro, assumindo o governo em novembro de 1943. (Disponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/aluisio-pinheiro-ferreira. Acessado em : 04/03/2017.
70
A área que abrangia a 8ª RM Disponível em : https://ia601909.us.archive.org/15/items/minguerra1939/minguerra1939.pdf
Página 48. Acessado em 03/04/2017.
71
Compreendia na época a região norte do país. (Disponível em : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73291998000100008.Acessado em: 03/04/2017.
63

Diante disso, ocorreu o relato das preocupações de Mário Travassos com a


projeção ferroviária argentina em direção ao Oriente boliviano. A articulação
financeira do norte argentino com essa região poderia representar o controle do
coração continental pelo Estado Platino. Acrescenta, ainda, que se torna claro que o
controle militar e jurídico do Paraguai sobre a região petrolífera oriental aceleraria
de forma expressiva o processo lento de então, da influência econômica argentina
na região central do subcontinente. Assim, o capitão Aluízio Ferreira coloca para seu
comando a questão efetivamente central para o interesse brasileiro no conflito:
Como o Brasil olhará o problema político, de futuro, isto é a infiltração paraguaia, na
bacia amazônica, e através dessa infiltração, a influência argentina, mal disfarçada
na Guerra do Chaco? (ARQUIVO GÓES MONTEIRO, 1935, Arquivo Nacional. Rio
de Janeiro Cx. 51(7) Pac).
Semelhantemente ao que foi apresentado pelo Plano de Guerra (1938), Mário
Travassos atualiza, na década de 1930, a posição central da Argentina nas
projeções estratégicas brasileiras, proporcionando fortes argumentos para a
necessidade de fortalecimento do poder do meio militar brasileiro. São dados de
natureza econômica e militar sobre o país vizinho que revelam claramente a
permanência do foco de atenção da inteligência militar do Brasil. O General Castilho
de Lima, Inspetor do 1° Grupo de Regiões Militares, junto ao Conselho Superior de
Guerra72, cita seu pensamento sobre o Exército Argentino:
“[...] seus quadros militares profissionais são competentes, seu
material de guerra é copioso e moderno, seu serviço de
recrutamento é aperfeiçoado, baseado num sistema de alistamento
modelar; suas vias de comunicação, além de numerosas, cortam o
país em todos os sentidos e sua rede ferroviária pode realizar
correntes de transportes militares aptos a atender as concentrações
rápidas nas suas principais zonas fronteiriças; sua indústria [...] já
se salientou brilhantemente, pois possuem uma fábrica de aviões, a
única existente na América do Sul”. (ARQUIVO GÓES MONTEIRO,
1935, Arquivo Nacional. Rio de Janeiro Cx. 51,7 Pac.p. 1)

De fato, a inteligência militar brasileira julgava praticamente inevitável a união


Argentina-Paraguai-Uruguai em caso de confronto armado. Dessa forma, acrescenta
o Interventor General Castilho de Lima: “[...] é a Argentina que nunca pode se
conformar com essa perda de grandeza territorial e política, que, pelo seu progresso,
72
Conselho Superior de Guerra, órgão auxiliar do Governo para assuntos referentes à preparação das operações de guerra,
aparelhamento do Exército e organização da defesa nacional, cujos estudos e solicitações deveriam ser diretamente
analisados pelo Conselho de Segurança Nacional.
64

organização, população, território e ressentimentos da política e de seu povo,


constitui o nosso maior inimigo provável”. (ARQUIVO GÓES MONTEIRO, 1935,
Arquivo Nacional, 1935, Rio de Janeiro Cx. 51,7 Pac. p. 6)
Cabe destacar, que o Plano Guerra (1938) estabelece ordem de defesa, a fim
de deixar claro quais as regiões que deveram ter maior valor defensivo, entre elas: “
“[...] No território do Rio Grande do Sul: - frente ao Sul, desde a
linha do Rio Jaguarão até a do Quarahy; frente a Óeste, de ambas
as margens do rio Ibicuhy[...] impedir que os tres grupamentos
principais provaveis possam operar uma solida juncção na linha
Cacapava- S.Gabriel- Rosario- S. Francisco- Santiago- Santo
Angelo. Nos territórios do Paraná e Santa Catharina: cobrir,
qualquer hypothese os nós de comunicações, notadamente a via
ferrea S. Paulo – Rio Grande[...] No território de Mato Grosso: [...]
estabelecer destacamentos de protecção ao longo da fronteira,
entre inhuverá – Ponta Porã e Bella Vista, afim de cobrir os eixos
que convergem para a região Sul de Campo Grande; criar
destacamento de protecção na margem direita do rio
Paraná[...]”.(PLANO DE GUERRA, 1938, p.28-29).

Conclui- se, de forma parcial, que o principal motivo da formulação do Plano


de Guerra (1938) foi o crescimento da ameaça Argentina. O poder bélico da nação
portenha era superior ao do Brasil. As fronteiras brasilerias eram desguarnecidas
militarmente. Banha (1984, p.94) menciona que, a partir de Góis Monteiro na Chefia
do EME, o Conselho Superior de Segurança Nacional73 teve reuniões para tratar
sobre o Plano de Guerra (1938), relatando a importância do assunto na esfera
governamental.

A insistência desses encontros do Conselho Superior de Segurança Nacional


partiu do EME, sendo seu chefe na época o Gen Góis Monteiro, que criticou as
gestões anteriores da seguinte forma:
“O Conselho Superior de Segurança Nacional,órgão competente
para estudar todas as matérias enfeixadas em tão complexo
assunto, não teve uma só reunião para tratar, exclusivamente, de
estabelecer as linhas mestras que conduzem àquela finalidade”
(BANHA, 1984, p.94).

3. CONTRIBUIÇÕES DO EME
O objetivo do capítulo três é apresentar as principais contribuições da gestão
do General Goís Monteiro na chefia do EME, que modificarão a força terrestre. A
necessidade de reestruturação do Exército foi retratada da seguinte forma:

73
Em 1923, o Marechal Bento Ribeiro definia o Conselho Superior de Defesa como um órgão destinado a:” garantir as
questões da defesa militar do País num programa, elemento fundamental de coordenação, sem o qual periclitama boa ordem,
a conexão mútua, a oportunidade, o progresso e a continuidade de ação”. (EME, 1984, p.94).
65

É preciso preparar um exército, dar-lhe chefes, instruidos, ensinar-lhe uma


doutrina. É preciso preparar os meios de garantir a vida desse exército como
o do país inteiro durante o período de guerra. É preciso preparar essa
diplomaticamente, estabelecer o jôgo das coligações possiveis. Tudo isto
exige uma qualidade de oraganizações diversas, que se não podem
improvisar no derradeiro momento, sob a pressão e o enervamento dos
acontecimentos; é preciso ter estabelecido desde o tempo de paz um plano
de guerra reciocinado. O plano deve basear-se no carater nacional das
guerras modernas, isto é, no fato de que uma Nação em guerra póde ser
chamada a jogar na luta todas as suas fôrças, até completo esgotamento.
.(A DEFESA NACIONAL, NECESSIDADE DE PREPARAÇÃO, 1932, Num
222, p.284)

Dessa forma, serão analisados os seguintes itens: os aspectos financeiros


que possibilitaram colocar o Exército em outro patamar dentro das instituições de
Estado; a necessidade de aumentar o efetivo militar com a consequente dilatação do
poder de combate da força terrestre; as construções de novas organizações
militares para provocar poder dissuasório no entorno estratégico brasileiro; os
aspectos do ensino para proporcionar o fortalecimento da estrutura militar; a
evolução do setor de saúde do Exército; a adequação do setor do fabril para
atender à demanda de um possível conflito bélico; e a estruturação da Remonta no
território nacional.

3.1. Aspectos financeiros

O Plano de Guerra (1938, p.47) faz referência à necessidade de


planejamento financeiro do Estado Brasileiro para potencializar a estrutura de guerra
do país. Ainda nesse documento é mencionado pelo próprio chefe do EME:
“não deverá ser creada nenhuma unidade sem que esteja
construido o seu aquartelamento e se possa provei-o de todo o
materia. As reservas de material, necessarias á passagem do pé de
paz ao de guerra, devem estarno Paiz antesda creação das
unidades a que se destinam. A regra deve ser, por conseguinte, só
crear uma unidade quando para ella houver os recursos
correspondentes”(Plano de Guerra 1938, p.55).

