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Mateus 6.

19-21 (ARA)

19 Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e
onde ladrões escavam e roubam;
20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde
ladrões não escavam, nem roubam;
21 porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

INTRODUÇÃO

Gosto de visitar alguns sites sobre “Frases e Pensamentos”. Algumas são muito engraçadas e
outras são verdadeiros aforismos.
Li recentemente uma frase atribuída a Max Nunes (formado em medicina, mas se consagrou
como pioneiro do humor no rádio e na televisão). A frase de Nunes, dizia o seguinte: Há
criaturas que por dinheiro fazem qualquer negócio. Até trabalhar! 1
O problema com as criaturas não está no dinheiro, mas no fato de se fazer “qualquer negócio”
para obtê-lo.
Aquilo que é, na sua grande maioria, valioso para o mundo, não sobreviveria se confrontado as
verdades bíblicas e neste sentido, as verdades do Evangelho se apresenta como uma
contracultura, nas palavras do Rev. John Stott. Este fato continua a ser verdade hoje, pois as
pessoas continuam ambiciosas e infelizmente esta é uma verdade, tanto para o mundo quanto
para a Igreja.
A ambição humana tem levado muitas pessoas a abandonarem o convívio familiar, tempo que
deveria ser dedicado a Deus, algumas vezes a ética e a moral, para a busca e o acúmulo de
bens e riquezas. Nada é empecilho para a busca da riqueza: Vale virar a madrugada estudando
para passar em um concurso público com salário atrativo, vale trapacear, passando colegas de
curso ou de trabalho para trás, vale roubar, enganar, em fim, tudo aquilo que uma mente
corrupta é capaz de engendrar, é utilizada.
O problema não é o trabalho, que por sinal, é bênção de Deus para o sustento pessoal e
manutenção da sociedade e nem o fato da pessoa desejar ser bem sucedida e realizada
profissionalmente, mas o que estamos dispostos a sacrificar, ignorar ou perder, para se obter
essa satisfação, para se acumular como tesouro.

EXPLICAÇÃO
Esta parte do texto que estamos considerando, pertence a um discurso maior, conhecido como
Sermão do Monte, compreendido entre os capítulos 5 ao 7 deste Evangelho.
Podemos dividir o capítulo 6 de Mateus em duas partes. A primeira, dos versos 1 ao 18, a qual
podemos relacioná-la a vida íntima e devocional do crente, tratando de como deve ser a justiça
em contraposição com a justiça do mundo, a forma de dar esmolas, como orar, como jejuar. A
segunda parte, que compreende os versos 19 ao 34, Jesus trata de como deve ser o
relacionamento do crente com o seu trabalho e traz a discussão uma questão fundamental
sobre o que precisa ser valorizado quando lidamos com estas coisas.
1
http://www.osvigaristas.com.br/frases/tags/dinheiro/
2
“Aqui, o ponto para onde Jesus dirige nossa atenção é a durabilidade comparativa dos dois
tesouros.“ (STOTT, 1989, P. 159)

Convido a congregação a considerar comigo o seguinte tema: Onde está o seu coração?

I – O SECULAR E O SAGRADO

Lidar com as questões deste mundo sem levar em consideração o estado de queda da criação é
negligenciar o motivo no qual o homem baseia os seus valores. Ou seja, se o mundo está
corrompido, manchado pelo pecado, logo, a justiça do mundo também é corrupta.
É interessante também descaracterizar uma suposta divisão entre o secular e o sagrado, entre
o carnal e o espiritual, pois tudo o que é feito pelo crente, visa (ou deveria visar) a glória de
Deus. Então, se estou na Igreja adorando ou se estou exercendo a minha profissão, estou
glorificando a Deus com a minha vida.
Com base nestas considerações, não podemos ignorar o fato de que a minha conduta em tudo
o que eu faço, deve ser reflexo daquilo que para Deus é justo e isso tem desdobramento na
forma como me conduzo nos negócios deste mundo.
No verso 19, do texto que lemos, Jesus introduz um aspecto crítico na grande questão da vida
cristã ao expor o valor dos tesouros.
É bem verdade que nem toda forma de acumular riquezas ou de se buscar aquilo que
aparentemente possui valor, é baseada no imoral ou antiético, mas se torna motivo de
condenação quando essa busca exclui a visão de Reino.
Às vezes aprendemos errado e levamos para todo o restante da nossa vida o conceito de que
aquilo que fazemos que não seja um trabalho de igreja, é mundano e o trato com estas coisas,
devem obedecer a preceitos e regras mundanos.

II – TESOURO NA TERRA OU TESOURO NO CÉU (VS. 19 e 20)

O que Jesus, na verdade, proíbe quando orienta: “Não acumuleis para vós outros tesouros
sobre a terra...”? Jesus não está amaldiçoando o dinheiro, nem o fato de se possuir bens
materiais ou guardar provisões para dias difíceis, mas a forma e o objetivo de se obter estas
coisas. Se a confiança daqueles que as possui ou deseja possuir, está depositada em si mesmo
ou naquEle que é doador de todas as coisas, quem verdadeiramente cuida e concede de forma
graciosa aquilo que temos; aquEle que abençoa as obras das nossas mãos, fazendo prosperar
ou não de acordo com os Seus propósitos.
A palavra tesouro, tradução do grego qhsaurou.j (thesaurus) é um termo que tem sentido
mais lato de um depósito (Ex. 1.11; Jr. 41.8), para a guarda de provisões (DOUGLAS, 2008, P.
1315). E neste sentido, Jesus adverte que este tipo de depósito, ou seja, acumular tesouros
sobre a terra, é algo não seguro, pois há o risco eminente de corrosão por traça e ferrugem ou
de ser roubado por ladrões. O termo brw/sij (brosis) traduzido por ferrugem significa
literalmente “devorador”, e poderia ser empregada aqui para indicar “o que é devorado por
bicho”. Alguns comentaristas preferem esta interpretação baseados em que os “depósitos” em
questão mais provavelmente seriam de cereais (...) do que de material sujeito à corrosão.
(TASKER, 1991, p. 63)
3
Cristo mostra o quão frágil é edificar sobre si mesmo ou sobre qualquer outra coisa perecível.
Ficamos com uma falsa sensação de segurança e nos tornamos arrogantes, pois consideramos
que o que temos ou construímos é uma fortaleza inexpugnável e eterna.
Seguindo este entendimento o evangelista Lucas registra a reprovação de Jesus com respeito à
avareza.
Lucas nos diz o seguinte:

“...Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a


vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele
possui.
E lhes proferiu ainda uma parábola, dizendo: o campo de um homem
rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo:
Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: Farei
isto: Destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí
recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi à
minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos anos:
descansa, como e bebe, e regala-te. Mas Deus lhe disse: Louco, esta
noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus.
(Lucas 12.15-21 ARA)

Cristo estava condenando o acúmulo de riquezas de forma egoísta. O Dr. Martym Lloyd-Jones,
amplia este quadro, esclarecendo o texto da seguinte forma:

A injunção do nosso Senhor recomenda-nos evitar qualquer coisa que


tenha por centro e escopo apenas este mundo (...) a Sua injunção é
toda abrangente. Aplica-se a indivíduos que, embora possam não
estar interessados pelo dinheiro e pelas riquezas sob nenhuma
hipótese, contudo estejam interessados em outras coisas que, em
última análise, são totalmente mundanas. Essas pessoas não se
deixam tentar pelo dinheiro, mas deixam-se tentar pelo status ou pela
posição social mais elevado. (LLOYD-JONES, 2009, P. 365)

Se por um lado, Cristo apresenta a reprovação contra o acúmulo de riquezas como fim em si
mesmo. Por outro, mostra que outra forma de acumular tesouro apresenta vantagens eternas:
“mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões
não escavam e nem roubam.”
Bem, se cremos que a salvação é somente pela fé, concluímos que o que está em discussão
quanto ao que seja o tesouro no céu, certamente não é a salvação. O que então significa
entesourar no céu?
As palavras do apóstolo Paulo na carta ao seu filho na fé, Timóteo, são bem esclarecedoras:

Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus
que tudo proporciona ricamente para nosso aprazimento, e que
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pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e
prontos a repartir, que acumulem para si mesmos tesouros, sólido
fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da verdadeira
vida. (I Timóteo 6.17-21 ARA)

O fato de se possuir riquezas tem propósito no Reino de Deus. Como percebemos a


condenação não está nas riquezas em si, mas na forma de obtê-las e acumulá-las para
ostentação e avareza. Isto é, acumulá-las na terra. Entretanto, quando empregamos nossa
riqueza (bens, dons e vida) em prol do Reino, estamos acumulando tesouro no céu.
Depois de colocar diante dos que ouviam o Seu discurso o valor dos dois tesouros, de mostrar a
tremenda diferença entre eles, Jesus leva aquelas pessoas a refletir sobre a seguinte questão:
“...onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
Hoje, devemos refletir sobre esta questão. Em que tenho depositado a minha confiança? Em
tesouros perecíveis, que hoje temos e amanhã podemos não ter mais, em coisas efêmeras, que
hoje pode possuir valor e amanhã não significar mais nada? Ou tenho acumulado no céu um
tesouro que só aumenta e nunca diminui; algo que só rende e nunca se deprecia?

CONCLUSÃO

Qual o nosso desafio? O que de prático precisamos fazer quanto a este preceito?
Em primeiro lugar devemos buscar as coisas lá do alto. É neste sentido que as palavras terra e
céu são colocadas neste texto. Uma é o contrário da outra, no sentido de valor. Devemos ter
um correto ponto de vista da “glória”. “O grande fato com o qual nunca podemos perder
contato é que, nesta vida somos meros peregrinos. Estamos caminhando neste mundo debaixo
dos olhos atentos do Senhor, aproximando-nos dEle e na direção de nossa esperança eterna.”
(LLOYD-JONES, 2009, p. 367). Esse é o ponto fundamental! E nesta caminhada, devemos estar
sempre avaliando, onde está posto o nosso coração. Nosso coração deve sempre estar posto
em Deus.
Que Deus nos abençoe!
Amém!!!

5
NOTAS BIBLIOGRAFICAS:

BÍBLIA SAGRADA. Edição Revista e Atualizada no Brasil, 1994

DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia – Edição Revisada. ed. Vida Nova, 2008, p. 1315.

HENDRIKSEM, William. Comentário do Novo Testamento – Mateus, volume 1. ed. Cultura


Cristã, São Paulo, 2001, 719 p.

LLOYD-JONES, D. Martyn. Estudos no Sermão do Monte. ed. Fiel, São Paulo, p. 365, 367.

MOULTON, Harold K. Léxico Grego Analítico. ed. Cultura Cristã, São Paulo, 460 p.

STOTT, John R. W. A Mensagem do Sermão do Monte. ABU Editora, São Paulo, 1989, p. 159.

TASKER, R. V. G. Mateus, introdução e comentário. ed. Mundo Cristão/Vida Nova, São Paulo,
1991, p.63.

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