É importante citar que, na parte introdutória do Plano de Guerra (1938, p.1) é


mencionado, que esse documento é de caráter secreto e foi apresentado antes dos
generais ao governo. Assim coube a este último providenciar nos anos que se
seguiram a sua parte para a consecução do Plano Guerra (1938), ou seja os
recursos e as legislações.
66

De acordo, com o mencionado acima, é promulgada a lei nº 1.059, de 19 de


janeiro de 1939, pelo presidente da república. Esta decreta no artigo 3º:
“Fica aberto o crédito especial de 600.000:000$000 (seiscentos mil contos
de réis) para ocorrer, no exercício financeiro de 1939, às despesas com a
execução do "Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa
Nacional", com a seguinte distribuição:
1.Conselho Nacional do Petróleo ..........15.000:000$000
2.Ministério da Guerra .......................... 50.000:000$000
3.Ministério da Marinha ........................ 30.000:000$000
4.Ministério da Viação e Obras Públicas .....105.000:000$000
5.Ministério da Agricultura .................... 30.000:000$000
6.Ministério da Educação e Saude ........30.000:000$000
7.Ministério da Justiça e Negócios Interiores.. 15.000:000$000
8.Ministério da Fazenda ...................... 325.000:000$000
total: 600.000:000$000”

Assim, nota-se um alinhamento de ideias entre o exposto no Plano de Guerra


(1938) e as ações do governo do Estado Novo, que era a preocupação do aumento
do poderio militar da Argentina. Aspectos estes mencionados por Mccann (2009,
p.545) e Travassos (1935).
Cabe destacar a importância desta lei, segundo Draibe:
“Um plano qüinqüenal, criado pelo Decreto-lei nº 1.059, de 19 de
janeiro de 1939, com previsão para gastar aproximadamente 10%
da despesa orçamentária federal, em cinco anos. Este Plano
Especial mirava investimentos em infra-estrutura, indústrias de base
e, principalmente, no reaparelhamento das Forças Armadas”
(DRAIBE, 1985: pp.104-105).

3.2. Aspectos relativos aos efetivos

Com o novo regime político implantado a 10 de novebro de 1930, o Exército


inciou uma era de crescimento da sua estrutura bélica. O ambiente era favorável
para um desenvolvimento eficiente. A força terrestre começou a ter maior
preocupação com suas atividades profissionais, afastando os militares de baixa
patente da política. Na verdade, foi revigorado o prestígio como força nacional. A
progressão do efetivo do Exército ficou patente, pois, de um efetivo de 16 mil
homens em 1865 e de 30 mil em 1920, atingiu em 1940 a marca de 100 mil
combatentes (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.93). O efetivo de combate era divido
entre as Divisões de Infantaria( D.I) , as de Cavalaria( D.C) e a Aérea (D.A).
A situação de efetivo era preocupante até meados de 1937, onde pode-se
citar: “Dispomos de, actualmente, de 5 D.I e 3 D.C cuja organização está não só
prevista, como esboçada. Dizemos esboçada porque n’estas Grandes Unidades são
67

maiores as faltas do que as disponibilidades em material de toda a especie” (PLANO


DE GUERRA, 1938, p.47).
Um documento, confeccionado pelo EME e de orientação direta do Gen Góis
Monteiro (Relatório do EME, 1937), que é citado como já apresentado ao Governo e
como sendo fundamenta para a concretização do Plano de Guerra (1938) é a lei de
Quadros e efetivos do Exército (PLANO DE GUERRA, 1938, p.56). Esta lei, de nº
556, de 12 de julho de 1938, ao ser decretada, enumera as diversas categorias às
quais podem pertencer os militares de todas as graduações, indicando a
composição das grandes unidades e das armas e fixando as atribuições de cada
serviço. O decreto lei nº 556, ainda, determinou, no capítulo II, a distribuição do
pessoal no Exército ativo e definia composição das grandes unidades, no capítulo
III. Assim, a Divisão de Infantaria ficou definida com as seguintes características:
a) Comandante, General de Divisão (quando acumular o Comando da R. M. )
ou de Brigada; b) Quartel-General; c) Tropas a saber: - Regimentos de Infantaria; -
Regimento ou Regimentos do Cavalaria: - Regimentos de Artilharia; - Batalhão do
Engenharia; - Batalhão de Transmissões.
A Divisão de Cavalaria compreende: a) Comandante, General de Brigada; b)
Quartel-General, semelhante ao da D. I.; c) Tropa a saber: Brigadas de cavalaria;
Regimento Auto-Metralhadoras, Regimento de Cavalaria transportado; Regimento
de Artilharia a dois grupos a vacalo e um grupo automovel; Batalhão de Engenharia,
parte mobilado e parte transportado; Batalhão de Transmissões, nas mesmas
condições.
A Divisão Aérea compreende: a) Comandante, General de Divisão; b)
Quartel-General, análogo ao da D. I. e) Brigadas de Aviação.
Foram definidos também a organização dos seguintes serviços: de moto-
mecanização, de remonta e veterinária; de intendência; de saúde; de recrutamento;
geográfico e histórico. A necessidade desta organização foi mencionada na obra de
Góis Monteiro (MONTEIRO,1934) e no Plano de Guerra (1938).
Outro decreto importante é a lei Nº 1.187, de abril de 1939, que dispõe sobre
o Serviço Militar. Neste é estipulado sua obrigatoriedade e duração. Assim, os
reservistas do Exército ficaram classificados em três categorias: 1ª - reservistas com
instrução militar completa; 2ª - reservistas com instrução militar insuficiente; 3ª -
reservistas sem instrução militar. O decreto regula o certificado de alistamento
militar, mencionando que todo cidadão, ao ser alistado, deverá receber um
68

certificado de alistamento, que será parte integrante de sua futura caderneta militar e
outros dispositivos da vida militar.
Ainda neste contexto, o decreto-lei nº 1.828, de 1º de dezembro de 1939,
estabeleceu princípios e regras para as promoções dos oficiais do Exército em
tempo de paz. A ascensão, nos postos da hierarquia militar, se tornou gradual e
sucessiva, mediante promoções, as quais se deram com os princípios e as regras
prescritas nesta lei e com os processos estabelecidos no regulamento
respectivo. Dessa feita, foi regulado as promoções por antiguidade, merecimento e
escolha. Outro aspecto foi a efetivação do Regulamento Disciplinar do Exército
(RDE) pelo decreto nº 2.429, de 4 de Março de 1938, o qual estabelecia :
“CAPÍTULO I

PRINCIPIOS GERAIS DE SUBORDINAÇÃO


Art. 1º A instituição militar exige a cooperação espontânea de todos os
indivíduos que nela estão integrados, cada um com responsabilidades e
deveres definidos.
A hierarquia é a base da instituição, e o mais graduado comanda tão
sómente porque se preparou e revelou qualidades de chefe.
É tão nobre obedecer quanto comandar.
O superior só conseguirá subordinação voluntária, consciente e completa
se fôr disciplinado, imparcial, sereno e enérgico: tornando-se exemplo, pelas
suas qualidades morais.
A disciplina da tropa é o reflexo da ação do seu chefe.
Art. 2º As melhores manifestações de disciplina militar são:
- a correção nas atitudes;
- o pronto cumprimento das ordens recebidas dos chefes;
- a observância às prescrições dos regulamentos;
- o emprêgo de todas as energias no sentido de bem servir ao Exército e
à Nação;
- a colaboração espontânea na disciplina coletiva, tudo isso inspirado pelo
sentimento do dever, e não pelo receio dos castigos.”

Tal fato fortalece a disciplina e hierarquia no Exército, que foi exposto pelo
Gen Góis Monteiro nos relatórios do EME de 1937, 1938.
Com isso, os decretos acima vão ao encontro do preconizado pelo Plano de
Guerra (1938) e o Atlas Histórico (1941), pois retratam a importância do aumento de
efetivo para defender de forma adequada o território nacional contra um inimigo
advindo do subcontinente, sendo a tropa disciplinada e profissional.

3.3 Aspectos das necessidades de construções de novas organizações


militares

A Diretoria de Engenharia do Exército passou em 1938 a ter recursos


expressivos advindos do governo federal. Em sintonia com o estabelecido no Plano
de Guerra (1938) houve crescente disponibilidade de fluxos financeiros.
69

Dessa feita, é mencionado :


“Até 1936, a soma dos recursos reservados a construção de
engenharia não vae alem de 7.690 contos. Em 1937 –data da
implantação do Estado Novo – essa quantia sobe a 13.000 contos e
em 1940 atinge 52.000 contos. É, realmente, um grande salto,
convindo ainda acentuar que não estão incluídas nas cifras as
verbas concebidas para a construção do novo Quartel-General e da
Escola Militar de Rezende, e nem as quantias fornecidas pela Caixa
Geral de Economias da Guerra e destinas, também, a construções
militares” (ATLAS HISTÓRICO,1941, p.6).

Uma importante construção na gestão do General de Divisão Góis Monteiro


no EME foi, indubitavelmente, o início da obra do no edifício do Ministério da Guerra.
O prédio é composto por um subsolo, sobrelojas e de 10 pavimentos em toda a sua
extensão, acrescida de uma torre de mais 13 pavimentos. A potência instalada é de
3.760 kw, que, naquela época, era maior do que 08 estados da federação,
comparada isoladamente. O Quartel-General trouxe para a administração da Guerra
e para o público uma vantagem significativa que foi a união de diversas repartições
que estavam dispersas em bairros diferentes e em prédios impróprios e de aluguel,
em áreas com conforto e adequadas (ATLAS HISTÓRICO,1941, p.9).
Aliado com o pensamento de Backheuser (1948) e de acordo com o
estabelecido no Plano de Guerra (1938) foi planejada pelo EME a criação de
diversas organizações militares na fronteira oeste. Dessa forma, cabe citar:
“Foram criadas e organizadas de conformidade com as diversas
zonas que devem guarnecer, as trezes Unidades de Fronteira
sediadas respectivamente em S. Luiz de Cáceres, Casalvasco,
Porto Murtinho, Porto Velho, Foz do Iguassú, Guajará- Mirim,
Oiapoque, Tabatinga, Içá, Cucuí, Rio Branco e japurá, onde, pela
dedicação profissional de seus quadros e tropa, realizam uma das
mais árduas e altruísticas tarefas do Exército, conquistando para a
civilização e para a comunhão nacional aqueles compatrícios que
vivem e lutam nos confins do país, esquecidos de tudo e todos,
porem cada vez mais arraigados no zelo e defesa da terra do
Brasil.” (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.19)

A defesa das fronteiras do Brasil é prioridade no Plano de Guerra (1938). De


acordo como o pensamento de Backheuser (1948), no que tange a vivificação de
fronteira como uma das soluções para solucionar o problema de defesa brasileiro, foi
o planejamento e a construção de vilas militares com casas de sargentos e oficiais
nas guarnições de Guaraí, Uruguaiana, Foz do Iguaçu, Coimbra, Óbidos, Guajará –
Mirim, São Luiz, Don Pedrito, Quintaúna, Bela Vista, Porto Velho e Amambaí
(ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.29).
70

Diante do quadro de defesa estipulado pelo Plano de Guerra(1938), o qual


elenca como prioridade o aumento do poder bélico nacional, foram construídas
diversas estruturas militares. Todas elas com visão tática de frear possível avanço
do inimigo em território nacional. Assim, entre outras foram construídas:

- Ampliação do 3º Regimento de Aviação (Decreto nº 1.034, de 9 de janeiro


de 1939).
- 2º Regimento de Cavalaria Transportada, com sede provisória em Rosário; -
Companhia de Guarda do Quartel General do Ministério da Guerra, com sede na
Capital Federal; - 2ª Companhia Independente de Guarda, com sede em Recife; - 1ª
Companhia do 1º Batalhão de Engenharia, com sede em Deodoro, Distrito Federal
(Decreto nº 2.872 - de 14 de dezembro 1940).
- 1º Grupo independente de Artilharia Mista (Decreto nº 3.666, de 30 de
setembro de 1941).
- 1º Grupo Móvel de Artilharia de Costa na 7ª Região Militar (Decreto nº
4.074, de 31 de janeiro de 1942).
- 5ª Bateria Independente de Artilharia de Costa e Forte de Monduba (Decreto
nº 4.248, de 10 de abril de 1942).
- 2º e 3º Grupos Móveis de Artilharia de Costa, na 7ª Região Militar (Decreto
nº 4.411, de 26 de junho de 1942).
- 1ª Bateria de Projetores do Distrito de Defesa de Costa (Decreto nº 4.610,
de 22 de agosto de 1942).
- 5º Grupo Móvel de Artilharia de Costa na 7ª Região Militar (Decreto nº 4.673,
de 9 de setembro de 1942).
Outra contribuição no setor de engenharia militar foi o planejamento por parte
do EME das obras de construção realizadas pelos batalhões rodoviários. A intenção
era cooperar na irradiação do plano rodoviário brasileiro, em especial das estradas
de interesse vital para a defesa nacional. Desssa forma, no período de 1938 até
1941 foram construídos cerca 580 quilômetros de estradas e reconstruídos,
aproximadamente, 850 quilômetros (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.31).
Com relação às ferrovias, fator importante para a defesa da região Sul do país
de um possível conflito bélico com a Argentina foi citado:
“A engenharia militar, com especialidade nos Estado do Rio Grande
do Sul e Paraná, realizou obras de grande alcance, tendo sido
apresentado a seguinte estatística, que bem diz de sua atividade.
Passo do Barbosa-Jaguarão – 62 km construídos. Jaguarí-
Santiago- S. Borja- 223km 800 mts construídos. Santiago- S. Luiz-
71

Cerro Azul- 179km em construção. D Pedrito- Santana-104 km em


construção. Caxias –Rio Negro- 55 KM e construção e 709 em
estudos. Pelotas- Santa maria- 370 km em estudos. Total de km
construidos 285km e 800mts. Total de Kms em construção 338kms.
Total de Kms em estudos 1079 kms. a) – OBRAS D` ARTE: Pontes
construídas 112. Pontes em construção, 4. Pontilhões construídos,
443. Boeiros,1.729.” (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.32).

Nota-se continuidade de pensamento entre o Plano de Guerra (1938) e o


Atlas Histório (1941). O primeiro, ao apontar a necessidade de ampliação do sistema
rodoviário e ferroviário do país, em especial para a região sul. O outro, pela
apresentação da materialização do mesmo.

Em 1941, foram inaugurados os Depósitos Centrais de suprimento de


materiais sanitários, de engenharia, de veterinária e transmissões. O complexo é
composto de 20 (vinte) pavilhões que acupam uma áerea de 35.000 metros
quadrados (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.26). A importância destas estruturas é
mencionada no Plano de Guerra (1938), devido, em parte, ao pensamento de Góis
Monteiro em afirmar que uma possível Guerra com a Argentina teria como hipótese
principal o fato de ser longa com necessidade de suprimentos contínuos advindos do
centro do país para a Região Sul (MONTEIRO, 1934).

3.4 Aspectos do ensino para proporcionar o fortalecimento da estrutura militar

O relatório74, apresentado ao Presidente Vargas, em 1940 das atividades do


Exército no ano de 1939, mencionou nova constituição do Exército. Após estudos e
relatórios do EME75, em cujas diretrizes o próprio Gen Góis Monteiro escreve sobre
a necessidade da ampliação do poder militar terrestre:
“a responsabilidade do EME na condução dos assuntos de
mobilização, organização,legislação instrução, escolha de
armamento,material e nos assuntos de defesa do território,
[...]centralizar, em nome do Chefe do EME a quem ficam- neste
particular- diretamente subordinadas, todas os assuntos de
organização e instrução, mobilzação e armamento de arma ou do
serviço.[...] todas as inspeções de carater permanente das armas e
serviços, realizadas de conformidade com as diretrizes traçadas
pelo Chefe do Estado- Maior do Exército e, tendo por guia, verificar
o grau de adestramento da arma ou serviço para a guerra, a
unidade de doutrina,a aplicação dos regulamentos e métodos
pedagógicos adotados no ensino e na instrução dos homens e dos
quadros.”

74
Relatório apresentado ao Presidente dos Estados Unidos do Brasil. Imprensa do Estado Maior do Exército, 1940.
75
Relatório do EME, 1937 e 1938.
72

Na gestão do Gen Góis Monteiro, como chefe do EME, há o início do projeto


de construção da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN)76. Com isso,
ocorreu melhora significativa da disciplina do Exército, com o afastamento de jovens
oficiais da área política. A AMAN é uma organização militar de ensino responsável
pela formação de oficiais combatentes.
Sobre as contribuições no setor de ensino, é citado no Atlas Histórico (1941,
p.132):
“Para a admissão nas escolas militares e cursos de formação de
oficiais, além das imposições de idade, aptidão
intelectual,idoniedade moral, capacidade física e comprovada
vocação para a carreira das armas, é mister que o candidato prove
que as condições de ambiente social e domésticos, constituído pela
nacionalidade de seus progenitores, não colidem com as
obrigações e deveres impostos aos militares nas garantias da
ordem interna e da defesa externa do Brasil”.

Notadamente foram criados dois importantes centros de estudos militares na


gestão de Góis Monteiro, sendo o primeiro o novo edifício da Escola de Estado-
Maior, localizado no bairro da Urca no Rio de Janeiro, e o outro, a Escola Técnica do
Exército, na mesma região que o estabelecimento anterior. Cabe ressaltar que os
dois edifícios, com o monumento aos heroís da Laguna e Dourados, compõem um
conjunto arquitetônico e cultural digno do local onde funcionou a tradicional Escola
Militar da Praia Vermelha, que fora frequentada por Góis Monteiro e outros chefes
militares daquela época (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.20-21).
Em consonância com o Plano de Guerra (1938) no que concerne à
preocupação com a necessidade de aumento do poder da Artilharia do Exército
brasilerio, deu-se início às atividades de ensino na Escola de Artilharia de Costa,
que foi construída em 1937 e ampliada em 1938 com oficinas modernas para época.
Em 1939, a nova escola, então denominada Centro de Instrução de Artilharia de
Costa é ampliada novamente com um novo andar (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.22).
O decreto-lei nº 1.735, de 3 de novembro de 1939, regula o ensino militar no
Exército.O documento estipula que a finalidade é assegurar o preparo do pessoal de
enquadramento do Exército, em todos os escalões da hierarquia. Essa preparação
compreende: a dos cabos e sargentos; a do pessoal técnico de execução;

76
Na década de 1930, havia nítida necessidade de aperfeiçoar a formação de oficiais para um exército que buscava uma
transformação para atender as demandas da defesa territórial. A profissionalização era primordial. Dessa feita, foi criada
em Resende, a Escola Militar de Rezende. Na época, houve também a intenção de afastar a juventude militar da efervescência
política da capital do país, que ainda era o Rio de Janeiro. Seu idealizador foi o marechal José Pessoa Cavalcanti de
Albuquerque. Peres, Carlos Roberto. Livro Academia Militar das Agulhas Negras- 200 anos, 2013,p.50 Disponível em
https://issuu.com/davidcard/docs/livro_agulhas_negras_-_200_anos_7db9f905a344bc. Acessado em 02/02/2016.
73

a dos oficiais das armas, dos serviços e técnicos; e a de estado-maior e alto


comando. A instrução de oficiais, sargentos e cabos do exército ativo ficou com a
seguinte configuração: a de formação; a de aplicação; a de aperfeiçoamento; e a
de especialização.
No Atlas Histórico (1941), o ensino militar é apontado como item importante
para o fortalecimento da instituição do Exército. A transição da doutrina alemã para a
francesa citada no Plano de Guerra (1938, p.13) aponta para investimentos nas
escolas militares. Além disso, foi citado naquele documento:
“O Exército se prepara para a guerra e só accessoriamente para
desempenhar os papeis que lhe incumbem em tempo de paz. Póde-
se mesmo affirmar que estes ultimos serão tanto melhor
desempenhados, quanto a sua preparação para a guerra seja mais
impulsionada nas ordens material e moral”

Dessa forma, o decreto-lei nº 1.735 determina que as instruções para os


oficiais sejam ministradas:
“- na Escola Militar;
- na Escola de Aeronáutica do Exército;
- na Escola de Intendência do Exército,
- na Escola de Saude do Exército;
- na Escola de Veterinária do Exército;
- na Escola Técnica do Exército; e
- na Escola de Geógrafos do Exército”.

Além disso, a especialização, de acordo com o decreto-lei nº 1.735, deverá


alcançar as seguintes modalidades:

“em transmissões, para os oficiais de todas as armas, na Escola de


Transmissões (previsto um curso especial para os oficiais de
engenharia), ou em cursos de transmissões regionais; em
motorização e mecanização, para oficiais de todas as armas,
mediante cursos dessas especialidades; em defesa anti-aérea, para
oficiais de artilharia, consoante curso da especialidade; em defesa
anti-aérea, para oficiais de todas as armas, por meio de cursos
dessa especialidade; em artilharia de costa, para oficiais de
artilharia, na Escola de Artilharia de Costa; em defesa de costa,
para oficiais de Estado-Maior, na Escola de Artilharia de Costa; em
guerra química, para oficiais de todas as armas nos cursos de
informações, básico e especializado; em telemetria estereoscópica,
mediante estágio de curta duração, para oficiais subalternos de
Artilharia; em equitação, para oficiais de cavalaria e artilharia, em
curso dessa especialidade; em observação aérea (avião ou balão),
para oficiais de todas as armas, na Escola de Aeronáutica do
Exército; em educação física, e em medicina especializada de
educação física, respectivamente, para oficiais de todas as armas e
para médicos militares, na Escola de Educação Física do Exército;
em medicina de aviação, para médicos (do Exército e civis) em
curso dessa especialidade, no Departamento Médico de
Aeronáutica.”

Outro aspecto que alinha o pensamento exposto no Plano Guerra (1938,


p.31-32) é de ter uma força terrestre com 13 Divisões de Infantaria e 05 Divisões de
74

Cavalaria. A legislação de ensino citada anteriormente vai ao encontro da visão de


Góis Monteiro sobre a necessidade de se ter um exército profissional e adestrado
para enfrentar os desafios bélicos do entorno estratégico brasileiro, tanto nas
fronteiras do oeste do país como, em especial, nas fronteiras do sul (MONTEIRO,
1934).

3.5 Aspectos da evolução do setor de saúde do Exército

Na área de saúde, foi planejado, pelo EME, uma ampliação significativa para
atender às demandas futuras da estrutura terrestre em plena evolução. Dessa feita,
foram construídos: no centro do Rio de Janeiro - novos pavilhões no Hospital Central
do Exército, um novo edifício para dar lugar à Policlínica Militar;um laboratório
químico farmacêutico; no Rio Grande do Sul, foram criados - novos hospitais
militares na capital Porto Alegre, no Alegrete e em Santo Angelo. O mesmo ocorreu
em Bélem e na Bahia. Além disso, foi pontencializado, nas diversas Regiões
militares, as enfermarias e os hospitais existentes. Os estoques do Depósito Central
foram ampliados para atender uma possível guerra no subcontinente (ATLAS
HISTÓRICO, 1941, p.23-24-25).
Além disso, foi decretado a lei nº 4.791, de 20 de Outubro de 1939, que
aprovou o Regulamento da Escola de Sáude do Exército, com os seguintes itens:
“[...] destinados à preparação técnico-militar dos oficiais médicos
para o desempenho de funções até o posto de capitão e dos oficiais
farmacêuticos até o final de sua carreira.[...] regularização dos
cursos de formação de graduados e sargentos, cuja finalidade é o
preparo profissional necessário ao desempenho de funções de
enfermeiros, manipuladores de farmácia e manipuladores de
radiologia.[...] O Curso de Aperfeiçoamento visa preparar os oficiais
médicos, capitães, ou eventualmente 1º tenentes , para o
desempenho das funções técnico-militares dos postos
superiores[...]”.

Mais uma vez fica claro o alinhamento entre o Plano de Guerra (1938), o
pensamento de Góis Monteiro e o que foi realizado, sendo retratado no Atlas
histórico de 1941.

3.6 Aspectos do setor fabril


75

O General Góis Monteiro cita no Atlas Histório (1941, p.46): “o máximo


problema do Exército é o material”. O relatório de 1937, do EME, apontava para as
necessidades de ampliação das seguintes fábricas: Arsenal de Guerra no Rio de
Janeiro77; fábrica de cartuchos do Realengo78; Arsenal de Guerra General
Câmara79 que foi transferido de Porto Alegre para Taquari no Rio Grande do Sul; e a
fábrica da Estrela80 (RELATÓRIO EME, 1937, p.34).

Goldoni (2011, p. 79-89) faz estudo minucioso sobre as fábricas em operação


no Estado Novo, apontando a evolução na produção. Tal estudo, contudo, não relata
a importância do material bélico para a defesa nacional contra um possível inimigo
no subcontinente. Porém, dá subsídio para entender o que é fabricado e a
capacidade bélica do Exército naquela época.

À diretriz do General Góis Monteiro no relatório do EME de 1937, produziram-


se 04 (quatro) documentos pelo General João Carlos de Toledo Bordini81, mostrando
a preocupação do Exército com a necessidade de produção rápida de artefatos
bélicos, em especial munições e armamentos.

Assim, o Resumo do Gen João Carlos de Toledo Bordini, do projeto Secreto


da Divisão de Material Bélico82 sobre o desdobramento do Plano quinquenal para
desenvolvimento da Indústria Bélica Nacional, de 1939, faz um balanço da produção

77
“Com sua transferência, em 1902, para a então Praia de São Cristóvão, atual Rua Monsenhor Manoel Gomes, passou a
chamar-se Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro - AGRJ. Em novo endereço, no bairro do Caju, o Arsenal passou por
extraordinária remodelação, iniciada em 1939, que ampliou sua base física e suas instalações, conferindo-lhe suas atuais
dimensões e contornos”. Disponível em:http://www.agr.eb.mil.br/index.php/historico .Acessado em: 01/02/2017

78 “Em 1937, as reformas na Oficina de Fabricação de Cápsulas possibilitaram o aumento da produção em 100%. Em 1938
foram adquiridas e instaladas 42 máquinas e equipamentos. Quatro anos mais tarde foram construídos mais dois pavilhões e
três grandes oficinas, a de Carregamento, a de Revisão e a de Embalagem e Expedição e adquiridas mais 20
máquinas”. (GOLDONI, 2011, p.78.)
79
“Em 1935, o Arsenal de Guerra mudou-se para a Margem do Taquari, passando a denominar-se Arsenal de Guerra da
Margem do Taquari. Por decreto no 6097, de 15 de Agosto de 1940, BE no 34, de 24 de Agosto de 1940, DOU, de 19 de Agosto
de 1940, foi instituído patrono do estabelecimento o Marechal José Antônio Corrêa da Câmara, passando a denominar-se
Arsenal de Guerra General Câmara, e o seu natalício, 17 de fevereiro, passou a figurar como o de fundação do Arsenal”
Disponível em: http://www.aggc.eb.mil.br/index.php/historico. Acessado em 03/04/2017.
80
“Em 1934, a Fábrica de Estrela passou a produzir “pólvora de propulsão”, utilizada para alcances maiores, em canhões da
Artilharia de Costa, inclusive os de 280 mm do Forte de Imbuhy. Manufaturava pólvora para uso secundário em minas, “cargas
de arrebentamento” (colocada no interior do projétil para a destruição do alvo), granadas ordinárias e shrapnells (estilhaços),
combustível de espoletas e cartuchos de sinalização” (MG. RMG, 1935, p. 110). (GOLDONI,2011, p.69 )
81
General João Carlos De Toledo Bordini foi responsável pelo projeto Secreto da Divisão de Material Bélico ao Ministro da
Guerra sobre o desdobramento do Plano quinquenal para desenvolvimento da Indústria Bélica Nacional e sobre a possibilidade
de obtenção no Brasil de cobre, zinco e chumbo. A estimativa sendo o General em tempo de Guerra era de 100 toneladas por
dia de conflito. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=gv_confid&pagfis=435‘. Acessado em
03/04/2017.
82
Projeto Secreto da Divisão de Material Bélico sobre o desdobramento do Plano quinquenal para desenvolvimento da
Indústria Bélica Nacional. Neste trabalho será nomeado Relatório desenvolvimento indústria.
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=gv_confid&pagfis=435.Disponível em: Acessado em 03/04/2017.
76

fabril de artefatos militares. Dessa feita, é mencionado o recurso de 50mil contos de


réis para o ano de 1939 e 60 mil contos de réis para 1940 (RELATÓRIO
DESENVOLVIMENTO INDÚSTRIA, 1939, p.3 -4).

Fonte:Projeto Secreto da Divisão de Material Bélico ao Ministro da Guerra sobre o desdobramento do Plano quinquenal
para
desenvol
vimento
da
Indústria
Bélica
Nacional,
1939, fl 3

Fonte:Projeto Secreto da Divisão de Material Bélico ao Ministro da Guerra sobre o desdobramento do Plano quinquenal
para desenvolvimento da Indústria Bélica Nacional, 1939,fl 4

As realizações acima evidenciam o esforço de guerra que impulsionou a


produção da indústria nacional, com benefícios para o desenvolvimento do poder
bélico do Brasil. Tal fato só foi possível devido à diretriz do Chefe do EME no Plano
Guerra (1938). Além disso, o Gen Bordine (Relatório Desenvolvimento Indústria,
1939, p.3-4) afirma que os gastos realizados são advindos do Plano Quinquenal que
é parte do Plano Guerra (1938). Ainda neste contexto, é importante realçar os custos
que foram viabilizados na lei nº 1.059, de 19 de janeiro de 1939, a qual foi
mencionada anteriormente. Conclui-se, então, que há pontos semelhantes da
referida lei com o preconizado no Plano de Guerra (1938), idealizado pelo Gen Góis
Monteiro.
77

A produção de matéria prima também foi foco de preocupação da Diretoria de


Material Bélico que era subordinada ao EME. O relatório83 do Gen João Carlos de
Toledo Bordini, sobre a possibilidade de obtenção no Brasil de cobre, zinco e
chumbo, deixou claro a importância destes itens para a defesa territorial do Brasil
(RELATÓRIO OBTENÇÃO MATÉRIA PRIMA,1939, p1).
No documento citado acima, faz-se comentário sobre a dificuldade de se
obter matérias primas no Brasil que são indispensáveis na mobilização da indústria
bélica. Acrescenta que o cobre associado ao zinco é fundamental para indústria
elétrica e para confeccão de munições para a infantaria e artilharia. Segundo o
relatório, em tempo de guerra contra o possível inimigo argentino, o consumo de
cobre poderia chegar até 100 toneladas diárias. Com relação ao zinco, é relatado
que tinha pouca produção nacional (RELATÓRIO OBTENÇÃO MATÉRIA
PRIMA,1939, p.2-3).
Dessa forma, é traçado um plano em duas fases para obtenção das materias
primas supracitadas. O documento foi escriturado da seguinte forma :
“1ºfáse :
Cobre do Rio Grande do Sul :
a) extração do minerio de Seilval e produção do cobre eletrolitico,
em escala reduzida( 5 toneladas diarias).
b)Realização de um plano de estudos
geologicos,mineralogicos,hidro-eletricos e economicos sobre uma
exploração racional e organizada em grande escala, e toda a região
cuprifera dos municípios de Caçapava, AGÉ E encruzilhada.
Chumbo e Prata de S.Paulo
a)Montagem de metalurgia do chumbo e Prata na região de Ribeira
do Iguape.
b)Estudos sobre as reservas existentes na região, do minerio do
Zinco e sobre a metalurgia deste metal. Zinco – durante esta fáse,
aquisição no estrangeiro e estocagem.Latão- produção e laminação
em S.Paulo, - com o cobre do Rio Grande do Sul e Zinco importado.
2º fáse:
Cobre do Rio Grande do Sul. Exploração intensiva do distrito
cuprífero riograndense de acôrdo com os estudos antes procedidos.
Chumbo, Prata e Zinco de S. Paulo. Exploração intensiva da região
plumbo-argentifera de Ribeiro do Iguape. Latão- produção e
laminação em S. Paulo, com Cobre e Zinco nacionais”
(RELATÓRIO OBTENÇÃO MATÉRIA PRIMA,1939,p.4-5).

Para atender as exigências constantes do Chefe do EME no Plano de Guerra


(1938), a Diretoria de Material Bélico apresentou, em 30 de janeiro de 1939, um
relatório parcial relativo ao controle da produção no estabelecimentos fabris
militares.84 Neste, é mencionado a importância de se ter um bom emprego dos

83
Relatório do Gen João Carlos de Toledo Bordini, sobre a possibilidade de obtenção no Brasil de cobre, zinco e chumbo.
Neste trabalho será nomeado Relatório obtenção matéria prima. Disponível em :
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=GV_Confid&PagFis=442&Pesq=Acessado em 03/04/2017.
84
Relatório da Diretoria do Material Bélico, João Carlos de Toledo Bordini, ao Ministro da Guerra, sobre o controle da produção
78

recursos financeiros do país alocados para o Exército e, consequentemente, para a


Defesa Nacional. Dessa forma, são apontados seis pontos de controle para cumprir
com as diretrizes do Gen Góis Monteiro: controle de produção, controle de
qualidade, controle de preço de custo, previsão técnica, controle da inação das
máquinas e controle da eficiência do pessoal (RELATÓRIO PRODUÇÃO
FABRIL,1939, p.2-3). Para a efetivação de pessoal qualificado, fez-se necessária a
construção de um Quadro de Técnicos do Exército( Q.T.E) 85 na força terrestre para
elevar a produção do armamento nacional.
As fábricas classificadas como altamente produtivas foram: Fábrica de Canos
e Sabres para Armas Portáteis, Fábrica de Pólvora e Explosivos de Piquete, Fábrica
de Pólvora da Estrela e Fábrica de Viaturas do Exército. Dessa forma, ficou patente
a produção e o esforço realizado para o aparelhamento bélico nacional, indo ao
encontro das ideias do Plano Guerra (1938) do Gen Góis Monteiro (RELATÓRIO
PRODUÇÃO FABRIL,1939, p.5-6).
A Diretoria de Material Bélico, em 1939, elaborou relatório sobre o Preparo
da Mobilização Industrial (M.I) do país para a guerra86. O documento apresenta
estudo sobre a necessidade da preparação das indústrias nacionais para atender às
necessidades de defesa nacional, em especial em caso de conflito armado. A
despeito de mencionar a debilidade daquela época da produção industrial brasileira,
acrescenta a importância da indústria civil, no documento nomeada de pacífica, no
esforço de guerra de um país (RELATÓRIO PREPARO INDÚSTRIA, 1939, p.3).
Diante disso, aponta três linhas de ação que o País necessita tomar:
“1ª- Preparo, pela Educação e pela Organização do
aproveitamento intensivo do nosso parque industrial.
2ª- Incentivo à industrialização do Paiz, orientando-a de acôrdo com
os interesses da Secretaria Nacional.
3ª- Desenvolvimento de industria Bélica do Estado, cuja situação
atual de critico desaparelhamento, não lhe permitirá siquer
desempenhar com eficiencia devida, a tarefa que lhe compete, de

nos estabelecimentos fabris militares,1939. Neste trabalho será nomeado Relatório Produção Fabril. Disponível em:
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=gv_confid&pagfis=469Acessado em 03/04/2017.
85
“Parágrafo único. O Q. T. E. será constituido por oficiais técnicos, da ativa e da reserva, e por auxiliares técnicos, a
quem incumbirá o exercício das funções de direção e de execução, de natureza técnico-militar, nos estabelecimentos
industriais, institutos de ensino especializado e serviços de caráter técnico pertencentes ao Ministério da Guerra”. Assim, é
criado o Decreto-lei nº 1484 de 03/08/1939 / PE - Poder Executivo Federal (D.O.U. 31/12/1939)o Quadro de Técnicos do
Exército. Disponível em. https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/146443-cria-o-quadro-de-tucnicos-do-exurcito.html
Acessado em 03/04/2017.

86
Relatório Secreto da Diretoria do Material Bélico, ao Ministro da Guerra sobre o preparo da mobilização industrial do país
para a guerra, 1939, Neste trabalho será nomeado Relatório Preparo indústria. Disponível em:
http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=GV_Confid&PagFis=434&Pesq=Acessado em 03/04/2017.
79

órgão técnico orientada pelo M.I, quanto mais constituir uma


reserva industrial ponderavel”(RELATÓRIO PREPARO
INDÚSTRIA, 1939, p.4).”

Salienta, no Relatório do Preparo Industrial (1939), que o Brasil tem que


realizar mais duas primeiras ações para ter menos sacrifícios impostos ao Estado e
terá consequentemente os benefícios para a economia nacional. Informa que a
produção industrial militar e cerca de 25 a 40 por cento das necessidades do esforço
de guerra diante da Argentina, enfatizando a importância da indústria civil para
completar tais necessidades militares.
Diante disso, acrescenta que a Diretoria de Material Bélico buscou
cooperação com a indústria civil, citando o exemplo de aquisição de 20 milhões de
cartuchos 7mm feita à Cia Brazileira de Cartuchos S/A, localizada em São Paulo. A
despeito disso, sugere a efetivação de um plano para a mobilização dos parcos
recursos industriais do País. (RELATÓRIO PREPARO INDÚSTRIA, 1939, p.5).”
Assim, propôs a organização de um cadastro industrial especializado, que
permitia:
“- o selecionamento dos estabelecimentos que deverão prosseguir
em suas atividades do tempo de paz.
- a organização de fabricas e oficinas que concorrerão para a
produão de material de guerra, em grupos coordenados trabalhando
harmonicamente numa mesma fabricação.
- a distribuição a cada um desses grupos, de encargos definidos na
fabricação de guerra.
- a educação e treinamento desses grupos produtores, na
fabricação que lhe fôr aféta, sob orientação dos orgãos
especializados militares.
- a construção de etoques de ferramentas e materias primas.
- e a organização dum serviço de mão de obra, garantindo a
permanencia junto aos estabelecimentos do pessoal indispensavel
ao enquadramento das reservas operarias de emergencia”
”(RELATÓRIO PREPARO INDÚSTRIA, 1939, p.6).”

Cabe destacar que, naquela época, segundo o Relatório de Preparo Indústria


(1939), as fábricas de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais são favoráveis
à cooperação com as fábricas militares. Contudo, aponta que as maiores
dificuldades das indústrias são o levantamento das suas reais possibilidades e a
formação de pessoal especializado. Assim, são apontadas duas fases para a
efetivação da Mobilização Industrial do País (M.I.P). A primeira é o levantamento das
possibilidades das indústrias civis, inclusive com censo de mão de obra
especializada. A outra é a elaboração do plano de mobilização industrial baseado no
levantamento feito e prevendo a organização de grupos homogêneos de toda a
indústria, fixando missões a cada estabelecimeto considerado primordial
(RELATÓRIO PREPARO INDÚSTRIA, 1939, p.7).
80

A Diretoria de Material Bélico enviou, em 1939, projeto à apreciação do Chefe


do EME com exclusiva finalidade de preparar sob orientação do citado órgão a
M.I.P, tanto na indústria militar como na civil. Assim, segundo o projeto, coube à
D.M.B os seguintes itens: organizar para o EME o quadro de mobilização industrial;
organizar o contraprojeto da M.I , em consequência do projeto elaborado do EME;
organizar os planos gerais de produção; designar e organizar as seções
mobilizadoras da D.M.B e da indústria privada; indicar as necessidades de pesssoal;
manter em ordem os registros estatísticos das fábricas; organizar a listas de
mobilização dos estabelecimentos civis; centralizar todos os dados dos
estabelecimentos fabris; organizar os diários da Mobilização Industrial; organizar e
fiscalizar os trabalhos das seções mobilizadoras; fixar os estoques de matérias
primas; registrar os depósitos e os materiais em estocagem; e organizar para o EME
a documentação em que se cogitam as instruções gerais para a mobilização
(RELATÓRIO PREPARO INDÚSTRIA, 1939, p.7). Dessa forma, há, entre outros
aspectos, a necessidade e formação de pessoal especilaizado.
Para cumprir o estabelecido acima, o EME, fez gestões junto ao Governo por
intermédio do seu Chefe de duas leis: o decreto-lei nº 4.073, de 30 de janeiro de
1942 que tratava da Lei Orgânica do Ensino Industrial87, o Decreto nº 6.757, de 29
de Janeiro de 1941 que aprovou o Regulamento para a Diretoria do Material Bélico
do Exército88. Tal fato evidenciou o alinhamento das ideias atinentes ao ensino
militar de Góis Monteiro, constante no Plano de Guerra (1938), já apresentado neste
trabalho, assim como suas diretrizes para o fortalecimento da produção de material
bélico militar.

3.7 Aspectos relativos à Remonta

O EME intensificou, na gestão de Goís Monteiro o sistema de Remonta no


Brasil, visando criar e fixar o fluxo de comércio do cavalo nacional para o Exército
Brasileiro e aumentar e melhorar o rebanho equino nacional. Dessa forma, foi

87
Lei orgânica do ensino industrial. Disponível em. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-
4073-30-janeiro-1942-414503-publicacaooriginal-1-pe.html Acessado em 03/04/2017.
88
Decreto nº 6.757, de 29 de Janeiro de 1941.Aprova o Regulamento para a Diretoria do Material Bélico do Exército.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1940-1949/decreto-6757-29-janeiro-1941-330338-norma-pe.html
Acessado em 03/04/2017.
81

retomada a criação de reprodutores, reorganizando as coudelarias existentes e


estabelecendo outras. O norte do país, em 1940, passou a ter 40 postos de monta.
Além das coudelarias de Saican e do Rincão e dos cinco depósitos de remonta
existentes, foram criados as coudelarias de Minas Gerais, Pouso Alegre e
Tindiquera e os depósitos de São Paulo, Avelar e Campos. Cabe reaçar que foi na
gestão do Gen Góis Monteiro no EME que se inciou a criação de animais de tração
no Brasil, com um total de 25 éguas e 70 reprodutores, evidenciando o esfoço de se
obter cavalos de guerra no Brasil (ATLAS HISTÓRICO, 1941, p.89). Além disso,
foram aprovados, em acordo com o relatório do EME DE 1937, o decreto nº 3.067,
de 12 de setembro de 1938, que aprova o regulamento (1ª parte) dos serviços de
remonta e veterinária do ministério da guerra e decreto nº 3.558, de 6 de janeiro de
1939 que dá sequência nos aspectos de regularização dos Serviços de Remonta e
Veterinária.Este último assinala:

“CAPÍTULO I
DOS DEPÓSITOS DE REMONTA
Art. 1º Dos fins.
a) receber os animais nacionais adquiridos em sua zona de ação
e adaptá-los ao regime militar, dando-lhes o adestramento inicial;
b) proceder à maleinização, vacina contra o garrotilho e profilaxia
das parasitoses dos animais antes de fornecê-los às Unidades ou
Estabelecimentos;
c) cultivar plantas forrageiras e conservar a forragem, não só
para fazer face às suas necessidades, como tambem para atender
à parte industrial;
d) estimular e orientar a criação equina em sua região, dentro as
diretivas baixadas pela Diretoria;
e) manter em livro próprio o registo de todos os criadores de sua
região, especificando o desenvolvimento da criação, enzootias,
natureza das pastagens e do solo;
f) manter um Depósito de Reprodutores[...]
CAPÍTULO II
DAS COMISSÕES DE COMPRAS DE ANIMAIS (C. C. A.)
Art. 4º Dos fins.
As Comissões de Compras de Animais teem por fim:
a) adquirir animais para o Exército;[...]
CAPÍTULO III
DAS COUDELARIAS
Art. 8º Dos fins.
a) criar animais de puro sangue, aptos a melhorarem, como
reprodutores, o rebanho equídeo nacional, sendo cada Coudelaria
especializada na criação de determinada raça;
b) cultivar plantas forrageiras e conservar a forragem para fazer
face às suas necessidades, atender à parte industrial e servir de
modelo, nesta atividade, aos criadores;
c) manter os reprodutores e produtos num regime de trabalho e
alimentação racionais, necessários para a conservação da forma
dos reprodutores e completo desenvolvimento dos produtos;
d) manter um Depósito de Reprodutores;[...]”
82

Conclui-se, de forma parcial, que o Plano de Guerra (1938) foi elaborado com
base no pensamento de segurança nacional do Gen Góis Monteiro. Tal aspecto
produziu instrumentos legislativos que colocaram o Exército Brasileiro em outro
patamar operacional, provocando, em última análise, efeito de dissuasão
significativo no entorno estratégico brasileiro na América do Sul.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As principais conclusões do trabalho serão apresentadas com vistas a
responder a pergunta de pesquisa. Para isso, será respondido quais foram as
contribuições do Gen Góis Monteiro como Chefe do EME (1937- 1943) que
provocaram uma transformação do Exército Brasileiro, apresentando os principais
resultados obtidos com base em conclusões relacionadas à analise histórica
realizada.
A centralização da estrutura do Exército subordinada ao Chefe do EME,
produziu de fato uma transformação na força terrestre. As características pessoais
de Góis Monteiro e o receio de um conflito armado contra a Argentina foram pontos
que impulsionaram mudanças significativas na estrutura da instituição. Assim, a
partir de 1937, ficou patente que toda a mudança do Exército até 1943 passou pelas
mãos do General de Divisão Goís Monteiro, quer sob suas diretrizes, quer sob suas
ordens diretas, constantes nos Relatórios do EME ou até mesmo no Plano de
Guerra (1938).
A gestão de Góis Monteiro no EME produziu um aumento significativo no
efetivo do Exército que, em 1943, atingiu a marca de 100 mil combatentes (ATLAS
HISTÓRICO, 1941, p.93). O aumento destinou-se a fornecer quadros e tropa para
cerca de 50 unidades reestruturadas ou criadas, sendo, entre outras: unidades de
fronteira; escolas; unidades motomecanizadas e antiaéreas; regimentos de Artilharia;
estruturas de apoio logístico e a criação e revitalização de indústrias bélicas. Tal
aspecto fortaleceu a imagem do Exército dentro da sociedade brasileira, com vasta
propaganda vinculada de patriotismo à Força Terrestre (ATLAS HISTÓRICO, 1941).
Para disciplinar toda organização, o EME elaborou estratégias para que
novas legislações fossem dissiminadas nas escolas militares. Dessa feita, deu- se a
criação dos regulamentos básicos do Exército, entre eles: Disciplinar (RDE), de
Administração (RAE), e um conjunto de instruções e portarias que alteraram
83

profundamente a organização do Exército que passou a ser comandado de


instalação condigna, o Palácio Duque de Caxias, defronte à Praça da República, no
Rio. (ATLAS HISTÓRICO, 1941).
Visando a reduzir a dependência externa em material bélico, foi criado o
Quadro de Oficiais Técnicos89. A intenção era estimular a indústria civil a produzir
itens essenciais para a guerra e, assim, implantar a Indústria Bélica Brasileira. Nessa
fase da história ocorreu a fiscalização e o acompanhamento da produção das
fábricas de nacionais de produção de artefatos militares. Com isso, teve-se uma
produção capaz de defender o Brasil de um possível conflito armado contra a
Argentina (RELATÓRIO PREPARO INDÚSTRIA, 1939). Cabe destacar, que o Gen
Div Góis Monteiro deu diretrizes pessoais para a necessidade de remodelar os
arsenais do Rio de Janeiro e o de General Câmara e as fábricas de Estrela e do
Realengo, fortalecendo o poder bélico do Exército (PLANO GUERRA, 1938).
No setor de logística, foram potencializados entre outros: os
estabelecimentos Mallet que possuia os depósitos de Material de Intendência, de
Engenharia, de Comunicações, de Veterinária e de Saúde (ATLAS HISTÓRICO,
1941).
Na área médica, significaticas melhorias e ampliações nos hospitais militares
de Porto Alegre, da Bahia, de Alegrete, Santo Ângelo, Belém, dos pavilhões de
neurologia e de psiquiatria do Hospital Central do Exército e da Policlínica Central,
favorecendo melhorias significativas para a família militar (ATLAS HISTÓRICO,
1941).
No setor de remonta, foram efetivados os empreendimentos de restruturação
das coudelarias de Minas Gerais, Pouso Alegre, Tindiquera e os depósitos de
reprodutores de Avelar, Campos e São Paulo, além de ampliadas as coudelarias de
Saicã e do Rincão (ATLAS HISTÓRICO, 1941).
As diretrizes do Gen Góis Monteiro (Plano Guerra, 1938), apontando a
necessidade proeminente da produção de material de Artilharia, em especial o de
Costa, foi fundamental para fortalecimento do poder de dissuasão do Exército

89
Parágrafo único. O Q. T. E. será constituido por oficiais técnicos, da ativa e da reserva, e por auxiliares técnicos, a
quem incumbirá o exercício das funções de direção e de execução, de natureza técnico-militar, nos estabelecimentos
industriais, institutos de ensino especializado e serviços de caráter técnico pertencentes ao Ministério da Guerra.) Assim, o
Decreto-lei nº 1484 de 03/08/1939 / PE - Poder Executivo Federal (D.O.U. 31/12/1939)o Quadro de Técnicos do Exército.
Disponível em. https://www.diariodasleis.com.br/legislacao/federal/146443-cria-o-quadro-de-tucnicos-do-exurcito.html.
Acessado em 03/04/2017.
84

Brasileiro. Dessa forma, esse sistema de defesa nacional passou por uma sensível
modernização e atualização. Com isso, a indústria bélica do Exército produziu uma
gama enorme de equipamentos militares, inclusive equipagens de morteiros e
munições para artilharia e a infantaria (RELATÓRIO EME, 1941).
As transformações e progressos de construções de estabelecimentos de
ensino foram controlados pela Diretoria de Engenharia do Exército, que passou a ser
subordinada diretamente ao Chefe do EME, em 1939. Dessa feita, houve
alinhamento do pensamento de Góis Monteiro, no que concerne a um possível
conflito bélico contra a Argentina, e as profundas transformações na estrutura física
do Exército proporcionadas por aquele oficial para o forlalecimento da
profissionalização da instituição militar e da sua consolidação como força
operacional e, assim, produzir efeito de dissuasão face às pretenções da nação
portenha (ATLAS HISTÓRICO, 1941)
Diante disto, para pensar na formação daqueles que poderiam conduzir
diversos escalões de uma estrutura de guerra, foram elaborados planos no EME
para a efetivação das escolas de Estado-Maior, da Técnica do Exército, da
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e da Escola de Artilharia de Costa
(ATLAS HISTÓRICO, 1941).
Ainda neste contexto, para pensar na mobilização da reserva militar, foram
criados os centros de preparação de oficiais da Reserva em todas as regiões
militares. Essa estrutura de ensino do Exército foi ainda enriquecida com a criação
de um Grupamento Escola de Artilharia Antiaérea (ATLAS HISTÓRICO, 1941). Para
ordenar essa estrutura, o Gen Góis Monteiro elaborou propostas para serem
promulgadas as leis do Ensino e do Magistério Militar e baixadas instruções para
regulamentar as escolas e normas para uma mais apurada seleção física, intelectual
e moral dos candidatos ao oficialato do Exército (RELATÓRIO EME, 1940 e 1941).
Durante o período 1937 até 43, os períodos de instrução das unidades foram
observados e fiscalizados com rigor. Os resultados práticos ficaram evidentes nas
grandes manobras do Vale do Paraíba, em Mato Grosso e de Saicã (BUENO, ).
A parte topográfica foi enfatizada por Góis Monteiro como uma das
necessidades de aprimoramento para se fortalecer a instrução militar. Assim, o
Serviço Geográfico do Exército proporcionou um grande apoio à instrução, ao
levantar mais de 25.000 km² em cartas. Com isso, ocorreu a dispensa de cartas de
85

território europeu sobre as quais os oficiais brasileiros estudavam em cartas


topográficas, em exercícios táticos (RELATÓRIO EME, 1939).
Oficialmente, o culto aos heróis do Exército do passado mereceu ênfase sob
o seguinte argumento ao tempo do Presidente Getúlio Vargas.
"O mérito excepcional sempre foi raro. Daí a necessidade do culto
aos heróis mortos de mérito excepcional . Ele desenvolve nosso
sentimento de veneração, exemplifica e exalta a virtude para o
estímulo dos moços. As suas qualidades deixaram sulcos indeléveis
que sempre servirão de lições para o presente e o futuro".

A diretriz do Gen Góis Monteiro no que concerne ao culto aos heróis


nacionais para formação da indentidade militar foi concretizada (RELATÓRIO DO
EME, 1937). Assim, o Duque de Caxias mereceu culto especial , além dos seguintes
heróis brasileiros do Exército como: Osório, Sampaio, Mallet, Vilagran Cabrita,
Andrade Neves e Antonio João , etc, que foram cultuados condignamente. Foi
inaugurado monumento aos Heróis de Laguna na Praia Vermelha e restaurados
diversos monumentos históricos ( ATLAS HISTÓRICO, 1941).
As unidades históricas ganharam estandartes, nomes e distintivos e algumas,
uniformes históricos como a AMAN e os Dragões da Independência. O antigo
Batalhão do Imperador extinto pela Regência, foi recriado com o nome de Batalhão
da Guarda Presidencial.
Enfim, a educação militar de Góis Monteiro alinhada à sua vida castrence
produziram um militar em condições de transformar o Exército. A sua intenção foi por
uma força terrestre que pudesse ser o centro de irradiação da ética e da moral
dentro de uma nação com dificuldades de toda ordem. O militar passou a se
preocupar bem mais com os afazeres da atividade da caserna, do que se preocupar
com manifestações políticas. A perfeita identificação de um inimigo proporcionou a
disseminação de leis e regulamentos que provocaram a evolução da instituição, que,
em última análise, materializou a maior contribuição para um Exército, que é por
meio da dissuasão manter a paz nacional.
86

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1949/decreto-lei-4073-30-janeiro-1942-414503-publicacaooriginal-1-pe.html.
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90

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Exército. Rio de Janeiro: Outubro de 1914.

A DEFESA NACIONAL. Revista de assuntos militares. Nº14. Arquivo Histórico do


Exército. Rio de Janeiro: Novembro de 1914a.

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do Exército. Rio de Janeiro: fevereiro de 1931

A DEFESA NACIONAL. Revista de assuntos militares. Nº217. Arquivo Histórico


do Exército. Rio de Janeiro: Janeiro de 1932
95

A DEFESA NACIONAL. Revista de assuntos militares. Nº220. Arquivo Histórico


do Exército. Rio de Janeiro: março de 1932

A DEFESA NACIONAL. Revista de assuntos militares. Nº222. Arquivo Histórico


do Exército. Rio de Janeiro: Novembro de 1932

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Diversos, Mod: 29-6-C, 1914.

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______________________. Relatório do Ministro da Guerra do Brasil ao Presidente


da República. Imprensa do Exército, 1920.

______________________. Relatório do Ministro da Guerra do Brasil ao Presidente


da República. Imprensa do Exército, 1921.

_____________________. Relatório do Ministro da Guerra do Brasil ao Presidente


da República. Imprensa do Exército, 1934.

______________________. Relatório do Ministro da Guerra do Brasil ao Presidente


da República. Imprensa do Exército, 1935.

______________________. Relatório do Ministro da Guerra do Brasil ao Presidente


da República. Imprensa do Exército, 1936.

______________________. Relatório do Ministro da Guerra do Brasil ao Presidente


da República. Imprensa do Exército, 1937.

______________________. Relatório apresentado ao Presidente dos Estados


Unidos do Brasil. Imprensa do Estado Maior do Exército, 1939.

______________________. Relatório apresentado ao Presidente dos Estados


Unidos do Brasil. Imprensa do Estado Maior do Exército, 1940.

_______________________. Relatório apresentado ao Presidente dos Estados


Unidos do Brasil. Imprensa do Estado Maior do Exército, 1942.

______________________. Relatório apresentado ao Presidente dos Estados


Unidos do Brasil. Imprensa do Estado Maior do Exército, 1944.

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 1, Pasta 1,2,5 e 7

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 2, Pasta 1, 3,3,4 e 5

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 3, Pasta 1 e 3

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 4, Pasta 3,4,6,7 e 8.


96

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 6, Pasta 1,2,3,4,5 e


9

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 7, Pasta 5,6 e 8

Relatório Góis Monteiro. Arquivo Histórico do Exército. Caixeta 8, Pasta 1,3,6,7 e 9

Arquivo Nacional, Fundo Góes Monteiro, microfilme 045-97, notação SA 16. Folhas
de alteração do período de 13 a 16 de março de 1906, na Escola Militar da Praia
Vermelha, p. 330.

____________________________________________________________. Folhas
de alteração do período de 13 – I a 9 – V – 910, na Escola de Guerra de Porto
Alegre, p. 336.

____________________________________________________________. Folhas
de alteração do período de 3 – II – 922 10 – I – 925, na Escola de Estado Maior, p.
369.

____________________________________________________________. Folhas
de alteração do período de 26 – VI – 927 a 9 – I – 930, na Diretoria de Aviação, p.
379-340.

____________________________________________________________. Folhas
de alteração do 1º semestre de 1939, no Estado Maior do Exército, p. 411.

_________________________________________________________. Documento
Nr 141, secreto, de 22 de junho de 1928, do Gabinete da Diretoria de Aviação, sobre
considerações sobre a organização da Arma de Aviação – Necessidades da Escola
de Aviação para 1928-1929, p. 501.

__________________________________________________, notação SA 185-121.


Carta de Góes Monteiro a Getúlio Vargas, p. 583-592.

__________________________________________________, notação SA 219-2.


Carta de Góes Monteiro ao Cap Pedro de Magalhães Filho, Patrono do Centro dos
Reformados, Reservistas e Auxiliares da Força Pública do Estado de São Paulo, 17
abr. 1934, p. 324.

__________________________________________________, notação SA 649-1.


Relatório dos Trabalhos do EME, durante o ano de 1937, p. 855-896.

__________________________________________________, notação SA 734-1.


Relatório dos Trabalhos do EME, durante o ano de 1938, p. 555-696.

__________________________________________________, notação SA 349-1.


Relatório dos Trabalhos do EME, durante o ano de 1939, p. 275-556.
97

________________________________, microfilme 054-97, notação SA 791-1.


Boletim Nr 1 das Forças Nacionais Revolucionárias, de 3 de outubro de 1930,
assinado pelo Maj Elpídio Martins, p. 11-16.

__________________________________________________, notação SA 824-3.


Lei de Organização Geral do Exército, de 8 de março de 1934, p. 223.

__________________________________________________, notação SA 848-3.


Recorte do Jornal Diário Trabalhista, de 21 set. 1946, sob o tema: O Brasil precisa
ainda muito de Góis Monteiro, de autoria do jornalista Eurico de Oliveira, p. 451.

__________________________________________________, notação SA 848-4.


Recorte do Jornal Diário Trabalhista, de 22 set. 1946, sob o tema: General Góis,
volte ao seu lugar, de autoria não revelada, p. 452-453.
98

ANEXO A

BIBLIOGRAFIA DE PERSONALIDADES

27
O jovem Eurico Gaspar Dutra foi matriculado na Escola Preparatória e de Tática
do Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Pardo, ficando até concluir seu curso, em
março de 1904. No dia 14 de abril, foi inscrito na Escola Militar da Praia Vermelha,
no Rio de Janeiro. Contudo, sua carreira militar quase termina com o episódio que
se tornou conhecido como a “Revolta da Vacina” EM que deram ensejo a uma
tentativa de golpe de estado. Foi excluido das fileiras do Exército, de acordo com o
aviso nº 2.409, visto ter tomado parte, como aluno da Escola Militar do Brasil, no
movimento de 14 de novembro. Meses depois, o governo anistiou todos os
implicados na “Revolta da Vacina”. Dessa forma, Dutra retornou ao 24º Batalhão de
Infantaria, no Rio de Janeiro. Permaneceu nessa unidade até 1906, quando foi
transferido para a Escola de Guerra, em Porto Alegre, ainda como aluno. Assim, foi
contemporâneo de Góis Monteiro. Só saiu de lá em 1908, já classificado como
aspirante, para o 1º Regimento de Cavalaria do Rio de Janeiro, mesma arma de
Góis Monteiro. (Arquivo do CPDOC/FGV, disponível em:
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/dutra-eurico-gaspar.
Acessado em 20/11/2016).

28
Nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, em 19 de abril. Getúlio Vargas foi militar
do Exército por 5 anos, inicialmente como soldado e sargento do 6º Batalhão de
Infantaria em São Borja, em 1899. Foi ainda aluno da Escola Preparatória Tática do
Rio Pardo em 1900, 1901 e 1902, até maio, e, finalmente, como 2º sargento de
Infantaria do 25º Batalhão de Infantaria, em 1902 e 1903, matriculando-se na Escola
Brasileira com ideia de cursar Direito. Nesse ano, fez parte em expedição militar até
Corumbá, com o 25º Batalhão de Infantaria, em função da Questão Acreana. Deu
baixa do Exército ao retornar de Corumbá, em dezembro de 1903, para cursar a
Escola de Direito, onde ingressou como aluno ouvinte, matriculando-se em 1904 no
99

2º ano. (Arquivo do CPDOC/FGV. Disponível:


http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbetebiografico/getulio-dornelles-
vargas. Acessado em 20/02/2017).

31 Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz nasceu em 1780, na Prússia. Aos doze anos,
já se encontrava em serviço militar, lutando nos conflitos na Europa, em fins do
século XVIII. Após as Guerras Napoleônicas, Clausewitz foi promovido a general e
recebeu o cargo de diretor da Academia de Guerra da Prússia, se tornando a
primeira escola de Estado-Maior do mundo. Dedicou-se a seus estudos e reflexões,
escrevendo vasto material para o livro que não conseguiu publicar, pois faleceu em
1831.Sua obra, Da Guerra, acabou sendo organizada e publicada por sua viúva,
Marie, em1832. O livro só ganharia popularidade com a afirmação do General Von
Moltke, Chefe do Estado-Maior do Exército prussiano na Guerra Franco-Prussiana,
que tinha aprendido tudo o que sabia de guerra lendo Clausewitz. Seguiu-se então
uma explosão de interesse em torno do livro.Desta maneira, os escritos de
Clausewitz têm grande força até os dias atuais,justamente pela a temporalidade de
seus conceitos. Assim debate a natureza da guerra, em como ela realmente o é: um
ato de força, ligado profundamente a dinâmicas político-sociais. Dessa forma, o
próprio objeto de estudo é essencialmente complexo. Afinal, a guerra é produto de
um mundo difuso e dinâmico e assim, não pode ela fugir a isto.(Fonte:
http://www.eceme.ensino.eb.br/images/cpeceme/publicacoes/HISTORIA_MILITAR_1
5.pdf Acessado em: 20/11/2016)

41
Gaúcho de Porto Alegre, Luís Carlos nasceu em 3 de janeiro de 1898, formou-se
em Engenharia pela Escola Militar do Realengo em 1919, no Rio de Janeiro. Em 5
de julho de 1922, eclodiu uma convulsão político-militar no forte de Copacabana, na
Escola Militar do Realengo e entre os oficiais do contingente do Exército em Mato
Grosso, dando início ao ciclo de revoltas tenentistas que culminaria na Revolução de
1930. Nas articulações para o levante, Prestes teve atuação significativa, mas não
chegou a participar da revolta do Forte de Copacabana, pois se encontrava com a
febre tifóide. A primeira revolta liderada por Prestes ocorreu em 1924, com a Coluna
Prestes, manifestando a aversão dos tenentes à oligarquia dominante durante o
governo de Arthur Bernardes. Eles lutavam a favor de reformas políticas e sociais.
100

Tempo depois, iniciou a Coluna Prestes que era formada por mais de 1.500 homens
e percorreu durante dois anos e meio cerca de 25.000 km do território brasileiro,
incitando cidadãos a não apoiarem a elite política que dominava o governo. Em
1927, Prestes foi obrigado a se exilar na Bolívia, onde estudou a teoria marxista e as
obras de Lênin, tornando-se um dos principais disseminadores das ideias
comunistas no Brasil. (Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP,
1994).

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